dossier de imprensa - a rapariga de 14 de julho · há algo na comédia que é da ordem do...

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Hector, que encontrou Truquette no Museu do Louvre no dia 14 de Julho, só tem um objectivo na sua cabeça: seduzir essa rapariga por quem está obcecado. A melhor forma de o conseguir é levá-la até à costa. O seu amigo Pator não podia estar mais de acordo, especialmente se a rapariga trouxer a melhor amiga, Charlotte… Acompanhados pelo inevitável Bertier, todos partem pelas estradas secundárias do interior da França, onde os bancos não têm dinheiro. Mas isso é normal: estamos em crise! É preciso que a França volte ao trabalho e, em pleno Verão, o Governo decide encurtar as férias num mês. Depois de uma grande reviravolta e uns maços de notas mais tarde, o grupo divide-se, tal como a própria França, entre Julhistas e Agostistas invejosos. Mas remar contra a corrente laboral não assusta os três resistentes, determinados em encontrar a rapariga do 14 de Julho e desfrutar de um verão sem regras…

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Hector, que encontrou T

ruquette no Museu do Louvre no dia 14 de Julho,

só tem um

objectivo na sua cabeça: seduzir essa rapariga por quem está

obcecado. A m

elhor forma de o conseguir é levá-la até à costa. O

seu

amigo P

ator não podia estar mais de acordo, especialm

ente se a rapariga

trouxer a melhor am

iga, Charlotte…

Acom

panhados pelo inevitável Bertier, todos partem

pelas estradas

secundárias do interior da França, onde os bancos não têm

dinheiro. Mas

isso é normal: estam

os em crise! É

preciso que a França volte ao trabalho

e, em pleno V

erão, o Governo decide encurtar as férias num

mês.

Depois de um

a grande reviravolta e uns maços de notas m

ais tarde, o

grupo divide-se, tal como a própria F

rança, entre Julhistas e Agostistas

invejosos. Mas rem

ar contra a corrente laboral não assusta os três

resistentes, determinados em

encontrar a rapariga do 14 de Julho e

desfrutar de um verão sem

regras…

“Fãs da poesia do quotidiano, fujam

.

Adm

iradores do verdadeiro surrealismo,

bem-vindos à casa dos loucos!”

LES IN

ROCKUPTIBLE

S

ENTREVISTA COM ANTONIN PERETJA

TKO

Conhecem

o-lo

como au

tor e realizad

or d

e curtas-m

etragens…

Este film

e inscreve-se no seguimento das m

inhas curtas, foi concebido

com o m

esmo espírito, m

as com um

a montagem

financeira específica e

outro tipo de história. As curtas são feitas para durarem

entre 15 e 20

minutos, nunca m

e senti tentado a fazer uma “pequena-longa”. C

onsiderei

sempre as curtas com

o filmes “verdadeiros”; enquanto a longa se

compunha fiz outros film

es, para não perder a mão, m

as sobretudo

porque não consigo parar de filmar. N

unca descuidei a qualidade do

trabalho destas realizações sob o pretexto de que não eram longas-

metragens de ficção. C

omo diria Lapalisse, considero todos os film

es

como F

ilmes.

A co

média assen

ta geralm

ente so

bre u

ma m

ecânica b

astante

precisa. G

ostaria d

e saber até q

ue p

onto os seu

s argumentos são

rígidos. P

orque o

lado de jo

go de p

alavras, os salto

s e as digressõ

es

do qual p

arece ser entusiasta p

ode levar o

espectad

or a acred

itar

que aco

lhe d

e braço

s aberto

s os in

cidentes d

a rodagem

, e que d

eixa

algum esp

aço para a im

provisação

.

Dizem

muitas vezes que faço “film

es de amigos”, com

muito im

proviso.

Ora não há nada de m

ais errado. Tudo é escrito até à vírgula, quase.

