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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PARTICIPAÇÃO POPULAR NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA Por: Tatiane Pires da Rocha Orientador Nelsom Magalhães Rio de Janeiro 2015 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PARTICIPAÇÃO POPULAR NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Por: Tatiane Pires da Rocha

Orientador

Nelsom Magalhães

Rio de Janeiro

2015

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

PARTICIPAÇÃO POPULAR NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em Auditoria e Controladoria

Por: . Tatiane Pires da Rocha.

3

AGRADECIMENTOS

....a Deus pelo seu grande amor, a

minha mãe pela paciência, aos meus

amigos por todo incentivo.

4

DEDICATÓRIA

.....dedico a minha mãe e amigos por

acreditarem tanto em mim.

5

RESUMO

Este trabalho vem abordar a participação da população na

administração pública dando ênfase aos princípios fundamentais que são a

base para a participação popular mais efetiva, como: cidadania, democracia e

transparência e também elencar e conceituar alguns instrumentos ou

mecanismos de participação popular encontrados nos dispositivos normativos

brasileiro.

Podemos verificar no decorrer desta pesquisa que a ordem jurídica

brasileira é repleta de instrumentos normativos que são importantes para a

comunicação entre o Estado e a sociedade, no entanto a participação popular

direta ainda é muito reduzida, vamos analisar quais os possíveis problemas

que levam a essa escassez e a necessidade de ter não a participação

representativa, como principal forma de participação, mas a participação

efetiva/direta, e a importância do investimento em educação na formação de

cidadãos mais participativos.

6

METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado utilizando-se do método descritivo, sendo

assim, foram realizadas diversas pesquisas bibliográficas que tratavam direta

ou indiretamente do tema abordado, bem como de revistas cientifica,

dispositivos normativos e a internet.

7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - PRINCÍPIOS PARA UMA PARTICIPAÇÃO

POPULAR EFETIVA E UMA FISCALIZAÇÃO

EFICIENTE 10

CAPÍTULO II - INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO

POPULAR 21

CAPÍTULO III – DIFICULDADES PARA SE TER UMA PARTICIPAÇÃO

POPULAR EFETIVA 35

CONCLUSÃO 40

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 41

REFERENCIAIS BIBLIOGRAFICOS 42

WEBGRAFIA 44

ÍNDICE 46

8

INTRODUÇÃO

Para melhor compressão da Expressão “Participação Popular”

podemos citar a definição dada por Amaral Gavronski que diz:

A participação popular é a soberania do povo em ação, sua

expressão concreta; é o efetivo exercício do poder político pelo

seu titular. Como tal, é inerente e indispensável à democracia

contemporânea. (GAVRONSKI. 2006, p.1)

Expandindo este conceito para o assunto abordado podemos dizer que

Participação Popular na Administração Pública é quando o cidadão colocando

sua soberania em ação sem pensar em primeira instância no interesse pessoal

busca o interesse comum, utilizando-se de vias administrativas ou judiciais.

Para incentivar está mobilização popular a própria Constituição Federal

de 1988, também chamada de Constituição cidadã elencou em seu texto

diversos instrumentos de participação popular que viabilizam o acesso do

cidadão nas decisões de interesse Público.

Com o objetivo de estabelecer normas de finanças públicas voltadas

para a responsabilidade na gestão fiscal foi sancionada em 2000 a Lei

complementar 101, também chamada de Lei de Responsabilidade Fiscal que

também trouxe mecanismo que auxiliam no controle social.

Entendemos que a ordem jurídica brasileira é rica de instrumentos

normativos para operacionalização da participação popular na administração

pública, mas que ainda hoje a participação efetiva permanece escassa.

Este trabalho possibilitará um melhor entendimento dos princípios que

norteiam a participação popular como o da cidadania, da democracia e da

9

transparência, o conhecimento de alguns instrumentos de participação e

fiscalização popular, a importância e algumas dificuldades que envolvem este

ato.

10

CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS PARA UMA PARTICIPAÇÃO POPULAR

EFETIVA E UMA FISCALIZAÇÃO MAIS EFICIÊNTE

1.1 - Cidadania

Um dos princípios fundamentais do Estado Brasileiro é o da cidadania,

pois envolve os deveres como cidadãos, mas também envolve a garantia do

exercício dos Direitos fundamentais.

De acordo com a definição publicada no site “Significados” cidadania é

conceituada como:

[...] o exercício dos direitos e deveres civis, políticos e

sociais estabelecidos na constituição. Uma boa cidadania

implica que os direitos e deveres estão interligados, e o

respeito e cumprimento de ambos contribuem para uma

sociedade mais equilibrada.

Exercer a cidadania é ter consciência de seus direitos e

obrigações e lutar para que sejam colocados em prática. Exercer a

cidadania é estar em pleno gozo das disposições constitucionais.

Preparar o cidadão para o exercício da cidadania é um dos

objetivos da educação de um país. [...]. (SIGNIFICADOS, 2014,

p.1)

De acordo com este conceito podemos entender que cidadania é o

conjunto de direito e deveres elencados na Carta Magna de 1988 e o indivíduo

estará no exercício da sua cidadania quando estiver sendo contemplado seus

11

direitos e o mesmo estiver sendo cumpridor dos seus deveres, mas também é

função do Estado auxiliar o povo na construção desta consciência cidadã.

De acordo com o que preceitua o inciso II, do artigo 1º da Constituição

da República de 1988 a cidadania é um dos fundamentos da República

Federativa do Brasil para que o mesmo se constitua Estado Democrático de

Direito.

Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união

indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,

constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como

fundamentos:

I - a soberania;

II - a cidadania

III – [...] (Brasil, Constituição da República Federativa do

Brasil,1988).

Coutinho fala sobre a cidadania da seguinte forma:

“A gestão democrática da educação compreende noção de

cidadania como capacidade conquistada por todos os

indivíduos, de se apropriarem dos bens socialmente criados,

de atualizarem todas as potencialidades de realização humana

abertas pela via social em cada contexto histórico

determinado”. (COUTINHO, 2000, p.50)

Para que se tenha um País mais equilibrado socialmente, em que o

bem comum é prioridade e onde cada cidadão goze de seus direitos

constitucionais é necessário a população exercer sua cidadania de forma mais

efetiva atuando ativamente nas decisões concernentes a coisa pública.

