A AVALIAÇÃO ENQUANTO PROCESSO EMANCIPATÓRIO:
Uma proposta de formação de professores
Sirlei Aparecida de Oliveira1
Iolanda Bueno de Camargo Cortelazzo2
Este artigo traz uma síntese das atividades realizadas durante o Programa de Desenvolvimento Educacio-nal – PDE, edição 2012, na área de Pedagogia, cujo tema é a avaliação da aprendizagem com caráter emancipatório, visando promover a discussão entre os professores sobre o papel da avaliação da aprendi-zagem escolar no processo de formação intelectual e social do aluno. A elaboração do projeto e da produ-ção didático-pedagógica objetivou compreender quais são as formas de avaliações utilizadas pelos profes-sores da escola onde o projeto se desenvolveu, pois a postura tradicional e conservadora de alguns educa-dores se evidencia durante a realização do conselho de classe a cada final de bimestre. Assim, busca-se proporcionar aos professores, uma melhor compreensão sobre a função social da escola pública, com de-bates e reflexão sobre a prática pedagógica, promovendo aprofundamento que possa melhorar a qualidade da sua prática. Os resultados desse estudo mostram que é fundamental aos professores, conhecer o que é avaliação como processo emancipatório; instrumentalizar-se na organização dos procedimentos avaliativos; compreender a prática da avaliação como ferramenta pedagógica voltada para a aprendizagem e para a autonomia dos alunos. Palavras-chave: Avaliação; Processo emancipatório; Formação de Professores;
1 INTRODUÇÃO
Durante a realização das reuniões de Conselho de Classe, a postura conservadora
de alguns professores diante do resultado baixo das avaliações propostas aos alunos no
decorrer do bimestre se torna evidente.
Essa postura tradicionalista é marcada pela comparação de alunos entre si ou
mesmo pela classificação de alunos de acordo com o aproveitamento apresentado nas
avaliações somatórias. Isso demonstra que a concepção de avaliação que embasa a
prática pedagógica não é emancipatória e revela que alguns desses profissionais da
educação desconhecem a proposta de avaliação preconizada pela Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – LDBN 9.394/96 e que embasa as Diretrizes Curriculares
da Educação Básica do Governo do Paraná.
Embora muito se tenha discutido sobre o processo de avaliação, o que se vê nos
meios educacionais é que as práticas avaliativas não sofreram muitas modificações: ainda
continuam seletivas e competitivas, haja vista o número de alunos reprovados ou
aprovados por conselhos de classes nas unidades escolares. Faz-se necessário envolver
os professores no processo de avaliação escolar com caráter emancipatório, visando
melhorias na qualidade da aprendizagem, pois, somente dessa forma o aluno se
reconhece parte do processo avaliativo. Esse tipo de avaliação fortalece sua autoestima e
potencialidades, auxiliando-o a se perceber como aprendente, compreendendo e
dimensionando o grau de dificuldades que está sentindo. 1 Professora PDE da Escola Estadual Profa. Hilda Faria Franco, Rio Branco do Sul, PR..
2 Orientadora, Professora da Universidade Tecnológica Federal do Paraná UTFPR
É importante que o professor se coloque também como responsável no processo
de aprendizagem do aluno, não depositando, nesse, toda a responsabilidade pelo
fracasso. Quando o professor assume essa posição responsável no processo, passa a
trabalhar com a aprendizagem significativa, aproveita o conhecimento que o aluno traz
como ponte para o que será ensinado. Desta forma, ele passa a envolver e a motivar o
aluno a querer a aprender mais e mais.
Essa constatação assevera a necessidade de fazer com que os professores
trabalhem a avaliação como um processo emancipatório. Mas, como fazê-lo?
Como contribuição para se alcançar essa resposta, o projeto de pesquisa por mim
apresentado ao PDE 2012, na área de Pedagogia, teve como objetivo levar os
professores a se apropriarem do processo de avaliação da aprendizagem escolar com
caráter emancipatório, visando melhorias na qualidade da aprendizagem. De forma
específica, propõe-se a aprofundar conhecimentos sobre o que é avaliação enquanto
processo emancipatório, instrumentalizar os professores na organização de
procedimentos avaliativos emancipatórios e reconhecer sua prática como uma ferramenta
pedagógica voltada a melhorar o processo de aprendizagem que contribui para a
autonomia dos alunos.
Assim, a produção didático-pedagógica, elaborada na forma de Unidade Didática
durante o segundo semestre de 2012, produzida para atender a esses objetivos, abordou
as seguintes questões acerca da qualidade na educação e a função social da escola:
estudos sobre o Projeto Político Pedagógico e a avaliação da aprendizagem escolar; a
função social da escolaridade; o papel da avaliação da aprendizagem; e a importância
dos instrumentos de avaliação. A intervenção foi realizada no primeiro semestre de 2013,
como uma etapa do desenvolvimento profissional de professores da rede estadual de
ensino que atuam na Escola Estadual Professora Hilda Faria Franco.
Em termos metodológicos, as etapas de elaboração do projeto e de produção do
material didático-pedagógico exigiram a realização de um levantamento bibliográfico em
fontes primárias e secundárias. A etapa de execução contou com algumas atividades
realizadas na própria escola, quando os temas propostos foram estudados pelo grupo de
10 (dez) professores, passando por reflexão e debate, ensejando assim uma maior
sensibilização acerca dos benefícios da avaliação emancipatória no processo de
aprendizagem e de construção do conhecimento.
Os resultados desse trabalho constituem o presente artigo original, que mostra a
importância fundamental de os professores conhecerem o que é avaliação como processo
emancipatório e instrumentalizar-se na organização dos procedimentos de avaliação,
assim como compreenderem a prática da avaliação como uma ferramenta pedagógica
voltada para a aprendizagem que contribui para a autonomia dos alunos.
