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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PROTEÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER Por: Michelle Lima da Silva Orientador Prof. Carlos Afonso Leite Leocádio Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PROTEÇÃO AO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER

Por: Michelle Lima da Silva

Orientador

Prof. Carlos Afonso Leite Leocádio

Rio de Janeiro 2013

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

Proteção ao Mercado de Trabalho da Mulher

Monografia apresentada à Universidade Candido Mendes – AVM Faculdade Integrada, como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Direito e Processo do Trabalho.

Por: Michelle Lima da Silva.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, por me sustentar com

suas mãos fortes.

Aos meus caros colegas pelos agradáveis

momentos vividos e pelas experiências

compartilhadas.

E aos professores que contribuíram com

seus conhecimentos.

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DEDICATÓRIA

Dedico aos meus pais, Nivaldo e Ana

Cristina, por serem meu porto seguro;

Aos meus irmãos, Roberta e Pedro Paulo,

que me completam;

E aos meus sobrinhos, Rodrigo Filho e João

Roberto, que alegram minha vida.

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RESUMO

As lutas por igualdades entre homens e mulheres preencheram boa parte da História, e no Brasil não foi diferente. O mercado de trabalho foi um dos grandes palcos dessa disputa feminina de alcançar um lugar de igualdade com os homens. No âmbito nacional, o legislador preocupou-se em criar normas que protegesse o mercado de trabalho da mulher, por ser ela portadora de condições que a põe em desvantagem para o mercado capitalista: Menos força física, possibilidade de gestação e maternidade; ou seja, menos lucros e mais despesas. Mas, diante disto surge o questionamento: mais normas protetoras garantiriam igualdades entre os sexos ou afastaria ainda mais a mulher do mercado de trabalho formal. A resposta a essas questões é a mulher trabalhadora com todas as garantias legais a seu favor, mas as portas do mercado de trabalho fechadas, pois sem incentivo significativo, o empregador vê na mão de obra feminina muitas despesas que não pode arcar.

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METODOLOGIA

O estudo aqui proposto é levado a efeito a partir do método da

pesquisa bibliográfica, em que se busca o conhecimento em diversos tipos de

publicações, como livros e artigos em jornais, revistas e outros periódicos

especializados, além de publicações oficiais da legislação e da jurisprudência.

Por outro lado, a pesquisa é empreendida também através do

método dogmático positivista, porque o propósito é apenas identificar as diversas

formas em que se apresenta o fenômeno-tema na realidade brasileira e o

tratamento conferido a cada uma delas pelo ordenamento jurídico nacional, sob o

ponto de vista específico do direito positivo brasileiro e com fundamento exclusivo

na dogmática desenvolvida pelos estudiosos que já se debruçaram sobre o tema

anteriormente.

Trata-se, ainda, de uma pesquisa aplicada, porque visa produzir

conhecimento para aplicação prática, mas também qualitativa, porque procura

entender a realidade a partir da interpretação e qualificação dos fenômenos

estudados; e descritiva, porque visa à obtenção de um resultado puramente

descritivo, sem a pretensão de uma análise crítica do tema.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.

CAPÍTULO I .................................................................................................................. 11

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LUTA FEMININA PARA INCERSÃO NO MERCADO

DETRABALHO .............................................................................................................. 11

1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL ............................................................... 17

1.2 – OS PRIMEIROS REFLEXOS SOCIAIS GERADOS PELA INCERSÃO DE MÃO

DE OBRA FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO ............................................... 20

CAPÍTULO II ...................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.5

A PROTEÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER E SEUS

REFLEXOS LEGAIS .......................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.5

2.1 – DA PROTEÇÃO À MATERNIDADE .......... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.7

2.2 – PROTEÇÃO AO SALÁRIO .................................................................................. 32

2.3 – PROTEÇÃO AOS PERÍODOS DE DESCANSO .................................................. 33

2.4 – PROTEÇÃO CONTRA OS TRABALHOS PROIBIDOS ....................................... 34

2.5 – PROTEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO ............................................... 34

2.6 – A PROIBIÇÃO DE PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS ......................................... 34

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CAPÍTULO III ................................................................................................................ 36

CRITICAS AS LEIS PROTETIVAS EXISTENTES E AS NOVAS PROPOSTAS LEGAIS

...................................................................................................................................... 36

3.1 – PROPOSTAS DE MUDANÇA .............................................................................. 38

3.2 – CRÍTICAS À APLICAÇÃO DAS LEIS JÁ EXISTENTES E AS NOVAS

PROPOSTAS LEGAIS .................................................................................................. 41

CONCLUSÃO................................................................................................................ 43

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................. 45

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INTRODUÇÃO

A História, em todos os seus segmentos, demonstra-nos que o

universo do trabalho feminino sempre foi marcado por lutas e conquistas,

alternadas com comportamentos de submissão e resistência.

O papel da mulher, sem dúvida nenhuma, na sociedade em geral,

vem crescendo gradativamente, o que acarreta mudanças pragmáticas de valor

ideológico, político, social e jurídico. Graças também ao avanço intelectual, vários

movimentos de cunho social e moralista foram desenvolvidos no sentido de

valorizar e proteger o trabalho da mulher.

Em um primeiro momento, a proteção ao trabalho feminino trouxe

certa inquietação no mercado de trabalho por trazer em seu fundamento a ideia

de fragilidade da mulher como justificativa suficiente para dispensar-lhe regalias

quanto à legislação trabalhista.

Esse impacto trouxe consequências gravosas, uma vez que afastou

e, em muitos casos, dificultou o acesso da mulher ao mercado de trabalho. Como

efeito cascata, isso fez com que a mulher, estando necessitada do trabalho,

tivesse que aceitar condições humilhantes para se mantiver no emprego como

baixos salários, jornada de trabalho exagerada, serviços pesados, dentre outros.

Felizmente, essa postura parece ter apresentado certa mudança,

por encarar a mulher não como um ser frágil em sua completude, mas que

apresenta momentos de fragilidade os quais demandam maiores cuidados como

o caso da gravidez, da amamentação, entre outros, tratados mais adiante.

Especificamente nesses casos, a legislação brasileira cuidou de resguardar os

direitos da mulher no mercado de trabalho.

De fato, o nosso ordenamento jurídico vem se ajustando à realidade

social e conseguindo abranger a complexidade de tal assunto ao reconhecer a

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igualdade entre o homem e a mulher em todos os campos sociais o que confere

maior identidade à mulher, tendo esta maior acessibilidade às oportunidades

existentes no mercado de trabalho contribuindo para o desenvolvimento

econômico, social, político, educacional e cultural do país.

Contudo, este não é um discurso acabado, finito. Muitas conquistas

ainda são pleiteadas pelas mulheres em todas as esferas sociais, e isso tem

tomado proporções maiores, tendo em vista o entendimento consciente da

realidade da mulher no mundo do trabalho e de suas incompletudes. Mas,

segundo elas mesmas, há muito a se fazer ainda.

O trabalho da mulher esteve, e ainda está presente em todas as

épocas da história da humanidade e neste contexto, o processo de

industrialização representou uma porta de entrada no qualitativo de mão de obra

exigida para o trabalho, abrindo espaço para a atuação das mulheres, mas, por

outro lado, propiciou a disseminação de várias formas de exploração de seu

trabalho, e de diferenciações que, infelizmente, ainda podem ser verificadas

inclusive nos tempos atuais.

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CAPÍTULO I

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LUTA FEMININA PARA INCERÇÃO NO MERCADO DE TRABALHO E SEUS

REFLEXOS SOCIAIS

A história nos revela a Luta enfrentada pela mulher para ter seus

direitos estabelecidos e respeitados nos mais diversos aspectos. Um deles é em

relação ao mercado de trabalho que, por muito tempo, insistiu em excluir aquela

que hoje, em muitas culturas, representa o braço forte da economia.

Essa luta vem muito antes do século XIX, quando surgem

reivindicações por melhores condições de trabalho e o sufrágio universal

feminino. Estamos falando dos primórdios da civilização Humana - mais

especificadamente em 195 d.C. - época em que na Grécia as mulheres

ocupavam posição semelhante à dos escravos. Algumas representantes do sexo

feminino, que até então tinha como principal função reproduzir, cozinhar e tecer

para a subsistência do homem, começaram, pois, exigir no Senado o direito ao

uso dos transportes públicos.

Ainda na Grécia, os espartanos viam nelas apenas a origem de

uma raça forte e as educavam com o objetivo de ter filhos belos e sadios. Os

atenienses as dividiam em classes, mantendo a esposa legítima quase em

clausura e instruindo as que se destinavam a cortesãs.

