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UEVA www.revistaport.com 1 O MILAGRE DA AGRICULTURA E DO TURISMO ALQUEVA TEXTOS DE LUÍS CARLOS SOARES Os terrenos que juntaram a água do maior lago artificial da Europa ao sol alentejano, apresentam níveis de produtividade agrícola muito superiores aos do resto do mundo. Azeitona, milho, cebola e até papoila branca são algumas das várias culturas que têm registado uma evolução surpreendente. Tudo isto atrai investimento nacional e internacional para a região, para além de diminuir as importações e aumentar o emprego. À imagem do presente, o futuro prevê-se bastante produtivo.

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Dossiê Especial ALQUEVA, publicado na edição de Março da revista PORT.COM www.revistaport.com

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ALQUEVA

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O MILAGRE DA AGRICULTURA E DO TURISMO

ALQUEVA

TEXTOS DE LUÍS CARLOS SOARES

Os terrenos que juntaram a água do maior lago artificial da Europa ao sol alentejano, apresentam níveis de produtividade agrícola muito superiores aos do resto do mundo. Azeitona, milho, cebola e até papoila branca

são algumas das várias culturas que têm registado uma evolução surpreendente. Tudo isto atrai investimento nacional e internacional para a região, para além de

diminuir as importações e aumentar o emprego. À imagem do presente, o futuro prevê-se bastante produtivo.

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Depois de 19 anos de obras e 13 desde o início do en-chimento, a construção da albufeira do Alqueva chega este ano ao fim. No total, foram inves-

tidos mais de 2 mil milhões de euros no projeto, mas os resultados são mais do que positivos. Alqueva está a bater recordes mundiais de produtividade por hectare, pelo menos em oito categorias de produtos. Milho, beterraba, tomate, azeitona, melão, uva de mesa, brócolo e

luzerna rendem, em certos casos, três vezes mais que no resto do mundo, em termos médios, se forem produzidos na região alentejana que operou um autêntico milagre da multiplicação na agricultura nacional.

Um dos principais exemplos deste “milagre” está bem presente na pro-dução de milho, praticamente inexis-tente em território alentejano antes da construção da barragem que originou o maior lago artificial da Europa. Outrora

produzido sobretudo na lezíria ribate-jana, a substituição da agricultura de sequeiro pela agricultura de regadio no Alqueva fez com que os principais produtores portugueses deste cereal descessem até ao Alentejo.

A área de milho cultivado na zona do Alqueva quase que triplicou entre 2011 e 2013, dos 2700 hectares para os 6882. O que também quase triplicou foi a produtividade agrícola deste cereal por hectare na região (14 toneladas de

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milho/hectare), comparativamente com a média mundial (5,5 toneladas).

O exemplo do milho encontra reper-cussão no tomate ou na uva de mesa, com o Alqueva também a triplicar os valores médios mundiais: 100 toneladas de tomate no Alqueva contra 33,6 tone-ladas no resto do mundo, 30 toneladas de uva de mesa em comparação com 9,6 toneladas a nível global.

Estes valores foram recentemente obtidos pelo jornal Expresso, após cruzar dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) e da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) com a informação da EDIA (Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva), que gere o regadio de Alqueva.

A Revista PORT.COM contactou o presidente da EDIA, José Pedro Salema, que não se mostrou nada surpreendido com estes valores: “A região de Alqueva, por ser “virgem” no que à agricultura de regadio diz respeito, tem a capacidade de oferecer solos de altíssima qualidade. Esta qualidade, associada ao clima, uma das regiões que maior número de horas de sol tem por ano, e à garantia de água, criou condições únicas para a agricul-tura”.

Existe ainda uma outra grande vanta-gem comparativa. Comparando com ou-tras zonas do país, Alqueva permite ter produtos nos mercados abastecedores duas a três semanas antes de toda a con-corrência. E se a comparação for feita com outros países europeus, a vantagem aumenta à medida que se caminha para norte. De Espanha para cima, muitos dos produtos são obtidos em estufas, com climatização artificial, ou seja, com custos energéticos acrescidos conside-

rados avultadíssimos, o que acaba por se refletir no preço final ao consumidor.

