dois documentos epigráficos medievais inéditos da igreja de boim (lousada)

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O ensaio que ora se dá conta corresponde à catalogação e breve estudo de enquadramento crono-espacial de duas epígrafes medievais existentes na igreja de São Vicente de Boim, no concelho de Lousada.

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Suplemento de PatrimnioMensal Ano 12 N. 87 distribuio gratuita Revista Municipal

Dois documentos epigrficos medievais inditos da igreja de Boim (Lousada)Cristiano Cardoso* e Lus Sousa**INTRODUO O ensaio que ora se d conta corresponde catalogao e breve estudo de enquadramento crono-espacial de duas epgrafes medievais existentes na igreja de So Vicente de Boim, no concelho de Lousada. Em Agosto de 2007, durante uma deslocao referida igreja no mbito do acompanhamento da reportagem fotogrfica para a monografia Lousada: percursos de memria, e auxiliados por uma incidncia de luz favorvel, identificamos a epgrafe localizada na parede fundeira da capela-mor. Logo nesse momento, procedemos ao primeiro registo fotogrfico. Esta epgrafe suscitou-nos absoluta surpresa, pois jamais a viramos mencionada em qualquer inventrio ou estudo. J no decorrer do primeiro ensaio de decalque desta epgrafe, em Maro de 2010, foi possvel identificar uma segunda inscrio, num silhar inserido no pano sul da capela-mor. A convico de que estvamos na presena de dois importantes documentos epigrficos medievais consolidou-se quando verificamos que o Corpus Epigrfico Medieval Portugus no Fig. 1 - Igreja de So Vicente de Boim as mencionava nem inventariava. (Fig. 1) Museu do Seminrio Maior do Porto, tendo sido gravada Nesta breve notcia fazemos ainda um ponto da situao em lpide de granito, na qual se l: sobre o actual estado do conhecimento das epgrafes E(ra) M [] / GU[nt]I / NA IIUS / TA medievais no concelho de Lousada, dando nota das preNo topo do bloco foi gravada a data, da mesma restando sentemente conhecidas, enquadrando estas e as agora apenas o E e o M Era Milsima. Abaixo aparece gravadivulgadas no quadro scio-cultural da poca. da uma cruz grega ptea, com boto central e p alto, e nos quadrantes por ela definidos, GU [nt]I NA e IIUSTA. QUADRO ACTUAL Esta Guntina Justa, para Mrio Barroca, poder ser a me DA EPIGRAFIA MEDIEVAL LOUSADENSE de D. Guterre Mendes, D. Guntina Mendes, que seg. Jos No abundam as inscries medievais no espao concelhio Mattoso se encontra documentada em [1072] (Barroca lousadense. Comprovadamente apenas trs se contabilizam: MJ, 2000, II (1): 130-131, n.44). duas aparecidas na igreja paroquial de Meinedo e uma outra A segunda epgrafe, infelizmente perdida, restando apena igreja de Vilar do Torno e Alentm. Ainda que carea de nas o registo fotogrfico da dcada de 40 do sculo pasaprofundada anlise, tambm da Idade Mdia ser uma das sado, foi similarmente gravada em suporte grantico, deepgrafes que compreende o monumento epigrfico deposivendo tratar-se de uma lpide ou silhar funerrio. Nela se tado na Quinta de Santo Adrio (Silvares). encontra a seguinte inscrio: As mais antigas inscries medievais conhecidas no conE I E [] / BONA [] celho de Lousada so provenientes da igreja de Meinedo. Tal como a inscrio anterior, tambm esta esteve indita Apesar de se tratar de epgrafes no datadas, o seu conat merecer o estudo atento no ano 2000, por parte de tedo e formulrio permitiu enquadr-las no sculo XI. So, Mrio Barroca. Segundo este autor, as parcas dimenses deste modo, manifesto testemunho de uma ancestral tradida pea e do texto no permitem tecer alargadas consideo epigrfica na regio, que, por certo, aqui se dever ao raes, levantando, inclusive, algumas dvidas quanto no menos antigo Mosteiro de Santo Tirso de Meinedo, sua datao. Acrescenta ainda que por no ser claro na seguramente fundado em data anterior a 1131, ano em que fotografia, se torna difcil determinar se se trata de um I D. Afonso Henriques o doa S do Porto (Barroca MJ, entre os pontos distinguentes se de uma cruz recruzetada 2000, II (1): 131; Lopes ET, 2001: 42). (Barroca MJ, 2000, II (1): 131-132, n45). A primeira inscrio, funerria, encontra-se depositada no* **

