doutrina económica de karl marx

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  Ideologia Económic a de Karl Marx (1818-1883) Unidade Curricular: Economia do Turismo Docente: Simão Oliveira Trabalho realizado por: Filipe André Sousa (Nº4090120) Curso: Gestão Turística Hoteleira 1º Ano

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Ideologia Económica de Karl Marx

(1818-1883)

Unidade Curricular: Economia do Turismo

Docente: Simão Oliveira

Trabalho realizado por: Filipe André Sousa (Nº4090120)

Curso: Gestão Turística Hoteleira 1º Ano

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 2

Índice

Índice de tabelas: ............................................................................................... 3 

Índice de ilustrações: .......................................................................................... 3 

Introdução .......................................................................................................... 4 

Biografia ............................................................................................................. 5 

Principais Influências .......................................................................................... 9 

Influência do materialismo de Feuerbach ..................................................... 10 

Influência do socialismo utópico francês ...................................................... 10 

Doutrina Marxista ............................................................................................. 11 

A luta de classes ........................................................................................... 11 

Socialismo ........................................................................................................ 13 

Ideologia Económica ........................................................................................ 15 

Capital e Força de Trabalho ......................................................................... 15 

A lei do valor ................................................................................................. 18 

Teoria da mais-valia ..................................................................................... 20 

Teoria da renda da terra ............................................................................... 28 

Conclusão ........................................................................................................ 30 

Bibliografia:....................................................................................................... 31 

Textos em Anexo ............................................................................................. 32 

Luta de Classes e Luta Política .................................................................... 32 

Para a Crítica da Economia Política ............................................................. 34 

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 3

Índice de tabelas:

Tabela 1: .......................................................................................................... 13 

Tabela 2: .......................................................................................................... 15 

Tabela 3: .......................................................................................................... 16 

Tabela 4: .......................................................................................................... 20 

Tabela 5: .......................................................................................................... 20 

Tabela 6: .......................................................................................................... 21 

Tabela 7: .......................................................................................................... 27 

Índice de ilustrações:

Ilustração 1: K. Marx .......................................................................................... 5 

Ilustração 2: Marx na sua juventude ................................................................... 6 

Ilustração 3: Friedrich Engels ............................................................................. 7 

Ilustração 4: Marx e Engels ................................................................................ 8 

Ilustração 5: Ludwig Feuerbach ....................................................................... 10 

Ilustração 6: ...................................................................................................... 11 

Ilustração 7: ...................................................................................................... 14 

Ilustração 8: "O Capital" ................................................................................... 15 

Ilustração 9 : ...................................................................................................... 17 

Ilustração 10: .................................................................................................... 19 

Ilustração 11: .................................................................................................... 22 

Ilustração 12: Cartoon alusivo à mais-valia ...................................................... 25 

Ilustração 13: .................................................................................................... 28 

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 4

Introdução

Este trabalho surge no âmbito da unidade curricular de Economia de

Turismo, leccionada pelo docente Simão Oliveira. Tem como principal objectivo

demonstrar a doutrina económica defendida pelo alemão Karl Marx, que, foi um

intelectual e revolucionário alemão, fundador da teoria comunista moderna, que

trabalhou como economista, filósofo, historiador, pensador político e jornalista.

E com este trabalho pretendo mostrar também um pouco da sua vida eobra.

“The production of too many useful things results in too many useless people”1 

1 “A produção de muitas coisas úteis resulta em muitas pessoas inúteis”, Karl Marx  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 5

Biografia

Karl Marx nasceu em 5 de Maio de 1818 em Tréves, na

Renânia ao sul da Alemanha. A sua família, abastada e culta,

não era revolucionária. Desde a sua juventude preocupou-se com a escolha de

uma profissão com dois objectivos, a realização pessoal e o bem de

humanidade. Depois de ter terminado os seus estudos no liceu, Marx entrou na

Universidade de Bona e depois na de Berlim, aí estudou direito e sobretudo

história e filosofia. Em 1841 terminava o curso defendendo uma tese de

doutoramento sobre a filosofia de Epicuro. Eram, então, as concepções de

Marx as de um idealista hegeliano. Em Berlim, aderiu ao círculo dos

"hegelianos de esquerda"2, que procuravam tirar da filosofia de Hegel

conclusões ateias e revolucionárias.

Ao sair da Universidade, Marx fixou-se em Bona, onde contava tornar-se

professor. Nessa época, o desenvolvimento das ideias do hegelianismo deesquerda fazia, na Alemanha, rápidos progressos. Nessa altura, os burgueses

radicais da Renânia, que tinham certos pontos de contacto com os hegelianos

de esquerda, fundaram em Colónia um jornal de oposição, a Gazeta Renana

(que apareceu a partir de 1 de Janeiro de 1842). Marx e Bruno Bauer foram os

seus principais colaboradores e, em Outubro de 1842, Marx tornou-se o

redactor-chefe, mudando-se então de Bona para Colónia.

2 Hegelianos de esquerda ou jovens hegelianos : corrente idealista na filosofia alemã dos anos30-40 do século XIX, que procurava tirar conclusões radicais da filosofia de Hegel efundamentar a necessidade de transformação burguesa da Alemanha. O movimento dos

 jovens hegelianos era representado por D. Strauss, B. e E.Bauer, M. Stirner e outros. Durantecerto tempo, também L. Feuerbach partilhou as suas idéias, bem com K. Marx e F. Engels nasua juventude

Ilustração 1: K. Marx 

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 6

Sob a direcção de Marx, a tendência

democrática revolucionária do jornal acentuou-se

cada vez mais e o governo começou por submetê-lo

a uma dupla e mesmo tripla censura e acabou por

ordenar a sua suspensão completa a partir de 1 de

Janeiro de 1843. Por essa altura, Marx viu-se

obrigado a deixar o seu posto de redactor, mas a sua

saída não salvou o jornal, que foi proibido em Março

de 1843. A sua actividade de jornalista tinha feito

compreender a Marx que os seus conhecimentos de economia política eram

insuficientes e por isso lançou-se a estudá-la com ardor.

Em 1843, Marx casou-se, em Kreuznach, com Jenny von Westphalen,

amiga de infância, de quem já era noivo desde o tempo de estudante. A sua

mulher pertencia a uma família nobre e reaccionária da Prússia. No Outono de

1843 Marx foi para Paris para editar no estrangeiro uma revista, mas só

apareceu o primeiro fascículo desta revista, intitulada Anais Franco-Alemães,

que teve de ser suspensa por causa das dificuldades com a sua difusão

clandestina na Alemanha. Nos artigos de Marx publicados pela revista, ele

aparece-nos já como um revolucionário que proclama "a crítica implacável de

tudo o que existe" e, em particular, "a crítica das armas", e apela para as

massas e o proletariado.

