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PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
SISTEMA MONTESSORIANO: UMA UNIÃO COM A PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
DE 03 A 06 ANOS DE IDADE
Por: Valesca da Silva Morschbacher
Orientador
Prof. ª Ms. Fátima Alves
Rio de Janeiro
2013
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
SISTEMA MONTESSORIANO: UMA UNIÃO COM A PSICOMOTRICIDADE NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
DE 03 A 06 ANOS DE IDADE
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Psicomotricidade.
Por: Valesca da Silva Morschbacher
AGRADECIMENTOS
A Deus, por me conceber a sabedoria
e iluminar esta minha caminhada.
Ao meu esposo, pelo amor e incentivo.
Aos meus pais, pelo exemplo de força
e determinação.
À minha orientadora Fátima Alves pelo
apoio.
DEDICATÓRIA
Dedico ao meu esposo e minha filha, por
tornarem a minha caminhada mais
significativa e pelas transformações em
mim.
RESUMO
A criança está disponível para receber estímulos e experimentar.
Pensando nas necessidades do desenvolvimento da criança abordamos a
psicomotricidade e o sistema montessoriano, através de uma pesquisa
bibliográfica. A importância da psicomotricidade na rotina diária da criança
trata-se da sensibilidade de observar e desenvolver a criança, através do
movimento integrado e organizado, que expressa e transforma o mundo
interno e externo da criança. Aproveitamos a vida prática no sistema
montessoriano que cria possibilidades de movimentos em atividades de
experimentação dentro da sala de aula, para mostrar a psicomotricidade
presente e unida no sistema montessoriano. Percebemos ambos com único
objetivo: cooperar no pleno desenvolvimento físico e psíquico da criança.
Sintetizando princípios de equilíbrio, experimentação e organização nas
atividades significativas e espontâneas num ambiente estimulador.
Palavras-chave: psicomotricidade, sistema montessoriano, desenvolvimento
infantil.
METODOLOGIA
Esta pesquisa alicerçará em uma pesquisa bibliográfica com o propósito
de perscrutar a cooperação do sistema montessoriano unido com a
psicomotricidade das crianças de três a seis anos de idade, no processo de
desenvolvimento, com base na pesquisa bibliográfica de autores: Alves (2012),
Montessori (1971), Almeida (2010), entre outros.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - Sistema Montessoriano 10
CAPÍTULO II - Psicomotricidade 18
CAPÍTULO III - Contributo desta união no desenvolvimento da criança 35
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
ÍNDICE 50
8
INTRODUÇÃO
Esta pesquisa ressalta a cooperação para o desenvolvimento da
criança através da integração da psicomotricidade no sistema montessoriano.
Quando se fala de desenvolvimento, de crescimento, de maturação, fala-se do
corpo. É curioso verificar nesta pesquisa que a psicomotricidade e o sistema
montessoriano, organizados de forma a se complementarem, dão igual
importância à observação e à experimentação do corpo. Percebendo que em
alguns espaços educativos, a importância restringe-se à aprendizagem
intelectual. Contrariamente, o sistema montessoriano torna-se notável com
seus exercícios de vida prática. Trata-se, por assim dizer, funções corporais
conscientemente desenvolvidas.
No primeiro capítulo apresentaremos Maria Montessori e suas
diretrizes. Pensadora italiana que teve papel indispensável no contexto da
educação nova, visou o respeito ao desenvolvimento infantil. Em seguida,
enfocaremos a criança e o movimento na visão de Maria Montessori. Para ela,
a educação das crianças exige um despertar de consciência e remete
inúmeros aspectos a serem trabalhados integralmente. Neste capítulo
conheceremos a vivacidade do sistema.
De acordo com Organização Montessori do Brasil, especificamente na
Educação Montessoriana, não é a filosofia ou a metodologia tratadas
individualmente que nos darão a possibilidade de entendê-la. Por constituírem-
se em partes, são ordenadas hierarquicamente; mesmo com fronteiras claras
que protegem a função de cada uma, estão a serviço e em sintonia com o
todo.
A partir do segundo capítulo aduziremos a psicomotricidade e
elucidaremos suas funções básicas. A psicomotricidade tem uma abordagem
importante no desenvolvimento humano e pode ser conceituada sob diversos
aspectos. Nesta pesquisa definiremos a psicomotricidade no contexto escolar.
Exatamente assim faz a psicomotricidade, de acordo com o
Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998): “por meio das
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explorações que faz, do contato físico com outras pessoas, da observação
daqueles com quem convive, a criança aprende sobre o mundo, sobre si
mesma e comunica-se pela linguagem corporal”.
A prática da psicomotricidade no contexto escolar favorece o
desenvolvimento da criança plenamente em todos os seus aspectos: afetivo,
físico, social e cognitivo. Ir além do movimento do corpo é como uma conexão
do corpo com a mente e o mundo externo mediante as vivências. Focaremos a
sua importância e traremos no terceiro capítulo o contributo da
psicomotricidade unida no sistema montessoriano para o pleno
desenvolvimento das crianças de 03 a 06 anos de idade. Mostraremos com
clareza que a psicomotricidade pode-se alinhar a uma gama de possibilidades
na construção de uma criança humanizada. Considera Montessori, uma vez
que a humanidade toma em consideração a capacidade que a criança tem de
transformar a humanidade abre-se um novo caminho para a educação, ou
seja, a contribuição da criança com suas riquezas do mundo psíquico, de uma
mente absorvente.
Le Boulch (1982) defende que a educação psicomotora deve ser
praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite
prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas.
É de suma importância estudar o desenvolvimento da criança para
possibilitar um processo organizado, favorável e saudável. Sendo assim,
iremos destacar o desenvolvimento das crianças de 03 a 06 anos de idade e
verificar a contribuição desta temática.
Acentua-se, que as posições pedagógicas montessoriana representam
um valioso vigor ao desenvolvimento da criança, assim como a
psicomotricidade que ao conduzir a criança ao movimento, busca a
consciência corporal, introduz a criança ao mundo das relações interpessoais,
intrapessoal e às descobertas.
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CAPÍTULO I
SISTEMA MONTESSORIANO
Hoje, não é apenas um método, a herança deixada por Maria
Montessori é considerada um sistema. Um sistema é definido pela interligação
de suas partes em sintonia com o todo. Este sistema educacional é utilizado
em muitos países do mundo, inclusive no Brasil. É o reflexo da observação da
educadora no que a criança tem de especial. No seu livro A criança, ela
descreveu:
Não é a criança física, mas a psíquica que poderá dar ao aperfeiçoamento humano um impulso dominante e poderoso. É o espírito da criança que poderá determinar qual será o verdadeiro progresso humano e, talvez, o início de uma nova civilização. (MONTESSORI, 1987, p.15)
As principais diretrizes do sistema montessoriano de ensino são
marcadas pelo ofício de educar para a paz, equilíbrio e harmonia. Preparar a
criança para a vida e dar qualidade adequada para se desenvolver com a
finalidade de construir um homem integral. Maria Montessori leva em conta que
o auxílio à vida psíquica e física da criança deve ser feito de forma profunda,
interligando e complementando as fases da vida e a personalidade.
Ter conhecimento científico do desenvolvimento da criança é uma das
propostas do sistema para atingir seus objetivos. Torna-se essencial atuação
de guias, como Montessori chama os educadores, detentores desse
conhecimento e da fé no potencial da criança. Paralelamente a isto, na
dinâmica de uma escola montessoriana é necessário um ambiente rico em
estímulos, com suporte às diferenças do desenvolvimento, respeitando o
tempo que cada um tem para absorver.
A prática do sistema dá possibilidade à criança de desenvolver suas
potencialidades de forma natural interligando exercícios da vida prática,
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experiência sensorial, linguagem, língua portuguesa, matemática, geografia,
história e biologia. Além disso, a psicomotricidade, que é o que Montessori
conceituou de educação dos movimentos.
A atividade, o ambiente, a normalização e a individualidade formam,
juntamente com a liberdade, os princípios básicos do sistema
montessoriano. Por essa liberdade, Montessori criou condições para as
manifestações espontâneas no desenvolvimento da vida. Assim,
... a criança precisa aprender por meio de suas próprias atividades individuais, sendo dada uma liberdade mental para que ela obtenha o que precisa, e que ela não deve ser questionada em sua escolha. Nossa forma de ensino deverá somente responder às necessidades mentais da criança, nunca dita-las. (MONTESSORI, 2003, p.13)
Sem dúvida, cada criança tem suas individualidades e suas
necessidades especiais e isso é percebido e trabalhado pelo sistema. Partindo
do princípio de que a criança traz seu potencial construtivo, Montessori
percebeu a necessidade de estimular esse potencial a partir da aprendizagem
construída por meio dos exercícios práticos da vida com auxílio de materiais
destinados ao desenvolvimento autônomo.