Tcnico Superior de Cincias Histricas. [email protected] Arquelogo. [email protected]

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Na quinta de Santo Adrio encontra-se depositado um singral do monumento, vindo o mesmo a ser ento classificagular monumento epigrfico. Na poca Romana foi lavrado do como um possvel marco de propriedade com as quanum bloco grantico uma ara dedicada ao deus Re(o)ve, tro faces ornamentadas com temas de inspirao popular uma divindade indgena associada ao culto das guas sub(Barroca MJ, 2000, II (2): 2024). terrneas, sob a invocao de Reove Vadumic[o]1. O voto A inscrio que surge gravada abaixo de uma cruz incerta foi erigido por um Nigrinus filho de Niger, o que se reconhece num crculo de difcil interpretao, devendo tratar-se do como nomes latinizados. () A anlise paleogrfica e a patronmico ANES. Armando de Mattos leu ainda GARCIA comparao com outros documentos anlogos, possibilitou por baixo daquele patronmico, ideia contestada por Mrio apontar para o monumento uma cronologia em redor do Barroca (2000, II (2): 2024) que disse que ANES a nica sculo II d.C. (Magalhes et alii, 2009: 27-28). Do lado parte que se consegue ler3. esquerdo da ara, relativamente epgrafe romana, foi graIGREJA DE BOIM: vada uma inscrio possivelmente medieval. O traado tosBREVE NOTA HISTRICA E ARQUITECTNICA co, pouco profundo e truncado das letras tem dificultado a A primeira referncia documental conhecida relativa igreja sua caracterizao, necessitando que se lhe dedique uma de Boim a do texto das Inquiries de 1258, em que o observao mais atenta. A inscrio contm unicamente prelado, Pedro Eanes, e os restantes jurados afirmam ser trs a quatro letras, o que impossibilita de algum modo avanesta igreja pertena dos herdeiros ar no seu estudo. No queremos, de D. Guiomar Mendes de Sousa e todavia, deixar de realar que esta do mosteiro de Santo Tirso, estaninscrio poder relacionar-se com do a apresentao do proco cona edificao ou obras realizadas na dicionada confirmao do bispo capela de Santo Adrio, templo que do Porto (cf. Lopes, 2004:188). se encontra documentado desde Francisco Carvalho Correia, no seu 10592 (Magalhes et alii, 2009: 110). Divulgada desde meados do scuimportante trabalho sobre o aludido lo passado, a epgrafe de Vilar do cenbio beneditino, no conseguiu Torno foi inicialmente estudada por apurar a forma de aquisio do diArmando de Mattos (1946-48), que reito de padroado desta igreja (Corjulgou tratar-se de uma estela disreia, 2008:12 e 13), nem da parte cide, em razo de a ter visualizado que j lhe pertencia em 1258, nem apenas parcialmente, pois poda restante parte. Podemos, conca achava-se embutida na parede tudo admitir, que se tratasse de dolateral sul da igreja paroquial. Apeao da prpria D. Guiomar, de ennas em 1987 voltaria a ser referentre o patrimnio que lhe coubera da ciada, aquando do desenvolvimenparte do seu marido Joo Pires da to de um estudo centrado nas NeMaia, da linhagem do refundador e crpoles e sepulturas medievais de padroeiro de Santo Tirso, Soeiro Entre-Douro-e-Minho (sc. V a Mendes da Maia, o Bom. XV), da autoria de Mrio Barroca, No seguimento do que j dissetodavia, tambm este investigador, mos em trabalho anterior, o direito na sequncia da leitura efectuada de padroado exercido pelos herpor Armando de Mattos, considedadores no dever ter sobrevirou estar-se perante uma estela vido aco legisladora, espediscide, apontando, porm, que cialmente concentrada no reinase trataria de uma inscrio do Fig. 2 - Localizao das epgrafes do de D. Dinis, que procurou limisculo XIV, diferenando-se nestar os abusos dos padroeiros sote ponto em relao aquele autor que a havia classificado bre as igrejas e mosteiros (Silva e Cardoso, 2010:2; Pizarro, como sendo do sculo XIII. 2005:150-157). Com efeito, j na primeira metade do scuEm razo de se encontrar embutida na parede da igreja de lo XVI, o direito de padroado pertencia exclusivamente ao Vilar do Torno e Alentm at aos incios de 1994 dificultou mosteiro de Santo Tirso (Santos, 1973:112). uma apreciao global da pea, posio que o prprio A igreja de So Vicente de Boim sofreu inmeras alteraMrio Barroca (2000) viria a evidenciar mais tarde. Nesta es na sua estrutura arquitectnica ao longo dos temaltura, como atrs ficou dito, o bloco grantico de formato pos. Da maior parte dessas sucessivas intervenes no rectangular tinha sido retirado da parede da igreja, fruto de nos ficaram quaisquer registos documentais. S atravs obras de ampliao que a mesma sofreu na primeira metada anlise arquitectnica e da estrutura das paredes pode da dcada de 90 de sculo XX, circunstncia que posdemos avanar algumas hipteses cronolgicas para os sibilitou pela primeira vez efectuar uma visualizao intediferentes corpos que compem a igreja.

