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PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA
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MINISTRIODASRELAESEXTERIORES
Ministro de Estado Embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado
Secretrio-Geral Embaixador Eduardo dos Santos
FUNDAOALEXANDREDEGUSMO
Presidente Embaixador Jos Vicente de S Pimentel
Instituto de Pesquisa de
Relaes Internacionais
Diretor Embaixador Srgio Eduardo Moreira Lima
Centro de Histria e
Documentao Diplomtica
Diretor Embaixador Maurcio E. Cortes Costa
Conselho Editorial da
Fundao Alexandre de Gusmo
Presidente Embaixador Jos Vicente de S Pimentel
Membros Embaixador Ronaldo Mota Sardenberg
Embaixador Jorio Dauster Magalhes
Embaixador Gonalo de Barros Carvalho e Mello Mouro
Embaixador Jos Humberto de Brito Cruz
Ministro Lus Felipe Silvrio Fortuna
Professor Clodoaldo Bueno
Professor Francisco Fernando Monteoliva Doratioto
Professor Jos Flvio Sombra Saraiva
A Fundao Alexandre de Gusmo, instituda em 1971, uma fundaopblica vinculada ao Ministrio das Relaes Exteriores e tem a fnalidade
de levar sociedade civil informaes sobre a realidade internacional esobre aspectos da pauta diplomtica brasileira. Sua misso promovera sensibilizao da opinio pblica nacional para os temas de relaesinternacionais e para a poltica externa brasileira.
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Braslia, 2013
PAULO ESTIVALLET DE MESQUITA
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Direitos de publicao reservados
Fundao Alexandre de GusmoMinistrio das Relaes ExterioresEsplanada dos Ministrios, Bloco HAnexo II, Trreo70170-900 Braslia DFTelefones: (61) 2030-6033/6034Fax: (61) 2030-9125Site: www.funag.gov.brE-mail: [email protected]
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Programao Visual e Diagramao:
Grfca e Editora Ideal Ltda.
Impresso no Brasil 2014
M582 Mesquita, Paulo Estivallet de.
A Organizao Mundial do Comrcio / Paulo Estivallet de Mesquita. Braslia :
FUNAG, 2013.
105 p. - (Em poucas palavras)
ISBN 978-85-7631-472-1
1. Comrcio internacional. 2. Globalizao da economia. 3. Acordo Geral
sobre Tarifas e Comrcio (Gatt). 4. Organizao Mundial do Comrcio (OMC).I. Ttulo. II. Srie.
CDD 382
Bibliotecria responsvel: Ledir dos Santos Pereira, CRB-1/776.
Depsito Legal na Fundao Biblioteca Nacional conforme Lei n 10.994, de 14/12/2004.
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Paulo Estivallet de Mesquita
Embaixador, ingressou na carreira diplomtica em 1984 e
atualmente o Diretor do Departamento Econmico do Ministriodas Relaes Exteriores. Serviu em Roma/FAO, Santiago e naDelegao Permanente junto OMC em Genebra. Ps-Graduadoem Administrao pela cole Nationale dAdministration (Paris).Engenheiro Agrnomo pela Universidade Federal do Rio Grandedo Sul.
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I. Introduo ....................................................................................9
II. A teoria do comrcio internacional ............................................11
III. Os primrdios do comrcio mundial ..........................................17
3.1. A Revoluo Comercial e a primeira onda de globalizao ...17
3.2. A segunda onda de globalizao o Liberalismo .................20
3.3. A desglobalizao ..............................................................22
IV. O sistema de comrcio multilateral o GATT .............................25
4.1. As regras do GATT .................................................................27
4.2. As excees ..........................................................................32
4.3. O GATT como organizao internacional ...............................37
4.4. Os resultados das Rodadas do GATT .....................................39
4.5. Do GATT OMC: a Rodada Uruguai .......................................41
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V. A OMC .......................................................................................47
5.1. A OMC como organizao internacional ................................47
5.2. Os acordos tradicionais ........................................................49
5.3. Os novos acordos .................................................................64
5.4. Os novos temas ....................................................................73
5.5. Soluo de Controvrsias ......................................................80
5.6. Reviso de Polticas Comerciais ............................................83
VI. A OMC: um balano ....................................................................87
VII. Concluso: o futuro da OMC ......................................................95
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II
O comrcio internacional uma das reas em que mais
claramente sobressai a necessidade da cooperao entre os
pases. Ainda que aes unilaterais possam ser vantajosas
o que est longe de ser bvio quando se considera oconjunto dos interesses especficos em cada pas , a
experincia demonstra que essas vantagens podem ser
anuladas por medidas equivalentes adotadas pelos demais.
O equilbrio resultante inferior ao que pode ser obtido com
cooperao, ou seja, com a disposio para vincular-se a
regras mutuamente acordadas.A negociao dessas regras pode ser feita bilateralmente;
diferenas entre o que aplicado a diferentes pases,
no entanto, geram custos de administrao e perda de
eficincia. A melhor maneira de assegurar a uniformidade
das regras atravs de um sistema multilateral, do qual
participem, idealmente, todos os demais pases.
Ainda assim, a poltica comercial oferece instrumentos
para alterar a distribuio de recursos dentro de cada pas,
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o que gera resistncias perda de autonomia que decorreria
dos acordos comerciais. A poltica internacional de cadapas uma extenso da poltica domstica. As vantagens
decorrentes da proteo do mercado domstico so
concentradas, ao passo que os benefcios so distribudos
de forma difusa. Persiste, em muitos pases, a ideia de que
o mercado domstico um patrimnio dos produtores
como na stira de Bastiat sobre a petio dos fabricantesde velas ao Parlamento francs para solicitar a proteo do
Estado contra a concorrncia desleal de um rival estrangeiro,
o sol. Isso explica em parte a evoluo relativamente lenta
da regulamentao do comrcio internacional.
A criao da Organizao Mundial do Comrcio OMC,
em 1995, constitui um marco nesse processo. Apesar de
todas as vicissitudes por que tem passado a economiamundial e da persistncia de um considervel ceticismo em
relao s vantagens de um sistema liberal para o comrcio
internacional, a OMC consolidou-se como a administradora
do conjunto fundamental de regras para o comrcio
internacional: o sistema de comrcio multilateral.
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IIA
A ideia de que a distribuio das riquezas sobre aTerra desigual e que o comrcio uma maneira de teracesso a produtos escassos antiga. Segundo Plato,
seria impossvel fundar uma cidade num local onde nohouvesse necessidade de importar nada e, para importar,seria necessrio produzir no apenas aquilo de quenecessita, mas tambm aquilo que demandado por seusfornecedores.
A noo de que a especializao pode ser vantajosamesmo quando existe produo local, no entanto, surgeapenas com a publicao de A Riqueza das Naes, deAdam Smith, em 1776. Smith descreveu, pela primeira vez, anoo de vantagens comparativas: se um pas estrangeiropode-nos fornecer um produto a custo menor do que ns,melhor adquiri-lo com parte da produo de nossa prpriaindstria empregada de uma maneira na qual tenhamos
alguma vantagem. Smith chega a essa concluso comouma decorrncia lgica do princpio da diviso do trabalho,
ao observar que nenhuma famlia prudente produz aquilo
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que mais barato comprar (o alfaiate no tenta fabricar
seus prprios sapatos, mas os compra do sapateiro; osapateiro no tenta fabricar suas prprias roupas, mas as
compra do alfaiate). Adiantando-se s crticas baseadas
na diferenciao entre vantagens comparativas estticas
e dinmicas, Smith notava que se as vantagens de um
pas sobre o outro so naturais ou adquiridas no tem
importncia nesse contexto. Smith deduz que as restries importao so, no melhor dos casos, inteis: se o
produto domstico pode ser adquirido a custo to baixo
quanto o estrangeiro; a regulamentao evidentemente
intil; se no pode, deve ser, em geral, prejudicial.
O modelo clssico das vantagens comparativas descrito
por David Ricardo em 1817 vai alm do bom senso intuitivo
de Smith. Ricardo demonstrou que o que interessa no soos custos (ou vantagens comparativas) absolutos, e sim as
diferenas relativas. Se no pas A o preo de dois queijos
equivale a uma garrafa de vinho e, no pas B, a relao
de trs queijos para cada garrafa de vinho, o vinho
relativamente mais barato no primeiro pas. Vale a pena
para o pas A especializar-se na produo de vinho evend-lo no pas B, onde cada garrafa adicional pode ser
trocada por mais queijos. Inversamente, convm ao pas B
especializar-se na produo de queijos e obter o vinho
mais barato no pas A. Pouco importa que o pas A tenha
custos de produo absolutos mais baixos tanto para vinhos
como para queijos; vantajoso concentrar-se na produo
de vinho e importar queijos. A diferena de produtividadeentre os dois pases far com que A tenha renda mais alta
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Em resposta a um matemtico que o desafiou a indicar
uma proposio nas cincias sociais que fosse verdadeirasem ser trivial, Samuelson ofereceu a teoria das vantagens
comparativas: que ela logicamente verdadeira no
precisa ser explicado a um matemtico; seu carter
no trivial atestado pelos milhares de pessoas importantes
e inteligentes que nunca conseguiram entend-la por si
mesmos, ou acreditar nela depois de ela lhes ser explicada.A teoria das vantagens comparativas no pode ser
refutada formalmente. Os argumentos contrrios buscam,
de maneira geral, questionar sua aplicabilidade realidade,
buscando demonstrar que se trata de um modelo simplista
e que circunstncias especficas como rendimentos
crescentes, concorrncia imperfeita, diferenas de custos de
mo de obra ou fatores dinmicos tornam suas conclusesinvlidas. At agora, nenhuma das alternativas propostas
demonstrou maior capacidade explicativa ou de previso.
