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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO SUPERVISÃO ESCOLAR “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO ÉRICA COSTA DUARTE DE PAROLIS DOCUMENTO PROTEGIDO PELA LEI DE DIREITO AUTORAL

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO

SUPERVISÃO ESCOLAR “LATU SENSU” PROJETO A

VEZ DO MESTRE

INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO

ÉRICA COSTA DUARTE DE PAROLIS

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO

SUPERVISÃO ESCOLAR “LATU SENSU” PROJETO A

VEZ DO MESTRE

INTERAÇÃO PROFESSOR – ALUNO

Objetivo: mostrar as relações existentes entre professor e aluno no espaço da sala de aula

ÉRICA COSTA DUARTE DE PAROLIS

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“Brincar com criança não é perder tempo, é

ganhá-lo; Se é triste ver meninos sem escola,

mais triste ainda é vê-los sentados

enfileirados, em salas sem ar, com exercícios

estéries, sem valor para a formação do

homem.”

Drummond

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DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia à minha família, pelo apoio e compreensão e a

todos aqueles que de maneira direta ou indireta contribuíram para esta

conquista.

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RESUMO

De modo geral o ensino atualmente tem se mostrado aquém à realidade

vivida pelos alunos em face da velocidade de informações que os mesmos

dispõem na mídia em geral, o que gera um desinteresse e, por conseqüência a

dificuldade na aprendizagem. De repetidora a escola necessita tornar co –

criadora deste novo mundo que esta surgindo. É preciso encarar o novo sem

medo, objetivando fugir da chamada pedagogia tradicional em que o professor

é visto com o centro do saber. É preciso estimular o aluno a pensar ativa,

crítica, coerente e autonomamente, com a finalidade de sua formação

crescente. Há de se aproveitar os espaços, buscar novas técnicas e materiais,

envolvendo o aluno de modo prazeroso, incluindo-o no contexto social concreto

que proporcionará no educando a formação do cidadão consciente. Educar é,

portanto, mais que um processo de transmissão de conhecimento: é sobretudo

um processo de humanização. Dentro desse conceito, o educador deve

procurar promover a integração social e, a primeira vista, essa integração parte

do relacionamento existente entre professor-aluno. Esta será sempre eficiente

se for permeada de compreensão, cuidado, confiança e respeito às diferenças

individuais. Outrossim, a maneira de avaliar o aluno, também é uma prática que

deve ser revista. A avaliação não deve ter caráter punitivo, antes deve ser um

instrumento para a efetivação da aprendizagem e, a avaliação global do

processo.

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SUMÁRIO

RESUMO ................................................................................................ 5

INTRODUÇÃO ........................................................................................ 7

METODOLOGIA ......................................................................................9

1 A SALA DE AULA ...............................................................................10

1.1 As salas ambiente e a prática pedagógica ............................11

1.2 organização e utilização das salas de aula............................13

1.3 A sala de aula transformada em espaço crítico..................... 13

1.3.1 A questão da finalidade ......................................................14

1.3.2 A questão do conteúdo .......................................................15

2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO

PEDAGÓGICO........................................................................................18

2.1 O professor em sala de aula ............................................................20

3 A DISCIPLINA.................... .................................................................27

4 AVALIAÇÃO : NOVOS RUMOS ........................................................34

CONCLUSÃO..........................................................................................37

REFERÊNCIAS ......................................................................................40

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INTRODUÇÃO

Uma das questões mais palpitantes no debate educacional que consiste

em analisar a interação professor-aluno .

É importante o estudo destas interação para que possamos entender os

problemas freqüentemente encontrados na prática pedagógica. Muitas vezes

as causas encontradas para as dificuldades, mas na maioria das vezes

decorrentes de falhas na interação professor-aluno.

O capítulo 1 mostrará como se processa o ensino na sala de aula,

procurando orientar as ações por uma nova concepção que comece a se

distanciar da chamada pedagogia tradicional, baseada na transmissão dos

conteúdos por parte de um professor que tudo sabe e nada tem a aprender,

para uma criança passiva, que nada sabe, falará sobre a sala de aula

transformada em espaço crítico, mostrando a questão da finalidade, a questão

do conteúdo e a questão didático – metodológica; o capítulo 2 mostrará a

interação professor-aluno, que atualmente, exige o repensar da atuação dos

educadores quanto a democratização do saber, das oportunidades, das

interações entre professor e aluno e do processo ensino-aprendizagem e neste

sentido refletir sobre o ser Professor na visão de Educação; o capítulo 3

discutirá o brincar no processo de interação social no ensino-aprendizagem; o

capítulo 4 refletirá sobre o processo avalitivo no ensino-aprendizagem no qual

o educador está mergulhado em suas próprias verdades impossibilitando o ato

de recriar. Inviabiliza a possibilidade de executar um currículo flexível,

adaptado à realidade da criança, e todavia a prática de avaliação qualitativa.

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Existe atualmente no Brasil, uma crescente necessidade em rever a prática de

avaliação educacional. Torna-se urgente criar uma nova cultura avaliativa.

Cultura esta, que seja comprometida com a formação de cidadãos, capazes de

pensar, resolver problemas, comunicar-se e colaborar. A avaliação deve ter

uma função essencialmente formativa, de melhoria, de aperfeiçoamento da

prática escolar, pois faz parte do ato educativo, do processo de aprendizagem.

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METODOLOGIA

Esse trabalho está sendo desenvolvido através de pesquisas

bibliográficas.

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1 A SALA DE AULA

Os alunos dos tempos atuais, independente da camada sócio-

econômica a que pertençam, estão acostumados à velocidade das

informações, dos gráficos, das artes animadas e outros recursos tecnológicos

utilizados pelas programações audiovisuais que visam a facilitar a

compreensão das notícias, a informação dinâmica, sintética e rápida que não

favorecem a reflexão crítica mais demorada. Ao entrar na sala-de-aula, via de

regra, os alunos encontram professores que só dispõem de giz, lousa e

verbalização para transmitir o saber historicamente acumulado que precisa ser

apreendido e apropriado pelos estudantes. O choque é instantâneo. Esta

distância entre a dinâmica do mundo atual e a forma tradicional de ensino gera

desinteresse, desmotivação e conseqüentemente dificuldade e morosidade no

processo de aprendizagem por parte do aluno.

Soa o sinal. Os alunos, em fila, entram na sala. Nas paredes, grandes

esquadros, compasso para giz, uma régua de cento e cinquënta

centímetros. As carteiras, duplas, acomodam cadernos, livros e demais

materiais. O professor, solene conhecer de tudo, confere a presença.

Discorre sobre o conteúdo do dia e escreve a matéria na lousa. Inicia a

explicação do tema de hoje, isolado do mundo. A relação entre seu

conteúdo e fatos extra-classe não requer atenção.”(BAUER, 1997:56)

Entre copiar e dar atenção ao professor o aluno tenta acompanhar e

entender, temendo a sabatina e a palmatória.

Ao final da aula, o dever de casa. A preocupação maior: concluir a

tarefa. O aprendizagem fica em segundo plano.

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Em primeiro momento, parece-nos um filme retratando uma sala de aula

inglesa do século passado.

