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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL: COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL
Por: Lucille Lopes do Nascimento
Orientador
Prof. Rodrigo Monteiro Rosa
Rio de Janeiro
2012
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
RELACIONAMENTO INTERPESSOAL: COMPETÊNCIA
PROFISSIONAL E ORGANIZACIONAL
Apresentação de monografia à AVM Faculdade
Integrada como requisito parcial para obtenção do
grau de especialista em Pedagogia Empresarial.
Por: Lucille Lopes do Nascimento
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AGRADECIMENTOS
À Deus, o maior Mestre; à minha
primeira educadora, Luzia; ao meu
educador-aprendiz Daniel; aos
Professores Branca Terra, Lindomar da
Silva, Vinicius Calegari, Adelia Araújo;
João Luiz e Paulo José; às
companheiras de todo sábado, de aula,
de lanche e de samba. Obrigada a
todos por me ajudar a tornar mais esse
sonho possível.
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DEDICATÓRIA
Para minha Mãe Luzia, força criadora do
meu ser, da minha luta e da minha vitória.
Para Elida, Paula e Flavia, minhas
companheiras de RH, pelo aprendizado
do dia a dia e a inestimável oportunidade
de ser profissional e pessoa melhor.
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RESUMO
Este trabalho trata-se de um estudo empírico-teórico que tem como
propósito a análise da construção e manutenção dos relacionamentos
interpessoais como processos capazes de contribuir para o aumento da
produtividade, tendo como enfoque a evolução do conceito de trabalho, o clima
e a cultura que promove os relacionamentos entre os trabalhadores.
Inicialmente os conceitos de trabalho e cultura organizacional foram explorados
a fim de analisar as transformações e impactos sobre a atividade do trabalho.
Entende-se que o promover um ambiente saudável de vida no trabalho no
aspecto de atenção, colaboração e participação, são capazes de contribuir
significativamente para o aumento da produtividade, levando em consideração
a atividade e a cultura da empresa, o que beneficia não só trabalhadores como
toda a organização. Este trabalho se propõe a mostrar como o trabalho
influencia na vida do homem tanto quanto o indivíduo no funcionamento de
uma organização. . Pretende-se ainda apontar a questão dos conflitos, como
incentivar e manter bom ambiente relacional no trabalho influenciam na
operação de uma empresa, com o intuito de provocar uma reflexão a respeito
dos temas trabalho, sociedade, relacionamentos e bem-estar do trabalhador.
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METODOLOGIA
Por se tratar de um estudo empírico-teórico, este trabalho contou com
leitura de diversas publicações sobre o tema e pesquisa bibliográfica aos
principais autores sobre temas correlatos, que influenciaram a Escola de
Administração e que influencia a moderna Gestão de Pessoas. Foram
analisados também como material de pesquisa cases empresariais publicados
em revistas especializadas em Recursos Humanos, entrevistas e pesquisas
anteriores publicadas em revistas direcionadas ao público de Psicologia,
Pedagogia e Recursos Humanos, e em sites especializados em
Comportamento Organizacional.
Com base na leitura, foi verificado no ambiente corporativo como se
desenvolviam as teorias levantadas pelos autores, a fim de analisar a
construção dos relacionamentos interpessoais em seu ambiente real.
A observação do ambiente de trabalho atual também foi fundamental
para a elaboração deste trabalho, que contou fundamentalmente com a
reunião das experiências vividas em outras organizações. O tema foi levantado
na organização atual devido a sua importância para as organizações
modernas, desta forma, julgou-se apropriado que este trabalho falasse a
respeito.
O suporte teórico para a pesquisa bibliográfica teve como fontes
autores de temas que são pertinentes a qualquer estudo do ambiente
organizacional, como qualidade de vida no trabalho, estresse, cultura e clima
organizacional, gestão de pessoas e administração de recursos humanos.
Algumas dsa fontes principais desta pesquisa foram Fleury (2002), Limongi-
França (2004) e Robbins (2005), cujos estudos das relações humanas nas
organizações priorizam o comportamento humano enquanto parte fundamental
da organização, e fontes como Bergamini (2008), Luz (2003) e Maximiano
(2006) que analisam a eficácia da administração das organizações ligada a
produtividade dos que a compõem.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I - A relação do homem com o trabalho 10
CAPÍTULO II - O fator humano nas organizações 15
CAPÍTULO III - Clima e cultura organizacional 22
CAPÍTULO IV - Relacionamentos Interpessoais 30
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35
BIBLIOGRAFIA CITADA 37
ÍNDICE 39
FOLHA DE AVALIAÇÃO 40
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INTRODUÇÃO
Este trabalho trata do tema Relacionamento Interpessoal, com a
finalidade de verificar a ideia proposta de que o comportamento social, as
relações e a sociabilização entre os colaboradores sejam capazes de
influenciar no crescimento da organização, ligado diretamente produtividade de
seus colaboradores.
Desta forma, questiona-se, bons Relacionamentos Interpessoais são
capazes de influenciar no crescimento pessoal e profissional do indivíduo e
aumento da produtividade da organização?
Pretende-se demonstrar que trabalhadores que se relacionam com seus
pares, com chefia e subordinados de maneira saudável num ambiente assim
propício criado e valorizado na cultura organizacional tendem a ser mais
comprometidos, integrados e motivados, assim mais empenhados na busca do
atingimento das metas e cumprimento dos objetivos da organização1.
Desta forma, cabe analisar como as empresas modernas tratam em sua
cultura organizacional o clima e o ambiente no que se refere ao bem-estar e
relacionamento dos colaboradores e qual a contribuição deste processo nesta
realidade. Cabe também mostrar através de referências utilizadas por outros
autores que profissionais com boas perspectivas num bom ambiente favorável
são pessoas saudáveis, motivadas, perceptivas, seguras e, portanto mais
produtivas.
Neste estudo analisa-se a experiência de diversos autores sobre o tema,
além de experiências de empresas de segmentos diversos. No ambiente
organizacional são levados em consideração fatores estressores, e as
pressões geradas pela crescente competitividade interna e do mercado, bem
como pontos relevantes para a disseminação de um bom relacionamento de
1 Neste estudo, apresenta-se como produtividade, o atingimento das metas com eficiência e eficácia, e gerador de lucro para a organização. De acordo com Limongi-França (2008, p. 44) “a produtividade tem sido definida como o grau de aproveitamento dos meios utilizados para produzir bens e serviços. Em geral, a perspectiva é aproveitar ao máximo os recursos disponíveis para chegar a resultados cada vez mais competitivos”.
