documento protegido pela lei de direito autoral · protecÃo da propriedade intelectual na era...

42
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

Upload: others

Post on 30-Jun-2020

0 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA

DIGITAL

Por: Michele Netto Stellet

Orientador

Prof. Willian Rocha

Rio de Janeiro

2014

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

Page 2: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA

DIGITAL

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Direito de Empresa,

Mercado e Negócios.

Por: . Michele Netto Stellet

Page 3: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos professores e colegas de

turma pela ajuda, dedicação e

companheirismo.

Page 4: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

4

DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais, irmão e queridos

amigos, que estiveram comigo em mais

uma etapa da minha vida.

Page 5: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

5

RESUMO

Este trabalho tem o objetivo de mostrar como a lei e a sociedade

como um todo vem tratando a questão da proteção da propriedade intelectual

atualmente e as mudanças que surgiram com a era digital.

Criação e ideias que antes passavam despercebidas e que hoje

estão muito mais vulneráveis. E como o Brasil está conseguindo controlar

através de órgãos responsáveis, o uso indevido de obras, marcas e ideias no

geral.

Page 6: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

6

METODOLOGIA

A produção deste trabalho foi possível através de pesquisas

bibliográficas, em especial livros de propriedade intelectual e direito

empresarial, busca em sites diversos, apoio em material didático e matérias de

jornais. A bibliografia indicada pelo professor foi de extrema importância para a

conclusão do presente trabalho.

Page 7: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I – Origens Históricas da propriedade

Intelectual 9

CAPÍTULO II – Diferença entre Propriedade

Intelectual e Propriedade Industrial 17

CAPÍTULO III – O Direito autoral e a expansão digital 20

CAPÍTULO IV- Meios de proteção à propriedade

intelectual na era digital 25

5- CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41

Page 8: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

8

INTRODUÇÃO

Entende-se como propriedade intelectual a área do direito que trata

da proteção dos sinais distintivos, como marca, nomes empresariais,

indicações geográficas, entre outros signos de identificação de produtos,

serviço, empresa e estabelecimento.

Bem como, as criações intelectuais, como por exemplo, obras literárias,

patentes de invenção, de modelo de utilidade e registro de desenho industrial,

ou seja, tudo aquilo que se refere a criações oriundas do intelecto e que é

protegido juridicamente.

Vale esclarecer que o direito de propriedade industrial é espécie do que

chamamos de direito de propriedade intelectual, assim como o direito autoral é

espécie desse último.

A propriedade industrial ocorre quando um bem econômico imaterial for

objeto potencial de propriedade e passível de apropriação por terceiros, logo

que é exposta no mercado.

Sendo assim, fez-se necessário criar mecanismos jurídicos de proteção ao

investimento colocado na criação desse bem imaterial, para permitir que o seu

titular fique com todo valor da invenção, e assim, com a renda gerada pela

exploração, incentivando dessa forma a pesquisa e investimento em novas

tecnologias.

Tanto o direito intelectual como o industrial protegem bens imateriais que

resultam da atividade criativa do gênio humano e não de força física.

Atualmente essa proteção tem se tornado um pouco mais complicada

devido ao fácil acesso as criações, considerando as particularidades da

tecnologia digital não podemos pensar na aplicação dos tradicionais conceitos

do direito de autor sem uma adaptação à nova realidade. Bem como seria

inadmissível ao jurista discutir qualquer forma de proteção autoral na

tecnologia digital sem levar em conta as discussões sociológicas e

econômicas.

Page 9: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

9

CAPÍTULO 1. ORIGENS HISTÓRICAS DA PROPRIEDADE INTELECTUAL

Para analisarmos a propriedade intelectual como um todo, faz-se

necessário antes, um breve estudo para entendermos como surgiu e evoluiu

na sociedade.

Legalmente falando, podemos observar diferentes fases, cada

momento histórico guarda sua peculiaridade e importância no desenvolvimento

e aprimoramento legal.

1.1- PERÍODO ANTIGO

No período antigo não existia necessariamente um sistema jurídico

de proteção à transmissão de informação. Esta era basicamente limitada aos

guerreiros ou sacerdotes, e era conservada como segredo mais em função do

seu objetivo e utilização que pelas características da informação em si.

Observa-se que a proteção à informação sempre existiu, mesmo

que fosse apenas limitada às questões religiosas e estatais inicialmente. Pois

na época apenas se dava importância à informação que tinha uma

característica pública.

A título de esclarecimento vale ler uma história antiga, citada por

Claudio R. Barbosa:

“...história de Sansão narrada no livro dos juízes. Nessa história ele

detinha uma vantagem competitiva mantida por um segredo.

Revelado esse segredo, seus inimigos o derrotaram. Mais do que a

fonte de poder em si, o segredo era o fator decisivo. Sem o segredo,

sua vantagem competitiva, a fonte de seu poder foi cortada. Assim,

também uma informação tecnológica ou economicamente relevante

somente tem valor se utilizada de forma restrita, por uma ou poucas

pessoas; se a mesma informação for usada por todos, torna-se

padrão de mercado, sem acarretar um avanço.” 1

1BARBOSA,Claudio R. Propriedade Intelectual. Introdução à propriedade Intelectual como

Informação. Rio de Janeiro: Elsevier,2008, p.21.

Page 10: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

10

Nas sociedades antigas era difícil destacar um ou outro aspecto,

seja econômico, religioso ou militar, que não estivessem associados entre si. E

esse é um dos motivos principais pelo qual podemos considerar que as

informações importantes eram, no geral, religiosas, pois o sistema jurídico era

orientado por tais normas.

Nas civilizações antigas os métodos de proteção às informações

religiosas eram rudimentares, bem como o sistema jurídico romano, onde não

se pode dizer que tais mecanismo existiam de forma sistematizada. Já na

Grécia antiga não existia o conceito de criação, pertencendo ao indivíduo que a

criou, pois o indivíduo como conhecemos hoje não existia.

No Direito Romano, o criador de uma obra de arte buscava apenas

a atribuição de seu nome à obra e não a propriedade sobre algo intangível,

pois para eles não exsitia o conceito de separação entre ideia, elemento que

consubstancia a criação, e o objeto que substancia a mesma criação, muito

menos havia uma valoração específica do bem incorpóreo.

Com isso, o autor recebia prestígio com o reconhecimento da sua

obra, e era desse reconhecimento que se podia alcançar benefícios, tanto

materiais quanto apenas prestígios. Era normal que o criador fosse relacionado

ao resultado concreto de sua criação, e não à obra idealizada.

De acordo com Luis Santa Cruz Ramos:

"...Leonardo da Vinci tinha o cuidado de proteger suas obras, usando

artifícios variados para tanto, como a prática de escrever ao contrário

ou de deixar erros propositais nos seus textos. (PAG.133 ANDRÉ

LUIIS SANTA CRUZ RAMOS

Na época existia a Lex Fabia de Plagiariis, que consolidava a

punição à escravização de um homem livre ou ao apossamento de escravo

alheio. Esses criminosos, eram conhecidos como plagiarius, e foi este o nome

dado pelo poeta Martialis àqueles que se apossavam de suas ideias.

Page 11: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

11

Podemos considerar que naquele momento se deu maior

importância à usurpação de uma ideia e não a existência de qualquer relação

jurídica de controle entre autor e criação.

Houve um outro fato, agora relacionado a questão da exclusividade,

que ocorreu na Escócia do século VI. Um monge copiou um raro manuscrito

sem a permissão de seu mestre. Este, pediu a devolução da cópia e o Rei da

época decidiu a favor do mestre. Neste momento ficou caracterizado a questão

do plágio.

