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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NA INCLUSÃO DE PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS Por: Carolina Figueiredo de Azevedo Brás da Silva Orientador Profª Maria Esther de Araújo Oliveira Rio de Janeiro 2007 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NA INCLUSÃO DE

PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Por: Carolina Figueiredo de Azevedo Brás da Silva

Orientador

Profª Maria Esther de Araújo Oliveira

Rio de Janeiro

2007

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO A VEZ DO MESTRE

INTERVENÇÕES PSICOPEDAGÓGICAS NA INCLUSÃO DE

PORTADORES DE NECESSIDADES ESPECIAIS

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como requisito parcial para

obtenção do grau de especialista em

Psicopedagogia Institucional.

Por: Carolina Figueiredo de Azevedo Brás da Silva

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3

AGRADECIMENTOS

....à minha família, principalmente ao

meu esposo que tanto me auxilia nas

horas mais difíceis. Ao meu afilhado

pelo seu sorriso que sempre me

acalma.

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4

DEDICATÓRIA

.....dedico este trabalho aos que sempre

me acompanham nos momentos de

aflição: minha família e amigos.

RESUMO

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5 Historicamente, o portador de necessidades especiais encontrou-se

durante muitos anos em uma situação de esquecimento. A partir de

reivindicações de movimentos sociais, este passa a ser observado sob um

novo ângulo, porém sem “vencer” atitudes discriminatórias.

No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que

apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando a

educação para todos e os aspectos relativos à acessibilidade.

A partir de novos olhares sobre a inclusão, despontam ações que

podem de alguma forma garantir igualdade de acesso e permanência na

escola não só dos portadores de necessidades especiais, mas também

daqueles que de alguma forma são relegados a um lugar de marginalização.

Assim, o presente trabalho fará uma análise de tais questões e ainda

estará atento para as possibilidades da intervenção psicopedagógica no

âmbito escolar com o intuito de praticar uma inclusão efetiva das pessoas que

apresentam necessidades especiais, entendendo esta a partir do enfoque de

uma aprendizagem significativa e participativa.

METODOLOGIA

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6A metodologia que permeia o presente trabalho está centrada em uma

pesquisa teórica, utilizando-se, dentre outros instrumentos, de livros, artigos,

dados estatísticos, visando observar as possíveis intervenções

psicopedagógicas na inclusão de portadores de necessidades especiais.

O estudo deverá ser efetivado no período de novembro de 2006 a

setembro de 2007.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

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7

CAPÍTULO I - Olhos da história: a noção de deficiência no Brasil 10

CAPÍTULO II - Legislação e inclusão 26

CAPÍTULO III – Atuais caminhos da inclusão escolar 47

CAPÍTULO IV - Psicopedagogia e inclusão: possibilidades de intervenção 80

CONCLUSÃO 96

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 106

ÍNDICE 112

FOLHA DE AVALIAÇÃO 113

INTRODUÇÃO

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8

O presente trabalho monográfico centra-se no estudo da inclusão de

portadores de necessidades especiais que tem sido abordada em diversas

áreas de estudo, principalmente no que tange à educação.

No âmbito do exposto acima, a pesquisa tem como questão

fundamental a investigação das contribuições da intervenção psicopedagógica

para uma real inclusão de portadores de necessidades especiais na rede

regular de ensino.

Primeiramente, ao refletir-se sobre inclusão, é necessário salientar que

esta deve se dar não só em relação aos portadores de necessidades

especiais, mas também em relação aos que de algum modo encontram-se

excluídos do processo de ensino aprendizagem, seja no que diz respeito aos

que não têm acesso ou condições de permanência na escola ou ainda,

aqueles que estando nesta, fazem parte das cruéis estatísticas de fracasso

escolar.

Porém, o presente trabalho delimita seu campo de estudo na inclusão

de portadores de necessidades especiais justificando-se pelo fato de que é

necessária uma efetiva inclusão destes alunos, buscando-se a construção da

cidadania e a apropriação de saberes e não simplesmente o cumprimento de

uma legislação, colocando o aluno em uma situação de exclusão dentro da

sala de aula, onde este fica a margem das atividades e sem a devida

estimulação.

Neste contexto, cabe investigar como a intervenção do psicopedagogo

pode buscar o enaltecimento das potencialidades e não os limites de cada um,

entendendo cada aluno a partir das singularidades e valorizando a diversidade

e não a homogeneização.

Para tanto este trabalho tem como objetivo analisar a questão da

inclusão de portadores de necessidades especiais na rede regular de ensino

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9enfocando as possíveis contribuições da intervenção psicopedagógica neste

processo.

Pautada nisto, esta pesquisa apresentará como primeiro capítulo a

contextualização histórica da noção de deficiência no Brasil.

O segundo capítulo situará a concepção de educação inclusiva a partir

da legislação vigente, seguindo-se do capítulo que buscará destacar as

contribuições acerca da educação inclusiva e o cenário atual desta no Brasil.

Finalizando o trabalho será analisado o papel da psicopedagogia no

processo de inclusão com o intuito de desenvolver uma verdadeira educação

inclusiva no ambiente escolar.

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CAPÍTULO I

OLHOS DA HISTÓRIA: A NOÇÃO DE DEFICIÊNCIA NO

BRASIL

Inicialmente este capítulo dissertará, de forma resumida, sobre a visão

do deficiente na Antigüidade. Porém, se deterá na abordagem das concepções

vigentes sobre a educação dos deficientes no Brasil.

Carmo ( 1994 ) ressalta dois tipos básicos de atitudes em relação à

forma de tratamento dispensado ao deficiente, ao doente ou idoso na

Antigüidade: ou uma atitude de tolerância, aceitação e apoio ou uma atitude

de desprezo.

Nas culturas primitivas que utilizavam a caça e a pesca, os portadores

de deficiência, idosos e doentes eram geralmente abandonados por muitas

tribos. O estilo de vida nômade dificultava a aceitação e a presença destas

pessoas, consideradas dependentes. Porém, esta atitude de abandono não

era comum a todos os povos.

Para o referido autor, o período renascentista significou um marco no

campo da deficiência. A característica humanista deste período objetivava o

reconhecimento do valor do homem e da humanidade, com o interesse pela

pesquisa direta na natureza, trazendo avanços no campo da reabilitação física.

Porém, a situação marginal dos deficientes não se alterou de forma

significativa.

Outro fator que deve ser observado, como indicador de melhoria nas

relações, no campo da deficiência física está ligado ao fato de personalidades

serem portadoras de alguma anomalia congênita ou adquirida. Dentre as

personalidades Carmo ( 1994 ) destaca:

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11“a. Luís de Camões, cavaleiro-fidalgo português, que

perdeu um de seus olhos em luta contra os marroquinos.

É considerado um dos maiores poetas portugueses.

b. Galileu Galilei, matemático, astrônomo, inventor do

telescópio. Revolucionou o mundo com a teoria

heliocêntrica. Ficou cego nos últimos quatro anos de sua

vida, e, mesmo assim continuou estudando e

pesquisando.

c. Johamnes Kepler, astrônomo alemão, desenvolveu

importantes estudos sobre o movimento dos planetas.

Kepler tinha uma séria deficiência visual causada por

sarampo aos quatro anos de idade.

d. Ludwig Von Beethoven, considerado um dos maiores

gênios da música erudita. Perdeu totalmente sua audição

nos últimos anos de sua vida. Mesmo assim, conseguiu

compor suas obras mais famosas. ‘Apassionata, Sonata

ao Luar e Sinfonias nº 3 até 6’

e. Antonio Francisco Lisboa, ‘O Aleijadinho”, considerado

um dos maiores escultores brasileiros. Vítima de uma

Tromboangite obliterante, caracterizada por ulcerações

nas mãos, mesmo aos setenta anos de idade esculpiu os

12 profetas no adro da Igreja de Matosinho. Seu trabalho

era realizado tendo ferramentas amarradas em suas

mãos, uma vez que seus dedos perdidos ou imobilizados

não conseguiam mais segurá-las.” ( CARMO, 1994 p. 26

)

Porém, mesmo tendo-se vários exemplos da capacidade e habilidade

dos deficientes citados anteriormente, a situação das pessoas, principalmente

das classes menos abastadas, permaneceu a mesma, ou seja, continuavam

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12marginalizadas e discriminadas. Grande parte das instituições de reabilitação

para atender os pobres, velhos e paralíticos centrava o trabalho em uma

concepção assistencialista, filantrópica e segregacionista. Todavia o autor

ressalta que:

“..apesar disto, os ‘deficientes’ já não eram vistos mais

como seres inúteis ou imprestáveis. Pelo contrário, as

tentativas de recuperação e aproveitamento das

habilidades e capacidades dessas pessoas para o

mercado de trabalho se tornou uma tendência

irreversível” ( CARMO, 1994 p. 26 )

No Brasil, Carmo ( 1994 ), baseado em relatos de historiadores, coloca

que era raro encontrar aleijados, cegos, surdos-mudos, coxos, entre os

indígenas brasileiros no início da colonização. As poucas anomalias que

alguns índios apresentavam eram resultado de guerras ou acidentes na selva.

A deficiência física congênita ou como conseqüência de doenças não foi

observada.

As doenças mais comuns que causavam anomalias, geralmente na

população branca, eram resultado da carência alimentar como, por exemplo,

cegueira noturna, raquitismo, beribéri, dentre outras. O autor destaca ainda

que o grande número de escravos inválidos encontrados nesta época

relacionava-se a maus tratos, castigos físicos ou acidentes no trabalho dos

engenhos e lavouras de cana-de-açúcar.

Carmo ( 1994 ) informa que até aproximadamente 1850 não se encontra

nenhuma obra ou ação do Estado que mereça destaque no campo da

assistência e reabilitação das pessoas deficientes

Jannuzzi ( 2006 ) coloca que a educação das crianças deficientes

surgiu institucionalmente, de forma muito acanhada, no conjunto das

concretizações possíveis das idéias liberais que tiveram divulgação no Brasil

no fim do século XVIII e começo do século XIX. As idéias estavam presentes

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13em alguns movimentos como a Inconfidência Mineira ( 1789 ), a Conjuração

Baiana ( 1798 ) e a Revolução Pernambucana ( 1817 ), que reuniram

professores, médicos, advogados, alfaiates, soldados, dentre outros, e foram

ressaltadas a partir da Independência.

O liberalismo lutou pela abolição de algumas instituições coloniais,

criticou o dogmatismo e o poder autocrático, se opôs à interferência do Estado

na economia, defendeu a propriedade privada e a liberdade de expressão.

Porém, mostrou-se limitado, uma vez que aceitou a escravidão, considerada a

mão-de-obra viável enquanto a imigração européia não se firmou.

Como foi um liberalismo defendido pela elite, procurou concretizar as

concepções citadas acima dentro de limites que não prejudicasse essa

camada. Isto se refletiu na educação, já que a educação primária, fundamental

para o povo, foi discutida na Assembléia Constituinte de 1824, mas foi

relegada ao esquecimento.

Neste contexto, a educação das crianças deficientes teve pouca

atenção, poucas foram as instituições que surgiram nesta época. Contudo no

que tange ao aspecto do adulto deficiente na sociedade pode-se colocar que:

“ ... a sociedade de então já se protegia juridicamente do

adulto deficiente na Constituição de 1824 ( título II,

artigo 8º, item 1º ), privando do direito político o

incapacitado físico e moral (...) E o atendimento ao

deficiente, provavelmente, iniciou-se através das

Câmaras Municipais ou das confrarias particulares. Em

1730, em Vila Rica, havia a Irmandade de Santa Ana,

que previa no artigo 2º do seu estatuto ‘uma casa de

expostos e asilo para os desvalidos’ surgida para cuidar

de órfãos e crianças abandonadas. ( JANNUZZI, 2006,

p.8 )

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14 Ainda de acordo com a autora, pode-se observar neste sentido, a

existência das Santas Casas de Misericórdias que centravam sua atenção nos

pobres e doentes. Dentre elas, a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo

que inicialmente distribuía esmolas aos pobres, dotes às órfãs e local para

sepultamento mediante pagamento. A partir da construção do hospital iniciada

em 1717 e principalmente desde o século XIX, fortificou-se o acolhimento de

crianças abandonadas até os sete anos. Supõe-se que destas, muitas

apresentavam defeitos físicos ou mentais, cujas crônicas da época revelavam

que eram abandonadas em lugares onde bichos as mutilavam ou matavam.

Em 1726 tem-se a criação em Salvador da primeira roda de expostos,

seguida do Rio de Janeiro ( 1738 ) e São Paulo ( 1825 ). Tal mecanismo

facilitou o ingresso de crianças com anomalias, ou cujos responsáveis não as

desejavam ou estavam impossibilitados de criá-las. Em meados do século XIX,

algumas províncias adotaram para a administração e educação destas

crianças a presença de religiosas.

Após os sete anos de idade, as crianças eram encaminhadas para

seminários. As meninas permaneciam nestes até casarem e os meninos até

obterem uma profissão. Mais tarde foi fundada uma Escola Normal para que as

meninas se tornassem professoras. As crianças com anomalias mais

acentuadas permaneciam com adultos em locais mantidos pelas Santas Casas

para doentes e alienados.

Pode-se notar ainda, conforme coloca Jannuzzi ( 2006 ) que a educação

dos deficientes contou com a participação de pessoas próximas ao imperador.

Em setembro de 1854 é criado no município da Corte o Imperial Instituto de

Meninos Cegos ( posteriormente chamado de Instituto Benjamin Constant ) e

alguns anos depois o Instituto de Surdos-Mudos, ambos administrados e

mantidos pelo poder central.

O número de alunos nestas instituições ainda é ínfimo, em 1874 estes

institutos atendiam 35 alunos cegos e 17 surdos em uma população que em

1872 era de 15.848 cegos e 11.595 surdos. Todavia, isto abre caminhos para a

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15discussão dessa educação, onde em 1883, no I Congresso de Instrução

Pública, constava como tema a sugestão de currículo de formação de

professor para cegos e surdos, tendo como responsáveis pelos temas

médicos.

Porém, a educação do deficiente ainda não assumiu lugar de maior

atenção na pauta do governo central que foi delegada às províncias, ficando

relegada a segundo plano juntamente com a instrução pública primária.

Percebe-se o progresso do ensino superior ( apoiado pela Corte ) e do ensino

secundário ( particular, preparatório para o superior ) que interessavam às

camadas da população com rendas mais altas e às poucas camadas médias.

O ensino fundamental destinado ao povo era precário no fim do Império pois

não havia pressão social para sua efetivação, já que a elite no poder

contratava preceptores que ministravam um ensino domiciliar.

O federalismo adotado na Proclamação da República ( 1889 )

possibilitou que os estados organizassem suas leis e a própria administração.

O Congresso se incumbiu de desenvolver as letras, artes e ciências.

Alguns estados como São Paulo, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro

iniciaram a organização escolar primária, aumentando para tanto a sua verba.

A organização de escolas para deficientes também vai se desenvolver nestes

estados, porém, de forma lenta. Vai aparecer o discurso sobre o deficiente

através da fala de médicos, psicólogos, professores, etc.

Ainda conforme a autora, no início da República, são ainda os cegos e

os surdos que têm as suas instituições privilegiadas.

Em relação aos cegos, no século XVIII, foram inventadas várias formas

de alfabeto que poderiam ser percebidos através do tato com a finalidade de

ensiná-los a ler. Porém, estes sistemas eram difíceis de manusear e de serem

assimilados pelo conhecimento, assim, foram desaparecendo com o tempo,

com exceção do código Moon, criado em 1845, que manteve o contorno da

letra e era aprendido por pessoas que ficavam cegas em idade mais madura.

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16 Braille, cego desde os três anos de idade, desenvolveu em 1824 o

sistema que recebeu o seu nome baseado no sistema de pontos criado por

Charles Barbier, em 1819, para comunicação noturna em campo de batalha.

A medicina vai influenciando a educação do deficiente através da

atuação direta dos médicos, diretores e professores ( ambos médicos ) de

instituições especializadas na educação do deficiente, além da repercussão

dos ensinamentos fundados na área. Este interesse pode ser explicado pelo

desafio apresentado pelos casos mais graves que apresentavam resistência ao

tratamento terapêutico.

Desde o Império um serviço ligado ao campo médico e que teve

repercussão na educação do deficiente em algumas províncias foi o Serviço de

Higiene e Saúde Pública. Mais tarde em São Paulo, este setor deu origem à

Inspeção Médico-Escolar que em 1911 foi responsável pela criação de classes

especiais.

Jannuzzi ( 2006 ) explicita ainda que as escolas foram atingidas pelas

medidas de higiene. Em 1889 a atuação se deu por meio das instituições de

higiene e medidas sanitárias cujas comissões eram formadas por médicos que

visavam à higiene das escolas e à inspeção geral de saúde, não havendo nada

que se relacionasse de forma clara ao deficiente. Atuando em conjunto com

estas providências observam-se medidas disciplinadoras baseadas em

preceitos de higiene. Desta forma, saúde e educação são fatores que poderão

regenerar o país.

Os conceitos referentes à eugenia estão em voga neste momento. A

deficiência, principalmente a mental, é associada a problemas de saúde que

causam degenerescências e taras, como sífilis, tuberculose, doenças

venéreas. Os autores ligados à eugenia ressaltam ainda que estas causas

predominam em ambientes urbanos onde pobreza e falta de higiene se

misturam.

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17 Mais tarde, ainda de acordo com a autora, os médicos observaram a

importância da pedagogia, organizando instituições escolares ligadas a

hospitais psiquiátricos, colocando nestas crianças que apresentavam grande

comprometimento em relação ao seu quadro clínico e que estavam

segregadas socialmente junto com adultos loucos.

“ Em 1904, os médicos Juliano Moreira e Fernando

Figueira fundaram o Pavilhão Bourneville no Rio de

Janeiro, anexo ao Hospício da Praia Vermelha, que

nasceu em razão das denúncias da comissão

encarregada de investigar as condições de assistência a

alienados no Hospício Nacional de Alienados e na

Colônia da Ilha do Governador. A comissão era

composta de três médicos e um farmacêutico (...)

dirigindo-se ao ministro da Justiça, a comissão, depois

de ponderar que ali observava com tanta surpresa

crianças e adultos, alguns em completo estado de nudez,

na mais revoltante promiscuidade, solicitava a

construção do Pavilhão Bourneville para tratamento e

educação dos pequenos infelizes, cujo estado mental

poderia melhorar, se em outro local recebessem

cuidados especiais. Eram, pois, crianças grandemente

prejudicadas, com problemas patológicos diversos, que

foram taxadas de mentecaptas (...) e que passaram ,

com esse serviço, a ter também orientação pedagógica,

junto com atendimento clínico.” ( JANNUZZI, 2006, p.37 )

No que tange à vertente psicopedagógica, segundo a referida autora, o

Brasil recebeu forte influência da França, principalmente por meio das obras de

Alfred Binet, que elaborou os testes de inteligência e seu colaborador

Théodore Simon. Para Binet e Simon a questão não era a de mudar os

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18conteúdos ministrados na escola, já que o problema não estava centrado

nesta, e sim na criança pois acreditavam que esta não conseguia acompanhar

os demais de sua idade por insuficiência de meios intelectuais.

Até então, a medicina só conhecia os aspectos profundos de deficiência

mental, que eram a idiotia e a imbecilidade, nas quais a inteligência não

apresentava papel significativo no conjunto da patologia. Binet rompe com esta

taxonomia, comparando a deficiência ao estado normal e estabelecendo uma

variação quantitativa utilizando a escola como parâmetro.

