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Revista Odontológica de Araçatuba, v.35, n.1, p. 60-66, Janeiro/Junho, 2014 60

DOENÇAS ASSOCIADAS À OBESIDADE INFANTIL

DISEASES ASSOCIATED THE OBESITY CHILD

Mariana de Sousa Farias MOREIRA¹

Fabiana Maciel de OLIVEIRA²Washington RODRIGUES3

Luis Carlos Nobre de OLIVEIRA³

Juliana MITIDIERO³

Fernando FABRIZZI³Daniela Navarro D’Almeida BERNARDO4

RESUMOO sedentarismo é um fator de risco para o desenvolvimento de sobrepeso e da obesidadeinfantil, situações que se associam para o desenvolvimento da dislipidemia, hipertensãoarterial, resistência insulínica, diabetes melittus, doenças cardiovasculares entre outrasalterações. O objetivo deste estudo foi identificar os possíveis fatores etiológicos dasdoenças associadas à obesidade infantil, e como a atividade física pode contribuir para asua prevenção. Este estudo foi baseado em revisão de literatura, utilizando as bases dedados Scielo, Google acadêmico e Birime no período de 1997 a 2012. Conclui-se quetrabalhar em equipe multidisciplinar de médicos, nutricionistas, educadores físicos e ospróprios pais têm sido a ferramenta mais eficaz para a prevenção da obesidade infantil.

UNITERMOS: Obesidade; Criança; Atividade física; Sedentarismo; Comorbidade.

INTRODUÇÃONas últimas décadas houve um crescimento no

mundo todo da obesidade infantil, devido ao seucrescimento ela se caracteriza como uma novaepidemia mundial que a cada dia vem aumentandotanto em países desenvolvidos como aqueles queestão em desenvolvimento1.

A obesidade não é recente na história dahumanidade, porém nunca tinha alcançado tamanhaepidemia como atualmente. As causas de issoacontecer estão ligadas às mudanças no estilo devida e nos hábitos alimentares, pois cada vez maisse faz consumo de alimentos industrializados,geralmente com alto teor calórico à custa de gordurasaturada e colesterol2.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde(OMS)3, a obesidade é um importante problemamundial a saúde pública, no início dos anos 90 a OMS,começou a “soar o alarme” depois de feita umaestimativa que havia 18 milhões de crianças em todomundo menores de cinco anos que estava sendoclassificadas com sobrepeso, e a maior preocupaçãocom isso é o impacto global que no futuro o adultoobeso poderá causar4,5.

Na idade adulta a obesidade está fortementerelacionada com a obesidade na infância, sendo que1 Graduada em Bacharelado em Educação Física pelo Centro Universitário Salesiano Auxilium de Araçatuba - UniSalesiano.2 Mestre Docente do Curso de Nutrição do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba – UniSalesiano.3 Mestre Docente do Curso de Bacharelado em Educação Física do Centro Universitário Católico Salesiano Auxilium de Araçatuba– UniSalesiano.4 Mestre Docente dos cursos de Bacharelado em Educação Física e Nutrição do Centro Universitário Católico Salesiano Auxiliumde Araçatuba – UniSalesiano.

a intervenção deve ocorrer ainda criança antes de aobesidade ser instalada quando se observa ganho depeso em uma rápida velocidade5.

Atualmente devido ao avanço tecnológico a cadadia tem se facilitado e muito a vida da sociedademoderna, contribuindo para os baixos índices deatividade física e até mesmo ao sedentarismo. Já quea vida sedentária hoje é um dos principais vilões parao ganho de peso excessivo e das suas co-morbidades6.

A elevada prevalência de Excesso de PesoCorporal (EPC) leva a um aumento das morbidadesassociadas a este distúrbio como a diabetes,hipertensão arterial, dislipidemia, hipercolesterolêmia,doenças cardiovasculares e ao desenvolvimento dasíndrome metabólica, onde diminui a qualidade de vidae eleva o custo em cuidados com saúde7.

A atividade física pode intervir na prevenção dasdoenças que se associa a obesidade infantil. Estudosepidemiológicos têm confirmado que a perda de pesoleva à melhora dessas doenças, reduzindo os fatoresde risco e a mortalidade8,9.