Apesar das civilizações antigas poderem ser consideradas a pré-

história da propriedade intelectual, não é correto dizer que, já existia uma

proteção à informação em si, ou seja, uma relação de propriedade entre

criador e criação.2

1.2- PERÍODO MERCANTILISTA

Enquanto na era antiga se discutia sobre autoria e propriedade de

livros e em outras obras não se discutia o conhecimento nelas inserido, já que

as obras eram consideradas um todo, sem separar as informações

consubstanciadas no corpo mecânico e o corpo mecânico em sí.

No período mercantilista com as descobertas científicas, a questão

da proteção mudou um pouco, pois a sociedade passou a ter necessidade de

um cuidado especial com o conhecimento adquirido e também com os sinais

distintivos utilizados na manufatura e no comércio.

A partir desses acontecimentos, as informações deixam de ser

apenas do criador e passam a representar um valor para o comerciante, o

empresário e principalmente para o Estado, que se consolidava como

instrumento apto a oferecer proteção e permitir o desenvolvimento desses

novos empreendimentos.

As descobertas de soluções técnicas e as novas invenções, foram

tratadas como enorme vantagem competitiva dos Estados Nacionais, que

Page 12: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

12

naquela época começavam a buscar essas vantagens no comércio

internacional.

Em algumas cidades da Europa havia muita competição quando o

assunto era invenção. As rivais tentavam sempre se superar, e devido a essa

competição, inovavam velozmente as técnicas de impressão, os métodos de

drenagem, os equipamentos óticos e os cronógrafos para a navegação, entre

outras invenções necessárias ao enriquecimento do Estado.

Na época, era de extrema importância os instrumentos precisos de

navegação, por esse motivo havia muita disputa entre os Estados em

formação, que tentavam superar os meios de navegação já existentes.

Tanto que, os que eram pegos traficando informações ou

contrabandeando plantas e esquemas de indústrias entre as colônias e

metrópoles, eram severamente punidos.

O que importava nesse período, não era a participação dos criados,

autores ou inventores, e sim indivíduos que pertencessem às classes

dominantes, como por exemplo no caso dos livros, onde era importante

manter-se o direito de reprodução de livros com as editoras e não com os

autores.

Em relação aos sinais distintivos, com o aumento da facilidade de

comunicação e comércio, tornou-se importante a identificação dos fabricantes

e dos artesãos. Com o fim das limitações das atividades empresariais, a

importância dessas identificações aumentava, pois assegurava que o melhor

artesão poderia vender e cobrar mais por seu produto.

Os sinais distintivos sempre estiveram presentes nas sociedades

antigas devido a necessidade de se identificar o produto feito artesanalmente

ou bens pessoais, no entanto as características dos institutos jurídicos relativos

aos sinais distintivos como conhecemos, somente começaram a se

desenvolver com as corporações de ofício.

Assim, a origem histórica confunde uma identificação pessoal,

estatal e comercial pelo fato de que tais elementos não são, em determinados

períodos, claramente dissociados.

2 BARBOSA, Claudio R. Op.cit. pp.21-25.

Page 13: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

13

No período antigo não existia uma separação do patrimônio do

soberano e do Estado, eles se confundiam, assim como a identificação da

produção estatal.

Com o passar do tempo, o que antes era apenas uma identificação

pessoal passou a ser um atrativo, um diferencial, adicionando uma função

mercadológica de ligação entre produto e clientela. 3

1.3- PERÍODO INDUSTRIAL

Após o período mercantilista, muita coisa mudou em relação a

expansão ultramarina. Novas rotas foram descobertas e o conhecimento

passou a ficar centralizado nas universidades europeias e não só nos

mosteiros como era antes.

Havia tanta produção científica que acabou gerando o

desenvolvimento tecnológico. Foi onde o período mercantilista ficou para trás e

surgiu o período industrial.

Foi o momento onde surgiu a manufatura automatizada, ou seja, a

mão de obra humana foi trocada por máquinas, a produção artesanal foi

substituída pela produção mecânica.

O país onde essa revolução foi mais abrangente, foi a Inglaterra,

tanto pelos conhecimentos técnicos absorvidos quanto pela estabilidade social

e política, que acabou limitando arbitrariedades de quem detinha o poder,

aplicando as regras de proteção às criações industriais que estavam em vigor

desde 1623.

Com o crescimento da indústria passou-se a ter a necessidade de

proteção às inovações, apesar de, já haver nessa época proteção as criações

mecânicas por patente.

Vale salientar que, o conceito de propriedade intelectual e proteção

às inovações, foram criadas pelos juristas e economistas do séc. XIX.

3 BARBOSA, Claudio R. Op.cit. pp.25-28.

Page 14: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

14

No Brasil, esse período ficou marcado pela vinda da família real e

abertura dos portos, que através da Carta Régia estabeleceu-se uma proteção

aos inventos por meio de alvará.

Foi nessa época também que, os institutos de direito autoral e das

marcas atingem a maturidade. Toda obra passa a ser controlada, evitando sua

exploração, assim como o empresário consegue comprovar a necessidade de

proteção de seus sinais distintivos. O autor passa a ter um maior controle

sobre aquilo que criou.4

1.4- PERÍODO GLOBALIZADO

Podemos dizer que a principal diferença entre esse período e os

anteriores, são os efeitos amplos e imediatos dos atos ocorridos em um Estado

Nacional para os demais. Passou-se a ter a necessidade econômica de regras

para o pleno funcionamento da economia. O grande marco desse período

foram as assinaturas de tratados bilaterais e multilaterais de harmonização da

proteção à propriedade intelectual.

Esses tratados surgiram a partir da necessidade de os Estados

promoverem o mercado de seus produtos e as criações industrias de suas

empresas.

Foi nesse período também que as duas linhas primárias das

concepções autorais (proteção das editoras, direito de reprodução e direito

autoral) unificam-se para o surgimento da indústria cultural como

empreendimento empresarial.

Assim, passou a existir um grande movimento para regulamentação

dos sinais distintivos, englobando também as marcas de indústria e de

comércio, as indicações geográficas, a repressão às falsas indicações de

origem e à concorrência desleal. A concorrência desleal começou a ficar

reprimida pelo estabelecimento de padrões comportamentais e com a

negociação e assinatura de tratados.

4BARBOSA, Claudio R. Op.cit. pp 28-31

Page 15: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

15

Assim, foram criados dois importantes sistemas, um deles foi a

Convenção de Paris, que protegia à Propriedade Industrial, com foco nos

sinais distintivos e nas criações industriais. O outro, foi à adoção da

Convenção de Berna para as obras literárias. Como essa convenção adotou

princípios que versavam sobre privilégios ao autor, criou-se então, um sistema

internacional de forma paralela, a Convenção Internacional dos Direitos

Autorais. Esta teve sua importância reduzida, visto que os EUA adotaram a

Convenção de Berna.

Tais tratados acarretaram por um lado a harmonização, e por outro,

iniciaram a crescente diminuição da soberania dos Estados nessa matéria, que

passa a depender ainda mais da normatização e da interação entre vários

sujeitos do direito internacional.

O grande marco desse período foi o salto tecnológico, que marcou o

Séc. XX, o desenvolvimento técnico acelerado associa-se à mudança de

enfoque das empresas no valor agregado ao comércio da tecnologia e ao

licenciamento.

