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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES INSTITUTO A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU O ENSINO DA MÚSICA COM INSTRUMENTOS DE ORQUESTRA PARA CRIANÇAS E JOVENS COMO FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL Autor Keeyth Annie Vieira Vianna Professor Orientador Prof. Mary Sue Pereira Rio de Janeiro 2012 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O ENSINO DA MÚSICA COM INSTRUMENTOS DE

ORQUESTRA PARA CRIANÇAS E JOVENS COMO

FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL

Autor

Keeyth Annie Vieira Vianna

Professor Orientador

Prof. Mary Sue Pereira

Rio de Janeiro

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

O ENSINO DA MÚSICA COM INSTRUMENTOS DE ORQUESTRA

PARA CRIANÇAS E JOVENS COMO FERRAMENTA DE

INTEGRAÇÃO SOCIAL

Autor

Keeyth Annie Vieira Vianna

Monografia apresentada ao Instituto A Vez

do Mestre como requisito parcial para a

obtenção do título de especialista em Arte

em Educação e Saúde.

Orientador: Prof. Mary Sue Pereira.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os que me

auxiliaram na construção desse

trabalho, de modo especial aos

meus pais, pelo apoio, ao meu

irmão Charles, por sua

dedicação, meu marido

Francisco, pelo incentivo, e a

Deus pela sabedoria.

4

DEDICATÓRIA

Aos educandos e educandas, às

educadoras e educadores da ONG

Orquestrando a Vida, minha

profunda admiração.

5

EPÍGRAFE

“Ensinar exige compreender que

a educação é uma forma de

intervenção no mundo’’.

Paulo Freire

6

RESUMO

O presente trabalho monográfico tem como objetivo principal a Integração

Social através da Música. Verifica-se, também, a importância da música e os

benefícios do estudo de um instrumento musical e sua influência positiva em

crianças com dificuldades cognitivas de aprendizagem, ligadas à concentração

e a memorização, objetivando uma melhoria em sua performance cognitiva e

equilibrando suas emoções. De forma particular a mesma deu ênfase

exclusivamente ao ensino da música com instrumentos de Orquestra para

crianças e jovens como ferramenta de integração social. Para tanto, foi

necessário verificar o bem-sucedido modelo de ensino Venezuelano conhecido

mundialmente como “El Sistema”. O mesmo, destaca-se por sua metodologia

inovadora no ensino coletivo da música com instrumentos sinfônicos e por

fazer disso uma grande ferramenta de integração social. O Sistema

Venezuelano é muito associado às favelas, realidade muito parecida com a

nossa. No Brasil, como em todo mundo, crescem iniciativas sociais por meio

do ensino da música com instrumentos sinfônicos para crianças e jovens. De

um modo geral, pretendeu-se analisar o perfil dos gestores, professores e

monitores dos projetos sociais no Brasil. Mapear esses projetos sociais que

fazem uso do ensino da música com instrumentos de Orquestra e averiguar na

ONG Orquestrando a Vida, primeiro núcleo do “El Sistema” no Brasil, qual o

reflexo do ensino da música na vida dos jovens e na sociedade em que vivem.

Chegando-se à conclusão de que através do ensino da música, espera-se

formar cidadãos e instrumentistas, capazes de fazer da música um agente de

promoção social e de enriquecimento cultural, impactando as dimensões da

identidade, do saber e do fazer profissional dos alunos dos projetos sociais em

todo Brasil.

7

METODOLOGIA

Esse trabalho teve como enfoque a pesquisa sobre o ensino da música

com instrumentos de orquestra para crianças e jovens como ferramenta de

integração social.

Foram buscados para levantamento bibliográfico livros, artigos, revistas

e sites com intuito de proporcionar maior fundamentação teórica a um assunto

tão importante e atual.

O nome dos principais autores e teóricos que foram utilizados para a

realização deste trabalho foram Freire (1996) e Fischer (2012).

O “El Sistema”, projeto inovador no ensino de música com instrumentos

de orquestra, teve grande importância na formação desse trabalho.

A presente pesquisa contou com apoio incondicional da ONG

Orquestrando a Vida. A elaboração deste projeto visou averiguar na instituição,

qual o reflexo do ensino da música com instrumentos de orquestra na vida dos

jovens e na sociedade em que vivem.

8

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A importância da música 11

CAPÍTULO II - Música como ferramenta de integração social 16

CAPÍTULO III - Projetos Sociais no Brasil que fazem uso do ensino 24

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 40

BIBLIOGRAFIA 47

WEBNOGRAFIA 49

ÍNDICE 51

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho possui como foco a Integração Social através da

Música.

A questão central deste trabalho refere-se ao ensino da música com

instrumentos de orquestra para crianças e jovens como ferramenta de

integração social.

O tema sugerido é de extrema relevância pois em todo mundo , crescem

em números e importância as iniciativas de integração social por meio da

música. Muitas delas tomam por base o bem-sucedido modelo Venezuelano

conhecido como El Sistema, que construiu uma nova realidade educacional e

artística naquele país através do ensino de instrumentos de orquestra para

crianças e jovens.

No Brasil, existem dezenas de projetos sociais que privilegiam o ensino

da música e em comum, todos acreditam no poder transformador dessa arte. A

Integração social através da música educa os jovens alunos para além da

técnica musical, forma cidadãos potencialmente mais criativos e críticos. A

música estimula o desenvolvimento cognitivo e psicomotor da fala, da

sensibilidade, do trabalho coletivo e também da ética por permitir a integração

das diferenças. Sendo assim, torna-se possível pensar em transformação

social de pessoas e comunidades, quando existe um campo para exercitar a

criação conjunta e a execução em equipe de linguagens artísticas diversas,

inclusive aquelas mais distantes do cotidiano de comunidades brasileiras,

como é a música de orquestra.

Assim sendo, este estudo foi dividido em três capítulos. No primeiro

capitulo, pretendeu-se destacar a importância da música e os benefícios do

estudo de um instrumento musical. No segundo capítulo, por sua vez,

objetivou-se destacar a música como ferramenta de integração social

destacando o “El Sistema” como modelo de ensino. No terceiro capítulo,

buscou averiguar os projetos sociais no Brasil, que fazem uso do ensino da

música com instrumentos sinfônicos e for fim, verificar na ONG Orquestrando a

Vida, primeiro núcleo do El Sistema no Brasil, que desenvolve um trabalho com

10

crianças e jovens usando o ensino da música com instrumentos de orquestra

como integração social e profissionalizante, como a música tem mudado a

realidade daquelas crianças e comunidade em que vivem.

11

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA

Uma das expressões artísticas mais antigas da humanidade é a música.

Através dela o indivíduo pode se expressar, se comunicar e interagir com o

mundo. Alvarez (2008), afirma que:

Muitos filósofos dedicaram especial atenção à música em seus estudos e a consideraram desde sempre uma parte importante da educação. Platão afirmava que “o ritmo e a harmonia chegam a todas as áreas d’alma e toma posse delas, outorgando graça ao corpo e mente que apenas se encontram em quem tenha sido educado de forma correta.” Aristóteles também promoveu a educação musical integral, pois estava convencido de que “alcançamos uma certa qualidade de personalidade graças a ela”. Confúcio considerava que a música exercia influência tanto pessoal como política: “O homem superior pretende promover a música como meio de aperfeiçoamento da cultura humana. Quando a música prevalecer e conduzir as pessoas para seus ideais e aspirações, contemplaremos o panorama de uma grande nação.” Na Idade Média e no Renascimento, a música era considerada um dos quatro grandes pilares da aprendizagem, junto com a Geometria, a Astronomia e a Aritmética. (ALVAREZ, 2008, p. 67).

Ouvir música pode provocar sensações, emoções, lembranças de

momentos vividos e sentimentos multiformes. Ela é uma arte muito valorizada

e utilizada para auto-expressão e também com o intuito de despertar nos

ouvintes emoções as mais diversas. Existem muitos estudos na área da

musicoterapia que comprovam a eficácia de seu efeito terapêutico na cura de

várias doenças, pois a música interfere na saúde física, mental e emocional do

homem, podendo atuar melhorando o sono, o humor, atenuando a ansiedade

e o stress, que são males muito recorrentes neste conturbado século XXI.

Como a música desperta emoções, pode também contribuir para moldar

o caráter da pessoa, pois, segundo diz Tame (1984):

Quem pode duvidar de que a música afeta nossas emoções? É por certo verdadeiro que só ouvimos música, em primeiro lugar,

12

porque ela nos faz sentir alguma coisa. Mas isto agora é deveras interessante, pois se a música nos proporciona sentimentos, podemos dizer que tais sentimentos – de inspiração moral, alegria, energia, melancolia, violência, sensualidade, calma, devoção e assim por diante – são experiências. E as experiências que temos na vida constituem um fator vitalmente importante no moldar-nos o caráter. (TAME, 1984, p. 158).