Com a evolução do ensino muitas ações educativas foram abolidas,

como a palmatória, outras foram transformadas, como a sabatina. Novos

processos foram adotados.

O Educador precisa estar à altura de seu tempo.

Os “administradores educativos” procuraram adotar novos conceitos na

forma de ensinar. Percebeu-se a importância em contextualizar o conteúdo

procurando maior rendimento no aprendizado. O uso da oratória, lousa e giz

deixaram de ser os únicos recursos em sala de aula. Passou-se a buscar

formas para permitir visualizar os exemplos. Uma nova fase veio agregar à aula

recursos para auxiliar o professor. O livro, com sua importância até hoje e por

muito tempo destacada, ganhou companheiros: o Globo terrestre, o mapa e

outros auxiliares. Com o avanço da tecnologia surgem os acetatos e os

retroprojetores. As transparências passam a auxiliar na construção do

conhecimento, oferecendo apresentações projetadas, preparadas com calma e

antecedência, substituindo a lousa em alguns tópicos.

Lentamente o projetor de slides entrou como auxiliar ao professor de

geografia, ganhando espaço para as demais aulas.

Recursos audiovisuais passaram a ser apoio fundamental para as aulas

em classe. O videocassete, o computador e a multimídia vem contribuir com os

recursos que tornam uma aula mais interessante.

1.1 As salas ambiente e a prática pedagógica

Os tempos atuais demandam maior dinamismo no processo de ensino -

aprendizagem. Já faz algum tempo que nós, professores, temos-nos colocado

como defensores da necessidade de reavaliar nosso modo de ver a educação

e mais especificamente, o ensino em sala d aula. Procura-se, assim, orientar

as ações por uma nova concepção que comece a se distancias da chamada

pedagogia tradicional, baseada na transmissão dos conteúdos por parte de um

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professor que tudo sabe e nada tem a aprender, para um aluno passivo, que

nada sabe.

Na busca de uma nova orientação para nosso trabalho no cotidiano da

escola, deve-se assimilar algumas concepções de diferentes correntes e

vivenciar algumas repercussões de outras propostas de ensino.

Segundo Castoriadis (1986), à pedagogia tradicional contrapõem-se hoje

outras corrente que partem do pressuposto de que os conhecimentos

conteúdos são elementos imprescindíveis à compreensão da realidade e

instrumentos para a ação do indivíduo em sociedade.

Assim, o ponto de partida para a obtenção do conhecimento escolar

passa a ser o conhecimento que o aluno já traz e o papel do professor

é, principalmente, o de estimular o aluno a pensar ativa, crítica e

autonomamente, atuando como mediador entre o aluno e o conhecimento.

Na esteira dessa mudança de paradigma os professores passam a

refletir sobre o próprio processo de aprendizagem. A aprendizagem do

professor se dá nesse contínuo, na interação com os pais, com os alunos,

explorando o próprio contexto de escola, os espaços da escola e da sala de

aula, os materiais presentes – o que é possível realizar com eles, que

possibilidades de exploração eles nos oferecem, o que podemos aprender

com eles. Sabemos que este processo não se esgota no interior da sala de

aula ou n espaço rígido de um ano letivo. Os conhecimentos de cada um são

de natureza ou domínios diferentes, podendo haver troca entre eles.

De acordo com Moscovici (1996), pensar na organização das salas de

aula como salas-ambiente reflete, portanto, uma mudança de concepção do

processo de ensino aprendizagem, que resulta das discussões mais

recentes sobre como se dá este processo. Essas discussões apóiam-se em

uma outra forma de olhar para a construção do conhecimento humano, que se

impõe no mundo atual, em acelerada transformação.

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1.2 Organização e utilização das salas de aula

A melhor organização e utilização das salas será resultado de nossas

concepções de que este é um espaço d ensinar e aprender. Nesses espaços

aprendem os alunos e, também, os professores.

É claro que reorganizar o espaço escolar e modificar a organização da

sala de aula não garante, por si só, mudanças, mas pode facilitar o seu

processo. As mudanças da prática são resultado das reflexões que fazemos

sobre nossas ações e só se farão no dia-a-dia da escola por meio da ação

consciente e orientada do professor. Mudar a prática exige mudar nossas

concepções sobre o processo de ensino-aprendizagem.

Essa discussão permite uma melhor compreensão em que concepção

pedagógica se apóia o planejamento dos espaços escolares como salas-

ambiente. A partir de uma melhor compreensão ficará, certamente, mais fácil

para cada escola organizar seus espaços, seus profissionais e seus alunos de

forma a priorizar o processo de ensinar-aprender, ainda que, muitas vezes,

tenhamos que abrir mão

de uma atribuição de aulas ao professor por preferência de classe ou série, ou

da composição de um horário que dê conta de atender a todos os professores

com igual conforto.

1.3 - A sala de aula transformada em espaço crítico

Historicamente, a escola tem se isolado do contexto social concreto, do

qual são docentes e discentes, produtos e produtores, ao se colocar como

espaço de cultura e de conhecimentos como fins em si mesmos, dissociados

da preocupação de contribuir com a formação de uma cidadania efetiva,

adequada às atuais transformações sociais, históricas, tecnológicas, etc.

Tais concepções comprometem a construção de uma escola de

qualidade, definida por sua articulação com o mundo social complexo em que

vivemos, com as reais condições da cidadania no atual momento histórico; uma

escola que, de fato, considere os interesses e necessidades da comunidade

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escolar, da própria escola enquanto instituição, mas também de seu entorno –

o espaço social de sua atuação educativa.

A reflexão, segundo Guareschi (1997) que se coloca sobre o perfil de

uma escola crítica, criativa e de qualidade passa por três questões básicas: a

questão da finalidade, a questão do conteúdo e a questão didática ou

metodológica propriamente dita.

1.3.1 A questão da finalidade

É comum em discursos e práticas educacionais escolares referir-se à

finalidade de formação do cidadão crítico e consciente, capaz de transformar a

realidade em que vive. Mas, o que realmente isto significa?

Parte-se então do princípio de que a cidadania e as práticas sociais que

a expressam referem-se a um processo contínuo e inacabado de qualificação

da vida, da existência dos homens, sendo, portanto, um processo de

humanização. A cidadania é uma qualificação do exercício da própria condição

humana. O gozo dos direitos civis, políticos e sociais é a expressão concreta

desse exercício.

Advém daí que é condição da cidadania a repartição ou socialização

entre os homens dos bens materiais, dos bens simbólico-culturais e do

poder. Porém, haja isto que tal condição não está dada e não se realiza

plenamente em uma sociedade desigual, mas também pela própria condição

humana de colocar sempre mais novas necessidades à sua satisfação pessoal

e social, a cidadania se define mais pelas práticas sociais, pelos embates que

se travam por crescente qualificação da vida. Nesse sentido, a cidadania não é

um dado pronto e acabado, mas uma condição a ser construída e instaurada.

A cidadania é o caminho e o caminhar e não o lugar que, como um paraíso, se

chega e nele instala-se definitivamente.

Enquanto finalidade, esse conceito de cidadania é o principal ponto de

convergência da ação educativa, em torno do qual deveriam partir as

discussões dos atores escolares comprometidos com um trabalho efetivamente

crítico. Isto porque, enquanto princípio fundador das relações educativas, a

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cidadania interfere, teórica e praticamente, nas questões metodológicas, bem

como nas questões de gestão educacional.