Essa nova visão voltada para a tecnologia e não mais para a

produção, resultou com o desenvolvimento de novas formas de proteção aos

novos produtos tecnológicos, que não se encaixavam muito bem no instituto

antigo da propriedade industrial ou do direito autoral. Começa então, uma

aceleração na criação de proteções híbridas, que tem como uma de suas

características a desterritorialização, que acontece de forma espontânea pelos

novos meios de comunicação (internet),

Essa característica permite a unificação de indivíduos separados

geograficamente em centros de comunicação baseados em afinidades, sejam

étnicas, comerciais, culturais ou nacionais. Ao se permitir essa unificação de

informação, junta-se a produção cultural, e consequentemente os aspectos

econômicos vinculados à essa produção.

Essa nova fase ficou marcada pela inserção da propriedade

intelectual como elemento efetivo da política de comércio internacional, cujo

marco se deu com a aprovação do TRIPs, no contexto do tratado que encerrou

as negociações da Rodada Uruguai do GATT e criou OMC.

Page 16: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

16

Aqui no Brasil deu-se inicio a proteção com a elaboração da lei

9.610/98 que trata do direito autoral da lei 9.609/98 que regula direitos

autorais sobre programas de computador.

O fator determinante da efetiva necessidade e das características

de proteção aos bens intelectuais é a estrutura sócio- político- econômico-

cultural de cada país, e não a propriedade intelectual enquanto conceito

universal.

O período em estudo demanda um regime jurídico de proteção à

propriedade intelectual que viabilize produtos de informação nos quais a

materialização é basicamente presumida, e a matéria-prima deixa de ser

concreta, e a própria comercialização passa a ser virtual.

Diante do que foi mostrado, notamos muitas mudanças no decorrer

do tempo, mas atualmente a propriedade intelectual não tem sido matéria de

grandes estudos, apesar de sua grande importância. Infelizmente, na maioria

das vezes continua a ser tratada como um detalhe em face de outras questões

jurídicas.5

5BARBOSA, Claudio R. Op.cit. pp 31-38

Page 17: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

17

CAPÍTULO 2. DIFERENÇA ENTRE PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROPRIEDADE INDUSTRIAL Para melhor compreensão, é importante destacar a diferença entre

Direito de propriedade Intelectual e Direito de Propriedade Industrial. Este

último é espécie do que foi citado anteriormente, que também abrange o direito

autoral e outros direitos sobre bens imateriais.

2.1 DIREITOS AUTORAIS

Os Direitos autorais são regulamentados pela Lei 9.610/98, que visa

proteger o criador de uma obra intelectual, bem como garantir a este a

exposição, disposição e exploração econômica dessa obra, permitindo assim ,

que impeça o uso ilegal de sua obra por terceiros, independente se bem ou

mal intencionado.

O Direito Autoral é o ramo do direito privado que rege as relações

jurídicas advindas da criação e da utilização econômica de obras intelectuais e

de arte compreendida na literatura entre outros ramos.

Vale destacar que, o que tem a proteção do direito autoral não é

simplesmente a criação intelectual do Homem de forma isolada, mas sim

aquela que de alguma forma tenha sido realizada em um suporte e possa ser

objeto de reprodução.

O simples fato da pessoa ter uma ideia a respeito de uma determinada

coisa não da à ela o direito de proteção dessa ideia. Mas, a partir do momento

que essa ideia “ganha vida”, podendo ser transmitida para terceiros, tal criação

vai poder ser considerada como obra intelectual e tendo como consequência a

proteção legal.

2.2 DIREITO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL

Também protege as criações da mente humana, mas as que dão

origem às invenções e marcas, que tem caráter exclusivamente econômico e

que possuem como característica a aplicabilidade industrial. Visam proteger as

Page 18: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

18

invenções e marcas. Além de possibilitar ao seu titular a possibilidade de

exploração econômica ou impedir que outros o façam sem autorização.

A lei 9.279/96 regula direitos e obrigações relativos à propriedade industrial

mediante Marcas, Patentes, Desenho Industrial, entre outros.

2.2.1 MARCAS

Podemos entender que é todo sinal distintivo expresso em palavras ou

figuras, destinado a diferenciar o produto ou serviço dos seus concorrentes no

mercado.

De acordo com a lei 9.279/96, a marca é “usada para distinguir produto ou

serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa.”

A marca pode ser dividida em, nominativa, mista, figurativa ou

tridimensional :

NOMINATIVA:

É aquela constituída por uma ou mais palavras no sentido amplo

do alfabeto romano, compreendendo, também, os neologismos e as

combinações de letras e/ou algarismos romanos e/ou arábicos.

MISTA:

É aquela constituída pela combinação de elementos nominativos e

figurativos ou de elementos nominativos cuja grafia se apresente de forma

estilizada

FIGURATIVA:

É aquela constituída por desenho, figura ou qualquer forma

estilizada de letra e número, isoladamente.

TRIDIMENSIONAL:

É aquela constituída pela forma plástica de produto ou de

embalagem, que tenha capacidade distintiva em si mesma e esteja dissociada

de qualquer efeito técnico.

Page 19: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

19

2.2.2 PATENTES E MODELO DE UTILIDADE

Entende-se por Patente, a garantia jurídica de exclusividade ao seu

inventor, além de contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico

de uma sociedade, visto que, ela pode ser considerada como forma de

recompensa pela criatividade técnica de seu inventor.

É também conhecida como carta patente, pois é um documento que

descreve determinado processo baseado na invenção, fruto da imaginação e

que pode ser reproduzido em larga escala industrialmente falando.

Já os modelos de utilidade são conhecidos como patentes de

inovação incremental, pois funcionam como melhorias em processos

produtivos já protegidos por patentes ou que se tornaram públicos.

O modelo de utilidade é considerado como acréscimo de

versatilidade em um processo produtivo, protegido ou não por patentes, sendo

este suscetível à proteção similar ao concedido para as patentes.

A diferença entre modelo de utilidade e patente é basicamente o

prazo de vigência, 20 anos para patente e 15 anos para modelo de utilidade.

2.2.3 DESENHO INDUSTRIAL A Lei também concede proteção ao desenho industrial, conhecido

também como design criativo. Este tem como finalidade dar nova forma a

determinado produto, seja para deixá-lo diferente perante o mercado , seja

para dar um visual mais moderno e atraente.

A vantagem do registro do desenho industrial é exatamente o direito

à exclusividade de exploração aos seus titulares. 6

6 RAMOS, Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo: Método, 2013,pp. 131-210.

Page 20: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

20

CAPITULO 3- O DIREITO AUTORAL E A EXPANSÃO DIGITAL

O desenvolvimento da internet e da tecnologia digital possibilitou

um importante avanço no processo de criação de obras intelectuais. Com base

em um modelo em que o usuário se comunica diretamente com outro usuário

sem um controle central, a internet permite um maior aproveitamento de obras

previamente criadas, que podem ou não estar em domínio público.

O primeiro grande impacto em relação ao direito autoral , foi sentido

pela indústria fonográfica, pois com a velocidade e facilidade da internet, com

apenas um único clique era possível reproduzir e comercializar determinada

obra e o principal, sem muitos gastos.

O que é visto como facilidade por um lado, como por exemplo a

comunicação dos autores, usuários e editores, por outro lado acaba se

tornando algo prejudicial, pois acabou criando uma confusão entre os usos

permitidos e proibidos, onde tudo é visto e praticamente tudo é repassado.

No âmbito da internet, o direito ainda não encontrou o justo

balanceamento entre o interesse do indivíduo criador da obra e o do público

que deseja dela fruir ou utilizá-la na composição de outras obras. É preciso,

pois, analisar a questão da função social do direito de autor. Uma maior

proteção significa um menor grau de acesso a obras intelectuais que,

dependendo do caso, deveriam ser de uso livre.

