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Relatório de Inflação Setembro 2000 75 6 – Perspectivas para a inflação Este capítulo do Relatório de Inflação apresenta a avaliação feita pelo Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o comportamento da economia brasileira desde o último Relatório, em junho, assim como as perspectivas para a inflação até o fim de 2002. As projeções aqui realizadas baseiam-se no pressuposto de que, no horizonte de previsão, a taxa básica de juros permanecerá inalterada em 16,5% a.a, valor decidido pelo Copom em sua última reunião, nos dias 19 e 20 de setembro. É importante ressaltar que esse procedimento é estritamente técnico. Portanto, essa hipótese não deve ser vista como previsão sobre a trajetória futura da taxa de juros. As previsões de inflação e de crescimento do PIB divulgadas por este Relatório não são pontuais, pois incorporam intervalos de probabilidade que deixam claro o grau de incerteza presente no momento em que a decisão sobre a taxa de juros foi tomada. Além da hipótese de manutenção da taxa de juros, as previsões de inflação são decorrência de um conjunto de hipóteses, considerado pelo Copom como o mais provável, sobre o comportamento de variáveis econômicas relevantes, assim como os riscos a elas associados. Essas hipóteses compõem o cenário principal, a partir do qual o Copom toma decisões sobre a taxa de juros. Ao expô-las, por meio deste Relatório, o Copom procura dar maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para sua eficácia no controle da inflação, que é o seu objetivo precípuo. 6.1 – Determinantes da inflação Demanda agregada e oferta agregada A economia brasileira cresceu 3,92% no segundo trimestre de 2000, acumulando crescimento de 3,84% ao longo do primeiro semestre, na

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Page 1: 6 – Perspectivas para a inflação · preços dos produtos semimanufaturados subiram 13,9% no período, ao passo que os preços dos produtos básicos e manufaturados sofreram reduções

Relatório de Inflação Setembro 2000

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6 – Perspectivas para a inflação

Este capítulo do Relatório de Inflação apresenta a avaliação feita pelo

Comitê de Política Monetária (Copom) sobre o comportamento da economia

brasileira desde o último Relatório, em junho, assim como as perspectivas

para a inflação até o fim de 2002. As projeções aqui realizadas baseiam-se

no pressuposto de que, no horizonte de previsão, a taxa básica de juros

permanecerá inalterada em 16,5% a.a, valor decidido pelo Copom em sua

última reunião, nos dias 19 e 20 de setembro. É importante ressaltar que

esse procedimento é estritamente técnico. Portanto, essa hipótese não deve

ser vista como previsão sobre a trajetória futura da taxa de juros.

As previsões de inflação e de crescimento do PIB divulgadas por este

Relatório não são pontuais, pois incorporam intervalos de probabilidade

que deixam claro o grau de incerteza presente no momento em que a

decisão sobre a taxa de juros foi tomada. Além da hipótese de

manutenção da taxa de juros, as previsões de inflação são decorrência

de um conjunto de hipóteses, considerado pelo Copom como o mais

provável, sobre o comportamento de variáveis econômicas relevantes,

assim como os riscos a elas associados. Essas hipóteses compõem o

cenário principal, a partir do qual o Copom toma decisões sobre a taxa

de juros. Ao expô-las, por meio deste Relatório, o Copom procura dar

maior transparência às decisões de política monetária, contribuindo para

sua eficácia no controle da inflação, que é o seu objetivo precípuo.

6.1 – Determinantes da inflação

Demanda agregada e oferta agregada

A economia brasileira cresceu 3,92% no segundo trimestre de 2000,

acumulando crescimento de 3,84% ao longo do primeiro semestre, na

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comparação com os mesmos períodos do ano anterior. O Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também divulgou a revisão

do PIB do primeiro trimestre, que cresceu 3,76% contra 3,08%

anteriormente divulgado, em relação a igual trimestre de 1999. O

desempenho do setor agropecuário, que destoava dos demais (indústria

e serviços), sofreu significativa alteração, tendo crescido 3,60% em

oposição à retração de 0,84% previamente estimada. Essa mudança foi

causada, basicamente, pelos novos parâmetros de ponderação para a

lavoura advindos do censo agropecuário de 1995-96, já que a antiga

estrutura de ponderação utilizava os dados do censo agropecuário de

1985.

Os novos números do PIB mostram que o crescimento acelerou-se no

segundo trimestre, contrariando sinais de arrefecimento observados no

seu início. Além disso, vale observar que: a) o perfil do crescimento

econômico está mais equilibrado, pois os três setores do PIB registraram

taxas robustas de crescimento no primeiro semestre (6,45% na

agropecuária, 5% na indústria e 2,96% nos serviços); b) a exemplo do

que ocorreu em 1999, a agropecuária lidera o crescimento, fato ainda

mais relevante quando se considera a safra recorde obtida no ano

passado; c) o setor de serviços, que tem o maior peso no PIB, acelerou

o crescimento, aproximando-se da taxa do setor industrial e reforçando

a percepção de que o País está entrando em novo ciclo de crescimento.

O crescimento da economia no primeiro semestre não impediu que a

inflação do período fosse a mais baixa desde o começo da série do

IPCA. Contudo, se por um lado a inflação baixa do primeiro semestre

surpreendeu positivamente, por outro o cenário mudou de maneira

abrupta no terceiro trimestre. Não obstante o fato de que a alta da

inflação era esperada, sua magnitude ultrapassou todas as previsões. A

inflação de julho foi 1,61%, variação praticamente igual à acumulada

durante todo o primeiro semestre deste ano (1,64%) e, em agosto, a

alta do nível de preços alcançou 1,31%.

Uma conjunção de fatores concorreu para esse resultado, com destaque

para os reajustes de preços administrados, o aumento do preço dos

derivados de petróleo e as condições climáticas adversas. Os reajustes

contratuais das tarifas de serviços públicos como energia elétrica e

telefonia, bem como os aumentos dos derivados de petróleo (gás de

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cozinha, diesel e gasolina) ficaram dentro das previsões anteriores do

Copom. Por outro lado, a ocorrência de secas e geadas aumentou a

inflação por duas vias: diretamente, pela acentuada elevação do preço

dos alimentos, inclusive pela antecipação dos efeitos da entressafra de

alguns produtos como carne e leite; e indiretamente, pelo aumento do

preço do álcool combustível causado pela quebra da safra da cana-de-

açúcar. No caso do álcool, que entra na composição da gasolina, seu

aumento acarretou elevação adicional do preço da gasolina ao

consumidor.

Ainda que os efeitos de segunda ordem desses aumentos não possam ser

ignorados, o seu impacto direto nos índices de preços deve restringir-se

ao que já foi observado em julho e agosto, com a inflação tendendo a

recuar significativamente nos próximos meses. Essa análise é corroborada

pelos indicadores antecedentes de inflação, que apontam ausência de

pressões entre setembro e novembro, seguida de pequena elevação em

dezembro.

Em julho e agosto, as altas de combustíveis, alimentos e tarifas de serviços

públicos contribuíram para elevar tanto a taxa de inflação quanto o seu

núcleo. Pela metodologia de cálculo do núcleo do IPCA (ver quadro

sobre Núcleo de Inflação), são excluídos os itens com maior variação

de preço no mês até o limite de 20% da ponderação total do IPCA.

Como as altas ocorreram em itens com grande peso no índice (alimentos,

tarifas e combustíveis totalizam cerca de 40% do índice), parte deles

deixou de ser excluída. Com isso, o núcleo elevou-se do patamar médio

de 0,4% ao mês observado no primeiro semestre para 0,6% nos dois

meses seguintes. A reversão esperada para os preços dos alimentos

nos próximos meses deve contribuir para a redução do núcleo.