Uma proporo considervel dos economistas e
ainda maior dos empresrios, dos polticos e do pblico
aceita que a teoria pode explicar os padres de comrcio
(quem exporta o qu), mas questiona a ideia de que aespecializao beneficie a todos os envolvidos. Se o setor
primrio, por exemplo, tiver menor potencial de crescimento
relativo no longo prazo, pode ser desvantajoso favorecer a
especializao nesse setor. citada com frequncia, nesse
contexto, a lei de Kaldor, que estipula que o crescimento do
PIB tem uma correlao positiva com o crescimento do setor
industrial. Kaldor, no entanto, postula que essa correlao
advm de ganhos de produtividade em funo de economias
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de escala, o que dificilmente se coaduna com mercados
domsticos fechados.
O debate no facilitado pelo fato de que a evoluo
das vantagens comparativas de cada pas afetada ao longo
do tempo por um grande nmero de fatores progresso
tcnico, instituies, educao, acumulao de capital.
A concentrao da produo em setores considerados menos
nobres ou promissores atribuda operao das vantagenscomparativas pode, na verdade, ser causada pela falta de
investimento em educao ou infraestrutura. A direo da
causalidade pode ser difcil de determinar: um pas tem
renda baixa porque exporta produtos primrios, ou exporta
produtos primrios porque sua renda baixa?
O modelo ricardiano no prev que um pas crescer
mais, ou menos, se se especializar na produo dos bens
nos quais detenha vantagem comparativa; ele prev apenas
que seu nvel de produo ser maior do que se no houver
especializao.
A viso predominante nos organismos multilaterais (na
OMC, no Banco Mundial, na Organizao para Cooperao e
Desenvolvimento Econmico OCDE, no Fundo MonetrioInternacional FMI) de que existe uma correlao positiva
entre abertura comercial e taxa de crescimento econmico.
A orientao dessas organizaes, no entanto, nem sempre
completamente neutra. difcil fazer comparaes
estatisticamente significativas entre pases e entre diferentes
perodos de tempo. Alm disso, necessrio distinguir entre
o crescimento do comrcio internacional devido a fatores
como a reduo de custos de transporte e o crescimento
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devido liberalizao comercial. O efeito de demanda da
China nas ltimas duas dcadas, por exemplo, teve efeitossemelhantes sobre o comrcio de pases com grande
diversidade de orientaes de poltica comercial.
O fato de ningum ter conseguido desenvolver uma
explicao melhor nos ltimos dois sculos no significa
que ela no exista. Alm disso, a economia no uma
cincia exata: mesmo modelos slidos como a lei de ofertae procura so desmentidos em determinados casos. A teoria
das vantagens comparativas o equivalente a um bom
mapa: por melhor e mais preciso que ele seja, no pode, por
definio, ser um retrato idntico realidade. Serve como
guia geral, mas as pessoas de bom senso no se furtam a
alterar a rota em funo de caractersticas do terreno. Ainda
assim, cabe ter presente que o que passa por bom sensoso, muitas vezes, as preocupaes e interesses prticos de
determinados setores da sociedade.
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IIIO p
3.1. A R C p
gz
O incio da globalizao do comrcio, entendida como oestabelecimento de fluxos comerciais entre todas as regies
do mundo, remonta ao sculo XVI, com as navegaes
ibricas. Uma data marcante a da chegada dos primeiros
galees espanhis, com prata mexicana, em Manila, em
1571: pela primeira vez, todos os continentes estabeleceram
fluxos diretos entre si. O comrcio intraeuropeu e intra-
-asitico era muito maior do que o comrcio intercontinental
situao que, de resto, permanece vlida at hoje. Ainda
assim, o perodo posterior a 1500 viu o incio da criao de
uma economia verdadeiramente global.
A expanso do comrcio nesse perodo indissocivel do
poderio militar. Nas palavras de um dos Governadores-Gerais
da Companhia das ndias Ocidentais holandesa, no sepode fazer guerra sem comrcio, nem comrcio sem guerra.
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No existe lugar para a noo do comrcio como atividade
mutuamente benfica: o poder utilizado para obter ganhospor meio do saque e da extrao de rendas monopolistas. Nos
sculos XVI e XVII no existe um regime para o comrcio, no
sentido de um conjunto de regras, normas e procedimentos
que regularizam os comportamentos e controlam seus
efeitos. A vantagem comparativa determinante a violncia.
Em alguns momentos, verificou-se reduo na intensidadedos conflitos e a coexistncia de fluxos concorrentes de
comrcio, como a rota do Cabo, dominada pelos portugueses
no sculo XVI, e a rota do Mar Vermelho, pelos turcos. Um
arranjo baseado num impasse militar no , no entanto,
comparvel a um acordo.
Nesse perodo, que coincide com os primrdios doDireito Internacional Pblico, Hugo Grotius escreveu tanto
em defesa da liberdade dos mares (Mare Liberum) e, por
extenso, do direito de romper os monoplios ibricos,
como do apresamento de naus portuguesas e do confisco
de suas cargas (De Indis) e como corolrio, da imposio de
monoplios holandeses. A predominncia dos aspectos
utilitrios e subjetivos sobre a noo de direito fica clara
quando se v o empenho com que a Holanda buscou impor
seus prprios monoplios, chegando ao ponto de destruir
ou deslocar populaes inteiras. Em resposta s frequentes
invocaes pelos holandeses da doutrina de Grotius, George
Downing reclamou que com essa gente, mare liberum
nas costas inglesas, mas mare clausumna costa da fricae nas ndias Orientais.
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O primeiro tratado comercial significativo entre Estados
o de Methuen (1703), evocado tanto por Adam Smith comopor David Ricardo. Pelo tratado, a Inglaterra comprometia-
-se a dar preferncia de um tero nas tarifas aplicveis
aos vinhos portugueses em relao aos vinhos franceses,
em troca da eliminao da proibio importao de
manufaturas de l inglesa por Portugal. A Inglaterra abriu
mo de mercado na Frana e disps-se a pagar mais pelosvinhos portugueses, para melhorar sua balana comercial
com Portugal e obter acesso ao ouro do Brasil. um tratado
de clara inspirao mercantilista, baseado na confuso,
apontada por Adam Smith, entre numerrio e riqueza.
O Tratado era suficientemente apreciado na Inglaterra para
impedir a aprovao pelo Parlamento da clusula de nao
mais favorecida contida no Tratado de Utrecht com a Franade 1713.
Nos tratados comerciais de inspirao mercantilista,
as preocupaes principais eram o acesso aos mercados
coloniais (diretamente, como no Tratado de Utrecht entre
a Inglaterra e a Espanha, ou indiretamente, como no caso
de Methuen), a eliminao de proibies e o tratamentocomparativo em relao a outros pases (preferncias, da
perspectiva do beneficirio; discriminao, da perspectiva
dos demais). O nvel das tarifas aplicadas, bem como
sua liberalizao, recebia, de maneira geral, tratamento
secundrio.
A preocupao com a discriminao deu origem
proliferao, a partir do final do sculo XVII, de clusulas
de nao mais favorecida, ou NMF. A clusula NMF obriga os
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contratantes extenso recproca de quaisquer privilgios e
vantagens concedidos a terceiros. Quando essa extenso de van-tagens refere-se tanto ao passado como ao futuro, diz-
-se que a clusula NMF incondicional. Nos casos em que
a extenso de vantagens futuras condicionada a novas
concesses por parte do beneficirio, a clusula NMF dita
condicional.
Em tese, a universalizao de clusulas NMF em acordosbilaterais poderia levar a uma uniformizao das condies
aplicveis ao comrcio. Se os pases A e B concluem um
acordo, as mercadorias dos dois pases sero beneficiadas
por preferncias recprocas. A vantagem para cada um,
no entanto, consiste no acesso preferencial para suas
exportaes; a preferncia exclusiva concedida ao outro
pas gera uma perda, na medida em que leva a adquirirbem mais caros do que se houvesse maior concorrncia. Se
o pas A concluir posteriormente um acordo com o pas C, o
primeiro ser beneficiado por um mercado ampliado para
suas exportaes (B e C) e poder adquirir as mercadorias
mais baratas em B ou C. Nessas condies, B ter interesse
em tambm concluir um acordo com C, para compensar aperda do acesso preferencial ao mercado de A com o acesso
ao mercado de C e para ampliar suas fontes de suprimento.
3.2. A g gz L
A assinatura do Tratado de Comrcio Anglo-Francs
de 1860 (tambm conhecido como Cobden-Chevalier, do
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nome de seus dois principais propositores) teve o efeito
de propagar, por meio de clusula NMF, a liberalizao docomrcio na Europa. A Inglaterra havia adotado uma poltica
de livre-comrcio unilateral a partir da revogao das
Corn Laws, em 1846. O Parlamento francs era dominado
por interesses protecionistas, mas Napoleo III julgou que
um acordo comercial com a Inglaterra teria consequncias
polticas positivas, num momento em que a situao eratensa na Europa central. Pelo acordo, a Inglaterra reduziu o
nmero de produtos franceses sujeitos a tarifas a apenas 48
e reduziu a tarifa incidente sobre o vinho. A Frana aboliu
todas as proibies e comprometeu-se a no impor tarifa
superior a 30% (ou 25% depois de cinco anos de vigncia do
acordo). Na prtica, a maioria das tarifas situava-se na faixa
de 10 a 15 por cento.Os efeitos sistmicos do acordo foram muito mais
amplos do que sua importncia para os dois signatrios,
as duas maiores economias europeias poca. Enquanto a
Inglaterra manteve sua poltica de livre-comrcio em relao
a terceiros, a Frana reduziu as tarifas apenas para os
produtos ingleses. Para superar a desvantagem em relaoaos produtos ingleses no mercado francs, os demais pases
europeus apressaram-se a buscar acordos semelhantes com
a Frana, todos com a clusula NMF. Assim, a Frana concluiu
acordos com a Blgica em 1861, a Zollverein liderada pela
Prssia em 1862, a Itlia em 1863, a Sua em 1864, Noruega,
Espanha e Pases Baixos em 1865 e a ustria em 1866. Em
um perodo de 15 anos, 56 acordos foram assinados, com amaioria das tarifas entre 8 e 15 por cento, com um mximo
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de 25 por cento. O comrcio foi liberalizado a um ponto
que somente seria alcanado novamente no final da RodadaTquio do Acordo Geral de Tarifas e Comrcio GATT. O mpeto
liberalizante comeou a arrefecer no final da dcada de 1870
a Frana elevou substancialmente suas tarifas em 1892 ,
mas o comrcio manteve-se razoavelmente livre de barreiras
at a ecloso da I Guerra Mundial. Este teria sido um dos
fatores propulsores da segunda onda de globalizao.
