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DOM CASMURRO (1899) MACHADO DE ASSIS

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DOM CASMURRO(1899)

MACHADO DE ASSIS

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A POESIA ENVENENADA DE DOM CASMURRO

É a história, contada pelo marido, de um adultério a seu ver cometido pela mulher... Dom Casmurro (1899) é um bom ponto de partida para apreciar a distância, na verdade o adiantamento, que separa Machado de Assis de seus compatriotas. O livro tem algo da armadilha, com aguda lição crítica – se a armadilha for percebida como tal. Desde o início há incongruências, passos obscuros, ênfases desconcertantes, que vão formando um enigma.

Roberto Schwartz

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CAPÍTULO I – DO TÍTULO

Uma noite destas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu. Cumprimentou-me, sentou-se ao pé de mim, falou da lua e dos ministros, e acabou recitando-me versos. A viagem era curta, e os versos pode ser que não fossem inteiramente maus. Sucedeu, porém, que, como eu estava cansado, fechei os olhos três ou quatro vezes; tanto bastou para que ele interrompesse a leitura e metesse os versos no bolso.

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CAPÍTULO I – DO TÍTULO

– Continue, disse eu acordando. – Já acabei, murmurou ele. – São muito bonitos. Vi-lhe fazer um gesto para tirá-los outra vez do bolso, mas não passou do gesto; estava amuado. No dia seguinte entrou a dizer de mim nomes feios, e acabou alcunhando-me Dom Casmurro. Os vizinhos, que não gostam dos meus hábitos reclusos e calados, deram curso à alcunha, que afinal pegou. Nem por isso me zanguei. Contei a anedota aos amigos da cidade, e eles, por graça, chamam-me assim, alguns em bilhetes: “Dom Casmurro, domingo vou jantar com você.” – “Vou para Petrópolis, Dom Casmurro; a casa é a mesma da Renânia; vê se deixas essa caverna do Engenho Novo, e vai lá passar uns quinze dias comigo.” – “Meu caro Dom Casmurro, não cuide que o dispenso do teatro amanhã; venha e dormirá aqui na cidade; dou-lhe camarote, dou-lhe chá, dou-lhe cama; só não lhe dou moça.”

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CAPÍTULO I – DO TÍTULO

Não consultes dicionários. Casmurro não está aqui no sentido que eles lhe dão, mas no que lhe pôs o vulgo de homem calado e metido consigo. Dom veio por ironia, para atribuir-me fumos de fidalgo. Tudo por estar cochilando! Também não achei melhor título para a minha narração; se não tiver outro daqui até o fim do livro, vai este mesmo. O meu poeta do trem ficará sabendo que não lhe guardo rancor. E com pequeno esforço, sendo o título seu, poderá cuidar que a obra é sua. Há livros que apenas terão isso dos seus autores; alguns nem tanto.

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CAPÍTULO II – DO LIVRO Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro. Antes disso, porém, digamos os motivos que me põem a pena na mão. Vivo só, com um criado. A casa em que moro é própria; fi-la construir de propósito, levado de um desejo tão particular que me vexa imprimi-lo, mas vá lá. Um dia, há bastantes anos, lembrou-me reproduzir no Engenho Novo a casa em que me criei na antiga Rua de Matacavalos, dando-lhe o mesmo aspecto e economia daquela outra, que desapareceu. Construtor e pintor entenderam bem as indicações que lhes fiz: é o mesmo prédio assobradado, três janelas de frente, varanda ao fundo, as mesmas alcovas e salas. Na principal destas, a pintura do teto e das paredes é mais ou menos igual, umas grinaldas de flores miúdas e grandes pássaros que as tomam nos bicos, de espaço a espaço.

Page 8: Dom casmurro

CAPÍTULO II – DO LIVRONos quatro cantos do teto as figuras das estações, e ao centro das paredes os medalhões de César, Augusto, Nero e Massinissa, com os nomes por baixo... Não alcanço a razão de tais personagens. Quando fomos para a casa de Matacavalos, já ela estava assim decorada; vinha do decênio anterior. Naturalmente era gosto do tempo meter sabor clássico e figuras antigas em pinturas americanas. O mais é também análogo e parecido. Tenho chacarinha, flores, legume, uma casuarina, um poço e lavadouro. Uso louça velha e mobília velha. Enfim, agora, como outrora, há aqui o mesmo contraste da vida interior, que é pacata, com a exterior, que é ruidosa.