Todos estes fatores levam José Pedro Salema a reforçar que, “aqui não há surpresas”. Para o presidente da EDIA, “o que há é uma garantia de água que permite potenciar uma agricultura que hoje aposta na eficiência e na diversifi-cação cultural”, justifica.

A outra Autoeuropa

A diversidade de culturas é outro dos motivos que fazem com que a fama de Alqueva ultrapasse há muito fronteiras, motivando investimentos de diversas nacionalidades, desde a África do Sul a Marrocos, passando pela França, Itália e Escócia. Perante o interesse externo, Paulo Portas classificou, em meados do ano passado, o Alqueva como "a Autoeu-ropa da agricultura", que pode transfor-mar a região de forma extraordinária.

O governante referiu que um em cada quatro investidores estrangeiros que procuram Portugal vai para a zona. "Os investidores estrangeiros procuram a região do Alqueva, procuram terras boas

para produzir, transformar e exportar e isso, muitas vezes, em parceria com empresas nacionais e dando trabalho a agricultores portugueses", frisou.

O vice-primeiro-ministro lembrou também que "a agricultura representa 20% das exportações portuguesas”. Segundo dados do governo, nos últimos três anos, Portugal abriu mais de 70 mercados para mais de 120 produtos novos que podem ser exportados para o estrangeiro. O Alqueva é, inequivo-camente, a região portuguesa que mais contribui para esta abertura de portas.

Recentemente, numa feira agrícola em Don Benito, na Extremadura espanhola, a EDIA foi abordada por um banco do país vizinho pedindo informações sobre as disponibilidades de terra na área do regadio, com o objetivo de aconselhar clientes seus a investir no Alqueva.

“EM QUATRO ANOS APENAS, PORTUGAL PASSOU DE DEFICITÁRIO EM AZEITE, PARA A AUTOSSUFICIÊNCIA, FACTO QUE ESTÁ DIRETAMENTE LIGADO A ALQUEVA”

José Pedro Salema, presidente da EDIA

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De resto, a vizinha Espanha lidera claramente entre os vários países que estão a investir no Alentejo, através de empresas como a Vegenat, responsá-vel pela produção de cebola que sai do Alqueva para os cerca de 150 estabe-lecimentos McDonald’s em território português (ler pág. 46).

As empresas portuguesas não estão menos atentas, com apostas no Alqueva que alavancam a economia nacional, através da redução de balança de importações e a criação de postos de trabalho. O caso específico da azeitona, a cultura que mais cresceu na região, “é o mais notável”, aponta José Pedro Salema.

A Sovena plantou mais de 10 000 hectares de olival no Alentejo, o maior olival do mundo, com destaque para os 3 400 hectares da Herdade do Marmelo, em Ferreira do Alentejo. “Em quatro anos apenas, Portugal passou de defici-tário em azeite, para a autossuficiência, facto que está diretamente ligado a Al-queva”, classifica o presidente da EDIA.

Oportunidades continuam elevadas

Como o Alqueva há muito que não é um segredo para os agentes do setor da agricultura, tanto portugueses como estrangeiros, as perguntas que se impõem variam entre o que ainda está por explorar e o que resta para evoluir. José Pedro Salema revela que, “neste momento, Alqueva dispõe de 73 mil hectares de regadios concluídos e den-tro de poucos meses terá mais 15 mil, ou seja, 88 mil hectares disponíveis”. O projeto estará concluído na campanha de rega de 2016, quando o Alqueva terá 120 mil hectares.

Para o gestor, “as oportunidades para investir no espaço servido por Alqueva ainda são muito elevadas, mas com o avanço da infraestruturação e conse-quente adesão ao regadio, essas opor-tunidades irão escassear”. A adesão ao regadio em Alqueva atinge atualmente a barreira dos 65%, “o que quer dizer que, a subir como tem estado a subir, dentro de poucos anos a taxa de utilização da área regada irá atingir o máximo possível”.

A variedade de culturas já é vasta, mas ainda tem por onde crescer, particu-larmente nas frutícolas, como pera, ameixa e romã, e nas culturas destinadas a fins medicinais, como a papoila para produção de ópio, que também já ocupam espaço considerável.