Diante do poder da música e da relação que se tem, mesmo que em

alguns casos, indireta com ela, fica clara a sua abrangência em todas as

idades da vida humana, como afirma Gainza (1988): “A música e o som,

enquanto energias estimulam o movimento interno e externo do homem,

impulsionam-no à ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de

diferente qualidade e grau”(p. 22 – 23).

Na vida do ser humano ela é muito importante por ser um elemento que

auxilia no seu bem estar, quando bem utilizada, e age diretamente nas suas

emoções, podendo favorecer o desenvolvimento do seu potencial criativo e

influenciar positivamente na estruturação de sua personalidade, pois como diz

Gainza (1988): “A música movimenta, mobiliza, e por isso contribui para a

transformação e para o desenvolvimento” (p. 36).

A linguagem musical vem sendo apontada, por um número cada vez

maior de especialistas em todo o mundo, como uma das áreas do

conhecimento mais importantes a serem estudadas no desenvolvimento da

criança, pois a aprendizagem musical contribui para o desenvolvimento

cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo e, principalmente, para a construção

de valores pessoais e sociais de crianças, jovens e adultos, melhorando a

agilidade cognitiva, a capacidade de administrar informações em conflito e de

escolher a que melhor se aplica em cada momento da vida.

13

1.1 Os benefícios do estudo de um instrumento musical.

Uma das mais complexas atividades que homem pode fazer é tocar

um instrumento musical, pois explora na sua totalidade seu sistema de

conhecimento, levando a uma interdependência dos aspectos cognitivos,

motores e emocionais, através de uma harmonia entre os sistemas auditivos e

visuais, resultando numa articulação com o controle motor fino. Isso constitui

numa exploração multi-sensorial, uma vez que faz uso de sistemas neurais que

interrelacionam o ouvido, a voz e o cérebro, com implicações para o

desenvolvimento cognitivo.

O estudo de um instrumento musical também pode ser considerado

uma importante ferramenta no auxílio do exercício da concentração, ajudando

o indivíduo a manter sua atenção direcionada, objetivando uma boa execução

de seu próprio instrumento, via utilização de técnica instrumental adequada e

eficiente leitura da partitura, além de oportunizar o prazer de ouvir o bom

resultado com a harmonia conquistada pelos músicos do grupo.

Para a memória, o estudo de um instrumento musical também é um

benefício.

Uma definição muito adequada de memória foi dada por Cardoso, que

escreveu em seu artigo:

A memória é uma faculdade cognitiva extremamente importante porque ela forma a base para a aprendizagem. Se não houvesse uma forma de armazenamento mental de representações do passado, não teríamos uma solução para tirar proveito da experiência. Assim, a memória envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivo e a recuperação de experiências, portanto, está intimamente associada à aprendizagem, que é a habilidade de mudarmos o nosso comportamento através das experiências que foram armazenadas na memória; em outras palavras, a aprendizagem é a aquisição de novos conhecimentos e a memória é a retenção daqueles conhecimentos aprendidos (...) Assim, aprendizagem e memória são o suporte para todo o nosso conhecimento, habilidades e planejamento, fazendo-nos considerar o passado, nos situarmos no presente e prevermos o futuro.

No estudo de um instrumento musical, a memória é treinada de forma

prazerosa e eficaz. Memorizar cada nota que deve ser tocada para que a

música aconteça é um grande feito da memória, segundo Jourdain (1998): “A

14

capacidade de lembrar uma composição inteira, nota por nota, (...) talvez seja

o mais notável feito de memória da experiência humana”(p.222).

Para que se toque um instrumento musical é necessária a

memorização de vários símbolos e de vários sons que caracterizam as notas

musicais. Dependendo da complexidade do instrumento, o exercício da

memória pode variar de intensidade.

Se o instrumento for o piano, por exemplo, é necessário ler a partitura,

com toda sua simbologia e riqueza de detalhes. Isto envolve as notas musicais

escritas na pauta, as figuras que indicam a duração de cada nota, a

localização destas mesmas notas no instrumento e os dedos que devem ser

usados para tocar cada uma das notas escritas.

Existe também a dinâmica indicada que consiste em tocar mais suave

ou mais forte, variando a intensidade das notas de acordo com o trecho da

música marcada pelo compositor. Com toda esta riqueza de detalhes, pode-se

concluir que executar um instrumento musical exige a utilização e integração

de diversos tipos de funções e memórias, sendo que cada uma dessas

funções requer ativações de várias partes do cérebro.

Outro importante aspecto que envolve o estudo de um instrumento

musical é a interação que o músico precisa desenvolver com o mundo que o

cerca, seja com os outros músicos que estão tocando com ele ou com o

público que está assistindo seu concerto ou apresentação informal.

De nada adianta um músico dominar todas as técnicas de seu

instrumento, tocando maravilhosamente, se não consegue interagir com as

pessoas que o cercam, segundo Gohn (2003).

Quando o músico participa de uma orquestra ou algum grupo musical,

fazendo o que se chama música de câmera, que consiste na prática musical

em conjunto, vários aspectos que estão envolvidos relacionam-se ao

desenvolvimento do sentido de organização e disciplina, pois quando se toca

em grupo, é necessário, além de cuidar para que a execução do próprio

instrumento seja boa, ouvir a si mesmo e aos outros, esperando a sua vez de

tocar, pois, segundo Gardner (1994): “A música pode servir como um meio

para capturar sentimentos, conhecimento sobre sentimentos ou conhecimento

15

sobre as formas de sentimento, comunicando-os do intérprete ou do criador

para o ouvido atento” (p.97).

Acredita-se que a mente humana é influenciada pela música e

emoções são provocadas inegavelmente pelos sons musicais, tanto pela

música cantada como a tocada. E se emoções são provocadas pela música, o

estudo de um instrumento musical leva à prevenção de futuros problemas de

aprendizagem relacionados à concentração e à memorização, bem como

auxilia estudantes que apresentam estes tipos de dificuldades escolares, pois

contribui na concentração, na organização, na socialização, na memorização,

promovendo assim um desenvolvimento cognitivo saudável.

16

CAPÍTULO II

MÚSICA COMO FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL – EL

SISTEMA COMO MODELO DE ENSINO.

Se reconoce al movimento orquestal como uma

oportunidad para El desarrollo personal em lo intelectual, em lo espiritual, en lo social y em lo professional, rescatando al niño y al joven de uma juventud vacia, desorientada y desviada.

José Antonio Abreu, Fundador do El SistemaVenezuelano.(grifo nosso). A educação musical tem como berço os países Europeus, tendo como

reconhecimento a excelência e qualidade do ensino musical aplicados ao

resultado da formação de músicos que dominam o mercado musical mundial.

Os Estados Unidos da América investiu por séculos neste modelo de ensino e

hoje ocupa grande espaço no desenvolvimento musical, tendo universidades

como modelo mundial de formação musical.

Há 37 anos, a Venezuela iniciou um projeto inovador no ensino da

música. Segundo afirma Fischer:

Tudo começou em 1975. O regente José Antonio Abreu iniciou um movimento de formação de orquestras juvenis que mudaria para sempre a cultura musical de seu país e transformaria a maneira de ensinar música a crianças e jovens em diversos lugares do mundo. (FISCHER, 2012, p.15).

Foi criado então a Fundação do Estado para o Sistema Nacional de

Orquestras Juvenis e Infantis da Venezuela que, em 2011, foi transformada

pelo Governo Venezuelano em Fundação Musical Simon Bolívar, mas é

conhecido mundialmente como “El Sistema” pela sua maneira de ensinar

música erudita a crianças e jovens. O El Sistema sempre teve como ideal a

integração social, o resgate de crianças e jovens através da arte, o

desenvolvimento da sensibilidade e a educação como via de progresso

individual e coletivo.

Este sistema é inovador desde o início, por trabalhar exclusivamente

com crianças e jovens de comunidades carentes, mas a inovação não vem por

17

este âmbito pensando em inúmeros projetos sociais até mesmo no Brasil que

já trabalhavam a música como ferramenta de transformação social, porém não

existem indícios de ensino de música com instrumentos sinfônicos para

formação de orquestras sinfônicas, tendo como maior diferencial o ensino

coletivo de instrumentos sinfônicos, contrastando com o ensino musical

Europeu e Americano, onde o ensino de instrumento é individual.

