Relatório de Inflação Setembro 2000
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6 – Perspectivas para a inflação
Este capítulo do Relatório de Inflação apresenta a avaliação feita pelo
Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o comportamento da economia
brasileira desde o último Relatório, em junho, assim como as perspectivas
para a inflação até o fim de 2002. As projeções aqui realizadas baseiam-se
no pressuposto de que, no horizonte de previsão, a taxa básica de juros
permanecerá inalterada em 16,5% a.a, valor decidido pelo Copom em sua
última reunião, nos dias 19 e 20 de setembro. É importante ressaltar que
esse procedimento é estritamente técnico. Portanto, essa hipótese não deve
ser vista como previsão sobre a trajetória futura da taxa de juros.
As previsões de inflação e de crescimento do PIB divulgadas por este
Relatório não são pontuais, pois incorporam intervalos de probabilidade
que deixam claro o grau de incerteza presente no momento em que a
decisão sobre a taxa de juros foi tomada. Além da hipótese de
manutenção da taxa de juros, as previsões de inflação são decorrência
de um conjunto de hipóteses, considerado pelo Copom como o mais
provável, sobre o comportamento de variáveis econômicas relevantes,
assim como os riscos a elas associados. Essas hipóteses compõem o
cenário principal, a partir do qual o Copom toma decisões sobre a taxa
de juros. Ao expô-las, por meio deste Relatório, o Copom procura dar
maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para
sua eficácia no controle da inflação, que é o seu objetivo precípuo.
6.1 – Determinantes da inflação
Demanda agregada e oferta agregada
A economia brasileira cresceu 3,92% no segundo trimestre de 2000,
acumulando crescimento de 3,84% ao longo do primeiro semestre, na
Relatório de Inflação Setembro 2000
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comparação com os mesmos períodos do ano anterior. O Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou a revisão
do PIB do primeiro trimestre, que cresceu 3,76% contra 3,08%
anteriormente divulgado, em relação a igual trimestre de 1999. O
desempenho do setor agropecuário, que destoava dos demais (indústria
e serviços), sofreu significativa alteração, tendo crescido 3,60% em
oposição à retração de 0,84% previamente estimada. Essa mudança foi
causada, basicamente, pelos novos parâmetros de ponderação para a
lavoura advindos do censo agropecuário de 1995-96, já que a antiga
estrutura de ponderação utilizava os dados do censo agropecuário de
1985.
Os novos números do PIB mostram que o crescimento acelerou-se no
segundo trimestre, contrariando sinais de arrefecimento observados no
seu início. Além disso, vale observar que: a) o perfil do crescimento
econômico está mais equilibrado, pois os três setores do PIB registraram
taxas robustas de crescimento no primeiro semestre (6,45% na
agropecuária, 5% na indústria e 2,96% nos serviços); b) a exemplo do
que ocorreu em 1999, a agropecuária lidera o crescimento, fato ainda
mais relevante quando se considera a safra recorde obtida no ano
passado; c) o setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, acelerou
o crescimento, aproximando-se da taxa do setor industrial e reforçando
a percepção de que o País está entrando em novo ciclo de crescimento.
O crescimento da economia no primeiro semestre não impediu que a
inflação do período fosse a mais baixa desde o começo da série do
IPCA. Contudo, se por um lado a inflação baixa do primeiro semestre
surpreendeu positivamente, por outro o cenário mudou de maneira
abrupta no terceiro trimestre. Não obstante o fato de que a alta da
inflação era esperada, sua magnitude ultrapassou todas as previsões. A
inflação de julho foi 1,61%, variação praticamente igual à acumulada
durante todo o primeiro semestre deste ano (1,64%) e, em agosto, a
alta do nível de preços alcançou 1,31%.
Uma conjunção de fatores concorreu para esse resultado, com destaque
para os reajustes de preços administrados, o aumento do preço dos
derivados de petróleo e as condições climáticas adversas. Os reajustes
contratuais das tarifas de serviços públicos como energia elétrica e
telefonia, bem como os aumentos dos derivados de petróleo (gás de
Relatório de Inflação Setembro 2000
77
cozinha, diesel e gasolina) ficaram dentro das previsões anteriores do
Copom. Por outro lado, a ocorrência de secas e geadas aumentou a
inflação por duas vias: diretamente, pela acentuada elevação do preço
dos alimentos, inclusive pela antecipação dos efeitos da entressafra de
alguns produtos como carne e leite; e indiretamente, pelo aumento do
preço do álcool combustível causado pela quebra da safra da cana-de-
açúcar. No caso do álcool, que entra na composição da gasolina, seu
aumento acarretou elevação adicional do preço da gasolina ao
consumidor.
Ainda que os efeitos de segunda ordem desses aumentos não possam ser
ignorados, o seu impacto direto nos índices de preços deve restringir-se
ao que já foi observado em julho e agosto, com a inflação tendendo a
recuar significativamente nos próximos meses. Essa análise é corroborada
pelos indicadores antecedentes de inflação, que apontam ausência de
pressões entre setembro e novembro, seguida de pequena elevação em
dezembro.
Em julho e agosto, as altas de combustíveis, alimentos e tarifas de serviços
públicos contribuíram para elevar tanto a taxa de inflação quanto o seu
núcleo. Pela metodologia de cálculo do núcleo do IPCA (ver quadro
sobre Núcleo de Inflação), são excluídos os itens com maior variação
de preço no mês até o limite de 20% da ponderação total do IPCA.
Como as altas ocorreram em itens com grande peso no índice (alimentos,
tarifas e combustíveis totalizam cerca de 40% do índice), parte deles
deixou de ser excluída. Com isso, o núcleo elevou-se do patamar médio
de 0,4% ao mês observado no primeiro semestre para 0,6% nos dois
meses seguintes. A reversão esperada para os preços dos alimentos
nos próximos meses deve contribuir para a redução do núcleo.
Os indicadores de demanda agregada mostram expressivo crescimento
em relação a 1999. As vendas industriais calculadas pela CNI, abrangendo
12 Estados, mostram aumento real de 10,7% nos primeiros cinco meses
do ano. O faturamento real do comércio varejista cresceu 5,4% no primeiro
semestre, mas o do setor atacadista cresceu apenas 0,28%.
Outros indicadores que refletem o estado da demanda são o número de
transações com cartão de crédito e cheques compensados. Com relação
ao primeiro, houve alta de 26% até agosto, enquanto o número de
Relatório de Inflação Setembro 2000
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cheques compensados aumentou 5,7%, ambos comparados com igual
período do ano passado.
A política fiscal, em conjunto com a política monetária, continua
cumprindo a importante função de pilar da estabilidade de preços. No
primeiro semestre, o superávit primário consolidado do setor público
atingiu R$ 23,7 bilhões, 47% a mais do que a meta para o mesmo período
que consta do Programa Econômico, ratificando o compromisso do
governo com a austeridade fiscal.
O resultado das contas públicas em 2000 melhorou sobremaneira em
relação ao de 1999. A importância das receitas fiscais extraordinárias
reduziu-se bastante em comparação ao ano passado e houve grande
aumento da arrecadação de impostos e tributos ligados ao crescimento
da economia.