1.3.2 A questão de conteúdo

Segundo Maria Tereza Nidelcoff (1999), a questão do conteúdo escolar

refere-se a três campos básicos: o conteúdo da prática escolar, relativa ao

espaço e às formas coletivas e colegiadas de gestão, planejamento, execução

e avaliação de um projeto pedagógico, ampliado ao conjunto da escola; o

conteúdo social, referente ao conhecimento dos temas, problemas e/ou objetos

mais amplos ligados às condições da realidade e da cidadania; o conteúdo do

ensino, mais específico aos diferentes campos de saber ou às disciplinas

propriamente ditas.

De qualquer forma esses aspectos devem ser integrados desde o Plano

de Desenvolvimento da Escola (PDE), até a mais simples prática pedagógica,

porém permeados por um eixo norteador – político, temático e metodológico –

que deve dar coerência à construção de um caminho educativo possível.

Do ponto de vista do conteúdo social, pressupomos que a sociedade é

constituída de quatro espaços-tempo em que se alojam, hoje, os problemas e

dilemas fundamentais das relações sociais, isto é, d vida dos homens em

sociedade:

1. o espaço-tempo mundial, em que se destacam as questões ligadas à

explosão demográfica, à globalização da economia e à degradação

ambiental;

2. o espaço-tempo doméstico, enquanto espaço das relações familiares

entre os cônjuges e entre pais e filhos;

3. o espaço-tempo da produção ou das relações de trabalho e mercado;

4. o espaço-tempo da cidadania, constituído pelas relações sociais

entre o Estado e os cidadãos.

Ao exercitar a cidadania, os homens, como sujeitos, produzem a história

que nada mais é que o conjunto cultural das diferentes manifestações e

expressões sociais – o patrimônio socialmente construído e historicamente

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acumulado: os discursos e/ou linguagens, os conhecimentos do “senso

comum”, a ciência, as artes, as religiões, as bases produtivas materiais, etc.

Perceba que isto se dá sempre num processo inerentemente controverso,

antagônico e contraditório, uma vez que pautado por um movimento de

qualificação e de desqualificação, por diferentes interesses, interpretações e

proposições – projetos distintos sobre o que seja qualidade d vida e sobre

quem tem acesso a ela numa sociedade de classes.

Cabe à escola crítica que quer contribuir para a formação da cidadania

efetiva e ampliada, estar atenta aos problemas fundamentais da sociedade,

aos diferentes movimentos e projetos sociais e suas respectivas propostas de

“soluções fundamentais”, aos sujeitos ou agentes envolvidos.

A questão didático – metodológica

Tal questão refere-se ao trabalho pedagógico mais especificamente

ligado ao ensino. Fundamentados nos princípios acima delineados acerca da

cidadania e da sociedade, resta, por fim, considerar a reflexão sobre a sua

aplicação no cotidiano da relação professor-aluno, através das mediações

didáticas e téorico-metodológicas. Tais mediações incluem dois processos ao

mesmo tempo distintos, contínuos e interdependentes: o ato de planejar o

processo de ensino, que inclui as fases de reflexão, decisão, elaboração,

execução e avaliação; e o ato propriamente dito de ensinar, ou seja, a fase da

execução do plano de trabalho.

Nesse nível da prática é que afloram questões fundamentais acerca de

objetivos, conteúdos, metodologias e avaliações. Como selecionar, na

perspectiva teórica esboçada acima, os temas ou conteúdos válidos não só

dentro de cada disciplina, mas entre as disciplinas? Como desenvolver esses

conteúdos na sala de aula? Com que finalidades ou objetivos? O que se

pretende atingir com o aluno em cada área de conhecimento? Como avaliar os

resultados produzidos de acordo com o que foi proposto a se alcançar?

Esses questionamentos constituem a base da prática docente, exigindo

um professor reflexivo em relação ao seu próprio trabalho e possibilitando o

diálogo com os demais profissionais ligados a sua área de atuação ou a sua

sala de aula.

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Em síntese, estes são os aspectos cruciais para estabelecer um debate

sério e fundamentado teoricamente, no sentido de interligar a prática educativa

e seus agentes, desde o planejamento mais global até a ação didática mais

específica na sala de aula, justificando uma escola crítica, criativa e autônoma.

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2 A INTERAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NO PROCESSO

PEDAGÓGICO

Com a evolução tecnológica e científica dos últimos anos e a

conseqüente renovação dos valores sociais, a estrutura da sociedade

contemporânea tem mudado, gerando conflitos entre “valores tradicionais” e

“novos valores”.

Nesse sentido, essas mudanças têm provocado, por sua vez, profundas

alterações no relacionamento entre as pessoas e os grupos, a valorização das

relações interpessoais é vista como um fator imprescindível para que tanto as

pessoas como as organizações alcancem seus objetivos.

A escola é vista, também, como uma organização social que possibilita

contatos interpessoais. No entanto as relações humanas ali estabelecidas são

variadas e influenciadas por valores, experiências e aspirações individuais.

A escola terá que adequar-se ao tipo de crianças que compõem sua

clientela, respeitando este ser humano, respeitando os diferentes ritmos de

aprendizagem, dando um tempo adequado a todos.

Desta forma, pensar em Educação, atualmente, exige o repensar da

atuação dos educadores quanto a democratização do saber, das

oportunidades, das relações entre professor e aluno e do processo ensino-

aprendizagem.

O ensino é uma atividade eminentemente interpessoal, do encontro e

trocas de experiências mútuas, portanto, a escola não deve apenas cuidar do

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desenvolvimento individual dos seus alunos, mas procurar estimular a

integração social.

É na situação de sala de aula que ocorre o encontro propiciador da

integração entre professor e aluno. Nesse encontro, seres vivos, seres

humanos, confinados dentro dos limites da classe, se defrontam, se

comunicam, se influenciam mutuamente. Mesmo estando limitados por um

programa, um conteúdo, um tempo predeterminado, normas diversas da

instituição de ensino etc., o professor e o aluno, interagindo, formam o cerne do

processo educativo. Conforme o rumo que tome o desenvolvimento desta

interação, a aprendizagem do aluno pode ser mais ou menos facilitada,

orientada mais para uma ou outra direção. Por certo, uma relação tem dois

pólos e cabe a ambos determinar o clima de sua relação; o professor e o aluno

desempenham papéis diferenciados nessa relação de sala de aula voltada para

a aprendizagem e cabe ao primeiro tomar a maior parte das iniciativas,

incluindo o “dar tom” no relacionamento estabelecido entre eles.

as possibilidades de atuação do professor podem influenciar a sua relação com

os alunos, sendo assim, ele não deve preocupar-se somente com a

aprendizagem do aluno, mas também, conhecê-lo e toma-lo como ser em

formação, que possui manifestações afetivo-sociais e que é um sujeito ativo no

processo pedagógico.

A relação professor-Aluno é vista com um aspecto específico das

práticas escolares que podem influenciar o processo de ensino-aprendizagem,

favorecendo-o, ou não, por meio de atitudes dos professores e dos alunos. Tais

atitudes, se negativas, podem gerar conflitos, afetando emocionalmente tanto o

professor quanto o aluno, dificultando, assim, a relação pedagógica.