Todos os investidores são bem-vin-dos no Alqueva e “a EDIA está sempre disponível para ajudar a encontrar a melhor forma de o fazer nos setores agrícola e agroindustrial”. A porta para os emigrantes que desejem voltar a Por-tugal continua bem aberta. O milagre da agricultura decorre a todo o vapor, ou melhor… a toda a água.

O MILAGRE DA AGRICULTURA DECORRE A TODO O VAPOR, OU MELHOR… A TODA A ÁGUA

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A região “regada” pelo lago emprestou à agricultura portuguesa caracterís-ticas únicas no Velho Continente. Apesar dos

recentes anos difíceis para a economia nacional, e com os agricultores portu-gueses a terem dificuldades no acesso ao crédito, os principais representantes do setor consideram que Portugal tem sabi-do aproveitar as virtudes do Alqueva.

Novas culturas passaram a ser culti-vadas, aumentou a produção, a rentabi-lidade, o emprego e as exportações. A Confederação dos Agricultores Portu-gueses, enquanto entidade representa-tiva das associações agrícolas nacionais, saúda o desenvolvimento de que foi alvo esta região alentejana, tal como o Secre-tário-Geral Luís Mira conta à Revista PORT.COM.

Ultimamente tem sido noticiado que as terras regadas por Alqueva es-tão a registar colheitas recorde a nível mundial em vários tipos de produtos. Esta informação surpreendeu a CAP ou é uma percepção bem conhecida do setor agrícola nacional?

Luís Mira (L.M.): A realidade do Alqueva é por nós conhecida, como é

normal. Trata-se de um projeto cuja evolução os agricultores têm vindo a acompanhar ao longo dos anos. Os au-mentos de produtividade têm sobretudo a ver com a conjugação de fatores que foi possível alcançar a partir do momento em que as terras daquela região passaram a ser irrigadas a partir da barragem do Alqueva – nomeadamente o sol e as tem-peraturas que se registam naquela zona do país, aliadas à disponibilidade de água.

Como tem sido a adaptação dos produtores da região, anteriormente mais habituados a agricultura de sequeiro, a uma nova forma de produ-ção, a agricultura de regadio?

L.M.: A adaptação tem vindo a verifi-car-se progressivamente, quer pela via das inovações tecnológicas, particular-mente ligadas ao regadio, quer através de novos investimentos em culturas

“ALQUEVA É UMA OBRA GRANDIOSA E SINGULAR QUE DEVE ORGULHAR OS PORTUGUESES”Entrevista a Luís Mira, Secretário-Geral da CAP - Confederação dos Agricultores Portugueses

A CAP é a entidade representativa das associações agrícolas nacionais

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existentes e em implantação de novas culturas, quer por meio de arrendamen-tos ou através da aquisição de terras. É possível observar que a agricultura da região tem vindo a adaptar-se às novas circunstâncias e oportunidades, sendo o olival de regadio um exemplo que se poderá assinalar.

Para além da azeitona desses olivais, o milho, o tomate, as uvas de mesa e o melão são alguns dos produtos nos quais os resultados obtidos são considerados mais sur-preendentes…

L.M.: Os aumentos de produtividade em culturas já existentes são de facto surpreendentes, uma vez que durante muito tempo as circunstâncias foram outras e que quem mantém o mesmo tipo de produção e de cultura tem agora a oportunidade de ver resultados dife-rentes. Mas esta nova realidade é tam-bém surpreendente pela introdução de culturas, como a horto-fruticultura e o olival. A própria alteração da paisagem e das contingências climáticas locais tornam-se surpreendentes para quem compara a fase pré e pró Alqueva.

Muitas oportunidades de investimento

Vários países estrangeiros e em-presas multinacionais estão a inves-tir na produção agrícola no Alqueva. Na opinião da CAP, o setor agrícola português tem sabido aproveitar as virtudes da região?

L.M.: Sim, tem vindo a aproveitar, na medida do possível. Terá também cer-tamente ainda muito para aproveitar, uma vez que, não podemos esquecer, só agora é que a obra do Alqueva está ver-

dadeiramente em conclusão, podendo ainda ser expandida de acordo com as infraestruturas de regadio em imple-mentação ou ainda a implementar. Com efeito, os agricultores têm vindo a investir na região do Alqueva, apesar das dificuldades de acesso ao crédito que temos vindo a atravessar.