O balanço comercial continua em recuperação, embora o superávit
registrado no ano esteja abaixo do inicialmente esperado. A análise
cuidadosa mostra que o desempenho das contas comerciais não deve
ser fonte de preocupações. Vale destacar o grande aumento das
exportações: neste ano, estão crescendo 15% em quantidade, a maior
taxa desde 1993, e 17% em valor, a maior taxa desde 1988. Como
resultado, em três meses deste ano as exportações ultrapassaram US$
5 bilhões ao mês. Até agosto, apenas em janeiro houve déficit, o que
representa uma mudança quantitativa não desprezível no comportamento
do balanço comercial, especialmente quando se considera que em 2000
a economia está crescendo a taxa próxima de 4%.
Além da mudança de patamar dos saldos comerciais, o balanço
comercial mostra mudança qualitativa importante, que é o crescimento
da exportação de manufaturados. Até julho, o quantum de produtos
manufaturados cresceu 24,9%, enquanto o dos produtos básicos cresceu
9% e dos produtos semimanufaturados registrou retração de 4,3%. Os
preços dos produtos semimanufaturados subiram 13,9% no período,
ao passo que os preços dos produtos básicos e manufaturados sofreram
reduções de 3,5% e 1,3%, respectivamente.
Por outro lado, as importações também vêm crescendo em ritmo
acelerado, o que explica a ausência de saldos comerciais de maior
Relatório de Inflação Setembro 2000
79
magnitude. Nesse aspecto, destaca-se o crescimento do quantum das
importações de produtos intermediários (31,5%) em 2000, valor elevado
mesmo considerando que seus preços caíram em média 9,3%. Análise
mais atenta mostra que, depois da desvalorização do início de 1999,
aumentou a correlação entre o aumento das exportações de
manufaturados e a importação de bens intermediários, o que sugere que
parte desse aumento não advém de maior demanda interna, mas sim
das exportações de manufaturados. Por último, vale observar a
importância da elevação do preço do petróleo no aumento das
importações. Mesmo com a diminuição da quantidade importada neste
ano, o valor mensal das importações de petróleo subiu cerca de 68%
até agosto, o que representa um acréscimo mensal de cerca de
US$ 300 milhões na conta comercial. Em contraposição, os demais itens
de importação tiveram queda de preço. No agregado, a elevação do
preço dos produtos de importação foi de apenas 0,2% até julho.
O desempenho do balanço comercial tem ajudado na redução do déficit
em conta corrente, que caiu para 3,75% do PIB, contribuindo para a redução
da necessidade de financiamento externo. Além disso, o ingresso de
investimentos diretos tem sido mais que suficiente para financiá-lo. A melhora
dos fundamentos da economia produziu reflexos positivos na percepção do
risco do País e, portanto, na redução dos spreads dos títulos soberanos.
Essa melhoria também pôde ser observada na bem-sucedida troca de títulos
antigos da dívida externa brasileira por novos títulos com prazo mais longo,
de 40 anos e com opção de recompra em 15 anos.
Depois de registrar queda em 1999, a produção industrial apresenta
crescimento vigoroso em 2000 e, até julho, cresceu 6,77% em
comparação com o mesmo período do ano anterior. A análise por
categoria de uso destaca grande aumento na produção de bens duráveis,
21,78%. Entre esses, destaca-se a produção de veículos, que cresceu
24,5% até agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. Por
sua vez, as vendas internas cresceram 15,22%, enquanto as vendas
externas aumentaram 46,65%. Esse setor é importante pelo efeito
multiplicador que tem sobre os demais setores da economia.
A reação do setor de bens duráveis era esperada desde meados de
1999, quando foram adotadas as primeiras medidas para permitir o
aumento da oferta de crédito. De fato, o volume de crédito mostra
Relatório de Inflação Setembro 2000
80
crescimento substancial nos últimos 12 meses findos em julho: 82% para
pessoas físicas, nas modalidades crédito pessoal e aquisição de bens, e
30% para pessoas jurídicas. Ao mesmo tempo, houve sensível redução
das taxas ativas cobradas pelo sistema financeiro. A taxa para pessoas
jurídicas caiu de 56% em julho de 1999, para 35% em julho de 2000,
enquanto a taxa para pessoas físicas reduziu-se de 108% para 74%, no
mesmo período. Outros fatores também contribuíram para esse quadro,
como o crescimento da economia e a queda da inadimplência. A média
da taxa líquida de inadimplência caiu significativamente neste ano até
agosto: a queda registrada pelo SPC para a cidade de São Paulo foi de
30,45% e a do Teledata para o País foi de 22%.
No campo da administração da dívida interna, vale destacar que a
melhora nos fundamentos da economia, assim como seu robusto
crescimento, tem propiciado condições para o alongamento dos prazos
da dívida mobiliária, como mostram as recentes emissões de títulos
prefixados de dois anos.
A produção de bens de capital também registra bom desempenho —
cresceu 9,38% até julho — indicando que o nível de investimentos está
aumentando. Além disso, ela também pode ser encarada como uma
proxy para as expectativas empresariais, na medida em que aumentos
de investimento indicam a confiança dos empresários na continuidade
do processo de crescimento da economia. Deve-se notar, entretanto,
que parte do aumento decorre da substituição dos bens de capital
importados depois da desvalorização da moeda. De fato, as importações
de bens de capital, em quantum, caíram 11,5% até julho, comparando-
se com período semelhante em 1999. Já a produção de insumos da
construção civil apresenta crescimento tênue até julho, 1,75%.
A produção de bens não-duráveis e semiduráveis apresenta retração
em 2000. Até julho, houve queda de 1,23% em relação ao mesmo
período do ano passado. O aumento do nível de emprego deverá ajudar
a reverter a situação, ainda que um crescimento similar ao das outras
categorias só deverá acontecer na medida em que o nível de renda real
se recupere com maior vigor.
A taxa de desemprego continua em trajetória de queda, embora de
maneira lenta. Em agosto, a taxa divulgada pelo IBGE situou-se em
Relatório de Inflação Setembro 2000
81
7,77%, contra 8,34% em agosto de 1999. Em cinco dos oito primeiros
meses deste ano, as taxas observadas foram menores do que no mesmo
mês do ano passado e, até agosto, a taxa reduziu-se, em média, 1,4%.
Cabe ressaltar que a evolução do mercado de trabalho é mais favorável
do que mostra isoladamente a taxa de desemprego. A queda da taxa de
desemprego, embora pequena, ocorreu em cenário de forte crescimento
da PEA (4,2% nos primeiros oito meses), o que mascara a melhoria das
condições no mercado de trabalho.
Outro indicador que também mostra a evolução favorável do mercado
de trabalho é o nível de emprego formal. Segundo o Ministério do
Trabalho, até julho, houve aumento de 1,01% no nível de emprego formal
no País. Destaque-se o fraco desempenho do nível de emprego na
construção civil, que recuou 3,62% no período, em oposição aos demais
componentes do índice (indústria de transformação, +2,62%, comércio,
+2,15% e serviços, +1,29%). É digno de nota o crescimento observado
no nível de emprego na indústria paulista neste ano, 0,31% no primeiro
semestre, o primeiro aumento desde 1994.
Segundo a Fundação Getulio Vargas, a utilização média da capacidade
instalada atingiu, no segundo trimestre, 82,8%, um pouco abaixo dos 83,1%
registrados no primeiro trimestre. Apesar da aceleração da taxa de
crescimento, o número acima indica que não há, no curto e médio prazos,
limitações generalizadas pelo lado da oferta, pois apenas alguns setores
vêm trabalhando com menor capacidade ociosa. Esse diagnóstico é
corroborado pelo aumento do investimento, que deverá manter o equilíbrio
entre demanda e oferta em ambiente de maior crescimento econômico.