É notório que quanto menos participação da população na gestão

pública mais distante os programa governamentais estarão das necessidades

12

da população já que o povo é o centro de todas as políticas, programas, ações

governamentais existentes e saber das reais necessidades que os envolve.

1.2 - Democracia

A Origem da palavra democracia é grega e quer dizer “poder do povo”

ou “poder exercido pelo povo”.

Democracia é um regime governamental em que todas as decisões

políticas partem do povo, no momento em que o mesmo ao votar elege seus

representantes, tendo como base um governo em defesa da maioria,

combinado aos direitos individuais e das minorias.

A gestão democrática também é um preceito constitucional, conforme

reza a Carta Magna:

Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce

por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos

desta Constituição. (Brasil, Constituição da República

Federativa do Brasil, 1988).

Podemos extrair deste texto que a década de oitenta trouxe no campo

social diversas inovações que começaram a caracterizar o Estado brasileiro

como uma democracia, reduzindo as conseqüências do regime autoritário,

definindo, assim a Constituição Federal de 1988, como um marco da transição

democrática brasileira.

E uma dessas inovações foi o regime democrático assumido pelo

Brasil que reúne os postulados democracia direta ou participativa e democracia

representativa.

13

A democracia representativa e a direta são duas formas distintas, mas

de fundamental importância de exercer cidadania. A primeira é caracterizada

pelo voto, momento em que o povo se dirige as urnas para eleger aqueles que

os representarão durante o período de 4(quatro) anos, almejando que suas

expectativas e necessidades sejam defendidas pelos tais representantes,

somente voltando novamente as urnas na eleição seguinte. Na democracia

participativa ou chamada democracia real, os cidadãos fazem parte

diretamente da discussão e decisões que terão de alguma forma impacto em

suas vidas.

Anda hoje quem pratica a democracia participativa é a minoria, pois

não houve uma educação para fazer parte ativamente das decisões, mas

somente escolher em um dia específico os representantes que farão a gestão

da coisa pública. É preciso romper com está cultura que se limita tão-somente

ao ato de votar e eleger representantes que exercerão a administração pública.

Se referindo à participação popular Dallari (1996, p.13-51) diz:

A participação popular significa a satisfação da necessidade do

cidadão como indivíduo, ou como grupo, organização, ou

associação, de atuar pela via legislativa, administrativa ou

judicial no amparo do interesse público - que se traduz nas

aspirações de todos os segmentos sociais. (Dallari, 1996,

p.13-51).

O maior interessado nas questões concernentes a administração

pública é o povo e ninguém melhor que a população para saber quais são suas

reais necessidades.

14

1.3 – Transparência

Com relação à Transparência na Administração Pública Kiyoshi

Harada se posiciona da seguinte forma:

A participação popular, sem dúvida alguma, confere maior

transparência nos atos da Administração Pública que, assim,

passa a revestir-se da característica de legitimidade, que

antecede o plano da legalidade. [...]. (HARADA, 2002, p.207)

Segundo KIYOSHI um dos instrumentos que viabilizam a transparência

nos atos da Administração pública é a Participação popular.

É através de uma Administração transparente que é possível detectar

atos que acabam destorcendo o objeto central da Administração da coisa

pública que é o bem comum, e a partir das medidas cabíveis é possível reduzir

os abusos por parte de agentes públicos, quando esses atos não são

combatidos acabam influenciando negativamente o bom uso e funcionamento

da esfera pública no âmbito geral.

A participação efetiva da sociedade na gestão pública é constitucional,

permitindo que os cidadãos não só participem das votações eleitorais, mas

também, fiscalizem de forma permanente a aplicação dos recursos públicos.

O cidadão tem o direito não só de escolher, de quatro em quatro anos,

seus representantes, mas também de realizar um acompanhamento em todo

período de mandato, de como esse poder delegado está sendo exercido,

supervisionando e avaliando a tomada das decisões administrativas.

De acordo com Carvalho:

[...] as autoridades fazendárias remeteram em abril de 1999,

inspirado nas experiências internacionais a cerca da matéria e

15

pressionados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o

projeto de Lei de Responsabilidade Fiscal ao Congresso

Nacional, com objetivo principal da transparência e

responsabilidade na gestão fiscal e, conseqüentemente, na

gestão pública do país. (CARVALHO, 2010, p. 28).

Foi no período em que o Brasil passava por um momento crítico, com

crise externa que atingiu a economia do país, cenário este que o Brasil

recorreu diversas vezes ao Fundo Monetário Internacional para obter

empréstimo, sendo necessário conquistar a confiança internacional, as

autoridades fazendárias remeteram em abril de 1999 o projeto de Lei de

Responsabilidade Fiscal ao Congresso Nacional.

A Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de Responsabilidade Fiscal que

trata da transparência, controle e fiscalização da gestão fiscal inciso I do

parágrafo único do art. 48 diz:

Parágrafo único. A transparência será assegurada também

mediante:

I – incentivo à participação popular e realização de

audiências públicas, durante os processos de elaboração e

discussão dos planos, lei de diretrizes orçamentárias e

orçamentos. (BRASIL, Lei Complementar 101, 2000).

A lei de responsabilidade Fiscal foi criada com base na

responsabilidade da gestão fiscal e na ação planejada e transparente com o

objetivo de se prevenir riscos e corrigir desvios capazes de afetar o equilíbrio

nas contas públicas, passando a transparência a ser um dos princípios

fundamentais da Lei fiscal para o controle.

16

Ainda abordando a transparência a LRF em seu art. 48 diz:

Art. 48. São instrumentos de transparência da gestão fiscal,

aos quais será dada ampla divulgação, inclusive em meios

eletrônicos de acesso público: os planos, orçamentos e leis de

diretrizes orçamentárias; as prestações de contas e o

respectivo parecer prévio; o Relatório Resumido da Execução

Orçamentária e o Relatório de Gestão Fiscal; e as versões

simplificadas desses documentos. (BRASIL, Lei Complementar

101, 2000).

