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  • Leitura Esquizofrenia.

    Para tornar a realizada suportvel, todos temos de cultivar intimamente algumas pequenas

    loucuras. - Marcel Proust

    Fontes:

    Infomedica wiki - http://pt-br.infomedica.wikia.com/wiki/Esquizofrenia

    howstuffworks - http://saude.hsw.uol.com.br/esquizofrenia.htm

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    Introduo:

    A histria sugere que a esquizofrenia atinge a humanidade h milnios, relegando doentes ao

    isolamento social. Apesar de vastas e profundas pesquisas, o transtorno - caracterizado por

    comportamento anormal e isolamento emocional - continua sendo um grande mistrio.

    A esquizofrenia uma doena psiquitrica que

    acomete aproximadamente 24 milhes de pessoas no

    mundo, segundo a Organizao Mundial de Sade.

    Seus sintomas so variados e sua origem envolve

    diversos fatores. uma doena foco de muita

    curiosidade e preconceito e esse trabalho procura

    esclarecer alguns pontos a respeito disso.

    Embora esteja presente em toda a histria da

    humanidade, o transtorno no havia sido classificado

    de modo preciso at o fim do sculo 19. No incio do

    sculo 20, o psiquiatra alemo Eugen Bleuler criou o nome "esquizofrenia" a partir das palavras

    gregas "diviso" e "mente" para descrever a doena. Ele escolheu esse termo baseado na idia

    de dupla personalidade, um equvoco comum, principalmente em funo de os esquizofrnicos

    apresentarem uma desconexo com a realidade. Bleuler tambm se referia doena usando o

    termo no plural, considerando que o quadro poderia se apresentar de maneiras diferentes.

    Normalmente, difcil distinguir a esquizofrenia de quadros como depresso ou transtorno

    bipolar, razo pela qual essencial ir ao mdico para descartar essas possibilidades. Saber que o

    transtorno pode surgir no futuro pode ser assustador para as pessoas que temem desenvolver a

  • doena. Ento como voc pode saber se est com esquizofrenia? Saber os sintomas especficos

    vai ajudar voc a decidir se deve buscar o auxlio de um psiquiatra especialista.

    Origem/causa:

    A esquizofrenia uma doena de origem multifatorial, o que significa que diferentes fatores

    esto envolvidos no seu desencadeamento. Podemos ressaltar o componente gentico, que

    segundo Glen O. Gabbard, colabora com uma concordncia entre 40 e 50% em gmeos

    idnticos e, segundo Wagner Gattaz, 13% entre parentes de primeiro grau.

    Mltiplos genes esto relacionados suscetibilidade a doena e alguns j foram identificados.

    Porm, como pode ser observado nos nmeros relacionados aos gmeos idnticos, a gentica

    no a nica envolvida no desenvolvimento da esquizofrenia, caso contrrio, a concordncia

    entre eles seria de 100%, visto que so seres geneticamente idnticos.

    O fator ambiental outra pea importante para entender a causa dessa doena, e Gabbard

    levanta algumas possibilidades a respeito, segundo ele, leses no nascimento, infeco viral

    durante a gestao, fatores dietticos e intercorrncias no desenvolvimento podem estar

    associados ao desenvolvimento da esquizofrenia. Alm disso, ele destaca um estudo feito em

    2004 por Tienari que concluiu que crianas adotadas e com alto risco gentico tinham maior

    chance de desenvolver a doena se existisse desestruturao familiar. Gabbard, ento conclui:

    Ocorre uma interao entre vulnerabilidade gentica, atributos do ambiente e traos

    individuais.

    As caractersticas individuais impactam na forma como o indivduo se relaciona com os fatores

    estressores ambientais e tambm est ligada com a peculiaridade da manifestao da doena em

    cada paciente, sendo que eles podem ter diferentes sintomas e intensidade dos mesmos.

    A disfuno em nvel celular que vem a causar os sintomas descrita por Guyton e Hall, e eles

    sugerem trs possibilidades:

    1. Perda de sensibilidade dos neurnios ao neurotransmissor glutamato, em reas do lobo

    frontal. Neurotransmissores so componentes qumicos que fazem a comunicao entre dois

    neurnios, e o glutamato essencial para a estimulao neuronal no crebro. Acredita-se que

    seja o crtex frontal a parte do crebro envolvida na esquizofrenia, porque possvel induzir

    resposta mental semelhante a da doena em macacos causando pequenas leses nos lobos pr-

    frontais deles.

