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A desindustrialização, o emprego, e as políticas sociais na europa do seculo XXI Trabalho realizado no âmbito da disciplina de Estágio, a decorrer no ano lectivo 2012/2013 no IESF – Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais
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A desindustrialização, o emprego, e as políticas sociais na europa do seculo
XXI
José Corval Ferraz
Mestre Justino Oliveira Marques
INSTITUTO DE ESTUDOS FINANCEIROS E FISCAIS – IESF
Gestão e Negócios – 25/04/2013
Introdução
È um facto que a europa dos 27 em geral e Portugal em particular, encontram-se
hoje perante um dos maiores desafios jamais colocados ao velho continente.
Por um lado temos um elevado nível de vida, educação saúde e outros indicadores
de conforto muito acima da média, no entanto e apesar disso, vivemos hoje na
perspectiva de um futuro pior e provavelmente mais desigual.
Durante anos a Europa foi acumulando vícios e a principal consequência foi que nos
encontramos hoje numa deriva transversal, “agarrados” a uma Europa pesada,
burocrática sem líderes com visão mergulhados numa crise que não sendo nova será
sem dúvida a maior e mais profunda de que há memória.
Não pretendendo ser catastrofista entendo que a conjugação de factores que adiante
vou elencar, certamente conduzirá a Europa para a sua secundarização face a novas
potências emergentes e esse efeito trará mais desemprego, mais desigualdade, e
mais pobreza, que no nosso caso e dada a nossa periferia veremos estes problemas
mais rapidamente e mais profundamente que os países da Europa central, sendo
certo que o contágio a toda a Europa me parece mais que provável.
Este trabalho tem como objectivo a chamada de atenção para o que se está a
passar, pois entendo que a Europa e nós em particular temos prestado pouca
atenção ao problema estrutural, e temos gritado por “direitos adquiridos” e por
medidas de emprego que não adiantarão nada já que o emprego é criado com
investimento e esse anda fugido deste continente pesado e preguiçoso, atarefado a
consumir produtos importados e a gastar mais do que produz.
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O presente documento tem como base a Europa dos 27 no entanto tentarei sempre
que possível, dar especial relevo ao nosso Pais
I. Onde nos encontramos
O peso dos Estados
Hoje dada a evolução dos estados, tendo em vista a redistribuição dos rendimentos,
a necessidade de providenciar cuidados de saúde, a educação e a própria
organização dos estados, estes atingiram uma dimensão que obviamente apesar de
necessária deverá ser aligeirada, nomeadamente com a redução de efectivos bem
como com a criteriosa gestão dos recursos à disposição dos estados.
Com efeito temos assistido na Europa ao crescimento dos peso dos estados muitas
vezes sem critérios objectivos mas porque as necessidades políticas e a tentação de
criar departamentos que tentam regular o normal funcionamento das instituições nos
conduziu a um ponto em que a reforma do estado é essencial, tendo em vista a sua
eficiência.
Reduzir o número de funcionários que se encontram na esfera do Estado. É esta a
palavra de ordem da maior parte dos governos dos países da União Europeia, onde
a função pública tem um peso demasiado grande numa altura de crise, onde a
consolidação orçamental é o principal objectivo. Em quase todos os planos de
austeridade apresentados nos últimos meses estão contempladas medidas de
redução de trabalhadores do Estado.
Em Portugal, a estratégia de emagrecimento do número de funcionários públicos
está em marcha desde 2005, altura em que foi introduzida a regra de um por dois, ou
seja, por cada dois funcionários que se aposentem, apenas poderá integrar os
quadros do Estado um novo trabalhador. Apesar de a estratégia ter permitido cortar
72 mil pessoas da folha de pagamentos do Estado até 2009, o Governo anunciou na
apresentação do PEC3 o congelamento de todas as contratações, a partir de 2011,
como uma das medidas prioritárias de consolidação orçamental.
Assim podemos ver no gráfico anexo que a nossa despesa per capita tem vindo a
subir consistentemente, sendo que pouco justifica esta escalada de valores, que são
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obrigatoriamente financiados pelos contribuintes, retirando este valor imenso dos
impostos que todos pagamos, com a consequente perda de competitividade que este
fenómeno acarreta.
Assim podemos facilmente observar que desde 1977 este valor tem subido
consistentemente atingindo hoje (2011) um valor de 8400,00 € por contribuinte, da
observação do gráfico podemos ainda observar que este crescimento aumentou
bastante em 1991/19992, e que a partir de esta data não mais parou de se agravar.
Este gráfico demonstra claramente que este rácio não se tem agravado mais devido
aos sucessivos aumentos de impostos que esta “máquina” consome, e que os
deficits tem aumentado ainda que de forma mais ligeira sobretudo pelo aumento de
impostos, com todas as consequências nefastas que isso tem numa economia
tornando-a menos eficiente, mais clientelar, mais burocrática e consequentemente
mais permeável a fenómenos de corrupção.
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Politicas Laborais e Emprego.
Todos os estados devem ter uma política de emprego que dê prioridade a criação de
emprego pois é assim que se geram receitas e se consegue ter um nível de bem-
estar indispensável para uma europa coesa e solidária.
Para poder fazer face à concorrência das novas economias emergentes, a Europa
tem de criar os postos de trabalho que uma sociedade dinâmica e baseada no
conhecimento requer. Para tal, são necessários investimentos na educação e na
ciência, bem como em políticas de emprego concebidas para poderem acompanhar
o ritmo da mudança e ajudar a UE a superar a crise económica.
Por outro lado as políticas laborais europeias são de alguma forma elas próprias
potenciadoras deste fenómeno que temos vindo a assistir, ou seja da escalada do
desemprego com a consequente pressão que este coloca quer a nível social quer a
nível dos deficits das economias europeias.
Sem duvida que os trabalhadores europeus dispões de condições que são autenticas
miragens para a maioria dos trabalhadores dos mercados com que hoje a europa
concorre, mas este facto deve apenas nos alertar para o perigo que enfrenta hoje o
emprego na europa, pela sua escassez que acredito não recuperará a breve espaço.
A desindustrialização a que temos assistido no espaço europeu, e o abandono das
terras trás consigo um crescente desemprego que dificilmente será absorvido pelas
chamadas novas tecnologias, e industrias, importa referir que o crescimento do
desemprego na europa tem sido, também ele muito consistente, sobretudo não
conseguindo absorver as novas gerações, que com graus de escolaridade mais
elevados que a geração que os precede, nos deve preocupar muitíssimo e que não
acredito possa ser resolvido com a criação de planos de emprego, ou medidas mais
ou menos avulsas deliberadas pelos estados membros.
A indústria retirou milhares de postos de trabalho na europa, que sem uma politica de
industrialização eficaz nunca recuperará, sendo que a faixa etária mais afectada são
os jovens com as consequências nefastas que isso acarreta, adiando a sua entrada
no mercado de trabalho, tendo inclusivamente reflexos na demografia europeia.
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O gráfico acima mostra esta tendência, sendo o grupo mais afectado o dos 25 aos 54
anos. Podemos ver que o factor periférico também se nota no desemprego, conforme
está bem demostrado no gráfico que se segue.
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O peso dos deficits.
O deficit dos estados tem sido defendido pelos mais ilustres analistas e economistas,
no entanto entendo que estes apenas se justificam em momentos muito específicos,
sejam eles por motivos de relançamento da economia ou para acorrer a desastres
que um determinado estado tenha sofrido, ou ainda quando a necessidade de
construir infra-estruturas/investimentos seja absolutamente necessária e apenas se
estas forem comprovadamente reprodutivos.
Numa análise muito ligeira podemos dizer que os deficits têm conduzido a europa ao
desastre que se avizinha, o que facilmente se consegue demonstrar, ainda por cima
porque o crescimento económico que é muitas vezes apontado como justificação e
“almofada” para a verificação dos ditos deficits será com certeza muito mais reduzida
que nos anos que precederam esta crise.
Os estados têm que adequar as suas despesas aos seus gastos, não sendo possível
continuar a acumular deficits que gerarão juros e que consequentemente serão um
peso cada vez maior para os estados que a ele recorram.
Tomemos o exemplo do nosso país que tem hoje uma divida de cerca de 124% do
valor do PIB, ora esta foi conseguida por anos de acumulação de deficits de 7% ou
8% ao ano, e assim hoje estando intervencionados, sem capacidade de nos
financiar, e obrigando o estado a pagar juros num montante próximo do que
gastamos com toda o sector da saúde.