Avaliação da Aprendizagem Escolar com Caráter Emancipatório
O embasamento teórico construído para o desenvolvimento do projeto também
serviu como referencial para as atividades subsequentes de estudo e produção didático-
pedagógica versando sobre a avaliação emancipatória. Compreende definições sobre a
função social da escola e conceitos sobre avaliação, aprendizagem, emancipação,
autonomia e ensino, qualidade da educação, levantados em publicações, livros e artigos
que abordam a temática e defendem uma avaliação mais justa, dentro de um processo
que privilegie a autonomia do indivíduo.
A escola tem a função social de trabalhar os conhecimentos científicos de forma
sistematizada com todos os alunos que a ela tenha acesso. Para Libâneo (1994), a
qualidade na educação pressupõe uma escola que seja unitária, pública, gratuita,
democrática e que assegure a todos os alunos o acesso, a permanência e o sucesso com
um ensino de qualidade, nesse sentido, a principal tarefa da escola é promover o domínio
dos conhecimentos sistematizados e promover o desenvolvimento das capacidades
intelectuais dos alunos. Já na visão de Saviani, a função política da escola consiste em
“socializar os conhecimentos sistematizados” (SAVIANI, 2010, p.57).
Para Sacristan e Gómez, a escola tem a função de preparar os cidadãos para o
mundo do trabalho desenvolvendo as capacidades de pensar e atuar de maneira que
esse cidadão pense e aja de forma relativamente autônoma. Assim, a escola tem a
função de desenvolver além de conhecimentos, habilidades e capacidades formais, mas
também atitudes, interesses, formas de convivência, para que esse indivíduo possa
intervir na vida adulta e em sociedade.
A função educativa da escola ultrapassa a função reprodutora do processo de socialização, já que se apoia no conhecimento público (a ciência, a filosofia, a cultura, a arte...) para provocar o desenvolvimento do conhecimento privado de cada um dos seus alunos/as. A utilização do conhecimento público, da experiência e da reflexão da comunidade social ao longo da história introduz um instrumento que quebra ou pode quebrar o processo reprodutor. O conhecimento nos diferentes âmbitos do saber é uma poderosa ferramenta para analisar e compreender as características, os determinantes e as consequências do complexo processo de socialização reprodutora (SACRISTAN e GÓMEZ, 1998, p.22 e 23).
Para Libâneo (1994), o processo de ensino pode ser definido como sequência de
atividades que auxilia os alunos a aprimorarem o seu raciocínio, uma forma de
organização de atividades e métodos, tendo em vista o desenvolvimento das capacidades
cognitivas dos alunos. Nesse sentido, Cortelazzo (2000) afirma que ensinar é criar,
oportunizar condições para que os alunos desenvolvam as suas capacidades de domínio
dos diversos conhecimentos, de modo a poderem se expressar sobre as suas dúvidas e
descobertas, posto que a aprendizagem decorre da capacidade da reelaboração e da
reconstrução do conhecimento, por meio de reflexão, investigação e questionamentos.
Freire (1996) defende a ideia de que a aprendizagem é um processo contínuo, no
qual todos assumem a função de aprendente e, nesse caso, “inexiste validade no ensino
de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz não se tornou capaz de recriar ou
de refazer o ensinado” (p. 26); mesmo porque, “quem ensina aprende ao ensinar e quem
aprende ensina ao aprender” (FREIRE, 1996, p.25).
A retomada dos estudos, a análise de um tema à luz das novas demandas sociais
é sempre positiva e enriquecedora. E os professores devem buscar fazê-lo, sem qualquer
constrangimento, tendo sempre em vista a importância de alinhar sua prática à
perspectiva de uma aprendizagem emancipatória para o aluno. Com base nesses
conceitos, foi proposto aos professores cursistas, a realização de atividades de estudos
sobre o Projeto Político Pedagógico, cujos trabalhos se desenvolveram por meio de
perguntas colocadas para reflexão e respostas Fez-se, também, uso de material didático
para explanar conceitos que fundamentam o tema, buscando assim a construção de
conhecimentos específicos sobre a função social da escola.
Debatendo sobre o PPP e a função social da escola
Objetivou-se com essa atividade, oportunizar o estudo e reflexão sobre o PPP da
escola, a partir de estudo e análise dos marcos situacional, referencial e operacional
constantes daquele documento.
Assim, buscou-se saber dos professores, qual sua concepção a respeito do PPP.
Dos dez participantes, apenas um respondeu que o documento define o papel social da
escola; os demais se limitaram a colocar por extenso o significado da sigla, outros
discorreram sobre aspectos de sua constituição e estrutura e arriscaram algumas opiniões
sobre sua finalidade, porém sem muito êxito. Sobre a importância do PPP para a escola,
as respostas se mostraram muito vagas, denotando que os professores compreendem
parcialmente o papel desse documento para os encaminhamentos pedagógicos. Apenas
um professor respondeu de forma mais consistente, afirmando que esse documento é
elaborado para organizar o trabalho pedagógico, buscando soluções para problemas
diagnosticados. E diante da pergunta se conheciam o PPP da escola, 50% dos
professores responderam negativamente, atestando que não o conheciam.
Esse conjunto de respostas levou a uma constatação preocupante, pois é a partir
desse documento que se torna possível conhecer a realidade escolar, o perfil sócio
econômico da comunidade atendida pela escola e as deficiências encontradas no
processo de ensino e aprendizagem que se desenvolve dentro da escola, assim como as
orientações sobre a forma de avaliação que se espera que seja desenvolvida pelos
professores que nela atuam. Por outro lado, o que se depreende das respostas revela que
grande parte dos professores não conhece o PPP das escolas onde trabalham e, por
essa razão, apresentam um discurso teórico que não encontra correspondência em sua
prática, e esse é um dos desafios que se colocam aos pedagogos e à educação que a
escola se propõe a oferecer.