Ilustração 2: Marx na sua juventude  

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 7

Em Setembro de 1844, Friedrich Engels esteve em

Paris por uns dias, e desde então tornou-se o amigo mais

íntimo de Marx. Ambos tomaram uma parte muito activa na

vida agitada da época dos grupos revolucionários de Paris

e, numa árdua luta contra as diversas doutrinas do

socialismo pequeno-burguês, elaboraram a teoria e a tática

do socialismo proletário revolucionário ou comunismo

(marxismo), Marx foi expulso de Paris como revolucionário perigoso. Foi para

Bruxelas, onde fixou residência. Na Primavera de 1847, Marx e Engels filiaram-

se numa sociedade secreta de propaganda, a "Liga dos Comunistas", tiveram

papel destacado no II Congresso desta Liga (Londres, Novembro de 1847) e

por incumbência do Congresso redigiram o célebre Manifesto do Partido

Comunista, publicado em Fevereiro de 1848. Esta obra expõe a nova

concepção do mundo, o materialismo consequente aplicado também ao

domínio da vida social, a teoria da luta de classes e do papel revolucionário

histórico universal do proletariado, criador de uma sociedade nova, a sociedadecomunista.

Quando eclodiu a revolução de Fevereiro de 1848, Marx foi expulso da

Bélgica. Regressou novamente a Paris, que deixou depois da revolução de

Março para voltar à Alemanha e fixar-se em Colónia. Foi aí que apareceu, de 1

de Junho de 1848 até 19 de Maio de 1849, a Nova Gazeta Renana, de que

Marx foi o redactor-chefe. A nova teoria foi confirmada pelo curso dos

acontecimentos revolucionários de 1848-1849 e posteriormente por todos os

movimentos proletários e democráticos em todos os países do mundo. A

contra-revolução vitoriosa arrastou Marx ao tribunal (foi absolvido em 9 de

Fevereiro de 1849) e depois expulsou-o da Alemanha (em 16 de Maio de

1849). Voltou então para Paris, de onde foi igualmente expulso após a

manifestação de 13 de Junho de 1849, e partiu depois para Londres, onde

viveu até ao fim dos seus dias.

Ilustração 3: Friedrich Engels  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 8

As condições desta vida de emigração

eram extremamente penosas, Marx e a

família viviam literalmente esmagados pela

miséria, sem o apoio financeiro constante e

dedicado de Engels, Marx não só não teria

podido acabar O Capital, como teria

fatalmente sucumbido à miséria. Além disso,

as doutrinas e as correntes predominantes do socialismo pequeno-burguês, do

socialismo não proletário em geral, obrigavam Marx a sustentar uma luta

incessante e, por vezes, a defender-se mesmo dos ataques pessoais mais

furiosos e mais absurdos. Marx desenvolveu numa série de trabalhos históricos

a sua teoria materialista, dedicando-se, sobretudo ao estudo da economia

política. Revolucionou esta ciência, nas suas obras Contribuição para a Crítica

da Economia Política (1859) e O Capital (r.1867).

A época da reanimação dos movimentos democráticos, no final dos anos

50 e nos anos 60, levou Marx a voltar ao trabalho prático. Foi em 1864 (em 28

de Setembro) que se fundou em Londres a célebre I Internacional, a

"Associação Internacional dos Trabalhadores". Marx foi a sua alma, sendo o

autor do primeiro "Apelo" e de um grande número de resoluções, declarações e

manifestos. Unindo o movimento operário dos diversos países, procurando

orientar numa via de actividade comum as diferentes formas do socialismo não

proletário Marx foi forjando uma táctica única para a luta proletária da classe

operária nos diversos países. Depois do Congresso de 1872 em Haia, Marx

conseguiu a transferência do Conselho Geral da Internacional para Nova

Iorque. A I Internacional tinha cumprido a sua missão histórica e dava lugar a

uma época de crescimento infinitamente maior do movimento operário em

todos os países do mundo, caracterizada pelo seu desenvolvimento em

extensão, pela formação de partidos socialistas operários de massas no quadro

dos diversos Estados nacionais.

Ilustração 4: Marx e Engels  

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 9

A sua actividade intensa na Internacional e os seus trabalhos teóricos,

que exigiam esforços ainda maiores, abalaram definitivamente a saúde de

Marx. Prosseguiu a sua obra de transformação da economia política e de

acabamento de O Capital, reunindo uma massa de documentos novos e

estudando várias línguas (o russo, por exemplo), mas a doença impediu-o de

terminar O Capital.

A 2 de Dezembro de 1881, morre a sua mulher. A 14 de Março de 1883,

Marx adormecia pacificamente, na sua poltrona, para o último sono. Foienterrado junto da sua mulher no cemitério de Highgate, em Londres. Vários

filhos de Marx morreram muito jovens, em Londres, quando a família

atravessava uma grande miséria. Três das suas filhas casaram com socialistas

ingleses e franceses: Eleanor Aveling, Laura Lafargue e Jenny Longuet; um

dos filhos desta última é membro do Partido Socialista Francês.

Principais Influências

Marx foi principalmente influenciado pelos movimentos socialistas de

Hegel e pela teoria do valor do trabalho de David Ricardo3. Acreditava no

trabalho como determinador do valor, como Adam Smith e Ricardo (influência

da economia clássica britânica), mas era hostil em relação ao capitalismo

competitivo e à livre concorrência, afirmando que os capitalistas exploravam a

classe trabalhadora.

Marx ainda teve outras variadas influências como a influência do

materialismo de Feuerbach e do socialismo utópico francês.

3 Teoria do Valor de David Ricardo:

Assume que o valor de uma mercadoria é determinado pela quantidade de trabalho nela incorporada, ou seja, ovalor é dado pelo custo do trabalho. Assim, através do preço de uma mercadoria, encontra-se o valor, por detrás dovalor estão os custos de produção e por detrás de ambos, o trabalho humano.

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 10

Influência do materialismo de Feuerbach

Ludwig Feuerbach foi um filósofo materialista que

atraiu muita atenção de intelectuais de sua época, que teve

grande influência sobre Marx, Engels e os jovens

hegelianos. Feuerbach criticou duramente Hegel, e afirmou

que a religião consiste numa projecção dos desejos humanos e numa forma de

alienação. O contacto de Marx com as ideias feuerbachianas foi determinante

para a formulação de sua crítica radical da religião e das "concepçõesinvertidas" de Hegel

Influência do socialismo utópico francês

Por socialismo utópico costumava-se designar, na época de Marx, um

conjunto de teorias diversas que tinham em comum, duas características

básicas:

Todas entendiam que a base determinante do comportamento

humano residia na esfera moral/ideológica;

O desenvolvimento das civilizações ocidentais, estava a permitir

uma nova era onde iria imperar a harmonia social;

Marx criticou as ideias dos socialistas utópicos acusando-os de muito

romantismo ingénuo e pouca dedicação ao estudo rigoroso da conjuntura

social. Por outro lado, Marx adoptou algumas noções contidas nas ideias dealguns dos socialistas utópicos, como, por exemplo, a noção de que o aumento

da capacidade de produção decorrente da revolução industrial permite

condições materiais mais confortáveis à vida humana.

