documento protegido pela lei de direito autoral · os quais foram resumidos e comentados nas...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ASPECTOS DESTACADOS DA PUBLICIDADE
NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Por: André Azevedo de Almeida
Orientador
Prof. William Rocha
Rio de Janeiro
2014
DOCUMENTO PROTEGID
O PELA
LEI D
E DIR
EITO AUTORAL
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
ASPECTOS DESTACADOS DA PUBLICIDADE
NO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do curso de Pós-Graduação "Lato Sensu"
em Direito do Consumidor e Responsabilidade Civil.
Por: André Azevedo de Almeida.
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AGRADECIMENTOS
Aos mestres e amigos, pela compreensão
e carinho em todo esse percurso.
4
DEDICATÓRIA
Dedico à minha mãe e à minha esposa.
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RESUMO
O CDC – Código de Defesa do Consumidor constitui atualmente a norma mais eficaz para colocar em prática os princípios estabelecidos na Constituição que garantem aos consumidores os direitos à sua vida, saúde e segurança. Neste trabalho de pesquisa bibliográfica são analisados esses direitos, com destaque para as questões envolvendo os casos que todos os dias chegam aos nossos tribunais relatando situações em que esses direitos são infringidos por fabricantes, comerciantes e prestadores de serviços inescrupulosos que, por omissão ou por atos utilizam-se de propaganda enganosa para ludibriar a boa-fé dos compradores ou contratados, causando danos a essas pessoas.
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METODOLOGIA
Neste trabalho de pesquisa foi empregada a metodologia de revisão
bibliográfica. Para sua realização, artigos de livros e periódicos publicados
impressos ou divulgados pela internet foram escolhidos e posteriormente resumidos
e comentados.
Quanto às finalidades, a pesquisa é de descritiva e explicativa. A pesquisa
descritiva é aquela que, conforme lecionam Larosa e Ayres (2008), tem como
objetivo "observar e registrar fatos do cotidiano, perfis de grupos, opiniões, dogmas
etc." (p. 35). A pesquisa é explicativa porque pretende "explicar as causas de um
fenômeno utilizando a observação ou o experimento" (p. 36).
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 10
CAPÍTULO II
PUBLICIDADE ABUSIVA E ENGANOSA 22
CAPÍTULO III
JURISPRUDÊNCIA 33
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
8
INTRODUÇÃO
O tema deste trabalho científico é: "A publicidade ilícita e seus aspectos
persuasivos".
O problema que o trabalho pretende focalizar pode ser resumido na seguinte
pergunta norteadora: Qual a forma de controle adotada pelo ordenamento jurídico
brasileiro contra a publicidade ilícita, e como pode ela ser aperfeiçoada?
De fato, podemos nos basear no questionamento feito por Sant´Anna (2009),
quando leciona que
A publicidade é uma das maiores forças da atualidade. Para
seus defensores, a propaganda vende, educa e estimula o
progresso; para muitos dos críticos, induz as pessoas a
consumirem o que não necessitam. E para nós? E para a
nossa realidade brasileira? E para a sua realidade regional?
Como a propaganda pode realmente desempenhar a sua
vocação de desenvolvimento social e econômico? Essas são
as perguntas que todo profissional consciente sempre se faz
cotidianamente para atuar com coerência e ética (p. 62).
A Justificativa para a escolha do tema se baseia na grande quantidade de
processos que chegam às barras dos tribunais para serem resolvidas, e que
merecem um maior entendimento por parte dos acadêmicos, futuros profissionais,
para que possam desenvolver com eficiência e a devida rapidez os trabalhos que
lhes são confiados em sua carreira, pelo público, visando ao estabelecimento da
Justiça e do Direito. O conhecimento da legislação pertinente a seus direitos amplia
a eficácia e a eficiência das leis, desincentivando, cerceando e punindo a prática de
atos ilícitos no terreno da publicidade e propaganda.
O trabalho tem como Objetivo geral identificar as formas de
responsabilização a que estão sujeitos os que incorrerem na prática da publicidade
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enganosa ou abusiva. Os objetivos específicos são: a) Relacionar os princípios
orientadores da defesa do consumidor quanto às formas ilícitas de publicidade,
contidos no CDC; b) Apontar o que vem sendo sugerido na literatura acadêmica
pertinente, para aperfeiçoar o controle e a responsabilização dos infratores do CDC.
Tomou-se a Hipótese de que seja necessário e adequado trazer mais luz
a um assunto tão controverso, para que sejam desafogados os serviços dos
profissionais do Direito, promovendo uma Justiça mais célere e abalizada aos
cidadãos querelantes.
O estudo só abrange a legislação brasileira, conforme a opinião de
autores nacionais expressa em trabalhos publicados nos últimos dez anos em mídia
especializada em estudos jurídicos em nível acadêmico.
Foram pesquisados livros em bibliotecas públicas e artigos na rede virtual,
os quais foram resumidos e comentados nas páginas que se seguem.
Esse trabalho não pretende de forma alguma esgotar o assunto, o que
aliás seria mesmo impossível, mas sim incentivar a realização de outros trabalhos
que abordem a mesma temática de forma mais profunda, por outros estudiosos.
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CAPÍTULO I
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR
Neste capítulo será estudado o Código de Defesa do Consumidor, desde
suas origens até os dias atuais.
1.1 Os Direitos do Consumidor
1.1.1 Direito à vida, saúde e segurança
Os direitos básicos do consumidor encontram-se relacionados no art. 6º do
CDC, o que torna este item um verdadeiro índice do Código, se considerarmos,
como é de consenso, que estas disposições são a base de todos os preceitos que
deles se derivam, formando o corpo do CDC (SCHWARTZ, 2013).
Estes três elementos de direito - à vida, à saúde e à segurança – em conjunto
com os demais direitos sociais previstos na Constituição Federal formam o assim
chamado "piso vital mínimo", princípio elementar da dignidade humana, que se
ergue como um dos pilares máximos da República Federativa do Brasil, como reza
já em seu art. 1º a Carta Magna.
Este Código, em última análise, veio para atender a este cânone
constitucional. É inegável o fato de que vivemos em uma sociedade que impõe
riscos a seus participantes. À produção altamente massificada veio juntar-se o
assombroso avanço da tecnologia, trazendo também a ideia de que muitos produtos
e serviços são dotados potencialmente de características que podem se tornar seu
uso perigoso ou prejudicial a seus consumidores (SCHWARTZ, 2013).
Os próprios consumidores, com sua procura cada vez mais intensa por
novidades, bem como a competição exacerbada entre fornecedores, em todos os
países do mundo, tem reduzido a dias o tempo de lançamento entre um modelo e
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outro, reduzindo assim o tempo de estudo e pesquisas quanto à funcionalidade dos
produtos, que idealmente seria bem superior ao que é empregado atualmente.
Isto vem aumentar muito as possibilidades de colocação de produtos viciados
no mercado, e, por esse motivo, os sistemas de recall são acionados com cada vez
maior frequência, com os avisos de chamamento dos produtos de volta à linha de
montagem para correção de eventuais falhas localizadas pelos clientes ou
constatadas pelos próprios fabricantes ou fornecedores, nos atendimentos em
garantia.
Isso eleva os direitos mencionados anteriormente, constantes do inciso I do
art. 6º, ao nível de elementos mais importantes e básicos do CDe, uma vez que
visam a segurança e o cuidado dos fornecedores para com os consumidores, ao
serem postos seus produtos e serviços à venda.