Ainda há muito por onde o setor agrícola nacional possa investir no Alqueva?

L.M.: Certamente que haverá ainda muitas oportunidades de investimento, tendo em conta a disponibilidade de água e o respetivo potencial de rega em termos de área. No entanto, há que notar que a quantidade de água estimada no projeto de Alqueva não au-mentará no futuro. A diferença estará na eficiência da rega e das tecnologias que permitam regar mais área com a mesma quantidade de água.

Aconselha os emigrantes portu-gueses que desejem regressar ao país de origem, a investirem no Alqueva?

L.M.: Se tiverem como opção investir no setor agrícola, a região do Alqueva será uma das mais favoráveis para o efeito.

Resumindo e concluindo, o Alque-va é uma região da qual os emigran-tes portugueses se devem orgulhar?

L.M.: De facto, o Alqueva veio trans-formar completamente uma região deprimida e condicionada pela falta de água. É uma obra grandiosa e singular no contexto europeu que, sem dúvida, deve orgulhar tanto os portugueses re-sidentes no território nacional quanto aqueles que habitam no exterior.

“OS AUMENTOS DE PRODUTIVIDADE EM CULTURAS JÁ EXISTENTES SÃO DE FACTO SURPREENDENTES, ASSIM COMO A PRÓPRIA ALTERAÇÃO DA PAISAGEM E DAS CONTINGÊNCIAS CLIMÁTICAS LOCAIS”LUÍS MIRA

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Não faltam exemplos de empresas portuguesas e estrangeiras que têm aproveitado a produtividade agrícola do Alqueva para venderem nas mais varia-das latitudes e longitudes. Dos brócolos da Monliz à cebola da Vegenat, há todo um cabaz de frutos e produtos viajados.

Brócolos chegam aos países mais distantes

A Monliz está sediada em Alcobaça e pertence a duas multinacionais belgas com fábricas um pouco por toda a Euro-pa, mas é no Alqueva que produz e colhe

COLHIDOS NO ALQUEVA, VENDIDOS POR TODO O MUNDO

os brócolos que viajam maioritaria-mente para os países do centro e norte da Europa, da Áustria à Alemanha, da Dinamarca à Noruega. As exportações por parte desta empresa de produção de vegetais ultracongelados crescem de ano e ano, chegando inclusivamente a levar os brócolos ultracongelados aos países geograficamente mais distantes de Portugal, ou seja, a Austrália e a Nova Zelândia.

Atualmente, “os mercados de expor-tação têm um peso de 90%”, indica o diretor de marketing da Monliz, Tiago Santos, à Revista PORT.COM. O res-

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ponsável aponta ainda 2015 como “um ano no qual se pretende atingir marcas muito importantes e significativas, prevendo-se um aumento de 300% na produção, comparativamente com 2014”.

A presença da Monliz no Alqueva tem apenas três anos, mas “após um início cauteloso”, já conta com 300 hecta-res nesta região alentejana, dos quais aproximadamente 200 se destinam à produção de brócolos.

Cebola para os estabelecimentos McDonald’s

A cebola picada usada na condimenta-ção dos hambúrgueres da McDonald’s é portuguesa, concretamente do Alqueva. Cultivada por produtores nacionais, é transformada em Espanha pela Vegenat, podendo ser saboreada nos cerca de 150 estabelecimentos da cadeia de fast food em território português.

A Vegenat é uma empresa com sede na cidade espanhola de Badajoz, e que trabalha com várias quintas, agriculto-res e produtores em Portugal. Em 2012, comprou 3 800 toneladas de cebola

portuguesa, quantidade que para além de abastecer a 100% os restaurantes McDonald’s em Portugal, permite exportar a restante para os estabeleci-mentos noutros mercados europeus.

O maior olival do mundo

Portugal voltou a ser autossuficien-te em termos de produção de azeite em 2013, o que não acontecia desde o início da década de 1960, feito para o qual em muito contribuiu a Sovena. O grupo que integra a marca Oliveira da Serra conta com mais de 10 milhões de oliveiras, espalhadas por mais de 10 mil hectares, o que permite a esta empresa portuguesa dizer que tem “o maior olival do mundo”, distribuído por 57 herdades e quintas que, na campanha 2014/2015, produziram 51 mil toneladas de azeitona.