Ilustração 5: Ludwig Feuerbach  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 11

Doutrina Marxista

É o sistema das ideias da doutrina de

Marx, que continuou e desenvolveu principais

correntes ideológicas do século XIX:

A filosofia clássica alemã (Hegel e

Ludwig Feuerbach);

A economia política clássica inglesa (Adam Smith e DavidRicardo);

O socialismo francês;

Em ligação com as doutrinas revolucionárias francesas em geral. O

carácter coerente e integral das suas ideias, reconhecido pelos próprios

adversários e que, no seu conjunto, constituem o materialismo moderno e o

socialismo científico moderno como teoria e programa do movimento operário

de todos os países civilizados.

 A luta de classes

Em qualquer sociedade, as aspirações de uns contrariam as de outros, a

vida social está cheia de contradições, a História mostra-nos uma sucessão de

períodos de revolução e de reacção, de paz e de guerra, de estagnação e de

progresso rápido ou de decadência.

O marxismo permitiu descobrir a existência de leis num mundo cheio de

interligações e contradições: a teoria da luta de classes. Só o estudo do

conjunto das aspirações de todos os membros de uma sociedade definir, com

uma precisão científica, o resultado destas ambições. Pois, as aspirações

contraditórias nascem da diferença de situação e de condições de vida das

classes em que se divide a sociedade.

Ilustração 6: 

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 12

"A história de toda a sociedade até agora existente e a história de lutas 

de classes. O homem livre e o escravo, (...), opressores e oprimidos, estiveram 

em constante antagonismo entre si, travaram uma luta ininterrupta, umas vezes 

oculta, que acabou sempre com uma transformação revolucionária de toda a 

sociedade ou com o declínio comum das classes em conflito... A moderna 

sociedade burguesa, saída do declínio da sociedade feudal, não acabou com 

os antagonismos de classe. Não fez mais do que colocar novas classes, novas 

condições de opressão, novos aspectos da luta no lugar dos anteriores. A

nossa época, a época da burguesia, distingue-se, contudo por ter simplificado 

os antagonismos de classe. Toda a sociedade está a cindir-se cada vez mais 

em dois grandes campos hostis, em duas grandes classes em confronto 

directo: a burguesia e o proletariado."  Escreve Marx no Manifesto do Partido

Comunista.

A seguinte passagem do Manifesto do Partido Comunista mostra-nos o

que Marx exigia da ciência social para a análise objectiva da situação de cadaclasse no seio da sociedade moderna, em ligação com a análise das condições

do desenvolvimento de cada classe:

"De todas as classes que hoje em dia defrontam a burguesia só o 

proletariado é uma classe realmente revolucionária. As demais classes vão-se 

arruinando e esmorecem com a grande indústria; o proletariado é o produto 

mais característico desta. As camadas médias, o pequeno industrial, o 

pequeno comerciante, o artífice, o camponês, lutam todos contra a burguesia 

para assegurarem a sua existência como camadas médias, antes do declínio.

Não são pois revolucionárias, mas conservadoras. Mais ainda, são 

reaccionárias, pois procuram pôr a andar para trás a roda da história. Se são 

revolucionárias, são-no apenas em termos da sua iminente passagem para o 

proletariado, o que quer dizer que não defendem os seus interesses presentes,

mas os futuros, o que quer dizer que abandonam a sua posição social própria e 

se colocam na do proletariado ”  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 13

Socialismo

Marx aborda a transformação inevitável da sociedade capitalista em

sociedade socialista a partir única e exclusivamente da lei económica do

movimento da sociedade moderna.

A socialização do trabalho (manifesta-se sobretudo pela extensão da

grande indústria, dos cartéis, dos sindicatos, dos trusts capitalistas e também

pelo grande aumento das proporções e do poder do capital financeiro) é base

material para o início inevitável do socialismo. O agente físico desta

transformação são, os operários, educados pelo próprio capitalismo. 

As formas superiores do capitalismo moderno criam condições para uma

nova forma da família, novas condições para a mulher e para a educação, a

dissolução da família tradicional (em que a mulher ficava em casa e o homem

trabalhava) pelo capitalismo.

Socializaçãoda produçao

Transformaçao dos meios deproduçao em propriedade social

•Aumento da Produtividade;

•Reduçao da jornada de trabalho;•Substituição da pequena produção primitiva pelo

trabalho colectivo aperfeiçoado;

Tabela 1:  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 14

"A grande indústria, pelo papel decisivo que confere às mulheres, aos 

 jovens e as crianças dos dois sexos nos processos de produção socialmente 

organizadas e fora da esfera familiar, cria urna nova base económica para uma 

forma superior da família e das relações entre ambos os sexos. E,

naturalmente, tão absurdo considerar como absoluta, a forma germano-cristã 

da família como as antigas formas romana, grega ou oriental, que constituem,

de resto, uma só linha de desenvolvimento histórico. É igualmente evidente que 

a composição do pessoal operário por indivíduos de ambos os sexos e de 

todas as idades - que na sua forma primária, brutal, capitalista, em que o 

operário existe para o processo de produção, e não o processo de produção 

para o operário, constitui uma fonte envenenada de ruína e de escravidão - 

deve transformar-se, inevitavelmente, em condições adequadas, numa fonte de 

progresso humano "4 

4 K. Marx, O Capital, fim do 13.º capítulo 

Ilustração 7:  

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 15

Ideologia Económica

Da sua mais famosa obra, “O Capital” de três

volumes dos quais apenas o primeiro foi publicado em

vida. Os conceitos mais importantes estudados na obra de

Marx foram: o capital, o valor, a classe social, a mais-valia,

a força de trabalho e a mercadoria

"O objectivo final desta obra, é descobrir a lei económica do movimentoda sociedade moderna"5, isto é, da sociedade capitalista, da sociedade

burguesa. O estudo das relações de produção de uma sociedade dominada

pela produção de mercadorias.

Capital e Força de Trabalho

Para Marx o factor produtivo capital surge com a burguesia, considerada

uma classe social que se desenvolveu após o desaparecimento do sistema

feudal e que se apropriou dos meios de produção. A outra classe social, o

proletariado, é obrigada a vender a sua força de trabalho como meio para

sobreviver, pois não têm meios para produzir o necessário para satisfazer as

suas necessidades.

Nessa relação, consideram-se como principais meios de produção: o

capital e a força de trabalho, que se considera como mercadoria. Neste modelocapitalista, apenas existem duas classes sociais:

5 Diz Marx no prefácio de O Capital. 

Capitalistas

•Proprietarios dos meios de produçao

Operários

•Proprietários da força de trabalho

Ilustração 8: "O Capital" 

Tabela 2:  

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 16

O Capital propriamente dito existe quando a mercadoria comprada e

vendida é, a força de trabalho, pois esse trabalho assalariado é o que define as

relações de produção particulares ao capitalismo.