Este caráter inovador proposto pela Venezuela foi alvo de críticas por

décadas, mas as grandes inovações podem ter dificuldades de serem aceitas

por quebrarem completamente a forma de que eram feitas, principalmente uma

inovação ligada à educação. A maneira inovadora de ensinar música de forma

coletiva com instrumentos sinfônicos a crianças e jovens carentes na

Venezuela ganhou adeptos e apoio oficial do governo Venezuelano, que hoje é

o seu principal mantenedor. As críticas aumentaram junto ao crescimento veloz

do projeto, mas conforme as orquestras eram formadas e os músicos se

desenvolviam as pessoas começaram a ver a importância e a eficácia do

processo educacional.

O “El Sistema”, afirma Fischer:

Atualmente atente 350 mil crianças, adolescente e jovens em 285 núcleos em todo o território venezuelano, cada qual com pelo menos uma orquestra sinfônica infantil e juvenil. Considerando que a Venezuela tem 335 municípios, percebe-se o impacto do Sistema nas relações sociais daquele país. (FISCHER, 2012, p.16).

A maioria dos educadores e líderes do Sistema foram alunos do

programa. Eles entendem a missão social e musical do El Sistema, e levam

adiante nutrindo o indivíduo e o músico.

O programa tem alunos representantes nas principais orquestras

sinfônicas e universidades do mundo e tem o maestro Gustavo Dudamel, atual

maestro titular da Orquestra Filarmônica de Los Angeles, como principal

representante da grandiosidade e eficácia do processo.

O mundo hoje reverência o método educacional e os mais

conservadores dos educadores musicais aceitaram este método inovador. São

muitos os organismos e organizações internacionais que reconhecem o El

18

Sistema como um programa de educação musical único, digno de ser

implementado em todas as nações do mundo e, principalmente, nos países

que buscam diminuir os níveis de pobreza, analfabetismo, marginalidade, e

exclusão na sua população infantil e juvenil.

Em mais de 25 países já foram implantado o programa de educação

musical que seguem o modelo Venezuelano. Entre esses países se

encontram: Argentina, Áustria, Bolívia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Coréia

do Sul, Costa Rica, Cuba, Equador, El Salvador, Escócia, Estados Unidos,

Guatemala, Honduras, Inglaterra, Itália, Jamaica, Índia, México, Nicarágua,

Panamá, Perú, Portugal, Porto Rico, República Dominicana e Uruguai.

Este processo educacional inovador da Venezuela hoje rende frutos

produtivos além de músicos qualificados para o mercado nacional e

internacional. Segundo Fischer (2012, p. 16): “Do ponto de vista das relações

de trabalho, o Sistema gera quase 6 mil empregos diretos.

No Brasil já podemos ver resultados deste movimento no projeto da ONG

Orquestrando a Vida, em Campos dos Goytacazes que é o primeiro núcleo

deste projeto no Brasil; na Ação Social pela Música, na cidade do Rio de

Janeiro; no Bacarelli em São Paulo e no NEOJIBÁ em Salvador. Destes

projetos o único financiado pelo governo do estado é o da Bahia.

Compreendendo a importância dos projetos citados acima no cenário

brasileiro, apresento um breve histórico dos quatro projetos.

Um dos mais bem sucedidos programas ligados à Venezuela se

encontra em Campos, município do estado do Rio de Janeiro. A ONG

Orquestrando a Vida atende 750 alunos em sua sede e núcleos.

Roberto Zambrano, Venezuelano, professor do El Sistema em vista ao

núcleo de Campos comentou:

A Experiência em campos tem sido fundamental para o desenvolvimento do El sistema do Brasil. O núcleo de campos é com certeza um dos mais desenvolvidos que existe fora da Venezuela. Eles sentem um profundo respeito pelo nosso modelo e uma enorme gratidão pela confiança e apoio que tem dado o professor José Antonio Abreu.

19

O Instituto Baccarelli atende cerca de 1200 crianças e jovens em

programas que visam oferecer formação musical e artística de excelência,

proporcionando desenvolvimento pessoal e oportunidade de profissionalização

na música. Com sede em Heliópolis, oferece para a comunidade uma estrutura

de ponta e professores qualificados, aulas de teoria e técnica, além de prática

em 04 orquestras, 19 corais e 05 grupos de câmara, podendo ir da

musicalização à especialização em um instrumento ou em canto.

O projeto hoje gerido pelo Instituto Baccarelli começou pela ação

individual do maestro Silvio Baccarelli, em 1996. Comovido com um incêndio

na favela Heliópolis, em São Paulo, que deixou centenas de desabrigados e

dezenas de jovens e crianças sem escola. Baccarelli, então dono de uma

empresa que contratava instrumentistas para tocar em eventos, organizou uma

pequena orquestra de cordas com 36 crianças da região, bancada com

dinheiro do próprio bolso. A ideia foi crescendo e atraindo empresas e

instituições que percebiam que as chances de inclusão dos jovens

aumentavam com a música em suas vidas.

Na Bahia, o projeto NEOJIBA é fundamentado no “El Sistema”,

reconhecido programa venezuelano criado em 1975. O Programa prioritário do

Governo da Bahia , gerido pela Associação de Amigos das Orquestras Juvenis

e Infantis e do NEOJIBA – AOJIN, com manutenção da Secretaria de Cultura

do Estado e apoio do Teatro Castro Alves .Desde 2007 o NEOJIBA representa

uma possibilidade de mudança na vida de jovens e crianças que, através da

prática coletiva da música, adquirem ferramentas essenciais ao

desenvolvimento pleno de suas capacidades. O projeto atende 450 alunos e o

resultado dessa prática é confirmado no alto nível de excelência alcançado

pelos músicos das suas orquestras.

O projeto Ação Social pela Música, foi fundado em 1995, pelo maestro

David Machado, no Rio de Janeiro. Fiorella Solares, viúva do regente e

coordenadora geral do projeto destaca a importância do convênio com a

Fundação Musical Simon Bolivar , da Venezuela.

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Através de seus Projetos Socioeducativos, a Ação Social pela Música do Brasil

(ASMB) dedica-se à criação de grupos instrumentais e de coros mediante o

ensino coletivo e a interação comunitária. O conjunto destas iniciativas da

ASMB visa a difusão da música junto à infância, à adolescência, e à juventude

em comunidades socioeconomicamente desfavorecidas e submetidas a

exclusão social. O projeto atende 930 alunos, oferecendo núcleos localizados

nas comunidades pacificadas do Rio de Janeiro (Dona Marta, Complexo do

Alemão, Cidade de Deus e Morro dos Macacos), nos municípios fluminenses

de Petrópolis e Piraí e também em Ji- Paraná, no estado de Rondônia. Cada

núcleo possui sua orquestra.

Além da Fundação Simón Bolivar, a Ação Social pela Música do Brasill

também é conveniada com o Banco CAF de desenvolvimento da Ameria Latina

e tem apoio institucional do Rio Solidário.

O SOM QUE CONSTRÓI UMA SOCIEDADE

Além de todos os benefícios culturais, financeiros e artísticos que o

Sistema Nacional de Orquestra Venezuelano contribui para aquele país, é

impossível não refletir sobre seu papel social, educacional e humanístico .

Como bem aponta Borzacchini (2004), este revolucionário programa que

tem a música como sua principal ferramenta nos mostra que a arte deve

transcender seus valores estéticos e tem como seus principais pilares e

objetivos fundamentais :

1- A democratização e massificação em toda sua amplitude, a

participação e inclusão de todos, seja qual for sua condição sócio econômica e

física. Que todos tenham direito ao estudo, trabalho e recreação. Buscando a

felicidade individual e união familiar.

2- A multiplicação de seus efeitos e benefícios na sociedade, o jovem

que ingressa no El Sistema e se destaca nos seus estudos e atividades

artísticas automaticamente reflete em sua família , escola , amigos , bairro ,

sociedade e cidade. Quando a criança ou jovem chega a El Sistema ele

21

encontra uma imperceptível e poderosa máquina produtora de valores, e sua

visão muda com tanta força que é possível transformar um país.

3- Homens e mulheres felizes, desde o momento que a criança entra no

El Sistema Nacional de Orquestra, acompanhado por seus pais ou

representantes, começa a operar o que se conhece milagre venezuelano.

Entre os benefícios no plano pessoal, afetivo e social podemos citar os

seguintes:

-Desenvolvimento da confiança pessoal e afetiva: A prática de qualquer

manifestação artística, contribui para o desenvolvimento da sensibilidade e

permite a construção interior de uma segurança, tanto pessoal quanto afetiva.

