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Ano 8 nº 83 janeiro 2008 ENTREVISTA ALESSANDRO TEIXEIRA: APEX VAI LEVAR A EMPRESAS MAIS INFORMAÇÕES SOBRE MERCADOS E MAIS A RETOMADA DOS INVESTIMENTOS EM ENERGIA NUCLEAR AS DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E MULHERES AO COMPRAR COMO MELHORAR A GESTÃO PORTOS

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Ano 8nº 83janeiro2008

ENTREVISTA ALESSANDRO TEIXEIRA: APEX VAI LEVAR A EMPRESAS MAIS INFORMAÇÕES SOBRE MERCADOS

E MAIS

A RETOMADA DOSINVESTIMENTOS EMENERGIA NUCLEAR

AS DIFERENÇAS ENTREHOMENS E MULHERES

AO COMPRAR

COMO MELHORAR A GESTÃOPORTOS

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 3WWW.CNI.ORG.BR

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MOMENTO PARA AREFORMA TRIBUTÁRIAFicou claro o esgotamento do atual sistema tributário narejeição à CPMF. É preciso aproveitar o amadurecimento das discussões para a construção de um novo modelo

Armando Monteiro Neto, presidente da CNI – Confederação Nacional da Indústria

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A DECISÃO DO SENADO FEDERAL DE NÃO PRORROGAR

a Contribuição Provisória sobre a MovimentaçãoFinanceira (CPMF) foi um claro sinal de que a socie-dade brasileira considera excessiva a carga tributária àqual é submetida. Mas o problema não se restringe àexagerada parcela da produção nacional apropriadapelo Estado. Criou-se no País um consenso sobre anecessidade de substituir o sistema tributário emvigor. Impostos e contribuições punem os exporta-dores, oneram investimentos e dificultam a contrata-ção de trabalhadores no mercado formal.

As evidências demonstradas pela Indústria epor outros atores relevantes no processo têm leva-do à convergência de princípios para a construçãode um novo sistema tributário. O governo ouviurepresentantes de empresários e trabalhadores paraque influíssem na discussão e elaboração da pro-posta de emenda constitucional, em fase de finali-zação pelo Executivo.

O momento é oportuno para o avanço daReforma Tributária. Não se pode deixar de consi-derar que as entidades de representação, o gover-no, os parlamentares e a sociedade como um todoamadureceram na discussão sobre o tema. É ver-dade que a perda das receitas com a CPMF impõea necessidade de ajustes ao governo. Mas isso nãopode ser obstáculo ao aprimoramento do sistematributário. O equacionamento das contas públicasé perfeitamente factível a partir da racionalizaçãode gastos e do crescimento do Produto InternoBruto (PIB), que a CNI estima em 5% para esteano. A manutenção desse patamar de crescimento

nos próximos anos, algo esperado, é outro fatorfavorável à Reforma, ao permitir a acomodação deeventuais impactos do novo sistema.

A proposta de Reforma Tributária a que se che-gou – se não é a ideal – responde ao preceito dasimplificação. Agregam-se o PIS, a Cofins e a Cideem um novo Imposto sobre Valor Agregado (IVA)no âmbito federal. A Contribuição Social sobre oLucro Líquido (CSLL) funde-se ao Imposto deRenda da Pessoa Jurídica (IRPJ). O Imposto sobrea Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS)tem regras progressivas de evolução até 2016, quan-do passa a ser cobrado no destino e com alíquotasuniformes para cada produto em todo o País.

É preciso reconhecer as dificuldades específicaspara aprovação das mudanças no ICMS, queenvolvem problemas federativos de difícil negocia-ção. Como se espera uma longa fase de transiçãopara o novo sistema, é preciso avançar desde agorana Reforma Tributária por meio de dispositivosinfraconstitucionais. Um dos grandes benefíciosda proposta em discussão é permitir a desoneraçãototal dos investimentos, algo fundamental para amanutenção da taxa de crescimento econômicoque o País alcançou.

Os impasses federativos que dificultam a har-monização das leis do ICMS exigem um esforçodo governo que transcende a área tributária. É pre-ciso construir uma nova política de desenvolvi-mento regional. Quando tivermos um País quecaminha para tornar-se espacialmente equilibrado,a guerra fiscal vai se tornar desnecessária.

ARMANDO MONTEIRO NETO

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www.cni.org.br

DIRETORIA DA CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA INDÚSTRIA - QUADRIÊNIO 2006/2010

Presidente: Armando de Queiroz Monteiro Neto (PE);Vice-Presidentes: Paulo Antonio Skaf (SP), Robson Braga de Andrade (MG), Eduardo Eugenio GouvêaVieira (RJ), Paulo Gilberto Fernandes Tigre (RS), José deFreitas Mascarenhas (BA), Rodrigo Costa da Rocha Loures(PR), Alcantaro Corrêa (SC), José Nasser (AM), JorgeParente Frota Júnior (CE), Francisco de Assis BenevidesGadelha (PB), Flavio José Cavalcanti de Azevedo (RN), Antonio José de Moraes Souza (PI);1º Secretário: Paulo Afonso Ferreira (GO);2º Secretário: José Carlos Lyra de Andrade (AL);1º Tesoureiro: Alexandre Herculano Coelho de Souza Furlan (MT);2º Tesoureiro: Alfredo Fernandes (MS); Diretores: Lucas Izoton Vieira (ES), Fernando de Souza FlexaRibeiro (PA), Jorge Lins Freire (BA), Jorge MachadoMendes (MA), Jorge Wicks Côrte Real (PE), Eduardo Pradode Oliveira (SE), Eduardo Machado Silva (TO), JoãoFrancisco Salomão (AC), Antonio Rocha da Silva (DF), José Conrado Azevedo Santos (PA), Euzebio AndréGuareschi (RO), Rivaldo Fernandes Neves (RR), FranciscoRenan Oronoz Proença (RS), José Fernando Xavier Faraco(SC), Olavo Machado Júnior (MG), Carlos Antonio deBorges Garcia (MT), Manuel Cesario Filho (CE).

CONSELHO FISCALTitulares: Sergio Rogerio de Castro (ES), Julio Augusto Miranda Filho (RO), João Oliveira de Albuquerque (AC);Suplentes: Carlos Salustiano de Sousa Coelho (RR), Telma Lucia de Azevedo Gurgel (AP),Charles Alberto Elias (TO).

UNICOM - Unidade de Comunicação Social CNI/SESI/SENAI/IEL

ISSN 1519-7913Revista mensal do Sistema IndústriaDiretor executivo - Edgar LisboaDiretor institucional - Marcos Trindade

ProduçãoFSB ComunicaçõesSHS Quadra 6 - cj. A - Bloco E - sala 713CEP 70322-915 - Brasília - DF Tel.: (61) 3323.1072 - Fax: (61) 3323.2404

e Gerência de Jornalismo da UNICOMSBN Quadra 1, Bloco C, 14º andar Brasília - DF - CEP 70040-903 Tel.: (61) 3317.9544 - Fax: (61) 3317.9550e-mail: [email protected]ção IW Comunicações - Iris Walquiria Campos RedaçãoEditor: Paulo Silva Pinto Editores-assistentes: Enio Vieira e Luciano MilhomemEditor de arte: Flávio CarvalhoRevisão: Shirlei NatalinePublicidade FSB ComunicaçõesMagno Trindade - [email protected] Visconde de Pirajá, 547 - Grupo 301Rio de Janeiro - RJ - CEP 22410-003 Tels.: (21) 2512.9920 / 3206.5061Gilvan Afonso - [email protected] Quadra 06 - Conj. A - Bloco E sala 713 Brasília - DF - CEP 70322-915 Tel.: (61) 3323-1072Cel.: (61) 8447-8758Impressão - Gráfica CoronárioCAPA: FSB DESIGNAs opiniões contidas em artigos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, o pensamento da CNI.

16 CapaPesquisa da CNI detecta problemas nos portos brasileiros e propõeque a gestão seja entregue ao setor privado

22 TecnologiaIEL e Confea contam em livro como foi o desenvolvimentoe a implantação da TV digital no Brasil

34 NegóciosHomens são mais objetivos e apressados na hora de comprar,e as mulheres são criteriosas na escolha de um produto

40 EnergiaBrasil retoma o investimento em energia nuclear e discute quantasusinas precisam ser construídas nos próximos anos

ARTIGO32 CRISTOVAM BUARQUE

Partidos políticos devem buscar um projeto comum, o Educacionismo,que se volte para um modelo de educação de qualidade

50 BOLÍVAR LAMOUNIERDerrubada da CPMF pelo Senado Federal indica um novo equilíbriode poder que fortalece a democracia

SEÇÕES6 LUPA

10 ENTREVISTAAlexandre Teixeira afirma que as empresas brasileiras terão maisinformações sobre mercados de outros países

26 TENDÊNCIASEconomia brasileira passou a crescer em ritmo mais forte em 2007e tem o desafio de manter o desempenho neste ano

28 ANÁLISEJosé Roberto Mendonça de Barros avalia o atual crescimento industrialque, diferente de anos recentes, é puxado pelo mercado interno

38 PONTO DE VISTASérgio Marcolino Longen afirma que novos investimentos mudam aeconomia de Mato Grosso do Sul, e Telma Lúcia de Azevedo Gurgelconta que existe um ressurgimento da indústria no Amapá

44 CULTURAComeça a exposição itinerante das obras de artistas selecionados peloPrêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça, que irá a todas as regiões do País

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A PIRATARIA DE BRINQUEDOS, TÊNIS E

roupas resultou em perdas de arrecadaçãofiscal de R$ 20,2 bilhões em 2007 parao governo federal, estados e municípios. Os números foram apresentados peloGrupo Regional de Combate à Pirataria,na sede da Fiesp, no dia 3 de dezembro.De acordo com o balanço do ano, o total gasto com esses produtos nas quatro regiões metropolitanas pesquisadas (Rio de Janeiro, São Paulo,Belo Horizonte e Recife) cresceu 8%. O grupo fez também uma pesquisa em que foram ouvidas 2.226 pessoas, das quais 73% declararam semprecomprar produtos pirateados, às vezes ou raramente, enquanto apenas 27%disseram nunca fazer esse tipo de compra.

PIRATARIA

A CNI FIRMOU EM DEZEMBRO UM

protocolo de intenções com o Ministérioda Educação e com a Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de NívelSuperior (Capes), para intercâmbio nasáreas de ensino, pesquisa e extensão. A idéia é que as entidades trabalhemjuntas para desenvolver tecnologias quepossam ser usadas na indústria e nodesenvolvimento de programas deensino, pesquisa e extensão, tambémfocados no setor industrial. Comvalidade de cinco anos, o protocolocontempla parcerias entre a indústria e osetor acadêmico, incluindo concessão derecursos a eventos de caráter científico,tecnológico e cultural, e complementaçãoda formação de mestres e doutores.

INVESTIMENTO EM ENSINOOS DEKASSEGUIS, DESCENDENTES DE

japoneses que vão para o Japão em buscade trabalho, têm agora um incentivo paravoltar ao Brasil como empreendedores,graças a uma parceria do Serviço Brasileirode Apoio às Micro e Pequenas Empresas(Sebrae) com o Banco Interamericano deDesenvolvimento (BID). O ProgramaDekassegui Empreendedor acompanha oscandidatos desde a ida para o Japão, com oobjetivo de que aproveitem a estada paradesenvolver habilidades que serão úteis namontagem de um negócio no retorno aoBrasil. Atualmente 300 mil brasileiros dedescendência japonesa vivem no Japão. O programa existe nos estados do Pará, SãoPaulo, Mato Grosso do Sul e Paraná, ondeestão as maiores comunidades nipônicas. É oferecido atendimento presencial e pelainternet (www.dekassegui.sebrae.com.br).

VOLTAR DO JAPÃOPARA EMPREENDER

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O SESI É O MAIS NOVO INTEGRANTE DA REDE DE CENTROS

Colaboradores da Organização Mundial da Saúde (OMS)e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para a áreade Saúde e Segurança no Trabalho. A designação oficial foifeita em dezembro do ano passado e representa oreconhecimento do padrão de excelência internacionalalcançado pela instituição nesta área. Há 67 CentrosColaboradores da OMS em todo o mundo, 17 dos quais nasAméricas e dois no Brasil (um deles é o SESI). Para divulgar osprojetos e iniciativas em andamento, a entidade desenvolveuuma página na internet (www.sesi.org.br/ccoms/).

REFERÊNCIA EM SAÚDE E SEGURANÇA

O SENAI INAUGUROU NO FINAL DO ANO PASSADO O PRIMEIRO

laboratório de Metrologia de Calibração nas Grandezas de Pressão e Temperatura do Centro-Oeste, em Campo Grande. O Labmetroatende a diversos segmentos industriais, como frigoríficos,laticínios, fábricas de bebidas, usinas sucroalcooleiras, fábricas decimento, mineradoras, transporte e distribuição de gás e derivados e tratamento de esgoto. A unidade deve ser certificada pelo Inmetroneste ano. O telefone do Labmetro é 67-3321-0421, ramal 234.

METROLOGIA NO CENTRO-OESTE

CAPACITAÇÃO EXECUTIVA O IEL APRESENTOU A PROGRAMAÇÃO DE

cursos de educação executiva para 2008.De 26 a 30 de maio ocorre a 3ª edição do programa Estratégia e Inovação nosNegócios, na Wharton School, Filadélfia,Estados Unidos. Em sua 8ª edição, oprograma Gestão Estratégica paraDirigentes Empresariais, em parceria com o Insead, será realizado de 18 a 23 de agosto, em Fontainebleau, na França.O programa Estratégia de Negócios para o Mercado Asiático, também em parceriacom o Insead, será realizado pela segundavez, de 6 a 15 de outubro em Cingapura e Xangai. Em 2007, o IEL capacitou 117empresários em cursos no exterior. A expectativa é de que participem dosprogramas neste ano 120 executivos. Mais informações sobre os cursos estãodisponíveis na página eletrônica do IEL (www.iel.org.br).