3.3. A gz
O sistema europeu de comrcio da segunda metade do
sculo XIX terminou de forma abrupta em agosto de 1914,
com a ecloso da I Guerra Mundial. O regime de economiade guerra baseou-se em tarifas altas, proibies, quotas e
controles cambiais, tudo voltado para proteger as indstrias
consideradas vitais para a segurana nacional e para
preservar divisas.
Embora o terceiro dos Catorze Pontos de Woodrow Wilson
defendesse a remoo de todas as barreiras econmicase o estabelecimento da igualdade de condies comerciais
entre todas as naes, no havia disposio ou mesmo
condies para restaurar a poltica comercial do pr-Guerra.
O Pacto da Sociedade das Naes transformou a igualdade
de condies pleiteada por Wilson em tratamento
equitativo do comrcio de todos os Membros, levando em
conta as necessidades especiais das regies devastadas
pela Guerra. Na prtica, no havia disciplina internacional.
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No perodo imediatamente aps a I Guerra Mundial,
no houve nenhum esforo significativo para restaurar arede de acordos anteriores, ou para estabelecer um regime
de disciplinas multilaterais. Os prprios EUA elevaram
significativamente suas tarifas em 1922, com a Tarifa
Fordney-McCumber. Em 1927, um encontro de notveis
a Conferncia Econmica Mundial conclamou a aes
unilaterais, bilaterais ou coletivas para estabilizar e reduzir(standstill e rollback) barreiras comerciais e restaurar a
efetividade da clusula NMF. Essa recomendao acabaria
sendo endossada por vrios pases, o que encorajou a
Liga das Naes a examinar a possibilidade de promover
negociaes tarifrias multilaterais. A crise de 1929, no
entanto, sepultou essas esperanas.
O que ocorreu a partir de 1929 foi uma desagregaodo regime comercial mundial de propores inditas, tanto
pela rapidez como pela extenso. A deflao, o aumento
do desemprego e a crise financeira levaram rpida
propagao de medidas unilaterais para tentar insular o
mercado domstico da deflao. Como consequncia, em 1932
o comrcio mundial, em valor, havia cado 40% em relaoa 1929.
Houve, nesse perodo, uma multiplicao de ins-
trumentos de controle econmico. Ademais das medidas
tradicionais tarifas, quotas e proibies , multiplicaram-
-se os sistemas de licenciamento, os controles cambiais e os
acordos de comrcio administrado. As burocracias estatais
expandiram-se e aumentou significativamente o alcance e
o detalhamento da regulao do comrcio internacional
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IVO GATT
A experincia traumtica dos anos 1920 e 1930 marcou
profundamente a reconstruo da ordem internacional aps
a II Guerra Mundial. A viso predominante era de que ounilateralismo havia contribudo para agravar e prolongar
a Grande Depresso. Na esfera monetria e financeira, isso
resultou na criao do Fundo Monetrio Internacional e do
Banco Mundial para administrar taxas de cmbio e financiar
a reconstruo.
Na rea comercial, a resposta foi o esforo paraestabelecer uma Organizao Internacional do Comrcio
(OIC). J em 1943, o Departamento de Estado havia preparado
um documento sobre as bases para o comrcio no ps-
-Guerra. Em dezembro de 1945, quando os EUA j haviam
chegado a um acordo com o Reino Unido sobre os princpios
fundamentais, os EUA convidaram os aliados a negociar um
acordo multilateral para a reduo recproca de tarifas sobreo comrcio de bens. A proposta foi endossada pelo Conselho
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Econmico e Social da ONU (ECOSOC), que adotou resoluo
em fevereiro de 1946 convocando uma conferncia aConferncia das Naes Unidas sobre Comrcio e Emprego
para elaborar a carta constitutiva de uma Organizao
Internacional do Comrcio.
O projeto de Carta constitutiva da OIC ficou conhecido
como a Carta de Havana, por ter sido aprovado em
maro de 1948 na capital cubana. A OIC teria um escopoque iria alm da poltica comercial strictu sensu: havia
captulos sobre emprego, acordos de produtos de base,
prticas empresariais restritivas e investimentos. Submetido
vrias vezes aprovao do Congresso norte-americano, o
documento foi rejeitado. Em dezembro de 1950, o Presidente
Truman anunciou que no mais buscaria a aprovao do
Congresso para a OIC, acabando definitivamente comqualquer possibilidade de entrada em vigor da Carta.
Com isso, o principal instrumento de regulamentao do
comrcio internacional ficou sendo o GATT, um acordo
provisrio negociado em 1947, em Genebra, durante a
terceira das quatro reunies do Comit Preparatrio da OIC.
As clusulas gerais do GATT inspiraram-se em larga medidano captulo do projeto de Carta constitutiva da OIC que
tratava de regras comerciais, o qual, por sua vez, tinha sido
fortemente influenciado por acordos comerciais bilaterais,
principalmente aqueles negociados pelos EUA depois de 1934.
A inspirao do GATT era antiprotecionista, mas sem chegar
a ser livre-cambista. Os objetivos mais amplos, estipulados
no prembulo, so o aumento dos padres de vida, o pleno
emprego, o crescimento da renda e da demanda efetiva,
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A Organizao Mundial do Comrcio
a plena utilizao dos recursos e a expanso da produo
e do intercmbio de bens. A liberalizao do comrcio e ano discriminao so descritas como meios para alcanar
aqueles objetivos, e no como fins em si mesmas.
4.1. A g GATT
Os instrumentos de poltica comercial visam, de maneira
geral, a aumentar os preos e/ou reduzir a quantidade dos
produtos importados por meio de tarifas, quotas ou outros
tipos de barreiras importao ou, alternativamente, a
reduzir os preos e aumentar a oferta domstica por meio
de subsdios. Nos dois casos, as condies de concorrncia
so distorcidas de forma a aumentar a participao daproduo domstica no consumo: no primeiro, com preo de
equilbrio maior do que ocorreria se o mercado fosse aberto
s importaes; no segundo, o preo pode ser igual ao do
mercado internacional, ou mesmo menor, o que equivale
a um subsdio exportao. No limite, as importaes
so proibidas e os preos no mercado domstico socompletamente desvinculados do mercado internacional.
O GATT admite a proteo do mercado domstico.
A ideia, no entanto, de que essa proteo seja moderada,
previsvel e permita o funcionamento, ainda que de maneira
atenuada, do princpio das vantagens comparativas.
Isso se traduz em quatro regras gerais: (1) clusula
de nao mais favorecida, para equalizar as condies de
concorrncia entre os fornecedores externos; (2) tratamento
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nacional, para que, uma vez superados os obstculos na
fronteira, o produto importado no seja discriminadoem relao ao domstico; (3) proteo exclusivamente
por meio de tarifas e (4) transparncia, para assegurar
previsibilidade. Essas quatro regras gerais so detalhadas
ou complementadas por uma srie de artigos destinados a
impedir ou, pelo menos, disciplinar as medidas protecionistas
mais comuns no perodo entreguerras.
4.1.1. A clusula NMF
A clusula de nao mais favorecida constitui uma
das duas vertentes do princpio da no discriminao: os
produtos de qualquer origem devem estar sujeitos ao mesmo
tratamento, na fronteira do pas importador, em relao
ao pagamento de tarifas e taxas e a outras formalidades.
So admitidas algumas excees, em especial para unies
aduaneiras e acordos de livre-comrcio. Em princpio,
possvel burlar a clusula NMF por meio de subdivises
tarifrias como a tarifa alem de 1902, que tinha umaposio para gado malhado ou pardo, criado a pelo menos
300 metros acima do nvel do mar e, durante pelo menos um
ms por ano, a mais de 800 metros acima do nvel do
mar , por tarifas sazonais que afetam distintamente os
Hemisfrios Norte e Sul, devido defasagem das colheitas,
por restries aplicveis a portos de entrada, etc. Naprtica, h menos interesse em beneficiar uma mercadoria
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importada em detrimento de outra do que em beneficiar o
produto domstico em detrimento do importado.
4.1.2. O tratamento nacional
Uma vez cumpridas as exigncias e pagos os tributos
devidos na importao, as mercadorias importadas nopodem receber tratamento menos favorvel do que as
mercadorias domsticas em relao a tributos, regulamentos
e normas tcnicas ou requisitos de comercializao. Essa
igualdade a segunda vertente da no discriminao
denominada de tratamento nacional.
O primeiro componente da igualdade que a cobrana
dos impostos internos como o ICMS e o IPI, no caso
brasileiro no exceda o montante cobrado dos produtos
domsticos. Essa exigncia necessria para preservar a
regra geral de proteo por meio de tarifas: se fosse possvel
elevar de forma diferenciada os impostos internos apenas
para os produtos importados, a consolidao de tarifas
como limite mximo de proteo perderia sentido. Essaigualdade aplica-se no apenas a produtos idnticos, mas
tambm a similares ou concorrentes, como diferentes tipos
de destilados. Os tributos internos aplicveis cachaa, por
exemplo, devem ser comparveis aos aplicveis vodca
importada.