A autora explicita ainda que o conceito de debilidade de Binet se repete

aqui no Brasil, onde o débil é aquele que sabe se comunicar com seus

semelhantes por meio de palavras e por escrito, mas demonstra um retardo de

dois ou três anos no decorrer dos seus estudos.

“Introduziu-se aqui um aspecto novo na segregação do

deficiente mental. Se antes ele estava diretamente

vinculado à triagem ampla da sociedade, como o cego e

o surdo, agora como que se criava um mecanismo amplo

mais sutil, mais afunilado de seleção, de diferenciação,

sem a cogitação do papel ativo que a escola poderia

apresentar em relação à criança, e esta quanto à escola.

Não se cogitou que a semelhança de conteúdos

escolares com os padrões das camadas mais

favorecidas implicaria melhor e mais rápida assimilação

por suas crianças. E que a possível segregação, sob

esses parâmetros, poderia taxar como retardados os

níveis diferentes de conhecimento, em função de

proveniência de camadas menos favorecidas.” (

JANNUZZI, 2006, p.58 )

A autora cita que durante a Primeira República, a inserção do país no

capitalismo mundial deu-se à medida que continuávamos a fornecer produtos

primários ligados a terra. Prosseguia-se assim à semelhança dos fins do

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19Império, com produção agrícola ligada à grande propriedade e utilizando

instrumentos de trabalho simples.

A oligarquia cafeeira representada por políticos de São Paulo e Minas

Gerais assumiu o controle do país após dois governos militares.

Nesta sociedade organizada de acordo com este modo de produção a

escola popular não era priorizada. A extensão do direito ao voto, associando-o

à alfabetização e à idade, com exceção dos mendigos, soldados, mulheres,

praças e religiosos obrigados a voto de obediência, não aumentou a procura

pela escola., até porque a alfabetização era restrita apenas a assinar o nome,

o que era conseguido com treino.

Assim, a autora ressalta que o conceito de anormalidade abrangia todos

aqueles que ameaçavam a segurança da camada social estabelecida; a

função da educação do deficiente estava a serviço de um trabalho que

atingisse a produção de mercadorias rentáveis a camada social dominante.

A partir do ano de 1930 a sociedade civil inicia um processo de

organização em associações de pessoas preocupadas com a questão da

deficiência. Observa-se a criação de escolas junto aos hospitais e ao ensino

regular, fundação de entidades filantrópicas especializadas e diferenciação de

formas de atendimento em clínicas, institutos psicopedagógicos, centros de

reabilitação principalmente particulares, ou seja, acessíveis a alguns.

Neste período muitos educadores utilizam o termo ensino emendativo

para a educação dos deficientes. Emendativo que significa corrigir falta, tirar

defeito, deixando clara qual a concepção que se tinha a respeito da educação

do deficiente. Esta pautava-se no fato de suprir falhas conseqüentes da

anormalidade, buscando adaptar o educando ao nível social dos normais,

conforme cita a autora.

A Constituição de 1934 não mencionou o excepcional em seu texto, mas

assegura que a educação é direito de todos, que deve ser gratuita e obrigatória

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20e que deveria se estender progressivamente ao ensino posterior, porém

poucas são as instituições criadas para esse grupo de alunos.

Neste âmbito, a organização social brasileira vai se transformando,

aumentando a urbanização e a industrialização. A educação emendativa

modifica-se gradualmente, já que para a nova organização nacional era

necessário ler, escrever e contar para ocupar lugares nas indústrias que

geralmente ficavam na cidade.

Após a Segunda Guerra Mundial ( 1939-1945 ) e a necessidade de

atendimento aos lesionados nela, especialmente na Europa, levanta-se a

importância do atendimento e progressos na área da saúde, com o

desenvolvimento de técnicas mais modernas para atendê-los. No Brasil

também ocorrerá aumento no número de serviços voltados para a reabilitação.

A autora expõe ainda que a situação da educação popular continuava

precária na década de 40. Mesmo tendo diminuído a taxa de analfabetismo,

esta ainda permanecia com números muito elevados. Neste contexto não se

priorizava a educação dos deficientes, embora estes já tinham sido lembrados

em documentos, manifestos, etc.

O número de atendimentos aos deficientes aumentou na área da

deficiência mental, conforme cita a autora:

“ O maior incremento de atendimento deu-se na área de

deficiência mental: em 1949 havia 41 instituições para

eles e 26 para outras deficiências; em 1959, crescera

para 191 e 58 respectivamente, e em 1969, já eram 821

para deficientes mentais e 313 para outras deficiências.

(...) Provavelmente o apontamento de deficientes

mentais se deva em parte ao crescimento da

escolarização no ensino fundamental (...) Além disso,

havia a preocupação na época com a constituição de

classes homogêneas (...)”( JANNUZZI, 2006, p.87 )

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21As classes homogêneas eram organizadas pautadas nos resultados dos

testes de inteligência e tinham como suposto objetivo facilitar a aprendizagem

e o ensino. Assim, formaram-se as classes especiais para abrigar os

estudantes que apresentavam deficiência.

“ Estas classes especiais, bem como as escolas

previstas na legislação, também poderiam funcionar

como mecanismos para facilitar o rendimento das

classes mais favorecidas, freqüentadoras das classes

comuns, afastando delas os diferentes, os que tinham

dificuldades de aprendizagem (...)” ( JANNUZZI, 2006,

p.106-107 )

Campanhas nacionais foram organizadas para educação dos surdos em

1957, dos cegos em 1958 e dos deficientes mentais em 1960.

Ainda de acordo com Jannuzzi ( 2006 ) em 1961, a primeira Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional ( lei nº 4024/61 ) colocou a

educação de excepcionais como um título destacado da educação de grau

primário, afirmando-se a peculiaridade desta educação.

A autora ressalta que a década de 70 marcou a educação do deficiente.

Ocorre o surgimento do primeiro órgão voltado para o este, chamado de

Centro Nacional de Educação Especial ( CENESP ) criado pelo decreto nº

72.425 de 3 de julho de 1973 vinculado diretamente ao MEC com autonomia

financeira e administrativa. O CENESP deveria definir metas governamentais

que atendessem o deficiente e que organizasse o que vinha ocorrendo de

forma precária no país como a existência de escolas, instituições para ensino

especializado desse alunado, formação para o trabalho, etc. Objetivava ainda

integrar as esferas administrativas federal, estadual, municipal, particular,

privilegiando a integração ao sistema regular de ensino.

Constata-se a criação das federações como a Federação Nacional das

Associações de Pais e Amigos dos Excepcionais ( APAES ), ainda na década

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22de 60 e na década de 70 a fundação da Federação Nacional da Sociedade

Pestalozzi ( FENASP ) e Federação Brasileira de Instituições de Excepcionais

Em todo o mundo observa-se um crescente interesse em relação aos

deficientes justificado principalmente pelo objetivo de torná-los úteis à

sociedade e ao desenvolvimento. Recomendava-se a criação de um órgão

para definir uma política em relação aos deficientes mentais.

“ Frisava-se que a ONU , através de seus organismos

especiais, Fundo das Nações Unidas para a Infância (

UNICEF ), Organização das Nações Unidas para

Agricultura e Alimentação ( FAO ), Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (

UNESCO ), Organização Mundial da Saúde ( OMS ),

Organização Internacional do Trabalho ( OIT ), tinha

possibilidade de auxiliar o desenvolvimento de

assistência aos excepcionais através do auxílio técnico

aos governos nacionais” ( JANNUZZI, 2006, p.139 )

A autora acima citada expõe ainda que a LDB nº 5692 de 1971, artigo 9º

coloca que os alunos que apresentam algum tipo de deficiência, os que

apresentam atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os

superdotados devem ser tratados de forma especial de acordo com normas

fixadas pelos Conselhos de Educação. Desde a LDB nº 4024/61 estava clara a

posição oficial de preferência pelo ensino do deficiente na rede regular de

escolas

A década de 70 é marcada pelo milagre econômico onde havia o

arrocho salarial, desenvolvimento associado ao bloco ocidental, medidas

rígidas de segurança, composição do capital nacional com o internacional.

Neste panorama a educação estava associada à esfera econômica

encontrando-se em função do desenvolvimento do país e do aumento da

produtividade do indivíduo. Porém, para a maioria da população o milagre

econômico não ocorreu.

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23 Em 1974, segundo a autora, o número de deficientes atendidos

apresentou crescimento, eram aproximadamente 99.431, destes 57.842 eram

atendidos no setor público e 41.589 no setor privado. Considerando-se apenas

instituições especializadas, observa-se um maior número de alunos na rede

privada. Em 1987 foram atendidos aproximadamente 159.492, sendo 88.688

atendidos no setor público e 70.804 no setor privado, com a mesma

observação sobre instituições especializadas realizada anteriormente.

Do ano de 1974 para o de 1987 o crescimento foi relativamente

pequeno. Na década de 90 o setor público ainda não cobre totalmente o

atendimento, uma vez que cerca de 47,5% de alunos considerados portadores

de necessidades especiais são atendidos na rede particular.

No ano de 1986 o CENESP é transformado em Secretaria de

Educação Especial fazendo parte da estrutura básica do MEC e é criada a

Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (

CORDE ), ligado ao Gabinete Civil da Presidência da República, destinada a

aprimorar a educação especial e a integrar os superdotados, portadores de

deficiência e problemas de conduta à sociedade. Em 1990 a Secretaria é

extinta e se torna Coordenação de Educação Especial, retornando em 1992 ao

posto de Secretaria, estando em todas as suas fases ligadas ao MEC de

alguma forma, enquanto a CORDE passou por diversos ministérios.

A CORDE, traz a participação dos deficientes através do Conselho

Consultivo, o que antes não ocorria.

No ano de 1999, ainda em consonância com as palavras da autora, foi

criado o CONADE, vinculado ao Ministério da Justiça, como órgão de

deliberação coletiva que tinha como função aprovar o plano anual da CORDE

e acompanhar o desenvolvimento dos projetos e programas destinados a

integração de pessoa portadora de deficiência., porém, a CORDE ainda

prossegue como encarregada da política de integração.

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24 São criados conselhos nos estados e prefeituras. Ao CONADE, cabe

acompanhar e avaliar as políticas de educação, assistência social, saúde,

política urbana e outras relacionadas às pessoas portadoras de deficiência. O

conselho é formado por pessoas da sociedade civil e governo, contudo os

critérios de escolha de representantes ficavam de posse do Ministro da Justiça.

A Declaração de Salamanca, realizada no ano de 1994 ( conteúdo desta

Declaração será abordado no capítulo posterior ) apresentou grande

repercussão, apontando a inclusão como um avanço em relação à integração,

já que implica uma reestruturação do sistema comum de ensino.

A autora cita ainda que a educação é vista como parte da organização

social, sendo colocada como mediação, momento intermediário para a

mudança da sociedade a partir do fim dos anos 80, avançando pelos anos de

1990 e princípios do novo século.

Em educação especial, a inserção e qualidade do ensino são

defendidas como pontos de influência da transformação social já que

possibilita meios para que os alunos se apropriem do conhecimento necessário

à vida e à transformação social..

“A modificação desejada, reivindicada, não é só da

escola ou do sistema de ensino, mas sobretudo da

organização social injusta. Há também a busca de teorias

de aprendizagem, principalmente as que consideram a

importância da intersubjetividade, da aprendizagem

conjunta (...) Os métodos, técnicas, procedimentos de

ensino e apoio especializados são salientadas como

oportunidades diferenciadas ( eqüidade ),tantas quanto

forem necessárias, visando à igualdade. O princípio de

eqüidade reconhece a diferença e a necessidade de

haver condições diferenciadas para o processo

educacional. (...) Supõe assumir a responsabilidade da

escola na sua complexidade, e, portanto, implica que os

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25agentes escolares ( diretor, supervisor, professor,

funcionários em geral ) estejam atentos às dificuldades

de cada aluno e procurem pelo aprofundamento dos

conhecimentos historicamente acumulados, pela

percepção clara da realidade social e individual de cada

um, por meio de métodos e técnicas adequadas que

facilitem a apropriação do saber realmente necessário ao

tempo e lugar (...) o essencial é tornar o educando capaz

de realmente conhecer a realidade, atuar com todos,

transformando-a” ( JANNUZZI, 2006, p.191 e p.192 )

Desta forma, encerra-se o presente capítulo após breve análise histórica

da educação do deficiente no Brasil. No próximo capítulo será esboçada a

perspectiva de educação especial pautada na legislação brasileira

CAPÍTULO II

LEGISLAÇÃO E INCLUSÃO

A real inclusão dos portadores de necessidades especiais na rede

regular de ensino apresenta como uma de suas condições primordiais a

criação de uma infra-estrutura que possibilite o aluno chegar até a escola e

nela permanecer. Para que isto ocorra, modificações nos espaços urbanos,

transportes, mobiliários, entre outros, são aspectos elementares que facilitam a

inclusão.

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26 Assim, este capítulo terá como eixo central à legislação que aborda os

direitos dos portadores de necessidades especiais não só no âmbito escolar,

mas enfocando este espaço. Visando alcançar tal objetivo, serão destacados

pareceres, leis e outros documentos pertinentes à questão mencionada.

2.1 – Constituição Federal, Título VIII, da ORDEM SOCIAL

Goffredo ( 1999 ) informa que as linhas mestras da Constituição foram

regulamentadas de forma detalhada na Lei de Diretrizes e Bases nº 9394/96

que será observada adiante

A autora destaca ainda que no período entre a promulgação da referida

Constituição e da LDB se deu um encontro histórico internacional na área de

educação que foi a Conferência Mundial sobre Educação para Todos, em

1990. Dentre os itens abordados, a primeira recomendação é de suma

importância, pois relembra que a educação é um direito de todos, mulheres e

homens, de todas as idades e do mundo inteiro.

Após esta conferência, ocorreu na Espanha em 1994 a Conferência

Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, que reuniu delegados de

92 países e 25 organizações internacionais. Esta conferência analisou as

mudanças necessárias para favorecer a educação integradora, visando o

atendimento a todas as crianças, sobretudo as que apresentam necessidades

educativas especiais.

De acordo com a Constituição Federal, título VIII, dentre outras

colocações, deve ser oferecido atendimento educacional aos portadores de

necessidades especiais de preferência na rede regular de ensino.

A constituição determina ainda a necessidade da criação de meios que

facilitem o acesso da pessoa portadora de necessidades especiais aos

serviços e bens coletivos ressaltando a importância do fim das barreiras

arquitetônicas e da adaptação de veículos e transportes dentre outras medidas

que dizem respeito a esta questão.

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27“Artigo 208 (...):

III – atendimento educacional especializado aos

portadores de deficiência, preferencialmente na rede

regular de ensino;

IV - § 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é

direito público e subjetivo.

V – Acesso aos níveis mais elevados do ensino, da

pesquisa e da criação artística, segundo a capacidade de

cada um; (...)

Artigo 227(...)

II - § 1º - Criação de programas de prevenção e

atendimento especializado para os portadores de

deficiência física, sensorial ou mental, bem como de

integração social do adolescente portador de deficiência,

mediante o treinamento para o trabalho e a convivência,

e a facilitação do acesso aos bens e serviços coletivos,

com a eliminação de preconceitos e obstáculos

arquitetônicos.

§ 2º - A lei disporá normas de construção dos

logradouros e dos edifícios de uso público e de

fabricação de veículos de transporte coletivo, a fim de

garantir acesso adequado às pessoas portadoras de

deficiência.”

2.2 ) Lei nº 7853/89

Esta lei dispõe sobre o apoio às pessoas com deficiências, sua

integração na sociedade e assegura o pleno exercício dos direitos individuais e

sociais.

Page 28: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

28 Ressalta ainda que a inclusão deve se dar desde a pré-escola e abarcar

ainda a habilitação e reabilitação profissionais.

“ Art. 2º. Ao Poder Público e seus órgãos cabe assegurar

às pessoas portadoras de deficiência o pleno exercício

de seus direitos básicos, inclusive dos direitos à

educação, à saúde, ao trabalho, ao lazer, à previdência

social, ao amparo à infância e à maternidade, e de outros

que, decorrentes da Constituição e das leis, propiciem

seu bem-estar pessoal, social e econômico.

Parágrafo Único. Para o fim estabelecido no caput deste

artigo, os órgão e entidades da administração direta e

indireta devem dispensar, no âmbito de sua competência

e finalidade, aos assuntos objetos desta Lei, tratamento

prioritário e adequado, tendente a viabilizar, sem prejuízo

de outras, as seguintes medidas:

I – na área da educação:

a) a inclusão, no sistema educacional, da Educação

Especial como modalidade educativa que abranja a

educação precoce, a pré-escolar, as de 1º e 2º graus, a

supletiva, a habilitação e reabilitação profissionais, com

currículos, etapas e exigências de diplomação próprios;

b) o oferecimento obrigatório de programas de Educação

Especial em estabelecimentos públicos de ensino;

c) a oferta, obrigatória e gratuita, da Educação Especial

em estabelecimentos públicos de ensino;

d) o oferecimento obrigatório de programas de Educação

Especial em nível pré-escolar e escolar, em unidades

hospitalares e congêneres nas quais estejam internados,

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29por prazo igual ou superior a um (um) ano, educandos

portadores de deficiência;

e) o acesso de alunos portadores de deficiência aos

benefícios conferidos aos demais educandos, inclusive

material escolar, merenda escolar e bolsa de estudo;

f) a matrícula compulsória em cursos regulares de

estabelecimentos públicos e particulares de pessoas

portadoras de deficiência capazes de se integrarem ao

sistema regular de ensino.”

2.3 ) Lei nº 8069/90 – Estatuto da Criança e do

Adolescente

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente, no artigo 2º §

1º pode-se observar que “A criança e o adolescente portadores de deficiências

receberão atendimento especializado.”

O artigo 5º coloca ainda que:

“Nenhuma criança ou adolescente será objeto de

qualquer forma de negligência, discriminação, violência,

crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer

atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos

fundamentais”

2.4 ) Lei nº 9394/96 – Estabelece as diretrizes e bases da

educação nacional

Goffredo ( 1999 ) coloca que a Lei de Diretrizes e Bases vigente

apresenta características de flexibilidade. A Lei de Diretrizes e Bases da

educação expõe em seu artigo 4º, 58, 59, 60 o seguinte:

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30“ Art 4º O dever do Estado com educação escolar pública

será efetivado mediante garantia de: (...)

III – atendimento educacional especializado gratuito aos

educandos com necessidades especiais,

preferencialmente na rede regular de ensino.”

Tal autora refere-se ainda ao fato de que a LDB destina, pela primeira

vez, um capítulo à Educação Especial. No Capítulo V, artigos 58, 59, 60 pode-

se observar o seguinte:

“Art. 58. Entende-se por educação especial, para os

efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar,

oferecida preferencialmente na rede regular de ensino,

para educandos portadores de necessidades especiais.

§ 1º. Haverá, quando necessário, serviços de apoio

especializado, na escola regular, para atender às

peculiaridades da clientela de educação especial.

§ 2º. O atendimento educacional será feito em classes,

escolas ou serviços especializados, sempre que, em

função das condições específicas dos alunos, não for

possível a sua integração nas classes comuns de ensino

regular.