Na Antiguidade teve no Egito uma posição de relativa igualdade com

o homem e a par de sua companheira nas lides do campo, podia ser

comerciante, ter indústria e exercer medicina.

A mulher judia tinha posição de absoluta inferioridade em relação ao

homem, não obstante a lei de Moisés a colocar no mesmo plano aduzindo que “o

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matrimônio é a unidade espiritual e corporal do homem e da mulher, como Deus

ordenou”.

A habilidade da mulher, entretanto, dava em algumas atividades um

papel de relevo (exemplo: a seda de Milão, os veludos de Florença). Continuava,

não obstante seu reconhecimento, a grande exploração em seu trabalho.

Se essa era a situação do mundo civilizado, no continente

americano, entre os indígenas, especialmente entre os incas, também não

passava a mulher de escrava incumbida de árduas atividades (transportar cargas,

cortar lenha, fazer tecidos e os rudimentares calçados).

Em 1814 um inquérito realizado pelo governo inglês comprovava

que a jornada de trabalho era de 16 horas, que os salários não davam para o

sustento diário do proletário e que as crianças de 5 e 6 anos já trabalhavam nas

fábricas.

Em 1906, finalmente foi elaborado em Berna o primeiro projeto de

convenção internacional proibindo o trabalho das mulheres à noite, na indústria.

Não se concretizou, entretanto, como legislação.

Mais de 50 anos depois, apesar de tudo e de participar ativamente

no desenvolvimento da humanidade, a mulher continua a ter seu trabalho

explorado, mesmo nos Estados Unidos, onde conseguiu tantas conquistas.

Historicamente, a partir de 1842, começam a surgir legislações

protegendo a mulher, vejamos de forma mais concreta. Um exemplo foi à

proibição na Inglaterra do trabalho da mulher em subterrâneos – “Coal Mining

Act”. Em 1844 ainda na Inglaterra limitou-se a jornada da mulher a 12 horas de

trabalho e proíbe o período noturno – “Factory Act”.

Em 1878 foi vedado o emprego da mulher em trabalho perigoso e

insalubre – “Factory and Workshop Act”. Já em1874 na França houve proibição

do trabalho da mulher em minas e pedreiras e do trabalho noturno aos menores

de 21 anos. Em 1891 na Alemanha o Código Industrial fixou algumas normas

quanto ao trabalho da mulher

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O Tratado de Versailles estabeleceu o princípio de igualdade salarial

entre homens e mulheres, o que foi descumprido por muitos países, entre os

quais o Brasil.

No âmbito internacional a criação da OIT realça a necessidade de

regulamentação e proteção da relação de emprego. Inúmeras Convenções

ratificadas pelo Brasil preceituam normas que tutelam o trabalho da mulher.

Em 1948 a Declaração Universal dos Direitos do Homem versou

sobre regras de não discriminação por motivo de sexo. O Pacto Internacional

sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, em seu artigo 3o,

determina a igualdade de direitos entre homens e mulheres.

Por fim, a Convenção da ONU de 1975, sobre a eliminação de todas

as formas de discriminação contra a mulher, foi ratificada e confirmada pelo Brasil

através do Dec. 89.460 de 20.03.84.

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de

Discriminação contra a Mulher (CEDAW - Convention on the Elimination of All

Forms of Discrimination Against Women) foi aprovada pela Assembléia Geral das

Nações Unidas através da Resolução 34/180, em 18 de dezembro de 1979. Foi

assinada pelo Brasil, com reservas na parte relativa à família, em 31 de março de

1981, e ratificada pelo Congresso Nacional, com a manutenção das reservas, em

1º de fevereiro de 1984.

Em 1994, tendo em vista o reconhecimento pela Constituição

Federal brasileira de 1988 da igualdade entre homens e mulheres na vida pública

e privada, em particular na relação conjugal, o governo brasileiro retirou as

reservas, ratificando plenamente toda a Convenção. No Brasil, essa Convenção

tem força de lei interna, conforme o disposto no § 2º do artigo 5º da Constituição

Federal vigente.

A Convenção define a expressão "discriminação contra a Mulher"

como "toda distinção, exclusão ou restrição baseada no sexo e que tenha por

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objeto ou resultado prejudicar ou anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela

mulher, independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do

homem e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos

campos político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer campo".

Essa Convenção foi fruto do esforço do movimento feminista

internacional em comprometer os Estados-Membros das Nações Unidas na

condenação da discriminação contra a mulher em todas as suas formas e

manifestações. Em grande parte, a Convenção resultou da I Conferência Mundial

da Mulher, realizada pelas Nações Unidas na Cidade do México, em 1975.

Por este instrumento legal, a Assembleia Geral das Nações Unidas

reconheceu que a discriminação contra a mulher viola os princípios de igualdade

de direitos e do respeito à dignidade humana, constituindo-se em obstáculo ao

aumento do bem-estar da sociedade e da família, além de dificultar o

desenvolvimento das potencialidades da mulher.

Para avaliar a implementação da Convenção pelos Estados-

Membros e acompanhar os progressos alcançados na aplicação da Convenção,

as Nações Unidas estabeleceram um Comitê sobre a Eliminação da

Discriminação contra a Mulher, também denominado CEDAW. Por esta

Convenção, os Estados-partes comprometeram-se a submeter ao Secretário

Geral das Nações Unidas, um ano após a entrada em vigor da Convenção, um

Relatório sobre as medidas adotadas para tornar efetivo o conteúdo da

Convenção. A cada quatro anos esse Relatório deverá ser atualizado e, mais

uma vez, apresentado para exame do Comitê.

Apesar de ter sido adotada há 20 anos, muitos países, dentre os

quais o Brasil, nunca enviaram relatórios para serem avaliados pelo CEDAW.

Também por pressão do movimento feminista internacional, espera-

se que a Convenção seja acrescida de um adendo, chamado Protocolo Opcional,

para que este importante instrumento legal de proteção aos direitos humanos das

mulheres incorpore a questão da violência contra a mulher, com base na

Declaração da Conferência Mundial de Direitos Humanos, realizada em Viena,

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em 1993, e na Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a

Violência contra a Mulher - Convenção de Belém do Pará, adotada pela

Organização dos Estados Americanos - OEA, em 1994.

No século XX, com a solidificação do capitalismo, muitas leis

passaram a beneficiar as mulheres. Uma das explicações para tal fato seria o

papel assumido por elas ao ter que sustentar suas famílias na I e II Guerra

mundial, uma vez que seus maridos foram para os campos de batalhas, e os que

não foram mortos, voltaram mutilados e incapacitados para o mercado de

trabalho da época.

Evoluindo no sistema econômico, gradativamente a mulher ia

recebendo novas ocupações, passando a colaborar para a manutenção do lar

com a fabricação de tecidos e pequenos objetos que serviam de instrumento de

troca por outras utilidades.

Coincidem assim, as duas formas de produção: indústria doméstica

e oficina cooperativa. E tanto numa, quanto na outra, afirma-se a presença da

mulher, sendo a primeira especializada no linho e cânhamo.

Com o advento da maquinaria, reduzindo o esforço muscular, abre,

ainda, mais a porta das fábricas às mulheres e às crianças. Em pleno

desenvolvimento, o capitalismo aproveita esse afluxo de mão de obra para

reduzir salários e aumentar as horas de trabalho. Ainda desorganizados, os

trabalhadores masculinos não tem meios de reação e apenas podem, para não

se submeterem às imposições patronais, procurar outras profissões.

Com o aperfeiçoamento da máquina a vapor e sua aplicação na

movimentação de teares, a roda de fuso e as agulhas passaram para o segundo

plano. Na Alemanha, o quadro era idêntico: as mulheres trabalhavam 17 horas

por dia, das 3 da manhã até a noite, no verão, e das 5 da manhã às 11 horas da

noite no inverno. A tuberculose costumava atacar.

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Antes desses acontecimentos, as regras sociais ditavam que a

mulher não precisava e não podia trabalhar, sendo esta a função de seus pais ou

maridos, que assumiam a figura de provedores exclusivos do Lar. As mulheres

viúvas ou as que pertenciam a classes econômicas inferiores tinha que garantir o

sustento de suas famílias, e isso era tido como desonroso e desprezível pela

sociedade, inclusive por outras mulheres. A mulher valorizada era aquela que

cumpria bem suas funções essenciais: Reprodutora, mãe, esposa e dona de

casa.

A figura do homem como sujeito universal lançava a mulher no

anonimato. Um exemplo claro desta afirmação está no fato de que raramente a

mulher era apresentada pelos historiadores. Todo discurso sobre temas clássicos

como a abolição da escravatura, a imigração europeia para o Brasil, a

industrialização, ou o movimento operário, evocava imagens da participação de

homens, e jamais de mulheres capazes de merecerem uma maior atenção,

porque estavam confinadas ao espaço da vida privada. Eram como se fossem

invisíveis ou desnecessárias a construção da Historia.