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ALIMENTOS E BEBIDASEMPRESAS BRASILEIRAS DO RAMO DE ALIMENTOS

e bebidas podem participar entre os dias 11 e14 de março da mais importante feira dealimentos e bebidas da Ásia: a Foodex, emChiba, no Japão. De acordo com a AgênciaBrasileira de Promoção de Exportações eInvestimentos (Apex-Brasil), que organizamissão empresarial para o evento, háoportunidades para os segmentos de café, carne de aves, frutas, leite e laticínios, massas epreparações alimentícias, sucos, vinhos, bebidasdestiladas e alimentos orgânicos, naturais efuncionais. Para a edição de 2008, sãoesperados 2.400 expositores de 60 países. Mais informações na página do evento(http://www2.jma.or.jp/foodex/en/index.html).

A AGÊNCIA DE PROMOÇÃO DAS EXPORTAÇÕES

e Investimentos (Apex-Brasil) vai investir R$ 954,4 mil em dez ações voltadas à expansãodas vendas externas gaúchas. Atualmente, a

Apex apóia 37 projetos com a participação deempresas do Rio Grande do Sul, que recebemum valor de R$ 170,8 mil. O orçamento totalda agência para 2008 é de R$ 420 milhões.

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PRÊMIO CNI DE ECONOMIAA CNI LANÇOU EM DEZEMBRO O PRÊMIO CNI de Economia, com o objetivo de estimular apesquisa econômica de alta qualidade sobre aindústria. Serão premiados os melhores artigos doano sobre economia industrial, além de trabalhossobre um tema especial a cada ano. O temaescolhido para 2008 é Política Tributária eCompetitividade. A inscrição para o Prêmio CNIde Economia de 2008 deve ser feita de 1º dejulho a 29 de agosto. Mais informações na páginaeletrônica da CNI (www.cni.org.br).

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O PROFESSOR DO SENAI CACHOEIRO, PAULO

César Ferreira, venceu o Prêmio Philips deSimplicidade. O docente de elétrica do SENAIcapixaba inventou um passa-fio graduado, quepermite a medição dos cabos e conduítes eminstalações elétricas, de telefonia, de sistemas de TV ou de informática. O projeto aumenta a precisão nos cálculos dos materiais utilizados,proporcionando economia e maior previsibilidadede custos, além de agilizar e otimizar os trabalhos.O invento concorreu com mais de mil projetosinscritos por profissionais de todo o Brasil.

INVENÇÃO PREMIADAO SESI VAI FACILITAR O ACESSO AO PRESERVATIVO

masculino para o trabalhador da indústria.A instituição, em parceria com as Nações Unidas,Ministério da Saúde e Organização Internacionaldo Trabalho (OIT), está desenvolvendo desdemeados do ano passado um projeto piloto que vailevar máquinas de auto-atendimento para vendada camisinha dentro das indústrias a preçosubsidiado. O projeto é inovador. “No mundointeiro, apesar de existirem essas máquinas embares e lanchonetes, a única empresa a oferecermáquinas para venda de preservativo em suasunidades é a Volkswagen”, diz a analista denegócios sociais do SESI, Marta Carvalho.A iniciativa partiu de uma pesquisa realizadaem 2006 pelo SESI com os trabalhadores daindústria, que revelou o difícil acesso ao produtoser um dos maiores motivos para deixar de usarpreservativos. O levantamento apontou tambémque os próprios trabalhadores preferem adquirir opreservativo por um preço simbólico. O projetopiloto funcionará a partir de março e atenderá 100empresas do Amazonas, Minas Gerais, Sergipe,Paraná e Tocantins. O SESI vai monitorar e avaliarações educativas nessas empresas para a prevençãode doenças sexualmente transmissíveis epromoverá ações educativas sobre saúde sexualreprodutiva, para atingir também a família dostrabalhadores de empresas industriais.

ACESSO A PRESERVATIVOS

O ACESSO DA MICRO E PEQUENA EMPRESA ÀS

normas técnicas ficou mais barato. O ServiçoBrasileiro de Apoio às Micro e PequenasEmpresas (Sebrae) e a Associação Brasileirade Normas Técnicas (ABNT) assinaram umconvênio que permite aos pequenos negóciospagar um terço do preço para adquirir anormatização. Por exemplo, a norma ABNTNBR ISO 9001 – Sistemas de gestão daqualidade – Requisitos, a mais procurada porempresas de todos os portes, custa R$ 64,60e poderá ser adquirida por R$ 21. O objetivoé promover a competitividade da micro epequena empresa por meio da intensificaçãodo uso dessas normas. A parceria envolveaproximadamente R$ 4 milhões para umperíodo de 24 meses e foi assinada emoutubro do ano passado.

NORMATIZAÇÃO

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Conhecerpara ganhar

POR PAULO SILVA PINTO E ENIO VIEIRA

O ECONOMISTA ALESSANDRO TEIXEIRA, DE 36 ANOS, É UMA DAS POUCAS PESSOAS NA

burocracia brasiliense que usam ternos na acepção exata do termo: calça, colete e paletó.São todos produzidos na fábrica da família, em Porto Alegre. Entre tecidos e livros con-tábeis, ele aprendeu como funcionam os negócios, bem antes de ir para a faculdade.

Há sete meses, Teixeira ocupa a presidência da Agência de Promoção dasExportações (Apex), vinculada ao Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio Exterior, com a missão de alavancar as exportações brasileiras, principal-mente as de maior valor agregado. Os resultados têm sido favoráveis: as vendas exter-nas do País cresceram 16% neste ano e as que são assistidas pela Apex, 24,8%.

Teixeira espera que aumentem as exportações de produtos de maior valor agrega-do. A chave do trabalho, afirma, são detalhados estudos dos mercados mundiais, paradescobrir oportunidades específicas e novas qualidades que os produtos brasileirosdevem ter. Graças a esse esforço, produtos brasileiros vêm ganhando design maissofisticado. Outra ação, a mais custosa e trabalhosa, é construir a imagem dos produ-tos no exterior. Os calçados brasileiros, afirma, são cada vez mais conhecidos por asso-ciarem estilo e conforto.

A Apex quer fazer com que o conhecimento sobre os mercados chegue a umnúmero cada vez maior de empresas, algo que a agência busca por meio de parceriascom a CNI, Federações de Indústrias e associações setoriais. Outro passo, é ajudar osempresários, principalmente os médios e os pequenos, a encontrar os futuros clientesno exterior. Também quer atuar na internacionalização de grandes empresas, especial-mente as redes de varejo. Se lojas brasileiras se instalarem no exterior, argumentaTeixeira, levarão junto muitos produtos brasileiros.

Segundo o presidente da Apex, há muitos consumidores lá fora quedeixam de comprar produtos brasileiros por não identificar suasqualidades, e empresários daqui que precisam ser apresentados a futuros clientes

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Indústria Brasileira – A Apex completa dez anos.O que mudou nesse período?Alessandro Teixeira – Na verdade não sãodez anos, porque a Apexficou cinco anos dentrodo Sebrae [Serviço deApoio às Micro e Peque-nas Empresas] como umdepartamento. Foi umgrande amadurecimentoinstitucional ter umaagência de exportações de fato, algo que a maio-ria dos países hoje tem.

IB – Qual o orçamento e o número de funcionários?AT – O orçamento anual é em torno de R$ 160milhões, 85% dos quais são destinados a projetossetoriais integrados. Em torno de 5% a 6% sãopara projetos de imagem comercial no exterior eo restante é para manutenção. Estamos com cercade 130 funcionários depois de um novo concurso.A Apex hoje tem o tamanho da agência de expor-tações da Guatemala.

IB – É preciso uma estrutura maior?AT – Eu lhe dou os números e você conclui se temou não de aumentar. A agência da Inglaterra tem2.400 funcionários, e 100 escritórios no mundo, comas mesmas atribuições da Apex: promoção comerciale atração de investimentos. O Pró Chile tem 400 fun-cionários e nove escritórios no exterior. A Apex temdois em funcionamento, em Miami a Dubai, e maistrês em reestruturação: Varsóvia, Frankfurt e Lisboa.

IB – Como se faz a promoção comercial?AT – O objetivo da agência é fazer a internacio-nalização dos setores produtivos, aumentandoas exportações, gerando emprego e renda nopaís. É possível internacionalizar a imagem, amarca, o produto e a empresa. A internacionali-zação da imagem é feita com base em atributos:ao pensar numa jaqueta de couro alemã, vem aidéia de um produto bem acabado, resistente, deforma mais reta, que protege do frio. Ao pensarem um café alemão, pensa-se em um produtosem impurezas, bem embalado. Esses atributosexistem independentemente de o país produzirou não jaquetas ou café. É o valor da imagem.Quando ouve made in China, ao contrário, vocêpensa em produto de baixa qualidade e barato.Panasonic e Toshiba são marcas que represen-

tam a imagem de tecno-logia do Japão. O produ-to em si tem atributosque são compostos pelamarca e pela imagem.Pode ser Sony, com umdesign mais moderno, ouToshiba, mais conserva-

dor. Por fim há a internacionalização da empre-sa. Um produto Toshiba pode ser produzido naÍndia ou no Japão, mas mantém um certopadrão de qualidade.

IB – Qual a imagem do produto brasileiro hoje?AT – É neutra para positiva. Não se diz que éruim, mas tampouco que tem grande qualidade.

IB – Essa imagem precisa mudar?AT – Precisa ser trabalhada. Se fosse ruim,precisaria mudar.

IB – Que atributos tem?AT – Começa a ganhar força o design, a idéia dealgo colorido, voltado à natureza.

IB – Como chegaram a essa conclusão?AT – Por meio de várias pesquisas, comtrabalhos de consultores e com uma parceriacom a Associação Brasileira da Indústria deDesign (ABDesign).

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A Apex cresceu, masainda tem o tamanhoda agência de exportaçõesda Guatemala

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produção, exportação e importação, o que mostracrescimento do nível de atividade econômica noBrasil. No México, houve um momento em queas exportações e as importações aumentavam, e aprodução industrial diminuía, com o modelo damaquiladora. Aumentava-se a montagem, mas oproduto industrial não aumentava.

IB – O que a Apex pretende conseguir neste ano quese inicia?AT – Aumentar as exportações não só pela diver-sificação de mercados, mas também pela agrega-ção de valor, sendo que 90% dos projetos da agên-cia são no setor de manufaturas. E por fim inter-nacionalizar as empresas brasileiras. Um projetoque estamos iniciando com a CNI é auxiliar asFederações de Indústrias no País inteiro a ter inte-ligência comercial. Existe informação: a Chinacompra calçados. Mas é preciso conhecimento,inteligência de mercado: quem compra, qual opreço médio, quais os canais de distribuição. Para

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IB – Há quanto tempo a Apex trabalha dessa maneira?AT – Há sete meses [antes de ele entrar na Apex], aforma de trabalhar era outra, com a priorização de33 mercados, um trabalho de inteligência e deexposição mais acanhado do que hoje. Temos agorana agência o Projeto Setorial Integrado (PSI).É assinado um convênio de promoção comercialpor dois anos com as associações setoriais, por meiodo qual se fazem várias coisas, como a adequaçãodo produto e o desenvolvimento de marca setorial.Um exemplo é o Brazilian Beef. Isso inclui adequa-ção de embalagem, de rótulo. A promoção conso-me de 70% a 80% e a adequação, de 20% a 30%.Escolhem-se também, em todos os projetos, trêspaíses como mercado prioritário. O que está conti-do no Brazilian Beef é que é verde, que não tem tra-tamento hormonal. Qual a imagem? Que nóssomos poderosos no agronegócio. Depois vamospara a promoção comercial, que desce ao nível doproduto e da empresa. O PSI trabalha em trêsníveis: marca, produto e empresa.

IB – Quantos projetos, como esse, existem na Apex?AT – Temos hoje 65 projetos, em que participam150 entidades, com um total de atendimento de4.000 empresas, basicamente industriais. Do totalde empresas, 41% são do setor de moda: calçados,têxteis, vestuário, jóias e cosméticos. Máquinas eequipamentos são 13%. Casa e construção, 21%,incluindo móveis. Do agronegócio, 14%. Cadacomplexo desses tem vários setores.

IB – Os resultados já estão aparecendo?AT – Sim. As exportações mundiais cresceram12% em 2007. As exportações brasileiras cresce-ram 16%. E aquelas vinculadas a projetos daApex, 24,8%. Dos 7.628 produtos que o Brasilexporta, a Apex é responsável por cerca de 2.800.

IB – As importações brasileiras cresceram neste ano33%, o que levou à redução do saldo na balançacomercial. Isso é um problema?AT – Não. Há problema na economia se a produ-ção industrial cresce menos que as exportações eimportações. Isso quer dizer que se está substituin-do produção industrial por importações. E o queestá acontecendo não é isso. Temos aumentado

ENTREVISTA

Precisamos de inteligênciade mercado: quemcompra, qual o preço,como é a distribuição

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empresas brasileiras. Uma agência de publicidadelocal pode desenvolver uma marca para aquele mer-cado. No final, se necessário, abriremos um centrode distribuição. Estamos conversando com a UPS,que terceiriza galpões para empresas. Isso dá flexibi-lidade. Em vez de show-room, podemos acertar comum supermercado para que tenha um corredorexclusivo de produtos brasileiros.

IB – Como as empresas podem ter acesso às informa-ções de inteligência da Apex?AT – Por meio das associações de classe e Federaçõesde Indústrias. Se for uma informação individualiza-da, a empresa poderá pagar pelo serviço.

IB – Da lista dos principais mercados, quais devemcrescer mais nos próximos anos?AT – A China tem uma classe média de 150milhões de pessoas. Hoje, os chineses importamcommodities brasileiras, mas podem importarmuito mais, porque eles compram de tudo.O mercado do Egito deve ser importante, aColômbia, os Emirados Árabes.

IB – Que setores brasileiros podem ter marcas mais fortes?AT – Café, por exemplo, e todo o setor de alimen-tos. A Proexport da Colômbia nos mostrou comofez toda a promoção do café, por meio de investi-mento pesado em marca nos mercados dosEstados Unidos e da Europa.

IB – Eles procuram fixar a imagem do café produzi-do nos Andes.AT – Isso é marketing puro (risos). Nos EstadosUnidos, nem se sabe onde são os Andes. A imagemque conquistaram é posicionamento estratégico.Mas não vamos disputar o mesmo mercado que elestêm, estamos trabalhando com públicos mais varia-dos. A Apex tem dez anos. A promoção do café temapenas quatro anos. A de calçados, sete anos.