O tratamento nacional abrange todas as exigncias
aplicveis venda de um bem, inclusive regulamentos
tcnicos, etiquetagem, crdito, transporte, distribuio,
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utilizao. A lista de medidas vedadas longa e crescente,
por se tratar de uma rea que interfere com polticasdomsticas e, por isto mesmo, se presta alegao de que
o objetivo no comercial:
restries a produtos nocivos sade importados,
como cigarros, mais rigorosas do que para os produtos
locais;
avaliao de conformidade mais rigorosa por
exemplo, testar uma proporo maior dos produtos
importados do que dos produtos domsticos;
limites publicidade;
diferentes condies de crdito (prazos, taxas);
condies diferenciadas de venda, como restries a
quantidades, tipo de loja, promoes.
Pela regra do tratamento nacional, no possvel impor
propores mnimas em quantidade, volume ou valor
de partes domsticas na montagem de produtos finais ou,
no comrcio domstico, condicionar a venda de produtos
importados venda de determinada quantidade de produtos
domsticos. A exigncia de contedo local equivalente tantoa uma quota uma restrio da quantidade importada como
uma proporo da quantidade do produto domstico
como a uma taxa, na medida em que o importador obrigado a
adquirir o produto domstico mais caro para ter o direito
importao. Pela mesma lgica, tambm no possvel
exigir a exportao de algum produto como condio parapermitir a importao.
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seja determinado de forma arbitrria pela aduana. Por isso,
os procedimentos para classificao e determinao devalor das mercadorias importadas devem igualmente ser
publicados e administrados de forma imparcial.
4.2. A x
O GATT contm vrias excees pautadas pelo realismo em especial, pela realidade da poltica norte-americana dadcada de 1940. Em 1947, um senador norte-americanoprops suspender as negociaes em Genebra at quea Comisso de Comrcio Internacional (USITC) tivesseanalisado o impacto que tarifas mais baixas teriam sobre
a economia norte-americana. O Departamento de Estadonegociou com o Senado a rejeio da proposta, em troca deuma vlvula de escape uma salvaguarda que permitiriaelevar tarifas se, por circunstncias imprevistas, o aumentodas importaes de um produto causasse dano indstriadomstica. Essa clusula de salvaguarda foi incorporadaipsis literis no GATT. O artigo que estabelece a proibio
geral de restries quantitativas contm uma exceo feitasob medida para atender os requisitos da legislao agrcolanorte-americana. Com base no Agricultural Adjustment
Act de 1933, os produtores norte-americanos de lavourasbsicas (basic crops) recebiam, em troca da participaoem programas de controle de oferta, preos de sustentaorelacionados aos preos vigentes no perodo anterior I Guerra Mundial superiores, em decorrncia da deflao
do ps-Guerra, aos preos mundiais.
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emergncia nas relaes internacionais. Ela foi invocada
algumas vezes ao longo da histria. Em 1982, a ComunidadeEconmica Europeia CEE, a Austrlia e o Canad
suspenderam as importaes provenientes da Argentina
em funo do conflito das Malvinas. Os EUA aplicaram
um embargo comercial Nicargua em 1985. A CEE fez a
mesma coisa com a Iugoslvia em 1991. A Sucia buscou
utilizar a mesma clusula, nos anos 70, para a proteo desua indstria de calados, com o argumento de que seria
necessrio manter capacidade autctone de fabricao
para assegurar o fornecimento a seu exrcito na hiptese
de conflito militar e de bloqueio s importaes. A Sucia
acabou retirando, no entanto, as medidas antes que elas
fossem examinadas por um painel.
A regra de que a proteo deve-se dar apenas por meiode tarifas e de que no deve haver proibies pode
conflitar com uma grande diversidade de objetivos no
comerciais. Nenhum pas obrigado a admitir a importao
de bens considerados lesivos moral ou sade como
entorpecentes, por exemplo. razovel impor, em certos
casos, proibies ao comrcio; em outros, exignciasqualitativas, como a conformidade com padres sanitrios ou
normas tcnicas. Para lidar com essas questes, o GATT-47
tem um artigo de excees gerais. Ele permite, entre
outras hipteses, a imposio de medidas necessrias
proteo da moral pblica, da vida humana, animal ou
vegetal, proteo de tesouros histricos e artsticos e
conservao do meio ambiente. A condio bsica que asmedidas no sejam aplicadas de forma discriminatria nem
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constituam uma restrio disfarada ao comrcio. No se
pode alegar, por conseguinte, que os cigarros estrangeirosso prejudiciais sade: para restringir a importao,
necessrio que medidas equivalentes sejam aplicadas aos
cigarros fabricados no pas. A noo de restrio disfarada
ao comrcio passa, muitas vezes, por uma avaliao quanto
possibilidade de o objetivo ser alcanado por meio de uma
medida alternativa, menos restritiva.Com o passar do tempo, tendncia regulamentao
crescente dos bens acabou levando multiplicao das
situaes de conflito entre os objetivos descritos no Artigo XX
e a liberdade de comrcio. Isto acabou estimulando a
elaborao de disciplinas mais extensas e detalhadas na
OMC, em particular no que se refere a normas e regulamentos
tcnicos.
Alm das excees previstas no GATT, outras foram
agregadas com o tempo, em particular no que se refere
agricultura e aos produtos txteis.
O GATT permitia quotas para produtos agrcolas, desde
que vinculadas a programas de limitao da produo. As
primeiras rodadas de negociaes comerciais realizadaspouco contriburam para a liberalizao do comrcio
agrcola. Como as principais distores eram no tarifrias, a
consolidao e reduo de tarifas agrcolas, quando ocorria,
tinha pouco efeito concreto. Ainda assim, a concesso
de uma quota com tarifa reduzida para manteiga pelos
EUA, na Rodada de Annecy, acabaria por ser considerada
excessiva, levando o Secretrio de Agricultura a impor, por
obrigao legal, uma proibio importao de manteiga
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o que redundaria no primeiro caso de autorizao de
suspenso de concesses por uma parte contratante(no caso, a Holanda) a outra por violao do GATT.
Em 1955, o Japo ingressou no GATT e conseguiu resguardar
suas quotas de importao no seu Protocolo de Acesso. No
mesmo ano, os EUA obtiveram um waiver(derrogao das
regras) para legislao que obrigava a imposio de restries
s importaes de alguns produtos agrcolas, mesmo emviolao s obrigaes internacionais dos EUA. Em 1956,
j havia indicaes de que os seis pases que negociavam
a criao da Comunidade Econmica Europeia pretendiam
estabelecer uma poltica agrcola protecionista e voltada
para a autossuficincia. Assim, ao final da primeira dcada
de vigncia do GATT, as disciplinas aplicveis ao comrcio de
produtos agrcolas, que nunca haviam sido muito fortes,encontravam-se ainda mais debilitadas, a ponto de gerar a
impresso de que a agricultura estava excluda do GATT.
O setor txtil tem sido, desde a Revoluo Industrial,
um dos mais acessveis para pases que comeam a se
industrializar. Com isso, h uma sucesso de concorrentes,
o que tende a gerar reaes protecionistas nos pasescom indstrias j estabelecidas. Os EUA, ainda nos anos 30,
impuseram ao Japo acordos de restrio voluntria
de exportaes (VERs voluntary export restraints).
Nos anos 50, Japo, Hong Kong, China, ndia e Paquisto
foram obrigados a restringir suas exportaes para os
EUA. Em 1961, os EUA impuseram um Arranjo de Curto
Prazo, sucedido no ano seguinte por um Arranjo de
Longo Prazo, para regular os volumes e o crescimento
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das exportaes de tecidos de algodo daqueles pases. Aos
poucos, mais produtos e pases foram sendo adicionados.A partir de 1974, o comrcio de txteis e vesturio passou a
ser regido pelo Acordo Multifibras (AMF). Foram estabelecidas
quotas que restringiam o acesso ao mercado dos pases que
enfrentavam dificuldades em funo do rpido crescimento
das importaes de txteis. O Acordo Multifibras conflitava
frontalmente com a regra de eliminao de restriesquantitativas e com a clusula de nao mais favorecida,
j que cada pas fornecedor negociava quotas individuais.
Como no caso da agricultura, os txteis nunca foram
formalmente excludos do GATT, mas um conjunto de regras
especficas tornavam as disciplinas do GATT inoperantes
nesses setores.
4.3. O GATT gz
O acordo do GATT entrou em vigor em 1de janeiro de
1948, com 23 partes contratantes entre as quais o Brasil ,
por meio de um Protocolo de Aplicao Provisria, queestipulava que a Parte II do GATT que abrangia, entre outras
questes, tratamento nacional e direitos antidumping seria
aplicada na mxima extenso compatvel com a legislao
existente. Quanto a OIC entrasse em vigor, a Parte II seria
substituda pelos dispositivos correspondentes da Carta de
Havana.
Quando os EUA anunciaram que no submeteriam a
Carta de Havana ao Congresso, em 1950, os signatrios
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do GATT denominados de partes contratantes ficaram
com um acordo provisrio, mas sem uma instituio paraadministr-lo. Por uma feliz coincidncia, tambm havia
um secretariado provisrio procura de uma organizao.
A Conferncia da ONU sobre Comrcio e Emprego, que lanou
as negociaes da Carta de Havana, havia estabelecido uma
comisso provisria para a Organizao Internacional do
Comrcio, a ICITO, que passou a funcionar, como Secretariadodo GATT, at a criao da OMC.
O Protocolo de Aplicao Provisrio era conhecido como
a clusula do vov (grandfather clause). Com base nessa
clusula, o Brasil manteve em vigor, durante vrios anos,
impostos internos que discriminavam contra o produto
importado, com base em uma lei de 1945. Os EUA a utilizaram
para dispensar o teste de dano para a imposio de direitoscompensatrios e antidumping contra bens importados,
com base em uma lei do mesmo ano.