No caso da lição do silêncio, alcança-se a autodisciplina, o equilíbrio
entre o corpo e o psiquismo, e as ações harmoniosas, ou seja, a criança no
processo de normalização. Conforme Angotti,
A atividade de normalização tem por intenção oferecer condições para que a criança neutralize o barulho exterior e encontre o silêncio interior e sua conseqüente condição de autocontrole físico, mental, moral e de graça (ANGOTTI, 2005, P.60)
A partir da ampla formação da educadora que começou a perceber a
necessidade de um ambiente com ampla riqueza para a criança atuar.
Percebe-se um ambiente que projeta na criança a realidade do mundo adulto
sem ofuscar a alma da sua realidade.
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Numa sala montessoriana diferente da sala tradicional, as crianças são
divididas em classes agrupadas com idades variadas, assim: três anos a seis
anos, de seis anos a nove anos, etc. Convivendo com a lição do silêncio para
atingir a normalização.
A atividade ganha realce com esse ambiente. Segundo Angotti (2005,
p.62), as atividades de vida prática relacionam-se à leveza dos gestos e
movimentos na utilização segura de instrumentos, no seu carregar, transportar,
no movimentar-se com desenvoltura em diferentes ambientes.
A vivência da liberdade na escola Montessoriana, considerada ponto
principal do sistema. A criança livre para exercitar suas escolhas nas
oportunidades diárias de escolher. Desta forma,
A liberdade de expressão permite às crianças revelar-nos suas qualidades e necessidades, que permaneceriam ocultas ou recalcadas num ambiente infenso à atividade espontânea. (MONTESSORI apud LIMA, 2005)
Pode-se entender, então, que o sistema ocupa-se em ajudar a vida na
educação da criança de forma a satisfazer a fome mental da criança
centralizando seus interesses.
1.1 – Maria Montessori
Maria Montessori nasceu na Itália em 1870, e morreu em 1952 na
Holanda. Na Itália, foi a primeira mulher a alcançar o título de médica
Especializada em Psiquiatria, dedicando-se, posteriormente, à Educação e à
Antropologia, cientista, matemática e ativista feminina. Esta formação foi
importante para suas primeiras observações, ela começou uma revolução na
educação, modificando a visão que se tinha da criança. Conhecida por criar o
revolucionário método pedagógico focado no desenvolvimento cognitivo da
criança, com materiais motivadores confeccionados por ela para ambientes
ordenados. Estes materiais estão presentes em escolas até os dias atuais.
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Dotada do dom da observação, da pesquisa científica, da religiosidade
deixou sua marca na escola Nova com o poder de originar, educar e
transformar. Teve papel fundamental nas reformas educacionais do século XX.
Participou do movimento de escolanovismo com o método da pedagogia
científica, termo que ela própria proclama em sua obra, inspirada na educação
e na natureza do desenvolvimento infantil. Suas Casas das Crianças
impulsionaram o movimento da educação nova e ativa.
Montessori inovou imensamente, ao valorizar e aprofundar seus estudos
sobre a criança a partir dos princípios de importantes pensadores. Influenciada
pelas idéias de educação sensorial de Pestalozzi, que partia do princípio de
estudar a personalidade das crianças, para melhor lidar com elas e incentivava
o desenvolvimento de dentro para fora; também do individualismo de
Rousseau, assim precederam suas aquisições pedagógicas. Determinantes
para a construção do seu modelo pedagógico.
Iniciou sua trajetória quando foi encarregada de trabalhar o
comportamento de um grupo de crianças com retardos mentais na Clínica de
Psiquiátrica da Universidade de Roma. Posteriormente dedicou-se a
experimentar em crianças normais, os procedimentos usados na educação dos
anormais. Guiou-se nas propostas de trabalho de Edouard Séguin, na época
conhecido por seu trabalho de tratamento de crianças com deficiência
cognitiva, e pelas experiências do educador de surdos-mudos Jean Itard.
Intuiu que as crianças anormais evidenciavam mais questões
pedagógicas do que médica. Constatou as reais necessidades dessas crianças
e a falta de estímulos para brincar, impulsionando-a buscar melhores
condições de educá-los e prepará-los para a vida. Nessa vivência, a educadora
italiana se dispõe a ser uma profunda observadora da criança, aprofundou-se
nos estudos pedagógicos para conhecer a criança no seu construir e aprender
a aprendizagem a partir do que dispõe no ambiente.
Além disso, suas idéias se concretizaram com a criação da primeira
Casa dei Bambini (Casa da Criança), criada em 1907, espaço dedicado para a
plena educação das crianças transformadoras, também uma chance de viver.
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Bem adaptados e equipados às necessidades, ações e perspectivas da
criança. A partir dessa vivência descobriu o método mais apropriado para elas
e estruturou o Sistema Montessori de Educação. Então, surgi a pedagógica
montessoriana como modelo de Escolas Montessorianas.
A partir das suas experiências na Casa da Criança pôde exercer seu
método pedagógico na prática, transpondo métodos desenvolvidos no trabalho
com crianças anormais para o trabalho com crianças normais. Seu método
nasceu do trabalho com crianças anormais e teve a atenção de educadores de
todo o mundo, tornando evidente os bons resultados.
Lançou o conceito de Educação Cósmica para oferecer à criança uma
visão do Universo, do seu papel no Plano Cósmico, com objetivo de levar a
criança em contato com o universo para um despertar de sentimento afetivo
pela humanidade e um desenvolvimento de sentimento, além do
conhecimento. De acordo com Montessori:
Se temos uma visão do Plano Cósmico, no qual cada forma de
vida se apoia em movimentos intencionais tendo um objetivo
não somente em si mesmos, poderemos compreender e dirigir
melhor o trabalho da criança. (MONTESSORI, 1971, p.179)
As idéias pedagógicas da educadora italiana trouxeram uma concepção
nova de criança e sua preocupação educativa: conhecer e sentir a criança nos
vários aspectos de sua personalidade, explorar o desconhecido dentro dela,
atender às diferenças individuais e buscar sempre mais da criança; despertar
interesses às coisas úteis da vida. Princípios que contribuíram para uma nova
consciência na educação, que ajudaram na busca de conhecimentos para
guiar a mente em seus diversos processos de desenvolvimento.
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1.2 – Visão da criança
A criança deve amar tudo aquilo que aprende, que esteja ligado ao seu crescimento mental e emocional. O que quer que seja apresentado a ela deve ser feito de forma bonita e clara, impressionando sua imaginação. (MONTESSORI, 2003, p.29)
Foi no íntimo de cada criança que Montessori ingressou e trouxe o
segredo da criança, apontando um novo caminho para o pleno
desenvolvimento delas. Considera-se uma riqueza sempre a ser explorada.
Segundo Rousseau (2004), com sua descoberta da infância, existe uma
natureza infantil: “a criança é criança, com um psiquismo próprio”.
Uma importância nova que Montessori dá ao período infantil é que se
descobre, exatamente pelas individualidades das características da criança:
um potencial criador, uma energia construtiva, um poder de sensibilidade, dom
de uma natureza psíquica, privilegiada de uma mente absorvente. No que se
refere a essa característica, Antunes nos diz que:
Esse é um período de grandes transformações, tornando a criança inteligente e apta para várias funções físicas e psíquicas, que lhe permitirão dominar o meio e a si mesma, dando curso a seu desenvolvimento. (ANTUNES, 2005, P.35)
Considera Montessori o dever de semear a mente da criança.
Comenius já sugeria (1997), fez uma comparação com a Terra que recebe
todo tipo de semente, mas que é preciso que a semeação seja assídua e
atenta. Desta forma,
O segredo de um bom ensino é respeitar a inteligência da criança como um campo fértil onde as sementes devem ser semeadas, para crescer no calor da imaginação flamejante. (MONTESSORI, 2003)
O corpo da criança é contemplado pelo sistema montessoriano. Quando
Montessori tratou de pensar no corpo e colocou-o à frente de tudo. Deu vida a
esse corpo em sala de aula.