O meu fim evidente era atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência. Pois, senhor, não consegui recompor o que foi nem o que fui. (...)

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CAPÍTULO II – DO LIVRO Ora, como tudo cansa, esta monotonia acabou por exaurir-me também. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro. Jurisprudência, filosofia e política acudiram-me, mas não me acudiram as forças necessárias. Depois, pensei em fazer uma História dos Subúrbios, menos seca que as memórias do Padre Luís Gonçalves dos Santos, relativas à cidade; era obra modesta, mas exigia documentos e datas, como preliminares, tudo árido e longo. Foi então que os bustos pintados nas paredes entraram a falar-me e a dizer-me que, uma vez que eles não alcançavam reconstituir-me os tempos idos, pegasse da pena e contasse alguns. Talvez a narração me desse a ilusão, e as sombras viessem perpassar ligeiras, como ao poeta, não o do trem, mas o do Fausto: Aí vindes outra vez, inquietas sombras...?

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CAPÍTULO II – DO LIVRO

Fiquei tão alegre com esta idéia, que ainda agora me treme a pena na mão. Sim, Nero, Augusto, Massinissa, e tu, grande César, que me incitas a fazer os meus comentários, agradeço-vos o conselho, e vou deitar ao papel as reminiscências que me vierem vindo. Deste modo, viverei o que vivi, e assentarei a mão para alguma obra de maior tomo. Eia, comecemos a evocação por uma célebre tarde de novembro, que nunca me esqueceu. Tive outras muitas, melhores, e piores, mas aquela nunca se me apagou do espírito. É o que vais entender, lendo.

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CAPÍTULO XII – NA VARANDA

Parei na varanda; ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me pela boca fora. Não me atrevia a descer à chácara, e passar ao quintal vizinho. Comecei a andar de um lado para outro, estacando para amparar-me, e andava outra vez e estacava. Vozes confusas repetiam o discurso do José Dias: “Sempre juntos...” “Em segredinhos...” “Se eles pegam de namoro...”

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CAPÍTULO XII – NA VARANDATijolos que pisei e repisei naquela tarde, colunas amareladas que me passastes à direita ou à esquerda, segundo eu ia ou vinha, em vós me ficou a melhor parte da crise, a sensação de um gozo novo, que me envolvia em mim mesmo, e logo me dispersava, e me trazia arrepios, e me derramava não sei que bálsamo interior. Às vezes dava por mim, sorrindo, um ar de riso de satisfação, que desmentia a abominação do meu pecado. E as vozes repetiam-se confusas: “Em segredinhos...” “Sempre juntos...” “Se eles pegam de namoro...”

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CAPÍTULO XII – NA VARANDAUm coqueiro, vendo-me inquieto e adivinhando a causa, murmurou de cima de si que não era feio que os meninos de quinze anos andassem nos cantos com as meninas de quatorze; ao contrário, os adolescentes daquela idade não tinham outro ofício, nem os cantos outra utilidade. Era um coqueiro velho, e eu cria nos coqueiros velhos, mais ainda que nos velhos livros. Pássaros, borboletas, uma cigarra que ensaiava o estio, toda a gente viva do ar era da mesma opinião. Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto.

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NARRADOR:

Foco narrativo em 1º pessoa: um duplo (narrador não confiável);

Faz parecer sem importância o que é fundamental;

Presença da metalinguagem.

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ENREDO

o Bentinho era um menino a quem foi destinada, por promessa da mãe – D. Glória – uma vida religiosa, mas que não conseguiu assumi-la, devido à paixão que sentia por Capitu, sua vizinha.

o Graças à interferência de José Dias, o agregado da casa, Bentinho sai do seminário. O namoro entre Bentinho e Capitu se prolonga; o tempo passa, Bentinho se forma em Direito, estreita sua amizade com Escobar, ex-colega de seminário, e se casa com Capitu, a qual tem uma amiga, Sancha, que se casa com Escobar.