Com o passar dos anos, as relações que envolviam as mulheres

foram tendo afrouxadas dos laços patriarcalistas que pautavam os costumes, e

consequentemente a submissão do sexo feminino ao masculino.

A partir da ideia de progresso, as mulheres aos poucos foram saindo

de casa em busca de um mercado formal de emprego, e mesmo sob toda

pressão discriminatória, a mulher deixou de restringir-se a ações que a prepararia

para ser boa esposa e mãe, para se qualificar profissionalmente. A preocupação

não se limitava em conquistar um promissor casamento, as ambições expandiam-

se.

Os primeiros contatos da mulher com o mercado de trabalho foi

extremamente discriminatório. É bem verdade que os primeiros espaços

conquistados só foram possíveis porque essa força de trabalho era interessante

para o empregador uma vez que os salários ofertados eram baixíssimos e

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incompatíveis com a atividade exercida. O lucro excessivo fora a causa dessa

inserção.

Graças ao processo evolutivo da sociedade, e por consequência, a

consciência jurídica, as discriminações foram sendo expurgadas. O Estado, na

tentativa de regulamentar a relação trabalhista da mulher e a sua permanência no

mercado de trabalho, foi criando normas jurídicas para diminuir os frequentes

abusos patronais, buscando-se assim uma proteção, ainda que muito aquém do

ideal.

1.1- Evolução Histórica no Brasil

No Brasil, a mulher, assim como outros grupos sociais, possui um

histórico de discriminação, tendo sido considerada inferior e menos capaz do que

os homens durante muito tempo. Este fato retardou a inserção da mulher na vida

pública em todos os seus aspectos, incluindo o mercado de trabalho. Embora

mulher em outros países já tivessem conquistado direitos viscerais na área

profissional, o Brasil se aquém desta realidade por longos anos. Um das

justificativas históricas seria o seu forte traço escravocrata a cultura patriarcal e

machista, pela qual as famílias eram erguidas.

Nas considerações da historiadora Mary Del Priore, em sua obra

“Mulheres no Brasil colonial”, é possível ter uma dimensão de como funcionava a

relação da mulher na sociedade brasileira:

O sistema patriarcal instalado no Brasil colonial sistema que encontrou grande reforço na Igreja Católica que via as mulheres como indivíduos submissos e inferiores, acabou por deixar-lhes, aparentemente, pouco espaço de ação explicita. Mas insisto: isso era apenas mera aparência, pois, tanto na sua vida familiar, quanto no mundo do trabalho, as mulheres souberam estabelecer formas de sociabilidade e de solidariedade que funcionavam, em diversas situações, como uma rede de conexões capazes de

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reforçar seu poder individual ou de grupo, pessoal ou comunitário. (PRIORE; 2000, p. 9).

Embora a mulher fosse tida como invisível pela sociedade no que

dizia respeito a garantia de direitos, este não foi suficiente para impedir que

alguns passos fossem dados para uma futura mudança.

No começo, ainda sem vez e sem voz, as mulheres faziam trabalhos

voluntários, que aparentemente tinham pouca ou nenhuma representatividade

social, mas aos poucos foram ganhando visibilidade, e uma futura mudança de

comportamento.

O surgimento de novas tecnologias e o investimento de capitais

estrangeiros no Brasil foram fatores determinantes para o chamado “progresso a

todo custo”. E isto proporcionou o desenvolvimento de cidades e acesso a

informações gerando uma mudança social, principalmente em relação a antigos

padrões culturais. A modernidade se aproximava e o progresso fazia-se

necessário.

Segundo o historiador Boris Fausto, o “progresso significava a

modernização da

sociedade através da ampliação dos conhecimentos técnicos, do

industrialismo, da expansão das comunicações”. (FAUSTO, 2002, p. 140). Porém

havia um entrave que poderia retardar ainda mais a efetividade do progresso: Um

conjunto de normais jurídicas que revelava uma sociedade atrasada e machista.

Como exemplo tínhamos o Código Civil de 1916 que afirmava que o

marido era o chefe da sociedade conjugal, sendo este o responsável pela

representação da família e ainda detinha o direito de autorizar a profissão da

mulher. Era difícil acreditar que o progresso se efetivaria se os direitos da mulher

ainda estavam por vir.

A mulher se via atada e totalmente submissa ao cônjuge, uma vez

que era este quem decidia e administrava todos os bens do casal, inclusive os de

posse da esposa. Por anos as mulheres estiveram a mercê dos seus direitos, e

declaradas como inabilitadas para o exercício de determinados atos civis. E,

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embora a lei declarasse que era responsabilidade de ambos a manutenção da

família, não havia meios legais que viabilizasse essa norma, tornando-a ineficaz.

Dadas as grandes revoluções da humanidade para busca de

ampliações de direitos, as mulheres em muitos destes ficaram apenas como

expectadoras, pois ainda não havia uma consciência de que o mundo era

também formado por elas e que essas detinham grande participação na

construção deste. Sonegavam-lhe não só os direitos civis e políticos como

também a base da cidadania que era a educação.

Analfabetas e sem amparos legais, ficava quase impossível usufruir

dos avanços conquistados no final do século XIX. Mas parecia que a historia

começava a mudar. No inicio do século XX um lastro de esperança surgia e o que

antes parecia impensável agora mostrava uma nitidez.

Ainda que somente no campo da aparência física, a revolução

feminina ganhava espaço. Cabelos curtos, saídas sozinhas as ruas, roupas que

valorizavam as curvas, representavam uma ruptura com os padrões até então

estabelecidos. E em meio às duras criticas da camada social conservadora que

afirmavam que estas novidades feriam os bons costumes, as mentes estavam se

abrindo para um novo futuro, e a literatura foi uma grande auxiliar da propagação

dessa ruptura com antigas regras.

Assim as mulheres brasileiras se inspiraram em outras espalhadas

pelo mundo para iniciarem o processo de libertação das amarras sociais há muito

tempo impostas. Mas este requer tempo para se consolidar. É verdade que

somente na década de 70 as mulheres adquiriram direitos sociais, incluindo

trabalhistas, mas sólidos, sendo o corolário deste progresso com a constituição

de 1988. Mas toda evolução tem um ponto de partida.

E foi ainda na década de vinte que surgiram autoras com

pensamentos totalmente progressistas. Pregavam a liberdade amorosa, o sexo

fora do casamento, a independência financeira, entre outras manifestações até

então terminantemente proibidas.

Com o passar do tempo e a insistência daquelas que não mais

aceitavam o papel baseado no tripé: mãe, esposa e dona de casa; as guerreiras

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brasileiras foram conquistando seu espaço, principalmente no mercado de

trabalho.

Em 1973, apenas 30,9% da População Economicamente Ativa

(PEA) do Brasil era do sexo. Segundo os dados da Pesquisa Nacional de

Amostra por Domicílio (PNAD), em 1999, elas já representavam 41,4% do total da

força de trabalho. Um exército de aproximadamente 33 milhões. Em Santa

Catarina, elas ocupavam 36,7% das vagas existentes em 1997. Quatro anos

depois, em 2000, mais 62 mil mulheres ingressaram pela primeira vez no

mercado, aumentando a participação em 1,1 ponto percentual.

Analisando este fenômeno, temos que levar em conta um universo

muito maior, pois há uma mudança de valores sociais nesse caso. A mulher

deixou de ser apenas uma parte da família para se tornar o comandante dela em

algumas situações. Por isso, esse ingresso no mercado é uma vitória. O processo

é lento, mas sólido.

1.2 – OS PRIMEIROS REFLEXOS SOCIAS GERAIS PELA INCERSÃO DE MÃO DE OBRA FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO

As pressões para consolidação da modernidade experimentada

principalmente no “velho mundo” chegaram aos pouco em terras brasileiras e o

furor para se adaptar aos novos comportamentos de consumo exigiam uma

mudança de postura nas bases sociais.

A industrialização foi certamente um ponto essencial para deslocar a

mulher de seus domicílios para lançarem-nas no mercado de trabalho. Essa foi

uma dessas principais mudanças.

Uma peculiaridade está no fato de que essa revolução feminina deu-

se nas camadas inferiores da sociedade. Enquanto mulheres de classes mais

abastadas empenhavam-se em desenvolver a arte de ser uma esposa prendada

para conquistarem um bom casamento, as das camadas menos favorecidas

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tinham que se reinventarem para suprir não somente o seu, mas também o

sustento se seus filhos, já que muitas viviam sem um marido que as

sustentassem.