Ao pertencer as Orquestras os jovens recebem a atenção, o cuidado de seus

professores e maestros, e são apreciados por seu talento e sua função no

grande corpo orquestral. Enfrentam dificuldades, desafios, e quando realizam

sua meta, o concerto, podem ver que sua determinação e confiança os levou a

realização de seu objetivo final. Uma grande lição para vida!

-Desenvolvimento estético: A sonoridade de uma obra de Beethoven,

Mozart, a delicadeza da construção dos instrumentos musicais que estão em

suas mãos, a arquitetura das salas de concertos e teatros e até a vestimenta

tradicional para apresentação dos concertos, desenvolve nos jovens uma

sensibilidade ao belo, permitindo a formação de um gosto estético que,

provavelmente, os acompanhará durante toda vida.

- Estrutura para socialização: A orquestra é um grupo, uma sociedade

estruturada, com seus líderes (Maestro) e seus cidadãos (músicos). Tem suas

normas, leis e regras a serem respeitadas. A criança e jovem que pertence a

um grupo orquestral, compartilha sua estante, aprende a respeitar e desfrutar

da presença do outro, aprende a compartir, e sobre tudo, atuar em equipe para

conquistar o som harmonioso de uma obra musical. O individualismo fica para

traz e o coletivo se impõem graças as habilidades sociais desenvolvidas pelos

integrantes de uma orquestra.

- Aprendizagem e concentração: O El Sistema é um programa ideal para

estimular a concentração e implantar os processos de aprendizagem com as

crianças e jovens.

22

A atenção que os pequenos músicos devem desenvolver desde que

entram nas suas aulas de instrumentos ,quando estão sob a regência de um

maestro na orquestra, ou nas largas horas de estudo individual é de

fundamental importância para o desenvolvimento da concentração.

- Disciplina: A criança e o Jovem aprende a cumprir regras como, fazer

silêncio enquanto o maestro fala sobre a interpretação musical, cumprir

horários, seguir um cronograma de estudo, devem saber se comportar em

vários ambientes como grandes salas de concertos, jantares e viagens, ser

pontual, controlar seus impulsos sabendo que a disciplina é uma ferramenta

fundamental para conquistar seus objetivos musicais e individuais.

- Excelência e liderança: A criança e o jovem aprendem a crer que a

excelência deve ser seu alvo. E sabemos que a excelência é uma arte

conquistada pelo treino e hábito.

Todos aprendem a serem líderes, serem os primeiros nas atividades

que estão desenvolvendo. A busca pela qualidade, o esforço em busca da

excelência é valorizada cada dia. Lutar pelo que desejam e correr atrás.

- Visão de futuro: A criança e o jovem aprendem que através da música

pode encontrar um caminho para uma vida profissional e poder conquistar uma

vida feliz e equilibrada.

Desenvolver um sonho de vida que pode tornar realidade através do

estudo da música.

O El Sistema permite a seus integrantes o acesso ao conhecimento,

desenvolvendo suas habilidades além da música estimulando sempre sua

formação universitária.

-Integração e aceitação: A criança e jovem aprende o valor de se sentir

parte importante e fundamental de uma família orquestral.

El Sistema de Orquestra vem resgatando em todos esses anos, muitos

jovens abandonados e que estão no caminho das drogas. No projeto todos

são iguais e sua condição sócio econômica, sua religião e procedência não

têm importância.

-Perseverança: A criança e jovem tem como sua frase: Quem persevera,

vence. Sabem que o trabalho diário e constante oferece resultados magníficos.

23

Tocar e Tocar, sempre e cada vez melhor, é um dos lemas que mas se ouve

entre os estudantes .

- Metas e propósitos: A criança e jovem aprendem a ter metas e

propósitos na musica e na vida. Quero ser um professor, um solista, um

grande músico ou um maestro. Buscam com estudo e perseverança alcançar

suas metas e propósitos.

-Convivência e Tolerância: Na rotina das aulas e ensaios as crianças e

jovens compartilham momentos de alegria, dificuldades e tristeza, comentam

suas vidas familiares, escolares, e dividem experiências. O El Sistema de

Orquestra desenvolve o valor da amizade, compreensão e solidariedade. Os

professores e alunos praticam diariamente o espírito de tolerância e

convivência.

- Estímulo para competir: Um dos valores que se desenvolve nos jovens

é um saudável e frutífero estímulo para a competição, não há lugar para se

acomodar, temos que querer mais.

O El Sistema tem grande impacto na família e comunidade. Em

depoimento Erick Bujones, 12 anos de idade, violinista do “El Sistema”, conta

sua experiência, Borzacchini:

A experiência de pertencer a orquestra é muito boa. Entre meus sonhos está chegar a Orquestra Sinfônica Simon Bolivar e viajar o mundo. Sei que falta muito mas, me sinto muito feliz por tudo que conquistei. Tenho que continuar a estudar , ter disciplina, empenho, e muita vontade, isso eu tenho de sobra, e chegarei muito longe. Sempre gostei do violino e me considero bom tocando. Adoro escutar a peça Sherazade de Rimski-Korsakov. A música mudou minha vida. (BUJONES, apud BORZACCHINI, 2004, p 108).

24

CAPÍTULO III

PROJETOS SOCIAIS NO BRASIL QUE FAZEM USO DO ENSINO

DA MÚSICA COM INSTRUMENTOS MUSICAIS DE ORQUESTRA

COMO FERRAMENTA DE INTEGRAÇÃO SOCIAL

Crescem em todo mundo iniciativas de integração social por meio do

ensino de instrumentos de orquestra para crianças e jovens. O Brasil esta

acompanhando essa tendência internacional. Segundo Ventura (2012): “O

ensino da música clássica esta mudando o destino de milhares de jovens

carentes país afora” (p.1 segundo caderno).

ONGs e órgãos de cultura no Brasil estão à frente de iniciativas e

projetos como esses.

O El Sistema, modelo Venezuelano serve de base e modelo para muitos

desses projetos Brasileiros pois esta associado com a pobreza, realidade muito

parecida com a do nosso país. Alguns desses projetos tem um vínculo direto

com a Fundação Musical Simon Bolivar, gestora do projeto Venezuelano.

O perfil de um gestor, professor, e monitores que trabalham nos projetos

é bem distinto dos tradicionais de ensino de música. Suas habilidade

profissionais devem se adequar a uma nova condição de trabalho. O bom

gestor deve estar atento no sonho e na realidade, ter empatia e agregar

pessoas a sua causa, ter visão artística e administrativa.

O professor deve estar ciente do seu papel de educador na formação

humana, a importância da música na vida daquelas crianças e seu poder de

transformação. No projeto, o professor deve priorizar o lado humano da

formação do aluno, o aspecto musical e artístico acompanha esse processo.

O ideal é o professor ter papel duplo. De acordo com Fischer (2012):

“Preocupar-se, sim, com técnica, leitura musical e a preparação para a sala de

concerto. E ter sempre em mente a formação geral do educando e a

transmissão de valores” (p.48).

Saber lidar com a estrutura precária dos prédios onde lecionam também

25

é uma realidade em quase todos projetos.

Conforto é uma palavra que não existe no vocabulário dos professores. Faz-se o trabalho onde é possível, e na maioria das vezes, os locais não estão preparados para as aulas. Há ainda o problema do acesso às comunidades, além da dificuldade com crianças e adolescentes que convivem com desestrutura familiar e violência (SOLARES, apud FISCHER, 2012, p.46).

Em grande parte dos projetos é comum receber músicos convidados

para aperfeiçoamento dos seus professores, monitores e alunos. Essa troca é

um grande aprendizado para ambas as partes. A avaliação do

desenvolvimento do aluno também deve ter duplo olhar. Como destaca

Fischer:

Seja profissional de orquestra, seja solista, o professor convidado precisa considerar a realidade dos alunos e as condições de infra-estrutura do projeto, de forma a avaliar os resultados alcançados. (FISCHER, 2012, p. 49).

Outra parte fundamental nos projetos são os monitores. Eles

desempenham papel muito importante, ainda que sejam estudantes avançados

a utilização dessa mão de obra é de suma importância nessa engrenagem. “É

a monitoria que possibilita a multiplicação do conhecimento musical”. ( Fischer,

2012, p.50)

É o início da profissionalização, aquela criança que começou a estudar

música, hoje é um monitor remunerado, passa seu ensinamento e sua história

para os iniciantes e agora segue seu sonho de se formar e ter uma profissão.

É o período de transição, os novos valores começam a buscar a plenitude.

