dona neta dos bodes fortalecendo a convivência, garantindo soberania e gerando renda

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Dona Neta dos bodes Fortalecendo a convivência, garantindo soberania e gerando renda Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1946 João Câmara Essa é a história de Maria Jucinete Pereira Paulino, mais conhecida pelo apelido de Dona Neta. Ela tem 52 anos e mora há 5 anos na comunidade Santa Cruz, município de João Câmara. Com ela, vivem seu esposo Geraldo Francisco Filho, a sogra Maria do Carmo Ozebe da Silva, o sobrinho Rafael e o neto Paulo Sérgio. A casa onde vivem foi construída pela família. Quando chegaram no sítio, há 5 anos, não havia nada plantado, somente mata-pasto. Também não havia água nem para beber e nem para produzir alimentos. Então a família cercou o sítio com varas e Dona Neta começou a plantar mamão, melancia e outras plantas. A agricultora diz que foram anos difíceis, mas a determinação em garantir Outubro/2014 a soberania alimentar da família fez com que ela fosse fazendo suas experimentações e participando dos espaços da ASA para trocar experiências e conquistar melhores condições para viver no lugar onde escolheram. Hoje, o arredor da casa de Dona Neta se transformou numa linda e diversificada experiência de quintal produtivo e ela tornou-se um exemplo de agricultora experimentadora. Em seu quintal ela cultiva vários tipos de fruteiras, como mamão, melancia, cereja (que usa para fazer suco e para alimentar os pássaros), maracujá, pinha, graviola, caju, quatro tipos de banana (leite, pacovan, prata, anã), limão, acerola, uva, romã, noni, umbu, siriguela, manga e abacaxi. As verduras, como coentro, beterraba, cenoura, tomate, cebolinha, pimenta, pimentão, chuchu, quiabo e maxixe (para alimentar os animais), são encontradas com fartura. Dona Neta e suas sementes crioulas Dona Neta alimentando alguns dos animais que cria Dona Neta e o seu bode de estimação Bem-te-vi

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Essa é a história de Dona Neta. Acasa onde vive foi construída pela família. Quando chegaram no sítio, há 5 anos, não havia nada plantado, somente mata-pasto. Também não havia água nem para beber e nem para produzir alimentos.Hoje, o arredor da casa de Dona Neta se transformou numa linda e diversificada experiência de quintal produtivo e ela tornou-se um exemplo de agricultora experimentadora.

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Page 1: Dona Neta dos bodes Fortalecendo a convivência, garantindo soberania e gerando renda

Dona Neta dos bodes Fortalecendo a convivência, garantindo soberania e gerando renda

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1946

João Câmara

Essa é a história de Maria Jucinete Pereira Paulino, mais conhecida pelo apelido de Dona Neta. Ela tem 52 anos e mora há 5 anos na comunidade Santa Cruz, município de João Câmara. Com ela, vivem seu esposo Geraldo Francisco Filho, a sogra Maria do Carmo Ozebe da Silva, o sobrinho Rafael e o neto Paulo Sérgio. A casa onde vivem foi construída pela família. Quando chegaram no sítio, há 5 anos, não havia nada plantado, somente mata-pasto. Também não havia água nem para beber e nem para produzir alimentos. Então a família cercou o sítio com varas e Dona Neta começou a plantar mamão, melancia e outras plantas. A agricultora diz que foram anos difíceis, mas a determinação em garantir

Outubro/2014

a soberania alimentar da família fez com que ela fosse fazendo suas experimentações e participando dos espaços da ASA para trocar experiências e conquistar melhores condições para viver no lugar onde escolheram. Hoje, o arredor da casa de Dona Neta se transformou numa linda e diversificada experiência de quintal produtivo e ela tornou-se um exemplo de agricultora experimentadora. Em seu quintal ela cultiva vários tipos de fruteiras, como mamão, melancia, cereja (que usa para fazer suco e para alimentar os pássaros), maracujá, pinha, graviola, caju, quatro tipos de banana (leite, pacovan, prata, anã), limão, acerola, uva, romã, noni, umbu, siriguela, manga e abacaxi. As verduras, como coentro, beterraba, cenoura, tomate, cebolinha, pimenta, pimentão, chuchu, quiabo e maxixe (para alimentar os animais), são encontradas com fartura.

Dona Neta e suas sementes crioulas Dona Neta alimentando alguns dos animais que cria

Dona Neta e o seu bode de estimação Bem-te-vi

Page 2: Dona Neta dos bodes Fortalecendo a convivência, garantindo soberania e gerando renda

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Rio Grande do Norte

Ela também cultiva feijão (guandu, branco), milho, macaxeira, maniva de mandioca, gergelim, cana-de-açúcar caiana, sorgo e batata doce, que também são usados como forragem para os animais. Para fazer os xaropes, unguentos e chás utilizados quando alguém está doente, Dona Neta planta mastruz (que usa para fazer lambedor para gripe), corama, erva cidreira, hortelã miúdo e chá da terra. O óleo de gergelim preto é usado para reumatismo. A diversidade de pequenos animais chama a atenção, pois ela cria bode, galinha, pato, guiné, porco, peru, ganso, ovelhas, preá do reino e cachorros. Alguns deles foram adotados como membros da família, como é o caso do bode Bem-te-vi e a gansa Bela. Toda a produção de Dona Neta é agroecológica, ou seja, ela não utiliza nenhum tipo agrotóxico ou adubos químicos para cultivar seus alimentos. Além disso, toda a alimentação dos animais também é produzida por ela. Para adubar, ela utiliza o esterco de galinha e de ovelhas. Para espantar as pragas das plantações, ela usa a calda de nim, mas diz que as pragas são muito poucas, devido à diversidade de sua produção. Dona Neta também é guardiã de alguns tipos de sementes, como é o caso do gergelim branco e preto, feijão, quiabo, milho crioulo (que trouxe de um intercâmbio que foi em Apodi) e sorgo. Uma grande conquista da família foi a aquisição das cisternas de água para beber e produzir, que foram construídas pela ASA. Através de sua participação no fórum microrregional da ASA no Mato Grande, Dona Neta conquistou a cisterna pequena (de 16 mil litros) em 2012, e conquistou a cisterna-calçadão em 2014. Ela diz que já produzia tudo quando as cisternas chegaram, mas elas vieram para garantir água para beber e para fortalecer mais ainda a produção de alimentos feita por ela. A família consome tudo o que produz, além de utilizar parte da produção para alimentar os animais. Recentemente, a partir do mês de setembro de 2014, Dona Neta vem participando de um importante processo organizativo que trouxe, como resultado, a conquista da Feira Agroecológica e de Economia Solidária de João Câmara, onde a agricultora começou a comercializar, pela primeira vez, o que sobra de sua produção, adquirindo uma fonte de renda que antes não existia.

Realização Apoio

Um pouco da rotina de Dona Neta

Cisterna- calçadão e Canteiro Econômico

Os cuidados de Donoa Neta com sua plantação

P i m e n t a Banana Canteiro de cebolinha e Coentro