Será facilmente entendível para a maioria dos mortais que doravante, ou teremos um
superavit que permita pagar a divida ou então carregaremos este peso com enormes
sacrifícios para a população em geral.
Por analogia digamos que os estados tem gasto o dinheiro que não dispõe, fazendo
lembrar aquelas famílias que tem o seu plafond do cartão de credito esgotado e que
ai chegados, e impossibilitados de continuar a aumentar o seu credito carregarão
com os juros que os emitentes lhes cobram e tendo que viver apenas com aquilo que
dispõe subtraído do valor dos juros, ou seja não só tem apenas que gastar apenas o
que ganham, o que se me afigura como a única maneira de ser consistente, mas tem
também que no mínimo pagar em juros o serviço da divida retirando portanto valor
ao seu rendimento disponível.
Mesmo que achemos que os deficits são um mal necessário, sempre teremos que
concordar que ou os estados se impõe um valor máximo e que ai chegados teremos
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sempre que carregar com os juros que esta divida gera, sendo a alternativa o de
acumular divida indefinidamente sabendo que os financiadores mais dia, menos dia
irão fazer remunerar os seus capitais com taxas altas que cubram o risco do
sobreendividamento, é por esta razão que não entendo que alguns estadistas digam
que as dividas dos estados não são para pagar mas são para serem geridas, sendo
que para estes que gerir é certamente aumentar a divida até valores incomportáveis,
que acarretam juros insuportáveis.
Não podemos ainda deixar de sublinhar que a redução do deficit deverá ser feito do
lado da despesa e não do lado da receita, já que a carga fiscal que hoje temos já se
situa entre a media europeia e não é possível continuar a aumentar, sendo que esta
terá forçosamente que ser conseguida do lado da despesa, não havendo aqui
qualquer outra opção.
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A saúde.
O Serviço Nacional de Saúde permitiu uma enorme melhoria na qualidade de vida
dos portugueses, nos seus 30 anos de existência. Contudo, o crescimento dos
custos - muito acima do crescimento da economia - ameaça a qualidade e
universalidade do SNS.
Para garantir esta qualidade e universalidade, o Governo tem que reduzir as
despesas. É, por isto, fundamental, que os recursos disponíveis sejam melhor
utilizados, evitando desperdícios, ou seja, melhorando a gestão, a transparência e a
responsabilização pelo uso de dinheiros dos cidadãos.
O Governo deve igualmente promover os estilos de vida saudáveis, continuar a
desenvolver os cuidados primários e os cuidados continuados, aproximando-os da
população, e reorganizar a rede hospitalar.
Com o crescente aumento da esperança de vida e com os custos exponenciais que
hoje a saúde tem, dispondo de inúmeros meios de diagnóstico complementares e
com os consequentes custos que isso acarreta para o SNS só serão sustentáveis se
conseguirem os estados a racionalização dos gastos, e com a instituição de normas
que permitam que os contribuintes com maiores recursos paguem cada vez mais
uma parte substancial dos tratamentos, caso contrario a implosão da saúde será
uma certeza num curto espaço de tempo.
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Não podendo o estado mexer na universalidade dos cuidados de saúde deverá no
entanto introduzir mecanismos que partilhem os custos com os utilizadores que
dispõe de maiores rendimentos, esta medida ainda que que possa ser politicamente
incorrecta, será certamente indispensável caso queiramos manter um SNS de
qualidade, e pronto para responder as exigências dos mais necessitados.
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A Educação.
Há 20 anos foram tomadas em Portugal medidas que se revelaram altamente
prejudiciais para o sistema de ensino nacional, e que levaram este sistema ao estado
lamentável em que este se encontra hoje, desde a escola primária às universidades
públicas.
Nos capítulos seguintes vamos mostrar que os problemas hoje existentes no sistema
escolar devem-se à manifesta incorrecção científica e pedagógica dos métodos de
ensino de Português e de Matemática, que foram postos em prática naquela altura.
Com efeito, e como mostram perfeitamente os resultados dos Exames Nacionais de
Português e de Matemática do 12º ano, um aluno médio, ao fim da escola
secundária, é um aluno com a nota de “Não Satisfaz”, nota esta merecida pelos
educadores que impingiram métodos de ensino viciados a este aluno.
Como consequência, um aluno médio não se consegue exprimir em Português, e
não está habilitado aos estudos de qualquer disciplina exacta, que exija
conhecimentos de Matemática, nem aos estudos de qualquer disciplina que exija
pensamento abstracto.
Este aluno também não se encontra habilitado para continuar a sua formação ao
nível universitário ou politécnico, mas acaba por entrar nos estabelecimentos de
ensino superior, os quais se vêm obrigados a reduzir o nível de exigência tanto na
admissão dos alunos aos cursos superiores, como na sua avaliação durante os
estudos, por falta de alunos devidamente habilitados.
Assim, as falhas metódicas ao nível da escola básica e secundária têm repercussões
negativas em todo o sistema educativo nacional. Estas falhas devem ser suprimidas
com a maior brevidade possível, para que possamos ter esperança na futura
recuperação do nosso sistema de ensino e da sua capacidade de produzir pessoas
bem formadas, em todos os aspectos educativos e sociais.
O que está em causa são os métodos de ensino inválidos, que travam o
desenvolvimento intelectual do aluno e não lhe permitem dominar as matérias
curriculares.
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A educação é um dos vectores essenciais para o desenvolvimento de uma Europa
que se pretende mais competitiva e mais esclarecida, no entanto também aqui
deveremos caminhar para um modelo onde a partilha das despesas seja efectiva e
consequentemente deverão as classes com rendimentos mais elevados, suportar
alguns custos, onde deverá ser privilegiado o mérito e fortemente atacado o
absentismo e o facilitismo, devendo também e em simultâneo serem criados
institutos ou escolas que viradas para as necessidades de mão-de-obra do país
sejam uma alternativa aos milhares de cursos, que sem saída profissional, custam ao
estado milhões de euros sem a respectiva contrapartida.
È essencial que se estabeleça uma conduta de exigência e disciplina, sem a qual me
parece que a educação conforme a conhecemos será apenas um adiar de problemas
e criará um batalhão de desempregados com habilitações que a sociedade não
necessita e que custarão muitos milhões num futuro próximo.
Demografia.
Actualmente, a União Europeia (UE) tem de fazer face ao declínio demográfico, ao
baixo crescimento natural e ao envelhecimento de uma parte da população. Para
enfrentar este desafio, a Comissão formulou várias recomendações que se baseiam
designadamente na Estratégia de Lisboa renovada, a fim de melhor tirar partido das
oportunidades de uma vida mais longa, mas igualmente de iniciar uma renovação
demográfica.
O envelhecimento da população (ou seja, a parte das pessoas idosas na população
global) resulta dos progressos consideráveis realizados nos domínios económico,
social e médico em termos de serviços prestados aos Europeus. Este
envelhecimento da população decorre de várias tendências demográficas
simultâneas:
1-o número médio de filhos por mulher é 1,5 filhos na UE em 2006 enquanto o limiar
de renovação das gerações é 2,1. A UE prevê para 2030 uma taxa de 1,6;
2-o declínio da fecundidade (“baby crash”) seguiu-se ao “baby-boom” que está na
origem da grande parte das pessoas dos 45-65 anos na população europeia, o que
coloca alguns problemas em termos de financiamento das reformas;
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3-a esperança de vida (que aumentou 8 anos entre 1960 e 2006) poderá ainda
aumentar 5 anos entre 2006 e 2050, fazendo assim aumentar a proporção de
pessoas com idades de 80 e 90 anos, pessoas essas que estão frequentemente em
situação de fragilidade;
4-a imigração (1,8 milhões de imigrantes com destino à UE em 2004, 40 milhões em
2050 segundo as projecções do Eurostat) poderia compensar os efeitos da baixa
fecundidade e do prolongamento do tempo de vida.
Estas tendências reduzirão ligeiramente a população total da UE, que ficará
igualmente muito mais idosa. O número de europeus em idade de trabalhar (dos 15
aos 64 anos) na UE-25 diminuirá 48 milhões entre 2006 e 2050 e a taxa de
dependência deverá duplicar, atingindo 51% em 2050. Esta mudança demográfica
acompanhar-se-á de perturbações sociais profundas (protecção social, alojamento e
trabalho) em todos os países afectados pelo desafio do envelhecimento da
população.
