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Clipping 31/07/2011

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Clipping 31/07/2011

Mortes na gangorra Enquanto o número de homicídios cai em São Paulo, o de roubos seguidos de assassinato sobe. A melhor forma de contenção é aprimorar a investigação policial, diz especialista

Guaracy Mingardi - O Estado de S.Paulo

No final dos anos 90 São Paulo disputava o triste troféu de capital brasileira dos homicídios. O fundo do poço ocorreu em 1999, quando foram mortas mais de 5.400 pessoas. E de repente esse número começou a cair. Não se pode dizer que saímos do poço, mas pelo menos o paulistano já pode ver a claridade lá em cima. No ano passado foram registrados 1.196 casos, o que implica uma queda de quase 78%.

Quanto à redução dos homicídios, não há disputa. Todos concordam que foi significativa, mas o motivo dela é que provoca discussão. O discurso de cada grupo é que sua instituição é responsável pela queda no número de mortos. A Polícia Militar diz que é por causa da melhora no policiamento, que inibiu a bandidagem e o uso de armas. A Polícia Civil, que foi o enfoque dado à investigação de homicídios, que tirou matadores das ruas. As prefeituras alegam que a principal causa foram as políticas municipais de prevenção. O governo federal propaga que os motivos estão ligados a suas políticas sociais, aliadas à campanha do desarmamento. E por ai vai,

Na realidade, todos estão simultaneamente certos e errados. Acertam quando apontam sua ação como um dos fatores que provocaram esse fenômeno, mas erram quando supõe que tenha sido a única causa. Foi uma conjunção desses esforços, aliada a fatores socioeconômicos além de nosso controle, que produziu o resultado. O envelhecimento da população paulista, que reduziu proporcionalmente o número de homens entre 18 e 30 anos, é um deles. Afinal, nessa faixa etária está a maior parte das vítimas e dos homicidas. Um fator econômico foi a queda do preço da pedra de crack. Ela passou de R$ 10 para cerca de R$ 5. Isso diminui a cobrança por dívidas e a briga por pontos da droga. Briga essa que também foi reduzida depois da entrada do PCC no mercado, a partir de 2003.

Seja qual for o motivo, o fato é que os homicídios diminuíram, mas a pergunta que a imprensa lançou nessa semana foi a seguinte: por que não caíram também os casos de latrocínio, o roubo seguido de morte? Os casos de pessoas mortas por ladrões durante o roubo até cresceram recentemente. No primeiro semestre de 2010 foram 136 em todo o Estado. No mesmo período deste ano foram 167, aumento de mais de 20%.

Na realidade, os latrocínios diminuíram pela metade desde 1999. Naquele ano ocorreram quase 350 casos. Isso não explica, porém, por que aumentaram no começo deste ano. A pergunta correta é: por que eles crescem num ano em que os homicídios diminuem? E a resposta é relativamente simples: latrocínio e homicídio são crimes que têm duas diferenças importantes, o motivo do crime e o autor.

Nos casos de latrocínio o motivo é o roubo. O ladrão não sai para matar, mas sim para roubar. Portanto a incidência desse crime tem uma relação direta com o número de roubos. E nesse primeiro semestre o total de roubos subiu, puxado pelo aumento de roubo de veículos, que cresceu quase 10%.

Cerca da metade dos homicídios são cometidos por pessoas comuns, que matam por motivo pessoal: inveja, ódio, ciúmes, etc. Muitas vezes por motivos considerados fúteis,

como uma briga de bar que ninguém sabe por que começou, ou mesmo uma discussão entre vizinhos ou no trânsito. Por outro lado, a definição do latrocínio explica quem é o matador. É roubo seguido de morte, portanto existe um ladrão profissional que possivelmente nem conhece a vítima. E um que não tem escrúpulos em matar para se apossar dos bens alheios.