Os indicadores de demanda agregada mostram expressivo crescimento

em relação a 1999. As vendas industriais calculadas pela CNI, abrangendo

12 Estados, mostram aumento real de 10,7% nos primeiros cinco meses

do ano. O faturamento real do comércio varejista cresceu 5,4% no primeiro

semestre, mas o do setor atacadista cresceu apenas 0,28%.

Outros indicadores que refletem o estado da demanda são o número de

transações com cartão de crédito e cheques compensados. Com relação

ao primeiro, houve alta de 26% até agosto, enquanto o número de

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cheques compensados aumentou 5,7%, ambos comparados com igual

período do ano passado.

A política fiscal, em conjunto com a política monetária, continua

cumprindo a importante função de pilar da estabilidade de preços. No

primeiro semestre, o superávit primário consolidado do setor público

atingiu R$ 23,7 bilhões, 47% a mais do que a meta para o mesmo período

que consta do Programa Econômico, ratificando o compromisso do

governo com a austeridade fiscal.

O resultado das contas públicas em 2000 melhorou sobremaneira em

relação ao de 1999. A importância das receitas fiscais extraordinárias

reduziu-se bastante em comparação ao ano passado e houve grande

aumento da arrecadação de impostos e tributos ligados ao crescimento

da economia.

O balanço comercial continua em recuperação, embora o superávit

registrado no ano esteja abaixo do inicialmente esperado. A análise

cuidadosa mostra que o desempenho das contas comerciais não deve

ser fonte de preocupações. Vale destacar o grande aumento das

exportações: neste ano, estão crescendo 15% em quantidade, a maior

taxa desde 1993, e 17% em valor, a maior taxa desde 1988. Como

resultado, em três meses deste ano as exportações ultrapassaram US$

5 bilhões ao mês. Até agosto, apenas em janeiro houve déficit, o que

representa uma mudança quantitativa não desprezível no comportamento

do balanço comercial, especialmente quando se considera que em 2000

a economia está crescendo a taxa próxima de 4%.

Além da mudança de patamar dos saldos comerciais, o balanço

comercial mostra mudança qualitativa importante, que é o crescimento

da exportação de manufaturados. Até julho, o quantum de produtos

manufaturados cresceu 24,9%, enquanto o dos produtos básicos cresceu

9% e dos produtos semimanufaturados registrou retração de 4,3%. Os

preços dos produtos semimanufaturados subiram 13,9% no período,

ao passo que os preços dos produtos básicos e manufaturados sofreram

reduções de 3,5% e 1,3%, respectivamente.

Por outro lado, as importações também vêm crescendo em ritmo

acelerado, o que explica a ausência de saldos comerciais de maior

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magnitude. Nesse aspecto, destaca-se o crescimento do quantum das

importações de produtos intermediários (31,5%) em 2000, valor elevado

mesmo considerando que seus preços caíram em média 9,3%. Análise

mais atenta mostra que, depois da desvalorização do início de 1999,

aumentou a correlação entre o aumento das exportações de

manufaturados e a importação de bens intermediários, o que sugere que

parte desse aumento não advém de maior demanda interna, mas sim

das exportações de manufaturados. Por último, vale observar a

importância da elevação do preço do petróleo no aumento das

importações. Mesmo com a diminuição da quantidade importada neste

ano, o valor mensal das importações de petróleo subiu cerca de 68%

até agosto, o que representa um acréscimo mensal de cerca de

US$ 300 milhões na conta comercial. Em contraposição, os demais itens

de importação tiveram queda de preço. No agregado, a elevação do

preço dos produtos de importação foi de apenas 0,2% até julho.

O desempenho do balanço comercial tem ajudado na redução do déficit

em conta corrente, que caiu para 3,75% do PIB, contribuindo para a redução

da necessidade de financiamento externo. Além disso, o ingresso de

investimentos diretos tem sido mais que suficiente para financiá-lo. A melhora

dos fundamentos da economia produziu reflexos positivos na percepção do

risco do País e, portanto, na redução dos spreads dos títulos soberanos.

Essa melhoria também pôde ser observada na bem-sucedida troca de títulos

antigos da dívida externa brasileira por novos títulos com prazo mais longo,

de 40 anos e com opção de recompra em 15 anos.

Depois de registrar queda em 1999, a produção industrial apresenta

crescimento vigoroso em 2000 e, até julho, cresceu 6,77% em

comparação com o mesmo período do ano anterior. A análise por

categoria de uso destaca grande aumento na produção de bens duráveis,

21,78%. Entre esses, destaca-se a produção de veículos, que cresceu

24,5% até agosto, em relação ao mesmo período do ano passado. Por

sua vez, as vendas internas cresceram 15,22%, enquanto as vendas

externas aumentaram 46,65%. Esse setor é importante pelo efeito

multiplicador que tem sobre os demais setores da economia.

A reação do setor de bens duráveis era esperada desde meados de

1999, quando foram adotadas as primeiras medidas para permitir o

aumento da oferta de crédito. De fato, o volume de crédito mostra

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crescimento substancial nos últimos 12 meses findos em julho: 82% para

pessoas físicas, nas modalidades crédito pessoal e aquisição de bens, e

30% para pessoas jurídicas. Ao mesmo tempo, houve sensível redução

das taxas ativas cobradas pelo sistema financeiro. A taxa para pessoas

jurídicas caiu de 56% em julho de 1999, para 35% em julho de 2000,

enquanto a taxa para pessoas físicas reduziu-se de 108% para 74%, no

mesmo período. Outros fatores também contribuíram para esse quadro,

como o crescimento da economia e a queda da inadimplência. A média

da taxa líquida de inadimplência caiu significativamente neste ano até

agosto: a queda registrada pelo SPC para a cidade de São Paulo foi de

30,45% e a do Teledata para o País foi de 22%.

No campo da administração da dívida interna, vale destacar que a

melhora nos fundamentos da economia, assim como seu robusto

crescimento, tem propiciado condições para o alongamento dos prazos

da dívida mobiliária, como mostram as recentes emissões de títulos

prefixados de dois anos.

A produção de bens de capital também registra bom desempenho —

cresceu 9,38% até julho — indicando que o nível de investimentos está

aumentando. Além disso, ela também pode ser encarada como uma

proxy para as expectativas empresariais, na medida em que aumentos

de investimento indicam a confiança dos empresários na continuidade

do processo de crescimento da economia. Deve-se notar, entretanto,

que parte do aumento decorre da substituição dos bens de capital

importados depois da desvalorização da moeda. De fato, as importações

de bens de capital, em quantum, caíram 11,5% até julho, comparando-

se com período semelhante em 1999. Já a produção de insumos da

construção civil apresenta crescimento tênue até julho, 1,75%.

A produção de bens não-duráveis e semiduráveis apresenta retração

em 2000. Até julho, houve queda de 1,23% em relação ao mesmo

período do ano passado. O aumento do nível de emprego deverá ajudar

a reverter a situação, ainda que um crescimento similar ao das outras

categorias só deverá acontecer na medida em que o nível de renda real

se recupere com maior vigor.

A taxa de desemprego continua em trajetória de queda, embora de

maneira lenta. Em agosto, a taxa divulgada pelo IBGE situou-se em

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7,77%, contra 8,34% em agosto de 1999. Em cinco dos oito primeiros

meses deste ano, as taxas observadas foram menores do que no mesmo

mês do ano passado e, até agosto, a taxa reduziu-se, em média, 1,4%.