Em seguida, divididos em três grupos, os professores assistiram vídeos onde
Vasco Moretto fala sobre o PPP – sua importância e estrutura, depois foram convidados a
debater sobre os temas tratados, observando a organização apresentada no Quadro 1.
Quadro 1 - Resultado do trabalho dos Grupos sobre o PPP. Grupo Resultados
Grupo 1
Falou sobre a realidade das escolas da rede particular e da rede estadual e sobre a
importância do PPP para o trabalho do professor; que cada escola deve escolher seus
valores e a metodologia a ser trabalhada e, ainda, que os professores são aqueles que
vão colocar o projeto em ação.
Grupo 2
Descreveu o PPP como um documento de caráter orientador que norteia a comunidade
escolar, construído coletivamente; que é aberto, mostrando seus valores e metodologias,
a missão da escola para com a comunidade na qual se encontra inserida; visa à
aprendizagem educativa e, nesse sentido, os professores têm que se apropriar da
construção do mesmo, pois eles são os alicerce dessa construção.
Grupo 3
Compreende o PPP como um conjunto de orientações pedagógicas, construído
coletivamente e como um documento flexível, que pode ser readequado à realidade atual
sempre que necessário, assumindo um caráter político porque deve formar cidadãos, e
pedagógico porque dá direcionamento à relação entre professores e alunos, pois mostra
o que deve ser ensinado aos alunos.
Fonte: organização dos dados pela autora deste artigo
Em seguida, foi proposta aos participantes, a leitura e análise dos marcos
situacional, referencial e operacional constante no PPP da escola. Foi solicitado,
novamente, que os professores respondessem sobre a importância desse documento
para a escola; sobre como cada um pode contribuir para a efetivação das diretrizes nele
contidas e porque é necessário levar em consideração da realidade escolar na construção
desse documento. As respostas mostram que os professores passaram a entender que
podem e devem contribuir para a efetivação do PPP na escola onde atuam. Para isso, é
preciso levar em consideração a realidade escolar na constituição do PPP. As respostas
obtidas mostram que o PPP é importante para a escola, pois é por meio dele que a escola
se desenvolve, segue um caminho para ensinar e educar, adaptando as necessidades
dos alunos buscando um ensino de qualidade que leve à aprendizagem.
Observa-se ainda, que no entender desses professores, é importante conhecer a
escola, seu funcionamento e limitações, sua realidade e especificidades, destacando que
o professor pode contribuir para a efetivação do PPP na escola em que atua com vistas a
um melhor ensino fazendo um trabalho democrático com os outros professores,
melhorando a sociedade e o ambiente educativo. Podem ajudar, dessa forma a construir
uma sociedade mais justa e solidária; auxiliando a escola alcançar as metas
estabelecidas; buscando uma melhor capacitação e oferecendo aos alunos um melhor
ensino; e, ainda, participando da gestão da escola.
A contribuição final do grupo, por meio de fala livre, mostra que para os
professores, torna-se fundamental conhecer a realidade da comunidade com a qual a
escola trabalha. Possibilitar certa flexibilização para mudanças sempre que isso se
mostrar necessário à melhoria de desempenho por parte dos alunos e reconhecer que
eles possuem diferenças que os singularizam são questões que não podem ser
esquecidas, pois cada situação exige uma estratégia de intervenção adequada para que
os objetivos educacionais sejam alcançados.
Em relação à função social da escola, os cursistas debateram sobre o papel da
escola na sociedade, observando as seguintes questões que lhes foram colocadas: qual é
o papel da escola, qual a dificuldade existente no dia a dia para que a escola cumpra sua
função no que diz respeito ao ensino e aprendizagem, e, ainda, qual a dificuldade
existente em relação ao ambiente escolar. Os professores colocam que o papel da escola
é formar cidadãos para atuar no futuro, mas para que a escola cumpra o seu papel no que
diz respeito à questão de ensino e de aprendizagem e para que os alunos aprendam cada
vez mais, relatam que a falta da participação e o compromisso dos pais influencia. Pode
ser por isso que os alunos não têm interesse nas aulas, são indisciplinados, faltam com o
respeito aos professores, são faltosos, se evadem com frequência; portanto, é necessário
o envolvimento das famílias. Ainda em relação à dificuldade que existe no ambiente
escolar, relatam que o espaço físico compromete a indisciplina e a agressividade dos
alunos, alunos sem compromisso com os estudos.
Essas respostas revelam que os professores não percebem que a forma de
ensinar e a metodologia a ser utilizada são muito importantes para atrair a atenção dos
alunos nas aulas; e que para fazer com que esses se interessem pelas aulas é necessário
levar em consideração a realidade do aluno, contextualizada nas aulas.
Na sequência dessa abordagem foi mostrado aos professores cursistas um vídeo
onde Libâneo trata da função da escola. Em seguida, foram colocadas as seguintes
questões: qual a compreensão dos problemas em relação à intencionalidade da escola: é
transformadora ou conservadora? Por quê?
Segundo os professores, a escola precisa ensinar os alunos. Ensinar é auxiliar o
aluno a compreender o mundo que ele vive; a escola precisa ensinar os alunos levando
em consideração as características individuais, as suas dificuldades; os professores
devem organizar os conteúdos levando em consideração as características individuais
dos alunos; é importante compreender que os alunos desenvolvem seus raciocínios por
meio dos conteúdos; a função específica da escola é ensinar; a escola precisa
desenvolver as capacidades intelectuais e reflexivas dos alunos. Assim, responderam que
a intencionalidade da escola é transformadora. Colocaram que a função específica da
escola é ensinar, mas não colocaram que é ensinar e fazer o aluno aprender.