O objetivo do presente estudo é investigar asprincipais doenças associadas à obesidade infantil,identificar os possíveis fatores etiológicos das doençasassociadas à obesidade infantil, e como a atividade

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física pode contribuir para a prevenção.Este estudo foi baseado em revisão de literatura,

util izando as bases de dados Scielo, Googleacadêmico e Birime no período de 1997 a 2012.

REVISÃO DE LITERATURAObesidade InfantilA obesidade é definida pelo acúmulo excessivo

de gordura no organismo causado por desequilíbrionutricional ligado ou não a distúrbios genéticos ouendocrinometabólicos, onde ocorre um armazenamentoexcessivo de energia em forma de triglicerídeos, notecido adiposo10. É caracterizado como uma doençanão transmissível e sim com envolvimento de fatoresambientais, comportamentais e genéticos11.

Ela é uma doença crônica de difícil tratamento12,hoje é considerada como uma pandemia global sendoum importante problema de saúde tanto em paísesdesenvolvidos como aqueles que ainda estão emdesenvolvimento, e com a sua crescente incidênciana infância esse problema se tornam mais gravequando se considera a sua evolução e as suasassociações8.

A obesidade é classificada em endógena eexógena, a endógena (secundária a síndromesgenéticas e endocrinopatias), como as síndromes dePrader Willi e Down, hipotireoidismo, entre outros,ela representa cerca de 5% dos casos. Já a obesidadeexógena é pela ingestão excessiva de alimentos,geralmente ela representa cerca de 95% dos casos12.A obesidade também pode ser classificada de acordocom a localização da gordura corporal, tipo aobesidade androide conhecida também como maça,ela é pelo acúmulo de gordura central na região dotronco, já a obesidade ginóide conhecida como dotipo pera, é pelo acumulo de gordura na região doquadril ou glúteo femoral. A gordura distribuída naregião do abdome é a mais prejudicial para a saúde,pois ela está diretamente associada às doençascardiovasculares e ao diabetes mellitus do tipo II 13.

A obesidade t raz problemas sociais epsicológicos nas crianças dificultando o seu convívioem sociedade, reduzindo a sua autoestima. Na idadeescolar esse problema é ainda mais grave, pois elasacabam sofrem bullying gerando transtornospsicológicos que às vezes são irreversíveis, além detrazer várias consequências que pode ser notada emum período de curto prazo como em longo prazo8,12.

Em curto prazo estão às desordensortopédicas, distúrbios respiratórios, diabetes,hipertensão arterial, dislipidemia e os distúrbiospsicossociais, já em longo prazo tem se aumentadoa mortalidade por todas as causas da obesidade epelas doenças coronarianas em indivíduos que foramobesos na infância e na adolescência12.

Prevalência da obesidade infantilNos últimos 10 anos a OMS3 apontou dados

referentes ao aumento de 10 a 40% da obesidade

infantil, na maioria dos países europeus e no Brasilesses índices têm aumentado cada vez mais13. Amaior taxa de obesidade ocorre em população commaior grau de pobreza e por menor nível educacional,essa associação pode ser explicada pela maiorpalatabilidade e pelo baixo custo de alimentos comgrande densidade energética, como por exemplo, osaçúcares e gorduras14.

Segundo dados da Pesquisa Nacional sobreSaúde e Nutrição (PNSN), há uma prevalência de 7%de obesidade em meninos e de 9% em meninasbrasileiras15. O índice de obesidade nunca foi tão altocomo na atualidade, tornando assim, a principal causade morbidades e de mortalidade mundial empopulações adultas16.

A probabilidade de uma criança obesa se tornarum adulto obeso varia de 20% a 50%, antes dapuberdade é de 50% e após puberdade é de 70%. Jáo risco de morte em indivíduos adultos que foramcrianças e adolescentes obesos na infância é bemmaior do que em indivíduos magros que quandocrianças e adolescentes tinham o peso normal10.