IB – O que mudou na imagem do calçado brasileiro?AT – Ninguém entendia o calçado brasileiro.Hoje, os atributos são de um produto confortávele com design. O italiano não tem a imagem asso-ciada a conforto. O resultado foi a melhora dopreço médio do calçado brasileiro. Nesse trabalho,

isso criamos uma área de planejamento, com baseno Balanced Scorecard (BSC) [que a CNI usoupara produzir o Mapa Estratégico da Indústria2007-2015]. Começamos identificando as econo-mias que crescem, que têm inflação baixa, mastambém se há concentração de renda etc. Um paíscomo o Cazaquistão cresce muito, mas de formaconcentrada. Não devemos vender camisetas aeles, mas sim aviões, móveis de couro. É precisoidentificar também os acordos comerciais. NoMéxico, 80% do comércio é com os EstadosUnidos. É difícil deslocar uma empresa norte-ame-ricana que já está lá. No caso de alimentos, torna-se progressivamente mais complicado entrar naEuropa. No caso de máquinas e equipamentos, ébem mais difícil concorrer na Alemanha do que naAmérica Latina – claro que isso depende do pro-duto. Precisamos também melhorar a qualidadedos nossos estudos de prospecção de mercado.Além do trabalho de inteligência estática, que jámencionei, a partir de janeiro, a Apex terá umaárea de inteligência dinâmica, com especialistas emmercados de cada região ou continente.

IB – Quantos escritórios a Apex terá no exterior?AT – Haverá nessa questão uma mudança.Para estar em nosso centro de Miami, por exemplo,a empresa pagava US$ 800 e tinha três serviços:escritório para se instalar, show-room e galpão paraarmazenagem. Descobrimos, porém, que a maioriadas empresas não precisava de estocagem porquenem sequer havia começado a exportar. Mudamosagora o nome dessas bases para centro de negócios,dentro de um novo modelo. O centro a ser abertona China poderá abrigar associações, empresas etradings, com uma série de serviços acoplados. AUniversidade de Pequim, por exemplo, pode fazerum estudo de viabilidade de internacionalização de

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ALESSANDRO TEIXEIRA

Queremos redes devarejo brasileiras no

exterior, levandojunto produtos

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definiram-se os atributos e daí fez-se uma políticaque envolveu parceiros como o SENAI.

IB – A promoção comercial do Brasil está atrasadaem comparação a outros países?AT – Quando comparamos economicamente oBrasil a outros países, sempre usamos o exemploda China e da Índia. Cabral estava indo para aÍndia quando descobriu o Brasil para fazer comér-cio. Ou seja, indianos e chineses se promovem hámuito tempo no comércio mundial. A Turquiaestá na logística há mil anos.

IB – Mas também não estamos atrás da Colômbia eda Guatemala?AT – Eles têm mais tempo de promoção queo Brasil, mas não gosto de ver esse assunto comocomo uma corrida. O que posso dizer é que a abertura comercial do Brasil foi maravilhosa em ter-mos de liderança dos empresários. Há 20 anos, nãose via uma Gerdau comprando usinas nos EstadosUnidos, a Coteminas adqui-rindo fábricas, a Odebrechtconstruindo aeroportos nomundo inteiro.

IB – A Apex nasceu com oobjetivo de aumentar asexportações de empresas demenor porte. Esse foco foi mantido? AT – As pequenas e médias continuam sendoo objetivo da Apex. Nos projetos da agência, 98% são empresas pequenas e médias. O traba-lho de promoção de marca, agregação de valor,internacionalização é voltado para esse segmento.A grande empresa tem a vantagem de preçoe escala. As pequenas se diferenciam pela qualida-de, agregação de valor. O nosso objetivo é au-mentar o número de pequenas e médias empresasno mercado internacional.

IB – Como é o projeto de atração de investimentos?AT – Esse projeto existe há três anos na Apex,mas não foi implementado. De um lado, é pre-ciso consolidar a imagem do Brasil como umpaís estável, inflação baixa e instituições amadu-recidas. Os governos estaduais precisam saber

montar seus projetos e apresentá-los aos investi-dores. Foi o caso recente da Novartis, que anun-ciou uma unidade em Pernambuco. Havia umaconcorrência com México e Cingapura, que dis-

putavam esse investimen-to. A empresa tinha pro-postas de cinco estados, enós auxiliamos os secretá-rios de desenvolvimento.

IB – Como a Apex trabalhana internacionalização das

empresas brasileiras? AT – Estamos montando um plano com aSecretaria de Comércio e Serviço do Ministériodo Desenvolvimento, para a internacionalizaçãodo varejo do Brasil, algo que pode aumentar asexportações dos fornecedores.

IB – O que falta para internacionalizar ovarejo brasileiro?AT – São necessários estudos para saber se há espaçopara uma rede como as Casas Bahia na Venezuela,como são feitas as vendas no outro país.

IB – O que o Brasil exportará mais nos próximos anos?AT – Produtos de alta tecnologia. A Fanen, porexemplo, é uma empresa de São Paulo apoiadapela Apex, que hoje tem 20% do mercado mun-dial de incubadoras neonatais.

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ENTREVISTA

Podemos vender maismanufaturados para a

China, Egito e EmiradosÁrabes Unidos

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Por uma novaabertura dos portos

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 17WWW.CNI.ORG.BR

CAPA

POR ALCEU LUÍS CASTILHO

Estudo da CNI mostra gargalos provocados pela má gestão dasadministrações das docas e propõe um modelo, com maiorparticipação do setor privado

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AS COMEMORAÇÕES DOS200 ANOS DATRANSFERÊNCIA

da família real portuguesa para o Brasil, que secompletam neste mês, têm ignorado um detalhefundamental: a carta régia que Dom João 6º pro-mulgou em 28 de janeiro, em Salvador, quatrodias depois de sua chegada, determinando “a aber-tura dos portos brasileiros às nações amigas”. Comisso, o Brasil pôde passar a importar e exportardiretamente a outros países que não Portugal.

O setor industrial quer uma nova aberturados portos, que permita equiparar-se à eficiênciaque existe em outros países. Reconhece os avan-ços ocorridos desde a Lei dos Portos, em vigorhá dez anos, que tornou possível a privatizaçãodos terminais, onde os navios encostam e as mer-cadorias são desembarcadas ou embarcadas.O problema é que a administração dos portossegue no âmbito de companhias estatais, cujaineficiência tem levado a grandes gargalos nocomércio exterior. Diante de demandas crescen-tes no mercado nacional e internacional, osempresários defendem a progressiva extinção dasCompanhias Docas e a entrada da iniciativa pri-vada na administração portuária.

O problema começa nos investimentos. Em2006, o desembolso com esse item das oitoCompanhias Docas foi de R$ 100 milhões, apenas

24% da dotação orçamentária. Uma porcentagemconstrangedora, mesmo levando-se em conta amédia das estatais federais, de 80% de cumprimen-to do valor orçado para investimentos.

A preocupação da Indústria com o setor levou aCNI a preparar o estudo Reforma Portuária – o quefalta fazer, divulgado em dezembro. Trata-se de umextenso levantamento sobre os problemas do setor –das ambigüidades legais à dragagem insuficiente nosportos – e também de um detalhamento das propos-tas para dinamizá-lo.

“Há todo um atraso que precisa ser resolvidocom certa presteza”, alerta o presidente do Conselhode Infra-Estrutura da CNI, José de FreitasMascarenhas. “Os setores [de exportação] estão cres-cendo. O aço é um problema grande, o sistema doagribusiness aumenta a necessidade de atendimen-to, mas os portos não estão sendo ampliados.”

O contexto internacional aumenta a necessi-dade de modernização. Além do crescimento daprodução mundial e da internacionalização dasempresas e cadeias produtivas, há uma concen-tração do tráfego marítimo em grandes armado-res. Esses grupos escolhem a cadeia logística,com freqüência adotando a estratégia de integra-ção vertical – gerando redes de concorrênciaentre grupos de portos e terminais.

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PORTO DESANTOS (SP):

privatização dosterminais

aumentou aeficiência, masadministração

ainda temproblemas

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Um conjunto de dados relevantes do estudosobre a Reforma Portuária mostra a realidade poucocompetitiva da burocracia brasileira. A demora paraa liberação de cargas nos portos é 56% maior que amédia mundial: 39 dias contra 25 dias. Trata-se deuma verdadeira saga, que exige nada menos quevinte aprovações de diferentes órgãos do governo.

Mas a aprovação é ao menos rápida em cadauma dessas instâncias? Não: 90% dos procedi-mentos, já quase na segunda década do século 21,são manuais. Somente a Receita Federal está rela-tivamente informatizada. “E burocracia começa acriar pedágios”, afirma o deputado NelsonMarquezelli (PTB-SP), que foi relator da comissãoespecial sobre as Companhias Docas. “Se não rezarno pé da cruz, a cruz não anda para a frente.”

De acordo com a Associação Brasileira deTerminais Portuários, o custo da burocracia exces-siva é alta: um navio custa entre US$ 40 mil eUS$ 60 mil por dia. E isso não inclui custos indi-retos, difíceis de calcular: o caminhão parado, otrem parado. “O prejuízo vai aumentando, é umabola de neve”, diz Wilen Manteli.

A burocratização agrava outro problema dosetor público: as greves de diversas categorias pro-fissionais ligadas ao desembaraço alfandegário.Ainda segundo Manteli, somente no primeirosemestre de 2007 foram 81 dias de greve soman-do todas as categorias profissionais, como a daAnvisa no porto de Santos, ou a dos fiscais daReceita Federal no Maranhão. Nos anos anterio-res, foram mais de 100 dias por ano no total.

Embora promulgada em 1993, a Lei 8.630 sóentrou em vigor efetivamente em 1997. Era o iní-cio da transferência de terminais marítimos para osetor privado. O custo da movimentação de grãoscaiu de US$ 17 a US$ 20 dólares por toneladapara US$ 8 a US$ 10 dólares por tonelada.

GANHOS COM A NOVA LEIHouve um ganho ainda mais significativo no segmen-to de contêineres. As empresas públicas, conforme oestudo da CNI, movimentavam entre 8 e 12 contêi-neres por hora. Hoje, as concessionárias (são 130 ter-minais de uso privativo) movimentam entre 25 e 30por hora. E o custo por unidade dessa movimentaçãocaiu de US$ 500 para US$ 200. “A conseqüênciadisso é que o Brasil deverá fechar este ano com umbalanço de 700 milhões de toneladas e cerca de 7 mi-lhões de contêineres”, diz o presidente da AssociaçãoBrasileira de Terminais Portuários, Wilen Manteli.

Essa parte da história os empresários reconhecem– e comemoram. Como também vêem de formapositiva a criação da Secretaria Especial de Portos, no segundo semestre do ano passado, que passou aregulamentar o setor e administrar as CompanhiasDocas, antes sob responsabilidade do Ministério dosTransportes. Mas aí vêm as ressalvas. “Falta conti-nuar a implementação das mudanças previstas”,queixa-se Manteli. “Falta todo um sistema de gestãoque infelizmente não existe, com planejamento delongo prazo, falta a profissionalização da gestão dosportos”, aponta Mascarenhas. “Os portos são empre-sas, que precisam ser geridas com foco.”

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Falta investimento...para melhora da infra-estrutura, em R$ milhões

FONTE: CNI

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...E sobra esperaTempo médio para liberação decargas nos portos, em dias

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A questão trabalhista, ou de pessoal, é umdos itens delicados para a agenda de privatizaçãodas Companhias Docas, proposta da CNI aogoverno federal. O relatório da ComissãoEspecial da Câmara sobre essas empresas mostraque o Porto de Santos, com 1.415 funcionários,tem um passivo geral de R$ 720 milhões, doqual as dívidas trabalhistas respondem pelamaior parte. E no Porto do Rio, com 852 fun-cionários, o valor salta para R$ 923 milhões.

A proposta da CNI de progressiva eliminaçãoda Companhia Docas exige que o governo equacio-ne a liquidação dos passivos, com a garantia de queo ingresso de receitas por meio das concessões sejadirecionado para essas obrigações. Outra premissa éa de que a União permita a compensação, no pro-cesso de privatização, entre as situações patrimo-niais das Companhias Docas.

A discussão trabalhista nos portos brasileirosenvolve ainda a qualificação de recursos humanos.

PORTOSREVITALIZADOStambém podem

favorecer oturismo, como

ocorre emBarcelona

A imagem, se não é tudo, também movimenta aeconomia e as cidades. Uma proposta embutida noestudo da CNI pode motivar debates não só no campodo urbanismo, mas da cultura: a da revitalização dosportos também a partir das regiões e dos bairros emque estão localizados. Isso foi feito em Barcelona eBilbao, na Espanha; em Boston, Baltimore e SãoFrancisco, nos Estados Unidos; em Hamburgo, naAlemanha; e em Londres, na Inglaterra.

A realidade de Santos ou Salvador é muito distinta.“Na Europa escolhe-se um hotel de frente para oporto”, diz o deputado Nelson Marquezelli (PTB-SP).“Aqui é outra coisa.” Segundo ele, os governosprecisam investir no acesso aos portos – trevos, pistas,iluminação e segurança. “Está tudo muito mal cuidado,um negócio horrível. É muito improvisado. Tem um

trecho no Guarujá com 500 metros de estrada de terra. O que custaria fazer quatro, cinco pistas para caminhõespassarem, pavimentar pátio de estacionamento,construir quatro ou cinco banheiros?”

Algumas dessas áreas, no Brasil, pertencem àsCompanhias Docas, outras aos municípios e aosgovernos estaduais. Seriam necessárias parcerias paraa revitalização – além do tão reivindicado planejamentode longo prazo. A revitalização poderia ser o própriosímbolo desse planejamento com olhar largo.

“Não há visão empresarial moderna”, analisa o presidente do Conselho Temático de Infra-Estrutura da CNI, José de Freitas Mascarenhas. “É preciso ter um projeto de terminais, umaestrutura de turismo, voltada para maximizar avinda dos navios, com estação de passageiros.”