Devemos a leitura desta inscrio ao Mestre Armando Redentor, pelo que deixamos aqui o nosso sincero agradecimento. Trata-se do diploma n. XXX, dos Diplomata et Chartae, podendo ler-se: Et ex alia parte sancto veressimo de monte calvelo. vila molas. de ipsa villa IIII. integra per suos terminos. et de villa Silvares IIII. integra. et de ecclesia sancto Adriano IIII. integra. has villas et ecclesias desuper nominatas per cunctis terminis suis et cum suis prestacionibus et sicut in testamento et in scripturas et in colmellos de domna sabida resonat et de tota illa criazon medietate integra. 3 No catlogo da obra Epigrafia Medieval Portuguesa (862-1422): Corpus Epigrfico Medieval Portugus, de Mrio Barroca, esta inscrio encontra-se arrolada sob o n. 720. Chamamos a ateno que pese embora seja mencionado que o local de paradeiro a igreja de Vilar do Torno e Alentm, esta localizada na freguesia do Torno, concelho de Felgueiras (Barroca MJ, 2000, II (2): 2023), quando efectivamente se situa na freguesia de Vilar do Torno e Alentm, do concelho de Lousada.1 2

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A fachada principal da igreja constitui o nico vestgio da Ambas as epgrafes ocupam a segunda fiada de silhares construo erguida na primeira metade do sculo XVI, com acima da sapata do edificado correspondente capelao seu grande portal de arcada redonda, composto por altas mor da igreja de So Vicente de Boim, estando gravadas e largas aduelas de esquina chanfrada, como constatou em blocos granticos que julgamos possivelmente pertenCarlos Alberto Ferreira de Almeida (1995:ficha 45). A empecentes primitiva construo, silhares que sero comprona, que arranca directamente da parede, sem entablamento, vadamente anteriores s reformas do sculo XVI que a interrompida no topo por uma base, na qual esteve primiigreja evidencia. tivamente assentado um pequeno campanrio. A fachada A primeira inscrio, que revela um certo cuidado no no apresenta qualquer vo, conferindo uma ideia de ordinatio, encontra-se no topo exterior nascente da caperobustez muito caracterstica ao conjunto. (Fig. 2) la-mor, tendo sido gravada num silhar grantico quadrangular Ao corpo da nave quinhentista foram acrescentados dois com as dimenses de 38cm de altura e 60cm de comprivolumes em momentos distintos. O primeiro a ser construdo mento. Est organizada em duas regras ou linhas de texto, foi o corpo do lado norte, originalmente edificado para alcujo espao inter-linear de cerca de 2cm. A equidistncia bergar uma capela com a invocao do Senhor dos Deentre as letras e os pontos distinguentes cifra-se entre os samparados. Embora no saibamos 1,4cm e 1,7cm. Na primeira linha os quando foi iniciada, sabemos que em pontos distinguentes, em nmero de 1758 j estava acabada e nela j se trs e alinhados verticalmente, enfaziam alguns enterramentos (Silva contram-se bem marcados e alinhae Cardoso, 2010:3). O trabalho de dos. Entre o possvel M e o F uncial, cantaria dos vos e dos remates perdeparamos apenas com a presenmite distinguir este corpo daquele que a de um ponto, estando este dese ergue do lado oposto, voltado a salinhado relativamente aos desul, evidenciando que foi executado mais. Sobre este, embora em trao em momento posterior. No , pormuito tnue, verificamos a possvel tanto, totalmente vlida a cronologia presena de um outro, que, a ter avanada por Pinho Leal que indica o existido, se encontrava gravado em ano de 1777 para a construo conconcordncia com os restantes. Os junta dos dois corpos (1990:103), Fig. 3 - Decalque da epgrafe 1 pontos distinguentes possuem aqui mas poder, isso sim, corresponder uma altura que oscila entre os 10,5 ao