Etiologia da obesidade infantilA etiologia da obesidade é bem complexa e

multifatorial, ela se resulta da interação de gene,estilos de vida, ambiente e por fatores emocionais. Orisco de uma criança se tornar obesa quando nenhumdos pais é obeso, é de 9% quando um deles é obesoo risco se eleva para 50% e quando os dois sãoobesos a porcentagem chega aos 80% 14.

Prevenção da obesidade infantilA vida sedentária hoje é um dos principais vilões

para a obesidade juntamente com a má alimentação,quando a criança está obesa ela tende a ficar maissedentária ainda, devido às limitações que ela acabatendo. Sendo assim a atividade física espontânea éimportante para a criança pelo fato de propiciar avivência lúdica na sua realização, já que a atividadefísica sistematizada é menos interessante a criançae mais dispendiosa para os pais13.

As pessoas l igadas diretamente com aprevenção da obesidade são os médicos, pais,nutricionistas e professores. Os pais são de extremaimportância para a apropriação do estilo de vida dacriança, pois eles influenciam diretamente tanto noshábitos alimentares como na atividade física, portantoo papel da família é fundamental para que osresultados sejam alcançados14.

A prevenção do ganho de peso é aumentar o gastoenergético com a diminuição de hábitos sedentários eo aumento de exercícios físicos, pois esses fatoressão determinantes para a perda de peso10.

Atividade Física versus obesidade infantilAtividade física é qualquer tipo de movimento no

corpo com gasto calórico energético acima dos níveisde repouso. A prática da atividade física produz

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desenvolvimento das habilidades motoras, sóciopessoal, aptidão física e um estilo de vida saudável15.

A atividade física tem um papel protetor contra aobesidade e sobrepeso, crianças mais ativas têm menospercentual de gordura corporal e menor IMC, já criançascom sobrepeso e obesas são menos ativas e participammenos de atividades moderadas ou intensas10.

Um excelente artifício para que a criançapratique atividade física, é a atividade física lúdica nãoapenas para reverter o processo de obesidade dacriança, mas também para auxiliar no envolvimentodos pequenos cidadãos com a atividade física, pois aludicidade traz essencialmente prazer. A vantagemdesse tipo de atividade é a permanência da atividadefísica na vida da criança17.

O educador físico deve ter a preocupação paraque a criança não se exclua das atividades físicas,deve se criar alternativas para que ela permaneçasempre do início ao fim da atividade15.

Síndrome MetabólicaA Síndrome Metabólica (SM) é definida quando

há a ocorrência de três ou mais morbidades, ela écaracterizada pelo agrupamento de fatores de riscocardiovascular, como a resistência insulínica,hipertensão arterial, hiperinsulinêmia, diabetesmellitus tipo 2, dislipidemia e obesidade central18.

De todos os fatores de risco que fazem parte daSM, a presença de sobrepeso e obesidade aparecesendo o mais importante, especialmente nos EstadosUnidos onde a sua prevalência aumentou de duas paraquatro vezes19.

Medidas não medicamentosas deve ser aprimeira atitude a ser tomado, como estilo de vidasaudável focado em atividade física regular e uma dietaequilibrada. O tratamento medicamentoso pode sernecessário em pessoas com aumento de pressãoarterial, dislipidemia e diabetes tipo 2, mas com aprática da atividade física diária pode nem ser maisnecessário o uso de medicamentos19.

As crianças classificadas com a SM continuarãotendo a síndrome no futuro, pois a presença da SMna idade adulta está fortemente associada à presençade SM e o IMC elevados na infância1.

A prevenção da obesidade por meio da dieta eda atividade física deve ser prioridade, pois tem umarelação direta e positiva na melhora da dislipidemia,hipertensão arterial, perda de peso, resistênciainsulínica e nas alterações do metabolismo doscarboidratos19.

Diabetes Melittus tipo 2O Diabetes Melittus tipo 2 (DM2), se caracteriza

pela combinação de resistência a ação da insulina eda incapacidade da célula beta em manter a secreçãode insulina adequada20.

A gordura localizada na região do abdome é amais prejudicial a saúde, ela está associada àsdoenças cardiovasculares e ao DM2, já a diabetes

melittus tipo 1 é desenvolvida na infância e é decaracterística genética13.