§ 3º. A oferta de educação especial, dever constitucional

do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos,

durante a educação infantil.

Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos

educandos com necessidades especiais:

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31I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e

organização específicos, para atender às suas

necessidades;

II - terminalidade específica para aqueles que não

puderem atingir o nível exigido para a conclusão do

ensino fundamental, em virtude de suas deficiências, e

aceleração para concluir em menor tempo o programa

escolar para os superdotados;

III - professores com especialização adequada em nível

médio ou superior, para atendimento especializado, bem

como professores do ensino regular capacitados para a

integração desses educandos nas classes comuns;

IV - educação especial para o trabalho, visando a sua

efetiva integração na vida em sociedade, inclusive

condições adequadas para os que não revelarem

capacidade de inserção no trabalho competitivo,

mediante articulação com os órgãos oficiais afins, bem

como para aqueles que apresentam uma habilidade

superior nas áreas artística, intelectual ou psicomotora;

V - acesso igualitário aos benefícios dos programas

sociais suplementares disponíveis para o respectivo nível

do ensino regular.

Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino

estabelecerão critérios de caracterização das instituições

privadas sem fins lucrativos, especializadas e com

atuação exclusiva em educação especial, para fins de

apoio técnico e financeiro pelo Poder Público.

Parágrafo único. O Poder Público adotará, como

alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos

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32educandos com necessidades especiais na própria rede

pública regular de ensino, independentemente do apoio

às instituições previstas neste artigo.”

2.5 ) Portaria MEC nº 1679/99

Dispõe sobre requisitos de acessibilidade de pessoas portadoras de

deficiências, para delinear as normas dos processos de autorização, de

reconhecimento de cursos, e de credenciamento de instituições.

“Art. 1º Determinar que sejam incluídos nos instrumentos

destinados a avaliar as condições de oferta de cursos

superiores, para fins de sua autorização e

reconhecimento e para fins de credenciamento de

instituições de ensino superior, bem como para sua

renovação, conforme as normas em vigor, requisitos de

acessibilidade de pessoas portadoras de necessidades

especiais. Art. 2o A Secretaria de Educação Superior

deste Ministério, com o apoio técnico da Secretaria de

Educação Especial, estabelecera os requisitos, tendo

como referencia a Norma Brasil 9050, da Associação

Brasileira de Normas Técnicas, que trata da

Acessibilidade de Pessoas Portadoras de Deficiências e

Edificações, Espaço, Mobiliário e Equipamentos

Urbanos.”

O referido Parecer busca ainda contemplar as seguintes medidas:

1 ) Para alunos com deficiência física prevê a eliminação de

barreiras arquitetônicas objetivando a circulação do estudante; reserva de

vagas em estacionamentos nas proximidades das unidades de serviços;

construção de rampas com corrimãos ou colocação de elevadores, facilitando

a circulação de cadeira de rodas; adaptação de portas e banheiros com

espaço suficiente para permitir o acesso de cadeira de rodas; colocação de

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33barras de apoio nas paredes dos banheiros; instalação de lavabos,

bebedouros e telefones públicos em altura acessível aos usuários de cadeira

de rodas;

2 ) Para aqueles que apresentam deficiência visual: sala de apoio

contendo: máquina de datilografia braille, impressora Braille e scanner

acoplados a computador, sistema de síntese de voz; gravador e copiadora que

amplie textos; plano de aquisição gradual de acervo bibliográfico em fitas de

áudio; software de ampliação de tela; equipamento para ampliação de textos

para atendimento a aluno com visão subnormal; lupas, réguas de leitura;

3 ) Para alunos com deficiência auditiva: intérpretes de língua de

sinais/língua portuguesa, especialmente quando da realização de provas ou

sua revisão, complementando a avaliação expressa em texto escrito;

flexibilidade na correção das provas escritas, valorizando o conteúdo

semântico; aprendizado da língua portuguesa; materiais de informações aos

professores para que se esclareça a especificidade lingüística dos surdos

Assim, tal Parecer estabelece, dentre outras medidas a eliminação de

barreiras arquitetônicas para possibilitar a circulação de alunos portadores de

deficiência física, maquinário de apoio que proporcione condições adequadas

de estudo aos portadores de deficiência visual e ainda a utilização de

intérpretes quando necessário. Ressalta-se ainda a preocupação com a

flexibilidade avaliativa em se tratando da deficiência auditiva.

2.6 ) Lei 10098/00

Esta Lei estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção

da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida através da supressão de barreiras e obstáculos nas vias, espaços

públicos, mobiliário urbano, edifícios, meios de transporte e de comunicação.

Assim, podem ser destacados os seguintes artigos:

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34“Art. 3o O planejamento e a urbanização das vias

públicas, dos parques e dos demais espaços de uso

público deverão ser concebidos e executados de forma a

torná-los acessíveis para as pessoas portadoras de

deficiência ou com mobilidade reduzida.Art. 4º As vias

públicas, os parques e os demais espaços de uso público

existentes, assim como as respectivas instalações de

serviços e mobiliários urbanos deverão ser adaptados (

... ) no sentido de promover mais ampla acessibilidade às

pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade

reduzida.

O traçado dos elementos de urbanização públicos e privados de uso

comunitário, passagens de pedestres, entrada e saída de veículos, escadas e

rampas devem permitir a acessibilidade dos portadores de necessidades

especiais. Assim como os banheiros de uso público, inclusive os já

construídos, devem adaptar pelo menos um sanitário e um lavatório para os

mesmos. Ainda sobre a locomoção e acesso dos portadores de necessidades

especiais a Lei assegura que:

“Art. 7o Em todas as áreas de estacionamento de

veículos, localizadas em vias ou em espaços públicos,

deverão ser reservadas vagas próximas dos acessos de

circulação de pedestres, devidamente sinalizadas, para

veículos que transportem pessoas portadoras de

deficiência com dificuldade de locomoção

Art. 8o Os sinais de tráfego, semáforos, postes de

iluminação ou quaisquer outros elementos verticais de

sinalização que devam ser instalados em itinerário ou

espaço de acesso para pedestres deverão ser dispostos

de forma a não dificultar ou impedir a circulação, e de

modo que possam ser utilizados com a máxima

comodidade.

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35Art. 9o Os semáforos para pedestres instalados nas vias

públicas deverão estar equipados com mecanismo que

emita sinal sonoro suave, intermitente e sem estridência,

ou com mecanismo alternativo, que sirva de guia ou

orientação para a travessia de pessoas portadoras de

deficiência visual, se a intensidade do fluxo de veículos e

a periculosidade da via assim determinarem.

Art. 10. Os elementos do mobiliário urbano deverão ser

projetados e instalados em locais que permitam sejam

eles utilizados pelas pessoas portadoras de deficiência

ou com mobilidade reduzida.(...)

Art. 14. Os edifícios a serem construídos com mais de

um pavimento além do pavimento de acesso, à exceção

das habitações unifamiliares, e que não estejam

obrigados à instalação de elevador, deverão dispor de

especificações técnicas e de projeto que facilitem a

instalação de um elevador adaptado, devendo os demais

elementos de uso comum destes edifícios atender aos

requisitos de acessibilidade.

2.7 ) Lei nº 10.172/01 – Esta Lei aprova o Plano Nacional de

Educação

Antes de dissertar especificamente sobre o Plano Nacional de

Educação, faz-se necessário observar alguns dados do diagnóstico referente à

educação especial que consta no mesmo.

De acordo com o diagnóstico, a diretriz atual é a da integração dos

portadores de necessidades especiais em todas as áreas da sociedade,

tratando em particular do direito de receber a educação sempre que possível

nas escolas regulares.

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36Ainda de acordo com o documento citado, a Organização Mundial de

Saúde estima que em torno de 10% da população têm necessidades

especiais. Podendo ser: visuais, auditivas, físicas, mentais, múltiplas, distúrbios

de conduta e também superdotação ou altas habilidades. Caso este parâmetro

se aplique ao Brasil, tem-se aproximadamente 15 milhões de pessoas com

necessidades especiais.

Comparando-se os dados acima com os números de matrículas nas

escolas, percebe-se o quanto estes são baixos. Em 1998, havia 293.403

alunos, distribuídos da seguinte forma:

• 58% com problemas mentais;

• 13,8%, com deficiências múltiplas;

• 12%, com problemas de audição;

• 3,1% de visão;

• 4,5%, com problemas físicos;

• 2,4%, de conduta.;

• 0,3% com altas habilidades ou eram superdotados;

• 5,9% recebiam "outro tipo de atendimento"

Entre as esferas administrativas observa-se:

• 48,2% dos estabelecimentos de educação especial em 1998 eram

estaduais;

• 26,8%, municipais;

• 24,8%, particulares

• 0,2%, federais.

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37Ainda de acordo com o diagnóstico do Plano Nacional de Educação,

pautado nos dados de 1998, apenas 14% desses estabelecimentos possuíam

instalação sanitária para alunos com necessidades especiais, que atendiam a

31% das matrículas. Os dados não informam sobre outras facilidades como

rampas e corrimãos. A eliminação das barreiras arquitetônicas nas escolas é

fundamental para a integração dessas pessoas no ensino regular.

O diagnóstico aponta que o material didático-pedagógico adequado,

conforme as necessidades específicas dos alunos, em muitos locais que

atendem os mesmos é inexistente, insuficiente ou inadequado.

O atendimento por nível de ensino, em 1998 apresentava o seguinte

quadro:

• 87.607 crianças na educação Infantil;

• 132.685, no ensino fundamental;

• 1.705, no ensino médio,

• 7.258 na educação de jovens e adultos.

São informados como "outros" 64.148 atendimentos. Não existem

dados sobre o atendimento do aluno com necessidades especiais na educação

superior. Estes demonstram ainda que o atendimento particular está muito à

frente na educação infantil especial (64%) e o estadual, nos níveis fundamental

e médio (52 e 49%, respectivamente), mas o atendimento municipal vem

crescendo no atendimento em nível fundamental.

Com base neste diagnóstico, o Plano Nacional da Educação

estabeleceu objetivos e metas para a educação das pessoas portadoras de

necessidades educativas especiais. Seguem abaixo alguns destes objetivos,

ressaltando que esta Lei data do ano de 2001:

1 - Organizar, em todos os Municípios e em parceria com as áreas de

saúde e assistência, programas destinados a ampliar a oferta da estimulação

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38precoce em instituições especializadas ou regulares de educação infantil,

especialmente creches.

2. Oferecer cursos sobre o atendimento básico a educandos especiais,

para os professores em exercício na educação infantil e no ensino

fundamental.

3. Garantir a aplicação de testes de acuidade visual e auditiva em todas

as instituições de educação infantil e do ensino fundamental.

4. Reorganizar as classes especiais, salas de recursos e outras

alternativas pedagógicas recomendadas, de forma a favorecer e apoiar a

integração dos educandos com necessidades especiais em classes regulares,

fornecendo-lhes o apoio adicional de que precisam.

5. Generalizar o atendimento dos alunos com necessidades especiais

na educação infantil e no ensino fundamental, inclusive através de acordos

entre Municípios, quando necessário, provendo, nestes casos, o transporte

escolar.

6. Implantar nos estados pelo menos um centro especializado,

destinado ao atendimento de pessoas com severa dificuldade de

desenvolvimento.

7. Tornar disponíveis livros didáticos e de literatura falados, em braille e

em caracteres ampliados, para todos os alunos cegos e para os de visão sub-

normal do ensino fundamental.

8. Estabelecer programas para equipar, em cinco anos, as escolas de

educação básica e, em dez anos, as de educação superior que atendam

educandos surdos e aos de visão sub-normal, com aparelhos de amplificação

sonora e outros equipamentos que facilitem a aprendizagem, atendendo-se,

com prioridade, as classes especiais e salas de recursos.

9. Implantar o ensino da Língua Brasileira de Sinais para os alunos

surdos e, sempre que possível, para seus familiares e para o pessoal da

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39unidade escolar, mediante um programa de formação de monitores, em

parceria com organizações não governamentais.

10. Ampliar o fornecimento e uso de equipamentos de informática como

apoio à aprendizagem do educando com necessidades especiais.

11. Assegurar transporte escolar com as adaptações necessárias aos

alunos que apresentem dificuldade de locomoção.

12. Garantir a inclusão, no projeto pedagógico das unidades escolares,

o atendimento às necessidades educacionais especiais de seus alunos, além

de definir os recursos disponíveis e oferecer formação em serviço aos

professores.

13. Articular as ações de educação especial e estabelecer mecanismos

de cooperação com a política de educação para o trabalho, para o

desenvolvimento de programas de qualificação profissional para alunos

especiais, promovendo sua colocação no mercado de trabalho. Definir

condições para a terminalidade para os educandos que não puderem atingir

níveis posteriores de ensino.

14. Disponibilizar órteses e próteses para todos os educandos com

deficiências, assim como atendimento especializado de saúde, quando for o

caso.

15. Incluir nos currículos de formação de professores, nos níveis médio

e superior, conteúdos e disciplinas específicas para a capacitação ao

atendimento dos alunos especiais.

16. Incluir ou ampliar, especialmente nas universidades públicas,

habilitação específica, em níveis de graduação e pós-graduação, para formar

pessoal especializado em educação especial, garantindo, pelo menos um

curso desse tipo em cada estado.

17. Introduzir conteúdos disciplinares referentes aos educandos com

necessidades especiais nos cursos que formam profissionais em áreas

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40relevantes para o atendimento dessas necessidades, como Medicina,

Enfermagem e Arquitetura, entre outras.

18. Incentivar a realização de estudos e pesquisas, especialmente pelas

instituições de ensino superior, sobre as diversas áreas relacionadas aos

alunos que apresentam necessidades especiais para a aprendizagem.

19. Aumentar os recursos destinados à educação especial, a fim de

atingir, o mínimo equivalente a 5% dos recursos vinculados à manutenção e

desenvolvimento do ensino.

20. Implantar gradativamente programas de atendimento aos alunos

com altas habilidades nas áreas artística, intelectual ou psicomotora.

21. Garantir a continuidade do apoio técnico e financeiro às instituições

privadas sem fim lucrativo com atuação exclusiva em educação especial, que

realizem atendimento de qualidade.

De acordo com os dados do Censo Escolar 2006, fornecidos pelo

Governo Federal ocorreu um crescimento de 193% das matrículas em classes

comuns, passando de 110.704 (24,6% do total de matriculados) em 2002, para

325.136 (46,4%), em 2006.

2.8 ) Resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001

Tal resolução tem como objetivo instituir as Diretrizes Nacionais para a

Educação Especial em todas as etapas da Educação Básica. Serão abordados

no presente trabalho alguns tópicos presentes nesta resolução.

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos. Cabe à escola

assegurar as condições necessárias para uma educação de qualidade e se

organizar para atender os alunos que apresentam necessidades educativas

especiais. A presente resolução define a educação especial da seguinte forma:

“Art. 3º Por educação especial, modalidade da educação

escolar, entende-se um processo educacional definido

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41por uma proposta pedagógica que assegure recursos e

serviços educacionais especiais, organizados

institucionalmente para apoiar, complementar,

suplementar e, em alguns casos, substituir os serviços

educacionais comuns, de modo a garantir a educação

escolar e promover o desenvolvimento das

potencialidades dos educandos que apresentam

necessidades educacionais especiais, em todas as

etapas e modalidades da educação básica.”

Ressalta-se ainda a importância de se garantir a busca da identidade

própria de cada aluno, reconhecendo e valorizando as diferenças e

potencialidades, almejando-se a constituição e ampliação de valores, atitudes,

competências, habilidades e conhecimentos.

São considerados alunos portadores de necessidades educativas

especiais, de acordo com o artigo 5º - incisos I, II, III, aqueles que apresentam

durante o processo educacional as seguintes características:

“I - dificuldades acentuadas de aprendizagem ou

limitações no processo de desenvolvimento que

dificultem o acompanhamento das atividades

curriculares, compreendidas em dois grupos:

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica

específica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções,

limitações ou deficiências;

II – dificuldades de comunicação e sinalização

diferenciadas dos demais alunos, demandando a

utilização de linguagens e códigos aplicáveis;

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42III - altas habilidades/superdotação, grande facilidade de

aprendizagem que os leve a dominar rapidamente

conceitos, procedimentos e atitudes.”

O atendimento aos alunos com necessidades educativas especiais deve

ser realizado em classes comuns do ensino regular.

Para tanto, a resolução afirma que a escola deve organizar as classes

referidas no parágrafo anterior atentando para o atendimento dos seguintes

tópicos presentes no artigo 8º incisos que se seguem:

“I - professores das classes comuns e da educação

especial capacitados e especializados, respectivamente,

para o atendimento às necessidades educacionais dos

alunos;

II - distribuição dos alunos com necessidades

educacionais especiais pelas várias classes do ano

escolar em que forem classificados, de modo que essas

classes comuns se beneficiem das diferenças e ampliem

positivamente as experiências de todos os alunos, dentro

do princípio de educar para a diversidade;

III – flexibilizações e adaptações curriculares que

considerem o significado prático e instrumental dos

conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos

didáticos diferenciados e processos de avaliação

adequados ao desenvolvimento dos alunos que

apresentam necessidades educacionais especiais, em

consonância com o projeto pedagógico da escola,

respeitada a

freqüência obrigatória;

Page 43: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

43IV – serviços de apoio pedagógico especializado,

realizado, nas classes comuns, mediante:

a) atuação colaborativa de professor especializado em

educação especial;

b) atuação de professores-intérpretes das linguagens e

códigos aplicáveis;

c) atuação de professores e outros profissionais

itinerantes intra e interinstitucionalmente;

d) disponibilização de outros apoios necessários à

aprendizagem, à locomoção e à comunicação.

V – serviços de apoio pedagógico especializado em

salas de recursos, nas quais o professor especializado

em educação especial realize a complementação ou

suplementação curricular, utilizando procedimentos,

equipamentos e materiais específicos;

VI – condições para reflexão e elaboração teórica da

educação inclusiva, com protagonismo dos professores,

articulando experiência e conhecimento com as

necessidades/possibilidades surgidas na relação

pedagógica, inclusive por meio de colaboração com

instituições de ensino superior e de pesquisa;

VII – sustentabilidade do processo inclusivo, mediante

aprendizagem cooperativa em sala de aula, trabalho de

equipe na escola e constituição de redes de apoio, com a

participação da família no processo educativo, bem como

de outros agentes e recursos da comunidade;

Page 44: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

44VIII – temporalidade flexível do ano letivo, para atender

às necessidades educacionais especiais de alunos com

deficiência mental ou com graves deficiências múltiplas,

de forma que possam concluir em tempo maior o

currículo previsto para a série/etapa escolar,

principalmente nos anos finais do ensino fundamental,

conforme estabelecido por normas dos sistemas de

ensino, procurando-se evitar grande defasagem

idade/série;

IX – atividades que favoreçam, ao aluno que apresente

altas habilidades/superdotação, o aprofundamento e

enriquecimento de aspectos curriculares, mediante

desafios suplementares nas classes comuns, em sala de

recursos ou em outros espaços definidos pelos sistemas

de ensino, inclusive para conclusão, em menor tempo, da

série ou etapa escolar (... )”

As classes especiais podem ser criadas em caráter extraordinário e

transitório para aqueles alunos que apresentem dificuldades acentuadas de

aprendizagem ou para os educandos que necessitam de apoio contínuo no

que tange à comunicação diferenciada.