O impacto do envelhecimento da população na próxima década, a população activa
diminuirá dado que se reformará um grande número de “baby-boomers”. Esta
redução da população em idade de trabalhar pode afectar a taxa de crescimento
económico se as tendências e políticas actuais continuarem sem alterações. A
aplicação decidida da agenda de Lisboa deverá permitir passar este cabo através da
plena utilização dos recursos destes trabalhadores experientes, mas também com a
oferta de uma formação de qualidade aos mais jovens.
O envelhecimento da população não deixará de ter impacto na protecção social e
nas finanças públicas. Com os fundamentos das políticas actuais, o envelhecimento
conduzirá a pressões significativas no sentido do aumento das despesas públicas.
Tais défices orçamentais poderão comprometer o futuro equilíbrio dos sistemas de
pensões, de protecção social em geral e mesmo o potencial de crescimento
económico ou o funcionamento da moeda única. Todavia, os governos dos Estados-
Membros já começaram a agir nomeadamente no domínio dos sistemas públicos de
pensões ou da modernização da protecção social. Finalmente, uma melhor
adaptação dos serviços de saúde, assim como uma estratégia preventiva em matéria
de doenças crónicas poderão reduzir para metade as despesas públicas de saúde e
dos cuidados de dependência.
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Assim o desfio será construir uma Europa que favoreça a renovação demográfica
através da melhoria da conciliação entre a vida profissional, a vida privada e a vida
familiar (licença parental, organização do trabalho mais flexível, aplicação dos
compromissos assumidos aquando do Conselho Europeu de Barcelona sobre o
acolhimento de crianças);
Uma Europa que valorize o trabalho através de mais emprego e de uma vida activa
mais longa: a UE pretende melhorar os sistemas de educação e quer privilegiar os
sistemas de “flexigurança” que permitam melhores transições entre os diferentes
ciclos de vida (uma maior flexibilidade no mercado de trabalho combinada com
medidas de formação ao longo da vida). Valorizar o trabalho implica também lutar
contra os preconceitos discriminatórios relativos aos cidadãos idosos e promover
uma verdadeira política de saúde pública à escala europeia (luta contra o tabagismo,
o alcoolismo e a obesidade), a fim de reduzir as diferenças de esperança de vida
(directamente ligadas ao nível de vida e ao grau de educação);
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Uma Europa mais produtiva e com melhores desempenhos, mercê da Estratégia de
Lisboa recentrada desde 2005. Esta estratégia renovada oferecerá aos vários
agentes económicos a possibilidade de aproveitarem plenamente as oportunidades
apresentadas pelas mudanças demográficas;
Uma Europa organizada para receber e integrar os migrantes: a UE, território
atractivo, está empenhada juntamente com os Estados-Membros no
desenvolvimento de uma política comum de imigração legal. De facto, durante os
próximos 20 anos, a Europa deverá atrair uma mão-de-obra externa qualificada a fim
de satisfazer as necessidades do mercado de trabalho. Compete também à União
promover a diversidade e lutar contra os preconceitos para uma melhor integração
económica e social dos migrantes;
Uma Europa com finanças públicas viáveis: para garantir uma protecção social
adequada e a equidade entre as gerações na maior parte dos Estados-Membros, é
indispensável um esforço de rigor orçamental, especialmente ao nível da reforma do
regime de pensões. Será igualmente necessário adaptar a cobertura dos sistemas e
o nível das contribuições ao desenvolvimento da poupança privada e dos sistemas
por capitalização.
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Políticas sociais.
Há cerca de dois anos, governos de países europeus vêm cortando pensões,
subsídio de desemprego e ensino gratuito entre outras benesses do chamado estado
social.
O desemprego reduziu a arrecadação de impostos que financiam o Estado social.
Além de destruir empregos e gerar insegurança nos mercados, a crise económica
também ameaça dinamitar uma das características fundamentais da Europa: o
Estado social, modelo de políticas sociais adoptadas pelo continente depois da
Segunda Guerra Mundial.
Em Março, um fórum em Bruxelas alertou para o facto de ser improvável a
sobrevivência dessas políticas diante da crise que hoje enfrentamos. Depois,
membros da Comissão Europeia vieram a Madrid discutir com especialistas da área
o futuro desse modelo na União Europeia.
Há cerca de dois anos, governos de países europeus vêm cortando pensões,
subsídio de desemprego e ensino gratuito, afectando significativamente a confiança
dos cidadãos pois estavam convencidos de que nunca mexeriam nesses gastos
“direitos adquiridos”.
Cerca de 70% do financiamento das políticas sociais na Europa vem de impostos do
trabalho. Com o aumento do desemprego, é inevitável que os estados tenham ficado
sem recursos para continuar a sustentar estas políticas.
Em 2010, Portugal reduziu para metade o salário extra que os trabalhadores
recebem no Natal. Na mesma época, a Espanha anunciava seus primeiros cortes em
políticas sociais, como o do cheque-bebê, uma espécie de "prêmio" de até € 3.500
concedidos a casais com recém-nascidos, para incentivar a natalidade.
Em 2011, as reformas entraram na agenda dos governos: o Reino Unido mexeu nas
pensões e aumentou as contribuições pagas por funcionários públicos, gerando
protestos. A Itália subiu em três anos a idade mínima para a reforma, dentro de um
plano de ajustamento que levou a ministra de Trabalho, Elsa Fornero, a chorar
enquanto o anunciava.
Neste ano, os cortes já foram mais profundos. A Espanha anunciou fim de benefícios
na educação e na saúde, como a distribuição de remédios para idosos e o
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pagamento de taxas universitárias antes pagas pelo governo. A Holanda, modelo de
políticas sociais, viu o seu governo cair em Abril por causa de um duro pacote de
medidas de austeridade.
Nos países europeus em geral, sempre se aceitou pagar impostos porque sabíamos
que haveria um certo retorno socia, no entanto e com a recente crise económica os
estados tem que fazer um ajustamento seja ele no aumento da idade da reforma,
seja na redução dos valores a distribuir pelos cidadãos.
A Europa adoptou o Estado social como modelo da sua sociedade para criar um
consenso social que evitasse novos conflitos e depressões como a de 1929. Ele é
fundamental para manter essa coesão, no entanto este é pago pela economia que no
presente momento não está capaz de gerar receitas que permitam manter este
estado social como o conhecemos.
É necessário aferir quais são os níveis mínimos de políticas sociais, sem o qual o
estado estará sempre refém do que a economia consiga produzir.
Justiça e liberdade.
Os portugueses estão entre os europeus com menos confiança na Justiça e em
instituições políticas, como a Assembleia da República ou a polícia, uma postura que
tem vindo a acentuar-se nos últimos anos, concluiu um estudo.
Com base em dados do European Social Survey, realizado em 26 países e que é
conduzido em Portugal pelo Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa
e pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE), os
investigadores referem que Portugal está entre aqueles "cujos cidadãos revelam
menor confiança nas instituições, nomeadamente no sistema jurídico".
Os resultados mostram ainda que, "nos últimos anos, se verifica a tendência para
uma redução ainda maior na confiança institucional em Portugal", nomeadamente
entre 2004/05 e 2010/11.
As conclusões do estudo, a que a agência Lusa teve acesso, referem ainda que "a
percepção de eficácia é muito importante, mas a confiança tem também por base a
percepção de que os tribunais respeitam princípios de justiça" nos seus
procedimentos.
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No conjunto de 27 países, Portugal está entre os cinco países com menos confiança
na Justiça e somente 11 Estados apresentam confiança nos respectivos sistemas
jurídicos. Destes, apenas cinco confiam nas restantes instituições (Suíça, Finlândia,
Holanda, Noruega e Suécia).
O estudo realiza uma comparação entre as respostas obtidas em cinco países
(Portugal, Polónia, Hungria, Reino Unido e Alemanha), um trabalho que "torna
particularmente claro que Portugal se destaca como o país cujos cidadãos
manifestam menor confiança no sistema jurídico".
Enquanto 49,7% dos portugueses referem ter confiança baixa no sistema jurídico, na
Alemanha a percentagem é de 19,5%. A Polónia é o país que mais se aproxima de
Portugal, com 38,7%.
Quanto à eficácia dos tribunais, "Portugal apresenta um valor mais baixo do que os
restantes" quatro países, sendo, aliás, o único com valor negativo.