O CDC é, portanto, o principal sistema de que os consumidores dispõem para
fazerem valer seus direitos de dispor de qualidade nos produtos e serviços
adquiridos, garantindo aos consumidores o direito de proteção gerado pelo princípio
da confiança, em seu art. 4º, V (SCHWARTZ, 2013).
Esta exposição do problema tem como axioma que não existe produto
totalmente seguro. Alguns produtos pode-se dizer que são inseguros pela sua
própria natureza, como uma faca, por exemplo. As normas do direito, neste caso, só
se aplicam nas situações em que a insegurança vai além do patamar da
normalidade e da previsibilidade do risco, em relação ao consumidor.
O conceito de segurança no direito do consumidor foi visto por Benjamin
(2005), pela observação do direito francês, chegando este legislador à noção de que
os produtos e serviços, quanto à sua segurança, podem ser divididos em grupos
segundo sejam de produtos ou serviços com: a) periculosidade inerente; b)
periculosidade adquirida; e c) periculosidade exagerada, examinados a seguir.
Periculosidade inerente: certos bens de consumo têm risco inerente, porém
normal e previsível para o consumidor, não sendo motivo de surpresa ou desagrado.
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Por exemplo: objetos perfuro-cortantes, inseticidas, desinfetantes etc. Não podem
portanto ser considerados defeituosos, desde que tragam a devida informação dos
riscos que podem representar quando utilizados em excesso ou de forma indevida
(SCHWARTZ, 2013).
Periculosidade adquirida: são aqueles produtos que se tornam perigosos
devido a algum "defeito" que surge após sua aquisição. Sendo o risco imprevisível,
obviamente é impossível que qualquer advertência prévia seja feita pelo fornecedor
ao cliente. As modalidades de periculosidade adquirida são três: 1) defeitos de
fabricação (exemplo: veículo que saí de fábrica com fissuras nas pastilhas de freio,
ou que quebra com pouco tempo de uso); 2) defeitos de concepção ou de projeto
(por exemplo: carrinho de bebê que ofereça risco de esmagamento do dedo da
criança); e 3) defeito de comercialização - informação, instrução e conservação -
(exemplo: produto alimentício que não informa conter glúten em sua fórmula,
constituindo um risco às pessoas portadoras de doença celíaca).
Periculosidade exagerada: neste caso, a periculosidade é inerente, porém a
simples informação agregada não reduz os riscos, geralmente porque o potencial de
risco é tão grande que não adianta saber da gravidade da situação tendente a que
os acidentes ocorram. Produtos com tais características não têm autorização para
serem comercializados, vez que são considerados defeituosos por origem. Exemplo:
brinquedo com grande possibilidade de sufocar uma criança. Nesse caso, os riscos
não compensam os benefícios, sendo proibida sua venda (SCHWARTZ, 2013).
Denominam-se produtos com periculosidade adquirida aqueles com
periculosidade exagerada, quando indevidamente comercializados. Levam em si o
vício de qualidade por inadequação, bem como vício de qualidade por insegurança,
sendo alvo de responsabilização civil, quer pelo vício, ou pelo fato do produto ou
serviço ser comercializado.
1.1.2 Direito à educação para o consumo (art. 62, inciso 11, 1ª parte)
Reiterando seu art. 4º, o Código, no art. 62 reforça a necessidade de
empoderamento intelectual do consumidor, o que pode ser obtido através do
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incentivo à educação para o consumo, de forma a tentar reduzir a diferença entre o
comerciante que tem todas as informações acerca dos produtos que lança no
mercado, e o consumidor que os adquire, naturalmente vulnerável e desprovido de
um juízo crítico moldado quanto à oportunidade e conveniência de uma dada
compra ou contratação de serviço.
É considerado como dever do Estado, das entidades públicas e civis de
defesa do consumidor, e dos próprios fornecedores, educar e bem informar o
consumidor no tocante a seus direitos e deveres, para que o mesmo possa
desenvolver um senso crítico mínimo em relação aos produtos, para que possa
manifestar sua vontade de forma consciente e esclarecida (SCHWARTZ, 2013).
Estando os consumidores conscientizados quanto a seus direitos e dotados
dos devidos suportes oficiais (Defensoria Pública, Ministério Público, Procon etc.) e
civis (associações), eles poderão exigir e participar do maior aperfeiçoamento do
mercado, uma vez que, com essa pressão benfazeja, os produtos e serviços
oferecidos adquiram qualidade e eficiência cada vez maior.
Para garantir ao consumidor seu direito à educação, que envolve os aspectos
formal e informal, deve o Estado promover a educação formal, ou seja, prover nas
próprias escolas públicas, e impor às instituições de ensino privadas, a implantação
de disciplinas relacionadas à educação para o consumo, na preparação dos alunos
para o exercício da cidadania, na vida prática.
As Nações Unidas, em 1999, ampliaram suas diretrizes para proteção do
consumidor, estabelecias através da resolução 39/248, no seguinte teor:
(...) Os governos devem formular ou estimular a formulação de
programas gerais de educação e informação do consumidor,
incluída a informação sobre os efeitos no meio ambiente das
decisões e o comportamento dos consumidores e das
consequências, incluídos custos e benefícios, que possam ter a
modificação das modalidades de consumo, tendo em conta as
tradições culturais do povo de que se trate. O objetivo de tais
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programas deve consistir em capacitar os consumidores para
que saibam discernir, possam escolher com fundamento os
bens e serviços, e tenham consciência de seus direitos e
obrigações. Ao formular tais programas, deve prestar-se
especial atenção às necessidades dos consumidores que se
encontram em situação desvantajosa, tanto nas zonas rurais
como urbanas, incluídos os consumidores de baixos salários e
aqueles quase ou totalmente analfabetos. Os grupos de
consumidores, as empresas e outras organizações pertinentes
da sociedade civil devem participar nesse trabalho de
educação.
A educação informal é de responsabilidade de todos os órgãos oficiais e
associações civis de proteção ao consumidor e dos próprios fornecedores, que
devem dar destaque à disseminação de informações, contribuindo, assim, para
maior equilíbrio e harmonia nas relações de consumo (SCHWARTZ, 2013).
1.1.3 Direito à liberdade de escolha e igualdade nas contratações (art. 6º,
inciso II, 2ª parte)
O inciso II abarca em sua segunda parte o direito à livre escolha e à
igualdade nas contratações. Para se adaptar às novas técnicas de vendas que
visam como meta única vender a qualquer custo, por um marketing agressivo, o
Código cuidou de garantir ao consumidor uma ferramenta para utilizar sua
autonomia racional, exercendo assim um consumo consciente, ou seja, em
condições de escolher de forma livre e esclarecida o produto ou serviço que melhor
se ajuste às suas necessidades ou desejos (SCHWARTZ, 2013).
1.1.4 Direito à informação (art. 6º, inciso III)
O direito à informação nasce do princípio da transparência, citado no art.
4º do CDC, e se destaca como um dos direitos mais importantes deste Código, já
que através desse direito são concretizados diversos outros, tais como a prevenção
de danos e a adequada prestação dos serviços.