Assim que demonstrem desenvolvimento e condições para o

atendimento inclusivo, a equipe pedagógica e a família podem decidir,

pautadas em uma avaliação pedagógica, pelo retorno do aluno para a classe

dita comum. O mesmo se dá em relação à transferência do aluno da escola

especial para a escola regular

Este documento diz ainda sobre a eliminação de barreiras arquitetônicas

nas escolas, bem como nos transportes escolares e comunicações, solicitando

adaptações nas escolas já existentes e nas por construir que garantam a

acessibilidade do aluno.

Page 45: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

452.9 ) Declaração de Salamanca

A Declaração de Salamanca não faz parte da legislação brasileira,

porém seus ideais norteiam vários documentos publicados no Brasil, sendo

importante desta forma o esclarecimento a respeito das concepções presentes

nesta.

De acordo com Goffredo ( 1999 ) esta Conferência teve como objetivo

principal promover a educação para todos, refletindo sobre as mudanças

necessárias para se implementar uma educação integradora, capacitando as

escolas a receberem todas as crianças incluindo as com necessidades

educativas especiais.

Os princípios contidos na Declaração de Salamanca visam o

reconhecimento das diferenças, o atendimento às necessidades de cada um, a

promoção da aprendizagem, a formação continuada e adequada dos

professores, mecanismos participatórios e descentralizados de planejamento e

o reconhecimento da importância da escola para todos.

Goffredo ( 1999 ) entende que democratizar a educação é sinônimo de

propiciar a todos o acesso e a permanência na escola, associando ambos com

a eqüidade e qualidade.

Uma quantidade considerável de brasileiros apresenta algum tipo de

deficiência. É imperioso que o sistema educacional brasileiro se estruture e

junto com a sociedade em geral, respeite a legislação para que sejam

dissipadas as desigualdades sociais e as atitudes discriminatórias.

Page 46: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

46

CAPÍTULO III

ATUAIS CAMINHOS DA INCLUSÃO ESCOLAR

Até recentemente, como afirma López ( 2004 ) a escola se ocupava das

áreas que privilegiavam a cognição, o que era feito sem preocupação com os

alunos que apresentavam alguma dificuldade de aprendizagem, já que sua

função era a de ensinar e avaliar com o objetivo exclusivo de classificar e

selecionar os alunos. Aqueles que apresentavam dificuldades de

aprendizagem ou necessidades educativas especiais eram levados a escolas

especializadas ou eram relegados ao numeroso grupo de alunos que

fracassavam no sistema escolar.

Nas últimas décadas, por motivos de ordem social e educativa, observa-

se uma preocupação em atender os alunos que apresentam necessidades

educativas especiais e integrá-los nas salas de aula das escolas regulares.

As mudanças no que dizem respeito aos serviços de educação especial

e à forma como são oferecidos, são resultados de uma mudança de paradigma

que esteve em vigor desde a década de 70. É possível observar duas

perspectivas de compreensão das deficiências conforme informa Stainback e

Stainback ( 1999 ). No passado a perspectiva das limitações funcionais foi

predominante e apresenta seguidores ainda na atualidade. A partir deste ponto

de vista, a tarefa dos educadores era a de determinar, melhorar ou preparar os

alunos que não foram bem-sucedidos, sem esforços planejados para adaptar a

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47escola às necessidades, interesses ou capacidades de cada um. Aqueles que

não se adaptassem aos programas existentes ficavam relegados a ambientes

segregados.

Um segundo ponto de vista que tem substituído a perspectiva citada

acima é a do grupo minoritário. Neste ponto de vista ocorre a reivindicação da

adaptação das organizações e ambientes escolares para que atendam às

necessidades de todos os alunos. Segregação e atitudes como a rotulação são

vistas como discriminação social e negam a preparação para uma cidadania

participativa.

Este capítulo centra a sua análise na mudança de enfoque no que tange

à educação dos portadores de necessidades especiais, abordando entre

outros tópicos, as possibilidades e conseqüências desta modificação no

cotidiano escolar.

No decorrer das últimas décadas pôde-se observar modificações no

conceito e na atenção dadas aos alunos com necessidades educativas

especiais.

A transformação da educação especial e sua incorporação ao ensino

regular enfrentam problemas e limitações já que é necessário para tanto, uma

mudança significativa no sistema educacional, onde este considere a

diversidade cultural, social, pessoal que existe no âmbito escolar.

Neste contexto, faz-se necessária à criação de uma escola que abarque

não só a educação especial, mas que pense um ensino de qualidade para

todos os alunos.

De acordo com Marchesi ( 2004 ) a educação especial passou por

transformações durante o século XX. Através de grande influência dos

movimentos sociais que reivindicavam igualdade entre os cidadãos e

superação da discriminação observa-se gradativamente a integração de alunos

com alguma necessidade especial no campo educativo.

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48Na primeira metade do século XX o conceito de deficiência incluía

características de inatismo e de estabilidade ao longo do tempo. Privilegiavam-

se os aspectos orgânicos que se produziam no início do desenvolvimento e

cuja modificação era difícil.

No decorrer dos anos, as categorias se transformaram, porém

apresentando como traço comum o fato de que o transtorno era visto como um

problema inerente à criança, com poucas possibilidades de intervenção

educativa e de modificação.

Esta concepção trouxe duas conseqüências: a primeira diz respeito à

disseminação dos testes de inteligência que buscavam comparar a pessoa

com o restante da população. Desta forma, nas palavras do autor citado

anteriormente:

“O desenvolvimento dos testes de inteligência ajuda a

delimitar os diferentes níveis de normalidade e de

deficiência mental, além de diagnosticar em qual deles

situava-se o aluno, permitindo saber em que escola

deveria estudar” ( MARCHESI in: COLL, MARCHESI e

PALACIOS, 2004, p. 17 )

A segunda conseqüência diz respeito à aceitação generalizada de que

os alunos que apresentam alguma necessidade especial deviam estudar em

escolas especiais, surgindo assim as escolas de educação especial com

ensino diferente da escola regular, professores especializados e recursos

específicos.

De acordo com Falvey, Givner e Kimm ( 1999 ), nos anos de 1940 e

1950 as questões do inatismo e da ausência de cura dos transtornos começam

a ser questionadas. As concepções oferecidas pelo campo da psicologia no

que tange as abordagens ambientalista e behaviorista destacam-se no campo

da deficiência. Os dados quantitativos dos testes de inteligência ainda são

utilizados para determinar os níveis de deficiência mental, porém, neste

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49momento, já são consideradas as influências culturais e sociais sobre o

funcionamento intelectual. Assim:

“Abre-se espaço à concepção de que a deficiência pode

ser motivada por falta de estímulo adequado ou por

processos de aprendizagem incorretos. Ao mesmo

tempo, incluem-se os conceitos de adaptação social e de

aprendizagem nas definições sobre o atraso intelectual,

reforçando as possibilidades de intervenção. A distinção

entre causas ‘endógenas’ e ‘exógenas’ para explicar as

deficiências detectadas é sem dúvida, um passo a mais

no sentido da revisão definitiva da ‘ incurabilidade’ como

traço básico na definição das deficiências” ( MARCHESI

in: COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004, p. 17 )

A partir da década de 60 movimentos de cunho social impulsionam

transformações no campo de educação especial. Os principais fatores, na

concepção de Marchesi ( 2004 ), que favoreceram essas mudanças foram:

1 – A concepção dos transtornos de desenvolvimento e da deficiência

que não a estuda como uma situação interna do aluno, mas que a considera

em relação aos fatores ambientais. O déficit já não é mais uma categoria com

perfis clínicos estáveis, mas se estabelece em função da experiência

educativa. A aprendizagem e o desenvolvimento dos alunos com alguma

necessidade especial podem ser favorecidos pelo sistema educacional.

2 – Novas teorias do desenvolvimento e da aprendizagem se afastam de

modelos anteriores que ressaltam a influência do desenvolvimento sobre a

aprendizagem. O aluno apresenta papel ativo na aprendizagem e o professor

deve considerar o nível inicial de conhecimento deste, sendo o processo de

ensino uma experiência compartilhada individualizada, a vivência associada a

esta se dá de forma diferente, ainda que os alunos se encontrem na mesma

sala de aula, possuam a mesma idade ou apresentem a mesma deficiência.

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50 3 – Os testes de inteligência e a influência de seus resultados são

revistos na medida em que estes não devem mais ser tomados como uma

forma de classificação permanente. A escola pode influenciar a aprendizagem

destes alunos produzindo mudanças positivas. A avaliação pauta-se nas

possibilidades de aprendizagem dos alunos. Os instrumentos de avaliação

estão intimamente relacionados com o currículo e objetivam a orientação da

prática educativa.

4 – A presença de uma maior qualificação dos professores para atender

os alunos que apresentam necessidades especiais.

5 – A extensão da educação obrigatória faz com que as escolas

regulares necessitem ensinar a todos os alunos, devendo adquirir um aspecto

integrador.

6 _ O conceito de “fracasso escolar”, cujas causas apresentam-se com

prioridade nos fatores sociais, culturais e educativos, reformula as fronteiras

entre normalidade, fracasso e deficiência e, como conseqüência disso, entre

alunos que freqüentam escolas regulares e escolas especiais.

7 – A heterogeneidade dos alunos escolarizados em escolas especiais,

as dificuldades de integração social posterior dos alunos leva a uma avaliação

da escola especial e contribui para a concepção de que poderia haver outras

formas de escolarização para aqueles alunos que não são gravemente

afetados.

8 – Experiências positivas de integração em determinadas escolas

demonstram uma atmosfera favorável a esta

9 – Formulações integradoras e normalizadoras estendem-se aos

serviços sociais. Assim, nas palavras dos próprios autores:

“Algumas de suas manifestações podem ser

encontradas na aproximação dos atendimentos médicos,

psicológicos e educacionais nos locais de residência dos

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51cidadãos, na importância cada vez maior que se atribui

aos fatores ambientais, no papel crescente dos serviços

próprios da comunidade dos quais participam também

homens e mulheres voluntários, e na relevância do

enfoque comunitário nas diferentes disciplinas

relacionadas à saúde. Tudo isso conta a favor de que

todos os cidadãos se beneficiem igualmente dos mesmos

serviços, o que supõe evitar que haja sistemas paralelos

que diferenciem alguns poucos da maioria.” ( MARCHESI

in: COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004, p. 18 )

10 – Movimentos sociais que defendem os direitos civis das minorias

raciais, lingüísticas ou culturais em consonância com a pressão dos pais e das

associações de pessoas adultas que reclamam seus interesses, favorecem a

mudança de atitude em relação às pessoas com deficiência e a crescente

demanda por sua integração na sociedade.

Estes fatores, como relata o autor, impulsionam a mudança

principalmente no que tange à prática educativa, ao desenvolvimento da

integração, às modificações na concepção do currículo, à organização das

escolas, à formação dos professores e ao processo de ensino na sala de aula.

Atualmente a concepção de educação está voltada para o novo, para o

ilimitado e desconhecido. Educa-se, segundo Parolin ( 2006 ) em nome de

uma globalização que acaba por homogeneizar comportamentos e culturas.

Neste contexto o humano deve estar enquadrado em determinada

classificação que pode ser de ordem religiosa, econômica ou cultural, gerando

assim, sintomas, regras e preconceitos. Nesta sociedade exige-se alto padrão

de habilidades e intensa competitividade.

Frente a todas as mudanças sociais, a escola assume o papel de

transformar as informações em conhecimentos e saberes. O professor, além

de administrar os conteúdos deverá atingir o aluno a partir de múltiplas

linguagens. É o espaço onde se darão as trocas individuais e grupais.

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52 Quando se refere à inclusão escolar, a autora citada anteriormente se

atém desde as situações derivadas de questões sociais marginalizantes até as

relacionadas às diferenças constitucionais, que podem ser as deficiências,

síndromes, transtornos, insuficiências, os problemas e dificuldades de

aprendizagem.

Diante dessa realidade social, caberá a escola responder às

singularidades postas por meio de instrumentos e métodos eficientes.

“Compreender que existem diferenças entre as pessoas

faz parte da formação do educador. Sabe-se que as

pessoas têm diferentes interesses, potencial,

necessidades, habilidades, competências, história,

contexto sócio-emocional e essas diferenças produzem,

ao longo da vida do aprendiz, a singularidade de cada

um (...) Pensando nesta direção, é criminoso

continuarmos favorecendo uma prática pedagógica que

favoreça um determinado perfil de aprendiz ou ainda pior,

que classifique e rotule diferentes saberes ou formas de

aprender.” (PAROLIN, 2006 p.32 )

Goffredo ( 1999 ) aborda a inclusão também sob o ponto de vista do

fracasso escolar. Este vem sendo discutido a partir de diferentes pontos de

vista: biológico, cultural, psicológico, econômico e social. Porém, o fracasso

escolar vem ocorrendo com os alunos das classes menos favorecidas que

encontram barreiras no cotidiano escolar.

“ O comportamento dessas crianças é associado à falta

de educação, seus valores são contraditórios ao que é

proposto pela escola, seus conhecimentos não são

considerados ou são tratados com desconhecimento, sua

realidade deve ser deixada de lado para que em seu

lugar uma outra, sob o modelo das classes dominantes

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53seja construída.” ( ESTEBAN apud: GOFFREDO, 1999

p.48 )

Assim, a escola procura impor a cultura da classe dominante e

desvaloriza a cultura do aluno que provém de classes sociais menos

favorecidas. Ainda discorrendo sobre tal assunto, a autora cita que:

“Buscando a homogeneidade, é escamoteado que

crianças diferentes criadas em contextos diferentes,

expostas a realidades diferentes, desenvolvem,

conseqüentemente, habilidades e conhecimentos

diferentes. Embora a diferença não signifique a

capacidade de uns para aprender e a incapacidade de

outros, sua existência aponta a necessidade de que o

trabalho escolar possa incorporar a heterogeneidade que

constitui o real, sendo construído a partir dessas

diferenças, que o tornam mais rico e dinâmico.” (

ESTEBAN apud: GOFFREDO, 1999 p.48 )

Goffredo ( 1999 ) afirma que a escola que se propõe a ser um espaço

realmente inclusivo deve ter como principal objetivo o sucesso de todos os

seus alunos, sem exceção. Não garantir o acesso e permanência de todos na

escola é a forma mais cruel de exclusão escolar e, como conseqüência, de

exclusão social, pois o direito elementar à cidadania é negado.

A autora considera que uma escola para ser inclusiva precisa abandonar

a condição de instituição burocrática que cumpre apenas as normas

estabelecidas por níveis centrais. Assim, para que isto se dê na prática, a

escola tem que ser um lugar de tomada de decisão, ajustando-se ao seu

contexto real e fornecendo respostas aos desafios que surgem, tornando-se

assim, um espaço de todos.

“Este novo desenho da escola implicará a busca por

alternativas que garantam o acesso e a permanência de

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54todas as crianças e adolescentes em seu interior. Assim,

o que se deseja, na realidade, é a construção de uma

sociedade inclusiva compromissada com as minorias,

cujo grupo inclui os portadores de necessidades

educativas especiais.” ( GOFFREDO, 1999 p. 45 )

Salvador ( 2006 ) enfatiza que a educação realmente inclusiva deve

legitimar a palavra ao seu aluno. Deve partir de sua visão de mundo, seus

sentimentos, suas impressões, o aluno estará se desenvolvendo e refazendo o

seu saber pedagógico. Sob este aspecto, cabe ao professor preocupar-se com

a construção do conhecimento a partir do aluno, selecionando para tanto

tecnologias adequadas à consecução deste objetivo.

Durante algum tempo houve uma generalização das categorias de

incluídos. Todos, de alguma forma, foram tratados como deficientes. Eram

tomados como diferentes e para tal deveriam estudar em locais diferentes da

categoria dos normais.

As necessidades dos alunos ditos especiais passaram ainda a ser

analisadas sob um viés único, igual para todos, excluindo a necessidade de

um trabalho específico para cada ser, negando-se a individualidade e à

construção de um caminho próprio a cada um.

Ainda de acordo com a autora, tão perversa quanto uma prática

claramente excludente é aquela que consiste em segregar incluindo, isto é,

atribuir um status especial à determinada classe de indivíduos: negros,

menores carentes, imigrantes, alunos com necessidades especiais que são

aceitos em algumas instituições, porém ocupando uma condição de

inferiorização, ignorada. De nada adianta inserí-los em salas de aula se não se

apresenta para tal um projeto de trabalho que busque atender as dificuldades

específicas do aluno ou grupo de alunos.

Para Fabrício e Souza ( 2006 ), na prática do cotidiano escolar o que se

observou foi a busca por atender à orientação de não excluir nenhum aluno do

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55convívio das outras crianças, recebendo de forma indiscriminada crianças com

deficiências.

Assim, amplia-se o quadro de clientela dos alunos sem se refletir a

respeito das implicações pedagógicas das medidas adotadas. Neste contexto,

a escola desempenha um papel ambíguo frente à diversidade: se de um lado

abriu as portas para os alunos especiais, de outro, não estava preparada para

fazê-lo. Não ofereceu condições necessárias para a educação dos alunos com

necessidades educativas especiais. Desta forma, permaneceu

desempenhando programações estabelecidas de caráter intelectualista.

A questão estrutural referente à escola pode, mesmo que de forma

involuntária, acolher ou expulsar o aluno que se pretende incluir na rede

regular de ensino.

Para Stainback e Stainback ( 1999 ) é necessário estar atento para que

sob o discurso de inclusão nas escolas regulares não se camufle a intenção de

praticar a restrição de recursos.

“Na esperada expansão da inclusão, será necessário

monitorar os efeitos da restrição financeira que se está

tornando uma marca em nossos tempos. A inclusão não

é, nem deve se tornar, uma maneira conveniente de

justificar cortes orçamentários que podem pôr em risco a

provisão de serviços essenciais. A inclusão genuína não

significa a inserção de alunos com deficiência em classes

do ensino regular sem apoio para professores ou alunos.

Em outras palavras, o principal objetivo do ensino

inclusivo não é economizar dinheiro: é servir

adequadamente a todos os alunos.” (STAINBACK e

STAINBACK, 1999 p. 30 )

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56 Teves ( 1999 ) ressalta que se deve cuidar para, sob o discurso da

cidadania, não igualar aqueles que são portadores de diferenças específicas,

assegurando o respeito às diferenças. Admitir que as escolas regulares

absorverão esses alunos porque a lei determina desta forma é um grande

engano, já que é possível burlar esta mesma lei e ainda pode-se observar a

produção da auto-exclusão. O aluno não é excluído somente quando lhe é

negada a vaga, mas é também excluído no momento em que lhe é endereçado

um lugar de ostracismo dentro da escola, não o envolvendo nas atividades,

considerando –o como um espectro em sala de aula.

A inclusão, ainda de acordo com a autora mencionada anteriormente,

demanda cuidado e um longo processo cultural. É fundamental a instituição de

uma cultura voltada para a mudança, para que a médio ou longo prazo seja

possível chegar a uma mudança de cultura.

Marckesi ( 2004 ) informa que o conceito de “necessidades especiais”

foi empregado inicialmente na década de 60, porém não foi capaz de modificar

os esquemas que perduravam na educação especial.

O informe de Warnock, publicado em 1978 foi capaz de popularizar uma

concepção distinta de dificuldades das crianças que não as colocassem em

categorias fixas, apontando quatro razões para a não utilização desta prática:

1 – As crianças podem ser afetadas por várias deficiências.

