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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES OS CONTOS DE FADAS E AS CRIANÇAS TANIA BORDEIRA DE MORAES RIO DE JANEIRO Dezembro 2002 DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

OS CONTOS DE FADAS E AS CRIANÇAS

TANIA BORDEIRA DE MORAES

RIO DE JANEIRO Dezembro 2002

DOCUMENTO PROTEGID

O PELA

LEI D

E DIR

EITO AUTORAL

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

VICE-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA

CURSO DE ARTETERAPIA EM EDUCAÇÃO E SAÚDE

OS CONTOS DE FADAS E AS CRIANÇAS

TANIA BORDEIRA DE MORAES

Monografia apresentada como requisito parcial para a conclusão do curso de Pós-Graduação Lato Sensu em Arteterapia em Educação e Saúde para a disciplina de Metodologia da Pesquisa.

Orientador: Carlos Alberto Cereja de Barros

Rio de Janeiro

Dezembro 2002

AGRADECIMENTOS:

A Deus, pela presença constante em minha vida.

A minha mãe Sonia Maria Bordeira, por sua ajuda, dedicação, paciência e

apoio em todos os momentos.

Ao meu orientador, o Professor Carlos Alberto Cereja de Barros, que me

ajudou a realizar esta monografia.

A professora e psicóloga Eveline Carrano Henriques Porto, minha amiga,

a qual me apoiou, para que a realização deste trabalho fosse possível.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Deus, a minha mãe e a todas as pessoas

que me ajudaram, apoiando-me na realização desta monografia.

SUMÁRIO

RESUMO .................................................................................................

1 INTRODUÇÃO .........................................................................................

2 OS CONTOS DE FADAS ........................................................................

2.1 As diferenças entre os Contos de Fadas, os mitos e as fábulas ......

2.2 Era uma vez ... .................................................................................

2.3 O Maravilhoso e o Simbólico ............................................................

2.3.1 O Maravilhoso e suas funções ................................................

2.3.2 A função fantasmagórica ........................................................

2.3.3 A função estética ....................................................................

2.3.4 A função de encantamento .....................................................

3 CRIANÇAS .............................................................................................

3.1 O bom uso do conto ........................................................................

3.1.1 Realidade e ficção ..................................................................

3.1.2 Colocar ordem em si ..............................................................

3.1.3 Vencer seu medo ....................................................................

3.2 Alguns elementos simbólicos dos contos .........................................

3.2.1 As fadas ..................................................................................

3.2.2 Os ogros e os gigantes ...........................................................

3.2.3 O espelho mágico ...................................................................

3.2.4 As metamorfoses ....................................................................

4 O CONTO “Joãozinho e Mariazinha” .....................................................

4.1 O conto e seus símbolos .................................................................

5 CONCLUSÃO ........................................................................................

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................

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RESUMO

Os Contos de Fadas com sua magia e seus prodígios lançam sobre as

crianças um encantamento inesquecível, capaz de durar a vida inteira. Elas

ouvem histórias de príncipes encantados, objetos mágicos, animais falantes,

bruxas perversas e fadas maravilhosas e os contos se parecem com os sonhos,

que vão surgindo de imagem em imagem, de cena em cena, com a mesma

rapidez mágica, que transporta o leitor para lugares onde tudo pode acontecer.

Entretanto a sua maior colaboração é em termos emocionais, tratando e

realizando simultaneamente quatro tarefas: fantasia, escape, recuperação e

consolo. Aprimoram a capacidade da fantasia infantil, fornecendo as fugas

necessárias para transpor, por exemplo, a rejeição em “Joãozinho e

Mariazinha”, as brigas edípicas com a mãe, em “Cinderela” e sentimentos de

inferioridade em “As Três Plumas”. Eles suavizam as pressões causadas por

esses problemas, ajudam no restabelecimento emocional, criando na criança a

coragem necessária para encontrar suas próprias saídas. Finalmente os contos

consolam, porque tendo um “final feliz”, encoraja a criança a buscar seus

próprios valores, aplicando-os à sua realidade.

1 INTRODUÇÃO

Os Contos de Fadas estão diretamente ligados ao processo de

individuação e através deles a criança descobre a sua própria identidade,

vivendo experiências que são necessárias ao seu desenvolvimento. Quando a

criança está mergulhada num universo mágico e fantástico, onde os mitos,

fábulas, fadas e ogros, que representam simbolicamente o seu inconsciente,

conseguem “romper barreiras”, profundamente escondidas fazendo que ela

entre em contato com sua própria realidade.

Os pais, ficam temerosos que os filhos, os identifiquem com os elementos

simbólicos carregados de maldade (bruxas, madrastas, ogros e monstros) e por

isso deixem de amá-los. Entretanto esta preocupação é infundada porque a

criança ao vivenciar um conto consegue lidar com sentimentos contraditórios,

tem sua agressividade diminuída, podendo assim amar os pais de maneira mais

saudável, comparando-os aos heróis e heroínas da história.