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acordo com a cultura da empresa. O estudo se restringe ao indicador
produtividade como resultante deste processo.
Devido ao aumento da competitividade empresarial gerado pela
globalização e avanço tecnológico, as organizações estão olhando também
para dentro de casa, uma vez que as novas políticas de RH tendem a colocar o
colaborador como peça fundamental para o atingimento destas metas
externas. A vida das pessoas impacta na organização que, consequentemente,
impactará na sociedade. A qualidade de produtos e serviços tem sido
enxergada como dependente também da qualidade de vida no trabalho de que
quem os produz e os presta. Colaboradores socialmente saudáveis são mais
motivados e produtivos.
Para os profissionais, trabalhadores em geral, este assunto é
importante, pois trata-se de mais teoria a respeito do que realmente deve ser
valorizado no ambiente de trabalho, de quais condições são importantes para
que o trabalhador sinta-se efetivamente parte da organização da qual participa.
Para a comunidade, todo estudo é válido, pois é a partir de pequenos
estudos que surgem as grandes teorias através das quais questionamentos do
cotidiano, de pessoas e organizações podem ser entendidas a luz da ciência e
não apenas do senso comum.
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CAPÍTULO I
A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO
A IMPORTÂNCIA
Desde o início da humanidade até os dias atuais, o conceito de trabalho
vem sendo alterado: já foi considerado como sinal de inferioridade e
confundido com escravidão. Etimologicamente, trabalho vem do latim tripalium,
um instrumento de tortura. Com a evolução da sociedade, o trabalho como
sinônimo de tortura e sacrifício foi substituído pela ocupação que dignifica a
pessoa, fonte de realização pessoal e social.
Para Karl Marx2, em O Capital, o trabalho é atividade essencial para a
auto-humanização do ser humano, que transforma natureza e realiza o homem
e pela qual o homem se faz homem. A teoria marxista influenciou as mudanças
da economia e da sociedade, na visão de trabalho pelas organizações e
próprios trabalhadores do início de século XX.
Essa concepção macro a respeito de trabalho, sobre função na vida do
homem e da sociedade, foi reduzida ao meio do qual se tira o sustento. O
entendimento de trabalho também pode ser confundido como emprego, ou
seja, estar ligado a uma organização em atividade remunerada. O próprio ser
humano não se vincula a tal conceito formulado pela teoria marxista, afinal, os
tempos são outros e o que outrora fora objeto de estudo, foi confundido com a
prática da prestação e contraprestação3 de serviço.
No dicionário, trabalho está definido como:
tra.ba.lho
(baixo-lat tripaliu) sm 1 Exercício material ou intelectual para fazer ou conseguir alguma coisa; ocupação em alguma obra. 2 Atividade remunerada ou assalariada; serviço, emprego. 3 Local onde se
2 Karl Marx (1818-1883): filósofo, sociólogo e economista alemão. 3 Salário.
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exerce tal atividade. Dar-se ao trabalho de: incomodar-se, empenhar-se em (fazer alguma coisa). 4
Esta visão minimalista tirou do trabalho sua característica
transformadora, instrumento sociabilizador e de fonte do conhecimento e
desenvolvimento. Rever esta concepção é também rever o próprio conceito de
vida humana. O trabalho é parte fundamental da vida; trabalho e vida estão
ligados, especialmente quando se leva em consideração que é no primeiro que
se passa boa parte da segunda.
Passamos cerca de um terço das horas do dia no trabalho. Isso leva a crer que devemos esperar que o trabalho satisfaça muitos tipos de necessidades ― físicas, sociais, egoísticas ― e que, além disso, essas necessidades possam ser satisfeitas de muitas maneiras diferentes ― fora do trabalho, em torno do trabalho e por meio do trabalho. (MINICUCCI, 2009, p. 213).
Quando a energia do ser humano é direcionada para algo que lhe dê
prazer e satisfação, que lhe satisfaça necessidades e lhe traga a realização de
seus desejos, é criada uma ligação entre os valores individuais e os coletivos,
e é desta ligação que surgem as trocas de conhecimento e o consequente
desenvolvimento humano. E isso é o que transforma e faz o mundo caminhar.
O trabalho é uma forma de integração para que aconteçam essas trocas, é
quando e onde cada um desprende de si o seu melhor e divide com o outro,
absorvendo um do outro para atingir o objetivo individual e o coletivo ― da
organização.
Uma das mais fortes necessidades do homem é sentir-se importante, é sentir que está realizando alguma coisa, que está fazendo algo de valor. [...] O trabalho dá a sensação de pertencer à sociedade, leva a formar amigos, proporciona o sentimento de ter um propósito na vida. (MINICUCCI, 2009, p. 218).
4 Dicionário Michaelis Escolar – Português, 2008.
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O trabalho visto como socialmente importante na vida do homem, foi
retratado também na letra da música popular brasileira de Gonzaguinha5:
“Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida E vida é trabalho E sem o seu trabalho O homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata”
Mundialmente o trabalho teve seu reconhecimento como essencial a
formação humana, tanto que ganhou legislações específicas que amparam o
trabalhador. No Brasil existe a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT,
criada pelo Decreto-Lei 5.452 em 1º de maio de 1943. Este se tornou o dia em
que se comemora no país o Dia do Trabalho.
Entende-se, portanto, que o trabalho esteja muito além da condição
financeira: pode-se analisar como um fator de relação social do homem com o
meio no qual está inserido.
Na atualidade, a atividade do trabalho se faz de fato necessária para
auto-humanização do homem e desde cedo é incentivada, com programas que
inserem, por exemplo, o jovem no mercado de trabalho, em busca não apenas
de uma fonte de renda, mas principalmente da ocupação que o torne um
cidadão, ser humano digno e capacitado a perpetuar a transformação da
sociedade. Portanto, o trabalho tido como algo negativo se perde em meio a
realidade de que apenas através dele é que o homem seja capaz de dignificar
sua existência, tendo uma renda que o permita viver essa condição e com a
liberdade que o permita optar pelo caminho do trabalho para sua evolução.