Em que pesem essas deficincias originais, o GATT
gradualmente consolidou-se como uma organizao inter-
nacional de facto. Ademais das rodadas de negociaes,
as partes contratantes comearam a reunir-se para discutira implementao do acordo. Estabeleceu-se, em 1960, um
Conselho de Representantes que se reunia de forma regular
e tomava decises, por consenso. Para indicar decises
coletivas o equivalente a resolues do GATT falava-se
em PARTES CONTRATANTES, em letras maisculas. Com o
tempo, os mecanismos institucionais foram expandidos e
consolidados. O cargo de Secretrio-Executivo da ICITO foi
transformado em Diretor-Geral do GATT em 1965, em um
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reconhecimento implcito de que o acordo tambm era uma
organizao. Nos anos 60 foram criados comits temticosespecficos como o Comit de Comrcio e Desenvolvimento,
estabelecido em 1965 em resposta realizao, no ano
anterior, da primeira sesso da Conferncia das Naes
Unidas sobre Comrcio e Desenvolvimento (Unctad). No
mesmo ano foi incorporada a Parte IV ao GATT, que estipula,
entre outros objetivos e compromissos, que as partescontratantes desenvolvidas deveriam priorizar a reduo de
barreiras comerciais s exportaes das partes contratantes
em desenvolvimento, sem esperar reciprocidade total por
isso. A linguagem , no entanto, de carter exortatrio, ou
seja, no estabelece obrigaes comparveis, do ponto de
vista jurdico, s do texto original do GATT.
4.4. O R GATT
Entre 1947 e 1961 foram realizadas cinco rodadas de
negociaes para reduzir tarifas (denominadas de Genebra,
Annecy, Torquay, Genebra e Dillon). As negociaes eramfeitas por listas de produtos, com pedidos e ofertas de
cada pas. Como havia a expectativa de reciprocidade,
as negociaes privilegiavam os principais fornecedores.
No faria sentido oferecer uma vantagem a um pequeno
exportador, que teria pouco a oferecer em troca, e estender
em seguida a concesso tarifria aos grandes fornecedores
pela clusula de nao mais favorecida. Esse mecanismoconcentrava a negociao entre os maiores pases. Sem
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moeda de troca, os pequenos no tinham como obter
abertura para seus produtos, mas em compensao tambmno eram obrigados a fazer concesses. Acabavam, assim,pegando carona (free riding) nas concesses negociadaspelos maiores. Mesmo para os grandes, no entanto, omtodo era ineficiente. Com isso, com exceo da rodadaoriginal, em que os cortes tarifrios foram da ordem de 20%,nas trs rodadas seguintes o corte mdio nas tarifas foi deapenas 2,3%, e de 8% na Rodada Dillon.
Na Rodada Kennedy (1964-1967), o mtodo tradicionalde pedidos e ofertas foi abandonado em favor de umameta de reduo linear de tarifas para produtos industriais(50%). A meta foi alcanada em muitos setores, mas noem reas consideradas sensveis como txteis, calados,
produtos qumicos e ao. Foi aprovado tambm o CdigoAntidumping, o primeiro acordo adicional sobre disciplinasdo GATT.
A Rodada Tquio (1973-1979) introduziu a frmulasua para reduo de tarifas, uma construo matemticaque (1) estabelece um teto mximo para as novas tarifas e(2) efetua cortes proporcionalmente maiores nas tarifas
iniciais mais elevadas. Em funo deste efeito, umafrmula de harmonizao, ou seja, que reduz a dispersodas tarifas iniciais. O resultado final foi uma reduo mdiade um tero nas tarifas dos pases industrializados. Aofinal da Rodada, a tarifa mdia para bens industriais era deapenas 4,7% naqueles pases. Novamente, no entanto, houveconsidervel flexibilidade para excluir setores sensveis.
Na Rodada Tquio houve o primeiro esforo significativo
para enfrentar as barreiras no tarifrias. O resultado foram
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acordos sobre subsdios e medidas compensatrias, barreiras
tcnicas, licenciamento de importaes, valorao aduaneira,compras governamentais e um novo acordo antidumping.Foram tambm concludos acordos simplificados deacompanhamento de mercado para aeronaves civis,carne bovina e produtos lcteos. Esses acordos eramplurilaterais, ou seja, voluntrios, e valiam apenas paraas partes contratantes que os subscreviam. Eram chamados,informalmente, de cdigos. A maioria desses cdigosforam transformados em acordos multilaterais na RodadaUruguai. Os arranjos sobre carne bovina e produtos lcteosforam encerrados. Apenas os acordos sobre comprasgovernamentais e sobre aeronaves civis foram mantidoscomo acordos plurilaterais na OMC.
4.5. D GATT OMC: R Ug
O GATT teve um sucesso inegvel, tanto em termos deliberalizao comercial como de criao de um sistemaefetivamente multilateral. O nmero de partes contratantes
passou de 23 em 1947 para 50 no final da Rodada Kennedy,vinte anos mais tarde, e dobrou novamente na dcadaseguinte. As redues tarifrias ajudaram a manter taxaselevadas de crescimento do comrcio internacional emtorno de 8%, em mdia, nas dcadas de 1950 e 1960.O comrcio internacional de manufaturas, como proporoda produo mundial, triplicou entre 1945 e 2000.
O GATT repousava, no entanto, sobre bases precrias:
tratava-se de um acordo provisrio, que nunca foi ratificado
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pelo Congresso norte-americano. O bom desempenho do GATT
deveu muito supremacia econmica e disposio dos EUApara liderar a liberalizao comercial. Sem competidores,
os EUA podiam defender uma clusula de nao mais
favorecida incondicional como entronizada no artigo I do
GATT. A preponderncia norte-americana e sua disposio
para acomodar os interesses de seus aliados europeus
acabou resultando, no entanto, em seletividade contrria aosinteresses dos pases em desenvolvimento: setores como
txteis e agricultura foram virtualmente excludos do GATT.
A impossibilidade de obterem a liberalizao nos mercados
de seu interesse e o pessimismo em relao contribuio do
comrcio exterior para o desenvolvimento levaram os pases
em desenvolvimento a concentrarem esforos, primeiro,
na reforma das relaes econmicas internacionais e, emseguida, na obteno de tratamento especial e diferenciado,
que consistia, na maioria das vezes, em isenes totais
ou parciais em relao s regras. Com essa margem de
manobra (policy space), muitos pases em desenvolvimento
(PEDs) puderam industrializar-se, explorando at o limite
as polticas de substituies de importaes. No fundo,
era um sistema de duas velocidades, em que os pases
desenvolvidos tinham mais obrigaes, mas tambm mais
benefcios, do que os pases em desenvolvimento.
Em meados dos anos 80, comeou a ficar claro que o
GATT seja como arranjo institucional, seja como conjunto de
regras no era mais adequado ou suficiente para regular o
comrcio multilateral. O sucesso das primeiras dcadas emque o crescimento do comrcio internacional ultrapassou
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de longe o crescimento do produto bruto mundial deu
lugar a tenses crescentes, com a multiplicao derestries cinzentas (i.e., no expressamente proibidas,
mas tampouco previstas no GATT), aumento no nmero de
controvrsias nem sempre resolvidas, devido natureza
no compulsria dos mecanismos de resoluo e crticas,
de diversas orientaes, aos desequilbrios do sistema.
Algumas dessas tenses refletiam o prprio sucesso do GATT:com a reduo de tarifas, os pases comearam a recorrer
a outras medidas, no tarifrias, para se protegerem da
concorrncia externa. As mudanas estruturais na economia
mundial tambm desempenharam um papel. A partir do
incio dos anos 70 os EUA comearam a apresentar dficits
comerciais e, a partir de 1980, dficits em conta corrente.
O aumento das exportaes de produtos industriais por partedo Japo e de pases em desenvolvimento asiticos e latino-
-americanos gerou modificaes importantes nos padres
de produo e comrcio. Com isso, aumentou a presso
dos EUA por reciprocidade, que se dirigiu prioritariamente
para os setores mais competitivos da economia norte-
-americana: servios e alta tecnologia neste caso, vinculada
a demandas crescentes por proteo da propriedade
intelectual. O crescimento da produo agrcola europeia
tambm produziu, no incio dos anos 80, um acirramento
da concorrncia: o custo dos programas de apoio nos
EUA foi multiplicado por seis entre 1982 e 1986, atingindo
US$ 26 bilhes; o gasto com os principais programas da
Poltica Agrcola Comum (PAC) dobrou entre 1981 e 1986,de 11 para 22 bilhes de Unidades Monetrias Europeias
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(ECUs). Isto levou os EUA a reconsiderarem as vantagens
do policy spacepara concesso de subsdios agrcolas queos EUA haviam imposto a seus scios no GATT atravs do
waiveragrcola de 1955.
Por sua vez, os pases em desenvolvimento ressentiam-
-se da multiplicao de restries a suas exportaes: acordos
voluntrios de restrio (VRAs), proliferao de medidas
antidumping e de direitos compensatrios, sucessivasprorrogaes e extenses das quotas sobre produtos txteis,
perda de mercados de exportao devido s exportaes
subsidiadas de produtos agrcolas pelos EUA e pela
Comunidade Europeia (CE). As aspiraes de reforma das
relaes econmicas internacionais tambm se frustraram
aps um perodo inicial de realizaes com a criao do G-77
e da Unctad, e com a adoo na II Conferncia, em 1968, doSistema Geral de Preferncias, primeira medida concreta de
flexibilizao da clusula NMF em favor dos PEDs.
A insatisfao generalizada com o status quo, somada
crescente disposio para utilizar medidas unilaterais
(como a Seo 301 da Lei de Comrcio dos EUA) para forar
a abertura de mercados e mesmo mudanas legislativas emoutros pases, resultaria no lanamento de mais uma rodada
de negociaes comerciais em 1986, em Punta del Este. Alm
da pauta tradicional de liberalizao do comrcio de bens,
a Rodada Uruguai trataria tambm do estabelecimento de
regras sobre propriedade intelectual e comrcio de servios.
Em contrapartida ao atendimento dessa demanda dos
pases desenvolvidos, a Rodada deveria tambm tratar da
incorporao (ou reincorporao) do comrcio de txteis e
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de produtos agrcolas ao sistema multilateral e de regulao
das medidas de salvaguarda. Alm disso, seria feito umreexame do funcionamento do sistema do GATT, inclusive
em relao aos aspectos institucionais e ao mecanismo de
soluo de disputas.