Cabe ressaltar que a evolução do mercado de trabalho é mais favorável

do que mostra isoladamente a taxa de desemprego. A queda da taxa de

desemprego, embora pequena, ocorreu em cenário de forte crescimento

da PEA (4,2% nos primeiros oito meses), o que mascara a melhoria das

condições no mercado de trabalho.

Outro indicador que também mostra a evolução favorável do mercado

de trabalho é o nível de emprego formal. Segundo o Ministério do

Trabalho, até julho, houve aumento de 1,01% no nível de emprego formal

no País. Destaque-se o fraco desempenho do nível de emprego na

construção civil, que recuou 3,62% no período, em oposição aos demais

componentes do índice (indústria de transformação, +2,62%, comércio,

+2,15% e serviços, +1,29%). É digno de nota o crescimento observado

no nível de emprego na indústria paulista neste ano, 0,31% no primeiro

semestre, o primeiro aumento desde 1994.

Segundo a Fundação Getulio Vargas, a utilização média da capacidade

instalada atingiu, no segundo trimestre, 82,8%, um pouco abaixo dos 83,1%

registrados no primeiro trimestre. Apesar da aceleração da taxa de

crescimento, o número acima indica que não há, no curto e médio prazos,

limitações generalizadas pelo lado da oferta, pois apenas alguns setores

vêm trabalhando com menor capacidade ociosa. Esse diagnóstico é

corroborado pelo aumento do investimento, que deverá manter o equilíbrio

entre demanda e oferta em ambiente de maior crescimento econômico.

No conjunto, levando-se em consideração os indicadores de demanda

e oferta agregadas e a consolidação dos fundamentos macroeconômicos,

pode-se concluir que o País encontra-se no limiar de um processo de

crescimento sustentável.

Economia internacional

Em relação ao último Relatório, o cenário externo ganhou importância

relativa como fator de risco para a evolução da economia brasileira por

conta das incertezas com relação à evolução do preço do petróleo, que

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continua subindo e desafiando todas as previsões. No entanto, à exceção

do petróleo e suas conseqüências, as demais condições da economia

internacional parecem favoráveis de maneira geral.

A incerteza quanto à evolução da economia dos Estados Unidos

diminuiu consideravelmente desde o Relatório de junho. Os últimos

indicadores econômicos ratificaram a confiança em relação à hipótese

de desaceleração gradual da economia, a inflação continua sob

controle e a produtividade permanece alta, indicando que os últimos

aumentos da taxa de juros parecem ter sido suficientes para trazer a

economia para uma trajetória sustentável de longo prazo. Além disso,

as recentes declarações de membros do FOMC mostram a crença de

que aumentou a taxa de crescimento sustentável da economia dos

Estados Unidos, diminuindo a probabilidade de aumentos adicionais

da taxa de juros.

Os sinais de que o Japão estaria superando o desafio da retomada do

crescimento, depois de anos de estagnação econômica, ganham força a

cada dia. O PIB japonês cresceu 1% no segundo trimestre e o

desemprego começa a recuar, ainda que lentamente. Em contrapartida,

o consumo pessoal reluta em esboçar reação consistente. Depois de

dez anos sem promover majorações na taxa básica de juros, o Banco

do Japão decidiu elevá-la de praticamente zero para 0,25% ao ano.

Embora as incertezas em relação às economias dos Estados Unidos e

do Japão tenham diminuído, não se pode dizer o mesmo em relação à

economia da Área do Euro. O enfraquecimento do euro, que

recentemente atingiu seu recorde de baixa frente ao dólar, juntamente

com a manutenção da trajetória de alta do preço do petróleo, que atingiu

a cotação mais alta dos últimos dez anos, ameaçam a estabilidade de

preços da região. Esse risco torna-se ainda mais consistente se

considerada a taxa de crescimento da região, que cresceu 3% no primeiro

semestre. Assim, a taxa de inflação aumentou e ultrapassou, em julho, a

meta de 2% em 12 meses, atingindo 2,4%.

A desvalorização do euro, que em um primeiro momento foi fator

importante no estímulo ao crescimento econômico, ameaça a estabilidade

de preços, e os sucessivos aumentos da taxa de juros desde novembro

não foram capazes de reverter a situação. Nesse contexto, o Banco

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Central Europeu, em conjunto com outros bancos centrais, interveio no

mercado de câmbio de forma a fortalecer o euro.

Embora com menor intensidade que o esperado e apesar da recente

alta da taxa de desemprego, a economia argentina apresenta recuperação

gradual. A produção industrial cresceu 1,6% nos primeiros oito meses

do ano, em relação ao mesmo período do ano anterior.

O preço do petróleo continua subindo e desafiando todas as previsões. O

acordo da Opep para manter o preço do barril na faixa de US$ 22 a US$ 28

não tem produzido o resultado desejado e não há indicações, no momento,

de que esse quadro possa ser revertido, mesmo diante da última decisão de

novo aumento do volume de produção, em especial porque já é previsto um

aumento da demanda do produto nos próximos meses em decorrência do

inverno no hemisfério norte (ver quadro sobre Preço do Petróleo: Evolução

Recente e Impacto Doméstico). Outro fator que deve continuar pressionando

o preço do petróleo é o ritmo de crescimento da economia mundial que,

segundo o FMI, deverá crescer 4,7% este ano, contra crescimento observado

de 3,4% em 1999, a taxa mais alta dos últimos dez anos.

A decisão do governo norte-americano de reduzir os estoques

estratégicos de petróleo, liberando para o consumo cerca de 30

milhões de barris, é mais uma tentativa de diminuir o grau de incerteza

do mercado, e sinaliza a disposição dos maiores países consumidores

de atuar com firmeza na regularização da oferta mundial do produto.

Em resumo, os atuais níveis atingidos pelo preço internacional do

petróleo trazem grande preocupação e, caso continuem a subir, terão

conseqüências negativas sobre a economia mundial, a começar pela

redução do ritmo de crescimento, ainda que a capacidade de absorção

de choques dessa natureza pareça maior hoje do que há vinte anos.

6.2 – Cenário principal: pressupostose riscos associados

As projeções com as quais o Copom trabalha baseiam-se em um

conjunto de hipóteses sobre o comportamento das principais variáveis

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econômicas. Esse conjunto de hipóteses e seus respectivos riscos

compõem o cenário principal a partir do qual o Copom toma decisões

de política monetária.

Os principais focos de incerteza em relação às perspectivas para a taxa

de inflação no último trimestre de 2000 e em 2001 referem-se ao petróleo

e aos preços administrados.

O mercado de petróleo continua caracterizado por elevada incerteza e

volatilidade de preços. A despeito dos seguidos aumentos de cotas de

produção acordados pela OPEP nas reuniões de março, junho e setembro

deste ano, os preços continuam elevados e os estoques de derivados

em níveis historicamente baixos. A preocupação maior é com o último

trimestre deste ano, período de pico de demanda em função do inverno

no hemisfério norte. Apesar dos recentes esforços dos países

industrializados no sentido de regularizar a oferta, a escassez de petróleo

e derivados pode resultar em pressão adicional sobre o preço corrente,

já superior a US$ 30 para o barril do tipo Brent.