No conjunto, levando-se em consideração os indicadores de demanda
e oferta agregadas e a consolidação dos fundamentos macroeconômicos,
pode-se concluir que o País encontra-se no limiar de um processo de
crescimento sustentável.
Economia internacional
Em relação ao último Relatório, o cenário externo ganhou importância
relativa como fator de risco para a evolução da economia brasileira por
conta das incertezas com relação à evolução do preço do petróleo, que
Relatório de Inflação Setembro 2000
82
continua subindo e desafiando todas as previsões. No entanto, à exceção
do petróleo e suas conseqüências, as demais condições da economia
internacional parecem favoráveis de maneira geral.
A incerteza quanto à evolução da economia dos Estados Unidos
diminuiu consideravelmente desde o Relatório de junho. Os últimos
indicadores econômicos ratificaram a confiança em relação à hipótese
de desaceleração gradual da economia, a inflação continua sob
controle e a produtividade permanece alta, indicando que os últimos
aumentos da taxa de juros parecem ter sido suficientes para trazer a
economia para uma trajetória sustentável de longo prazo. Além disso,
as recentes declarações de membros do FOMC mostram a crença de
que aumentou a taxa de crescimento sustentável da economia dos
Estados Unidos, diminuindo a probabilidade de aumentos adicionais
da taxa de juros.
Os sinais de que o Japão estaria superando o desafio da retomada do
crescimento, depois de anos de estagnação econômica, ganham força a
cada dia. O PIB japonês cresceu 1% no segundo trimestre e o
desemprego começa a recuar, ainda que lentamente. Em contrapartida,
o consumo pessoal reluta em esboçar reação consistente. Depois de
dez anos sem promover majorações na taxa básica de juros, o Banco
do Japão decidiu elevá-la de praticamente zero para 0,25% ao ano.
Embora as incertezas em relação às economias dos Estados Unidos e
do Japão tenham diminuído, não se pode dizer o mesmo em relação à
economia da Área do Euro. O enfraquecimento do euro, que
recentemente atingiu seu recorde de baixa frente ao dólar, juntamente
com a manutenção da trajetória de alta do preço do petróleo, que atingiu
a cotação mais alta dos últimos dez anos, ameaçam a estabilidade de
preços da região. Esse risco torna-se ainda mais consistente se
considerada a taxa de crescimento da região, que cresceu 3% no primeiro
semestre. Assim, a taxa de inflação aumentou e ultrapassou, em julho, a
meta de 2% em 12 meses, atingindo 2,4%.
A desvalorização do euro, que em um primeiro momento foi fator
importante no estímulo ao crescimento econômico, ameaça a estabilidade
de preços, e os sucessivos aumentos da taxa de juros desde novembro
não foram capazes de reverter a situação. Nesse contexto, o Banco
Relatório de Inflação Setembro 2000
83
Central Europeu, em conjunto com outros bancos centrais, interveio no
mercado de câmbio de forma a fortalecer o euro.
Embora com menor intensidade que o esperado e apesar da recente
alta da taxa de desemprego, a economia argentina apresenta recuperação
gradual. A produção industrial cresceu 1,6% nos primeiros oito meses
do ano, em relação ao mesmo período do ano anterior.
O preço do petróleo continua subindo e desafiando todas as previsões. O
acordo da Opep para manter o preço do barril na faixa de US$ 22 a US$ 28
não tem produzido o resultado desejado e não há indicações, no momento,
de que esse quadro possa ser revertido, mesmo diante da última decisão de
novo aumento do volume de produção, em especial porque já é previsto um
aumento da demanda do produto nos próximos meses em decorrência do
inverno no hemisfério norte (ver quadro sobre Preço do Petróleo: Evolução
Recente e Impacto Doméstico). Outro fator que deve continuar pressionando
o preço do petróleo é o ritmo de crescimento da economia mundial que,
segundo o FMI, deverá crescer 4,7% este ano, contra crescimento observado
de 3,4% em 1999, a taxa mais alta dos últimos dez anos.
A decisão do governo norte-americano de reduzir os estoques
estratégicos de petróleo, liberando para o consumo cerca de 30
milhões de barris, é mais uma tentativa de diminuir o grau de incerteza
do mercado, e sinaliza a disposição dos maiores países consumidores
de atuar com firmeza na regularização da oferta mundial do produto.
Em resumo, os atuais níveis atingidos pelo preço internacional do
petróleo trazem grande preocupação e, caso continuem a subir, terão
conseqüências negativas sobre a economia mundial, a começar pela
redução do ritmo de crescimento, ainda que a capacidade de absorção
de choques dessa natureza pareça maior hoje do que há vinte anos.
6.2 – Cenário principal: pressupostose riscos associados
As projeções com as quais o Copom trabalha baseiam-se em um
conjunto de hipóteses sobre o comportamento das principais variáveis
Relatório de Inflação Setembro 2000
84
econômicas. Esse conjunto de hipóteses e seus respectivos riscos
compõem o cenário principal a partir do qual o Copom toma decisões
de política monetária.
Os principais focos de incerteza em relação às perspectivas para a taxa
de inflação no último trimestre de 2000 e em 2001 referem-se ao petróleo
e aos preços administrados.
O mercado de petróleo continua caracterizado por elevada incerteza e
volatilidade de preços. A despeito dos seguidos aumentos de cotas de
produção acordados pela OPEP nas reuniões de março, junho e setembro
deste ano, os preços continuam elevados e os estoques de derivados
em níveis historicamente baixos. A preocupação maior é com o último
trimestre deste ano, período de pico de demanda em função do inverno
no hemisfério norte. Apesar dos recentes esforços dos países
industrializados no sentido de regularizar a oferta, a escassez de petróleo
e derivados pode resultar em pressão adicional sobre o preço corrente,
já superior a US$ 30 para o barril do tipo Brent.
Ao longo de 2001, no entanto, espera-se a normalização do mercado,
com recuo gradual dos preços, em função da maior oferta por parte da
OPEP e dos países produtores não-membros da organização, bem como
pelo arrefecimento sazonal da demanda a partir de março. A estrutura
de preços implícita nos contratos negociados no mercado futuro aponta
quedas mensais sucessivas, atingindo cerca de US$ 26 por barril do
tipo Brent no final de 2001. Se os preços no mercado à vista seguirem
essa trajetória futura, o preço médio do barril do petróleo no próximo
ano ficará próximo de US$ 29, pouco acima da média de US$ 28
estimada pelo mesmo critério para 2000.
Considerando essas projeções do mercado futuro para os preços
externos do petróleo e os reajustes já ocorridos nos preços domésticos
dos combustíveis, o Copom decidiu incluir um aumento de 5% nos preços
internos dos derivados de petróleo nas suas simulações. Esse aumento
leva em conta que, do ponto de vista das contas fiscais, a parcela do
superávit primário originalmente prevista na conta-petróleo será
parcialmente coberta pela elevação do lucro da Petrobras. O cenário
principal considera que essa elevação terá impacto sobre os índices de
preços no último trimestre deste ano. Outro cenário analisado pelo
Relatório de Inflação Setembro 2000
85
Copom considera a dispensa de ajustes adicionais dos preços dos
combustíveis.