    2. Excitao excessiva de neurnios secretores de dopamina nos centros comportamentais do

    crebro. A dopamina um outro neurotransmissor que foi relacionado a esquizofrenia por ser

    capaz de induzir sintomas dessa doena em pacientes com Mal de Parkinson. Obs: O Mal de

    Parkinson tratado com remdios liberadores de dopamina.

    3. Funo anormal da parte do sistema lmbico responsvel pelo controle comportamental que

    est centrado no hipocampo. O sistema lmbico a parte do crebro responsvel pelas emoes

    e comportamento, e o hipocampo integrante do sistema lmbico, foi observado que em alguns

    pacientes esquizofrnicos a regio hipocampal estava reduzida.

  • O crebro na esquizofrenia e suas reas afetadas. Adaptao e traduo de

    http://www.schizophrenia.com/schizpictures.html

    Sintomas:

    A esquizofrenia normalmente se desenvolve em homens a partir do fim da adolescncia ou

    prximo dos 20 anos, e nas mulheres por volta dos 25 a 30 anos. Sintomas de esquizofrenia

    podem se desenvolver gradualmente ou rapidamente. Os sintomas normalmente so

    classificados como positivos ou negativos, no entanto, a razo desses nomes no tem relao

    com o fato de os sintomas serem bons ou ruins.

    Sintomas positivos:

    Incluem delrios, que so crenas a respeito de determinados

    fatos e coisas. Durante o delrio os pacientes criam uma

    realidade prpria que freqentemente tem associao com

    idias perseguitrias, cimes, crenas religiosas ou aquisio

    de outra identidade.

    Alucinaes tambm fazem parte dessa classe, e so

    percepes falsas dos sentidos (viso, audio, tato, olfato e

    paladar), as mais freqentes so as alucinaes visuais (estar

  • vendo coisas) e alucinaes auditivas (ouvir vozes). Outros sintomas positivos so distrbios do

    comportamento.

    A totalidade desses sintomas est associada aos surtos psicticos agudos em que h grave

    desorganizao psquica e comprometimento do juzo da realidade.

    Sintomas negativos:

    Esto relacionados fase crnica da doena e so caracterizados por um dficit de funes

    afetivas, o paciente tem dificuldade de demonstrar emoes; por desmotivao em executar

    qualquer tarefa; pobreza de pensamento, muitas vezes o paciente no consegue expressar suas

    idias de forma coerente; apatia e incapacidade de sentir prazer ou satisfao.

    Relaes interpessoais doentes:

    Segundo Gabbard, suas manifestaes incluem retraimento, expresses inadequadas de

    agresso e sexualidade, falta de conscincia das necessidades dos outros, excessiva solicitao e

    incapacidade de fazer contatos significativos com as outras pessoas."

    Sintomas cognitivos:

    Problemas de ateno, memria, concentrao, dificuldades para abstraes e de planejamento

    de aes podem estar presentes.

    falta de ateno

    falta de habilidades de memria

    incapacidade de planejar ou organizar

    Outros sintomas so problemas no trabalho, de relacionamentos e de higiene pessoal. Para que

    algum seja diagnosticado como esquizofrnico, de acordo com os padres oficiais do Manual

    Diagnstico e Estatstico de Transtornos Mentais (DSM-IV), um certo nmero de sintomas

    precisa ser identificado e o quadro deve se estender, no mnimo, por seis meses.

    Os dficits neuropsicolgicos na esquizofrenia. Adaptao e traduo de

    http://www.cnsspectrums.com/userdocs/articleimages/144/1108CNS_Sellin_figbig.jpg

  • Tipos de esquizofrenia:

    O Manual de diagnstico e estatstica das perturbaes mentais (DSM IV), divide a doena em

    5 subtipos de acordo com as suas caractersticas especficas:

    1. Esquizofrenia paranide: Presena de alucinaes e delrios, e funes cognitivas e afetivas

    relativamente conservadas.

    2. Esquizofrenia catatnica: Presena de pelo menos dois dos seguintes sintomas: Imobilidade

    motora, agitao extrema, negativismo, postura inadequada e/ou movimentos estereotipados,

    repetio constante de palavras ou frases e imitao de movimentos.