Ao longo de 2001, no entanto, espera-se a normalização do mercado,

com recuo gradual dos preços, em função da maior oferta por parte da

OPEP e dos países produtores não-membros da organização, bem como

pelo arrefecimento sazonal da demanda a partir de março. A estrutura

de preços implícita nos contratos negociados no mercado futuro aponta

quedas mensais sucessivas, atingindo cerca de US$ 26 por barril do

tipo Brent no final de 2001. Se os preços no mercado à vista seguirem

essa trajetória futura, o preço médio do barril do petróleo no próximo

ano ficará próximo de US$ 29, pouco acima da média de US$ 28

estimada pelo mesmo critério para 2000.

Considerando essas projeções do mercado futuro para os preços

externos do petróleo e os reajustes já ocorridos nos preços domésticos

dos combustíveis, o Copom decidiu incluir um aumento de 5% nos preços

internos dos derivados de petróleo nas suas simulações. Esse aumento

leva em conta que, do ponto de vista das contas fiscais, a parcela do

superávit primário originalmente prevista na conta-petróleo será

parcialmente coberta pela elevação do lucro da Petrobras. O cenário

principal considera que essa elevação terá impacto sobre os índices de

preços no último trimestre deste ano. Outro cenário analisado pelo

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Copom considera a dispensa de ajustes adicionais dos preços dos

combustíveis.

Em relação aos preços administrados, a pressão mais substancial

sobre a inflação ocorreu no terceiro trimestre, como havia sido

antecipado no último Relatório de Inflação. Para o restante do ano,

o cenário básico incorpora o impacto no IPCA do aumento das tarifas

de transportes públicos nos municípios que ainda não autorizaram o

ajuste anual, bem como da tarifa de energia elétrica no Rio de Janeiro.

Essas hipóteses implicam reajuste médio de 12,2% para o conjunto

de preços administrados em 2000, significando um impacto direto

sobre a inflação de 2,8 pontos percentuais. Para 2001, mantém-se a

hipótese de que as tarifas de serviços públicos sigam a variação

estimada para os índices gerais envolvidos nos respectivos contratos

e que os outros preços administrados sigam a média dos demais

preços da economia.

Outro ponto de incerteza diz respeito ao comportamento dos preços do

grupo Alimentação no Domicílio, cujo peso no IPCA atinge cerca de

17%. A acentuada elevação dos preços dos alimentos foi o fator

responsável pela aceleração inflacionária acima do esperado em julho e

agosto. Este comportamento anulou e reverteu a contribuição favorável

registrada no primeiro semestre do ano, quando a variação do preço

dos alimentos no IPCA foi negativa. A alta recente foi conseqüência de

condições climáticas adversas, que anteciparam os efeitos da entressafra

da carne bovina e do leite, além de provocar a quebra da safra de cana-

de-açúcar, afetando os preços do açúcar e do álcool.

No último trimestre do ano, os efeitos da entressafra ainda deverão

manifestar-se, mas o fato de os preços já estarem em patamar elevado

diminui seu impacto marginal sobre a inflação (ver quadro sobre Preço de

Alimentos). Assim, a hipótese de aumento para o conjunto de preços

dos alimentos no quarto trimestre de 2000 foi revista de 2,3%, apresentada

no último Relatório de Inflação, para 1%. Para 2001, espera-se evolução

neutra dos preços agrícolas, respeitadas as variações sazonais.

Os indicadores do PIB revelam recuperação gradual e contínua, sem

riscos de pressão inflacionária decorrentes de demanda aquecida ou

esgotamento de capacidade produtiva.

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No que se refere à economia internacional, a elevada incerteza que

marcou os últimos trimestres vem se dissipando, com a confirmação do

cenário de menor crescimento do produto com inflação estável nos EUA,

fortalecimento da demanda e queda do desemprego nos países europeus

e no Japão, e continuidade de crescimento nos países emergentes da

Ásia e da América Latina. Mantém-se, portanto, a hipótese de

crescimento mundial da ordem de 4% para o próximo ano, favorecendo

a continuidade de recuperação do balanço comercial e mantendo

condições de liquidez internacional adequadas para o financiamento do

déficit em conta corrente em 2001.

A hipótese para a taxa de juros dos fed funds foi revista: de acordo

com projeções implícitas nos contratos futuros, espera-se estabilidade

da taxa de fed funds em 6,5% ao ano, ao contrário da elevação para

7% no final deste ano que se supôs no último Relatório.

O prêmio de risco Brasil vem apresentando sucessivas reduções ao longo

do ano, em paralelo com a melhora dos fundamentos da economia

brasileira. Esta tendência, embora temporariamente interrompida em

agosto, deverá ser retomada no médio prazo, em função da manutenção

de bons fundamentos.

O balanço comercial deverá continuar a recuperar-se de forma

gradual, embora o último quadrimestre do ano apresente um padrão

sazonal caracterizado por importações em alta — agora agravado

pelo peso das importações de petróleo — e por redução das

exportações de produtos primários. Essa evolução tende a provocar

oscilações de curto prazo na taxa de câmbio, mas a melhora da

percepção do risco soberano e a manutenção do fluxo de

investimentos estrangeiros diretos apontam para um cenário de

estabilidade cambial.

Finalmente, a política fiscal deve continuar cumprindo as metas de

superávit primário para o setor público consolidado que constam do

Programa Econômico do Governo, contribuindo para a estabilidade de

preços e para a melhora da percepção de risco Brasil.

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Relatório de Inflação Setembro 2000

87

6.3 – Previsão da Inflação

Com base nos pressupostos e riscos associados

considerados pelo Copom e utilizando o conjunto

de informações disponível, foi construída a projeção

da variação do IPCA em doze meses utilizando taxa

de juros constante de 16,5% a.a., definida na reunião

dos dias 19 e 20 de setembro de 2000.

Essa projeção incorpora o impacto dos preços

administrados da seguinte forma: primeiro, projeta-

se a inflação condicional ao mesmo cenário mas sem

qualquer hipótese sobre os preços administrados,

o que equivale a admitir que eles evoluam como a

média dos demais preços da economia; a seguir, para

cada trimestre, calcula-se a diferença entre essa

inflação projetada e a variação estimada fora do

modelo para o conjunto dos preços administrados.

Essa diferença, devidamente ponderada pelo peso

do item no índice, é então acrescida ao modelo,

formando uma seqüência esperada de choques

trimestrais, com sua distribuição de probabilidades

de acordo com a avaliação do Copom.

A trajetória central da inflação em doze meses

esperada para 2000 apresenta uma acentuada

elevação no terceiro trimestre, advinda da conjunção

dos reajustes de preços administrados e do forte

aumento do preço dos alimentos observado em julho e agosto, seguida

de uma queda significativa no último trimestre. A expectativa central

para a inflação acumulada em 2000 situa-se em 6,7%, com as

probabilidades de desvios distribuídas simetricamente em torno da

mediana.

Para 2001, a trajetória central esperada é de inflação em 12 meses em

ligeira alta ao longo do primeiro semestre, quando deve permanecer em

torno de 7%. Esse comportamento deve-se a dois efeitos estatísticos.

O primeiro é que, no cálculo da inflação acumulada em 12 meses, as

variações extremamente baixas observadas na primeira metade de 2000

(inflação acumulada em 12 meses)

Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros constantes de 16,5% a.a.

Leque de Inflação

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

41997

21998

41998

21999

41999

22000

42000

22001

42001

22002

42002

12

2

-8

7

-3

Inflação do IPCA com juros constantes de 16,5% a.a.