Outro estudo foi feito a partir da análise da letra da música Estudo Errado, de
autoria de Gabriel, o pensador. A relação feita pelos professores entre ensino e
aprendizagem é de que o professor precisa desenvolver métodos diferentes de ensino
para que o aluno não precise se utilizar da decoreba, a repetição não auxilia o aluno a
construir o significado do seu conhecimento. Outro ponto é que ensinar não significa
transmitir o conhecimento, mas fazer com que o aluno reelabore o conhecimento aprenda
para agregar valor ao seu desempenho, que ensine coisas interessantes que os ajudarão
em seu crescimento pessoal.
Também foi proposto aos professores, que divididos em dois grupos, estudassem
o texto Ensinar e aprender: as duas faces da educação (Cortelazzo, 2000). Assim, no
quadro 2, pode-se observar as constatações dos dois grupos.
Quadro 2 - Sínteses dos grupos sobre o texto Ensinar e Aprender Grupo Síntese
Grupo 1 responsável por ler e refletir sobre ensinar
Ensinar é um processo e necessita de recursos materiais e humanos; é fazer com que o outro desenvolva a sua capacidade de raciocínio, de compreensão, de reflexão sobre o conhecimento e poder expressar com clareza suas dúvidas e certezas.
Grupo 2 responsável por ler
e refletir sobre aprender
A aprendizagem faz parte do desenvolvimento humano, pois é nas relações com os outros e com os objetos de conhecimento que o ser humano vai construindo o seu conhecimento e dando significado e, dessa forma, ensinar e aprender estão relacionados, pois para ensinar alguém sobre algo é necessário orientar, criar condições, oportunizar momento de reflexão sobre o objeto a ser conhecido.
Fonte: Dados organizados pela autora.
As respostas dos professores do Grupo I mostram que aprender equivale a
construir significado dialogando com o objeto de conhecimento. As respostas dos
professores do Grupo II mostram que é necessário compreender que ensinar não é
transferir conhecimento, mas dar oportunidade do aluno se envolver, pensar sobre as
informações que estão sendo recebidas; e isso significa que ensinar e aprender estão
relacionados, pois um depende do outro e, nesse sentido, o professor precisa fazer os
alunos compreenderem os conteúdos, precisa saber aplicá-los, considerando a
singularidade de seus alunos.
A contribuição final do grupo por meio de fala livre, sobre função social da escola,
ressalta que essa deve ser a de proporcionar aos alunos o ensino e a aprendizagem de
forma agradável, respeitando as dúvidas que surgem, o tempo de aprendizagem dos
alunos, fazendo com que os alunos se envolvam com o objeto de conhecimento. Nesse
sentido, a função social da escola consiste em criar cidadãos críticos e capazes de
contribuir para a transformação da realidade que vive. A escola tem a função de ensinar
os conteúdos aos alunos, mas também tem a tarefa de resgatar os valores humanos
tradicionais, como respeito, honestidade, humildade, amizade, fraternidade, etc. A
dificuldade maior é a falta de interesse dos alunos, porque a família não incentiva, não
participa e não tem comprometimento.
A avaliação da aprendizagem para ser justa e efetiva precisa diagnosticar as
dificuldades apresentadas pelos alunos para que o docente possa reorganizar o seu plano
de trabalho. Para colher as informações sobre o desenvolvimento dos seus alunos, ele
precisa utilizar diferentes instrumentos de avaliação e introduzir mudanças de estratégias
no processo ensino.
Segundo Luckesi (2003), a avaliação da aprendizagem precisa assumir o papel
de diagnosticar o percurso que o aluno faz na construção de sua aprendizagem e mediar
a favor deles para que os mesmos possam se corrigir e construir o seu conhecimento.
Discorrendo sobre como a aprendizagem promove essa reconstrução do conhecimento,
Freire (1996), aponta que o papel fundamental do educador é contribuir positivamente
para que o educando seja o autor de sua formação. Isso significa. “[...] assumir-se como
ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador, realizador
de sonhos” (p. 46). Nesse sentido, o educador precisa reforçar, aguçar, estimular a
capacidade crítica do aluno, aproximando-o dos objetos de conhecimentos, ensinando-o a
pensar certo em termos críticos, de forma que ele possa apreender o objeto a ser
aprendido (FREIRE, 1996).
Abordando o papel da avaliação nesse processo, Luckesi (2003) observa que os
termos avaliar e verificar se identificam em sua fenomenologia de aferição do
aproveitamento escolar. O termo verificar tem sua raiz etimológica na palavra latina verum
facere, que significa fazer verdadeiro; no entanto, o conceito de verificação expressa uma
conduta de “ver se algo é isso mesmo...” e, nessa ótica do autor, o processo de verificar
configura-se pela observação, análise, síntese dos dados que se está trabalhando
(LUCKESI, 2003, p.92),
Para esse autor, a avaliação da aprendizagem não se encerra com o resultado
obtido, mas exige uma tomada de posição do professor, e isso significa que a avaliação
deve servir como instrumento de informação sobre o nível de qualidade do trabalho
escolar dos alunos, mas, também para que o professor reflita sobre sua prática
pedagógica, reformulando-a sempre que necessário.
O domínio desses conceitos é importante para que os professores analisem a sua
forma de perceber a avaliação escolar e o papel dessa e dos instrumentos avaliativos
para uma aprendizagem significativa.