Para encontrar a medida de trabalho devemo-nos abstrair do trabalho na 

sua forma concreta. "Portanto, um valor de uso ou um bem possui valor,

apenas, porque nele está objetivado ou materializado trabalho humano 

abstrato ” 6  

"Todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem 

no sentido fisiológico, e nessa qualidade de trabalho humano igual ou trabalho 

humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado,

dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada 

a um fim, e nessa qualidade de trabalho humano concreto útil produz valores 

de uso.” 7  

6 K. Marx, O Capital 7 K. Marx, O Capital  

Trabalho

Realização,Criação e

Emancipação

Mercadoria

Tabela 3:  

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 17

O trabalho de cada indivíduo ou grupo de indivíduos é

trabalho social no sentido de que contribui para as

necessidades da sociedade. Essas necessidades exigem todo

o tipo de diferentes produtos - não só vários tipos de alimentos,

mas também vestuário, meios de transporte, instrumentos

necessários na produção...

Isto quer dizer que é necessário que diferentes tipos de trabalho útil sejam

levados a cabo. Se cada um produzisse somente um tipo de produto então logoa sociedade entraria em colapso.

"Essa necessidade da distribuição de trabalho social em proporções 

definidas não pode possivelmente ser suprimida por uma forma particular de 

produção social ” (Marx).

Mas há uma diferença fundamental entre o capitalismo e outros modos de

produção. O capitalismo não possui mecanismos através dos quais a

sociedade pode decidir coletivamente o quanto de seu trabalho será

direcionado a determinadas tarefas

Ilustração 9 : 

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Ideologia Económica de Karl Marx Economia do Turismo

Filipe André Sousa Nº4090120 Página 18

 A lei do valor

A mercadoria é, em primeiro lugar, uma coisa que satisfaz uma qualquer

necessidade do homem; em segundo lugar, é uma coisa que se pode trocar

por outra. A utilidade de uma coisa faz dela um valor de uso. O valor de troca

(ou simplesmente o valor) é, em primeiro lugar, a proporção na troca de um

certo número de valores de uso de uma espécie contra um certo número de

valores de uso de outra espécie. Trocando os seus produtos, os homens criam

relações de equivalência entre os mais diferentes géneros de trabalho.

A produção das mercadorias é um sistema de relações sociais no qual os

diversos produtores criam produtos variados (divisão social do trabalho) e em

que todos estes produtos se equiparam uns aos outros na troca. Por

conseguinte, o que é comum a todas as mercadorias não é o trabalho concreto

de um determinado ramo de produção, mas o trabalho humano em geral. Cada

mercadoria considerada isoladamente apenas representa uma certa parte do

tempo de trabalho socialmente necessário para a produzir.

A dimensão do valor é determinada pela quantidade de trabalho

socialmente necessário ou pelo tempo de trabalho socialmente necessário para

a produção de determinada mercadoria, de determinado valor de uso. "Ao 

equiparar os seus diversos produtos na troca como valores, os homens 

equiparam os seus diversos trabalhos como trabalho humano. Não se dão 

conta, mas fazem-no." 8 

; "Como valores, todas as mercadorias são apenas quantidades determinadas de tempo de trabalho cristalizado." 9  

8 K. Marx, O Capital, t. 1, capítulo I  9 K. Marx, Contribuição para a Crítica da Economia Política, capítulo I  

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Depois de uma análise do trabalho incorporado nas

mercadorias, Marx passa à análise da forma do valor e do

dinheiro. 

A principal tarefa a que Marx se propôs foi investigar a origem da forma

dinheiro do valor, começando pelos actos de troca particulares e fortuitos

(forma simples, particular ou acidental do valor: uma quantidade determinada

de uma mercadoria é trocada por uma quantidade determinada de outra

mercadoria), para passar à forma geral do valor, quando várias mercadoriasdiferentes são trocadas por outra mercadoria determinada e concreta, e acabar

na forma dinheiro do valor, o equivalente geral. Segundo Marx, o dinheiro

encobre e dissimula o carácter social dos trabalhos parciais, a ligação social

entre diversos produtores unidos pelo mercado.

"O dinheiro supõe certo nível de troca de mercadorias. As formas 

particulares do dinheiro, simples equivalente de mercadorias, meio de 

circulação, meio de pagamento, tesouro ou dinheiro universal, indicam,

conforme o diferente alcance e a preponderância relativa de uma dessas 

funções, graus muito diversos do processo social de produção" 10  

10 K. Marx, O Capital, t. 1, capítulo IV 

Ilustração 10:  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 20

Teoria da mais-valia

Num certo grau do desenvolvimento da produção de mercadorias, o

dinheiro transforma-se em capital. A fórmula da circulação de mercadorias era:

Isto é, a venda de uma mercadoria para a compra de outra. Pelo

contrário, a fórmula geral do capital é:

Isto é, compra para a venda (com lucro). E a este acréscimo do valor

primitivo do dinheiro posto em circulação que Marx chama mais-valia.

Mercadoria Dinheiro Mercadoria

Dinheiro Mercadoria Dinheiro

 

Tabela 4:  

Tabela 5:  

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É este "acréscimo" do dinheiro na circulação capitalista que transforma o

dinheiro em capital, ou seja, numa relação social de produção historicamente

determinada. A mais-valia não pode provir da circulação das mercadorias,

porque esta só conhece a troca de equivalentes, nem pode provir de um

aumento dos preços porque as perdas e os lucros recíprocos dos compradores

e dos vendedores equilibrar-se-iam. Para obter a mais-valia "seria preciso que

o possuidor do dinheiro descobrisse no mercado uma mercadoria cujo valor de

uso fosse dotado da propriedade singular de ser fonte de valor"11, uma

mercadoria que simultaneamente o seu processo de consumo fosse um

processo de criação de valor. Esta mercadoria é a força de trabalho humana. O

seu uso é o trabalho, e o trabalho cria valor.

O possuidor de dinheiro compra a força de trabalho pelo seu valor, que,

como o de qualquer outra mercadoria, é determinado pelo tempo de trabalho

socialmente necessário para a sua produção, isto é, pelo custo da manutenção

do operário e da sua família.

Tabela 6: 

11 K. Marx, O Capital, t. 1, capítulo IV  

•Possuidor dedinheiro

Compra

•Força de Trabalho

Produz•Tempo de trabalho

necessário;

•Tempo de TrabalhoSuplementar;

É criada mais-valia

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Tendo comprado a força de trabalho, o possuidor

do dinheiro fica com o direito de a consumir, isto é, de a

obrigar a trabalhar durante um dia inteiro, suponhamos

durante doze horas. Mas em seis horas (tempo de

trabalho "necessário"), o operário cria um produto que

cobre as despesas da sua manutenção, e durante as

outras seis horas (tempo de trabalho "suplementar"), cria um "sobreproduto"

não retribuído pelo capitalista, que constitui a mais-valia.