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1.1.5 Direito à proteção contra a publicidade enganosa e abusiva,
métodos comerciais coercitivos ou desleais, bem como contra práticas e cláusulas
abusivas (art. 6º, inciso IV)
Este instrumento nesse passo proíbe o abuso e impõe transparência e
boa-fé nos métodos comerciais, na publicidade e nos contratos, ao considerar que a
informação correta está diretamente ligada à lealdade, ao respeito no tratamento
entre parceiros contratuais que na nova teoria contratual não podem mais serem
vistos como antagonistas, mas como parceiros em negócios (SCHWARTZ, 2013).
1.1.6 Direito à modificação e revisão das cláusulas contratuais (art. 6º,
inciso V)
Estes dois instrumentos permitem ao Estado/juiz se imiscuir na relação
contratual, dentro do objetivo maior de evitar a prevalência dos interesses da parte
mais forte sobre a mais vulnerável (o consumidor).
1.1.7 Direito à prevenção e reparação de danos materiais e morais (art.
6º, inciso VI)
Por ser de fundamental importância no arcabouço do Código de Defesa
do Consumidor, a prevenção de danos foi erigida como direito básico. Por atuar
preventivamente, esse direito dá ao consumidor não apenas a garantia do respeito à
sua dignidade como pessoa humana - em uma visão mais amplo -, mas também a
promoção do equilíbrio e da harmonia do sistema de justiça, visando acelerar o
funcionamento desta, cujos tribunais se encontram demasiadamente assoberbados
com os conflitos que lhes são levados dia após dia, através de ações repressivas,
com base nos arts. 12 a 20 do CDC (SCHWARTZ, 2013).
1.1.8 Direito de acesso aos órgãos judiciários e administrativos, com
proteção jurídica, administrativa e técnica aos necessitados – Protagonismo da
Defensoria Pública (art. 6º, inciso VII)
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O inciso VII assegura direito de acesso à justiça e aos órgãos
administrativos, sem exceção, inclusive às agências que controlam os serviços
públicos concedidos e aos órgãos de defesa do consumidor, sempre no objetivo de
realizar a prevenção e reparação de danos, individuais e coletivos, aos
consumidores.
1.1.9 Direito à facilitação de defesa dos direitos e à inversão do ônus da
prova (art. 6º, inciso VIII)
Este dispositivo é mais um, entre muitos existentes no CDC, que visa
estabelecer a igualdade substancial entre as partes. Assim sendo, não pode ser
arguido que a disposição fere o princípio da isonomia (art. 5º, CF/88), uma vez que
se dá exatamente o contrário: ela busca tratar os desiguais de forma desigual,
reduzindo a lacuna que existe naturalmente entre as partes envolvidas em uma
relação de consumo (SCHWARTZ, 2013).
1.1.10. Direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos em
geral (inciso X)
Não se atendo à discussão de quais serviços públicos estariam
submetidos às regras do CDC, neste momento cabe apenas informar que o
consumidor tem o direito subjetivo público de exigir serviços com qualidade,
segurança e adequação, segundo o que vem determinado no art. 22 do Código de
Defesa do Consumidor (SCHWARTZ, 2013).
1.2 Origem do CDC
O CDC nasceu da necessidade de uma legislação que viesse a coibir os
abusos praticados pelas empresas em termos de divulgação de seus produtos,
justificado pelo aumento da concorrência, aliados aos produtores de artigos
publicitários, quando induzem o cidadão a práticas de consumo desenfreadas e sem
paralelo com as reais necessidades do consumidor. Conforme denunciou Barbosa
(2008):
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A criação de uma massa de consumidores por meio da
incessante e avassaladora indução ao consumo acarreta a
necessidade de um maior controle por parte das legislações
especiais, notadamente no que se refere à oferta, uma vez que
essa aparente "democratização" do consumo significou, em
última análise, que passaram a ser potenciais consumidores
todas as pessoas, estejam elas capacitadas ou não, para agir
com discernimento no mercado, bastando que, para isso,
liguem a TV, o rádio, leiam um jornal ou revista, observem um
outdoor, recebam a visita de um representante etc. (p. 67).
O Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90) é o único diploma legal
que tem origem direta da Constituição Federal, o que pode ser confirmado pela
análise dos dispositivos constitucionais respectivos, o que será feito a seguir.
O art. 48 das Disposições Finais e Transitórias da Constituição Federal
estabeleceu o prazo de 120 dias para que fosse elaborado o CDC; o art. 5º, inciso
XXXII, da Carta Magna, por sua vez, ergueu uma ordem inderrogável, por ser direito
fundamental, ou seja, uma cláusula pétrea, rezando "O Estado promoverá, na forma
da lei, a defesa do consumidor". A expressão utilizada pelo legislador: "O Estado",
de forma genérica, leva à conclusão de que "o dever de defesa e proteção está
direcionado a todos os Poderes Constituídos da República, seja o Judiciário, o
Executivo ou o Legislativo" (SCHWARTZ, 2013).
1.3 Os princípios que inspiram a doutrina
1.3.1 Princípio da vulnerabilidade (art. 4º, inciso I, CDC)
O princípio da vulnerabilidade pode ser desdobrado, segundo Schwartz
(2013) em quatro itens: vulnerabilidade técnica, informacional, jurídica (ou científica)
e fática (ou econômica).
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Vulnerabilidade técnica configura "a falta de conhecimentos específicos do
consumidor acerta do produto ou serviço adquirido". É agravada, atualmente, pelos
artifícios criados pela sofisticação de que os produtos são revestidos.
A vulnerabilidade informacional coloca o consumidor em flagrante estado de
desigualdade frente ao fornecedor do produto ou serviço. Deve ser compensada
pelo esforço da empresa para munir o consumidor de todas as informações de que
ele precisa para utilizar o produto.
A vulnerabilidade jurídica, também conhecida como vulnerabilidade científica,
"denota falta de conhecimentos jurídicos específicos e de outros pertinentes à
relação de consumo" (SCHWARTZ, 2013) por parte do comprador. O esforço para
compensá-la é exibido pelas normas que obrigam o vendedor a informar o
consumidor através de bulas legíveis e de fácil compreensão por leigos, no caso de
remédios, e de manuais na língua local, no caso de produtos importados.
A vulnerabilidade fática, ou socioeconômica "é decorrente do grande poderio
econômico do fornecedor, que, de um modo ou de outro, sempre se coloca em
posição de superioridade" (SCHWARTZ, 2013, p. 54). Pode ser também gerada pela
desproporção dos conhecimentos intelectuais das partes envolvidas no negócio,
geralmente em detrimento do consumidor.
1.3.2 Princípio da transparência
Ainda dentro do campo da informação, esse princípio exige que o fornecedor
dê ao consumidor todas as condições para que ele "se manifeste livre e
conscientemente acerca do que pretende contratar" (SCHWARTZ, 2013, p. 55).
1.3.3 Princípio do dever governamental de proteção
Seu texto faz parte do art. 4º, inciso II do CDC. Considerando-se a
vulnerabilidade presumida do consumidor, este tem que contar com a proteção
efetiva por parte dos três Poderes Constituídos do Estado, a saber: Executivo,
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Legislativo e Judiciário, para que lhe sejam garantidos "o equilíbrio e a harmonia nas
relações de consumo" (SCHWARTZ, 2013, p. 57).
1.3.4 Princípio da harmonia de interesses
Para Schwartz (2013), "a harmonização do mercado de consumo significa a
realização dos princípios da ordem econômica, estatuídos no art. 170 da
Constituição Federal", visando que a geração de riquezas seja direcionada ao bem
comum, ou seja, venha a beneficiar toda a sociedade.