Portugal volta a registar os valores mais baixos no grupo de cinco países quando o
assunto é a legalidade da acção dos tribunais. "Em Portugal, Polónia e Hungria, essa
percepção está mesmo abaixo do ponto médio da escala", aponta o estudo.
O trabalho também analisou o sentimento de obediência às decisões dos tribunais e
todos os países registam valores "claramente" acima da média da escala.
De um modo geral, as pessoas consideram que existe um dever de obediência às
decisões dos tribunais; porém, estes valores tendem a ser mais baixos em países
com uma tradição democrática mais longa", refere o documento.
Os dados sobre “confiança na Justiça” foram recolhidos no European Social Survey
2010/11, relativos a 26 países e envolvendo mais de 50 mil inquiridos. Os resultados
deste trabalho serão divulgados na próxima quinta-feira, durante um seminário a
decorrer em Lisboa.
A morosidade processual em Portugal na minha perspectiva é sem dúvida o maior
travão ao desenvolvimento do País, sem uma justiça célere e acessível a todos
Portugal nunca conseguirá ser um país moderno, pois esta ausência de justiça mina
a confiança de tudo sobre todos, afectando enormemente o investimento e dando a
sensação que vivemos num estado e que os cidadãos de recursos elevados tem
uma justiça e para os outros esta não passa de uma miragem.
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II. As novas potências
O emergir de novas economias
A Historia das relações internacionais é a narrativa da ascensão e queda das
grandes potências. As guerras da revolução e do império retiraram à Espanha, à
Suécia e à Holanda o estatuto de grandes potências e revelaram a ascensão da
Prússia. A Grande Guerra, causada pela competição entre as estratégias
revisionistas da Alemanha unificada e da Rússia imperial, confirmou a emergência
dos Estados Unidos como potência internacional, bem como as ambições do Japão e
da Itália, membros da coligação vencedora. A II Guerra Mundial, provocada pela
emergência das potências revolucionárias totalitárias, deixou para trás vencidos – a
Alemanha, o Japão e a Itália – e vencedores – a Grã-Bretanha, a França e a China –
para impor a preponderância dos Estados Unidos e da União Soviética, as duas
superpotências.
No fim da Guerra Fria, os Estados Unidos tornaram-se a única grande potência
sobrevivente. O “momento unipolar”, ao mesmo tempo que antecipava uma nova
hierarquia, abriu uma fase de transição em que deviam surgir novas potências. Essa
tensão ficou registada nas classificações da estrutura internacional do pós guerra
Fria como um sistema misto, uma “unipolaridade multipolar”, em que coexistem,
segundo a fórmula chinesa, “uma superpotência, várias grandes potências”. No
mesmo sentido, os documentos oficiais norte-americanos consideram a transição
para a multipolaridade como a principal característica do sistema internacional. O
diferencial estratégico impressionante que continua a separar os Estados Unidos das
outras potências deixa em aberto o sentido último da evolução internacional, mas
nem por isso é menos relevante fazer uma avaliação sobre os seis principais
Estados correntemente apresentados como as novas potências emergentes.
As potências emergentes, as novas potências emergentes são velhas potências
derrotadas nas guerras hegemónicas anteriores – a Alemanha e a Rússia travaram a
II Guerra Mundial depois de terem perdido a I Grande Guerra –, mas também podem
ser Estados que se revelam como potências pela primeira vez. Nesse sentido, na
categoria das potências emergentes tanto se podem incluir antigas grandes
potências, como a Rússia, o Japão ou a Alemanha, como potências modernas, como
o Brasil, ou a China e a Índia, os quais, não obstante serem velhos impérios, só se
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integraram no sistema internacional depois da II Guerra Mundial. Novos e velhos,
antigos ou modernos, todos os candidatos devem ser avaliados segundo critérios
objectivos que determinam o estatuto de potência – um território de escala
continental, com mais de cem milhões de habitantes, uma economia forte e
capacidades científicas e tecnológicas substanciais, forças armadas modernas, com
armas nucleares e capacidades espaciais, cibernéticas e de projecção de forças,
uma diplomacia experiente, um Estado forte e um regime político estável. A Rússia, a
segunda grande potência nuclear, com uma notável tradição diplomática, continua a
atravessar uma crise de identidade nacional, não tem uma economia sólida e está
em declínio demográfico. O Japão e a Alemanha, duas das mais avançadas
economias mundiais, não são potências nucleares e a potência central europeia tem
uma população com pouco mais de oitenta milhões. O Brasil, uma grande
democracia, tem uma economia forte e reservas impressionantes de recursos
energéticos e matérias-primas, mas desistiu do seu programa nuclear e as suas
forças armadas nunca foram postas à prova. A China e a Índia, ambas com mais de
mil milhões de habitantes, estão à frente na dimensão demográfica, têm territórios de
escala continental e economias em crescimento acelerado, que passaram a estar
entre as maiores do mundo. Os dois maiores Estados asiáticos são potências
nucleares, com uma clara superioridade da parte da China, e têm grandes exércitos,
também com uma clara vantagem chinesa nos domínios espacial e cibernético, mas
ambos sem uma capacidade naval ou de projecção de forças significativa. A
diplomacia chinesa é mais experiente do que a indiana, a China é um Estado
unificado, enquanto a Índia tem uma estrutura federativa, mas a democracia indiana
pode revelar-se mais sólida do que o regime comunista chinês. Nenhum dos
candidatos preenche inteiramente todos os critérios, mas os seis Estados referidos
como candidatos a potências emergentes são os únicos que parecem ter as
qualificações mínimas para merecer uma nota positiva nesta avaliação, ao contrário,
por exemplo, da Grã-Bretanha e da França, que não são competitivas nas
dimensões espacial e demográfica, ou a África do Sul e a Indonésia, sem expressão
económica ou militar significativa. O estatuto regional nas condições do pós Guerra
Fria, nenhuma potência relevante pode reclamar esse estatuto se não for uma
grande potência regional. A Rússia e o Brasil têm posições de clara preponderância,
respectivamente no “espaço pós soviético” e na América do Sul, desde logo por
serem os únicos Estados regionais reconhecidos como potências internacionais, uma
vez que nem a Ucrânia, nem a Argentina pertencem a essa categoria. Tal como o
Brasil, que esteve na origem do Mercosul e da União das Nações Sul-Americanas, a
Rússia tem usado quadros multilaterais, como a Comunidade de Estados
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 20
Independentes ou a Organização do Tratado de Segurança Colectiva, para
consolidar o seu estatuto regional. A Índia teria uma posição comparável se o
Paquistão não fosse uma potência nuclear e não pudesse contar com a China como
aliado, mas nem por isso deixa de ser a principal potência da Ásia do Sul em todas
as dimensões relevantes. A China e o Japão são competidores na Ásia Oriental,
onde ambos impuseram a sua hegemonia em momentos históricos diferentes e
disputam entre si a preponderância económica regional. A vantagem estratégica
nuclear da China é evidente, mas o Japão pode tornar-se uma potência nuclear num
prazo curto, enquanto a economia japonesa é mais avançada mas a chinesa pode
passar a ser competitiva em domínios críticos. Nem o “Império do Meio”, nem o
“Império do Sol Nascente” são reconhecidos pelos Estados asiáticos como
referências exemplares e as estruturas multilaterais regionais, nomeadamente a
Associação das Nações do Sudeste Asiático, têm sido construídas à margem da
China e do Japão. A proeminência regional da Alemanha ficou demonstrada quando
pôde realizar, com a França, a unificação monetária europeia e, com a Grã-Bretanha,
o duplo alargamento da União Europeia e da Aliança Atlântica para integrar as
democracias pós comunistas da Europa Central e Oriental, que determinou o sentido
de evolução dos equilíbrios europeus no pós Guerra Fria, mas pode ser prejudicada
pelo declínio da confiança nas instituições europeias. Os seis candidatos são todas
potências regionais, embora nem todos possam pretender ser potências
hegemónicas nos respectivos “complexos regionais”. E nem todas as potências
regionais são potências emergentes, quer por não terem qualificações mínimas, quer
por não serem potências ascendentes.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 21
O critério decisivo para completar a avaliação é o reforço da posição relativa das
potências emergentes na balança do poder internacional desde o fi m da Guerra Fria.