Em relação aos preços administrados, a pressão mais substancial
sobre a inflação ocorreu no terceiro trimestre, como havia sido
antecipado no último Relatório de Inflação. Para o restante do ano,
o cenário básico incorpora o impacto no IPCA do aumento das tarifas
de transportes públicos nos municípios que ainda não autorizaram o
ajuste anual, bem como da tarifa de energia elétrica no Rio de Janeiro.
Essas hipóteses implicam reajuste médio de 12,2% para o conjunto
de preços administrados em 2000, significando um impacto direto
sobre a inflação de 2,8 pontos percentuais. Para 2001, mantém-se a
hipótese de que as tarifas de serviços públicos sigam a variação
estimada para os índices gerais envolvidos nos respectivos contratos
e que os outros preços administrados sigam a média dos demais
preços da economia.
Outro ponto de incerteza diz respeito ao comportamento dos preços do
grupo Alimentação no Domicílio, cujo peso no IPCA atinge cerca de
17%. A acentuada elevação dos preços dos alimentos foi o fator
responsável pela aceleração inflacionária acima do esperado em julho e
agosto. Este comportamento anulou e reverteu a contribuição favorável
registrada no primeiro semestre do ano, quando a variação do preço
dos alimentos no IPCA foi negativa. A alta recente foi conseqüência de
condições climáticas adversas, que anteciparam os efeitos da entressafra
da carne bovina e do leite, além de provocar a quebra da safra de cana-
de-açúcar, afetando os preços do açúcar e do álcool.
No último trimestre do ano, os efeitos da entressafra ainda deverão
manifestar-se, mas o fato de os preços já estarem em patamar elevado
diminui seu impacto marginal sobre a inflação (ver quadro sobre Preço de
Alimentos). Assim, a hipótese de aumento para o conjunto de preços
dos alimentos no quarto trimestre de 2000 foi revista de 2,3%, apresentada
no último Relatório de Inflação, para 1%. Para 2001, espera-se evolução
neutra dos preços agrícolas, respeitadas as variações sazonais.
Os indicadores do PIB revelam recuperação gradual e contínua, sem
riscos de pressão inflacionária decorrentes de demanda aquecida ou
esgotamento de capacidade produtiva.
Relatório de Inflação Setembro 2000
86
No que se refere à economia internacional, a elevada incerteza que
marcou os últimos trimestres vem se dissipando, com a confirmação do
cenário de menor crescimento do produto com inflação estável nos EUA,
fortalecimento da demanda e queda do desemprego nos países europeus
e no Japão, e continuidade de crescimento nos países emergentes da
Ásia e da América Latina. Mantém-se, portanto, a hipótese de
crescimento mundial da ordem de 4% para o próximo ano, favorecendo
a continuidade de recuperação do balanço comercial e mantendo
condições de liquidez internacional adequadas para o financiamento do
déficit em conta corrente em 2001.
A hipótese para a taxa de juros dos fed funds foi revista: de acordo
com projeções implícitas nos contratos futuros, espera-se estabilidade
da taxa de fed funds em 6,5% ao ano, ao contrário da elevação para
7% no final deste ano que se supôs no último Relatório.
O prêmio de risco Brasil vem apresentando sucessivas reduções ao longo
do ano, em paralelo com a melhora dos fundamentos da economia
brasileira. Esta tendência, embora temporariamente interrompida em
agosto, deverá ser retomada no médio prazo, em função da manutenção
de bons fundamentos.
O balanço comercial deverá continuar a recuperar-se de forma
gradual, embora o último quadrimestre do ano apresente um padrão
sazonal caracterizado por importações em alta — agora agravado
pelo peso das importações de petróleo — e por redução das
exportações de produtos primários. Essa evolução tende a provocar
oscilações de curto prazo na taxa de câmbio, mas a melhora da
percepção do risco soberano e a manutenção do fluxo de
investimentos estrangeiros diretos apontam para um cenário de
estabilidade cambial.
Finalmente, a política fiscal deve continuar cumprindo as metas de
superávit primário para o setor público consolidado que constam do
Programa Econômico do Governo, contribuindo para a estabilidade de
preços e para a melhora da percepção de risco Brasil.
Relatório de Inflação Setembro 2000
87
6.3 – Previsão da Inflação
Com base nos pressupostos e riscos associados
considerados pelo Copom e utilizando o conjunto
de informações disponível, foi construída a projeção
da variação do IPCA em doze meses utilizando taxa
de juros constante de 16,5% a.a., definida na reunião
dos dias 19 e 20 de setembro de 2000.
Essa projeção incorpora o impacto dos preços
administrados da seguinte forma: primeiro, projeta-
se a inflação condicional ao mesmo cenário mas sem
qualquer hipótese sobre os preços administrados,
o que equivale a admitir que eles evoluam como a
média dos demais preços da economia; a seguir, para
cada trimestre, calcula-se a diferença entre essa
inflação projetada e a variação estimada fora do
modelo para o conjunto dos preços administrados.
Essa diferença, devidamente ponderada pelo peso
do item no índice, é então acrescida ao modelo,
formando uma seqüência esperada de choques
trimestrais, com sua distribuição de probabilidades
de acordo com a avaliação do Copom.
A trajetória central da inflação em doze meses
esperada para 2000 apresenta uma acentuada
elevação no terceiro trimestre, advinda da conjunção
dos reajustes de preços administrados e do forte
aumento do preço dos alimentos observado em julho e agosto, seguida
de uma queda significativa no último trimestre. A expectativa central
para a inflação acumulada em 2000 situa-se em 6,7%, com as
probabilidades de desvios distribuídas simetricamente em torno da
mediana.
Para 2001, a trajetória central esperada é de inflação em 12 meses em
ligeira alta ao longo do primeiro semestre, quando deve permanecer em
torno de 7%. Esse comportamento deve-se a dois efeitos estatísticos.
O primeiro é que, no cálculo da inflação acumulada em 12 meses, as
variações extremamente baixas observadas na primeira metade de 2000
(inflação acumulada em 12 meses)
Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros constantes de 16,5% a.a.
Leque de Inflação
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
41997
21998
41998
21999
41999
22000
42000
22001
42001
22002
42002
12
2
-8
7
-3
Inflação do IPCA com juros constantes de 16,5% a.a.
Ano T Projeção
Central
2000 3 7,6 7,8 7,9 8,0 8,2 8,3 7,9
2000 4 5,6 6,1 6,5 6,9 7,3 7,8 6,7
2001 1 5,6 6,2 6,7 7,2 7,8 8,4 7,0
2001 2 5,3 6,1 6,7 7,4 8,0 8,8 7,0
2001 3 2,5 3,4 4,2 5,0 5,7 6,6 4,6
2001 4 1,4 2,4 3,3 4,1 5,0 6,0 3,7
2002 1 0,5 1,6 2,6 3,6 4,5 5,6 3,0
2002 2 0,0 1,2 2,3 3,4 4,4 5,6 2,8
2002 3 -0,6 0,7 1,8 3,0 4,1 5,4 2,4
2002 4 -0,8 0,5 1,6 2,8 3,9 5,2 2,2
Intervalo de Confiança
50%
30%
10%
Obs.: inflação acumulada em 12 meses, em % ao ano. Os valores correspondem aos mostrados no leque de inflação com juros constantes de 16,5% a. a.
