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Construção climaticamente responsável Documento de posição

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Page 1: Documento de posição Construção climaticamente …...Editora Bischöfliches Hilfswerk MISEREOR e. V. 2019 Mozartstraße 9 52064 Aachen Fone: 0241 442 –0 Fax: 0241 442 –188

Construção climaticamente responsável

Documento de posição

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EditoraBischöfliches HilfswerkMISEREOR e. V.2019

Mozartstraße 952064 AachenFone: 0241 442 –0Fax: 0241 442 –188Email: [email protected]: www.misereor.de

RedaçãoKathrin Schroeder, Klaus Teschner,Marcelo Waschl, Adelheid Wehmöllere Clara-Luisa Weichelt

RevisãoDr. Kerstin Burmeister

TraduçãoEdith Snijders

Desenho gráficoAnja Hammers

ReproRoland Küpper,Type & Image, Aachen

Publicado por Misereor2019

Produzido porMVG Medienproduktion undVertriebsgesellschaft, Aachen

Impresso em papel recicladoRecySatin

Foto: Schwarzbach/MISEREO

R

MISEREOR

Impressum

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população mundial cresce. Cada vez maispessoas necessitam de habitação e infra-estrutura para poder viver dignamente.

Novos assentamentos e cidades em rápido cresci-mento contribuem para o forte aumento dessa de-manda. As Nações Unidas estimam que, até 2050,haverá cerca de seis mil milhões de pessoas vivendoem cidades. Atualmente, a população urbana é deaproximadamente 3,5 mil milhões. Os assentamen-tos informais, onde hoje vivem quase mil milhões depessoas, poderão ter de abrigar um a dois bilhões dehabitantes adicionais. O maior crescimento terão ascidades da Ásia e África.1

Por isso, muitas vezes é necessário construirnovas habitações. A MISEREOR e muitas de suas or-ganizações parceiras concordam que o processo deconstrução deve não só levar em consideração crité-rios sociais e econômicos, mas também ecológicos.Estamos convencidos de que uma abordagem res-ponsável de todas as decisões relacionadas com aconstrução contribuirá para a realização dos objeti-vos da Agenda 2030 e do Acordo Climático de Paris.A mudança do clima já está a ter efeitos devastado-res: Fenômenos meteorológicos extremos, como perí-odos de calor e seca anormalmente longos ou chuvastorrenciais, ocorrem com maior frequência. Rios trans-bordantes e inundações estão se tornando cada vezmais comuns. A subida contínua do nível do marameaça edifícios residenciais, instalações sociais eimportantes estruturas de abastecimento nas zonascosteiras.

No Acordo de Paris sobre o Clima, a comunidadeinternacional comprometeu-se em limitar a subida datemperatura média global a 1,5°C em relação aos ní-veis pré-industriais. Atualmente, estamos caminhan-do para um aquecimento global de pelo menos 3°C.O setor da construção civil contribui em muito para o

aumento da temperatura global: Os edifícios e osetor da construção civil são responsáveis por 39%das emissões globais de CO2 relacionadas com a pro-dução de energia, das quais 11% são imputáveis àindústria da construção.2 Depreende-se daí que infra-estruturas adicionais e novos espaços habitacionaisque vão ser necessários já não podem continuar aser construídos com materiais convencionais como oaço, o cimento e o alumínio que tradicionalmentetêm sido e ainda são utilizados nos países industriali-zados da Europa e da América do Norte. O esperadocrescimento urbano global nos chamados paísesemergentes e em vias de desenvolvimento, por si só,esgotaria aproximadamente três quartos do orçamen-to de carbono global (350 gigatoneladas de emissõesglobais de CO2), estabelecido como limite para man-ter o aquecimento global em 1,5 °C.3

O setor de edificação e construção tem um papel-chave na implementação do Acordo de Paris sobre oClima e dos objetivos globais de sustentabilidade(Agenda 2030). Para além da responsabilidade socialde criar infraestruturas para uma vida digna do serhumano, os aspectos ecológicos são igualmente im-portantes. Entre eles incluem-se a proteção do climae do ambiente, como também a necessidade de a-daptar os projetos de construção a condições climáti-cas alteradas. Isso refere-se tanto à produção e utili-zação de materiais de construção como ao balançoenergético dos edifícios. A construção de novas edifi-cações e infraestruturas deve aliar-se à eliminação

