Download - 2012 psiq inf da teoria à prática
Dr. Cláudio CostaBelo Horizonte-MG
A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Infância: in+fans = condição daquele que não tem a fala = o infante
Correlatos: a Infantaria: os soldados que vão à pé e
à frente: apenas obedecem, são os primeiros a morrer, não podem reclamar.
O “infantil” da neurose: a incapacidade de se gerir, a não resolução de conflitos “infantis”, a submissão ao desejo do Outro.
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Origens:
Primeiro paradigma: criança como adulto em miniatura
Primeiro objeto: crianças atrasadas com déficits comportamentais
Primeiro objetivo: educabilidade
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Origens: Ramo da Educação: crianças ineducáveis,
cegas, surdas, débeis Ramo da Psiquiatria: a partir da
psicopatologia do adulto. Exemplo: “demência precocíssima” (1906)
A especialidade se constitui a partir de uma prática, não de uma elaboração teórica
“Mosaico conceitual(*)”: teorias genéticas, psicológicas, educacionais, psicanálise, psiquiatria, neurologia, neurociências.
(*) Ajuriaguerra, 86
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes - Origem
O espanhol Pedro Ponce de León (1520-1584) foi um monge beneditino que recebeu créditos como o primeiro professor para surdos. Ponce de León estabeleceu uma escola para surdos no Mosteiro de San Salvador em Oña Burgos.
Ramo da Educação: crianças ineducáveis, cegas, surdas, débeis
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Ramo da Educação: crianças ineducáveis, cegas, surdas, débeis
Jean Itard (1774-1838) – França, dirigiu a Instituição Imperial dos Surdos-MudosDesenvolveu a reeducação de umacriança selvagem encontrada em Aveyron. ITARD atribuiu o atraso do menino de Aveyron ao fato de ele ter-se desenvolvido sem contato com sociedade humana: ausência de linguagem.Publicou: De l'education d'un homme sauvage ou des premiers développements psychiques et moraux du jeune sauvage de l'Aveyron (1801), Rapports et memoires sur le sauvage de l'Aveyron (1807)
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Ramo da Educação: crianças ineducáveis, cegas, surdas, débeis
VICTOR, o Sauvage de l'Aveyron, foi encontrado num bosque nas proximidades de Aveyron em 1800. Teria sido abandonado para morrer na floresta. Philippe Pinel deu-lhe diagnóstico de ‘dano mental irreversível’, mas seu discípulo ITARD nomeou-o “Victor” e se propôs a ensiná-lo a falar, com a premissa de que fora a falta de estruturação da linguagem a causa de seu atraso: sem linguagem, Victor não teria memória nem noção da própria identidade.
“Oh, Dieu” foi a única frase que o menino conseguiu falar, o que frustrou muito o Dr. Itard e seus discípulos.
http://labirintosdoser.blogspot.com.br/2009/07/selvagemcivilizado-civilizadoselvagem.html
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Tailler: O garoto de Aveyron Gênero: Drama Ano:1969 Duração:84 minutos Origem: França
Direção:François Truffaut Roteiro:François Truffaut e Jean Gruault, baseado em livro de Jean
Elenco:Jean-Pierre Cargol (Victor); François Truffaut (Dr. Jean Itard); Françoise Seigner (Madame Guerin); Jean Dasté (Prof. Philippe Pinel)
Clique:
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Paradigmas psiquiátricos (até 1930): Doença mental como demência (Heller,
Bleuler, Sancte de Santis) Psicopatologia da infância como decalque
da clínica psiquiátrica do adulto Concepção médico-anatomista: doenças
do cérebro MOREL (1852): usa o termo Demência
Precoce para descrever uma criança que se afundou na idiotia
MOREAU DE TOURS (1888): Folie chez l´enfant: crianças que perdem o espírito e vêem sua inteligência enfraquecer...