Sendo crimes tão diferentes, nem todos os fatores mencionados no segundo parágrafo atuam da mesma forma. O desarmamento voluntário, que influi rapidamente nos índices de homicídio, não tira imediatamente das ruas as armas que estão em poder dos ladrões. Só no longo prazo, pois diminui o número de armas em circulação que normalmente acabam caindo na mão dos criminosos. O barateamento do crack também não ajuda. Da mesma forma que torna mais fácil obter dinheiro para compra da pedra, também faz aumentar o número de "noias" (nome dado ao usuário de crack em São Paulo) que precisam desesperadamente da droga.

O controle do roubo é a única maneira de diminuir o número de latrocínios. E ele tem de ser feito pela polícia. A melhora nas condições sociais pode também funcionar, mas só no longo prazo. Não é porque aumenta o número de empregos que um ladrão automaticamente vá deixar de roubar.

E a principal forma de contenção é uma melhora acentuada na investigação policial. Um roubo que redunde em morte não pode ser tratado burocraticamente. Sua investigação tem de ser prioridade. E para que isso ocorra, a Secretaria de Segurança e a Polícia Civil têm de se empenhar mais. Por exemplo, aumentando o número de equipes investigando as mortes e melhorando a tecnologia a sua disposição. Desde coisas simples como a compra de um scanner para transmitir imagens de suspeitos, equipamento que algumas delegacias não possuem, até a construção de um arquivo de modus operandi, que ajude a identificar quadrilhas ou criminosos individuais através do modo como atuam. A bola está com elas. Vamos ver se conseguem marcar um ponto.

GUARACY MINGARDI É DOUTOR EM CIÊNCIA POLÍTICA PELA USP E MEMBRO DO FÓRUM BRASILEIRO DE SEGURANÇA PÚBLICA

FERNANDO DE BARROS E SILVA

São Paulo à venda

SÃO PAULO - Sem que isso seja muito evidente, Gilberto Kassab está

patrocinando um novo ciclo de especulação imobiliária na cidade. O mesmo setor que contribuiu com milhões para a eleição do prefeito em 2008 está sendo beneficiado em operações urbanas mais do que duvidosas, justamente a um ano da próxima campanha municipal. De várias maneiras, regiões de São Paulo estão sendo terceirizadas, alienadas ou vendidas para o mercado. O caso mais flagrante é o da “troca” de áreas públicas por creches -ideia que partiu do Secovi, o sindicato do setor imobiliário. Kassab havia prometido zerar a carência de vagas nas creches. Há mais de 140 mil crianças na fila de espera. Perto do fim do mandato, o problema social se transforma em oportunidade de negócio. Afinal, alguém precisa lucrar com a promessa que não será cumprida. Quem acredita que as construtoras beneficiadas com áreas nobres farão adequadamente 200, 300, 400 creches na periferia? Não é só. Kassab vai dar à iniciativa privada o poder de desapropriar uma enorme extensão da Pompeia, como já ocorre, a passo de cágado, na Nova Luz (ou cracolândia). Este é um tipo de concessão que só parece ter sentido numa região arruinada, onde as empresas não investiriam sem atrativos. Mas na Pompeia? Por que facilitar lucros privados gigantescos numa área já valorizada? Não cheira bem. Por fim, a prefeitura está prestes a aprovar um novo polo de escritórios de luxo na avenida Chucri Zaidan, continuação da Berrini. É mais um capítulo de uma dinâmica perversa: enquanto a região central, com infraestrutura já pronta, permanece subocupada, em estado de degradação, os impostos do paulistano vão financiar a expansão de transporte público, luz, água etc. Até os confins da cidade, para onde fogem os ricos seguindo a corrida do ouro do mercado imobiliário. Tudo somado, o kassabismo é uma espécie de neomalufismo. Essa é a escola em que ele se formou.