Etiologia do Diabetes Melittus tipo 2A resistência a ação da insulina é uma

anormalidade primária e precoce, ela se caracterizapela diminuição da habilidade da insulina em estimulara utilização da glicose pelo músculo e pelo tecidoadiposo, onde prejudica a supressão da lipólisemediada por esse hormônio. Há relacionamento daresistência insulínica com fatores genéticos, raciais,puberdade, obesidade e o peso ao nascer20.

Prevalência do Diabetes Melittus tipo 2Nos últimos anos, houve um grande aumento

na prevalência do DM2 entre jovens. Anteriormenteos casos de DM2 correspondiam de 1 a 2 %,atualmente essa porcentagem está em torno de 8 a45%. O aumento da obesidade infantil, explica ogrande avanço do DM2 em populações jovens20.

Diagnóstico do Diabetes Melittus tipo 2O diagnóstico do DM2 na infância deve ser feito

levando em consideração os critérios clínicos comoa idade e sexo do indivíduo, presença de obesidade ehistórico familiar25. Os sintomas da DM2 são: poliúria,polidipsia, polifagia, perda involuntária de peso, fadiga,fraqueza, letargia, prurido cutâneo e vulvar,balanopostite e infecções de repetição21.

Segundo a Associação Americana de Diabetes(Consense), deverá submeter-se a triagem para DM2na infância crianças obesas, com IMC maior que opercentil 85 para idade e sexo20.

Prevenção do Diabetes Melittus tipo 2A prevenção do DM2 está na educação e na

modificação do estilo de vida, onde inclui alimentaçãosaudável e aumento da atividade física20. A educaçãofísica deve ser considerada uma importante ferramentaa favor da educação em saúde, cultivação de hábitossaudáveis e promoção do ser humano, assimcontribuindo para um estilo de vida ativo22.

Hipertensão ArterialA Hipertensão Arterial (HA) é uma síndrome

caracterizada pela presença de níveis tensionaiselevados associados a alterações metabólicas,hormonais e fenômenos tróficos23.

Etiologia da Hipertensão ArterialAs principais causas de HA por faixa etária são:Recém- nascidos: trombose de artéria renal,

estenose de artéria renal, trombose venosa renal,anormalidades renais congênitas e coarctação da aorta;

Crianças de 1 a 6 anos: doença do parênquimarenal, doença renovascular, coarctação da aorta ehipertensão essencial;

Crianças de 06 a 12 anos: doença do parênquimarenal, doença renovascular, hipertensão essencial,

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coarctação da aorta, causas endócrinas eiatrogênicas;

Adolescentes de 12 a 18 anos: hipertensãoessencial, iatrogênicas, doença do parênquima renal,doença renovascular, causas endócrinas, coarctaçãoda aorta23.

Prevalência da Hipertensão ArterialA prevalência da HA em crianças e adolescentes

varia em torno de 2% a 13% 24. É uma doença crônicaque apresenta maior prevalência no mundo, além de serum fator de risco importante e independente para doençacardiovascular, acidente cerebral vascular e doença renal23.

Diagnóstico da Hipertensão ArterialA HA infantil devido a sua alta morbidade é um

importante preditor de HA na vida adulta, é fundamentalo seu diagnóstico precoce e a sua prevenção nasprimeiras etapas da vida, através de controle e dosseus fatores de risco24.

O modelo assistencial no Brasil dificulta odiagnóstico da HA na infância, a identificação decrianças com aumento de HA, o conhecimento a suaassociação com fatores de risco como a obesidade,é de extrema importância para gerar uma novadimensão de medidas preventivas adotadas em prolda população infantil23.

Há aumento tanto na pressão sistólica como nadiastólica devido ao aumento de IMC 2. A HA detectadaem algumas crianças pode ser secundária, porexemplo, às doenças renais, mas também poderepresentar o início precoce da HA em adultos23.

Prevenção da Hipertensão ArterialO excesso de peso está associado a HA na

infância e é fundamental que os profissionais de saúde,educadores físicos e os familiares esclareçam aimportância da modificação do estilo de vida para suaprevenção e tratamento da obesidade assim comoas suas co-morbidades, sendo assim em criançashipertensas, a diminuição de sal é muito importantepara a normalização dos níveis pressóricos6, 24.