DIFERENÇA À VISTA

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GREVE emParanaguá (PR)obriga caminhõesa esperar váriosdias paradesembarcar a carga

INDÚSTRIA BRASILEIRA 21WWW.CNI.ORG.BR

CAPA

No final do ano passado, aPrefeitura de Santos assinou umconvênio com uma instituição(Antwerp-Flanders Port TrainingCenter) do porto belga deAntuérpia para treinamento depessoal. Os cursos serão formula-dos em parcerias com universida-des brasileiras e o SENAI.

DRAGAGEMConsiderado o principal pro-blema da infra-estrutura por-tuária hoje, a dragagem já foiobjeto de uma nova modela-gem de licitação pela SecretariaEspecial de Portos. Antes, erauma licitação para cada emprei-tada. Agora, a empresa vence-dora será responsável por umperíodo específico. O setorindustrial vê com bons olhos esse processo, pois,pelo modelo anterior, as empresas executavam oserviço exigido e o problema – o excesso de sedi-mentação – continuava. Agora, a concorrênciadetermina a manutenção por períodos longos.

O estudo da CNI aponta que, dos 53 milhõesde m3 de sedimentos previstos para 2005, apenas10 milhões de m3 foram retirados. Isso significadificuldade de acesso para os navios maiores, redu-ção da eficiência e aumento do custo dos fretes.

“A proposta [nova modelagem de licitação]pode solucionar essa questão”, observaMascarenhas, da CNI. “É um avanço, mas nãotem nada a ver com a gestão dos portos. O que sequer com a gestão é planejamento com visão delongo prazo, modificação do sistema de gestão depessoas, valorização do quadro de pessoal, commelhor qualificação, introduzir tecnologia decomunicação, para maior eficiência na manipula-ção das cargas e no atendimento aos navios, ela-boração de planos para estratégia e crescimentodos portos”, completa.

O ministro da Secretaria Especial de Porto,Pedro Brito, ganha elogios dos representantes dossetores industrial e portuário. Tanto pelas ações daSecretaria Especial como pelas palavras. “Mas a

capacidade de fazer coisas reais tem limitações,pelo próprio ritmo de procedimento que o setorpúblico exige”, aponta Mascarenhas.

As indicações políticas para os cargos naAdministração Portuária são citadas por todos comoalgo a ser combatido – e motivo para a reestrutura-ção do sistema. O estudo da CNI é enfático nessaquestão: “O loteamento político das administraçõesportuárias tem acarretado dirigentes sem o conheci-mento e a habilidade necessários para gerir eficiente-mente os portos e, também, um sistema de troca defavores e de decisões administrativas e gerenciais querespondem e se ajustam aos interesses envolvidos”.

Alguns dizem que as indicações políticasdiminuíram no governo Lula – como o deputa-do Marquezelli e Manteli, da AssociaçãoBrasileira de Terminais Portuários. Mascarenhas,da CNI, afirma que isso é possível, mas é menosotimista: “Claro que isso não acabou. Pode termelhorado com a criação da Secretaria Especial,mas não acabou”.

O ministro Brito foi procurado por IndústriaBrasileira para falar das conclusões do estudo e da atuação de sua pasta, mas informou, porintermédio de sua assessoria de imprensa, que não faria comentários.

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INSTITUTO MACKENZIEmantém um laboratóriopara testar o sistema deTV digital

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TECNOLOGIA

A construçãode uma nova TV

IEL e Confea lançam livro que conta ospassos para a implantação do sistema

de TV digital no Brasil

POR KAREN ALBUQUERQUE

INAUGURADO NO MÊS PASSADO EM SÃO PAULO, O SISTEMA

Brasileiro de TV Digital (SBTVD) já tem história.O livro TV Digital – Qualidade e Interatividade, lançadoduas semanas depois do sinal inaugural da nova TV peloIEL e pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquiteturae Agronomia (Confea), traz o relato das primeiras deci-sões do sistema que pretende revolucionar a comunicaçãoe a interatividade no País e discussões sobre seu futuro.

O livro apresenta, em 12 textos, a experiênciade 13 especialistas, que relataram desde as escolhas tecnológicas até as implicações da consolidação daindústria de produção audiovisual. Esforço que envol-ve o governo federal, governos estaduais, emissoras de TV, indústria de eletroeletrônicos, entre outros. “A grande preocupação é trazer ao conhecimento dasociedade informações extremamente importantessobre como se estruturou a TV digital brasileira”, diz osuperintendente do IEL, Carlos Cavalcante.

No livro, há informações sobre os desafios que o novosistema trará para empresas, universidades, centros depesquisas e governo. A TV digital traz ganhos na qualida-de de imagem e som e a possibilidade de interação aotelespectador, ainda não disponível na primeira fase deimplantação do sistema. Como há hoje televisores em93% das residências do País, segundo dados do InstitutoBrasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), espera-se quemuitas pessoas tenham acesso à internet pela TV digitalantes mesmo de ter um computador em casa, por meioda convergência tecnológica entre os dois sistemas.

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ENGENHEIROSBRASILEIROSdesenvolvem

sistemas para aTV digital

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Cavalcante afirma que isso fará com que osbrasileiros tenham maior preparo para o exercícioda cidadania. “Principalmente as pessoas de rendamais baixa, que têm maior dificuldade de acessoaos conteúdos já disponíveis a boa parte da popu-lação”, explica. Responsável pela organização dolivro, o assessor especial da Casa Civil daPresidência da República, Jairo Klepacz, concordaquanto ao alcance social do novo sistema: “Seráuma mudança na casa de cada cidadão”.

A possibilidade de interação e de conexão permi-tirá que o telespectador da TV digital seja submeti-do a vários programas simultaneamente. No artigoSoftware - a essência da TV digital, o presidente daTOTVS (empresa representante do maior grupolatino-americano de desenvolvimento de softwaresaplicativos), Laércio Cosentino, alerta para o fato deque apesar de ser uma das mais promissoras tecno-logias de vídeos interativos, a TV digital depende daconstrução de padrões. “É necessário o desenvolvi-mento de um software para permitir e controlar aintegração dos usuários com as mídias contínuas”,diz Cosentino em seu texto.

O sistema de TV digital adotado no Brasil foidesenvolvido com base no modelo japonês, oServiço Integrado de Transmissão Digital Terrestre(ISDB-T). Isso foi possível graças a um acordoassinado em junho do ano passado entre os gover-nos do Brasil e do Japão. O sinal digital, atualmen-te em operação apenas em São Paulo, será estendi-

do às outras cidades brasileiras progressivamenteaté 2013, quando o atual padrão analógico detransmissão deverá ser desativado. A data-limitefoi estabelecida por portaria do Ministério dasComunicações que prevê prazos para a consigna-ção de canais destinados à transmissão.

No Japão, as transmissões da TV digital começa-ram em 2003 nas maiores cidades do país e, no anopassado, se estenderam a terminais móveis comocelulares e aparelhos em automóveis. Passados qua-tro anos, o país possui mais de 80% dos lares comcondições de receber diretamente a transmissãodigital. “É o mais alto índice de difusão no mundo”,afirma no livro o ministro da Embaixada do Japãono Brasil Shigeru Otake, em seu artigo Um novomarco nas relações bilaterais entre o Brasil e o Japão.

Segundo Otake, além de volumosos recursos apli-cados, o Japão vem investindo ao longo dos anos emestudos e pesquisas para garantir o constante desen-volvimento do mais avançado padrão de TV digital.“Consideramos a digitalização como um importantepasso para a construção de uma sociedade baseada natecnologia da informação”, relata Otake.

Para receber o sinal digital nos televisores conven-cionais, é necessário o uso de um conversor, quecusta em média R$ 700 no mercado. O governofederal pretende fazer com que o preço dos conver-sores seja cortado em pelo menos 50% por meio dalinha de crédito de R$ 1 bilhão do Banco Nacionalde Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES),que será destinada em parte à indústria e ao comér-cio varejista. “Além disso, espero que no futuro arenda no Brasil aumente, para que todo mundopossa comprar uma TV totalmente digital”, com-plementa Klepacz, da Casa Civil.

Para o diretor da Central Globo deEngenharia, Fernando Bittencourt, é necessárioaprimorar o planejamento para a implantação daTV digital brasileira, permitindo que o País dêum grande salto de desenvolvimento. Em seuartigo no livro, com o título TV aberta brasilei-ra: o impacto da digitalização, ele afirma que issopoderá levar à inclusão social e digital da popu-lação brasileira: “O Brasil terá uma enormeoportunidade, não só de construir uma soluçãointeligente para a nossa sociedade, mas tambémpara outros países”.

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LOJAS VENDEMos aparelhos paraa TV digital emSão Paulo, ondeas transmissõesde sinalcomeçaram emdezembro

INDÚSTRIA BRASILEIRA 25WWW.CNI.ORG.BR

O presidente do Confea,Marcos Túlio de Melo, con-corda que o novo padrãotelevisivo abrirá caminhospara a democratização dacomunicação brasileira. “ATV digital abre um campofantástico como instrumentode educação em todos oscantos do País.” Responsávelpelo texto TV Digital - ferra-menta de transformação naera da informação, Melo mos-tra que essa possibilidade seapresenta num momento emque várias regiões brasileirasainda enfrentam dificuldadede acesso a escolas. “Se tivermos complementar-mente uma legislação que a democratize, pode-mos ter um processo de ampliação da educaçãobrasileira. Haverá oportunidades como aconteceunas rádios comunitárias, que são uma realidadehoje em praticamente todo o País. Assim, as pes-soas poderão não só assistir, mas perguntar, inte-ragir, debater”, declara Melo.

Desde 2003 o Ministério das Comunicaçõesbusca a articulação entre universidades, institutosde pesquisas, setor produtivo e profissional paraviabilizar alterações no processo tecnológico da TVdigital. Cerca de 1.400 cientistas e técnicos, distri-buídos em 22 consórcios formados por 90 entida-des de pesquisa e empresas, estudaram durante doisanos os padrões implantados no Japão, Europa eAmérica do Norte. A continuidade nesse processo,que foi fundamental para a opção pelo modelojaponês, abrirá uma perspectiva para o desenvolvi-mento da ciência e tecnologia. “Isso vai levar o setorprodutivo a um nível de articulação para produzirequipamentos e componentes”, explica Melo.

Os desafios para a indústria brasileira (principal-mente na área de eletrônica), para os pesquisadores,produtores culturais e difusoras de TV estão apenascomeçando. Como um novo sistema que vai trans-formar os meios de transmissão de imagens e decomunicação, as áreas de engenharias e as profissõescorrelatas têm nas mãos a oportunidade de garantirum aumento na formação de pessoas.

A expectativa, segundo Cavalcante, é que essedesenvolvimento seja impulsionado pelo fato de queas tecnologias existentes constantemente são supera-das por softwares mais eficientes. Diante da falta demarcos regulatórios para a área tecnológica, o setorindustrial tem como desafio a criação desses novossoftwares, hardwares, além de qualificação de pessoas.

Responsável pela interação entre a indústria e asuniversidades, o IEL atua por meio de programas deestágio e bolsas, contribuindo para a superação dosgargalos apresentados ao setor industrial, além deidentificar oportunidades para as empresas. Com aTV digital, a instituição poderá direcionar parte dostrabalhos às necessidades que surgirão para suprir ademanda por profissionais qualificados.

O modelo de trabalho na área da TV digitalainda não está fechado, mas o IEL já vem estabele-cendo um estreitamento de relações com os atoresque poderão ter um papel fundamental no proces-so, “Temos promovido esse debate com as entida-des que têm condições de mudar essa realidadecomo o Confea, as agências de fomento e as univer-sidades”, afirma Cavalcante. O SENAI, segundoele, também tem um papel importante no proces-so, pela vasta experiência na qualificação do traba-lhador da indústria. Ele alerta ainda para a necessi-dade de mapear as universidades onde surgemnovas demandas por profissões relacionadas à TVdigital, garantindo que as escolas do País se prepa-rem para atualizar conteúdos.

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BALANÇO 2007 E PERSPECTIVAS 2008T E N D Ê N C I A S E C O N Ô M I CA S

A ECONOMIA BRASILEIRA CRESCEU, EM 2007, MAIS

do que se previa no início do ano. A projeção daCNI para o crescimento do PIB em 2007 elevou-separa 5,3%, contra uma estimativa de 4,2% reali-zada no primeiro trimestre. As projeções foram, aolongo do ano, sistematicamente revistas para cima,à medida que se tornaram evidentes os efeitoscombinados da queda dos juros e do aumento dogasto público sobre a demanda agregada.

A economia não cresce a taxas superiores a5% desde 2004. O ritmo de expansão deste anoé o dobro da média observada nos últimos dezanos. O Produto Interno Bruto (PIB) per capita,por sua vez, aumentará em 4%, uma taxa que –se mantida para os anos seguintes – permiteao Brasil dobrar sua renda per capita em menosde duas décadas.

Mais do que isso, a economia brasileira conse-guirá, enfim, expandir-se em 2007 a um ritmo se-melhante à média mundial. Trata-se de uma situaçãopouco usual: em apenas uma ocasião nos últimos

dez anos – em 2004 – o crescimento econômicodo Brasil foi pelo menos tão dinâmico quanto nomundo. No restante dos anos, o PIB brasileirocresceu, em média, 1,5 ponto percentual ao anoabaixo da taxa de crescimento do PIB mundial.

Os ganhos em 2007 são expressivos: a) o PIBcresce com inflação sob controle; b) o crescimentovem acompanhado de melhor distribuição derenda; c) a indústria de transformação lidera ocrescimento da economia e o aumento daprodução abrange a maior parte dos setoresindustriais; d) o mercado de trabalho é fonte deboas notícias: a taxa de formalização da mão-de-obra alcança o nível mais alto da década e a taxa dedesocupação, em contraste, situa-se no nível maisbaixo; e) os juros reais recuam e o volume decrédito aumenta, o que amplia a capacidade deconsumo das famílias e reduz o custo financeirodas empresas; f ) a situação externa melhora, comexpressiva ampliação das reservas internacionais ea virtual eliminação da dívida externa.