Neste artigo há explicitamente a determinação ao governo de divulgar

o orçamento público de forma ampla e também possibilitar um

acompanhamento dos gastos públicos à sociedade através dos relatórios de

execução orçamentária.

A transparência certamente constitui um dos mais importantes pilares

da Lei de Responsabilidade Fiscal para que se alcance o equilíbrio das contas

públicas, exigindo, para tanto, a devida transparência das contas públicas na

aplicação e divulgação dos resultados alcançados. E também se coloca como

um instrumento democrático que busca o envolvimento dos cidadãos através

de participações mais ativas na gestão pública, viabilizando o controle social e

com o intuito de dar mais eficiência ao sistema de controle das contas

públicas.

Em 2009 foi publicada uma lei complementar que veio reforçar a

transparência na Administração das finanças pública, acrescentando

dispositivos a Lei de Responsabilidade Fiscal, através da Lei Complementar

131 de 27 de maio de 2009, conforme o seguinte artigo:

17

Art. 1o O art. 48 da Lei Complementar no 101, de 4 de maio de

2000, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 48.

Parágrafo único. A transparência será assegurada também

mediante:

I – incentivo à participação popular e realização de audiências

públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos

planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos;

II – liberação ao pleno conhecimento e acompanhamento da

sociedade, em tempo real, de informações pormenorizadas

sobre a execução orçamentária e financeira, em meios

eletrônicos de acesso público; [...] (Brasil, Lei Complementar

101, 2000)

Estes novos dispositivos reforçam mais a idéia de uma transparência

Administrativa através de uma Participação popular efetiva e também

estimulando a ampliação do acesso ás informações das atividades

governamentais. O objetivo é garantir ao cidadão o Direito de acompanhar o

governo aberto com participação social plena, e os resultados específicos

estão relacionados com a prevenção dos atos de corrupção na gestão pública.

Abordando ainda a questão da Transparência Martins Junior diz:

A transparência representa, pois, um ritual de passagem de um

modelo de administração autoritária e burocrática a

administração de serviço e participativa, em que a informação

sobre todos os aspectos da administração pública é o

pressuposto fundamental da participação. (MARTINS JÚNIOR,

2010, p.23).

18

Um grande passo para transparência pública no Brasil também foi a

edição da Lei n° 12.527, sancionada em 18 de novembro de 2011, pela

Presidente da República Dilma Roussef, tendo como objetivo assegurar o

direito fundamental de acesso à informação que diz:

Art. 3o Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a

assegurar o direito fundamental de acesso à informação e

devem ser executados em conformidade com os princípios

básicos da administração pública e com as seguintes

diretrizes:

I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo

como exceção;

II - divulgação de informações de interesse público,

independentemente de solicitações;

III - utilização de meios de comunicação viabilizados pela

tecnologia da informação;

IV - fomento ao desenvolvimento da cultura de transparência

na administração pública;

V - desenvolvimento do controle social da administração

pública. (BRASIL. Lei 12.527, 2011)

De acordo com a Lei referida é direito constitucional o acesso dos

cidadãos às informações públicas, em atenção aos princípios da Administração

Pública e é aplicável aos três Poderes da União, dos Estados, do Distrito

Federal e dos Municípios, bem como às entidades privadas sem fins lucrativos

que recebam recursos públicos. Neste texto foi ressaltada a forma de

transmissão dessas informações e percebemos um incentivo na utilização da

tecnologia.

19

Segundo KIYOSHI HARADA (2002, p.207) a internet é uma das

maiores aliadas quando se fala no movimento de participação popular em

torno da fiscalização ou controle social da Administração Pública quando diz

“[...] Essa participação pode ocorrer através da Internet disponibilizando as

diferentes matérias objeto de consulta popular em homepages específicos [...]”.

A grande evolução da tecnologia e multiplicação dos meios virtuais de

comunicação no final da década de noventa viabilizou a transmissão de vários

procedimentos administrativos para o ambiente virtual, tendo como benefício

agilidade na receptação de informação.

A Internet se tornou um dos grandes aliados no movimento de controle

social com foco na transparência da Gestão da coisa pública. Este instrumento

é de grande importância, pois o mesmo tem um alcance muito amplo com

relação a levar informações da Administração Publica à sociedade e também

em fornecer acesso a uma variedade de informações e documentos de

diversas instituições governamentais.

A internet como meio de comunicação possibilitou à sociedade obter

uma grande quantidade e variedade de informações a qualquer instante.

A transparência se tornou mais real com o advento da Internet, pois é

o melhor canal para a comunicação de informações dos agentes públicos

dando assim ciência à população das articulações governamentais e

possibilitando ao povo participar da formulação das políticas públicas e

também acompanhar a execução as mesmas.

Com o objetivo de dar transparência aos atos da Administração

Públicas, através da internet foram criados diversos sites que contém

informação que permite a sociedade ter conhecimento, participar e fiscalizar as

atividades governamentais, como por exemplo:

20

- http://www.portaltransparencia.gov.br/

- http://portal2.tcu.gov.br/TCU

- http://www.controlepublico.org.br/

- http://www12.senado.leg.br/orcamento

- http://www12.senado.gov.br/orcamentofacil

Com um olhar também na questão da transparência das ações

Públicas a própria Constituição dispõe em seu art. 37 que:

Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer

dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos

Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e,

também, ao seguinte. (BRASIL, Constituição da República

Federativa do Brasil, 1988).

A Publicidade é tratada pela constituição como um dos Princípios

Constitucionais da Administração Pública, ordenando, assim aos agentes

públicos dar transparência a sociedade sobre o conteúdo dos seus atos

oficiais, nas esferas direta e indireta, em todos os três Poderes e na esfera de

atuação de todos os entes federativos, sob pena de, assim não fazendo,

responderem por crime de responsabilidade.

Entendemos que uma sociedade bem informada (informações com

facilidade, clareza e rapidez) aliada a uma educação voltada na disseminação

do conhecimento com relação às questões governamentais, resulta em uma

população que participa mais efetivamente nas gestão pública através de suas

contribuições por meio de diversos instrumentos de participação popular.