Para que os contos sejam atrativos e despertem a curiosidade na criança,

devem estimular sua imaginação, inteligência, ir de encontro as suas emoções,

ansiedades, sonhos e também indicar soluções para os problemas que a

perturbam. Ouvindo um conto, a criança lida com o Maravilhoso e o Simbólico

contido nele e através das suas diversas funções ela consegue entender melhor

suas próprias realizações, vivendo-as de forma mais completa e intensa e até

conseguindo superar algumas de suas dificuldades.

Nosso desejo na apresentação deste trabalho é chamar a atenção sobre

a importância dos Contos de Fadas para o público infantil. Além disso, mostrar

que não é necessário nenhum conhecimento intelectual específico para

entender os contos, pois eles falam de maneira sugestiva de pessoas e

situações que estão muito próximas de nós e que às vezes não conseguimos

identificar.

Recorremos a bibliografia variada com diferentes enfoques, que serviram

para esclarecer e enriquecer este trabalho.

Descrevemos as diferenças, as origens, o bom uso dos contos, dando

ênfase no auxílio que eles podem dar as crianças, para a resolução dos seus

problemas internos e na busca de seu autoconhecimento.

Finalizamos com a apresentação e análise dos símbolos do conto

Joãozinho e Mariazinha, dos Irmãos Grimm.

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OS CONTOS DE FADAS

2.1 As diferenças entre os Contos de Fadas, os mitos e as fábulas

Os Contos de Fadas, mitos, fábulas, possuem em comum o fato do “era

uma vez”, “num certo país”, “há mil anos atrás”, “numa época que os animais

ainda falavam”. Os lugares mais estranhos, mais antigos, mais distantes de que

fala um conto de fada, sugere uma viagem ao interior de nossa mente. Mesmo

quando essa viagem nos leva a um mundo fabuloso que no final acaba nos

devolvendo a realidade de forma mais reasseguradora.

“Os Contos de Fadas mostram de que modo pode se personificar desejos

destrutivos em uma figura, obter satisfações desejadas em outra, identificar-se

com uma terceira, ter ligações ideais com outras e assim por diante,

dependendo das necessidades momentâneas.”

Os Contos de Fadas e os mitos falam na linguagem de símbolos

representando conteúdos inconscientes. As mesmas imagens exemplares,

acontecimentos e situações são encontradas nos dois, mas o que vai diferenciá-

los é a maneira como são narrados em cada qual. Nos mitos os acontecimentos

são grandiosos, inspiram admiração e é pouco provável que acontecessem a

um ser humano mortal; eles nos levam a confrontos diretos ou nos dizem

francamente o que devemos escolher e seu final é quase sempre trágico o que

nos revela que o conteúdo do mito é pessimista.

Nos Contos de Fadas as situações narradas são também inusitadas e

fantásticas, mas poderiam acontecer cm qualquer pessoa e são descritas de

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maneira casual e cotidiana; neles não há confrontos e isto ajuda as crianças a

desenvolverem o desejo de uma consciência mais elevada, favorecendo à sua

imaginação. Seu final é sempre feliz devido as virtudes do herói que por vezes

é auxiliado por figuras sobrenaturais.

“Uma fábula parece ser, no seu estado genuíno, uma narrativa na qual seres irracionais e algumas vezes inanimados, com a finalidade de dar instrução moral, simulam agir e falar com interesses e paixões humanas”. (Samuel Johnson).

As fábulas podem se apresentar de forma séria, ameaçadora ou divertida,

mas uma característica lhe é peculiar, a verdade moral, onde não há significado

oculto e nada é deixado à nossa imaginação. Nos Contos de Fadas as decisões

ficam ao encargo do leitor, que irá decidir se elas podem ser usadas em sua

própria vida.

Para definir se uma história é um conto de fadas ou uma fábula, devemos

ter em mente se o primeiro pode ser considerado um “presente de amor” para

quem irá escutá-la, reacendendo em seu coração uma esperança para o futuro.

2.2 Era uma vez...

Segundo Bonaventure, J (1992), etimologicamente a palavra FADA, vem

do latim Fatum que quer dizer fatalidade, destino, oráculo.

Então, a palavra FADA, em todas as nações européias é nomeada com

termos que provém da mesma origem: FADA (português), FÉE (francês), FAIRE

(inglês), FATA (italiano), FEEN (alemão), HADA (espanhol).

Assim os Contos, são contos do destino, da vida e desde sempre o

homem vem sendo seduzido pelas narrativas que de maneira simbólica ou

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realista, direta ou indiretamente, narram-lhe a vida a ser vivida ou da própria

condição humana, seja relacionada aos deuses, seja limitada aos próprios

homens.

É quase impossível precisar a data da origem dos Contos de Fadas. De

acordo com Marie-Louise Von Franz, nas narrativas do filósofo Platão consta

que as mulheres mais velhas contavam às suas crianças histórias simbólicas

conhecidas como MYTOIS. Desde então os contos estão vinculados à

educação das crianças

Existem também histórias que praticamente não foram alteradas há 2000

a. C. como, por exemplo, a Bela e a Fera. Há informações ainda mais antigas,

de contos encontrados em colunas e papiros gravados por babilônicos, hititas,

cananeus, que a data é de 3000 a. C., onde os temas básicos não mudaram

muito.

