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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES AVM FACULDADE INTEGRADA PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira x Imposto sobre Grandes Fortunas no Orçamento Público Brasileiro Pâmella Louize Carriço Silva ORIENTADOR: Luiz Eduardo Chauvet Rio de Janeiro 2016 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEIDE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira x

Imposto sobre Grandes Fortunas no Orçamento Público

Brasileiro

Pâmella Louize Carriço Silva

ORIENTADOR:

Luiz Eduardo Chauvet

Rio de Janeiro 2016

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

AVM – FACULDADE INTEGRADA

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Gestão Pública. Por: Pâmella Louize Carriço Silva

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira x

Imposto sobre Grandes Fortunas no Orçamento Público

Brasileiro

Rio de Janeiro 2016

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RESUMO

O presente trabalho procura acrescer aos debates já existentes

sobre a política orçamentária brasileira, principalmente nesse momento de

crise, estudos pertinentes para um melhor manejo e estruturação do sistema

tributário vigente.

Através da pesquisa de alternativas para resolução do imbróglio

orçamentário do Brasil pela gestão pública atual, o trabalho procura estudar a

aplicação dos impostos CPMF e IGF, separadamente, no sistema tributário

brasileiro e quais seriam os desdobramentos dessas propostas nos contextos

político, econômicos e sociais. Para isso, o trabalho apresenta as especifidades

sobre cada tributo, a CPMF e o IGF, e uma base final comparativa entre ambos

que permita a definição da alternativa mais adequada ao contexto brasileiro.

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METODOLOGIA

O tipo de pesquisa realizada neste trabalho será de caráter

bibliográfico, encaixando-se no campo teórico. A pesquisa será embasada na

revisão da literatura sistemática de diferentes áreas do Direito, como Tributário

e Constitucional, e em obras da própria Gestão Pública.

Serão pesquisados e estudados materiais referentes aos dois

principais pontos abordados nesta monografia: Contribuição Provisória sobre

Movimentação Financeira e Imposto sobre Grandes Fortunas.

Esses pontos serão detalhados em suas por menoridades, e então

será realizada uma análise comparativa entre ambos, que permita a construção

de um diagnóstico sobre as suas possíveis aplicações dentro do orçamento

público brasileiro no contexto atual.

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SUMÁRIO

ÍNDICE DE TABELAS 06

INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

CPMF e seu possível retorno 09

1.1 Análise da CPMF no Sistema Tributário

1.2 A escolha do Governo

CAPÍTULO II

IGF no Brasil 19

2.1 Contexto jurídico

2.2 Contexto sociológico

CAPÍTULO III

Comparativo CPMF e IGF 28

3.1 Estimativas de arrecadação 3.2 Aplicações dos tributos em outros países 3.3 Diagnóstico da aplicação no Orçamento Brasileiro

CONCLUSÃO 39

BIBLIOGRAFIA 41

ÍNDICE 44

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ÍNDICE DE TABELAS

TABELA 01 - Distribuição global da fortuna das famílias do grupo de 1% 27

com maior patrimônio

TABELA 02 - Arrecadação e destinação dos recursos da CPMF 29

TABELA 03 - Potencial Tributário do IGF 30

TABELA 04 - Participação do Imposto sobre a Riqueza nas receitas totais 33

dos governos

TABELA 05 - Comparação da Carga Tributária Brasileira como outros 35

países em percentual do PIB

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INTRODUÇÃO

O tema escolhido faz-se bastante relevante e atual, vide a realidade

brasileira onde a Gestão Pública encontra-se totalmente desacreditada e

desgastada, em várias esferas de poder, principalmente por questões

econômicas geradas por déficits orçamentários.

Voltam aos debates às discussões sobre a realidade tributária

brasileira como forma de equilíbrio econômico entre receitas e despesas. A

pauta governista traz novamente como solução a implementação da CPMF

(Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira), a fim de propor o

reajuste orçamentário, simplificando um sistema que precisaria de uma revisão

muito mais abstrusa.

Avaliando, no entanto, esses ajustes necessários aos cofres

públicos sob o prisma da justiça tributária, propõe-se uma outra alternativa para

o necessário aumento arrecadatório: a regulamentação de um novo tributo, o

Imposto sobre Grandes Fortunas. Assim, esse trabalho buscará fazer uma

correlação entre estas duas possíveis saídas para resolução do imbróglio que

se tornou o orçamento público federal.

Para tanto, será realizada uma comparação entre o possível

reajuste orçamentário através do retorno da CPMF (proposta do Governo) ou

da implantação do IGF, presente na Constituição Brasileira desde 1988.

No primeiro capítulo será abordada a CPMF, através de uma análise

histórica e crítica de sua primeira implantação e extinção no Brasil e também

uma avaliação da possível adoção dessa solução novamente pelo governo

brasileiro.

No segundo capítulo será tratado o IGF, sendo trabalhadas e

desenvolvidas as questões jurídicas e sociológicas para sua existência no

contexto brasileiro e analisado seu histórico de tentativas de criação.

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Já no terceiro e último capítulo, tratar-se-á de ambos os tributos,

CPMF e IGF, através de uma abordagem comparativa, que permita uma

análise de dados criteriosa e mais próxima da realidade. A fim de se

desenvolver essa comparação serão avaliados diversos aspectos da referida

contribuição e do referido imposto, como: suas estimativas de arrecadação no

contexto orçamentário brasileiro, estudos sobre a implantação desses tributos

em outros países e por fim, como funcionariam suas aplicações no orçamento

público brasileiro.

Repensar alternativas e buscar novas soluções para o ajuste

tributário do país são, especialmente nesse momento, fundamentais para fazê-

lo caminhar, e é através desse paradigma que este trabalho se validará.

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CAPÍTULO I

CPMF E SEU POSSÍVEL RETORNO

Em meio à crise econômica pela qual vem passando o país e o

mundo, o Governo brasileiro anunciou em setembro de 2015, um pacote de

medidas para conseguir um saudável realinhamento das contas públicas. Entre

seus pontos mais polêmicos estava o retorno da CPMF (Contribuição

Provisória sobre Movimentação Financeira), que segundo os cálculos

apresentados, seria responsável, sozinha, por grande parte do ajuste no

orçamento para o ano de 2016, que foi de R$ 64,9 bilhões.

A partir dessa divulgação iniciaram-se os debates sobre essa

questão, tão polêmica desde a criação do referido imposto. Opiniões favoráveis

foram tecidas, como por exemplo, a da FEBRABAN (Federação Brasileira de

Bancos) através de nota oficial para a imprensa:

“A Febraban compreende a necessidade de complementar o corte das despesas com medidas temporárias de aumento de tributos. Avalia que a contribuição sobre movimentações financeiras, tendo em vista sua ampla cobertura, menor impacto inflacionário, simplicidade e maior rapidez de implantação em relação a outros tributos, facilita o reequilíbrio das contas públicas, enquanto o governo elabora medidas estruturais de adequação das despesas.” (GLOBO ECONOMIA, 2015, <http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/retorno-da-cpmf-e-asfixia-tributaria-diz-analista-veja-repercussao.html>

Acesso em jun 2016. )

Assim como, visões negativas foram também recorrentes, como a

divulgada pela FIRJAN (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro)

na mesma matéria:

“Este é o ponto: não há mais espaço para novos aumentos da carga tributária. Aliás, elevar impostos em um momento de grave recessão como o que estamos vivendo aprofundará o problema fiscal, simplesmente porque ninguém, nem pessoas nem empresas, tem atualmente condições de pagar mais tributos. Prova disso é que a arrecadação está em queda a despeito dos inúmeros aumentos de alíquotas anunciados recentemente.” (GLOBO ECONOMIA, 2015,

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<http://g1.globo.com/economia/noticia/2015/09/retorno-da-cpmf-e-asfixia-tributaria-diz-analista-veja-repercussao.html>

Acesso em jun 2016. )

Nota-se assim, uma grande discussão em torno do regresso desse

imposto, bastante questionável desde sua criação. Então, a fim de

compreender melhor essa forma de tributação e o contexto atual de sua

inserção será feita uma análise histórica e crítica de sua primeira implantação e

extinção no Brasil e também uma avaliação de uma possível adoção dessa

solução novamente pelo governo brasileiro.