“Mas que se passa na troca entre capitalista e operário assalariado? 

O operário recebe meios de subsistência em troca da sua força de 

trabalho, mas o capitalista, em troca dos seus meios de subsistência, recebe 

trabalho, a actividade produtiva do operário, a força criadora por meio da qual o 

operário não só substitui o que consome como dá  ao trabalho acumulado um

valor superior ao que anteriormente possuía. O operário recebe do capitalista uma parte dos meios de subsistência existentes. Para que lhe servem estes 

meios de subsistência? Para o consumo imediato. Mas logo que eu consumo 

meios de subsistência, eles ficam irremediavelmente perdidos para mim, a 

menos que eu aproveite o tempo durante o qual esses meios me conservam 

vivo para produzir novos meios de subsistência, para durante o consumo 

substituir com o meu trabalho por novos valores os valores que desaparecem 

ao ser consumidos. Mas mesmo nesta nobre força reprodutiva o operário cede 

ao capital em troca de meios de subsistência recebidos. Ele próprio a perdeu,

 portanto.” 12  

Ao comprar a força de trabalho ao operário, o capitalista sabe que paga

menos do que o valor que ele vai produzir.

12 K. Marx, Trabalho assalariado e o capital, Abril de 1849 

Ilustração 11:  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 23

Essa lógica segundo Marx, não depende da boa ou má vontade do

capitalista individualmente. È a livre concorrência que impõe a todos os

capitalistas as leis da produção capitalista.

Se um capitalista resolvesse ser bonzinho e deixasse de obrigar os seus

empregados a um sobre trabalho capaz de lhe proporcionar mais valia a sua

empresa iria à falência. Frequentemente se confunde mais-valia com lucro

Do ponto de vista do processo de produção é necessário distinguir duas

partes do capital:

O capital constante, investido nos meios de produção (máquinas,

instrumentos de trabalho, matérias-primas, etc.), cujo valor passa

sem modificação para o produto acabado;

O capital variável, que é investido para pagar a força de trabalho.O valor deste capital não se conserva invariável; antes aumenta no

processo do trabalho, criando mais-valia;

Assim, para exprimir o grau de exploração da força de trabalho pelo

capital temos de comparar a mais-valia não com o capital total, mas

unicamente com o capital variável. A taxa de mais-valia, nome dado por Marx a

essa relação, seria, no nosso exemplo, de 6/6 de 100%.

“We should not say that one man's hour is worth another man's hour, but 

rather that one man during an hour is worth just as much as another man during 

an hour. Time is everything, man is nothing: he is at the most time's carcass.” 13  

13 Karl Marx

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 24

A causa histórica para o aparecimento do capital está, em primeiro lugar,

na acumulação de uma certa soma de dinheiro nas mãos de certas pessoas

num estado de desenvolvimento da produção de mercadorias em geral já

relativamente elevado; em segundo lugar, na existência de operários de

quaisquer entraves ou restrições para venderem a sua força de trabalho, e

livres por não terem terras nem meios de produção em geral e que não podem

subsistir senão vendendo a sua força de trabalho.

O aumento da mais-valia é possível graças a dois processosfundamentais: o prolongamento da jornada de trabalho ("mais-valia absoluta") pois, se os trabalhadores gastam 14 horas ao invés de 12 horas no trabalho,

quando o trabalho necessário é ainda somente 6 horas, então mais 2 horas de

trabalho são adicionadas. A taxa de mais-valia aumentou de 6/6 para 8/6, ou

de 100% para 133%. e a redução do tempo de trabalho necessário ("mais-valia

relativa").

Uma importante novidade foi a análise da acumulação do capital de Marx,

isto é, da transformação de uma parte da mais-valia em capital e do seu

emprego não para satisfazer as necessidades pessoais ou os desejos do

capitalista, mas para voltar a produzir. Marx assinalou o erro de toda a

economia política clássica anterior (desde Adam Smith), segundo a qual toda a

mais-valia que se convertia em capital passava a fazer parte do capital variável.

Enquanto, na realidade, ela se decompõe em meios de produção e em capital

variável. O crescimento mais rápido da parte do capital constante (no montante

total do capital) em relação à parte do capital variável tem, no processo de

desenvolvimento do capitalismo e da sua transformação em socialismo, uma

grande importância

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 25

Acelerando a substituição dos operários pelas máquinas e criando a

riqueza num pólo e a miséria no outro, a acumulação do capital gera assim o

chamado "exército de reserva do trabalho" ou o "excedente relativo" de

operários, que se compõe de formas extremamente variadas e dá ao capital a

possibilidade de ampliar muito rapidamente a produção.

É necessária a distinção entre a acumulação do capital na base do

capitalismo e a chamada acumulação primitiva, que se verifica quando se retira

ao trabalhador os meios de produção, se expulsa o camponês das suas terras,se roubam às terras comunais e imperam o sistema colonial e o sistema das

dívidas públicas, as tarifas alfandegárias proteccionistas, etc. A "acumulação

primitiva" cria, num pólo, o proletário "livre", no outro, o detentor do dinheiro, o

capitalista.

Ilustração 12: Cartoon alusivo à mais-valia  

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"A expropriação dos produtores directos faz-se com o vandalismo mais 

impiedoso e sob a pressão das paixões mais infames, mais ignóbeis,

mesquinhas e odiosas. A propriedade privada, ganha com o trabalho pessoal  e 

que o indivíduo livre criou, identificando-se de certo modo com os instrumentos 

e as condições do seu trabalho, é substituída pela propriedade privada 

capitalista que assenta na exploração do trabalho de outrem, o qual não tem 

mais que uma aparência de liberdade... O que se trata agora de expropriar não 

é já o operário que explora ele próprio a sua própria propriedade, mas o 

capitalista que explora numerosos operários. Cada capitalista mata muitos 

outros. E paralelamente a esta centralização, isto é, à expropriação de muitos 

capitalistas por alguns, desenvolve-se, numa escala cada vez maior e mais 

ampla, a forma cooperativa do processo de trabalho, desenvolve-se a 

aplicação técnica consciente da ciência, a exploração sistemática do solo, a 

transformação dos meios de trabalho em meios que não podem ser utilizados 

senão em comum (...). À medida que diminui constantemente o número dos 

magnatas do capital, que usurpam e monopolizam todas as vantagens deste processo de transformação, cresce no seu conjunto a miséria, a opressão, a 

escravidão, a degeneração, a exploração; mas também aumenta, ao mesmo 

tempo, a revolta da classe operária, que é instruída, unida e organizada pelo 

próprio mecanismo do processo de produção capitalista. O monopólio do 

capital torna-se o entrave do modo de produção que se desenvolveu com ele e 

graças a ele. A centralização dos meios de produção e a socialização do 

trabalho chegam a um ponto em que se tornam incompatíveis com o seu invólucro capitalista, que acaba por rebentar. Soa a última hora da propriedade 

privada capitalista. Os expropriadores são por sua vez expropriados."14 

14 K. Marx, O Capital, I 13. 

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 27

Outro ponto importante e novo é a análise feita por Marx da reprodução

do capital social no seu conjunto. Também aqui, ele considera não ser um

fenómeno individual, mas um fenómeno geral, não uma fracção da economia

social, mas a economia na sua totalidade.