O que se observa atualmente, é que a informação não protegida é

um benefício, pois fará parte do domínio público e o terceiro interessado não

pagará nada. Mas economicamente falando, a informação não protegida é um

freio à inovação.

Alguns exageros na proteção do autor em detrimento do interesse

público podem ser observados na Lei de Direitos Autorais. Um bom exemplo

está na proibição da cópia integral de uma obra, ainda que para uso privado

sem finalidade lucrativa. Nesse caso, não há o estabelecimento de qualquer

limite quanto ao uso justificado da reprodução, o que poderia ser alegado, por

exemplo, por um estudante que efetua a cópia integral de um livro pelo fato de

sua edição estar esgotada.

Page 21: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

21

É importante lembrar que nem sempre o aumento da proteção

autoral à obra intelectual e da restrição ao seu uso livre representam um

benefício ao indivíduo criador da obra. Muitas vezes, a defesa de uma maior

proteção e restrição ao uso livre de obras intelectuais é uma bandeira da

própria indústria cultural em defesa de seus interesses.

É certo que o Brasil é um dos países com maiores índices de

pirataria e que a mesma deve ser coibida. Mas também é certo que as políticas

públicas deveriam aumentar as limitações ao direito de autor em determinadas

circunstâncias, principalmente no âmbito da internet, visando ao interesse

social à livre utilização de obras intelectuais protegidas e à inclusão digital

como uma das formas de defesa da cidadania.

A sociedade tem interesse na manutenção de um mecanismo de

estímulo ao autor para que continue criando e para que lhe seja reconhecido o

direito a uma remuneração pelas suas criações. Porém não se pode admitir

que, sob o argumento de uma alegada defesa do direito moral do criador, o

direito de autor passe a funcionar não mais como um mecanismo de estímulo,

mas como um entrave às novas formas de criação possibilitadas pela

tecnologia digital.

3.1 QUASE TUDO SE COPIA E NADA MAIS SE CRIA

Atualmente vivemos numa época onde a facilidade de se copiar

está mais em evidência do que a vontade de se criar. E devido a essa “febre”

de copias estamos tendo problemas em manter uma determinada

exclusividade de marcas, obras etc

A chamada contrafação, produção comercial de um artigo sem

autorização da entidade que detém a sua propriedade intelectual, é mais

comum do que imaginamos.

Para fins de esclarecimento segue antiga decisão da 18ª Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, referente à Apelação Cível n.º

2414/99 (julgada em 24 de março de 1999), tendo como relator o Des. Jorge

Luiz Habib:

Page 22: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

22

"APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO ORDINÁRIA. CONTRAFAÇÃO. (... )

A simples comercialização de produtos contrafeitos caracteriza, obriga

à indenização da parte lesada, em danos materiais e

imateriais, nestes compreendidos o da imagem, independe da prova

de culpa do contrafator, sendo certo afirmar, que a existência do

prejuízo causado pelo contrafator de marca notoriamente conhecida é

presumida.

(... )

Também não tem razão a ré apelante no que tange a alegação de

que inexiste dano, por não estar comprovado o prejuízo, posto que tal

condenação está amparada em legislação especial, qual seja a Lei

9.279 de 14 de maio de 1996, que em seu artigo 210 que dispõe

acerca dos critérios de composição dos danos relativos aos lucros

cessantes no caso de violação de marcas...” 7

O crime de plágio é o mais repudiado de todos quando se trata de

usurpação intelectual, pela malícia, dissimulação e má-fé usada pelo infrator

ao se apropriar de uma ideia como se sua fosse.

O que antes era novidade , hoje em dia já não é tanto, pois ficou

muito fácil buscar na internet ideias. Não podemos considerar que isso seja de

todo mal , mas é nítido que está faltando originalidade. Quantas vezes lemos,

vimos, marcas ou textos que pensamos já não ter visto antes . Isso nada mais

é do que a prova de que está faltando ideias próprias, autênticas.

Algo que vem acontecendo com muita frequência são as

alterações, modificações e até mesmo mutilações, das obras protegidas.

Modificações estas feitas muitas vezes por inconsequência ou mesmo má-fé.

É o caso dos textos e imagens que circulam sob nomes de

pessoas famosas, ou textos de grandes escritores, poetas que são usurpados

por terceiros.

Acontece também com imagens, onde não se é dado os devidos

créditos ao fotógrafo, ou quando alteram tais fotografias.

7 Disponível em : http://jus.com.br. Acesso em: 15 de jun. de 2014.

Page 23: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

23

No Rio de Janeiro alguns anos atrás houveram decisões neste

sentido, visto que nelas foi reconhecido o prejuízo causado à imagem da

famosa marca "REEBOK", diante de uma contrafação. São elas:

"Quanto ao pedido em razão do dano moral, o mesmo merece

acolhida, eis que o bom nome e a qualidade que sempre forma

marcas registradas dos tênis Reebok sofreram grande

desgaste, causando-lhes danos à imagem, uma vez que os

consumidores que porventura se enganassem certamente passariam

a acreditar na baixa qualidade dos calçados de propriedade da

primeira Autora, levando a um descrédito em relação ao produto,

pouco importando se a empresa vendedora, no caso, a Suplicada,

possui uma cadeia de lojas de grande ou pequeno porte, sendo o

dano inafastável. Além do mais, a demandada possui mais de dez

lojas espalhadas pela cidade, sendo certo que o prejuízo causado às

Suplicantes, não pode ser configurado como de pequeno porte, até

porque as obrigou a intentarem as presentes ações a fim de evitar

que outras lojas adotassem o mesmo procedimento danoso, que

imensos prejuízos traz à indústria especializada.

(...)Assim, presentes o dano moral, conforme largamente

esclarecido, consubstanciado no dano à imagem do produto objeto de

contrafação, além do dano material, consubstanciado no lucro

cessante, a ser apurado nos termos do art. 210 da Lei nº 9.279/96, e

no dano emergente, consubstanciado no que as Autoras deixaram de

ganhar com a venda e comercialização dos produtos REEBOK, bem

como pela desvalorização da aludida marca."

"(...) quanto ao dano moral, este caracterizou-se

pela depreciação, aos olhos dos consumidores, do nome e

da qualidade dos produtos Reebok. Para aferição do valor

indenizatório, a título de dano moral, deve ser considerado o alcance

do dano causado ao patrimônio moral das autoras, entende este Juízo

que é justa a fixação do valor indenizatório na ordem de 150 (cento e

cinqüenta) salários mínimos para cada uma das autoras".8

Diante do que foi apresentado, nota-se o quanto é importante medidas

de proteção às pessoas, mas também as grandes marcas, empresas etc

8 Disponível em : http://jus.com.br. Acesso em: 15 de jun. de 2014.

Page 24: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

24

Outras ocorrências também constituem violação aos direitos

morais dos autores, exceto aquilo que se destina ao humor, a uma forma de

paródia, dado o outro, direito fundamental da pessoa humana que é o de

exercer a crítica, fazendo uso de sua liberdade de expressão.

Diante disso, a sociedade passou a se preocupar com essa

questão e a dar mais atenção a essa facilidade de buscas, consultas, cópias e

até plágio.

Em contra partida tem-se a questão do acesso a informação e

até onde a proteção pode privar uma pessoa de obter informação, educação. É

importante encontrar esse equilíbrio para que ambas as partes não sejam

prejudicadas.