21

CAPÍTULO II

INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR

“Todas as pessoas têm direito a participar através de

formas diretas e representativas na elaboração, definição,

implementação e fiscalização das políticas públicas e do

orçamento municipal das cidades, para fortalecer a

transparência, eficácia e autonomia das administrações

públicas locais e das organizações populares”. (Carta Mundial

pelo Direito à Cidade. 2006 p.4).

O Controle Social ou à participação popular na gestão da coisa pública

é direito do povo na mesma proporção que o direito a inviolabilidade do direito

à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, à educação,

saúde, e outros elencados na constituição, sendo importante ressaltar isso,

pois muitas das vezes este movimento realizado pela população é tido como

uma “invasão” à Administração Pública, não tendo como um direto

constitucional. Podemos entender a partir do que reza a constituição Federal

de 1988 no Parágrafo único do Art. 1º, que a democracia brasileira não se

resume a representativa, sendo assim necessária uma parceria entre Governo

e sociedade para se alcançar o bem comum.

Para maior esclarecimento do que é Democracia Indireta José Afonso

da Silva explica:

“Democracia indireta, chamada democracia representativa, é

aquela na qual o povo, fonte primária do poder, não podendo

dirigir os negócios do Estado diretamente, em face da

extensão territorial, da densidade demográfica e da

complexidade dos problemas sociais, outorga as funções de

governo aos seus representantes, que elege periodicamente.”

(SILVA, 2005, p. 136).

22

Pode se dizer através desta definição feita por José Afonso que a

Democracia indireta é exercida por meio dos votos, transferindo assim, aqueles

eleitos o poder de representar os anseios da população.

Também abordando este assunto Silva diz:

“A democracia representativa pressupõe um conjunto de

instituições que disciplinam a participação popular no processo

político, que vêm a formar os direitos políticos que qualificam a

cidadania tais como as eleições, o sistema eleitoral, os partidos

políticos, enfim mecanismos disciplinadores para a escolha dos

representantes do povo”. (SILVA. 2001.p.122).

Na democracia indireta o povo não exerce seu poder de forma direta,

mas é exercido através dos representantes legais, estes eleitos periodicamente

para que se exerça a função de governo.

Com o intuito de assegurar ao cidadão condições de intervir

efetivamente na gestão pública caracterizando assim uma participação popular

efetiva e mais direta a própria Constituição nos incisos I, II e III do art. 14

consagrou alguns mecanismos que facilitou a comunicação entre a sociedade

e o Estado, sendo está uma forma de exercer ativamente a participação

popular:

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio

universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para

todos, e, nos termos da lei, mediante:

I - plebiscito;

II - referendo;

III - iniciativa popular. (BRASIL, Constituição da República

Federativa do Brasil,1988).

23

Neste artigo constitucional percebemos que a soberania popular é

exercida de forma semidireta, sendo o plebiscito, o referendo e a iniciativa

popular instrumentos para o exercício da democracia direta.

Ferreira Filho trata a Forma de Governo semidireta da seguinte forma:

“Procurando temperar a hegemonia parlamentar na

democracia representativa – a soberania do parlamento – que

pode tornar oligárquico o regime, certas Constituições, como a

suíça, procuram assegurar ao povo a possibilidade de

intervenção direta na tomada das decisões políticas.

Estabelecem, assim, a democracia semidireta, que, embora

seja basicamente representativa, é direta na medida em que o

povo participa de modo mediato em certas decisões. Em geral

essa participação se dá pela iniciativa legislativa popular e pelo

referendum (ou seja, dano-se ao povo o poder de diretamente

propor ou aprovar medidas legislativas e até normas

constitucionais.” (FERREIRA FILHO, 1995, p. 81).

Está forma de governo abordada por Ferreira Filho que é a semidireta

foi a forma de Governo adotada pelo Brasil, sendo está a forma que funde a

representatividade com a participação direta da população.

Ainda sobre a forma de governo adotado pelo Brasil Jose Afonso da

Silva diz:

É no regime da democracia representativa que se

desenvolvem a cidadania e as questões da representatividade,

que tende a fortalecer-se no regime da democracia

participativa. A Constituição combina representação e

participação direta, tendendo, pois, para a democracia

participativa. É o que, desde o parágrafo único, do art. 1º, já

está configurado, quando, aí, se diz que todo o poder emana

do povo, que exerce por meio de representantes eleitos

24

(democracia representativa) ou diretamente (democracia

participativa). (SILVA, 1998, p.141-2).

Para José Afonso da Silva a forma de governo adotada pelo Brasil é a

semidireta, mas com uma inclinação para a democracia participativa.

Moraes faz comparação entre plebiscito e referendo da seguinte forma:

“Enquanto o plebiscito é uma consulta prévia que se faz aos

cidadãos no gozo de seus direitos políticos, sobre determinada

matéria a ser, posteriormente, discutida pelo Congresso

Nacional, o referendo consiste em uma consulta posterior

sobre determinado ato governamental para ratificá-lo, ou no

sentido de conceder-lhe a eficácia (condição suspensiva), ou,

ainda, para restringir-lhe a eficácia (condição resolutiva).”

(MORAES, 2003. p.237)

Estas são as primeiras formas de participação popular que

encontramos no processo legislativo brasileiro. O plebiscito e o referendo são

formas de consulta popular que ocorrem através de votação secreta e direta,

sendo que no plebiscito o cidadão é consultado para se manifestar sobre um

assunto antes da lei ser constituída, já o referendo cabe na situação em que o

cidadão deve opinar sobre uma lei que já foi aprovada no Congresso Nacional.

Interpretando o conceito de democracia, formulado por Lincoln, de que

é governo do povo, pelo povo e para o povo, comenta SILVA:

“Governo do povo significa que este é fonte e titular do poder,

de conformidade com o princípio da soberania popular (todo

poder emana do povo, inscrito no parágrafo único, do art. 1º da

Constituição Federal); Governo pelo povo quer dizer governo

que se fundamenta na vontade popular, que se apóia no

consentimento popular; Governo para o povo é aquele que

procura libertar o Homem de toda imposição autoritária e

garante o máximo de segurança e bem estar a todos. Assim,

25

podemos admitir que a democracia é um processo de

convivência social em que o poder emana do povo, há de ser

exercido direta ou indiretamente pelo povo e em proveito do

povo.” (SILVA, 2000, p.47)

De acordo com Silva o Governo precisa representar os anseios do

povo e gerir a coisa pública de tal forma que proporcione segurança e bem

estar a população. Nesta abordagem a Democracia é um processo em que a

soberania na Administração Pública é proveniente do povo.