1.3.5 Princípio da garantia de adequação dos produtos e serviços
Segundo este princípio, os produtos e serviços postos à venda devem
respeitar padrões de qualidade, possibilitando ao consumidor manter seu patrimônio,
bem como sua integridade física e psíquica (SCHWARTZ, 2013).
1.3.6 Princípio do equilíbrio nas relações de consumo (art. 4º, III)
Foi entendido por Marques (2002) da seguinte forma:
O princípio da equidade contratual significa o reconhecimento
da necessidade, da sociedade de consumo de massa, de
restabelecer um patamar mínimo de equilíbrio de direitos e
deveres nos contratos, intervindo o Estado e forma a
compensar o desequilíbrio fático existente entre aquele que
pré-redige unilateralmente o contrato e aquele que
simplesmente adere, submetido à vontade do parceiro
contratual mais forte (p. 1065).
Devem ser examinados à luz deste princípio os contratos em que, em
caracteres diminutos, são colocadas cláusulas que não combinam com as
necessidades e as vontades dos consumidores, como inclusão de itens
desnecessários, seguros, outros produtos, fidelidade etc.
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1.3.7 Princípio da boa-fé objetiva
Trata-se na verdade de um dos princípios mais importantes embutidos no
direito do consumidor, que deve refletir-se em todos os demais princípios, lançando
sobre eles o entendimento tácito da transparência e da confiança.
Segundo Larenz (1958), "o princípio da boa-fé significa que cada um deve
guardar fidelidade com a palavra dada e não frustrar a confiança ou abusar dela" (p.
142).
1.3.8 Princípio da confiança
Para Schwartz (2013), este princípio se baseia na ideia de que "as legítimas
expectativas criadas pelos fornecedores nos consumidores não podem ser
negligenciadas" (p. 86).
No cumprimento desse princípio, o consumidor não pode colocar à venda ou
expor produtos inadequados, impróprios, deteriorados, defeituosos, sem qualidade
ou inseguros, principalmente se, com isso, eles atentarem contra a saúde e a
integridade do consumidor, ou significarem dano a seu patrimônio.
1.3.9 Princípio da educação e informação dos consumidores
Educar e informar o consumidor acerca de seus direitos e deveres é dever
não só do Estado, mas também das entidades públicas e civis de defesa do
consumidor. Em última análise, essa obrigação cabe também aos próprios
fornecedores, por estarem assim contribuindo para a perfeita harmonia que deve
existir nas relações de consumo.
1.3.10 Princípio do incentivo ao autocontrole de qualidade e mecanismos de
atendimento pelas empresas
Uma perfeita comunicação entre fornecedor e consumidor irá gerar o menor
número possível de conflitos e insatisfações, contribuindo para o bem estar geral.
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Isso pode ser feito através do aperfeiçoamento dos serviços de atendimento aos
consumidores, que devem representar a primeira instância a ser procurada pelo
cliente, em caso de queixa ou insatisfação, ficando a reclamação junto aos órgãos
de defesa do consumidor relegada para um devido segundo plano.
1.3.11 Princípio da coibição e repressão dos abusos no mercado
Esse princípio tem como seu principal incentivador e fiscalizador o CADE –
Conselho Administrativo de Defesa Econômica, que objetiva prevenir e reprimir
infrações atentatórias à ordem econômica. Visa esse órgão tutelar o mercado de
forma que o consumidor não venha a ser enganado "por utilização indevida por parte
de terceiros de marcas e patentes, bem como, não seja enganado através da
utilização de símbolos, cores ou embalagens parecidas", um artifício muito
empregado por concorrentes desleais, que causa imensos danos aos compradores
e aos órgãos públicos, com a produção de produtos "piratas" (SCHWARTZ, 2013).
1.3.12 Princípio da racionalização e melhoria dos serviços públicos
Segundo esse princípio, "o consumidor tem o direito subjetivo público de
exigir serviços com qualidade, segurança e adequação", como estabelece o art. 22
do CDC. Assim sendo, é dever do estado esforçar-se por aperfeiçoar a prestação
dos serviços públicos, tanto os prestados direta quanto indiretamente, mediante
entidades privadas através de concessão, permissão, autorização ou delegação
(SCHWARTZ, 2013).
1.3.13 Princípio do estudo das modificações do mercado
Esse princípio pretende que seja feita a atualização constante da legislação,
para acompanhar os avanços tecnológicos que são lançados quase que diariamente
no mercado. É o caso do comércio eletrônico, que vem tomando conta de uma boa
fatia do mercado em todos os segmentos de compras, fatalmente gerando muitas
dúvidas, desconfianças, queixas e reclamações quanto a problemas com os
produtos, principalmente quando pagos antecipadamente (SCHWARTZ, 2013).
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CAPÍTULO II
PUBLICIDADE ABUSIVA E ENGANOSA
O Capítulo a seguir apresenta alguns aspectos da Publicidade, a partir da
diferenciação entre publicidade e propaganda, como conceitos.
2.1 Publicidade e Propaganda (texto a ser transliterado)
O termo publicidade deriva do latim publicus, que significa tornar algo público,
seja um fato, uma ideia ou uma coisa (RAMOS, 2012).
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor não conceitua o termo
publicidade, apesar de tratá-lo, de forma específica, na Seção III do Capítulo V. Já a
doutrina o faz de forma variada, atribuindo-lhe, no entanto, enfoque conceitual.
Desse modo, a doutrinadora Cláudia Lima Marques conceitua a publicidade
como: “Publicidade é toda a informação ou comunicação difundida com o fim direto
ou indireto de promover junto aos consumidores a aquisição de um produto ou
serviço, qualquer que seja o local ou meio de comunicação utilizado”.
Dorothy Cohen, por sua vez conceitua a publicidade da seguinte maneira:
“(...) publicidade é uma atividade comercial controlada, que
utiliza técnicas criativas para desenhar comunicações
identificáveis e persuasivas dos meios de comunicação de
massa, a fim de desenvolver a demanda de um produto e criar
uma imagem da empresa em harmonia com a realização dos
gostos do consumidor e o desenvolvimento do bem-estar social
e econômico”.
Jacobina conceitua a publicidade comercial como aquela: “(...) realizada com
o objetivo de ofertar um bem ou serviço a consumo, através de um meio de
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comunicação capaz de atingir, ainda potencialmente, um número indeterminado de
pessoas e veiculada às expensas do fornecedor.”
O Código Brasileiro de Auto-Regulamentação Publicitária, aprovado pelo III
Congresso Brasileiro de Propaganda, realizado em São Paulo, em 1978, define
publicidade comercial, em seu art 8º, como: “toda atividade destinada a estimular o
consumo de bens e serviços, bem como promover instituições, conceitos e idéias”.
Diante dos conceitos expostos, podemos concluir que a publicidade:
a) torna conhecido um produto, um serviço ou uma empresa;
b) é operada claramente, sem ocultação do nome ou intenções do
anunciante;
c) tem o objetivo de estimular nos consumidores o desejo pela coisa
anunciada, ou criar prestígio ao anunciante;
d) utiliza os anúncios publicitários na forma de matérias pagas (RAMOS,
2012).
O Código de Defesa do Consumidor não obriga o fornecedor a anunciar seus
produtos ou serviços, entretanto, estabelece o dever de informar, conforme dispõe o
art. 31:
“A oferta e apresentação de produtos ou serviços devem
assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e
em língua portuguesa sobre suas características, qualidades,
quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e
origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que
apresentam à saúde e segurança dos consumidores.”