A Lei de Direitos Autorais não deve criar obstáculos à

interatividade propiciada pela internet, sob o risco de contribuir ainda mais para

o aumento da exclusão digital, que não diz respeito apenas à limitação de

acesso às redes de informação, mas também ao exercício da inteligência

coletiva propiciada pela tecnologia digital. De fato, a interatividade permite uma

maior democratização do uso de obras intelectuais, além de incentivar a

criação de formas mais dinâmicas de produção intelectual.

De acordo com Lawrence Lessig, o grande perigo de uma

ampliação do campo de proteção do direito de autor na internet está no fato de

que, no meio digital, esse controle aparece de modo muito mais forte do que

no meio analógico.

Ao mesmo tempo em que a internet facilita o uso indevido e a

reprodução não autorizada de uma obra, os mecanismos de controle digital e

rastreamento de informações são muito mais eficientes do que nos meios

analógicos. Assim, uma legislação de direito de autor muito rígida poderia

desestimular as diversas possibilidades criativas proporcionadas pela internet.

Diante do que foi abordado, interessante seria esclarecer para a sociedade

que, tudo que é alheio, não pode ser tomado e ainda, que se deve respeitar o

que é do outro como se seu fosse.

Page 25: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

25

CAPÍTULO 4. MEIOS DE PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL NA

ERA DIGITAL

Atualmente vivemos tempos conturbados no que diz respeito ao

ciberespaço. O espaço entre o real e o virtual parece ficar cada vez mais curto

com o passar dos anos, e o mundo regido por bits e bytes tornou-se uma das

coisas mais importantes em nossas vidas sem que pudéssemos sequer nos

dar conta disso.

Programas de espionagem, quebra de privacidade, ataques

oriundos de grupos hackers e outros assuntos controversos andam nos

bombardeando todos os dias, nos fazendo repensar constantemente o rumo

de nossas vidas digitais.

A propriedade intelectual é normalmente discutida em relação a

direitos autorais, marcas e patentes. Mas focaremos no primeiro instituto, já

que é um dos mais prejudicados quando tratamos de vulnerabilidade digital.

O direito de autor surgiu como um privilégio inicialmente concedido

aos editores para garantir um monopólio na comercialização de obras literárias.

O aparecimento da imprensa foi fundamental para a construção do conceito de

direito às criações literárias e artísticas.

Considerando algumas particularidades da tecnologia digital, não

podemos pensar na aplicação dos tradicionais conceitos do direito de autor

sem uma adaptação à nova realidade. Seria também inadmissível ao jurista

discutir qualquer forma de proteção autoral na tecnologia digital sem levar em

conta as discussões sociológicas e econômicas sobre redes de informação e

novos conceitos de criação em arte digital.

A preocupação com a proteção internacional desses direitos

resultou na assinatura de diversos tratados e Convenções Internacionais, como

o da União de Berna, da Universal de Genebra e de Roma, todas

administradas pela ONU.

Atualmente é organizado via acordo Trips, que é um Tratado sobre

os aspectos dos direitos da propriedade intelectual relacionados ao comércio.

Page 26: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

26

É considerado o mais importante anexo do acordo que gerou a

Organização Mundial do Comércio-OMC. Devido a esse tratado, todas as leis

internas dos países-membros dessas organizações são, praticamente,

idênticas, celebrando assim a globalização jurídica muito antes da econômica,

dada a fluidez na circulação das obras intelectuais.

Os tratados internacionais e a legislação interna que versa sobre

direito de autor dos diversos países não oferecem resposta às principais

questões que envolve a tecnologia digital.

Aqui no Brasil, a CF/88 trata do assunto em seu Art. 5º XXIX:

“a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio

temporário para sua utilização, bem como proteção às criações

industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a

outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o

desenvolvimento tecnológico e econômico do País;”9

Além da Constituição Federal, temos outras legislações a respeito

do assunto, em fevereiro de 1998 foi sancionada a Lei nº 9.610 que trata do

Direito Autoral no geral. No entanto, segundo determinadas correntes, essa lei

não aborda claramente as questões referentes à internet ou a violação de

interesses por meio desta, pois está um pouco longe da realidade, o que acaba

tornando-a ignorada pela sociedade. Além desta, temos a Lei 9.609 que regula

os direitos autorais sobre programas de computador.

Aqui no Brasil existe uma autarquia que gere assuntos relacionados

à propriedade intelectual, na área industrial, é o INPI. Criado em 1970, o

Instituto Nacional da Propriedade Industrial, vinculado ao Ministério do

Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), é responsável pelo

aperfeiçoamento, disseminação e gestão do sistema brasileiro de concessão e

garantia de direitos de propriedade intelectual para a indústria.

9 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecun: Saraiva, 2014.

Page 27: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

27

Entre os serviços do INPI, estão os registros de marcas, desenhos

industriais, indicações geográficas, programas de computador e topografias de

circuitos, as concessões de patentes e as averbações de contratos de franquia

e das distintas modalidades de transferência de tecnologia. Na economia do

conhecimento, estes direitos se transformam em diferenciais competitivos,

estimulando o surgimento constante de novas identidades e soluções técnicas.

O serviço disponibilizado pelo INPI não favorece apenas as

grandes corporações, por ser tão importante para o desenvolvimento

econômico, abrange também as Micro e pequenas empresas, além de

empreendedores individuais. Eles podem usar estes diferenciais para gerar

parcerias e crescer num mercado competitivo, no qual é praticamente

impossível competir apenas por preço.

Justamente por isso, o INPI vem trabalhando para agilizar,

simplificar e garantir qualidade aos seus serviços. Com o objetivo de atrair

pesquisadores e empreendedores que possam se beneficiar com o uso da

propriedade intelectual.10

As decisões do INPI podem ser sempre revistas pelo Poder

Judiciário, em função do princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional

dos atos do Poder Público, tal possibilidade está prevista no Art.5º, inciso

XXXV, da CF.

Uma das soluções encontradas para atender às necessidades do

criador de determinada obra, foi a de atribuir-lhe o rendimento dos direitos

patrimoniais, consistentes em uma participação em dinheiro pela venda de

cada exemplar, contabilizadas a partir das possibilidades técnicas de

reprodução destas. É o chamado copyright, reserva dos direitos de reprodução

e comercialização de suportes, e também , transmissão, exibição, execução

pública, entre outros.

Uma outra forma de proteção é o chamado Trade Dress, que é o

conjunto de elementos e características que permitem a individualização de

determinado produto ou serviço, permitindo ao consumidor distingui-lo dos

10

Disponível em: http://www.inpi.gov.br. Acesso em :19/06/14.

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

28

demais. Diz respeito ao caráter externo e sensorial do produto ou do serviço,

seu aspecto geral de como o produto ou serviço é apresentado ao público.

Assim, a embalagem de determinado produto, além de servir

para proteger e conservar, assume também um papel de agente de vendas e

fortalece o consumo com a marca.

A lei protege o Trade Dress, sendo esse o entendimento não só dos

nossos tribunais mas da maioria dos outros países. Assim a sua forma de

proteção pode ocorrer em diversas ocasiões, quando a criação for artística e

original; pelo desenho industrial; proteção marcaria; por meio da concorrência

desleal, quando a imitação gerar engano ou confusão ao público, entre outros.

A lei de direito autoral, apesar de ser recente, não trata a obra

digital e a sua utilização na internet de maneira adequada. Na verdade, esta lei

procurou apenas transportar para as obras digitais os mesmos conceitos de

direito de autor tradicionalmente aplicados às obras analógicas, quando, na

verdade, o funcionamento do direito autoral analógico se contrapõe à ética

criada pela própria tecnologia digital.