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ENREDO

o Então, começa o conflito: Escobar morre num acidente. Julgando estranha a forma pela qual Capitu contempla o cadáver e lembrando-se da referência de José Dias aos seus “olhos de cigana, oblíquos e dissimulados”, Bentinho entrega-se ao sentimento de ciúme a ponto de planejar a morte da esposa e do filho – Ezequiel – que julga cada vez mais parecido com Escobar.

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ENREDO

o O casal se separa, Capitu e Ezequiel morrem anos depois e Bentinho, cada vez mais fechado em si mesmo, cada vez mais atormentado pelas dúvidas que nunca o abandonam passa a ser chamado de Dom Casmurro.

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ENREDO

o O casal se separa, Capitu e Ezequiel morrem anos depois e Bentinho, cada vez mais fechado em si mesmo, cada vez mais atormentado pelas dúvidas que nunca o abandonam passa a ser chamado de Dom Casmurro.

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LISTA DE PERSONAGENSBentinho (Bento Santiago): o narrador-personagem que conta suas memórias, membro da elite carioca do século XIX.

Capitu (Capitolina): grande amor de Bentinho, personagem de origem pobre, mas independente e avançada.

Escobar: o melhor amigo de Bentinho, a quem conheceu quando estudaram juntos no seminário.

Dona Sancha: mulher de Escobar, ex-colega de colégio de Capitu.

Dona Glória: mãe de Bentinho, adora o filho e é também muito religiosa. Quer que o garoto se ordene padre como cumprimento de uma promessa que fez.

José Dias: agregado que vive de favores na casa de dona Glória. Suposto médico, tem o hábito de agradar aos proprietários da casa com o uso de superlativos.

Tio Cosme: irmão de dona Glória, viúvo e advogado.

Pedro de Albuquerque Santiago: pai de Bentinho, faleceu quando o filho ainda era muito pequeno.

Senhor Pádua e Dona Fortunata: pais de Capitu, que viam no possível casamento da filha com Bentinho uma possibilidade de ascensão social.

Ezequiel: filho de Capitu, sobre o qual o narrador sustenta forte dúvida quanto à paternidade, pois o garoto tinha grande semelhança física com Escobar

Page 20: Dom casmurro

CAPÍTULO XII – NA VARANDAUm coqueiro, vendo-me inquieto e adivinhando a causa, murmurou de cima de si que não era feio que os meninos de quinze anos andassem nos cantos com as meninas de quatorze; ao contrário, os adolescentes daquela idade não tinham outro ofício, nem os cantos outra utilidade. Era um coqueiro velho, e eu cria nos coqueiros velhos, mais ainda que nos velhos livros. Pássaros, borboletas, uma cigarra que ensaiava o estio, toda a gente viva do ar era da mesma opinião. Com que então eu amava Capitu, e Capitu a mim? Realmente, andava cosido às saias dela, mas não me ocorria nada entre nós que fosse deveras secreto.

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CAPÍTULO CXXIII – OLHOS DE RESSACA Enfim, chegou a hora da encomendação e da partida. Sancha quis despedir-se do marido, e o desespero daquele lance consternou a todos. Muitos homens choravam também, as mulheres todas. Só Capitu, amparando a viúva, parecia vencer-se a si mesma. Consolava a outra, queria arrancá-la dali. A confusão era geral. No meio dela, Capitu olhou alguns instantes para o cadáver tão fixa, tão apaixonadamente fixa, que não admira lhe saltassem algumas lágrimas poucas e caladas... As minhas cessaram logo. Fiquei a ver as dela. Capitu enxugou-as depressa, olhando a furto para a gente que estava na sala. Redobrou de carícias para a amiga, e quis levá-la; mas o cadáver parece que a retinha também. Momento houve em que os olhos de Capitu fitaram o defunto, quais os da viúva, sem o pranto nem palavras desta, mas grandes e abertos; como a vaga do mar lá fora, como se quisesse tragar também o nadador da manhã.