Sendo então as supridoras de seus lares, em sua grande maioria, as

mulheres desenvolviam atividades como: professoras, enfermeiras, secretárias,

operárias, entre outras. É verdade que recebiam muito menos por seus trabalhos

e sempre sofrendo muita discriminação e violência moral.

Embora conturbado e com poucos direitos, as mulher foram

avançando em suas profissões ocupando inclusive áreas com excessivo emprego

de força física – até então dominadas por homens – lançando por terra o termo

“sexo frágil”.

A tecnologia avançava nos mesmos passos da modernidade, mas

poucas eram as famílias eu podiam usufruir dos benefícios como

eletrodomésticos que facilitariam a vida moderna. Mas fatores triviais hoje em dia

como luz e água encanada foram de suma relevância para auxiliar a rotina da

mulher que, apesar ser responsável pelo sustento de seu lar, tinha o dever de ser

boa mãe.

Rachel Soihet faz menção a seguinte passagem a respeito das atividades Femininas em suas primeiras manifestações:

Estas mulheres, apesar de seus parcos ganhos, pois as atividades femininas em geral são as mais desvalorizadas e menos remuneradas, tinham papel relevante na economia familiar, sendo que muitas delas viviam sozinhas, garantindo sua subsistência e a de seus filhos. (SOIHET, 1989, p. 166).

O discurso discriminatório que pautava as diferenças salarias entre

homens e mulheres era que essas tinham seus maridos para sustentarem-nas,

logo, deveriam ganhar menos. Ainda que tivessem maridos que as sustentassem,

o que não era uma verdade, não justificava esse absurdo.

A lei determinava que a mulher para trabalhar fora devesse ter uma

autorização expressa do seu marido. Entendia-se que a mulher que se dedicava

somente aos afazeres do lar estava resguardada, segura em seu lar. Já a que

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desempenhava alguma atividade fora precisava desse aval do cônjuge para a sua

própria segurança.

Na verdade o que se temia era que a mulher se sentisse

independente a ponto de não mais se submeter ao julgo do marido, rebelando-se

na certeza de se auto sustentar. Tinham maior garantia contra os maus tratos e

poderiam se defender de agressões corpóreas e humilhações até então sofridas

em silencio. Esta saída de casa para trabalhar gerou muito mais do que somente

uma revolução trabalhista; foi o pontapé inicial da libertação feminina.

Ainda hoje, a violência sofrida por mulheres no lar, nos diversos

continentes, é um fato aterrorizador, que se projeta também no trabalho,

principalmente sob a forma de assédio sexual e assédio moral, dos quais elas

são as principais vítimas. (Monteiro de Barros, 1995).

Para Danielle Ardaillon em sua obra “O salário da Liberdade:

profissão e maternidade, negociações para uma igualdade na diferença”,

assegura os seguintes aspectos:

Desde os primórdios da Revolução Industrial, mulheres trabalhavam fora de sua casa para assegurar o sustento dos seus filhos e tiveram cotidianos angustia dos pelos problemas de casa levados para o emprego. A situação nova com a profissionalização das mulheres é que o seu cotidiano não se resume ao agora, mas é um projeto. Profissionalizar-se é adquirir outra identidade, outro modo de sociabilidade. Além do exercício de uma profissão e além do significado de sua remuneração, o trabalho fora de casa é, para as mulheres de classe média, um projeto individualizado. (ARDAILLON,1997, p. 34).

O somatório de fatos como ingresso feminino no mercado de

trabalho formal e sua consequente profissionalização alavancaram a consciência

de liberdade que a mulher outrora não percebera, aumentando cada vez mais a

sede por esta busca. Como consequência natural começavam a surgir

movimentos feministas. Todavia, a busca por um lugar ao sol, não as livrou do

peso de continuar exercendo suas tarefas domésticas em seu fatídico tripé: de

uma dona de casa, boa esposa e mãe.

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Com a entrada da mulher no mercado formal de trabalho houve uma

abertura de novos horizontes para o universo feminino, era como se um leque de

possibilidades se apresentasse em sua frente. Apesar de estarem inseridas em

uma sociedade envolvida pelos aspectos dominantes da figura masculina sobre a

feminina, as mulheres puderam, a partir do trabalho, estabelecerem algumas

diretrizes que influenciaram diretamente nos padrões e na dinâmica da

sociedade.

Uma das mudanças mais significativas não só para as mulheres

como para toda a sociedade foi o controle da natalidade. Em um mundo

capitalista que exige força de trabalho produtiva, e que maior dedicação traduz-se

em lucro, a ideia de conceber muitos filhos é repensada. A pílula anticoncepcional

revolucionou a vida das mulheres trabalhadoras. Com número reduzido de filhos,

a dedicação ao trabalho torna-se maior.

A contracepção foi a mola propulsora da liberdade sexual feminina

dando lhe um domínio sobre o seu próprio corpo. Foi uma ruptura com

paradigmas sociais e morais das quais estavam presas.

Com a possibilidade de iniciarem sua vida sexual antes de um

casamento formal as faz repensar sobre o que esperavam de seus parceiros e as

colocava em uma posição diferente da que se ocupava. Se há liberdade nas

relações, o casamento deixa de ser o elemento mais importante como forma de

garantir o sustento da mulher. A partir do momento em que esta passa a se

sustentar, as relações entre homens e mulheres deixa de ser uma questão de

sobrevivência, passando a ser algo espontâneo e muito bem pensado. Sem

duvidas foi o marco mais importante para o desenvolvimento do campo

profissional.

Outra consequência da busca pela profissionalização foi acesso à

escolarização, que em poucos anos teve um aumento significativo. Embora

muitas vezes o trabalho exercido pelas mulheres não requeresse um grau de

formação, elas empenhavam-se em adquirir mais conhecimento. Isso fez com

que as salas de aula fossem invadidas por essa nova classe de alunas. A busca

pela escolaridade esteve fortemente ligada ao mundo do trabalho.

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Para Rachel Soihet a busca pelos direitos da mulher esteve ligada a

movimentos feministas, como segue na passagem a seguir:

Em 1920, dá os seus primeiros passos um movimento de mulheres proeminentes, literatas, vinculadas à elite, com educação superior que queriam emancipação econômica, intelectual e política. Estas conseguiram vitórias em terrenos como o trabalho feminino, a saúde, educação e direitos políticos, garantindo a cidadania para a mulher. (SOIHET, 1989, p. 178).

Com todas esses mudanças ocorrendo não demorou para que a lei

promulgasse o direito de igualdade. Com isso as mulheres procuraram logo

estabelecer essas mudanças nos valores culturais e sociais. Buscam sua

emancipação em todos os aspectos.

O fatídico tripé ao qual estavam presas e que as impulsionava à

tarefa de constituir família e ser mãe passa a ficar em segundo plano. O desejo

constante por melhores posições, cargos públicos e políticos são referenciados

com grande otimismo entre as feministas. Mas essa luta por igualdade estava

longe de ser encerrada. A igualdade de salários e oportunidades ainda era um

obstáculo a se vencer.

Mas era preciso olhar para traz e perceber o quanto já se tinha

conquistado: liberdade sexual, garantias legais, incorporação no mercado de

trabalho, eram seus motivadores a continuarem avançando. A mente feminina

havia mudado; seu olhar da vida e de se si mesma havia mudado, logo, a

mudança social era inevitável.

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CAPÍTULO II

A PROTEÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER E SEUS REFLEXOS LEGAIS.

No âmbito interno, com a revolução de 1930 foi aberta uma nova era

para os trabalhadores brasileiros. Depois de muito estudado o problema do

trabalho feminino pelo então Ministro Lindolfo Collor, cria-se a primeira norma que

tratou do trabalho da mulher: o Decreto 21.417-A, de 17de maio de 1932, que,

dentre outras medidas, vedava o trabalho noturno, a remoção de pesos, as

atividades insalubres e perigosas no período de quatro semanas antes e depois

do parto.

A primeira Constituição a versar sobre o tema foi a de 1934, vedava

a discriminação salarial, as atividades insalubres (artigo 121, § 1º), previa serviços

de amparo à maternidade (artigo 121, § 3o). Posteriormente, os demais

dispositivos legais e as normas constitucionais foram assegurando a devida

proteção ao trabalho da mulher.

Mas como todo corpo de normas jurídicas de uma sociedade deve

refletias as necessidades dos grupos que compõe o seu povo, as garantias legais

existentes estavam defasadas diante da realidade social que se impunha. O fato

de as mulheres estarem consolidadas no mercado de trabalho não podia ser

questionado, então restava às normas jurídicas acompanharem-na.

