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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES O Assédio Moral no Direto Do Trabalho Brasileiro, do ponto de vista do empregador Andreia Marques de Almeida Barbosa Rio de Janeiro 2013 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

O Assédio Moral no Direto Do Trabalho Brasileiro, do ponto de vista do empregador

Andreia Marques de Almeida Barbosa

Rio de Janeiro 2013

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ANDREIA MARQUES DE ALMEIDA BARBOSA

O Assédio Moral no Direto Do Trabalho Brasileiro, do ponto de vista do empregador

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes, como exigência para obtenção do título de Pós-Graduação. Orientador: Prof. Nelson Tavares

Rio de Janeiro 2013

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ANDREIA MARQUES DE ALMEIDA BARBOSA

O ASSÉDIO MORAL NO DIRETO DO TRABALHO BRASILEIRO, DO PONTO DE

VISTA DO EMPREGADOR

Apresentação de monografia à Universidade Candido Mendes, como exigência para obtenção do título de Pós-Graduação. Orientador: Prof. Nelson Tavares

Aprovada em ___________ de ___________________ de 201_____.

BANCA EXAMINADORA:

____________________________________________________ Prof. Nelson Tavares

Universidade:

___________________________________________________ Prof.(a) Cláudia Pisco

Universidade:

___________________________ Prof.

Universidade:

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Dedico este trabalho a minha chefe e orientadora profissional, uma pessoa amiga que me proporcionou a oportunidade de aperfeiçoar e praticar meus conhecimentos jurídicos.

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Agradeço a Deus, que sempre me amparou em todos os momentos. Agradeço ao meu orientador, pela dedicação e pela paciência. Agradeço aos meus professores por enriquecerem meus conhecimentos Agradeço ao meu marido e filhos por suportarem a ausência motivada pela paixão que sinto pelo Direito.

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“Posso não concordar com nenhuma das palavras que você disser, mas defenderei até a morte o direito de você dizê-las.”

Voltaire

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RESUMO

A história do assédio moral tem sua origem na regulação da responsabilidade civil encontrada no Código de Hamurabi, no período de 1728-1686 a.C. Fundamentada no Direto Romano e acolhida pelo Código Napoleão em 1804 influenciou vários povos. Por isso, o assédio moral é uma conduta que já existia no ambiente de trabalho. Os primeiros estudos realizados sobre o assédio moral tiveram início na década de 1980, mas talvez não fossem tão divulgados. Muitas são as denominações utilizadas para o assédio, que pode ser caracterizado de diversas maneiras. No Brasil, a expressão mais usada é assédio moral, que significa importunar, molestar, aborrecer, incomodar, perseguir com insistência inoportuna. A partir da Emenda Constitucional 45/2004, quando o dano moral passou a ser competência da Justiça do Trabalho, os casos que apresentaram situações de humilhação, amedrontamento, intimidação ou assédio psicológico no trabalho passaram a ser constatados nos processos trabalhistas com maior intensidade. Além disso, nos novos modelos de análise da violência no ambiente de trabalho, propostos pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), essas manifestações físicas e psicológicas são igualmente consideradas. São visíveis os impactos do assédio na relação de emprego. Também, são inúmeras as normas que protegem o empregado do dano causado pelo assédio moral no ambiente de trabalho, seja diretamente, seja por analogia. Estudos sobre o tema confirmam que a humilhação constitui um risco “invisível”, porém concreto, nas relações de trabalho e que compromete a saúde das classes trabalhadoras, causando queda da produtividade, imagem negativa da empresa perante os consumidores, dentre outros impactos do assédio no ambiente de trabalho. Atualmente o que é mais estudado em relação ao assédio moral é o mecanismo de prevenção e de esclarecimento, a fim de evita-lo, pois os problemas de relacionamento dentro do ambiente de trabalho e os prejuízos daí resultantes serão tanto maiores quanto mais desorganizada for a empresa e maior for o grau de tolerância do empregador em relação às praticas de assédio moral. Por isso, as empresas devem criar mecanismos de prevenção, como palestras, códigos de ética e formas de punição. Também, analisar situações fáticas e criar mecanismos para evita-las, pode ser um método bastante eficaz. Todas as ações preventivas são válidas, pois a justiça tem sido bastante contundente nos julgamentos dos casos comprovados de assédio pelas empresas e seus prepostos. Dessa forma, a essência desse trabalho é analisar o tema, dado que o estudo tem característica interdisciplinar, compreendendo o aspecto do trabalho, do Direito do Trabalho, da Psicologia e da Medicina do Trabalho, além de sua relevância social.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 8

1 – UM BREVE HISTÓRICO......................................................... ...................................... 11

2 – DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO................................. ......................................... 15

3 – IMPACTOS DO ASSÉDIO NA RELAÇÃO DE EMPREGO........... .......................... 23

4 - AÇÕES PREVENTIVAS QUE PODEM SER ADOTADAS PELA EMPRESA.......29

5 – ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SOBRE ASSÉDIO.........................................46

CONCLUSÃO........................................................................................................................54

REFERÊNCIAS....................................................................................................................56

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INTRODUÇÃO

Nem sempre os bens jurídicos estão situados no mundo exterior. Determinados

direitos integram o próprio homem, sendo-lhes essenciais a uma existência livre, igualitária,

valorizada, justa e solidária. Tais direitos são chamados direitos fundamentais e têm por

fundamento a dignidade da pessoa humana.

Na dimensão juslaborativa, direitos fundamentais são os valores de que trabalhadores

necessitam para a garantia de uma existência igualitária, livre, valorizada e justa na ordem

econômica e social, tendo como essência a dignidade da pessoa humana, ao passo que direitos

trabalhistas da personalidade são os direitos subjetivos destinados a garantir, numa relação de

trabalho, a integridade física, intelectual e moral do indivíduo.

Os direitos da personalidade pertencem a categoria dos direitos extrapatrimoniais.

Entende-se como bens patrimoniais os que têm representação econômica, ao contrário dos

extrapatrimoniais.

Para Miguel Reale1, quando é atingida a dimensão social ou a imagem (dimensão

ética) de uma pessoa no meio social, diminuindo-lhe o valor perante a opinião pública, tem-se

o dano moral objetivo (atinente assim à consideração social). Já se agressão se refere a

estados d’alma, sofrimentos ou sensações dolorosas que afetem os valores íntimos da pessoa

tem-se o dano moral subjetivo (pertinente assim à consideração pessoal).

No entendimento de Maria Helena Diniz2, a hipótese do ofendido reclamar uma

compensação pecuniária em decorrência de um dano moral, não significa dizer que ele está

1 REALE, Miguel. Temas de Direito Civil. O dano Moral no Direito Brasileiro. RT, 1992,

p.23.

2 DINIZ, Maria Helena, Ob. Cit., p. 82.

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buscando um preço para sua dor, mas sim a viabilização de um meio capaz de atenuar as

consequências do dano. Ao contrário do dano patrimonial, na reparação do dano moral o

dinheiro não tem equivalência com o prejuízo causado.

A atual Constituição da República encerrou definitivamente toda e qualquer

controvérsia a respeito do dano moral. Aponta a Justiça social como um dos seus valores

supremos (art. 3º, I), apresenta a dignidade humana como um dos fundamentos do Estado

brasileiro (art. 1º, III) e assegura a inviolabilidade da honra, imagem, intimidade e vida

privada, além de indenização por dano moral decorrente da transgressão a esses valores (art.

5º, V e X).

Empregado e empregador têm deveres recíprocos que decorrem basicamente das

características da bilateralidade, da comutatividade, da alteridade, da pessoalidade, da

fiduciariedade e da sucessividade contratual.

Sendo o empregado um auxiliar no desenvolvimento de atividade organizada pelo

empregador, pessoalmente subordinado, deve prestar pessoalmente obediência ou atenção a

determinações patronais e ao regulamento interno, com fidelidade, colaboração, diligência e

eficiência, devendo ainda respeito à pessoa do empregador, à propriedade do estabelecimento

e aos seus colegas de serviço.

Também do empregador exige-se observância de diversas prestações correlatas ao

direito de exigir do empregado a prestação de serviços. Dessa forma, não pode, sem o

consentimento do empregado, alterar as cláusulas contratuais essenciais; deve exigir os

afazeres obreiros nos exatos limites da função e das aptidões do empregado, respeitando

assim as condições pessoais do trabalhador e a sua qualificação profissional; deve respeitar a

dignidade do empregado e cumprir as normas legais e coletivas de melhorias das condições de

trabalho e remunerá-lo, integralmente, no tempo, modo, forma e lugar do pagamento.

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Por outro lado, a pessoa jurídica também sofre dano moral, por aplicação do art. 52

do Código Civil – Súmula 227 do STJ. Na esfera trabalhista, Arnaldo Süssekind3 concorda

com essa linha.

Diante dos elementos constitutivos da relação de emprego e das características do

contrato de trabalho, que produzem um ambiente absolutamente peculiar e propício à

produção de danos morais típicos do relacionamento entre empregado e empregador, o

presente trabalho tem por objetivo ANALISAR o fenômeno do assédio moral no Direito do

Trabalho brasileiro, do ponto de vista do empregador. Para atingir tal objetivo, investigaremos

a legislação, a doutrina, e, por fim, a posição dos Tribunais nacionais, acerca do tema.

Pretende-se COLABORAR com os empregadores e operadores do Direito, dotando-

os de informações acerca das situações de assédio existentes no ambiente de trabalho, bem

como munindo-os de ações preventivas para proteger o empregado e a empresa de tais danos

e suas consequências.

Busca-se APRESENTAR critérios que auxiliem o empregador a identificar situações

de assédio – casos em que ficam caracterizados pelas condutas abusivas praticadas pelo

empregador direta ou indiretamente. Para isso, serão apresentadas as definições de assédio

moral e sexual, suas diferenças, as várias denominações para assédio moral e classificações

existentes. Será abordado ainda as consequências e sua caracterização, sem adentrar a

prescrição para propositura de ação.

Não se objetiva analisar o assédio no trabalho de modo geral. Pretendo estudar o

assédio moral no emprego, demonstrando a natureza interdisciplinar do tema, compreendendo

o aspecto do Trabalho e do Direito do Trabalho, da psicologia e da medicina do trabalho.

3 SÜSSEKIND, Arnaldo, MARANHÃO, Délio, VIANNA, Segadas e TEIXEIRA. Lima, Op. Cit., p. 642.

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1. UM BREVE HISTÓRICO

Há vestígios de regulação da responsabilidade civil no Código de Hamurabi, rei da

Babilônia no período de 1728-1686 a.C; ora optando pela lei de talião, quando então

determinava a punição do dano com imposição de igual sofrimento ao seu causador, ora

optando nos casos de agressão e morte, por indenização em valor prefixado (pars. 209 a 212)4.

A referida civilização, embora primitiva, trazia a ideia de reparação do dano, inclusive com

fixação, em determinadas hipóteses, de pena compensatória.

É verdade que o Direito Romano, tal como ocorreu com os demais institutos, não

chegou a elaborar uma teoria da responsabilidade civil, mas o exame dos casos de espécie,

assim como decisões dos juízes vieram a se constituir em valiosos elementos para a extração

dos princípios e sistematização dos conceitos a respeito da matéria.

A ideia de responsabilidade civil com fundamento no Direito Romano veio a

ingressar na Idade Média e, finalmente, no Direito Moderno, após ser aperfeiçoada, quando

acabou sendo acolhida pelo Código Napoleão (1804), exercendo notável influência nos

demais povos.

O Código Civil de 1916, seguindo o sistema francês napoleônico, trata de forma

independente da criminal a responsabilidade civil e adotou a teoria da culpa como seu

fundamento.

Os primeiros estudos realizados sobre assédio no ambiente de trabalho tiveram início

na década de 1980, por um psicólogo alemão chamado Heinz Leymann. O mesmo psicólogo

analisou e descreveu diferentes comportamentos hostis nas relações de trabalho,

especificamente os que vitimavam os empregados.

4 Reis, Clayton. Dano Moral. 3 ed: Forense, p. 10.

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Em 1992, na Inglaterra, a emissora de televisão BBC apresentou uma série de

documentários sobre situações denominadas bullying, que eram praticadas em relação a

crianças.

Em 1998, na França, foi lançada a obra da psiquiatra e psicanalista Christophe

Dejours, denominada Souffrance em France: la banalisation de l’injustice sociale. Foram

feitas análises sobre os efeitos do assédio na Organização do trabalho e sobre a saúde mental

dos trabalhadores. Também foi analisada a questão do ângulo da competitividade nas

empresas.

Ao contrário da França, Bélgica e Itália, no Brasil, não existe legislação federal que

trate do assédio moral no âmbito do trabalho ou até criminalizando o assédio moral e

estabelecendo pena. A exceção diz respeito a leis estaduais ou municipais, que trazem regras

para o funcionário público. No entanto, existe legislação aprovada que trata do tema no

âmbito federal como: a lei 11.948/2009 sobre empréstimos junto ao BNDES5, que se aplica a

empresas privadas. Em seu art. 4 relata que: “Fica vedada a concessão ou renovação de

quaisquer empréstimos ou financiamentos pelo BNDES a empresas da iniciativa privada cujos

dirigentes sejam condenados por assédio moral ou sexual, racismo, trabalho infantil, trabalho

escravo ou crime contra o meio ambiente”.

Há atualmente 80 projetos em tramitação ou já aprovados nos âmbitos municipal,

estadual e federal. Dentre eles, na Câmara dos Deputados, o Projeto de lei n° 2.369, de 2003,

de iniciativa do Deputado Federal Mauro Passos, PT/SC, que dispõe sobre o assédio moral

nas relações de trabalho, o mesmo passou as mãos da Deputada Rosinha-PT com algumas

pequenas modificações, sob o número nº 33/2007. Além desse, em 2012, tramitou o Projeto

5 Lei n. 11.948, de 16 de junho de 2009. Diário Oficial - Seção 1 - Eletrônico, Brasília, DF,

17 jun. 2009, p. 4.

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de lei PL 3760/2012, que também dispõe sobre o assédio moral nas relações de trabalho -

25/04/2012, de iniciativa do Deputado Edson Pimenta do PSD-BA.

A primeira cidade brasileira a aprovar lei que condena o assédio moral foi

Iracemápolis (SP). A legislação foi regulamentada em abril de 2001.

O Código Civil Brasileiro de 2002 regula expressamente os direitos da

responsabilidade (arts. 11 a 21) e, em título específico, a responsabilidade civil (arts. 927-

954). Embora a culpa seja o principal fundamento (art. 927, caput), o novo diploma prevê a

reparação objetiva nos casos especificados em lei ou em virtude de eventos danosos

decorrentes do exercício de atividades de risco (art. 927, parágrafo único). Também prevê

indenização por dano moral puro, ou seja, independentemente de prejuízo material, neste

particular regulamentando o art. 5º, V, da Constituição da República.

“As características que hoje são utilizadas na configuração do assédio moral

remontam aos estudos de Leymann, que identifica mais de 45(quarenta e cinco)

comportamentos”, relata a vice-presidente do Tribunal Superior do Trabalho, ministra Maria

Cristina Peduzzi, em art. publicado na Revista do Tribunal do Trabalho6.

Segundo o pesquisador, para caracterizar o assédio deve haver frequência nos atos

praticados contra o empregado, ao menos uma vez por semana, durante pelo menos seis

meses. O assédio moral expõe os trabalhadores a situações humilhantes e constrangedoras,

repetitivas e prolongadas vezes durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções,

levando a vítima a se desestabilizar emocionalmente. Tal fato pode se dar de forma comissiva

6 PEDUZZI, Ministra Cristina. Assédio moral e sexual. Disponível em: <http: //

www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI167029,21048-Ministra+ Cristina + Peduzzi + fala +

sobre + assedio + moral + e + sexual>. Acesso em: 14 abr. 2013.

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ou omissiva, afetando sua autoestima e a própria segurança psicológica, causando estresse e

outras enfermidades.

Quanto ao assédio sexual, as primeiras discussões surgiram na década de 1990, mas

foi em 2001 que a prática passou a ser considerada crime pela lei nº 10.224/2001, que

acrescentou o item “A” no art. 216 do Código Penal7: Constranger alguém com o intuito de

obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de

superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego, cargo ou função. Para

tanto, determinou pena de 1(um) a 2(dois) anos de detenção. Contudo, só é válida se o

agressor tiver posição hierárquica superior à da vitima. Trata-se de evolução da legislação,

pois essa conduta era enquadrada em delito de menor potencial ofensivo, ou seja, crime de

constrangimento ilegal, cuja pena é a de detenção por 3 meses a 1 ano ou multa para o

transgressor, conforme o art. 146 do Código Penal.

Além disso, a Consolidação das Leis do Trabalho autoriza o empregador a demitir

por justa causa o empregado que cometer falta grave, a exemplo dos comportamentos faltosos

listados no seu art. 482, podendo o assédio sexual cometido no ambiente de trabalho ser

considerado uma dessas hipóteses.

7 Lei n. 10.224, de 15 de maio de 2001. Diário Oficial - Seção 1 - Eletrônico, Brasília, DF, 16

mai. 2001, p. 1.

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2. DEFINIÇÃO E CARACTERIZAÇÃO

Existem muitas denominações para assédio, a palavra mobbing é usada na Itália, na

Alemanha e nos países escandinavos.

To mob em inglês quer dizer cercar, assediar, agredir, atacar. O substantivo mob em

inglês significa multidão em tumulto. A palavra Mob, com M maiúsculo, significa máfia, com

a ideia de pressão em grupo.

Esta palavra foi usada também na década de 70 para explicar as atitudes hostis

identificadas entre crianças nas escolas, bem como a atuação de animais em grupo, que seria o

ataque de um conjunto de membros contra outro animal, da mesma espécie, mais forte que os

outros.

Na Inglaterra e nos Estados Unidos é utilizada a denominação bullying. Bully é o

mandão, valentão, fanfarrão. O verbo to bully é tratar com grosseria, desumanidade, tirania,

ameaçar, oprimir, assustar. Bullying significa intimidar, aterrorizar, tiranizar, praticar atos

vingativos ou cruéis. Também podemos encontrar a palavra harassment nos Estados Unidos,

com o mesmo significado.

Na França, é usada a denominação le harcèlement moral, que tem o sentido de

importunação, impertinência, perseguição, repetidas provocações inoportunas.

Na Itália, emprega-se a expressão moléstia morale ou demansionamento. O caso é

julgado pelos tribunais como violação ao direto fundamental de expressão da personalidade e

da honra profissional.

No Japão, são usadas as palavras murahachibu (ostracismo social) e ijime (assédio),

que inicialmente era estudado nos casos das escolas e na década de 80 passou a ser um

problema social.

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Em Português, emprega-se a expressão assédio moral, mas também são encontradas

as expressões terror psicológico8 e acosso psíquico9. Portugal usa psicoterrorismo ou terror

psicológico.

No Brasil, a expressão mais usada é assédio moral.

Assediar significa importunar, molestar, aborrecer, incomodar, perseguir com

insistência inoportuna. Implica cerco insistência. Assédio quer dizer cerco, limitação,

humilhar até quebrar sua força, quebrar sua vontade.

Assédio é a insistência impertinente feita por uma pessoa em relação a outra, de

forma a abalar a moral da pessoa.

Moral é o conjunto de regras de conduta ou hábitos de um grupo ou sociedade, por

isso não é possível estudar esse fenômeno sem levar em conta a perspectiva ética ou moral,

por tanto, o que sobra para as vítimas do assédio moral é o sentimento de terem sido

maltratadas, desprezadas, humilhadas ou rejeitadas.

Sônia Mascaro Nascimento10 afirma que o:

[...] assédio moral se caracteriza por ser uma conduta abusiva, de natureza

psicológica, que atenta contra a dignidade psíquica, de forma repetitiva e

prolongada, e que expõe o trabalhador a situações humilhantes e

constrangedoras, capazes de causar ofensa à personalidade, à dignidade ou à

integridade psíquica, e que tenha por efeito excluir a posição do empregado

no emprego ou deteriorar o ambiente de trabalho, durante a jornada de

trabalho, no exercício de suas funções.

8 GUEDES, Márcia Novaes. Terror psicológico no trabalho. 2 ed. São Paulo: LTr, 2005.

9 SINN, Zenno. Acosso psíquico no ambiente de trabalho: manifestações, efeitos, prevenção e reparação. São Paulo: LTr, 2008.

10 NASCIMENTO, Sônia Aparecida Mascaro. Assédio moral no ambiente de trabalho. Revista LTr, agosto de 2004, p. 922-930.

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Já Hanz Leymann11 afirma que o assédio moral é:

[...] a deliberada degradação das condições de trabalho através do

estabelecimento de comunicações não éticas (abusivas), que se caracterizam

pela repetição, por longo tempo, de um comportamento hostil de um

superior ou colega(s) contra um indivíduo que apresenta, como reação, um

quadro de miséria física, psíquica e social duradoura.

Já a diretiva da União Europeia 2000/78/CE pondera que o assédio é considerado

discriminação sempre que ocorrer um comportamento indesejado relacionado com a religião,

crença, deficiência, idade ou orientação sexual com o efeito de violar a dignidade de uma

pessoa, criando um ambiente de trabalho intimidativo, hostil, degradante, humilhante ou

desestabilizador. Nesse contexto, o conceito de assédio pode ser definido em conformidade

com as legislações e práticas nacionais dos Estados membros.