Como a aprendizagem promove a reconstrução do conhecimento
Continuando o debate, o grupo de professores foi orientado a refletir sobre sua
percepção pessoal sobre avaliação. As respostas mostram que para o grupo de
professores, a avaliação é um instrumento utilizado no processo de ensino com a função
de identificar se a aprendizagem está ou não acontecendo, para descobrir o quanto o
aluno aprendeu; por isso os professores descrevem os instrumentos avaliativos que
utilizam: provas escritas, orais, trabalhos, participação, interesses, pesquisas, oralidade,
discussões, debates, interpretação, sempre com o objetivo de verificar o quanto o aluno
absorveu de conteúdo; e, nesse contexto, afirmam que o papel do professor deve ser o de
mediador, posição essa que exige ser flexível, buscar metodologias adequadas caso o
aluno não consiga aprender. Esse conjunto de resposta revela que os professores
compreendem que o papel da avaliação é a de subsidiar informações que permitam
perceber se houve ou não a aprendizagem.
Em seguida, foi apresentado aos professores, um vídeo que aborda o papel da
avaliação. Os professores compreenderam que toda a escola deve ser avaliada em
processo e por isso a avaliação deve ser pensada como uma maneira de orientar a
aprendizagem do aluno, de forma a conduzir o aluno sempre ao sucesso e a construção
do conhecimento. Entenderam, ainda, que a avaliação precisa levar em conta o
desempenho do aluno e a didática do professor e de todo o contexto escolar. O mais
importante é que eles conseguiram entender que a avaliação precisa observar a
capacidade do aluno e não se limitar a dar notas; indicar os caminhos que o professor
deverá traçar para fazer o aluno aprender e, por isso, estar articulada ao processo de
ensino e de aprendizagem e não acontecer em momentos isolados. Finalmente,
entenderam que a nota é importante para o registro e também para que o aluno entenda o
que está sendo avaliado, mas que a avaliação não se limita à nota.
Nessa mesma linha de raciocínio, os professores receberam um texto de Luckesi,
intitulado O que é mesmo o ato de avaliar a aprendizagem? Divididos em dois grupos, os
professores debateram e manifestaram-se sobre o tema.
Quadro 3 - Sínteses dos grupos sobre o texto de Luckesi
Grupo 1 Afirma que a avaliação é um ato dinâmico que não se encerra na constatação, portanto
deve ser compreendida como um recurso pedagógico necessário à prática educativa e
serve para auxiliar o professor e o aluno na construção do conhecimento; deve ser
inclusiva, não excludente e nem classificatória, mas, principalmente, estar a serviço da
aprendizagem, por isso deve diagnosticar uma situação de aprendizagem e decidir o que
fazer com ela.
Grupo 2 Entende que a avaliação da aprendizagem não implica aprovação ou reprovação do
aluno, mas, orientação para o seu desenvolvimento, por isso exige que o professor
compreenda a situação de como o aluno chega até ele - ou seja, diagnosticar a
aprendizagem do aluno, verificar o que o aluno sabe, por meio de instrumentos
adequados aos conteúdos que foram planejados, para coletar os dados sobre o nível de
aprendizagem em que o aluno se encontra; subsidiando assim elementos para uma
tomada de decisão pedagógica que deve levar em consideração o que realmente é
importante e relevante.
Fonte: Dados organizados pela autora.
Perguntou-se, aos dois grupos, se eles concordavam com as ideias do texto, a
resposta foi positiva, justificando que a avaliação precisa permitir saber qual é o grau de
conhecimento que o aluno possui para que o professor possa auxiliá-lo por meio de novas
estratégias de ensino, favorecendo assim a sua aprendizagem.
Os comentários e a fala livre dos professores durante o debate demonstram que
eles passaram a compreender que a avaliação dá indícios sobre o aproveitamento e a
aprendizagem do aluno; oferece subsídios que permitem verificar o que o aluno aprendeu,
suas dificuldades e necessidades em relação à aprendizagem de alguns conteúdos,
contribuindo positivamente para a construção de seus conhecimentos. Por isso, o
professor não deve se limitar a um único instrumento de avaliação, mas utilizar vários,
como: trabalhos em grupo, pesquisas, atividades individuais e coletivas. Ressaltaram que
é importante que o professor esteja atento a avaliar a criatividade do aluno, sua
capacidade de raciocínio, a forma como interage com os outros; que a avaliação deve
referir-se aos objetivos previamente fixados pelo professor e, ainda, que o resultado da
avaliação não revele somente o fracasso do aluno, mas também do professor, da sua
metodologia e do seu planejamento se for o caso.
Ampliando os estudos sobre os instrumentos de avaliação, os professores
assistiram a um vídeo em que Luckesi aborda esse tema; dividiram-se em dois grupos,
pontuando os aspectos mais importantes. As conclusões dos grupos revelam que esses
professores passaram a compreender que o objetivo de avaliar um aluno é observar se a
aprendizagem está acontecendo para que o professor possa tomar atitudes que permitam
reorganizar a sua metodologia e conseguir um resultado satisfatório na aprendizagem do
aluno. Observa-se, ainda que esses professores compreenderam que o ato de avaliar é
diferente de examinar.
Passou-se, então, a investigar o que os professores conhecem dos instrumentos
avaliativos: função, método, vantagens e desvantagens, estratégias de planejamento e
formas de utilização dos dados obtidos. Como suporte para a realização do trabalho, os
professores receberam cópia de um texto publicado na Revista Nova Escola: Avaliação
Nota 103
Discorrendo sobre cada um dos instrumentos avaliativos propostos na matéria, os
professores fizeram observações que estão elencadas no Quadro 4.
Em seguida, os professores indicaram quais são os instrumentos avaliativos que
fazem uso em suas aulas e como podem enriquecer suas formas de avaliação. As
respostas obtidas revelam que os professores compreendem a necessidade de utilizar
vários instrumentos de avaliação para verificar se a aprendizagem está acontecendo de
forma satisfatória pelos alunos. Observaram que, com os trabalhos desenvolvidos, tornou-
se possível repensar a avaliação e seus instrumentos.