Como mencionado anteriormente, a constituição assim com as

demais leis infraconstitucionais devem acompanhas a evolução do povo que esta

representa e regula. Assim, o poder constituinte de 1988 trouxe tudo que há

muito se clamava em solo brasileiro: igualdades de direitos entre os diversos

grupos existentes e a liberdade em vários de seus aspectos.

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Um dos grupos sociais atendido por esta inovação constitucional

fora a mulher. A ideia de igualdade entre pessoas de sexos diferentes pôs a

mulher em um patamar diferente de tudo que já se tinha visto. E esta igualdade

abriria novos horizontes e possibilidades.

Embora a constituição tivesse expressamente estabelecido

igualdades entre homens e mulheres, a completa aceitação e a mudança social

levaria muito tempo. Transformar uma cultura patriarca e machista duraria bem

mais do que uma assembleia constituinte. Mas o primeiro passo já havia sido

dado rumo a nova sociedade brasileira.

O art. 7º, XXXIII da Constituição Federal trata da discriminação do

trabalho do menor, exclusivamente, e, cotejado como dispositivo constitucional

anterior, correspondente, art. 165, X da Constituição Federal. Revela que, no

plano constitucional, a interpretação histórica demonstra que a proposital

supressão da proibição do trabalho da mulher em condições de insalubridade e

periculosidade, teve o escopo de, realmente, viabilizar o efetivo tratamento

igualitário da mulher.

Da década de 70 até os dias atuais, o número de mulheres que

trocam o trabalho doméstico pelo exercício de uma profissão remunerada vem

crescendo em grande escala. Face à situação econômica brasileira, tornou-se

necessária a participação da mulher no sustento da família ou ainda, o trabalho

da mulher em benefício de seu próprio sustento.

O aumento de mulheres trabalhadoras cujos objetivos se findam na

independência e na realização profissional é uma realidade. Dessa forma, tem-se

uma gama de trabalhadoras que dependem de amparo legal nas diversas

situações que poderão envolvê-las, como jornada de trabalho, aposentadoria,

repouso obrigatório e maternidade.

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2.1 DA PROTEÇÃO À MATERNIDADE

As medidas legais concernentes à proteção à maternidade têm um

caráter social, uma vez que, ao proteger a maternidade está-se preservando a

mãe e mulher trabalhadora, estimulando e mantendo a mulher empregada. Dessa

forma, conservam-se as forças vitais da mulher (necessárias ao perfeito exercício

profissional) e permite que ela cumpra normalmente com as funções maternas.

A convenção nº 3 de 1919 da OIT estabelece quais aspectos devem

ser protegidos pela lei:

I- Licença antes e depois do parto, mediante atestado médico que comprove a gravidez; II- A garantia do emprego consubstanciada na impossibilidade de demissão concomitantemente com o afastamento para dar à luz e na ineficácia de aviso prévio durante esse período; III- Assistência à maternidade, consistente no auxílio econômico destinado a cobrir o acréscimo de despesas supervenientes, pago pelo Estado ou pelas instituições previdenciárias; além de assistência gratuita de médico; IV- Facilidades durante a amamentação do filho, com direito a dois repousos específicos diários, de meia hora cada um.

No capítulo III do Título III da Consolidação das Leis Trabalhistas

(CLT) há uma seção com 10 artigos que contém a seguinte descrição: “Das

normas especiais de tutela do trabalho”. Não configuram motivo para rescisão

contratual ou restrições ao direito da mulher ao emprego, casar ou engravidar,

conforme artigo 391. Se isso acontecer, são aplicadas multas pela autoridade do

Ministério do Trabalho.

Nesta mesma esteira a Constituição Federal de 1988 em seu art.

7º, XVIII, protege a gestante contra demissão arbitrária ou sem justa causa e dá a

ela o direito essencial à mulher grávida que trabalha: o direito à licença

maternidade, com duração de 120 (cento e vinte) dias, sem prejuízo de emprego

ou de salário.

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É importante ressaltar que a lei constitucional mencionada não cria

estabilidade no emprego. Assim, faz-se necessária a utilização do art. 10 do Ato

das Disposições Transitórias (ADCT) que estabelece alguns preceitos protegendo

a relação de emprego contra demissões arbitrárias e injustas, abrangendo a

hipótese da empregada gestante, determinando a seu favor a estabilidade

provisória que faltava no art. 7º da Constituição Federal.

A estabilidade provisória prolonga-se da confirmação da gravidez

(que compete à empregada junto ao empregador) até cinco meses após o parto,

o que permite a proteção do emprego e dos salários até mesmo no prazo de doze

a treze meses, uma vez provada a gravidez de imediato. Se ocorrer demissão

sem justa causa ou arbitrária durante esse período, a gestante terá direito à

reintegração ou ao pagamento dos salários relativos ao prazo legal que lhe é

garantido.

Os direitos guarnecidos à empregada gestante encontram-se

previamente determinados na CLT, tais como:

2.1.1 AUXÍLIO-MATERNIDADE

Esta garantia, como muitas outras, é Originária da Convenção n. 3

da Organização Internacional do Trabalho (OIT), mas encontra-se expressamente

no art. 7º, inciso XVIII da constituição federal, sendo assegurado à gestante pelo

INSS, no Brasil, devido a sua natureza previdenciária, regulamentado pela Lei n.º

8.213/91 e pelos Decretos n.º 611/92 e n.º 2.172/97.

O auxílio maternidade é a licença de 120 (cento e vinte) dias

concedido à empregada gestante, ou seja, a mulher não trabalha e não perde o

emprego e ainda, recebe os salários devidos durante esse período (se ela for

demitida durante esse período, o empregador sofrerá sanção pecuniária e a

mulher receberá tudo o que lhe for devido).

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Cabe à gestante comprovar a gravidez mediante atestado médico

oficial ou particular e, se o médico considerar necessário aumentar o período de

descanso, este poderá ser acrescido em mais de duas semanas (art. 392, §2º

CLT).

Ainda sobre essa questão do auxílio maternidade, no §3º do mesmo

artigo da CLT, encontramos que até mesmo o parto prematuro recebe proteção

legal, uma vez que a mulher não perde o direito à licença maternidade, o que

permite constatar mais uma vez, o caráter social dessa proteção.

A Lei 11.770, de 9 de setembro de 2008, instituiu a prorrogação da

duração da licença maternidade por mais 60 dias, que também será garantida, na

mesma proporção, à empregada que adotar ou obtiver guarda judicial para fins de

adoção de criança.

No inciso 1º do Art. 392 da CLT, a legislação estabelece que seja

certificado o início do afastamento através de atestado médico e que o início de

tal período poderá ocorrer entre o 28º dia antes do parto e a ocorrência deste.

No inciso 2º do mesmo Artigo, a Lei permite a prorrogação

tanto do período anterior ao parto quanto do período posterior, desde que atenda

ao limite máximo de duas semanas.

Em caso de antecipação do parto, o prazo de licença continua

sendo de 120 dias(180 dias no caso da prorrogação), e contará a partir do dia em

que ela tenha “entrado em trabalho de parto”. Isso está previsto no Art.392, inciso

3º.

2.1.2 PAGAMENTO ANTECIPADO DO AUXÍLIO-MATERNIDADE

Ocorrida à demissão antes do período de repouso, ou antes da

ciência da gravidez pelo empregador, isso não exime o mesmo do pagamento do

auxílio. O Enunciado 142 do TST assim prevê: “Empregada gestante, dispensada

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sem motivo antes do período de seis semanas anteriores ao parto, tem direito à

percepção do salário maternidade”.

Através da Resolução 185 do Tribunal Superior do Trabalho, o item

III, da Súmula 244 do Tribunal Superior do Trabalho passou a ter, recentemente,

uma nova redação, assegurando o direito da empregada gestante à estabilidade

provisória na hipótese de admissão mediante contrato de experiência ou por

prazo determinado. Esta foi uma grande vitória das trabalhadoras gestantes do

Brasil, que por muitos anos ficaram tolhidas deste direito.

O entendimento veiculado no Enunciado nº 244, item III, do Tribunal

Superior do Trabalho encontrava-se superado pela atual jurisprudência do

Supremo Tribunal Federal, no sentido de que as empregadas gestantes, inclusive

as contratadas a título precário, por prazo determinado ou contrato de

experiência, independentemente do regime de trabalho, têm direito à licença

maternidade de 120 dias e à estabilidade provisória desde a confirmação da

gravidez até cinco meses após o parto. Este foi o principal motivo do Colendo

TST amoldar o item III do Enunciado 244 a jurisprudência predominante do STF,

que veio com a publicação da Resolução 185 no dia 26.09.2012.