Como ressalta Freire:

Não há transição que não implique um ponto de

partida, um processo e um ponto de chegada. Todo amanhã se cria num ontem, através de um hoje. De modo que nosso futuro baseia-se no passado e se corporifica no presente. Temos que saber o que fomos e o que somos, para saber o que seremos. (FREIRE, 2011, p.42)

26

A monitoria abre um mundo de oportunidade para esses jovens. Fischer

destaca que:

Potencialmente, todo aluno pode vir a se tornar um monitor. Gestores e professores estão atentos ao progresso dos alunos em sala de aula e a eventual facilidade que demonstram para ajudar colegas com dificuldade em alguns aspectos que já dominam. (FISCHER, 2012, p. 52)

Outro ponto que vale ser destacado quanto aos monitores é que ao

chegar na adolescência, idade que muitos começam a monitorar, muitas

famílias estão cobrando desses adolescentes ajuda financeira em casa. Com o

sistema de monitoria os projetos podem remunerar os alunos mais avançados

possibilitando sua permanência no projeto. Os monitores trabalham dando

aulas, auxiliam nos setores administrativos e produção de eventos. Segundo

Fischer (2012): “Os monitores não possuem vínculo empregatício com os

projetos. Sua relação trabalhista costuma se dar por meio da concessão de

bolsa de estudo” (p.52).

Na classe média muitos querem seguir música e muitas vezes não são

bem vistos na família, no projeto, a música é sua única opção.

Pais e responsáveis estão cada vez mais atentos as oportunidades que os projetos oferecem aos alunos, e ex alunos e às possibilidades de inserção no mercado de trabalho, inclusive internacional (FISCHER, 2012, p. 54).

Mesmo que nem todos os alunos sigam carreira musical, a transformação

nas suas vidas é perceptível por todos. O objetivo não é formar músicos, mas

sim apresentar crianças e jovens a prática musical, e usar o modelo da

orquestra como mini modelo da sociedade. A profissionalização é uma opção

que eles têm.

As universidades brasileiras já sentem a presença dos estudantes

oriundos dos projetos em suas salas de aula e muitos músicos sentados nas

grandes orquestras desse país iniciaram seus estudos e carreiras nos projetos

do nosso país. A música exclui as diferenças, o talento e o esforço são a

medida do sucesso não a origem social.

O crescimento desses projetos no Brasil chamou a atenção de Heloísa

27

Fischer, que edita a revista "Viva Música!". O anuário deste ano traz um dossiê

especial do fenômeno que ela batizou de Cidadania Sinfônica. Fischer (2012)

mapeou 92 projetos de "integração social por meio da prática orquestral "no

Brasil.

De acordo com essa pesquisa, cito o nome dos 92 projetos mapeados e

publicado no Anuário "Viva Música!", em anexo.

28

3.1 ONG Orquestrando a Vida Orquestrar a Vida é ter a grata satisfação de ver a

emoção da história de cada músico acontecer em palco como uma grande explosão de alegria e contentamento por esta linguagem tão maravilhosa e curadora “a música”. Maestro Jony William, Diretor da Ong Orquestrando a Vida.

O projeto foi criado em 1996 pelo maestro Jony William com o objetivo

de abrir no Brasil o primeiro núcleo do bem sucedido projeto de Orquestras e

Coros Juvenis da Venezuela, conhecido mundialmente como “El Sistema”.

A ONG Orquestrando a Vida recebeu nesta oportunidade 15 maestros

venezuelanos, dando início ao projeto que hoje é considerado um dos

melhores e maiores núcleo do “El Sistema” no mundo.

Em 2011, os maestros venezuelanos José Antonio Abreu, grande

idealizador do programa Venezuelano “El Sistema” e Gustavo Dudamel,

grande nome do projeto que antes dos 30 anos já é titular da Sinfônica de Los

Angeles, estiveram no Brasil para concertos com a orquestra Jovem Simón

Bolivar e conheceram de perto o trabalho da Orquestrando a Vida .

Estou muito feliz e encantado em poder comprovar com meus olhos o maravilhoso trabalho realizado pela ONG Orquestrando a Vida.Uma Orquestra como essa que acabo de ouvir tão brilhante e com tantos talentos merece todo reconhecimento e apoio do país e governo do estado. Os professores estão muito bem preparados musicalmente e sabem de sua vocação social. O projeto pode ter em nós “El Sistema” Venezuelano uma fraternidade musical indestrutível.

José Antônio Abreu, diretor fundador do El Sistema.

Estou muito emocionado em saber que a mensagem da música e tudo que conseguimos na Venezuela esteja sendo feito aqui. Ver os jovens encaminhados na vida é muito especial. Estamos muito felizes, contem sempre com nosso apoio para que esse projeto cresça a cada dia e siga ampliando seus horizontes pois, é realmente necessário que o jovem tenha acesso a arte como um direito social. Todos nós músicos, maestros e juventude Venezuelana estamos juntos em apoio a esse grande projeto social, Ong orquestrando a Vida.

Gustavo Dudamel, maestro do El Sistema.

29

O “El Sistema” da Venezuela possui 285 orquestras sinfônicas

totalizando 350.000 alunos estudando música no país.

Ao longo desses 16 anos a ONG Orquestrando a Vida segue fielmente o

modelo de ensino venezuelano, o ensino coletivo de instrumentos sinfônicos,

tendo conquistado grande reconhecimento por ser uma poderosa ferramenta

de integração social através da música e por sua qualidade técnica das suas

sete orquestras sinfônica e duas bandas, ganhando prêmios como: Cultura

Nota 10 em 2006 e Melhor da Música Clássica do Estado do Rio de Janeiro

concedidos pelo Governo do Estado do Rio de Janeiro em 2011.

Hoje o projeto atende 750 crianças e jovens de comunidades carentes

das cidades de Campos dos Goytacazes, São João da Barra e Cardoso

Moreira, com aulas diárias de instrumentos, linguagem musical e prática de

orquestra sinfônica, utilizando de uma metodologia inovadora para a educação

musical, quebrando os tradicionais costumes da educação musical.

Um projeto que visa através da música moldar e mudar pessoas com instrumentos musicais é um projeto que em qualquer lugar do mundo merece respeito. A ONG Orquestrando a Vida tem provado, ao longo de seus 16 anos e através de inúmeros trabalhos e de um ensino musical de qualidade, que a música é um elemento primordial para a formação de um excelente cidadão.

Dr. Nélio Artiles, Diretor da Faculdade de Medicina de Campos.

A metodologia inovadora utilizada no projeto foi criada e desenvolvida

primeiramente na Venezuela e divulgada para diversos países da América,

Europa e Ásia, associando a motivação proporcionada pela prática sinfônica, o

desenvolvimento das habilidades motoras necessárias para execução

instrumental e a sensibilidade musical. Através da prática em grupo, os alunos

são levados ao progresso, pois os grupos musicais/sinfônicos desenvolvem

simultaneamente a prática musical e o desenvolvimento emocional e

psicológico, ganhando autoconfiança e dividindo com o companheiro a

capacidade de executar tarefas em conjunto e cooperação.

Bastian (2009), afirma que: "A prática da música faz decair claramente

os comportamentos de rejeição das crianças"(p. 65).

30

O projeto musical da ONG Orquestrando a Vida também pode ser

definido como uma janela de oportunidades e de reafirmação da vida, do

talento, dos ideais, dos sonhos e da capacidade de criar, se expressar e

realizar.

Em depoimento para a revista Orquestrando a Vida (2011), o Maestro

titular e diretor artístico da ONG Orquestrando a Vida, Luis Maurício Carneiro,

fala sobre o trabalho:

A ONG Orquestrando a Vida sintetiza, diariamente, uma fábrica de ideais onde, através de cada nota, acordes, interpretações e desenvolvimento, crianças e jovens se apoderam da oportunidade de vivenciar a realização pessoal, de buscar sua localização e compreender que juntos realizamos muito mais. Os trabalhos sociais vem recebendo grande atenção no Brasil nos últimos tempos, a ONG Orquestrando a Vida vem agregando força a essas iniciativas deixando sua marca neste cenário através de sua premissa, utilizar arte como ferramenta de trabalho para a inclusão social e educacional sem abrir mão de um verdadeiro compromisso artístico, explorando todas as possibilidades de desenvolvimento e realização.

Luis Maurício citado por Revista Orquestrando a Vida, 2011.

Na ONG Orquestrando a Vida os educadores e educandos caminham

juntos. Freire (2009), destaca que: "Quem ensina aprende ao ensinar e quem

aprende ensina ao aprender" (p.23). Tal afirmativa faz parte do dia a dia desse

projeto. Multiplicar o conhecimento e dividir o saber são pilares desse projeto.