Até os séculos XVII e XVIII as histórias foram e ainda são uma fonte de

entretenimento tanto para adultos como para crianças, assim como na Europa,

tornou-se uma espécie de ocupação essencial.

Iniciou-se no século XVIII um interesse científico pelos Contos. De

acordo com J. G. Helder, estudioso dos Contos de Fadas, alguns contos

continham reminiscências de uma velha crença há muito enterrada e que eram

expressas nos símbolos.

Alguns pesquisadores achavam que os temas poderiam ter surgido na

Índia e migrado para a Europa. Outros diziam que todos os Contos de Fadas

eram de origem Babilônica e que tinham se espalhado pela Ásia Menor e de lá

para a Europa

Depois de diversas discussões sobre a origem dos Contos, dois

pesquisadores, Kaurte Krohn e Autti Parme, afirmaram que não era possível

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determinar um único país, onde os Contos de Fadas teriam se originado e que

diferentes Contos poderiam vir de diferentes países.

O interesse científico e histórico, pelos Contos de Fadas, surgiu

principalmente, no sentido de tentar responder à seguinte questão: Por que os

temas dos mesmos se repetem?

Aqui, novamente, chega-se à mesma conclusão: os contos espelham a

estrutura mais simples, mas também a mais básica o esqueleto da psique.

A estrutura dos contos se faz independente do conteúdo exposto neles.

O tempo e o lugar são sempre evidentes porque começam com ERA UMA VEZ

ou algo semelhante, que significa fora do tempo e do espaço, isto é, A TERA DE

NINGUÉM, do inconsciente coletivo. Para Dieckman em todos os Contos de

Fadas há sempre dois mundos: um da experiência do complemento natural,

normal e costumeiro e outro onde impera a magia. No primeiro mundo somos

levados para o interior da nossa alma, que corresponderia a nossa consciência,

enquanto que o segundo pode ser equiparado ao nosso inconsciente, isto é,

aquela esfera de onde vêm os sonhos e as fantasias.

No século XIX Ledvimg Laisthner, um grande pesquisador alemão, surge

como hipótese de que temas básicos dos Contos de Fadas e Folclóricos

derivam dos sonhos. Tendo em vista esta estrutura de acordo com CARL

GUSTAV JUNG, eminente estudioso da psique humana, os Contos de Fadas

estabelecem uma conexão entre o consciente e o inconsciente.

Portanto, a linguagem pode ser considerada como uma linguagem

internacional, de toda espécie humana, que abrange todas as idades, raças e

culturas.

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2.3 O Maravilhoso e o Simbólico

“Era uma vez” assim começam geralmente as maiorias dos Contos de

Fadas, que nos remetem a tempos distantes, a um passado no qual acontecem

coisas extraordinárias, impossíveis para o pensamento racional. É um mundo

de monstros, bruxas, fadas, mágicos, animais falantes, onde a fantasia permite

que um pastor de porcos se transforme em rei, uma Cinderela em princesa...

Podemos afirmar que praticamente as pessoas cresceram ouvindo estas

histórias, e isto foi importante porque assim ocorreu o primeiro encontro com a

fantasia criativa da nossa cultura.

As pessoas ainda são apaixonadas pelo maravilhoso dos Contos de

Fadas, não como chave de explicação da aventura humana, mas como valor

estético.

O maravilhoso é uma resposta para o homem às mudanças inesperadas

da sua realidade.

2.3.1 O Maravilhoso e suas funções

Sinônimos para o termo maravilhoso – “a idéia de milagre que é assim

evocada, pode-se concluir que se trata do sobrenatural, ou seja, que está no

domínio, e não diz respeito às leis naturais, mas à magia ou a intervenção

divina”.

Na realidade, o maravilhoso é simplesmente tudo aquilo que a criança

descobre ao crescer, é a realidade que se revela a ela à medida que aumentam

suas faculdades, sua compreensão. É o espanto sempre renovado diante das

descobertas diárias.

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O Maravilhoso tem suas próprias funções, que são três:

2.3.2 A função fantasmagórica

Os conteúdos dos Contos de Fadas são iguais aos encontrados no sonho

e a psicanálise está particularmente interessada na sua interpretação. Existem

diversos fantasmas nos contos e que remetem aos processos do inconsciente.

Em João e Maria, o fantasma sexual está presente na cena em que a

criança ouve atrás da porta fechada do quarto de seus pais. O fantasma da

sedução fica aparente em Chapeuzinho Vermelho, Cinderela e Branca de Neve

e O Lobo e os Sete Cabritinhos.

Temos que estar atentos que a função fantasmagórica está presente na

vida cotidiana estabelecendo uma ligação como consciente ou sonhos diurnos:

ser rico, belo, poderoso, célebre, encontrar o príncipe encantado, ser sempre

jovem, tornar-se famosa... Os fantasmas do inconsciente que aparecem nos

nossos sonhos noturnos são tão presentes quanto o primeiro, entretanto a sua

interpretação é bem mais complexa e não nos sendo acessível.

Quem nunca sonhou em ser o Batman e voar pelos ares ou ser Peter Pan

para enfrentar o Capitão Gancho, mas de um momento para outro esse sonho

pode ser interrompido, por um despertar muitas vezes brutal e o maravilhoso

cessa de operar. É quando passamos a invejar os heróis, pois voltamos à

nossa condição humana.