Ano T Projeção

Central

2000 3 7,6 7,8 7,9 8,0 8,2 8,3 7,9

2000 4 5,6 6,1 6,5 6,9 7,3 7,8 6,7

2001 1 5,6 6,2 6,7 7,2 7,8 8,4 7,0

2001 2 5,3 6,1 6,7 7,4 8,0 8,8 7,0

2001 3 2,5 3,4 4,2 5,0 5,7 6,6 4,6

2001 4 1,4 2,4 3,3 4,1 5,0 6,0 3,7

2002 1 0,5 1,6 2,6 3,6 4,5 5,6 3,0

2002 2 0,0 1,2 2,3 3,4 4,4 5,6 2,8

2002 3 -0,6 0,7 1,8 3,0 4,1 5,4 2,4

2002 4 -0,8 0,5 1,6 2,8 3,9 5,2 2,2

Intervalo de Confiança

50%

30%

10%

Obs.: inflação acumulada em 12 meses, em % ao ano. Os valores correspondem aos mostrados no leque de inflação com juros constantes de 16,5% a. a.

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Relatório de Inflação Setembro 2000

88

serão substituídas por variações que tendem a ser ligeiramente maiores

no mesmo período de 2001. O segundo é a permanência da inflação

anormalmente elevada do terceiro trimestre deste ano no cômputo da

taxa acumulada. No terceiro trimestre de 2001, esse segundo efeito

deve desaparecer e resultar na queda abrupta de 2,4 pontos percentuais

da inflação acumulada. De acordo com a trajetória central, a inflação

deve recuar ainda mais no último trimestre, encerrando 2001 em um

patamar inferior ao da meta de 4% estabelecida para o ano.

Comparando a projeção atual com a do Relatório

de junho, aqui reapresentada, nota-se uma mudança

substantiva no desenho da trajetória esperada.

Embora uma comparação direta não possa ser feita,

pois as projeções baseiam-se em hipóteses

diferentes quanto a cenário e juros, vale comentar

alguns pontos. A mudança de patamar da inflação

projetada para este ano deve-se a dois fatores: a

evolução dos preços de alimentos e de derivados

de petróleo. No Relatório de junho, considerou-se

que a inesperada deflação registrada pelo conjunto

dos alimentos no IPCA ao longo dos primeiros cinco

meses seria revertida no final do ano com um

aumento de 2,3%, ou seja, metade da ocorrida no mesmo período de

1999. No entanto, essa expectativa foi mais do que superada já em

julho e agosto, quando os alimentos acumularam alta de 5%. No tocante

aos derivados de petróleo, os aumentos ocorridos no terceiro trimestre

ultrapassaram a expectativa por conta da inesperada elevação do preço

do álcool combustível, que afetou o preço da gasolina ao consumidor.

Além disso, a persistência de altas nas cotações internacionais do petróleo

justifica a expectativa de pressão adicional nos preços domésticos. Vale

observar que, em um cenário alternativo analisado pelo Copom, sem

reajuste adicional dos preços dos combustíveis, a inflação prevista seria

0,3 ponto percentual menor tanto em 2000 quanto em 2001.

O aumento da projeção central para 2000, portanto, é explicado em boa

parte pelo comportamento dos preços dos alimentos e dos combustíveis.

Por outro lado, a constatação de menor inércia na formação de preços

contribui para uma melhora da dinâmica de inflação em 2001. De fato, os

efeitos dos choques de oferta, uma vez reconhecidos como temporários,

(inflação acumulada em 12 meses)

Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros constantes de 17,5% a.a. ( Relatório de junho)

Leque de Inflação

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

31997

21998

11999

41999

32000

22001

12002

42002

12

2

-8

7

-3

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Relatório de Inflação Setembro 2000

89

têm se dissipado com rapidez e parecem alterar pouco

as expectativas. Esse fenômeno ficou caracterizado

depois do último trimestre de 1999 e parece repetir-

se agora, com a ausência de efeitos apreciáveis de

segunda ordem derivados dos choques de julho e

agosto.

Apresenta-se, como em Relatórios anteriores, o

leque de crescimento do produto construído com

base nas mesmas hipóteses utilizadas no cenário

principal do Copom. Vale enfatizar que os erros de

previsão associados às projeções de crescimento

do PIB são consideravelmente maiores do que no

caso de projeções de inflação, tanto porque

envolvem as trajetórias de dois componentes não

observáveis diretamente, produto potencial e hiato,

quanto porque o cálculo do produto é, por definição,

mais complexo e menos preciso do que o da inflação.

A projeção central para o crescimento do produto

em 2000 é de aproximadamente 4%, com a hipótese

de taxa de juros constante em 16,5% a.a.

A título de ilustração, apresenta-se também o leque

da inflação levando em conta as taxas de juros

esperadas pelo mercado financeiro em 21 de setembro,

um dia após o Copom anunciar a manutenção em

16,5% a.a. da meta para a taxa básica de juros da

economia. O objetivo de utilizar as expectativas do

dia seguinte à reunião do Copom é captar as reações

do mercado à mais recente decisão sobre o principal

instrumento da política monetária. A trajetória de juros

esperada pelo mercado nesse dia estava com leve

inclinação positiva, mas praticamente inalterada em

relação aos dias anteriores, indicando que a decisão

do Copom havia sido plenamente antecipada. As taxas

médias embutidas nos contratos futuros e de swaps

apontavam para elevações graduais nos próximos doze

meses, chegando a 17,5% a.a. no terceiro trimestre

de 2001. Nota-se que a trajetória de inflação resultante

Variação do PIB com juros fixos de 16,5% a.a.

(variação do PIB, 12 meses sobre 12 meses anteriores)

Leque de Crescimento do Produto

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

41997

21998

41998

21999

41999

22000

42000

22001

42001

11

3

-5

7

-1

Inflação do IPCA com juros de mercado 1/

Ano T Projeção

Central

2000 3 7,6 7,8 7,9 8,0 8,2 8,3 7,9

2000 4 5,6 6,1 6,5 6,9 7,3 7,8 6,7

2001 1 5,5 6,2 6,7 7,2 7,8 8,4 6,9

2001 2 5,3 6,0 6,7 7,3 8,0 8,8 7,0

2001 3 2,5 3,4 4,2 4,9 5,7 6,6 4,5

2001 4 1,3 2,3 3,2 4,1 4,9 5,9 3,6

2002 1 0,4 1,5 2,5 3,5 4,4 5,5 2,9

2002 2 -0,1 1,1 2,2 3,2 4,3 5,5 2,7

2002 3 -0,8 0,5 1,7 2,8 4,0 5,2 2,2

2002 4 -1,0 0,3 1,4 2,5 3,7 5,0 1,9

1/ Colhido em 21/09/2000 às 12:00h.

Obs.: inflação acumulada em 12 meses, em % ao ano. Os valores correspondem aos mostrados no leque de inflação com juros de mercado.

Intervalo de Confiança

50%

30%

10%

(inflação acumulada em 12 meses)

1/ Colhido em 21/09/2000 às 12:00h.

Projeção da inflação medida pelo IPCA, com juros de mercado.

Leque de Inflação

0

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

41997

21998

41998

21999

41999

22000

42000

22001

42001

22002

42002

12

2

-8

7

-3

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Relatório de Inflação Setembro 2000

90

dessa hipótese sobre a evolução dos juros praticamente coincide com a daprojeção central em 2000 e difere pouco no horizonte restante.