1.1. Análise da CPMF no Sistema Tributário

De acordo com a Constituição Federal Brasileira (1988), o Sistema

Tributário Brasileiro encontra-se plasmado nos artigos 145 a 156 e o tema está

dividido em 5 seções. A primeira dedica-se aos princípios gerais (princípio das

espécies tributárias, princípio da lei complementar e princípio da capacidade

contributiva), já a seção segunda faz menção às limitações constitucionais ao

poder de tributar. Nas últimas três partes, são definidos os impostos federais,

estaduais e municipais.

Assim, no início a União passou a ter competência impositiva sobre

sete impostos apenas: importação, exportação, renda, propriedade territorial

rural, operações de crédito, câmbio e seguro, produtos industrializados e

grandes fortunas.

A experiência brasileira de tributação das movimentações

financeiras teve início em 1993, com a criação do Imposto Provisório sobre a

Movimentação ou Transmissão de Valores e de Créditos e Direitos de Natureza

Financeira (IPMF), instituído e regulado pela Lei Complementar nº77, nos

termos do artigo 2º da Emenda Constitucional nº3, de 17 de março de 1993.

Este tributo, no entanto, teve curta duração, sendo aplicado apenas no ano de

1994, e substituído por meio de emenda constitucional nº12, de 16 de agosto

de 1996, pela então CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação

Financeira), que teve sua prorrogação estabelecida algumas vezes pelas

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emendas constitucionais nº21, de 18 de março de 1999, nº37, de 28 de maio

de 2002 e nº42, de 19 de dezembro de 2003.

Segundo Martins (2016), o IPMF nasce como um imposto a mais do

sistema, e não como um tributo substitutivo como desejava o estudo de Marcos

Cintra (economista e político brasileiro), dentro de um amplo debate sobre a

revisão do Sistema Tributário, que foi divulgado pela Folha de São Paulo,

naquela ocasião, como uma das principais propostas alternativas de

reformulação do sistema.

Assim, as principais críticas ao imposto criado se deram

principalmente no âmbito jurídico, gerando diversas ações diretas de

inconstitucionalidade, baseadas principalmente na declaração da

inconstitucionalidade de sua incidência sobre movimentação de recursos das

entidades federativas (imunidade recíproca) e de sua exigência no próprio

exercício de 1993 (princípio da anterioridade).

No entanto, tais deliberações não refutaram sua ampla aceitação por

parte da base governista à época, que percebeu grande potencial nessa forma

de tributação por sua facilidade de arrecadação devido ao seu fácil controle do

sistema financeiro. Por isso, em 1996, o IPMF foi transformado sob a

roupagem de contribuição provisória para que continuasse a existir, agora com

a nova denominação de CPMF.

Ainda segundo Martins (2016, p.16), “Percebendo, pois, que o tributo

gerava relevante receita fiscal, sucessivas emendas constitucionais foram

sendo aprovadas para tornar a ‘provisoriedade’, ainda formal, em

‘definitividade’ real, [...]”.

Assim, mesmo diante de críticas desfavoráveis a manutenção do

tributo, como: cumulatividade impositiva e encarecimento da intermediação do

dinheiro, o Congresso Nacional e o Erário decidiram por mantê-lo sob a nova

formatação de contribuição ainda por longos anos, visto o esfacelamento da

máquina pública cada vez mais necessitada de recursos.

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De acordo com Albuquerque (2006), um resumo da implementação

do tributo no país seria que:

A forma de sua implantação no Brasil, contudo, não poderia ter sido mais antipática aos olhos dos técnicos e da opinião pública. Implantado como uma solução emergencial para gerar caixa para o orçamento federal, tendo em vista a rápida e constante deterioração da capacidade arrecadatória dos tributos convencionais, o IPMF/CPMF teve suas receitas vinculadas (inicialmente a programas habitacionais e depois ao custeio da seguridade social e o do SUS). Ademais, não foi partilhado com os demais entes federados e desrespeitou a anterioridade constitucional, e a não-cumulatividade. (ALBUQUERQUE, 2006, In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, IX, n. 33)

Ao longo dos anos, muitas destas argumentações referentes ao

aspecto jurídico foram sendo rebatidas e respondidas e outros

aperfeiçoamentos foram sendo realizados no campo econômico para atenuar

seus impactos indesejáveis na estrutura do país.

Assim, é importante registrar também que existiam ainda

posicionamentos favoráveis à CPMF. Baseados na concepção de um contexto

de mudanças dramáticas em paradigmas comportamentais e administrativos

do mundo contemporâneo, muitos consideravam uma acentuada deterioração

na capacidade de tributação dos governos nacionais. Isso porque, os atuais

sistemas tributários estariam esquematizados sobre alicerces convencionais de

incidência, que estariam, no entanto, assumindo diferentes traços frente à

globalização.

Nesse contexto, ainda segundo Albuquerque (2006), os sistemas

tributários deveriam se adequar ao mundo contemporâneo, convergindo para a

implantação de um sistema de impostos baseado justamente na movimentação

financeira, que seria atraente também para vencer um grande inimigo do

sistema tributário brasileiro: a sonegação. Acreditava que criando um imposto,

que permitisse a aplicação de uma alíquota reduzida sobre um sistema não

declaratório e automático, teríamos uma grande diminuição na sonegação,

possibilitando um sistema mais justo.

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Albuquerque (2006) rebatia ainda a questão da crítica a

cumulatividade, relacionando-a a outro aspecto referente à sonegação:

Em realidade, qualquer imposto, seja ele cumulativo, ou não, terá impacto no preço final do produto e, portanto, “prejudica” a produção. O que nem sempre é notado, no entanto, é que um imposto em cascata com alíquota baixa (como a CPMF) pode ser preferível que um imposto sobre valor agregado com alíquota alta (como o ICMS). A grande atratividade da CPMF é que por ser insonegável, admite alíquota nominal baixa para um dado nível de arrecadação, ao passo que os impostos declaratórios convencionais, por serem fortemente sonegados, exigem alíquotas altas para arrecadarem o mesmo valor. (ALBUQUERQUE, 2006, In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, IX, n. 33)

Nota-se então, que em meio aos seus 11 anos de existência, a

CPMF obteve tanto defensores como inimigos enérgicos. Porém, a aparição de

muitos efeitos negativos reais no cenário econômico brasileiro devido

principalmente à forma como o tributo foi implantado (como um acréscimo aos

tributos existentes e não como um tributo único), foi cerceando seus últimos

dias de sobrevida.

De acordo com Martins (2016), entre os aspectos destrutivos, na

política econômica brasileira, relacionados ao tributo tivemos: o encarecimento

da dívida externa, o custo do dinheiro mais elevado que encarecia o

investimento em empresas, enfraquecimento do mercado de capitais, com

transferências de investimentos para outros países, em que a tributação fosse

mais inteligente, prejuízo nas exportações por tornar o país um exportador de

tributos, o que dificultava a competitividade, complicação do sistema tributário

pela multiplicação de planejamento, com ônus para as empresas que

objetivavam neutralizar seus efeitos e a injustiça tributária para o pequeno e

médio contribuinte, obrigados a pagar o tributo.

Em relação a esse aspecto da injustiça tributária, pode-se perceber

que a CPMF constituía-se como um tributo taxativo do consumo e não relativo

à renda. Assim as camadas mais pobres da população continuavam a ser as

mais prejudicadas em relação aos encargos que sustentam os cofres públicos.

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Isso ocorreria porque a renda dos que ganham menos é quase

totalmente comprometida com bens de consumo, que tiveram incidência da

contribuição em várias fases do processo de produção. Já os ricos, que têm

boa parte da renda livre, pagariam a CPMF apenas uma vez sobre essa

parcela ao aplicar nos bancos.