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1.3 – O movimento
O valor do movimento abordado por Montessori hoje se faz presente na
Psicomotricidade. Descobertas atuais da importância do movimento na
aprendizagem apenas retornam em linguagem mais sofisticada o que já foi
manifestado por essa educadora.
Movimento do ponto de vista da criança, na pedagogia montessoriana:
dispõe do desejo e do impulso de descobrir, de explorar, de tentar diferentes
movimentos, tanto no sentido de explorar livremente o ambiente, o mundo
inteiro à sua frente, como em si mesma. Assim nos diz Montessori,
“O nosso conceito é que a criança desenvolva a coordenação dos movimentos necessários à sua vida psíquica para enriquecer com eles a parte prática e executiva...” (MONTESSORI, 1971, p.177)
O universo montessoriano dispõe de um ambiente adaptado em que a
criança movimenta-se como um todo. Na vida prática esse movimento surge,
sem limite de tempo, quando a criança pega seu tapete e demarca seu espaço
(uma harmonia dos movimentos em seu espaço), levanta, vai até a estante,
pega um material, volta, devolve o material; quando anda numa linha com uma
bandeja com um copo de água, tendo que passar alguns obstáculos sem
derramar a água e assim, aprende a adequar sua velocidade, ritmo, controlar a
cabeça, a perna, a mão, o braço. Movimentos livres, exercícios da autonomia e
atividades manuais interligadas com o desenvolvimento da consciência
corporal, coordenação motora, atenção, autonomia, disciplina e harmonia.
Segundo Freinet (2003), a livre expressão infantil, era visto em suas
salas, em tempo livre, organização da sala, autonomia na distribuição do
próprio tempo por parte dos alunos.
A importância da mão que se refere Montessori, demonstra que o
individualizado movimento da mão favorece no desenvolvimento do caráter e
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está ligada à inteligência. Como se pode perceber, o movimento se faz
presente na rotina diária de uma sala montessoriana.
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CAPÍTULO II
PSICOMOTRICIDADE
Para uma melhor compreensão do universo da psicomotricidade é
fundamental saber que o corpo e o movimento são seu eixo. Na sua essência,
a psicomotricidade tem um papel muito importante e inovador no processo de
aprendizagem, tanto em termos de construção, prevenção e reconstrução para
aquisição da consciência corporal, emocional e social da criança. Desta forma,
A psicomotricidade busca conhecer o corpo nas suas relações múltiplas: perceptivas, imaginárias e simbólicas, pretendendo assim, transformá-lo num instrumento de ação sobre o mundo e num instrumento de relação e expressão com os outros. Subentende uma concepção holística de aprendizagem, com o corpo vivido e controlado, integrado e orientado no tempo e no espaço, aberto e disponível ao diálogo com os objetos e com o outro, que tem por finalidade associar dinamicamente o ato ao sentimento, ao pensamento, ao gesto, a palavra e o símbolo ao conceito. (VIEIRA e colaboradores, 2005, p.14)
Assim o termo psicomotricidade exprime ação educativa pelo emprego
do movimento humano. Almeida nos diz:
Psicomotricidade, portanto, é um termo empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua individualidade, sua linguagem e sua socialização. (ALMEIDA, 2010, p.17)
2.1 – Definindo a Psicomotricidade
Quando adentramos ao mundo da psicomotricidade revelamos o corpo,
então vale destacar, que as várias concepções, perspectivas e visões sobre o
corpo humano foram inúmeras desde a Antiguidade até os dias de hoje. No
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que diz Levin (2011, p.21), a pré-história da psicomotricidade começa “desde
que o homem é humano, quer dizer, desde que o homem fala, já que a partir
desse instante falará de seu corpo”.
Diante do fator valorização do corpo, filósofos, teóricos e estudiosos
professaram importantes estudos para reconhecer a integração dos aspectos
corporais e dos aspectos mentais, assim dissipando a concepção de
separação. O esboço de psicomotricidade já estava latente nas idéias dos
antigos filósofos, como o grego Aristóteles, que referenciou aos valores e
limites da ginástica moderada até a adolescência, porque acreditava que assim
a força e o vigor do indivíduo não se esgotavam.
Em 1909, o neuropsiquiatra francês Dupré elucida o termo
psicomotricidade, significando a junção entre o movimento, a afetividade e o
pensamento. Evidencia o paralelismo, ou seja, a estreita ligação entre: o
desenvolvimento motor, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento
afetivo.
Importantes descobertas e contribuições de autores pioneiros no
desenvolvimento psicomotor, entre eles Wallon, Piaget, Montessori e
Ajuriaguerra permitiram uma integração conteúdista. Conforme Nicola (2004,
p.1), Wallon “introduz o senso de identidade corporal”. Para Fonseca (2008,
p.76), Piaget afirma que “através da experiência como ação e, portanto, como
motricidade, que o indivíduo simultaneamente integra e incorpora o mundo
exterior e o vai transformando”. Na ótica Ajuriaguerra, visto que a criança é o
seu corpo na representação e expressão motora, apresenta a ontogênese para
abranger o desenvolvimento psicomotor da criança. Neste contexto,
Montessori elucidava a atividade motora, assim:
O movimento não é apenas expressão do eu, mas também fator indispensável para a estruturação da consciência, sendo o único meio tangível que põe o eu em relações bem determinadas com a realidade externa. Em consequência, o movimento é fator essencial para a elaboração da inteligência, que se alimenta e vive de aquisições obtidas no ambiente exterior. Até mesmo as idéias abstratas resultam de um amadurecimento dos contatos com a realidade - e esta se
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capta por meio do movimento. As idéias mais abstratas como as do espaço e do tempo, são concebidas através do movimento. (MONTESSORI, 1987, p.94)
No século XX foram iniciados estudos do corpo humano sob olhares
inovadores. As descobertas sinalizam maior consciência da importância do
corpo.
Nas palavras de Fonseca:
Em psicomotricidade, o psíquico e o motor não são uma conseqüência linear um do outro; São os dois componentes complementares, solidários e dialéticos, da mesma totalidade sistêmica, encarando o corpo e a motricidade como elementos essenciais da estrutura psicológica do Eu, pois é na ação que se toma consciência de si próprio e do mundo. (FONSECA, 2004, p.11)
O corpo na psicomotricidade é conceituado por Nicola como:
Um corpo além do biológico e orgânico que se move, vê, sente, ouve; uma corporalidade que permite expressar emoções e estados interiores. Um corpo como lugar de expressões da vida psíquica e do seu interior. (NICOLA, 2004, p.5)
Assim, a psicomotricidade, que tem uma vasta gama de conceitos, pode
ser definida como o desenvolvimento integrado do corpo e da mente para um
diálogo sem palavras ou, simplesmente, a compreensão do indivíduo na sua
globalidade. Nestes termos, a psicomotricidade é considerada a ciência que
tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em movimento e
em relação ao seu mundo interno e externo, bem como suas possibilidades de
perceber, atuar com o outro, com os objetos e consigo mesmo. Está
relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das
aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas (SBP, 1999, apud ALMEIDA, 2010).
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Nos traz uma visão integrada do desenvolvimento psicomotor no fator
funcional e relacional para compreender o que a criança expressa sobre seu
interior pela motricidade. Duarte (1993, p.28), entende “a psicomotricidade
como a faculdade de relacionar-se através da ação, tomando consciência de
si, unificando corpo e mente e beneficiando a integração de si ao outro e ao
meio em geral”.
Na visão de Barros & Barros (2011, p.65) “A psicomotricidade é vista
como ação educativa integrada e fundamentada na comunicação, na
linguagem e nos movimentos naturais conscientes e espontâneos da criança.
Tem como finalidade normalizar e aperfeiçoar conduta global do ser humano”.
Podemos referenciar ainda, o que nos diz Gleman e colaboradores (2012,
p.65) no enfoque de Gardner ao distinguir o movimento como uma das setes
inteligências primárias.