“Na nova sociedade, surgida da generalização das máquinas, deverá
despontar uma jornada de trabalho flexível, uma renda mínima que garanta a
dignidade humana e o tempo livre voltado para a auto-realização.” (SILVA,
1999, p. 113).
O trabalho movimenta a economia, a política e a sociedade. E, porque
não dizer, a forma como estes aspectos interagem entre si. A globalização que
5 Trecho de Um homem também chora, do álbum Alô Alô Brasil, 1983.
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transformou o mundo e a sociedade capitalista, modificou também os
conceitos e percepções sobre trabalho.
De acordo com Limongi-França (2004, p. 22) “a agilidade e a velocidade
das informações ainda são limitadas pela fronteira de acesso a tecnologia e
educação digital, mas vive-se a era do conhecimento”.
É nesta era que a informação se torna o item fundamental de
qualificação para o trabalho, bem como torna também o trabalhador mais
atento e preocupado com o que pode ser modificado e o capacita a ser agente
destas mudanças. E as mudanças não passam apenas pelo campo da
tecnologia das ferramentas e processos de trabalho enquanto tarefa, mas
também passam pelo campo do comportamento, das necessidades individuais
do trabalhador e do mercado consumidor que espera cada vez mais um
atendimento rápido e com qualidade que atenda ou supere as expectativas. A
amplitude do mercado globalizado demanda um conhecimento maior do
trabalhador e mais capacidade organizacional de administrar as relações de
trabalho, alinhando a missão da organização com o bem-estar dos
trabalhadores. O ritmo transnacional de trabalho pressupõe atenção a
qualidade de vida de quem trabalha na execução das tarefas, planejando e
analisando e, esperando não só a contraprestação financeira, mas também as
condições de realizar tudo isso em comunhão com a satisfação de desejos
individuais.
Segundo Limongi-França (2004, p. 25) “a globalização tem impulsionado
novas relações de trabalho e tendências que, certamente, estão refletindo na
segurança, na saúde e nas expectativas do trabalhador”.
Giddens (1997, p. 578), sintetiza este pensamento ao afirmar que
“podemos definir o trabalho como a realização de tarefas que envolvem o
dispêndio de esforço mental e físico, com o objectivo de produzir bens e
serviços para satisfazer necessidades humanas”, o que, na Era da Informação,
se faz cada vez mais importante na condição humana, pois é o que mantém
homem, natureza e sociedade em contínua transformação e o que coloca o
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trabalho como condição principal para a construção de uma nova organização
social.
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CAPÍTULO II
O FATOR HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES
OS PRIMEIROS ESTUDOS
Este estudo sobre Relacionamentos Interpessoais no Ambiente de
Trabalho, para ser melhor entendido, deve começar com a evolução da
sociedade, com um entendimento sobre o momento em que surgiram as
principais teorias administrativas relacionadas ao trabalho, quando houve
estudo sobre o trabalho como tarefa e do homem como trabalhador e
realizador desta tarefa.
A consolidação do capitalismo em substituição a economia feudal levou
ao início da economia capitalista industrial. O sistema de trabalho sofreu
grande mudança, a economia que era de subsistência, ou seja, para o
sustento de quem produz, passou a ser de produção industrial para consumo
de terceiros.
O processo de modernização da sociedade, a partir do fim da Idade Média, foi lento e gradual. O crescimento do comércio, a introdução de uma economia monetária e o crescimento das cidades a partir do século XIV enfraqueceram a economia feudal, baseada na terra e na baixa mobilidade social. (MOTTA; VASCONCELOS, 2004, p. 22).
Esta mudança na sociedade e a transformação econômica e suas
consequências, somente foram possíveis devido ao grande número de
camponeses que migraram do campo para a cidade para transformar sua força
em trabalho assalariado. Porém, a realidade não foi tão fácil quanto se
pensava. O trabalho assalariado estava aquém do esperado com a
industrialização da sociedade. Cada vez mais mão de obra com menor
contraprestação e sem nenhuma preocupação com o bem-estar dos
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trabalhadores. O crescimento da economia era promissor, mas o envolvimento
do trabalhador com este processo, não.
A Revolução Industrial, responsável por esse fabuloso crescimento econômico, teve, no entanto, um custo social. Os camponeses que vieram do campo para a cidade devido ao cercamento dos campos, tinham que vender a sua força de trabalho em troca de salários irrisórios para sobreviver. (MOTTA; VASCONCELOS, 2004, p. 27).
Toda mudança brusca ou não planejada pode ter fortes consequências,
e para acompanhar o ritmo acelerado da produção industrial da época, os
trabalhadores ― sem distinção de sexo ou idade ― trabalhavam mais de 12
horas por dia, em condições precárias, que contavam ainda com a péssima
qualidade de vida, como pobreza, doenças e sujeira que invadiam as cidades.
Era o trabalho que não contribuía para a dignidade humana, pelo contrário,
tirava o sentido de realização dos homens.
Com o tempo as revoltas operárias que reagiam contra o sistema de
trabalho da época surgiram com muita força. As máquinas eram o mais
importante da produção e os trabalhadores destruíam-nas; as máquinas
davam o sustento, mas também eram consideradas a causa da péssima
condição de trabalho. Associações de classe surgiram para cobrar melhorias
nestas condições precárias e, na medida em que se fortaleciam em suas
causas, as políticas de gestão da época transformavam-se para assumir uma
postura melhor em relação ao operariado.
O salário não era o que bastava para os trabalhadores. Exigiam
melhores condições de trabalho, que poderia influenciar diretamente na
produção. Com isto não tardaram a surgir diversas teorias baseados em
estudos feitos com grupos de trabalho a fim de identificar o que mais seria
importante para o trabalhador além do salário, a fim de verificar o que de fato
faria a produção por parte dos trabalhadores aumentar.
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Estes estudos e publicações formam as principais teorias das Escolas
de Administração, tendo como objetivo principal a melhora na relação trabalho
versus trabalhador.
2.1. ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO CLÁSSICA
Ainda no final do século XIX os Estados Unidos já eram a principal
potência econômica e industrial do mundo. Foi nesta época que Frederick
Winslow Taylor formalizou a teoria da Administração Científica, na qual o foco
era na estrutura adequada da produção, onde o trabalhador era tido como um
ser racional que tinha a capacidade de implantar sistemas que, funcionando
adequadamente, garantiriam o perfeito andamento do trabalho. Esta teoria se
preocupou fundamentalmente com a organização do trabalho.