O objetivo era concluir as negociaes em quatro anos,
expectativa que se revelou excessivamente otimista. Em
1988, em Montreal, e em Bruxelas, em 1990, as confernciasministeriais terminaram sem acordo em relao s
negociaes agrcolas. Alguns avanos provisrios foram,
no entanto, obtidos, na forma de colheita antecipada
dos resultados da Rodada em particular, modificaes no
sistema de soluo de controvrsias e o estabelecimento
do mecanismo de reviso de polticas comerciais. No final
de 1992, os EUA e a Unio Europeia chegaram a um acordo(conhecido como acordo de Blair House) que serviria de
base para o resultado das negociaes agrcolas. Em 1993,
as demais questes pendentes foram sendo resolvidas e,
no final do ano, foram apresentadas como um pacote
final, na forma do Projeto Dunkel, apresentado pelo ento
Diretor-Geral do GATT. Assim, depois de quase oito anos denegociaes, muitas idas e vindas e vrios desencontros,
o acordo que concluiu a Rodada Uruguai e estabeleceu a
OMC foi assinado em Marraqueche, em abril de 1994. A OMC
comeou a funcionar oficialmente em 1de janeiro de 1995.
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VA OMC
Os resultados da Rodada Uruguai foram amplos,profundos e, em boa medida, revolucionrios. O sistemado GATT baseava-se em um acordo de statusinferior a um
tratado internacional (em virtude do Protocolo de AplicaoProvisria), limitado ao comrcio de bens e mesmo nessecaso, com setores excludos , com um mecanismo de soluode controvrsias que dependia do consentimento da partereclamada e com um arranjo institucional precrio. O acordode Marraqueche, que estabeleceu a OMC, transformou osistema de comrcio multilateral de maneira radical.
5.1. A OMC gz
A criao da Organizao Mundial do Comrcio (OMC)deu, finalmente, base jurdica slida para o sistema de
comrcio multilateral. A extino das derrogaes histricas(grandfather clause, waivers agrcolas), a obrigatoriedade
de subscrio de todos os acordos por todos os Membros,
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a instituio de um mecanismo compulsrio de soluo
de controvrsias constituem um conjunto de mudanas degrande alcance, que transformaram a face do sistemade comrcio multilateral.
Como organizao internacional, a OMC tem personalidadejurdica prpria, distinta da de seus Membros. A OMC foiestabelecida por um tratado que define seus objetivos,
funes, estrutura e mtodos para tomada de decises. Osacordos temticos aprovados na Rodada Uruguai constituemparte integrante do acordo constitutivo da OMC.
Os objetivos podem ser resumidos na inteno dedesenvolver um sistema comercial multilateral integrado,mais vivel e durvel, baseado no GATT, nos resultadosdas rodadas de liberalizao comercial anteriores e nos
resultados da Rodada Uruguai.As funesabrangem a administrao dos acordos e dos
mecanismos de soluo de controvrsias e de reviso depolticas comerciais. Alm disso, a Organizao serve comofrum de negociaes comerciais multilaterais.
A estrutura da OMC tem, no pice, a Conferncia
Ministerial, que se rene a cada dois anos. No dia a dia,o rgo decisrio mximo o Conselho Geral, integradopelos Representantes Permanentes de todos os Membros.O Conselho Geral tambm se rene como rgo de Soluode Controvrsias e como rgo de Reviso de PolticasComerciais. Abaixo do Conselho Geral esto os Conselhosde Comrcio de Bens, Comrcio de Servios e TRIPS. Abaixo
destes, por sua vez, h cerca de quatro dezenas de Comits,Subcomits e Grupos de Trabalho, que administram acordosespecficos ou mesmo aspectos distintos de um mesmo
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acordo. Essa estrutura servida pelo Secretariado, dirigido
por um Diretor-Geral.
A OMC manteve a prtica de tomada de decisespor consenso que prevalecia no GATT. O acordo prev apossibilidade de decises por votao; para emendas, necessrio o voto de 2/3 dos Membros, como no GATT. possvel tambm adotar interpretaes dos acordos, com
um qurum mais elevado (3/4 dos Membros). A clusula denao mais favorecida considerada ptrea: somente podeser modificada por unanimidade. Na prtica, a possibilidadede votao remota.
5.2. O
5.2.1. O GATT 1994
Ao final da Rodada Uruguai, foi adotada uma srie deacordos (entendimentos e decises) que interpretame, em certos casos, modificam substancialmente artigosespecficos do GATT. Esses acordos tratam de taxas deimportao, empresas estatais, restries comerciaispor problemas com o balano de pagamentos, acordosregionais de comrcio, derrogao de obrigaes (waivers)e renegociao de tarifas consolidadas. O conjunto dessesacordos, juntamente com as decises tomadas pelas PARTESCONTRATANTES do GATT ao longo do tempo, os protocolos
de acesso e os protocolos referentes s listas de tarifas decada membro passaram a constituir, juntamente com otexto original do GATT (o GATT 1947), um novo documento
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de base o GATT 1994. O GATT 1994 , portanto, o GATT
1947, ampliado por um conjunto de acordos especficos esubstancialmente melhorado pela revogao do Protocolo deAplicao Provisria. Do ponto de vista formal, no entanto,o GATT 1947 foi extinto.
5.2.2. Os acordos sobre bens
Alm do GATT 1994, diversos outros acordos regu-lamentam em detalhe procedimentos especficos depoltica comercial. O objetivo mais amplo disciplinar asmedidas que podem ser utilizadas como barreiras notarifrias ao comrcio. Os acordos que elaboram e refinam
o GATT tratam de barreiras tcnicas (TBT), medidas deinvestimento relacionadas ao comrcio (TRIMS), subsdiose direitos compensatrios, antidumping, regras de origem,licenciamento de importaes, salvaguardas, inspeo pr--embarque e compras governamentais. Alguns deles haviamsido objeto de acordos plurilaterais na Rodada Tquio. NaRodada Uruguai, todos tornaram-se multilaterais, ou seja,
obrigatrios para todos os Membros da OMC. A nica exceo o Acordo sobre Compras Governamentais.
5.2.2.1. Acordo sobre Barreiras Tcnicas
ao Comrcio (TBT)
Os produtos modernos esto sujeitos a nmero crescente
de normas (em princpio, voluntrias) e regulamentos
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(obrigatrios) que especificam caractersticas (e.g., funes,
dimenses, formas, materiais), requisitos de segurana(como resistncia ao fogo, ausncia de substncias
nocivas), compatibilidade com outros produtos (e.g., para
evitar interferncia de equipamentos de radiofrequncia),
cores, smbolos descritivos. A multiplicidade de padres
em diferentes mercados como os sistemas de cores para
televiso analgica ou para a televiso digital elevam oscustos do comrcio e podem, no limite, inviabiliz-lo. Na
maioria dos casos, esses requisitos tm justificativa tcnica;
muitas vezes, no entanto, so feitos sob medida para
beneficiar o produto domstico.
O GATT 1947 continha apenas referncias genricas a
regulamentos e normas tcnicas, em particular no Artigo III,
que veda a imposio de requisitos distintos produtosimportados e domsticos, e no Artigo XX, que trata de
medidas para preservar a sade humana, animal e vegetal.
A multiplicao das barreiras tcnicas acabaria levando,
na Rodada Tquio, negociao de um acordo plurilateral,
que foi expandido, melhorado e transformado em acordo
multilateral na Rodada Uruguai.O Acordo TBT busca assegurar que normas e regulamentos
tcnicos, assim como procedimentos de certificao e
avaliao de conformidade (os mtodos para determinar
que os produtos atendem s normas e regulamentos)
no criem obstculos desnecessrios ao comrcio como,
por exemplo, por meio de testes mais rigorosos para os
produtos importados. Para tanto, estabelece a obrigao
de no discriminao (NMF e tratamento nacional). Alm
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disso, determina que os regulamentos tcnicos no devem
ter por objetivo ou efeito criar obstculos desnecessriosao comrcio internacional, ou seja, no devem restringiro comrcio alm do necessrio para alcanar um objetivolegtimo. O Acordo exemplifica como objetivos legtimos asegurana nacional, a proteo da sade ou da seguranahumanas, da vida ou da sade animal ou vegetal, ou domeio ambiente. Em sntese, o esprito do Acordo TBT queos pases podem adotar as medidas que consideraremnecessrias para sua prpria proteo, desde que o faam(1) de maneira no discriminatria, (2) com base emanlises cientficas e tcnicas apropriadas e (3) que nocriem obstculos desnecessrios ao comrcio. Na medidado possvel, os pases devem adotar padres internacionais.
natural que os pases que se encontram na fronteirado progresso tcnico produzam maior quantidade deregulamentos tcnicos e, por conseguinte, exeram maiorinfluncia na determinao dos padres internacionaisaprovados em organizaes como a ISO, o Codex Alimentarius,a UIT, a IEC. Por outro lado, a forte presuno de que ospadres devem basear-se em critrios cientficos constituem
uma defesa importante para os pases em desenvolvimentocontra medidas discriminatrias.
5.2.2.2. Acordo sobre medidas de investimento
relacionadas ao comrcio (TRIMS)
Os anos 70 e 80 foram um perodo de grande expanso
do investimento direto estrangeiro. Ainda havia, no entanto,
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muitos setores em que o acesso era restrito, para proteo
das empresas nacionais. A abertura ao investimentoestrangeiro foi sendo feita de maneira gradual, muitas
vezes sujeitas a condies, como compromissos em relao
a determinados percentuais de contedo local no produto
final, exigncias de exportao de determinada proporo
da produo e mesmo neutralidade em matria de divisas
(as importaes eram condicionadas obteno de divisas pormeio da exportao). Essas medidas contrariavam os Artigos III
(tratamento nacional) e XI (restries quantitativas) do GATT,
ao condicionarem a importao aquisio de produtos
locais. De maneira semelhante s medidas de rea cinzenta
da poca, alegava-se que no eram medidas expressamente
proibidas pelo GATT. Em 1982, os EUA pediram um painel
contra a lei de investimentos do Canad de 1973 (Foreign
Investment Review Act FIRA), que estipulava requisitos
desse tipo. O painel condenou os requisitos de contedo
local, mas no, surpreendentemente, os compromissos de
exportao.