Concessões travam 3º aeroporto em S.Paulo Governo resiste à obra, que desvalorizaria aeroportos de Guarulhos e de Campinas Glauber Gonçalves - O Estado de S.Paulo

Depois de quase quatro anos na gaveta, o projeto de construção de um terceiro aeroporto na Grande São Paulo pela Andrade Gutierrez e a Camargo Correa está prestes a ter avaliada sua viabilidade operacional pelo Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea). Detentoras do direito de compra de uma área de 9 milhões de metros quadrados em Caieiras, na região metropolitana, as empresas querem autorização para tocar o projeto em regime privado.

Em uma reunião realizada em julho na Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), o Decea solicitou mais informações às empresas para estudar a viabilidade técnica do aeroporto, afirmou o chefe do setor que cuida do planejamento estratégico operacional no órgão, Julio Cesar de Sousa Pereira. Segundo ele, de posse desses dados, o Decea levaria um mês para concluir a análise.

De acordo com fontes, porém, o órgão já teria informado internamente ao governo que o projeto não é viável. O resultado reforça a pouca empolgação que o Planalto vem demonstrando em relação ao projeto. A Anac, agência reguladora do setor aéreo, nunca chegou a estudar a viabilidade de outorgar à iniciativa privada a construção e operação do novo aeroporto, revelou uma fonte.

Entre diretores da agência, as desculpas para a falta de ação mostram o caráter polêmico do projeto: o suposto rechaço da presidente Dilma Rousseff, a inviabilidade operacional alegada pelo Decea e até a contrariedade da Odebrecht, construtora rival da Andrade e da Camargo.

O novo diretor-presidente da agência, Marcelo Guaranys, porém, não seria contra a autorização, dizem fontes. Ele assumiu a Anac este mês. O governo de São Paulo é outro aliado à construção do terceiro aeroporto, embora não se posicione especificamente sobre o projeto de Caieiras. A visão é de que um investimento desse tipo seria uma solução para destravar os gargalos de infraestrutura, cujas pontas mais visíveis são as longas filas em Congonhas e Guarulhos.

Uma reunião entre a Secretaria Estadual de Logística e Transportes e a Anac para tratar do assunto, programada para junho, foi cancelada. A agência teria alegado problema de agenda, informou a assessoria de imprensa da pasta. O secretário Saulo de Castro tem uma reunião prevista com o ministro da Secretaria da Aviação Civil, Wagner Bittencourt, "para breve", mas ainda sem data marcada. Pela assessoria, ele disse que prefere não dar entrevista antes do encontro.

Um dos motivos de o governo não incentivar um terceiro aeroporto em São Paulo é a convicção de que conseguirá tirar do papel o projeto do Trem de Alta Velocidade (TAV) ligando Rio, São Paulo e Campinas.

Para técnicos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) que trabalharam nos estudos para o edital do frustrado leilão do trem-bala, a ligação entre São Paulo e Campinas viabilizaria o Aeroporto de Viracopos como terceira opção para a Grande São Paulo. Os estudos do TAV foram conduzidos no BNDES sob a liderança do atual ministro Wagner Bittencourt, que foi diretor de infraestrutura do banco.

No caminho do aeroporto de Caieiras, a 35 quilômetros de São Paulo, está ainda a Infraero. O governo vê que a construção de um novo aeroporto na região pode atrapalhar uma futura abertura de capital da estatal. Mais um aeroporto na Grande São Paulo também poderia reduzir o valor ofertado pelos consórcios interessados nas concessões de Guarulhos e Viracopos.

Segundo um consultor, o governo também teme que a autorização do projeto seja vista como um favorecimento às empresas. No entanto, mesmo que o governo chamasse outros possíveis interessados, as duas construtoras seriam as vencedoras, pois outros grupos teriam dificuldades de encontrar um terreno.

Procurada, a Camargo Corrêa não quis comentar o assunto. A Andrade Gutierrez confirmou, em nota, que "continua interessada e trabalhando para o sucesso do terceiro aeroporto de São Paulo". A SAC não respondeu às perguntas da reportagem. / COLABOROU ALEXANDRE RODRIGUES