incio da obra do corpo sul. Este poder ter sido erguido e 11,5cm, tendo longitudinalmente uma equidistncia mnide forma a conferir maior dignidade capela do Senhor ma de 2,8 e mxima de 4,2cm, diferenando-se esta sepados Desamparados, atravs da definio de uma nave, e rao somente entre o possvel M e o F uncial, onde se para garantir mais rea s missas celebradas no seu altar. constatam 5,8cm. Seguindo a hiptese de Pinho Leal, a sua construo que A segunda regra de mais difcil leitura, revelando algum poder ter ocorrido durante o ltimo quartel do sculo XVIII. descuido por parte do lapicista. Na parte inicial desta reJuntamente com esta nave foi levantado um campanrio, gra, no espao que medeia entre o comeo da pea e os apoiado parede oeste, composto por dois vos para dois primeiros pontos, ter sido gravada uma letra que no albergar sinos. Na estrutura dos alados da nave primitiva nos foi possvel divisar pelo facto de nesta zona se ter possvel distinguir a zona de demolio. desprendido um fragmento superficial do granito. As letras Mas na estrutura da capela-mor que encontramos os cinzeladas seguintes mostram um possvel G uncial, sesinais que indiciam um momento construtivo bem mais anguido de trs sulcos verticais paralelos, sendo o da direita tigo e, seguramente, relacionados com as epgrafes que mais longo. Esta abreviatura encontra-se entre pontos aqui se tratam. A capela-mor actual denota ter sido distinguentes, dois em cada lado. O texto finalizado pela construda de raiz. O trabalho de cantaria da base das presena de uma abreviatura precedida de dois pontos paredes e dos pilares demonstram tratar-se de obra de um compondo-se de um V curvilneo e um N uncial. s mpeto. Contudo, nos panos das paredes, observa-se a existncia de cantaria pseudo-isdoma em diversas fiaLeitura: das preponderantemente na parede fundeira , e em silhares avulsos como na parede sul facto que sugere o reaproveitamento de materiais de uma construo antiga que fora demolida para dar lugar a outra moderna. Os dois O alfabeto utilizado nesta epgrafe, bem como na inscrio silhares que servem de suporte s epgrafes aqui seguinte, o tipo carolino com influncias unciais, segunidentificadas enquadram-se precisamente nestas caracdo classificao dos quatro grandes grupos de alfabetos tersticas, levando-nos a admitir a existncia de uma definidos por Mrio Barroca (2000, I: 144) para a epigrafia edificao medieval que ter sido totalmente desmontada medieval portuguesa, alfabeto detectado em algumas inspara dar lugar ao edifcio quinhentista. Nesta conformidacries a partir de fins do sc. XI, vulgarizando-se a partir de, a antiga capela-mor corresponder cronologia que de 1145 (Barroca MJ, 2000, I: 158-159). seguidamente apontamos para as epgrafes. A pea, pela circunstncia de ter gravadas algumas abreviaturas de difcil interpretao e de estar truncada, no Epgrafe 1 permite que se lhe determine com segurana a natureza Procedemos a partir deste ponto exposio de uma vido contedo. Julgamos que lhe falta texto esquerda, pelo so analtica das peas epigrficas presentes na igreja de que a abreviatura que abre actualmente a inscrio se So Vicente de Boim. reporta talvez ao patronmico LOURENO, usual no Em virtude do emprego de certas abreviaturas e por estaonomstico medieval, devendo o restante letreiro conter a rem truncados os suportes, a leitura no facilitada, em expresso M(andou) F(azer), iniciando-se ainda nesta pritodo o caso apresentamos algumas propostas do contemeira regra a datao, de que se dever ler E(ra). A data do das inscries e sua cronologia. (Fig. 3) figuraria na regra seguinte, parte que no possumos, pormunicpio de lousada - junho 2011