É aí que os Contos de Fadas surgem como se pudessem prolongar o

sonho... Que prazer seguir Alice no País das Maravilhas!

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2.3.3 A função estética

Os contos, que em particular tiveram uma versão por escrito, pertencem a

um especial gênero literário e são considerados obras de arte.

Nos contos que falam do desejo do homem de ser o mais bonito, rico,

desejável, o contador tem o interesse em narrar sempre os aspectos

sobrenaturais necessários à realização da conquista/busca do objeto desejado.

O herói tem que mostrar que é capaz de cumprir tarefas, até chegar ao êxito

final.

O mesmo ocorre no conto em que o narrador trabalha sobre o real e onde

o encantamento se dá numa certa relação de convivência com o ouvinte ou com

o leitor, mesmo nas crianças muito pequenas.

Como diz ainda Souriau, “o que é maravilhoso não é o fato em si mas é o

fato que é maravilhoso em sua relação com o real”.

2.3.4 A função do encantamento

Você já observou um grupo de crianças com o olhar fixo nos lábios do

contador, atraídas pelo encanto que o maravilhoso exerce? O conto e

conseqüentemente o contador exercem uma função de “enfeitiçador” de

crianças. O contador é um pouco, à sua maneira, um encantador, o que leva as

crianças junto com ele para o mundo da magia e do encantamento mas, é claro,

com o consentimento delas.

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3 CRIANÇAS

3.1 O bom uso do conto

Com mais de vinte anos de sua publicação, a Psicanálise dos Contos de

Fadas e seu autor Bruno Bettelheim, vêm mantendo junto ao público, o gosto

pelos contos maravilhosos.

“Como terapeuta e educador de crianças gravemente perturbadas minha

tarefa principal foi a de amenizar seus problemas internos e restaurar um

significado para a vida delas”. Só que ele estava profundamente insatisfeito

com grande parte da literatura destinada a desenvolver a mente e a

personalidade das crianças, já que não consegue estimular nem alimentar os

recursos de que ela mais necessita, para lidar com seus problemas psicológicos

pessoais.

Para que uma história realmente prenda a atenção da criança, deve

entretê-la, despertar sua curiosidade e aguçar-lhe a imaginação e assim ao

mesmo tempo interagir com todos os aspectos de sua personalidade,

promovendo a confiança nela mesma e no seu futuro.

Diante de vários problemas que a criança enfrenta, ela necessita de apoio

para entendê-los e com isso aprender a lidar com eles. Pra que ela possa ser

bem sucedida nesta tarefa, ela precisa colocar ordem na sua casa interior e na

sua vida, através de conceitos corretos e significativos. Este tipo de significado

ela irá encontrar nos Contos de Fadas, pois através deles ela irá se identificar.

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3.1.1 Realidade e ficção

O conto de fadas é psicologicamente mais didático do que uma narrativa

realista, porque é através dela que a criança possuidora de uma situação

problema, busca uma solução utilizando assim a sua capacidade de imaginar.

O real para Bettlheim, é o que sentimos em nosso interior e não aquilo que se

passa diante de nossos olhos, todos os dias. “É a realidade psíquica que o

interessa e o conto pode trazer uma resposta imaginária a um conflito real,

colocando este último, à distância, para melhor tratá-lo”.

Assim o conto de fadas proporciona à criança uma viagem maravilhosa,

entretanto ela consegue voltar a sua realidade. Isso significa que ninguém é

enganado no conto de fadas, mas, que simbolicamente expressa uma realidade

interna que se desenvolve através de desejos e angústias.

O conto de fadas é o nosso espelho e é através dele que identificamos

nossos problemas e procuramos dar soluções que só são elaboradas na nossa

imaginação.

O sonho além de não trazer soluções aos conflitos, reduz-se apenas em

simbolizá-los atribuindo a eles significações do inconsciente e sendo assim,

expulsar os sentimentos interiores. O conto de fada mantém uma conversa

intuitiva entre o inconsciente, o pré-consciente e o consciente.

3.1.2 Colocar ordem em si

Através dos contos a criança consegue “Colocar ordem em sua casa

interior”, pois é levada a equilibrar sua personalidade. Assim ela é convidada a

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não se deixar abater pelo real e lutar contra as dificuldades da vida, como os

heróis que alcançam e saem vitoriosos das provas.

A moral dos Contos de Fadas é o desejo do bem e com isso alcançar

uma recompensa suprema, existindo uma busca que acaba com o mal, o

fracasso e a morte dos que se entregam aos desejos destruidores desta busca.

As fadas, os duendes e outros serem elementais, estão nos contos para auxiliar

o herói quando este fr submetido às provas passando a frente do eu e supereu.

A fada é então, identificada como sendo o supereu do homem, o seu anjo da

guarda que irá de encontro com as suas qualidades.

É nesse tipo de conto que aparece em cena o conflito do bem e do mal,

com o final feliz que transmite para a criança a mensagem que ela necessita:

entrar em contato com a sua própria realidade.