Com o advento da Lei nº 11.324/2006, tivemos outra grande

conquista: a empregada doméstica gestante passou a ter estabilidade no

emprego desde a confirmação da gravidez até 5 (cinco) meses após o parto,

conforme prescreve o artigo 4º-a da Lei nº 5.859/72. Em caso de demissão ela

fará jus ao pagamento do salário até o 5º mês após o parto, inclusive os reflexos

nas férias e 13º salário.

Através da Resolução 185 do Tribunal Superior do Trabalho, o item

III, da Súmula 244 do Tribunal Superior do Trabalho passou a ter uma nova

redação assegurando o direito da empregada gestante à estabilidade provisória

na hipótese de admissão mediante contrato de experiência ou por prazo

determinado.

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Súmula nº 244 do TST - GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA.

I – O desconhecimento do estado gravídico pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade (art. 10, II, “b” do ADCT).

II – A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade.

III – A empregada gestante tem direito à estabilidade provisória prevista no art. 10, inciso II, alínea “b”, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, mesmo na hipótese de admissão mediante contrato por tempo determinado. (Redação alterada pela Resolução n° 185 do Tribunal Superior do Trabalho realizada em 14.09.2012 – DJU – 26.09.2012)

2.1.3 ALTERAÇÃO OU EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

POR INICIATIVA DA GESTANTE

O art. 394 da CLT faculta à mulher a rescisão contratual. Se

constatar que o exercício profissional prejudica a gestação, ela poderá pedir

demissão. Nesse caso, a gestante não precisa conceder aviso prévio ou pagar

indenização, quando o contrato tiver prazo determinado, mas não terá o direito à

indenização por antiguidade, ressalvados os direitos decorrentes do FGTS (sem o

acréscimo de 40%), nem o auxílio maternidade, se a rescisão ocorrer antes do

início do prazo de descanso.

Em casos excepcionais, a mulher grávida pode exigir do

empregador a alteração de suas funções, se for necessário. O §4º do art. 392 da

CLT dá os seguintes direitos: transferência de função, sem prejuízo salarial,

assegurando-lhe o retorno ao mesmo cargo e a dispensa do trabalho para

realização de, no mínimo, seis consultas médicas e exames complementares,

também sem prejuízo salarial.

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2.1.4 AMAMENTAÇÃO

Até que a criança complete seis meses, a mãe terá o direito a dois

descansos especiais de meia hora cada um durante a jornada de trabalho,

podendo ser prorrogado em caráter especial (art. 396, CLT).

Esses intervalos são considerados tempo de serviço, assim também

não pode ocorrer redução salarial. Já o art. 400 da CLT estabelece que empresas

com pelo menos 30 mulheres com mais de dezesseis anos de idade devem

manter locais adequados para acomodar seus filhos durante o período de

amamentação.

2.1.5 CRECHES

Algumas empresas mantêm creches ou escolas maternais, no

entanto essa é uma faculdade da empresa ou mediante realização de convênios

celebrados entre empresa e SESC, SESI, sindicatos e outras entidades

destinadas à assistência da infância.

2.2 - PROTEÇÃO AO SALÁRIO

Não se justifica diferença de salário entre o homem e a mulher. A

Constituição traz a mesma ideia no inciso XXX do art. 7º.

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O art. 5º da CLT também veda a distinção de salário por motivo de

sexo. Esclarece, ainda, o art. 377 da CLT que “a adoção de medidas de proteção

ao trabalho das mulheres é considerada de ordem pública, não justificando, em

hipótese alguma, a redução do salário”. Excetuando-se, por óbvio, as questões

pertinentes à equiparação salarial, as quais serão reguladas pelo art. 461 da CLT.

2.3 - PROTEÇÃO AOS PERÍODOS DE DESCANSO

Os períodos de descanso quanto ao homem e à mulher são

aproximadamente iguais: entre duas jornadas de trabalho, deve haver um

intervalo de 11 horas, no mínimo, destinado ao repouso.

Em caso de prorrogação do trabalho da mulher, será obrigatório um

intervalo de 15 minutos, antes do período extraordinário de trabalho.

A mulher também tem direito ao descanso semanal remunerado, de

24 horas, de preferência aos domingos, salvo por motivo de conveniência pública

ou necessidade imperiosa de serviço, quanto poderá recair em outro dia. A única

exceção à regra quanto ao trabalho do homem é que a mulher que trabalhar aos

domingos terá uma escala de revezamento quinzenal para que de 15 em 15 dias

o repouso seja aos domingos (art. 386, CLT).

Terá a mulher um descanso para refeição, que não poderá ser

inferior a uma hora nem superior a duas horas, excetuando a hipótese de

redução do limite mínimo de uma hora de repouso por ato do Ministro do

Trabalho, quando se verificar que o estabelecimento atende integralmente às

exigências concernentes à organização dos refeitórios e quando os respectivos

empregados não estiverem sob regime de trabalho prorrogado em horas

suplementares. Trabalhando a mulher mais de quatro horas e menos de seis

horas, terá um intervalo de 15 minutos.

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2.4 - PROTEÇÃO CONTRA OS TRABALHOS PROIBIDOS

Ao empregador será vedado empregar a mulher em serviço que

demande o emprego de força muscular superior a 20 kg para o trabalho contínuo,

ou de 25 kg para o trabalho ocasional. Entretanto, se esse trabalho for feito por

impulsão ou tração de vagonetes sobre trilhos, de carros de mão ou quaisquer

aparelhos mecânicos, haverá permissão legal.

A Convenção nº 136 da Organização Internacional do Trabalho, de

1971, ratificada pelo Brasil, trata da proteção contra os riscos de intoxicação

provocados por benzeno, proibindo o trabalho das mulheres grávidas e em

estado de amamentação em locais em que haja exposição ao benzeno.

2.5 - PROTEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHO

O Art. 389 da CLT determina as condições básicas para prestação

do serviço nas mínimas condições exigidas para as mulheres.

A existência de um local de trabalho em condições mínimas de

existência com higiene, limpeza, iluminação, recursos de proteção individual e

estrutura física adequada é condição sine qua non para o efetivo exercício da

prestação laboral, independente do gênero da pessoa.

Na realidade, as obrigações mencionadas neste artigo

deveriam ser extensivas não apenas às mulheres, mas também aos homens,

tendo em vista tratar-se de princípios basilares em prol da dignidade humana do

trabalhador.

2.6 A PROIBIÇÃO DE PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIAS

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É proibida a exigência de atestado de gravidez ou de atestado

de esterilização para fins de contratação, bem como qualquer prática

discriminatória que se utilize deste argumento para não contratar, não promover,

dispensar do trabalho, remunerar e oferecer oportunidades de ascensão

profissional de forma diferenciada e/ou impedir o acesso para inscrição ou

aprovação em concursos. É proibido também proceder o empregador ou preposto

a revistas íntimas nas empregadas ou funcionárias. Tais proibições estão

explicitadas no Art. 373-A da CLT.

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CAPÍTULO III

CRÍTICAS AS LEIS PROTETIVAS EXISTENTES E AS NOVAS PROPOSTAS LEGAIS.

O aumento da participação da mulher no mercado de trabalho

brasileiro, nos últimos anos, se dá, principalmente, por tais fatores: o aumento a

da escolaridade feminina, a redução do número de filhos nas famílias e as

mudanças nos padrões culturais, que estimulam as mulheres a trabalhar. Mas

apesar de ser maioria da população e ter mais tempo de estudo, as brasileiras

ainda são minorias no mercado de trabalho e ganham, em média, menos que os

homens, de acordo com o IBGE.

Mais de 10 milhões de mulheres desenvolvem algum tipo de

atividade remunerada no Brasil, de acordo com dados do IBGE. No Distrito

Federal, segundo o Dieese, elas já são cerca de 590 mil, quase a metade de toda

a força de trabalho. A participação feminina no mercado cresceu 11% nos últimos

10 anos, fruto do avanço cultural iniciado na década de 70, quando as mulheres

começaram a buscar independência financeira e realização profissional. A

legislação brasileira também acompanhou essa mudança. A Consolidação das

Leis Trabalhistas (CLT), apesar de ser de 1943, destina um capítulo com 27

artigos em vigor, destinados à proteção do trabalho da mulher.

Nas grandes empresas a desigualdade é reveladora. Menos de 14%

dos cargos de diretoria das 500 maiores empresas do Brasil são ocupadas pelo

sexo feminino. Também demoram mais para serem promovidas. Além disso,

ainda de acordo com o IBGE, a participação das mulheres chega a 45,1% nas

microempresas, contra uma média de 31,8% nas médias e grandes.