1. Introdução

A

“Não é suficiente a busca da beleza no projeto,porque tem ainda mais valor servir outro tipo de beleza:a qualidade de vida das pessoas, a sua harmoniacom o ambiente, o encontro e ajuda mútua.” (LS 150)

1

1 UN DESA 2018 2 O consumo energético de edifícios inclui emissões provenientes de

aquecimento doméstico, cozedura, aquecimento de água, aparelhosdomésticos, iluminação e arrefecimento. UNEP 2018

3 Müller et. al 2013

Documento de posição Construção climaticamente responsável

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ção de projetos na área de construção, a partir da ex-periência de muitos anos da MISEREOR e suas organi-zações parceiras. Estes princípios devem servir de ori-entação para o trabalho de projeto e, ao mesmotempo, impulsionar um diálogo construtivo com res-ponsáveis políticos e da indústria de construção.

do uso de combustíveis fósseis na produção de eletri-cidade, no setor da mobilidade e no fornecimento dearrefecimento e aquecimento. O planejamento urba-no e o uso do solo devem contribuir para evitar e re-duzir o consumo de combustíveis fósseis, por exem-plo, através de urbanizações mais compactas, deforma a minimizar ou até evitar fluxos pendulares.Acresce que edifícios e infraestruturas devem ser con-cebidos de modo a serem o mais resistente possívelaos crescentes efeitos da mudança climática que, deacordo com a região, envolvem chuvas torrenciais ouperíodos prolongados de calor.

Projetos de construção de moradias em regime demutirão e auto-ajuda assim como a construção decentros de saúde, de formação e sociais foram sem-pre elementos importantes do trabalho da MISEREORe de suas organizações parceiras. O presente docu-mento de posição formula princípios para a promo-

por 39% das emissões globais ligadas à produção de energia.O setor da construção e os edifícios são responsáveis

Outros etoresos set61%

construçãoSetor da

11%

Edifícios residenciais17%

11%

comerciais) (públicos,Edifícios

Núm

eros: 201

7; Fonte: G

lobal Status Repo

rt 201

8, IEA; G

ráfica: Infotext, B

erlim

2 MISEREOR

Entre as emissões no setor da construção in-cluem-se as emissões estimadas da indústriaresponsável pela produção de materiais deconstrução como o aço, o cimento ou o vidro.As emissões provocadas pelo transporte dosmateriais de construção não são postas emconta. A categoria “Edifícios” abrange asemissões provenientes da utilização de edifí-cios, incluindo as emissões diretas e indiretas.

Foto: Schwarzbach/MISEREO

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principal grupo-alvo das medidas de cons-trução fomentadas pela MISEREOR sãopessoas que vivem em condições precárias,

em assentamentos urbanos informais e auto-organi-zados, em terrenos baldios junto a vias férreas, emedifícios degradados no interior das cidades ou emcabanas improvisadas na zona rural. Mas tambémpessoas que ficaram desalojadas por causa de catás-trofes, como terremotos, por exemplo, podem serapoiadas através de projetos de construção financia-

dos pela MISEREOR. Os projetos de construção visamcriar condições para uma vida digna e para o desen-volvimento de um ambiente social de paz. Por isso,incluem também a construção de infraestrutura bási-ca, centros de formação e de saúde ou instituiçõessociais.

2. Princípios básicosda MISEREOR para uma construção climaticamente responsável

O

3Documento de posição Construção climaticamente responsável

Congo: Produção de adobespara edifícios residenciais

Fotos: Alexand

re Douline (sup

.), Soteras/M

ISEREO

R (inf.)

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Todos os projetos de construção promovidos pelaMISEREOR devem corresponder a determinados crité-rios de qualidade: Além de cumprir os regulamentosde construção civil e as normas de proteção contra in-cêndio, a concepção e a construção devem ter emconta as condições climáticas e contextuais específi-cas, assim como os requisitos de proteção climáticae ambiental, a compatibilidade socioeconômica easpectos culturais. As obras e a produção de materi-ais de construção não devem comprometer o meioambiente e os ecossistemas, de modo a preservar oshabitats naturais para as gerações futuras.