3.1.3 Vencer seu medo

A criança traz consigo o medo de ser abandonada por seus pais, da

rivalidade, de ser devorada, dos monstros, bruxas e dos personagens terríveis,

frutos de sua projeção imaginária. Portanto, os Contos de Fadas são úteis a

todos esses medos, pois ajudam a criança a se projetar, a se tranqüilizar, lendo

ou ouvindo essas histórias onde tudo acaba bem. Ela sozinha não consegue

inventar histórias que ajudariam a vencer seus medos. Através do conto de

fadas, as crianças obtêm um material imaginativo que lhes servirá de apoio para

ajudá-las a resolver os problemas. A melhor prova disso é que ela volta a pedir

esses contos que lhe dão medo e que deixam certo de que nunca será

abandonada, nem devorada, já que essas coisas só acontecem no conto.

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O conto traça assim a verdadeira fronteira entre a realidade e a ficção, dá

os meios de elucidar melhor o mistério e o sentido da vida.

O conto de fadas é semelhante ao sonho e sua vantagem sobre este é

que o conto tem uma trama com início definido e que sempre acaba numa

solução satisfatória que é alcançada somente no final. O conto de fadas

também se assemelha às fantasias particulares da criança, sejam elas edípicas,

sádicas ou depreciativas dos pais não sendo necessário manter em segredo

seus sentimentos ou sentir culpa de gostar desses pensamentos em relação ao

que acontece no conto de fadas.

Portanto para que o conto de fadas possa ser benéfico à criança, deve

permanecer sem as informações do inconsciente, as quais ela responde quando

encontra as suas soluções nas histórias de fadas.

3.2 Alguns elementos simbólicos dos contos

Além das fadas, feiticeiras, ogros e duendes, fazerem parte da ordem do

imaginário possuem também uma função simbólica.

“O símbolo não é um signo arbitrário e convencional entre o significante e

o significado”. Os psicanalistas acham que tanto o mito quanto o conto, tem

relação com o sonho, que pode ter algum desejo recalcado ou expressar algum

arquétipo e assim elaborou-se uma “chave dos contos” que seria parecida com a

“chave dos sonhos”.

Veremos alguns símbolos que há nos contos.

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3.2.1 As fadas

De acordo com o Dicionário dos Símbolos, as fadas representam “os

poderes do homem de construir na imaginação os projetos que ele não pôde

realizar”. As primeiras fadas ajudam tanto nos partos ou dando votos positivos

no nascimento do herói. Já as outras possuem poderes maléficos, sendo contra

os votos das primeiras.

Atentas ao nascimento do herói elas acabam exercendo o papel de uma

madrinha que saberá proteger as crianças dos perigos, para então

desaparecerem. Evocam a função de anjo da guarda.

Segundo Marthe Robert, o papel da fada “parteira” é transmitir as

crianças “o conhecimento das práticas religiosas e sociais at5ravés do qual o

homem pode inserir-se na ordem das coisas, vir efetivamente ao mundo e nele

ter o seu lugar”. A fada é, portanto, a detentora dos segredos dos rituais de

iniciação.

Através das brincadeiras as crianças se identificam e se familiarizam,

representando as histórias de fada, tendo a consciência que elas nunca as

inventariam por conta própria.

As fadas exercem o poder da magia e do destino do homem, cuja

presença na terra é inexplicável e misteriosa.

3.2.2 Os ogros e os gigantes

Teriam sua origem nos Oïgurs húngaros do século XI, terrível tribo que

mantém a lembrança de suas violências no imaginário coletivo e que são

representados por monstros antropofágicos.

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Portanto, a relação anão/gigante, é na verdade, o fantasma onde todos

os Davis que desejam vencer Golias e o que o conto narra é, a teatralização

pelo imaginário, desta externa briga do homem contra suas próprias forças

obscuras e irracionais que o afastam da busca do absoluto.

3.2.3 O espelho Mágico

O espelho fascina a imaginação dos contadores, pois reflete a verdade,

que poderá ser boa ou má. O espelho reflete aquilo que se encontra no coração

das pessoas, que é a revelação da verdade moral. Além de ser usado para

adivinhar o futuro, interrogar os espíritos é também um tema vasto em filosofias

agnósticas ou espiritualistas, pois a alma do homem reflete as forças do bem e

do mal presentes no cotidiano. Já o dicionário de símbolos informa, que o

espelho é “o próprio símbolo do simbolismo”.

3.2.4 As metamorfoses

Além de ser um dos temas mais usados nos contos, em todas as

culturas, as metamorfoses também impulsionavam o maravilhoso: a abóbora se

torna carruagem e os camundongos em cavalos, pelo efeito da fada madrinha

da Cinderela. Isto basta para promover o encantamento

Há dois tipos de metamorfose:

Metamorfose descendente é um castigo, uma conseqüência de um

pedido feito de maneira irrefletida ou uma tarefa dada ao herói por um inimigo.

Metamorfose ascendente é a transformação que o homem tem que

passar durante a sua vida.

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A metamorfose é o símbolo que significa a passagem do homem em sua

imaturidade para a maturidade.