A China, a Índia e o Brasil têm toda uma posição nitidamente mais forte, à qual
corresponde um reconhecimento internacional inequívoco do seu estatuto como
grandes potências. Os Estados Unidos reconheceram a China como a única potência
que pode vir a disputar o lugar deixado vago pela União Soviética e, na sequência da
crise financeira, apresentaram os chineses como os seus parceiros indispensáveis
na restauração da estabilidade económica. A Rússia não quis deixar de estar ao lado
da China na formação da Organização de Segurança e Cooperação de Xangai, que
integra as antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central na fronteira entre as duas
grandes potências continentais. No mesmo sentido, os Estados Unidos
reconheceram o estatuto da Índia como potência nuclear e consideram a parceria
estratégica entre as duas grandes democracias indispensável para contrabalançar a
ascensão da China. O Brasil, tal como a Índia, é candidato ao estatuto de membro
permanente do Conselho de Segurança e ambos estão, tal como a China, na
primeira linha do G-20, que se tornou o centro da concertação das políticas
económicas. A posição internacional do Brasil tem sido consolidada pelas suas
relações bilaterais com a China e a Índia e o seu estatuto regional foi reforçado com
a adesão de todos os Estados da América do Sul à União das Nações Sul
Americanas. A resposta é mais difícil para a Rússia, a Alemanha e o Japão. A Rússia
perdeu o seu lugar como uma das duas superpotências, mas não deixou de ser a
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 22
única potência nuclear comparável aos Estados Unidos, de quem continua a ser um
parceiro indispensável na limitação das armas estratégicas. O declínio económico e
demográfico tem sido compensado por uma determinação das elites em restaurar o
estatuto da Rússia como grande potência, sustentado pelo seu estatuto estratégico,
pelos recursos energéticos e pelas reservas de matérias-primas. A força do
ressentimento pode vir a superar os limites impostos pela derrota na Guerra Fria. A
Alemanha unificou-se e restaurou a sua soberania, bem como a sua centralidade nos
equilíbrios europeus e, nesse sentido, foi um dos vencedores da Guerra Fria. Porém,
a posição relativa da sua economia, em que assenta o seu poder internacional, tem
diminuído perante o crescimento acelerado da China, da Índia e do Brasil, enquanto
as suas capacidades estratégicas e militares, inferiores às da Grã-Bretanha e da
França, são demasiado limitadas para a principal potência regional poder ser
responsável pela defesa europeia. O Japão tem perdido peso relativamente à China,
o seu competidor directo, em quase todos os domínios. Tal como no caso da
Alemanha, uma dependência crescente e excessiva da aliança com os Estados
Unidos prejudica a vontade de assumir maiores responsabilidades de segurança
regional, embora, no caso japonês, as forças de defesa tenham sido reforçadas nos
últimos anos, com a crescente competição militar entre as potências asiáticas. A
emergência de novas potências é um mito ou uma realidade? As potências
emergentes são uma realidade, como o demonstram os casos da China, da Índia ou
do Brasil. A China está a revelar-se, de forma acelerada, como uma potência
internacional, a ascensão da Índia tornou-se mais necessária com a percepção da
ameaça chinesa e o Brasil consolidou a sua posição como principal potência
regional. A Rússia pode ainda tentar regressar como uma potência revisionista, a
Alemanha tem de demonstrar a sua capacidade para dirigir a União Europeia e o
Japão continua a oscilar entre a dependência norte-americana e os riscos da
hegemonia chinesa. Todavia, enquanto a posição internacional dos Estados Unidos
se puder manter, a transição para a multipolaridade vai continuar a ser um mito.
Matérias-Primas.
É certo que nunca foi tão importante como hoje o acesso e controlo das matérias-
primas, e neste particular os chamados BRIC’s têm uma posição bastante diferente.
Por um lado temos os países detentores e exportadores de matérias-primas como o
Brasil e a Rússia que tem sistemas políticos muito diferentes, por outro lado quer a
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 23
India quer a China são importadores das denominadas commodities e sobretudo a
china tem uma politica de controlo mais efectivo pelo domínio destas.
Segundo as Nações Unidas (NU) será necessária em breve uma nova revolução
industrial "verde", que faça com que o consumo de matérias-primas, tais como os
minerais de construção, o petróleo e o carvão seja reduzido em cerca de 80 por
cento. Segundo o documento essa redução drástica não deverá pôr em causa o
duplo objectivo de aumentar o padrão de vida material das pessoas e reduzir a
pobreza.
O desafio será encontrar infra-estruturas eficientes de utilização dos recursos
associados a energia, transportes e habitação, sabendo de antemão que com o
desenvolvimento rápido destes países existe uma enorme quantidade de novas infra-
estruturas já planeadas. "Há uma janela de 20-30 anos de oportunidade para essa
transformação", advertem as Nações Unidas, lembrando que a região Ásia/Pacífico é
hoje a região mais dinâmica do mundo.
Para conduzir um país a um crescimento consistente de dois dígitos anos a fio, há
que planear bem – conceber estratégias e ser capaz de as por no terreno. É o que a
China está a fazer há tempo. O despontar da China como potência mundial não é
fruto do acaso.
A China não dispõe de matérias-primas nem fontes de energia em quantidade
suficiente para sustentar este crescimento, pelo que tem de as adquirir no exterior.
Não é a única nação a fazê-lo. Tem de enfrentar concorrência feroz, mas, ciente das
dificuldades fá-lo de forma bastante peculiar. O mundo ocidental habituou-se a tirar
partido das antigas relações coloniais, procurando perpetuar vantagens de que já
não dispõe. A China, que não tem passado colonialista, optou pela via de parcerias
sem resquícios de prepotência, de preferência estado-a-estado sempre que for
possível ou, em alternativa, fixando acordos com empresas estatais. Só em última
instância negoceia com multinacionais. É desta forma que a China tem vindo a
conquistar ex-feudos de americanos e alemães, nomeadamente na América do Sul e
em África, onde os países estavam saturados de posições negociais sobranceiras.
Tudo isto é articulado com uma peculiar política de divisas, em especial no que se
refere à cotação do yuan.
Como parece difícil aos políticos ocidentais estabelecerem políticas a 10 ou 20 anos,
quando foram eleitos para mandatos de 4 ou 5. A China não sofre dessa debilidade,
colhe vantagens da estabilidade política de que desfruta. Planeia e cumpre. Poderá
comentar-se e contestar-se a legitimidade democrática que permite esta
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 24
continuidade tão persistente, mas este não é objecto deste artigo, pelo que não
encontrará aqui espaço.
É claro que as fortes tradições chinesas constituem contratempos de monta, em
especial para os estrangeiros que pretendem fixar os seus negócios na China,
situação que as autoridades actuais parecem querer contornar através de medidas
pragmáticas que se impõem.
Está distante a China de Marco Polo, presa fácil das artimanhas dos comerciantes
venezianos. Hoje a China sabe exigir a quem quer investir no seu território, e lidar
com os seus pares nas praças internacionais.
A China tem um objectivo estratégico inequívoco – a sustentabilidade energética e o
acesso continuado e crescente às matérias-primas de que necessita. O apoio às
empresas estrangeiras que têm permitido o exponencial crescimento chinês é
meramente instrumental.
O Factor Energético.
Nunca a energia foi tão decisiva como hoje no mundo que habitamos, ela está
presente em tudo o que fazemos e estamos de tal modo dependentes que por vezes
nem nos apercebemos da sua importância.
A Europa contrariamente a China que possui planos bem definidos, por vezes a mais
de 30 anos, para garantir o acesso ao petróleo, gás natural, carvão e urânio, não
possui uma estratégia bem definida para a energia fruto da dificuldade em concertar
objectivos e metas que sirvam os interesses da Europa como um todo.
Em contrapartida a China estabelece as relações comerciais preferenciais estado-a-
estado ou com empresas estatais, o que facilita esta metodologia pouco cara às
multinacionais. O espaço de manobra é global e o país não se deixa intimidar com
possíveis obstáculos de natureza não comercial. Assim, não hesita em estabelecer
fortes parcerias multidisciplinares com regimes censurados pela ONU e por partes
significativas da comunidade internacional (Sudão, Gabão, Congo, Angola, Cuba, ou
Venezuela), em aceitar preços de compra considerados acima do mercado (Sudão,
ou Brasil) eliminando possíveis concorrentes graças às incomensuráveis somas de
dólares de que dispõe, em operar em territórios onde as práticas de exploração de
recursos humanos incluem o controlo armado dos trabalhadores (Nigéria, ou Sudão).