O crescente consumo mundial de cimento e agrega-dos (areia, cascalho), como também de aço e alumí-nio para fins de construção civil, impacta gravementeo clima e o ambiente. O regresso a métodos de cons-trução locais e a materiais de construção ecológicosou renováveis poderia, pelo menos, aliviar a pressãosobre os recursos naturais e ecossistemas.

Por isso, a MISEREOR e suas organizações parcei-ras têm vindo a promover, desde vários anos, a cons-trução com materiais locais (terra, madeira, bambu,pedra) como uma alternativa adaptada, de baixocusto, energeticamente eficiente e climaticamente res-ponsável aos edifícios construídos de betão ou tijolocozido.

A orientação para as condições sociais e culturaisé outro aspecto importante para a construção susten-tável e a manutenção posterior dos edifícios. Os pro-jetos de construção podem aproveitar-se do conheci-mento local, promover os artífices locais e a iniciativaprópria das pessoas afetadas e mobilizar e formastradicionais de entre-ajuda comunitária e solidária.

4 MISEREOR

“Não queremos aqui uma usina de cimento!Essa usina não só destrói as nossas bases devida, mas também as nossas relações sociais”, afirma Gunarti, membro da comunidade indígenados Samin e representante da iniciativa de cida-dania JMPPK.

As formações rochosas cársticas nas monta-nhas de Kendeng são atraentes para a indústriado cimento devido ao seu elevado teor de cal,gesso e pedra salgada. A empresa indonésiaIndocement, uma filial do grupo alemão Hei-delbergCement AG, quer erigir lá uma usina decimento. As formações cársticas são conside-radas áreas protegidas na Indonésia. O carsteé reservatório de água da chuva e parte deuma importante bacia hidrográfica para a agri-cultura local. As intervenções planejadas têmefeitos devastadores nos seres humanos e nanatureza. No entanto, o governo concedeu àIndocement uma licença ambiental para a mi-neração. Membros da iniciativa de cidadaniacomo a JMPPK protestam com os pés concreta-dos em cimento e lutam em tribunal contra asobreexploração planejada – e, apelam que seponha termo ao boom do cimento mundial.

Produção de cimento na Indonésia

Foto: JMPPK

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onstruir significa sempre uma intervençãoem um sistema ecológico existente porqueconsome energia, recursos e espaço. A tare-

fa da MISEREOR e suas organizações parceiras é redu-zir ao máximo essas intervenções. Em primeiro lugar,o planejamento deve ser feito de modo a assegurarque a construção seja apropriada e adequada à utili-zação pretendida, sem consumir grandes áreas e re-cursos. Em segundo lugar, a escolha da localização éfundamental para realizar uma construção ecológicae energeticamente responsável. Em terceiro lugar, umdesenho climaticamente responsável reduzirá as ne-cessidades energéticas durante a construção e a utili-

3. A eficiência energéticacomo critério central da construçãoclimaticamente responsável

C

5

Honduras: A construção em barro (adobe etaipa de pilão) e a concepção do centro de for-mação com uma ventilação abundante propor-cionam um clima interior agradável e permitemprescindir de sistemas de ar condicionado.

Fotos: Schwarzbach/MISEREO

R (sup

.), Javier Rod

riguez (inf.)

Documento de posição Construção climaticamente responsável

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zação do edifício. Em regiões com altas radiações so-lares e temperaturas elevadas, os edifícios devem serconcebidos de forma a evitar ou minimizar a utiliza-ção de sistemas elétricos de ar condicionado. Em re-giões mais frias, deve-se economizar energia térmica,utilizando o calor proveniente da radiação solar.

Uma construção climaticamente responsável temem conta toda a cadeia de abastecimento e todo ociclo de vida dos edifícios. No processo de constru-ção, a produção e o transporte de materiais absorvea maior parte do consumo energético e das emissõesde CO2. E isso é válido para quase todos os tipos deconstrução. Por isso, devem evitar-se, sempre quepossível, materiais processados industrialmente.Quando um edifício construído com materiais locaisé demolido só há poucos resíduos que devem serdescartados de forma dispendiosa. Isso economizaenergia e custos e reduz as emissões de gases deefeito estufa. Preferencialmente, devem ser fomenta-dos métodos de construção tradicionais, com mate-riais locais ou reciclados.