3 NOVA ESCOLA. Avaliação Nota 10. Publicado em 2001; disponível em
http://revistaescola.abril.com.br/planejamento-e-avaliacao/avaliacao/avaliacao-nota-10-424569.shtml. Aces-so em 08 de junho de 2012
Quadro 4 - Sínteses dos grupos sobre os instrumentos avaliativos.
Atividade avaliativa Considerações dos professores
Prova Objetiva Ensina aos alunos estratégias que facilitam associações, como ligações
com conteúdos já assimilados.
Prova Dissertativa Criar experiências e motivações permitindo ao aluno formar conceitos
importantes.
Seminário Auxilia o aluno a expor ideias ou falar em público; Trabalho em grupo - é
importante observar a integração das equipes, a colaboração do grupo.
Trabalho em grupo Observar a integração das equipes, a colaboração do grupo. Para quem
tem problema de socialização é importante colocar atividades que propicie
a integração.
Debate Organizar os seus pontos de vistas sobre determinados assuntos.
Relatório Individual Auxilia o aluno na escrita, assim o professor poderá observar o grau de
compreensão dos conteúdos pelos alunos.
Autoavaliação O aluno deverá ser honesto para que relate com franqueza a sua
aprendizagem e o seu comportamento.
Observação Permite ao professor obter informações precisas sobre os alunos,
permitindo uma reorganização do seu trabalho.
Conselho de Classe Permite a toda a escola uma autoanálise, prevendo mudanças necessárias
na prática dos docentes, do currículo, da dinâmica escolar.
Fonte: Dados organizados pela autora.
Sobre o Conselho de Classe, os professores foram convidados a assistir ao vídeo
do Prof. Hamilton Werneck, intitulado Avaliar e Examinar4. Em seguida foi aberta aos
professores a fala livre para que pudessem debater sobre o tema, repensar o Conselho
de Classe como um momento de pensar a prática. No vídeo o Prof. Werneck explica a
diferença entre o ato de examinar e avaliar.
Nessa atividade os professores indicaram que nas escolas, se trabalha muito mais
com o exame do que com a avaliação, pois o que acontece é que o professor soma a
nota do aluno com outra nota que ele tem para dar a média. Ressaltaram, que no que se
refere ao diagnóstico de que o Professor Werneck trata, que não fazem uso desse
recurso. Isso revela de forma clara que os professores perceberam que existe diferença
entre avaliação e exame.
4 Werneck, Hamilton. Diferença entre avaliar e examinar. Disponível em
http://www.youtube.com/watch?v=UqNGv7kyq7o. Publicado em 01/10/2011,vídeo com duração de 1'36. Acessado em 04/11/2012
Finalizando os trabalhos, foi indicada para leitura e reflexão pelos professores, a
seguinte mensagem de Hamilton Werneck5: “Prezados professores, meus olhos viram o
que nenhum homem deveria ver: câmaras de gás construídas por engenheiros formados;
crianças envenenadas por médicos diplomados. Assim, tenho minhas dúvidas a respeito
da educação”.
Os professores foram orientados a considerar algumas questões como: qual o
sentido de educar no contexto da mensagem; qual a sua visão de escola e de educação,
partindo da parte do texto em que o autor faz um pedido: “Ajudem seus alunos a
tornarem-se humanos” - o que ele quis dizer com isso; qual a ação que você enquanto
professor pode fazer para tornar realidade a humanidade de nossos alunos. Sobre esse
aspecto, as respostas dos professores mostra que a escola deve preparar para a vida em
sociedade, contribuindo também com os valores morais.
Para a questão “qual o sentido de educar no contexto da mensagem”, algumas
das respostas se mostraram bastante parecidas. Indicaram que essa educação não serviu
para ajudar as pessoas a crescer e evoluir, só conhecimento e nada de humanismo, que é
importante refletir sobre a estrutura educacional na sociedade, que é importante formar a
pessoa humana e não torná-la uma máquina de saber.
Sobre a visão de escola e de educação, as respostas dos professores mostram
que, a escola é um lugar de socializar o conhecimento organizado, e para aprender
valores que são inerentes para os seres humanos, que o objetivo é formar um cidadão
crítico, ativo e humano.
Isso revela que para os professores, a escola é um lugar de socialização e de
adquirir o conhecimento organizado, mas também de aprender valores que são inerentes
aos seres humanos e, nesse sentido, o currículo escolar deve priorizar não só o
conhecimento científico, mas também se preocupar em formar um ser social e moral.
Quando o autor faz um pedido: “Ajudem seus alunos a tornarem-se humanos”, o
que ele quis dizer com isso? Nas suas respostas os professores colocaram que a tarefa
do professor e da escola é trabalhar com os conhecimento científicos e com os valores,
tornando -os mais humanos.
Também foi perguntado aos professores sobre qual a ação que podem fazer para
tornar realidade a humanidade dos alunos. Das respostas obtidas destaca-se a
necessidade do professor ser transparente e tratar os alunos com respeito e humanidade.
Finalizando, foi colocada, aos professores, a questão sobre: como repensar o
5 WERNECK, H. Hamilton. Pedido de Hamilton Werneck aos Professores. Disponível em
http://www.saomarcos.br/uploads/pdf/pedido-de-hamilton-werneck.pdf
Conselho de Classe, dando mais sentido a prática de avaliação realizada? Os professores
se pronunciaram oralmente, observando a importância de se analisar toda a sua prática,
as metodologias utilizadas, como estão sendo aplicados os conteúdos para os alunos; se
estão “parando” com os conteúdos durante as aulas para trabalhar os valores morais na
sala de aula. Os professores compreendem que somente os conteúdos científicos não
formam um cidadão por completo, só o conhecimento científico não basta. Falta a
integração dos valores morais, como, respeito, amor, solidariedade pelo próximo. O
conselho de classe é um momento oportuno para reflexões e debates, para compartilhar
informações, analisar situações problemas e propor soluções em conjunto, visando
mudanças de comportamento, se necessários.