Uma das ideias centrais do Movimento de Administração Científica é a de que o homem é um ser eminentemente racional e que ao tomar uma decisão conhece todos os cursos de ação disponíveis, bem como as consequências de opção por qualquer um deles. Pode assim, escolher sempre a melhor alternativa e maximizar os resultados de sua decisão. (MOTTA; VASCONCELOS, 2004, p. 33, 34).
Isto posto, a condição humana no processo de trabalho não era
considerada, muito menos eram observadas as necessidades dos
trabalhadores no ambiente de trabalho. O homem era uma peça da
engrenagem. O processo era composto de força de trabalho em troca de
salário, era a ligação entre indústria e operariado. Não obstante, havia
necessidade de acompanhamento para que os trabalhadores executassem
suas tarefas, para que estas fossem aperfeiçoadas.
Incentivos financeiros adequados, constante vigilância e treinamento eram as ações consideradas suficientes para garantir boa produtividade. [...] Caso houvesse queda de produtividade, o elemento
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humano não era considerado. Buscava-se nas estruturas organizacionais as causas dos erros. Caso estas fossem novamente analisadas e aperfeiçoadas, os problemas deveriam ser logicamente sanados. (MOTTA; VASCONCELOS, 2004, p. 33, 34).
Esta era a posição da Escola Clássica de Administração, que não via no
trabalhador fundamento para a melhora ou piora na produtividade, este era
apenas mais uma peça da engrenagem; a máquina era a peça fundamental
deste processo de trabalho.
2.2. ESCOLA DE RELAÇÕES HUMANAS
O estudo da força de trabalho ― o homem enquanto trabalhador e,
portanto, foco principal ― teve início em 1924 com diversos experimentos até
se consolidar como a Escola das Relações Humanas, na qual se destacou
entre outros, George Elton Mayo. Em Hawthorne, foram feitos experimentos na
fábrica da Western Eletric nos Estados Unidos, a fim de testar os métodos da
abordagem científica. Foi uma tentativa de mudar a orientação clássica das
organizações e que, portanto, passou a se preocupar com o aspecto humano
do trabalho, ou seja, o trabalhador.
Os estudos de Hawthorne levantaram sérias questões sobre o enfoque da eficiência da abordagem da administração científica e dos princípios de administração. Ao fazer isso, estimularam o debate sobre a importância da satisfação humana e do desenvolvimento pessoal no trabalho. (WAGNER III; HOLLENBECK, 2006, p. 15).
Destes experimentos foi concluído que havia aumento de produtividade
em locais melhores iluminados, com jornadas de trabalho simplificadas, com
pausas para descanso, com bom relacionamento do gestor e com incentivos
financeiros. Houve a preocupação em melhorar o ambiente de trabalho, a fim
de verificar e aproveitar o comportamento humano, partindo da premissa de
que pessoas felizes seriam mais produtivas.
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Reconhecendo-se o poder das atitudes individuais no trabalho, chega-
se a valorizar um ambiente de trabalho mais humano, mais apto a
satisfazer as preocupações profissionais de ordem individual em
relação ao trabalho, e assim, se associam satisfação e produtividade,
e se tenta maximizar a primeira para atingir a segunda. (CHANLAT,
2008, p. 209).
A partir destes estudos o homem enquanto trabalhador passou a ter
mais importância na organização, em função de sua satisfação pessoal no
trabalho que estaria ligada também ao aumento da produtividade.
Segundo Maximiano (2006, p. 208) “ficou claro que a produtividade e o
desempenho das organizações dependem também do comportamento das
pessoas, e não apenas da eficiência dos sistemas técnicos”.
A sociedade industrial tomou o conceito de emprego para designar
trabalho, porém, com o reconhecimento do valor humano para as
organizações, cada vez mais se sente a necessidade de ter no trabalho o
sentido de auto-realização, seja por meio de desenvolvimento, seja por meio
de crescimento profissional ou seja por qualidade de vida na realização das
tarefas.
O trabalho, neste conceito amplo, é ponto de ligação entre todas as
atividades humanas, pois é o meio pelo qual o homem consegue transformar,
unindo sua capacidade de sociabilização a de adquirir conhecimento, matéria
em produtos e serviços, mudando e construindo a si a sociedade da qual
participa.
Sendo assim ambas as Escolas mostraram e consolidaram posições
importantes na relação de trabalho que pode ser unificado com o pensamento
de que é fundamental o equilíbrio entre a estrutura formal da organização e as
relações humanas que efetivamente movimentam esta organização.
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Por volta de 1920, a sociedade americana viu nascer estudos a
respeito do desenvolvimento das ciências humanas no que tange ao
crescimento das organizações. O homem enquanto força de trabalho, que até
então era considerado uma peça da engrenagem, passou a ter maior destaque
com os trabalhos de Elton Mayo e seus colaboradores, que em seu
desenvolvimento veio a se chamar a Teoria das Relações Humanas.
2.2.1. Teoria das Relações Humanas
Foram desenvolvidas pesquisas para verificar o que poderia melhorar a
produtividade dos trabalhadores. A pesquisa mais famosa de Mayo ficou
conhecida como Experiência de Hawthorne, na qual um grupo de funcionárias
de uma fábrica tinham elementos reduzidos ou aumentados a fim de verificar a
inflência de fatores como iluminação, descanso, lanches, horário, entre outros,
no rendimento das trabalhadoras.
Destas experiências um fator variável ficou mais evidente no processo
produtivo: o humano.
Surpreendendo todas as expectativas dos pesquisadores foi
identificada uma nova variável no processo produtivo: o fator humano.
A lacuna deixada pela Escola Clássica enfocou uma maior
valorização do corpo social, em que o indivíduo reage de acordo com
sua interação com o grupo em que está envolvido. A Escola de
Relações Humanas trouxe uma nova postura de tratamento e
consideração ao indivíduo, viu que a participação dos funcionários no
processo de decisão fazia com que a produção crescesse
progressivamente. (KWASNICKA, 1991).
Ao identificarem que a “organização informal”, baseada em relações
de amizade e interações não planejadas, pode existir lado a lado com
a organização formal, concebida nos “planos” definidos pela
administração, os estudos causaram um importante abalo à teoria
clássica da organização. Esses estudos mostraram bem claramente
que as atividades de trabalho são tanto influenciadas pela natureza
dos seres humanos como pelo planejamento formal e que os teóricos
organizacionais devem prestar muita atenção ao elemento humano
(MORGAN, 1996, p.45).