Há muitas possibilidades de poupar energia du-rante a vida útil de um edifício. Materiais de constru-ção adaptados (como taipa e terra) criam um clima in-terior agradável e eliminam ou reduzem muito a ne-cessidade de ar condicionado artificial. A otimizaçãotérmica da envolvente do edifício (isolamento) econo-miza energia durante a fase de utilização; o uso deenergias renováveis para a geração de eletricidade,aquecimento ou produção de água quente reduz oconsumo de combustíveis fósseis. Durante a fase deutilização de um edifício, os utilizadores e utilizado-ras são os principais responsáveis pela economia deenergia. Seja em edifícios residenciais, escolas ou pos-tos de saúde: a sensibilização e a educação para asustentabilidade energética é um elemento funda-mental e parte integrante da construção climatica-mente responsável.

6 MISEREOR

Haiti: Construção de um edifício residencialde modo local, com uma armação de madeira

resistente a terremotos. As molduras de madeirasão preenchidas com pedras, adobes ou taipa,conforme os materiais localmente disponíveis.

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escolha meticulosa dos materiais de cons-trução é de importância fundamental emtodos os projetos de construção. Devem ser

consideradas não só as caraterísticas físicas de cadamaterial e a sua disponibilidade local, mas tambémas exigências climáticas, sísmicas e culturais dolocal. Em uma construção sustentável, ou seja, umaconstrução compatível com o meio ambiente e o clima,a escolha dos materiais levará em consideração o con-sumo de energia causado pela construção, as emis-sões de gases de CO2 com efeito de estufa, e procura-rá evitar ou minimizar os impactos ambientais.

Os principais argumentos a favor dos materiais deconstrução localmente disponíveis e de produçãonão-industrial relacionam-se com a qualidade, o am-biente e o clima. E, em muitos casos, a utilização demateriais locais reduz significativamente os custosde construção, o que é um efeito secundário bem-vindo.

A produção de aço e cimento (como base para obetão e o betão armado), como também de alumínio,é extremamente intensiva em termos energéticos. Osprojetos de construção devem tentar prescindir demateriais de produção industrial, predominantes há

4. A escolhados materiaisde construção

A

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Fotos: Kop

p/MISEREO

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A soma de energia necessária à produção deum produto material ou uma construção é desig-nada por “energia cinza”. Isso inclui todo o ca-minho que um produto percorre desde a origematé ao produto final, entre os quais o consumode energia durante a extração de recursos, apreparação e o processamento, o transporte e afabricação dos produtos de construção. Se pos-sível, as paredes existentes devem ser reutiliza-das para manter o consumo de energia o maisbaixo possível. Os materiais produzidos indus-trialmente, como o concreto ou o alumínio,são muito mais intensivos em energia doque os materiais de construção disponíveislocalmente, como a argila ou a madeira.

décadas no setor de construção, como o cimento, obetão, o aço e o alumínio. Porém, muitas vezes não épossível realizar a construção sem eles. Pode ser ne-cessário utilizar cimento, concreto ou aço estrutural,por exemplo, quando:– materiais locais de produção não-industrial não

estão disponíveis, – não existe outra possibilidade de garantir a resis-

tência a terremotos, – é necessário suportar cargas sobre grandes vãos

e não é possível reduzir os vãos ou utilizar outrosmateriais,

– faltam outros materiais apropriados para a cons-trução de fundações, lajes, etc.

O tijolo cozido: apenas recomendávelcom restrições

Tijolos cozidos como material de construção sãoutilizados em todo o mundo e são de fácil manuseio.Todavia, o processo de fabrico de tijolos exige bastan-te energia. Por via de regra, esta energia provém defontes fósseis ou da combustão de lenha, o queameaça as zonas florestais e a população arbórea emtorno da cidade. Tijolos fabricados industrialmentepermitem construir prédios de vários andares. Porém,só deveriam ser utilizados quando estiver garantidoque são fabricados de forma ambientalmente respon-sável e energeticamente eficiente ou se puder utilizartijolos reciclados de resíduos de demolição.