Desta maneira a percepção que o professor possui do processo ensino-

aprendizagem poderá gerar percepção igual em seus aluno, da mesma

maneira, a sua conduta ao longo do processo, está baseada na expectativa

que possui sobre relacionamento. Tanto suas percepções quanto suas

expectativas da situação de relação professor-aluno, sofrem influências dos

sentimentos, sejam estes positivos ou negativos.

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Desta maneira, a relação professor-aluno será mais eficiente quando for

permeada pela compreensão e confiança, o professor deve perceber o aluno

em sua individualidade, ajudando-o a adquirir autonomia e segurança.

A relação professor-aluno pode ser vista como uma relação pedagógica

na qual se estabelecem contatos interpessoais, influenciados por um contexto

sócio-cultural e por interesses e expectativas, possuindo o objetivo de

promover o aluno, ajudando-o a compreender a si mesmo e aos que o cercam,

bem como desenvolvendo sua capacidade de compreensão e senso crítico.

A prática educativa, viabilizada através da interação professor-aluno,

transcende o espaço da sala de aula, constituindo-se, também, numa prática

social. Por isso, é fundamental a todo professor ter uma clara visão de mundo,

de sociedade e uma filosofia de educação explicita que lhe permitam

reconhecer que seu compromisso com o educando não se restringe aos

conteúdos escolares, mas que há também entre eles um compromisso político.

A educação afetiva deve caminhar paralelamente à educação intelectual,

visando a educação global do aluno. Desta forma, é preciso que, por meio da

afetividade, desenvolvam-se as qualidades para um relacionamento

estabelecido no processo educativo. Portanto, vemos que uma relação

pedagógica é possível colaborar com o desenvolvimento das pessoas, de

grupo na qual estejam integrados alunos e professores.

2.1 O professor em sala de aula

Tanto a cognição como os afetos estão presentes nas representações

sociais, que encontram sua base na realidade social instituída e instituinte.

As Representações Sociais que permeiam o ser professor,

principalmente na Educação Básica nas últimas décadas vêm contribuindo de

forma profundamente negativa para o fazer pedagógico. Uma série de razões

que tangenciam tanto a esfera pública quanto a privada se mostram como

indicadores passíveis de análise para o melhor entendimento do perfil do

professor e sua conseqüente prática. Neste sentido, inicia-se uma análise

possível a partir de uma série de referências com relação ao professor

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encontradas na mídia e ratificadas pelo senso comum que vão do termo

“cotidiano”, como se todos os professores fossem, de fato, vitimizados por uma

sociedade algoz, ao reducionismo de se achar que todo professor deve se

comportar como um sacerdote. Assim sendo, é fundamental que se entenda

como se formam as Representações Sociais para que, a partir dessa

consciência, se possa melhor compreender o cotidiano escolar e desenvolver

práticas pedagógicas que venham a contribuir, de fato, para a melhoria da

qualidade de ensino.

As Representações Sociais estruturam os saberes cotidianos, as

teorias populares, o senso comum, enfim, tudo o que resulta do

conhecimento prático, orientado para a compreensão do mundo e para

a comunicação entre os indivíduos. São representações que se

elaboram na construção cognitiva, investida de afeto, da realidade

social. São imagens, mitos, valores, significados – contemporâneos –

construídos pelos sujeitos a respeito dos objetivos socialmente

valorizados. Envolvem comunicação e discurso, determinam a relação

do sujeito com o outro, pois o indivíduo se estrutura a partir das

representações sociais de seu grupo e da comunidade. Torna-se,

assim, sujeito de seu tempo e, nesta relação, estrutura, também, num

processo interativo, novas representações. Como afirma, Guareschi

(1997, p.20):

A dimensão cognitiva, afetiva e social estão presentes na própria noção

de representações sociais (...) É quando as pessoas se encontram para falar,

argumentar, discutir o cotidiano, ou quando elas estão expostas às instituições,

aos meios de comunicação, aos mitos e à herança histórico-social de suas

sociedades, que as representações sociais são formadas.

Tanto a cognição como os afetos estão presentes nas representações

sociais, que encontram sua base na realidade social instituída e instituinte. As

representações sociais se formam, então, a partir da herança histórico-cultural

da sociedade, na interação das relações cotidianas do sujeito com os objetivos

sociais eleitos em cada tempo. Perpassam o conjunto da sociedade – ou de

determinado grupo – de forma abrangente, como algo anterior e habitual que

se reproduz a partir das estruturas e das próprias categorias de pensamento da

coletividade ou dos grupos. Contudo, ainda que algumas formas de pensar da

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sociedade sejam abrangentes, cada grupo social converte a visão comum ao

todo social uma representação particular, de acordo com a sua posição no

conjunto da sociedade.

Como nos descreve Jovchelovitch (1997, p.42):

As representações sociais são uma estratégia desenvolvida por atores

sociais para enfrentar a adversidade e a mobilidade de u mundo que,

embora pertença a todos, transcende a cada um individualmente.

Dessa forma, elas não apenas surgem através de mediações sociais,

mas tornam-se, elas próprias, mediações sociais. É, enquanto

mediação social, elas expressam por excelência o espaço do sujeito na

sua relação com a alteridade, lutando para interpretar, entender e

construir o mundo.

Da relação entre o sujeito e o objeto social resultam representações

sociais que se constituem no caminho dialético entre o sujeito e a sociedade –

sem, no entanto, reduzi-los um ao outro. Nesse eterno percurso de ir e vir, mão

dupla entre o indivíduo e o mundo, constroem-se indivíduo e mundo como

objetos sociais Então, a ação dos sujeitos sobre o mundo – elaborando, seja

caminhos possíveis e partilháveis, seja, simultaneamente, atalhos de uso

particular – tem suas bases na realidade do mundo que a eles se apresenta,

desde sempre, por meio da realidade social.

A síntese entre o individual e o coletivo é o campo em que se produzem

as representações sociais que residem tanto no mundo, como na mente, As

representações sociais são símbolos construídos coletivamente,

compartilhados pelo grupo social e reinterpretados pelos subgrupos e seus

sujeitos, que estão sempre em atividade representacional, ou seja, construindo

novos sentidos que se ligam às

representações sociais existente. Como afirma Jovchlovitch (1997, p. 71): “é

através da ação de sujeitos sociais agindo no espaço, que é comum a todos,

que a esfera pública aparece como o lugar em que uma comunidade pode

desenvolver e sustentar saberes sobre si própria – ou seja – representações

sociais.”

Os sujeitos têm papel ativo na produção de suas representações sociais.

O mundo é a fonte em que bebe o homem para saciar sua necessidade

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inexorável de comunhão – sem essa fonte ele se torna um psicótico. A fonte e

a maneira como o sujeito se serve dela – satisfazendo-se ou não -, a maneira

como descreve seus sabores e dissabores em busca desse alimento, eis no

que se constitui o mapeamento da trajetória possível das representações

sociais. Segundo Bauer (1997, p. 235):

As representações sociais são representações de alguma coisa

sustentada por alguém. É essencial identificar o grupo que as veicula, situar

seu conteúdo simbólico no espaço e no tempo, e relacioná-lo funcionalmente a

um contexto intergrupal específico. Uma representação particular pode,

contudo, mudar de grupo hospedeiro e vagar por entre grupos sociais,

assumindo vida própria.

As representações sociais espelham a atividade cognitiva e simbólica do

cotidiano da vida dos sujeitos nos respectivos subgrupos sociais,

contextualizados em seus espaços e tempos históricos. Para Duveen (1997,

p.267):

Representações socais são sempre construtivas; elas constituem o

mundo tal como ele é conhecido e as identidades que elas sustentam

garantem ao sujeito um lugar neste mundo. Assim, ao serem

internalizadas, as representações passam a expressar a relação do

sujeito com o mundo que ele conhece e, ao mesmo tempo, elas o

situam nesse mundo. É dupla operação de definir o mundo e localizar

um lugar nele que fornece às representações o seu valor simbólico.

Em última instância, as representações sociais se produzem entre os

três níveis que foram descritos: cognição, afeto e ação sobre o mundo. A

assimilação do objeto social, a partir da experiência, ou seja, da ação que faz

interagir o sujeito com o meio, viabiliza a construção do conhecimento sobre o

objeto, a interpretação dessa relação sujeito/objeto e, por último, sua

simbolização compartilhada com o grupo.

Ainda sobre as representações sociais, Moscovoci (1996, p.31), constrói

seu conceito afirmando que:

Por representações sociais, entendemos um conjunto de conceitos,

proposições e explicações originado na vida cotidiana no curso de

comunicações interpessoais. Elas são o equivalente, em nossa

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sociedade, dos mitos e sistemas de crenças das sociedades

tradicionais; podem também ser vistas como a versão contemporânea

do senso comum.

Face ao exposto, faz-se uma reflexão sobre o papel das representações

sociais, apontar a necessidade de se rediscutir a atuação do professor, para

que se possa, enfim, aprofundar o debate acerca do cotidiano escolar. Além

disso, torna-se necessário que, através da cognição, do afeto e da ação sobre

o mundo, se possam construir novos rumos em direção à relação ensino-

aprendizagem; professor-aluno; aluno-professor. É nesta relação que se

pretendem estruturar novas representações sociais – representações que

norteiam o sujeito, no sentido de uma aceitação da diferença, de uma rejeição

ao preconceito e que, com isso, viabilizem a convivência generosa do sujeito, a

despeito de quaisquer limitações, dentro de seu grupo social. É neste sentido

que se pode refletir sobre e repensar o ser Professor.

É sabido que as Representações Sociais são uma constante construção,

portanto a escola pode e deve ser um espaço que favoreça a ampliação, o

enriquecimento da visão que, ainda hoje, se tem tanto sobre a relação

professor/aluno; aluno/professor quanto do cotidiano escolar, cenário no qual

estas relações se estabelecem.

A suposta seriedade que envolve o ato de ensinar vem tirando da

relação aluno/professor o sabor que se deve retirar das pequenas coisas da

vida. As idas e vindas de metodologias milagrosas e teorias salvadoras para o

ato de ensinar e aprender têm gradativamente complicado a prática milenar da

simplicidade de se ensinar.

“Professor e aluno lucrarão muito quando conseguirem unir a matéria à

vida prática. Muitos jovens têm conhecimentos, mas não são sábios

porque não os exercitam. Talento apenas não é suficiente, como não

bastam os conhecimentos interiorizados. São como pérolas dentro de

ostras. É preciso saber comunicá-los, colocá-los em prática para o

usufruto das pessoas”. (TIBA, I, 1998)

O papel de vítima muito bem acatado e aceito pelo professorado impõe

uma certa dose de sofrimento e falta de alegria ao cotidiano escolar.

Diferentemente, da vida fora dos muros escolares, a escola é sombria, sem

graça e pouco criativa. No mundo real, aquele que existe fora dos muros

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escolares, as pessoas comuns aprendem com seus pares que contam histórias

e sem manuais metodológicos ou nomes complicados atuam como

mediadoras, estabelecem conflitos, levantam hipóteses e as testam por mero

prazer de ensinar e aprender.

Como alguém que embora conheça ou já tenha, pelo menos ouvido falar

em construtivismo, alfabetização, letramento, competências e habilidades,

pode, de fato e de direito, internalizar o rela significado destas palavras se o

seu dia a dia é um pêndulo que ora o coloca no papel de vítima que pela culpa

cristã imposta pela sociedade algoz lhe impede o prazer, a contemplação, a

felicidade; ora o coloca no papel de sacerdote, também impedido pela mesma

culpa cristã da gargalhada farta, da alegria, do prazer, enfim dos pequenos

“pecados” que tornam a vida neste planeta um presente divino para ser aberto

aos poucos, contemplado, agraciado, agradecido e vivido com simplicidade.

Neste cenário a escola não tem conseguido cumprir o seu papel, o de

ensinar, que etimologicamente significa elaborar, signos, transmitir

conhecimentos, sejam eles novos ou não. Nota-se que há uma negação por

parte do professor em ensinar, da mesma forma há a visível negação por parte

do aluno em aprender. O sujeito professor, assim como o sujeito aluno se

paralisam em processos resistências a partir das imagens e símbolos

anteriormente estabelecidos.

Ao trazer um pouco de felicidade e alegria para dentro dos muros

escolares, quem sabe estaríamos dando os primeiros passos no sentido da

transformação do perfil do professorado. Quem sabe de vítimas, coitadinhos,

tratados pela mídia como verdadeiros “idiotas”, passaríamos a pegar as rédeas

de nossos destinos e a trilhar um caminho autônomo, com a lucidez de quem

sabe não haver verdades absolutas ou razões eternas, mas sim um contínuo

refutar. Com a lucidez de quem sabe que não se pode e não se deve ceder ao

pessimismo do “não adianta”, e de que está tudo muito ruim. Ser rom6antico

sim, romântico, com lucidez, e com vontade de tentar, ser ainda romântico o

suficiente para deixarmos de Ter pena de nós mesmos e, quem sabe,

resgatarmos o real papel da educação, dos educandos e dos educadores neste

país. Quem sabe, assim, a alquimia da relação aluno-professor/professor-aluno

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– que demanda, ente tantos conhecimentos, também um profundo saber da

alma humana – possa, de fato, acontecer. E, em acontecendo, não teremos

mais milhares de fracassados repetentes ou fracassados aprovados, pois

teremos atingido a qualidade, e acima de tudo, estaremos aprovando não por

modismo, mas por competência. Estaremos ensinando – nosso real papel e

eles, nossos alunos, aprendendo.

Ao assumirmos que as Representações Sociais não são verdades

eternas e, portanto, passíveis de modificação, é chagada a hora de trocarmos

os papéis e contribuirmos, para dentro de pouco tempo, sermos reconhecidos

como uma categoria que faz, sabe o que faz e porque faz e, acima de tudo,

tem prazer no que faz. Uma categoria de seres felizes e orgulhosos pelo que

produzem, já que o que produzem é a maior riqueza que qualquer nação pode

desejar: gente bem formada, não há ouro, nem prata equivalente.