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Esta interação social evidenciou que o homem aprendia e evoluía
também com a troca com outras pessoas. O conceito desta troca foi analisado
e chegou ao que hoje é conhecido por Relacionamento Interpessoal.
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CAPÍTULO III
CLIMA E CULTURA ORGANIZACIONAL
AMBIENTE DOS RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS
Como o trabalho depende da estrutura da organização e do aspecto
humano dos trabalhadores, para que esta estrutura seja definida e possa ser
seguida por seus trabalhadores, a organização cria sua identidade e verifica a
percepção dos trabalhadores sobre esta estrutura para alinhar os objetivos
individuais e organizacionais.
3.1. CULTURA ORGANIZACIONAL
“A cultura organizacional abrange as normas informais de conduta, os
hábitos, crenças, valores e preconceitos, cerimônias e rituais, símbolos e
outros comportamentos”. MAXIMIANO (2006, p.218).
Em uma organização moderna, o trabalho é regido seguindo algumas
normas de execução de tarefas e de comportamento do grupo. Estas normas
são definidas pela direção da empresa, que espera assim nortear as ações do
grupo para atingir o objetivo definido na missão da empresa, que é sua razão
de existir. São normas que devem dizer claramente para todos os
colaboradores qual o objetivo maior (missão), de que maneira espera-se
chegar até ele (visão) e quais os pilares que apoiarão este caminho (valores).
A este conjunto particular de cada organização, que varia em diversos
aspectos, chama-se Cultura Organizacional, que é a identidade de uma
organização.
A cultura exerce papel fundamental no trabalho, já que é dela a tarefa
de determinar como se comportará o grupo, assim como os indivíduos
enquanto trabalhadores desta organização. A cultura organizacional se
fortalece quando os valores são amplamente divulgados e aceitos pelo maior
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número de colaboradores: é isto que determinará as atitudes dos membros da
organização, em relação ao comprometimento com os objetivos comuns.
Luz (2003, p. 16), quando afirma que “podemos entender cultura
organizacional como o conjunto de atributos físicos e psicossociais de uma
organização que caracteriza o seu modo de ser e determina sua identidade”.
A cultura também serve para diferenciar uma organização das demais.
Essa diferença pode ser percebida em como a organização opera no mercado,
junto a seus clientes e fornecedores e, sobretudo, com seus membros.
A percepção que cada membro tem da organização serve para definir a
cultura organizacional. Neste contexto, pode-se concordar com a afirmação de
que
A cultura de uma empresa acaba reforçando o comportamento de seus membros, determinando o que deve ser seguido e repudiando o que deve ser evitado. Portanto, além de um significado simbólico, de representações, ela também exerce um sentido político e de controle. (LUZ, 2003, p. 14).
Uma cultura clara e bem definida reduz o risco de ruídos no processo de
comunicação, uma vez que todos sabem por quais valores se orientar, o que é
importante e como deve ser realizado. E sabendo qual o comportamento
esperado pela organização, o colaborador tem maior comprometimento e um
comportamento consistente.
No caso de empresas globais, a cultura tem também de acompanhar a
cultura do país. Para poder operar em determinado país, com pessoas nativas,
a empresa precisa incorporar a sua cultura organizacional a cultura local, como
por exemplo, pausas e feriados religiosos que tradicionalmente fazem parte da
vida da população. Sendo assim, entende-se com a definição de cultura
organizacional, que esta também será influenciada pela cultura externa, de
onde saem seus integrantes e da sociedade da qual participa, bem como com
a cultura individual de seus fundadores.
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3.2. CLIMA ORGANIZACIONAL
Pode-se definir clima organizacional como sendo as impressões gerais ou percepções dos empregados em relação ao seu ambiente de trabalho; embora nem todos os indivíduos tenham a mesma opinião, pois não têm a mesma percepção, o clima organizacional, isto é, atributos específicos de uma organização, seus valores ou atitudes que afetam a maneira pela qual as pessoas ou grupos se relacionam no ambiente de trabalho. (LUZ apud CHAMPION, 2003, p. 10).
Assim como outros pontos ligados a percepção humana, o conceito de
clima organizacional não tem uma definição única. Há, porém, uma corrente
que defende que o clima é percebido pelo indivíduo e pelo grupo do ambiente
de trabalho. E pode funcionar também como um indicador acerca da
percepção da cultura organizacional.
De acordo com Luz apud Toledo e Milioni (2003, p. 10), “clima
organizacional é um conceito que se funde com o de cultura organizacional”.
Desta forma, entende-se que ambos os conceitos estejam
intrinsecamente ligados em uma organização no que tange a administração de
recursos humanos e que ambos formam o que se espera, um do outro, na
relação entre trabalhador e empresa. E especificamente o clima
organizacional, que reflete o sentimento do trabalhador, está ligado também as
condições do trabalho. Para Maximiano (2006, p. 218), “o conceito de clima
organizacional evoluiu para o conceito de Qualidade de Vida no Trabalho”.
Para acompanhar o mercado, as organizações tem tido cada vez mais
que alinhar seus objetivos com os objetivos individuais de seus trabalhadores.
Tornar-se global, adoção de tecnologia de ponta, gerenciamento das
mudanças sociais, desenvolvimento do capital humano, o próprio mercado e a
contenção de custos são fatores que estão presentes no dia a dia das
empresas e as pessoas – principal peça para o atingimento de todas estas
metas – tem de conhecer e estar envolvidas com o trabalho, o que, com uma
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cultura organizacional clara, percebida pelo clima organizacional, pode ser
sinônimo de bem-estar, felicidade no trabalho e alta produtividade.
3.3. ESTRESSE OCUPACIONAL
De acordo com Robbins (2005, p. 439), existem fatores ambientais,
organizacionais e individuais6 que agem como fontes potenciais de estresse.
No ambiente de trabalho moderno, o estresse é bastante comum, devido, em
grande parte, ao aumento crescente da competitividade advinda da
globalização: superar a concorrência, maximizar lucros, conter custos, importar
matéria-prima, exportar bens e serviços. “Alguns exemplos são as pressões
para evitar erros ou cumprir prazos, a excessiva carga de tarefas, um chefe
exigente e insensível, e colegas desagradáveis.”