Dessa maneira a perda de peso é uma medidabastante efetiva na redução da HA, para que o seuperfil lipídico seja favorável e que a HA se mantenhadentro dos limites normais25.

DislipidemiaA dislipidemia é um fator de risco, sendo duas

anormalidades lipídicas encontradas na SM ocolesterol High Density Lipoproteins (HDL), baixo etriglicerídeos alto. Ela é caracterizada por um distúrbiono metabolismo lipídico com repercussões nos níveisde lipoproteínas na circulação sanguínea e nasconcentrações de seus componentes1, 18.

Etiologia da dislipidemiaNa última década, a dislipidemia estendeu-se a

faixa pediátrica, adicionalmente também na criança

a intensidade, a extensão e a prevalência daaterosclerose parecem estar ligadas a ocorrência e agravidade dos fatores de risco cardiovasculares. Ondea dislipidemia é o maior fator de risco para aprogressão da aterosclerose, especialmente quandoos níveis de colesterol total, LDL colesterol etriglicerídeos estão elevados e a concentração de HDLcolesterol está reduzida26.

A dislipidemia pode ser iniciada na infância emanter a sua característica durante o crescimento eo desenv olv imento, esse comportamento édenominado fenômeno de trilha, é mais frequente emfamílias com história de aterosclerose precoce ou dedislipidemia26.

Prevalência da dislipidemiaNo Brasil a prevalência de dislipidemia está em

torno de 28 e 40% em crianças e adolescentes,quando o critério adotado é o colesterol total séricosuperior a 170 mg/dl. O aumento da prevalência dadislipidemia está fortemente associado às mudançasna alimentação, onde há aumento no consumo dealimentos industrializados que contribui para aalteração do perfil lipídico e menor consumo dealimentos in natura27.

Diagnóstico da dislipidemiaA dislipidemia pode ser um evento primário, mas

frequentemente é secundária a obesidade infantil. Elaé um fator de risco para o desenvolvimento decomplicações da aterosclerose26.

A aterosclerose é uma doença inflamatóriacrônica de origem multifatorial, acometendo a camadaíntima das artérias de médio e grande calibre,geralmente surge na infância e é silenciosa27.

Segundo a I Diretriz Brasileira para prevenção daaterosclerose na infância e na adolescência, deve sesolicitar perfil lipídico para crianças de 2 a 10 anos deidade quando houver: pais ou avós com antecedentesde arteriosclerose, parentes de primeiro grau comvalores de colesterol total 240mg/dl e de triglicerídeos400mg/dl, fatores de risco como diabetes melito,infecção pelo HIV, síndrome nefrótico e lúpuseritematoso sistêmico, história de pancreatite aguda,xantomas eruptivos, arco corneano palpebral, xantomasem tornozelos, face dorsal das mãos e joelhos ehistória familiar desconhecida. Além dessas situaçõescitadas todas as crianças devem ter seus níveis decolesterol total determinados aos 10 anos de idade26.

Prevenção da dislipidemiaÉ recomendável uma dieta com aumento da

ingestão de fibras solúveis para reduzir a absorçãode gorduras, assim reduzindo o colesterol Low DensityLipoproteins (LDL). O consumo de legumes, frutas everduras ricos em antioxidantes é um dos fatoresimportantes na prevenção da dislipidemia27,28.

A atividade física é indicada para auxiliar naprevenção, sendo assim a atividade regular propicia a

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melhora da obesidade infantil, e secundariamente parao controle da dislipidemia. Estudos populacionaismostraram que o sedentarismo infantil é a causa maisimportante da epidemia mundial da obesidade infantil,onde determinou o aumento da prevalência dadislipidemia em todo o mundo26.

Doenças CardiovascularesNo Brasil as Doenças Cardiovasculares (DCV),

são responsáveis pela maior carga de doença seguidapelo diabetes melito, ambos têm fator de risco emcomum que é o excesso de peso. As crianças vêmse tornando cada vez mais vulneráveis ao excessode peso, inclusive com a presença de resistência ainsulina, DM2 e aterosclerose, assim compondo oquadro da SM29.