O maior destes polos é regado pelo Alqueva e está situado em Ferreira do Alentejo, com aproximadamente 3 400 hectares. Na Herdade do Marmelo cabe ainda um lagar de autor, desenhado pelo arquiteto português Ricardo Bak Gordon, que permite visitas ao público, nas quais são explicadas todas as fases de produção dos azeites da empresa.

A Sovena exporta o azeite Oliveira da Serra para diversos países do “mercado

PORTUGAL VOLTOU A SER AUTOSSUFICIENTE EM TERMOS DE PRODUÇÃO DE AZEITE

O maior olival do mundo: 10 milhões de oliveiras em pleno Alentejo

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da saudade”, como França, Suíça e Lu-xemburgo. No Brasil, a marca Andori-nha é a aposta preferencial da empresa.

Reduzir a importação de colza para óleos alimentares

Para além da aposta em olival, a Sovena vai começar a semear colza nos terrenos regados pelo Alqueva. Esta planta da família da couve produz uma vagem dentro da qual se forma grão com um elevado teor oleico. O objetivo da empresa portuguesa é ter no Alqueva fornecedores de colza em quantidade suficiente para a produção de óleos alimentares sem ter de estar tão dependente das importações.

Açúcar português novamente da beterraba

As características únicas do Alqueva permitem que a DAI (Sociedade de De-senvolvimento Agro-Industrial) tenha anunciado, no final do ano passado, que vai investir em 12 mil hectares de beterraba sacarina. A empresa portu-guesa, com sede em Coruche, encon-trou no Alqueva boas condições para

EM MÉDIA, CULTURAS PRODUZIDAS NA REGIÃO ALENTEJANA RENDEM TRÊS VEZES MAIS QUE NO RESTO DO MUNDO

voltar a cultivar grandes áreas deste tipo de beterraba, a única que dá para produzir açúcar.

Os 12 mil hectares de terreno permi-tem, previsivelmente, a produção de um milhão de beterrabas sacarinas, o que se traduz em 120 a 150 mil tonela-das de açúcar, cerca de metade das 250 mil toneladas que saem anualmente da fábrica da DAI, para abastecer a marca Rio Bravo ou as marcas próprias do Continente e da Auchan.

A DAI tinha deixado de apostar nesta prática porque, em 2008, a Comis-são Europeia reduziu para menos de metade a quota nacional de produção de açúcar a partir de beterraba, o que obrigou à importação de cana-de-açú-car. O aumento das quotas de produ-ção já foi anunciado pelas entidades governamentais, embora ainda não seja conhecido para que valores.

A economia nacional fica a ganhar com esta aposta da DAI no Alqueva, devido à consequente redução de im-portações e ao aumento do número de postos de trabalho.

Papoila branca para fins medicinais

A cultura da papoila para pro-dução de ópio destinado a

fins medicinais é outras das culturas mais promissoras para o Alqueva. Já ocupa quase 1000 hectares e avança rapidamente para o dobro desse valor, devido à chegada ao Alentejo do maior produtor mundial de ópio, a TPI. Antes desta empresa australiana, já a escocesa Macfarland Smith havia dado início à plantação da papoila branca no Alentejo, em 2012.

Apesar deste tipo de plantação ser inédito na região, os resultados têm sido positivos. A média de ópio recolhido, em Inglaterra, é de 9% por tonelada, mas houve explorações em Serpa e Quintos, entre Serpa e Beja, onde a percentagem de ópio já superou os 20%.

Beterraba sacarina

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Nem só de agricultura vive o Alqueva. Outro setor de atividade profissional que tem crescido a olhos vistos é o turismo, o que,

de resto, é uma realidade comum a todo o Alentejo, recentemente considerado um dos 50 lugares do mundo a visitar em 2015, pelo jornal New York Times.