O desgaste emocional a que as pessoas são submetidas no ambiente
de trabalho pode levar, inclusive, ao surgimento de doenças. A carga
excessiva de estresse pode levar a somatização7 e, ato contínuo, a perda da
força de trabalho, tanto para a organização quanto para o trabalhador,
temporária ou definitivamente. Os sintomas físicos e psicológicos resultantes
do nível elevado de estresse podem ser cefaléia, alteração no metabolismo,
cardiopatias e hipertensão.
Algumas áreas de atuação8 de organizações, bem como determinadas
funções9 possuem uma carga de estresse natural, seja devido ao risco ou ao
trabalho desenvolvido. Lidar com essa forte carga emocional sobre os
trabalhadores é o que garante a Qualidade de Vida no Trabalho para que as
tarefas sejam executadas de forma a garantir a qualidade do produto ou
serviço, e culmina no diferencial competitivo e na sobrevivência da organização
no mercado.
6 Fatores ambientais: mudanças na economia, na tecnologia, guerra; fatores organizacionais: pressão para evitar erros, risco de morte, cumprimento de prazos; fatores individuais: vida pessoal, problemas financeiros, personalidade. 7 Desenvolvimento de sintomas de determinada doença. 8 Petroleira, aviação, etc. 9 Policiais, agente da bolsa de valores, motoristas de ônibus, etc.
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Geralmente o estresse é visto apenas como algo negativo, porém ele se
faz necessário em algumas circunstâncias, por exemplo, quando se tem um
objetivo a alcançar, uma quantidade moderada de estresse funciona como
“combustível”, pois é ele que irá gerar concentração e mobilizar os recursos
dos indivíduos, como o desafio de assumir uma nova responsabilidade na
organização ou o início de um jogo para um atleta.
E da mesma forma o estresse pode ser utilizado pelos profissionais que
se vêem no cumprimento de metas. Vendo o lado positivo do estresse, ou seja,
como estimulante em busca de resultados, ele é capaz de gerar satisfação e
até mesmo o aumento da qualidade do trabalho. Isto também está ligado a
percepção de cada indivíduo quanto ao estímulo positivo produzido pelo
estresse.
Há que se ressaltar também que, sendo o estresse exagerado pode
afetar diretamente no desempenho do colaborador, dentro ou fora da
organização, ou seja, estando o funcionário extremamente estressado, por
motivos organizacionais ou não, ele não produzirá da forma mais eficaz, pois
sua atenção se perderá em meio as tarefas, sua concentração e seu
comportamento serão dispersos. Por este motivo é importante que os gerentes
ou as pessoas responsáveis por este desempenho tenham uma boa
percepção sobre seus colaboradores.
Se nenhum, ou muito pouco estresse for utilizado o indivíduo não pode
dar o melhor de si. Já os trabalhadores que usam estresse demasiado
excessivo podem ficar paralisados, fazendo repetições de atividades inúteis e
até mesmo se dispersar de seus objetivos.
Cada indivíduo percebe o estresse de uma determinada forma e por
isso não é possível ter um nível padrão adequado. A variação existe em função
de como o sujeito se percebe e como percebe seu trabalho. Sendo assim,
entende-se que seja necessário um empenho por parte da organização para
minimizar os efeitos do estresse ocupacional. Para isto é necessário que a
organização invista em ações que, caso o estresse seja inerente a atividade da
empresa, que pelo menos permita ao colaborador reduzir a carga de trabalho a
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fim de não prejudicar a si de forma irreversível, bem como ao funcionamento
da organização como um todo.
3.3.1. FATORES ESTRESSORES
O desgaste emocional vivido diariamente pelas pessoas, no ambiente
de trabalho e na vida pessoal, levam-nas a reagir de diferentes maneiras. Este
estímulo emocional é percebido por cada um de uma determinada maneira e
se torna o fator que faz a pessoa ficar em estado de estresse. O estímulo pode
ou não se tornar um fator estressor.
Fator estressor é qualquer evento, acontecimento ou circunstância que
exerça influência física, emocional ou mental em um indivíduo. Geralmente os
fatores estressores estão relacionados ao convívio social e familiar, ambiente
de trabalho, meio ambiente, condição de saúde e situação sócio-econômica do
indivíduo, dentre outros.10
Mente e corpo podem reagir diante de situações que se tornam fatores
estressores, como: desentendimentos com colegas, sobrecarga de trabalho,
corrida contra o tempo para o cumprimento de prazos, diante da insatisfação
salarial e, dependendo da pessoa, até com o tocar do telefone.
Esses acontecimentos geralmente repercutem nas estruturas biológicas, tais como o cérebro e o organismo como um todo, sendo possível observar reações de luta ou fuga com relação aos estressores presentes. Quando o ser humano se defronta com situações ameaçadoras, a pressão arterial e a frequência cardíaca elevam-se. BERGAMINI (2008, p. 190).
A desorganização no ambiente de trabalho coloca em risco a ordem e a
capacidade de rendimento do trabalhador, e tende a piorar quando não há
clareza nas regras, normas e nas tarefas que deve desempenhar cada um dos
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trabalhadores, assim como os ambientes insalubres, a falta de ferramentas
adequadas. É neste momento que a cultura organizacional tem peso sobre a
evitação do alto nível de estresse contraproducente.
Fatores interiores relacionados ao trabalho também contribuem para a
pessoa ficar estressada, como é o caso da sensação de insegurança no
emprego, sensação de insuficiência profissional, pressão para comprovação
de eficiência ou, até mesmo, a impressão continuada de estar cometendo
erros profissionais. Isso tudo sem contar os fatores internos que a pessoa traz
consigo para o emprego, tais como, seus conflitos, suas frustrações, suas
desavenças conjugais, etc.
As fontes de desgaste pessoal são mútiplas, podendo, de forma ocasional ou contínua, afetar o equilíbrio sadio da personalidade. Acontecimentos marcantes, tais como a separação ou a perda de um ente querido, o fato de enfrentar um mercado de trabalho adverso, ser demitido, a tecnologia altamente sofisticada, choque cultural, doença grave, e assim por diante, são aquilo que se conhece como agentes estressores.” (BERGAMINI, 2008, p. 190).
3.3.2. O IMPACTO DO ESTRESSE NO TRABALHO
Se um nível moderado de estresse é necessário como estímulo para
alguns indivíduos, um nível alto é prejudicial não apenas ao trabalhador, mas
para toda a organização.