Marx divide toda a produção social em duas grandes secções: Tabela 7: 

Marx examina em pormenor, a circulação do capital social no seu

conjunto, tanto na reprodução simples como na acumulação. No tomo III de O

Capital resolve-se, de acordo com a lei do valor, o problema da formação da

taxa média de lucro. Um imenso progresso foi alcançado na ciência económica

pelo facto de a análise de Marx partir de fenómenos económicos gerais, do

conjunto da economia social, e não de casos isolados. Marx analisa primeiro a

origem da mais-valia e passa em seguida à sua decomposição em lucro, juro erenda da terra. O lucro é a relação entre a mais-valia e o conjunto do capital

investido numa empresa. O capital de "elevada composição orgânica" (isto é,

em que o capital constante ultrapassa o capital variável em proporções

superiores à média social) dá uma taxa de lucro inferior à média. O capital de

"baixa composição orgânica" dá uma taxa de lucro superior à média.

Produçao de meios de produção

Produção de artigos de consumo

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 28

A soma dos valores de todas as mercadorias numa dada sociedade

coincide com a soma dos preços das mercadorias, mas, em cada empresa, sob

influência da concorrência, as mercadorias são vendidas não pelo seu valor,

mas pelo preço de produção, que é igual ao capital investido, mais o lucro

médio.

Assim, a diferença entre o preço e o valor e a igualização do lucro são

explicados por Marx com base na lei do valor, porque a soma dos valores de

todas as mercadorias coincide com a soma dos seus preços.

O aumento da produtividade do trabalho significa um crescimento mais

rápido do capital constante em relação ao capital variável. Logo, sendo a mais-

valia função apenas do capital variável, compreende-se que a taxa de lucro (a

relação entre a mais-valia e todo o capital, e não apenas entre a mais-valia e a

parte variável do capital) tenha tendência para baixar.

Teoria da renda da terra

Sendo a superfície do solo limitada e estando, nos países capitalistas,

inteiramente ocupada por proprietários particulares, o custo de produção dos

produtos da terra é determinado pelos gastos de produção, não nos terrenos

de qualidade média, mas nos da pior qualidade, e pelas condições de

transporte (não médias, mas pelas mais desfavoráveis) dos produtos para o

mercado. A diferença entre este preço e o preço de produção num terreno de

qualidade superior (ou em melhores condições) constitui a renda diferencial.

Graças a uma análise pormenorizada desta

renda, demonstra que ela provém da

diferença da fertilidade dos terrenos e da

diferença dos capitais investidos na cultura.

Ilustra ão 13:  

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Filipe André Sousa Nº4090120 Página 29

A igualdade do lucro, em todos os ramos da indústria e da economia

nacional em geral, supõe uma liberdade completa de concorrência, a liberdade

de transferir o capital de um ramo para outro. Mas a propriedade privada da

terra cria um monopólio que é um obstáculo a essa livre transferência. Devido a

esse monopólio, os produtos de uma agricultura que se distingue por uma

baixa composição orgânica do capital e que, por consequente, dá uma taxa de

lucro individual mais elevada e não entram no livre jogo de igualização da taxa

de lucro porque o proprietário agrícola, que detém o monopólio da terra, pode

manter o preço acima da média que dá origem à renda absoluta.

A renda diferencial não pode ser abolida em regime capitalista; mas, ao

contrário, a renda absoluta pode sê-lo, por exemplo, com a nacionalização da

terra quando esta passa a propriedade do Estado. Esta passagem da terra

para o Estado significaria a eliminação do monopólio dos proprietários

agrícolas, uma liberdade de concorrência mais completa na agricultura.

Importa igualmente assinalar, na história da renda da terra, a análise em

que Marx demonstra a transformação da renda em trabalho (quando o

camponês, trabalhando na terra do senhor, cria um sobreproduto) em renda em

produtos ou renda em espécie (quando o camponês cria na sua própria terra

um sobreproduto que entrega ao proprietário em virtude de uma "coerção

extra-económica") depois em renda em dinheiro (renda em espécie

transformada em dinheiro), finalmente, em renda capitalista (quando o

camponês é substituído pelo empresário agrícola, que cultiva a terra com a

ajuda do trabalho assalariado). "A expropriação e a expulsão da aldeia de uma 

parte da população camponesa não só "libertam" para o capital industrial os 

operários, os seus meios de subsistência e os seus instrumentos de trabalho,

como lhe criam, além disso, o mercado interno "15.

15K. Marx, O Capital, I2, p. 778  

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Conclusão

Com este trabalho concluo que as ideologias económicas de Marx sãomarcadas por uma forte preocupação social em especial com os trabalhadores,suas condições de trabalho e a luta entre classes. As suas ideologias querpolíticas, quer económicas são também caracterizadas por uma grandecomponente filosófica.

Marx deixou uma marca no tempo com os seus pensamentos, teorias esua atitude revolucionária e de luta, por isso Karl Marx ainda é uma figura muito

falada hoje em dia.

“From each according to his abilities, to each according to his needs.” 16  

16 “De cada um, de acordo com as suas habilidades, para cada de acordo com as suasnecessidades”, Karl Marx 

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Bibliografia:

  www.marxist.org  Www.google.pt Karl Marx: Breve Esboço Biográfico Seguido de uma Exposição do

Marxismo, Granat Encyclopaedia, Seventh Edition, Volume28, V. Ilyin1915

Para a Crítica da Economia Política, Karl Marx, no livro Zur Kritik der Politischen Oekonomie , Berlim 1859

O Capital, Karl Marx Trabalho assalariado e capital, Publicado segundo o texto de: Karl Marx,

Lohnarbeit und Kapital, 1849

Sebenta e ficheiros de apoio da Unidade Curricular Economia do

Turismo, leccionada por Simão Oliveira, 2009\2010

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Textos em Anexo

Luta de Classes e Luta Política

A grande indústria aglomera num mesmo local uma multidão de pessoas

que não se conhecem. A concorrência divide os seus interesses. Mas a

manutenção do salário, este interesse comum que têm contra o seu patrão, os

reúne num mesmo pensamento de resistência - coalizão. A coalizão, pois, tem

sempre um duplo objectivo: fazer cessar entre elas a concorrência, para poderfazer uma concorrência geral ao capitalista. Se o primeiro objectivo da

resistência é apenas a manutenção do salário, à medida que os capitalistas,

por seu turno, se reúnem em um mesmo pensamento de repressão, as

coalizões, inicialmente isoladas, agrupam-se e, em face do capital sempre

reunido, a manutenção da associação torna-se para elas mais importante que a

manutenção do salário. [...] Nessa luta - verdadeira guerra civil -, reúnem-se e

se desenvolvem todos os elementos necessários a uma batalha futura. Umavez chegada a esse ponto, a associação adquire um carácter político.