A China também não hesita em estabelecer relações com países (Irão, Iraque,
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 25
Venezuela, ou Cuba) desafiando os interesses políticos norte-americanos. E é claro
que estes negócios incluem venda de armas e tecnologia militar, mesmo a países
envolvidos em guerras hediondas e confrontos étnicos.
Os preços que o petróleo atingiu em comparação com o preço praticado a 10 ou 15
anos facilmente nos conduzirão a um sangramento das nossas economias, que
beneficia apenas os países produtores, a apelidação de “ouro negro” ao petróleo
continua cada vez mais actual no século XXI. Tal como o ouro amarelo em séculos
anteriores, o petróleo desperta cada vez mais ódios, faz despoletar guerras e está
cada vez mais no centro de variados interesses.
A região petrolífera do Golfo Pérsico foi descoberta em 1908 no Irão e, a partir daí,
toda a região começou a ser visada estrategicamente e explorada.
Nos anos 60 os principais países produtores de petróleo criaram a OPEP
(Organização dos Países Exportadores de Petróleo) como forma de se fortalecerem
frente às empresas compradoras de petróleo, a maioria pertencente aos EUA,
Inglaterra e Países Baixos, e combaterem a queda do preço do petróleo. Assim, em
1969, uma tonelada de fuel custava 9 dólares e, em 1973 passou para 24 dólares. O
preço baixo da energia e das matérias-primas baratas, um dos elementos em que
assentara o crescimento do pós-guerra, terminava. Os preços dos produtos
dependentes do petróleo aumentavam também, causando uma alta de preços
durável, que em certos países ultrapassou os 10%. O petróleo passa a ser utilizado
como arma política na resolução de vários conflitos no mundo árabe.
Em Julho de 1990, o presidente do Iraque acusa o Kuwait de ser o responsável pela
queda do preço do petróleo e retoma antigas questões de limites territoriais. Em
Agosto do mesmo ano o Kuwait não cede a pressões iraquianas e estes decidem
invadir o seu território com o intuito de controlar os seus vastos e valiosos campos de
petróleo. Associada à incerteza da Guerra do Golfo e posterior intervenção das
forças da coligação, sob chefia americana, os preços do petróleo atingem o seu valor
mais elevado.
A partir de 1994 os preços sobem novamente, pressionados pela forte economia dos
EUA e pela crescente economia da Ásia. Em 2004, o recorde histórico é de 51
dólares por barril. No fim de Agosto de 2005 o furacão Katrina leva ao colapso da
produção na região do Golfo do México o que faz disparar os preços dos
combustíveis. Em 2006 os preços do crude atingem os 61 dólares pressionados pela
execução de Saddam Hussein e no ano seguinte os preços rondam os 100 dólares
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 26
por barril, fruto de uma grande actividade especulativa e desvalorização do dólar. No
ano de 2008, o barril de petróleo bate sucessivos recordes e atinge um máximo
histórico, onde ultrapassava os 140 dólares por barril.
Os países produtores de petróleo e os grandes centros de decisão do mundo,
utilizam-no como arma de arremesso político sem avaliarem os graves dramas
sociais que as suas decisões despoletam.
Os combustíveis condicionam cada vez mais o quotidiano das populações anónimas,
não envolvidas em problemáticas diplomáticas ou questões políticas.
A situação agravou-se com o crescimento da população mundial e a crescente
necessidade de energia na Índia e na China, que despoletaram um aumento do
consumo de petróleo.
Com os preços do brent a atingirem novos recordes, os europeus confrontaram-se
também com a subida dos preços e com a certeza que não haverá um retorno aos
níveis de preços anteriores. Tal situação implicou ajustes no seu estilo de vida.
O aumento dos preços dos combustíveis gerou implicitamente um aumentos nos
gastos de produção, levando a que o produto final seja mais caro quando chega ao
consumidor.
Os mais pobres são os mais vulneráveis aos efeitos dos aumentos dos preços dos
combustíveis, que geram um aumento do preço dos alimentos. Energia e alimentos
representam cerca de 70% do cabaz de compras dos mais carenciados, o que faz
com que as consequências a longo prazo da actual tendência sejam consideráveis.
O corte nas despesas é inevitável, bem como a procura por energias alternativas que
sejam verdadeiramente alternativas!
O preço do petróleo subirá em 2,5 vezes, prognostica a Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), cujos analistas calcularam que
para 2020 um barril de petróleo Brent do Mar do Norte custará 270 dólares contra
atuais 110,
A Desindustrialização.
Outro factor que tem exaurido a economia europeia é a chamada
desindustrialização, este fenómeno começou a ocorrer com a industrialização dos
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 27
países menos desenvolvidos e que beneficiam de salários baixos acrescidos pelo
facto de não possuírem políticas sociais e de protecção do emprego.
Há divergências fortes no seio de ambos estes grupos. A Dinamarca perdeu quase
um quarto do pessoal da indústria transformadora, e a França quase um quinto,
desde a introdução do euro, ao passo que a Alemanha perdeu apenas um décimo. O
Luxemburgo é o único que aumentou a mão-de-obra industrial. Parece significativo
que este pequeno país seja o único a seguir uma política de abertura à emigração
vinda da União europeia, portuguesa em particular, e por isso devemos presumir que
tem maior flexibilidade salarial.
No grupo dos Euro pobres, só o pequeno Chipre aumenta os efectivos da mão-de-
obra industrial e é o razoável comportamento italiano que aguenta a média deste
grupo. A Itália representa cerca de metade do emprego industrial dos Euro pobres;
sem ela, a sua indústria reduzir-se a 83% do que era no começo do Euro.
Assinalemos que a grande quebra no grupo ocorre depois da crise Lehman (2008);
até aí, mantivera-se em média próximo dos valores de 2000.
Só um estudo mais aprofundado nos permitiria identificar o peso e o papel da
excessiva valorização do euro nesta desindustrialização. A queda da indústria
maltesa é devida ao fim da protecção à indústria ineficaz de um mercado pequeno.
Podemos supor que a indústria dos países mais pobres resistiu melhor por estar
assente em salários mais baixos, mas perdeu resistência porque a crise Lehman
coincide com um novo arranque da globalização; seria o caso da Espanha e de
Portugal. Os euro-ricos com salários industriais elevados e flexibilidade intra-
industrial, como a Alemanha e a Áustria, aguentaram melhor do que os outros; no
caso germânico, o euro parece ter desacelerado o decréscimo industrial a prazo
mais longo mas não temos à mão uma série estatística relativa à Alemanha
ocidental. O actual renascer da crise está a provocar nova vaga de fechos de
empresas industriais em diversos países, entre os quais a França. Seja como for,
não é linear a influência da errada taxa de câmbio do euro sobre a
desindustrialização da Europa no entanto o seu efeito no desemprego é
absolutamente arrasador.
Independentemente do lado por onde olhemos para o fenómeno, o certo é que este a
manter-se trará consigo mais desemprego, mais precariedade, mais pobreza e mais
deficit, sendo na minha perspectiva a sua inversão absolutamente nuclear para a
salvação de uma Europa como todos desejamos.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 28
III. Para onde caminhamos.
Desemprego.
Sem duvida que este fenómeno é o mais preocupante que a Europa enfrenta nos
dias de hoje, e é consequência da desindustrialização a que temos assistido.
As taxas de desemprego na europa não param de bater recordes, e infelizmente a
classe politica que temos não está preparada para ver e combater o problema,
escudada na crise mundial com que justificam o fenómeno, não percebendo que a
crise é consequência destes fenómenos e não a sua causa.
Para agravar este terrível drama, na europa cada desempregado custa ao estado em
subsídios e outras políticas sociais milhões de euros que são pagos com o recurso a
deficit, que vem agravar a já difícil situação, não esquecendo que cada
desempregado por outro lado deixa de contribuir com os impostos que oneram o
trabalho, privando os estados portanto de importantes receitas fiscais.
Assim entramos num círculo vicioso que nos conduzirá a uma forte redução do poder
de compra e do consequente alastrar da pobreza, primeiramente nos países
periféricos mas que julgo que acabará por alastrar a toda a Europa, acabando por a
afectar sem excepção, aliás conforme já vai sendo possível observar em países mais
centrais como a França e o Reino Unido.