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Desenvolvimento da Especialidade após 1930: Duas vertentes:
Concepção psicológica-funcionalista: estudo da gênese, desenvolvimento e função das atividades psicológicas. Organismo = um todo espírito-corpo, engajado na tarefa de adaptação ao meio ambiente
Concepção desenvolvimentista: saúde mental como destino = um plano traçado geneticamente, mais ou menos influenciado pelas condições do meio. Daí o conceito de falhas, déficits e incompetências
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
A contribuição da Psicanálise (após 1930): Freud: Teoria da causalidade psíquica:
toda manifestação psicopatológica é resultado de um conflito psíquico: caso pequeno Hans.
Contribuição dos pós-freudianos: Melanie Klein, Donald Winnicott, Françoise Dolto, Maud Mannonni.
A criança passa a ter uma história de vida e, portanto, singularidade.
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Tentativa de Definição:
A Psiquiatria da Infância e Adolescência é uma especialidade médica que se dedica ao estudo e tratamento dos transtornos mentais que acometem crianças e adolescentes.
Trata-se de uma prática social que está constantemente sob múltiplas interferências, uma vez que seu objeto (transtornos mentais) padece de questionamentos de toda ordem: cultural, ideológica, científica (como se define transtorno mental, qual sua etiologia, etc.).
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Kaplan & Saddock: Psiquiatria da Infância e Adolescência é
o ramo da Psiquiatria que se especializou em: Estudo, Diagnóstico, Tratamento E prevenção dos transtornos
psicopatológicos das crianças, dos adolescentes e de suas famílias.
A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
A Psiquiatria da Inf e Adolesc abrange a investigação clínica:
da fenomenologia, dos fatores biológicos, dos fatores psicossociais, dos fatores genéticos, dos fatores demográficos, dos fatores ambientais, da história e a resposta às intervenções nos transtornos
psiquiátricos da infância e da adolescência! (Kaplan &
Saddock).
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“Conforme o Children Act 1989 (Wallace, 1997) cerca de 20% das crianças necessitarão passar por serviços de Saúde Mental durante sua infância em função de problemas de desenvolvimento ou de saúde mental.”
DIRETRIZES PARA UM MODELO DE ASSISTÊNCIA INTEGRAL EMSAÚDE MENTAL NO BRASIL – ABP - 2006
http://www.abpbrasil.org.br/diretrizes_final.pdf
Há necessidade do Psiquiatra da Infância e Adolescência?
Qual psiquiatra formar?Como?
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Há necessidade do Psiquiatra da Infância e Adolescência?
Qual psiquiatra formar?Como?
Dr. Francisco Baptista Assumpção sobre as dificuldades na atenção psiquiátrica de crianças e adolescentes devidas ao baixo número de profissionais que atuam especificamente na área:
Isso acontece porque não há uma análise criteriosa da área de atuação nem formação específica para psiquiatria infantil. “Pela ABP, nós não temos nem 200 especialistas. Mesmo considerando o Brasil temos ao todo 300, é muito pouco”, disse o médico paulista.
Ele também falou sobre a escassez de pesquisas científicas em psiquiatria infantil. “Não é uma especialidade de ponta. Os recursos são poucos e não há investimentos na área. As universidades não se interessam”.
Notícias da ABP, 2.maio.2007 in: http://www.abpbrasil.org.br/medicos/noticias/exibNoticia/?not=419
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Questões sobre a Especialidade
A Psiquiatria da Infância e Adolescência, antes chamada apenas de Psiquiatria Infantil, herdou da Psiquiatria Geral (de adultos) o arcabouço conceitual básico: Objeto: a doença ou transtorno(?) mental Metodologias para diagnóstico: próprias?
vindas da psicologia? neurobiológicas? Metodologias para tratamento:
intervenções psicofarmacológicas e outras (não médicas?)
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+ Considerações sobre a Especialidade
“A criança não deve ser vista como adulto em miniatura” se tornou palavra de ordem para buscar outras referências e estabelecer-se um
novo paradigma.