Assédio sexual, na definição da Organização Internacional do Trabalho (OIT) são

atos, insinuações, contatos físicos forçados, convites inconvenientes que apresentem

características como: condição clara para se manter o emprego, influência em promoções na

carreira, prejuízo no rendimento profissional, humilhação, insulto ou intimidação da vítima.

Para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), assédio sexual é a abordagem não

desejada pelo outro, com intenção sexual ou insistência inoportuna de alguém em posição

privilegiada que usa dessa vantagem para obter favores sexuais de subordinados. O assediador

oferece uma vantagem na empresa ou ameaça demitir a vitima, por exemplo. Entretanto, o

assédio sexual é difícil de ser comprovado pelo fato de envolver apenas duas pessoas: o

assediador e o assediado. Sem contar, que muitas vítimas, por receio, preferem o silêncio com

medo de perder o emprego, principalmente se depender dele para seu sustento e o da família,

e aí são inevitáveis consequências psicológicas como a depressão.

11 LEYMANN, Heinz. The contempt and development of mobbing at work. European Journal

of Work and Organisational Psychology, Peter Herriot, v. 5, nº 2, 1996, p. 165-181.

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O assédio pode se dar tanto pelo chefe, quanto pelo chefiado. Ele pode ser silencioso,

quando a vítima é excluída, ninguém conversa com ela, minando sua autoestima a cada ato,

ou não, quando a vítima é sempre criticada por alguém, sendo ridicularizada perante os

colegas.

O assédio moral pode ocorrer ainda de forma dolosa, em que alguém tem interesse

em praticar o ato, ou na forma culposa, quando a empresa não tem interesse no assédio, mas

seu empregado o faz. A empresa tem a obrigação de fiscalizar seus empregados para que isso

não ocorra. Se não fiscalizar, responde pela sua omissão.

Dentre os tipos existentes de assédio, caracterizados pela doutrina, podemos destacar,

na visão de Sérgio Pinto Martins12:

Assédio moral vertical ascendente: o assédio moral vertical é praticado pelo

superior hierárquico, mas quando um grupo de subordinados se insurge contra o chefe, em

virtude da sua forma de chefiar e de utilizar mudanças radicais no sistema de trabalho, tem-se

o assédio moral vertical ascendente. Nesses casos, os métodos do chefe não são aceitos pelo

grupo. Suas ordens não são cumpridas e há hostilidades ao chefe. O objetivo é desestabilizá-

lo. Isso pode ocorrer, dentre outros motivos, com chefes com idade inferior a dos demais

funcionários que não aceitam uma pessoa mais nova ou com menos experiência determinando

as regras no setor, ou ainda devido a uma fusão ou quando uma pessoa passa a ser chefe de

seus antigos colegas de trabalho.

Assédio moral vertical descendente: neste caso, o superior hierárquico pretende

firmar-se perante os subordinados, tentando demonstrar que detém o poder. O objetivo é

destacar-se perante seus subordinados ou afirmar que manda no local.

12 MARTINS. Sérgio Pinto. Assédio Moral no Emprego. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2013.

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Assédio moral horizontal: é feito pelos próprios colegas de um mesmo nível, que

não aceitam uma pessoa no ambiente de trabalho. Pode ser o exemplo de um colega que não

quer a concorrência de outro, que pode atrapalhá-lo em eventual promoção. É uma forma de

eliminar competidores. Neste caso, o assediador começa a apontar problemas do assediado no

trabalho, como de falta de competência, desempenho, comportamento inadequado,

distorcendo informações em relação ao assediado.

Assédio moral misto: ocorre quando o cerco é feito pelo superior ao subordinado e

também entre pessoas que estão no mesmo grau de hierarquia na empresa.

Assédio moral individual: normalmente é feito contra uma pessoa específica.

Assédio moral coletivo: é o realizado por um grupo contra uma pessoa. Exemplo

clássico seria de um grupo que não gosta do chefe e quer retirá-lo da chefia. Pode-se dividir

ainda em assédio moral coletivo passivo e assédio moral coletivo ativo. Este se dá quando

um grupo assedia uma pessoa e aquele quando uma pessoa assedia várias outras, como no

caso de atingimento de metas de vendas, em que o empregado tem que pagar “prendas”.

Assédio moral institucional, organizacional ou corporativo: ocorre quando a

empresa determina trabalho que implica prejuízo à dignidade dos seus trabalhadores. Caso

típico pode ser o empregado ter de pagar prendas por não cumprir metas, revistas-intimas,

proibição de uso de banheiro, dentre outras.

Assédio moral estratégico: ocorre quando o empregador quer que um empregado

peça demissão para não assumir o custo da despedida. É uma forma de livrar-se do

empregado com menor custo financeiro. Muitas vezes, o empregado é colocado na

“geladeira”, de maneira que se sinta mal, até pedir demissão.

Assédio moral repressão: diz respeito a dois tipos de empregados: os representantes

de pessoa e os dirigentes sindicais, além de empregados que eram destaque na empresa e não

são mais, sendo agora considerados traidores. São assédios feitos de forma violenta.

19

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Assédio moral perverso: é normalmente prolongado, mas visa que a vitima

permaneça na empresa para continuar a ser assediada.

Assédio moral por delegação: ocorre quando o chefe manda o subordinado fazer o

assédio moral numa certa pessoa.

Assédio moral discriminatório: é o decorrente de tratamento desigual em razão de

sexo, idade, estado civil, cor, religião.

O assédio moral pode ainda ser visual, exposto a todos, ou velado. Em geral o

assediador tem mau humor e descarrega-o nos colegas.

O ato de assediar pode se dar em razão de uma inveja em relação ao fato de que o

assediado é bem quisto na empresa, de que é considerado pelos superiores hierárquicos e tem

uma aceitação muito grande entre os demais colegas. Ele não aceita que outra pessoa seja

melhor que ele na empresa.

O assediador frustrado tem frustrações que são originárias talvez da inveja e ciúmes,

mas também do fato de que adquiriu essa frustração no curso da vida, podendo ser originária

do tempo em que vivia com seus pais.

Já o crítico pode ser a pessoa que critica tudo e todos. Pode ter adquirido esse

comportamento da família ou de seus pais, se estes forem autoritários.

O sádico sente prazer em destruir moralmente a pessoa, agindo de forma perversa,

enquanto que o carreirista age para não ser atrapalhado em seus planos de galgar postos mais

altos na empresa.

Já o assediado, sujeito passivo, pode ser um empregado, chefe, gerente ou mesmo um

estagiário da empresa. A vítima em geral é tímida, tem grau de escolaridade maior que os

outros empregados, sensível, medrosa e servil.

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Segundo Leymann13, para caracterizar o assédio moral deve haver frequência nos

atos praticados contra o empregado, pelo menos uma vez por semana, durante seis meses.

O assédio moral expõe o trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras

repetidas e prolongadas vezes, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções,

levando a vítima a se desestabilizar emocionalmente. Tal fato pode se dar de forma comissiva

ou omissiva, afetando sua autoestima e a própria segurança psicológica, causando estresse e

outras enfermidades relacionadas à medicina e segurança do trabalho.

Já o assédio sexual, para o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é a abordagem

não desejada pelo outro com intensão sexual de alguém em posição privilegiada, que usa

dessa vantagem para conseguir favores sexuais de subordinados.

O assédio sexual é mais difícil de ser comprovado do que o assédio moral, pelo fato

de envolver apenas duas pessoas, o assediador e o assediado. Sem contar que muitas vítimas,

por receio, preferem o silêncio com medo de perder o emprego, principalmente se

dependerem dele para seu sustento e o da família, e aí são inevitáveis as consequências

psicológicas como em alguns casos a depressão.

O assédio moral pode ser encontrado em qualquer profissão, enquanto que o assédio

sexual é percebido com mais frequência em profissões como empregada doméstica e

secretariado. Isso porque são profissões exercidas em espaços privados, que isola o assediado,

facilitando a ação do assediador e gerando medo da denúncia, muitas vezes, por tal

isolamento e dificuldade de conseguir testemunhas.

Geralmente, o ambiente de trabalho é o mais perverso para as mulheres, pois, além

do controle e da fiscalização cerrada, são discriminadas. Essa prática é mais frequente com as

afrodescendentes. Muitas vezes o assédio moral diferido contra elas é precedido de uma

13

LEYMANN, Heinz. The contempt and development of mobbing at work. European Journal

of Work and Organisational Psychology, Peter Herriot, v. 5, nº 2, 1996, p. 165-181.

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negativa ao assédio sexual. Em alguns casos, os constrangimentos começam na procura do

emprego, a partir da apresentação estética. Posteriormente, ações como: ameaça, insulto,

isolamento, restrição ao uso sanitário, restrições com grávidas, mulheres com filhos e casadas

são as primeiras a serem demitidas. Os cursos de aperfeiçoamento são preferencialmente para

os homens, revista vexatória, e outras atitudes que caracterizam assédio moral.

O homem não está livre do assédio, particularmente se for homoafetivo ou possuir

algum tipo de limitação física ou de saúde. No que se refere à orientação sexual, não há

instrumentos oficiais para esse tipo de verificação. E, aqui, o entrave é também cultural e está

ligado ao que significa ser homem na sociedade brasileira. Em uma sociedade machista, os

preconceitos com relação à orientação sexual são ainda mais graves.

É no cotidiano do ambiente de trabalho que o assédio moral ganha corpo. Alguns

comportamentos típicos do(a) agressor(a) fornecem a senha para o processo de assédio moral

nas empresas.

O assédio moral é uma relação triangular entre quem assedia, a vítima e os demais

colegas de trabalho.

Apesar disso, mulheres e homens reagem de maneira diferente, quando vítimas de

assédio. Mas independente do sexo, o assédio moral desencadeia ou agrava doenças.

Mulheres: são humilhadas e expressam sua indignação com choro, tristeza,

ressentimentos e mágoas. Sentimento de inutilidade, fracasso e baixa autoestima, tremores e

palpitações. Insônia, depressão e diminuição da libido são manifestações características desse

trauma.

Homens: sentem-se revoltados, indignados, desonrados, com raiva, traídos e têm

vontade de se vingar, ideias de suicídio e tendências ao alcoolismo. Sentem-se envergonhados

diante da mulher e dos filhos, sobressaindo o sentimento de inutilidade, fracasso e baixa

autoestima.

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3. IMPACTOS DO ASSÉDIO NA RELAÇÃO DE EMPREGO

São visíveis os impactos do assédio na relação de emprego. Também, são inúmeras

as normas que protegem o empregado do dano causado pelo assédio moral no ambiente de

trabalho, seja diretamente, seja por analogia.

O MTE é o órgão responsável pela fiscalização do cumprimento de todo

ordenamento jurídico que trata das relações de trabalho, dentro do compromisso assumido

pelo governo brasileiro de atender efetivamente às disposições da Convenção nº 111 da

Organização Internacional do Trabalho (OIT).

A Convenção nº 111 define discriminação como toda distinção, exclusão ou

preferência, que tenha por efeito anular ou alterar a igualdade de oportunidades ou de

tratamento em matéria de emprego ou profissão. Abrangendo, nessas situações, os casos de

assédios, seja moral ou sexual, no ambiente de trabalho.

A Convenção 155 da OIT estabelece que a “saúde, em relação ao trabalho, abrange

não só a ausência de afecções ou de doença, mas também os elementos físicos e mentais que

afetam a saúde e estão diretamente relacionados com a segurança e higiene do trabalho” (art.

3º, “e”).

Além disso, a própria CLT, bem como a Constituição são rígidas no que tange a

proteção dos direitos da personalidade e da dignidade da pessoa humana trabalhadora.

O empregador é obrigado a manter um ambiente hígido de trabalho no

estabelecimento e na empresa, por força do art. 157 da CLT. Já no art. 483, “e” da CLT, tem-

se a clara proteção do empregado contra o dano causado pelo empregador “praticar o

empregador ou seus prepostos, contra ele ou pessoas de sua família, ato lesivo da honra e boa

fama”.

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Dispõe o inciso X do art. 5º constitucional: “são invioláveis a intimidade, a vida

privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano

material ou moral decorrente de sua violação”. No mesmo capítulo, a nova Constituição

acrescentou: “é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além de

indenização por dano material, moral ou à imagem” (art. 5º, V).

Também o Código Civil de 2002, em seu art. 186 preceitua: “Aquele que, por ação

ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,

ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito” e em seu art. 927: “Aquele que, por ato

ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo”. E ainda em seu

parágrafo único: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos

casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do

dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

O assédio moral e sexual nas relações de trabalho ocorre frequentemente, tanto na

iniciativa privada quanto nas instituições públicas. A prática desse crime efetivamente

fortalece a discriminação no trabalho, a manutenção da degradação das relações de trabalho e

a exclusão social.

Tais práticas evidenciam-se em relações hierárquicas autoritárias, em que

predominam condutas negativas, relações desumanas e antiéticas de longa duração, de um ou

mais chefes, dirigidas a um ou mais subordinados, entre colegas e, excepcionalmente, na

modalidade ascendente (subordinado x chefe), desestabilizando a relação da vítima.

Estudos sobre o tema confirmam que a humilhação constitui um risco “invisível”,

porém concreto, nas relações de trabalho e que compromete, sobretudo, a saúde das

trabalhadoras.

Queda da produtividade e menor eficiência, imagem negativa da empresa perante os

consumidores e mercado de trabalho são alguns dos impactos negativos do assédio no

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ambiente de trabalho, além de alteração na qualidade do serviço/produto e baixo índice de

criatividade; doenças profissionais, acidentes de trabalho e danos aos equipamentos; troca

constante de empregados, ocasionando despesas com rescisões, seleção e treinamento de

pessoal e naturalmente aumento de ações trabalhistas, inclusive com pedidos de reparação por

danos morais.

Ressalta-se que a Constituição fala não somente em valores referentes à pessoa

natural (intimidade, vida privada e honra), mencionando também o valor relativo à imagem.

No entendimento de Maurício Godinho14, é possível acolher-se que possa o dano atingir não

apenas as pessoas naturais do empregado e do empregador, como até mesmo pessoa jurídica

posicionada como empregadora na relação empregatícia (isso independentemente de se

produzir conceito extensivo da própria figura do dano moral).

Como o dano moral não tem medida pecuniária é necessária a fixação por

arbitramento, dentro do prudente critério do julgador, conforme art. 950 do CCB/2002.

Alguns autores atribuem a esse tipo de reparação um caráter punitivo, porque a

indenização não visa à satisfação da vítima, mas sim um castigo para o autor da ofensa. Dessa

forma, as perdas e danos não têm caráter ressarcitório, mas sim exemplar. Ademais, o

sofrimento é impassível de reparação material. O objetivo é impedir que o empregador

pratique novamente o ato com os demais empregados. Também, além da compensação em

pecúnia, nada impede que o legislador determine reparação in natura, de forma a obrigar uma

contrapublicação dos fatos ou uma retratação pública.

A área civil entende que a natureza é compensatória, ou seja, um prazer diminui a

dor e desvia atenção do sofrimento.

14 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr, 2012. P. 618-654.

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No entendimento de Vólia Bomfim15, existem quatro correntes para quantificar o

valor da indenização:

a) A primeira, fala da aplicação analógica do art. 478 da CLT, ou seja, a

indenização consiste em uma remuneração por ano de serviço ou fração superior

a seis meses e, para os empregados com mais de 10 anos, duas remunerações por

ano de serviço. Contudo, apesar dessa corrente ser adotada por parte da

jurisprudência trabalhista, a doutrina a despreza, porque a intensidade do

sofrimento causado pelo patrão independe do tempo que o trabalhador tenha de

serviço.

b) Alguns adeptos têm adotado esta fórmula para todos os casos de dano moral e

aplicado a penalidade, de forma análoga a prevista no art. 953, caput do

CCB/2002 c/c art. 49 Código Penal, ou seja, a indenização por injúria ou calúnia

consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido e se o ofendido não

puder provar prejuízo material, caberá ao juiz fixar, equitativamente, o valor da

indenização, na conformidade das circunstâncias do caso.

c) A aplicação da lei de imprensa (Lei nº 5.250/67 arts. 16, 49, I e 51) a

responsabilidade civil em casos de danos morais limita a reparação entre 2 e 20

salários mínimos. O art. 53 desta lei determina que o juiz levará em conta a

intensidade do sofrimento do ofendido, a gravidade, a natureza e a repercussão

do sofrimento; a intensidade do dolo do agressor, o grau de culpa do responsável,

a situação econômica e condenação anterior em ação criminal; além da retratação

espontânea.

15 CASSAR, Vólia Bonfim. Direito do Trabalho. 2. ed. Rio de Janeiro - rev., atual. e ampl: Impetus, 2008. p. 930-948.

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d) Aplicação analógica do art. 1.694, parágrafo 1º do Código Civil e da Lei de

imprensa, para fixar a indenização de acordo com a capacidade econômica do

empregador e as características do ato praticado.

Segundo Lima Teixeira, dentre outros doutrinadores renomados16, devem estar

presentes os seguintes requisitos:

Extensão do fato socialmente;

Permanência temporal (demora no sofrimento);

Intensidade do ato (venal, doloso, culposo, abusivo);

Antecedentes do agente;

Capacidade econômica do agressor e do ofendido;

Razoabilidade;

Além disso, a indenização não tem finalidade de enriquecer o ofendido, e sim de

pena exemplar do agressor.

A jurisprudência trabalhista acompanha a seguinte teoria:

DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. A natureza da indenização

decorrente do dano moral é de punição educativa ao agressor, de

forma a inibir a repetição do mesmo ato no futuro. Por isso, deve

levar em conta a intensidade do ato, os antecedentes e a capacidade

econômica do empregador. Não tem finalidade de enriquecer a

vítima. (TRT, 1ª Reg. Proc. 02801-2001-243-01-00-8 (RO), Rel.

Vólia Bomfim Cassar, sessão do dia 29/06/2005).

As empresas não se dão conta, muitas vezes, das perdas que o assédio moral pode

acarretar na relação de emprego. A queda da produtividade e menor eficiência, imagem

16

SÜSSEKIND, Arnaldo; MARANHÃO, Délio; VIANNA, Segadas; TEIXEIRA, Lima, op.

cit., p. 633-638.

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negativa da empresa perante os consumidores e mercado de trabalho são algumas das perdas

conhecidas para uma empresa, pela prática do assédio moral. Além disso, ainda podemos

observar:

Alteração na qualidade do serviço/produto e baixo índice de

criatividade/produtividade. Isso porque o trabalhador não tem a tranquilidade

necessária para desenvolver o seu mister.

Doenças profissionais, acidentes de trabalho e danos aos equipamentos. O

empregador não poderá contar com o empregado em razão de ele ficar

constantemente afastado por doença. Isso, sem falar da perda do Estado, que

também tem custo devido ao benefício de auxílio doença que é utilizado em

alguns casos considerados como estágios mais avançados do dano.

O empregado obtém aposentadoria precoce em razão da doença que

desenvolve no trabalho.

Troca constante de empregados, ocasionando despesas com rescisões, seleção e

treinamento de pessoal.

O trabalhador falta com mais frequência ao trabalho em razão de evitar o

assédio ou em razão das doenças que desenvolve.

Aumento de ações trabalhistas, inclusive com pedidos de reparação por danos

morais.

Frisa-se que a reparação por dano causado por assédio moral segue os mesmos

critérios da reparação do dano moral.

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4. AÇÕES PREVENTIVAS QUE PODEM SER ADOTADAS PELA

EMPRESA

Analisar o assediador e entender suas atitudes são os primeiros passos para

incrementar o combate ao assédio moral no ambiente de trabalho.

Os problemas de relacionamento dentro do ambiente de trabalho e os prejuízos daí

resultantes serão tanto maiores quanto mais desorganizada for a empresa e maior for o grau de

tolerância do empregador em relação às praticas de assédio moral. Por isso, para evitar o dano

o ideal é:

Estabelecer diálogo sobre os métodos de organização de trabalho com os gestores de

pessoal e trabalhadores(as)

Realização de seminários, palestras e outras atividades voltadas à discussão e

sensibilização sobre tais práticas abusivas

Criar um código de ética que proíba todas as formas de discriminação e de assédio

moral

Também, analisar situações fáticas e criar mecanismos para evitar o assédio, pode ser

um método bastante eficaz.

Na interpretação de Maurício Godinho Delgado17, a Constituição de 1988 permite

vislumbrar uma sequência de situações fáticas em que se sustenta a ocorrência de violações a

direitos da personalidade do trabalhador na relação empregatícia. Podendo estas serem

separadas em dois grupos relevantes: dano moral individual (ou até plúrimo) e dano moral

coletivo. O dano moral individual possui caráter individual e atinge o patrimônio imaterial da

pessoa, como a personalidade. Ele possui repercussões jurídicas diferenciadas no quadro das

17 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 11. ed. São Paulo: Ltr,

2012. p. 618-654.

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relações a que se integra a pessoa. São situações percebidas na jurisprudência do Tribunal

Superior do Trabalho, após pesquisas em decisões judiciais das 24 Regiões da Justiça do

Trabalho no território brasileiro:

A) Dano moral individual:

A-1) Pré-contratação trabalhista: existe a possibilidade de danos, caso verificada a

ocorrência de forte expectativa frustrada e/ou de despesas necessárias efetivadas

(art. 159, CCB/1916; art. 186, CCB/2002). A regra geral civilista de que a

proposta de contratação, uma vez formulada, estabelece sua vinculação (art.

1.080, CCB/1916; art. 427, CCB 2002), embora contenha exceções importantes,

pode incidir sobre a situação concreta. Não obstante os dois casos refiram-se a

dano material, também pode ensejar dano moral, desde que as circunstâncias

fáticas envolvam desproporcional ferimento do patrimônio moral da pessoa

humana. Assim como pode haver danos em face da perda consistente de uma

efetiva chance, onde além de se contemplar o que efetivamente perdeu também o

que se deixou de lucrar (art. 402, in fine, CC/2002).

A-2) Dinâmica da seleção e da contratação trabalhista: podem nestes casos incidir

temas relativos a discriminação; abuso de prerrogativas empresariais (abuso do

direito); ofensas morais e à imagem; utilização de meios abusivos de seleção,

como agressivos e desrespeitosos testes psicológicos. A ideia não é impedir os

testes psicológicos, porque o Direito não é contrário à ciência, mas sim impedir

métodos agressivos ou desrespeitosos eventualmente utilizados, que podem

entrar em choque com os ditames constitucionais.

No tocante à discriminação na fase de celebração de contrato de trabalho, há

dois diplomas legais pós 1988 que especificam situações potencialmente

verificadas. Trata-se da Lei nº 9.029/1995 e da Lei nº 9.799/1999. O primeiro

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diploma proíbe a “adoção de qualquer prática discriminatória e limitativa para

efeito de acesso à relação de emprego, ou sua manutenção, por motivo de sexo,

origem, raça, cor, estado civil, situação familiar ou idade”. Em relação à mulher

especificamente, considera-se discriminação também a exigência de declarações,

exames e medidas relativamente a esterilização ou estado de gravidez. A lei veda

ainda a indução ou instigamento ao controle de natalidade, mas não considera

como tal o oferecimento de serviços e de aconselhamento ou planejamento

familiar, desde que submetidas às normas do sistema Único de Saúde (SUS).

A lei nº 9.029/1995, em seu art. 4º, estabelece que o rompimento da relação de

trabalho por ato discriminatório, faculta o empregado optar entre duas

alternativas reparatórias: reintegração com ressarcimento integral de todo

período de afastamento, mediante pagamento das remunerações devidas

corrigidas ou a percepção em dobro da remuneração do período de afastamento,

devidamente corrigida.

Já a lei 9.799/1999 torna expresso parâmetros antidiscriminátórios como

utilização de referências ou critérios fundados em sexo, idade, cor, situação

familiar ou estado de gravidez para fins de anúncios de empregos, de critérios de

admissão, remuneração, promoção ou dispensa, para ofertas de vagas de

formação e aperfeiçoamento profissional e situações trabalhistas, conforme art.

373-A, CLT.

A-3) Ofensas físicas: podem ocorrer no ambiente de trabalho e até fora dele, tendo

repercussões contratuais. Note-se que a inviolabilidade do direito à vida e à

segurança são direitos individuais fundamentais, previstos no art. 5º da

Constituição de 88, abrangendo em seu interior, a inviolabilidade física, ainda

que parcial.

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A-4) Ofensas morais: também podem ocorrer no ambiente de trabalho e fora dele,

tendo, em certas circunstâncias, repercussões contratuais. Tal dimensão da

personalidade do trabalhador está explicitamente tutelada pela Constituição, em

seu art. 5º, V e X da CRFB/88.

A-5) Assédio sexual: ofensa de natureza essencialmente emocional, psicológica,

embora podendo ter também dimensão física. A relevância do assunto data da

Constituição de 1988, que fez esta situação de dano moral transbordar do

acanhado conceito de incontinência de conduta (infração do trabalhador: art.

482, “b”, ab initio, CLT) ou art. 483, “e” da CLT (infração empresarial: ato

lesivo a honra e a boa fama) em caracterização, efetivamente, ainda mais ampla.

A-6) Revistas íntimas: são expressamente proibidas quanto às trabalhadoras, de

maneira geral, caso realizadas por homens (art. 373-A, VI, CLT). Cabe

esclarecer, no entanto, que não entende a jurisprudência que a revista íntima

realizada por trabalhador(a) do mesmo sexo seja, ao revés, regra geral, lícita.

Mesmo neste segundo caso, as circunstâncias do caso concreto podem ensejar,

ou não, a obrigação de reparação.

A-7) Revistas em pertences obreiros, embora não íntimas: tema ainda controvertido

na jurisprudência, as revistas em bolsas e sacolas atraem debate sobre a

incidência, ou não, dos princípios da dignidade da pessoa humana trabalhadora e

do respeito à sua privacidade. Por não serem consideradas revistas íntimas pela

maioria da jurisprudência, tem contado com seu beneplácido interpretativo.

Entretanto, há corrente jurisprudencial que condiciona a validade de tais revistas

em bolsas e sacolas, a efetiva necessidade, segundo o segmento empresarial; por

inviabilidade de se exercitar o poder fiscalizatório por outros meios menos

invasivos.

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A-8) Limitação de uso de banheiros no ambiente laborativo: o poder empregatício

argumenta trata-se de mera gestão de tempo, situada nos limites do poder de

controle e das necessidades de produtividade do trabalho. Entretanto, a

jurisprudência tem considerado abusiva a mencionada conduta do empregador,

por afrontar o direito à privacidade do empregado (art. 5º, X, CRFB/88) e

também, em certa medida, o próprio princípio da dignidade da pessoa humana

(art. 1º, III, CRFB/88).

A-9) Divulgação de nomes e dados contratuais de empregados, especialmente

salários: a divulgação de tais dados, quando feita pelo empregador, tem sido

considerada afronta à tutela da privacidade, além da tutela da segurança, ambas

de fundo constitucional (art. 5º, X, art. 5º, Caput, CRFB/1988).

A-10) Câmaras televisivas de segurança em banheiros: a afronta aos princípios e

regras constitucionais de tutela à privacidade e à intimidade das pessoas que

trabalham no respectivo estabelecimento empresarial é manifesta em tal situação

aventada, ensejando a indenização pertinente (art. 5º, V e X, CRFB/88). A

jurisprudência coaduna com tal posição, considerando abusiva a instalação

dessas câmaras televisivas em refeitórios. Entretanto, tem-se considerado lícita a

instalação de tais câmaras de segurança em outros lugares do estabelecimento,

tais como portarias, pátios, corredores, locais de trabalho e similares. Afinal o

princípio da tutela à segurança é genérico, favorecendo não só o empregado, mas

também o empregador (art. 5º, Caput; também preâmbulo da CRFB/88).

A-11) Dinâmicas de metas de desempenho e respectivas cobranças: embora a livre

iniciativa seja reconhecida pela Constituição em seu art. 1º, IV, in fine, art. 5º,

XXIII; art. 170, Caput, II e IV da CRFB/88), os instrumentos para alcance de

melhor e maior produtividade do trabalho tem como limites os princípios e

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regras constitucionais tutelares da dignidade da pessoa humana (art. 1º, IV, ab

initio; art. 170, Caput e VIII, CRFB/88), da segurança e do bem estar

(Preâmbulo da Constituição; art. 3º, IV, ab initio; art. 5º, Caput; art. 5º, III, in

fine; art. 6º; art. 193, CRFB/88) e da saúde da pessoa humana trabalhadora (art.

5º, Caput, art. 6º; art. 7º, CRFB/88). O não respeito a esses princípios causa dano

que se torna reparável na forma prevista no art. 5º, V e X, CRFB/88; art. 159,

CCB/1916 e art. 186 do CCB/2002.

A-12) Uso de técnicas motivacionais abusivas e desrespeitosas: a adoção de

métodos, técnicas e práticas de motivação de pessoal que ultrapassem as

fronteiras conferidas por princípios e regras constitucionais referentes à tutela

da dignidade do trabalhador, sua segurança e bem estar, além de sua saúde,

desrespeitando ainda os princípios constitucionais da proporcionalidade e da

razoabilidade, implicam a incidência da obrigação de reparar as lesões

perpetradas. É fundamental que o poder empregatício se atualize e se renove,

adotando critérios e técnicas motivacionais e de críticas compatíveis com a

modernidade jurídica instaurada pela Constituição de 1988.

A-13) Assédio moral: trata-se de figura de apreensão nova na doutrina e na

jurisprudência trabalhistas, sem o necessário destaque antes da Constituição de

1988. No caso do assédio moral vertical, descendente (das chefias em direção a

chefiados), constitui infração do empregador, capitulado nas alíneas “a”, “b” ou

“e” do art. 483 da CLT. Já quando cometidos por colegas de trabalho pode ser

capitulado nas alíneas “b”, in fine e “j” da CLT. Mesmo no caso do assédio ser

praticado por colegas de trabalho, o empregador pode ser responsabilizado pela

vítima do assédio, com fulcro no art. 157, CLT. Esse tipo de assédio pode

ensejar indenização por dano moral.

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A-14) Controle de correspondência no ambiente laborativo: a inviolabilidade do

sigilo das correspondências e das comunicações telegráficas de dados e das

comunicações telefônicas é direito fundamental constitucional, somente podendo

ser quebrado por ordem judicial (art. 5º, XII, CRFB/88). Atado ainda a tutela do

patrimônio da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem dos indivíduos

(art. 5º, X, ab initio, CRFB/88). Tal direito sendo desrespeitado causa dano e

consequente dever de reparação por dano moral. Importante ressaltar, que o

regramento do empregador, inviabilizando ligações interurbanas mediante senha

e congêneres, não constitui autorização para a violação do sigilo das

comunicações efetivamente realizadas.

A-15) Controle de correspondências eletrônicas (e-mails): o mesmo preceito

constitucional referente à inviolabilidade das correspondências (art. 5º, XII,

CRFB/88), que se conjuga com a tutela da intimidade, da vida privada, da honra

e da imagem das pessoas (art. 5º, X, CRFB/88), se aplica nas hipóteses de

correspondências eletrônicas. Não se pode deixar de mencionar a diferença entre

os e-mails que a empresa fornece ao seu empregado, como instrumento de

trabalho e os e-mails particulares. Não há dúvida de que a tutela jurídica aos e-

mails particulares do trabalhador, mesmo quando veiculados nos computadores

da empresa, mantém-se absolutamente íntegro, gozando de inviolabilidade

plena, salvo autorização judicial contrária específica, em conformidade com o

art. 5º, XII, da Constituição. Entretanto, no que tange aos e-mails corporativos,

desde que sejam restritos a ferramentas de trabalho fornecidas pela empresa a

seus empregados para estritos fins contratuais (art. 932, III, CCB/2002: o

empregador responde objetivamente pelos atos de ”...seus empregados, serviçais

e prepostos, no exercício do trabalho que lhes competir, ou em razão dele”).

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Nestes casos a regência normativa é diversa, pois não se trata de atos de

privacidade e de intimidade da pessoa do trabalhador, mas sim de atos jurídicos

profissionais em cumprimento do trabalho, em nome do empregador e, inclusive,

sob completa responsabilidade dele. Tal situação, desde que formata nestes

moldes, não se enquadra nos preceitos normativos citados. De qualquer forma, é

prudente que o empregador ao fornecer o e-mail corporativo, esclareça sobre a

vedação de seu uso para fins particulares ou irregulares, lembrando que os atos

de privacidade, intimidade e congêneres realizados pelos trabalhadores devem

ser veiculados no respectivo e-mail pessoal e não no corporativo.