Assim, conforme Martins (2001) além da questão da simples

valoração do tributo faz-se importante também a sua valoração justa, ou seja,

aplicar uma valoração que implique privilégios de um lado sobre outro, terá

como consequência um desequilíbrio, que acabará por tirar a legitimidade do

tributo. Portanto deve-se estar sempre atento no campo da imposição tributária

ao modo como os homens comportam-se no poder, já que nessa posição

tendem a transformar o povo não em destinatário final de seu serviço, mas sim

em servidor de suas ambições. Além disso, por mais que se procure promover

o valorar justo em uma estrutura governamental, muitas vezes, essa realidade

não é possível, já que os gastos públicos tendem sempre a crescer e dificultam

essa dinâmica.

Assim, a CPMF foi perdendo forças para sua manutenção no

contexto tributário brasileiro. Em sua última prorrogação, sua arrecadação já

era bem menor, e o próprio governo federal dizia que não haveria mais espaço

para um crescimento da tributação. Então, em outubro de 2007, mesmo com

aprovação pela Câmara de proposta que estendia a CPMF até 2011, a

iniciativa foi derrotada no Senado, dois meses depois, chegando-se ao fim da

cobrança do tributo no próprio ano de 2007.

1.2. A escolha do Governo

Diante de um cenário de crise econômica brasileira e mundial, o país

encontra atualmente um verdadeiro imbróglio em relação à solução de seu

orçamento público para o ano corrente e anos seguintes.

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Devido a sucessivas baixas em suas políticas econômicas e outros

escândalos de corrupção em várias esferas do Poder Público, o Brasil vem

enfrentando uma grande luta para superar seus desequilíbrios orçamentários e

instabilidades políticas.

Assim, em dezembro de 2015, foi apresentado, como proposta do

Governo, texto orçamentário de 2016 que, entre outros pontos, previa

arrecadação federal necessária com a criação da nova CPMF, que duraria por

4 anos sendo extinta novamente depois, e estabelecia que a meta de superávit

primário (economia que o governo tem que fazer para pagar os juros da dívida)

seria de 0,5% do PIB, o equivalente a R$ 30,5 bilhões desse valor, onde R$ 24

bilhões seriam a meta do governo federal, enquanto R$ 6,5 bilhões seriam a

meta de estados e municípios.

Segundo os noticiários de maior credibilidade, a estimativa inicial do

governo ao apresentar a proposta de recriação da CPMF era de uma

arrecadação de R$ 32 bilhões por ano. No entanto, trazia uma previsão de R$

10,3 bilhões de arrecadação de CPMF para 2016, o que seria equivalente aos

quatro últimos meses, pressupondo a aprovação do tributo até Maio, para que

houvesse tempo necessário para começar a ser cobrado em Setembro; fato

este que, como pudemos comprovar, não aconteceu.

Embora a previsão da nova CPMF preservasse os contribuintes de

menor renda, pois ficariam isentos do tributo, já que eram os maiores

prejudicados em sua edição anterior; a dificuldade de aprovação de medidas

no Congresso Nacional impediu os planos do governo. Nem mesmo seu

discurso consolidado de que a CPMF seria a alternativa menos dolorosa para o

ajuste das contas públicas, pois se trataria de um tributo de fácil arrecadação e

fiscalização, foi capaz de convencer a opinião pública e a maioria necessária

no Congresso.

O que se viu nesse primeiro semestre de 2016, na verdade, foi uma

possibilidade cada vez mais remota quanto à volta da CPMF. Apesar de o novo

governo Michel Temer dar indicativos de que não descartaria a hipótese da

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volta do tributo, a piora no quadro político com grandes instabilidades reduziu

as chances, que já eram pequenas, de sua recriação.

Conforme Martins (2016), as diretrizes governamentais parecem

estar imbuídas de uma filosofia política ultrapassada, que continua apostando

no aumento de tributos à falta de um projeto real de cortes de despesas para

solução do caos orçamentário do país. Assim, ele revela, que em um quadro de

recessão de PIB, crescimento do nível de desemprego e inflação, cogitar uma

elevação da carga tributária para toda a população seria retirar a pouca

competitividade que a sociedade empresarial brasileira ainda possui. Isso

porque, tributar a circulação da moeda, seria somar ao custo do dinheiro o

custo do tributo, fazendo desta ferramenta não uma forma de alavancar a

economia e o desenvolvimento, mas sim de freá-la; já que em toda operação

financeira haveria um custo adicional refletido no custo do dinheiro, o que

dificultaria a redução de juros.

Ainda segundo Martins (2016), além das questões econômicas

supracitadas, a instituição da CPMF esbarraria ainda novamente em aspectos

jurídicos, como por exemplo, seu caráter de efeito de confisco definido pela

ADIN 2010-2-DF e vedado pela Constituição:

“Na referida ADIN, o Ministro Carlos Velloso relata que sempre que o aumento de um tributo atingir, no conjunto da carga tributária, a capacidade contributiva, ultrapassando-a, aquele tributo, embora isoladamente possa não ser confiscatório, passa a sê-lo. É que, destinando-se os tributos ao Estado, que é um só - embora sua Federação divisível em esferas de governo -, a exigência sobre o cidadão deve ser medida pelo conjunto e não apenas por cada tributo em particular. Há, como já disse, tributos confiscatórios e incidências confiscatórias representadas pelo conjunto de tributos não confiscatórios. É que o direito individual a ser preservado não é a média da carga tributária geral, mas o acréscimo desta sobre cada incidência que define, em cada caso particular, a existência ou não do confisco”. (MARTINS, 2016, In: Justiça e Cidadania, Rio de Janeiro, JC Editora, n. 187)

Assim, com uma tributação total que para grande parcela da

população, sabidamente a de menor renda, representa quase 50% de seus

rendimentos, a recriação da CPMF, um tributo do consumo, acentuaria mais os

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36% de arrecadação em relação ao PIB, que esses impostos representam.

Portanto, a tributação, já superior a de vários outros países emergentes,

representaria ainda mais para a maioria da população um efeito de confisco.

Além disso, apesar de nosso injusto sistema tributário, outros fatores

também contribuem para a pouca receptividade das propostas governamentais

de aumento de tributos em geral. Explicitando tais fatores, Martins (2016) diz

que:

As extensas benesses não cortadas do Poder Público, mordomias das quais não se encontra paralelo em outros países e vencimentos com aumentos permanentes acima da inflação, como se reivindica e se tem obtido em pleno ano de falência administrativa e gerencial, as esclerosadas estruturas administrativas, os inadmissíveis, inchados e inúmeros ministérios, o infindável número de departamentos, projetos e programas paralisados ou em marcha lenta, quase não são tocados. (MARTINS, 2016, In: Justiça e Cidadania, Rio de Janeiro, JC Editora, n. 187)

Com isso, o cenário político econômico brasileiro, pensado pela

população em geral, é sempre visto com desconfiança, representando uma

grande fonte de injustiças, onde o Estado configura-se como uma entidade

subjetiva e etérea distante do povo e não formada por ele, como teoricamente

seria, que em vez de arrecadar e aplicar o dinheiro em serviços públicos, o

utiliza somente para seu próprio bem.

Assim, o senso comum é que, de fato, todos os contribuintes pagam

mais do que deveriam pagar para atender as necessidades maiores do Estado

e as necessidades menores dos próprios detentores de poder.

Porém, mesmo na contramão da opinião pública, o Governo alega

que ainda haveria espaço para elevar alguns impostos ou contribuições, caso

seja necessário, pois a carga tributária caiu 1% do Produto Interno Bruto desde

o ano de 2008 até o ano corrente.

Alguns especialistas, entretanto, já continuavam apontando seus

aspectos negativos que seriam ressuscitados desde quando a proposta foi

lançada no ano passado. Segundo o tributarista Renault (2015), em entrevista

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para o Globo Economia, a CPMF seria um imposto de efeito cumulativo,

porque ela incide sobre todos os agentes da cadeia produtiva: “Quanto mais

complexa for essa cadeia e mais participantes ela tiver, maior será o impacto

na carga tributária. A CPMF é criticada porque ela tributa cada etapa dessa

cadeia”. Também na visão do tributarista Choaib (2015), o efeito ‘cascata’ do

imposto tenderia a ser repassado para os preços dos produtos e ao

consumidor final, pressionando a inflação e desestimulando as movimentações

financeiras: "Isso gera um aumento de preços e, ao final das contas, quem

paga é a população. Pode haver uma circulação maior de dinheiro em

espécie".