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A desigualdade é uma realidade no mercado de trabalho, embora já

se tenha evoluído muito na busca por equiparação entre homens e mulheres.

Mas como a sociedade e os operadores do Direito tem enxergado essa situação

e quais são as propostas de mudança?

Os direitos assegurados na lei ordinária (CLT e outros textos

correlatos) não são regras estanques e bastantes a garantir as necessidades da

mulher no contexto das relações de trabalho. Segundo alguns magistrados, a

garantia maior está nos direitos fundamentais previstos na Constituição Federal.

Na medida em que o artigo 5º, inciso I, da Constituição Federal,

estabelece que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações nos

termos desta Constituição”, Princípio da Isonomia derivado do super princípio da

Dignidade da Pessoa Humana (artigo 1, inciso III da CF), as decisões devem se

pautar na concretização das normas do direito constitucional.

As questões de gênero, ainda muito debatidas nos tribunais, em

especial na Justiça do Trabalho, já estão se pautando por esta visão

constitucionalista, para além das normas engessantes da lei ordinária. A questão

de gênero vai muito além das questões trabalhistas. É uma concepção cultural.

Na opinião de especialistas em Direito do Trabalho, o legislador

considerou necessário dar tratamento diferenciado às mulheres em alguns

aspectos. A maioria desses dispositivos da CLT, no entanto, também se aplica ao

homem, em especial aquele que merece proteção diferenciada.

Os direitos específicos da mulher são aqueles inerentes à

maternidade e ao peso máximo no exercício de suas atribuições, considerando

que sua capacidade física difere do homem.

A justificativa da criação dessas normas específicas para a mulher

seda pelo contexto protecionismo que permeou o texto celetista. Esse foi um

reflexo das leis que surgiram na Europa na época da Revolução Industrial quando

havia muita contratação e exploração da mão de obra feminina , que acabou por

inspirar o legislador brasileiro a produzir normas semelhantes, a fim de evitar que

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os mesmos abusos acontecessem em nosso País. A primeira Constituição do

Brasil a ter essa previsão foi a de 1934 e, em seguida, veio a CLT, em 1943.

3.1 PROPOSTAS DE MUDANÇA

Certos direitos já são bem conhecidos pela maioria da população,

como o da licença-maternidade, conforme mencionado no Capítulo anterior. Hoje,

esse benefício é de quatro meses (120 dias) para empregadas do setor privado,

tanto para mães biológicas quanto para adotivas. O período de seis meses (180

dias), por enquanto, só é válido para as servidoras de órgãos públicos.

Alguns empregadores têm adotado o prazo de seis meses

motivados pelo incentivo do Programa Empresa Cidadã, que permite a dedução

dos salários desses dois meses adicionais no imposto de renda. É um estímulo,

segundo avaliação de magistrados e outros operadores legais.

O período da gestação garante estabilidade no emprego, além de

pagamento de salário integral e demais vantagens financeiras adquiridas. A

gestante também pode optar pela mudança de função, quando as condições de

saúde assim exigirem.

É possível ainda solicitar dispensa do horário de trabalho pelo tempo

necessário para realização de, no mínimo, seis consultas médicas e exames

complementares no decorrer da gravidez.

Em caso de aborto espontâneo, o empregador deverá liberar a

empregada por duas semanas de repouso remunerado. Além disso, após o

retorno do período de licença-maternidade, a mulher terá o direito a dois

descansos de meia hora cada um durante a jornada de trabalho, para que possa

amamentar o próprio filho até que ele complete seis meses de idade.

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Porém, por conta dessa quantidade de benefícios, o que fatalmente

vem ocorrendo é a demissão de mulher grávida, embora seja esta uma prática

ilegal.

O que se observa em relação aos direitos derivados da

maternidade, no Brasil, é uma realidade absolutamente diversa dos países

europeus, e em uma tentativa de diminuir as diferenças, juízes e advogados

trabalhistas sugerem algumas soluções. A melhor proposta não é aumentar os

benefícios para as mulheres, e sim dividir a responsabilidade entre pai e mãe.

Fatalmente incorreríamos na tal Proteção como fator descriminalizante.

A melhor solução seria uma licença maternidade nos primeiros

meses para as mães e a paternidade pelo mesmo período para os pais. Assim,

haveria uma verdadeira divisão de tarefas, incentivando a mudança cultural e

acabando com a discriminação da mulher no trabalho.

A licença não é em prol da mãe, e sim da criança. Um ótimo

exemplo é a legislação da Suécia, onde a licença paternidade permite que o pai

fique em casa por um período de até 13 meses para cuidar do filho.

Outra previsão legal bastante polêmica diz respeito ao artigo 384 da

CLT, que prevê a obrigatoriedade de um descanso de 15 minutos, no mínimo,

antes do início da jornada extra de trabalho da mulher.

Atualmente, embora homens e mulheres sejam iguais em direitos e

obrigações, o dispositivo da CLT se aplica porque nós temos diferenças

fisiológicas, merecendo, portanto, a mulher um tratamento diferenciado quando o

trabalho lhe exige um desgaste físico maior. Esse é o entendimento do Tribunal

Superior do Trabalho (TST), que vem sendo seguido pela Justiça do Trabalho de

algumas Regiões como, por exemplo, a 10ª.

Com relação aos salários, elas obtêm renda anual média de R$

1.097,93, enquanto os homens atingem R$ 1.518,31, segundo dados da

Pesquisa Mensal de Emprego (PME) do IBGE. A diferença ocorre mesmo quando

a mulher tem 11 ou mais anos de estudo.

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A Pesquisa de Emprego e Desemprego do Dieese sobre a inserção

da mulher no mercado de trabalho do Distrito Federal aponta ainda que a

proporção do rendimento recebido por mulheres em relação ao dos homens

diminuiu de 78,1%, em 2011, para 77,4%, em 2012. É para corrigir algumas

dessas distorções que a CLT adota certos parâmetros:

I- proíbição do critério determinante para fins de cálculo da remuneração ser o

sexo, possibilidade de formação profissional e oportunidades de ascensão na

carreira;

II- Não permitir que o empregador negue emprego ou promoção a um

empregado, muito menos o demita em razão de ser homem ou mulher;

III- Proibir a publicação de anúncio de emprego com preferência por determinado

sexo, bem como exigir atestado ou exame para comprovar esterilidade ou

gravidez, durante admissão ou permanência no emprego.

Como consequência prática, a vítima de preconceito de gênero no

trabalho pode ajuizar uma reclamação da Justiça. Todavia, a mulher encontra

dificuldades para comprovar a prática discriminatória.

A pessoa tem que provar que tinha as mesmas condições que outro

profissional para obter a promoção, por exemplo, ou que a empresa repete a

prática de contratar ou promover homens. Essa comprovação tem que ser

respaldada por depoimentos de testemunhas, o que nem sempre se consegue.

No direito, entretanto, os entendimentos são muitas vezes diversos.

O juiz, quando se depara com uma ação de assédio moral, por exemplo, deve

avaliar que nem sempre o ônus da prova recai sobre o empregado que o alega.

Em verificando indícios de prova e avaliando as circunstâncias do

caso concreto, pode-se inverter o ônus da prova conforme prevê o Código do

Consumidor (artigo 6º). Isto porque o assediador não comete a conduta

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merecedora de repreensão em público, especialmente dentro do ambiente de

trabalho. Esta é sempre praticada de forma a não deixar testemunhas. Aplicar a

regra engessada do Código de Processo Civil (artigo 333) seria um contrassenso

em face dos direitos fundamentais já mencionados.

3.2 CRÍTICAS À APLICAÇÃO DAS LEIS JÁ EXISTENTES E AS

NOVAS PROPOSTAS LEGAIS

Uma grande critica feita, em meio a muitas outras, por advogados

trabalhistas é o fato de os magistrados, ao julgarem as reclamações trabalhistas,

pautarem-se apenas pela CLT. Essa legislação foi concebida para a mulher de

1943. Havia, portanto, um contexto completamente diferente do que se tem hoje.

A busca por uma evoluir, não é, necessariamente, a busca de

mudança na lei ordinária. A Lei Maior já trata disso, que é a Constituição. As

decisões de muitos tribunais já estão pautadas pelo princípio constitucional.

Menos que ampliar a legislação, fazer valer o que está

estabelecido, é o posicionamento adotado por muitos. A mulher, segundo estes

especialistas e militantes, já tem a igualdade garantida constitucionalmente.

Trata-se também de um problema cultural. Trabalhar essa questão na origem,

desmistificar o poderio do homem e diluí-lo. Seria necessário ampliar a

divulgação das leis existentes, pois muitas vezes, as mulheres não têm a

consciência dos seus direitos.