Seguindo a evolução da psicomotricidade percebe-se uma atuação
transdisciplinar, que hoje percebe e trabalha com a integração das funções
motoras, cognitivas e afetivas, e segue estudando e investigando as relações
entre o motriz e o psíquico. Assim,
A psicomotricidade é hoje concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e instrumento privilegiado através do que a consciência se forma e materializa-se. (FONSECA, 1995, p.12)
2.2 – Áreas de atuação
Para o tratamento e a prevenção das desarmonias do corpo e da mente,
e patologias psicomotoras, a psicomotricidade atua no campo da educação
psicomotora, estimulação psicomotora, reeducação psicomotora e terapia
psicomotora, traçando uma conexão nos aspectos do desenvolvimento motor,
afetivo e cognitivo. Seguindo os parâmetros deste estudo, o desenvolvimento
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de crianças entre 03 e 06 anos de idade tem por foco na educação
pisocomotora. Neste contexto, de acordo com Duarte:
A linguagem empregada é a do gesto, do olhar, da mímica, da distância, do contato, das tensões tônicas, dos objetos mediadores, da ação, do grito, do silêncio, dos sentimentos, dos afetos, da vida e da morte numa contínua comunicação consciente / inconsciente com a realidade. (DUARTE, 1993, p.92)
A educação psicomotora vista como um meio educativo aliado à
educação infantil com a tarefa de qualificar os movimentos, revela a criança
como ela é, de uma forma que ela possa conhecer e se relacionar com o seu
corpo em movimento. Segundo Barros & Barros (2011, p.69), “Globalmente, a
educação psicomotora tem por objetivo permitir à criança viver em harmonia
com seu corpo, com os outros e com o ambiente envolvente”. É indicada para
prevenir o surgimento de dificuldades no processo de aprendizagem escolar,
favorecendo assim as etapas do desenvolvimento e da aprendizagem global
da criança. No que se refere a esta prática (LE BOULCH, 1992 apud
ALMEIDA, 2010, p.27) defende que:
A educação psicomotora deve ser considerada como uma educação de base da escola primária. Ela condiciona todos os aprendizados pré-escolares e escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a situar-se no espaço, a dominar o tempo, a adquirir habilmente a coordenação de seus gestos e movimentos. A educação psicomotora deve ser praticada desde a mais tenra idade; conduzida com perseverança, permite prevenir inadaptações, difíceis de corrigir quando já estruturadas.
A educação psicomotora envolve o desenvolvimento da personalidade
da criança. De acordo com Fonseca (2008, p.104), Ajuriaguerra diz que “é com
o corpo que a criança elabora todas as suas experiências vitais e organiza a
sua personalidade única, total e evolutiva”. Globalmente seu objetivo, conforme
Ferreira e colaboradores (2011, p.69) “é permitir à criança viver em harmonia
com seu corpo, com os outros e com o ambiente envolvente”.
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Deste modo, a estimulação psicomotora é importante para o
desenvolvimento motor da criança, porque desperta o corpo para o movimento,
que leva à aprendizagem harmoniosa e através desta estimulação iniciam-se
outros processos evolutivos. Assim nos diz Alves (2012, p.19): “É a exploração
que desenvolve na criança a consciência de si mesma e do mundo exterior. A
criança se desenvolve desde os primeiros dias de vida, de maneira contínua.”
No que diz respeito à reeducação psicomotora, considera-se reeducar
a área psicomotora da criança no caso de imaturidade motora que não condiz
com sua escala de desenvolvimento e retomar as falhas antes de uma nova
etapa. Seja um atraso, disfunção ou dificuldade em determinado aspecto e até
mesmo o uso incorreto dos movimentos. Sendo assim, a reeducação torna-se
necessária para a criança não exceder as falhas e nem somar dificuldades.
Que envolve aspectos relacionais mediados por técnicas da reeducação. Seu
objetivo, Coste enuncia:
A reeducação psicomotora tem por objetivo desenvolver esse aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar ao indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a eficácia e a estética, de aperfeiçoar o seu equilíbrio. (COSTE 2011, p.9)
Conforme Levin (2011, p.137), na terapia psicomotora “o corpo vai
desbloqueando, vai constituindo-se, transformando-se, na relação
transferencial”. O corpo no real, no imaginário e no simbólico é traçado como
um dizer corporal na liberação dos movimentos, gestos, posturas, palavras,
gritos, afetos e até mesmo no silêncio. O mesmo autor acrescenta:
“Dá importância à emoção, à expressão e à afetividade, considerando o corpo, a motricidade e a emocionalidade como uma globalidade e uma totalidade em si mesmas”. (LEVIN, 2011, p.41)
Adapta-se às dificuldades já estabelecidas, toca no sintoma psicomotor
que requer um mergulho na subjetividade do corpo e prioriza uma relação de
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qualidade, a partir da expressão e comunicação do corpo. Este sintoma se
coloca espontaneamente à frente do outro no momento que estimula e
manipula este corpo. Sendo assim, novos comportamentos psicomotores e
sociais emergem e permitem respostas adaptadas aos problemas específicos
da criança, além de compreender suas emoções. No que tange a afetividade, a
relação entre corpo e movimento possibilitam um novo espaço, ou seja, a
terapia psicomotora.
2.3 – Psicomotricidade funcional e relacional
A psicomotricidade funcional, segundo Bueno (1998), destina-se aos
fatores psicomotores que constituem a motricidade da criança. Ela tem a
pretensão de estimular o desenvolvimento psicomotor para que haja a
conscientização corporal integrada à emoção, expressada através dos
movimentos organizados, e fundamentada na indicação de atividades para
corrigir disfunções do desenvolvimento. Conforme Fonseca (1995, p. 91), os
fatores psicomotores reunidos funcionalmente compreendem uma constelação
psicomotora, pois cada um contribui particularmente para a organização global
do sistema funcional psicomotor.
No que se refere a psicomotricidade relacional, podemos dizer que a
aprendizagem e o desenvolvimento se produzem pelas formas de relação
afetiva com o outro, de acordo com as possibilidades e limites de cada um, em
comum acordo... (VIEIRA, 2005, p.140). A relação articula-se perfeitamente
com a prática. Lapierre afirma acerca da relação:
A relação se limita habitualmente a um nível mais superficial, e o corpo exprime sempre espontaneamente os sentimentos, os desejos e os fantasmas. Como os exprime? Pela atitude, mímica, olhar, gestos (ou imobilidade), contato, distância, ritmo, respiração, tonalidade vocal, ato e maneira com a qual utiliza os objetos. (LAPIERRE, 2002, p.118)
Juntamente com o mesmo objetivo, as perspectivas funcionais e
25
relacionais são de harmonizar e aperfeiçoar a criança de forma global sob o
enfoque de sua totalidade, por meio da exploração do corpo e do mundo.
2.3.1 – Fatores funcionais da Psicomotricidade
A psicomotricidade funcional tem como objetivo potencializar o
desenvolvimento de habilidades corporais, harmonizar, estimular e promover o
ato motor, ocupando-se dos movimentos e dando qualidade a eles. Isso
permite contribuições específicas nos fatores funcionais, a saber: coordenação
motora global, coordenação motora fina, esquema corporal, estrutura espacial,
estrutura temporal, equilíbrio, lateralidade, ritmo e tônus.
• Coordenação motora global
A coordenação motora global visa utilizar os grandes músculos, começa
do mais simples ao mais complexo. Para ser bem desenvolvida, utiliza todos
os grupos corporais e coloca o corpo em trabalho para uma harmonia nos
deslocamentos. De acordo com Almeida:
“As atividades que estão envolvidas nestas práticas dizem respeito à organização geral do ritmo, ao desenvolvimento e às percepções gerais da criança”. (ALMEIDA, 2010, p.43)
• Coordenação motora fina
Montessori (1987, p.98) afirma que “a mão é um órgão de estrutura
delicada e complexa que permite à inteligência não só manifestar-se como
também estabelecer relações especiais com o ambiente”. Corroborando o dito,
Le Boulch afirma:
Esse equipamento motor da mão, parte do corpo, assim como a mímica, torna possível exprimir as emoções e as
26
modificações do tônus, mas, nesse caso, também possibilita o desenho, que expressa uma visão própria de mundo. (LE BOULCH, 2008, p.200)
Conforme Almeida (2010, p.49), “Esta coordenação diz respeito aos
trabalhos mais finos, aqueles que podem ser executados com o auxílio das
mãos e dos dedos, especificamente aqueles com grande importância entre
mãos e olhos”. O bom desenvolvimento da coordenação motora fina é de vital
necessidade para atividade manual infantil que visa utilizar os pequenos
músculos para realizar movimentos específicos e manuseio de objetos.
• Esquema corporal
Auxilia o indivíduo a ser o que ele é capaz de ser por meio da sua
consciência corporal, ou seja, da percepção deste esquema corporal
conhecendo cada parte do próprio corpo em todos os aspectos. Na opinião de
Nicola (2004, p. 06) “a descoberta do esquema corporal é uma conquista
gradativa da criança e sua utilização deste esquema vai lhe permitir ganhar
certezas no seu próprio corpo”. “Conhecer seu esquema corporal é ter
consciência do próprio corpo, das partes que o compõem, das suas
possibilidades de movimentos, posturas, atitudes”.