Diante da situação atual do país, percebemos claramente como a

proposta da recriação da CPMF soa como um plano desesperado por parte da

base governista para tentar salvar as contas públicas de um entrave econômico

de origens e soluções bem mais complexas, que caminha na direção contrária

de um plano baseado na justiça tributária.

A simples medida da criação de um tributo para aumento da receita

arrecadatória que satisfizesse às contas públicas, funcionaria somente como

uma medida paliativa e provisória. E ainda que isso fosse realizado de fato, a

escolha por um tributo do consumo, e não baseado na renda, recairia, como

em todo curso da história, sob o lado mais fraco da sociedade: a população de

menor renda.

Repensar alternativas para o orçamento público brasileiro deverá

exigir, certamente, maiores esforços e melhores propostas por parte de uma

gestão pública eficiente, que deverá se imbuir do sacrifício de sangrar primeiro

e em prol da população, vestindo-se de seu caráter efetivamente democrático,

a trabalhar sempre para melhores condições de sua nação.

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CAPÍTULO II

IGF NO BRASIL

O Imposto sobre Grandes Fortunas é definido em Carvalho (2011)

como um imposto aplicado periodicamente sobre o patrimônio de um indivíduo

ou família; podendo incidir também sobre o patrimônio de pessoas jurídicas,

em alguns países. Sobre sua base de cálculo, diz Corsatto (2000) que: “No

projeto, a base de cálculo do imposto é o valor do conjunto dos bens que

compõem a fortuna diminuído das obrigações pecuniárias do contribuinte,

exceto as contraídas para a aquisição e bens excluídos.” (p.95).

No Brasil, o IGF surgiu pela primeira vez quando foi previsto no texto

da Constituição Federal de 1988, sob liderança do, à época, deputado Plínio de

Arruda Sampaio, sob influências da experiência francesa também na década

de 80, com o análogo Import sur les Grandes Fortunes.

Assim, diante de momentos de crise econômica, como o que

estamos vivenciando agora, novamente põe-se em voga a questão da

implantação de um imposto sobre o capital no país, que, além de funcionar

como um incrementador das reservas públicas serviria também como um

instrumento de atenuação das desigualdades nacionais, sempre crescentes.

Segundo Piketty (2013), o mundo todo passa por um momento

histórico em que agentes da curva da desigualdade social intensificam-se

embalados por suas tendências intrínsecas ao sistema que, quando não são

apaziguadas por medidas governamentais e comunitárias, tendem ao

constante aumento das diferenças entre as camadas mais ricas e mais pobres

da população, favorecendo cada vez mais a concentração de renda e da

riqueza.

Então, se nenhuma medida for tomada pelos governos, a

concentração das riquezas sempre tenderá a aumentar, colocando em risco a

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democracia e o atendimento às necessidades essenciais da população mais

pobre.

Piketty (1997) já identificava a tributação como um mecanismo eficaz

ao combate as desigualdades sociais na década de 90, e dizia que:

O instrumento privilegiado da redistribuição pura é a redistribuição fiscal, que, por meio das tributações e transferências, permite corrigir a desigualdade das rendas produzida pelas desigualdades das dotações iniciais e pelas forças do mercado, ao mesmo tempo que preserva o máximo a função alocativa do sistema de preços. (PIKETTY, 1997, p.85)

A tributação igualitária é compreendida, então, como uma

ferramenta que pode produzir efeito considerável na redistribuição de rendas,

financiando uma justiça social ao mesmo tempo em que mantém a livre

iniciativa e a livre concorrência. Portanto, pode-se entender que a aplicação da

justiça tributária figura como um dos elementos essenciais a uma Gestão

Pública hábil e competente no gerenciamento de uma das principais

problemáticas atuais: a desigualdade social.

Assim, a partir dessa perspectiva, este capítulo abordará aspectos

do IGF, que é entendido como uma medida colaboradora no que diz respeito à

implantação de um sistema tributário mais justo no país, em vez de alternativas

de aumentos de tributos que incidam sobre o consumo e afetem justamente as

camadas mais necessitadas da população. Serão desenvolvidas suas questões

jurídicas e sociológicas para sua existência no contexto brasileiro e analisado

seu histórico de tentativas de criação.

2.1. Contexto Jurídico

Como indicou Dworkin (2005), a distribuição das riquezas em uma

sociedade é resultado da sua ordem jurídica; mas não só em relação às leis

que guardam a propriedade e suas aquisições e transferências, mas também

em relação às suas normas fiscais, previdenciárias e políticas.

Assim, instituído na Constituição Federal desde 1988, o IGF, único

dos sete tributos federais sem regulamentação até hoje, figura como uma das

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normas fiscais que foram previstas para o combate às desigualdades sociais

no país, porém não colocada em prática.

Plasmado no artigo 153, inciso VII, da Constituição, o IGF necessita,

para ser introduzido, ser regulamentado por Lei Complementar. Assim, para

sua aprovação, deve ser utilizado o critério de maioria absoluta para o quórum

no Congresso Nacional, dificultando sua dinâmica de admissão. A lei

complementar deverá não só instituir o tributo, mas também definir seu fato

gerador, sua base cálculo, seus contribuintes, sua alíquota e todos os demais

elementos pertinentes.

Foram várias as tentativas da introdução do IGF no Brasil pelas diversas

gestões públicas ao longo dos anos. Segundo Carvalho (2011), existiram

projetos de lei complementar tanto na Câmara dos Deputados quanto no

Senado, desde 1989, para regulamentação do tributo, sendo o primeiro deles

de iniciativa do então senador Fernando Henrique Cardoso. O PLP 162/89,

teve parecer favorável do relator e foi então enviado à Câmara dos Deputados.

Na Câmara, várias outras propostas relativas ao IGF foram sendo apensadas,

formando-se o PLP 202-B/1989. A maior parte desses novos apenses tratavam

sobre a base de cálculo do imposto, considerando riqueza líquida que

ultrapassasse determinado limite.

Somente no ano 2000, após longos 11 anos de tramitação, o PLP

202-B/1989 foi julgado pelas devidas comissões: Comissão de Finanças e

Tributação da Câmara (CFT) e Comissão de Constituição e Justiça e Redação

da Câmara (CCJR). O projeto teve sua constitucionalidade aprovada pela

CCJR, entretanto foi rejeitado no mérito pela CFT.

A principal apreensão jurídica apontada, no relatório da CCJR, era a

definição objetiva de “grandes fortunas”, pois a comissão entendia esse termo

como referente a uma quantia monetária extremamente alta. Assim, o relatório

indicava o aumento do limite de isenção do projeto original, pois se acreditava

que ao tributar de forma confiscatória as grandes rendas, se estaria

confrontando o principio constitucional do não-confisco, estabelecido pelo

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artigo 150, IV, da Constituição. Acatada essa medida e outras emendas de

parlamentares, o novo relatório final foi aprovado pela CCJR.

No entanto, mesmo depois de averiguada sua constitucionalidade

pela CCJR, o projeto foi rejeitado por maioria pela CFT. Em seu parecer

vencedor, mergulhado em um contexto ideológico voltado para o investimento

direto estrangeiro, incentivos fiscais e globalização econômica, o deputado

relator Marcos Cintra, explanou os principais motivos para a reprovação: alto

custo administrativo e baixo potencial arrecadatório do imposto, que estava

também, à época sendo abolido de vários países europeus que o haviam

implantado. Em oposição, alguns votos vencidos ainda sustentavam que a

finalidade do IGF não seria simplesmente arrecadatória, mas sim de diminuição

da concentração do capital e da evasão fiscal, e daí consistia a importância de

sua criação.