(BRASIL, 1990, p. 23).
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A publicidade não é um dever imposto ao fornecedor, mas um direito
exercitável à sua conta e risco. O uso da publicidade exige respeito aos princípios do
Código de Proteção e Defesa do Consumidor, observando-se o necessário
preenchimento de alguns requisitos legais.
O legislador não sanciona a carência da publicidade, mas sim a publicidade
que prejudica os consumidores. O Código não impõe nenhum dever de anunciar, a
priori, dirigido ao fornecedor. Há apenas duas exceções que são a posteriori: a)
quando o fornecedor toma conhecimento tardio dos riscos do produto ou serviço (art
10, § 1° e 2°); b) na hipótese de contrapropaganda (art 56, XII e 60 § 1°), que, como
se verá, será imposta como forma de diminuir os efeitos da prática anterior da
publicidade enganosa e abusiva (RAMOS, 2012).
2.2 Publicidade abusiva e enganosa
O Código de Defesa do Consumidor proíbe e conceitua a publicidade
enganosa, em seu art. 37, caput e § 1°: (RAMOS, 2012)
“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 1° É enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente
falsa, ou, por qualquer outro modo, mesmo por omissão, capaz
de induzir em erro o consumidor a respeito da natureza,
características, qualidade, quantidade, propriedades, origem,
preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços.
(RAMOS, 2012)”
O referido dispositivo legal protege o consumidor de qualquer informação ou
comunicação de caráter publicitário capaz de induzi-lo a erro quanto ao produto ou
serviço ofertado. A publicidade que infringe essa disposição legal contraria os
interesses de toda a coletividade e pode causar prejuízos a um número incalculável
de consumidores.
25
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor adotou um critério finalístico,
ao considerar publicidade enganosa a simples veiculação de anúncio publicitário,
que seja capaz de induzir o consumidor ao erro. Desse modo, leva-se em conta
apenas a potencialidade lesiva da publicidade, não sendo necessário que o
consumidor tenha sido efetivamente enganado. Trata-se de presunção juris et de
jure (não admite prova em contrário) de que os consumidores difusamente
considerados foram lesados (RAMOS, 2012).
Então, não é necessário que o consumidor chegue às últimas consequências
e adquira, de fato, o produto ou o serviço com base na publicidade enganosa. O erro
real é um mero exaurimento quando consumado, que só tem importância para
verificação do dever de indenizar o dano individual, mas é irrelevante para fins da
caracterização da enganosidade (RAMOS, 2012).
O legislador também não se preocupou com a intenção daquele que fez
veicular a mensagem publicitária. Quando uma publicidade enganosa é veiculada, o
anunciante é responsabilizado, sendo irrelevante se agiu de boa ou má-fé. Pune-se
o responsável, quer ele tenha tido ou não a intenção de prejudicar os consumidores.
O dolo e a culpa só têm destaque no tratamento penal do fenômeno.
A maior proteção oferecida aos consumidores tem o objetivo de contrapor-se
ao argumento de que o fornecedor não intencionava induzi-los ao erro,
impossibilitando eventuais ações para livrar o anunciante de sua responsabilidade.
Exige-se que a publicidade seja verdadeira, correta e pautada na
honestidade, a fim de que o consumidor possa fazer sua escolha de maneira
consciente.
No entanto, nem sempre as inverdades presentes nas mensagens
publicitárias as tornam enganosas, sendo necessário, para isso, que o seu conteúdo
tenha o efetivo potencial de induzir os consumidores ao erro, conforme o
entendimento expresso por Fabio Ulhoa Coelho, nos seguintes termos:
26
"A mera inserção de informações inverídicas, por si só, nada
tem de ilegal, uma vez que pode representar a lícita tentativa
de mobilizar a fantasia do espectador, com objetivos de
promover o consumo. Em outras palavras, para se caracterizar
a publicidade enganosa, não basta a veiculação de inverdades.
É necessário também que a informação inverídica seja, pelo
seu conteúdo, pela forma de sua apresentação, pelo contexto
em que se insere ou pelo público a que se dirige, capaz de
ludibriar as pessoas expostas a ela. Pode haver, portanto,
algum toque de fantasia (e de falsidade, por conseguinte) nas
peças publicitárias. Isso, no entanto, não representa agressão
ao direito dos espectadores à mensagem verdadeira, porque a
percepção do fantasioso afasta a possibilidade de qualquer
pretensão fundada na realidade dos fatos" (COELHO, 1994, p.
249).
A proteção contra a publicidade enganosa não alcança apenas o consumidor
medianamente informado, que tem capacidade para identificar anúncios de má fé. O
texto legal procurou defender também as pessoas comuns, desprovidas de
conhecimentos médios, sem um grau de instrução que lhes possibilite livrar-se das
falsas promessas publicitárias.
O Código de Proteção e Defesa do Consumidor proíbe a publicidade abusiva,
apresentando hipóteses que também servem de parâmetro para identificação de
outras mensagens publicitárias de caráter abusivo. O art. 37, § 2°, do CDC lista
algumas modalidades de publicidade abusiva.
“Art. 37. É proibida toda publicidade enganosa ou abusiva.
§ 2° É abusiva, dentre outras a publicidade discriminatória de
qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou
a superstição, se aproveite da deficiência de julgamento e
experiência da criança, desrespeita valores ambientais, ou que
seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de forma
27
prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança.” (BRASIL,
1990, p. 24, nota 7)
Da leitura do referido artigo podemos concluir que a publicidade abusiva é
aquela que se realiza com fins contrários à ordem pública, ao direito, à ética e à
moral. Ela procura aparentar obediência às normas tradicionais da comunicação
social, mas, sob a sua camuflagem, é realmente prejudicial aos interesses dos
consumidores e do meio social em que vivem.
A publicidade abusiva não se confunde com a publicidade enganosa. Na
primeira não há, necessariamente, uma inverdade e nem sempre o consumidor é
induzido ao cometimento de erro. Ela pode até ser verdadeira, mas seu conteúdo
afronta a moral, a ética e os bons costumes. Na publicidade enganosa, por outro
lado, o conteúdo do anúncio sempre contém inverdades ou alguma omissão que
induza o consumidor ao erro.
Outra diferença básica é que a publicidade enganosa geralmente causa
prejuízo econômico à coletividade de consumidores, diferentemente da publicidade
abusiva, que, apesar de causar algum mal ou constrangimento, não tem,
obrigatoriamente, relação com o produto ou serviço.
Uma publicidade pode ser, simultaneamente, enganosa e abusiva. Nessa
situação, o anúncio deve conter algum tipo de abusividade e o produto ou serviço
anunciado não corresponde ao que ele realmente é (enganosidade).
Como na publicidade enganosa, o anúncio será considerado abusivo antes
até de causar um prejuízo concreto. É suficiente que tenha sido veiculado, mesmo
que não cause qualquer lesão ao consumidor.
Ante o exposto, conclui-se que, a publicidade tem que ser verdadeira e
respeitar os valores sociais, morais e éticos, vedando-se a difusão de mensagens
publicitárias que desrespeitem esses cânones.
28
Segundo Rizzato Nunes: “O caráter da abusividade não tem necessariamente
relação direta com o produto ou serviço oferecido, mas sim com os efeitos da
propaganda que possam causar algum mal ou constrangimento ao consumidor"
(NUNES, 2005, p. 489).