O comportamento das expectativas de mercado parao IPCA pode ser visto nos gráficos ao lado, queapresentam a mediana e os valores extremos dasdistribuições para 2000 e 2001, resumindo asinformações obtidas de aproximadamente 70instituições financeiras e consultorias especializadas. A

política monetária pode ser considerada bem-sucedidaem manter as expectativas ajustadas às metas para ainflação tanto neste quanto no próximo ano, pois emnenhum momento sequer os valores extremos seafastaram dos limites de tolerância admitidos para avariação do IPCA. Vale notar que o mercado também

foi surpreendido pelas taxas de inflação de julho eagosto, que ocasionaram a revisão para cima de suasexpectativas para este ano, com a mediana passandode 5,9% para 6,3% nos últimos 40 dias. Apesar disso,os valores esperados mais recentes situam-se abaixodo nível de 7% em que se encontravam no início do

ano. Para 2001, a mediana das expectativas osciloumenos: entre 4% e 4,5%. A convergência recente paracerca de 4,4% parece originar-se da persistência dochoque do preço internacional do petróleo.

Além das trajetórias previstas para o IPCA, é

interessante observar as projeções para os demaisíndices comumente divulgados, que resumem osresultados dos diversos modelos utilizados na análisedo mecanismo de transmissão da política monetária, ecompará-las com as do mercado. Constata-se que asprojeções para todos os índices são todas maiores do

que as do mercado para 2000 e todas menores para2001, mas com diferenças significativas apenas nasprojeções para os índices gerais de preços aoconsumidor. Deve-se ter em mente, porém, que as

projeções dos modelos foram efetuadas com base nas hipóteses quecompõem o cenário principal e em juros constantes de 16,5% a.a., ao passo

que o mercado não explicita essas hipóteses em sua análise.

Projeções para outros índices de inflação

Índice Ano Projeção Projeção

Central Mercado

1/

2000 5,2 5,7 6,1 6,5 6,9 7,4 6,3 5,8

2001 1,7 2,6 3,5 4,4 5,3 6,3 3,9 4,2

IPC 2000 4,8 5,2 5,6 6,0 6,4 6,9 5,8 5,7

FIPE 2001 1,4 2,4 3,3 4,1 5,0 6,0 3,7 4,0

2000 9,2 9,6 10,0 10,4 10,8 11,3 10,2 9,0

2001 1,5 2,5 3,4 4,2 5,1 6,1 3,8 5,1

2000 9,0 9,4 9,8 10,2 10,6 11,1 10,0 9,2

2001 1,8 2,8 3,7 4,6 5,5 6,4 4,1 5,0

Obs.: Inflação acumulada no ano sob a hipótese de juros constantes de 16,5% a.a.

1/ Estimativas colhidas junto a mercado (70 instituições) em 21/09/2000

IGP-M

Intervalos de Confiança

INPC

IGP-DI

10%

30%

50%

Expectativa para inflação do IPCA de 2000

5

6

7

8

Jan/2000 Fev Mar Mai Jun Ago Set

mediana mínimo máximo

Expectativa para inflação do IPCA de 2001

3

4

5

6

Jan/2000 Fev Abr Mai Jul Ago Set

mediana mínimo máximo

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Relatório de Inflação Setembro 2000

91

Preço do petróleo: Evolução recente e impacto doméstico

Este quadro investiga as causas da recente alta do petróleo e analisa a tendência do preço nos

próximos meses, bem como os impactos sobre a economia brasileira.

Qualquer análise sobre o preço do petróleo deve retroceder alguns anos para identificar os eventos

que levaram ao atual comportamento do mercado. De forma genérica, o preço do petróleo oscilou

no intervalo de US$ 16 a US$ 24 por barril entre o fim da Guerra do Golfo até 1997, excetuando-

se um breve período de preços em torno de US$ 14 no início de 19941 . Nesta faixa de preços,

a Opep esteve ausente do cenário internacional e o petróleo raramente ocupou a agenda das

autoridades econômicas mundiais.

Um conjunto de fatores, entretanto, aliou-se para provocar acentuada queda do preço no fim de

1997 e 1998. A crise no sudeste asiático provocou contração de demanda da ordem de 400 mil

barris/dia (b/d). Pelo lado da oferta, o início do programa da ONU de troca de alimentos por

petróleo iraquiano adicionou ao mercado 1,5 milhão b/d embargados desde a Guerra do Golfo.

Finalmente, a seqüência de invernos particularmente brandos no hemisfério norte entre 96 e 98

contribuiu para arrefecer o consumo mundial. O resultado foi o excesso de oferta mundial de petróleo

da ordem de 2 milhões b/d em 1998, com produção agregada diária de 75,5 milhões de barris e

demanda média de 73,5 milhões b/d. Neste ambiente, o preço do barril desabou para US$ 10.

A perspectiva de continuidade da queda de preços estimulou a Opep, com o endosso de importantes

países exportadores não-membros (Noruega, México e Omã), a adotar uma estratégia de

contingenciamento de oferta em março de 1999. Como resultado da redução acordada de

produção de 1,7 milhão b/d, a oferta mundial contraiu-se para 74,1 milhões b/d em 1999,

favorecendo a alta gradual do preço do barril.

A estratégia da Opep não seria bem sucedida se a economia internacional não tivesse mantido um

ritmo de atividade intenso em 1999/2000. A demanda mundial de petróleo em 1999 alcançou

74,7 milhões b/d. Os estoques livres (excluídas as reservas estratégicas) do conjunto de países

1 As cotações do petróleo citadas ao longo deste texto se referem ao barril tipo Brent.

Produção e Consumo de Petróleo (em milhões barris/dia)

1998 1999 2000Produção 75,5 74,1 75,7

Demanda 73,5 74,7 74,5Variação Estoques +2,0 -0,6 +1,2Fonte: International Energy Agency

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Relatório de Inflação Setembro 2000

92

da OECD recuaram de 58 dias de consumo no primeiro trimestre de 1999 para 52 dias no último

trimestre. No caso específico dos EUA, os estoques caíram ao nível mais baixo desde o primeiro

choque do petróleo em 1974/75.

Nesta conjuntura, a principal característica do mercado de petróleo tem sido a extrema volatilidade

que se observa tanto nos preços à vista como futuros. Qualquer notícia sobre produção, estoques,

demanda e reservas estratégicas provoca substanciais oscilações no mercado. A primeira tentativa

de “normalização” foi ensaiada na reunião da Opep de março, que aumentou as cotas de produção

em 1,45 milhão b/d. A Opep estabeleceu ainda um mecanismo automático, estipulando variações

de produção sempre que os preços ficarem fora do intervalo de US$ 22 a US$ 28. O anúncio

destas medidas fez o preço recuar para US$ 22 em abril, mas isto não se sustentou e o preço

retornou para US$ 30 em junho.

A reunião da Opep em junho decidiu aumentar a produção em 700 mil b/d. Os dados de produção

e demanda no segundo trimestre indicaram acúmulo de estoques de 2,3 milhões b/d, considerado

suficiente para equilibrar o mercado. Mais uma vez, o anúncio provocou queda temporária de

preços para US$ 27 em julho, retornando para US$ 32 no início de setembro.

Cabe perguntar por que o preço do petróleo está tão volátil e por que o sistema regulador da

Opep não está sendo eficaz. Em primeiro lugar, a oferta mundial está instável. A principal razão é

a produção do Iraque, que apesar de membro da Opep, não tem cotas de produção definidas:

após 10 anos de embargo, sem investimentos em infra-estrutura e exploração, a produção é

naturalmente volátil. Sua produção aumentou 800 mil b/d entre março e maio, mas caiu 500 mil b/

d em junho.