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CAPÍTULO CXXXV – OTELO Jantei fora. De noite fui ao teatro. Representava-se justamente Otelo, que eu não vira nem lera nunca; sabia apenas o assunto, e estimei a coincidência. Vi as grandes raivas do mouro, por causa de um lenço, – um simples lenço! – e aqui dou matéria à meditação dos psicólogos deste e de outros Continentes, pois não me pude furtar à observação de que um lenço bastou a acender os ciúmes de Otelo e compor a mais sublime tragédia deste mundo. Os lenços perderam-se, hoje são precisos os próprios lençóis; alguma vez nem lençóis há, e valem só as camisas. Tais eram as idéias que me iam passando pela cabeça, vagas e turvas, à medida que o mouro rolava convulso, e Iago destilava a sua calúnia. Nos intervalos não me levantava da cadeira; não queria expor-me a encontrar algum conhecido. As senhoras ficavam quase todas nos camarotes, enquanto os homens iam fumar. Então eu perguntava a mim mesmo se alguma daquelas não teria amado alguém que jazesse agora no cemitério, e vinham outras incoerências, até que o pano subia e continuava a peça. O último ato mostrou-me que não eu, mas Capitu devia morrer. Ouvi as súplicas de Desdêmona, as suas palavras amorosas e puras, e a fúria do mouro, e a morte que este lhe deu entre aplausos frenéticos do público.

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CAPÍTULO CXXXV – OTELO

– E era inocente, vinha eu dizendo rua abaixo: – que faria o público, se ela deveras fosse culpada, tão culpada como Capitu? E que morte lhe daria o mouro? Um travesseiro não bastaria; era preciso sangue e fogo, um fogo intenso e vasto, que a consumisse de todo, e a reduzisse a pó, e o pó seria lançado ao vento, como eterna extinção...

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CAPÍTULO CXLVIII - E BEM, E O RESTO?

Agora, por que é que nenhuma dessas caprichosas me fez esquecer a primeira amada do meu coração? Talvez porque nenhuma tinha os olhos de ressaca, nem os de cigana oblíqua e dissimulada. Mas não é este propriamente o resto do livro. O resto é saber se a Capitu da praia da Glória já estava dentro da de Matacavalos, ou se foi mudada naquela por efeito de algum caso incidente. Jesus, filho de Sirach, se soubesse dos meus primeiros ciúmes, dir-me-ia, como no seu cap. IX, vers. I: “Não tenhas ciúmes de tua mulher para que ela não se meta a enganar-te com a malícia que aprender de ti.” Mas eu creio que não, e tu concordarás comigo; se te lembras bem da Capitu menina, hás de reconhecer que uma estava dentro da outra, como a fruta dentro da casca. E bem, qualquer que seja a solução, uma coisa fica, e é a suma das sumas, ou o resto dos restos, a saber, que a minha primeira amiga e o meu maior amigo, tão extremosos ambos e tão queridos também, quis o destino que acabassem juntando-se e enganando-me... A terra lhes seja leve! Vamos à História dos Subúrbios.

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CONTEXTO

A temática da traição, presente em Dom Casmurro, é instigante por si só. A traição conduz o ser humano aos limites da racionalidade e à beira da perda da razão. No entanto, o traço fundamental da obra é o questionamento da verdade, entendida como um dos edifícios do realismo a que o próprio escritor pertencia. A intensidade desse diálogo – com o tempo, com as emoções humanas e com a arte – faz de Dom Casmurro um romance de releituras sempre proveitosas.

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CONTEXTO

O Brasil da segunda metade do século XIX era uma economia em formação e em transformação. O estabelecimento de bases capitalistas relativamente modernas convivia, e conviveria ainda por muito tempo, com a persistência de hábitos e pensamentos conservadores.

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SOBRE O ENREDO

o Durante 60 anos, “o leitor”, isto é, a crítica literária, acreditou em Bentinho, e o livro foi lido como mais um exemplo de adultério feminino, explorado pela literatura realista (Madame Bovary, de 1857, de Gustave Flaubert; o romance de tese O primo Basílio, 1878, de Eça de Queiroz).

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SOBRE O ENREDOo Mas em 1960, uma professora norte-americana,

Helen Cadwel, propôs uma releitura da obra que chegou ao cerne de seu enigma apontando Bentinho, e não Capitu, como o problema central de Dom Casmurro.

o Maldade, egoísmo, vaidade, sentimento de superioridade, requintes de crueldade, ciúme doentio, inveja, aliciamento, mediocridade... compõem a complexa personalidade de Bentinho;

o Imaginação que despista o leitor (quem vai desconfiar de um educadíssimo senhor, de escrita culta e elegante, religioso, aparentemente bom e vítima da traição da esposa e amigo)?