Quando o povo não é representado de forma esperada não sendo

representado de forma fidedigna o mesmo pode se utilizar dos diversos

mecanismos de participação popular.

Mendes ensina que:

“Nas democracias diretas o grau de efetividade é considerável.

Nesse modelo, o próprio povo, por meio do referendo,

soluciona os problemas emergentes da gestão da coisa

pública. Todavia, à medida que o povo exerce a soberania por

meio de representantes, a efetividade cede e passa a

depender da eficácia do controle que se possa exercer sobre

seus mandatários e também, em grande parte, da freqüência

das eleições e da duração do mandato dos eleitos. [...]”.

(MENDES, 1994, p. 18-19)

Para Mendes na medida em o povo exercer a sua soberania por meio

dos representantes deixando de participar ativamente da gestão pública a

democracia se torna menos dinâmica e menos efetiva, pois reduz a

participação por meio dos mecanismos existente, como o referendo.

26

Ao longo de todo texto constitucional podemos encontrar meios que

possibilitam a comunicação da Sociedade com o Estado como podemos extrair

dos seguintes artigos:

Art. 5º [...]

XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos

informações de seu interesse particular, ou de interesse

coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob

pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja

imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

XXXIV - são a todos assegurados, independentemente do

pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de

direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação

popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou

de entidade de que o Estado participe, à moralidade

administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e

cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de

custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Art. 58. O Congresso Nacional e suas Casas terão comissões

permanentes e temporárias, constituídas na forma e com as

atribuições previstas no respectivo regimento ou no ato de que

resultar sua criação.

§ 2º - às comissões, em razão da matéria de sua competência,

cabe:

I – [...]

II - realizar audiências públicas com entidades da sociedade

civil;

Art. 74. [...]

27

§ 2º - Qualquer cidadão, partido político, associação ou

sindicato é parte legítima para, na forma da lei, denunciar

irregularidades ou ilegalidades perante o Tribunal de Contas da

União. (BRASIL, Constituição da República Federativa do

Brasil,1988).

Neste texto constitucional podemos ver o direito à informação, de

petição, à ação popular, a participação em audiências públicas e de denunciar,

esses são alguns mecanismos que estão dispostos na Carta magna que

possibilitam a interação da sociedade com os agentes públicos, concernente

ao acompanhamento, decisões e fiscalização da administração pública.

Abordando a questão da Petição José Afonso diz:

“A petição constituiu um meio de transação entre o Parlamento

e rei, que este cedeu, porquanto aquele já detinha o poder

financeiro, de sorte que o monarca não poderia gastar dinheiro

sem autorização parlamentar”. (SILVA, 1992, p. 140).

O direito de petição, previsto no artigo 5º, por exemplo, é o direto que

todo cidadão tem de reivindicar, exigir soluções, denunciar irregularidades em

atividades governamentais, reclamar e também fazer sugestões junto a

qualquer órgão ou instituição pública do Estado de Direito, na esfera do Poder

Executivo, Legislativo ou Judiciário ou em outros órgãos da Administração

direta e indireta. José Afonso também aborda a Petição como sendo uma

forma de controle da coisa pública.

Apesar do direito de petição ser um poderoso instrumento de

participação popular ele ainda é desconhecido por uma grande parte da

população.

28

Outro mecanismo de participação popular mencionado na Constituição

é a Audiência Pública, Sheila Cunha aborda este instrumento da seguinte

forma:

“Uma audiência pública é o procedimento de consulta à

sociedade ou a grupos sociais interessados em determinado

problema ou que estejam potencialmente afetados por

determinado projeto. É utilizado como canal de participação da

comunidade nas decisões em nível local; um tipo de sessão

extraordinária onde a população pode se manifestar, dando

sua opinião e seu ponto de vista acerca de um determinado

assunto, levando o responsável pela decisão a ter acesso aos

mais variados posicionamentos.

Tais inferências não determinam a decisão, pois têm caráter

consultivo apenas, mas a autoridade, mesmo desobrigada a

segui-las, deve analisá-las a propósito de aceitá-las ou não”.

(CUNHA, 2003 p.5)

Audiência pública de acordo com o texto exposto é um instrumento que

tem a função de proporcionar um dialogo democrático entre a sociedade e os

agentes Públicos, onde ambas as partes têm a oportunidade de se manifestar

diante de um problema específico, mesmo que seja um instrumento de caráter

consultivo é um instrumento de grande eficácia para que haja está troca de

informação entre Estado e sociedade.

Encontramos também em outros dispositivos legais a Audiência

Pública sendo uma aliada na promoção de uma administração pública mais

democrática, como podemos ver na Lei Complementar nº 101/2000 – Lei de

Responsabilidade Fiscal que trata da transparência, controle e fiscalização da

gestão fiscal no inciso I do parágrafo único do art. 48 que diz:

Parágrafo único. A transparência será assegurada também

mediante: (Redação dada pela Lei Complementar nº 131, de 2009).

29

I – incentivo à participação popular e realização de audiências

públicas, durante os processos de elaboração e discussão dos

planos, lei de diretrizes orçamentárias e orçamentos; (Incluído pela

Lei Complementar nº 131, de 2009). (BRASIL, Lei Complementar

101, 2000).

Podemos dizer que a Lei de responsabilidade fiscal foi também uma

importante promotora da participação popular e neste texto podemos perceber

o estímulo que é dado à participação popular nas questões que precedem a

elaboração dos planos, lei de diretrizes orçamentária e orçamentos por meio

da audiência pública.

Com o intuito de fortalecer e articular os mecanismos e as instâncias

democráticas de diálogo e a atuação conjunta entre a administração pública

federal e a sociedade civil foram instituídos a Política Nacional de Participação

Social - PNPS e o Sistema Nacional de Participação Social – SNPS, através do

Decreto 8.243 em 23 de maio de 2014.