Com

o o plano de trabalho é muito pesado, nunca parto para a rodagem

sem a découpage precisa, sem

fazer a repérage dos cenários, caso

contrário sei que vou perder imenso tem

po. De seguida, durante as

filmagens, tudo se passa m

uito rápido, o que não impede que surjam

ideias. Há pouco espaço para o im

proviso porque a ideia é, por vezes,

inimiga do pensam

ento: uma boa ideia de rodagem

pode ir contra aquilo

que o cenário diz. Por outro lado, o debate com

os actores é muito

importante, m

as no mom

ento certo. É nessa altura que eles podem

propor coisas.

Tem

os a sen

sação de q

ue o

s seus film

es, pela en

ergia q

ue d

estilam,

não poderiam

acomodar-se a u

ma ro

dagem

e a uma eq

uipa m

uito

pesad

as.

Trabalho para que não se sinta esse trabalho. D

aí a necessidade de ter

uma pequena equipa, para ser im

ediatamente reactivo face às

contingências do clima ou de outro tipo, ou poder decidir m

udar o plano

sem que sejam

precisos cinco camiões a entupir o cenário. T

udo isto faz

parte da preparação, a previsão de planos B para recom

eçar de forma

muito rápida. A

lém disso, nunca m

e sento durante a rodagem, não quero

cadeiras nem m

onitores de controlo. Essa equipa pequena perm

ite que

filmem

os de forma ligeira e rápida. S

obretudo quando fazemos gags

visuais, o posicionamento da câm

ara é muito im

portante. Às vezes, basta

apenas mudar um

pouco o ângulo da câmara para que o gag caia por

terra. Há algo na com

édia que é da ordem do cálculo.

Não hesita, q

uer seja n

a curta-m

etragem

“Fren

ch Kiss” o

u neste

filme, em

integ

rar plan

os d

a actualid

ade p

ara aproxim

á-lo um pouco

do real, m

esmo que este real seja d

istorcid

o.

São sem

pre imagens que eu próprio film

o. Para o D

ia da Bastilha film

ei

uma prim

eira vez em 2011 m

as como S

arkozy não foi reeleito, refizemos

quase exactamente os m

esmo planos em

2012 com Hollande, para que o

filme não ficasse situado num

a França datada entre 2007 e 2012. N

a

montagem

guardei os dois presidentes para mostrar que o protocolo é

idêntico, e que a França fundam

entalmente não m

udou.

Pode-se d

etector u

m eixo

Godard

/ Rozier, u

m lad

o parisien

se e

outro

lado mais b

alnear. C

om este im

pulso

de sair d

e Paris co

m um

caprich

o de ir ver o

mar…

O aspecto de road-m

ovie era algo de importante para m

im. É

evidentemente um

pretexto para uma viagem

interior. No argum

ento

existia uma alegoria que foi cortada na m

ontagem do film

e, onde uma

personagem m

ais velha dizia: “Aos vinte anos diz-se que a estrada vai ter

100 km, que terem

os encontros maravilhosos, que verem

os paisagens

extraordinárias, e na minha idade olham

os para trás e percebemos que

nem 20 km

fizemos.” H

á algo de muito im

previsível nesta estrutura de

argumento m

uito livre, com bifurcações, saídas de percurso. E

ste é um

filme de estradas secundárias. S

e tivesse feito um blockbuster as

personagens teriam ido pela auto-estrada.

A RAPARIGA DE 14 D

E JU

LHO é um

desses filmes em

que a sequência

seguinte não é induzida forçosamente pela anterior, é possível deslocar

sequências na montagem

(como a do trenó no Inverno) sem

prejudicar

muito a história, m

as interferindo muito no equilíbrio do film

e; as

sequências de Inverno permitem

passar de uma personagem

à outra

através de um fantasm

a comum

. O film

e funciona com parenteses, são os

apartes que me interessam

: quando duas personagens encontram um

a

terceira, gosto que se comece a seguir essa terceira personagem

. Há um

filme que funciona dessa form

a, “O Fantasm

a da Liberdade”, de Luis

Buñuel.