Ainda de acordo com Carvalho (2011), após a rejeição em 2000, as

discussões acerca do tema do IGF voltaram à tona, tanto no Senado quanto na

Câmara, em 2008 - ano de crise econômica norte-americana, e posteriormente

mundial. Nesta ocasião, o senador Paulo Paim propôs o PLS 128/2008,

projeto de lei do senado que possuía diferenças significativas em relação aos

anteriores: dava maior ênfase à avaliação das propriedades, estabelecia

alíquota única e concedia deduções nos valores efetivamente pagos em outros

tributos determinados.

Entretanto, em 2010, o projeto foi também analisado e rejeitado pela

agora Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Novamente foram

alegadas justificativas referentes ao alto custo da administração do tributo e

sua abolição em outros países; além de ter se formado consenso sobre a

necessidade de uma reforma tributária mais complexa para resolução da

questão da desigualdade social, que não seria sanada somente com a criação

de um imposto apenas.

Somente o senador Eduardo Suplicy, favorável ao projeto,

corroborou a afirmação de que o imposto aplicado de maneira correta poderia

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sim contribuir com impactos distributivos, baseado na experiência de vários

países europeus que conseguiram esse feito através da tributação.

Ainda surgiram ao longo dos anos, outras tentativas de introdução

do IGF, como o PLP 277/2008, da deputada Luciana Genro que ainda está em

tramitação e teve diversos outros apensados a ele, que foram surgindo depois:

PLP 26/2011, PLP 62/2011, PLP 950/2011, PLP 130/2012, PLP 6/2015, PLP

11/2015, PLP 281/2016 e PLP 294/2016.

Embora continuemos a verificar novas proposições referentes à

tentativa de implantação do IGF, de acordo com Carvalho (2011) a crítica que

se faz na maioria dos casos é de projetos de lei pouco desenvolvidos, com

artigos escassos, raras medidas antievasivas e de texto demasiadamente

simples. É fundamental que se desenvolva o estudo acerca da definição do

limite de isenção e os números da alíquota; visto que a alíquota efetiva do

imposto é intensamente influenciada pelo limite de isenção e quanto menor for

esse limite maior será a efetividade do tributo.

Outro ponto importante a ser avaliado seriam as medidas

antievasivas, que devem ser amplamente desenvolvidas para que se evite a

sonegação. A aplicação de multas para casos de subavaliação e ocultação do

bem e do seu proprietário já se encontram alvitradas em alguns projetos de lei

apresentados, o que seria um aspecto positivo.

Assim, compreendendo o contexto e propondo um projeto de lei que

esmiúce e explane toda complexidade presente na introdução desse imposto

no sistema tributário brasileiro, será possível vencer o argumento comum de

que o IGF seria apenas um imposto caro e de pouco potencial arrecadatório.

Para o tributo ser de fato aprovado no Congresso, é preciso provar sua

eficiência administrativa e financeira, avaliando constantemente todos os seus

pormenores, com um estudo comparativo internacional adequado e uma

estimativa de patrimônio e receitas que subsidie sua existência.

No entanto, o clima de instabilidade política diante do afastamento

da presidente e os diversos escândalos de corrupção no Congresso levaram a

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uma paralisação ainda maior em relação aos debates de outros temas, que não

o da Presidência, extremamente importante para o desenvolvimento do país.

Além disso, a dificuldade de governabilidade que o segundo mandato do

governo Dilma vinha apresentando também dificultava que pautas da base

governista pudessem ser votadas e aprovadas.

Porém, mesmo diante do Congresso Nacional, pode-se observar

que ao menos a constitucionalidade dos projetos de lei complementar que

propõem a regulamentação do IGF já está pacificada, concentrando-se a

problemática mais nos aspectos políticos e econômicos da atualidade do país.

2.1. Contexto Sociológico

Com o passar dos anos, apesar das justificativas construídas pelos

diversos deputados e senadores que sempre rejeitaram o projeto do IGF, muito

se questionou sobre a pouca boa vontade dos congressistas regulamentarem

um imposto que o próprio Congresso Nacional instituiu na Constituição Federal.

Assim, como vimos anteriormente, o maior problema para a criação

do tributo sobre grandes fortunas no Brasil não é de caráter normativo, mas sim

de ordem política econômica. Sob esse aspecto, é imprescindível superar a

oposição dos muito ricos à sua regulamentação, que ao possuírem grande

influência no Congresso ou até mesmo representa-lo, acabam por conseguir

através de meios legais e ilegais protegerem sempre os interesses dos

proprietários e das elites.

Além disso, segundo Carvalho (2011), os contrários à tributação da

riqueza também alegam que se formaria um cenário de desincentivo a

formação de poupança entre as gerações e se aumentaria o risco de que as

grandes fortunas se mudassem para outros países que não possuíssem

imposto sobre os grandes capitais, podendo haver um prejuízo ao

desenvolvimento econômico.

Desse modo, as principais dificuldades seriam representadas pela

concorrência fiscal internacional, ausência de consenso parlamentar para

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aprovação do tema e congresso nacional dominado por setores conservadores,

que financiam suas campanhas através de ‘parcerias’ com os próprios

detentores das grandes fortunas.

Outros aspectos, além dos políticos e que ultrapassam debates

econômicos focados somente na defesa do grande capital, também são

discutidos nesse grande embate. Nessa perspectiva, Murphy e Nagel (2005),

trazem à tona pontos sobre a progressividade do tributo, indicando que embora

a progressividade pareça fazer parte de uma ideia de sistema justo, a adoção

de alíquotas altas demais às faixas superiores pode vir a desestimular os

empresários a promoverem investimentos. No entanto, aos olhos de Piketty

(2013), este fato não seria válido, já que as acentuadas desigualdades em

nada teriam relação com a vocação empreendedora e não apresentam

nenhuma utilidade para o crescimento.

Na verdade, o que os dados revelam para nosso contexto brasileiro,

é que a renda dos trabalhadores assalariados é acentuadamente mais onerada

que os lucros e dividendos dos proprietários de empresas; sendo bem díspares

as alíquotas para tributação: da pessoa física (27,5%) e dos ganhos de capital

(15%); o que abre margem para uma possiblidade mais justa de aumento da

tributação justamente sobre empresários, atualmente menos taxados.

Segundo Khair (2015), através da tributação das grandes fortunas

não se estaria prejudicando os mais abastados, e sim defendendo também

seus interesses; isso porque, quando o país exibe uma sociedade com má

distribuição de riquezas e com acentuada desigualdade social, acaba

apresentando também uma atividade econômica mais frágil,

consequentemente com menos faturamento das empresas e menos lucros.

Assim, essa nova tributação sobre as altas rendas e capitais

constituiria somente uma forma de fazer dos ricos um pouco menos ricos,

gerando assim um maior equilíbrio social, já que os recursos oriundos do

tributo seriam destinados a outros segmentos sociais, que constituem a maioria

da população.

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Para Tipke (1998), portanto, não deveria ofender o princípio da

igualdade, que os rendimentos do capital fossem tributados de forma mais

onerosa que os rendimentos associados ao trabalho, em face de seu primado

constitucional.

Entretanto, paradoxalmente, as próprias camadas mais pobres da

sociedade também fazem coro ao pensamento de que no Brasil a carga

tributária já é demasiadamente elevada. Isso ocorre, pois o ônus maior de

nossa injustiça fiscal é suportado justamente pelos que não possuem riquezas.

E nesse contexto, então, até os setores médios e populares acabam tomando

ojeriza aos tributos, tornando difícil a propagação de ideias ligadas a criação de

novos impostos, mesmo os que estariam em conformidade com uma maior

justiça tributária e cidadania fiscal.

Desse modo, as discussões sobre a arrecadação tributária, acabam

reduzidas a questões de pequenos ajustes e passam longe da adequada

solução: proporcionar uma verdadeira reforma tributária atenuando o grande

problema da desigualdade fiscal. Enquanto isso, como resumiu Beck (1999), o

sistema engessado e injusto permanece castigando os mais pobres:

O humor negro da história entra em cena: são justamente os perdedores da Globalização que deverão pagar tudo, o Estado Liberal e o funcionamento democrático, enquanto os vencedores seguem em busca de lucros astronômicos e se esquivam de suas responsabilidades para com a democracia do futuro. (BECK, 1999, p.46)

Nesse contexto, onde o código tributário brasileiro se apresenta

claramente injusto, mas sobrevive balizado por um discurso construído que

garante o aspecto asfixiante de nossa carga tributária que afasta investimentos,

é preciso desmontar esses artifícios criados pelos maiores favorecidos pela

concentração das riquezas, promovendo sim, uma maior tributação sobre o

capital, e aliviando a carga fiscal dos assalariados.