2 - As categorias confundem o tipo de educação especial que é

necessário, uma vez que promovem a idéia de que todas as crianças que se

encontram na mesma categoria têm necessidades educativas similares.

3 – As categorias, quando são a base para a provisão de recursos, não

as proporcionam para aquelas crianças que não se ajustam às categorias

estabelecidas.

4 – As categorias produzem o efeito de rotular as crianças de forma

negativa

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57 No que tange ao aspecto educativo, o informe considera que a utilização

do termo “necessidades educativas especiais” apresenta quatro características

principais: é um conceito relativo, se dirige a um grupo de alunos, refere-se

com prioridade aos problemas de aprendizagem na sala de aula e supõe a

provisão de recursos suplementares.

O termo “necessidades educativas especiais” se centra ainda no fato de

que os alunos com deficiência ou dificuldades significativas de aprendizagem

podem apresentar necessidades educativas de gravidades diferentes em

distintos momentos.

O conceito de necessidades educativas especiais, no que diz respeito

ao caráter relativo e contextual, se refere ao fato de que a avaliação dos

problemas dos alunos não deve estar centrada somente neles mesmos, mas

deve-se considerar o contexto no qual está inserida a aprendizagem: o

funcionamento da escola, flexibilidade do ensino, recursos e metodologia

empregada, além dos critérios de avaliação utilizados. Nas palavras do próprio

autor:

“Os problemas de aprendizagem dos alunos são

determinados, em grande medida, por seu ambiente

familiar e social e pelas características da escola. O tipo

de ensino que se desenvolve em uma escola pode

intensificar as dificuldades dos alunos. Quanto maior for

a rigidez nos objetivos educativos, maior a

homogeneidade dos conteúdos que os alunos devem

aprender e menor a flexibilidade organizacional, havendo

maior possibilidade de que um maior número de alunos

se sinta desvinculado dos processos de aprendizagem e

manifestem, por isso, maior dificuldade.”( MARCHESI in:

COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004, p. 20 )

Ainda de acordo com Marchesi ( 2004 ), um aluno com necessidades

educativas especiais demonstra algum problema de aprendizagem ao longo da

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58escolarização, que necessita de uma resposta educativa mais específica. Ao

utilizar o termo dificuldades na aprendizagem escolar e evitar a linguagem da

deficiência, a ênfase recai na escola, na forma da resposta educativa que esta

oferece.

O conceito de necessidades educativas especiais remete ainda à

questão da necessidade da provisão de recursos com o intuito de diminuir as

dificuldades de aprendizagem que este aluno possa apresentar. Os recursos

podem ser de variados tipos: supressão de barreiras arquitetônicas, materiais

curriculares, adaptações de edifícios, sistema de comunicação alternativo,

dentre outros.

O autor expõe que na detecção e avaliação dos alunos com

necessidades educativas especiais a ênfase não recai na investigação de

traços que permitam situar o aluno dentro de uma das categorias de

deficiência, mas enfoca a necessidade de conhecer como foram geradas as

dificuldades da criança, que influência teve o ambiente familiar e social, que

papel que a escola possui na origem e manifestação das dificuldades e qual a

resposta que é mais adequada ao caso.

A avaliação nesta perspectiva visa analisar as potencialidades de

aprendizagem e desenvolvimento e situar a forma de ensino e recursos mais

adequados para atingir qualidade educacional em um ambiente o mais

inclusivo possível.

De acordo com as palavras do referido autor, este novo enfoque:

“ ...ampliou as perspectivas no campo da educação

especial, que agora inclui um maior número de alunos, e

a incorporou ao sistema educacional regular. Por outro

lado, situou na própria escola a maior parte dos

problemas dos alunos, impondo uma reformulação de

seus objetivos e apontando a necessidade de uma

reforma. E, finalmente, assinalou a vinculação entre as

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59necessidades educativas especiais e a provisão de

recursos educativos.” ( MARCHESI in: COLL,

MARCHESI e PALACIOS, 2004, p. 20 e p.21 )

Para Fierro ( 2004 ) o conceito de necessidades educativas especiais

prioriza não as dificuldades apresentadas pelos alunos, mas sim as demandas

que são apresentadas à escola, aos professores relacionadas aos recursos

especiais – didáticos, materiais – que sua educação requer.

Termos como deficiência, incapacidade, atraso, etc referem-se a

qualidades intrínsecas à pessoa, como se estas questões não guardassem

relação com o social, com as relações do indivíduo com o meio e com as

reações do meio diante de tal indivíduo.

Ainda de acordo com o autor referido anteriormente, o conceito de

necessidades educativas especiais coloca em destaque não um aspecto

apenas interno, inerente à pessoa, mas sim uma condição que se estabelece a

partir de um fato relacional: uma condição do indivíduo, mas ligada a algo em

seu entorno, em relação ao ambiente educativo.

“O conceito não diz tanto sobre o que o aluno é e faz,

mas, sobretudo, sobre o que a escola tem de fazer com

ele. As demandas e as necessidades educativas

especiais têm como correlato à resposta específica da

escola. São necessidades que se manifestam não no

aluno como tal, mas sim em sua inter-relação com o meio

escolar. (...) Trata-se de enfocar a atividade educacional

não tanto em torno das dificuldades, as de aprender e

ensinar, fazendo com que o peso da atenção recaia

sobre a dificuldade, mas em torno de um conjunto de

práticas e modos de intervenção dirigidos a superá-las.

Trata-se de mudar o enfoque, não centrando mais no

aspecto negativo das dificuldades, mas sim no positivo

dos programas, das práticas, das estratégias didáticas e

Page 60: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

60da educação específica que é preciso oferecer aos

alunos. (FIERRO, in: COLL, MARCHESI e PALACIOS,

2004, p. 209 )

Ainda de acordo com Marchesi ( 2004 ), o conceito de necessidades

educativas especiais foi criticado por alguns autores que o consideraram vago.

Além deste fato, novos conceitos tinham que ser utilizados para a adequada

compreensão do termo.

Criticava-se ainda tal conceito porque o mesmo não ajudava a

diferenciar os vários problemas de aprendizagem. Em alguns casos considera-

se que esses problemas estão associados aos transtornos do desenvolvimento

da criança; em outros casos são as condições sociais ou familiares, o currículo

ou a própria organização escolar que desencadeiam a dificuldade escolar.

Porém, em todos eles é na interação indivíduo-classe-social-família-escola que

serão encontradas as explicações sobre a dificuldade de aprendizagem que a

criança apresenta.

O autor cita ainda uma crítica que se origina da sociologia da educação.

Para esta corrente, a denominação “alunos com necessidades educativas

especiais” é uma categoria construída socialmente e freqüentemente

empregada para localizar certos alunos em opções educativas segregadoras.

As famílias não apresentam o “capital cultural” necessário para transmitir aos

seus filhos e por isso não se adaptam às exigências acadêmicas do sistema

escolar.

A idéia de necessidades educativas especiais esteve associada à

utilização do conceito de integração. Os dois conceitos provêm dos

movimentos sociais de 1960 que exigiam igualdade para todas as minorias que

sofriam algum tipo de exclusão. Dessa perspectiva mais política, a

necessidade de integração advém dos direitos dos alunos e demonstra-se

como concretização na prática social do princípio de igualdade: todos os

alunos devem ter acesso à educação a partir de práticas não-segregadoras.

Page 61: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

61 A integração permite aos alunos escolarizados fora das escolas

regulares serem educados nestas. A tônica recai sobre as condições

educativas e mudanças necessárias às escolas regulares para receberem os

alunos com necessidades educativas especiais, detendo-se na provisão de

recursos, dentre outros aspectos, para oferecer um ensino satisfatório.

Marchesi ( 2004 ) coloca ainda que em determinados momentos julgou-

se que a integração dos alunos na escola regular era o principal objetivo da

mudança. A partir de então, é possível notar uma controvérsia, já que se

enfatiza apenas os alunos que são educados em escolas especiais e se relega

os alunos com necessidades educativas especiais que foram escolarizados

nas escolas regulares. A integração não deve ser entendida como um

movimento que busca apenas incorporar os alunos que estão em escolas

especiais às escolas regulares, juntamente com os seus professores e

recursos técnicos que existem nelas. A integração deve ir além da simples

transferência da educação especial às escolas de ensino comum, ela deve

abarcar e ter como objetivo principal à educação dos alunos com necessidades

educativas especiais.

O autor informa que as insatisfações com as interpretações sobre a

integração levaram a modificar esta terminologia e a propor que o principal

objetivo das mudanças almejadas é o de educar os alunos com necessidades

educativas especiais na escola regular.

“A finalidade do esforço é a educação desses alunos. O

meio é a integração. Isso supõe que é o sistema

educacional em seu conjunto que assume a

responsabilidade de dar uma resposta para alcançar tal

objetivo, e não uma parte dele, a educação especial, que

se desloca acompanhando os alunos com deficiência

que já não são escolarizados nas escolas especiais”

Page 62: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

62(MARCHESI in: COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004,

p. 23 )

A integração mostra-se benéfica tanto para alunos que apresentam

necessidades educativas especiais quanto para aqueles que não as

apresentam. Para os que apresentam necessidades educativas especiais

contribui para um melhor desenvolvimento e para a socialização mais

completa. Para os outros alunos cria-se a oportunidade de aprender através de

uma metodologia mais individualizada, mais atenta à diversidade de situações

que podem ser encontradas em uma sala de aula. A integração é capaz ainda

de desenvolver atitudes de respeito e de solidariedade em relação aos alunos

que apresentam maior dificuldade, contribuindo para a formação da cidadania.

Para Marchesi ( 2004 ) a integração quando vai além da simples

presença física do aluno com necessidades educativas especiais nas salas de

aula regulares, supõe ainda uma mudança significativa na educação. Esta

mudança dirige-se ao estabelecimento de objetivos mais amplos e

equilibrados, à definição de um currículo flexível e a formação dos professores

no que diz respeito à diversidade dos alunos. Assim, é possível facilitar a

adaptação da escola e organização do ensino na sala de aula aos alunos com

necessidades educativas especiais, favorecendo sua integração.

Diante das vantagens citadas anteriormente, é necessário considerar

que existem críticas em relação à integração.

“Por um lado, afirma-se que os alunos com algum tipo de

deficiência não encontrarão na escola regular uma

educação tão completa como a que teriam nas escolas

especiais. Os grupos excessivamente heterogêneos de

alunos apresentam muitas dificuldades de aprender

juntos. Também não dispõem de recursos similares aos

das escolas especiais nem de professores

Page 63: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

63suficientemente preparados.” (MARCHESI in: COLL,

MARCHESI e PALACIOS, 2004, p. 24 )

A argumentação contra as críticas reside no fato de que a integração

não é simplesmente oferecer a escolarização para os alunos com

necessidades educativas especiais nas escolas regulares, ela vai além porque

deve ocorrer a partir de mudanças profundas nas escolas. A integração não

deve ser tomada como uma opção rígida com limites precisos e definidos e

que é igual para todos os alunos. Antes de tudo, a integração é um processo

dinâmico que apresenta como objetivo central a busca pela melhor situação

educativa para que um aluno desenvolva ao máximo suas possibilidades e,

desta forma, deve variar de acordo com as necessidades e o tipo de resposta

que a escola deve oferecer. Assim, a forma de concretizar a integração pode

variar à medida que as necessidades educativas dos alunos forem se

modificando.

Fierro ( 2004 ) critica a utilização de expressões como “estimulação

precoce” para crianças que apresentam algum tipo de deficiência. O mesmo

defende a idéia do oferecimento da educação formal desde a educação

infantil. Esta modificação no enfoque tem como conseqüência o fato de que

não se trata apenas da questão da estimulação, mas de uma educação

propriamente dita. Além disso, o termo precoce remete a uma concepção de

que está ocorrendo antes do tempo quando na verdade a educação começa

desde o momento em que a pessoa nasce.

“Na criança que nasce ou se desenvolve com deficiência,

é crucial que os pais e os familiares estejam cientes de

seu papel de educadores, como também é fundamental

que a criança freqüente a escola infantil desde cedo. Não

que a escola tenha o monopólio da educação, muito

menos nestes anos. A maior parte da educação na

primeira infância se realiza – e deve realizar-se – na

Page 64: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

64própria família, embora nas crianças com deficiência,

dificilmente poderá ser levada a cabo apenas pelos

familiares. Muito mais do que outros pais, eles

necessitam da orientação e do suporte dos profissionais.”

(FIERRO in: COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004, p.

212 )

A educação infantil para este autor tem como finalidade facilitar as

experiências e contribuir para ordenar as aprendizagens que provavelmente

não se dariam de forma espontânea no ambiente familiar.

Fabrício e Souza ( 2006 ) entendem por inclusão escolar a integração

do aluno como membro ativo em uma sala de aula. Para tanto, é necessário

um olhar abrangente nas questões das competências, das aprendizagens e

estrutura da escola, cuidando-se para que as diferenças não sejam tomadas

como barreiras para o ensino.

Para se praticar uma inclusão efetiva, tais autoras colocam que:

“Uma prática que consideramos muito importante neste

tipo de trabalho de inserção é a elaboração de planos

pedagógicos individuais para alunos com necessidades

especiais. Esses planos devem estabelecer, claramente,

metas pedagógicas e estratégias para atingi-las a curto,

médio e longo prazos. É importante priorizar as

atividades às quais o aluno responde positivamente, ou

seja, partir das atividades potencialmente produtivas para

aquele aluno. Ao mesmo tempo, deve-se listar aquelas

atividades das quais o aluno parece não gostar ou não

entender o princípio.” ( FABRÍCIO E SOUZA, in: Parolin,

2006 p.94 )

Winkeler e Oliveira ( 2006 ) ressaltam que a prática da inclusão deve ser

alicerçada nos Parâmetros Curriculares Nacionais já que se deve compreender

Page 65: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

65a cidadania como participação social e política, bem como exercício de direitos

e deveres políticos, civis e sociais, adotando no dia-a-dia, atitudes que

favoreçam a solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando o

outro e exigindo para si o mesmo respeito.

Para tanto, os Parâmetros Curriculares Nacionais ( PCNs ) informam

ainda a necessidade de se utilizar diferentes linguagens como meio de produzir

e expressar idéias, atendendo as diferentes formas de intenções e situações

de comunicação. Assim, pautado nisto, faz-se mister a utilização de diferentes

linguagens para que se possa atingir cada aluno de forma individualizada e

para que a aprendizagem se dê de forma global.

Além de incluir, cabe à escola integrar todas as crianças, sejam elas

especiais ou não. Em um sentido mais amplo, uma proposta inclusiva requer a

promoção e a inserção de todos os indivíduos, onde as necessidades devem

ser satisfeitas independentemente do talento, deficiência, origem

socioeconômica ou cultural.

A prática pedagógica inclusiva requer medidas de flexibilização e

dinamização do currículo para viabilizar o acesso à aprendizagem para todos

os alunos a despeito das necessidades diferenciadas que possam apresentar.

A escola inclusiva tem como objetivo uma educação de qualidade para

todos, respeitando as diferenças, evitando qualquer mecanismo excludente,

preconceituoso ou que rotule o aluno. O aluno com necessidades especiais

não é visto mais a partir de suas limitações e sim sob a ótica de suas

potencialidades, capacidades e competências.

De acordo com Stainback e Stainback ( 1999 ), existem três

componentes práticos interdependentes no ensino inclusivo que podem levar à

efetivação do mesmo. O primeiro deles é a rede de apoio que envolve a

coordenação de equipes e de indivíduos que apóiam uns aos outros através de

conexões de ordem formal e de ordem informal. Estes funcionam ao nível da

escola e da comunidade em geral, servindo como uma base de apoio mútuo

Page 66: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

66para capacitar as pessoas, tanto funcionários quanto alunos. O segundo

componente envolve um trabalho de equipe que integra indivíduos de várias

especialidades trabalhando juntos para planejar e implementar programas para

diferentes alunos em ambientes integrados. O terceiro é a aprendizagem

cooperativa, componente relacionado ao ensino que visa criar uma atmosfera

de aprendizagem em sala de aula em que alunos com interesses e habilidades

diferentes possam atingir o seu potencial.

Ainda de acordo com os autores citados anteriormente, observa-se que

alunos com níveis diferentes de deficiência aprendem mais em ambientes

integrados onde lhes são proporcionadas experiências e apoio educacionais

adequados do que quando estão em ambientes segregados. Quando existem

programas que são adequados, a inclusão funciona para alunos que

apresentam ou não deficiências, no que tange às atitudes positivas,

mutuamente desenvolvidas, de aquisições e ganhos nas habilidades

acadêmicas e sociais e de preparação para a convivência na comunidade.

De acordo com Brien e Brien ( 1999 ) para que a inclusão ocorra de

forma eficaz, mudanças são necessárias. Uma sala de aula organizada em

fileiras e onde o relacionamento entre professores e alunos apresenta como

objetivo individual realizar atividades controladas externamente pelo professor

ou uma competição que situe os alunos dos mais aplicados aos menos

aplicados não configura uma atmosfera propícia para desenvolver

oportunidades e apoio entre todos os alunos. A aula organizada para a

obtenção de uma aprendizagem cooperativa pode promover relacionamentos

sociais positivos, assim, como na prática, o desafio e o apoio necessários para

todos os alunos desenvolverem habilidades acadêmicas importantes. Neste

tipo de escola, professores, diretores, funcionários, ou seja, cada membro da

escola deve aceitar a responsabilidade pessoal de ser um ator e um aprendiz

ativo e cooperativo.

Schaffner e Buswell ( 1999 ) colocam que os princípios da inclusão não

se aplicam somente aos alunos com deficiências, mas a todos os alunos. As

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67questões enfrentadas pelos alunos e educadores no cotidiano escolar não

permitem o isolamento e a concentração em um grupo-alvo de alunos. A

abordagem fragmentada da reforma da escola não satisfaz inteiramente as

necessidades dos alunos. A exigência principal da reforma da escola é

concebe-la de forma não-estratificada pela capacidade, não arraigada a um

currículo fixo. É necessária uma reforma escolar baseada no entendimento de

que o ajuste da escola a algumas crianças deve ter o mesmo significado do

ajuste da escola para todas as crianças que compartilham do seu espaço.

Assim, para se ter um espaço realmente inclusivo deve-se iniciar a

construção deste pautada na mudança da filosofia escolar.

“ O primeiro e talvez o principal passo para a criação de

uma escola inclusiva de qualidade é estabelecer uma

filosofia da escola baseada nos princípios democráticos e

igualitários da inclusão, da inserção e da provisão de

uma educação de qualidade para todos os alunos.

Por sua própria natureza, um sistema de educação

inclusivo e de qualidade está voltado para as

necessidades gerais do aluno, não apenas para sua

realização acadêmica. Para que as escolas alcancem a

ênfase no aluno em sua totalidade, sua filosofia básica

deve ser a de uma educação vinculada e importante para

cada aluno, abrangendo pelo menos três esferas do

desenvolvimento: a acadêmica, a social e emocional e a

responsabilidade pessoal e coletiva e a cidadania (...)”

(SCHAFFNER E BUSWELL in: STAINBACK e

STAINBACK, 1999 p. 70 )

Page 68: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

68Tais autores colocam ainda que devido à variedade de necessidades

dos alunos nas turmas e na escola regular é necessário o desenvolvimento de

redes de apoio na escola tanto para professores quanto para alunos.