Há u

ma p

arte política, o

u su

bversiva, m

uito

presen

te no seu

cinem

a.

Quase u

ma ân

cora p

ós-situ

acionista co

rroborad

a pelo

facto de q

ue a

curta an

terior, “L

es Secrets d

e l’invisib

le”, era na su

a orig

em uma

adaptação

livre de u

m texto

, “Prem

iers matériau

x pour u

ne th

éorie

de la Jeu

ne-F

ille”, publicad

a na revista T

iqqun. A

qui é o

nome d

e

Guy D

ebord que in

vade u

m co

ncurso

televisivo.

Tenho de precisar que não m

e considero como um

porta-estandarte de

um qualquer grupo ou m

ovimento político, sim

plesmente vejo o cinem

a

em geral e sobretudo a com

édia como form

a de veicular ideias. É um

transporte público do pensamento. P

arece-me m

ais eficaz fazer rir o

espectador pelo humor ou pelo riso do que fazê-lo através de um

cinema

militante, pregando para os convertidos. S

em um

discurso por trás, para

mim o gag não vale nada. P

or exemplo, se colocarnos um

a moeda de

zero euros depois do plano de François H

ollande em sentido em

frente à

bandeira europeia, a montagem

cria um sentido, e assim

o gag da moeda

afasta-se do anedótico e passa a dizer qualquer coisa sobre a Europa.

Tal co

mo o Dr. P

lacenta, q

ue ap

recia “o velh

o jazz a ab

rir”, também

privileg

ia o an

alógico

em relação

ao digital.

Não pelo som

. O digital revolucionou o trabalho do som

no cinema. O

filme foi film

ado em 16 m

m, da m

esma form

a que as minhas curtas-

metragens foram

filmadas em

película. É um

a economia e um

a estética

com as quais m

e sinto à vontade. Com

o pouca gente filma em

16 mm

hoje em dia, o m

aterial é vendido mais barato: e não custa m

uito mais do

que filmar com

a Canon 5D

. Em 16 m

m eu posso experim

entar toda uma

gama de efeitos feitos no m

omento da film

agem; isso ensinou-m

e muito a

preparar o plano, a minutá-lo, a pensar estes efeitos durante a escrita do

argumento. P

odemos fazer esses efeitos no laboratório m

as não resultam

tão bem. E

stas coisas ficaram com

igo até hoje, quando o digital se tornou

a nova norma. T

alvez seja o meu últim

o filme em

película, não porque

quero, mas porque os laboratórios já não sabem

trabalhar dessa forma.

Em to

dos o

s seus film

es, existe igualm

ente o

uso reco

rrente d

a voz-

off.

A voz off, que é a m

inha, permite, da m

esma form

a que a música, dizer

coisas que as imagens não m

ostram.

Na n

arração que fech

a o film

e, Charlo

tte diz q

ue eles “viveram

um

verão louco”. L

ouco é u

m term

o que se ad

equa ao

seu cin

ema?

Procuro, de cada vez que passam

os de um plano a outro, evitar o raccord

perfeito. É tam

bém por isso que não tenho guião, há algum

a coisa na

perfeição que eu não desejo. Durante o jantar na casa do D

r. Placenta, há

uma im

perfeição constante quanto aos copos. Num

a cena bebem, na

seguinte os copos já estão completam

ente cheios. Sobretudo nunca

procurar o raccord adequado. Não se trata de pressa m

as sim de im

por

postulados estéticos. Isso confere um efeito “louco” totalm

ente assumido.

O m

eu medo é o de perder este defeito nos acabam

entos do filme,

deixando tudo com um

a imagem

bonita, um som

bonito, uma bela

“qualidade francesa”. Na m

aior parte dos primeiros film

es franceses,

temos sem

pre a sensação de que o realizador quis mostrar que

conseguia fazer tudo bem. E

u quero mostrar que posso fazer m

al. As

asperezas são necessárias ao equilíbrio do filme. U

m film

e louco, com

actores loucos.