Mais do que um tema de segurança ocupacional, o stress11 é, portanto,
uma fonte importante de prejuízos econômicos. A situação tem se agravado
nas últimas décadas devido à crescente precarização das relações de trabalho,
ao ritmo acelerado das grandes cidades, à pressão por eficiência, ao ambiente
cada vez mais competitivo e ao medo do desemprego.12
10 Disponível em www.bancodesaude.com.br, acessado em 22 de setembro de 2010, as 01h40min. 11 Forma original inglesa stress, para a forma brasileira de estresse. 12 Disponível em www.bancodesaude.com.br, acessado em 22 de setembro de 2010, as 01h40min.
http://www.bancodesaude.com.br/http://www.bancodesaude.com.br/
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O estresse pode funcionar como o estímulo ao bom desempenho das
atividades, bem como, antagonicamente, pode ser prejudicial ao homem e ao
trabalho como um todo. Desta forma, há que se observar que, dependendo da
atividade e da área de atuação da organização, o estresse seja inevitável. E,
neste caso, a administração tem de estar atenta para que este nível de
estresse esteja sempre em nível moderado, ou seja, que o risco oferecido pela
atividade não seja um dificultador do trabalho. E para neutralizar os efeitos
nocivos do estresse ou até mesmo transformá-lo em estímulo positivo, cabe a
administração da organização o olhar cuidadoso sobre esta questão que pode
influenciar diretamente desempenho de todo o grupo.
Aumento salarial nem sempre é a melhor saída, pois dinheiro não é
capaz de suprir algumas necessidades do trabalhador, como por exemplo, um
local adequado de trabalho, a segurança, a saúde, o bem-estar social e
familiar, etc. Em contrapartida, ter tempo para desfrutar dos benefícios
financeiros é tão importante quando a concessão dos mesmos. Avaliar cada
situação em separado é fundamental para dar a cada tipo de atividade. Isto
para Cohen e Fink (2003, p. 191), é uma das atribuições da gestão
comprometida com o bem-estar dos trabalhadores e afirmam que “parte da
responsabilidade gerencial é desenvolver pessoas, não apenas supervisionar
execução de tarefas”, de modo que é necessário dar ao trabalhador condições
físicas e psicológicas de desenvolver bem seu trabalho, em suma, favorecer as
práticas de Qualidade de Vida no Trabalho para maximizar o desempenho das
equipes. Esta idéia é reforçada por Bergamini (2008, p. 191) ao constatar que
“o atendimento as expectativas daqueles que trabalham parece crucial ao bom
desempenho da empresa como um todo.”
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CAPÍTULO IV
RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS
O CONCEITO
Relacionamento interpessoal é a forma como o indivíduo lida com o
outro, seja no meio profissional ou familiar — sendo todos estes ambientes de
formação social. É também o conhecimento de si próprio utilizado para
conhecer e respeitar o outro, para que ambos possam construir e manter um
bom ambiente de trabalho. Conhecer a si é fundamental para valorizar os
mesmos sentimentos, desejos e dificuldades no outro; compreender e aceitar
que o outro poderia ser a própria pessoa. No ambiente organizacional, esse
conhecimento valida a condição de formador social do trabalho. E essa
transformação só é possível por meio de uma cultura e um ambiente
organizacional favorável.
Prega o entrosamento das pessoas para o bom andamento da
organização. Deve haver harmonia entre os colaboradores, o que “dá garantia
de que a empresa funcionará com vitalidade. [...] há ideia de cooperação e
não-competição” (Kwasnicka, 1991, p. 62).
Entende-se, portanto, que o trabalho esteja muito além da condição
financeira: pode-se analisar como um fator de relação social do homem com o
meio no qual está inserido.
Os relacionamentos interpessoais, a forma como um colaborador lida
com outro, vêm tomando cada vez mais espaço entre as preocupações das
organizações modernas. O tema inclusive se torna discutido quando o assunto
é recrutamento, pois se solicita que o candidato tenha um bom relacionamento
com a equipe da qual fará parte. Claro está que este item é uma forma de dizer
ao candidato que seu relacionamento com os demais colegas é importante não
só para ele, mas para toda a organização. E é também avaliado, uma vez que
a forma de pensar e agir influenciará em seu processo de socialização no
ambiente de trabalho. Quando a empresa cultiva e mantém um ambiente
harmônico, ainda que estimule a diversidade, está também contribuindo para
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seu próprio crescimento junto ao mercado: não tem apenas uma face e sim
uma identidade que se reflete pelo nível de interação entre seus
colaboradores, em cumprimento ao objetivo organizacional definido pela
cultura da empresa.
A troca que acontece por meio dos relacionamentos interpessoais, a
aprendizagem com teoria e com a prática, enriquece não apenas o
profissional, mas o ambiente social e organizacional no qual estão inseridos.
Entende-se que o entrosamento, acolhimento e clima de cooperação
devam ser incentivados pelos líderes como ponto em comum entre os
colaboradores, mas é também um princípio pouco explorado. Os conflitos que
naturalmente surgem do encontro de indivíduos diferentes em sua
complexidade humana, devem ser tratados pelo líder não como um ponto ruim,
mas sim como algo que mereça atenção, pois nem sempre o conflito é ruim:
pode mostrar que nas diferenças também pode haver troca e cooperação. Fica
evidente a importância do relacionamento interpessoal entre os indivíduos com
uma boa articulação do chefe, uma vez que ele é o responsável por esse papel
de integração entre os demais colaboradores.
4.1. CONFLITOS
O conflito, em si, não é danoso nem patológico. É uma constante da
dinâmica interpessoal, reveladora do nível energético do sistema.
Suas consequências poderão ser positivas ou negativas, construtivas
ou destrutivas, em decorrência do grau de aprofundamento e
intensidade, de duração, do contexto, da oportunidade (timing) e do
modo como ele é enfrentado e administrado. MOSCOVICI (1999, p. 6)
Entende-se conflito como um o desacordo que conduz a uma luta de
poder se instala quando há divergência de ideias, quando o papel por
desempenhar choca-se com os princípios de outras pessoas. É impossível
eliminar os conflitos: eles são parte da composição da condição humana. Ao
tentar se superar, homem conflita consigo mesmo. É importante ressaltar que
as diferenças individuais existem — valores, percepções e considerações
morais diferentes —, e que nem todos têm acesso às mesmas informações,
nem possuem a mesma experiência de vida. A posição das pessoas no grupo
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pressiona-as a assumirem um “papel”, que nem sempre está de acordo com
seus valores individuais.