Os problemas trazidos pelos produtos da era digital aos tradicionais

meios de proteção intelectual são inúmeros. Em diversos países a lei vem

tentando se adequar as necessidades da sociedade nesse novo cenário.

Alguns acreditam que tais adequações serão suficientes, outros já acham o

contrário, devido a velocidade de mudança dessa era informatizada.11

4.1- RESPONSABILIDADE CIVIL POR VIOLAÇÃO A PROPRIEDADE

INTELECTUAL

Como vimos no tópico anterior, a lei de direitos autorais não está

em concordância com o que vivenciamos atualmente, em relação as grandes

mudanças digitais. Por isso, tal lei foi foco de diversas propostas de reforma,

uma delas é a responsabilidade civil dos intermediários pela violação de

direitos autorais por meio da internet. Após alguns impasses foi promulgada a

Lei do Marco Civil da Internet, que veremos mais afundo no próximo tópico.

11

NALINI, José Renato. Propriedade Intelectual. São Paulo:Revista dos Tribunais, 2013.

Page 29: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

29

Ainda hoje, muitos jovens se surpreendem quando informados de que

diversas de suas condutas diárias, tais como, compartilhamento de textos,

imagens, vídeos e músicas em redes sociais, podem acarretar

responsabilização por violação a direitos autorais nos termos da lei, conforme o

Art. 102 e seguintes da Lei 9.610/98.

Algo que é comum entre os usuários da rede, é a digitalização de livros

e a cópia de CDs e DVDs,para uso privado. Ocorre que, são reproduções não

autorizadas pelo titular dos direitos e não estão previstas no rol de limitações

aos sireitos autorais. Ainda que sejam feitas como mera cópia de segurança ou

para que a obra possa ser usufruída independentemente de a pessoa estar no

mesmo local em que o suporte original, atualmente no Brasil, essas

reproduções são claras violações de direitos autorais e podem levar os

usuários a serem responsabilizados civilmente.

Como sabemos, o dano é pressuposto indispensável à

responsabilidade civil, quer seja em sede subjetiva, quer em sede objetiva. Os

demais pressupostos são a ação ou omissão (comportamento humano), a

relação de causalidade e a culpa ou dolo do agente.

Somente em ocorrendo dano, há que se impor a alguém uma

obrigação de indenizar, ainda que este alguém tenha praticado um

comportamento ilícito; este é o entendimento majoritário, donde se conclui

que não há responsabilidade sem prejuízo.

Assim, para que de plano se demonstre a relevância do dano, é

preciso sempre se ter bem em conta que pode haver responsabilidade sem

culpa, mas não pode haver responsabilidade sem dano.

Nesta linha de pensamento o Tribunal de Justiça de São

Paulo,pioneiro, 1ª Câmara Cível, em julgamento de Apelação Cível, datado de

20/08/85 (RT 612/44), assim decidiu:

"Somente danos diretos e efetivos, por efeito imediato do ato

culposo, encontram no Código Civil suporte de ressarcimento.

Se dano não houver, falta matéria para a indenização. Incerto

Page 30: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

30

e eventual é o dano quando resultaria de hipotético

agravamento da lesão."12

Apesar de o Código Civil expressamente prever que só há o dever

de indenizar se houver sido efetivado algum dano (arts. 1.059 e 1.060). No

entanto, tal disposição não foi adotada pela LPI (Lei n.º 9.279/96) como se

pode conferir pela leitura dos arts. 208, 209 e 210. Destes sim, afere-se que o

simples uso da marca – que é o fato da violação – já gera o dever de indenizar,

este muito mais facilmente caracterizado e visualizado nos lucros cessantes,

contudo, com o advento dos novos conceitos sobre o dano moral, em se

tratando de uma marca famosa ou de pessoas jurídicas concorrentes cujas

circunstâncias fáticas admitam presumir o dano (diluição da marca, confusão

no espírito do consumidor/cliente do verdadeiro titular da marca, da marca

legítima, etc.), é aceitável, além de bastante prudente e razoável, a aplicação

da teoria da presunção de dano.

Nas decisões contrárias à presunção de dano, em quase todas há a

palavra efetiva e/ou suas derivadas para caracterizar que o dano só é exigível

se comprovado realmente. Tais decisões, que seguem como regra este

entendimento sobre violação ao direito marcário, estão equivocadas, vez que

fazem prevalecer o art. 1.060 do CC em vez de aplicar os artigos concernentes

à Lei Específica – arts. 208, 209 e 210, da LPI – que não exigem

a efetiva demonstração do dano, mesmo porque, caso assim o fizessem,

estariam tornando praticamente inexequível estes artigos, principalmente o art.

210, que é o mais importante na questão de indenização, tendo em vista as

peculiaridades, as características da marca como bem jurídico imaterial,

intangível que é, sendo, portanto, extremamente difícil de se provar –

"efetivamente" – sua lesão.

Aliás, caso fosse regra e constasse expressamente da LPI que o

dever de indenizar, por uso indevido de marca, somente nasceria se

comprovado algum dano efetivo, estaria a LPI, no tocante aos artigos

12

Disponível em : http://jus.com.br. Acesso em 15/06/2014.

Page 31: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

31

concernentes à indenização, condenados a receber a adjetivação de "letra

morta".

Faz-se necessário também destacar que, por simples e apropriada

interpretação teleológica da LPI, oriunda da própria natureza do registro

marcário como bem jurídico e de sua função e exploração, não se faz exigível

a comprovação do dano efetivo para gerar o dever de indenizar, o que seria

um absurdo.

A proporção da consequência do dano causado torna-se cada vez

maior, porque atinge esferas insuspeitadas, envolvendo prejuízos cada vez

maiores. A informação é um bem muito diferente de máquinas e produtos

tangíveis, e assim requer uma nova concepção da propriedade e sua proteção.

Apesar do tema, no Brasil, ganhar realmente relevância somente na

década de 90, em 1956 (mais precisamente em 23/10/56) o TJSP, na

Apelação Cível n.º 72.442, referente ao caso "RAIMANN", já decidiu adotando

a teoria da presunção:

"NOME COMERCIAL – Uso indevido – Ação de anulação – Alegação

de falta de prova de prejuízo do autor – Não acolhimento – PREJUÍZO

PRESUMIDO.

(... )

O uso indevido de nome alheio, civil ou comercial, sempre se

presume prejudicial àquele a quem por lei êle pertence com

exclusividade.

(...)

Outro argumento merecedor de rejeição, utilizado a fls. nas razões

das apeladas, é o de que elas não causaram às apelantes prejuízo

algum.

Ora, o uso indevido de nome alheio, civil ou comercial, sempre se

presume prejudicial àquele a quem por lei êle pertence com

exclusividade.13

13

Disponível em : http://jus.com.br. Acesso em 15/06/2014.

Page 32: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

32

Em nosso sistema jurídico, o titular de uma obra que foi

reproduzida ,divulgada ou de qualquer forma utilizada fraudulentamente , pode

requerer a apreensão dos exemplares reproduzidos ou a suspensão da

divulgação, sem prejuízo da indenização cabível. Há previsão também de

suspensão ou interrupção da transmissão, retransmissão e comunicação ao

público de obras artística, literária ou científico, de interpretação e de

fonogramas, porventura realizadas mediante violação dos direitos de seus

titulares, qualquer que seja o meio utilizado para a prática do ato ilícito.

Dessa forma, não há dúvida de que, o infrator de direitos autorais deve

responder por seu ilícito, uma vez presentes os requisitos do sistema de

responsabilidade civil, quais sejam ,a ação, o nexo causal e o dano.

É certo, também, que aquele que fraudulentamente usa, reproduz e

divulga uma obra protegida, não tem como algar desconhecimento da ilicitude

do seu ato.