Materiais de construção locais

Para a MISEREOR, entre os materiais de constru-ção locais assinalam-se a terra, a madeira, o bambu

Balanço energético dos materiais de construção para paredes

Consumo de energia (MJ/m2),(Para uma espessura de paredes de acordocom a dimensão padrão [0,2m])

Reutilizaçãode paredes existentes

Blocos de terracompactada estabilizados

Terra compactada

Revestimento de madeira

Blocos de pedra –feitos à mão

Blocos de cimento maciço

Revestimento de alumínio

Lajes prefabricadasde betão armado

10008006004002000

43

89

Fonte: International Finance Corpo

ration 201

8

8 MISEREOR

203

239

407

862

907

0

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e a pedra natural. Onde existem, são geralmenteabundantes e as vias de transporte costumam ser cur-tas. Isso é uma vantagem decisiva. Também a sua ob-tenção e o seu processamento consome geralmentesó pouca energia. Além do mais, os materiais locaisestão relacionados com métodos e culturas de cons-trução tradicionais, o que pode contribuir para a re-valorização destas tradições, para a participação dapopulação e a sua identificação com o edifício cons-truído. O processamento é geralmente de mão-de-obra intensiva, o que gera empregos. No caso de des-montagem, a remoção dos materiais de construçãonão é dispendiosa e, frequentemente, os componen-tes podem ser reutilizados. Tudo isso economizaenergia e custo e reduz a emissão de gases de efeitoestufa. Para assegurar a sustentabilidade dos mate-riais de construção locais, há que evitar sempre ouso excessivo de recursos e garantir a preservaçãodo ambiente e dos ecossistemas.

Construção com terra cruaPara construir com terra apenas é preciso solo argilo-so – material disponível em quase toda a parte. Mui-tas vezes, a terra argilosa é extraída do solo no localdas obras ou de um barreiro próximo e depois mistu-rada com areia. A proporção da mistura é importante:O barro excessivamente arenoso tende a esfarelar-see o barro muito argiloso gera rachaduras. Construções

de barro proporcionam um ambiente agradável em re-giões de clima quente; nas épocas frias, a baixa con-dutibilidade térmica e a capacidade das paredes debarro de regular a umidade do ar, criam um ambienteinterior confortável e estável. O barro seco conserva amadeira. Por isso, pode ser utilizado sem problemascom elementos de construção de madeira ou bambu.

Distinguem-se três técnicas construtivas em terra:o adobe, a taipa de pilão e a taipa de pau-a-pique(bahareque ou quincha), em que se utiliza uma estru-tura de vigas de madeira, sobre a qual se aplica obarro. O adobe pode ser empregado para a constru-ção de abóbadas. Na construção em taipa de pilão, aterra úmida é socada entre taipais (tábuas de madeira).

As construções em terra devem ser protegidas daação das chuvas e água através de beirais e valas de

Congo: O centro de treinamentofoi construído em barro (tijolos debarro prensado). O material pôdeser extraído diretamente no local.

9

Fotos: Soteras/M

ISEREO

R (esq.), Adelheid Wehmöller (dir.)

Haiti: A construção da escola foi feitaem madeira e barro (armação de madeirapreenchida com tijolos de barro). O edifíciofoi construído à prova de terramotos.

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escoamento. A umidade, por outro lado, não causadanos. Em regiões de clima seco há edifícios deadobe ou taipa com uma altura impressionante quesobreviveram séculos. No entanto, a técnica de cons-trução em terra só pode utilizar-se de forma restritapara edifícios de vários andares. A construção emterra é, portanto, particularmente adequada para ha-bitações em áreas rurais e suburbanas, escolas, edifí-cios sociais, etc. No entanto, se for preciso trazer aterra de longe, por exemplo, em áreas com solos are-nosos ou pedregosos, há que considerar outras técni-cas construtivas.

Construção em madeira A madeira é um material de construção renovável.

A sua produção requer relativamente pouca energiae, agindo como sequestrador de carbono, a madeira

é ambientalmente e climaticamente amigável. Temexcelentes propriedades físicas e mecânicas. Por serfuncionalmente flexível e interativa, a madeira podeser utilizado muito bem para o método construtivo“enxaimel” e a construção em Taipa, garantindo altaestabilidade em caso de tremores de terra e terremo-tos. Além disso, a madeira é um ótimo isolante térmi-co e muito agradável em termos visuais e táctis. Apósserrada, a madeira deve ser secada adequadamentee armazenada. Além disso, é preciso protegê-la con-tra pragas, especialmente térmitas. Recomendam-seprodutos de proteção da madeira sem biocidas oubarreiras mecânicas.