    3. Esquizofrenia desorganizada: Presena de discurso e comportamento desorganizados e

    manifestaes de afeto inapropriadas.

    4. Esquizofrenia Indiferenciada: Nesse tipo de esquizofrenia so classificados os pacientes

    que no se encaixam em nenhum dos outros tipos ou tm sintomas de mais de um tipo no

    sendo possvel categoriz-los.

    5. Esquizofrenia residual: Sem alucinaes, delrios, discurso ou comportamento

    desorganizado. Mas com presena de sintomas negativos principalmente ou positivos em menor

    grau. comum em estgio crnico da doena, quando o paciente est controlado.

    Alguns quadros so bem semelhantes esquizofrenia. O transtorno esquizofreniforme, por

    exemplo, pode incluir sintomas positivos e negativos de esquizofrenia, mas dura apenas de um a

    seis meses. Um outro quadro semelhante o transtorno esquizoafetivo. Pessoas com

    transtorno esquizoafetivo sofrem tanto com sintomas de esquizofrenia como com transtornos do

    humor (como depresso).

    Muitos sintomas de esquizofrenia podem ter efeitos drsticos

    sobre a vida do paciente em termos de atividades dirias, trabalho,

    vida social e relacionamentos. Iluses se referem a crenas falsas e

    alucinaes dizem respeito a falsas sensaes. Algumas iluses

    tpicas incluem crenas paranicas sobre ser vtima dos outros ou

    acreditar ser uma famosa figura histrica (como Napoleo

    Bonaparte ou Jesus Cristo). Alucinaes acontecem por meio de

    vises, de cheiros, de sons, de sentimentos ou at mesmo de

    gostos. Normalmente, os esquizofrnicos acreditam ouvir vozes.

    Essas vozes comentariam o comportamento da pessoa ou dariam

    ordens pessoa.

    Tratamento:

    Com relao ao tratamento farmacolgico, o uso de medicamentos antipsicticos eficiente

    principalmente para o controle dos sintomas positivos da doena, mas interferem pouco nos

    negativos. Recentemente, foi descoberta uma nova gerao de medicamentos chamados de

    antipsicticos atpicos e esses se mostraram eficazes para tratamento tanto dos sintomas

    positivos como dos negativos.

    Um dos grandes problemas encontrados na terapia farmacolgica a adeso dos pacientes ao

    tratamento, visto que muitos deles deixam de tomar os remdios por causa dos efeitos

    colaterais, principalmente os efeitos parkinsonianos que so induzidos pelo bloqueio da

    dopamina. Esses efeitos incluem tremores, lentido e apatia. Outro motivo da recusa ao

    tratamento a inconscincia da doena por parte do paciente.

  • Logo, tanto para melhorar a adeso ao tratamento medicamentoso como para dar suporte ao

    paciente de forma que ele possa reingressar ao seu convvio social so necessrias outras formas

    de abordagem. A psicoterapia individual se mostra eficaz para que o paciente estabelea laos

    de confiana com o seu terapeuta e a partir disso, possvel trabalhar com ele de forma a

    alcanar a estabilidade do mesmo; despertar sua conscincia, com relao aos fatores estressores

    que o fazem entrar em surto, e treinar suas habilidades sociais.

    Outra forma de abordagem utilizada psicoterapia em grupo que pode atuar fornecendo apoio

    aos pacientes, desenvolvendo habilidades de expressar seus sentimentos e pensamentos e

    capacidade de perceber o outro e se identificar com ele. Educar a famlia do paciente, para que

    essa possa ser uma aliada no tratamento, tambm pode ser uma medida eficaz.

    Porm, algumas vezes os pacientes necessitam de um tratamento mais intenso, com

    hospitalizao. Essas internaes hospitalares so de curta durao e tm por objetivo estabilizar

    o paciente de forma que ele possa voltar ao convvio social sem oferecer risco para ele mesmo

    ou para a sociedade. A legislao brasileira aboliu as internaes de longo prazo, bem como os

    hospitais psiquitricos de grande porte. O objetivo dessa lei foi impedir o isolamento e

    discriminao social dos pacientes psiquitricos porque, anteriormente a essa medida, muitos

    pacientes eram abandonados por suas famlias e permaneciam por anos isolados em hospitais.