A lei prevê ainda que, aquele que comercializa ou auxilia na

comercialização de obra reproduzida fraudulentamente com a finalidade de

obter ganho ou lucro direto ou indireto, para si ou para outrem, é

solidariamente responsável com o infrator.

Quando se trata de violação autoral fora do âmbito da internet a

jurisprudência tem entendido que, a responsabilidade solidária depende da

comprovação de culpa, depende de que haja a ciência de que se trata de obra

fraudulentamente reproduzida.

Algo que vem sendo discutido é quando o provedor de serviços de

internet é o violador de direitos autorais. Nesse caso, não há dúvida de que o

provedor pode ser diretamente responsabilizado pela infração.

O problema é, quando o usuário utiliza ferramentas disponibilizadas

pelo provedor para violar direitos autorais.

Erica Bargalo explica:

“as atividades desenvolvidas pelos provedores de serviço na internet

não são atividades de risco por sua própria natureza, nem implicam

em riscos para direito de terceiros maiores que os riscos de qualquer

Page 33: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

33

atividade comercial. E interpretar a norma no sentido de que qualquer

dano deve ser indenizado, independente do elemento culpa, pelo

simples fato de ser desenvolvida uma atividade, seria, definitivamente

,onerar os que praticam atividades produtivas regularmente, e

consequentemente atravancar o desenvolvimento.”14

Em se tratando de uso indevido e desautorizado de marcas,

provado o simples uso desta (seja pela sua exposição em qualquer veículo

informativo, seja pelo assinalamento de produtos), instituído está o dever de

indenizar, tanto patrimonialmente (este, principalmente, fulcrado nos lucros

cessantes) como pelo dano moral; sendo, via de regra, forte e presente a

presunção de dano, esta com relação ao dano patrimonial baseada mormente

nos royalties não recebidos pelo titular da marca, e com relação ao dano moral

(mormente pela diluição da marca, que afeta também o nome e o conceito do

titular), nos novos preceitos e concepções que surgiram sobre este dano nos

últimos anos.

Somente assim, adotando como regra a presunção de dano, ter-

se-á uma lei realmente eficaz com relação à proteção aos direitos da

propriedade intelectual, posto que as novas orientações jurisprudenciais

contribuirão para a prevenção e repressão ao uso indevido e desautorizado,

bem como imprudente de marcas de terceiros, devidamente registradas no

Instituto Nacional da Propriedade Industrial, já que a condenação do agente ao

pagamento de certa importância em dinheiro, pelo simples uso indevido da

marca, além de puni-lo o desestimulará (e também a outros que fiquem

sabedores desta nova direção jurisprudencial) da prática futura de atos

semelhantes.

O fortalecimento da teoria da presunção de dano pelo simples uso

indevido da marca e o crescimento de sua aplicação pelos julgadores terá

ainda um fundamental caráter educativo dentro da sociedade nacional,

principalmente, no que tange à importância em se registrar uma marca,

verificar a viabilidade em usá-la antes de colocá-la no mercado, em respeitar a

marca de terceiros, entre outros tanto fatores pertinentes ao registro de marca,

14 NALINI José Renato.p.115. Apud. Érica Brandini Barbagalo. Aspectos da Resp.Civil.

Page 34: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

34

o que seria, e será, extremamente benéfico para termos um desenvolvimento

ainda maior da indústria e comércio, respaldada em uma Lei de Propriedade

Industrial eficaz, conhecida e sobretudo respeitada.

E é com o fortalecimento da jurisprudência baseada na presunção

de dano (sem se afastar obviamente dos princípios da razoabilidade e da

proporcionalidade), em casos de violação de marcas por exemplo, que os

Tribunais contribuirão, de forma significativa, para a diminuição dos casos de

pirataria e falsificação, que continuam a crescer em virtude da certeza da

impunidade e não-responsabilização, ou seja, não aplicação eficaz da lei que

coíba a prática de atos deste tipo.

E ainda, terá papel decisivo para a consolidação de uma atitude

mais dirigente, cautelosa, prudente e honesta do empresariado, comerciantes

e aqueles que não se encontram submetidos ao regime jurídico-empresarial,

no que tange à proteção dos direitos marcários, já que estarão cientes da não

condescendência dos Tribunais com atos que infrinjam marca registrada de

outrem.15

4.2- MARCO CIVIL DA INTERNET

Como o tema do presente estudo engloba a internet, faz-se

necessário um breve apontamento a respeito de um assunto que vem

chamando a atenção, não só no judiciário e legislativo, mas também na

sociedade como um todo, é o Marco Civil da Internet.

Em discussão a pelo menos 4 anos, finalmente entrou em vigor a

Lei 12.965/2014, que estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para

uso da internet no Brasil. Seu texto é visto como pioneiro no mundo, por

abordar tais questões, alguns estudiosos afirmam que o projeto ganhou

bastante força após a descoberta das práticas de espionagem utilizadas pelo

governo Norte Americano contra o Brasil e outros países. Teve apoio por meio

15 Disponívem em: http://jus.com.br. Acesso em 19/06/2014.

Page 35: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

35

de audiências públicas em todo o Brasil e recebeu sugestões de diversas

plataformas, como Twitter e o portal e-Democracia.

Tim Berners Lee, conhecido como o “pai da internet”, afirma que:

“O centro da questão no Brasil é que a neutralidade é importante e o

país está numa posição de liderança, partindo na direção certa,

levando em consideração os direitos humanos de quem acessa e se

comunica pela internet”.

Espero que ..., o Brasil solidifique sua orgulhosa reputação como

um líder mundial na democracia e no progresso social, ajudando

inaugurar uma nova era mundial– onde os direitos dos cidadãos em

todos os países ao redor do globo sejam protegidos por leis digitais de

direitos”.16

Apesar de todos os elogios, a Lei está sendo alvo de divergências

políticas e de opinião, o grande receio é que seja criada a censura à liberdade

que existe e sempre existiu na utilização da rede, dando controle em excesso

ao governo e possibilitando atos discricionários de privação de liberdade por

parte deste.

O Brasil é um dos poucos países do mundo a estabelecer a

neutralidade da rede como regra. Na lei podemos encontrar a proibição de que

provedores de internet discriminem certos serviços em detrimento de outros.

Assim, há proteção ao usuário de ter sua velocidade de conexão diminuída

baseada em interesses econômicos. As empresas não poderão, então,

diminuir a velocidade da conexão para serviços de voz por IP para dificultar o

uso de Skype ou reduzir a banda de um produto de uma empresa concorrente,

por exemplo. A neutralidade da rede é regra. Por este motivo, caso algum

provedor discrimine o tráfego, terá de se explicar.

A lei prevê, no entanto, algumas exceções em que pode haver

discriminação. Há previsão de que os requisitos técnicos para estabelecer

quais são essas exceções sejam determinadas por decreto presidencial. Essas

16 Disponível em: http://terramagazine.terra.com.br. Acesso em: 15 de jun. de 2014.

Page 36: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

36

exceções não foram determinadas no projeto do Marco Civil, pois o projeto é

um marco geral sobre a internet, e não entra em questões específicas de cada

uma das áreas das quais o texto trata.

No que tange a guarda de registro, o Marco Civil da Internet obriga

que os registros de conexão dos usuários devem ser guardados pelos

provedores de acesso pelo período de um ano, sob total sigilo e em ambiente

seguro. Tais informações dizem respeito apenas ao IP, data e horas inicial e

final da conexão. O texto ainda faculta aos provedores a guarda de registros

de acesso a aplicações de Internet - que ligam o IP ao uso de aplicações da

internet – por seis meses.