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ANÁLISE DA OBRA

Enquanto os leitores se envolvem em incansáveis e intermináveis disputas a respeito da atribuição ou não de culpa a Capitu, muito provavelmente Machado de Assis se diverte, do espaço de onde poderia escrever, se quisesse, as suas próprias memórias póstumas. O motivo de seu riso é a própria discussão. 

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ANÁLISE DA OBRA

Na verdade, Dom Casmurro é um romance que trata da traição, sem que ela seja seu tema fundamental. O que se discute é o conceito de verdade, tema que transcende as traições, atingindo todos os níveis do relacionamento humano e, mais ainda, a forma como a humanidade constrói seus valores e sua moral. 

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Dom casmurroOtelo

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COMPARAÇÃO ENTRE OTELO E DOM CASMURROo Na peça Otelo, casado com Desdêmona e

comandante do exército, precisa promover Cássio ou Iago. Indeciso ele pede ajuda de Desdêmona, que escolhe Cássio para ser promovido. Iago fica enfurecido, pega o lenço de Desdêmona e o coloca no quarto de Cássio e depois diz para Otelo que Desdêmona o está traindo. Quando Otelo vai tirar satisfações com Cássio, ele encontra o lenço de Desdêmona e acaba, então, acreditando na história contada por Iago. Otelo vai ao encontro de Desdêmona, enfurecido. Quando a encontra, ele começa a sufocá-la com o travesseiro, até que a mulher de Cássio entra no quarto e conta para Otelo que foi tudo armação de Iago, mas já era tarde de mais e Desdêmona já estava morta.

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COMPARAÇÃO ENTRE OTELO E DOM CASMURRO

oO que também podemos perceber é que, Machado de Assis colocou em Bentinho o sobrenome Santiago. Existem teses defendendo que este sobrenome é a junção de Santo com Iago, o que teria o sentido de que Bentinho é inocente e também é seu próprio traidor, ou seja, Capitu não o traiu, ele teria deixado ela e seu filho por ciúmes.

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COMPARAÇÃO ENTRE OTELO E DOM CASMURROo A leitura do romance nos mostra que tais pensamentos não se efetivam - Bentinho não mata Capitu (embora de forma ardilosa a destrua), nem tampouco se suicida. O impulso de violência física que a decisão do mouro lhe inspira é abrandado. Bentinho, perspicazmente, encontra uma outra solução: renega mãe e filho; enviando-os para o exílio. Procedendo assim, mantém as aparências:

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COMPARAÇÃO ENTRE OTELO E DOM CASMURROo O seu modo de agir premeditado e

frio deixa delineada a distância que o separa do herói trágico, arrebatado e íntegro. Ao tentar utilizar a alusão a Otelo como argumento persuasivo que reafirma a culpa de Capitu pela marca da diferença em relação à Desdêmona, Dom Casmurro abre em seu próprio discurso uma brecha, em que se pode ler o espaço que o separa da inteireza de caráter do herói mouro e, num sentido inverso, o tanto que há nele do caráter malicioso e calculista de Iago.

Page 36: Dom casmurro

COMPARAÇÃO ENTRE OTELO E DOM CASMURROoA tragicidade que rege o momento de arrependimento, tão tocante em Otelo, não ressoa no texto machadiano. O trágico no romance liga-se, não à trajetória específica de um personagem, a seu engano e a sua queda, mas ao procedimento humano falso e mesquinho. Em Machado, trata-se do trágico do vazio, do nada que resta por detrás da permanente máscara humana.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AMARAL, E.; ANTÔNIO, S.; PATROCÍNIO, M. F. Machado de Assis: Dom Casmurro. In: Português: redação, gramática, literatura e interpretação de texto. São Paulo: Nova Cultural, 1999, p. 406-413.

ASSIS, Machado de. Dom Casmurro. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2081

MARCÍLIO, Fernando. Resumo de Dom Casmurro. Disponível em: http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/dom-casmurro.html.> Acesso em 31 de maio de 2015.

PINTO, Maria Isaura Rodrigues. Ecos de Otelo em Dom Casmurro. Disponível em: < http://www.filologia.org.br/machado_de_assis/Ecos%20de%20Otelo%20em%20Dom%20Casmurro.pdf.>