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4 O CONTO

JOÃOZINHO E MARIAZINHA

“Perto da grande floresta vivia um pobre lenhador com sua mulher, madrasta de

seus dois filhos, Joãozinho e Mariazinha. O homem tinha pouca coisa para

mastigar e não conseguia ganhar o pão de cada dia, pois havia fome no país.

A madrasta resolveu que melhor seria deixar as duas crianças na floresta, onde

o mato era mais espesso. Lá acenderiam uma fogueira e dariam a elas um

pedaço de pão.

Iriam então trabalhar, deixando-as sozinhas. Elas não achariam mais o caminho

de volta e eles ficariam livres delas.

O marido fica inconsolável, mas acaba concordando.

Joãozinho e Mariazinha tudo ouvem. Ela chora lágrimas amargas e Joãozinho

consola-a, dizendo que daria um jeito.

Esperou os velhos adormecerem e esgueirou-se para fora. A lua brilhava bem

clara reluzindo as pedras brancas na frente da casa. Encheu seus bolsos com

elas e voltou correndo. Ao amanhecer, partiram para a floresta. A mulher deu-

lhes um pedaço de pão para o almoço e seguiram caminho. Quando já tinha

andado um pouco, João vai olhando para trás, jogando uma pedrinha brilhante

de cada vez.

Ao chegarem no meio da floresta, o pai ordena-lhes que juntem gravetos e

façam uma fogueira e descansem, enquanto ele e a mulher, irão procurar lenha.

Joãozinho e Mariazinha ficaram lá sentados muito tempo, até que seus olhos se

fecharam profundamente. Quando acordaram já era noite fechada.

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Mariazinha põe-se a chorar e Joãozinho consolou-a, dizendo que era só

esperarem a lua aparecer. E assim foi.

Quando surgiu a lua cheia, as pedrinhas brancas que Joãozinho havia jogado

brilhavam como moedas de prata recém cunhadas, mostrando o caminho às

crianças. Caminharam a noite inteira e chegaram de madrugada à casa de seu

pai.

Pouco depois houve novamente miséria por toda a parte, e as crianças ouviram

de novo a madrasta falando ao pai, que precisavam novamente se livrar delas.

O pai tenta resistir, mas como da primeira vez, é levado a ceder.

Quando os velhos adormeceram, Joãozinho se levantou, como da outra vez,

mas a mulher trancara a porta e ele não pôde sair. Assim mesmo consolou

Mariazinha, dizendo que o bom Deus haveria de ajudá-los.

De manhã cedo a mulher veio e tirou as crianças da cama. Elas receberam seu

pedaço de pão, que era ainda menor que o outro. No caminho da floresta,

Joãozinho esfarelou-o dentro do bolso e jogou no chão uma migalha atrás da

outra.

A mulher levou as crianças ainda mais fundo na floresta, onde elas nunca

estiveram antes na vida. Chegando lá fizeram uma grande fogueira e o pai e a

madrasta partiram dizendo que voltariam à tardinha para buscá-los.

Ao meio dia Mariazinha reparte seu pão com Joãozinho. Adormeceram, e

anoiteceu, mas ninguém veio buscar as pobres crianças. Acordaram, quando já

era noite fechada. Joãozinho consolou a irmãzinha dizendo que logo que a lua

aparecesse, poderiam ver as migalhas de pão que havia espalhado.

Quando surge a lua, preparam-se para voltar, mas não encontraram nenhuma

migalha, porque os milhares de pássaros as tinham bicado. Assim mesmo

tentam voltar. Caminham dois dias e uma noite e não encontram o caminho de

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volta. Não encontraram o caminho e caminharam toda a noite e mais um dia

inteiro sem conseguir sair da floresta. Estavam com uma fome tremenda, pois

só tinham comido algumas amoras, e tão cansados que as pernas não se

agüentavam mais; então, deitaram-se debaixo de uma árvore e adormeceram.

Deitam-se embaixo de uma árvore e adormecem. Já era o terceiro dia desde

que saíram da casa do pai. Recomeçaram a caminhada e ao meio-dia

avistaram um passarinho branco que sai voando na frente deles. Eles o

seguiram até quando pousa no telhado de uma casinha. Quando eles

chegaram bem perto, viram que a casinha era feita de pão e coberta de bolo e

as janelas eram de açúcar transparente. Avançaram na casinha comendo os

pedacinhos. De repente a porta se abriu e apareceu arrastando os pés, uma

velha, apoiada numa muleta. Tomou-os pelas mãos, serviu-lhes boa comida, e

arrumou-lhes duas caminhas com alvos lençóis. Deitaram-se nelas, pensando

que estavam no céu. Mas a velha só se fingia de boazinha, pois era uma bruxa

malvada, que só construíra aquela casinha de pão para atraí-los. Quando uma

criança caía em seu poder, ela a matava, cozinhava e comia, e era para um dia

de festa. Assim, na manhã seguinte, prende Joãozinho em um curralzinho e

tranca-o atrás de uma porta gradeada, e obriga Mariazinha a cozinhar. Assim

poderia engordar João e comê-lo. Joãozinho comia da melhor comida,

enquanto Mariazinha só ganhava cascas de laranja.