As reservas em relação à madeira como materialde construção combustível e supostamente não sóli-do são, entretanto, consideradas ultrapassadas. Ascasas de madeira oferecem um clima agradável euma boa resistência sísmica. Um dimensionamentoadequado e um tratamento ecologicamente corretodas madeiras garantem atualmente um nível de pro-teção contra incêndios tão elevado que muitos Regu-lamentos de construção civil (por exemplo, na Ale-manha) até permitem a construção de edifícios demadeira de vários andares no centro das cidades. Amadeira também é ideal para tetos, armações de te-lhado, caixilhos de portas, peitoris e dinteis, bemcomo para vigas de coroamento, por exemplo, emedificações de terra ou tijolo.

Para que seja considerado um material de constru-ção sustentável, a madeira deve ser proveniente de

10 MISEREOR

Haiti: A casa construída em mutirão é feitacom armação de madeira tradicional preenchidacom pedra natural e é resistente a terremotos.

Myanmar: A aberta e arejada sala multiusodo centro tem 25 metros de comprimento ecerca de seis metros de altura. É construídainteiramente de bambu e coberta com telhasde bambu.

Fotos: Adelheid Wehmöller (esq.), Kop

p/MISEREO

R (dir.)

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florestas sustentáveis (certificadas pelo menos com oselo FSC). Isso requer não só a disponibilidade localde madeira, mas também um manejo florestal susten-tável nas proximidades do projeto de construção.

Construção em bambu O bambu cresce na zona entre os trópicos e, comisso, em todos os continentes menos na Europa. En-quanto material de construção de alta qualidade,com grande capacidade de carga e tenacidade, obambu apresenta propriedades equivalentes às ma-deiras duras ou até superiores, devido ao seu rápidocrescimento. Igual à madeira, o bambu exige um tra-tamento anti-pragas antes de seu uso. Em muitos lu-gares já existem habitações, escolas, centros comuni-tários, hotéis ou igrejas construídos completamentede bambu. O bambu é utilizado para construções detetos, andaimes assim como para coberturas de gran-des vãos. O bambu é extremamente resistente a terre-motos. Deve ser protegido da ação de chuvas e águaatravés de beirais e uma base de pedra. Existem tam-bém requisitos elevados à proteção contra incêndios.

Pedra natural e vulcânicaA pedra natural tem boas propriedades de conservare distribuir o calor. Existem muitos tipos de pedracom diferente resistência e solidez. É importante mi-nimizar a energia necessária para a produção na pe-dreira e o transporte. A pedra natural é adequadatanto para alvenaria como para a construção de fun-dações e a base das paredes – por exemplo, nascasas de terra, madeira ou tijolo. Oprocessamento de pedras naturais éextremamente trabalhoso. Isso criaempregos, por um lado, mas aumen-ta o preço do material de construção,de acordo com os níveis salariais.Em parte, a construção de muros depedra requer uma grande quantida-de de cimento para as juntas de ar-gamassa.

Obstáculos impostos à con-strução em terra e madeira pelalegislação e regulamentos deconstrução

Muitos regulamentos de constru-ção não permitem a construção emterra e, assim, classificam uma gran-de parte das construções ruraiscomo não conformes com as regras.

Isso advém de uma falsa percepção de modernidade,da rejeição de “tradições de construção ultrapassa-das” e de informações desfasadas sobre a resistên-cia a terremotos dos edifícios construídos com terra.Do mesmo modo, muitos regulamentos de constru-ção ainda contêm reservas e restrições em relação aconstruções em madeira de vários andares. Isso refe-re-se em primeiro lugar à segurança contra incêndios.Os regulamentos de construção deveriam ser atuali-zados com os novos conhecimentos da ciência e daprática de construção. Na Alemanha, por exemplo, aconstrução de edifícios de madeira de até sete anda-res, proibida durante décadas, voltou a ser autorizada.