“É um film

e louco para en

contrar o

desejo

de am

ar;

um film

e livre, pura e sim

plesm

ente.”

LE MONDE

ANTONIN PERETJA

TKO

Depois dos prim

eiros filmes em

Super 8, com

ecei a filmar em

16 ou 35

mm logo após ter saído da E

scola Louis Lumière. “C

hangement de

trottoir” e “French K

iss” foram pré-seleccionadas para os P

rémios C

ésar

em 2004 e 2005.

Em 2004 fui convidado para ir a B

angkok para aí apresentar “L’’Heure de

pointe”, a minha prim

eira curta-metragem

. Tinha ganho algum

dinheiro

em film

agens como câm

ara assistente para continuar a minha viagem

até

Bangkok, com

uma câm

ara de 16 mm. O

caminho m

ais curto de um

ponto a outro é não ir. Eu tom

ei o mais longo: desta volta ao M

undo de

Paris a P

aris nasceu “L’Opération de la dernière chance”, m

édia-

metragem

em 16 m

m.

A pouco e pouco, a escrita de A

RAPARIGA DE 14 D

E JU

LHO com

eçou.

Fiz outras curtas-m

etragens (“Paris M

onopole”, “Les Secrets de

l’Invisible”) e os Making O

f de “Um Profeta” (prem

iado pelo Sindicato da

Crítica) e “F

errugem e O

sso” (não premiado pelo S

indicado da Crítica).

Não realizo videoclips, nem

publicidades. Vivo dos m

eus filmes desde

2004.

OS ACTORES

Os actores principais deste film

e vêm de horizontes diferentes: alguns do

teatro, e que estiveram em

destaque em Avignon, outros do circo, onde

cortam m

açãs com m

achados por cima das cabeças, outros do

vaudeville, com um

instinto de improviso afiado.

Eles tam

bém fazem

cinema. Q

uer seja nas minhas curtas-m

etragens quer

seja em film

es de outros realizadores: Vimala trabalhou com

Resnais,

Rivette ou P

odalydès. Macaigne faz im

ensos filmes com

“jovens

realizadores que não são todos os antigos”. Esteban toca R

ock nos

Naïves N

ew Beeters, T

homas S

chmitt, aliás B

ertier, é Street A

rtist e os

outros lêem Tchekhov ou A

ndré Breton…

FICHA ARTÍSTICA

Truquette - V

imala P

ons

Hector - G

régoire Tachnakian

Pator - V

incent Macaigne

Charlotte - M

arie-Lorna Vaconsin

Bertier - T

homas S

chmitt

Dr. P

lacenta - Serge T

rinquecoste

Julot - Esteban

Marcello - P

hilippe Gouin

Gretchen - Lucie B

orleteau

Pierre - P

ierre Merejkow

ski

Madam

e Placenta - C

laude Sanchez

Miúdo P

lacenta - Yoann R

ey

Ernest - T

homas R

uat

E a participação am

igável de Albert D

elpy e Bruno P

odalydès

FICHA TÉCNICA

Argum

ento e realização - Antonin P

eretjatko

Fotografia - S

imon R

oca

Som

- Julien Brossier, Julien R

oiget, Martial D

e Roffignac

Assistentes de realização - Luc C

atania et Guilhem

Amesland

Décors - E

rwan Le G

al

Casting - V

alérie Pangrazzi

Montagem

- Carole Le P

age e Antonin P

eretjatko

Correcção de C

or - Yannig W

illmann

Com

o apoio de Région M

idi-Pyrénées, R

égion Île-de-France,

la Procirep, A

ngoa Em associação com

Sofica C

inémage 6

Distrib

uição

: Leopard

o Film

es