Na Rodada Uruguai foi concludo um acordo no qual,
alm de reiterar-se a vedao de exigncia de contedo
domstico, fica explicitada a proibio de exigncia de
desempenho exportador, ou seja, de exportao de uma
parcela da produo. O acordo no inova: ele apenas
esclarece o alcance das disciplinas do GATT. Para reforar
esse carter didtico, o acordo contm uma lista ilustrativa
de medidas relacionadas a investimentos que so proibidas.
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5.2.2.3. Acordo sobre Subsdios e
Medidas Compensatrias
Os subsdios so, juntamente com as tarifas e as quotas,instrumentos bsicos da poltica comercial. Assim comoas tarifas so utilizadas para elevar o preo dos produtosimportados; os subsdios servem para reduzir o preo do
produto domstico. Nos dois casos, o propsito alterara relao de competitividade entre produtos nacionais eestrangeiros, em favor dos primeiros. Esse objetivo tambmpode ser buscado em outros mercados, por meio desubsdios exportao. Se um produto subsidiado causardano indstria domstica do pas importador, este podeaplicar direitos compensatrios, ou seja, taxas que anulam
o montante do subsdio.Apesar de sua bvia relevncia para o comrcio e da
ampla utilizao dos subsdios por quase todos os pases,o GATT original estabeleceu disciplinas pouco estritas emrelao a subsdios. A disputa por divisas no ps-Guerralevou rapidamente, no entanto, a um acirramento daconcorrncia por mercados. Em consequncia, acordou-
-se, em 1955, proibir os subsdios exportao paraprodutos industrializados a partir de 1958. Continuarama ser tolerados, no entanto, os subsdios exportao deprodutos primrios.
Na Rodada Tquio foi negociado um acordo plurilateralpara disciplinar tanto o emprego de subsdios como
a imposio de direitos compensatrios o Cdigo deSubsdios e Medidas Compensatrias. Os signatrios do Cdigo
comprometeram-se a apenas impor direitos compensatrios
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se, alm dos subsdios, fosse determinado que os produtores
locais haviam sido prejudicados (teste de dano).O Brasil, que comeava a expandir suas exportaes demanufaturados em boa medida com o apoio de subsdios aderiu ao Cdigo para ter direito a esse teste de dano.
Nem sempre simples identificar se uma medidaconstitui um subsdio e, ainda mais, determinar seu
montante o que indispensvel para o clculo dos direitoscompensatrios. Em ordem decrescente de clareza, podem--se mencionar transferncias de recursos do Governo parauma empresa, especialmente se vinculadas ao volumede produo; o fornecimento de bens ou servios comoenergia eltrica abaixo do custo de produo; a reduo ouiseno de impostos diretos ou indiretos; o compromisso de
compra de determinado volume de produo pelo Governo;a concesso de emprstimos em condies mais favorveisdo que a empresa obteria no mercado; a construo deinfraestrutura; operaes no mercado de capitais emcondies favorecidas; o fornecimento de servios abaixo docusto para os empregados das empresas.
Em todos os casos, um elemento necessrio para
a existncia do subsdio a especificidade, ou seja, seudirecionamento a um setor ou empresa. Uma reduogeneralizada na alquota do imposto de renda, por exemplo,no altera, em princpio, as condies de competitividade.Se a reduo restrita a um setor, ou vinculada exportao,existe subsdio.
A determinao do montante do subsdio depende,entre outros fatores, de deciso sobre se ele medido pelocusto para o Governo ou pelo benefcio para o recipiendrio.
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Se um banco oficial concede um emprstimo a uma taxa
superior a seu custo de captao, mas inferior taxa que aempresa poderia obter no mercado, haveria um benefcio,mas no um custo.
O Acordo sobre Subsdios e Medidas Compensatrias daOMC estabeleceu, pela primeira vez no GATT, uma definio desubsdio: necessrio que haja uma contribuio financeira
do Governo (em qualquer forma, inclusive reduo deimpostos) e, simultaneamente, um benefcio. Os subsdios exportao, ou os que dependem da utilizao de bensdomsticos em detrimento dos importados, so proibidos.Os subsdios produo especficos, ou seja, dirigidosa uma indstria, setor ou regio, so acionveis, isto ,podem dar margem imposio de direitos compensatrios
se, em uma investigao, concluir-se que causam dano aosconcorrentes. A categoria de subsdios verdes referia-se acertos tipos de subsdios que no seriam acionveis mesmoque fossem especficos e se comprovasse dano. Incluam--se nesse caso subsdios para P&D, subsdios ambientaise regionais. Essa categoria expirou, no entanto, em 2000 eno foi renovada. Por ltimo, subsdios considerados
como no especficos no podem ser objeto de medidascompensatrias.
Para direitos compensatrios, o ASMC estabelece umasrie de requisitos processuais e substantivos. O requisitobsico que se demonstre a existncia de subsdio, dano indstria domstica e relao causal entre o subsdio eo dano. O clculo do montante de subsdio deve ser feitotomando o mercado como base de referncia, o que, na
prtica pode oferecer dificuldades significativas.
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5.2.2.4. Acordo Antidumping
O dumping um conceito que abrange distintas
realidades. A primeira delas a discriminao de preos,
ou seja, a prtica de preos diferenciados estratgia
corrente de maximizao de lucros por empresas que atuam
em diversos mercados. Tambm se denomina dumping,
no entanto, a venda de produtos abaixo do seu preo decusto (underselling) que tambm prtica normal sob
determinadas situaes, em especial em setores com
elevada proporo de custos fixos nos custos totais e a
venda a preos extremamente reduzidos, visando a eliminar
a concorrncia (preo predatrio). A lgica econmica e
jurdica de cada uma dessas prticas distinta. Apenas a
ltima constitui, de fato, uma prtica desleal, no sentido de
que feita com a inteno de distorcer o mercado.
A noo de que importaes a baixo custo decorrem de
vantagens ou prticas desleais vem, no entanto, de longe.
O Canad adotou legislao antidumping em 1904, seguido
de perto pelo outros Domnios britnicos (Nova Zelndia,
Austrlia e frica do Sul) e pelos EUA. A lei norte-americanade 1921 serviu de base para o Artigo VI do GATT 1947. Esse
artigo permite aplicar direitos antidumping sobre produtos
importados desde que se comprove a ocorrncia simultnea
dos seguintes elementos: 1) dumping (em qualquer das
formas mencionadas acima); 2) dano material ou ameaa de
dano material indstria domstica, ou atraso significativo
para o estabelecimento de uma indstria domstica; e
3) relao de causalidade entre o dumping e o dano.
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Na Rodada Kennedy foi negociado um primeiro acordo
plurilateral sobre antidumping, substitudo na Rodada Tquiopelo Cdigo Antidumping. Na Rodada Uruguai, esse Cdigo
foi, como os demais, multilateralizado, ou seja, passou a
ser de adeso obrigatria para todos os membros da OMC.
O Acordo Antidumping segue a mesma lgica do Artigo VI:
necessrio demonstrar a existncia de dumping, dano e nexo
causal entre os dois. O Acordo consolida, no entanto, umasrie de regras em relao ao mtodo para determinao
da existncia de dumping, os critrios a serem levados em
considerao na anlise de dano, os procedimentos para o
incio e para a conduo de investigaes, a implementao
e durao de medidas antidumping e os critrios de
reviso de medidas antidumping por painis de soluo
de controvrsias.
At os anos 80, o nmero de pases que aplicavam
antidumping era limitado basicamente EUA, CEE, Canad,
Austrlia, Nova Zelndia e frica do Sul. A adoo do Acordo
Antidumping coincidiu com aumento notvel no nmero
de pases que aplicam direitos antidumping, o que guarda
relao com o processo de abertura comercial nos pases em
desenvolvimento. Historicamente verifica-se uma correlao
inversa entre o nvel de proteo comercial (tarifa mdia e
outros instrumentos) e a utilizao de direitos antidumping.
Mais do que seguir uma lgica econmica clara, as
medidas antidumping, como outros instrumentos de defesa
comercial, obedecem necessidade de vlvulas de escapepara as presses da liberalizao comercial.
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5.2.2.5. Acordo sobre Regras de Origem
Regras de origem so os critrios utilizados para definir
o pas de origem de um bem. Esses critrios costumam
estipular uma determinada proporo de valor adicionado a
um produto, ou uma transformao substancial, que pode
ser determinada, por exemplo, por mudana na descrio
do produto na nomenclatura tarifria o chamado saltotarifrio , ou pela descrio de processos especficos de
elaborao.
As regras de origem adquirem maior importncia no
caso dos acordos preferenciais, de vez que constituem a
base para o enquadramento no tratamento mais favorvel.
O acordo sobre regras de origem da OMC no se aplica,
no entanto, aos acordos regionais ou aos esquemas
preferenciais unilaterais, como o SGP, que dispem de ampla
liberdade para estabelecer suas prprias regras. O acordo
da OMC aplica-se primordialmente s regras de origem
no preferenciais; as regras de origem preferenciais so
mencionadas em um anexo, que trata principalmente de
transparncia.Se a clusula NMF fosse aplicada de forma absoluta na
OMC, a origem de um bem no teria importncia. Na prtica,
no entanto, algumas polticas resultam em discriminao:
nos casos de salvaguardas, antidumping e direitoscompensatrios, por exemplo, as investigaes e a aplicaode eventuais sobretaxas so feitas de forma direcionada.Se for possvel evitar o pagamento de uma sobretaxa pormeio de transbordo em um terceiro pas, possivelmente
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acompanhado de alguma alterao sem consequncia,
as medidas de defesa comercial se tornariam sem efeito.O mesmo ocorre no caso das quotas, aplicadas principalmentea produtos agrcolas. O Acordo prev que as regras de origemdeveriam ser harmonizadas at 1998, mas a divergncia deinteresses em relao a um grupo limitado de produtos temimpedido a concluso do processo.