PIB do Brasil segue o ritmode expansão do mundoBons resultados em 2007 não garantem a consolidação de um novo patamarde crescimento, o que permanece um desafio para 2008

POR FLÁVIO CASTELO BRANCO E PAULO MÓL

PIB do Brasil e PIB mundial

5

6

7

4

3

1

2

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007

– Variação anual (%)

0

brasil mundo

FON

TE: C

ON

TAS

NAC

ION

AIS/

IBG

E E

WO

RLD

ECO

NO

MIC

OU

TLO

OK

/IM

F

3,4

0,00,3

4,3

1,3

2,7

1,1

5,73,2

3,8 5,3

4,2

2,7

3,8

4,8

2,53,1

4,0

5,3

4,8

5,4 5,2

Taxa de desocupação11

10

9

8

jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

– % da PEA

7

2007

2006

FONTE: PME (IBGE)

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fim de ano) e o aumento do salário mínimo(proposto para abril de 2008) contribuem para ocrescimento da renda das famílias. Ressalte-se que2008 é um ano eleitoral, quando historicamente osgastos do governo tendem a aumentar. A par disso,a taxa de juros que vigorará no próximo ano será amais baixa de toda a década.

GASTOS COM INVESTIMENTO2008 é um ano promissor para o investimento,tanto privado como público. A menor ociosidadedo parque fabril no setor privado, associada àdemanda crescente, forma um cenário propício aoinvestimento. O empresário inicia 2008 otimistacom relação à produção e propenso a investir, deacordo com a Sondagem Industrial da CNI. Dolado do investimento público, ressalte-se que arealização das obras previstas no Programa deAceleração do Crescimento (PAC) pode contribuirpara a elevação da formação bruta de capital fixo.

CENÁRIO EXTERNO AINDA FAVORÁVELEm 2007, o episódio da insolvência no mercadohipotecário dos Estados Unidos abriu a discussãosobre a possibilidade de o desaquecimento daeconomia norte-americana ser forte e iminente.Os sinais atuais, no entanto, vão para a direçãooposta: de um desaquecimento menos intenso,com impacto reduzido sobre a economia mundial.Os países emergentes, em especial China, Índia eRússia, continuam a se expandir a um ritmo quese aproxima de 10% ao ano, pressionando ospreços das commodities metálicas e agrícolas e au-mentando a renda no Brasil.

Assegurar o forte ritmo de crescimento éo desafio que se coloca para 2008. Não obstante aprofusão de bons indicadores em 2007, há fatoresque ameaçam a continuidade do crescimento. Emprimeiro lugar, a taxa de câmbio (real por dólar)valorizou-se bem mais que a média das demaismoedas, com impactos sobre a competitividade deimportantes segmentos da indústria.

Em segundo lugar, o aumento dos gastos públi-cos segue maior que o crescimento da economia,resulta em pressão para o aumento da carga tributá-ria. A tributação excessiva reflete a ausência de avan-ços no controle e na qualidade do gasto público.

Em terceiro lugar, o crescimento mais robustoda economia requer investimento em infra-estrutura. Atualmente, a qualidade e confiabilida-de dos serviços de infra-estrutura são críticos paraa competitividade dos produtos brasileiros.

Em quarto lugar, melhorar o ambiente de ne-gócios no Brasil e torná-lo propício para investido-res é uma necessidade premente. Nesse contexto,avançar a agenda de reformas que permitam a re-dução da burocracia e o aprimoramento dosmarcos regulatórios são imprescindíveis para asustentação do crescimento a longo prazo.

O PIB deve expandir-se 5% em 2008. Obom desempenho da atividade econômica nopróximo ano baseia-se nos seguintes fatos:

DEMANDA INTERNA FORTEOs fatores que impulsionaram o crescimento do con-sumo do Brasil em 2007 devem persistir em 2008.O emprego deve manter-se em alta, o reajuste dosbenefícios do Bolsa-Família (já concedido neste

INDÚSTRIA BRASILEIRA 27WWW.CNI.ORG.BR

Utilização da Capacidade Instalada e Formação Bruta de Capital Fixo

16

12

8

4

I II III IV2004

UCI (%) FBCF (%)

I II III IV2005

I II III IV2006

I II III2007

0

83

82

81

80

79

UCI FBKF

Crédito livre e direcionado40

30

20

10

2005 2006 2007

FONTE: BANCO CENTRAL DO BRASIL

– % do PIB

0

9,4

18,7

28,1

9,9

21,0

30,8

10,1

23,9

34,0

Recursos direcionados recursos livres total

FONTE: INDICADORES INDUSTRIAIS/CNI E CONTAS NACIONAIS/IBGE

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DEPOIS DE DOIS ANOS AMARGANDO CRESCIMENTO EM TORNO DE 3%, A INDÚSTRIA BRASILEIRA VOLTOU A SE RECUPERAR

em 2007, com perspectiva de crescimento de 6%, maior taxa desde os 8,3% vistos em 2004.No decorrer deste ano, quatro características claras puderam ser observadas no desenvolvimento daindústria. Em primeiro lugar, e diferentemente de 2004, o crescimento industrial agora é maispautado pela demanda doméstica.

28 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

As perspectivas daindústria para este ano

JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

Quem ainda se lembra de 2004 não se esquecede que o câmbio estava depreciado e os grandesinvestimentos anunciados tinham o foco no mer-cado internacional. Ou seja, o aumento de pro-dução era alavancado pelas perspectivas positivasde exportação para os anos seguintes.

De lá para cá, o cenário mudou e o câmbio realse apreciou 45% desde o teto alcançado em junhode 2004 até outubro deste ano. Por mais competi-tiva que a indústria tenha se tornado desde adécada de 1990, reduzir à metade o câmbio realem três anos forçou a mudança de foco dessasempresas. Quem mais sentiu foram justamenteaqueles segmentos que são menos competitivos nogeral e mais intensivos em mão-de-obra. Mas terásido esse câmbio em desequilíbrio suficiente paraasfixiar essa indústria? Não necessariamente. Parteda indústria certamente manteve o rumo exporta-dor e grande parte das empresas adotou táticas de-fensivas, mas outra grande parte viu no mercadointerno as oportunidades perdidas no mercadoexterno (veja gráfico 1).

Em 2007, 75% dos 76 subsetores industriaispesquisados pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) cresceram em relação a 2006(veja gráfico 2). No ano passado, vimos setores antescom queda de produção saírem do vermelho, comoa indústria têxtil e de vestuário, que cresceram 3,4%e 4,6%, respectivamente, até outubro em relação aomesmo período do ano passado. Calçados e madeiraainda amargam perdas, mas são bem menores doque o que ocorreu em anos recentes.

THA

ÍS F

ALC

ÃO

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 29WWW.CNI.ORG.BR

ANÁLISE

A demanda interna aquecida ajudou tambémdiversos outros setores. O crescimento forte darenda e do crédito no ano passado alavancou aindústria de alimentos e bebidas e a de mobiliá-rio, cuja expansão no ano deve ficar próxima a10%. A indústria automobilística também sebeneficiou, inclusive pelo barateamento doetanol, e cresceu 14,3% nesse mesmo período.Vale destacar também a indústria do álcool, quecontinuou sendo destaque até outubro, comexpansão de 14,3%.

E, puxando a expansão entre os 27 setoresanalisados pelo IBGE, está o mais importantesustentáculo da expansão para os próximosanos: a indústria de máquinas e equipamentos,

com crescimento de 17,6% noano. A recuperação mais fortedesse segmento foi a notícia maisimportante vinda da indústriaem 2007 e não foi fruto apenasde setores específicos, comocommodities metálicas e agrícolas.Diversos setores têm feito anún-cios de investimento nos últimosmeses, incentivados pelo prog-nóstico positivo da demanda nomédio prazo e essa perspectiva éessencial para o segmento de má-quinas e equipamentos.

O resultado desse aumento deprodução também pode ser vistono emprego industrial, cujo saldolíquido de contratados mais quedobrou nos últimos dois anos(veja gráfico 3), comportamentoesse percebido na maioria dossegmentos industriais.

Mas o ano passado tambémfoi o ano da consolidação deoutra tendência, a da interna-cionalização da indústria nacio-nal, e esta é a segunda carac-terística da indústria este ano.Um marco inicial havia sido acompra da Inco pela Vale noano passado e que significou

uma saída do País de cerca de US$ 24 bilhões.Em 2007, diversas outras empresas fizeram essecaminho, como resultado natural da necessi-dade de expansão para aquelas empresas que nãopodem depender apenas do mercado interno.O exemplo maior desse movimento é a Gerdau,que vem adquirindo empresas na AméricaLatina e recentemente se transformou na maiorprodutora de aços especiais nos Estados Unidos.É verdade que o câmbio apreciado ajudou aestruturar essa trajetória, até mesmo por questãode sobrevivência em alguns casos, mas é precisotambém levar em consideração que o aumentoda competitividade em escala global exige essasempresas atuando mais próximas de seus

Produção industrial

Máquina e Equipamentos

Outros Equipamentos de Transportes

Maqs. de Escrit. e Equips. de Inform.

Veículos Automotores

Máquinas, Aparelhos e Materiais

mobiliário

Metalúrgica Básica

Outros Produtos Químicos

Indústria Geral

Produtos de Metal exceto Máq. e Equips.

Perfumaria, Sabões e Prod. de Limpeza

Indústria Extrativa

Bebidas

Minerais Não-Metálicos

Borracha e Plástico

Vestuário

Têxtil

Alimentos

Refino de Petróleo e álcool

Equips. Médico-hosp., Ópticos e Outros

Farmacêutica

Celulose e Papel

Edição e Impressão

Diversos

Calçados

Madeira

Material Elétrico

Fumo

FONTE: IBGE. ELABORAÇÃO: MB ASSOCIADOS

Crescimento acumulado no ano de 2007, até outubro, em %

-10,0 -5,0 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0

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30 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

mercados consumidores. Não à toa, muitas em-presas nacionais têm tentado ganhar espaço nocompetitivo mercado chinês nos últimos anos.

Ao mesmo tempo em que essas empresasnacionais miram seu posicionamento lá fora,outras estrangeiras investem aqui. O investimentodireto externo no Brasil deve ultrapassar o recordedo ano 2000 e fechar próximo a US$ 36 bilhões,com expressivo crescimento de setores commodi-tizados, como metalurgia, extração de minério ede petróleo, mas também de serviços, comércio econstrução (veja gráfico 4).

O fluxo de saída e de entrada de capitais naindústria significa, em última instância, vitalida-de, dinamismo e necessidade de se tornar global.São características de um setor que consegue se

diversificar e buscar novos nichos quando umcaminho de expansão é abortado, como ocorreucom o câmbio apreciado.

Uma terceira característica é que a forte entra-da de capitais por meio do lançamento de ações(Initial Public Offers em inglês, IPOs) traz umanecessidade de formalização de toda a cadeiaindustrial. Quem deseja fazer seu IPO passa porum longo processo de adaptação em que umadas exigências é que sua cadeia de fornecedoresseja formalizada. Isso forçou essas empresas aexigir essa adequação de seus provedores. Comomais de 95% das empresas brasileiras é formadapor micro e pequenos negócios e são justamenteessas as mais propensas à informalidade, ficaclaro o efeito que o lançamento de ações pode

JOSÉ ROBERTO MENDONÇA DE BARROS

Índice de difusão da indústria

oct/03 jan/04 apr/04 jul/04 oct/04 jan/05 apr/05 jul/05 oct/05 jan/06 apr/06 jul/06 oct/06 jan/07 jul/07 oct/07

FONTE: MB ASSOCIADOS (CALCULADO COM OS 76 SUBSETORES DA PRODUÇÃO INDUSTRIAL MENSAL FÍSICA DO IBGE E COM O CRESCIMENTO DO MÊS CONTRA O MESMO MÊS DO ANO ANTERIOR)

Percentagem de setores que cresceu em cada mês

30%

50%

40%

70%

60%

90%

80%

100%

apr/07

Emprego industrial formal

oct/03 jul/06 oct/06 jan/07 jul/07 oct/07

FONTE: CAGED. ELABORAÇÃO: MB ASSOCIADOS

em 12 meses, em milhares de vagas

-100

200

0

100

400

300

600

500

700

apr/07

ComércioInd. transformação

Administração públicaServiçosConstrução civil

Agropecuária

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 31WWW.CNI.ORG.BR

ANÁLISE

ter nessa parcela da economia. Essa formalizaçãoimplica consolidação dos laços entre fornecedore comprador e maior segurança para essasempresas, que foram as que mais perderam nosúltimos anos no mercado exportador. A forma-lização já avançara pelo aumento do número deempresas exportadoras, pelo Simples, etc. Mas aabertura de capital de grandes empresas reforçaessa tendência.

Por fim, 2007 também mostrou que nãohouve um processo de desindustrialização, prin-cipalmente porque os setores que estavam emdesvantagem voltaram a crescer e a contratar.A questão do câmbio como fator preponderantedessa perda de dinamismo não é consideradapelas empresas como a mais importante.Pesquisas qualitativas da CNI, FIESP e FundaçãoGetúlio Vargas (FGV) mostram que a maiorpreocupação do empresariado nacional é com acarga tributária, e num distante segundo lugar, e,dependendo do instituto, até em terceiro ouquarto lugares, está o câmbio apreciado.

Isso nos abre espaço para discutir 2008.Apesar de a questão fiscal ser um entraveimportante, não é novidade, já está incorporadana dinâmica empresarial e seus efeitos deletériosse percebem no longo prazo. No curto prazo, odinamismo da indústria pode ser asfixiado peladiminuição do poder de compra doméstico.

Isso deve ocorrer levemente em 2008. A perspec-tiva de um IPCA fechando em 4,2% em 2007 eapontando pressão para 2008 significa, no anoque vem, menor poder de compra para a popula-ção mais pobre, cujo impacto da inflação, prin-cipalmente de alimentos, é mais sentido. Alémdisso, a continuidade da Selic em 11,25% por umbom período de tempo tira alguns pontospercentuais do crescimento industrial em 2008.