Este Decreto veio regulamentar o que a constituição já havia previsto

instituindo a participação popular como política de Estado, visando a

consolidação e o fortalecimento das políticas pública, com base nas diretrizes

e objetivos do Plano Nacional de Participação Social e artigos 3º e 4º como

segue:

Art. 3º São diretrizes gerais da PNPS:

I - reconhecimento da participação social como direito do

cidadão e expressão de sua autonomia;

II - complementariedade, transversalidade e integração entre

mecanismos e instâncias da democracia representativa,

participativa e direta;

30

III - solidariedade, cooperação e respeito à diversidade de

etnia, raça, cultura, geração, origem, sexo, orientação sexual,

religião e condição social, econômica ou de deficiência, para a

construção de valores de cidadania e de inclusão social;

IV - direito à informação, à transparência e ao controle social

nas ações públicas, com uso de linguagem simples e objetiva,

consideradas as características e o idioma da população a que

se dirige;

V - valorização da educação para a cidadania ativa;

VI - autonomia, livre funcionamento e independência das

organizações da sociedade civil; e

VII - ampliação dos mecanismos de controle social.

Art. 4º São objetivos da PNPS, entre outros:

I - consolidar a participação social como método de governo;

II - promover a articulação das instâncias e dos mecanismos

de participação social;

III - aprimorar a relação do governo federal com a sociedade

civil, respeitando a autonomia das partes;

IV - promover e consolidar a adoção de mecanismos de

participação social nas políticas e programas de governo

federal;

V - desenvolver mecanismos de participação social nas etapas

do ciclo de planejamento e orçamento;

VI - incentivar o uso e o desenvolvimento de metodologias que

incorporem múltiplas formas de expressão e linguagens de

participação social, por meio da internet, com a adoção de

tecnologias livres de comunicação e informação,

especialmente, softwares e aplicações, tais como códigos fonte

livres e auditáveis, ou os disponíveis no Portal do Software

Público Brasileiro;

31

VII - desenvolver mecanismos de participação social acessíveis

aos grupos sociais historicamente excluídos e aos vulneráveis;

VIII - incentivar e promover ações e programas de apoio

institucional, formação e qualificação em participação social

para agentes públicos e sociedade civil; e

IX - incentivar a participação social nos entes federados.

(BRASIL, Decreto 8.243, 2014).

O decreto 8.243 de 2014 também relaciona alguns mecanismos de

participação popular e os define dos artigos I ao X do art. 2º que diz:

Art. 2º Para os fins deste Decreto, considera-se:

I – [...]

II - conselho de políticas públicas - instância colegiada temática

permanente, instituída por ato normativo, de diálogo entre a

sociedade civil e o governo para promover a participação no

processo decisório e na gestão de políticas públicas;

III - comissão de políticas públicas - instância colegiada

temática, instituída por ato normativo, criada para o diálogo

entre a sociedade civil e o governo em torno de objetivo

específico, com prazo de funcionamento vinculado ao

cumprimento de suas finalidades;

IV - conferência nacional - instância periódica de debate, de

formulação e de avaliação sobre temas específicos e de

interesse público, com a participação de representantes do

governo e da sociedade civil, podendo contemplar etapas

estaduais, distrital, municipais ou regionais, para propor

diretrizes e ações acerca do tema tratado;

V - ouvidoria pública federal - instância de controle e

participação social responsável pelo tratamento das

32

reclamações, solicitações, denúncias, sugestões e elogios

relativos às políticas e aos serviços públicos, prestados sob

qualquer forma ou regime, com vistas ao aprimoramento da

gestão pública;

VI - mesa de diálogo - mecanismo de debate e de negociação

com a participação dos setores da sociedade civil e do governo

diretamente envolvidos no intuito de prevenir, mediar e

solucionar conflitos sociais;

VII - fórum interconselhos - mecanismo para o diálogo entre

representantes dos conselhos e comissões de políticas

públicas, no intuito de acompanhar as políticas públicas e os

programas governamentais, formulando recomendações para

aprimorar sua intersetorialidade e transversalidade;

VIII - audiência pública - mecanismo participativo de caráter

presencial, consultivo, aberto a qualquer interessado, com a

possibilidade de manifestação oral dos participantes, cujo

objetivo é subsidiar decisões governamentais;

IX - consulta pública - mecanismo participativo, a se realizar

em prazo definido, de caráter consultivo, aberto a qualquer

interessado, que visa a receber contribuições por escrito da

sociedade civil sobre determinado assunto, na forma definida

no seu ato de convocação; e

X - ambiente virtual de participação social - mecanismo de

interação social que utiliza tecnologias de informação e de

comunicação, em especial a internet, para promover o diálogo

entre administração pública federal e sociedade civil . (BRASIL,

Decreto 8.243, 2014).

Cada um desses dez artigos mencionados no decreto 8.243 de 2014

cita um mecanismo de participação popular que permite um espaço para o

diálogo entre a sociedade civil e o governo onde o cidadão é aquele que

participa do processo decisório e na gestão de políticas públicas; auxilia

33

no processo de aprimoramento do serviço público, através do controle

social com as devidas reclamações, denúncias sugestões e elogios e

atua na prevenção e solução de conflitos sociais.

Estes mecanismos de participação quando colocados em prática

resultam em uma Administração pública mais transparente, uma gestão mais

eficiente e operante e conseqüentemente em programas e políticas públicas

mais alinhadas ás reais necessidades do povo. Estas formas de diálogo que a

população tem para intervir mais efetivamente nas questões que os envolvem

são importantes, pois está idéia de parceria do povo com o Estado facilita a

troca necessária de informações com relação as carência, dificuldades,

necessidades que atingem a sociedade.

A boa relação Sociedade e Estado contribui para um desempenho

político satisfatório, pois desta forma o Estado estará cada vez mais próximo

de alcançar a melhoria das condições de vida de toda a população.

Este decreto foi uma importante contribuição no campo social, pois é

um importante avanço democrático.