Falta de aceitação de materiaise métodos de construção “incomuns”

Muitas vezes, a aceitação de materiais locaiscomo terra, madeira e bambu é difícil porque estãoassociados à pobreza. No entanto, há cada vez maiscasas impressionantes construídas em terra, madeirae bambu. E, estes materiais locais não são usadospor serem mais baratos, mas sim porque convencempela sua qualidade. Todas as camadas da populaçãoapreciam edifícios convivais com um clima interioragradável.

11

França: Esta casa moderna é uma construçãopré-fabricada, com elementos de suporte demadeira e barro. O barro oferece ótimas pro-priedades isolantes e absorve o som.

Foto: Craterre

Documento de posição Construção climaticamente responsável

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construção climaticamente responsávelexige políticas facilitadoras e apoio adequa-do, para que os envolvidos no processo de

construção dêem prioridade a soluções amigas do

ambiente. Por isso, a MISEREOR formulou as seguin-tes demandas aos políticos e instituições doadoras,bem como diretrizes para o planejamento e a realiza-ção de projetos de construção:

Demandas aos responsáveis políticosàs instituições doadoras

1. Os métodos de construção respeitadores do am-biente e responsáveis ao clima devem ser apoia-dos com maior ênfase. Nos projetos de constru-ção fomentados com recursos financeiros devem-se contemplar a preservação de recursos e a efi-ciência energética ao longo de todo o ciclo devida do edifício.

2. Em zonas com elevada atividade de construção,devem ser criados e fomentados centros de infor-mação para orientar sobre as possibilidades deuso de materiais de construção locais.

3. Os regulamentos de construção devem permitiredificações em madeira e terra sem restrições ob-jetivamente injustificadas.

4. Os currículos para técnicos de construção civil emuniversidades e escolas técnicas, bem como osprogramas de formação para trabalhadores/as daconstrução civil, devem dar a devida importânciaa técnicas de construção tradicionais e respeita-doras do clima e aos materiais de construção lo-cais.

5. Na reconstrução de habitações após catástrofes,o uso de materiais de construção provenientes deprodução não industrial pode ampliar considera-velmente o impacto positivo das medidas deajuda a custo baixo. Situações de emergência nãodevem servir de pretexto para transportar deavião materiais de construção produzidos comelevado gasto energético para as áreas de catás-trofe.

Diretrizes para projetosde construção

1. Ao planejar um projeto de construção, deve-seconsiderar a proteção do clima, a conservação derecursos e a eficiência energética, desde a produ-ção dos materiais, a construção e o uso do edifí-cio até a sua demolição.

2. Deve ser verificado sempre se é viável utilizar ma-teriais de construção disponíveis localmente,como terra, madeira, bambu ou pedra natural.

3. Já no planejamento da construção devem-se ex-plorar todas as possibilidades para reduzir aquantidade de materiais em geral e utilizar mate-riais e peças de construção já existentes, inclusi-ve através de reciclagem.

4. Elevados padrões de qualidade na construção euma boa manutenção são fatores centrais paraprolongar a vida útil dos edifícios.

5. A remodelação e a conversão de edifícios deveriater sempre primazia sobre a demolição e a cons-trução de edifícios novos.

6. Um planejamento adequado e orientado para asnecessidades requer a participação dos futurosutilizadores/as ou de representantes do mesmomeio cultural e social.

7. Os projetos de construção deveriam criar oportu-nidades de trabalho para a população local desfa-vorecida, por exemplo, através de técnicas intensi-vas em mão-de-obra. A formação e qualificação,de jovens em particular, deveria ser parte inte-grante de todos os projetos de construção.

8. A saúde e a segurança de todos os trabalhado-res/as no processo de construção devem ser pro-tegidas, nomeadamente através do cumprimentorigoroso das normas de segurança.

5. A construçãode edifícios respeitadoresdo clima requer mudanças!

A

12 MISEREOR

Page 15: Documento de posição Construção climaticamente …...Editora Bischöfliches Hilfswerk MISEREOR e. V. 2019 Mozartstraße 9 52064 Aachen Fone: 0241 442 –0 Fax: 0241 442 –188

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Fontes

Documento de posição Construção climaticamente responsável

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Foto Titel: Soteras/M

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