Uma equipe de apoio é formada por pessoas com o objetivo de debater,

resolver problemas, elaborar e trocar experiências referentes aos métodos,

técnicas e atividades que possam auxiliar professores e alunos. Tais equipes

podem ter configurações variadas, sendo formadas por diretores, pais,

professores, terapeutas, etc. Cabe ressaltar a necessidade de ter na

composição destas equipes colegas de classe possam oferecer sugestões

práticas sobre o modo como o aluno pode se desenvolver integralmente na

escola.

Os autores citados anteriormente colocam ainda a importância da

presença de um facilitador da inclusão. Este atuaria como um locador de

recursos para atender os alunos em classes heterogêneas, podendo ajudar

alunos com ou sem deficiências que estejam apresentando algum tipo de

dificuldade, seja em relação às tarefas escolares ou aos relacionamentos

sociais, oferecendo apoio somente quando necessário.

Carvalho ( 1999 ) coloca que aquilo que se entende como necessidades

educativas especiais, sejam temporárias ou definitivas, é algo que abarca uma

grande quantidade de educandos. Deve-se considerar também que as

respostas a serem fornecidas ás necessidades educativas especiais diferem

em relação ao tipo de deficiência apresentada pelo aluno. As pessoas cegas,

por exemplo, têm características próprias e diferenciadas dos surdos, dos

alunos com paralisia cerebral ou dos autistas. A partir do momento que se

desconsidera este fato, está se renegando a própria diversidade.

Para atingir o objetivo de educar eficientemente alunos com diferentes

níveis de desempenho é fundamental que sejam utilizadas várias abordagens

de ensino para satisfazer a necessidade de cada um, bem como a reflexão e

reavaliação das práticas de ensino para determinar se são as melhores formas

de se obter a aprendizagem ativa, com a participação do aluno.

Page 69: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

69Schaffner e Buswell ( 1999 ) salientam que muitos professores adotam

um modelo único para o ensino, usando apenas alguns métodos padronizados.

Ocorre que os alunos, mesmo não apresentando desafios especiais, possuem

várias potencialidades, necessidades e estilos de aprendizagem.

Gardner ( 1983 ) cita a existência de inteligências múltiplas, ou seja, o

ser humano possui um conjunto de diferentes capacidades. De acordo com

Gardner, são sete os tipos de inteligência:

1 – Lógico-matemática – relacionada ao raciocínio lógico e dedutivo

2 - Lingüística – habilidade de se expressar por meio da linguagem

verbal, escrita e oral.

3 – Espacial – está relacionada à capacidade de formar um modelo

mental e de se orientar por meio dele.

4 – Corporal-cinestésica – relacionada aos movimentos do corpo.

5 – Interpessoal – capacidade de se relacionar com as pessoas, de

entender suas intenções e seus desejos.

6 – Intrapessoal - capacidade de administrar seus próprios sentimentos,

de se conhecer e de usar estas informações para alcançar objetivos pessoais.

7 – Musical – capacidade de se expressar através da música

Gardner estuda ainda a inteligência naturalista. Esta seria a capacidade

de perceber os objetos na natureza.

Assim, de acordo com Schaffner e Buswell ( 1999 ), baseando-se na

Teoria das Inteligências Múltiplas são necessárias abordagens de ensino que

se adaptem as potencialidades de cada aluno, bem como a forma como cada

um aprende melhor, diferentemente de uma concepção pautada em formas

tradicionais de ensino que valorizam apenas as inteligências lógico-matemática

e lingüística.

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70 De acordo com Falvey, Givner e Kimm ( 1999 ) as salas de aula

organizadas conforme a Teoria das Inteligências Múltiplas apresentam maiores

chances de êxito no ensino de todos os alunos, inclusive os que foram

classificados ou rotulados como tendo deficiências, diferenças ou difíceis de

ensinar, já que proporcionam uma estrutura para a elaboração de estratégias

de ensino em vários níveis. As classes que oferecem diversificadas estratégias

de ensino têm uma possibilidade maior de proporcionar a uma população

heterogênea de alunos o acesso a experiências de ensino significativas.

Dentro da abordagem da educação inclusiva, tem-se que observar qual

o papel da avaliação neste contexto educacional.

Falvey, Givner e Kimm ( 1999 ) definem a avaliação como sendo a

reunião de informações de várias fontes e tarefas com o intuito de se tomar

decisões educacionais a respeito de um aluno, devendo ser observada a partir

de um enfoque em que esta seja base para o planejamento do ensino e para

se conhecer o progresso de cada indivíduo.

Decisões educacionais significativas e criteriosas devem ser pautadas

em dados, é preciso que se tenha a manutenção de uma base de

conhecimentos contínua dos interesses, potencialidades e necessidades dos

alunos. Para planejar e implementar atividades de ensino centradas no aluno e

que promovam uma aprendizagem autêntica, a avaliação deve ser um aspecto

interativo no processo de ensino.

Marchesi ( 2004 ) alerta para o fato de que o significado das escolas

inclusivas deve ser tomado a partir da concepção de um processo de mudança

que conduz de forma progressiva a participação dos alunos na cultura e no

currículo comum da escola. Tal processo de mudança deve possibilitar

transformações no funcionamento da escola e na prática educativa em sala de

aula tendo como resultado o acesso dos alunos com necessidades educativas

especiais ao currículo comum. Deve-se atentar para o fato de que tal acesso

ao currículo tem que respeitar os ritmos de aprendizagem de cada aluno, tanto

Page 71: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

71daqueles que apresentam necessidades educativas especiais quanto daqueles

que não as apresentam.

“O objetivo de criar escolas inclusivas que sejam de

qualidade, atrativas e valorizadas por toda comunidade

educacional exige muito mais que boas intenções,

declarações oficiais e documentos escritos. Exige que o

conjunto da sociedade, as escolas, a comunidade

educativa e os professores, mais especificamente,

tomem consciência dessas tensões e procurem criar

condições que os ajudem na consecução de tal objetivo.”

(MARCHESI in: COLL, MARCHESI e PALACIOS, 2004,

p. 30 )

Marchesi ( 2004 ), sobre currículo comum, afirma que a integração

baseia-se na manutenção deste para todos. Os alunos que apresentam graves

problemas de aprendizagem têm acesso, junto com os demais colegas, a

experiências de aprendizagem similares.

Os alunos, porém, não são todos iguais, apresentando diferenças em

seus ritmos de aprendizagem e em seus modos particulares de vivenciarem o

processo educacional e a construção do conhecimento. A atenção às

diferenças individuais faz parte de todas as estratégias educacionais que

estejam baseadas no respeito à individualidade de cada aluno. Este respeito,

no que tange aqueles que apresentam necessidades educativas especiais

exige uma educação adaptada às suas possibilidades.

Ainda de acordo com o autor referido acima, um currículo pautado

principalmente em conteúdos conceituais e nos aspectos mais acadêmicos,

que está centrado em uma perspectiva de avaliação classificatória, destina ao

fracasso os alunos com mais dificuldades para avançar nesta concepção

tradicional de ensino. Os currículos que priorizam também aspectos do

Page 72: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

72desenvolvimento social e pessoal e nos quais a avaliação é realizada a partir

dos progressos de cada aluno, facilitam a integração dos mesmos.

A cultura escolar é o suporte sobre o qual se apoiará o desenvolvimento

do currículo. Os valores, normas, atitudes dos professores, modelos de

aprendizagem, relações interpessoais, entre outros são elementos que

determinam o tipo de projeto que será elaborado pela escola e a orientação a

ser seguida a respeito do currículo.

“A reforma da educação especial e o avanço de sentido

de escolas mais inclusivas supõe, ao mesmo tempo, uma

transformação da cultura das escolas. A mudança para

uma cultura educacional que se valorize a igualdade

entre todos os alunos, o respeito às diferenças, a

participação dos pais e a incorporação ativa dos alunos

no processo de aprendizagem. Uma mudança que

potencialize a colaboração entre os professores e que

defenda a flexibilidade e a busca conjunta de soluções

diante dos problemas apresentados pelos alunos (...) As

escolas inclusivas não aparecem da noite para o dia,

mas vão se configurando mediante um longo processo;

portanto é preciso tomar consciência dos objetivos que

se tenta alcançar e o tipo de estratégias que se deve

impulsionar. A mudança de cada escola deve partir de

sua cultura própria e orientar-se no sentido de sua

transformação. (MARCHESI in: COLL, MARCHESI e

PALACIOS, 2004, p. 45 )

Fierro ( 2004 ) cita que quando as dificuldades não são muito grandes,

os ajustes em atividades, metodologias, recursos materiais e a utilização de

agrupamentos flexíveis são suficientes para responder às necessidades dos

alunos, bastando adequar o currículo e levá-lo ao ponto da concretização

individual. Quando as dificuldades apresentadas são gerais e permanentes é

Page 73: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

73preciso uma adaptação mais aprofundada, variando significativamente em

relação aos modelos mais comuns de individualização do currículo. Neste caso

entram as adaptações referentes à eliminação de conteúdos e/ou objetivos

gerais e a conseqüente modificação dos critérios e métodos de avaliação.

Tais adaptações curriculares devem ocorrer de forma gradativa,

partindo-se das adaptações das metodologias, dos materiais utilizados, das

atividades e da organização na sala de aula, utilizando-se grupos flexíveis.

Caso estas adaptações não funcionem como resposta à necessidade do

aluno, modificações no ritmo de assimilação de novos conteúdos e sua

organização devem ser introduzidas. O último recurso a ser implementado,

após avaliação se realmente contribuirá para o desenvolvimento e/ou

aprendizagem é a introdução de modificações significativas nos elementos que

compõem o currículo básico.

No que diz respeito ao contexto da sala de aula, Marchesi ( 2004 )

ressalta que o trabalho do professor surge como fator fundamental, pois este

pode desenvolver um currículo acessível a todos os alunos, devendo partir da

compreensão de como estes aprendem e de qual a melhor forma de ensinar.

É preciso que três fatores relacionados aos alunos sejam considerados

no processo de aprendizagem: conhecimentos prévios, atividade mental

construtiva e motivação para aprender. Do ponto de vista do professor dois

fatores influenciam o processo de ensino aprendizagem: mecanismo de

influência educativa que pode exercer para o aluno construir novos conceitos e

a expectativa a respeito da aprendizagem dos mesmos. Do ponto de vista do

conteúdo, sua estrutura e coerência interna devem ser consideradas para que

possibilitem a aprendizagem significativa.

O autor coloca ainda que é preciso um planejamento das aulas onde os

colegas de classe também funcionem como estímulo para a construção do

conhecimento, seja desenvolvendo trabalhos em grupo ou por meio de ação

tutorial por parte de outro aluno que tenha compreendido a atividade proposta.

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74 Para Blanco ( 2004 ) a resposta à diversidade e às necessidades

educativas especiais deve ser um projeto no âmbito da escola e não somente

de alguns que fazem parte desta, uma vez que um dos pontos de apoio para a

integração é o amplo debate, e para que ela se efetive é fundamental que toda

a comunidade educacional participe e assuma a inclusão.

Responder à diversidade tão presente nas salas de aula significa romper

com o tradicionalismo, onde todas as crianças fazem as mesmas atividades

nos mesmos horários, da mesma forma e utilizando-se os mesmos materiais.

Para responder à diversidade deve-se conseguir a participação de todos os

alunos, sem esquecer as necessidades concretas de cada um. Para tanto, a

autora destaca alguns elementos que podem auxiliar no alcance deste

objetivo.

O primeiro ponto a ser contemplado diz respeito ao fato de que os

professores devem ter amplo conhecimento das possibilidades de

aprendizagem dos alunos, os fatores que podem favorecê-la e ainda as

necessidades mais específicas desses. A partir de então é possível ajustar as

ações pedagógicas ao processo de construção do conhecimento de cada

aluno.

Cabe ressaltar que o ensino deve estar centrado na construção de

aprendizagens significativas, isto tem como implicação a atribuição de sentido

pessoal às experiências de aprendizagem e o estabelecimento de relações

entre as novas aprendizagens e as experiências anteriores. Assim, o aluno

deve compreender não só o que tem que fazer, mas também o motivo e a

finalidade da atividade. A partir de então é possível o estabelecimento de uma

participação ativa do aluno no processo de ensino aprendizagem.

O segundo ponto está centrado na questão do estabelecimento de

situações de aprendizagem onde todos os alunos participem e progridam em

função de suas possibilidades.

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75 Algumas ações, na concepção da referida autora, favorecem esta

construção. São estas:

• A utilização de estratégias metodológicas diversas;

• Estratégias de aprendizagem cooperativa, onde os alunos não

aprendem somente com o professor, mas também com os outros

alunos;

• Oferecimento de atividades diversificadas que trabalhem os mesmos

conteúdos de formas diferentes;

• Oportunizar a autonomia do aluno no que tange ao aprendizado;

• Trabalhar com vários tipos de materiais para que se possibilite a

realização de diferentes atividades e a abordagem de conteúdos com

variado grau de complexidade, considerando-se ainda o material

específico ou adaptado para os alunos que apresentam necessidades

educativas especiais;

• Organizar diferentes tipos de agrupamento entre os alunos de forma

que se proporcionem respostas diferenciadas em função dos objetivos,

conteúdos trabalhados, características e interesses dos alunos. Os

alunos que demonstram maiores dificuldades devem integrar os grupos

que melhor respondam às suas necessidades;

• É importante que os alunos conheçam os critérios que serão utilizados

durante a avaliação para que possam orientar suas produções;

• Organizar o espaço da sala de aula com o intuito de facilitar a

autonomia e mobilidades dos alunos, preocupando-se ainda com a

possibilidade da adaptação dos mesmos aos diferentes tipos de

atividades e agrupamentos;

• Utilização de determinados horários para a realização de atividades

individuais que podem funcionar como reforço ou aprofundamento;

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76Ainda que se considere a diversidade no planejamento das aulas, a

autora esclarece que certas necessidades dos alunos podem não ser

contempladas, sendo primordial a elaboração de adaptações curriculares

individuais. Em um currículo aberto a mudanças, o último nível de oferta da

educação comum é formado pelas adaptações curriculares individualizadas.

Este tipo de reposta poderá ser oferecido se o planejamento diversificado não

for suficiente para dar uma resposta adequada às necessidades do aluno.

As adaptações curriculares poderão ocorrer apenas após um processo

decisório baseado na realidade de cada um e no contexto concreto onde ele

aprende e se desenvolve. As adaptações podem ainda ser úteis nos casos de

alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem ou defasagem em

relação ao currículo e à idade correspondente.

Carvalho ( 1999 ) ressalta que na área da educação especial, a

remoção de barreiras tem sido analisada a partir do aspecto da acessibilidade (

barreiras arquitetônicas ) e sob o aspecto psicológico ( barreiras atitudinais ).

Porém ele destaca a necessidade de remover as barreiras de aprendizagem.

Tais barreiras podem ser definidas como obstáculos que dificultam a

aprendizagem dos alunos. Vários fatores podem gerar tais dificuldades, alguns

são intrínsecos aos alunos e a maioria, externos aos mesmos. As barreiras à

aprendizagem ( temporárias ou permanentes ) fazem parte do cotidiano

escolar dos alunos, sejam eles deficientes, com altas habilidades ou aqueles

ditos normais.

“Ambos os grupos ( alunos com deficiência ou não )

enfrentam barreiras, o que não nos autoriza a rotulá-los

como alunos problema. O problema caracteriza-se

quando, diante de uma determinada situação, não

encontramos as alternativas adequadas de solução.

Quando a escola não ‘ sabe `como atender as

necessidades educacionais de seus alunos, configura-se

o problema. (...) é na qualidade da resposta educativa da

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77escola que reside a principal estratégia de enfrentamento

das dificuldades de nossos alunos.” ( CARVALHO, 1999,

p. 61 )

Para remover as barreiras de aprendizagem é necessário que se

conheçam as características do processo de aprendizagem e do aprendiz.

Em relação à escola, outro ponto que deve ser ressaltado é a

importância do trabalho em equipe, com a finalidade de discutir o trabalho

pedagógico, buscando soluções para os problemas do dia a dia e para que se

institucionalize um espaço de estudos sobre a aprendizagem e o

desenvolvimento humanos.

Assim, o presente capítulo será encerrado com a colocação de Marchesi (

2004 ) onde o objetivo de se criar escolas inclusivas é o de ter como um dos

resultados sociedades não-segregadoras. Esta é uma tarefa permanente que

supõe esforço contínuo e modificação de todas as estruturas, englobando

escolas, sociedade e mercado de trabalho. Assim, é necessário perceber a

realidade educacional como um processo de mudança para práticas de

integração e participação efetivas.

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78

CAPÍTULO IV

PSICOPEDAGOGIA E INCLUSÃO: POSSIBILIDADES DE

INTERVENÇÃO

O presente capítulo estará centrado na abordagem psicopedagógica e

suas influências no ambiente escolar.

De acordo com Fagali ( 1993 ) a psicopedagogia surgiu pela

necessidade de se compreender os problemas de aprendizagem,

considerando os aspectos do desenvolvimento cognitivo, psicomotor e afetivo

que fazem parte do processo de ensino-aprendizagem.

As questões psicopedagógicas se apresentam em conformidade com

duas vertentes: a primeira se relaciona a uma perspectiva curativa que visa

reintegrar o sujeito ao processo de aquisição do conhecimento. A segunda,

tem como objetivo a reflexão e desenvolvimento de projetos pedagógico-

educacionais, contribuindo para o enriquecimento dos procedimentos utilizados

em sala de aula, as avaliações e planejamento na educação, tanto sistemática

quanto assistemática.

Bossa ( 1994 ), busca, através de diversificados autores, definições a

respeito do objeto da psicopedagogia. Algumas dessas definições serão

citadas a seguir.

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79 De acordo com Neves:

“ (...) a psicopedagogia estuda o ato de aprender e de

ensinar, levando sempre em conta as realidades interna

e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E

mais, procurando estudar a construção do conhecimento

em toda sua complexidade, procurando colocar em pé de

igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que

lhe estão implícitos.” ( NEVES, apud: Bossa, 1994 p.8 )

Assim, observa-se a delimitação de um campo de estudo que está

associado aos aspectos totais da vida do educando, privilegiando não só a

questão orgânica, mas o sujeito em seu aspecto global.

Para Golbert ( 1994 ), o objeto de estudo da psicopedagogia deve ser

compreendido a partir dos enfoques preventivo e terapêutico.

“ O enfoque preventivo considera o objeto de estudo da

Psicopedagogia o ser humano em desenvolvimento,

enquanto educável. Seu objeto de estudo é a pessoa a

ser educada, seus processos de desenvolvimento e as

alterações de tais processos. Focaliza as possibilidades

do aprender, num sentido amplo. Não deve se restringir a

uma só agência como a escola, mas ir também à família

e à comunidade (...) O enfoque terapêutico considera o

objeto de estudo da psicopedagogia a identificação,

análise, elaboração de uma metodologia de diagnóstico e

tratamento das dificuldades de aprendizagem.” (

GOLBERT apud: Bossa, 1994 p. 9 )

De acordo com Bossa ( 1994 ), o trabalho psicopedagógico pode ser

preventivo e clínico. Porém, ele deve ainda ser considerado teórico na medida

em que é fundamental a reflexão sobre a prática.