Se nada de muito drástico for feito a respeito deste problema, julgo que a
desintegração da Europa como a conhecemos será inevitável, bastando para isso
que alguns pequenos países comecem por sair até a debandada geral, sendo que os
estados de tão endividados que já estão não terão capacidade para continuar a
suportar políticas sociais que apenas são paliativos.
Desagregação social.
Parece-me claro que o aumento do desemprego com a consequente baixa de
rendimentos de uma parte significativa da sociedade trará muitos conflitos sociais
que serão potenciadores de uma certa desagregação social, na tentativa de se
encontrar responsáveis, ou culpados para os dramas que cada um dos cidadãos
possa eventualmente viver.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 29
No momento que faço este trabalho essa desagregação já se faz sentir, seja nas
medidas adoptadas para resolver o problema de Chipre, seja pelas inúmeras
sondagens que mostram que os povos do norte se sentem prejudicados pelo
despesismo ou laxismo dos povos do sul, seja ainda pelo discurso pouco solidário
que o ministro das finanças Alemão Wolfgang Schäuble ao afirmar que os povos dos
países periférico sentem inveja dos povos do norte, frase que não sendo
particularmente feliz demonstra bem o que pensam os nossos parceiros acerca dos
países que enfrentam dificuldades na União Europeia.
Estes sinais são mais que evidentes que a Europa se está a desintegrar, e que
provavelmente dentro de poucos anos este projecto tal como o conhecemos, será
abandonado ou no mínimo substancialmente alterado, pois de facto é difícil unir algo
que nunca teve o mesmo “ADN” por um lado temos os países periféricos que lutam
para controlar as suas dividas e que estão a braços com uma crise profunda, muito
culpados da sai actual condição e ao mesmo tempo temos os países do norte que
apesar de terem beneficiado com a união o certo é que não querem pagar o preço de
terem no seio da União Europeia povos que pela sua falta de visão e de escrutínio
das politicas e dos políticos lhes venha agravar as suas condições de vida, parece-
me que este factor será decisivo no evoluir da união Europeia.
As gerações futuras.
Muito se te falado nas gerações futuras e no papel que desempenharão na
construção de uma sociedade mais justa e solidária, no entanto não tem havido por
parte da classe politica preocupação em proporcionar às novas gerações
perspectivas de um futuro melhor, seja na criação de emprego, seja na educação,
seja ainda no legado que lhes irão deixar.
Com efeito temos assistido com passividade ao destruir das espectativas que as
novas gerações terão, sendo que dificilmente estas, e apesar de mais educadas que
a geração que lhes precedeu, terão na construção de uma Europa mais solidária,
quando o que lhes mostramos é um futuro completamente hipotecado por politicas
absolutamente erráticas de favores onde o mérito não é valorizado e onde impera a
desorganização, e a irresponsabilidade favorecida por uma maquina da justiça
absolutamente ineficaz, incapaz de condenar os prevaricadores e dando sinais que o
caminho para o sucesso não se faz pelo trabalho mas pelo conhecimento e influencia
de grupos mais ou menos organizados.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 30
Seria importante que a voz da sociedade civil se fizesse ouvir, não para reclamar por
pseudodireitos mas para condenar todos os que por meios ilícitos tem enriquecido,
dando com essas atitudes um terrível sinal de que o trabalho e o mérito são
dispensáveis, criando um estigma transversal a praticamente toda a classe politica.
As máquinas partidárias são potenciadoras destas atitudes não convivendo bem com
a crítica interna, e chamando apenas para o seu seio políticos que não são mais que
marionetas incapazes de denunciar e afrontar os líderes que ali os colocaram.
Este sistema politico tem sido potenciador da nossa periferia, satisfazendo pequenos
grupos que minam todos os que pretendem entrar na política com intenção seria de
mudar e de lutar por melhores decisões, não é admissível que assistamos a eleição
de políticos que deixam muitas dúvidas dos interesses que tem e que por outro lado
nunca tenhamos assistido a condenação de algum contrariamente ao que assistimos
em países da União Europeia.
Sem um meio eficaz de fiscalizar a classe dirigente as gerações futuras estarão
irremediavelmente condenadas ao fracasso ou a submissão a praticas pouco
recomendáveis.
Custos Ambientais.
O ambiente é sem dúvida uma forte preocupação da Europa, pois todos desejamos
deixar as gerações vindouras um espaço onde a biodiversidade seja uma
preocupação e a harmonia com a natureza esteja presente.
Ainda assim temos que reconhecer que esta acarreta custos que devemos pagar,
sendo que me parece absolutamente irresponsável que deixemos para segundo
plano as preocupações ambientais, seja a que custo for, no entanto a política
comercial da União europeia tem premiado os que fazem vista grossa a estas
preocupações, permitindo que países onde estas preocupações não estão na ordem
do dia concorram com os produtores da união Europeia.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 31
A utilização das energias renováveis é sem duvida um factor que deverá ser
aprofundado e estimulado pela União europeia, mas será também fundamental que
estas energias sejam consideradas nos custos de produção dos bens e serviços,
caso contrario a concorrência será desleal e desmotivadora do eficiente uso das
mesmas.
Sendo a energia um factor de produção, é de esperar que os preços da produção
sejam fortemente influenciados pela inclusão de energias renováveis na produção ou
transformação dos produtos que consumimos, assim é urgente que seja incluído um
factor de correcção á importação para a Europa de produtos onde esta preocupação
não esteja presente.
Será também recomendável que a eficiência energética seja também factor
diferenciador, no preço dos produtos que consumimos sendo que se nada for feito a
este respeito a fuga a estes pressupostos será altamente compensatória, já que os
preços energéticos tem uma elevada ponderação nos produtos finais.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 32
Será muito importante que mostramos às gerações futuras a necessidade de esta
preocupação, pois serão em última analise elas as grandes beneficiadoras de uma
política ambiental eficiente e eficaz.
IV. Repensar o modelo de desenvolvimento.
Políticas Eficientes.
A eficiência na administração pública é fundamental neste momento de recursos
escassos e com o previsível “emagrecer” dos estados.
Não será possível continuar a gastar sem critério na administração pública, as
políticas deverão ser mais eficazes para poder redistribuir de forma mais
barata/eficiente os recursos que estão ao dispor dos estados.
Nos últimos anos temos assistido ao “engordar” dos estados sendo que se a
presente crise tem algo de positivo, é a chamada de atenção para que os estados
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 33
sejam mais rigorosos na administração dos dinheiros públicos, introduzindo aqui
preocupações de eficiência.
Deverão pois os estados inverter a tendência que até aqui nos trouxe, diminuindo a
máquina do estado, pois esta é consumidora de elevados recursos, sem motivo
aparente que o justifique.
Este exercício deverá começar pelo aparelho político, tentando que adequemos os
nossos recursos às nossas necessidades, a começar pelos número de euro
deputados e de assessores que tornam a Europa num filão de burocracia sem motivo
aparente, sendo que a diminuição trará benefícios quer a nível orçamental quer a
nível de eficiência na tomada de decisões.
Em Portugal esta necessidade é evidente quando temos uma máquina que
notoriamente consome mais que o necessário, a redução ainda que dolorosa será
compensadora, e absolutamente necessária.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 34
Gestão Criteriosa de Recursos.
A gestão criteriosa dos recursos é uma necessidade e uma condição absolutamente
necessária para que a Europa saia da crise que hoje enfrenta.
Não será mais possível, os Estados continuarem a gastar mais do que tem, com
recurso a divida publica conforme estas crises das dívidas soberanas já nos
demostraram, assim a necessidade de elaboração de orçamentos que sejam
equilibrados ou seja que tendam para um deficit zero é essencial.
Esse objectivo só será conseguido se os estados fizerem uma gestão criteriosa e
rigorosa dos recursos que tem ao seu dispor, sendo certo que o financiamento de
deficits será doravante mais difícil se não mesmo impossível.
Em Portugal, é necessário que as instituições fiscalizadoras estejam particularmente
atentas a esta necessidade, pois é delas que se espera o controlo efectivo das
despesas do estado, no entanto em Portugal temos assistido a um interminável
numero de obras que custam 2 ou 3 vezes mais que os valores orçamentados, com
a aparente indiferença destes órgãos.
O tribunal de contas tem que ser mais ágil e em tempo útil aferir dos desvios,
tomando medidas que sejam dissuasoras de práticas como as que temos assistido, e
que nos trouxeram onde nos encontramos hoje.