    Vivendo com esquizofrenia:

    A reintegrao de um esquizofrnico na sociedade tende a ser difcil, considerando-se que o

    transtorno normalmente se desenvolve quando a pessoa j tem profisso e auto-suficiente. A

    maioria no se casa, no forma famlia, nem se d bem no trabalho [fonte: Javitt]. Infelizmente,

    5% dos esquizofrnicos acabam virando moradores de rua [fonte: Javitt].

    Estes fatores podem contribuir para a alta porcentagem de esquizofrnicos que cometem

    suicdio (10%) [fonte: NIMH]. No entanto, a estatstica considera apenas casos de suicdio

    consumado. A estatstica exata dos esquizofrnicos que tentam o suicdio desconhecida, mas

    acredita-se que fique entre 18 e 55% [fonte: Gupta].

    Os especialistas divergem quanto questo da esquizofrenia deixar a pessoa violenta.

    Estatsticas mostram que a doena no causa comportamento violento e que a maioria dos

    doentes no so violentos. Geralmente, os que tm histrico de violncia antes do incio do

    quadro tendem a continuar violentos, enquanto os no-violentos dificilmente se apresentam esse

    comportamento.

    No entanto, estudos demonstram que alguns esquizofrnicos ficam mais propensos violncia

    do que a populao em geral, se abusarem de drogas e lcool. E quando ficam violentos, isso

    geralmente acontece com amigos ou com a famlia dentro de casa [fonte: NIMH].

    Notavelmente, as vtimas mais provveis da violncia so eles prprios, haja vista o alto ndice

    de suicdio.

    O Instituto Americano de Sade Mental (NIMH) oferece aconselhamento aos que desejam

    ajudar pessoas esquizofrnicas. Nesse instituto, pode-se trabalhar para gerar uma atmosfera

    positiva e de apoio que ajude o esquizofrnico a lidar melhor com a situao. Como

    esquizofrnicos normalmente tm dificuldade em estabelecer objetivos, os voluntrios podem

    ajud-los a definir objetivos menores e possveis, para que eles, lenta e tranqilamente,

    obtenham maior autonomia. Para amigos e familiares de esquizofrnicos, lidar com as iluses e

    com as alucinaes difcil. Nesse caso, o NIMH recomenda no tentar competir nem brincar

    com a falsa noo do esquizofrnico. Em vez disso, deve-se discordar educadamente, falando

    que as pessoas possuem suas prprias opinies.

    Freqentemente, a esquizofrenia to sbita que difcil entender suas causas. Apesar da

    profundidade dos estudos e das pesquisas sobre o transtorno, a causa ainda pouco conhecida.

  • CURIOSIDADE - Qual a sensao de um esquizofrnico em um surto?

    Foi encontrado um vdeo muito interessante e, ao mesmo tempo, amedrontador. O vdeo foi

    criado com base em entrevistas feitas com esquizofrnicos. Depois dos relatos deles sobre o que

    escutavam, dia aps dia, o vdeo foi criado para que as pessoas pudessem ter uma melhor

    compreenso do que essa doena faz com o indivduo.

    Antes de clicar no link, leia abaixo a explicao sobre o que ir escutar: O esquizofrnico possui uma superatividade na rea de compreenso da fala (chamada de rea

    de Wernicke), no crebro, o que cria alucinaes sonoras, ou melhor, a iluso de que

    pensamentos so vozes verdadeiras.

    Assista o vdeo usando fones de ouvido.

    No assista se voc possui algum problema cardaco, nervoso ou se impressiona fcil.

    Caso se sinta mal, feche o vdeo.

    Auditory Hallucinations - An Audio Representation Link: http://www.youtube.com/watch?v=0vvU-Ajwbok#t=164

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    Referncias bibliogrficas:

    1. GABBARD, Glen O. Psiquiatria psicodinmica na prtica clnica. 4. Edio. Porto Alegre,

    Artmed Editora S/A, 2007.

    2. GUYTON, Arthur C.; HALL, John E. Tratado de Fisiologia Mdica. 11. Edio. Rio de

    Janeiro, Elsevier 2006.

    3. LOUZ NETO, Mario Rodrigues; ELKIS, Hlio. Psiquiatria bsica. 2. Edio. Porto Alegre,

    Artmed, 2007


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