Etiologia das Doenças CardiovascularesAs DCV têm como principais fatores de risco a

obesidade e a dislipidemia, sendo que a obesidadena infância é o mais importante fator de risco paraDCV na vida adulta, apresenta crescente prevalênciaassociada ao esti lo de v ida em particular osedentarismo e o consumo de gorduras e açúcares.A HA também é um fator de risco importante eindependente para DCV23.

As DCV representam a primeira causa de mortenos países desenvolvidos e vem crescendo tambémnos países subdesenvolvidos. A adoção de medidasde prevenção primária em jovens tem sido reconhecidacom grande importância para as doençascardiovasculares29.

Prevalência das Doenças CardiovascularesA DCV é responsável por aproximadamente 15

milhões de óbitos no Brasil e no mundo a cada ano, erepresenta o mais alto custo com assistência médica.O impacto das DCV será maior em países emdesenvolvimento do que nos já desenvolvidos, poiscontribuem mais para o seu ônus, há previsão de quemortes por DCV deverá aumentar em torno de 20%até 202030.

A obesidade na infância é o fator de risco maisimportante para as doenças cardiovasculares na idadeadulta, onde apresenta uma crescente prevalênciaassociada às mudanças no esti lo de v ida,sedentarismo e um maior consumo de gorduras eaçúcares23.

Diagnóstico das Doenças CardiovascularesIndivíduos que apresentam fatores de risco como

da SM são classificados como limítrofes, que no futuropodem apontar para alguma direção, por essa razãoa alta prevalência de sobrepeso e de obesidade podeaumentar os riscos de mortalidade cardiovascular.Quando diagnosticado precocemente causas e fatorespodem ser corrigidos, contribuindo para a redução deDCV posteriormente31.

Prevenção das Doenças CardiovascularesAs medidas de prevenção para essa faixa etária

se concentram na adequação de hábitos alimentaressaudáveis, atividade física regular, evitar o excessode calorias, diminuir a quantidade de sal, gordurasaturada e colesterol. A prevenção específica daobesidade por meios de dieta e atividade física deveter prioridade máxima, v isto que melhorampositivamente a dislipidemia, a HA, alterações dometabolismo dos carboidratos19.

Os benefícios são a perca de peso, melhora dosparâmetros metabólicos, redução da pressão arteriale da resistência a insulina, bem estar psíquico,predisposição para manter a atividade física na idadeadulta e consequentemente diminui o risco para DC,assim tendo expectativa para aumento de vida19.

CONCLUSÃOO surgimento das patologias na infância,

relacionadas com a ingestão energética, como àobesidade, estão comumente associadas aodesequilíbrio entre a atividade física e a ingestãoalimentar. Trabalhar em equipe multidisciplinar demédicos, nutricionistas, educadores físicos e ospróprios pais têm sido a ferramenta mais eficaz paraa prevenção da obesidade infantil.

A obesidade na infância é mais difícil do que naidade adulta, pois está relacionado a mudanças dehábitos e da disponibilidade dos pais, além de que acriança não tem entendimento quanto aos danoscausado pela obesidade.

Crianças estão sendo vítimas da epidemia deobesidade nos tempos atuais, devido a isso ascomplicações futuras como as comorbidades podemelevar ainda mais o grau de obesidade se a criançapermanecer obesa até chegar à idade adulta.

ABSTRACTPhysical inactivity is a risk factor for the developmentof overweight and childhood obesity, conditionsassociated to the development of dyslipidemia,hypertension, insulin resistance, diabetes mellitus,cardiovascular disease, among other disorders. Theaim of this study was to identify possible etiologicfactors of diseases associated with childhood obesityand how physical activity can contribute to itsprevention. This study was based on literature review,using the Scielo, Google scholar and Birime data from1997 to 2012. To workin a multidisciplinaryteam ofphysicians, nutritionists, physical educatorsandparentsthemselves havebeenthe most effective toolforthe preventionof childhood obesityit is concluded.

UNITERMS: Obesity, Children, Physical activity,Sedentary and Comorbidity.

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