Contudo, algumas propostas de mudança na legislação já tramitam

no Congresso Nacional. Um exemplo é a Proposta de Emenda à Constituição

(PEC 30/07), em tramitação na Câmara dos Deputados, que prevê a ampliação

da licença-maternidade de 120 para 180 dias a todas as mulheres gestantes ou

adotantes.

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O texto que está para ser votado pelo Plenário é o parecer da

comissão especial, no qual há previsão também de proibir a demissão sem justa

causa da trabalhadora durante os sete meses após o parto ou adoção.

Outro é o Projeto de Lei 4857/09, também em discussão na

Câmara, que garante a igualdade entre homens e mulheres no mercado de

trabalho. A matéria entrou em pauta no ano passado, mas não foi a voto por falta

de acordo entre os partidos.

Havia divergências sobre três pontos: a criação de comitês pró-

igualdade entre os sexos no ambiente de trabalho; o acesso dessas comissões a

informações das empresas; e a criação de um cadastro de empresas que

discriminam mulheres.

O Dia Internacional da Mulher, celebrado em 8 de março, é fruto de

uma história de luta por melhores condições de trabalho e vida das mulheres na

sociedade. A origem da data está na virada do século 20, no contexto da

Segunda Revolução Industrial e da Primeira Guerra Mundial, quando ocorre a

incorporação da mão de obra feminina, em massa, na indústria.

As condições de trabalho, frequentemente insalubres e perigosas,

eram motivo de frequentes protestos por parte das trabalhadoras. Muitas

manifestações ocorreram nos anos seguintes, em várias partes do mundo. Em

1975, foi designado pela ONU como o Ano Internacional da Mulher e, em

dezembro de 1977, o Dia Internacional da Mulher foi adotado pelas Nações

Unidas, para lembrar as conquistas sociais, políticas e econômicas das mulheres.

Hoje, todas essas questões de desigualdades e suas consequências

têm sido discutidas por muitos, sejam especialistas, seja a mais interessada: a

sociedade. Que a mulher é indispensável ao mercado de trabalho não há

dúvidas, e o que se pretende com as referências de lutas por antepassados é

construção do futuro mais igualitário, sem apelar para os ideais utópicos.

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CONCLUSÃO

Os princípios de maior relevância para uma sociedade, que respeita

e conserva ideais de uma democracia tem em sua Constituição Federal o

instrumento apto a resguarda-los.

Com isso, nossa Carta Magna de 1988, assombrada pelo fantasma

da repressão, foi elaborada baseando-se em uma premissa de abarcar o máximo

de garantias ao seu povo tão diversificado. Adotou-se então, o Princípio da

Igualdade de direitos, de aptidões, uma igualdades de possibilidades virtuais,

onde todos tem tratamento semelhante perante a lei.

Foi uma época também de fortes questionamentos a respeito do

papel da mulher na sociedade, sendo elas vítimas de duras críticas inclusive

quanto à sua moral e ao valor do seu trabalho dentro e fora de casa.

O efeito de uma legislação protetiva gerou um efeito diverso do

esperado: houve uma retração do fluxo de vagas disponibilizadas às mulheres

quando houve um excesso de tutela com o advento das leis trabalhistas e

consequentemente, a redução da demanda do trabalho feminino no mercado,

gerando mais uma vez, a discriminação com a desigualdade de tratamento e

oportunidades oferecidas.

Notou-se inclusive, que muitas das lutas guarnecidas pelas

mulheres ofereceram subsídios que resultaram em leis trabalhistas que

propiciaram a melhoria das condições de toda uma classe operária. E para tal, a

atuação do Estado foi e é imprescindível, à medida que pode viabilizar as ações

afirmativas bem como pode criar formas de efetivá-las, buscando a erradicação

da discriminação e criando oportunidades de trabalho para ambos os sexos.

Os direitos trabalhistas das mulheres foram resultado de muita

opressão, lutas e muitas vezes conquistas que foram obtidas em trocas de vidas.

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Mas essa também representa a esperança na mudança de paradigmas, aonde a

sociedade não vá mais ser dominada em função do gênero.

Para que isso aconteça, é necessário que haja uma transformação

de valores, onde as mulheres poderão ser libertadas de um estereótipo que se

perfaz por anos a fio, de um modelo submisso, frágil, e representativo do pecado

original, que foi impregnado inclusive pela própria Igreja nos tempos antigos.

A história parece se repetir em muitas vezes, e a conclusão que se

extrai dos fatos que nos cercam é que a resposta a essa real inserção da mulher

no mercado de trabalho não será estabelecida com mais normas protetivas.

Ao contrário do que muitos defendem, a postura de por a mulher em

uma posição de total estado de defesa faz com que o empregador veja nela uma

mão de obra excessivamente onerosa, deixando-a em situação de desvantagem

em relação ao homem.

Uma política de incentivo e conscientização talvez não seja o

caminho mais rápido na busca desse equilíbrio, mas certamente é o mais eficaz.

Disputar uma vaga pela sua competência é vantagem para todos os envolvidos

na relação trabalhista.

De certo que algumas diferenças biológicas hão de sempre existir,

entretanto, tais diferenças não podem servir de arcabouço teórico para a

estagnação de conceitos culturais e a impregnação do preconceito na sua forma

mais vil, que é o de atrelar tais diferenças biológicas e emocionais à sua

incapacidade de desenvolver trabalhos, quaisquer que sejam e de evoluir com os

mesmos

Todas as coisas convergem em um único pensamento: o ciclo da

vida começa na mulher, e é com ela que a sociedade vai se desenvolver. No dia

em que a humanidade parar pra refletir sobre isso e o Estado propiciar não

apenas leis que as amparem, mas mecanismos de controle e punição dos que as

descumprem, fazendo cumprir-se a justiça verdadeiramente, o mundo do trabalho

será melhor para ambos os gêneros.

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ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO ....................................................................................................... 02

AGRADECIMENTO ....................................................................................................... 03

DEDICATÓRIA .............................................................................................................. 04

RESUMO ....................................................................................................................... 05

METODOLOGIA............................................................................................................ 06

SUMÁRIO ...................................................................................................................... 07

INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 09

CAPÍTULO I ....................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1

EVOLUÇÃO HISTÓRICA DA LUTA FEMININA PARA INCERSÃO NO MERCADO

DETRABALHO ................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1

1.1 – EVOLUÇÃO HISTÓRICA NO BRASIL ............................................................... 17

1.2 – OS PRIMEIROS REFLEXOS SOCIAIS GERADOS PELA INCERSÃO DE MÃO

DE OBRA FEMININA NO MERCADO DE TRABALHO ............................................... 20

CAPÍTULO II ................................................................................................................. 25

A PROTEÇÃO DO MERCADO DE TRABALHO DA MULHER E SEUS

REFLEXOS LEGAIS ..................................................................................................... 25

2.1 – DA PROTEÇÃO À MATERNIDADE ..................................................................... 27

2.1.1 – AUXÍLIO-MATERNIDADE ...................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.8

2.1.2 – PAGAMENTO ANTECIPADO DO AUXILIO-MATERNIDADE ................. ERRO!

INDICADOR NÃO DEFINIDO.9

2.1.3 – ALTERAÇÃO OU EXTINÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO POR

INICIATIVA DA GESTANTE .............................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1

2.1.4 – AMAMENTAÇÃO ................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.2

2.1.5 – CRECHES .............................................. ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.2

2.2 – PROTEÇÃO AO SALÁRIO ....................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.2

2.3 – PROTEÇÃO AOS PERÍODOS DE DESCANSOERRO! INDICADOR NÃO

DEFINIDO.3

2.4 – PROTEÇÃO CONTRA OS TRABALHOS PROIBIDOSERRO! INDICADOR NÃO

DEFINIDO.4

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2.5 – PROTEÇÃO DAS CONDIÇÕES DE TRABALHOERRO! INDICADOR NÃO

DEFINIDO.4

2.6 – A PROIBIÇÃO DE PRÁTICAS DISCRIMINATÓRIASERRO! INDICADOR NÃO

DEFINIDO.4

CAPÍTULO III ..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.6

CRÍTICAS AS LEIS PROTETIVAS EXISTENTES E AS NOVAS PROPOSTAS LEGAIS

........................................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.6

3.1 – PROPOSTAS DE MUDANÇA ................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.8

3.2 – CRÍTICAS À APLICAÇÃO DAS LEIS JÁ EXISTENTES E AS NOVAS

PROPOSTAS LEGAIS ....................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.1

CONCLUSÃO..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.3

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ........................ ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.5

BIBLIOGRAFIA CITADA .................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.7

WEBGRAFIA ...................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.8

ÍNDICE .......................................................................................................................... 49