No cômputo geral, quem deve ir bem equem deve ir mal? A construção civil devecontinuar se destacando, com perspectiva deexpansão de 5,5% em 2008. Os aumentos definanciamento imobiliário, bem como a melhorperspectiva para a classe média, podem garantirmaior sustentabilidade para esse setor. Por outrolado, o setor de veículos deve ver um crescimen-to bem menos acelerado, com a expansão devendas crescendo abaixo de 20% e as exporta-ções perdendo mais espaço ainda. Mesmo assim,a produção de automóveis não deve ser muitodiferente de 5%.

Com isso, 2008 promete ser não um anobrilhante como foi 2004 e, em parte, 2007.Mas existem as condições para um crescimentomoderado de 4,5%, como esperamos. E essecrescimento moderado e sustentável é maisimportante do que um boom imediato quenão se sustenta.

José Roberto Mendonça de Barros, economista, com a equipe da MB Associados Consultoria Econômica

Investimento estrangeiro direto no Brasil

Metalúrgica Serviçosfinanceiros e

atividadesauxiliares

extração deminerais

Atividadesimobiliárias

Comércio Atividades deconsultoria em

gestão deempresas

Coque,derivados de

petróleo ebiocombustíveis

Produtosquímicos

Construção Produtosalimentícios

Eletricidade,gás e outras

utilidades

Veículosautomotores,

reboques ecarrocerias

FONTE: BACEN. ELABORAÇÃO: MB ASSOCIADOS

(em US$ bilhões)

0,0

1,0

0,5

1,5

2,5

3,5

4,5

2,0

3,0

4,0

5,0

Jan-Out. 06

Jan-Out. 07

Jan-Out. 07 Jan-Out. 06Total US$ 27,70 bi US$ 15,74 bi

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32 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

“QUANDO NASCI, UM ANJO TORTO, DESSES QUE

vivem na sombra, disse: Vai, Carlos, ser gauche navida.” Metaforicamente: seja diferente; não se con-forme com o jeito do mundo; fique indignado dian-te das injustiças, não aceite a dominação de umanação sobre outra, reaja à divisão dos povos entrearistocracia e plebe, senhores e escravos, incluídos eexcluídos; escolha sempre o lado dos pobres; nãoaceite a opressão, o autoritarismo; encontre umsonho e lute por ele. Seja de esquerda.

O anjo faz essa recomendação a homens emulheres, especialmente jovens, em algum mo-mento de suas vidas. Fala pela voz dos pais ou deamigos, por meio de livros, de um filme ou de umapeça de teatro. Às vezes, fala diretamente pela reali-dade chocante das injustiças, das maldades, dasrepressões. Há muitas maneiras pelas quais o “anjotorto” incentiva uma pessoa a ser gauche na vida.

Nem todos ouvem esse sopro. A maior parteprefere se acomodar, assistir calada ao mundo pas-sar. Outros participam, mas com uma atitude con-servadora, para evitar as mudanças na estruturasocial. Poucos recebem o mágico sopro de adotaruma causa: se engajar na luta em direção a umprojeto utópico, fazer uma revolução.

O futuro não indica um mundo utópico. Aocontrário, a perspectiva é de catástrofe: a crise ecoló-gica, a violência urbana, a corrupção generalizada, amigração em massa, a vulnerabilidade das nações, odesemprego estrutural, a desigualdade crescente setransformando em apartação. A realidade continuaa mostrar a necessidade de alternativas para o rumoda história e de mudanças nas prioridades.

A globalização abriu as fronteiras nacionais e uniuos ricos do mundo; transformou a desigualdade socialem exclusão; substituiu os operários por operadores;cooptou os assalariados qualificados; anulou ou cor-

CRISTOVAM BUARQUE

NOSSA CAUSA COMUM:O EDUCACIONISMOÉ necessário unir pessoas de diferentes partidos políticos em torno da construçãode um sistema educacional de qualidade e da defesa de condições sociais paramanter as crianças na escola

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 33WWW.CNI.ORG.BR

rompeu os tradicionais partidos de esquerda; acomo-dou os sindicatos de trabalhadores; consolidou a dis-tância social entre os que dispõem de qualificação e osque não têm educação; mostrou a impossibilidade doconsumo para todos e substituiu a utopia da igualda-de de renda pela igualdade de oportunidade entreclasses e entre gerações; colocou o problema da ética,do emprego e da estabilidade monetária como obje-tivos progressistas; e adotou o capital-conhecimentocomo o vetor do progresso econômico. O sistemafinanceiro seqüestrou o mundo inteiro transforman-do-o em um cassino global, onde poucos ganhammuito e quase todos perdem.

Nunca foram tão necessários sonhos utópicos egestos revolucionários. Mas o século 21 está exigindouma nova definição para o sonho. O novo objetivoutópico consiste em assegurar a cada ser humano, den-tro da democracia com liberdade individual, igualda-de no acesso aos instrumentos para o pleno desenvol-vimento de seu talento. E, além disso, assegurar queesse ser humano disponha do patrimônio natural aque tem direito, como parte da humanidade.

Isso exige: a) uma educação de qualidade para to-dos, que assegure a mesma chance entre classes e trans-forme o Brasil em um centro produtor do capitalconhecimento; b) um modelo de desenvolvimentosustentável, que assegure a mesma chance entre gera-ções; c) um sistema social e econômico eficiente, quegaranta ao mesmo tempo dinamismo econômico ecultural, estabilidade social e política, como base paraa revolução na educação, e o equilíbrio ecológico.

A educação é a única causa capaz de fazer a revo-lução; único espaço possível para executar um proje-to de transformação social. Sem uma revolução naeducação, o Brasil caminha para o aumento da vio-lência. Mas, com a violência de hoje, fica difícil ir àescola. Sem educação, a população tem dificuldadeem conseguir moradia. Porém, é difícil ter escola semendereço e moradia. A educação traz saúde, mas afalta de saúde, água e esgoto tira as crianças da esco-la. O crescimento econômico continuado virá com arevolução científica e tecnológica. No entanto, semuma economia ativa, não haverá recursos para levaradiante toda a dimensão da revolução na educação.Assim, a revolução não pode apenas prometer e espe-rar. Tem de propor e contar com soluções aos proble-

mas imediatos da sociedade brasileira.Somente uma ideologia Educacionista pode

captar o imaginário de quem é capaz de olhar olongo prazo. Mas o “anjo torto” não chega a todos,é restrito. Além de adeptos, é preciso conquistar oapoio de eleitores. Isso exige um programa consis-tente, que traga propostas para enfrentar os proble-mas imediatos. Tanto porque eles entravam asmedidas educacionais, como também porque apopulação não quer nem pode esperar apenas pelasdistantes soluções revolucionárias. Assim, o progra-ma Educacionista deve focalizar o crescimento eco-nômico, a moradia, a saúde, o emprego, a infra-estrutura, a violência e a corrupção.

O emprego, especialmente, exige uma preocu-pação especial do Educacionista. Não basta dina-mizar a economia, não bastam as metas de cresci-mento e inflação. É preciso ter metas de emprego.Isso é uma mudança na forma com a qual odesenvolvimento vem sendo visto ao longo dosúltimos 50 anos. Buscava-se pleno emprego, pro-teção social e planejamento. Na contra-reformaneoliberal, abandonaram-se esses objetivos, con-centrando-se no equilíbrio monetário.

É hora para um novo tempo, em que a revo-lução educacional seria o meio, sem abandonar oequilíbrio monetário, de dar importância ao em-prego, à proteção social e ao equilíbrio ecológico.A proposta da Revolução Educacionista tem devir acompanhada de um programa de governo.

A política brasileira está dividida em um grandenúmero de siglas, nenhuma com uma causa; os mili-tantes converteram-se em filiados. A causa Educacio-nista tem militantes em todas as siglas, como foi opartido abolicionista no século 19. Em nenhum mo-mento foi preciso criar uma sigla partidária para uni-ficar os abolicionistas. Tampouco há necessidade deuma sigla para os que defendem a utopia Educacio-nista. Falta apenas um gesto aglutinador representa-do pela proposta comum: a Escola Igual.

Esta é nossa proposta: um partido de causa, nãode sigla, unido em torno do Educacionismo, lutan-do por uma sociedade que assegure a mesma chan-ce entre classes e entre gerações. Em vez de “prole-tários de todo o mundo uni-vos”, o grito deve ser:“Educacionistas de todo o Brasil, uni-vos”!

AR

TIG

O

Cristovam Buarque, senador (PDT-DF), presidente da Comissão de Educação do Senado

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34 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

MULHERESgostam da

orientação dosvendedores na

hora da compra

Homens compram,mulheres vão às comprasEles são mais objetivos, superficiais e impacientes do que elas, segundopesquisa que demonstra as diferenças de hábitos de consumo entre os sexos

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INDÚSTRIA BRASILEIRA 35WWW.CNI.ORG.BR

NEGÓCIOS

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ELAS FICAM FELIZES DANDO VOLTAS ENTRE COLEÇÕES

de roupas e acessórios. De repente, pulam para aseção de sapatos. Saem dali para outro canto, masantes dão uma paradinha para borrifar uma amos-tra de perfume. Já para os homens, comprar é umamissão. Eles entram em uma loja atrás de umitem, e vão embora o mais rapidamente possível,segundo a pesquisa Homens compram, mulheresvão às compras, que acaba de ser publicada pelaThe Wharton School, da Universidade da

Pensilvânia. A pesquisa foi feita com 1.250 consu-midores, escolhidos aleatoriamente, que represen-tam uma amostra de todos os consumidoresnorte-americanos. Foram entrevistados por telefo-ne, no período de 20 de outubro a 4 de novembrodo ano passado.

A análise dos resultados ficou a cargo de pesqui-sadores do Centro de Estudos de Varejo Jay H.Baker, da Wharton, e o Verde Group, uma consul-toria canadense. Eles constataram, entre outras coi-sas, que as mulheres reagem de forma mais intensado que os homens ao contato pessoal com os ven-dedores. Os homens concentram-se nos aspectosutilitários da empreitada: se há onde estacionar, se aloja dispõe do produto no qual estão interessados ese as filas do caixa são muito grandes.

“As mulheres investem na experiência de com-pra”, observa o diretor de marketing da rede dedrogarias CVS Robert Price. Uma consumidorana faixa entre 18 e 35 anos ouvida na pesquisa afir-mou o seguinte: “Adoro fazer compras, mesmoquando tenho pouco tempo. Simplesmenteadoro.” Ao comparar essa declaração com a de umcliente do sexo masculino da mesma faixa etária, épossível ter uma idéia da diferença de hábitos deconsumo entre os sexos: “Quando vou a uma loja,compro logo o que eu preciso, porque tenho ummonte de coisas para fazer.”

Para Price, a preocupação da mulher coma gestão do lar persiste apesar das atribuições pro-fissionais. Ele acha que essa responsabilidade con-tribui para que a consumidora tenha uma percep-ção mais aprofundada da experiência de compra ecultive expectativas mais ambiciosas. Além disso,afirma Price, depois de várias gerações terem dele-gado à mulher a responsabilidade da compra, ointeresse do homem pelo assunto atrofiou-se.

De acordo com o professor de marketing daWharton Stephen Hoch, os resultados da pesqui-sa podem ajudar empresas de varejo na construçãoe manutenção da lealdade dos consumidores deambos os sexos. O estudo constatou que as mulhe-res costumam ter mais problemas no ato da com-pra do que os homens: 53% em comparação com48%. Para a mulher, a falta de quem a ajude quan-do ela precisa de orientação é o principal proble-ma (29%). Sob o ponto de vista da empresa, essa

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FILAS LONGASafugentam osconsumidoreshomens, que

sempre têm maispressa de terminar

as compras

36 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

também é a razão mais provável de perda de clien-tela feminina, apontada por 6% de todas as con-sumidoras. Para os homens, a principal dificulda-de (também 29%) é a falta de vaga para estacionar.O fator que mais colabora para a perda do consu-midor de sexo masculino é a frustração por nãoencontrar o produto que ele tinha intenção decomprar, apontada por 5% dos homens comomotivo para não voltar mais a uma loja.

Homens e mulheres apresentam reações diver-sas em relação aos vendedores. Para o homem, aajuda para encontrar o produto desejado é deextrema importância; em segundo lugar vem oempenho do vendedor em apressar o máximo pos-sível sua passagem pelo caixa. Para a mulher, a leal-dade à loja depende do grau de familiaridade dovendedor com os produtos disponíveis, além desua habilidade em indicar produtos que sejammais adequados a ela. Também segundo a pesqui-sa, a mulher gosta do vendedor que faz com queela se sinta valorizada.

A presidente do Verde Group, Paula Courtney,diz que a atitude do consumidor em relação aosvendedores reflete diferenças sutis, porém impor-tantes, entre homens e mulheres. “As mulheresficam mais facilmente irritadas com o descaso.Para o homem, embora a dedicação seja impor-

tante, não conta tanto quanto achar o produto,pagar e sair rapidamente.”

A comunicação é peça fundamental no esforçode atingir as mulheres, acrescenta Price, da CVS.Contratar profissionais do sexo feminino para car-gos diversos dentro da loja coloca o varejista emcontato mais próximo com aquilo que as consu-midoras desejam. Na CVS, prossegue Price, asmulheres são maioria nas equipes de vendas eestão presentes também em número significativono setor de marketing. Nenhuma idéia na empre-sa vai muito longe se não for possível às profissio-nais da área medir o impacto sobre suas própriasvidas, acrescenta o diretor.

As mulheres desembolsam US$ 4 trilhões porano nos Estados Unidos, 83% dos gastos de consu-mo final no país, o que corresponde a dois terços doProduto Interno Bruto (PIB) norte-americano, deacordo com o WomenCertified, entidade de defesada consumidora e centro de treinamento do varejocom sede em Hollywood, Flórida, que também par-ticipou da pesquisa da Wharton.