Aos colegas que participaram do Grupo de Trabalho em Rede (GTR), foram
colocadas 3 questões principais:
Questão 1: Para Luckesi (2003), a avaliação da aprendizagem não se encerra
com o resultado obtido, mas se exige uma tomada de posição do professor. Assim, o
autor define com um “julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade,
tendo em vista uma tomada de decisão” (Luckesi, 2003, p.33).
Nesse sentido, quais as principais ações que você percebe na prática dos
professores com relação à avaliação da aprendizagem nas disciplinas? Como os
professores vêm agindo para "recuperar" o aprendizado ou como você sugeriria? Dê
exemplos.
Síntese temática: Nessa questão, alguns participantes observam que há alguns
professores que ainda têm a dificuldade de proceder a avaliação como uma forma de
detectar a aprendizagem do aluno visando mudanças nas estratégias de ensino. Outros
colocam que ainda há muitos professores preocupados em cumprir os conteúdos
previstos no ano ou nas séries. Observam ainda que a dificuldade de alguns professores
é grande em proceder nos termos desse conceito de avaliação, como tomada de decisão.
Colocam que há experiências de outros professores, que buscam a construção do
conhecimento trabalhando os conteúdos de forma a acompanhar a
construção significativa do conhecimento, e que as atividades desenvolvidas de forma
participativa, revelam o grau de apropriação do conhecimento pelo aluno. Assim, a
avaliação permite ao professor a possibilidade de diagnosticar as dificuldades e o grau de
compreensão dos conhecimentos pelos alunos. A avaliação é utilizada como um
instrumento de diagnóstico para rever objetivos, metodologias e estratégias que ocorre
durante o processo, nas relações dinâmicas de sala de aula onde o docente tem a
possibilidade de interagir e tomar as decisões capazes de levar o estudante a
compreensão e atingir a melhor qualidade de aprendizado.
Ressaltam que é importante o professor provocar no aluno a reflexão e a
exposição de suas ideias para que o mesmo se torne crítico e que demonstre respeito
pelas produções de seus alunos e faça as intervenções necessárias com o objetivo de
fazê-lo refletir e avançar.
Questão 2: Para Libâneo (1994), a avaliação deve acompanhar todo o trabalho
do professor para que este possa identificar a aprendizagem dos conteúdos pelos alunos.
Para esse autor, “a avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente do trabalho
do docente, que deve acompanhar passo a passo o processo de ensino e aprendizagem”
(p. 95).
Como a avaliação da aprendizagem tem auxiliado o professor a observar as
dificuldades e os progressos dos alunos que vão sendo detectados no decorrer do
processo? Comente. Será que o professor utiliza a avaliação somente para classificar o
aluno com uma nota e quais seriam as implicações deste tipo de postura? Será que essa
atitude facilita o seu trabalho cotidiano? Será que isso não pode ser um fator que gera
indisciplina? A avaliação deve levar em conta as diferenças individuais de cada pessoa,
assim como o seu tempo de aprendizado para que possa permitir uma ação que auxilie
na superação de toda e qualquer dificuldade. Na sua escola, a avaliação da
aprendizagem tem sido uma ferramenta pedagógica com o objetivo de auxiliar o professor
na observação das dificuldades e dos progressos dos alunos que vão sendo detectados
no decorrer do processo? Comente de que forma o professor vem utilizando as
avaliações no seu cotidiano em sala de aula?
Síntese temática: A avaliação segundo Libâneo deve acompanhar todo o
trabalho do professor para que este possa identificar a aprendizagem pelos alunos. Com
relação a esta questão alguns participantes colocam que parte dos docentes
desconhecem esta concepção, pois não planejam ações pedagógicas para interagir nas
dificuldades apresentadas pelos alunos.
Muitos docentes pontuam somente a questão dos alunos em ter ou não interesse
pelas aulas ou em realizar ou não as atividades propostas. Escutam-se professores
reclamando dos alunos e alunos reclamando dos professores, logo, a aprendizagem não
é o foco. Não se discutem metodologias. O professor está preocupado com a nota, utiliza
a avaliação como instrumento classificatório. Não há observação das dificuldades
apresentadas pelos alunos e nem mesmo uma intervenção nesta dificuldade. Outros
participantes ressaltam que há uma parcela de profissionais da educação que estão
buscando trabalhar de forma a avaliar os alunos de forma emancipatória, instigando a
curiosidade dos alunos e fazendo com que estes se envolvam com a aprendizagem,
fazendo provocações e os estimulando a reconstrução e a reelaboração dos conteúdos
que lhes foram propostos, acompanhando a aprendizagem dos alunos para poder tomar
decisões e dar novos encaminhamentos a prática pedagógica.
Questão 3: Implementação do projeto de intervenção.
Síntese temática: A partir da socialização da aplicabilidade das ações de
Implementação do Projeto de Intervenção na Escola, alguns participantes colocam que as
atividades da implementação do projeto são viáveis, com ações concisas, que
oportunizará aos professores a reflexão sobre as suas práticas de avaliação.
Consideram, que para o professor poder avaliar de forma emancipatória é necessário que
ele desenvolva a sua capacidade de análise crítica refletindo sobre a sua prática
pedagógica, visando mudanças de atitudes.
Para o trabalho de organização de momentos de debates, o pedagogo é
imprescindível, cabe a ele ser o articulador do processo educativo, buscando subsídios
que amparem as discussões e debates. Ao abrir espaços para debater temas pertinentes
dentro da escola, como o processo da avaliação da aprendizagem escolar, provocamos
reflexões, tendo em vista a construção do conhecimento de forma coletiva.