O decreto apenas regulamenta o que a Constituição já tinha previsto,

como a atuação de conselhos populares em órgãos públicos para

democratizar e dar maior transparência as ações governamentais.

Segundo Barbosa e Coutinho:

“O cidadão quando se insere em instrumentos participativos

entra no processo de construção coletiva do poder político e no

empoderamento da coisa pública, favorecendo a consciência

do ser cidadão e o fortalecimento da sua voz enquanto sujeito

político”. (BARBOSA e COUTINHO, 2012, p.7).

34

Com base no texto, conforme o cidadão vai utilizando os instrumentos

de participação, o mesmo avança no conhecimento da gestão da coisa pública

resultando assim, em uma consciência cidadã.

Os instrumentos de participação popular que foram mencionados dão

ao cidadão poder permitindo o acionamento de instituições para que estas

possam atuar sobre denúncias oriundas da sociedade.

Estes meios de participação nas intuições e políticas que estão a

disposição da sociedade devem ser acompanhados constantemente para que

se não percam ao longo do tempo os seus primeiros objetivos e se

mantenham fiéis os seus princípios e metas.

35

CAPÍTULO III

DIFICULDADES PARA SE TER UMA

PARTICIPAÇÃO POPULAR EFETIVA

“A ordem jurídica brasileira não é carente de instrumentos

normativos para operacionalização da participação popular na

administração pública. Mas a participação permanece escassa.

Falta uma clara percepção de suas dimensões não normativas

e a exploração mais atenta das normas existentes.”

(MODESTO, 2006, n. 46).

Segundo o texto a dificuldade para se ter uma Participação Popular

mais ativa não é a escassez de instrumentos de participação, então por que

até hoje uma grande parte da população não participa de forma direta na

gestão da coisa pública já que o nosso ordenamento Jurídico está repleto de

mecanismo que são canais de interação, dialogo sugestões, reclamações e

participação com a administração pública?

Podemos relacionar diversos fatores que contribuíram para

que ainda hoje diversos cidadão brasileiros apenas participassem de forma

representativa da vida política e administrativa da Administração Pública.

Quando Cotrim escreve sobre as limitações na Participação Popular

que os brasileiros viveram sob o comando das forças armadas ele diz:

Uma das características dos governos militares foi o

autoritarismo. Os membros do governo não se mostravam

dispostos a dialogar com os diversos setores da sociedade.

Por meio dos chamados Atos Institucionais (AI), os governos

militares foram restringindo as instituições democráticas e

impuseram censura aos meios de comunicação, como rádio,

televisão, jornais, revistas, etc. (COTRIM. 2002. p.557)

36

O Brasil viveu mais de 20 anos (entre 1964 e 1985) – sob o governo

regime autoritário militar, período este que foi marcado por falta de direitos

constitucionais, sem democracia, censura, perseguição política e repressão

aos que não apoiavam ao regime militar onde a participação dos cidadãos na

esfera pública era restringida e muitas das vezes frustrada.

De acordo com o texto os chamados Atos Institucionais (AI), que

foram decretos emitidos durante os anos após o golpe de 1964 no país foram

utilizados como mecanismo de legitimação e legalização das ações políticas

dos militares, sobrepondo a Constituição Federal e do Congresso Nacional, por

meio dos Atos Institucionais que o comando militar tomou medidas que

restringiram as instituições democráticas.

Durante o período em que o Brasil teve sua política direcionada

pelos militares muitos direitos constitucionais e leis foram infringidas, medidas

econômicas que não tiveram a participação da sociedade, esse período

doloroso a nível de liberdade de expressão em que passaram os brasileiros

tem até hoje impactado a cultura da participação direta de forma negativa, pois

foram 20 anos de repressão.

Rosa tratando deste período em que o Brasil viveu sob o controle

militar ele diz:

Foram vinte e um anos de regime ditatorial no país, que

significaram um período de muitos conflitos, violência e

resistência. Muitos líderes estudantis foram presos,

universidades foram invadidas e controladas, a União Nacional

de Estudantes foi sufocada. Boa parte da população que viveu

esse tempo conheceu formas muito específica de dor e silêncio

que, no contexto do regime, tiveram uma conotação de

coerção e medo (ROSA, 2006, p.37).

Neste período de ditadura militar foram feitas eleições indiretas para

presidente, cidadãos tiveram seus direitos constitucionais e políticos

37

cancelados, aconteceram intervenções em partidos políticos e sindicatos,

cassação de mandatos de parlamentares. No governo Militar foi criado o

chamado bipartidarismo, sendo permitido funcionamento, apenas de dois

partidos: Movimento Democrático Brasileiro (MDB) e a Aliança Renovadora

Nacional (ARENA), o MDB é era de oposição, mas de certa forma controlada,

o segundo representava os militares.

Aqueles que eram contra aos ideais do Governo militar eram

perseguidos, expulsas do país e em alguns casos até mortos.

Rocha trata da Participação Popular no governo militar da seguinte

forma:

Se a história política brasileira é entremeada de manifestações

populares singulares, com o golpe militar, a conjuntura política

e social do país foi radicalmente transformada. Até o início da

década de 60, pode-se dizer que se vivia um Brasil onde se

multiplicavam as lutas populares, destacavam-se os

movimentos pela Reforma Agrária, pela casa própria, pela

redução da tarifa dos transportes públicos, dentre outros. Com

o advento da ditadura militar passa-se a viver um Brasil onde

predomina um cotidiano de violência que impede todo e

qualquer tipo de mobilização política da sociedade. Os canais

formais de manifestação e diálogo foram fechados, ficando os

movimentos populares e organizados da sociedade à deriva,

isto é, sem alternativas consideradas lícitas para a canalização

de suas insatisfações e demandas ao Estado. (grifo nosso).

(ROCHA, 2008, p.133)

Esse período da história do Brasil onde viveu sob o regime autoritário

militar a participação dos cidadãos na esfera pública era desencorajada e

limitada.