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80Para a autora referida no parágrafo anterior, pode-se pensar o trabalho

preventivo centrado em três níveis diferentes. Sendo estes:

“No primeiro nível, o psicopedagogo atua nos processos

educativos com o objetivo de diminuir a freqüência dos

problemas de aprendizagem. Seu trabalho incide nas

questões didático-metodológicas, bem como na formação

e orientação de professores, além de fazer

aconselhamento aos pais. No segundo nível, o objetivo é

diminuir e tratar dos problemas de aprendizagem já

instalados.(...) No terceiro nível, o objetivo é eliminar os

transtornos já instalados, num procedimento clínico com

todas as suas implicações. O caráter preventivo

permanece aí, uma vez que, ao eliminarmos um

transtorno, estamos prevenindo o aparecimento de

outros.” ( BOSSA, 1994, p. 13 )

Para Bossa ( 1994 ) a psicopedagogia não se cristaliza em uma

delimitação fixa, nem nas deficiências e alterações de ordem subjetiva do

aprender, mas avalia as possibilidades do sujeito, a disponibilidade afetiva

para saber, reconhecendo este como algo próprio do sujeito.

O presente trabalho apresenta como foco a questão da psicopedagogia

no âmbito da instituição escolar. Porém, cabe ressaltar as concepções da

autora Alicia Fernàndez a respeito da psicopedagogia porque auxiliam na

busca de soluções para as questões referentes à aprendizagem.

De acordo com Fernàndez ( 1991 ) a origem do problema de

aprendizagem tem como fundamento, não a estrutura individual, mas a rede

formada por vínculos familiares.

Em uma perspectiva tradicional a aprendizagem foi considerada como

um processo exclusivamente consciente e produto da inteligência, deixando o

corpo e os afetos excluídos desta concepção. Porém, para que ocorra a

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81aprendizagem é necessária a presença de dois personagens ( ensinante e

aprendente ) e um vínculo que ocorre entre ambos. No processo de

aprendizagem estão implicados quatro níveis: organismo, corpo, inteligência e

desejo. Assim, não se pode pensar em aprendizagem excluindo-se qualquer

um desses, da mesma forma que no problema de aprendizagem estarão em

cena os quatro níveis em diferentes graus de influência. Ao se falar nestes

níveis, deve-se referir a intercâmbios afetivos e cognitivos e não só orgânicos.

Ainda conforme expõe a autora, um organismo que apresenta

alterações pode tornar mais fácil à instalação de um problema de

aprendizagem, mas não pode ser considerado um fator determinante. Nas

palavras da própria autora:

“ (...) a deficiência mental não implica necessariamente

problema de aprendizagem, ainda que possa ser um

condicionante dependendo de como a família ( signifique

) o dano intelectual. Aceitando e querendo ao deficiente,

permitir-se-á que alcance o máximo de suas

possibilidades (...)” ( FERNÀNDEZ, 1991 p.38 )

Fernàndez ( 1991 ) informa ainda que todo sujeito tem a sua modalidade

de aprendizagem, isto é, meios, condições e limites para conhecer. A

modalidade de aprendizagem define uma maneira própria de se aproximar do

conhecimento e constituir o saber. Essa modalidade é resultado da relação

entre o inconsciente simbólico com o outro. Desta forma, o sujeito envolve em

si mesmo um sujeito do desejo e um sujeito epsitêmico.

Centrada na visão de aprendizagem, Bossa ( 1994 ) discorre que esta

para a psicopedagogia se relaciona a uma concepção de sujeito ativo em um

processo de interação com o meio físico e social. Esse processo sofre a

interferência do equipamento biológico, das condições afetivo-emocionais e

dos aspectos intelectuais. Onde os dois últimos são gestados no ambiente

familiar e sócio-cultural onde está inserido o sujeito. O produto desta interação

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82é a aprendizagem. Nesta concepção onde cada sujeito deve ser visto em

relação ao seu contexto, não cabem procedimentos pré-determinados de ação.

No âmbito da psicopedagogia escolar, Bossa coloca que:

“ O psicopedagogo pesquisa as situações para que se

produza a aprendizagem do conteúdo escolar,

identificando os obstáculos e os elementos facilitadores,

numa abordagem preventiva. Uns e outros ( elementos

facilitadores e obstáculos ) são condicionados por

diferentes fatores, fazendo com que cada situação seja

única e particular. Esse trabalho requer uma atitude de

investigação e intervenção.” ( BOSSA, 1994 p. 61 )

A autora citada anteriormente coloca que o trabalho psicopedagógico

deve ser pensado a partir da instituição escolar que cumpre a função de

promover o desenvolvimento cognitivo, socializar o conhecimento e construir

regras de condutas inseridas em um projeto social mais amplo. Assim, a

escola assume a responsabilidade por grande parte da aprendizagem do ser

humano, ressaltando que esta não se restringe ao ambiente escolar.

O trabalho preventivo desenvolvido junto à escola deve observar as

relações estabelecidas entre professor e aluno, e ainda considerar a família e

outros membros da comunidade que participam do processo de aprendizagem.

De acordo com Patto ( 1990 ) a concepção de educação do Brasil tem

atribuído os sucessos e fracassos dos alunos a fatores individuais.

No início do século XX, sob forte influência de teorias européias e

americanas do século XIX, a educação brasileira pautava-se nas idéias

relativas às aptidões naturais dos indivíduos para explicar as diferenças de

rendimento escolar entre as classes sociais inferiores e superiores.

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83Posteriormente, o ensino tradicional vai sendo substituído pela visão da

escola nova que estava atenta às características específicas do

desenvolvimento infantil. Esta corrente despertou a reflexão sobre as

potencialidades dos educandos enquanto indivíduos que diferem entre si

quanto à capacidade de aprender.

Junto com o avanço do capitalismo, observa-se a concepção de que a

ascensão social passa pela preparação individual. A preocupação com a

qualidade da educação assume papel de destaque nas discussões acerca

deste tema.

Segundo Scoz ( 1994 ) a partir do momento que os psicopedagogos

buscavam as causas do fracasso escolar através dos aspectos do

desenvolvimento físico e psicológico do aluno tem-se concepções centradas

em idéias organicistas e lineares, com enfoque patologizante. Os alunos que

apresentavam dificuldades eram tomados como portadores de disfunções

psiconeurológicas, mentais e psicológicas.

“Essas idéias, inicialmente difundidas através dos

consultórios particulares, acabaram chegando às escolas

que, sem nenhum critério, classificavam as crianças com

dificuldades para ler e escrever como ´disléxicas` e, as

mais agitadas, como ´hiperativas`. Esses problemas eram

atribuídos, por vezes, a disfunções cerebrais. Essas

crianças eram encaminhadas a profissionais da área

médica, que reforçavam o diagnóstico dos professores e

recorriam, freqüentemente, a uma linha de

medicamentosa de tratamento.” ( SCOZ, 1994 p. 24 )

A autora afirma que com o advento da escola nova, a ênfase nos

aspectos afetivos da aprendizagem teve como conseqüência à utilização de

testes e de instrumentos de mensuração de forma exagerada, com o intuito de

se obter índices que fundamentassem um diagnóstico. Neste contexto, muitos

alunos foram´rotulados` como incapazes de aprender.

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84As concepções da escola nova são suplantadas pela teoria da

deficiência e da carência cultural. Sobre este fato pode-se citar que:

“A proposição da escola nova, cujo objetivo era formar o

indivíduo democrático e confiante no futuro, cede lugar a

uma concepção de escola cuja função é redimir os

pobres, ´curando-os` de suas deficiências. Nessa nova

concepção, os valores das classes dominantes são

considerados os mais adequados à promoção de um

desenvolvimento sadio; e as deficiências do ambiente

cultural das classes baixas são percebidas como

interferências no desenvolvimento psicológico infantil,

responsáveis pelas falhas na aprendizagem. (...) Para

solucionar o fracasso escolar, defendiam-se programas

especiais que deveriam ´remediar`as deficiências geradas

pela ´privação cultural`. Oferecendo às crianças das

classes populares uma educação compensatória.” (

SCOZ,1994 p. 8 )

As Ciências Sociais e a Antropologia colocam que a questão

fundamentada na “superioridade” ou “inferioridade” de uma cultura em relação

à outra é cientificamente inaceitável.

Neste contexto, surge a teoria das diferenças culturais, onde as pessoas

das camadas menos favorecidas apresentam padrões de vida diferentes

porque possuem uma cultura própria que deve ser considerada e valorizada,

não sendo portanto, um fator de deficiência do ambiente cultural.

“ Mesmo sem esta intenção, as teorias das diferenças

culturais reforçam o preconceito, uma vez que

responsabilizam os lares marginalizados pela interferência

negativa na formação de atitudes e de padrões culturais

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85tidos como necessários ao desenvolvimento cognitivo e à

capacidade de ajustamento à escola.” ( SCOZ,1994 p. 9 )

Na passagem da década de 70 para 80 observam-se as teorias da

reprodução defendidas por autores como Althusser, Bourdieu e Passeron,

Establet e Baudelot. Estes autores acreditam que a escola é reprodutora das

condições da sociedade, destacando a discriminação social presente no

ensino e o compromisso da educação com os interesses dominantes. Para os

mesmos, a escola é impotente diante das desigualdades sociais, sendo uma

auxiliar na manutenção de tais desigualdades.

De acordo com Patto ( 1990 ), a tendência de culpar o aluno pelo

fracasso escolar não foi superada, apenas foi acrescida de considerações

acerca de concepções sobre a má qualidade do ensino, sendo a escola

afetada por mecanismos de seletividade social.

De acordo com Scoz ( 1994 ) a partir da década de 80 a psicopedagogia

se transformou em campo de estudos multidisciplinares, apresentando como

objetivo uma visão mais global do processo de aprendizagem.

Neste novo cenário, pode-se destacar as concepções de Emília Ferreiro.

Ferreiro ( 1986 ) considera que muitos erros cometidos durante a leitura e a

escrita são hipóteses formuladas pela criança para a construção do

conhecimento. Estes precisam ser observados a partir do processo no qual se

dá a aprendizagem e devem servir de base para a formulação de propostas de

trabalho que transformem tais erros em componentes construtivos.

De acordo com Vygotsky ( 1988 ) os processos biológicos interferem

inicialmente no desenvolvimento cognitivo da criança, porém este

desenvolvimento passa a ser orientado por interações sociais com adultos que

fazem a mediação e iniciam, por meio de tais interações, o desenvolvimento

das habilidades cognitivas. O exposto anteriormente torna-se claro na medida

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86em que se observa que a criança internaliza as operações e direções verbais

dadas pelos adultos para dirigir o seu próprio pensamento.

O mesmo autor explicita ainda dois níveis de desenvolvimento: o

desenvolvimento real e o nível potencial. O primeiro caso relaciona-se às

atividades que a criança consegue fazer sozinha. Já no segundo caso, as

soluções encontradas pela criança passam pela orientação de uma outra

pessoa. Entre estes dois níveis encontra-se a zona de desenvolvimento

proximal, nesta observam-se às atividades que a criança consegue fazer com

o auxílio do outro e ainda, aquelas que na atualidade necessitam de

orientação, mas que a criança poderá fazer sozinha em um momento posterior.

Assim, de acordo com esta concepção, a aprendizagem passa pela

relação da criança com as outras pessoas, pelas relações sociais

estabelecidas, sendo posteriormente adquirida internamente.

Scoz ( 1994 ) ao dissertar sobre o autor mencionado anteriormente

coloca que:

“Se entendermos a aprendizagem como um processo

profundamente social, que deve focalizar formas

emergentes de aprender, então não se trata mais de

propor uma instrução programada, muitas vezes

mecanizada e restrita apenas às dificuldades. Trata-se

sim, de apostar nas capacidades das crianças, propondo

um tipo de trabalho que considere mais suas qualidades

que seus defeitos.” ( SCOZ,1994 p. 28 )

E ainda...

“ (...) ao propiciar aos educadores e estudiosos do

comportamento humano a possibilidade de se

defrontarem com uma teoria do desenvolvimento

embasada nos princípios do materialismo dialético, o

autor, além de ressaltar o papel da aprendizagem no

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87desenvolvimento do indivíduo, afasta as concepções

mecânicas e reducionistas do problema de aprendizagem,

alcançando uma visão mais crítica desses problemas,

principalmente desmistificando-os como ´doenças`

responsáveis pelo mau rendimento escolar.” ( SCOZ,

1994 p. 28 )

Pain ( 1985 ), destaca ainda que a aprendizagem está relacionada à

articulação entre fatores internos ( funcionamento do corpo) e externos ao

sujeito, apresentando três funções da mesma:

1 - Função socializadora – a partir do momento em que a criança

aprende, ela passa a se identificar com o grupo social ao qual pertence,

submetendo-se a um conjunto de normas;

2 - Função repressiva – pode significar uma forma de controle;

3 – Função transformadora – porque permite que o sujeito participe na

sociedade sob uma ótica da transformação desta e não de uma reprodução.

De acordo com Scoz ( 1994 ), muitos problemas de aprendizagem são

confundidos com dificuldades que surgem normalmente no processo de

desenvolvimento da criança; como padrões lingüísticos e culturais diferentes

dos que são valorizados na escola; etc.

Ainda conforme esta autora, o trabalho psicopedagógico pode auxiliar o

educador no aprofundamento dos conhecimentos sobre aprendizagem e ainda

na diferenciação entre um problema que pode ser resolvido pelo próprio

professor com o apoio da equipe técnico pedagógica e aquele que deve ser

encaminhado para um apoio especializado. Este fato contribuiria para o

abandono de uma atitude patologizante frente aos problemas de aprendizagem

e acarretaria ainda uma delimitação mais clara a respeito do seu espaço de

atuação.

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88De acordo com Barbosa ( 2006 ) a psicopedagogia enquanto área de

estudo e atuação que se volta para a aprendizagem e suas dificuldades

apresenta papel primordial diante da exclusão de pessoas que apresentam

dificuldade para aprender, podendo ainda contribuir para a formulação de uma

proposta de inclusão escolar.

Esta autora coloca que as dificuldades de aprendizagem têm sido tão

valorizadas que até mesmo aquelas que são próprias de cada idade se tornam

motivo para encaminhamentos e tratamentos muitas vezes desnecessários.

“Educadores (as) e escola não podem esquecer que a

´dificuldade` faz parte do processo de aprender (...) Se

precisamos aprender o novo é porque não o

conhecemos; se não o conhecemos, certamente não

sabemos como lidar com ele; se não sabemos lidar com

a novidade, corremos o risco de ter´dificuldades` (...) A

patologização das dificuldades, nesse processo normal

de aprendizagem, obnubila a idéia de que aprender

supõe sua existência, de que sem ela não há o

desequilíbrio e, conseqüentemente, a busca de equilíbrio

para a aprendizagem.” ( BARBOSA, in: Parolin, 2006

p.43 )

A aceitação das dificuldades vem se tornando um obstáculo cada vez

maior de ser transposto, principalmente em um mundo globalizado onde se

tem a idéia de que todos são iguais, onde as diferenças são constantemente

apontadas e preferencialmente excluídas.

A autora cita ainda Popkewitz quando este afirma que a exclusão é um

subproduto das práticas incorretas de inclusão, devendo ser corrigidas. A

correção destas práticas está na política que dá voz aos diferentes interesses

sociais.

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89 Atualmente a sociedade quer que a escola se inclua como movimento

contrário à exclusão, porém, a autora afirma que exclusão e inclusão fazem

parte de uma unidade dialética.

O movimento de exclusão e o tipo de dificuldade a ser excluída estão

relacionados à tendência educacional de cada grupo, instituição, comunidade

ou cultura.

“Em se falando de instituição escolar, temos aquela que

apresenta uma dinâmica na qual o aluno fica

indiferenciado, aprende em massa e só consegue

diferenciar-se quando se destaca pelo lado negativo ou

quando é supervalorizado como ´o melhor`, ´o primeiro

lugar`, ´o cobra`. Nesse grupo, estará incluído aquele

que permanecer indiferenciado e excluído aquele que,

embora consiga destacar-se, não o faz da forma

adequada, esperada pela sociedade. (...) Outro tipo de

instituição propõe a construção do conhecimento, luta

pela autoria dos aprendizes, em oposição à reprodução

do conhecimento e ao ensino em massa. Estará incluído

nessa modalidade aquele aluno que não se submeter,

que não repetir simplesmente, aquele que se mostrar

capaz de pensar, de questionar, de criticar, de discutir

(...) Há também, a instituição que luta pela igualdade de

direitos humanos e pela diversidade cultural. Uma escola

que acredita que todos podem tornar-se cidadãos a partir

daquilo que desenvolvem na escola. Estará incluído

aquele que for capaz de respeitar seus iguais.” (

BARBOSA, in: Parolin, 2006 p.47 )

Page 90: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

90 Ainda conforme a autora, percebe-se que as instituições convivem com

opostos como inclusão/exclusão; conjunto/indivíduo; criação/reprodução;

igualdade/diversidade; especialização/globalização, etc.

A não consideração de que existe uma continuidade entre estes opostos

e a colocação destes em categorias, faz com que as dificuldades,

principalmente as que concernem à questão da aprendizagem, sejam tratadas

inadequadamente.

A Psicopedagogia, enquanto área que se ocupa da aprendizagem pode

contribuir junto às instituições sociais, como a escola e a família que estão em

um lugar próximo das dificuldades de aprendizagem. Assim, as possíveis

ações da Psicopedagogia, dentre outras são:

1 ) Auxiliar a escola a repensar suas práticas e valores no que tange à

diversidade e à igualdade;

2 ) Auxiliar pais e mães a pensarem sobre as dificuldades de seus filhos

(as) e a perceberem se a insistência a respeito da inclusão não está associada

à negação da dificuldade;

3 ) Conhecer o potencial da criança a ser incluída e as possibilidades

que o meio possui para estimular tal potencial;

4 ) Orientar para que se enfoque o potencial e não a referida dificuldade.

Sob esta ótica, a avaliação estará centrada nas potencialidades dos

alunos fornecendo indicadores quantitativos, mas principalmente indicadores

qualitativos.

Ainda de acordo com Barbosa ( 2006 ) :

“ Além do trabalho grupal, do ensino pela pesquisa e de

uma avaliação que considere unidades dialéticas, essa

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91modalidade inclusiva e não exclusiva necessita contar

com a utilização de várias linguagens, materiais e

espaços para que todos, independentemente de sua

condição física, intelectual, emocional, social ou

relacional possam ter o direito de experimentar suas

potencialidades, sem serem excluídos antecipadamente

do contexto escolar.” ( Barbosa, in: Parolin, SP, 2006

p.50 )

Romero ( 2004 ) discorre que a intervenção psicopedagógica deve se

ocupar dos processos de ensino e aprendizagem nos quais as dificuldades de

aprendizagem se apresentam. Sob este enfoque, a avaliação deve abarcar

todos os elementos envolvidos de forma direta ou indireta na aprendizagem.

Assim, deve-se considerar:

1 _ A avaliação do desenvolvimento do aluno nas dimensões cognitiva,

metacognitiva e lingüística, das características específicas da dificuldade de

aprendizagem e as possíveis conseqüências em outros campos como a auto-

estima e a ansiedade.

2 – O conhecimento da experiência profissional do professor, bem como

de suas expectativas e atitudes em relação às dificuldades de aprendizagem e

ao aluno.

3 – O estudo da família acerca das atitudes e expectativas relacionadas

às dificuldades apresentadas e ao futuro do aluno.