Considerações Finais
Os estudos que constituem a base deste trabalho foram elaborados com o
objetivo de levar os professores da Escola Estadual Professora Hilda Faria Franco, de Rio
Branco do Sul, a se apropriarem do processo de avaliação da aprendizagem escolar com
caráter emancipatório visando melhorias na qualidade do ensino e, de forma específica,
conhecer o que é avaliação como processo emancipatório; instrumentalizar os
professores na organização de procedimentos que conduzam a uma avaliação
emancipatória; compreender a prática dessa forma de avaliação, como uma ferramenta
pedagógica voltada a melhorar a aprendizagem, contribuindo no processo de formação da
autonomia dos alunos.
Os resultados da intervenção mostram que sobre o Projeto Político Pedagógico,
os professores compreendem que se trata de documento de grande importância e
conhecê-lo é fundamental para sua atuação em qualquer estabelecimento de ensino,
cientes de que as características da comunidade para a qual estão trabalhando é a base
para determinar a metodologia de trabalho a ser adotada. Ressaltam a necessidade de
participar dos momentos de estudos do PPP para a readequação ou mudanças, de forma
que possam contribuir com a aprendizagem dos alunos, considerando suas diferenças,
propondo intervenção no que se fizer necessário.
Sobre a função social da escola, no início das atividades foi possível perceber que
os professores indicaram que o papel da escola é de formar cidadãos para atuar no
futuro, mas para que a escola cumpra o seu papel no que diz respeito a questão de
ensino e de aprendizagem, relataram que a falta da participação e o compromisso dos
pais comprometem o aprendizado e o interesse dos alunos nas aulas. Em relação à
dificuldade que existe no ambiente escolar, relataram que o espaço físico compromete
muito o ensino. Após a análise do vídeo, da letra música e da leitura do texto, percebe-se
que os professores compreenderam que a escola precisa ensinar os alunos e que ensinar
é auxiliar os alunos a compreenderem o mundo que eles vivem; que existe uma relação
entre ensino e aprendizagem e que para o professor fazer o aluno a se interessar pelas
suas aulas, é importante desenvolver métodos diferentes de ensino, levar em
consideração as características individuais, as suas dificuldades. É importante o professor
saber que os alunos desenvolvem seus raciocínios por meio dos conteúdos significativos,
que a função do professor é a de fazer com que o aluno entenda o conteúdo, e que
ensine coisas interessantes a eles que os ajudarão seu crescimento pessoal.
Sobre a avaliação da aprendizagem, os professores sabem que avaliação é um
instrumento utilizado no processo de ensino com a função de identificar se a
aprendizagem está acontecendo. Porém, somente um professor falou que a avaliação
deve ser pensada como uma maneira de orientar a aprendizagem do aluno. Nenhum
colocou que a avaliação deve levar em consideração o desempenho do aluno e a didática
do professor e de toda a escola. Não se falou também que a avaliação deve observar a
capacidade do aluno e não se limitar a notas. Colocaram que avaliam os alunos por meio
de vários instrumentos, mas não relatam que esses instrumentos deverão ser adequados
aos conteúdos que foram planejados, coletando os dados que são importantes sobre a
aprendizagem em que o aluno se encontra, para uma decisão a ser tomada. Também não
colocam sobre a importância da avaliação da aprendizagem ser inclusiva, ou seja,
colocando para dentro da escola aqueles alunos que ainda não sabem para poder ensiná-
los.
Sobre os instrumentos de avaliação, constatou-se que os professores
compreenderam que o objetivo de avaliar um aluno é observar se a aprendizagem está
acontecendo, de forma que permita ao professor reorganizar a sua metodologia. Para isto
utilizarão vários instrumentos que permitam obter informações precisas sobre os alunos.
E quanto à necessidade de repensar o Conselho de Classe, Constatou-se que os
professores perceberam que existe diferença entre avaliar e examinar, mas que as
escolas, na sua maioria, trabalham com exame e não avaliação.
Por fim, os professores compreenderam que a escola deve trabalhar no seu
currículo escolar não apenas o conhecimento científico, mas também os valores morais, e
se preocupar em formar um ser humano com conhecimentos científicos e com valores
morais. E esses resultados mostram que a intervenção realizada trouxe grandes
transformações na forma dos professores da Escola Estadual Professora Hilda Faria
Franco, pois perceberam a avaliação em sua função emancipatória; o que se refletirá
positivamente em sua prática docente, promovendo as melhorias necessárias para a
elevação do ensino ofertado pela escola e, como consequência na formação dos alunos,
que passarão a ser vistos em sua singularidade e poderão contar com ferramentas
avaliativas que permitirão não apenas indicar as dificuldades do aluno no processo de
aprendizagem, mas servirá para indicar ao professor que suas estratégias de ensino
também precisam ser revistas.
Mudando a forma de avaliar, muda-se a forma de ensinar. A escola muda, e a
sociedade também.
REFERÊNCIAS
CORTELAZZO, Iolanda B. de C. Ensinar e Aprender: as duas faces da educação. In Colaboração, Trabalho em Equipe e as Tecnologias de Comunicação: Relações de proximidade em cursos de pós-graduação: Tese de doutorado – Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, 2000; disponível em: www.boaaula.com.br/iolanda/tese/ensinar.htm. Acessado em 21.Set.2013. FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 23º edição. São Paulo: Editora Paz e Terra, 1996. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. 34ª edição. São Paulo: Editora Cortez, 1994. LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da Aprendizagem Escolar. 15ª edição, São Paulo: Editora Cortez, 2003. SACRISTAN, J. Gimeno e GÓMEZ, A.I. Pérez. Compreender e Transformar o Ensino. 4ª edição. Porto Alegre: Artmed,1998. SAVIANI, Demerval. Escola e Democracia. Edição Comemorativa. Campinas, SP: Autores Associados, 2009. SAVIANI, Nereide. Saber escolar, currículo e didática. Campinas: S.P., Autores Associados, 2010.