No final deste período começaram surgir por fora dos espaços oficiais

e controlados, uma pluralidade de experiências participativas, mas os

38

resquícios desta barreira que foi colocada entre a sociedade e o Governo

perduram até hoje, quando ouvimos as seguintes frases “Falar de política é

muito chato” – “eu não gosto de falar sobre política” isso quer dizer também

que ainda sofremos as conseqüência de períodos como o da ditadura militar,

momento de muita repressão e período este que causou uma certa aversão

em uma parte da sociedade com relação aos assuntos ligados a gestão da

coisa pública.

Segundo DIOGO FIGUEIREDO MOREIRA NETO (1992), há três níveis

de dificuldades (situações patológicas) que impedem a efetiva participação

popular:

“1ª - Apatia política – é a falta de estímulo para a ação cidadã.

Pode estar relacionada à falta de informação sobre os direitos

e deveres dos cidadãos; de vias de comunicação direta

realmente ágeis do cidadão em face do aparato do Estado; a

falta de tradição participativa e à excessiva demora na resposta

de solicitações ou críticas;

2ª - Abulia política – é não querer participar da ação cidadã, é

recusar-se. Pode estar relacionado ao ceticismo quanto a

manifestação do cidadão efetivamente ser levado em

consideração pela administração pública; a falta de

reconhecimento e estima coletiva para atividades de

participação cidadã;

3ª - Acracia política – é não poder participar da ação cidadã.

Está ligado diretamente ao baixo grau de escolarização dos

requerentes; ao formalismo administrativo e a ausência da

prática de conversão de solicitações orais em formalizadas; a

falta de esclarecimento dos direitos e deveres das partes nos

processos administrativos; à complexidade e prolixidade

excessiva das normas administrativas, além dos graves

39

problemas de ordem política e econômica. (DIOGO

FIGUEIREDO, Moreira Neto, 1992)

Para Moreira Neto existem diversas fontes inibidoras da vontade de

participar ativamente das questões que envolvem a Administração Pública, a

primeira fonte inibidora abordada é a apatia política que é a falta de estimulo

que pode ser originada na falta de informação com relação aos diretos e

deveres que envolvem os cidadãos, a segunda é a abulia política que está

relacionada com a descrença quanto à manifestação do cidadão efetivamente

ser levada em consideração pelo governo, muitas vezes resultada da falta de

retorno com relação às sugestões, solicitações e reclamações e a terceira é a

acracia política tem a ver com o nível de escolaridade, a dificuldade de

comunicação entre o povo e o governo.

Estes e outros problemas que vem afastando ao longo dos anos uma

parte da população podem ser resolvidos através do fortalecimento dos laços

de confiança entre o cidadão e o governo, maior troca de informação, contínua

melhora no aparelhamento público de informação, inserir a discussão de

assuntos ligados a administração pública no sistema de educação e outras

ações que colaborem para uma população mais ativa na gestão da coisa

pública.

40

CONCLUSÃO

É notável o quanto o Brasil avançou com relação ao espaço de

comunicação entre o governo e a sociedade com as possibilidades de

participação, através do controle, fiscalização, definição de prioridades,

reclamações e demais formas de influência na gestão da coisa pública, sendo

que percebemos que a ordem jurídica brasileira não carece de mais

instrumentos normativos para participação popular na administração pública,

no entanto a participação permanece reduzida.

O voto não pode ser a principal e para muitos a única forma de

participação na gestão pública, os nossos dispositivos legais ( Leis, decretos e

a própria constituição) estão repletos de outros mecanismos de participação

direta, como: Conselhos de políticas públicas, audiência pública, mesa de

diálogo, Ouvidoria Pública, petições, plebiscitos, referendos, ambiente

virtual(internet) e outros instrumentos que auxiliam para um melhor ambiente

de discussão entre o Estado e a sociedade, também de fortalecimento da

democracia.

Ainda existe certo distanciamento de parte da população com

questões que envolvem política e administração pública faltando ainda um

conhecimento mais profundo dos instrumentos de participação, para se ter

melhora neste cenário é necessário realizar um trabalho continuo direcionado

para a formação da sociedade, com políticas de educação, no intuito de formar

cidadãos conscientes que participem ativamente da Gestão Pública e acima de

tudo compromisso de ambas as partes (Governo e sociedade) em busca do

bem comum.

41

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AI Atos Institucionais

ARENA Aliança Renovadora Nacional

ART Artigo

FMI Fundo Monetário Internacional

HOMEPAGES Página principal de um site da internet

LRF Lei de Responsabilidade Fiscal

MDB Movimento Democrático Brasileiro

PNPS Política Nacional de Participação Social

SNPS Sistema Nacional de Participação Social

SOFTWARE Programa que Comanda o Funcionamento de um

Computador

42

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Contas da União. n. 118, maio/ago. 2010, p.28

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Saraiva, 2002. p.557

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DALLARI, Pedro B. de Abreu, 1996. “Institucionalização da participação popular nos municípios brasileiros”. Instituto Brasileiro de Administração Pública, Caderno n. 1, 1996, p. 13-51

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Comentada e legislação correlata anotada. São Paulo: Editora Juarez de

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MARTINS JÚNIOR, Wallace Paiva. Transparência administrativa: publicidade,

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MENDES, Antônio Carlos. Introdução à teoria das inelegibilidades. São Paulo:

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MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional, 2003, p. 237.

43

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SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, São Paulo: Malheiros , 2001, p. 122 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 26. ed. Ver. Atual. São Paulo: Malheiros, 2005, p.136

44

WEBGRAFIA

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03/ leis/lcp/lcp101.htm>. Acesso em: 20 outubro 2014.

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45

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46

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2

AGRADECIMENTO 3

DEDICATÓRIA 4

RESUMO 5

METODOLOGIA 6

SUMÁRIO 7

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I

PRINCÍPIOS PARA UMA PARTICIPAÇÃO POPULAR

EFETIVA E UMA FISCALIZAÇÃO MAIS EFICIENTE 10

1.1 – Cidadania 10

1.2 – Democracia 12

1.3 – Transparência 14

CAPÍTULO II

INSTRUMENTOS DE PARTICIPAÇÃO POPULAR 21

CAPÍTULO III

DIFICULDADES PARA SE TER UMA PARTICIPAÇÃO

EFETIVA 35

CONCLUSÃO 40

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 41

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 42

WEBGRAFIA 44

ÍNDICE 46