Do lado da demanda, os estoques de petróleo cru e derivados permanecem baixos. O problema

mais grave é o desequilíbrio no mercado de derivados, especialmente nos EUA. As refinarias

americanas operam no limite de capacidade e a demanda por gasolina no pico do verão prejudicou

a formação de estoques de combustível para calefação. Por outro lado, a demanda de inverno

tem sido instável nos últimos anos. A projeção de consumo mundial no quarto trimestre (78,4

milhões b/d) indica que, mesmo com o aumento de cotas de 800 mil b/d aprovado em setembro,

a demanda de fim-de-ano será superior à oferta. Entretanto, condições climáticas podem mudar

este quadro – para melhor ou pior.

Finalmente, o sistema de bandas da Opep tem sido pouco compreendido. Por um lado, o intervalo

de preços se refere a uma cesta de tipos de petróleo dos países da organização, em geral mais

baratos que os tipos Brent e West Texas referenciados no mercado internacional. Isto provoca

certa confusão, pois a cesta da Opep só ultrapassou o limite superior da banda em junho e em

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Relatório de Inflação Setembro 2000

93

agosto/setembro, quando as cotas de produção foram efetivamente revistas. Por outro lado, a

Opep estipulou que apenas depois de 20 dias úteis consecutivos de preços fora do intervalo-

meta ativa-se o mecanismo. Mas se a demanda de inverno significar pressão adicional, a Opep

poderá aprovar aumentos de produção ainda em novembro. Vale lembrar que a capacidade ociosa

dos países membros é baixa, estimada em 2,9 milhões b/d. Portanto, o cenário continua sendo de

extrema volatilidade até pelo menos o fim do inverno no hemisfério norte em março.

A médio e longo prazo, é difícil prever estabilidade de preços na faixa de US$ 30. Preços neste

nível significam maior inflação e menor consumo nos países importadores, dificultam a coesão da

Opep e estimulam o investimento e a produção nos países não-membros. Em 1998, novos

investimentos foram adiados e áreas de produção abandonadas em função do baixo preço, o que

facilitou o êxito da estratégia da Opep. Entretanto, o quadro agora é outro. Abundam notícias de

novas áreas de exploração em diversas regiões. A produção da Rússia e das demais ex-Repúblicas

Soviéticas é ilustrativa. Em 1990, esse conjunto de países produziu quase 11 milhões b/d. Em

1998, sua produção havia recuado para 7,3 milhões b/d. Com o aumento do preço internacional

e a desvalorização do rublo, a produção atual já alcança 7,9 milhões b/d e é estimada em 8,1

milhões b/d em 2001.

Em conclusão, mesmo que até março o petróleo continue sob pressão, no médio prazo o preço

deve recuar, como pode ser observado pelo atual desenho da curva de preços no mercado futuro,

negativamente inclinada, que parte de US$ 32 para contratos com vencimento em novembro

próximo e recua para US$ 26 para entregas no fim de 2001.

O petróleo e a economia brasileira

Os principais efeitos da alta do preço do petróleo sobre a economia brasileira estão relacionados

à inflação e às contas fiscais. Em relação às contas do setor público, o preço do petróleo afeta a

chamada Parcela de Preços Específica ou conta petróleo (ver “Preços Administrados”, Relatório

de Inflação dez/1999, pg. 102-104), que integra as metas de superávit primário do governo

central. Entretanto, o preço do petróleo também afeta o resultado contábil da Petrobras, que

integra as metas de superávit primário das empresas estatais. Em relação à inflação, o Governo

promoveu uma série de reajustes dos preços domésticos dos derivados em 1999/2000 visando

compensar a alta externa.

O gráfico abaixo exibe a evolução do preço doméstico de Combustíveis e Lubrificantes no atacado

(componente do IPA-M), deflacionado pelo preço médio mensal do petróleo em reais. Ou seja,

compara a evolução do preço na refinaria frente ao custo de importação em moeda doméstica.

Como se observa, entre 1994 e 1997 esta relação apresentou flutuação limitada. A média do

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Relatório de Inflação Setembro 2000

94

preço para todo o período foi arbitrada como índice-base 100. Em 1998, esta relação dobra de

valor em conseqüência da queda de cerca de 50% do preço internacional, não repassada aos

preços domésticos. A tendência se inverte em 1999, com a desvalorização do real e o aumento

do preço externo do petróleo. Os seguidos reajustes dos preços domésticos compensaram

parcialmente o aumento do custo do petróleo em reais, e em agosto o preço no atacado (tomando

como parâmetro a cotação em US$ 30 e a taxa de câmbio de R$ 1,81/US$) estava cerca de

20% abaixo da média 1994-1997.

Preço dos Combustíveis Atacado / Preço Internacional em Reais

40

60

80

100

120

140

160

180

200

Jan/94 Jan/95 Jan/96 Jan/97 Jan/98 Jan/99 Jan/00

Méd

ia J

an 1

994

/ Dez

199

7 =

100

Núcleo de inflação

Como já comentado no Relatório anterior, o núcleo de inflação é uma ferramenta útil para política

monetária pois permite distinguir movimentos transitórios e pontuais nos preços de alterações

persistentes e generalizadas, fornecendo uma informação mais precisa sobre a tendência dos

preços. Nesse quadro, são apresentados os resultados preliminares do cálculo de uma medida de

núcleo de inflação para o IPCA.

O cálculo do núcleo segue a metodologia da média aparada, que consiste em eliminar a cada mês

as maiores e as menores variações dos preços que compõem o índice cheio. Ou seja, apara-se as

caudas da distribuição das variações dos preços e calcula-se a média ponderada utilizando apenas

a parte central da distribuição. Desta forma, procura-se eliminar as variações extremas e manter

o miolo da distribuição, que teoricamente tende a melhor identificar o componente generalizado

da inflação.

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Relatório de Inflação Setembro 2000

95

No cálculo, foram utilizados os 52 componentes do IPCA correspondentes ao nível de

desagregação “ITEM”. Com relação à parcela a ser eliminada das caudas da distribuição, escolheu-

se um corte de 20% em cada cauda, com base no critério de minimização da raiz do erro quadrático

médio entre a média móvel centrada de 13 meses da inflação mensal e da série da média aparada

para uma determinada parcela de corte1 .

Como alguns preços que compõem o índice apresentam variações apenas uma ou poucas vezes ao

ano e tais variações são grandes quando comparadas com as dos itens com variações mais freqüentes,

a utilização da metodologia da média aparada com corte simétrico faz com que estes preços sejam

sistematicamente eliminados do cálculo do núcleo, levando a uma subestimação da inflação. A fim de

evitar tal problema, os componentes com variações infreqüentes foram suavizados em doze períodos

à frente. Tal solução é semelhante à utilizada pela Fundação Getulio Vargas no cálculo do núcleo para

o IPC-BR. No entanto, tal procedimento pode introduzir alguma inércia no comportamento do núcleo.

A série do núcleo para o período de 1996 a agosto de 2000 é mostrada no gráfico a seguir.

Gráfico 1 - Núcleo e IPCA – variação mensal

Como esperado, a medida de inflação subjacente obtida apresenta uma menor volatilidade do

que a inflação cheia, além de não apresentar viés, ou seja, não tende a permanecer sistematicamente

abaixo nem acima da inflação. Além disso, o núcleo apresentou resultados satisfatórios no sentido

de antecipar as variações da inflação.

Com relação às variações em 12 meses mostradas na tabela abaixo, a medida de núcleo no final

de 1999 foi 5,22% enquanto a variação do IPCA foi 8,94%, diferente dos anos anteriores,

quando o núcleo ficou acima da inflação. Este patamar foi mantido nos primeiros meses de 2000,

1 Uma descrição mais detalhada da metodologia utilizada poderá ser vista em Evaluating core inflation measures, WorkingPapers Series 2000, por vir.