Todas as manhãs, a velha pedia que Joãozinho mostrasse seu dedinho pela

grade para ver se estava gordinho. Mas ao invés do dedo, Joãozinho mostrava-

lhe um osso de galinha e a velha, como não enxergava direito, se admirava por

Joãozinho não engordar. Após quatro semanas, perde a paciência e resolve

comê-lo de qualquer forma. Ordena então que Mariazinha traga-lhe água, pois

no dia seguinte, vai matar Joãozinho e cozinhá-lo. De manhã cedo Mariazinha

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tem de sair para pendurar o caldeirão com água e acender o fogo. Mas a velha

diz que primeiro vai assar Joãozinho. Manda que Mariazinha verifique se o

forno está quente e tenta empurrá-la para dentro. Mas a menina percebe a

intenção da bruxa, e diz que não sabe como entrar lá. A velha vai lhe mostrar e

Mariazinha dá-lhe um empurrão tão forte que ela cai lá dentro inteira e a menina

bate a portinhola de ferro e puxa o ferrolho. A bruxa uiva horrivelmente e morre

queimada. Mariazinha sai correndo e solta Joãozinho.

Encontram em todos os cantos da casa da bruxa, caixinhas de pérolas e pedras

preciosas. Recolheram o que podiam e colocaram-se a caminho de casa.

Caminharam algumas horas e chegaram a um grande lago onde só vêem uma

patinha. Mariazinha grita-lhe pedindo ajuda e ela os transporta, um a um, para o

outro lado do lago.

Andam mais um pouco e o mato começa a parecer-lhes mais conhecido e

finalmente, avistam de longe a casa do pai.

Correm precipitadamente para dentro da casa. O homem não teve nenhum

momento de paz, desde que os deixara abandonados na floresta. A madrasta já

morrera.

Mariazinha sacode o avental, deixando cair as pérolas e as pedras preciosas e

Joãozinho também tira punhados de seus bolsos.

Então todas as tristezas tiveram fim e eles viveram juntos e felizes.”

JOÃOZINHO E MARIAZINHA

Joãozinho e Mariazinha representam dois aspectos opostos dentro de

nós. Um que se desespera e que se põe a chorar (o feminino, geralmente

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identificado como passivo) e o outro que procura soluções e se lança aos

desafios, à aventura (o masculino, geralmente identificado como ativo).

A solução para o conflito da história só se dá, à medida que esses dois

aspectos opostos se harmonizam. No momento em que Joãozinho (o masculino

ativo) encontra-se impossibilitado de agir, é Maria que assume a liderança, na

busca de soluções e encontra finalmente a salvação. Sendo assim ela descobre

uma nova força que os liberta de todos os perigos e os dois retornam à casa

paterna em harmonia e absolutamente vitoriosos.

TEMA DA HISTÓRIA

Este conto começa realísticamente falando, de miséria, penúria e fome.

Bettelhem nos diz que os Contos de Fadas, muitas vezes nos mostram

que a pobreza e a privação não melhoram o caráter do homem, mas sim, o

torna mais egoísta e insensível aos sentimentos dos outros, e sendo assim,

capaz de empreender feitos malvados. Isso é provavelmente porque, quando

um conto nos fala da miséria, esta pode ser entendida não apenas como a falta

de alimento, mas também, como a falta de cuidado, proteção, valores, atitudes,

etc.

Vai de pequenos conflitos da infância até grandes problemas da

existência, passando pela negligência dos pais, como: abandono, separação,

solidão e desamparo.

Autonomia: descoberta dos próprios caminhos da independência,

enfrentamento de perigo, possibilidades de prover a própria nutrição,

descobertas e encorajamento ao crescimento.

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4.1 O conto e seus símbolos

PÃO – representa o alimento essencial e possui o duplo sentido de saciar

a fome física e espiritual. As migalhas de pão representam a segurança para

Joãozinho e Mariazinha, pois serviram para marcar o caminho de volta à casa

paterna.

FLORESTA – simboliza um mundo misterioso e ameaçador. Ela também

representa o nosso inconsciente que busca soluções mágicas e milagrosas.

LUA – na mitologia e contos populares significa a grande mãe, a

presença da influência materna no indivíduo: mãe-calor, mãe-alimento, mãe-

carinho, mãe-universo afetivo.

Também é símbolo do sonho e do inconsciente em contraste com o

simbolismo do Sol que representa o consciente.

Nas suas diferentes fases apresenta mudanças de forma. E suas quatro

fases completam um ciclo. É o astro dos ritmos da vida.

A lua é o símbolo de passagem da vida à morte e da morte à vida, nesse

simbolismo é ligada à cerimônias de iniciação em muitos povos.

PEDRINHAS BRANCAS – marcam o caminho de volta à casa paterna,

mas também é o símbolo do início da caminhada, do processo de individuação.

As pedras são objetos completos, imutáveis e duradouros e os alquimistas

buscavam o segredo de “algo divino” e julgavam que o encontrariam na “pedra

filosofal”.

TERCEIRO DIA – o número três nos Contos de Fadas refere-se

freqüentemente ao que é encarado em psicanálise como os três aspectos da

mente: o ID, EGO e SUPEREGO. Tanto no inconsciente como no consciente,

os números representam as pessoas, situações familiares e relações.