Embora muitas descobertas da pesquisa nãoconstituam motivo de surpresa para os varejistas,são informações que podem ajudar as empresas atrabalhar de forma sistematizada alguns dos obstá-culos às vendas. É o que afirma uma das fundado-

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DESDE OSTEMPOS dascavernas, homense mulheres têmcomportamentosdistintos

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ras da WomenCertified, Delia Passi. Ela diz quehá muito tempo o varejo percebeu as diferençasentre o consumidor de sexo masculino e feminino.“É uma coisa que nos leva de volta à época doscoletores e caçadores. As mulheres são coletoras; oshomens, caçadores. Quando as mulheres entramem uma loja qualquer, fazem uma varredura doambiente. Os homens procuram corredores espe-cíficos.” Pesquisas médicas, afirma Passi, mostramque as mulheres têm visão periférica mais aguçadado que os homens, uma vantagem como coletoras.

Passi afirma, porém, que várias das observaçõesreveladas pela pesquisa são generalidades, e que mui-tos homens e mulheres não se encaixam nos padrõesmais abrangentes. Empresárias são muito pressiona-das pelo tempo e costumam se comportar como opadrão de homem entrevistado pela pesquisa.

IMPORTÂNCIA DO VENDEDORA pesquisa reforça, também, pontos que já eramconhecidos sobre outros assuntos. Para Hoch, daWharton, um dos pontos principais é a demons-tração da importância do vendedor, algo apontadotambém por outras pesquisas do Centro deEstudos de Varejo Jay H. Baker.

“A questão do estacionamento é difícil de resol-ver, e não há nada que possamos fazer a respeito dasuperlotação das lojas, mas é possível trabalhar osvendedores”, observa. “Acho interessante o fato de asmulheres se preocuparem mais com a questão pes-soal, enquanto para os homens é quase como se esti-vessem lidando com um caixa eletrônico. Na verda-de, é isso que gostariam de fazer, porque não têminteresse em lidar com pessoas.”

Courtney, do Verde Group, acha que incor-porar as idéias da pesquisa da Wharton acrescen-ta responsabilidade aos vendedores, que já têmde dar conta de muitas tarefas distintas dentro daloja. “O vendedor, no fim das contas, tem de seralguém polivalente”, diz ela. “Precisa ser umapessoa que seduza o cliente, ágil, e que eduque aclientela. Tem de ser autêntico. Mas o que a pes-quisa nos revela é que esses botões têm de serligados e desligados – ou devem ficar mais ou

menos ligados – dependendo do cliente serhomem ou mulher.”

Para Courtney, do Verde Group, o varejo temde ousar, proporcionar um serviço mais sofistica-do e segmentado, não se limitando a levar emconta apenas o sexo do cliente, mas também aidade, a etnia e as características regionais. “Nãoexiste clientela homogênea.” E o sexo do cliente,observa ela, é um dos aspectos estratégicos maisfáceis de trabalhar.

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Republicado com autorização de UniversiaKnowledge@Wharton (http://wharton.universia.net),o jornal on-line sobre pesquisa e análise de negócios de The Wharton School da Universidade daPensilvânia. A Wharton mantém parceria com o IEL para a formação de executivos

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38 INDÚSTRIA BRASILEIRA JANEIRO 2008

Telma Lúcia de Azevedo Gurgel, presidente da Fieap

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O SETOR INDUSTRIAL DO AMAPÁ É UM DOS QUE

têm registrado maior crescimento no Brasil e con-tribuem para a geração de empregos. A economiado estado enfrentou um período de grandes difi-culdades nos últimos anos, quando várias empre-sas foram fechadas devido à falta de incentivos dosgovernos. Na década de 1990, assistimos à extin-ção de mineradoras, indústrias pesqueiras e madei-reiras, entre muitas outras, que tinham grandeimportância na economia local. Atualmente, ocor-re uma reviravolta desse cenário negativo.

O ressurgimento da indústria significa recolo-car o setor no centro do projeto de desenvolvi-mento do Amapá. A atual gestão da Fieap tem umpapel fundamental nesse processo, ao atuar decisi-vamente para fortalecer a atividade industrial.

O Distrito Industrial de Macapá e Santanareúne empresas importantes para o estado e vempassando por um processo de constante amplia-ção. Esse crescimento se deve, sobretudo, aoretorno de empresas que haviam praticamenteparado sua produção e de outras que efetivamen-te fecharam suas portas por determinados perío-dos. É o caso de empresas dos setores de madei-ra, mineração e pesca.

Localizado a 14 quilômetros da capital, nacidade vizinha de Santana, o Distrito Industrialfoi criado em 1982 e abriga atualmente 58 empre-sas, sendo 41 delas em funcionamento e 17empresas em fase de instalação – o que confirmaa disposição dos empresários em investir noAmapá. Esse parque industrial é responsável por1.444 empregos diretos.

A revitalização da indústria amapaense fazparte de uma agenda que vem sendo conduzidapela Fieap. A atual gestão estabeleceu o desafio deresgatar a credibilidade da instituição perante ossindicatos filiados, as entidades empresariais, osórgãos públicos e a indústria brasileira.

A Fieap vem expandindo suas parcerias cominstituições governamentais e realizando convê-nios para a captação de recursos necessários aodesenvolvimento de projetos. O objetivo é forne-cer às empresas serviços fundamentais, como capa-citação empresarial, programa de estágio supervi-sionado, bolsa de iniciação tecnológica, iniciaçãotecnológica e pesquisas, entre outros. São iniciati-vas que, sem dúvida, aumentam a produtividadeindustrial e geram emprego e renda.

Nessa etapa de retomada da indústria ama-paense, a Fieap busca incentivos para micro epequenas empresas. São iniciativas importantespara promover e consolidar o crescimento dosegmento produtivo do estado. O intenso traba-lho da instituição vem sendo desenvolvido pormeio das entidades do Sistema Indústria –SENAI, SESI e IEL, com foco na empresaindustrial e no atendimento ao trabalhador daindústria e seus dependentes.

A contribuição que estamos dando para ofortalecimento da indústria do Amapá é decisi-va para o futuro de nosso estado. Acreditamosem nossa gente e em nosso potencial econômi-co. É tempo de comemorar os avanços e redo-brar esforços na busca do desenvolvimentodo setor industrial.

RenascimentoempresarialParcerias incrementam o desenvolvimento do Amapá,permitindo a reativação de indústrias que haviamfechado as portas e a instalação de novos negócios

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Sérgio Marcolino Longen, presidente da Fiems

SÉRGIO MARCOLINO LONGEN

MATO GROSSO DO SUL VIVE UM DOS MELHORES

momentos da sua história. É o maior salto de qua-lidade verificado nos últimos tempos, com a che-gada de novas indústrias, aumento da oferta deemprego e geração de riquezas para todos.

A Fiems tem um papel fundamental nesse pro-cesso, porque é o fórum que discute e encaminhaos novos rumos para inserir definitivamente aindústria na nossa matriz econômica, fortalecendoo setor e apoiando os empresários. Acima de tudo,nosso papel é contribuir para a construção de umtempo melhor para todos.

Por isso mesmo, criamos a marca Indústria Ativa,um movimento histórico que expressa o esforço con-junto do Sistema Fiems, direcionado ao atendimentodas demandas e à defesa dos interesses da indústria.

Temos amplas e diversificadas oportunidadesde investimento e crescimento. Combinando qua-lidade de vida com uma adequada e modernainfra-estrutura operacional e logística, além demanter uma diferenciada política tributária, este éum território que avança para se consolidar comoum dos mais importantes e poderosos pólos dedesenvolvimento do País.

É um estado que se apresenta com plenaspotencialidades e busca, no trabalho e na geraçãode riquezas, o impulso definitivo para ampliarcada vez mais sua vocação para o progresso e aprosperidade. Sua posição geográfica é estratégica.Faz fronteiras com Bolívia e Paraguai, consolidan-do-se como território referencial para o Mercosul.Tem divisas com estados do Sudeste e do Centro-Oeste e está perto dos estados do Norte.

Grandes empresas deslocam-se para cá, for-mando centros industriais de imensas potenciali-dades, que já empregam milhares de pessoas.

Também surgem pólos no setor sucroalcoolei-ro, de cerâmica, do couro, alimentos, mineração,impulsionando um processo de franco desenvolvi-mento que, a médio e longo prazos, vão transfor-mar nosso estado em um dos mais importantescentros industriais brasileiros.

É importante ressaltar que a nossa competitivi-dade é hoje uma realidade sustentada na políticaestratégica de incentivos fiscais, na oferta e qualifi-cação da mão-de-obra, na infra-estrutura, naabundância de energia (com previsão de se tornarcentro exportador até 2010), do gás natural e dosdiferenciais oferecidos pela hidrovia (que integrapraticamente todos os municípios, facilitando oescoamento da produção) e a malha ferroviária(que dá acesso aos principais pólos do país, aten-dendo o setor minero-siderúrgico).

Além disso, a criação do Terminal Intermodalde Cargas, com porto seco, em Campo Grande,vai complementar toda a infra-estrutura logísticapara o desenvolvimento.

O turismo também é outro segmento em fran-ca expansão, sustentado em atrativos de múltiplaspotencialidades, como o Pantanal, a Serra daBodoquena e Bonito, entre outros.

Mais do que nunca, a certeza de produzirriquezas e divisas – com tecnologia, eficiência equalidade – é base para um tempo de desenvolvi-mento com prosperidade para o Mato Grosso doSul e nossa gente.

Estado deprosperidadeCom a instalação de pólos de vários setores, o MatoGrosso do Sul está se transformando em um dosprincipais centros industriais do País

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Uma nova discussão nuclearTer ou não usinas termelétricas movidas a urânio deixou de ser umdilema no Brasil. O debate é sobre quantas devem ser construídas,onde e quando

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POR PAULO SILVA PINTO, DO RIO DE JANEIRO

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ENERGIA

ANTES DA DECISÃO DA RETOMADA DAS OBRAS DA

usina Angra 2, em 1996, poucos apostavamnum futuro nuclear para o Brasil. Em todo omundo, a empolgação não era grande em tornodessa fonte de energia. Afinal, a memória do aci-dente de Chernobyl (ocorrido em 1986 naUcrânia) ainda era presente, o petróleo era bara-to e os riscos do aquecimento global convenciampoucas pessoas.

A inversão de sinal dos três fatores, porém, temsido responsável pelo renascimento da energianuclear, que entrou na ordem do dia para o plane-jamento de longo prazo do País. Em junho, oConselho Nacional de Política Energética autori-zou a construção de Angra 3, um projeto paradodesde os anos 1980. Em agosto, o Ministério dasMinas e Energia anunciou o Plano Nacional deEnergia 2030, que prevê a construção de quatro aoito novas usinas de energia nuclear no Brasil.

Se a proposta nuclear mais alentada for posta emprática, a capacidade de geração de energia nucleardo País passará de 2 GW para 11,3 GW. Em termosrelativos, seria um salto de 2% para 5% do total degeração de energia. Mesmo essa opção, porém, pare-ce pouco ambiciosa na avaliação do diretor-geral daAgência Internacional de Energia Atômica (AIEA),o egípcio Mohamed El Baradei. Em visita ao Brasilno início de dezembro, ele afirmou que o País nãodeve subestimar o aumento da demanda por ener-gia caso a aceleração do crescimento econômicotenha vindo para ficar. “O consumo per capita doBrasil está em 2.600 KW por ano, um terço damédia dos países desenvolvidos”, alertou. Além depassar por Brasília e Resende (RJ), onde fica a plan-ta de processamento de urânio da estatal INB,Baradei participou do seminário Energia nuclearcomo alternativa sustentável?. O evento foi organiza-do no Rio de Janeiro pelo Centro Brasileiro deRelações Internacionais (Cebri).

Mesmo com 5% da geração total, o Brasil fica-ria aquém da atual média mundial da capacidade deenergia nuclear, em torno de 15% do total, e maisdistante ainda da proporção dos países mais ricos, de22% – na França, recordista mundial, as usinas nu-cleares são responsáveis por 78% da geração.O Brasil é o sexto maior produtor de urânio domundo, elemento usado como combustível nuclear,com reservas suficientes para centenas de anos.É também um dos três únicos países, ao lado daRússia e dos Estados Unidos, que têm urânio, usinasnucleares e tecnologia de enriquecimento, ainda queesse único item apenas em escala experimental.

Comedidas ou não, as novas usinas nucleares noBrasil não passaram ainda da fase de idéia para a deprojeto. Sabe-se que metade ficaria no Nordeste,perto do rio São Francisco, aproveitando a água,

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para refrigeração, e as linhas de transmissão das usi-nas hidrelétricas já implantadas para levar energiaaos grandes centros urbanos. A outra metade dasusinas ficaria no Sudeste. Em Angra dos Reis (RJ)estão as duas únicas usinas em operação.

A exceção entre as novas usinas é Angra 3, cujasobras, iniciadas na década de 1980, estão interrom-pidas. Foram consumidos até agora R$ 1,5 bilhão,dos quais 39% com as obras e a compra de equipa-mentos em si. O restante é o custo no atraso doprojeto, desembolsado com a manutenção dosequipamentos já comprados e com encargos finan-ceiros. São necessários mais R$ 7,3 bilhões para ter-minar a usina, que não ficará pronta antes de 2013.“Se a decisão de retomar a obra já tivesse sido toma-da há cinco anos, a usina estaria prestes a ficar pron-ta, eliminando o risco de escassez de energia noPaís”, argumenta o presidente da AssociaçãoBrasileira de Desenvolvimento da Indústria Nuclear(Abidan), Antonio Müller.

Com a decisão política do governo de impul-sionar o programa de energia nuclear, há seismeses, restam poucas etapas a serem cumpridaspara a retomada das obras de Angra 3. Em abril, oInstituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos

Renováveis (Ibama) deverá anunciar a decisãosobre o impacto ambiental. Há poucas dúvidasquanto à possibilidade de a obra ser liberada por-que a nova usina ficará em espaço contíguo aAngra 1 e Angra 2. Dinheiro não faltará porque aEletronuclear já tem aprovado o esquema definanciamento nacional, para as obras, e interna-cional, para a compra de equipamentos. Um pos-sível obstáculo poderá vir do Congresso Nacional.O PV apresentou contestação ao Tribunal deContas da União para a retomada dos contratos dadécada de 1980 sem novas licitações. Outro pro-blema, segundo o partido, é que o Executivo nãopoderia ampliar a geração nuclear sem consultar oCongresso Nacional.