Conflitos formam parte do processo da vida em grupo, pois é impossível
satisfazer as necessidades de cada um, o que gera conflito entre os
componentes do grupo. Há uma tendência a ter uma visão apenas negativa do
conflito, no sentido de briga, violência, guerra, destruição. Porém, o conflito
pode ter aspectos positivos, pois rompe o equilíbrio confortável da rotina,
mobiliza energia no grupo, desafia a acomodação das ideias, leva a resolução
de problemas escondidos, aguça a percepção e o raciocínio, excita a
imaginação, estimula a criatividade. Há muitas maneiras de lidar com os
inevitáveis conflitos, desde a simples negação até a resolução adequada. O
primeiro passo consiste em admitir que existe um conflito e que é preciso
enfrentá-lo. O reconhecimento da existência do conflito predispõe as pessoas
a agirem, e buscarem soluções.
O mais importante para o líder, bem como para os membros do grupo é
que a origem do conflito seja identificada, para, a partir disto buscar a solução.
4.1.2. LIDANDO COM O CONFLITO
É comum no grupo que haja um distanciamento do problema, com os
indivíduos tomando uma posição neutra com relação a ele, fugindo ou até
adiando-se a busca pela solução. Ou ainda “colocando panos quentes”, como
diz a linguagem popular, que também não resolve o conflito.
O controle do conflito pode ser feito pela força, característica de alguns
estilos de liderança, pela imposição, por autoridade-obediência, antagonismo e
competição em que o mais importante é prevalecer a solução do líder.
Uma forma equilibrada de tratar um conflite é a busca de uma solução
intermediária em que cada pessoa ceda um pouco, chegando a um acordo
com todo o grupo. Desta forma os problemas são levantados pelas
necessidades e desejos de todos do grupo, cujo líder trabalhará as
discordâncias até que se chegue a uma conclusão que agrade ao grupo, que
colabora para que essa solução seja alcançada.
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33
A forma que o líder usará para lidar com o conflito também vai depender
de seu estilo de liderança, do conhecimento que tem de sua equipe, e
fundamentalmente do seu entendimento do conflito quanto ao grau de
extensão, intensidade e importância e suas consequências no grupo.
No processo que envolve a construção dos relacionamentos
interpessoais, o indivíduo busca um resultado positivo nas relações e sabe
utilizar corretamente seus mecanismos para lidar com os possíveis e
inevitáveis conflitos, bem como se preocupa em conhecer o outro com quem
convive para identificar também seus desejos e necessidades, pois a
responsabilidade de resolução de conflitos não é exclusiva do líder do grupo.
Cada colaborador é também responsável pelo rumo que as divergências
podem tomar, por si e pelo outro, contribuindo e criando mecanismos dentro do
grupo para a identificação e resolução do conflito.
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34
CONCLUSÃO
Esta pesquisa levantou o tema Relacionamentos Interpessoais no
ambiente de trabalho: são importantes para o indivíduo e para a empresa?
Notadamente, falar de trabalho é falar do homem, pois um está intimamente
ligado ao outro em sua história e necessidade de existência. Por ser humano,
o trabalho é tão racional quanto o homem que o realiza, porém deve ser
estudo considerando todas as demais condições humanas: sentimentos, ética,
conflitos, religiosidade, valores; tais condições variam em sociedades, famílias
e, inclusive, como o objeto deste estudo, sendo importante para o ambiente
organizacional.
Administrar organizações com eficiência e eficácia requer não apenas
grande conhecimento das modernas técnicas de gestão empresarial: gerir
pessoas com suas diversas diferenças é fundamental, quiçá, a mais importante
de todas as tecnologias usadas nas “maiores” e “melhores” organizações,
aquelas em que o colaborador é tido de fato como peça essencial ao
funcionamento da “engrenagem”.
O administrador deve estar apto a lidar com a pluralidade dos
colaboradores, a fim de transformar o grupo em uma equipe unida em prol do
mesmo objetivo, que é definido pela organização em sua cultura organizacional
e multiplicada pelos que a constroem diariamente. E o clima desta organização
também tem o poder de influenciar na percepção que os colaboradores têm
desta cultura. Os conflitos não necessariamente são ruins: podem ser
utilizados para estimular a equipe a cooperar uns com os outros, para o
crescimento pessoal, profissional e da organização.
A competência do trabalho em equipe determinada pela manutenção
dos relacionamentos interpessoais é indispensável dentro da organização,
tanto para o crescimento do indivíduo e sua constante evolução, quanto da
própria organização, para seu crescimento no mercado e para a sociedade na
qual está inserida.
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35
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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MOSCOVICI, Fela. Equipes dão certo: a multiplicação do talento humano. 9.
ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1999.
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38
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I
A RELAÇÃO DO HOMEM COM O TRABALHO 10
CAPÍTULO II
O FATOR HUMANO NAS ORGANIZAÇÕES 15
2.1 – Escola de Administração Clássica 17
2.2 – Escola de Relações Humanas 18
2.2.1 – Teoria das Relações Humanas 20
CAPÍTULO III
CLIMA E CULTURA ORGANIZACIONAL 22
3.1 – Cultura Organizacional 22
3.2 – Clima Organizacional 24
3.3 – Estresse Ocupacional 25
3.3.1 – Fatores Estressores 27
3.3.2 – O impacto do estresse no trabalho 28
CAPÍTULO IV
RELACIONAMENTOS INTERPESSOAIS 30
4.1 – Conflitos 31
4.2. – Lidando com o Conflito 32
CONCLUSÃO 34
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 35
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39
BIBLIOGRAFIA CITADA 37
ÍNDICE 39
AGRADECIMENTOSCAPÍTULO I- A relação do homem com o trabalho10CAPÍTULO II - O fator humano nas organizações15CAPÍTULO III - Clima e cultura organizacional22CAPÍTULO IV - Relacionamentos Interpessoais30
CONCLUSÃO34BIBLIOGRAFIA CONSULTADA35BIBLIOGRAFIA CITADA 37ÍNDICE39FOLHA DE AVALIAÇÃO40FOLHA DE ROSTO2AGRADECIMENTO3