Acredito que não existe nada mais importante na vida que multiplicar. Fomentar sonhos, ideais, sorrisos, alegrias e principlamente música. E isso devo a Orquestrando a Vida, não só pelos ensinamentos que me levaram a conhecer o mundo e a formar minha personalidade, mas pelo prazer de dividir isso com os outros. De saber que fazer música é maravilhoso, mas se torna muito melhor quando feita por muitos. Cheguei ao projeto aos nove anos e hoje trabalho como professor e maestro, aprendi a ter sonhos, a crescer com os obstáculos e críticas e isso pretendo compartilhar com outras crianças adolescentes enquanto puder. Sonho com o dia em que toda a criança brasileira terá acesso a música como eu tive. Alguns dizem que sonhar não custa nada, mas para mim custa a responsabilidade de torná-lo realidade. (RANGEL, apud Revista Orquestrando a Vida, 2011).

31

O êxito dos educadores da ONG Orquestrando a Vida está centralmente

na certeza de que é possível mudar. Ensinar exige a convicção de que a

mudança é possível. FREIRE (2009): "Mudar é difícil mas é possível"(p.79).

A música transforma as crianças e jovens que integram a ONG vivem na

miséria, em abrigos da cidade ou convivem com a violência e as drogas nos

bairros onde moram. Muitos contam dramas como a solidão, a miséria e a dura

realidade do tráfico. Através da música, estes meninos e meninas estão

transformando suas vidas, elevando sua auto estima, descobrindo novos

caminhos. Freire (2011) destaca: “Quando o homem compreende sua

realidade, pode levantar hipóteses sobre o desafio dessa realidade e procurar

soluções. Assim, pode transformá-la e com seu trabalho pode criar um mundo

próprio: seu eu e suas circunstâncias”(p.38).

Em depoimento o aluno Roberto Elias Gonçalves conta sua história,

fala como a música ajudou a superar seus obstáculos e mudar sua vida:

Tenho 18 anos, participo da Orquestrando a Vida desde meus 13 anos. Hoje toco na Orquestra Mariucca Iacovino. Durante 10 anos da minha vida, não pude ter a oportunidade como muitos de ter uma família. Fui abandonado por meus pais e familiares e precisei morar em um abrigo de adolescentes e crianças ao 7 anos de idade. Durante esse tempo, aprendi muito a superar as dores e solidão vindas do abondono.

Antes de ir para o abrigo, sofria muito, pois não tinha o que comer em casa e a única coisa que comíamos era aquilo que vinha do lixão. Foi um tempo de muito sofrimento e angústia para mim devido ao ambiente em que vivia, pois, além disso, meu pais vieram a falecer e fiquei órfão. Logo em seguida, perdi meu irmão, que fugiu do abrigo e não voltou mais, e minha irmã, que morreu aos 16 anos de idade. Perdi minha família toda.

Mas a dor muitas vezes nos torna mais fortes e nos prepara para enfrentarmos os conflitos da vida. Não tenho vergonha em contar isso, pois a minha história é um exemplo de superação. Hoje graças a Deus, meu sonho de ter uma família foi realizado. Amo meus pais, Junia de Souza Elias e Roberto Cezar Gonçalves, que estão sempre ao meu lado me apoiando e me ensinando o melhor da vida. Não quero nunca sair da música, pois nas horas mais difíceis da minha vida ela estava presente, foi uma grande companheira.

A música foi e é para mim algo que já faz parte da minha vida, me ajudou a superar muitos obstáculos, me faz bem, não sei viver sem ela. Na Ong Orquestrando a Vida, encontrei amigos e pessoas solidárias que quero ter ao meu lado para

32

sempre. Gostaria muito de agradecer a Deus pelo seu amor e cuidado para comigo e por me dar essa oportunidade tão maravilhosa. (GONÇALVES, apud Revista ONG Orquestrando a Vida, 2011).

Tocar e lutar é o slogan desse projeto. Essa frase é ouvida diariamente

nos corredores dessa escola. Não basta só aprender a tocar, eles lutam por

dias melhores. A música faz ressoar a misteriosa riqueza desses jovens, o

talento e o amor a arte que transforma.

Em entrevista a Revista O Globo (2011), Jony William, diretor do projeto

fala como o projeto transforma a vida das crianças:

Uma vez perguntei a um grupo de alunos: “O que vocês

querem ser da vida?” Silêncio total. Falei: “Vocês tem que ter um objetivo ao se levantar da cama, nem que seja ver o sol nascer e pôr”.

Passei a fazer um trabalho para entenderem a importância de sonhar e traçar metas. Pedi que escrevessem o que queriam conquistar da vida. Eles botaram os papéis em bolas de encher. Nove meses depois, no fim do ano, abriram as bolas e riram ao ler o que haviam escrito: “Não sei porquês nasci”, “Não sei o quero ser“, Tenho muito medo”. Um desenhou uma cruz, simbolizando a morte. Ao lerem não se reconheceram: “Não fui eu que escrevi isso!” Tinham mudado, conhecido o poder transformador da música.

Ao ser perguntado sobre casos de sucesso ele destacou: Tem um rapaz que, quando tinha 11 anos, seu irmão

disse: “Para mim ele não vai passar dos 15 anos.” O garoto dava muito trabalho por causa das drogas. Agora ele é um maravilhoso trompista, tocou no Carnegie Hall e vai ser um grande professor do projeto. Temos crianças que foram abandonadas pelos pais, você não podia abraça-las que elas gritavam e pulavam. Hoje são afetuosas, estão sendo adotadas e vão se tornar monitores, professores, maestros com nível universitário, instrumentistas do projeto. (WILLIAM apud VENTURA, Revista O Globo, n 386, p.14, 2011).

O transformação pelo estudo da música reflete na vida do aluno, na família

e na sociedade onde esses jovens vivem.

Desde os primeiros anos de vida, percebemos que nosso filho, Pedro Lucas, tinha um comportamento diferente das outras crinaças. No início de 2011, foi diagnosticado que ele era

33

portador da Síndrome de Asperger, doença que faz parte do espectro autista. Essa síndrome é caracterizada, dentre outras, principalmente, pela extrema dificuldade de integração social.

Ao completar sete anos, nós o matriculamos na música. Não demorou muito para poder sentir a mudança positiva em seu comportamento.Ele passou a ficar mais tranqüilo nos momentos de tensão, a tolerar crianças menores e também os que não entendem de dinossauros, planetas, etc. Quando é criticado e contrariado, não se enfurece como antigamente, quando fica em dúvida ou quer emitir opnião, não se furta em levantar a mão e pedir a palavra. Nào vou dizer que ele está perfeito, mas posso afirmar que a música ministrada em orquestra e o modelo de educação implantado na ONG Orquestrando a Vida tem ajudado significamente para que meu filho seja uma pessoa melhor. (MANHÃES apud Revista Acorde, p.3, 2012).

Sou muito grata a ONG, porque meu filho teve uma mudança de comportamento surpreendente. Com a família, na escola, até na rua lá de casa as melhoras foram sentidas. Hoje Raphael é um menino excelente, se dedica aos estudos de música, mesmo nas horas vagas, e sonha em um dia ser um grande trompetista. Nós como família apoiamos em tudo, indo aos concertos, sempre incentivando e até ouvindo as músicas clássicas que ele ouve com som alto em casa. (ELIAS apud Revista Orquestrando a Vida, p.14, 2011).

Minhas meninas mudaram muito, a Larissa sempre mais calma aprendeu ater expectativas e sonhos a longo prazo. Já a Cecília sempre mais agitada, aprendeu a se concentrar e organizar os estudos. Hoje diz que vai ser violoncelista e estudar no exterior. Mesmo nos altos e baixos da minha vida sempre fiz questão de trazê-las e busca-las no projeto, porque desejo para as minhas filhas um futuro melhor. (MANHÃES apud Revista Orquestrando a Vida, p.14, 2011).

Ruan sempre foi mais animado e Joshua mais quieto. Nesses anos de contato com a música os dois melhoraram muito, cada um do seu jeito. O Ruan ficando mais responsável e o Joshua mais sociável. Para nós pais, é um orgulho muito grande a atividade de música deles e procuramos sempre incentivá-los. O Ruan tem estado melhor e o Joshua muito empolgado com o violino novo que ganhou da ONG. (SOUZA apud Revista Orquestrando a Vida, p.14, 2011).

Em, 2008 a ONG Orquestrando a Vida passou por uma grande crise

financeira e suas atividades foram suspensas. Uma passeata marcou o luto

pela suspensão das atividades. Pelos Telejornais, a grande violinísta Mariucca

34

Iacovino, então doente, assistiu o protesto e se sensibilizou pedindo a Myrian

Dauelsberg, sua filha e empresária, que ajudasse nessa causa.