As condições económicas, inicialmente, transformaram a massa do país

em trabalhadores. A dominação do capital criou para essa massa uma situação

comum, interesses comuns. Essa massa, pois, é já, em face do capital, uma

classe, mas ainda não o é para si mesma. Na luta, [...], essa massa se reúne,

se constitui em classe para si mesma. Os interesses que defendem se tornam

interesses de classe. Mas a luta entre classes é uma luta política.

[...] Uma classe oprimida é a condição vital de toda sociedade fundada no

antagonismo entre classes. A libertação da classe oprimida implica, pois,

necessariamente, a criação de uma sociedade nova. Para que a classe

oprimida possa libertar-se, é preciso que os poderes produtivos já adquiridos e

as relações sociais existentes não possam mais existir uns ao lado de outras.

De todos os instrumentos de produção, o maior poder produtivo é a classerevolucionária. A organização dos elementos revolucionários como classe

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supõe a existência de todas as forças produtivas que poderiam se engendrar

no seio da sociedade antiga.

Isso significa que, após a ruína da velha sociedade, haverá uma nova

dominação de classe, resumindo-se em um novo poder político? Não. A

condição da libertação da classe laboriosa é a abolição de toda classe, assim

como a condição da libertação do terceiro estado, da ordem burguesa, foi a

abolição de todos os estados [aqui, estado significa as ordens da sociedade

feudal] e de todas as ordens.

A classe laboriosa substituirá, no curso do seu desenvolvimento, a antiga

sociedade civil por uma associação que excluirá as classes e seu antagonismo,

e não haverá mais poder político propriamente dito, já que o poder político é o

resumo oficial do antagonismo na sociedade civil.

Entretanto, o antagonismo entre o proletariado e a burguesia é uma luta

de uma classe contra outra, luta que, levada à sua expressão mais alta, é umarevolução total. [...] Não se diga que o movimento social exclui o movimento

político. Não há, jamais, movimento político que não seja, ao mesmo tempo,

social.

Somente numa ordem de coisas em que não existam mais classes e

antagonismos entre classes as evoluções sociais deixarão de ser revoluções

políticas. Até lá, às vésperas de cada reorganização geral da sociedade, a

última palavra da ciência social será sempre: "O combate ou a morte: a luta

sanguinária ou nada. É assim que a questão está irresistivelmente posta".

Karl Marx, Abril 1847

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Para a Crítica da Economia Política

Considero o sistema da economia burguesa por esta ordem: capital,

propriedade fundiária, trabalha assalariado; Estado, comércio externo, mercado 

mundial. Sob as três primeiras rubricas investigo as condições económicas de

vida das três grandes classes em que se decompõe a sociedade burguesa

moderna; a conexão das três outras rubricas salta à vista. A primeira secção do

livro, que trata do capital, consiste dos seguintes capítulos:

1. A mercadoria;

2. O dinheiro ou a circulação simples;

3. O capital em geral.

Os dois primeiros capítulos formam o conteúdo do presente fascículo.

Tenho diante de mim todo o material sob a forma de monografias, as quais

foram redigidas, em períodos que distam largamente uns dos outros, para

minha própria compreensão, não para o prelo, e cuja elaboração conexasegundo o plano indicado dependerá de circunstâncias exteriores.

Suprimo uma introdução geral que tinha esboçado porque, reflectindo

mais a fundo, parece-me prejudicial toda a antecipação de resultados ainda a

comprovar, e o leitor que me quiser de facto seguir terá de se decidir a

ascender do singular para o geral. Algumas alusões ao curso dos meus

próprios estudos político-económicos poderão, pelo contrário, ter aqui lugar.

O meu estudo universitário foi o da jurisprudência, o qual no entanto só

prossegui como disciplina subordinada a par de filosofia e história. No ano de

1842-43, como redactor da Rheinische Zeitung , vi-me pela primeira vez,

perplexo, perante a dificuldade de ter também de dizer alguma coisa sobre o

que se designa por interesses materiais. Os debates do Landtag Renano sobre

roubo de lenha e parcelamento da propriedade fundiária, a polémica oficial que

Herr  von Schaper, então Oberprásident  da província renana, abriu com aRheinische Zeitung sobre a situação dos camponeses do Mosela, por fim as

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discussões sobre livre-cambismo e tarifas alfandegárias proteccionistas deram-

me os primeiros motivos para que me ocupasse com questões económicas.

Por outro lado, tinha-se nesse tempo — em que a boa vontade de"ir por diante"

repetidas vezes contrabalançava o conhecimento das questões — tornado

audível na Rheinische Zeitung um eco do socialismo e comunismo francês, sob

uma ténue coloração filosófica. Declarei-me contra esta remendaria, mas ao

mesmo tempo confessei abertamente, numa controvérsia com a Allgemeine 

Augsburger Zeitung , que os meus estudos até essa data não me permitiam

arriscar eu próprio qualquer juízo sobre o conteúdo das orientações francesas.

Preferi agarrar a mãos ambas a ilusão dos directores da Rheinische Zeitung,

que acreditavam poder levar a anular a sentença de morte passada sobre o

 jornal por meio duma atitude mais fraca deste, para me retirar do palco público

e recolher ao quarto de estudo.

O primeiro trabalho, empreendido para resolver as dúvidas que me

assaltavam, foi uma revisão crítica da filosofia do direito que Hegel, umtrabalho cuja introdução apareceu nos Deutsch-Französische Jahrbüche  

publicados em Paris em 1844. A minha investigação desembocou no resultado

de que relações jurídicas, tal como formas de Estado, não podem ser

compreendidas a partir de si mesmas nem a partir do chamado

desenvolvimento geral do espírito humano, mas enraízam-se, isso sim, nas

relações materiais da vida, cuja totalidade Hegel, na esteira dos ingleses e

franceses do século XVIII, resume sob o nome de"sociedade civil", e de que a

anatomia da sociedade civil se teria de procurar, porém, na economia política.

A investigação desta última, que comecei em Paris, continuei em Bruxelas,

para onde me mudara em consequência duma ordem de expulsão do Sr.