4 – Análise das condições ambientais em que ocorre o processo de

ensino- aprendizagem ( número de alunos em sala, atividades propostas, etc ).

Tal avaliação deve resultar em adaptações curriculares individuais que

se ajustem às necessidades educativas especiais do aluno, sejam em relação

aos métodos de ensino, à organização dos conteúdos ou aos critérios e formas

de avaliação.

Page 92: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

92De acordo com Giné ( 2004 ) a avaliação psicopedagógica visa prestar

informações que sejam relevantes para orientar a direção das mudanças

necessárias ao adequado desenvolvimento dos alunos e ao aprimoramento da

instituição escolar. Deve ainda, identificar as necessidades dos alunos acerca

dos apoios pessoais e materiais para estimular o desenvolvimento do mesmo.

Tal avaliação não pode ser tomada como tarefa de um único

especialista, mas sim deverá ser realizada de forma interdisciplinar e com a

contribuição de todos que participam do processo de aprendizagem.

A avaliação psicopedagógica precisa ser tomada sob a perspectiva de

um processo compartilhado de coleta de dados e análise de informações sobre

os elementos envolvidos no processo ensino-aprendizagem, centrando-se,

dentre outros aspectos no contexto escolar, no contexto familiar e no próprio

aluno.

“ A informação coletada deve permitir a

identificação das necessidades educativas dos alunos. A

finalidade mais importante da avaliação psicopedagógica

não é classificar os alunos em diferentes categorias

diagnósticas e fazer uma previsão sobre seu possível

rendimento, mas orientar o processo de tomada de

decisão sobre o tipo de resposta educativa que o aluno

precisa para favorecer seu adequado desenvolvimento

pessoal.” (GINÉ in: Coll, Marchesi e Palacios, 2004, p. 30

)

Sob esta ótica, a Psicopedagogia poderá contribuir para uma efetiva

inclusão dos alunos que apresentam dificuldades de aprendizagem, não sendo

desta forma, uma prática excludente sob a “roupagem” da inclusão.

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93

CONCLUSÃO

Historicamente a deficiência sempre foi deixada em um lugar de

esquecimento por parte do Estado, surgindo lentamente nos documentos

Page 94: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

94oficiais a partir do interesse de uma minoria que exercia influência política

sobre os governantes. Somente os ensinos que interessavam a elite

sobressaiam-se durante a época do império.

Durante muito tempo, a deficiência era escondida pelas famílias e

motivo de estudos de correntes teóricas que em alguns casos consideravam a

mesma como algo associado a degenerescências.

Mais tarde, todos aqueles que de alguma forma ameaçavam a

segurança e a ordem social foram tomados como anormais, devendo ser

segregados e tratados para que então pudessem servir à economia de

mercado. Neste ponto, percebe-se uma preocupação com a educação do

deficiente a partir dos interesses das classes sociais dominantes.

O ensino do deficiente passa a ser dado em classes especiais, já que

são formadas turmas homogêneas pautadas no resultado de testes de

inteligência. Nesta organização escolar, a noção de desvio do padrão não era

admitida, o que atendia, mais uma vez os interesses da elite, pois esta

acreditava que alunos com dificuldades de aprendizagem poderiam atrapalhar

o rendimento de seus filhos Esta concepção está presente em alguns

estabelecimentos de ensino até os dias de hoje.

Somente na década de 70 é observada a criação de um órgão voltado

para os portadores de necessidades especiais e a partir do final dos anos 80 é

possível observar alguns esforços no sentido de mudar as idéias que

pautavam a educação dos alunos que apresentavam necessidades especiais

no Brasil.

Desta forma, a partir da retrospectiva histórica presente neste trabalho,

observa-se que as pessoas portadoras de necessidades especiais, assim

como outros segmentos da sociedade, sempre ficaram segregados, à margem

dos documentos oficiais ou ainda, com muitos de seus direitos violados.

Este descaso em relação aos portadores de necessidades especiais fica

claro quando se nota que as escolas que possuem construções mais antigas

Page 95: DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO …...No Brasil vários documentos buscam assegurar os direitos daqueles que apresentam necessidades especiais, inclusive objetivando e privilegiando

95não têm rampas ou banheiros adaptados, apresentando barreiras

arquitetônicas e impossibilitando muitas vezes a inclusão, demonstrando de

forma clara uma ausência histórica de preocupação educativa com aqueles

que apresentam necessidades educativas especiais.

O deslocamento da ênfase dos fatores inatos e inerentes ao sujeito para

uma condição a ser estudada a partir das relações que se dão no ambiente

social possibilita uma intervenção centrada nas alterações necessárias para

que a escola dê uma resposta adequada às necessidades do aluno. Assim, se

o aluno com necessidades educativas especiais não obtém sucesso em seu

aprendizado, o fracasso escolar deve ser compartilhado com o sistema

educacional e todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar.

A inclusão sob a ótica de que é a escola quem deve se adequar ao

aluno se coloca como meio não só para educar alunos que apresentam

necessidades educativas especiais, mas como espaço de inclusão de todos

aqueles que se encontram a margem do processo educativo, culpabilizados

pelo fracasso escolar, quando na verdade é a linguagem elitista da escola, a

desvalorização da cultura e do saber do aluno, metodologias e formas de

avaliação, dentre outros, que afastam os mesmos da escola e aumentam a

cada dia os índices de evasão escolar.

A escola deve repensar seu currículo e organização, atentando, dentre

outros aspectos, para as características do processo de ensino e

aprendizagem e para o incentivo à formação continuada do professor. Desta

forma, somente após profundas mudanças para receber o aluno, sendo ele

portador de necessidades especiais ou não, é possível a educação para todos

como apontam as diversas leis que versam sobre esta.

Almeja-se a criação de escolas que estejam engajadas na inclusão de

forma efetiva, que tenha como conseqüência sociedades não segregadoras,

diminuindo situações que envolvam comportamentos discriminatórios

presentes no cotidiano.

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96 A escola realmente inclusiva está além da publicação de leis, pareceres

e demais documentos, é imprescindível a conscientização e mudança de

filosofia educacional, é necessário que as leis “saiam do papel” e “tomem

corpo” se efetivando na prática.

É necessário que toda comunidade escolar se desloque de um lugar de

fazer parte da inclusão para uma ação de tomar parte na responsabilidade da

integração e inclusão de alunos com necessidades educativas especiais.

Recursos, metodologias, formas avaliativas, enfim, os valores educacionais da

escola bem como as relações que se dão neste espaço devem passar por um

processo contínuo de reflexão para ter como conseqüência uma inclusão que

integre todos os alunos em um processo educativo comum, não discriminatório

e que respeite a individualidade e a diversidade. A inclusão que se pauta no

cumprimento de formalidades meramente burocráticas terá como desfecho à

inclusão de alunos que ficam excluídos dentro da própria sala de aula, pois são

agrupados de acordo com critérios classificatórios. Tais critérios não atendem

as demandas educacionais dos portadores de necessidades especiais já que

os toma a partir de um todo indiferenciado, sem observar as particularidades

de cada caso. Não são papéis que garantirão a integração dos portadores de

necessidades especiais na rede regular de ensino, mas uma efetiva mudança

na crença e valores escolares.

É importante a conscientização a respeito das diferenças que os seres

humanos apresentam como as de interesses, habilidades, competências,

histórias de vida, ou seja, não existe em nenhuma sala de aula a

homogeneidade pretendida por muitas escolas, logo as formas como se ensina

e como se aprende são também diferenciadas e devem ser respeitadas.

A inclusão em escolas regulares não se dará de forma instantânea, já

que a inclusão deve ser pensada sob a ótica de um processo que ocorre de

forma progressiva e contínua. È a partir da organização e das características

da escola que será possível o surgimento de um projeto inclusivo que deve

contemplar os anseios daqueles constituem a comunidade escolar. A partir

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97disto, pode-se dizer que não existem modelos de inclusão prontos para serem

implementados pelas escolas.

Assim, não existem adaptações curriculares prontas para as diversas

necessidades, não existem fórmulas pré-concebidas que se encaixem como

moldes e respondam as necessidades de cada aluno. Cada caso deve ser

considerado a partir da singularidade que lhe é característico.

As possíveis adaptações curriculares devem ser parte de debates e

decisão interdisciplinar onde na equipe esteja o psicopedagogo.

Uma inclusão que relegue o aluno a uma condição de mero espectador

na sala de aula acarretará em uma situação que pode levar a uma condição de

fracasso, onde o aluno será culpabilizado e não a escola que não se organizou

para recebê-lo.

A sociedade altamente competitiva delineia um padrão de

comportamento e aproveitamento e quem não se inclui neste é

automaticamente excluído, o que ainda se reflete nas concepções escolares.

Um ensino que se paute na classificação, que estimule a competição

entre os alunos não se coloca como um terreno fértil para um projeto de

educação inclusiva, pois prioriza e valoriza a homogeneização e a busca por

resultados de ordem quantitativa. Colocando aquele que distoa do padrão

estabelecido pela escola à margem do processo educacional. Para esta escola

não é preciso refletir sobre sua metodologia, recursos, porque a culpa recai

sobre o aluno, é este que apresenta problemas.

Deve-se cuidar ainda para que não se enverede pelo caminho da

patologização das dificuldades que são inerentes ao desenvolvimento cognitivo

da faixa etária, utilizando-se de excessivos encaminhamentos para os

especialistas. Neste ponto o auxílio do psicopedagogo é fundamental, pois

junto com o professor pode delimitar os casos que realmente são passível de

apoio técnico exterior à escola.

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98 Uma educação que valorize não só o rendimento do aluno por meio de

notas e que esteja voltada para a formação de atitudes solidárias e de alunos

críticos, transformadores da sociedade de seu tempo e ativos no processo de

aprendizagem através da construção da mesma se apresenta como ambiente

propício para práticas inclusivas. Nestas escolas as diferenças são respeitadas

e a igualdade de acesso e permanência dos alunos se dá na prática.

Cada deficiência requer estratégias e materiais específicos, para que

assim a diversidade seja respeitada. Os ritmos de aprendizagem devem ser

conhecidos e o contexto de vida dos alunos considerado, porém estes devem

aprender os mesmos conteúdos dos demais, atentando-se para as adaptações

necessárias ao currículo. A avaliação neste processo centra-se nos

progressos, é uma avaliação que ocorre durante todo o período e não somente

ao final de um bimestre valorizando apenas os resultados quantitativos.

A exclusão ocorre quando o aluno não corresponde ao que é pré-

determinado pela escola porque não se enquadra no que esta determina como

sendo o perfil bom aluno, porque foge a regra, a padronização. Este aluno na

maioria das vezes é encaminhado para ser avaliado por outros profissionais

que devem investigar se existe alguma “anormalidade”. Assim, a escola se

isenta da responsabilidade sobre a não aprendizagem.

Participação e inclusão são palavras intimamente associadas, em um

ambiente inclusivo. Os alunos passam a integrar e participar da organização do

currículo e da cultura escolares. Acesso e participação em um currículo comum

que atenda a todos os alunos respeitando a individualidade, considerando os

ritmos de aprendizagem, porém sem utilizá-los como motivação para relegar o

aluno a uma situação de esquecimento em sala de aula.

A ação inclusiva deve estar centrada não na dificuldade, mas nos meios

e formas de intervenção que podem ser utilizados para auxiliar o aluno. Assim,

a análise passa pelo planejamento das possíveis respostas da escola para tais

dificuldades, quais as metodologias, recursos didáticos, materiais e atividades

que proporcionam uma aprendizagem mais abrangente.

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99 Conclui-se, de acordo com o exposto acima, que os alunos que

apresentam necessidades educativas especiais solicitam materiais de apoio

diversificados para atender as possíveis diferenças individuais. Desta forma o

ensino deve ser personalizado do ponto de vista de que cada dificuldade exige

uma necessidade a ser satisfeita. Bem como deve–se saber as

potencialidades de cada um para que sejam desenvolvidas ao máximo.

De acordo com o pressuposto acima, a avaliação precisa ser feita

considerando-se o potencial e progressos de cada aluno, observando-se as

características que envolvem cada tipo de necessidade especial. Tal avaliação

pode ainda servir de base para um diagnóstico que oriente possíveis

modificações nas condições de ensino.

Em uma efetiva inclusão não é o aluno que deve se adequar à escola,

mas é a escola que deve procurar ajustar seu currículo para atender às

demandas dos alunos.

Muitas vezes, quando se comunica a escola a entrada de um aluno que

apresenta necessidades especiais, já se observa a formação de atitudes pré-

concebidas e descrença quanto a capacidade deste aprender. A atitude que se

dirige a estes e as expectativas formadas baseadas em preconceitos podem

acarretar em atitudes profissionais que não ajudem no pleno desenvolvimento

do aluno. O psicopedagogo deve atuar no sentido de desconstruir tais idéias e

comportamentos naturalizados.

Até este momento, foram observadas todas as questões necessárias a

uma efetiva inclusão. Porém, algumas dificuldades estão presentes no sistema

escolar brasileiro como a desvalorização dos professores enquanto classe

trabalhista, os baixos salários que obrigam a jornada dupla de trabalho que

prejudica o planejamento das aulas, a falta de recursos instrucionais que

poderiam servir de apoio e diversificação da aula, investimentos insuficientes

na área de educação, etc.

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100A realidade de ensino brasileira valoriza uma estrutura hierárquica e

centralizadora que dificulta a inclusão, já que nesta, alunos e professores

precisam “trocar sempre de papéis” ora ocupando o lugar de quem ensina, ora

de quem aprende. É um processo fundamentalmente ativo, participativo e

democrático, onde o direito de todos a uma educação de qualidade é

respeitado. Assim na inclusão predomina o sentido de pertencer a um grupo e

tomar parte em um processo de construção significativa da aprendizagem,

onde o aluno é construtor do seu conhecimento.

A tarefa inclusiva deve contar com o comprometimento da família,

alunos, professores, psicopedagogo e demais profissionais da escola.

O psicopedagogo se apresenta como alguém que pode auxiliar, junto

com outros profissionais de uma equipe interdisciplinar, na avaliação do

desenvolvimento dos alunos e das potencialidades dos mesmos, fazendo um

acompanhamento dos progressos e possíveis dificuldades, participando no

processo de tomada de decisões sobre soluções para problemas que possam

surgir. Deve ainda, ajudar a construir um ambiente propício para a

aprendizagem, observando todos os elementos que interferem no processo de

ensino aprendizagem, buscando eliminá-los ou quando não for possível,

minimizá-los ao máximo.

O psicopedagogo deve auxiliar o professor na formação de grupos

heterogêneos durante as aulas, facilitando a aprendizagem através da

interação social. Utilizando-se o conceito de zona de desenvolvimento

proximal, os pares são formados e assim, se conquista o maior

desenvolvimento de ambos.

Cabe ainda a este profissional a participação em ações que visem a

reflexão sobre as práticas e valores que regem as ações escolares, criando e

lutando pela construção e permanente reconstrução de espaços para

discussões pedagógicas.

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101Em um processo de inclusão é preciso que os alunos que compõem a

sala de aula tenham clareza da deficiência que o colega apresenta, as

limitações que possam existir e principalmente que são infinitas as

possibilidades de progresso não só do aluno que apresenta necessidades

especiais, mas de todos que participam da inclusão, já que é possível através

da mesma desenvolver atitudes de solidariedade e consciência crítica, inibindo

futuras atitudes discriminatórias. Quando os demais alunos são convidados a

participar deste processo, a integração apresenta maiores chances de

sucesso. As diferenças devem ser incluídas na totalidade, a heterogeneidade

deve ser reconhecida e valorizada já que uma sala de aula apresenta múltiplas

singularidades. Neste ponto o psicopedagogo pode auxiliar no processo de

conscientização.

A avaliação psicopedagógica não pode estar centrada na classificação

em categorias diagnósticas. É imprescindível que o psicopedagogo auxilie as

famílias a respeitarem as dificuldades que a criança possa apresentar e

enveredar por caminhos que valorizem os progressos dos mesmos, analisando

o contexto no qual está inserida e as intervenções necessárias para a

transformação dos espaços em locais para a inclusão. A psicopedagogia deve

orientar pais e profissionais no sentido de se ocuparem com o

desenvolvimento possível do aluno, porém sem limitar as possibilidades de

progresso deste como se sua análise fosse o único ponto ao qual a criança

pudesse chegar.

O psicopedagogo pode colaborar na elaboração dos chamados planos

individuais de ensino que partindo da observação, traça metas a serem

atingidas pelos alunos que apresentam necessidades especiais. Considerando

ainda os casos daqueles que possuem altas habilidades e não as têm

desenvolvidas.

Diante das dificuldades e obstáculos para se efetivar uma real inclusão,

o psicopedagogo em conformidade com os demais profissionais da escola

deve se ater a um trabalho que prime pela responsabilidade, abarcando as

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102diferenças sem o receio de aprender a partir dos desafios impostos pelo dia-a-

dia, lembrando-se que a inclusão é um processo contínuo que necessita ser

vivenciado a partir do binômio ação-reflexão. E ainda, que a partir dos

pressupostos indicados pela mesma, torna-se possível diminuir o número de

alunos em situação de fracasso escolar ou de abandono da escola.

Assim, a ação educativa deve considerar as peculiaridades não só dos

alunos que apresentam necessidades especiais, mas de todos aqueles que de

alguma forma estejam excluídos do processo de ensino aprendizagem. A

escola deve estar centrada na flexibilidade curricular visando abarcar também

a diversidade cultural proveniente da etnias que compõem o Brasil, bem como

a realidade dos alunos que provêm das classes menos favorecidas social e

economicamente. Utilizando-se diferentes abordagens é possível atender

qualitativamente um maior número de alunos.

É a partir de uma atuação crítica e não meramente burocrática que será

possível fazer da inclusão não uma prática marginalizadora e excludente, mas

uma atitude de respeito à diversidade. Desta forma caminha-se além de um

ato pedagógico, já que a inclusão é na verdade uma questão que se associa

ao fato de ser e estar no mundo e as relações que são mantidas com os outros

sujeitos.

A inclusão precisa ser vista como uma questão de participação social e

política sendo uma prática que se fundamenta no exercício dos direitos e

deveres. As dificuldades existentes devem ser superadas a partir de uma

transformação da cultura e da sociedade.

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2006

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

Olhos da história: a noção de deficiência no Brasil 10

CAPÍTULO II

Legislação e inclusão 26

2.1 - Constituição Federal, Título VIII, da ORDEM SOCIAL 26

2.2 – Lei nº 7853/89 28

2.3 Lei nº 8069/90 – Estatuto da Criança e do Adolescente 29

2.4 Lei nº 9394/96 – Estabelece as diretrizes e bases da educação

Nacional 30

2.5 Portaria MEC nº 1679/99 32

2.6 Lei 10098/00 34

2.7 Lei nº 10.172/01 – Esta Lei aprova o Plano Nacional de

Educação 36

2.8 Resolução nº 2, de 11 de setembro de 2001 41

2.9 Declaração de Salamanca 45

CAPÍTULO III

Atuais caminhos da inclusão escolar................................ 47

CAPÍTULO IV

Psicopedagogia e inclusão: possibilidades de intervenção.... 80

CONCLUSÃO 96

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 106

ÍNDICE 112

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Título da Monografia: Intervenções psicopedagógicas na inclusão de

portadores de necessidades especiais

Autor: Carolina Figueiredo de Azevedo Brás da Silva

Data da entrega:

Avaliado por: Conceito: