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Documentação e Memória/TJPE, Recife, PE, v.2, n.4, 97-104, jan./dez.2011 DOCUMENTO 2 Código de Referência: BR PEMJ FLOR JM PJUD AP 1928.04.30 Título: Processo Criminal movido pela Justiça Pública contra Virgolino Ferreira da Silva (“Lampião”), Sabino Gomes, José “Pretinho”, Felix Caboge, Mariano “de Tal” e “Moreno” Datas: 1928-1931 Fundo: Comarca de Flores, PE Dimensão e suporte: 36 fls. textuais Localização: Memorial da Justiça/TJPE - Térreo - Sala 1 Resumo: Virgolino Ferreira da Silva (vulgo Lampião) e membros do seu bando foram acusados pelo assassinato de Antonio Maninho, na localidade Sítio Nunes (Flores-PE), no dia 25 de janeiro de 1928. Após a abertura de inquérito policial, com a ouvida de seis testemunhas, os autos seguiram para o promotor público, que denunciou Lampião, Sabino Gomes, José Pretinho, Felix Caboge, Mariano de Tal e Moreno. Conforme os depoimentos, o crime teria sido motivado pelo fato de Maninho haver confundido os cangaceiros com membros de força policial e, em conversa com Sabino Gomes, sub-chefe do grupo, ter afirmado que pretendia tornar-se praça assim que chegasse a Triunfo, a fim de “perseguir cangaceiros e dar surra em ladrões”. Irritado com o comentário, Sabino eliminou a vítima. Como vivessem em lugar incerto e não sabido, os acusados não chegaram a ser interrogados e o processo correu à revelia. Baseado nos relatos das testemunhas, o promotor requereu a pronúncia de Lampião, Sabino, Pretinho e Caboge, mas pediu a impronúncia de Mariano e Moreno. Ao final, as alegações do promotor foram aceitas tanto pelo juiz municipal (primeira instância) como pelo juiz de Direito (segunda instância). De acordo com a sentença, os pronunciados deveriam ser presos e levados a júri popular.

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Documentação e Memória/TJPE, Recife, PE, v.2, n.4, 97-104, jan./dez.2011

DOCUMENTO 2

Código de Referência: BR PEMJ FLOR JM PJUD AP 1928.04.30

Título: Processo Criminal movido pela Justiça Pública contra Virgolino Ferreira da Silva

(“Lampião”), Sabino Gomes, José “Pretinho”, Felix Caboge, Mariano “de Tal” e “Moreno”

Datas: 1928-1931

Fundo: Comarca de Flores, PE

Dimensão e suporte: 36 fls. textuais

Localização: Memorial da Justiça/TJPE - Térreo - Sala 1

Resumo:

Virgolino Ferreira da Silva (vulgo Lampião) e membros do seu bando foram acusados

pelo assassinato de Antonio Maninho, na localidade Sítio Nunes (Flores-PE), no dia 25 de janeiro

de 1928. Após a abertura de inquérito policial, com a ouvida de seis testemunhas, os autos

seguiram para o promotor público, que denunciou Lampião, Sabino Gomes, José Pretinho, Felix

Caboge, Mariano de Tal e Moreno. Conforme os depoimentos, o crime teria sido motivado pelo

fato de Maninho haver confundido os cangaceiros com membros de força policial e, em conversa

com Sabino Gomes, sub-chefe do grupo, ter afirmado que pretendia tornar-se praça assim que

chegasse a Triunfo, a fim de “perseguir cangaceiros e dar surra em ladrões”. Irritado com o

comentário, Sabino eliminou a vítima. Como vivessem em lugar incerto e não sabido, os

acusados não chegaram a ser interrogados e o processo correu à revelia. Baseado nos relatos das

testemunhas, o promotor requereu a pronúncia de Lampião, Sabino, Pretinho e Caboge, mas

pediu a impronúncia de Mariano e Moreno. Ao final, as alegações do promotor foram aceitas

tanto pelo juiz municipal (primeira instância) como pelo juiz de Direito (segunda instância). De

acordo com a sentença, os pronunciados deveriam ser presos e levados a júri popular.

DOCUMENTO 2: PROCESSO CRIMINAL Nº 1928.04.30-JUSTIÇA PÚBLICA CONTRA VIRGOLINO FERREIRA DA SILVA (“LAMPIÃO”) E OUTROS

Documentação e Memória/TJPE, Recife, PE, v.2, n.4, 97-104, jan./dez.2011

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Transcrição 2.1:

Trechos da Denúncia do Ministério Público e do Despacho inicial dado pelo Juiz Municipal [fl. 2.].

2

[Rubrica]

Ilustríssimo Senhor Doutor Juiz Municipal da/ Comarca de Flores./

Autue-se. Recebo a denúncia; de-/signe o escrivão, dia para ter/ lugar a formação da culpa/ no Paço do Conselho Munici-/pal desta cidade, às 12 horas/ na sala das audiências des-/te juízo e notifique-se as/ testemunhas arroladas para/[...]