5.2.2.6. Acordo sobre Licenciamento de Importaes
Os procedimentos utilizados para determinar a legalidadedas importaes em sentido amplo a exatido dos dadosdeclarados pelo importador em relao s mercadorias
importadas, assim como sua conformidade com a legislaopertinente podem-se prestar imposio de exigncias,custos ou atrasos na importao, que atuam como barreirasno tarifrias. Os artigos VIII e X do GATT estipulam requisitosde simplificao e transparncia desses procedimentos. NaRodada Tquio, foi negociado um cdigo plurilateral sobrelicenciamento de importaes, que foi transformado em
acordo multilateral na Rodada Uruguai.Ademais de elaborar e complementar as regras bsicas
aplicveis ao licenciamento, como a aplicao neutra e imparcial
dos procedimentos, a simplicidade e a transparncia das
regras, o Acordo estabelece requisitos substantivos objetivos,
como prazos mximos para a concesso de licenas (entre
10 e 60 dias, segundo o tipo de licena).
A relevncia dos procedimentos burocrticos na
importao para a eficincia das operaes levou negociao
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de um acordo sobre facilitao do comrcio, concludo
em dezembro de 2013. Esse acordo complementa o Acordode Licenciamento de Importaes e estabelece obrigaesadicionais em relao a procedimentos aduaneiros.
5.2.2.7. Acordo sobre Salvaguardas
O Artigo XIX do GATT previa a possibilidade de elevar astarifas aplicveis a produtos que, por motivos imprevistos,tivessem um aumento significativo de importaes, de formaque causasse ou ameaasse causar srio dano indstriadomstica. Embora a lgica seja comumente percebidacomo poltica, faz sentido, do ponto de vista econmico,
que o ajuste estrutural decorrente do comrcio internacionalocorra de forma gradual, uma vez que a realocao decapital e mo de obra no ocorre de forma automtica. Comtempo, a indstria domstica pode (1) investir e tornar-semais competitiva ou (2) reduzir seu nvel de produo etransferir mo de obra e capital (por meio da extenso dosperodos de amortizao, por exemplo) de forma gradual.
No GATT, no entanto, as partes contratantes preferiramtrocar a complexidade dos conceitos subjetivos do ArtigoXIX pela eficincia prtica das medidas de rea cinzenta(em particular, das restries voluntrias s exportaesde bens como ao e automveis).
O Acordo sobre Salvaguardas da OMC proibiu
explicitamente todas as medidas cinzentas e estabeleceuprocedimentos mais detalhados para a abertura deinvestigaes com vistas imposio de salvaguardas.
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O Acordo estabelece critrios para determinao do que
constitui dano indstria domstica, assim como parmetrospara as medidas a serem aplicadas s importaes e prazosmximos para sua utilizao. As salvaguardas no podemser aplicadas de forma discriminatria, a no ser emcircunstncia excepcionais.
5.2.2.8. Acordo sobre Inspeo Pr-embarque
Alguns pases na grande maioria, PMDRs utilizamos servios de grandes empresas para efetuar inspees,nos portos de expedio, das mercadorias importadas.A inspeo inclui verificao da mercadoria e da docu-
mentao, classificao aduaneira e avaliao do valordas mercadorias, ou seja, trata-se de uma terceirizao deservios normalmente efetuados pela alfndega nos pasesimportadores. O objetivo reduzir fraudes e corrupo, emespecial em pases que no dispem de infraestrutura fsicae humana adequada. O acordo da OMC sobre inspeo pr--embarque basicamente reitera que os princpios e obrigaes
da OMC como no discriminao, transparncia, mtodosde valorao aduaneira aplicam-se quelas operaes.
5.2.2.9. Acordo sobre Compras Governamentais
O Artigo III do GATT, que impe a obrigao de concedertratamento nacional aos bens importados, exclui
explicitamente as aquisies do Governo para fins no
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comerciais. O Acordo Geral sobre o Comrcio de Servios
GATS contm uma exceo equivalente do GATT para ascompras do Governo. Por consideraes de eficincia, oupara a obteno de financiamento, muitos pases costumamabrir, mesmo na ausncia de obrigaes nesse sentido, seusmercados para fornecedores estrangeiros. A relevncia dopoder de compra do Estado como instrumento de polticaindustrial tem levado, no entanto, a grande maioria dospases em desenvolvimento a buscar preservar essapossibilidade e, consequentemente, a resistir negociaode obrigaes de acesso a mercados nessa rea.
Na Rodada Tquio, um grupo de 12 pases (includosos ento 9 membros das Comunidades Europeias)decidiu negociar um cdigo plurilateral sobre compras
governamentais. A participao limitada acabou levando renegociao do cdigo, durante a Rodada Uruguai,como acordo plurilateral o nico acordo desse tipo comobrigaes comerciais sob a OMC. O acordo conta com 42membros, includos os 28 integrantes da Unio Europeia.
O Acordo no se aplica a todas as compras governamentaisdos signatrios. Cada participante lista as entidades centrais,
subnacionais ou outras (como autarquias e empresasestatais) cobertas. No caso dos EUA, por exemplo, o acordoaplica-se s compras de 37 estados. Aplicam-se igualmentelimiares de valores para as aquisies de maneira geral,130 mil DES (direitos especiais de saque) para bens e5 milhes de DES para servios de construo.
A ampliao do nmero de signatrios do Acordo deCompras Governamentais uma das prioridades dos grandes
pases desenvolvidos. Na Declarao que lanou a Rodada
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ou seja, integrados ao GATT. Isso implicava, basicamente,
a eliminao das quotas sob o Acordo Multifibras. Essademanda foi aceita, mas com um prazo de implementao
de dez anos. Durante esse prazo, as quotas seriam
eliminadas em quatro etapas em 1de janeiro de 1995,
de 1998, de 2002 e de 2005. O acordo tambm estabeleceu
uma salvaguarda transitria, mais fcil de invocar que as
salvaguardas normais. Em que pese s crticas ao ritmode implementao (o Acordo permitiu que a maior parte
do valor do comrcio somente fosse integrado no final do
perodo), todos os produtos txteis e de vesturio passaram
a ser regidos exclusivamente pelas regras da OMC no prazo
previsto. O Acordo sobre Txteis e Vesturio deixou, assim,
de viger em 1de janeiro de 2005.
5.3.2. Acordo sobre Agricultura
A concluso das negociaes agrcolas da Rodada Uruguai
resultou em um conjunto de regras sobre todos os aspectos
do comrcio de produtos agrcolas inclusive com listasconsolidadas de tarifas, consolidao e reduo do montante
de subsdios exportao e limites aos subsdios domsticos.
A par disso, foi adotado um acordo para regulamentar a
aplicao de medidas sanitrias e fitossanitrias. Embora
o resultado em termos de liberalizao efetiva do comrcio
agrcola tenha sido modesto, o fato que, pela primeira
vez em quase cinco dcadas, o comrcio agrcola foiefetivamente subordinado a regras multilaterais.
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O Acordo sobre Agricultura estabelece disciplinas no
apenas para os instrumentos de poltica comercial, mastambm para as polticas domsticas. A opo por esse
enfoque tem consequncias que se estendem no tempo,
na medida em que cristaliza os parmetros do processo de
reforma da agricultura. A partir da Rodada Uruguai, todas
as negociaes teriam que tratar tanto de poltica comercial
quanto de polticas domsticas. interessante notar que o enfoque adotado no Acordo
sobre Agricultura (AsA) representa apenas uma dentre
diversas alternativas possveis para a reforma do comrcio
agrcola. Poder-se-ia, por exemplo, limitar os compromissos
a subsdios exportao e a acesso a mercados. Se fossem
suficientemente ambiciosos, esses compromissos acabariam
por exercer presso, indiretamente, sobre as polticas depreos mnimos e de estoques nacionais.
A estrutura do Acordo sobre Agricultura reflete as trs
reas em que se deram as negociaes, a saber, acesso a
mercados, concorrncia nas exportaes e apoio domstico.
Em acesso a mercados, o dispositivo principal o Artigo
4:2 do AsA, que estipula que os Membros no mantero, norecorrero nem revertero a nenhuma medida do tipo das
que foram convertidas em direitos aduaneiros ordinrios.
Este o requisito de tarificao de todas as medidas
no tarifrias. Uma nota de p de pgina exemplifica as
medidas como quotas, direitos variveis, preos mnimos
e esclarece que se incluem outras medidas similares,
ou seja, que a lista no exaustiva. A nota abrange todas
as medidas, mesmo aquelas mantidas com base em
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derrogaes especficas para determinados pases. Ou seja,
nem os protocolos de acesso nem o waiver agrcola dosEUA podem ser invocados para justificar a manuteno de
medidas no tarifrias.
Foram mantidas, no entanto, duas excees ao princpio
da tarificao. A primeira, menos importante, a chamada
clusula do arroz, que permitiu o adiamento da tarificao
do arroz no Japo, na Coreia e nas Filipinas, e da carne deovinos e caprinos em Israel. A segunda, mais significativa,
a chamada salvaguarda especial (SSG), prevista no Artigo 5
do AsA. A salvaguarda especial permite a imposio de
tarifas adicionais com base em gatilhos de preo e de volume.
De certa forma, a SSG constitui uma relquia, comparvel
aos direitos variveis aplicados em funo do preo
internacional. Ao contrrio das salvaguardas clssicas,nenhuma investigao e nenhuma determinao de dano
so necessrias.
Outra reminiscncia do passado so as quotas tarifrias
para acesso mnimo ou corrente. O acesso mnimo
refere-se a situaes em que, mesmo aps a implementao
da tarificao e das redues tarifr