Uma vez mais caímos na esfera da justiça que em Portugal tem uma
responsabilidade decisiva no acumular de vícios e na desresponsabilização dos
agentes que transversalmente tem prejudicado o funcionamento da máquina do
estado, fazendo vista grossa às inúmeras situações de abuso por parte de Camaras
Municipais, empreiteiros, prestadores de serviços, gestores de empresas publicas
etc, e outros agentes que tem como cliente o erário publico.
Mudar Mentalidades.
É neste particular que o cidadão comum pode e deve intervir, obrigando a que as
instituições executem as tarefas para que foram designados.
Não é aceitável que se façam manifestações porque descemos as pensões ou contra
o desemprego, mas nunca tenha havido uma manifestação contra os desvios das
obras publicas ou pela eleição de políticos corruptos ou ainda pelo desvio de verbas,
omissão de despesas, sobreendividamento de autarquias etc, a nossa sociedade
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 35
apenas se movimenta quando se sente ameaçada nos seus direitos não percebendo
que é um direito seu e uma obrigação do estado que as instituições funcionem, e que
o julgamento e eventual condenação de praticas ilícitas deve ser exigido, sendo que
com esta atitude se prevenirá futuras praticas ilícitas e consequentemente o
desbaratar de recursos que são de todos nós.
Nas sociedades mais desenvolvidas o grau de exigência sobre as instituições é
muito grande, mas infelizmente em Portugal todos vivemos bem com a pequena e a
grande corrupção sem termos noção que o estado somos nós e que quem o rouba,
seja por fuga aos impostos seja por desvio de verbas deverá ser exemplarmente
castigado.
Ainda hoje convivemos com inúmeros casos de políticos e outros intervenientes da
vida pública que são incapazes de demostrar de onde lhes veio a riqueza que detém,
tendo para isso bloqueado uma lei que a coberto da Constituição ou de outro
qualquer motivo, os torna inatacáveis sabendo nós que muitas dessas fortunas tem
origem criminosa.
Comércio Mundial.
È absolutamente urgente que o comercio mundial seja regulamentado de forma a
que os preços finais dos produtos tenham encerrados os custos reais, tendo em
conta politicas ambientais ou laborais etc.
Não é possível continuarmos a assistir a entrada de forma completamente livre de
produtos oriundos de países que não tem o mesmo procedimento gerando assim um
factor de competitividade que dificilmente poderá ser superado nos produtos que
pela sua natureza necessitam de uma incorporação de mão de obre relevante.
Certamente haverá já muitos que pensarão que não que pelo contrário a Europa
deverá ser um local de criação e de inovação deixando para os outros países esses
produtos menos “nobres” uma vez que estes podem ser executados por outras
economias, no entanto esquecemos de recordar a pressão que este factor irá colocar
na taxe de emprego, porque estes produtos chegam a Europa com preço muito
inferior que é ilusório já que juntamente com o preço apelativo trazem também
desemprego que trará mais custos para o erário publico.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 36
O que não aprendemos com Keynes.
John Maynard Keynes foi um economista Britânico cujos ideais serviram de
influência para a macroeconomia moderna, tanto na teoria quanto na prática. Ele
defendeu uma política económica de Estado intervencionista, através da qual os
governos usariam medidas fiscais e monetárias para mitigar os efeitos adversos dos
ciclos económicos – recessão depressão e booms. Suas ideias serviram de base
para a escola de pensamento conhecida como economia Keynesiana.
Infelizmente, e porque todos se arrogam o direito de invocar Keynes ou afirmando o
seu Keynesianismo esquecem que em 1930 as economias eram fechadas e que hoje
não o são, e o pretendido efeito multiplicador não se dá, uma vez que os recursos
que o estado possa injectar são em grande parte absorvidos por produtos
importados, ou seja o capital pura e simplesmente desaparece de circulação
interrompendo portanto o efeito que se pretendia.
Assim se alguma coisa para Portugal foi positivo nesta crise que hoje enfrenta é o
facto de a nossa balança com o exterior se ter equilibrado coisa que “normalmente”
não ocorreria, e que só foi possível pela evolução positiva das nossas exportações,
conjugado com uma quebra acentuada no consumo interno e consequentemente nas
importações.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 37
V. Conclusões
Assim parece-me inevitável que a Europa se ajuste às novas realidades que se lhe
deparam, nomeadamente no que concerne ao emprego que me parece o mais grave
sintoma da desindustrialização a que a Europa chegou, no entanto deverá na minha
perspectiva tornar possível a redução efectiva dos estados, tornando portanto os
serviços que os estados disponibilizam mais eficientes, tornando portanto mais
sustentável quer a saúde quer a educação e as pensões, estes são as áreas mais
dispendiosas e por isso algo terá forçosamente aqui por muito que alguns
demagogos falem em justiça social e outras ficções.
Outro factor que me parece de extrema importância será a adopção de medidas de
apoio a natalidade se queremos manter viável o nosso projecto comum, a Europa
corre o risco de dentro de 3 ou 4 gerações perder a sua identidade, pelo decréscimo
da população e pela entrada de povos oriundos de outros continentes, sendo que
este facto coloca uma pressão enorme na chamada área de assistência social.
Parece-me também essencial que a Europa desenhe uma política de acesso ao seu
mercado que contemple a adopção de barreiras a produtos que põe em risco a sua
sustentabilidade económica, por via do desemprego que estes geram.
A integração do sistema bancário também é na minha perspectiva um factor
essencial para a credibilidade dos mercados, já me parece que as “Eurobonds”
serão muito pouco desejáveis se a capacidade de fiscalização for a que temos tido e
isso só faria na minha opinião aumentar do risco de incumprimentos de algum País.
Seria bom, e na tentativa de deslocar o centro de decisão para outro lado que não o
Oriente, estabelecer políticas de cooperação e estreitar trocas comerciais com o
continente Americano, nomeadamente com os Estados Unidos país com quem a
Europa deve privilegiar as relações comerciais e politicas aliás conforme tem sido
feito desde o fim da 2ª guerra.
A energia deverá ser também uma prioridade para o Velho continente, pela sua
dependência das importações, com as consequências para a economia, acredito que
com o preço do petróleo acima de 100 Usd a europa não irá crescer, e sem isso tudo
o resto não é sustentável. Assim a adopção de uma política que privilegie a Energia
renovável é inevitável no entanto não esqueçamos que os preços da energia são
também um factor determinante na Industria que devemos proteger.
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 38
Referências Cibergráficas
http://www.dn.pt/inicio/economia/interior.aspx?content_id=1710421
http://www.pordata.pt/Home
http://europa.eu/legislation_summaries/employment_and_social_policy/situation_in_europe/c10160_pt.htm
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugueses-entre-europeus-que-menos-confiam-na-justica-1583720
http://europa.eu/legislation_summaries/employment_and_social_policy/situation_in_europe/c10160_pt.htm
http://educacao-em-portugal.blogspot.pt/2007/05/introduo-origem-dos-problemas.html
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/45861-crise-ameaca-politicas-sociais-na-europa.shtml
http://janusonline.pt/popups2011_2012/2011_2012_3_1_2.pdf
http://expresso.sapo.pt/entrevista-bric-nunca-serao-bloco-economico=f789322
http://pt.wikipedia.org/wiki/Wikip%C3%A9dia:P%C3%A1gina_principal
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 39
Índice
I- Onde nos encontramos
O Peso dos Estados…………................................................................................2
Politicas Laborais e de Emprego..........................................................................4
O Peso dos Deficits…………………......................................................................6
A Saude...................................................................................................................8
Educação……………………..................................................................................10
Demografia............................................................................................................11
Politicas Sociais………….....................................................................................15
Justiça e Liberdade..............................................................................................16
II- As Novas Potencias
O Emergir de novas Economias........................................................................18
Matérias Primas...................................................................................................22
O Factor Energético............................................................................................23
A Desindustrialização.........................................................................................26
A Desindustrialização, o Emprego, e as Politicas Sociais no séc. XXI Página 40
III- Para Onde Caminhamos
Desemprego.........................................................................................................27
Desagregação Social……………........................................................................28
As Gerações Futuras..........................................................................................28
Custos Ambientais..............................................................................................29
III- Repensar o Modelo de Desenvolvimento
Politicas Eficientes…..........................................................................................31
Gestão Criteriosa de Recursos..........................................................................33
Mudar Mentalidades…........................................................................................34
O Que não Aprendemos com Keynes...............................................................36
IV- Conclusões