A-16) Controle e uso de equipamentos eletrônicos e de informática, inclusive acesso

à internet: cabe ao empregador ofertar ferramentas de trabalho a seus

empregados, para uso no ambiente de trabalho, no exercício de seu poder

diretivo (art. 2º, Caput, da CLT). Nessa linha, o empregador pode fixar regras

internas concernentes a utilização desses equipamentos ofertados, inclusive

bloqueando o acesso a sítios pornográficos, de estrito lazer e similares. No

entanto, essa regulação, por parte do empregador, pode gerar ilicitude ou

benefício para o empregado. Para evitar esse tipo de dúvida, os princípios

constitucionais da proporcionalidade e da razoabilidade são utilizados como

referência normativa, servindo para enquadrar fatos em regras jurídicas: desde

que não se trate de ato irregular do empregado e que não cause efetivo prejuízo à

empresa, o uso normal de equipamentos não se considera disfunção contratual,

afinal ninguém se torna expert no uso desses equipamentos se não usar

intensamente. Por outro lado, o rigor excessivo por parte da empresa, quanto ao

controle desses equipamentos, pode ser enquadrado como abuso de poder.

Portanto, regras claras, sensatas e prefixadas, uma vez mais, são importantes

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mecanismos para evitar divergências interpretativas e incompreensões. Dessa

forma, a conduta disfuncional do trabalhador pode ensejar o cometimento de

infração legal, como mau procedimento ou indisciplina ou até desídia, alíneas

“b”, in fine, “h”, ab initio ou “e” do art. 482 da CLT. Do mesmo modo, a

conduta disfuncional do empregador pode ensejar o cometimento de infração

legal tipificada no art. 483 da CLT (rigor excessivo, mencionado na alínea “b”,

por exemplo). Caso a disfunção atinja o patrimônio moral do trabalhador

(intimidade, vida privada, honra, imagem etc.), pode surgir a incidência de

reparação por dano moral.

A-17) Danos derivados de acidente de trabalho, doença ocupacional e doença

profissional: como se sabe o tema pode ensejar reparação de danos materiais e

morais, inclusive danos estéticos em benefício do trabalhador acidentado ou sob

doença ocupacional ou profissional.

O cumprimento do contrato de trabalho pode dar origem também a lesões à

segurança ou saúde do trabalhador, por meio das chamadas doenças

ocupacionais, profissionais e do acidente de trabalho em sentido estrito.

As lesões acidentárias podem causar perdas patrimoniais significativas ao

trabalhador. Em primeiro lugar, no tocante aos próprios gastos implementados

para sua recuperação. Em segundo lugar, podem produzir restrição relevante, ou

até mesmo, inviabilização da atividade laborativa do empregado, conforme a

gravidade da lesão sofrida. Tais perdas patrimoniais traduzem dano material, que

envolve o que realmente se perdeu e o que deixou de se ganhar.

As lesões acidentárias também podem causar dano moral ao trabalhador. Nesse

quadro, a doença ocupacional, a doença profissional e o acidente de trabalho

podem, segundo sua gravidade, provocar substanciais dores físicas e

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psicológicas no indivíduo, com intensidade imediata ou até mesmo permanente,

ensejando a possibilidade jurídica de reparação. Mas não é só, as lesões

acidentárias também podem causar dano estético à pessoa humana atingida.

A ordem jurídica acolhe a possibilidade de cumulação de indenizações por dano

material, dano moral e dano estético, ainda que a lesão acidentária tenha sido a

mesma. O fundamental é que as perdas a serem ressarcidas tenham sido, de fato,

diferentes (perda patrimonial, perda moral e, também, perda estética).

A-18) Condições degradantes do ambiente de trabalho: cabe ao empregador oferecer

aos seus empregados e terceirizados, quando houver, ambiente de trabalho

íntegro, regular e digno. Lembrando, que dispõe a Constituição de 1988, que

todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e que este é

essencial à sadia qualidade de vida (art. 225, caput). Esclarece ainda a lei

máxima que o ambiente de trabalho é parte integrante do conceito constitucional

de meio ambiente (art. 200, VIII, CRFB/88). A CLT, por sua vez, menciona que

incube às empresas cumprir e fazer cumprir as normas de medicina e segurança

do trabalho (art. 157, I, CLT), inclusive as diversas medidas especiais expostas

no art. 200 da Consolidação e objeto de regulação específica, pelo Ministério do

Trabalho e emprego, na forma do art. 155, I da CLT e art. 7º, XXII da

Constituição (“redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de

saúde, higiene e segurança”). Na mesma linha seguem as NR’s (normas

regulamentadoras), visando o aperfeiçoamento dos vários tipos de meio

ambiente de trabalho. A afronta a esses preceitos resulta na indenização por dano

moral (art. 5º, V e X, CRFB/88 e art. 186 CCB/2002.

A-19) Atrasos reiterados de salários: a principal obrigação do empregador é o

pagamento do salário, parcela que constitui a principal vantagem trabalhista do

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empregado em face do seu contrato laborativo (arts. 457 e 458, caput, da CLT).

O salário tem natureza alimentícia (art. 100 CRFB/88), por cumprir papel basilar

no tocante ao cumprimento de necessidades básicas, essenciais da pessoa

humana e de sua família, quais sejam, alimentação, moradia, educação, saúde,

lazer e proteção à maternidade e à infância. Todas essas necessidades são

consideradas direitos sociais fundamentais da pessoa humana, em conformidade

com o art. 6º da Constituição. Por isso, o atraso reiterado, significativo, dos

salários do empregado constitui infração grave, ensejando repercussões

trabalhistas severas como, por exemplo, a rescisão indireta, art. 482, “d” da

CLT. Além disso, afronta diversos direitos sociais (art. 6º CRFB/88) e também o

patrimônio moral do trabalhador (art. 5º, V e X, CRFB/88), gerando a obrigação

de reparação.

A-20) Afronta à inviolabilidade física e a segurança ou estresse acentuado, em face

de violência decorrente do exercício de função perigosa: algumas funções, ainda

que dentro da esfera do pacto empregatício têm submetido o empregado a riscos

consideráveis de violência física e emocional. Tais malefícios não se configura

necessariamente por culpa do empregador, desde que tome as medidas

preventivas cabíveis. No entanto, trata-se de situação que se enquadra na

hipótese de responsabilidade objetiva especificada no parágrafo único do art.

927 do CCB/2002: “Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de

culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade desenvolvida pelo

autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem”.

Nestes casos em que a atividade é de risco acentuado, incide a regra mais

favorável da responsabilidade objetiva empresarial (caput do art. 7º da

Constituição e art. 927, parágrafo único, CCB/2002).

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A-21) Conduta de discriminação no ambiente laborativo: discriminação é a

diferenciação em vista de fator injustamente desqualificante, como o sexo

(gênero), a etnia, raça ou cor, a origem, a idade, o estado civil, a situação

familiar, a opção sexual. A Constituição de 1988 proíbe toda e qualquer

discriminação. A discriminação afronta diretamente a dignidade da pessoa

humana. No âmbito empregatício, além da incidência desse princípio e regra

gerais fixadas amplamente na Constituição, há regra e princípios específicos, na

mesma direção, estabelecidos no art. 7º, XXX, XXXI e XXXII. Existem também

as discriminações não discriminatórias como a proibição de crianças, em certa

medida de adolescentes (art. 7º, XXXIII e art. 227, parágrafo 3º, I, CRFB/88),

assim como a diferenciação quanto a remoção de pesos de 60Kg (regra geral)

para homens – art. 198, CLT e 20Kg em trabalho continuo ou 25Kg, em trabalho

ocasional, para mulheres(art. 390, CLT). Lembrando, que não sendo consistente,

justificada e lícita a diferenciação agride aos princípios e regras anti-

discriminatórias, incidindo o dever de reparar (art. 5º, V e X, CRFB/88 e art. 186

CCB/2002). Existem dois diplomas no país que tratam especificamente da

discriminação trabalhista no instante da contratação, durante o exercício do

contrato e também ao largo da extinção do contrato de trabalho. Esses diplomas

devem ser observados para evitar a obrigação de reparação. Trata-se da Lei nº

9.029 de 1995 e da Lei nº 9.799 de 1999.

A-22) Desrespeito a direitos intelectuais, especialmente relativos à autoria: trata-se

de direito tutelado pela Constituição em seu art. 5º, XXVII, XXVIII e XXIX. Os

direitos intelectuais relativos à criação e utilização de programas de computação

(software) regiam-se pela antiga Lei nº 7.646 de 1987, regulando-se hoje pela lei

nº 9.609/98. O desrespeito a tais regras constitucionais e diplomas normativos

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enseja reparação específica, fixada nas respectivas leis. Além da reparação por

danos materiais, pode haver também reparação por dano moral, dependendo das

circunstâncias da situação fática, caso verificado que a conduta lesiva afrontou

também a dignidade da pessoa da vítima, sua autoestima, seu bem estar, sua

imagem.

A-23) Violação à imagem: o conceito de imagem traduz a ideia de projeção da

pessoa em seus relacionamentos próximos e na comunidade mais ampla. A

Constituição tutela a imagem da pessoa, situando-a dentro de um patrimônio

moral do indivíduo. A imagem da pessoa humana trabalhadora pode ser violada

de duas maneiras: de um lado, por meio da agressão ao próprio patrimônio moral

do ser humano, de modo a lhe atingir também a imagem, sua projeção com

relacionamentos próximos e no cenário da comunidade. De outro lado, por meio

da utilização não autorizada ou não retribuída da imagem do indivíduo. É o que

prevê o art. 20 CCB/2002, que estipula indenização pelo uso irregular ou não

autorizada da imagem.

A-24) Acusação não comprovada de ato ilícito: a CLT prevê a possibilidade de

dispensa do trabalhador por justa causa (art. 482 e alíneas). O simples

enquadramento da conduta obreira motivadora da dispensa nos tipos jurídicos do

art. 482 da CLT não enseja, regra geral, reparação por dano moral à imagem.

Tratando-se, porém, de enquadramento em ilícito trabalhista e também ilícito

criminal. Claro que se feita essa acusação de modo desapropriado ou leviano,

sem substrato probatório convincente, ou seja, de maneira descuidada, com

alarde e publicidade, ainda que informais, pode gerar dano suscetível de

reparação. Mesmo que não transpareçam essas características circunstanciais

descritas (leviandade, descuido, publicidade), a mera acusação de ato ilícito, por

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afrontar gravemente à honra e à imagem da pessoa humana, pode ensejar danos

morais, caso comprovada (art. 5º, V e X CRFB/88).