Relatório de Inflação Setembro 2000
88
serão substituídas por variações que tendem a ser ligeiramente maiores
no mesmo período de 2001. O segundo é a permanência da inflação
anormalmente elevada do terceiro trimestre deste ano no cômputo da
taxa acumulada. No terceiro trimestre de 2001, esse segundo efeito
deve desaparecer e resultar na queda abrupta de 2,4 pontos percentuais
da inflação acumulada. De acordo com a trajetória central, a inflação
deve recuar ainda mais no último trimestre, encerrando 2001 em um
patamar inferior ao da meta de 4% estabelecida para o ano.
Comparando a projeção atual com a do Relatório
de junho, aqui reapresentada, nota-se uma mudança
substantiva no desenho da trajetória esperada.
Embora uma comparação direta não possa ser feita,
pois as projeções baseiam-se em hipóteses
diferentes quanto a cenário e juros, vale comentar
alguns pontos. A mudança de patamar da inflação
projetada para este ano deve-se a dois fatores: a
evolução dos preços de alimentos e de derivados
de petróleo. No Relatório de junho, considerou-se
que a inesperada deflação registrada pelo conjunto
dos alimentos no IPCA ao longo dos primeiros cinco
meses seria revertida no final do ano com um
aumento de 2,3%, ou seja, metade da ocorrida no mesmo período de
1999. No entanto, essa expectativa foi mais do que superada já em
julho e agosto, quando os alimentos acumularam alta de 5%. No tocante
aos derivados de petróleo, os aumentos ocorridos no terceiro trimestre
ultrapassaram a expectativa por conta da inesperada elevação do preço
do álcool combustível, que afetou o preço da gasolina ao consumidor.
Além disso, a persistência de altas nas cotações internacionais do petróleo
justifica a expectativa de pressão adicional nos preços domésticos. Vale
observar que, em um cenário alternativo analisado pelo Copom, sem
reajuste adicional dos preços dos combustíveis, a inflação prevista seria
0,3 ponto percentual menor tanto em 2000 quanto em 2001.
O aumento da projeção central para 2000, portanto, é explicado em boa
parte pelo comportamento dos preços dos alimentos e dos combustíveis.
Por outro lado, a constatação de menor inércia na formação de preços
contribui para uma melhora da dinâmica de inflação em 2001. De fato, os
efeitos dos choques de oferta, uma vez reconhecidos como temporários,
(inflação acumulada em 12 meses)
Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros constantes de 17,5% a.a. ( Relatório de junho)
Leque de Inflação
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
31997
21998
11999
41999
32000
22001
12002
42002
12
2
-8
7
-3
Relatório de Inflação Setembro 2000
89
têm se dissipado com rapidez e parecem alterar pouco
as expectativas. Esse fenômeno ficou caracterizado
depois do último trimestre de 1999 e parece repetir-
se agora, com a ausência de efeitos apreciáveis de
segunda ordem derivados dos choques de julho e
agosto.
Apresenta-se, como em Relatórios anteriores, o
leque de crescimento do produto construído com
base nas mesmas hipóteses utilizadas no cenário
principal do Copom. Vale enfatizar que os erros de
previsão associados às projeções de crescimento
do PIB são consideravelmente maiores do que no
caso de projeções de inflação, tanto porque
envolvem as trajetórias de dois componentes não
observáveis diretamente, produto potencial e hiato,
quanto porque o cálculo do produto é, por definição,
mais complexo e menos preciso do que o da inflação.
A projeção central para o crescimento do produto
em 2000 é de aproximadamente 4%, com a hipótese
de taxa de juros constante em 16,5% a.a.
A título de ilustração, apresenta-se também o leque
da inflação levando em conta as taxas de juros
esperadas pelo mercado financeiro em 21 de setembro,
um dia após o Copom anunciar a manutenção em
16,5% a.a. da meta para a taxa básica de juros da
economia. O objetivo de utilizar as expectativas do
dia seguinte à reunião do Copom é captar as reações
do mercado à mais recente decisão sobre o principal
instrumento da política monetária. A trajetória de juros
esperada pelo mercado nesse dia estava com leve
inclinação positiva, mas praticamente inalterada em
relação aos dias anteriores, indicando que a decisão
do Copom havia sido plenamente antecipada. As taxas
médias embutidas nos contratos futuros e de swaps
apontavam para elevações graduais nos próximos doze
meses, chegando a 17,5% a.a. no terceiro trimestre
de 2001. Nota-se que a trajetória de inflação resultante
Variação do PIB com juros fixos de 16,5% a.a.
(variação do PIB, 12 meses sobre 12 meses anteriores)
Leque de Crescimento do Produto
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
41997
21998
41998
21999
41999
22000
42000
22001
42001
11
3
-5
7
-1
Inflação do IPCA com juros de mercado 1/
Ano T Projeção
Central
2000 3 7,6 7,8 7,9 8,0 8,2 8,3 7,9
2000 4 5,6 6,1 6,5 6,9 7,3 7,8 6,7
2001 1 5,5 6,2 6,7 7,2 7,8 8,4 6,9
2001 2 5,3 6,0 6,7 7,3 8,0 8,8 7,0
2001 3 2,5 3,4 4,2 4,9 5,7 6,6 4,5
2001 4 1,3 2,3 3,2 4,1 4,9 5,9 3,6
2002 1 0,4 1,5 2,5 3,5 4,4 5,5 2,9
2002 2 -0,1 1,1 2,2 3,2 4,3 5,5 2,7
2002 3 -0,8 0,5 1,7 2,8 4,0 5,2 2,2
2002 4 -1,0 0,3 1,4 2,5 3,7 5,0 1,9
1/ Colhido em 21/09/2000 às 12:00h.
Obs.: inflação acumulada em 12 meses, em % ao ano. Os valores correspondem aos mostrados no leque de inflação com juros de mercado.
Intervalo de Confiança
50%
30%
10%
(inflação acumulada em 12 meses)
1/ Colhido em 21/09/2000 às 12:00h.
Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros de mercado.
Leque de Inflação
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
41997
21998
41998
21999
41999
22000
42000
22001
42001
22002
42002
12
2
-8
7
-3
Relatório de Inflação Setembro 2000
90
dessa hipótese sobre a evolução dos juros praticamente coincide com a daprojeção central em 2000 e difere pouco no horizonte restante.
O comportamento das expectativas de mercado parao IPCA pode ser visto nos gráficos ao lado, queapresentam a mediana e os valores extremos dasdistribuições para 2000 e 2001, resumindo asinformações obtidas de aproximadamente 70instituições financeiras e consultorias especializadas. A
política monetária pode ser considerada bem-sucedidaem manter as expectativas ajustadas às metas para ainflação tanto neste quanto no próximo ano, pois emnenhum momento sequer os valores extremos seafastaram dos limites de tolerância admitidos para avariação do IPCA. Vale notar que o mercado também
foi surpreendido pelas taxas de inflação de julho eagosto, que ocasionaram a revisão para cima de suasexpectativas para este ano, com a mediana passandode 5,9% para 6,3% nos últimos 40 dias. Apesar disso,os valores esperados mais recentes situam-se abaixodo nível de 7% em que se encontravam no início do
ano. Para 2001, a mediana das expectativas osciloumenos: entre 4% e 4,5%. A convergência recente paracerca de 4,4% parece originar-se da persistência dochoque do preço internacional do petróleo.