Apesar da abundância de urânio no Brasil, ocusto de processamento do combustível não ébaixo, e acabava por desestimular novos investi-mentos em usinas nucleares. Mas o aumento dacotação do petróleo e do gás nos últimos anostransformou as usinas nucleares em alternativaseconomicamente viáveis. Ainda perdem em preçoquando o gás está abaixo de US$ 6 por milhão deBTU (medida de energia usada como referênciano setor). Atualmente, o gás comprado da Bolíviacusta US$ 5,50, mas há grandes dúvidas quando àmanutenção nesse patamar. Além disso, em rela-ção a outras fontes de energia para termelétricas, oganho é bem maior.

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fonte nuclearrepresenta 2,2%

da energiaelétrica do Brasil

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TERRENO QUEABRIGARÁ ANGRA 3:obras paralisadasdesde 1986

INDÚSTRIA BRASILEIRA 43WWW.CNI.ORG.BR

ENERGIA

A energia nuclear custa75% do preço da energiaelétrica obtida com a queimade carvão, pouco menos deum quarto do valor do quecusta a energia de óleo com-bustível, que funcionam emsistemas isolados, principal-mente na Amazônia. As ter-melétricas a óleo funcionamtambém como energia com-plementar do sistema queatende a maior parte doPaís. E exatamente porserem mais caras do que asusinas nucleares, têm sidodeixadas de lado sempre quepossível. O resultado é queas usinas de Angra 1 e 2 representam 2,2% de todaa capacidade de geração do País, mas quando seobserva a contribuição efetiva para geração de ener-gia em 2004 (dados mais recentes disponíveis), aparticipação das nucleares foi de 3%.

Um dos grandes obstáculos à alternativa nuclearno passado recente eram as dúvidas em torno doarmazenamento dos rejeitos das usinas, que permane-ce radiativo por centenas e até milhares de anos. A indústria garante ter a capacidade para construirdepósitos muito profundos e resistentes a vazamento.O problema é que levará centenas de anos para pro-var essa eficiência. Esse inconveniente tornou-semenor, porém, diante de um outro: o lançamento decarbono na atmosfera pelas termelétricas a gás, óleo ecarvão. Cada 10 gramas de urânio tem energia equi-valente a 700 kg de óleo e 1,2 tonelada de carvão.

SEM CARBONOAmbientalistas chamam atenção para o fato de que ageração de energia nuclear inclui emissão indireta decarbono nas obras, na exploração e processamentodo urânio. E que essas emissões são maiores do quea de energia eólica. Mas sob esse aspecto, não se podecriticar o plano para 2030 do Ministério das Minase Energia, que estabelece o aumento da geração deenergia eólica dos atuais 1,6 MW para até 9,1 MW,quase o mesmo da energia nuclear. “Não devemospensar em escolher entre energia nuclear, bagaço de

cana, energia eólica e novas hidrelétricas. Precisamosde todas as fontes”, argumenta o vice-presidente daAbidan, Ronaldo Fabrício.

A pressão para reduzir a emissão de gases queprovocam o efeito estufa tem sido usada como oprincipal argumento do setor nuclear para defendera ampliação dessa fonte de energia. “Precisamosmultiplicar o número de usinas não por dois ou portrês, mas por vinte. Pensar em qualquer coisamenor que isso nos convida a um desastre ecológi-co”, afirmou no seminário do Cebri, no Rio, onorte-americano John Ritch, diretor-geral daWorld Nuclear Association, um grupo de defesa daenergia nuclear com sede em Londres.

Na América Latina, dois outros países têm usinasnucleares: Argentina e México, com capacidade degeração um pouco inferior à do Brasil. Dois outrostêm planos de construir suas primeiras usinas: Peru eChile. Baradei, da AIEA, alerta para o fato de que aalternativa nuclear não vale para qualquer país: “É indispensável ter uma base industrial antes de terum programa nuclear”. Outra preocupação da agên-cia e da comunidade internacional é restringir a pro-liferação de armas nucleares – os rejeitos das usinas,se processados, podem ser usados para fazer bombas.Mas nessa questão a América Latina tem uma gran-de vantagem: foi a primeira região do mundo a sedeclarar livre de armas nucleares, por meio doTratado de Tlatelolco, de 1994.

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POR CELSO FIORAVANTE

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O percurso da arteComeça a fase itinerante do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça, queacompanha artistas plásticos durante um ano e leva suas obras a todas asregiões do País

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CULTURA

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DEPOIS DE PASSAR UM MÊS NO MUSEU NACIONAL,o mais novo prédio do arquiteto OscarNiemeyer na Esplanada dos Ministérios, emBrasília, as obras dos vencedores do PrêmioCNI SESI Marcantonio Vilaça para as ArtesPlásticas estão no SESI de Taguatinga, tambémno Distrito Federal, até o dia 6 de fevereiro.Depois, a exposição vai para a Usina daChaminé, em Manaus, onde permanece de 21de fevereiro a 30 de março. De lá, segue paraCuritiba, onde estará na casa Andrade Muricyde abril a junho. Vai ainda para o Rio deJaneiro, onde estará de junho a agosto, noMuseu Histórico Nacional, passa por Salvador,no Solar do Unhão (MAM-BA), e termina emSão Paulo, na sede da Fiesp.

A fase itinerante é uma das etapas maisimportantes do Prêmio, que tem na abrangêncianacional uma de suas principais características.Sem ignorar o eixo Rio-São Paulo, que se desta-ca na produção e no mercado de artes plásticas,o Prêmio tem como premissa básica a necessida-de de abarcar todo o País, na escolha do júri e na

exposição dos trabalhos dos artistas. Nas duasedições do Prêmio, houve jurados do Paraná,Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais,Pernambuco e Pará.

Os premiados nesta segunda edição, anunciados em agosto, são o pernambucanoCarlos Melo, as fluminenses Laura Lima e LuciaLaguna, a mineira Sara Ramos e a dupla paulistaGisela Motta e Leandro Lima, que atuam em con-junto. Selecionados entre 744 inscritos, eles rece-berão, cada um, a edição de dois catálogos bilín-gües, uma bolsa de R$ 30 mil no total duranteum ano e o acompanhamento do trabalho porum crítico de arte, respectivamente Suely Rolnik,Stella Senra, Paulo Herkenkoff, Luiz CamilloOsório e Laymert Garcia dos Santos. Os traba-lhos apresentados na exposição que percorre oPaís já são resultado do diálogo inicial entre osartistas e os críticos, que os acompanharão até osegundo semestre deste ano.

Proporcionar o aprimoramento dos artistas éuma das características que fazem do Prêmioalgo inédito, ao lado da abrangência nacional na

Gisela Motta e Leandro LimaES

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organização, na premiação e na exposição. O objetivo do júri é selecionar artistas emestágio intermediário de suas carreiras. NoBrasil, é comum a mídia dar grande atenção aartistas emergentes ou a nomes já consagrados.Os artistas em estágio intermediário freqüente-mente acabam abandonados. Para contemplaresses artistas, um dos critérios de seleção doPrêmio é que os candidatos tenham nascido apartir de 1962, ano de nascimento deMarcantonio Vilaça, ou demonstrem ter trajetó-ria artística iniciada, mas não consolidada, com no máximo cinco exposições individuaisou 15 anos de produção. Na primeira edição do Prêmio, em 2004, o critério era ter no máxi-mo três exposições ou 10 anos de atuação, o que foi ampliado para contemplar artistasmais maduros. O formato do Prêmio possibili-tou que fosse selecionada, por exemplo, LuciaLaguna, de 60 anos, artista plástica cuja carreirafoi postergada pela dedicação à infância dosfilhos e ao magistério.

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O benefício da convivência comos críticos fica claro no depoimentodos artistas selecionados na primeiraedição: Além de Lucia Koch, ThiagoRocha Pitta, Renata Lucas, MariláDardot e Paula Trope. “O Prêmio foi fundamental, me deu uma refe-rência do alcance do trabalho, umcerto estágio de afirmação”, afirmaKoch, acompanhada durante umano por Moacir dos Anjos. Desdeentão, ela já realizou mostras indivi-duais em São Paulo, Recife eAuckland (Nova Zelândia).

Rocha Pitta vai na mesma linha aocomentar a importância dos encontroscom um crítico. “Desenvolveu-se umarelação muito próxima e leal entre oartista e o curador. Outro aspectoimportante do Prêmio foi ter dadoabsoluta tranqüilidade financeira parao desenvolvimento do trabalho”, des-taca. Em 2006 e 2007, Rocha Pitta

realizou individuais em São Paulo, Rio de Janeiroe Copenhague (Dinamarca), além de coletivas emNova York, Cingapura e Rio de Janeiro.

Para Dardot, o ponto mais significativo doprêmio foi a mostra itinerante, que permitiu queseu trabalho fosse exibido em todas as regiões doBrasil. A artista também destaca outras ações doPrêmio: “Acho que a maior importância doPrêmio foi possibilitar a produção, a crítica e aampla veiculação do trabalho que realizei”.Depois do Prêmio, Marilá realizou individuaisem São Paulo e Recife e coletivas em Valência(Espanha), Milão (Itália), Barcelona (Espanha) eSão Paulo (27ª Bienal Internacional).

Por trabalhar com pessoas em risco social, aprodução fotográfica de Trope sempre foi margi-nalizada no circuito de artes, algo que começoua mudar com a premiação da artista. “O PrêmioCNI-SESI Marcantonio Vilaça proporcionoumaior visibilidade e tornou possível, mesmo queainda difícil, dar continuidade à minha produ-ção.” O trabalho dela realizado para o Prêmio

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rendeu à artista mostras individuais no Rio deJaneiro, Varsóvia (Polônia) e Nova York (EstadosUnidos), na prestigiosa Americas Society. Entre asdiversas mostras coletivas de que participou, destacam-se a 52ª Bienal de Veneza (Itália) e a27ª Bienal Internacional de São Paulo, além demostras em Valência (Espanha), Belém, Rio deJaneiro, Petrópolis e São Paulo.

O Prêmio organizado pela CNI e pelo SESIpresta uma homenagem ao galerista MarcantonioVilaça, que faleceu em 2000 aos 37 anos.Colecionador desde a adolescência, ele guardounuma gaveta o diploma do curso de direito etornou-se, na década de 1980, editor da revistade arte Galeria. Em 1990, fundou com a irmãTaciana Vilaça Bezerra a galeria Pasárgada, no Recife. Em 1992, inaugurou em São Paulo a galeria Camargo Vilaça, que logo se tornou a mais importante referência para a artecontemporânea brasileira.

Celso Fioravante, crítico de arte, consultor técnicodo Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça

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Gisela Motta e Leandro Lima

Page 48: A RETOMADA DOS AS DIFERENÇAS ENTRE HOMENS E …bibliotecadigital.puc-campinas.edu.br/services... · a Contribuição Provisória sobre a Movimentação Financeira (CPMF) foi um claro

50 INDÚSTRIA BRASILEIRA

PRIVATIZAÇÃO,CPMF E REFORMASA rejeição do imposto do cheque demonstra que ademocracia não se compagina com desequilíbriosacentuados e duradouros de poder entre instituições

Bolívar Lamounier, cientista político, sócio-diretor da Augurium Consultores

O BRASIL CHEGOU ÀS ÚLTIMAS DUAS DÉCADAS

do século 20 sob o signo de uma dupla transição.Na política, os marcos fundamentais foram ofim do ciclo militar, o restabelecimento dademocracia e a elaboração da nova Constituição.Na economia, a estabilização da moeda e adeflagração das reformas estruturais, incluindoo amplo programa de privatização, no governoFernando Henrique Cardoso. Tomadas em con-junto, essas medidas prepararam o terreno paraum processo de desenvolvimento político e eco-nômico mais sólido e de longo prazo.

Evoco a dupla transição a fim de contextua-lizar e dar o devido destaque a dois fatos políti-cos recentes, a meu ver os dois mais importan-tes de 2007. Na esfera do Executivo, a retoma-da das privatizações. Na do Legislativo, a rejei-ção da Contribuição Provisória sobre a Movi-mentação Financeira (CPMF) pelo Senado, pre-cedida, aliás, por um excelente debate parla-mentar acerca da questão fiscal. Não me sur-preenderei se esses dois fatos vierem a exercerponderável influência sobre o atual governo,quiçá até estimulando o presidente Lula a assu-mir com maior nitidez o programa de reformasdeslanchado na década dos 1990.

A privatização de rodovias por um governo eum presidente até há pouco identificados com umideário estatizante constitui clara evidência darobustez da revisão iniciada nos anos 1990. À partealguns desacertos gerenciais e manifestações loca-lizadas de nostalgia ideológica, é essa a conver-gência que se sedimenta cada vez mais no Brasil.

A convergência a que me refiro não diz respeitoa um liberalismo econômico abstrato, mas aoesgotamento do sistema de dirigismo estatalestruturado entre as duas guerras mundiais.

Obviamente, em política inexistem conver-gências ou consensos absolutos. Por toda parte,partidos e movimentos que atualmente buscamse situar no centro, mas que se originam deposições mais à esquerda, em geral abrigam gru-pos radicais ou mantêm relações de boa-vonta-de e apoio mútuo com aliados externos dessetipo. No Brasil essa situação é muito bem exem-plificada pelo PT, pelos chamados movimentossociais e pela própria Igreja Católica, em cujoseio sabidamente existem correntes que se vêemcomo “revolucionárias”, ou pelo menos movidaspor certo sentimento anticapitalista.

O resumo da ópera é bem simples. O forta-lecimento dos mercados relativamente aosEstados, no Brasil e em numerosos outros países,não é fruto do acaso, e sim de mudanças sociais,econômicas e políticas profundas. Na mesmalinha de raciocínio, a derrubada do “imposto docheque” – manifestação de um descontentamen-to generalizado na sociedade – prefigura (ou serámuito otimista esta hipótese?) a reafirmaçãopolítica do Congresso frente ao Executivo e oressurgimento dos partidos de oposição, dadoscomo mortos desde a vitória de Lula nas eleiçõesde 2006. Foi, portanto, uma clara indicação deque, em condições normais, a democracia não secompagina com desequilíbrios acentuados eduradouros de poder entre instituições.

BOLÍVAR LAMOUNIER

FOLH

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JANEIRO 2008