Usando das atribuições de seu cargo/ e firmado no inquérito policial

anexo,/ o Promotor público desta comarca vem/ perante Vossa Senhoria

denunciar de Virgolino Ferrei-/ra da Silva, vulgo Lampião, de Sabino Go-

/mes, José Pretinho, Félix Caboge, Mariano/ de Tal e do indivíduo conhecido

por/ Moreno, como incursos nas penas do artigo/ 294, §1º, combinado com o

artigo 18, §1º do/ Código Penal, pelo seguinte fato delituoso:/___ No dia 25

de janeiro do corrente a-/no, pelas 18 horas, chegando os denunciados/ acima

referidos na casa de Simplício Olei-/ro, sita no lugar “Sítio Nunes” deste

muni-/cípio, aí encontraram hospedado o viajan-/te Antonio Maninho,

passageiro esse que,/ em companhia de dois filhos menores,/ se dirigia para

Triunfo com proce-/dência de Buíque./

Entendendo que se tratava de uma/ força de polícia, Antonio Maninho,/

inexperiente, em conversa com os denun-/

[...]

Memorial da Justiça/Tribunal de Justiça de Pernambuco

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Figura 1: Reprodução digital do trecho da Denúncia do Ministério Público e do Despacho

inicial dado pelo Juiz Municipal, constante às fls. 2 do processo.

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Transcrição 2.2:

Trecho do depoimento da testemunha Joaquim Nunes de Lima, prestado na fase de Inquérito

Policial [fl. 6v.].

[...]

plicio, e ali havia matado a um rapaz/ que vinha de Buíque, em direção a Tri-/ unfo; que

este rapaz chamava-se Anto-/nio “Maninho”, sendo somente conhecido por/ esse

nome; que ouviu dizer que o motivo por-/que os cangaceiros mataram a Antonio Mani-

/nho foi o mesmo Antonio, pensando que os/ cangaceiros eram soldados, dizer que

brevemen/te sentaria praça também; que o grupo de/ bandidos, embora ele não o visse,

mas sa-/be por ouvir dizer que se compunha de 14/ bandidos, sendo reconhecidos entre

eles, os/ de nomes Sabino Gomes, Felix Caboje, José/ Pretinho, Mariano, e outros, que

não sabe dos/ nomes; que no dia seguinte, foi chamado pa-/ra ajudar a enterrar o morto,

não tendo visto po-/rém os seus ferimentos; que mais tarde veio/ a saber também que

os cangaceiros, aí per-/to no lugar Mulungú, tomaram sete burros/ a uns almocreves, e

uma sela pertencente/ a Juvenal Duarte. E nada mais sabe./ E como nada mais disse e

nem lhe foi per-/guntado, deu-se por findo o presente depoimento/ que depois de lhe

ser lido e achar conforme, as-/sina a rôgo do depoente por não saber ler nem/ escrever,

Joaquim Nunes da Silva, com o Delega-/do, e comigo Josias Ribeiro de Souza,

Escrivão,/ que o fiz e escrevi.

João de Mello Netto

Joaquim Nunes da Silva

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Figura 2: Imagem digital do depoimento da testemunha Joaquim Nunes de Lima, prestado

na fase de Inquérito Policial, situado às fl. 6v.

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Transcrição 2.3:

Trecho da Sentença de Pronúncia [fl. 34].

34

[Rubrica]

É lastimável, que um gru/po miserável, composto de ele-

/mentos nocivos à sociedade,/ chefiado pelo célebre bandido/

Virgolino Ferreira da Silva/ vulgo Lampião, que sem dó/ nem

piedade, pratique os/ maiores horrores, plantando o/ luto, e a

orfandade, não só/ neste Estado, como em Esta/dos vizinhos,

ainda exista/ nos sertões pernambucanos./ Não é preciso

grande histórico,/ para relatar os fatos prati/cados pelos

bandoleiros de Lam/pião, quando é bem conheci-/do de norte

a sul do país,/ pela imprensa, e as notíci/as espalhadas pelo

bom senso./ Portanto, considerando, que os/ ferimentos

produzidos pelos de/nunciados, na infeliz pessoa/ de Antonio

Maninho, foram/ a causa eficiente da mor-/te do ofendido, por

sua na/tureza e sede, julgo proceden/te a denúncia de fls. 2,

para/ pronunciar como pronunci/o, os indivíduos Virgolino/

Ferreira da Silva vulgo Lam/pião, chefe do grupo bandolei/ro,

Sabino Gomes sub-chefe,/ e os seus comparsas José Pre/

[...]

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Figura 3: Reprodução de parte da sentença de pronúncia, sita às fl. 34.

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REFERÊNCIA

PERNAMBUCO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Processo criminal movido pela Justiça Pública

contra Virgolino Ferreira da Silva (“Lampião”), Sabino Gomes, José “Pretinho”, Felix Caboge,

Mariano “de Tal” e “Moreno”. Flores, 72 p., 1928.