Daí a necessidade de se estudar o
Desenvolvimento “normal”
(Principalmente o Desenvolvimento das
Capacidades Cognitivas, Motoras e Afetivas)
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O que se exige para a clínica psiquiátrica com crianças e
adolescentes
Aos conhecimentos tradicionais de Desenvolvimento, Psicopatologia, Nosologia e Psicofarmacologia,
acrescentem-se as transformações da assistência à saúde mental (Reforma Psiquiátrica, novos dispositivos assistencias, a interdisciplinariedade, etc.), apontando para práticas muito além das do hospital e do tradicional ambulatório, tais como: orientação familiar, psicoterapias, participação em equipes multi-profissionais, programas de consultoria escolar e hospitalar (interconsultas), programas de prevenção e orientação, etc.
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Um psiquiatra da infância e adolescência deve ser capaz de:
Diagnosticar os transtornos condutuais e psicopatológicos que acometem crianças e adolescentes;
Compreender os processos evolutivos da personalidade em formação (áreas: emocional, cognitiva, psicomotora, neurobiológica, linguagem, sociabilidade, etc.);
Indicar e executar práticas terapêuticas adequadas, quer por atuação psicoterápica e intervenção sócio-familiar, quer por adequada utilização de recursos farmacológicos;
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Um psiquiatra da infância e adolescência deve ser capaz de:
Privilegiar a escuta da criança, no sentido mais amplo do termo, a fim de que o atendimento possa se transformar em lugar de acolhimento e segurança para aqueles que “perderam a palavra”;
Dedicar-se a uma prática assistencial integral de tal forma que a clínica oriente as reflexões teóricas e por elas se deixe conduzir.
Trabalhar em equipe interdisciplinar, respeitando as diferenças e demarcando o próprio campo da especialidade.
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Duas questões:
Quais referências teóricas devem embasar a formação?
Três extremos: Biologicismo Psicologismo Sociologismo
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As questões da prática
a) A prática médica como expressão de
ação Política: conceito de cidadania e saúde (mental) como direito inalienável e prioritário (ECA)
b) Fundamentação nas teorias que sustentam a condução do tratamento, interdisciplinaridade, observação, pesquisa, farmacologia...
c) Atenção aos avanços das pesquisas genéticas, neuroimagem e outros recursos ‘científicos’
d) Ética: o cliente como Sujeito, portador de história pessoal
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A Clínica Psiquiátrica com Crianças e Adolescentes
Algumas particularidades: Cuidados com a farmacoterapia:
Diagnóstico correto Sintomas alvo Consentimento informado Fatores fisiológicos próprios da idade Relativização dos aspectos biológicos
em função das causalidades psicológicas, ambientais e relacionais, resistência por parte dos pais e/ou da criança/adolescente
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Campos de atuação e interseção da Psiquiatria com Crianças e Adolescentes
Campo Neurobiológico: Psicofarmacologia Desenvolvimento Neurofisiológico (Genética,
Endócrino, etc) Campo Psicológico:
Desenvolvimento sociopsicológico – cultura, ambiente, família
Psicanálise/Teorias Psicológicas/Psicoterapias Intervenção Familiar
Diagnóstico: Psiquiátrico (CID-10 e DSM-IV) Neuropsicológico (Funções Psíquicas) Psicológico: Psicopatologia Psicanalítico: estruturas psíquicas) – ou outros
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LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990.
Estatuto da Criança e do AdolescenteEstatuto da Criança e do Adolescente
Das Disposições PreliminaresDas Disposições Preliminares
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas assegurando-se-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o
desenvolvimento físico, desenvolvimento físico, mentalmental, moral, espiritual e , moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. social, em condições de liberdade e de dignidade.
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. comunitária.
Estatuto da criança e do adolescente:
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
a) primazia de receber proteção e socorro em a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; quaisquer circunstâncias;
b) precedência de atendimento nos serviços públicos b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; ou de relevância pública;
c) preferência na formulação e na execução das c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; políticas sociais públicas;
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude.juventude.
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1)Maior empecilho para uma boa prática psiquiátrica: a criança que mora dentro de todo psiquiatra.2)Mudar de objeto: da criança da qual se fala para a criança que fala.
Cláudio [email protected]
Dois lembretes:
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