De acordo com Carvalho (2011), soma-se a isso o fato, de o Brasil

encontrar-se em uma posição privilegiada no ranking das famílias mais ricas do

mundo, estando em 7º lugar na distribuição da riqueza global, dentro do grupo

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das 1% de famílias mais abastadas. Como se pode ver na tabela abaixo, o

Brasil poderia considerar que haveria uma quantidade relevante de famílias

passíveis de serem tributadas com a introdução do IGF, gerando assim, uma

receita considerável, que poderia satisfazer os cofres públicos.

Tabela 1

Distribuição global da fortuna das famílias do grupo de 1% com maior

patrimônio: países selecionados, 2000 (em % e paridade de poder de compra).

Fonte: Davies et al (2006 apud Carvalho, 2011)

Embora a tributação sobre a riqueza em escala global ainda seja um

projeto de caráter utópico, a implantação da taxação das grandes fortunas no

Brasil seria uma medida que poderia resultar em efeitos positivos, não somente

em aspectos arrecadatórios, mas principalmente distributivos.

Outras medidas, de caráter global, acentuariam essa efetividade da

tributação, como: adoção do IGF em todos os países, combate à evasão e a

sonegação, adoção e ampliação de normas da transparência fiscal

internacional, combate ao sigilo bancário e aos paraísos fiscais, entre outros.

Assim, uma maior integração entre os Estados seria realmente parte

fundamental do processo de combate à desigualdade social, não só no Brasil,

quanto no mundo. O quanto antes os países verificarem essa demanda, mais

rápido poderão agir em prol de suas nações. É necessário um audacioso

posicionamento brasileiro nessa questão, visto suas vastas dimensões

econômicas e geográficas e sua grande influência na América do Sul, e no

mundo.

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CAPÍTULO III

COMPARATIVO CPMF E IGF

Após realizar o estudo de cada tema em separado, neste capítulo

trataremos de ambos (CPMF e IGF), através de uma abordagem comparativa,

que permita uma análise de dados criteriosa e mais próxima da realidade.

A princípio, podemos avaliar que a principal diferença entre a

Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira e o Imposto sobre

Grandes Fortunas, é que a primeira incidiria acentuadamente sobre o

consumo, já este último incidiria sobre a renda. Assim, de modo simplista,

pode-se observar que o ônus fiscal da CPMF recairia sobre os setores médios

e populares, enquanto o do IGF seria admitido pelas camadas mais altas da

sociedade.

Então, a fim de se desenvolver essa comparação entre os tributos

serão avaliados diversos aspectos, como: suas estimativas de arrecadação no

contexto orçamentário brasileiro, estudos sobre a implantação desses tributos

em outros países e por fim, como funcionariam suas aplicações no orçamento

público brasileiro.

3.1. Estimativas de arrecadação

A arrecadação é um aspecto muito importante a ser considerado

para promover a regulamentação de um tributo. Realizar pesquisas e construir

estimativas do montante arrecadado dá suporte ao seu projeto de implantação.

Por mais que existam outros pontos que justifiquem a criação de um novo

tributo, é fundamental que o valor da arrecadação configure-se também como

um fator atrativo do ponto de vista financeiro, angariando assim

posicionamentos parlamentares favoráveis no Congresso Nacional.

Em relação a CPMF, como esse tributo já existiu no Brasil durante

certo período, trataremos então primeiramente sobre esse histórico de

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arrecadação já existente. Segundo o site do Senado Notícias, a CPMF

arrecadou de 1997 a 2007, R$223 bilhões. Em 2007, no último ano de vigência

da contribuição, foram recolhidos R$37,2 bilhões pelo balanço da Receita

Federal.

O crescimento da receita gerada pela CPMF entre 1998 e 2006 foi

de 216,1%, enquanto nesse mesmo período, o montante de tributos

administrados pela Receita Federal evoluiu 78,4% no mesmo período, em

termos reais. Apesar de ter sido criado para financiar a saúde, não havia essa

obrigatoriedade na lei, e cerca de R$ 33,5 bilhões foram usados para financiar

outros setores, como mostra o gráfico abaixo.

Tabela 2

Arrecadação e destinação dos recursos da CPMF

Fonte: Secretaria da Receita Federal e Tesouro Nacional e Unafisco (apud Senado Notícias, 2016)

Assim, diante dessa arrecadação considerável que o tributo

conseguiu gerar a época, nesse momento de crise e déficit nas contas o

públicas, o governo federal passou a considerar a ideia de sua recriação e a

estimar seu potencial arrecadatório.

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Segundo cálculos divulgados pelo governo, a nova alíquota seria de

0,20%, e a nova CPMF renderia um total de arrecadação de 32 bilhões por

ano, o equivalente a 0,5 % do PIB.

No entanto, segundo estudos do pesquisador Khair (2016), o

potencial arrecadatório do IGF poderia até superar o total da CPMF. Baseado

no quadro abaixo, que apresenta o patrimônio de pessoas físicas e jurídicas

em 1999 e 2000 (dados da Secretaria da Receita Federal), ele construiu

estimativas hipotéticas do valor da arrecadação desse tributo nos dias atuais.

Tabela 3

Potencial Tributário do IGF

Fonte: Khair, 2016

Assim, atingido um patrimônio total de R$ 1.845 bilhões em 1999 e

2.226 bilhões em 2000, para uma alíquota de 1% do IGF seriam arrecadados

R$18,5 bilhões em 1999 (1,73% do PIB) e R$22,3 bilhões em 2000 (1,89% do

PIB). Esses valores superam as arrecadações da CPMF obtidas nos mesmos

anos, que foram respectivamente de R$7,9 bilhões e R$ 14,4 bilhões.

Ainda conforme Khair (2016), em uma simulação hipotética, para a

taxação de patrimônios atualmente, ele estima uma arrecadação de 100

bilhões de reais por ano, caso a tributação do IGF fosse aplicada sobre valores

superiores a um milhão de reais, sob a alíquota de 1%. Assim com a definição

de um valor mínimo de patrimônio, ele acredita que uma parte significativa da

população ficaria isenta e protegida, já que com o valor estipulado de R$ 1

milhão de reais, 95 a 98% da população brasileira, distribuídas entre as

camadas médias e populares, já estariam fora do limite de tributação.

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Assim, somente pelo viés do potencial arrecadatório, poderíamos

avaliar que ambos os tributos teriam aspectos positivos a apresentar, gerando

valores relevantes proporcionais ao PIB do país; encontrando até o IGF

maiores índices de arrecadação que a CPMF, segundo alguns estudos

hipotéticos.

3.2. Aplicações dos tributos em outros países

A importância do estudo e pesquisa sobre a aplicação desses

tributos em outros países é bastante relevante, visto que ao analisar a

experiência internacional tributária podem-se antever aspectos positivos e

negativos de uma possível revisão orçamentária brasileira, colaborando para a

construção de um projeto de reorganização do sistema tributário mais efetivo.

Em relação à aplicação da CPMF, segundo Albuquerque (2006),

esse tipo de tributo sobre a movimentação financeira já vinha sendo utilizado

pela Austrália desde 1982, mesmo que de uma forma mais limitada que no

Brasil.