A Dell'Arte se envolveu na causa mas infelizmente Mariucca Iacovino

não viveu para ver essa grande parceria. A orquestra principal da ONG chama-

se hoje Orquestra Jovem Mariucca Iacovino em homenagem a essa grande

violinísta e incentivadora.

Myrian Dauelsberg, em visita a Ong Orquestrando a Vida disse:

Estou emocionada com tudo que estou vendo aqui. Nosso encontro foi algo divino. Continuem com esse belo trabalho pois vocês estão colaborando para um mundo melhor através da música. Infelizmente minha mãe não esta aqui para ver isso mas, tenho certeza que ela está dando pulos de alegria no céu vendo esse trabalho.

A Orquestra Jovem Mariucca Iacovino vem se apresentando nas

grandes salas de concertos do nosso país. Em 2011, apresentou-se no

Carnegie Hall em Nova York.

Essa orquestra interpreta um repertório tradicional de orquestras, visando

a preparação do músico para atuação em nível profissional. O repertório de

música brasileira de concerto ou clássicos de nossa música popular com

performance inovadora também são características marcantes desse grupo

que vem chamando atenção e arrancando aplausos e elogios por onde

passam.

Lang Lang, grande pianista de fama mundial, ao escutar a Orquestra

Sinfônica Mariucca Iacovino em um concerto exclusivo para ele no Theatro

Municipal do Rio de Janeiro, disse: “Estou emocionado, vocês são os

embaixadores da música brasileira”.

As Orquestra Sinfônica Escola, Orquestra Infantil, Orquestra Infanto-Juvenil,

Orquestra Juvenil, Orquestra de Cordas, Camerata David Machado, Banda

Hermes Cunha e Banda Aluízio Fiúza, que também fazem parte da ONG

Orquestrando a Vida fazem em seu repertório grandes clássicos, com ou sem

adaptações e arranjos, visando a preparação gradativa do músico. A difusão

35

da música brasileira de concerto e popular também é uma das primícias desse

projeto.

Apresentações em escolas públicas também fazem parte da rotina

dessas Orquestras que cumprem seu papel de divulgar a música sinfônica

para todos, formando novas platéias e despertando o interesse de novos

jovens para o estudo da música com instrumentos de orquestra.

O projeto passou a ser um grande espaço de oportunidades oferecido aos nossos alunos da rede pública de ensino. Através da música, temos assistido a melhora de qualidade no desempenho dos alunos, sem falar no resgate da autoestima, no olhar que brilha e na efetivação da cidadania, que se dá por conta do trabalho realizado pela Orquestrando a Vida. (RANGEL, Secretária de Educação de Campos dos Goytacazes, 2011)

Ao longo de 16 anos a Orquestrando a Vida tem mantido o seu ideal de

educação e transformação social através da musica, não deixando de lado a

qualificação profissional de seus alunos, os capacitando para exercer a

profissão, seja no próprio projeto como multiplicador ou em outra orquestra ou

grupo sinfônico.

Durante essa caminhada o projeto atendeu uma média de 8.000 mil

alunos em aulas de instrumentos musicais.

Destes vários seguiram carreira profissional, sendo hoje músicos de

orquestras profissionais como: Orquestra Sinfônica Nacional, Orquestra

Sinfônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Orquestra Petrobrás

Sinfônica, Orquestra Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro,

Orquestra Sinfônica de Sergipe, Orquestra Sinfônica do Estado do Espírito

Santo, entre outras.

O Trabalho realizado na ONG Orquestrando a Vida coloca a cidade de Campos dos Goytacazes como exemplo de boa formação profissional do músico, muitos já colocados em várias Orquestras do País, outros em Universidades e Centros Universitários estudando, se tornando realmente músico competente, um cidadão consciente e preparado para enfrentar os desafios deste século. (CONDE, diretora do Conservatório Brasileiro de Música, 2012).

36

Em convênio com instituições internacionais os alunos da Orquestrando a Vida participam de cursos na Universidade CallArts (Universidade da Disney) e cursos de aperfeiçoamento musical e da metodologia do "El Sistema" na Venezuela.

A ONG Orquestrando a Vida, como a maioria dos projetos no Brasil,

depende de patrocínios, convênios, editais e doações. Gestores trabalham

com a instabilidade de apoio financeiro e professores em condições precárias

de infraestrutura.

Eu fico imaginando quando a Orquestrando a Vida conseguir uma sede, instrumentos adequados e multiplicar pela cidade de Campos este trabalho. Eu me pergunto onde este trabalho vai parar. (FISCHER, diretora geral e fundadora da Viva Música!)

Em entrevista para a TV Senado a promotora de eventos artísticos

internacionais Myrian Daueslberg destaca a necessidade de um maior apoio

das políticas públicas voltadas para arte. O argumento se baseia em inúmeros

casos de jovens carentes que participam de orquestras sinfônicas, grupo de

balé e teatro, depois de abandonarem o tráfico de drogas e a criminalidade.

Cecília Conde, diretora do Conservatório Brasileiro de Música em carta

para ONG Orquestrando a Vida destaca:

Muitos dos bons projetos que demonstram a preocupação na formação do jovem a partir da Arte e Cultura, que irá permitir a transformação desse jovem galgando um salto de qualidade,tente a não ter continuidade e é interrompido por falta de apoio. Um país como o nosso que teve grandes nomes na Educação, Arte e Cultura como : Anísio Teixeira, Paulo Freire, Dancy Ribeiro, Villa-Lobos, que já na década de 30, já lutava pela música nas escolas públicas do país, apoiado por Anísio Teixeira e outros educadores da época, são esquecidos.

Subitamente acabam os apoios deixando famílias inteiras chorando pela perda da cidadania e de um pertencimento no mundo que nunca haviam sonhado pertencer e que agora fazem parte deles.

Consagrada no resgate pedagógico e social de crianças e jovens

através do ensino da música em grupo para formação de grupos sinfônicos

orquestrais, a ONG Orquestrando a Vida vem se dedicando à capacitação e

recuperação de jovens mais vulneráveis da sociedade.

37

A música tem orquestrado a vida de várias crianças ao cumprir seu

papel na socialização, civilização e educação dentro da comunidade.

Passando por cima das barricadas que o tráfico constrói, a música

chegou a comunidade da Baaleira,um dos núcleos da ONG Orquestrando a

Vida. As atividades no Núcleo da Baleeira funcionam no prédio da Associação

dos moradores e foi montado com a doação de instrumentos sinfônicos.

Segundo o maestro Jony William Villela, diretor da ONG, a expectativa é

atingir, até o final do ano de 2012, a meta de 100 crianças inscritas no núcleo,

além da abertura de novos núcleos em outros pontos da cidade de Campos.

Em depoimento ao site Ururau, a diarista Simone Camino Barreto, de 34

anos, diz que se orgulha de fazer parte do projeto e tenta mostrar uma nova

realidade aos seus dois filhos.

Temos exemplo na família, parentes que moram em Manaus e que se deram bem através da música. Isso é o que quero passar para meus filhos, uma vida diferente da minha e também de pessoas que escolheram um rumo triste para suas vidas. As aulas acontecem toda segunda, terça e quarta e ao invés de estarem na rua com pessoas que podem influenciá-los, estão recebendo bons exemplos.

Para a presidente da associação de Moradores, Maria da Penha Prazeres, a iniciativa vem ajudar a comunidade e atuar junto a associação no desenvolvimento de trabalhos sociais e no resgate de dezenas de jovens e famílias

Perdi meu filho para criminalidade, a abertura do núcleo Orquestrando a Vida na Baleeira enche meu coração de alegria, pois me lembro de cada esforço, que provém da venda de caldo verde, pastel, entre outras delícias para arrecadar fundos. Se tivesse recebido esse incentivo, meu filho não teria se perdido com o que o mundo tem de ruim a oferecer.

Com um alto nível de excelência musical a Orquestrando a Vida vem

contribuindo para o desenvolvimento do ser humano fazendo da música um

agente de promoção social. O projeto vem preparando o jovem para a vida,

capacitando para o mercado de trabalho, formando músicos, monitores,

professores e maestros disciplinados, preparados pedagogicamente para

multiplicar o saber e transformar outras vidas através da arte.

38

CONCLUSÃO

Esta pesquisa teve o propósito de destacar a relevância do estudo da

música, com instrumentos de Orquestra, para crianças e jovens como

ferramenta de Integração social.