Além das trajetórias previstas para o IPCA, é
interessante observar as projeções para os demaisíndices comumente divulgados, que resumem osresultados dos diversos modelos utilizados na análisedo mecanismo de transmissão da política monetária, ecompará-las com as do mercado. Constata-se que asprojeções para todos os índices são todas maiores do
que as do mercado para 2000 e todas menores para2001, mas com diferenças significativas apenas nasprojeções para os índices gerais de preços aoconsumidor. Deve-se ter em mente, porém, que as
projeções dos modelos foram efetuadas com base nas hipóteses quecompõem o cenário principal e em juros constantes de 16,5% a.a., ao passo
que o mercado não explicita essas hipóteses em sua análise.
Projeções para outros índices de inflação
Índice Ano Projeção Projeção
Central Mercado
1/
2000 5,2 5,7 6,1 6,5 6,9 7,4 6,3 5,8
2001 1,7 2,6 3,5 4,4 5,3 6,3 3,9 4,2
IPC 2000 4,8 5,2 5,6 6,0 6,4 6,9 5,8 5,7
FIPE 2001 1,4 2,4 3,3 4,1 5,0 6,0 3,7 4,0
2000 9,2 9,6 10,0 10,4 10,8 11,3 10,2 9,0
2001 1,5 2,5 3,4 4,2 5,1 6,1 3,8 5,1
2000 9,0 9,4 9,8 10,2 10,6 11,1 10,0 9,2
2001 1,8 2,8 3,7 4,6 5,5 6,4 4,1 5,0
Obs.: Inflação acumulada no ano sob a hipótese de juros constantes de 16,5% a.a.
1/ Estimativas colhidas junto a mercado (70 instituições) em 21/09/2000
IGP-M
Intervalos de Confiança
INPC
IGP-DI
10%
30%
50%
Expectativa para inflação do IPCA de 2000
5
6
7
8
Jan/2000 Fev Mar Mai Jun Ago Set
mediana mínimo máximo
Expectativa para inflação do IPCA de 2001
3
4
5
6
Jan/2000 Fev Abr Mai Jul Ago Set
mediana mínimo máximo
Relatório de Inflação Setembro 2000
91
Preço do petróleo: Evolução recente e impacto doméstico
Este quadro investiga as causas da recente alta do petróleo e analisa a tendência do preço nos
próximos meses, bem como os impactos sobre a economia brasileira.
Qualquer análise sobre o preço do petróleo deve retroceder alguns anos para identificar os eventos
que levaram ao atual comportamento do mercado. De forma genérica, o preço do petróleo oscilou
no intervalo de US$ 16 a US$ 24 por barril entre o fim da Guerra do Golfo até 1997, excetuando-
se um breve período de preços em torno de US$ 14 no início de 19941 . Nesta faixa de preços,
a Opep esteve ausente do cenário internacional e o petróleo raramente ocupou a agenda das
autoridades econômicas mundiais.
Um conjunto de fatores, entretanto, aliou-se para provocar acentuada queda do preço no fim de
1997 e 1998. A crise no sudeste asiático provocou contração de demanda da ordem de 400 mil
barris/dia (b/d). Pelo lado da oferta, o início do programa da ONU de troca de alimentos por
petróleo iraquiano adicionou ao mercado 1,5 milhão b/d embargados desde a Guerra do Golfo.
Finalmente, a seqüência de invernos particularmente brandos no hemisfério norte entre 96 e 98
contribuiu para arrefecer o consumo mundial. O resultado foi o excesso de oferta mundial de petróleo
da ordem de 2 milhões b/d em 1998, com produção agregada diária de 75,5 milhões de barris e
demanda média de 73,5 milhões b/d. Neste ambiente, o preço do barril desabou para US$ 10.
A perspectiva de continuidade da queda de preços estimulou a Opep, com o endosso de importantes
países exportadores não-membros (Noruega, México e Omã), a adotar uma estratégia de
contingenciamento de oferta em março de 1999. Como resultado da redução acordada de
produção de 1,7 milhão b/d, a oferta mundial contraiu-se para 74,1 milhões b/d em 1999,
favorecendo a alta gradual do preço do barril.
A estratégia da Opep não seria bem sucedida se a economia internacional não tivesse mantido um
ritmo de atividade intenso em 1999/2000. A demanda mundial de petróleo em 1999 alcançou
74,7 milhões b/d. Os estoques livres (excluídas as reservas estratégicas) do conjunto de países
1 As cotações do petróleo citadas ao longo deste texto se referem ao barril tipo Brent.
Produção e Consumo de Petróleo (em milhões barris/dia)
1998 1999 2000Produção 75,5 74,1 75,7
Demanda 73,5 74,7 74,5Variação Estoques +2,0 -0,6 +1,2Fonte: International Energy Agency
Relatório de Inflação Setembro 2000
92
da OECD recuaram de 58 dias de consumo no primeiro trimestre de 1999 para 52 dias no último
trimestre. No caso específico dos EUA, os estoques caíram ao nível mais baixo desde o primeiro
choque do petróleo em 1974/75.
Nesta conjuntura, a principal característica do mercado de petróleo tem sido a extrema volatilidade
que se observa tanto nos preços à vista como futuros. Qualquer notícia sobre produção, estoques,
demanda e reservas estratégicas provoca substanciais oscilações no mercado. A primeira tentativa
de “normalização” foi ensaiada na reunião da Opep de março, que aumentou as cotas de produção
em 1,45 milhão b/d. A Opep estabeleceu ainda um mecanismo automático, estipulando variações
de produção sempre que os preços ficarem fora do intervalo de US$ 22 a US$ 28. O anúncio
destas medidas fez o preço recuar para US$ 22 em abril, mas isto não se sustentou e o preço
retornou para US$ 30 em junho.
A reunião da Opep em junho decidiu aumentar a produção em 700 mil b/d. Os dados de produção
e demanda no segundo trimestre indicaram acúmulo de estoques de 2,3 milhões b/d, considerado
suficiente para equilibrar o mercado. Mais uma vez, o anúncio provocou queda temporária de
preços para US$ 27 em julho, retornando para US$ 32 no início de setembro.
Cabe perguntar por que o preço do petróleo está tão volátil e por que o sistema regulador da
Opep não está sendo eficaz. Em primeiro lugar, a oferta mundial está instável. A principal razão é
a produção do Iraque, que apesar de membro da Opep, não tem cotas de produção definidas:
após 10 anos de embargo, sem investimentos em infra-estrutura e exploração, a produção é
naturalmente volátil. Sua produção aumentou 800 mil b/d entre março e maio, mas caiu 500 mil b/
d em junho.
Do lado da demanda, os estoques de petróleo cru e derivados permanecem baixos. O problema
mais grave é o desequilíbrio no mercado de derivados, especialmente nos EUA. As refinarias
americanas operam no limite de capacidade e a demanda por gasolina no pico do verão prejudicou
a formação de estoques de combustível para calefação. Por outro lado, a demanda de inverno
tem sido instável nos últimos anos. A projeção de consumo mundial no quarto trimestre (78,4
milhões b/d) indica que, mesmo com o aumento de cotas de 800 mil b/d aprovado em setembro,
a demanda de fim-de-ano será superior à oferta. Entretanto, condições climáticas podem mudar
este quadro – para melhor ou pior.