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so parcos os registos documentais que a citam, por outro, porque so dos mais ancestrais e concretos testemunhos que provam a presena daquela igreja no actual espao que ocupa. A anlise paleogrfica realizada, mormente ao nvel do tipo de alfabeto, abreviaturas e sinais distinguentes, permite enquadrar cronologicamente os dois documenEpgrafe 2 tos epigrficos expostos entre fiEsta inscrio mostra apenas uma nais do sc. XIII e os incios do sc. linha de texto, composta por palaXIV. vras abreviadas figurando apenas Entre outros aspectos epigrficos as letras S e V, em uncial de liFig. 4 - Decalque da epgrafe 2 aflorados anteriormente, uma das nha curva, separadas por trs poncaractersticas que salta numa primeira anlise das tos distinguentes dispostos na vertical. Sobre o S, aliepgrafes o sinal de separao das palavras, que se nhada esquerda da pea, vemos gravada uma pequena constitui por trs pontos sobrepostos em posio vertical, cruz simples de braos equilteros, com as dimenses considerado o mais abundantemente utilizado nas inscriaproximadas de 6x6cm. (Fig. 4) As letras tm uma altura es medievais (Barroca, 2000, I: 202). Este sinal ter mxima de 15cm e mnima de 9cm. O S possui abreviatusurgido pelos incios do sculo X, verificando-se a difuso ra sobrelevada com 4,5cm de altura. O V possui tambm do mesmo ao longo do sculo XII e XIII, porm, sem se abreviatura sobrelevada, tendo esta de altura 6cm. Os destacar relativamente aos demais sinais empregues, nopontos distinguentes tm de altura mxima 10,5cm, com meadamente de traos verticais, tringulos, folhas de hera, uma equidistncia entre os pontos de 4,5cm. As letras e os etc. O sculo XIV constitui-se como o sculo de afirmao pontos distinguentes encontram-se separados por um indo uso de trs pontos sobrepostos a separar as palavras, tervalo de 2,5cm a 3cm. constatando-se o emprego deste sinal em cerca de metade das epgrafes portuguesas que usam como demarcaLeitura: o entre palavras o ponto (Barroca, 2000, I: 204). Algumas letras, como os FF, comeam a sofrer influncias O texto dever estar completo, a cruz elevada no topo unciais a partir de meados do sc. XII (1148), caracterisuperior esquerdo encontra-se, julgamos, a dar incio zando-se pelo traado curvo da linha superior. Ser, poinscrio, e a ltima letra no possui pontos distinguentes rm, a partir de 1197, que o verdadeiro F uncial passa a como que a dar a indicao de uma separao. crvel ser usado, definido por uma linha indistinta entre o travesque a mesma possa significar S(ancto) V(i)CE(ncio) ou so superior e a haste vertical (Barroca MJ, 2000: 159), S(o) V(i)CE(nte), recaindo sobre esta segunda hiptese tradio verificada no F representado na epgrafe 1, pomaior aceitao da nossa parte. rm, de aspecto mais tardio, associado a uma palavra Pensamos que esta inscrio se relacionar com obras de escrita j em portugus: FAZER. O prprio M, com abrevirestauro ou com a concluso da construo desta parte atura sobrelevada de MANDOU, que antecede o F referido edificado, marcando porventura um acto de sagrao. do, apresenta grafia tardia, porventura mostrando at j algum distanciamento do alfabeto carolino de influncia Concluses uncial. Trata-se de um M curvo assimtrico, com a haste Uma epgrafe, enquanto documento histrico, constitui-se direita mais longa relativamente da esquerda e da cencomo das mais importantes fontes de estudo para o perotral, representadas de modo regular. do a que respeitam, no caso vertente para o historiador ou Quer as letras, quer os sinais de separao que compem arquelogo medievalista. nesta ambincia hermenutica a inscrio, mostram j traos largos, o que parece ser um que os dois monumentos de que demos notcia devem ser modo de gravar entre os lapicistas que se comea a vulvalorizados, por um lado, porque sobre a igreja de Boim garizar nos primeiros anos do sculo XIV.

perdida. A segunda regra revela-senos de difcil entendimento, por um lado, por estar truncada, por outro, pela interpretao dbia que nos oferecem as abreviaturas gravadas, acrescentando-se condio de que no dispomos de elementos que nos permitam o estabelecimento de comparaes.

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