Guizot. O resultado geral que se me ofereceu e, uma vez ganho, serviu de fio

condutor aos meus estudos, pode ser formulado assim sucintamente: na

produção social da sua vida os homens entram em determinadas relações,

necessárias, independentes da sua vontade, relações de produção que

correspondem a uma determinada etapa de desenvolvimento das suas forças

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produtivas materiais. A totalidade destas relações de produção forma a

estrutura económica da sociedade, a base real sobre a qual se ergue uma

superstrutura jurídica e política, e à qual correspondem determinadas formas

da consciência social. O modo de produção da vida material é que condiciona o

processo da vida social, política e espiritual. Não é a consciência dos homens

que determina o seu ser, mas, inversamente, o seu ser social que determina a

sua consciência. Numa certa etapa do seu desenvolvimento, as forças

produtivas materiais da sociedade entram em contradição com as relações de

produção existentes ou, o que é apenas uma expressão jurídica delas, com as

relações de propriedade no seio das quais se tinham até aí movido. De formas

de desenvolvimento das forças produtivas, estas relações transformam-se em

grilhões das mesmas. Ocorre então uma época de revolução social. Com a

transformação do fundamento económico revoluciona-se, mais devagar ou

mais depressa, toda a imensa superstrutura. Na consideração de tais

revolucionamentos tem de se distinguir sempre entre o revolucionamento

material nas condições económicas da produção, o qual é constatávelrigorosamente como nas ciências naturais, e as formas jurídicas, políticas,

religiosas, artísticas ou filosóficas, em suma, ideológicas, em que os homens

ganham consciência deste conflito e o resolvem. Do mesmo modo que não se

 julga o que um indivíduo é pelo que ele imagina de si próprio, tão-pouco se

pode julgar uma tal época de revolucionamento a partir da sua consciência,

mas se tem, isso sim, de explicar esta consciência a partir das contradições da

vida material, do conflito existente entre forças produtivas e relações deprodução sociais. Uma formação social nunca decai antes de estarem

desenvolvidas todas as forças produtivas para as quais é suficientemente

ampla, e nunca surgem relações de produção novas e superiores antes de as

condições materiais de existência das mesmas terem sido chocadas no seio da

própria sociedade velha. Por isso a humanidade coloca sempre a si mesma

apenas as tarefas que pode resolver, pois que, a uma consideração mais

rigorosa, se achará sempre que a própria tarefa só aparece onde já existem, oupelo menos estão no processo de se formar, as condições materiais da sua

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resolução. Nas suas grandes linhas, os modos de produção asiático, antigo,

feudal e, modernamente, o burguês podem ser designados como épocas

progressivas da formação económica e social. As relações de produção

burguesas são a última forma antagónica do processo social da produção,

antagónica não no sentido de antagonismo individual, mas de um antagonismo

que decorre das condições sociais da vida dos indivíduos; mas as forças

produtivas que se desenvolvem no seio da sociedade burguesa criam, ao

mesmo tempo, as condições materiais para a resolução deste antagonismo.

Com esta formação social encerra-se, por isso, a pré-história da sociedade

humana.

Friedrich Engels, com quem mantive por escrito uma constante troca de

ideias desde o aparecimento do seu genial esboço para a crítica das categorias

económicas (nos Deutsch-Französische Jahrbücher), tinha chegado comigo,

por uma outra via (comp. a sua Situação da Classe Operária em Inglaterra), ao

mesmo resultado, e quando, na Primavera de 1845, ele se radicou igualmenteem Bruxelas, decidimos esclarecer em conjunto a oposição da nossa maneira

de ver contra a [maneira de ver] ideológica da filosofia alemã, de facto ajustar

contas com a nossa consciência [Gewissen] filosófica anterior. Este propósito

foi executado na forma de uma crítica à filosofia pós-hegeliana. O manuscrito,

dois grossos volumes em oitavo, chegara havia muito ao seu lugar de

publicação na Vestefália quando recebemos a notícia de que a alteração das

circunstâncias não permitia a impressão do livro. Abandonámos o manuscrito à

crítica roedora dos ratos de tanto melhor vontade quanto havíamos alcançado

o nosso objectivo principal — auto compreensão. Dos trabalhos dispersos em

que apresentámos então ao público as nossas opiniões, focando ora um

aspecto ora outro, menciono apenas o Manifesto do Partido Comunista,

redigido conjuntamente por Engels e por mim, e um Discours sur le libre

échange publicado por mim. Os pontos decisivos da nossa maneira de ver

foram primeiro referidos cientificamente, se bem que polemicamente, no meu

escrito editado em 1847, e dirigido contra Proudhon, Misere de la philosophie,

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etc. Um estudo escrito em alemão sobre o Trabalho Assalariado, em que juntei

as minhas conferências sobre este assunto proferidas na Associação dos

Operários Alemães em Bruxelas, foi interrompido no prelo pela revolução de

Fevereiro e pelo meu afastamento forçado da Bélgica ocorrido em

consequência da mesma.

A publicação da Neue Rheinische Zeiturg  em 1848 e 1849, e os

acontecimentos que posteriormente se seguiram interromperam os meus

estudos económicos, os quais só puderam ser retomados em Londres no anode 1850. O material imenso para a história da economia política que está

acumulado no British Museum, o ponto de vista favorável que Londres oferece

para a observação da sociedade burguesa, [e] finalmente o novo estádio de

desenvolvimento em que esta última pareceu entrar com a descoberta do ouro

da Califórnia e da Austrália determinaram-me a começar de novo tudo de

princípio e a trabalhar criticamente o novo material. Estes estudos conduziram,

em parte por si mesmos, a disciplinas aparentemente muito distanciadas emque eu tinha de permanecer menos ou mais tempo. Mas o tempo ao meu

dispor era nomeadamente reduzido pela necessidade imperiosa de uma

actividade remunerada. A minha colaboração, agora de oito anos, no primeiro

 jornal anglo-americano, o New-York Tribune , tornou necessária, como só

excepcionalmente me ocupo com correspondência jornalística propriamente

dita, uma extraordinária dispersão dos estudos. Entretanto, [os] artigos sobre

acontecimentos económicos notórios em Inglaterra e no Continente constituíam

uma parte tão significativa da minha colaboração que fui obrigado a

familiarizar-me com pormenores práticos que ficam fora do âmbito da ciência

da economia política propriamente dita.

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Este esboço sobre o curso dos meus estudos na área da economia

política serve apenas para demonstrar que as minhas opiniões, sejam elas

 julgadas como forem e por menos que coincidam com os preconceitos

interesseiros das classes dominantes, são o resultado duma investigação

conscienciosa e de muitos anos. À entrada para a ciência, porém, como à

entrada para o inferno, tem de ser posta a exigência:

“ Qui si convien lasciare ogni sospetto  

Ogni viltà convien che qui sia morta.” 17  

Karl Marx 

Londres, em Janeiro de 1859  

17 Aqui tem de se banir toda a desconfiança. Toda a cobardia tem aqui de ser morta. (Dante Alighieri, A Divina Comédia.)