Na Argentina, a experiência com o imposto foi usada como um

relevante instrumento dentro de uma política maior de estabilização do país,

adotada pelo então ministro Domingo Cavallo, à época. Segundo Cintra (2003),

diferente do que geralmente se afirma a aplicação desta forma de tributação foi

instituída emergencialmente na Argentina, porém com sucesso, sendo

utilizado naquele país ainda hoje, uma alíquota de 0,6% incidente tanto sobre

débitos quanto sobre créditos bancários. Apesar de muitos críticos afirmarem

que a experiência argentina com o tributo foi desastrosa e indutora de profunda

desintermediação bancária, ele acredita que o insucesso não foi causado pelo

imposto, mas sim pelo tabelamento dos juros aplicado pelas autoridades

monetárias daquele país. Diante de uma hiperinflação, o tabelamento dos juros

estimulou a criação de circuitos financeiros informais nos quais se pagavam

ágios, e para os quais eram canalizados os recursos financeiros retirados dos

bancos em levas que exigiam serem transportados em carros fortes que

cruzavam o centro financeiro de Buenos Aires.

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Ainda na América Latina, outros países também aplicaram o imposto

sem grande sucesso, entre eles: Colômbia, Chile, Equador, Peru e Venezuela.

De acordo com Albuquerque (2006), grande exemplo da unificação,

simplificação e informatização de impostos aconteceu no leste europeu. Em

1994, a Estônia foi o primeiro país a adotar um imposto unificado, criando uma

alíquota de 26% que substituía quatro impostos. Em seguida, outros países

também acompanharam as mesmas diretrizes do que se chamou de ‘flat-tax-

revolution’, como Lituânia, Letônia, Rússia, Sérvia, Ucrânia, Eslováquia,

Geórgia e Romênia.

Já em relação as experiência com o Imposto sobre Grandes

Fortunas, estas podem ser estudadas em praticamente todos os continentes.

Segundo Cosatto (2000), o IGF pode ser comparado com os impostos sobre

grandes riquezas existentes em vários países.

De acordo com Piketty (2013), existem casos onde a implantação do

imposto sobre a riqueza foi estudada para superar crises fiscais e financeiras

que assustaram diversos países europeus a partir de 2009, reintroduzindo o

tributo como medida provisória, como foi o caso da Islândia (2010) e Espanha

(2011).

Segundo Carvalho (2011), o imposto sobre riqueza (Wealth Tax) é

ou já foi adotado em algum período por todos os países da Europa Ocidental,

com exceção de Portugal, Bélgica e Reino Unido. Na Europa, atualmente

apenas Holanda, França, Suiça, Noruega, Islândia, Luxemburgo, Hungria e

Espanha possuem o imposto. Apesar de alguns países terem obtido sucesso

com a implantação do mesmo para superação de suas crises econômicas,

outros não conseguiram se adaptar e ter uma boa aceitação, deixando de dar

continuidade ao desenvolvimento de sua aplicação, a partir dos anos 90, como:

Japão (1950), Itália (1992), Áustria (1994), Irlanda (1997), Dinamarca (1997),

Alemanha (1997), Luxemburgo (2006), Finlândia (2006), Suécia (2007) e

Grécia (2009).

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Na Ásia, sabe-se que o Japão o adotou por um período curto de

tempo, de 1950 a 1953, a Índia o possui desde a década de 1950 e há

experiências também no Paquistão e na Indonésia. Na África do Sul houve um

debate para sua implementação no período pós Apartheid.

Já na América do Sul, alguns países ainda mantém o tributo, como

Uruguai (desde 1991), Argentina (desde 1972) e Colômbia (desde 1935), tendo

esses países longa tradição nesse modelo de tributação e apresentando

grande crescimento recente de arrecadação.

Como um resumo de arrecadação do Wealth Tax em relação às receitas

do governo geral, a tabela abaixo apresenta uma amostra de 15 países. Na

primeira coluna aparecem indicadores de países que atualmente adotam o

imposto e, na segunda coluna, o indicador no período anterior à sua extinção

em países em que ele não mais existe, ou como no caso da Espanha e

Islândia, em que ele fora extinto, mas reintroduzido recentemente.

Tabela 4

Participação do Imposto sobre a Riqueza nas receitas totais dos governos. Amostra de países, em%

Fonte: FMI, Government Finances and Statistics (apud Carvalho, 2011)

De acordo com a tabela, pode-se observar que em cinco dos sete países

que adotam o imposto na amostra (França, Colômbia,Argentina, Suíça e

Noruega) e em quatro dos oito que já o extinguiram (Finlândia, Suécia,

Alemanha e Itália) a arrecadação do Wealth Tax se situa(ou) entre 1,1% e

1,8% das receitas. É importante destacar que os quatro países da amostra com

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os maiores indicadores - Uruguai, Islândia, Áustria e Finlândia (superiores a

1,8%) - tributavam também o patrimônio de pessoas jurídicas.

Com isso, pode-se prever que a tributação do patrimônio de pessoas

jurídicas pelo imposto sobre riqueza aumenta consideravelmente o nível

arrecadatório e a efetividade do imposto. Além da maior base tributária, o

incentivo à evasão por meio da transferência da titularidade das propriedades

de pessoas físicas para jurídicas é mais baixo.

3.3. Diagnóstico da aplicação no Orçamento Público Brasileiro

Como o conceito de orçamento público está intimamente ligado à

previsão das receitas e à fixação das despesas públicas, ele torna-se um

aspecto muito relevante na política econômica do Brasil.

O orçamento público brasileiro vem enfrentando uma grave recessão,

obtendo resultados negativos constantes nos últimos anos. Esse instrumento

de planejamento e execução das finanças públicas, na atualidade, não vem

conseguindo ser uma ferramenta efetiva de controle.

O montante de gastos superior ao recebido, a crise econômica mundial,

o clima instável político nacional, entre outros fatores vem causando um

desespero no Governo Federal para tomar atitudes que venham a incrementar

o bolo de receitas do país.

Desse modo, é comum virem à tona propostas de criação de tributos a

fim de se aumentarem as receitas federais. No entanto, devido ao país

apresentar uma intensa desigualdade social e a carga tributária existente já

incidir pesadamente sobre os mais pobres, geralmente essas soluções de

revisão no sistema tributário são sempre marginalizadas por todos os níveis

sociais.

Como forma de analisar a carga tributária brasileira já existente, a tabela

abaixo apresenta uma comparação com outros países sobre o percentual

incidente de impostos relativo a cada setor tributado.

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Tabela 5

Comparação da Carga Tributária Brasileira como outros países em percentual do PIB

(dividida entre renda, patrimônio e consumo)

Fonte: Ribeiro, 2015

Como se pode observar na tabela, o Brasil, ao contrário do restante dos

países, é o que mais tributa o consumo, e o segundo que menos tributa a

renda. Assim, não é difícil notar que a tributação sobre o consumo, embora

dirigida a população em geral, atinge mais pesadamente os mais pobres que

gastam todos os seus rendimentos em produtos e serviços necessários a sua

sobrevivência, cristalizando assim uma desigualdade social já elevada.

Estudando mais profundamente o problema, podemos afirmar que a

resolução de ambas as questões, resolução do déficit orçamentário e

desigualdade social, estão intimamente ligadas e que o sistema tributário é um

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importante agente dentro das políticas econômico- financeiras que visem à

diminuição das desigualdades nacionais.

Como afirma Piketty (2013):

O imposto não é nem bom nem ruim em si: tudo depende da maneira como ele é arrecadado e do que se faz com ele. (CARVALHO, 2011, p.35-36)

Assim, podemos observar que mesmo a criação de um imposto dentro

de uma revisão do sistema tributário, poderia contribuir para a questão da

desigualdade social, problemática nacional que vem sendo descartada pelo

atual sistema. Carvalho (2011) diz que:

A maneira como um país desconcentra a renda por meio do sistema tributário depende das especificidades de cada um. Seria pouco provável o Brasil vir a desconcentrar a renda mediante impostos sobre a propriedade do sistema tributário atual – IPTU, IPVAe ITCM. O IPTU possui comportamento muitas vezes regressivo, haja vista a fragilidade de muitos municípios em tributar eficientemente e progressivamente o patrimônio. (CARVALHO, 2011, p.35-36)

Carvalho mostra que o argumento de que a propriedade é formada pela

renda já tributada, e que por isso, o governo deveria focar os esforços em

reduzir a desigualdade apenas no imposto de renda, não encontra respaldo

histórico e econômico. A permanência e aumento da concentração fundiária e

da riqueza de poucas famílias no Brasil têm ocorrido por gerações, por meio de

heranças e rendas pouco tributadas. A história brasileira mostra que o imposto

de renda apenas não funciona com o objetivo de aumentar a equidade e que

ainda hoje existem setores da sociedade que conseguem sonegar a renda.