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

jan/96 jul/96 jan/97 jul/97 jan/98 jul/98 jan/99 jul/99 jan/00 jul/00

IPCA Núcleo

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Relatório de Inflação Setembro 2000

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excetuando-se janeiro. Desde maio, o núcleo mostrou uma trajetória de crescimento, chegando

próximo de 6% em agosto.

Com a crescente discussão sobre núcleo de inflação, sobretudo após a adoção do regime de metas

para inflação, muitas instituições de pesquisa e consultorias passaram a divulgar medidas de tendência

da inflação. Cabe destacar as medidas divulgadas pela FGV e pelo Ipea. Desde março deste ano, a

FGV passou a divulgar uma medida de núcleo de inflação para o IPC-BR utilizando uma média aparada

de 20% em cada cauda com alguns itens suavizados2 . O Ipea, por sua vez, utiliza uma tendência

prospectiva da inflação baseado em um modelo de redução da volatilidade, combinando a técnica da

média aparada com a de suavização exponencial3 . As variações em 12 meses e o comportamento

mensal destes dois indicadores são mostrados, respectivamente, na tabela e gráfico a seguir.

Com relação à trajetória para os meses seguintes, espera-se que o núcleo volte ao patamar de

0,4% observado no primeiro trimestre do ano, em conseqüência da reversão da alta dos alimentos.

Esse recuo para os níveis observados no primeiro semestre já foi observado no núcleo do IPC-

BR, que caiu de 0,7% em julho para 0,3% em agosto. O mesmo deve ocorrer nos próximos

meses com o núcleo do IPCA calculado pelo Ipea.

Gráficos 2 e 3 – Núcleos da FGV e Ipea

2 Núcleo de inflação, Revista Conjuntura Econômica, março 2000.3 Indicadores Ipea de tendência da inflação no Brasil, Boletim Conjuntural Ipea, janeiro 2000.

Núcleos de inflação – variações em 12 mesesPeríodo 1997 1998 1999 2000

jan fev mar abr mai jun jul ago

IPC-BR 7,23 1,67 9,11 9,51 8,04 7,57 7,28 7,63 6,92 7,67 8,08Núcleo FGV 5,59 2,17 5,50 5,62 4,73 4,42 4,31 4,44 4,33 4,60 4,49

IPCA 5,22 1,66 8,94 8,85 7,86 6,92 6,77 6,47 6,51 7,06 7,85Média aparada20%

5,30 2,03 5,22 5,40 5,21 5,16 5,18 5,29 5,49 5,77 5,96

Núcleo IPEA 3,43 0,72 3,47 3,68 3,60 3,38 3,14 2,94 2,79 2,79 2,80

IP C-BR e núcleo da FG V

variações m ensaisIP CA e núcleo do IP E A

variações m ensais

-1

0

1

2

jan/96 out/96 ju l/97 abr/98 jan/99 out/99 ju l/00-1

0

1

2

3

jan/96 out/96 ju l/97 abr/98 jan/99 out/99 ju l/00

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Relatório de Inflação Setembro 2000

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Preço dos Alimentos

A evolução do IPCA ao longo de 2000 é melhor compreendida quando se analisam três categorias

de bens e serviços que compõem o índice:

a) aqueles que têm, de alguma forma, seus preços administrados (por exemplo, energia

elétrica, telefonia, água e esgoto, planos de saúde, etc.);

b) derivados de petróleo e álcool combustível;

c) alimentos.

Os preços administrados foram tema de quadro específico no Relatório de Inflação de dezembro de

1999. As outras duas categorias são abordadas neste Relatório. Este quadro analisa a evolução do

preço dos alimentos até o terceiro trimestre de 2000, bem como suas perspectivas até o final do ano.

Ao contrário dos preços administrados e dos derivados do petróleo, que têm pressionado a taxa

de inflação sistematicamente ao longo do ano, o preço dos alimentos teve evolução dual. No

primeiro semestre, o preço dos alimentos surpreendeu e registrou variação negativa (-1,65% no

sub-grupo Alimentação no Domicílio). Em conseqüência, a taxa de inflação no semestre ficou

abaixo do esperado (1,64%). Em contrapartida, no segundo semestre o quadro se alterou e o

preço dos alimentos começou a subir acima dos demais preços da economia (com exceção dos

preços administrados) devido, basicamente, a fatores climáticos.

A queda no preço dos alimentos no primeiro semestre foi particularmente intensa no caso de

cereais, frutas, carnes, aves e ovos. Concorreram para esse resultado a safra recorde de grãos, o

declínio sazonal no preço da carne com o fim da entressafra e o bom comportamento do clima.

Além disso, a queda do preço da carne vermelha provocou recuo do preço das carnes de frango

e suína no período. Cabe ressaltar que a queda de preços não foi generalizada, e já no primeiro

semestre observou-se pressão nos sub-grupos açúcar e leite.

Desde julho, os alimentos passaram a pressionar a taxa de inflação. A ocorrência de geadas e

secas no País produziu forte impacto no preço dos alimentos in natura e vários produtos tiveram

sua entressafra antecipada, como a carne e o leite. No caso da carne, essa antecipação provocou

um aumento de preços que só era esperado nos últimos meses do ano. Houve também casos de

quebra de safra como a cana-de-açúcar, milho, trigo e feijão. Vale observar que a quebra da

safra de cana-de-açúcar também afetou o preço do álcool combustível.

A alta da carne bovina provocou, adicionalmente, a elevação de seus substitutos, carne de frango

e de porco. A carne de frango foi também pressionada pelo aumento no preço do milho. Como

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resultado, os itens que mais contribuíram para a elevação da inflação de alimentos nos meses de

julho e agosto foram o feijão, o milho, o açúcar e derivados, o leite e derivados e as carnes em

geral. Vale observar que, não obstante os problemas climáticos, a safra de grãos em 2000 deverá

ser superior à verificada em 1999, registrando novo recorde de produção.

A expectativa é de que, até o fim do ano, os preços dos alimentos apresentem estabilidade, ou

até mesmo algum recuo. Esse cenário é reforçado pela reversão das condições climáticas

desfavoráveis. A antecipação do período de chuvas favoreceu as pastagens, com efeitos rápidos

sobre o preço da carne e substitutos e do leite. Note-se que o preço do leite começou a cair já

em agosto. Da mesma maneira, a regularização da oferta de carne deve ocorrer com maior

antecedência do que nos anos anteriores.

A reversão dos preços do feijão e do milho deverá ocorrer com maior lentidão. No caso do

feijão, a importação tem sido prejudicada pela menor oferta externa. Desse modo, a queda do

preço do produto só deverá ocorrer com maior intensidade a partir da colheita do final de ano.

As perspectivas para o preço do milho foram prejudicadas pela menor safra esperada dos Estados

Unidos.

Finalmente, a quebra da safra de cana-de-açúcar deverá continuar exercendo pressão altista

sobre a inflação até o fim do ano, visto que a nova safra somente chega ao mercado em maio de

2001. Note-se, contudo, que os efeitos do aumento do preço do álcool combustível foram

amenizados com a redução da mistura do produto na gasolina, de 24% para 20%, pelos leilões

oficiais do produto, pela venda de estoques da Brasil Álcool e pela maior fiscalização governamental

de práticas anticompetitivas nos postos de gasolina.