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3 A DISCIPLINA

Se verificarmos os sentido que a língua portuguesa reserva para os

conceitos de indisciplina, disciplina e violência, encontraremos algumas

definições, tais como: “todo ato ou dito contrário à disciplina que leva à

desordem, à rebelião” constituir-se-ia em indisciplina. A disciplina enquanto

“regime de ordem imposta ou livremente consentida que convém ao

funcionamento regular de uma organização (militar, escolar, etc)”, implicaria na

observância a preceitos ou normas estabelecidas. A violência, por sua vez,

seria caracterizada por qualquer “ato violento que, no sentido jurídico,

provocaria, pelo uso da força, um constrangimento físico ou moral”.

Segundo uma pesquisa efetuada pela Data Folha e publicada no jornal

Folha de São Paulo de 29 de março de 1998, 20 % dos estudantes de escolas

públicas são vítimas de depressão. Apontados pelos professores como

indisciplinados, preguiçosos ou apáticos, eles acabam sendo punidos, o que só

agrava a sensação de desamparo.

O ideal é não tirar conclusões apressadas e analisar a situação antes de

atribuir qualquer indisciplina à falta de educação.

A apatia é bastante grave porque não condiz com o comportamento do

adolescente. Em geral, ele mostra desinteresse porque a escola não está

sabendo despertar sua curiosidade. Quando gosta de algo, ele se compromete

e vai bem. A apatia vem da depressão, da auto-estima baixa, do pessimismo,

da sensação de que nada em que se empenhe dará certo. A pessoa se sente

derrotada e vence a estimulação do professor com uma resistência passiva.

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“É a geração do “tanto faz”: tanto faz passar de ano quanto não

passar, estar ou não de castigo, falar ou não com os pais. Nada

parece atingir o aluno, que é vítima de erros educativos, pois seus

paios lhe deram tudo de bom e do melhor, mesmo que nada pedisse,

para que ele não sofresse, tivesse tudo, sem arcar com

responsabilidades e compromissos”. (TIBA, I, 1998)

Será que em educação poderíamos debater sobre esses conceitos, usando

os mesmos sentidos? Será que a indisciplina e a violência são sempre

indesejáveis, ou teríamos de considerar a ambigüidade desses termos? Essas

questões levaram a uma reflexão sobre a duplicidade sempre presente nas

práticas sociais e que nos obriga a considerar não apenas as regras do jogo

institucional, mas também outras regras que, de modo subterrâneo, perpassam

o cotidiano escolar.

A escola, enquanto espaço de violência e de indisciplina, é percorrida

por um movimento ambíguo: de um lado, pelas ações que visam ao

cumprimento das leis e das normas determinadas pelos órgãos centrais, e, de

outro, pela dinâmica dos seus grupos internos que estabelecem interações,

rupturas e permitem a troca de idéias, palavras e sentimentos numa fusão

provisória e conflitual.

A instituição escolar não pode ser vista apenas como reflexo da

opressão, da violência, dos conflitos que acontecem na sociedade. É

importante argumentar que as escolas também produzem sua própria violência

e sua própria indisciplina.

Para dar conta de algumas formas de violência e de indisciplina

que denamizam a vida cotidiana da escola, é preciso apreender, na

ambigüidade desses fenômenos, seus modos específicos de manifestação.

Não se tem como objetivo valorizar esteticamente a violência,

nem defender uma escola sem regras, mas apontar a existência de uma lógica

interna aos fatos que ofereça uma pista para encontrarmos alternativas

pedagógicas de negociação com os conflitos.

A escola como qualquer outra instituição, está planificada para

que as pessoas sejam todas iguais. Há quem afirme: “quanto mais igual, mais

fácil de dirigir”. A homogeneização é exercida por meio de mecanismos

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disciplinares, ou seja, de atividades que esquadrinham o tempo, o espaço, o

movimento, os gestos e as atitudes dos alunos, dos professores, dos diretores,

impondo aos corpos uma atitude de submissão e docilidade.

Assim como a escola tem esse poder de dominação que não

tolera as diferenças, ela também é recortada por formas de resistência.

Compreender esta situação implica em aceitar a escola como um lugar que se

expressa numa extrema tensão entre forças antagônicas.

Como a pluralidade das ações aí presentes não se reduz à

uniformidade, o princípio da homogeneização, imposto pela escola, não se

coloca tranqüilamente, pois ele repousa numa inquietação frente à existência

dos diferentes grupos. A disciplina imposta, ao desconsiderar, por exemplo, o

modo como são partilhados os espaços, o tempo, as relações entre os alunos,

gera uma reação que explode na disciplina incontrolável ou na violência.

Se ensinar é mais do que transmitir conteúdos, ou seja, é poder

gerir relações com o saber, a aprendizagem implica uma tensão, uma violência

para aprender.

“O aspecto cognitivo das condutas consiste na sua estruturação e o

aspecto afetivo na sua energética. Esses dois aspectos são, ao mesmo

tempo, irredutíveis, indissociáveis e complementares; não é, portanto,

muito para admirar que se encontre um notável paralelismo entre as

suas respectivas evoluções”. (PIAGET, J. ,1970)

A classe é o lugar onde se tece uma complexa rede de relações.

Mas na medida em que o professor não consegue perceber essa teia ele

concentra os conflitos ou na sua pessoa, ou em alguns alunos, não os

deslocando, portanto, para o coletivo. Como não há reversibilidade de

posições, forma-se uma rígida divisão entre aquele que sabe e impõe e aquele

que obedece e se revolta. Dessa forma, cada um passa a ser movido por uma

ordem, por uma obrigação que é imposta e não incorporada.

“As obrigações e valores são determinados pela lei ou pelas instruções

em si mesmas, independentemente do contexto das intenções e

relações”(PIAGET, 1970).

O professor imagina que a garantia do seu lugar se dá pela

manutenção da ordem, mas a diversidade dos elementos que compõem a sala

de aula impede a tranqüilidade da permanência neste lugar. Ao mesmo tempo

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que a ordem é necessária, o professor desempenha um papel violento em

ambígüo, pois se, de um lado, ele tem a função de estabelecer os limites da

realidade, das obrigações e das normas, de outro, ele desencadeia novos

dispositivos para o aluno, ao se diferenciar dele, tenha autonomia sobre o seu

próprio aprendizado e sobre sua própria vida.

O grande problema talvez esteja no fato do professor se

concentrar apenas na sua posição normalizadora achando que, com isso, ele

conseguirá eliminar os conflitos. Mas, as efervescências da sala de aula

marcada pela diferença, pela instabilidade, pela precariedade, apontam para a

inutilidade de um controle totalitário, de uma planificação racional, pois os

alunos buscam de modo espontâneo e não planejado o “estar junto” que

impede a instalação de qualquer tipo autoritarismo. Quanto maior a repressão,

maior a violência dos alunos em tentar garantir as forças que assegurem sua

vitalidade enquanto grupo.

Quando o professor experimenta a ambigüidade do seu lugar, ele

consegue, juntamente com os alunos, administrar a violência intrínseca ao seu

papel. Isso não significa que a paz reinará na escola, mas que alunos e

professores, por força das circunstâncias, serão obrigados a se ajustar e a

formular regras comuns – os limites do fechamento e de tolerância. Portanto,

nem autoritarismo e nem abandono. O professor ocupa o seu lugar limitador,

mas ele também abre brechas que permitirão ao aluno negociar e viver com

mais intensidade a misteriosa relação que une o lugar-escola e o nós-alunos.