A lei também prevê que a guarda de registros seja feita de

forma anônima, ou seja, os provedores poderão guardar o IP, nunca

informações sobre o usuário. A disponibilização desses dados, segundo o

texto, só poderá ser feita mediante ordem judicial.

O documento ainda fixa princípios de privacidade sobre os

dados que o usuário fornece aos provedores. Na internet, os dados hoje são

coletados, tratados e vendidos quase que instantaneamente. A lei coloca como

direito dos usuários que suas informações não podem ser usadas para um fim

diferente daquele para que foram fornecidas, conforme estabelece a política de

privacidade do serviço.

A respeito da retirada de conteúdo e responsabilidades, o Marco Civil

estabelece ainda, como regra, que um conteúdo só pode ser retirado do ar

após uma ordem judicial, e que o provedor não pode ser responsabilizado por

conteúdo ofensivo postado em seu serviço pelos usuários.

Com isso, o projeto pretende evitar a censura na internet, para se

provar que um conteúdo é ofensivo, o responsável deve ter o direito ao

contraditório na Justiça.17

O texto, no entanto, prevê exceções. Um conteúdo pode ser

retirado do ar sem ordem judicial desde que infrinja alguma matéria penal,

como por exemplo,: pedofilia, racismo ou violência. Isso evita que um material

17

NALINI, José Renato. Op.cit. pp.121-124.

Page 37: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

37

que possa causar riscos a algum usuário fique no ar enquanto aguarda decisão

da Justiça.

O que se pretende com isso, é que a internet ganhe mais

segurança jurídica na retirada de conteúdo. A regra é que os conteúdos têm

que continuar funcionando, a não ser que firam a lei.

Apesar de algumas críticas, a sociedade encara tal lei como um

avanço na área tecnológica e jurídica, pois passa ao usuário uma determinada

segurança e mostra que o Brasil está tentando acompanhar todas essas

mudanças trazidas com a era digital. 18

18 Disponível em : http://tecnologia.terra.com.br/marco-civil. Acesso em: 15 de jun. de 2014.

Page 38: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

38

5- CONCLUSÃO

O reconhecimento da autoria é, sem dúvida, um direito inerente ao

criador da obra intelectual. Na obra digital, porém, a autoria pode se apresentar

de forma diluída, pelo fato de ser aberta à interatividade e se transformar nas

mãos de diversas pessoas. Por essa razão, muitas vezes fica difícil identificar o

verdadeiro autor da obra digital. Isso resta evidente se considerarmos as

diversas "recombinações" feitas por artistas multimídia sobre obras de terceiros

protegidas por direitos autorais, criando sempre uma obra nova,

completamente diferente das obras utilizadas na sua composição.

A grande questão que se coloca ao direito de autor diz respeito aos

novos valores relativos ao processo de criação da obra digital. A sociedade

deverá decidir entre permitir determinadas formas de utilização e

transformação de obras criadas por terceiros com base nos princípios

estabelecidos pela própria tecnologia digital ou proibir todas essas novas

formas de criação sem a autorização dos respectivos autores.

A internet nasceu – e cresceu – como uma terra sem leis, muito

provavelmente porque ninguém jamais se deu conta de seu poder e vastas

possibilidades. Ela facilitou o compartilhamento de conteúdo, impulsionou a

democracia, possibilitou o roubo de dados sigilosos, criou os cibercriminosos e

logo plantou uma pequena dúvida na cabeça de cada um de nós: o que é certo

e o que é errado no ciberespaço?

Como julgar o que devemos e o que não devemos fazer nele? Ele

deve ser um local livre – possibilitando a proliferação de dados tanto benéficos

como maléficos – ou deve ser regido com um conjunto de leis assim como o

espaço físico?

A resposta depende da opinião e moral de cada usuário da rede

mundial de computadores. Mas uma coisa é certa: crescendo de forma

avassaladora, a web tem de ser alvo de regulamentação.

Page 39: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

39

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

BARBOSA,Claudio R. Propriedade Intelectual. Introdução à propriedade

Intelectual como Informação. Rio de Janeiro: Elsevier,2008.

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade Mecun: Saraiva, 2014.

NALINI, José Renato. Propriedade Intelectual. São Paulo: Revista dos

Tribunais, 2013.

RAMOS, Luiz Santa Cruz. Direito Empresarial Esquematizado. São Paulo:

Método, 2013.

Disponível em: http://tecnologia.terra.com.br/marco-civil/-11/06/2014. Acesso em: 11 Jun.2014 Disponível em: http://www.portaleducacao.com.br/educacao/artigos/43675/comportamento-empresarial-privacidade-na-era-digital-e-propriedade-intelectual#ixzz2ueidACI6. Acesso em: 15 Jun.2014 Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/editorias/internacional/2013/12/18/ONU-APROVA-PROJETO-SOBRE-PROTECAO-DA-PRIVACIDADE-NA-ERA-DIGITAL.htm#ixzz2uejfTEkL. Acesso em: 15 Jun.2014 Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=2870.Acesso em: 15 Jun.2014 Disponível em: http://www.jurua.com.br/bv/conteudo.asp?id=22407#proxima. Acesso em: 15 Jun.2014

Page 40: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

40

Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/propriedade_intelectual_na_era_da_internet. Acesso em: 15 Jun.2014 Disponível em: http://philipemcardoso.jusbrasil.com.br/artigos/114622156/entenda-o-que-e-o-marco-civil-da-internet-e-quais-mudancas-trara-para-os-usuarios?ref=home- Acesso em: 16 Jun.2014 Disponível em: http://terramagazine.terra.com.br/blogterramagazine/blog/2014/03/24/criador-da-web-volta-a-apoiar-aprovacao-do-marco-civil-da-internet-no-brasil/ Acesso em: 16 Jun.2014 Disponível em: http://jus.com.br/artigos/3534/a-presuncao-de-dano-em-casos-de-uso-indevido-de-marca#ixzz34jif4mg1 Acesso em: 16 Jun.2014

Page 41: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

41

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

ORIGENS HISTÓRICAS DA PROPRIEDADE

INTELECTUAL 9

1.1-PERÍODO ANTIGO 9

1.2- PERÍODO MERCANTILISTA 11

1.3-PERÍODO INDUSTRIAL 13

1.4-PERÍODO GLOBALIZADO 14

CAPÍTULO II

DIFERENÇA ENTRE PROPRIEDADE INTELECTUAL E PROPRIEDADE INDUSTRIAL 17

2.1-DIREITOS AUTORAIS 17

2.2-DIREITO DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL 17

2.2.1- MARCAS 18

2.2.2-PATENTES E MODELO DE UTILIDADE 19

2.2.3 DESENHO INDUSTRIAL 19

Page 42: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL · PROTECÃO DA PROPRIEDADE INTELECTUAL NA ERA DIGITAL Por: Michele Netto Stellet Orientador Prof. Willian Rocha Rio de Janeiro 2014

42

CAPÍTULO III

O DIREITO AUTORAL E A EXPANSÃO DIGITAL 20

3.1-QUASE TUDO SE COPIA E NADA MAIS SE CRIA 21

CAPÍTULO IV

MEIOS DE PROTEÇÃO À PROPRIEDADE INTELECTUAL

NA ERA DIGITAL 25

4.1-RESPONSABILIDADE CIVIL POR VIOLAÇÃO

À PROPRIEDADE INTELECTUAL 28

4.2-MARCO CIVIL DA INTERNET 34

CONCLUSÃO 38

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 39

ÍNDICE 41