Portanto, é necessário não apenas se preocupar com o conteúdo da
mensagem publicitária que será veiculada, mas também com a maneira que ela será
transmitida e como os consumidores vão reagir (RAMOS, 2012).
2.3 O combate à publicidade ilícita (Responsabilidade Civil)
Por tutelar o lícito e repelir o ilícito a ordem jurídica forja deveres e obrigações
a todos os cidadãos. Estabelece condutas que não são facultativas para que os
indivíduos possam bem viver em sociedade.
Assim, a violação de um dever/obrigação estabelecido pelo ordenamento
jurídico (chamado de dever jurídico originário ou primário) materializa um ato ilícito
que pode gerar um dano a outrem. Nesse momento, surge outro dever (chamado de
dever jurídico secundário ou sucessivo) que é o de reparar o dano decorrente.
Assim, por exemplo, o Código de Trânsito Brasileiro, em seu art. 208, tipifica a
conduta de "avançar o sinal vermelho do semáforo ou o de parada obrigatória". Se
transgredindo este dever jurídico originário alguém vem a colher outro veículo que
passava pela via, causando-lhe danos materiais, nesse momento surge o dever
jurídico secundário, que é o de reparar os danos causados.
À imposição aos cidadãos de observância do dever jurídico originário (ou
primário) denomina-se obrigação. Ao dever de reparar os danos decorrentes da
inobservância dessa obrigação, chama-se Responsabilidade Civil.
A teoria da responsabilidade civil apresenta dois regimes. O regime da
responsabilidade civil subjetiva e o da responsabilidade civil objetiva.
29
Tradicionalmente o regime de responsabilidade civil subjetiva sempre prevaleceu na
legislação pátria.
Diz-se responsabilidade subjetiva em razão dos pressupostos erigidos para
sua caracterização, a saber: (a) conduta culposa (art. 927 c/c 186 do NCC); (b)
dano; e (c) nexo causal.
Como se vê, nessa seara, imprescindível se aferir a existência da culpa. A
responsabilidade civil com culpa, por sua vez, se divide em: (a) culpa provada; e (b)
culpa presumida. Na primeira hipótese recai sobre o autor o ônus de comprovar que
houve conduta negligente, imprudente ou imperita do causador do dano. Na
segunda hipótese este ônus é invertido, ou seja, a prova referida passa a recair
sobre o réu da ação.
Por seu turno, diz-se responsabilidade objetiva aquela em que não há
necessidade de se aferir o elemento subjetivo da culpa, ou seja, aqui os
pressupostos para sua caracterização são: (a) o dano; e (b) o nexo causal.
O art. 927 do Código Civil de 2002 aduz, em seu parágrafo único, que
"Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos
especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do
dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem".
O CDC adotou, como regra, o regime de responsabilidade civil objetiva (sem
culpa), sendo certo que, somente no art. 14, § 4º, excepcionalmente, erigiu o regime
de responsabilidade civil subjetiva (com culpa).
Cumpre-nos, neste momento, aduzir que os produtos e serviços colocados no
mercado de consumo devem respeitar padrões de qualidade, de forma a que o
consumidor tenha, tanto o seu patrimônio, quanto sua integridade física e psíquica
preservada.
30
Antônio Herman V. Benjamin. erigindo a denominada Teoria da Qualidade
(que seria complementada pela teoria da quantidade), ensina que no direito do
consumidor é possível observar duas nítidas órbitas de afetação do consumidor.
A responsabilidade civil pelo fato do produto vem prevista no art. 12 do CDC
que dispõe:
"o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro,
e o importador respondem, independentemente da existência
de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização
e riscos".
Ocorre a responsabilização pelo fato do produto quando manifesto um vício
de qualidade por insegurança. Este, por sua vez, conceitua-se como sendo a
desconformidade do produto ou serviço com as expectativas legítimas do
consumidor, com capacidade de provocar acidentes (de consumo).
Outrossim, pela própria redação do dispositivo acima, ante a expressão
"independentemente da existência de culpa", extrai-se a adoção do regime de
responsabilidade civil objetiva. Logo, deve-se verificar apenas a materialização do
dano e do nexo causal para se responsabilizar o fornecedor.
O dispositivo em análise utiliza a expressão "defeitos", não obstante, muitos
autores procuram díferenciá-Ios dos chamados "vícios". Para Rizzatto Nunes, vícios
seriam as características de qualidade ou quantidade que tornem os produtos ou
serviços impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam e também que
lhes diminua o valor. Da mesma forma são considerados vícios os decorrentes da
disparidade havida em relação às indicações constantes do recipiente, embalagem,
rotulagem, oferta ou mensagem publicitária.
31
Por sua vez, o mesmo autor aduz que "defeitos" pressupõem um vício, porém
este último é acrescido de um problema extra que causa um dano maior. O vício
pertence ao próprio produto ou serviço, jamais atingindo a pessoa do consumidor ou
outros bens.
Assim é que o vício se mantém intrínseco ao produto, ou seja, fica restrito à
sua prestabilidade (funcionalidade). Por outro lado, o defeito causa dano extrínseco
ao produto (viciado) em si considerado, atingindo a incolumidade do consumidor ou
de terceiros.
Sérgio Cavalieri Filho dispõe que "O defeito compromete a segurança do
produto ou serviço. Vício, por sua vez, é defeito menos grave, circunscrito ao
produto ou serviço em si; um defeito que lhe é inerente ou intrínseco, que apenas
causa o seu mau funcionamento ou não-funcionamento".
Logo, se um consumidor adquire um liquidificador e, ao acionar o botão
"ligar", este simplesmente não funciona. Temos um vício do produto. O problema
está restrito ao bem em si considerado.
Diferente, se ao acionar o botão "ligar" a lâmina sai "voando" atingindo o rosto
do consumidor, causando-lhe lesões físicas. Nesse caso, teremos um defeito, eis
que se materializaram danos extrínsecos ao bem (viciado) em si considerado.
Podemos concluir, portanto, que a expressão "defeito" tecnicamente
apresenta-se, na verdade, como sinônimo de acidente de consumo ou
responsabilidade civil pelo fato do produto ou do serviço.
Também é imperioso concluir que na responsabilidade civil pelo fato do
produto há nítida violação de um dever de segurança. Mas o que se considera
produto seguro para o direito do consumidor?
Em razão do próprio sistema de produção em massa hodiernamente em
voga, não existe produto totalmente seguro. Sempre haverá a possibilidade de
algum produto sair da linha de produção com algum problema que poderá se
32
caracterizar como vício ou defeito. Alguns, inclusive, são inseguros pela própria
natureza, como uma faca, por exemplo. O direito, portanto, só atua quando a
insegurança ultrapassa o patamar da normalidade e da previsibilidade do risco (em
relação ao consumidor).
33
CAPÍTULO III
JURISPRUDÊNCIA
A jurisprudência relacionada à propaganda enganosa é abundante na
literatura sobre o assunto. A seguir são apresentados alguns casos escolhidos, que
servem para dar embasamento a este estudo.
O caso a seguir refere-se a um processo em que foi pleiteada indenização
por propaganda enganosa, em que era oferecida uma passagem aérea internacional
com desconto de 50%, porém sem constar informações sobre custos adicionais que
o ganhador teria que arcar.