O esquema corporal é estruturado a partir das vivências sensoriais
perceptíveis no exato momento que a criança discrimina e controla as partes
do próprio corpo. Desta forma, Ferreira e colaboradores (2011, p. 222) nos
dizem que na estruturação do esquema corporal, a noção de direita e
esquerda se refere ao espaço externo do indivíduo, que corresponde à noção
espacial ou à organização espacial que se estrutura a partir dos estímulos
exteriores. Levin (2011, p.71) esclarece, “O esquema corporal é o que se pode
dizer ou representar acerca do próprio corpo. A representação que temos do
mesmo. É da ordem do evolutivo, do temporal”. Levin (2011, p.74) também
esclarece que “assim como a imagem corporal é inconsciente, o esquema
corporal é pré-consciente”. Sendo assim,
27
A noção de Esquema Corporal é como uma noção de âmbito fisiológico. Ela representa a experiência que cada um tem de seu corpo, quando em movimento ou em posição estática, em relação com o meio. É consciente, um simples movimento depende de seu esquema corporal. (ALVES, 2012, p.56)
• Estrutura espacial
Parte-se do princípio que o corpo é o principal ponto de referência da
criança para a sua percepção e organização espacial no mundo, portanto a
ação deste corpo se desenvolve em um espaço e tempo precisos. A noção
espacial é de suma importância, conforme fixamos nosso corpo através do
espaço e das relações espaciais. Neste sentido, Fonseca diz:
Toda a informação relacionada com o espaço tem de ser interpretada através do corpo. Pelo corpo (noção do corpo) podemos estimar a quantidade de movimento necessário para explorar o espaço, ou contatar com qualquer objeto nele localizado ou contido. (FONSECA, 1995, p.204)
O meio espacial da criança se constrói na medida que desenvolve uma
conscientização espacial interna do corpo e só assim passa a ter
conscientização espacial externa. Além da dimensão física do espaço, torna-se
necessário sua capacidade de explorar, participar e atuar sobre estes espaços.
E por meio da organização dos movimentos do corpo, a criança passa a ter
uma boa dinâmica espacial capaz de adquirir suas primeiras noções de espaço
como dentro, fora, em cima, embaixo, perto e longe. Em seguida, a construção
das bases da orientação espacial com o domínio da estruturação espacial,
como reconhecer a direção direito, esquerdo e laterais.
Saber movimentar-se no espaço com a dominância dessas noções é
ter a equilibração garantida, também a harmonia e eficácia do corpo. De
acordo com Ferreira e colaboradores,
28
A orientação espacial é a capacidade que tem o indivíduo de situar-se e orientar-se, localizar outra pessoa ou objeto dentro de um determinado espaço. Enquanto a criança aprende noções de situação, tamanho, movimentos, formas, volume, etc., ela constrói as bases da orientação espacial, ou seja, ela passa a ter acesso a um espaço orientado a partir de seu corpo, multiplicando suas possibilidades de ações eficazes. (FERREIRA e colaboradores, 2011, p. 226)
• Estrutura temporal
“... o tempo habita em nós sob a forma dos ritmos do corpo, cardíaco, respiratório, neurovegetativo”. (COSTE, 1992, p.79)
Segundo Piaget “O tempo constitui uma coordenação dos movimentos
de diferentes velocidades: movimento do objeto para o tempo físico, ou
movimento do sujeito para o tempo psicológico” (2002, p.423).
Cada movimento traz consigo o tempo e no sentido tempo é o espaço
em movimento. Orientação temporal é distinguir o lento do rápido, o antes,
durante e depois, presente, passado e futuro, intensidade, ritmo e duração.
Conforme Coste (1992, p.78), a “estruturação temporal trata-se de propiciar à
criança a possibilidade de organizar as percepções segundo a sua sucessão
no espaço”. A duração de uma ação é o espaço vivido, que seja bem vivido
para a criança desenvolver uma boa percepção temporal, pois através da
estruturação temporal a criança tem consciência da sua ação.
• Equilíbrio
“... está relacionada com a vigilância e o suporte do corpo face à força da gravidade”. (FONSECA, 2008, p. 247)
É a capacidade de manter-se sobre uma base, pode ser estático, quer
dizer sem movimento e dinâmico, com movimento.
29
De acordo com Alves (2012, p. 24), “quando a criança consegue manter-
se em bom equilíbrio estático e dinâmico, mantendo-se normalmente sobre um
pé durante algum tempo, trepa, pula, salta e sofre bem poucas quedas”.
• Lateralidade
Almeida (2010, p.61) define a lateralidade como “a capacidade de a
criança poder olhar e agir para todas as direções, com equilíbrio, com
coordenação mínima corporal e com noções de espaço, é a condição do
trabalho de lateralidade”.
Considera-se uma habilidade importante no esquema corporal, que diz
respeito ao reconhecimento do lado direito e do lado esquerdo permitindo a
dominância dos dois lados do corpo juntos ou separadamente, de forma mais
adaptável ao uso da lateralidade. Segundo Ferreira e colaboradores (2011, p.
222), a noção de direita e esquerda se refere ao espaço interno do indivíduo,
que independe da discriminação de um dos lados, mas que se afirma a partir
dos estímulos interiores do corpo.
Como resultado de uma aprendizagem motora, presente em todos os
níveis de desenvolvimento da criança, no que se refere aos aspectos de
projeção, organização e localização do corpo. Fonseca (1995, p. 208), afirma
que a função da lateralidade envolve um mecanismo básico da integração
sensório-motora e bilateral cruzada do corpo, está associada à especialização
hemisférica, que é uma condição fundamental para que qualquer
aprendizagem motora e simbólica (metamotora), isto é, psicomotora, seja
apropriada e engramada.
• Ritmo
“O ritmo aparece de maneira muito espontânea nos deslocamentos da criança. Ele exprime alegria e às vezes é acompanhado de um ‘canto’ igualmente espontâneo, emitido
30
no mesmo ritmo”. (LAPIERRE & AUCOUTURIER, 1985, p. 189)
Ocorre em várias áreas do comportamento: na motricidade
(coordenação de movimentos), na audição (reconhecimento de estímulos
auditivos), na visão (exploração sistemática do envolvimento), nas
aprendizagens escolares (leitura, escrita, cálculo). (FONSECA, 1995, p.210).
Correr, andar, nadar, exemplos de ritmos motores ligados ao movimento
do organismo. O ritmo auditivo geralmente percebido e estimulado para
desenvolver sintonia com sons e com movimentos mais ordenados.
Verificamos o ritmo visual na leitura, por exemplo: ler em ritmo constante e na
escrita, por exemplo a ordenação das letras dentro das palavras e as palavras
na frases.
O ritmo pode ser lento, moderado, acelerado que diz respeito ao
movimento próprio de cada um. Em relação ao ritmo lento, Montessori
acrescenta que adulto não deve impedir ou intervir no movimento da criança,
ou seja, substituir-se à criança. E sim, permitir que a criança desenvolva suas
necessidades em ações desejadas e realizadas por si mesma no seu ritmo.
Fonseca (1995, p. 210) também acrescenta que a função do ritmo
ultrapassa a dimensão temporal, visto que se insere em todas as
manifestações de comportamento, desde as biológicas e as nervosas às
psicológicas, daí a sua importância na observação psicomotora.
• Tônus
“Para a psicomotricidade, o tônus não só é pano de fundo de qualquer ato motor, mas também é a trama na qual todas as emoções são tecidas”. (FERREIRA e colaboradores, 2011, p.142)
Considerado responsável pela manutenção da postura e do equilíbrio.
Seja ele em movimento, repouso ou em comunicação, também, harmonioso.