Os benefícios do estudo de um instrumento musical também teve

destaque nessa pesquisa. Uma importante conclusão foi em relação à

complexidade do estudo de um instrumento musical, que trabalha aspectos

cognitivos, motores e emocionais, constituindo-se numa exploração multi-

sensorial, trazendo significativas implicações para o desenvolvimento cognitivo,

seja com o exercício da leitura de partitura, com toda sua simbologia, seja com

a prática da música em conjunto, que desenvolve, além de toda percepção

musical, a inteligência interpessoal, pois promove a integração com outros

músicos e com o público. Foi dado um enfoque a dois aspectos relacionados a

cognição que são a concentração e a memorização, pois segundo os teóricos

estudados, são áreas em que a música exerce grande influência para uma

considerável melhora cognitiva.

Com esta pesquisa concluímos que a aprendizagem musical contribui

para o desenvolvimento cognitivo, psicomotor, emocional e afetivo,

principalmente, para a construção de valores pessoais e sociais de crianças e

jovens, melhorando a agilidade cognitiva, a capacidade de administrar

informações em conflito e de escolher a que melhor se aplica em cada

momento da vida.

Quanto aos projetos sociais brasileiros que fazem uso da prática

orquestral como meio de integração social, concluo que, apesar da falta de

apoio financeiro e estrutura física de muitos dos projetos, a música clássica

esta mudando o destino de milhares de jovens país afora. Nos últimos anos, o

crescimento tem tomado grandes proporções. O Brasil está em sintonia com

uma tendência internacional. A base de muitos dos projetos é o programa “El

Sistema” da Venezuela, idealizado pelo regente José Antônio Abreu. Mas, o

modelo brasileiro não é centrado em uma instituição como lá.

39

Na ONG Orquestrando a Vida, instituição pesquisada nesse trabalho,

concluo que o projeto pode ser definido como uma janela de oportunidades e

de reafirmação da vida, do talento e da capacidade de criar e de se expressar

para crianças e jovens de comunidades e abrigos da cidade de Campos dos

Goytacazes, algumas delas, infelizmente, marcadas pela violência e exclusão

social. O projeto também auxilia os jovens na busca da profissionalização.

Concluo que os projetos sociais em todo Brasil, possuem um forte

elemento educativo e social. Como tal, respeita o caminho construído em

conjunto com o aluno e privilegia as descobertas integradoras do mundo da

experiência, da sensibilidade, e do cotidiano, educando os jovens alunos para

além da técnica musical, formando cidadãos potencialmente mais criativos,

críticos e preparados para os desafios que a vida lhes reserva.

Como resultado desses projetos, espera-se formar uma nova geração

de instrumentistas e cidadãos, capazes de fazer da música um agente de

promoção social e de enriquecimento cultural de todo o conjunto da

comunidade, impactando dimensões da identidade, do saber e do fazer

profissional dos alunos.

40

ANEXOS

Lista dos 92 projetos mapeados e publicado no Anuário "Viva Música!":

Projeto Orquestra Sinfônica de Angra dos Reis (Osar)/RJ

Projeto de Educação Musical do Santuário Nacional de Aparecida (Pemsa)/SP

Projeto Sergipano de Orquestras/SE

Projeto Música nas Escolas de Barra Mansa/RJ

Programa Vale Música Pará/PA

Programa Cordas da Amazônia/PA

Projeto Orquestras Escola Criarte/MG

Sons do Caeté de Bragança/PA

Projeto Viva Arte Viva/DF

Projeto Música e Cidadania/DF

Projeto Orquestra Arte Livre/GO

Orquestra Infantil Grupo Zahran/MS

Projeto Orquestra Jovem da Fundação Barbosa Rodrigues (FBR)/MS

Orquestra Jovem Viver Bem/MS

Academia de Orquestras e Coros Sinfônicos de Campos dos Goytacazes/RJ

Projeto Santo Antônio de Música/BA

Orquestra Jovem de Contagem/MG

Orquestra Vale Música Moinho Cultural ( Mato Grosso do Sul)/MS

Escola de Educação Artística Heitor Villa-Lobos/CE

Programa Cubatão Sinfonia/SP

Instituto Ciranda/MT

Projeto de Orquestra de Câmara de Curaçá/BA

Reciclando Sons/DF

Projeto Educando com Música/SC

Projeto Orquestra Escola de Florianópolis/SC

Filarmônica Nossa Senhora da Conceição -Orquestra, Bandas, Coros e

Escolas de Música/SE

Orquestra Sinfônica de Itabuna e Ibirapitanga /BA

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Escola de Música Maestro Emílio de César/DF

Orquestra de Câmara de Itaúna/MG

Orquestra de Cordas /MS

A Arte de Tocar/ BA

Orquestra Jovem de Jijoca de Jeriocoacaora/CE

Programa de inclusão Através da Música e das Artes (Prima) /PB

Mus'Arte /BA

Música Paz Interior/BA

Ação Social pela Música /MG

Projeto Pró-Música de Juvenópolis/AL

Maracanaú/CE

Camerata Academia de Música/SP

Projeto Casa Talento/RN

Núcleo de Aprendizagem Musical(Namus)/RN

Orquestra Sinfonica do Cerrado /GO

Orquestra de Cordas da Grota/ RJ

Orquestra Jovem de Nova Mutum/ MT

Projeto Dando Cordas , Sopros/MG

Escola de Música Padre Simões/MG

Orquestra Sinfônica Dona Lindu/TO

Projeto Cidadão Musical/SP

Orquestra jovem do Rio Grande do Sul/RS

Orquestra Villa-Lobos/RS

Escola de Música IPDAE/RS

Orquestra Jovem IPDAE/RS

Projeto da Orquestra Sinfônica do Descobrimento/BA

Orquestra Criança Cidadã dos Meninos do Coque/PE

Projeto Tocando a Vida/SP

Projeto Construindo Sonhos/RJ

Programa Ação Social pela Música/RJ

Orquestra Sinfônica Jovem de Campo Grande/RJ

Som Mais Eu/RJ

Centro de Ópera Popular de Acari /RJ

42

Projeto Estrada Cultural /RJ

Escola de Música e Cidadania/RJ

Projeto Social Orquestra Tocante/RJ

Orquestra de Cordas do AfroReggae/RJ

Orquestra de Violinos Cartola/RJ

Projeto Villa-Lobos e as Crianças/RJ

Instituto Zeca Pagodinho/RJ

Núcleo Estaduais de orquestras Juvenis e infantis da Bahia(Neojibá)/BA

Projeto Ambiente Musical/BA

Projeto Sinfonia para o território do Médio-Sertão/AL

Projeto Locomotiva/SP

Sociedade Filarmônica estevam Moura (Sofem)/BA

Fundação Música e Vida de São Caetano/PE

Oficina de Música Educacional/BA

Projeto Orquestra Sinfônica das Comunidades/SC

Orquestra Cidadã/SP

Projeto Guri /SP

Projeto Guri Santa Marcelina/SP

Instituto Baccarelli/SP

Orquestra Filarmônica Jovem Camargo Guarnieri da universidade Metodista de

São Paulo/SP

Inclusão Cultural- A Música Venceu/SP

Projeto de Música Grupo Pão de Açúcar/SP

Programa Vale Música Espírito Santo/ES

Orquestra de Metais Lyra Tatuí/SP

Projeto Dando Corda para Paz e bem/BA

Projeto Música para Todos/PI

Projeto Orquestra Sinfônica de Três Lagoas /MS

Projeto Orquestra Jovem de União/PI

Programa Integração pela Música (PIM)/RJ

Projeto Garoto Cidadão/RJ

Projeto Volta Redonda Cidade da Música/RJ

(FISCHER, 2012, p.94 - 117).

43

Fotos de concertos das Orquestras do El Sistema Venezuelano.

44

Fotos de Orquestras e aulas da ONG Orquestrando a Vida.

45

46

Fotos de Orquestras e aulas da ONG Orquestrando a Vida no Núcleo da

Baleeira.

47

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agosto de 2012.

URURAU. Disponível em: http://www.ururau.com.br/cidades22635. Acesso em

15 de novembro de 2012.

51

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

EPÍGRAFE 05

RESUMO 06

METODOLOGIA 07

SUMÁRIO 08

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I

A importância da música 11

1.1 Os benefícios do estudo de um instrumento musical 13

CAPÍTULO II

Música como ferramenta de integração social - “El Sistema”

como modelo de ensino. 16

CAPÍTULO III

Projetos Sociais no Brasil que fazem uso do ensino da música

com instrumentos musicais de orquestra como ferramenta de

integração social. 24

3.1 ONG Orquestrando a Vida 28

CONCLUSÃO 38

ANEXOS 40

BIBLIOGRAFIA 47

WEBNOGRAFIA 49

ÍNDICE 51