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PASSARINHO BRANCO – está ligado a pensamentos, idéias intuitivas,

fantasias e conteúdos espirituais. Ele é considerado como intermediário entre o

céu e a terra, com a personificação do imaterial, sobretudo da alma. O branco

traduz credibilidade, salvação, paz e alegria. No conto, o passarinho branco, é

que dá a pista do caminho que as crianças deveriam seguir.

CASINHA DE PÃO, BOLO E DOCE – representam no inconsciente a

mãe-boa que oferece o seu corpo como fonte de nutrição. A casa representa a

voracidade oral e é impossível ceder a ela. Na casa, a cozinha, é o lugar onde

se transformam os alimentos, significando o lugar ou momento de uma

transformação psíquica.

BRUXA – é a sombra odiosa que tememos, é a figura da maldade e a

personificação dos aspectos destrutivos da oralidade. Está ligada a

alimentação, pois, é a dona da casinha comestível e sua intenção é engordar

Joãozinho, para posteriormente devorá-lo.

PEDRAS PRECIOSAS – simbolizam as estrelas, a luz celestial,

traduzindo a verdade.

PÉROLAS – é o símbolo da feminilidade criativa, da perfeição e da

iluminação.

MEIO-DIA – ponto em que a luz alcança a sua plenitude máxima e é o

momento de lucidez e consciência plena. No conto este momento representa

uma pausa, onde Mariazinha faz um gesto de doação.

NOITE e ESCURO – a noite é a imagem do inconsciente e no sono

noturno ele se libera. No conto, possui sentido duplo, causando medo em

Mariazinha e inspirando soluções em Joãozinho, pois enfrentar a escuridão é

uma prova de iniciação. Ficar na floresta no escuro é confronto com o próprio

inconsciente, que vai revelando seus mistérios.

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MULHER VELHA – ser velho é existir desde a origem e acumular

sabedoria.

Inicialmente a bruxa aparece como acolhedora, a que alimenta com boa

comida e acalenta com boa cama. Ela seduz e os atrai e é a imagem que eles

buscam da proteção materna. De generosa ela passa a malvada e devoradora.

Observação: a “mãe-protetora” tem que desaparecer para que a criança

encontre seus próprios valores, a própria maneira de se proteger, de se

alimentar, enfim, de caminhar em sua própria vida.

FOGO – nos ritos de passagem simboliza purificação e é elemento

regenerador e é meio de renascimento em uma esfera mais elevada.

FORNO – é especialmente um símbolo do seio materno e ao mesmo

tempo significa metamorfose, porque nele, uma força da natureza é

transformada em alimento para o homem. No conto quando a bruxa é queimada

no forno, desaparece a madrasta, isto é, se a bruxa interior é morta, a madrasta

externa também desaparece.

PATINHA – animal benéfico associado a Grande Mãe e ao destino. Ave

que anda, nada e voa e simboliza também união, felicidade e força vital.

LAGO – simboliza a garantia da existência, da fecundidade e da

serenidade. No conto ter que atravessar o lago, traduz uma passagem para um

novo começo, porque o fato das crianças terem que se separar para chegar a

outra margem, significa que a partir de certa idade, cada qual precisa

desenvolver sua consciência pessoal, sua individualidade.

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CONCLUSÃO

Através deste trabalho, podemos concluir que a literatura dos Contos de

Fadas é indispensável tanto para as crianças, quanto para as pessoas que

querem se conhecer melhor, já que eles falam ao ser humano de uma forma

simples assuntos que às vezes não sabemos como formular.

Pelos Contos de Fadas, as crianças conseguem aos poucos resolver

seus problemas internos e com isso encarar cada dia melhor sua própria

realidade, pois com essas histórias que falam das dificuldades de lidar com seus

pais, do desejo de ser herói, das buscas que devem ser derrotadas, que elas

acabam encontrando a saída.

Como acontece no conto Joãozinho e Mariazinha, as crianças passam

por inúmeras provações e depois de vencê-las tornam-se mais maduras e assim

o conto nos mostra que apesar das dificuldades podemos chegar a um resultado

compensador.

Os Contos de Fadas com sua magia continuam sendo tão apreciados

porque lançam sobre nós um encantamento inesquecível e nos falam

diretamente à imaginação e ao coração.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BETTELHEIM, BRUNO. A Psicanálise dos Contos de Fadas – São Paulo – Paz

e Terra – 2002

BONAVENTURE, J. O que Conta o Conto? – São Paulo – Edições Paulinas –

1992

CHEVALIER, T e GHEERBRANT, A – Dicionário de Símbolos – Rio de Janeiro –

José Olímpio – 1988

DIECKMAN, Hans – Contos de Fadas Vividos – São Paulo – Edições Paulinas –

1985

GILLIG, Jean-Marie – O Conto Na Psicopedagogia – Porto Alegre – Artes

Médicas Sul – 1999

GRIMM, Jacob L. e Wihelm. Contos e lendas dos Irmãos Grimm. São Paulo –

Edigraz - 1962

NEIL PHILIP – Volta ao Mundo em 52 Histórias – São Paulo – Companhia das

Letrinhas – 2001

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