Não faltam atrativos turísticos, para os diversos escalões etários e sensibi-lidades. O Museu da Luz retrata a cul-tura social da região, particularmente da aldeia que ficou submersa pelo Alqueva, para ser reconstruída numa nova localização. O Parque Noudar é o epicentro dos atrativos naturais da

região, com destaque para flora e fauna que a distingue. A enogastronomia alentejana é honrada em localidades como Reguengos de Monsaraz ou Juromenha.

A abertura de um novo hotel de cinco estrelas, com projeto da autoria do ar-quiteto Eduardo Souto Moura (um dos dois portugueses que já venceram um Pritzker), está prevista para o final do ano. A possibilidade de serem conces-sionadas algumas das 426 ilhas existen-tes na albufeira do Alqueva começa a ser equacionada.

No meio de tudo isto, a Revista PORT.COM apresenta e recomenda

três atividades disponíveis aos visitan-tes deste destino turístico recente e cada vez mais atrativo.

Navegar e pernoitar em barcos casa

As águas calmas do Grande Lago tanto podem ser navegadas, como ser o local onde pernoitam os turistas que se desloquem para o Alqueva à procura de aventura ou sossego. Para que tal aconteça, os interessados devem alugar um barco casa disponível na Marina da Amieira, no concelho de Portel. Existem cinco tipos destas embarca-ções, com lotação que vai das duas às 12 pessoas.

MILAGRE (TAMBÉM) NO TURISMO

Foto de Miguel Claro. www.miguelclaro.com

A Via Láctea, como se pode ver na vila de Monsaraz, em pleno parque do Alqueva

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As comodidades da maior parte das tipologias de alojamento turístico também estão presentes nestas embar-cações, como cozinha completa com fogão, casas de banho, duche, sala de refeições, rádio e televisão. Espaço ainda para outras que apenas barcos casa podem oferecer, como zonas de solário (ao ar livre, naturalmente), de pesca e barbecue exterior.

Graças à grande autonomia destas embarcações, os utentes poderão navegar pelo Grande Lago nas zonas autorizadas, podendo aportar com faci-lidade e deslocar-se a pé ou de bicicleta às povoações ribeirinhas e a outros destinos, usufruindo de todo o poten-cial turístico da região. Não é necessária carta de marinheiro, uma vez que dispõe de equipamento específico de localiza-ção e segurança: Plotter, GPS e Sonda de Varrimento Vertical.

ContactosMorada: Marina da Amieira, 7220-999 PortelTelefone: 266611173E-mail: [email protected]: www.amieiramarina.com

Voar de balão

Sobrevoar o Alqueva num Balão de ar quente é uma experiência que permite conhecer a região de uma perspetiva di-ferente, com emoções alimentadas pelo

encanto de se voar dentro do vento e em completa harmonia com a natureza. A Windpassenger é a empresa que realiza estes voos, com capacidade das duas às 40 pessoas.

A experiência começa com o enchi-mento do balão, no qual os visitantes são convidados a participar. Assim que o balão ganha forma, graças aos potentes queimadores, está na altura de se subir para cesto, porque a viagem de rumo incerto, mas de diversão garantida, está prestes a ter início. Apesar de não haver rotas traçadas previamente, os pilotos garantem que os viajantes não se perde-rão, ao controlarem a posição do balão com GPS e cartas.

Os voos realizam-se durante todo o ano, desde que existam condições favoráveis. Por essa razão a maior parte dos voos realiza-se entre fevereiro e outubro. Cada voo tem a duração apro-ximada de uma hora e meia, e tanto pode acontecer ao nascer do sol, como duas horas antes do pôr do sol.

Terminada a viagem, os participantes têm direito um certificado de voo. Mas as melhores recordações costumam ser as fotografias e vídeos que a viagem proporciona, pelo que as máquinas fotográficas ou smartphones não devem ficar em terra.

ContactosTelefone: 243 675091Telemóvel: 927 585 536Email: [email protected]: www.windpassenger.pt

Observar estrelas e planetas

O Alqueva apresenta um céu noturno com características únicas, o que pro-

porcionou o desenvolvimento de uma Reserva Dark Sky. Por outras palavras, o território englobado pelos concelhos de Alandroal, Barrancos, Moura, Mourão, Portel e Reguengos de Monsaraz tor-nou-se no primeiro sítio no mundo a re-ceber a “Starlight Tourism Destination Certification”, concedida pela Fundação Starlight, com o apoio de entidades co-mo a UNESCO e a OMT (Organização Mundial do Turismo).