Na sua ambigüidade, a indisciplina não expressa apenas ódio,

raiva, vingança, mas também uma forma de interromper as pretensões do

controle homogeneizador imposto pela escola. Tanto nas brigas (envolvendo

alunos, professores e diretores) como nas brincadeiras, existe uma duplicidade

que, ao garantir a expressão de forças heterogêneas, assegura a coesão dos

alunos, pois eles passam a partilhar de emoções que fundam o sentimento da

vida coletiva.

A escola tende a reforçar ora a integração plena, ora a rejeição

total e, com isso, ela rompe o eixo das redes em que se apoiam a aproximação

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e a recusa afetiva. Esse desequilíbrio desvincula a escola de seu enraizamento

junto aos

alunos, represando sentimentos que freqüentemente explodem sob as formas

mais indesejáveis.

O objetivo de eliminar a violência e a indisciplina, ou de colocá-las

para fora do campo escolar, faz com que se perca a compreensão da

ambigüidade desses fenômenos que restauram a unicidade grupal e instalam

uma tensão permanente. Quando essa tensão é vivida coletivamente, ela

assegura a coesão do grupo; quando impedida de se expressar, transforma-se

numa violência tão desenfreada que nenhum aparelho repressor, por mais

eficiente que seja, poderá conter.

Portanto, nem uma liberação geral, nem uma ordem absoluta tem

eficácia sobre o movimento dos diferentes grupos que compõem o território

escolar, e que obedece a leis próprias. O confronto da escola com essas leis

obriga à negociação, à adaptação. Quanto maior a sua capacidade em

assumir e controlar a violência, mais a escola dará ao conjunto uma mobilidade

que permitirá driblar e agi com tolerância perante os diferentes tipos de

agitação.

Mas, quando a escola se enrijece, aplicando uma lei única para

todos os casos, o coletivo se desestrutura porque as discordâncias, deixando

de ser objeto de negociação, enfraquecem os vínculos da trama social e

começam a ser tratadas por especialistas. O diretor passa a depender, por

exemplo, dos peritos (policiais, bedéis, orientadores, psicólogos, etc.) que se

utilizam da força física, moral e/ou psicológica para conter o movimento da

violência. Contudo, a ação desses peritos será pouco eficaz, porque quando a

violência não é eliminada, ela assume outras modulações e rompe

regularmente, trazendo à tona tudo o que foi rejeitado.

Como diretores de escola, professores, educadores em geral irão

negociar com os conflitos? Não se trata de receitar formas que levem a essa

negociação, mesmo porque não existe plano algum que solucione o problema

da violência e da indisciplina de modo a eliminá-las por completo. O conflito

está sempre presente, o que obriga a trabalhar, a cada momento, com todas as

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turbulências do dia-a-dia, localizando as formas através das quais elas se

compõem em relação aos limites e às coerções da instituição.

Uma disciplina homogeneizadora que valha para a escola toda,

feita para um conjunto de alunos equivalente àqueles de um passado

idealizado (“dos velhos tempos”) , está destinada ao fracasso. Com o advento

da escola de massas, há regras em jogo que nada têm a ver com a experiência

que vivenciada no passado. Existe um conjunto de histórias tão diversificadas

que precisam ser conhecidas para que os educadores descubram os mundos d

onde os alunos provêm.

É preciso construir práticas organizacionais e padagógicas que

levem em conta as características das crianças e jovens que hoje freqüentam

as escolas. A organização do ano escolar, dos programas, das aulas, a

arquitetura dos prédios e sua conservação não podem estar distantes do gosto

e das necessidade dos alunos, pois, quando a escola não tem significado para

eles, a mesma energia que leva ao envolvimento, ao interesse, pode

transformar-se em apatia ou explodir em indisciplina e violência.

Como encontrar um equilíbrio entre os interesses dos alunos e as

exigências da instituição? É preciso deixar de acreditar que paz signifique

ausência de todo conflito.

Empreendimentos que flexibilizem o tempo e o espaço do

território escolar, que não excluam a possibilidade de dissidências e nem o

debate sobre estas questões, podem dar início ao despontar de uma

solidariedade interna que recuse o coletivismo, isto é, a imposição unitária de

comando, e que engendre uma luta pelo coletivo, ou seja, uma atividade

conjunta que rompa com o isolamento das pessoas e crie uma comunidade de

trabalho.

Essa comunidade faz nascer a troca recíproca, sem eliminar a

autonomia das pessoas e as suas diferenças. Mas para que exista esta

solidariedade, é preciso correr o risco da separação, da hostilidade que

atravessa todas as redes da trama social escolar e que faz relembrar as bases

do seu funcionamento. Os múltiplos confrontos e o viver ambígüo (entre a

harmonia e o conflito) integrado a uma ação coletiva, não atomizada, são os

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fatores que concretizam o gostar da escola, ainda que apenas para encontrar

os amigos.

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4 AVALIAÇÃO : NOVOS RUMOS

O educador que está mergulhado em suas próprias verdades impossibilita

este ato de recriar. Ora, inviabiliza também a possibilidade de executar um

currículo flexível, adaptado à realidade do educando, e todavia a prática de

avaliação qualitativa.

Existe atualmente no Brasil, uma crescente necessidade em rever a prática

de avaliação educacional. O atual quadro no qual se encontra ainda está

enraizado nos padrões tradicionais burgueses (salvo rara exceções).

Tal constatação incita que o educador torne o ato de avaliar algo prazeroso,

num processo contínuo e acima de tudo que a avaliação se constitua num

diagnóstico da aprendizagem.

A escola se constitui num espaço privilegiado para a transmissão cultural e

de conhecimentos científicos transmitidos, e também como um meio

propagador de valores. Isto nos leva a adorar uma postura crítica frente à

realidade apresentada, para que percebamos as causas infra e extra-escolares

responsáveis pelo fracasso escolar. A avaliação neste contexto, torna-se a

priori um dos principais meios de exclusão escolar e social. Suas marcas

ecoam na vida intra e extra-escolar.

Torna-se urgente criar uma nova cultura avaliativa. Cultura esta, que seja

comprometida com a formação de cidadãos, capazes de pensar, resolver

problemas, comunicar-se e colaborar.

A avaliação deve ter uma função essencialmente formativa: de melhoria, de

aperfeiçoamento da prática escolar, pois faz parte do ato educativo, do

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processo de aprendizagem. Avaliar-se para diagnosticar avanços e entraves,

para intervir, agir, problematizando, interferindo e redefinindo os rumos e

caminhos a serem percorridos.

Avaliação da aprendizagem deve servir de suporte para qualificação daquilo

que acontece com o educando diante dos objetivos que se tem, de tal modo

que se possa verificar como agir para ajudá-lo a alcançar o que procura.

Para isso torna-se necessário avaliar as avaliações e os instrumentos que

estão sendo utilizados, bem como os procedimentos de ensino adotados pelos

professores, o que pode ser feito através dos métodos qualitativos.

Os métodos qualitativos de avaliação estão direcionados para enfocar os

processos da prática educativa com a intenção de proporcional a informação

necessária para a formulação racional de ação didática.