Finalmente, o sistema de bandas da Opep tem sido pouco compreendido. Por um lado, o intervalo
de preços se refere a uma cesta de tipos de petróleo dos países da organização, em geral mais
baratos que os tipos Brent e West Texas referenciados no mercado internacional. Isto provoca
certa confusão, pois a cesta da Opep só ultrapassou o limite superior da banda em junho e em
Relatório de Inflação Setembro 2000
93
agosto/setembro, quando as cotas de produção foram efetivamente revistas. Por outro lado, a
Opep estipulou que apenas depois de 20 dias úteis consecutivos de preços fora do intervalo-
meta ativa-se o mecanismo. Mas se a demanda de inverno significar pressão adicional, a Opep
poderá aprovar aumentos de produção ainda em novembro. Vale lembrar que a capacidade ociosa
dos países membros é baixa, estimada em 2,9 milhões b/d. Portanto, o cenário continua sendo de
extrema volatilidade até pelo menos o fim do inverno no hemisfério norte em março.
A médio e longo prazo, é difícil prever estabilidade de preços na faixa de US$ 30. Preços neste
nível significam maior inflação e menor consumo nos países importadores, dificultam a coesão da
Opep e estimulam o investimento e a produção nos países não-membros. Em 1998, novos
investimentos foram adiados e áreas de produção abandonadas em função do baixo preço, o que
facilitou o êxito da estratégia da Opep. Entretanto, o quadro agora é outro. Abundam notícias de
novas áreas de exploração em diversas regiões. A produção da Rússia e das demais ex-Repúblicas
Soviéticas é ilustrativa. Em 1990, esse conjunto de países produziu quase 11 milhões b/d. Em
1998, sua produção havia recuado para 7,3 milhões b/d. Com o aumento do preço internacional
e a desvalorização do rublo, a produção atual já alcança 7,9 milhões b/d e é estimada em 8,1
milhões b/d em 2001.
Em conclusão, mesmo que até março o petróleo continue sob pressão, no médio prazo o preço
deve recuar, como pode ser observado pelo atual desenho da curva de preços no mercado futuro,
negativamente inclinada, que parte de US$ 32 para contratos com vencimento em novembro
próximo e recua para US$ 26 para entregas no fim de 2001.
O petróleo e a economia brasileira
Os principais efeitos da alta do preço do petróleo sobre a economia brasileira estão relacionados
à inflação e às contas fiscais. Em relação às contas do setor público, o preço do petróleo afeta a
chamada Parcela de Preços Específica ou conta petróleo (ver “Preços Administrados”, Relatório
de Inflação dez/1999, pg. 102-104), que integra as metas de superávit primário do governo
central. Entretanto, o preço do petróleo também afeta o resultado contábil da Petrobras, que
integra as metas de superávit primário das empresas estatais. Em relação à inflação, o Governo
promoveu uma série de reajustes dos preços domésticos dos derivados em 1999/2000 visando
compensar a alta externa.
O gráfico abaixo exibe a evolução do preço doméstico de Combustíveis e Lubrificantes no atacado
(componente do IPA-M), deflacionado pelo preço médio mensal do petróleo em reais. Ou seja,
compara a evolução do preço na refinaria frente ao custo de importação em moeda doméstica.
Como se observa, entre 1994 e 1997 esta relação apresentou flutuação limitada. A média do
Relatório de Inflação Setembro 2000
94
preço para todo o período foi arbitrada como índice-base 100. Em 1998, esta relação dobra de
valor em conseqüência da queda de cerca de 50% do preço internacional, não repassada aos
preços domésticos. A tendência se inverte em 1999, com a desvalorização do real e o aumento
do preço externo do petróleo. Os seguidos reajustes dos preços domésticos compensaram
parcialmente o aumento do custo do petróleo em reais, e em agosto o preço no atacado (tomando
como parâmetro a cotação em US$ 30 e a taxa de câmbio de R$ 1,81/US$) estava cerca de
20% abaixo da média 1994-1997.
Preço dos Combustíveis Atacado / Preço Internacional em Reais
40
60
80
100
120
140
160
180
200
Jan/94 Jan/95 Jan/96 Jan/97 Jan/98 Jan/99 Jan/00
Méd
ia J
an 1
994
/ Dez
199
7 =
100
Núcleo de inflação
Como já comentado no Relatório anterior, o núcleo de inflação é uma ferramenta útil para política
monetária pois permite distinguir movimentos transitórios e pontuais nos preços de alterações
persistentes e generalizadas, fornecendo uma informação mais precisa sobre a tendência dos
preços. Nesse quadro, são apresentados os resultados preliminares do cálculo de uma medida de
núcleo de inflação para o IPCA.
O cálculo do núcleo segue a metodologia da média aparada, que consiste em eliminar a cada mês
as maiores e as menores variações dos preços que compõem o índice cheio. Ou seja, apara-se as
caudas da distribuição das variações dos preços e calcula-se a média ponderada utilizando apenas
a parte central da distribuição. Desta forma, procura-se eliminar as variações extremas e manter
o miolo da distribuição, que teoricamente tende a melhor identificar o componente generalizado
da inflação.
Relatório de Inflação Setembro 2000
95
No cálculo, foram utilizados os 52 componentes do IPCA correspondentes ao nível de
desagregação “ITEM”. Com relação à parcela a ser eliminada das caudas da distribuição, escolheu-
se um corte de 20% em cada cauda, com base no critério de minimização da raiz do erro quadrático
médio entre a média móvel centrada de 13 meses da inflação mensal e da série da média aparada
para uma determinada parcela de corte1 .
Como alguns preços que compõem o índice apresentam variações apenas uma ou poucas vezes ao
ano e tais variações são grandes quando comparadas com as dos itens com variações mais freqüentes,
a utilização da metodologia da média aparada com corte simétrico faz com que estes preços sejam
sistematicamente eliminados do cálculo do núcleo, levando a uma subestimação da inflação. A fim de
evitar tal problema, os componentes com variações infreqüentes foram suavizados em doze períodos
à frente. Tal solução é semelhante à utilizada pela Fundação Getulio Vargas no cálculo do núcleo para
o IPC-BR. No entanto, tal procedimento pode introduzir alguma inércia no comportamento do núcleo.
A série do núcleo para o período de 1996 a agosto de 2000 é mostrada no gráfico a seguir.
Gráfico 1 - Núcleo e IPCA – variação mensal
Como esperado, a medida de inflação subjacente obtida apresenta uma menor volatilidade do
que a inflação cheia, além de não apresentar viés, ou seja, não tende a permanecer sistematicamente
abaixo nem acima da inflação. Além disso, o núcleo apresentou resultados satisfatórios no sentido
de antecipar as variações da inflação.
Com relação às variações em 12 meses mostradas na tabela abaixo, a medida de núcleo no final
de 1999 foi 5,22% enquanto a variação do IPCA foi 8,94%, diferente dos anos anteriores,
quando o núcleo ficou acima da inflação. Este patamar foi mantido nos primeiros meses de 2000,
1 Uma descrição mais detalhada da metodologia utilizada poderá ser vista em Evaluating core inflation measures, WorkingPapers Series 2000, por vir.