Segundo Nicola, “um tono harmonioso permite gestos com qualidade e bem
31
regulados. Edifica os esquemas sensoriomotores para as representações
mentais do gestual e postural”. (2004, p. 08)
No que se refere a tônus, Alves corrobora:
Todo movimento humano, sob todas as suas formas, inclusive no relaxamento, elabora-se sobre o fundo tônico. O tônico muscular é uma tensão dos músculos pela qual as posições relativas das diversas partes do corpo são corretamente mantidas e que se opõe às manifestações passivas destas posições. (ALVES, 2012, p. 44)
Relacionado à aprendizagem se faz presente nas manifestações
emocionais e através do movimento educa para o desenvolvimento das
habilidades. Fonseca (2008) nos declara que
“O aumento do tônus (hipertonicidade) e o seu escoamento ou redução (hipotonicidade) refletem nuances da vida afetiva da criança, traçam a sua história singular”. (p. 26)
2.3.2 – Fatores relacionais da Psicomotricidade
Com o objetivo de uma expressão e comunicação afetiva acentua a
afetividade, emoção, sensibilidade na relação da criança consigo, com o outro
e com o seu ambiente para exteriorizar a personalidade. Portanto, as funções
relacionais possibilitam à criança a vivência do seu corpo de forma expressiva,
espontânea e prazerosa, a saber: afetividade, agressividade, comunicação,
corporeidade, expressão e limite. Assim,
“A psicomotricidade relacional, enfim, é uma prática que permite a liberação do desejo e do prazer de ser, de comunicar-se, de estar vivo!”. (VIEIRA e colaboradores, 2005, p.40)
32
• Afetividade
A afetividade está, sem dúvida ligada à demonstração de sentimentos e
emoções aos outros e aos objetos, relacionados com as modificações da
vivência corporal e com o meio, numa relação de aprofundamento. Quando
equilibrada permite um apoio ao desenvolvimento intelectual assim como a
educação do corpo favorece para um desenvolvimento equilibrado. Conforme
Vieira e colaboradores (2005, p.55) o tônus é fonte de emoção, sendo ele um
elemento chave na relação com o outro. Existe uma regulação recíproca no
campo tônico-emocional e afetivo-situacional, daí as tensões musculares.
Através das atividades, do comportamento e da postura tem-se a
expressividade do desenvolvimento afetivo em um contexto afetivo emocional
ou relacional de uma relação da criança com o meio inserido, com outra
criança, com o adulto e consigo. Segundo Ferreira e colaboradores, Vayer
considera que a criação de vínculos é um fator constituído essencialmente nas
vivências afetivas com os outros, e que esses vínculos estão relacionados ao
prazer/desprazer. (VAYER apud FERREIRA e colaboradores, 2011, p. 38)
• Agressividade
A agressividade se exprime corporalmente na prática relacional, na vida
cotidiana, faz parte de todo indivíduo e por este meio de dialogar a criança
afirma sua identidade e encarrega-se de si. É forma que a criança tem de
impor o desejo do outro e ser reconhecida em seu próprio desejo. Pela
oposição agressiva, Lapierre (2002, p. 52) esclarece como um ato inconsciente
da criança que busca afirmar sua identidade. “Trata-se de uma etapa no
processo de individualização, necessária à conquista da identidade”.
• Comunicação
“O corpo é a primeira forma de expressão do ser, e é pelo viés
33
da comunicação corporal que todas as outras formas de troca se dão” (FERREIRA e colaboradores, 2011, p.146)
É uma função essencial na reeducação psicomotora. Uma vez que a
psicomotricidade leva em conta o aspecto comunicativo do ser humano, do
corpo e da gestualidade, ela resiste a ser uma educação mecânica do corpo
(COSTE, 1992, p.36). Assim, através da gestualidade se diz alguma coisa, o
corpo na essência do seu sentido pode ser interpretado e compreendido. Em
todas as formas de comunicação, Coste nos diz:
A comunicação introduz, portanto, um caráter fundamentalmente humano na relação, na sociabilidade. Ela é união, fusão, compreensão do outro; mas, ao mesmo tempo, é luta, dilema, separação. Comunicar só é possível se o outro nos reconhece como sujeito possível e não apenas objeto; a criança torna-se verdadeiramente humana quando se converte, de objeto materno, em sujeito desejoso, reconhecido e aceito como tal. (COSTE, 1992, p.43 e 44)
• Corporeidade
São todos os fatores funcionais e relacionais envolvidos para o
desenvolvimento da corporeidade, a saber: através das vivências motoras já
consegue se relacionar com o próprio corpo, com outros corpos ao seu redor e
com o mundo em que vive. Para Nicola (2004, p. 05), “... uma corporeidade
que permite expressar emoções e estados interiores”. Por meio da
corporeidade a criança toma consciência do seu corpo, do seu eu e passa a
entender o outro quando começa a entender a si mesma. Isto é criar noção de
identidade.
• Expressão
Citando Sanchez e colaboradores (2003, p. 28), “O termo
expressividade motora significa a maneira única, original e individual de ser e
34
de estar no espaço, como conseqüência do funcionamento psíquico da
criança... expressão de nossa história profunda, ligada a nossas pulsões de
apego e de domínio através do corpo, do espaço e do tempo, manifestadas
aqui e agora”.
No cotidiano, na relação e no eu do indivíduo é essencial lançar mão de
maneiras de expressão seja corporal, expressão através da linguagem e do
pensamento, desta forma permite conhecer e manifestar angústias, medos,
desejos, sentimentos. E, para que haja uma expressão de melhor qualidade,
deve ter espontaneidade na manifestação da expressão.
• Limite
O limite tanto dentro quanto fora do corpo tem relação com a imagem e
ao esquema corporal que deve ser estabelecido pelo equilíbrio entre o
consentido e o proibido. Levando em conta que a criança tem sua liberdade de
descobrir nessa liberdade o seu limite. Na psicomotricidade demarca o espaço
e o tempo, mas na maioria das vezes está relacionado à disciplina.
Por fim, torna-se parte do crescimento global da criança todos estes
fatores funcionais e relacionais vivenciados em consonância.
35
CAPÍTULO III
CONTRIBUTO DESTA UNIÃO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
Pelo movimento a criança introduz sua primeira comunicação
psicomotora com o meio. Desta forma, é importante que esses movimentos por
parte da criança recebam estímulos específicos com o objetivo de atingir
percepções corporais consistentes e cada vez mais refinadas. Segundo Nicola
(2004, p. 17), “o ideal é que a criança possa integrar cada um dos seus
processos antes de incorporar um novo”.
O desenvolvimento psicomotor se traduz nos estímulos que a criança
recebe para progredir sua capacidade de realizar funções motoras e
cognitivas, portanto o objetivo é favorecer o crescimento da criança, que
progride lentamente conforme a exploração do seu meio. Sobre a educação
nos primeiros anos de vida, Borghi (2010, prefácio) nos diz que deve levar em
consideração as exigências básicas da criança naquele período específico,
permitindo a ela vivenciar experiências que valerão para o seu aprendizado.
Promover a integração da criança com o seu meio ambiente, fortalece a
autoconfiança, permitindo tomada de consciência do corpo, minimizando as
dificuldades de aprendizagem. Podemos referenciar ainda, o objetivo do
desenvolvimento psicomotor, assim:
O objetivo do desenvolvimento psicomotor é o controle do próprio corpo com a possibilidade de executar ações voluntárias e a de expressar-se por meio delas. Para isso, entram em jogo dois componentes: um externo, a ação; e outro interno, a representação desse corpo e das suas possibilidades. Portanto, para que esse corpo se desenrole, se desenvolva, deverá constituir-se em um sujeito e, sem essa estrutura, não haverá desenvolvimento. (FERREIRA e colaboradores, 2011, p.77)
36
Por meio da Psicomotricidade podemos estimular o desenvolvimento
psicomotor e o Sistema Montessoriano baseado na experimentação das
atividades de vida prática propicia esta prática de forma natural. Ambos
utilizam um ambiente rico de recursos estimulantes preparados para encorajar
e nutrir o desenvolvimento espontâneo da criança. Guiam a prática para a
educação dos movimentos e da personalidade serem atingidos, assim como a
educação motriz e sensorial. Unidos estimulam a criança a descobrir, criar com
prazer de aprender a pensar, a movimentar com liberdade.
3.1 - O desenvolvimento psicomotor dos 03 aos 06 anos
de idade
Durante o desenvolvimento psicomotor e de acordo com sua fase, a
criança empregará suas funções de modo particular, de formas e intensidades
diferentes, ou seja, para cada fase uma aprendizagem própria. É necessário
enfocar que, dentro dessas fases existem alterações que dependem do
ambiente na qual a criança está inserida e de fatores vivenciados por ela.