O enfoque sobre os processos que enfatizam a descrição e a interpretação,

a mudança e o contexto, não rejeita os dados quantitativos, nem sugere que se

esqueçam os resultados, pode incluir a medida mas não se esgota nela.

O “não sucesso” é em 1o. lugar um indicador de que ainda não se chegou à

solução necessária e em 2o. lugar a indicação de um modo de “como não se

resolver” essa determinada necessidade. Há necessidade de se utilizar

positivamente o erro para avançar na busca da solução pretendida.

Reconhecendo a origem (como surgiu o erro) e a sua constituição (como é

esse erro) podemos superá-lo, com benefícios significativos para o

crescimento.

O erro deve ser visto como suporte para o crescimento, como caminho

para o avanço.

O que desejamos ressaltar é o seguinte: por sobre o insucesso e o erro não

se devem acrescer a culpa e o castigo. Ocorrendo o insucesso ou o erro,

aprendamos a retirar deles os melhores e os mais significativos benefícios,

mas não façamos deles uma trilha necessária de nossas vidas. Eles devem ser

considerados percalços de travessia, com os quais podemos positivamente

aprender e evoluir, mas nunca alvos a serem buscados.

Para que o aluno aprenda terá que haver um desejo para. E cabe aos

educadores das mais diferentes esferas do ensino, entender como se processa

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a aquisição do conhecimento pelo aluno, de que maneira o nosso aluno se

apropria dos conhecimentos cientificamente transmitidos.

Sabe-se que a muito a ser dito sobre a avaliação tradicional e que a busca

por uma nova prática não ocorre de um dia para outro. Este também é um

processo a ser construído com muita reflexão e autonomia pelo educador. Que

se diga, que a mudança de um paradigma não anula os já existentes.

Ao optar por uma nova postura em avaliação, terá que haver anteriormente

uma mudança interna, pessoal de postura. Ou seja, a de mudar nossas velhas

verdades e transformá-las. Há uma ansiedade em se buscar o novo, mas há

muito do que se aproveitar daquilo que está em sala, no cotidiano. Basta

recriar... junto com as crianças!

Finalmente, sob a ótica construtivista-interacionista ressalta-se que a

criança sempre tem a possibilidade de aprender. Resta-nos encontrarmos a

maneira de tornarmos esta aprendizagem significativa. Para tanto necessita-se

Ter clareza em três pontos:

- como a criança aprende;

- o que a criança aprende;

- para que a criança aprende.

A mudança é muitas vezes difícil, dolorosa ... mas necessária. É preciso

estabelecer relações entre o novo e o antigo; entre o bom e mau aluno (que se

constituem em mero juízo de valores); é preciso desvencilhar dos pré-

conceitos. Assim, com humildade intelectual e muita vontade de fazer diferente,

se formarão processos educativos transformadores: seres humanos

transformando a qualidade de suas relações.

É essencial saber avaliar para garantir ao aluno seu direito inalienável de

aprender. Nada faz sentido na escola se o aluno não aprende. Para garantir

esse objetivo, é mister saber avaliar (Darling – Hammond, 1997).

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CONCLUSÃO

Os graus de direcionamento das atividades na aula variam de professor

para professor; podem ser classificados em escala que vai do controle absoluto

à situação em que é deixada liberdade de iniciativa aos alunos, com pouca

interferência. Num extremo temos o que muitas vezes é definido como

professor tradicional, no outro, aquele professor considerado aberto e moderno.

Se observarmos bem a maior parte dos professores situam-se em posição

intermediária. O estilo de ensino está ligado à peculiaridade do professor. Em

geral, o professor impõe sua personalidade e por isso determina um “estilo” na

condução da classe.

O professor tem sua personalidade orientada por valores e princípios de

vida e consciente ou inconscientemente, explícita ou implicitamente, ele veicula

esses valores em sala de aula, manifestando-os a seus alunos. Assim, ao

interagir com cada aluno em particular e se relacionar com a classe como um

todo, o professor não apenas transmite conhecimentos, em forma de

informações, conceitos e idéias (aspecto cognitivo, mas também facilita a

veiculação de ideias, valores e princípios de vida (elementos do domínio

afetivo), ajudando a formar a personalidade do educando. Por isso, o professor

deve Ter bem claro que, antes de ser um professor, ele é um educador.

O conhecimento é o processo pelo qual o homem tem a possibilidade de

interferir na natureza, transformá-la e adaptá-la às suas necessidades.

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A relação professor-aluno, o diálogo é fundamental. A atitude dialógica

no processo ensino-aprendizagem é aquela que parte de uma questão

problematizadora para desencadear o diálogo.

A aprendizagem se modifica na história e passa pela visão de homem e

de mundo que possui.

Na condução da aprendizagem dos seus alunos, o professor tem duas

funções básicas: a função incentivadora, pois precisa garantir situações que

incentivem o aluno a continuar progredindo nos estudos e estimulem sua

participação ativa no ato de aprender; e a função orientadora, pois cabe a ele

ensinar, isto é, orientar o processo de aprendizagem dos alunos para que

possam construir o próprio conhecimento. A autoridade do professor é inerente

à sua função educadora, ou seja, é autoridade de quem incentiva e orienta.

No processo ensino-aprendizagem, o ser humano é capaz de reter na

memória: usar os elementos (apreendidos) em outras situações: transmitir para

outros (socializar/mediar) e permitir o aperfeiçoamento e a evolução científica.

No processo ensino-aprendizagem existem duas relações importantes:

- Inter-psíquica = é a relação aluno/professor/cultura (sala de aula);

- Intra-psíquica = é a interação (síntese) que faz de uma temática com

outros conhecimentos já adquiridos e com outros mediadores.

Visando um processo ensino aprendizagem produtivo, não podemos

deixar de citar a importância da disciplina e do processo avaliativo como fatores

responsáveis pela formação do novo educando que a sociedade busca.

É preciso orientar a conduta dos alunos com atitudes seguras e ao

mesmo tempo compreensivas.

O professor e os alunos devem propor, analisar e discutir, em conjunto,

os padrões de comportamento e normas de conduta, pois quando o aluno

participa da elaboração de um “código”, tende assumir o que propôs e a adotá-

lo, na prática cotidiana.

A avaliação da aprendizagem está diretamente ligada ao trabalho

docente. Ao avaliar o aluno, o professor está avaliando o que ele próprio

conseguiu ensinar.

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Assim a avaliação dos alunos na aprendizagem fornece ao professor

indicaçòes de como deve encaminhar e reorientar a sua prática pedagógica,

visando aperfeiçoa-la.

Ressaltando a relação professor-aluno o papel do educador deve visar a

transformação da informação em conhecimento e o conhecimento em

experiência buscando desenvolver em seus alunos a capacidade de gerenciar

os pensamentos, administrar as emoções, ser líder de si mesmo, trabalhar

perdas e frustações, superar conflitos.

Enfim, para a educação escolar ser um instrumento de transformação

social, nós, educadores, não podemos perder de vista o objetivo último da ação

educativa, que é preparar o jovem para a vida plena da cidadania. Isto supõe

formar um cidadão consciente, crítico e participativo, capaz de compreender a

realidade em que vive e nela intervir, participando do processo de construção

da sociedade.

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