-1,0
-0,5
0,0
0,5
1,0
1,5
2,0
jan/96 jul/96 jan/97 jul/97 jan/98 jul/98 jan/99 jul/99 jan/00 jul/00
IPCA Núcleo
Relatório de Inflação Setembro 2000
96
excetuando-se janeiro. Desde maio, o núcleo mostrou uma trajetória de crescimento, chegando
próximo de 6% em agosto.
Com a crescente discussão sobre núcleo de inflação, sobretudo após a adoção do regime de metas
para inflação, muitas instituições de pesquisa e consultorias passaram a divulgar medidas de tendência
da inflação. Cabe destacar as medidas divulgadas pela FGV e pelo Ipea. Desde março deste ano, a
FGV passou a divulgar uma medida de núcleo de inflação para o IPC-BR utilizando uma média aparada
de 20% em cada cauda com alguns itens suavizados2 . O Ipea, por sua vez, utiliza uma tendência
prospectiva da inflação baseado em um modelo de redução da volatilidade, combinando a técnica da
média aparada com a de suavização exponencial3 . As variações em 12 meses e o comportamento
mensal destes dois indicadores são mostrados, respectivamente, na tabela e gráfico a seguir.
Com relação à trajetória para os meses seguintes, espera-se que o núcleo volte ao patamar de
0,4% observado no primeiro trimestre do ano, em conseqüência da reversão da alta dos alimentos.
Esse recuo para os níveis observados no primeiro semestre já foi observado no núcleo do IPC-
BR, que caiu de 0,7% em julho para 0,3% em agosto. O mesmo deve ocorrer nos próximos
meses com o núcleo do IPCA calculado pelo Ipea.
Gráficos 2 e 3 – Núcleos da FGV e Ipea
2 Núcleo de inflação, Revista Conjuntura Econômica, março 2000.3 Indicadores Ipea de tendência da inflação no Brasil, Boletim Conjuntural Ipea, janeiro 2000.
Núcleos de inflação – variações em 12 mesesPeríodo 1997 1998 1999 2000
jan fev mar abr mai jun jul ago
IPC-BR 7,23 1,67 9,11 9,51 8,04 7,57 7,28 7,63 6,92 7,67 8,08Núcleo FGV 5,59 2,17 5,50 5,62 4,73 4,42 4,31 4,44 4,33 4,60 4,49
IPCA 5,22 1,66 8,94 8,85 7,86 6,92 6,77 6,47 6,51 7,06 7,85Média aparada20%
5,30 2,03 5,22 5,40 5,21 5,16 5,18 5,29 5,49 5,77 5,96
Núcleo IPEA 3,43 0,72 3,47 3,68 3,60 3,38 3,14 2,94 2,79 2,79 2,80
IP C-BR e núcleo da FG V
variações m ensaisIP CA e núcleo do IP E A
variações m ensais
-1
0
1
2
jan/96 out/96 ju l/97 abr/98 jan/99 out/99 ju l/00-1
0
1
2
3
jan/96 out/96 ju l/97 abr/98 jan/99 out/99 ju l/00
Relatório de Inflação Setembro 2000
97
Preço dos Alimentos
A evolução do IPCA ao longo de 2000 é melhor compreendida quando se analisam três categorias
de bens e serviços que compõem o índice:
a) aqueles que têm, de alguma forma, seus preços administrados (por exemplo, energia
elétrica, telefonia, água e esgoto, planos de saúde, etc.);
b) derivados de petróleo e álcool combustível;
c) alimentos.
Os preços administrados foram tema de quadro específico no Relatório de Inflação de dezembro de
1999. As outras duas categorias são abordadas neste Relatório. Este quadro analisa a evolução do
preço dos alimentos até o terceiro trimestre de 2000, bem como suas perspectivas até o final do ano.
Ao contrário dos preços administrados e dos derivados do petróleo, que têm pressionado a taxa
de inflação sistematicamente ao longo do ano, o preço dos alimentos teve evolução dual. No
primeiro semestre, o preço dos alimentos surpreendeu e registrou variação negativa (-1,65% no
sub-grupo Alimentação no Domicílio). Em conseqüência, a taxa de inflação no semestre ficou
abaixo do esperado (1,64%). Em contrapartida, no segundo semestre o quadro se alterou e o
preço dos alimentos começou a subir acima dos demais preços da economia (com exceção dos
preços administrados) devido, basicamente, a fatores climáticos.
A queda no preço dos alimentos no primeiro semestre foi particularmente intensa no caso de
cereais, frutas, carnes, aves e ovos. Concorreram para esse resultado a safra recorde de grãos, o
declínio sazonal no preço da carne com o fim da entressafra e o bom comportamento do clima.
Além disso, a queda do preço da carne vermelha provocou recuo do preço das carnes de frango
e suína no período. Cabe ressaltar que a queda de preços não foi generalizada, e já no primeiro
semestre observou-se pressão nos sub-grupos açúcar e leite.
Desde julho, os alimentos passaram a pressionar a taxa de inflação. A ocorrência de geadas e
secas no País produziu forte impacto no preço dos alimentos in natura e vários produtos tiveram
sua entressafra antecipada, como a carne e o leite. No caso da carne, essa antecipação provocou
um aumento de preços que só era esperado nos últimos meses do ano. Houve também casos de
quebra de safra como a cana-de-açúcar, milho, trigo e feijão. Vale observar que a quebra da
safra de cana-de-açúcar também afetou o preço do álcool combustível.
A alta da carne bovina provocou, adicionalmente, a elevação de seus substitutos, carne de frango
e de porco. A carne de frango foi também pressionada pelo aumento no preço do milho. Como
Relatório de Inflação Setembro 2000
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resultado, os itens que mais contribuíram para a elevação da inflação de alimentos nos meses de
julho e agosto foram o feijão, o milho, o açúcar e derivados, o leite e derivados e as carnes em
geral. Vale observar que, não obstante os problemas climáticos, a safra de grãos em 2000 deverá
ser superior à verificada em 1999, registrando novo recorde de produção.
A expectativa é de que, até o fim do ano, os preços dos alimentos apresentem estabilidade, ou
até mesmo algum recuo. Esse cenário é reforçado pela reversão das condições climáticas
desfavoráveis. A antecipação do período de chuvas favoreceu as pastagens, com efeitos rápidos
sobre o preço da carne e substitutos e do leite. Note-se que o preço do leite começou a cair já
em agosto. Da mesma maneira, a regularização da oferta de carne deve ocorrer com maior
antecedência do que nos anos anteriores.
A reversão dos preços do feijão e do milho deverá ocorrer com maior lentidão. No caso do
feijão, a importação tem sido prejudicada pela menor oferta externa. Desse modo, a queda do
preço do produto só deverá ocorrer com maior intensidade a partir da colheita do final de ano.
As perspectivas para o preço do milho foram prejudicadas pela menor safra esperada dos Estados
Unidos.
Finalmente, a quebra da safra de cana-de-açúcar deverá continuar exercendo pressão altista
sobre a inflação até o fim do ano, visto que a nova safra somente chega ao mercado em maio de
2001. Note-se, contudo, que os efeitos do aumento do preço do álcool combustível foram
amenizados com a redução da mistura do produto na gasolina, de 24% para 20%, pelos leilões
oficiais do produto, pela venda de estoques da Brasil Álcool e pela maior fiscalização governamental
de práticas anticompetitivas nos postos de gasolina.