A Reserva Dark Sky engloba várias atividades noturnas, como observação astronómica com telescópios, passeios de barco, de canoa, de carros elétricos, de bicicleta, de cavalo ou simplesmente pedestres, sempre em fruição com um céu estrelado livre de poluição lumino-sa. Estas atividades são organizadas por diversos estabelecimentos de alojamen-to, restaurantes e empresas de anima-ção turística, cujos nomes podem ser consultados online.

ContactosE-mail: [email protected]: www.darkskyalqueva.com

Barco casa

Cruzar os céus do Alentejo a bordo de um balão

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Sharish, um gin de Reguengos de Monsaraz

Promovido com o slogan “lentamente destilado no Alentejo”, Sharish é um gin que nasce num alambique tradicional em Reguengos de Monsaraz. Criado por António Cuco, um antigo professor de Turismo que estava no desemprego quando decidiu avançar com este projeto, Sharish distingue-se da maior parte dos gins por incorporar na receita maçã Bravo de Esmolfe DOP, casca de laranja e casca de limão do Alentejo, junto a outros botânicos mais convencionais.

Atualmente já é exportado do Alentejo para países como Espanha, Suíça, Bélgica, Brasil e Angola.

No extenso território do interior alentejano existe um assinalável leque de empresas cujos produtos estão presentes em diversos mercados internacionais com assinaláveis comunidades portuguesas.

A Ervideira conta com 160 hectares de vinha, 50 deles na sub-região de Reguengos de Monsaraz, beneficiando da proximidade ao maior lago artificial da Europa. Exporta atualmente cerca de 60% da sua produção, sendo os principais mercados a Bélgica, a Holanda e Angola.

Adega de Borba aposta no Premium Tinto 2012

Depois do sucesso da colheita de 2011, o primeiro vinho lançado pela Adega de Borba este ano é o Premium Tinto 2012, mais um DOC alentejano de sabor elegan-te, macio e um final persistente. Produzido a partir das castas Alicante Bouschet, Cabernet Sauvignon, Touriga Nacional e Trincadeira, apresenta uma cor granada bem definida, com grande intensidade.

Segundo nota de imprensa lançada pela própria Adega de Borba, este vinho tem um aroma a frutos vermelhos maduros, compota e pimento maduro. O sabor é macio, elegante, com destaque nos sabores a frutos pretos, café e chocolate. Estagiou seis

meses em barricas novas de carvalho (francês e americano) e castanho, e foi engarrafado para mais um estágio final em cave de outros seis meses em garrafa.

A Adega de Borba conta com forte presença em inúme-ros mercados internacionais, como destaque para Estados Unidos da América, Angola, China, Brasil, Rússia, Alema-nha, França e Suíça.

Delta Cafés desenvolve máquina de café em Campo Maior

A marca do setor do café inaugurou recentemente o pó-lo industrial Tecnidelta II, em Campo Maior. O principal ob-jetivo desta nova unidade é a montagem da Mayor, o nome da primeira máquina de café profissional para a restaura-ção desenvolvida e assembla-da a 100% na vila alentejana, garantindo também a criação de novos postos de trabalho qualificado na região.

A Delta Cafés prevê a pro-dução anual de 4 200 máqui-nas Mayor, muitas das quais destinadas aos profissionais do mercado internacional. A principal empresa do Grupo Nabeiro está presente em mais de 35 países, com des-taque para Espanha, França, Luxemburgo, Angola e Brasil.

Ervideira com wine shop com vista para o Alqueva

Reguengos de Monsaraz, que este ano é a capital euro-peia do vinho, foi a localidade escolhida pela Ervideira para abrir a sua terceira wine shop. Nesta nova loja, situada na Praça da Igreja e com vista para o lago do Alqueva, os visitantes podem provar e comprar todos os vinhos produzidos pela Ervideira, conhecer os processos de vinificação e as castas existen-tes na propriedade, e ainda marcar uma visita à adega.

MADE IN ALENTEJO