Nesse sentido, Borghi acrescenta:
O desenvolvimento psicomotor preconiza a evolução humana segundo as leis céfalocaudal e proximodistal, relacionando a edificação cerebral com as vivências motoras numa inegável combinação de ação e efeito que aparecem como melodia do gesto e da ação do homem. (BORGHI, 2010, p.13)
Apresentaremos etapas do desenvolvimento psicomotor da fase dos 03
aos 06 anos de idade, a saber:
3.1.1 - Fase dos 03 aos 04 anos
Segundo Fonseca (2008, p.158 e 159), nessa fase a postura da criança
já apresenta controle automático. Na sua motricidade aparece os sentidos das
posições e das direções no espaço em relação no espaço em relação com o
37
corpo. A sua preensão expressa movimentação construtiva, constrói torres
com cubos, apresenta o desenvolvimento das praxias. O desenho do corpo
apresenta a imagem de Bizarro. A sua personalidade manifesta a cópia de
atitudes, assimilação do real ao eu, o recrear com os brinquedos. Na
linguagem o aparecimento da função simbólica, estruturação espacial e
temporal dos acontecimentos, reconhece o nome das diferentes partes do
corpo. Neste sentido, Oliveira (2002, p. 107 e 108) afirma que a criança de 03
anos a 04 anos faz as seguintes aquisições das habilidades psicomotora: sobe
e desce escadas, alternando os pés. Ela é capaz de parar um gesto rápido.
Consegue andar por obstáculos. Aos 04 anos a criança fica sobre um pé só
durante alguns segundos. Pode saltar a uma distância de 2m e uma altura de
10 cm com o pé dominante.
Aos 04 anos começa a etapa pré-escolar, período de maturação
intelectual e motora, no qual se afirmam as funções de ambos os tipos
esboçados nos três primeiros anos (Constallat, 1987). Segundo Cabral (2001,
p. 338), essa etapa testemunha uma verdadeira reconstrução do mundo. A
criança passa do conhecimento prático, sensoriomotor, para o pensamento e a
organização de um universo representativo.
Para Fonseca (2008, p.32), essa fase é compreendida estágio
personalístico, está voltado para a pessoa, para o enriquecimento do eu, e,
essencialmente, para a construção da personalidade, onde a consciência
corporal adquirida paulatinamente ao longo dos estágios anteriores e a
aquisição da linguagem se tornam os principais componentes integrados”.
3.1.2 - Fase dos 05 aos 06 anos
Conforme Fonseca (2008, p. 158 e 159), nessa fase a criança
aperfeiçoa a coordenação geral e o perceptivo-motor; galopa e trota; domina a
bicicleta e os patins; aprende a nadar; recebe e devolve os objetos; aquisições
gnoso práxicas. Sua preensão desenvolve o aperfeiçoamento da motricidade
38
fina, das praxias elementares e utilitárias. Escreve, manipula objetos e constrói
estruturas, faz modelagem, mão instrumento de criação. O desenho do corpo
apresenta a imagem de pormenores de vestuário. A sua personalidade
manifesta a independência da mãe no vestuário, na nutrição e na higiene.
Veste-se sem ajuda, condutas sociais, joga cooperativamente, utilização dos
primeiros conceitos. Na linguagem apresenta enriquecimento do vocabulário.
Faz perguntas, usa conjunções, percebe preposições, aprende a ler, fala sem
articulações infantil. Neste sentido, Oliveira (2002, p. 107 e 108) afirma que a
criança de 05 anos aos 06 anos faz as seguintes aquisições das habilidades
psicomotora: aos 05 anos a criança tem condições de executar exercícios
simples de dissociação de movimentos. Os exercícios de coordenação global
vão poder ser realizados por imitação de forma mais ou menos correta. E aos
06 anos a criança pode se tornar imóvel, com os 02 olhos fechados, durante
10 segundos. Continuando, Nicola (2004, p.21) acrescenta que a partir dos 05
anos aos 06 anos se observa a definição da lateralidade, pelo uso do
caleidoscópio, papel furado e pelos simples toque nas coisas e nas pessoas.
3.2 - Contribuições que favorecem o desenvolvimento da
criança
Ao determinar a relação desta temática nos permitirá compreender a
forma como a Psicomotricidade e o Sistema Montessoriano trabalham o
desenvolvimento da criança. Unidos em um conjunto de fatores e objetivos,
podemos dizer que por meio de exercícios individuais e grupais desenvolvem a
coordenação do corpo, consideram a personalidade da criança na sua
totalidade, respeitam o ritmo de cada criança, dão liberdade de movimentos
sem desperdiçar energia e tempo.
É necessário focar que para Montessori (1971, p.92), o desenvolvimento
se dá em função da vida psíquica. Assim, “a parte mais importante do
desenvolvimento do homem está na vida psíquica, não nos movimentos;
porque os movimentos devem ser criados segundo a guia e os ditames da vida
psíquica... o ser humano cresce, pois antes de mais em inteligência, enquanto
39
o resto do desenvolvimento se dá em função desta vida psíquica da qual
desenvolve as características”.
De acordo com os materiais de desenvolvimento destinados aos
exercícios de vida prática, sentidos do tato, sensorial, cultura, traçaremos seus
objetivos e mostraremos de que forma a psicomotricidade está presente
nesses exercícios. Os Materiais Montessorianos, no enquadre da
psicomotricidade, estimula o exercício corporal livre e espontâneo, também a
harmonia na interação do corpo, ambiente e inteligência. Sendo assim, a
criança se desenvolve integralmente no seu ritmo natural, através de suas
próprias experiências, da manipulação adequada e constante dos materiais
que o cercam e também das oportunidades e estimulações criadas para
descobrir-se. De acordo com Montessori (1987, p. 82) a criança não se
movimenta ao acaso, elabora as coordenações necessárias para a
estruturação dos movimentos sob comando e orientação do seu eu. É o eu o
grande organizador e coordenador que vai unificando a corrente psíquica e os
órgãos de expressão por intermédio de contínuas experiências integradoras.
O Sistema Montessoriano assim como a Psicomotricidade utilizam a
linguagem de estímulos, ambos permitem a livre escolha do material desejado
e oferece a liberdade para a criança atuar. Podemos estabelecer uma
comparação desse contexto com a prática da Psicomotricidade Relacional.
Assim nos diz Negrine sobre essa prática:
Como as atividades são livres, a criança vai decidindo o que quer fazer. Com essa estratégia metodológica, raramente se percebe alguma criança que não esteja envolvida com alguma coisa. Geralmente fazem algo que lhe causa prazer. (NEGRINE, 2002, p.123)
Descreveremos alguns exercícios montessorianos que proporcionam o
prazer em fazer e asseguram o desenvolvimento funcional e relacional, a
saber:
O tapete da sala é usado quando a criança trabalha no chão efetivando
exercícios com os materiais disponíveis e, este delimita o espaço físico de
40
trabalho da criança, organiza o corpo no espaço e, objetiva o respeito e o limite
do outro e do meio. O trabalho da Psicomotricidade assume a função de
harmonizar os movimentos voltados aos objetos e ao espaço, desenvolver a
percepção visual relacionada à posição no espaço, isto é, a criança perceber
sua relação com o objeto neste espaço. Assim, Fonseca (2012, p.185) nos diz:
“Toda a informação relacionada com o espaço tem de ser interpretada por
meio do corpo. Pelo corpo (noção do corpo), podemos estimar a quantidade de
movimento necessário para explorar o espaço, ou contatar com qualquer
objeto nele localizado ou contido”.
A torre rosa, composta por uma série de 10 cubos de madeira cor rosa,
cujas dimensões são decrescentes de 10 cm até 01 cm em seus lados, sua
sustentação só é possível se as peças estiverem posicionadas corretamente. A
criança que desejar manipular a torre rosa precisará pegar na estante uma
peça de cada vez com muita leveza, e transportar até o tapete. Ao montar se
utiliza especificamente dos dedos para pegar e posicionar as peças que exige
a participação das duas mãos no movimento. O trabalho da psicomotricidade
através deste material está a tratar de educar o movimento voluntário,
desenvolver a discriminação visual, a atenção, a concentração, o equilíbrio e a
coordenação dinâmica manual. Fonseca afirma acerca da coordenação
dinâmica manual:
A tarefa requer a coordenação fina dos movimentos das mãos e dos dedos com as capacidades visório-perceptivas em termos de velocidade e de precisão. Envolve a praxia fina e, conseqüentemente, o planejamento motor das extremidades distais em permanente e continua retroação tátil-quinestética com a atenção, a fixação e a captação visual dos objetos. (FONSECA, 2012, p.227)
As atividades de vida prática referem-se aos exercícios de vivência
cotidiana com materiais de desenvolvimento, do tipo: cuidar do ambiente,
cuidar de si mesmo, caminhar, versar, carregar objetos, dar laços em cordões,
botões para abotoar, abrir e fechar caixas, vestir e despir bonecos, encher e
esvaziar um recipiente, transpor o material de um recipiente para outro,
encaixar e montar formas sólidas, tocar e manusear superfícies lisas e
41
ásperas, enfiar, dobrar, recortar, colar, costurar, limpar, lavar, lustrar,
diferenciar texturas, descobrir vários odores, conhecer sentidos térmicos.