Número do processo: 2006 01 111 4024-6 / Data da decisão: 02/12/2008 /
Data da publicação: 21/01/2009
Ementa Civil. Direito do consumidor. Propaganda enganosa. Bônus.
Passagem aérea internacional com desconto de 50%. Omissão relevante. Indução a
erro. Pedido procedente. Sentença reformada.
1. É enganosa a publicidade capaz de, mesmo por omissão, induzir em
erro o consumidor quanto à natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço ou quaisquer outros dados sobre produtos e serviços
(ART. 37, § 1º, CDC).
2. No caso, mostra-se enganosa a publicidade de hipermercado que
promete viagem internacional com bônus de 50% a quem atingir determinado valor
de compras, mas omite de que o bônus está restrito apenas ao valor da passagem
aérea internacional, e que beneficiário terá que arcar com o custo das passagens de
eventual vôo doméstico até o aeroporto de origem e as taxas de embarque, e que
também deverá adquirir diárias em lista restrita de hotéis, indicados pela operadora
de turismo contratada pela empresa promovente.
34
3. Se o consumidor preencheu os requisitos para obtenção do bônus e
manifestou tempestivamente sua pretensão de usufruir da viagem, e
tempestivamente a ação, irrelevante que a sentença tenha sido proferida somente
depois de esgotado o prazo da promoção. No caso, a concessão da tutela específica
só seria impossível se a prestação a que se obrigou a fornecedora não pudesse ser
cumprida por algum óbice intransponível no mundo dos fatos.
4. Recurso conhecido e provido. Sentença reformada.
Fonte: jurisway
Essa outra decisão do TJ-MG julgou procedente a reclamação, dando
provimento ao recurso.
TJ-MG - Direito do Consumidor - propaganda enganosa - dever de
indenizar - Princípio da Boa-fé e da Transparência / Data da publicação da decisão -
13/08/2006.
Número do processo: 1.0710.03.006016-8/001(1) / Relator: DUARTE DE
PAULA / Data do acordão: 13/09/2006 / Data da publicação: 25/10/2006
Ementa:
Indenização - Danos materiais e morais - Título de capitalização -
propaganda enganosa - Código de Defesa do Consumidor - Aplicabilidade -
Princípios da Transparência e da Boa-fé - Promessa de retorno do numerário sem
necessidade de sorteio - Dever de indenizar - Voto vencido parcialmente. O princípio
da transparência e da vinculação da publicidade são norteadores de toda e qualquer
propaganda, de modo que a empresa que comercializa títulos de capitalização e
veicula comercial em televisão, deve satisfazer exatamente às expectativas
despertadas no público consumidor, devendo prestar informações claras e precisas
a respeito do produto oferecido. Configurado o dano moral, pelo aborrecimento
causado à parte autora, ludibriada em sua boa-fé, frustrada em sua expectativa de
conseguir adquirir um determinando bem com o dinheiro prometido pela propaganda
e nas informações recebidas da empresa, é cabível a indenização por danos morais.
Fonte: jurisway (2012)
(Resp 604172/SP. Recurso Especial. j. em 22/06/2004 Relatora: Ministra
NANCY ANDRIGHI )
35
EMENTA: RECURSO ESPECIAL - PREQUESTIONAMENTO -
INOCORRÊNCIA - SÚMULA 282/STF - FALTA DE COMBATE AOS
FUNDAMENTOS DO ACÓRDÃO - APLICAÇÃO ANALÓGICA DA SÚMULA 182 -
PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE RECURSAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA -
CONSUMIDOR - VEÍCULOS DE COMUNICAÇÃO - EVENTUAL PROPAGANDA OU
ANÚNCIO ENGANOSO OU ABUSIVO - AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE -
CDC, ART. 38 - FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS. I - Falta prequestionamento
quando o dispositivo legal supostamente violado não foi discutido na formação do
acórdão recorrido. II - É inviável o recurso especial que não ataca os fundamentos
do acórdão recorrido. Inteligência da Súmula 182. III - As empresas de comunicação
não respondem por publicidade de propostas abusivas ou enganosas. Tal
responsabilidade toca aos fornecedores - anunciantes, que a patrocinaram (CDC,
Arts. 3º e 38). IV - O CDC, quando trata de publicidade, impõe deveres ao
anunciante - não às empresas de comunicação (Art. 3º, CDC). V - Fundamentação
apoiada em dispositivo ou princípio constitucional é imune a recurso especial.
Como pode ser verificado no julgado encontrado, a prática de propaganda
enganosa não é tida como de responsabilidade dos veiculadores da propaganda
enganosa, e sim dos fornecedores do produto ou serviço, e tal responsabilização é
feita a fim de proteger os consumidores de possíveis abusos exercidos pelos
fornecedores, sendo seu o ônus de provar que não estava praticando tal ato (art. 38
CDC).
Cabe salientar que uma vez que for considerada a prática de propaganda
enganosa, o fornecedor estará obrigado a divulgar uma contrapropaganda nas
mesmas proporções em que foi realizado o anúncio enganoso, e somente após a
divulgação da contrapropaganda aos fornecedores é que esses poderão se eximir
da responsabilidade de vinculação.
Fonte: FGV, 2010.
(Resp 327257/SP. j. em 22/06/2004. Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI)
EMENTA: Processual Civil. Civil. Recurso Especial. Prequestionamento.
Publicidade enganosa por omissão. Aquisição de refrigerantes com tampinhas
premiáveis. Defeitos de impressão. Informação não divulgada. Aplicação do Código
36
de Defesa do Consumidor. Dissídio jurisprudencial. Comprovação. Omissão.
Inexistência. Embargos de declaração. Responsabilidade solidária por publicidade
enganosa. Reexame fático-probatório. O Recurso Especial carece do necessário
prequestionamento quando o aresto recorrido não versa sobre a questão federal
suscitada. Há relação de consumo entre o adquirente de refrigerante cujas
tampinhas contém impressões gráficas que dão direito a concorrer a prêmios e o
fornecedor do produto. A ausência de informação sobre a existência de tampinhas
com defeito na impressão, capaz de retirar o direito ao prêmio, configura-se como
publicidade enganosa por omissão, regida pelo Código de Defesa do Consumidor. A
comprovação do dissídio jurisprudencial exige o cotejo analítico entre os julgados
tidos como divergentes e a similitude fática entre os casos confrontados. Inexiste
omissão a ser suprida por meio de embargos de declaração quando o órgão julgador
pronuncia-se sobre toda a questão posta à desate, de maneira fundamentada.
Publicidade Enganosa
(2008.001.44105 - APELACAO - 1ª Ementa. JDS. DES. ARTHUR
EDUARDO FERREIRA - Julgamento: 17/09/2008 - DECIMA TERCEIRA CAMARA
CIVEL) DIREITO DO CONSUMIDOR. PROPAGANDA. PUBLICIDADE ENGANOSA
POR INTERMÉDIO DE TELEVISÃO. MEIO DE COMUNICAÇÃO.
RESPONSABILIDADE. INOCORRÊNCIA. Conquanto o Código de Defesa do
Consumidor trate, de regra, de responsabilidade objetiva de fornecedores de bens e
serviços, traz, em diversas situações, hipóteses de responsabilidade subjetiva.
Situação fática em que determinada empresa induz consumidor a adquirir
determinado produto, veiculando a oferta por meio de canal de televisão e, depois,
deixa de entregar o produto na forma convencionada. Alegação de que a empresa
de comunicação teria prévia ciência da fraude não comprovada. Responsabilidade
subjetiva que impõe a demonstração inequívoca de dolo ou culpa. Inocorrência. As
empresas de comunicação não têm responsabilidade objetiva quanto ao conteúdo
de publicidade veiculada por fornecedor. Provimento do recurso.
(BRASIL. TJRJ. APELACAO - 1ª Ementa DES. JESSE TORRES -
Julgamento: 12/03/2008 - SEGUNDA CAMARA CIVEL. 2008.001.10994 -
APELAÇÃO) Ação ordinária de rescisão de contrato de compra e venda de bem
móvel, cumulada com dano moral. O produtor não pode ser responsabilizado pela
37
não entrega da mercadoria, se por ela não se obrigou. Os veículos de comunicação
não respondem por eventual publicidade abusiva ou enganosa. Tal responsabilidade
toca aos fornecedores-anunciantes, que a patrocinaram (CDC, arts. 3º e 38).
Precedentes jurisprudenciais. Desprovimento do recurso.
Fonte: FGV (2010)
Publicidade Abusiva / 2008.001.10994 - APELACAO - 1ª Ementa / DES.
JESSE TORRES - Julgamento: 12/03/2008 - SEGUNDA CAMARA CIVEL
APELAÇÃO. Ação ordinária de rescisão de contrato de compra e venda
de bem móvel, cumulada com dano moral. O produtor não pode ser
responsabilizado pela não entrega da mercadoria, se por ela não se obrigou. Os
veículos de comunicação não respondem por eventual publicidade abusiva ou
enganosa. Tal responsabilidade toca aos fornecedores-anunciantes, que a
patrocinaram (CDC, arts. 3º e 38). Precedentes jurisprudenciais. Desprovimento do
recurso.
Toda publicidade deve trazer informações claras, precisas e verdadeiras
sobre o produto ou serviço que oferecem, sob pena de ser considerada ato ilícito
nas modalidades enganosa, abusiva e clandestina. Essas modalidades são tratadas
respectivamente pelos artigos 37, §1º, 37, § 2º e 36, todos do CDC.
Em regra, a responsabilidade prevista no CDC é objetiva, ou seja, não é
necessário comprovar que o agente agiu com culpa. Todavia, como nenhuma regra
é absoluta, há casos em que se faz presente a responsabilidade subjetiva (FGV,
2012).
Nos julgados acima citados há nítido exemplo da necessidade de
comprovação de culpa de determinados agentes. Podemos perceber que a
jurisprudência vem entendendo no sentido de que os veículos de comunicação não
podem ser responsabilizados objetivamente pelo ilícito, ou seja, pelo conteúdo da
publicidade que não traduz a realidade.
38
Nesse sentido, para que o meio de comunicação que veiculou a
propaganda, o mesmo deve ter ciência do ato ilícito, ou seja, sua culpa deve ser
comprovada. A responsabilidade é daqueles (fornecedores – anunciantes) que
patrocinaram a veiculação de tal publicidade.
Já em decisão do Tribunal do Rio Grande do Sul, o mesmo decidiu que
supermercado responde solidariamente com o fabricante da máquina de lavar
perante o consumidor, já que veiculou a publicidade e é beneficiado pela venda.
Vejamos:
Recurso Cível 71001375740. Rel. João Pedro Cavalli Junior
CONSUMIDOR. MÁQUINA DE LAVAR ROUPAS. PROPAGANDA
ENGANOSA. SOLIDARIEDADE. DANO MORAL. O supermercado responde
solidariamente com o fabricante do produto perante o consumidor, uma vez que
veiculou a publicidade e é beneficiado pela venda, integrando a cadeia de
fornecedores. Ocorrência de dano moral indenizável, decorrente da propaganda
enganosa que determinou a contratação. Recurso desprovido. Unânime....
Nesse passo, podemos notar que o referido Tribunal entende que o
agente que veicula a publicidade pode responder solidariamente com o fornecedor,
já que faz parte da cadeia produtiva, não sendo necessária a comprovação de culpa.
Fazendo então uma analogia com os veículos de comunicação, a partir do
caso acima, é fácil notar que o Tribunal do Rio Grande do Sul entende que o agente
que veicular a publicidade deve ser responsabilizado solidariamente, não havendo a
necessidade de comprovar a culpa, havendo aí diferentes entendimentos quanto a
responsabilidade do canal de comunicação que abre espaço para a publicidade.
Foi aceita a responsabilidade, por entender o juiz que a publicidade
respondia, no caso, solidariamente com o fornecedor.
Fonte: FGV (2012)
39
CONCLUSÃO
A análise dos artigos consultados permitiu concluir afirmando que o
Código de Defesa do Consumidor é um instrumento eficaz para combater e
desincentivar a prática da Propaganda Abusiva e Enganosa, ao enumerar todos os
direitos, princípios e conceitos referentes à doutrina e às penalidades que deverão
ser impostas aos infratores, bem como a forma como se dará a fiscalização e o
ressarcimento dos prejuízos acaso sofridos pelos consumidores que se sentirem
lesados ou ludibriados em sua boa-fé.
40
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São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008.
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SCHWARTZ, Fabio. Direito do Consumidor. Tópicos e Controvérsias. Niterói, RJ,
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42
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
O CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR 10
1.1 – Os Direitos do Consumidor 10 1.1.1 Direito à vida, saúde e segurança 10 1.1.2 Direito à educação para o consumo 12 1.1.3 Direito à liberdade de escolha e Igualdade nas contratações 14 1.1.4 Direito à informação 14 1.1.5 Direito à proteção contra a publicidade abusiva... 14 1.1.6 Direito à modificação e revisão das cláusulas contratuais 15 1.1.7 Direito à prevenção e reparação de danos materiais e morais 15 1.1.8 Direito de acesso aos órgãos judiciários e administrativos... 15 1.1.9 Direito à facilitação de defesa dos direitos e à inversão... 16 1.1.10 Direito à adequada e eficaz prestação dos serviços públicos... 16 1.2 – Origem do CDC 16 1.3 – Os princípios que inspiram a doutrina 17 1.3.1 Princípio da vulnerabilidade 17 1.3.2 Princípio da transparência 18 1.3.3 Princípio do dever governamental de proteção 18 1.3.4 Princípio da harmonia de interesses 18 1.3.5 Princípio da garantia de adequação dos produtos e serviços 19 1.3.6 Princípio do equilíbrio nas relações de consumo 19 1.3.7 Princípio da boa-fé objetiva 19 1.3.8 Princípio da confiança 20 1.3.9 Princípio da educação e informação 20
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aos consumidores 1.3.10 Princípio do incentivo ao Autocontrole de qualidade e... 20 1.3.11 Princípio da coibição e repressão dos abusos no mercado 21 1.3.12 Princípio da racionalização e melhoria dos serviços públicos 21 1.3.13 Princípio do estudo das modificações do mercado 21
CAPÍTULO II
PUBLICIDADE ABUSIVA E ENGANOSA 22
2.1 – Publicidade e Propaganda 22 2.2 – Publicidade Abusiva e Enganosa 24 2.3 – O combate à publicidade abusiva e Enganosa 28
CAPÍTULO III
JURISPRUDÊNCIA 33
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 40
ÍNDICE 42
FOLHA DE AVALIAÇÃO 44
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FOLHA DE AVALIAÇÃO
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