A-25) Anotação desabonadora em Carteira de Trabalho: a CLT é documento de

caráter oficial (art. 13, CLT), sedo regulado especificamente pela ordem jurídica

imperativa (arts. 13 a 56 da CLT), sem espaço para a criatividade privada. Por

isso, o empregador só deve lançar na CTPS as anotações estritamente

obrigatórias, que estão arroladas em lei (arts. 29, 32 e 34, CLT, por exemplo).

Considera-se conduta maliciosa do empregador e seus prepostos, passível de

reparação por dano moral, a anotação de observações indevidas, visando causar

prejuízo ao trabalhador, mesmo que referentes à existência de ação trabalhista ou

de determinação judicial, conforme previsão nos arts. 186 e 187 CCB/2002, bem

como no art. 3º, IV da CRFB/88.

A-26) Dispensa discriminatória: conforme já tratado, qualquer ato discriminatório é

passível de reparação por danos morais, inclusive no que tange ao rompimento

do contrato. A ilicitude, quanto à causa da extinção contratual pode levar a três

alternativas: a primeira, à própria reintegração do empregado, a segunda, a

reintegração rescisória pertinente, se incabível ou não recomendável a

reintegração e a terceira, à conversão em dispensa sem justa causa, caso tenha

ocorrido a dispensa por justa causa. Em qualquer das três alternativas pode

incidir a indenização por danos morais. Lembrando, que as rescisões em casos

de discriminação, reguladas pela lei nº 9.029/1995, é dobrada e não simples.

A-27) Elaboração e/ou divulgação de “lista suja” de trabalhadores: a confecção e

divulgação de listas de nomes de trabalhadores que tenham proposto ação

judicial contra seus empregadores ou que tenha participado de movimentos

paredistas têm sido compreendidas pela jurisprudência como conduta

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deflagradora de manifesto dano moral, seja com relação a cada indivíduo

presente na lista (dano moral individual ou até mesmo plúrimo), seja com

relação a toda comunidade de trabalhadores (dono moral coletivo). É que tais

“listas sujas” conteriam nítido intuito discriminatório, visando potencial

retaliação de seus componentes pelo mercado empresarial circundante. Neste

caso, os preceitos constitucionais violados são: Preâmbulo da Constituição

(garantia de exercício de direitos sociais e individuais; garantia de liberdade,

segurança e bem estar, busca de uma sociedade fraterna, pluralista e sem

preconceitos); art. 1º, III (dignidade da pessoa humana); art. 1º, IV (valorização

social do trabalho e da livre iniciativa); art. 3º, IV (promoção do bem de todos,

sem preconceitos de origem, e quaisquer outras formas de discriminação); art. 6º

(direitos sociais do trabalho e à segurança). A afronta a tais princípios que

tutelam o patrimônio moral da pessoa humana que vive do trabalho, enseja

indenização por dano moral (art. 5º, V e X, CRFB/88; art. 186 CCB/2002).

B) Dano Moral Coletivo: o dano moral possui caráter individual, em princípio, uma

vez que atinge o patrimônio imaterial específico da pessoa humana. No entanto, no

contexto empregatício, a conduta que leva a lesões de ordem moral ao ser humano

pode, sem dúvida, ter caráter massivo, largo indiferenciado, de modo a atingir todo

um núcleo coletivo circundante.

As situações de dano moral coletivo tendem a traduzir uma linha de conduta

reiterada de entidades que têm um papel relevante no mundo do trabalho, sejam empresas,

sejam entidades dirigidas à contratação e gestão de mão de obra, ou outros. Desde que a

conduta envolva distintos trabalhadores em torno de atos jurídicos distintos, caracterizando-se

por significativa lesividade, de modo a tornar relevante seu impacto em certa comunidade,

pode despontar dano moral coletivo trabalhista.

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A jurisprudência tem enfrentado alguns temas especialmente em ações relativas a

danos morais coletivos, por traduzirem não apenas lesões macrossociais, mas também

estratégias de atuação de certos empreendimentos econômicos e sociais fortemente lesivas à

sociedade do trabalho tutelada pela Constituição da República.

Tem despontado ainda ações de dano moral coletivo contra empresas que exercem

atividades de risco, perigosas ou fortemente insalubres, porém sem adotarem as medidas

profiláticas obrigatórias ou recomendáveis para alcance de melhor ambientação dos locais de

trabalho.

Também se observa ações judiciais de dano moral coletivo em face de terceirização

ilícita envolvendo toda uma empresa ou alguns de seus segmentos importantes.

É legítimo, do ponto de vista ativo, propor ações judiciais (ações civis públicas ou

ações coletivas – Constituição Federal, art. 129, III; Lei nº 7.347/1985; Código de

Consumidor – Lei nº 8.078), tendo por objeto dano moral coletivo, no âmbito trabalhista

especialmente o Ministério Público do Trabalho, mas também não se pode negar a

legitimidade ativa dos sindicatos.

Dessa forma, podemos concluir que se essas são as ações mais comuns de dano na

relação de emprego, uma vez conhecidas, as empresas podem trabalhar ações preventivas para

combatê-las.

Se preocupar com a prova é outro fator importante no que tange a prevenção contra o

assédio moral. Segundo Vicente Greco Filho18, a prova é o elemento que pode levar o

conhecimento de um fato a outra pessoa.

A prova do assédio será do empregado, por se tratar de fato constitutivo do seu

direito (art. 818 da CLT e inciso I do art. 333 do CPC). Trata-se de prova difícil de ser

18

GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 16. ed. São Paulo: Saraiva,

2003, v.2, p.182.

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produzida, pois geralmente as manifestações ocorrem quando estão presentes apenas

assediador e assediado.

Não se pode falar em inversão do ônus da prova, no sentido de que o empregador

deveria fazer prova de que não praticou o assédio, pois haveria prova impossível muitas vezes

de ser feita. Não há previsão legal nesse sentido, na legislação processual trabalhista. No

entanto, todas as provas admissíveis em direito serão admitidas, art. 332 do CPC. Lembrando

que não é possível condenar por presunção neste caso.

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5. ENTENDIMENTO DOS TRIBUNAIS SOBRE ASSÉDIO

Os seguintes julgados entenderam pela não existência de dano moral em atitudes praticadas

pelo empregador:

ASSÉDIO MORAL. ELEMENTOS CARACTERIZADORES. O assédio moral

está ligado às condições hierárquica e de autoridade do empregador, mas

especificamente aos desvios no uso destas faculdades não se confundindo com a

“pressão” psicológica resultante do recrudescimento do mercado de trabalho no

qual se insere a atividade do empregado, tampouco com o simples “receio de

perder o emprego”. O empregador detém legítimo direito de exigir produtividade

dos seus empregados, porque assume os riscos da atividade econômica (CLT, art.

2º). Inexistem nos autos elementos que apontem no sentido de a empregada ter

sido exposta a situação humilhante ou constrangedora, ou mesmo sofrimento

psicológico, por ter sido afastada do local de trabalho ou por ter sido remanejada

para outro departamento. Simples desconforto não caracteriza assédio moral e não

justifica a indenização pretendida (TRT 10ª R., RO 00378-2005-801-10-00-3,1ª

T., j. 7.12.05, Rel. juíza Elaine Machado Vasconcelos).

DANO MORAL DECORRENTE DE ASSÉDIO MORAL. A Turma não

conheceu do recurso de revista da Reclamante aos seguintes fundamentos: Não é

demais reprisar os fundamentos consignados pelo Tribunal a quo para refugar a

postulação intitulada; seguem: NULIDADE DO JULGADO. NOVA PERÍCIA.

ACIDENTE DO TRABALHO E REINTEGRAÇÃO NO EMPREGO. DANO

MORAL, MATERIAL E PSÍQUICO. ASSÉDIO MORAL. INDENIZAÇÃO. O

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exame da preliminar de nulidade do julgado passa pelo exame das questões

colocadas em epígrafe, frente ao enorme questionamento que é feito pela

recorrente levando, necessariamente, a abordar outros ângulos que envolvem toda

a matéria. O juízo a quo, ao fundamento de que a perícia médica realizada

concluiu, peremptoriamente, que o trabalho na empresa reclamada não foi o

responsável pelo surgimento do transtorno de pânico de que é portadora a

reclamante, indeferiu o pedido de reintegração no emprego ou suspensão do

contrato de trabalho e, ainda, indenizações por danos materiais, morais e

psíquicos, além do assédio moral do qual se diz vítima a empregada.

Inconformada, alega a recorrente que todos os documentos carreados aos autos,

inclusive a prova testemunhal produzida (f. 15/30 e 329/330), comprovam a

existência de doença profissional, quando da sua dispensa, bem como a culpa

exclusiva da recorrida, em decorrência do estresse profissional a que foi

submetida, estando seu quadro caracterizado por ansiedade, depressão síndrome

do pânico, medo de passar mal, morrer, sair de casa, medo de ficar sozinha.

Acrescenta que não existe qualquer relação com a suposta crise da recorrente em

1988, com a atual crise. Notadamente, porque o perito afirmou que a doença da

reclamante, em 1988, foi de cálculo renal. Os argumentos da recorrente são

equivocados e não podem prevalecer. De início, é preciso destacar que o extenso e

minucioso relato do exame psiquiátrico a que foi submetida a obreira (f. 292/294),

revela exatamente as suas condições de saúde, antes, durante, e posteriormente ao

período de vigência do contrato, cujas impressões registradas no laudo têm origem

no próprio relato da autora, levando à hipótese diagnosticada, de que é portadora

de transtorno de pânico (ansiedade paroxística episódica), estando o quadro atual

estabilizado, com uso de medicação. Portanto, como se viu, a r. decisão não

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padece de nulidade absoluta, de modo a desconstituir o laudo pericial, com

determinação de nova perícia. Em resposta ao quesito 7 (f. 303/304), asseverou o

perito que não há nexo de causalidade entre a doença e o trabalho desenvolvido na

reclamada, tendo como causa fatores multifatorias, não estando a periciada

incapacitada para sua ocupações habituais. A doença dela não é considerada

acidente do trabalho ou doença ocupacional equiparada a acidente do trabalho

(resposta aos quesitos 9, 11 e 13 - f. 303/307). A conclusão do perito demonstra

que antes mesmo de ser admitida nos quadros da empresa a obreira fez tratamento

para cálculo renal e as avaliações médicas - apesar dos sintomas - resultaram em

negativas (normal). Passou por especialistas de diversas áreas, sendo encaminhada

a um psiquiatra em 24-08-2004. Digno de nota, no presente caso, é que a própria

reclamante deixa claro que o trabalho não lhe era prazeroso, por haver um conflito

interno entre sua execução e o conceito que tinha a respeito do produto que

deveria oferecer, fato salientado pelo juízo, com fundamento no relato da autora

ao perito (linha 17 em diante, f. 294). É evidente que a empresa exigia metas

ofertando prêmios em troca. A experiência tem demonstrado, na realidade fática,

que a dor, ou aflição, ou mesmo o constrangimento, são fenômenos ínsitos na

alma humana como reações naturais a agressões do meio social. Dispensam, pois,

comprovação, bastando no caso concreto, a demonstração do resultado lesivo e a

conexão com o fato causador, para responsabilização do agente. (...)E os motivos

erigidos pela recorrente vão contra o quadro fático fixado com supremacia e em

última instância pelo Tribunal Regional, o qual, após sopesar todas as nuances

fáticas pertinentes e o laudo pericial produzido, foi taxativo em afirmar que

nenhuma atitude da reclamada levou ao desencadeamento do transtorno do

pânico, sendo inegável que não houve culpa da empregadora pela doença sofrida

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pela obreira. Nessas circunstâncias, não há como reconhecer ofensa literal aos

textos constitucionais e de lei ordinária invocados, consoante exige o art. 896, "c",

Consolidado, além do que e por decorrência, revelam-se inespecíficos os arestos

trazidos à divergência (fls. 484 e 489/490), nos termos preconizados nas Súmulas

23 e 296, I, do Tribunal Superior do Trabalho. Logo, não conheço. (fls. 600-605)

(Processo: E-RR - 120100-88.2005.5.03.0037, Data de Julgamento: 29/04/2010,

Relator Ministro: Horácio Raymundo de Senna Pires, Subseção I Especializada

em Dissídios Individuais, Data de Publicação: DEJT 14/05/2010).

AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. REINTEGRAÇÃO.

DESPEDIDA IMOTIVADA. NULIDADE. DANO MORAL. ACÚMULO DE

CARGO E FUNÇÃO. HORA EXTRA. ADICIONAL POR TEMPO DE

SERVIÇO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. MULTA

CONVENCIONAL. ADICIONAL DE PERICULOSIDADE. INTEGRAÇÃO.

SALÁRIO UTILIDADE. DESCONTO SALARIAL. SEGURO DE VIDA. FGTS.

DIFERENÇA DE RECOLHIMENTO. DESPACHO MANTIDO POR SEUS

PRÓPRIOS FUNDAMENTOS. AGRAVO DESPROVIDO. (...) A despeito das

razões expostas pela parte agravante, merece ser mantido o despacho que negou

seguimento ao Recurso de Revista, pois subsistentes os seus fundamentos. Agravo

conhecido e desprovido. Ademais, o Reclamante não provou a alegada coação

para que aderisse ao PDV, muito menos exposição a situações humilhantes e

constrangedoras, intimidação ou assédio moral, não havendo se falar em vício de

vontade ante a mera alegação do trabalhador de ter sofrido coação. Ressalte-se,

como bem registrado pela sentença de origem, que até mesmo a testemunha

convidada pelo reclamante atestou a inexistência de qualquer espécie de pressão

na adesão ao plano de desligamento voluntário, referindo-se apenas ao lapso de

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uma semana oferecido pela empresa para a tomada da decisão quanto à adesão. A

pretensão do Recorrente, assim como exposta, importaria, necessariamente, o

reexame de fatos e provas, o que encontra óbice na Súmula 126/TST e inviabiliza

o seguimento do recurso, inclusive por divergência jurisprudencial. (...)

(Processo: AIRR - 55041-18.2008.5.02.0251 Data de Julgamento: 28/04/2010,

Relatora Ministra: Maria de Assis Calsing, 4ª Turma, Data de Publicação: DEJT

07/05/2010).

Nos casos abaixo ficou constatado o assédio moral, com direito a pagamento de indenização

por dano moral:

EMPRESA PRIVADA. ESTIPULAÇÃO DE METAS DE VENDAS. PRESSÃO

PSICOLÓGICA PARA ATINGIR ESTIMATIVA DE VENDAS.

INDENIZAÇÃO. DANO MORAL. A indenização decorrente de dano moral

causado por assédio moral, quando o empregador impõe ao empregado

cumprimento de metas, sob constante ameaça de demissão nos casos de não

atingimento das mesmas, resultando numa efetiva pressão psicológica, é cabível,

já que tal procedimento atenta contra a dignidade do trabalhador, sendo reparável

mediante razoável indenização por danos morais (TRT 13ª Região, RO

0967.2008.025.13.00-2, Rel. Ana Maria Ferreira Madruga, DJ e 3.9.2009).

ASSÉDIO MORAL. REPERCUSSÕES SOCIAIS. A questão da ofensa à moral

conflagra um subjetivismo oriundo da própria condição de cada individuo. Não se

sente menos constrangido o trabalhador que escolhe adotar uma postura

conciliadora, preferindo não detonar uma crise no ambiente de trabalho que

fatalmente o prejudicará, pois a questão aqui transcende a figura do ofendido,

projetando as consequências pela supressão do seu posto de trabalho a quem dele

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eventualmente dependa economicamente. O fantasma do desemprego assusta,

pois ao contrário da figura indefinida e evanescente que povoa o imaginário

popular, este pesadelo é real. É o receio de perder o emprego que alimenta a

tirania de alguns maus empregadores, deixando marcas profundas e às vezes

indeléveis nos trabalhadores que sofrem o assédio moral. Exposta a desumanidade

da conduta do empregador, que, de forma aética, criou para o trabalhador

situações vexatórias e constrangedoras de forma continuada através das agressões

verbais sofridas, incutindo na psique do recorrente pensamentos derrotistas

originados de uma suposta incapacidade profissional. O isolamento decretado pelo

empregador acaba se expandindo para níveis hierárquicos inferiores, atingindo os

próprios colegas de trabalho. Estes, também, por medo de perderem o emprego e

cientes da competitividade própria da função, passam a hostilizar o trabalhador,

associando-se ao detrator na constância da crueldade imposta. A busca

desenfreada por índices de produção elevados, alimentada pela competição

sistemática incentivada pela empresa, relega à preterição a higidez mental do

trabalhador que se vê vitimado por comportamentos agressivos aliados à

indiferença ao seu sofrimento. A adoção de uma visão sistêmica sobre o assunto

faz ver que o processo de globalização da economia cria para a sociedade um

regime perverso, eivado de deslealdade e exploração, iniquidades que não

repercutem apenas no ambiente de trabalho, gerando grave desnível social, daí a

corretíssima afirmação do Ilustre Aguiar Dias de que o “prejuízo imposto ao

particular afeta o equilíbrio social”. Ao trabalhador assediado pelo

constrangimento moral sobram a depressão, a angústia e outros males psíquicos,

causando sérios danos a sua qualidade de vida. Nesse sentido, configurados a

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violação do direito e o prejuízo moral derivante (TRT 2ª Região, 6ª T., RO

01117200203202004, Ac. 20040071124, j. 17-2-04, Rel. Juiz Valdir Florindo).

RECURSO DE REVISTA. DANO MORAL DECORRENTE DE SUBMISSÃO

DE EMPREGADA A TESTES DE POLÍGRAFO (DETECTOR DE

MENTIRAS). A submissão de empregados a testes de polígrafo viola sua

intimidade e sua vida privada, causando danos à sua honra e à sua imagem, uma

vez que a utilização do polígrafo (detector de mentiras) extrapola o exercício do

poder diretivo do empregador, por não ser reconhecido pelo ordenamento jurídico

brasileiro o mencionado sistema. Assim, in casu, compreende-se que o uso do

polígrafo não é indispensável à segurança da atividade aeroportuária, haja vista

existirem outros meios, inclusive mais eficazes, de combate ao contrabando, ao

terrorismo e à corrupção, não podendo o teste de polígrafo ser usado

camufladamente sob o pretexto de realização de "teste admissional" rotineiro e

adequado. Além disso, o uso do sistema de polígrafo assemelha-se aos métodos de

investigação de crimes, que só poderiam ser usados pela polícia competente, uma

vez que, no Brasil, o legítimo detentor do Poder de Polícia é unicamente o Estado.

Recurso de revista conhecido e parcialmente provido, (Processo: RR - 28140-

17.2004.5.03.0092, DJ: 10/03/2010, Relator Ministro: Mauricio Godinho

Delgado, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 07/05/2010).

DANO MORAL. ASSÉDIO SEXUAL EMORAL. Configura-se assédio sexual e

moral quando empregado da empresa assedia funcionária enconstando-se a ela,

fazendo massagem, mexendo no cabelo da reclamante, o que também foi feito

com outras empregadas, sem que haja correspondência por parte delas. O

empregado usava termos de baixo calão para se dirigir a todos do setor dele,

inclusive a reclamante, questionando inclusive sobre a cor dos cabelos da

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testemunha. Dano moral configurado. Indenização mantida. (TRT 2ª R., 18ª T.,

0472-63.2006.5.02.0084, j. 23.3.11, Rel. Sérgio Pinto Martins, Doe SP 31.3.11).

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CONCLUSÃO

O presente trabalho cuja justificativa se dá pela importância de se analisar o tema,

dado que o estudo tem característica interdisciplinar, tem como objetivo tratar um assunto

que, dia a dia, ganha mais espaço na mídia e no cotidiano das organizações.

O assédio vem sendo cada vez mais discutido, mesmo assim, polêmico em sua

essência, sobre o qual se encontra rara bibliografia. Em razão de sua crescente importância

nas relações trabalhistas e de seus efeitos perversos, o assédio moral e sexual no ambiente de

trabalho deve ser debatido de forma séria e comprometida, não só pela classe trabalhadora e

pelo empresariado, mas por toda a sociedade.

Desmistificar a questão do assédio moral e sexual no local de trabalho é o caminho

seguro para prevenir e erradicar sua presença onde já tiver se instalado. Por isso, a empresa

que pretende ter boas relações entre seus colaboradores, proporcionar um bom ambiente de

trabalho aos seus funcionários, ter qualidade e competitividade em seus produtos, não pode

permitir que exista assédio moral no trabalho.

Todos perdem com o assédio moral. A empresa, porque se instala um ambiente

negativo, sem harmonia e que influencia na produção dos empregados. O empregado que fica

doente. O Estado, que tem de gastar para tratar o indivíduo acometido de doença decorrente

do assédio moral, que é uma doença do trabalho. Daí sua relação com a medicina e segurança

do trabalho.

No Brasil, ainda não existe legislação federal específica sobre assédio moral no

Direito do Trabalho, mas os sindicatos profissionais podem lutar para evitar o assédio moral

aos empregados, dentro das empresas, defendendo a categoria para que não ocorram situações

de assédio, pressões psicológicas ou questões semelhantes.

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Da mesma forma, o regulamento da empresa pode prever punições em caso de

assédio moral, além de agir de forma mais proativa.

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REALE, Miguel. Temas de Direito Civil. O dano Moral no Direito Brasileiro. RT, 1992, p.23.

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BRASIL. Lei n. 10.224, de 15 de maio de 2001. Diário Oficial - Seção 1 - Eletrônico, Brasília, DF, 16 mai. 2001, p. 1

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