Nesse contexto, quando tratamos da aplicação da CPMF no sistema

tributário, temos um tributo que se caracterizaria por ser de baixa sonegação e

com custo de arrecadação e fiscalização praticamente nulo, cobrado de forma

igual entre pobres e ricos tendo uma alíquota aplicada a cada transação

bancária.

Nesse sentido Alburqueque (2006), indicando alguns aspectos positivos

da implantação do tributo, ratifica que:

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A única base tributária capaz de enfrentar a sonegação é a movimentação financeira. Mesmo sendo cumulativo, esse imposto, ao permitir a aplicação de uma alíquota reduzida sobre um sistema não-declaratório e automático, minimiza a sonegação, criando um sistema mais justo, e reduz os custos administrativos para os agentes públicos e privados. (ALBUQUERQUE, 2006, p.)15

Ainda segundo Albuquerque (2006), a verdadeira prova de eficiência de

um sistema tributário seria sua capacidade de arrecadação. Um tributo,

teoricamente neutro, justo e eficiente, não valeria nada se na prática não

conseguir arrecadar o esperado.

Desse modo, pode-se observar que os críticos favoráveis a CPMF, não

tinham em seus embasamentos teóricos muita preocupação com a questão da

desigualdade social dentro do contexto do sistema tributário. Focam mais na

questão da sonegação, que poderia ser mais bem administrada e fortemente

reduzida através de um imposto simplificado e informatizado, de alíquota baixa

e sem grandes custos para manutenção.

Dentro do orçamento público brasileiro, a reaplicação da CPMF se daria

de acordo com esses moldes, introduzindo uma alíquota única para todos, mas

que de fato, não refletiria igualdade; visto que tanto as camadas mais ricas

quanto as mais pobres seriam atingidas por um mesmo percentual tributário,

representando para os mais pobres um maior comprometimento da renda.

Teríamos um potencial arrecadatório, segundo dados do governo federal, na

faixa de 30 bilhões, que seriam usados como uma fonte extra de receitas,

funcionando como medida paliativa para superação da crise econômica atual e

para cobrir o rombo orçamentário crescente.

Já quando tratamos da aplicação do IGF no sistema tributário, outro

viés, sem ser o arrecadatório, faz-se relevante. Segundo Piketty (2013),

independente da significância de sua arrecadação sobre as grandes fortunas, a

sua instituição, mesmo que sob alíquotas modestas, tem o papel de conferir

transparência às operações transnacionais das empresas e gerar

conhecimento e informação sobre as fortunas existentes no país.

Além disso, outra função fundamental seria revisar a desigualdade da

tributação com carga maior existente sobre os mais pobres, diminuindo a

concentração de renda e evasão fiscal. Segundo Carvalho (2011), sendo o

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Brasil um país de elevada desigualdade e PIB relevante, em tese, teria o IGF

ainda condições de apresentar até um bom potencial arrecadatório, alcançando

assim também aspectos econômicos positivos, além do importante aspecto

social inerente ao tributo.

Portanto, podemos perceber que o trajeto para redução da iniquidade

através da regulamentação de um imposto sobre grandes fortunas, poderia sim

ser factível, dependendo do sucesso do formato da Lei Complementar que o

introduzisse e de como ele fosse efetivado pelo Governo. A aplicação do IGF

dentro do orçamento público federal representaria não só uma fonte de receitas

necessárias para o sustento da máquina pública que se encontra em crise, mas

também uma forma efetiva de introduzir o conceito de justiça também em

nossas políticas econômicas.

No entanto, diante do contexto atual do mundo que vivemos,

encontramos uma dificuldade muito grande para a tributação dos mais ricos.

Dani Rodrik (2011, apud Piketty 2013) diz que três conceitos constituem

um trio instável no século XXI: Estado-nação, democracia e globalização,

devendo sempre um dos três ceder aos outros dois, pelo menos em parte, para

a tomada de alguma ação por cada um.

Segundo Piketty (2013), a dificuldade de o Estado nacional definir a

tributação dos mais ricos de maneira unilateral, em um ambiente de grande

concorrência fiscal entre os países se deve justamente a esse fato.

E com isso, vemos se repetir a prevalência do abandono às propostas

de tributação sobre a riqueza e a sua substituição pela taxação sobre o

consumo em vários países do mundo, exatamente como no século XIX.

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CONCLUSÃO

Como pudemos observar em todo o conteúdo do trabalho

apresentado, a carga tributária brasileira, embora tenha se elevado bastante

nos últimos anos, não se qualifica por ser especialmente alta, sendo

comparável à média da OCDE (Organização para a Cooperação e

Desenvolvimento Econômico) e dos países desenvolvidos, embora seja maior

que a dos BRICS, causando certa desvantagem fiscal em relação aos outros

membros.

Ainda assim, o ideário comum da sociedade de que o Brasil é um

país de elevada carga tributária, dá-se, na verdade, por outros motivos, como:

reversão dos tributos em péssimos serviços públicos, carga tributária incidindo

acentuadamente sobre as camadas médias e populares (maioria da

população), descrédito na gestão pública, entre outros.

Podemos notar, entretanto, que o grande problema do sistema

tributário brasileiro, em relação aos países mais desenvolvidos, não é o

tamanho da nossa carga tributária, e sim a sua composição, que faz às vezes

de vilã, cristalizando as desigualdades sociais nacionais.

A distribuição da carga tributária entre suas materialidades

econômicas deixa claro que no Brasil tributamos bem mais o consumo do que

em outros países e bem menos a renda. Dessa maneira, a tributação sobre o

consumo consente muito mais aos interesses da arrecadação do Estado do

que ao pensamento de justiça fiscal, combate a desigualdade ou fortalecimento

de um Estado de Bem estar social.

E uma das piores consequências dessa injustiça tributária reflete-se

em um acentuamento da desigualdade social, que segundo interessante

estudo estatístico de Wilkinson e Pickett (2010), tem efeitos para além da

economia. O agravamento de um quadro de desigualdade social não gera

consequências negativas apenas para as camadas mais pobres, acabando

sim, por contaminar toda a sociedade, com um sentimento de injustiça social

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que gera um agravamento das divisões de classes e o consequente abalo de

confiança entre os desiguais. Assim, os pesquisadores concluem que não é a

pobreza, mas o grau de desigualdade social de um país, o fator que mais se

relaciona com o bem estar de toda a sociedade.

Nesse sentido, podemos afirmar que para uma adequação

verdadeira do sistema tributário brasileiro ao seu contexto econômico social,

seria necessária uma grande revolução, que desonerasse os salários e o

consumo em detrimento do patrimônio e da renda, e que de fato gerasse uma

reforma tributária igualitária.

E por essa lógica, investir na aplicação de um tributo como o IGF,

imposto que incide diretamente sobre as grandes fortunas do país, seria bem

mais saudável do que propor novamente a volta da CPMF. No entanto, faz-se

necessário lembrar que a instituição de tributos isoladamente, como o caso do

IGF, representaria um início de caminho a percorrer; e não a solução para os

problemas de nossa nação, tão mais complexos e abstrusos.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02 RESUMO 03 METODOLOGIA 04 SUMÁRIO 05 ÍNDICE DE TABELAS 06 INTRODUÇÃO 07

CAPÍTULO I

CPMF E SEU POSSÍVEL RETORNO 09

1.1. Análise da CPMF no Sistema Tributário 10

1.2. A escolha do Governo 14

CAPÍTULO II

IGF NO BRASIL 19

2.1. Contexto Jurídico 20

2.2. Contexto Sociológico 24

CAPÍTULO III

COMPARATIVO CPMF E IGF 28

3.1. Estimativas de arrecadação 28

3.2. Aplicações dos tributos em outros países 31

3.3. Diagnóstico da aplicação no Orçamento Público Brasileiro 34

CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA 41 ÍNDICE 44