Dentro desse contexto a Psicomotricidade é trabalhada com esses exercícios,
favorecendo o processo de atenção, autonomia, percepção, desenvolvimento
das habilidades motoras, coordenação motora global, resultando em
movimentos harmoniosos na criança ao se deslocar, transportar objetos e ao
se movimentar em sala de aula. São atividades que levam a criança ao prazer
de sentir e experimentar várias sensações, associações e observações. Desta
forma, Borghi (2010, p.13), acrescenta: “O corpo é um grande aliado do
conhecimento no sentido de ‘poder usar’ uma habilidade pessoal, somando-se
ao desejo ‘querer usar’ e a integridade intelectual de ‘saber usar’.”
É claramente demonstrado que a mão, este tesouro para a prática
montessoriana, dispõe de funções para o desenvolvimento diferenciado da
criança. Segundo Montessori (1971, p.183), podemos exprimir-nos desta
maneira: a inteligência da criança atinge um certo nível, sem fazer uso da mão;
com a actividade manual alcança um nível mais alto e o menino que se serviu
das próprias mãos tem um carácter mais forte... se, por condições particulares
de ambiente, a criança não pode fazer uso da mão, o seu carácter fica a um
nível mais baixo, ela é incapaz de obediência, de iniciativa, preguiçosa e triste;
ao passo que a criança que pôde trabalhar com as próprias mãos revela um
desenvolvimento destacado e força de carácter. Montessori (1971, p.39)
acrescenta que “As mãos são o instrumento da inteligência humana”. Fonseca
(2012, p. 222), também acrescenta que “A mão como órgão de apropriação e
relação com o exterior vai ser um dispositivo fundamental para o
desenvolvimento psicológico da criança”.
Conforme Fonseca (2012, p.227), a mão na psicomotricidade traduz a
coordenação dinâmica manual que visa a coordenação fina das mãos e dos
dedos. Os materiais montessorianos requerem exatamente o que Fonseca nos
diz: “A tarefa requer a coordenação fina dos movimentos das mãos e dos
dedos com as capacidades visório-perceptivas em termos de velocidade e de
precisão. Envolve a praxia fina e, conseqüentemente, o planejamento motor
42
das extremidades distais em permanente e contínua retroação tátil-
quinestésica com a atenção, a fixação e a captação visual dos objetos”.
Os exercícios de linha são outra grande marca da sala montessoriana,
propostos para acriança andar sobre diferentes tipos de linhas desenhadas no
chão. Geralmente em um círculo, propõe à criança andar com os olhos
fechados, andar cruzando as pernas, andar nas pontas dos pés, andar de
frente e de costas, andar encostando um pé à frente do outro. Estes exercícios
almejam trabalhar o equilíbrio, a harmonia, o ritmo consigo mesma e com o
outro. Através destes exercícios a psicomotricidade desenvolve na criança a
coordenação motora global e a expressão corporal.
A lição do silêncio, ajuda a acalmar a criança e atinge o estágio de
normalização. É o relaxamento como atividade psicomotora capaz de integrar
e harmonizar o sujeito. Duarte (1993, p. 105) destaca que “o relaxamento exige
uma vigilância do que ocorre com o nosso interior, mas, para tomar-se
consciência disso, há a necessidade de entrega de si ao espaço, a si próprio,
ao outro.”
Há o fator equilíbrio sendo trabalhado o tempo todo na prática
montessoriana, isto é, a criança em normalidade por um harmonioso equilíbrio
de energias aliadas nas relações da criança com o mundo, com o seu interior
que leva e gera o conhecimento.
Outro fator que merece destaque é o ritmo da criança que nesta prática
é respeitado e trabalhado como um todo, seja desde as atividades diárias, ao
movimentar-se até mesmo ritmar o seu interior. Corroborando o dito,
Montessori (1987, p. 87) afirma: o ritmo de atividade faz parte do indivíduo, é
característica inata quase como a forma do corpo, e se este estiver em
harmonia com ritmos semelhantes não poderá adaptar-se sem sofrimento a
outros semelhantes. Coste (1992, p.79) corrobora dizendo que “o ritmo articula
a sucessão e a organização (ordem) no tempo”.
A partir das considerações anteriores, é possível compreender que as
atividades desenvolvidas no Sistema Montessoriano possibilitam a
expressividade motora da criança tornando-se notório o trabalho dos fatores
43
funcionais e relacionais da psicomotricidade. Portanto, estas considerações
refletem o que Aucouturier (2007, p. 152) defende: A expressividade motora é
para a criança a maneira de manifestar o prazer de ser ela mesma, de
construir sua autonomia, de expressar o prazer de descobrir e de conhecer o
mundo que a cerca.
44
CONCLUSÃO
Ao longo dessa pesquisa, tentamos aduzir o contributo da temática no
desenvolvimento da criança evidenciando a importância da observação e da
experimentação do corpo que se dá de forma organizada na prática da
Psicomotricidade e na prática do Sistema Montessoriano. Partindo da questão
norteadora de como essas contribuições efetivas que ainda carecem de
aprofundamento favorecem no desenvolvimento das crianças de 03 a 06 anos
de idade. Montessori (1987, p.182) quem nos vem lembrar e ajudar quando diz
que:
Uma criança exercita-se e movimenta-se fazendo experiências – coordena assim os próprios movimentos e vai registrando as emoções, provenientes do mundo exterior, que lhe modelam a inteligência, e assim vai conquistando esforçadamente a própria linguagem com milagres de atenção e esforços iniciais só a ela possíveis, e com irrefreáveis tentativas consegue manter-se de pé e correr.
Baseando-se nessas fundamentações, chegamos a conclusão do
valioso vigor que o movimento representa no pleno desenvolvimento da
criança, por ser uma conquista indispensável para harmonizar o
desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo da criança e, pelo movimento se
articula toda afetividade da criança viabilizando uma comunicação consigo
mesmo e com o outro. É notório a Psicomotricidade como condutora da
criança ao movimento na busca da consciência corporal e o Sistema
Montessoriano favorecedor dessa ação. Portanto, vale destacar que a
Psicomotricidade é um fator essencial e indispensável ao desenvolvimento
global e uniforme da criança. (Alves, 2012, p. 144)
Outra conclusão a que chegamos é que os materiais montessorianos
podem enriquecer a prática da Psicomotricidade funcional e relacional. De fato,
45
o Sistema Montessoriano trabalha especificamente cada uma das habilidades
motoras da criança.
A conclusão mais importante é que a cooperação da Psicomotricidade
integrada no Sistema montessoriano propõe ao desenvolvimento da criança,
uma vivência motora significativa pautada em funções corporais
conscientemente desenvolvidas. Ambos viabilizam uma ação educativa sem
desperdiço de energia e tempo.
46
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VIEIRA, J. L et al. Psicomotricidade Relacional: A teoria de uma prática. 2ª
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50
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTO 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
SISTEMA MONTESSORIANO 10
1.1 – Maria Montessori 12
1.2 – Visão da criança 15
1.3 – O movimento 16
CAPÍTULO II
PSICOMOTRICIDADE 18
2.1 – Definindo a Psicomotricidade 18
2.2 – Áreas de atuação 21
2.3 – Psicomotricidade funcional e relacional 24
2.3.1 – Fatores funcionais da Psicomotricidade 25
2.3.2 – Fatores relacionais da Psicomotricidade 31
CAPÍTULO III
CONTRIBUTO DESTA UNIÃO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA 35
3.1 – O desenvolvimento psicomotor dos 03 aos 06 anos de idade 36
3.1.1 – Fase dos 03 aos 04 anos 36
3.1.2 – Fase dos 05 aos 06 anos 37
3.2 – Contribuições que favorecem o desenvolvimento da criança 38
CONCLUSÃO 44
BIBLIOGRAFIA 46
ÍNDICE 50