do arraial À cidade:ocupaÇÃo do espaÇo e dinÂmica urbana na (re)construÇÃo de mariana,...

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8/13/2019 DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747) -Tércio Veloso http://slidepdf.com/reader/full/do-arraial-a-cidadeocupacao-do-espaco-e-dinamica-urbana-na-reconstrucao 1/22  O ARRAIAL À CIDADE  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  NA RE  ) CONSTRUÇÃO DE  ARIANA  , INAS ERAIS (1742-1747) Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG  5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 14 DO ARRAIAL À CIDADE : OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE )CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA ,  M INAS G ERAIS (1742-1747) T#&" 5e%"" Mestrando em História Universidade Federal de Ouro Preto [email protected] RESUMO: O presente artigo buscar elucidar algumas ações tomadas pela !mara de Mariana para resolver os problemas das enchentes do "ibeir#o do armo $ue assolavam a povoaç#o nos meados do s%culo &'(((. ) *re+construç#o da cidade para terras mais a,astadas do rio ,oi ob-eto de uma etensa disputa entre a sobredita !mara e a "eal Fa/enda. )pontando os argumentos utili/ados para cada uma das terras e0 tamb%m0 a decis#o tomada pelo rei 1. 2o#o '0 o $ue se pretende % apresentar as ,ormas de atuaç#o e a din!mica envolvida na con,iguraç#o do espaço urbano nas Minas 3erais0 no s%culo &'(((. PALA5RAS-C3A5E: Minas 3erais0 Mariana0 Urbanismo.  ABSTRACT: 4his article see5 to elucidate some actions ta5en b6 the ouncil o, Mariana to solve the problems o, ,looding o, "ibeir#o do armo that ravaged the village in the mid7 eighteenth centur6. 4he *re+construction o, the cit6 a8a6 ,rom the river has been the sub-ect o, etensive dispute bet8een the a,oresaid ouncil and the "o6al 4reasur6. 4hus0 the aim is to present the ,orms o, action and d6namic involved in setting up urban space in Minas 3erais0 in the eighteenth centur60 pointing out the arguments used ,or each part60 and also the decision b6 5ing 2o#o '. FEHORDS: Minas 3erais0 Mariana0 Urbanism. O processo de ocupaç#o do espaço0 a construç#o e as trans,ormações pelas $uais passaram a cidade de Mariana s#o ob-etos -9 tratados por memorialistas e tamb%m por estudiosos da História0 da )r$uitetura e do Urbanismo. nica povoaç#o a receber o t;tulo de cidade nas Minas 3erais do s%culo &'(((0 % sabido $ue para se ade$uar a tal condiç#o de cidade o cen9rio urbano precisou ser modi,icado. O traçado das ruas passou por pontuais inter,er<ncias ad$uirindo vis;veis contornos regulares0 com ruas paralelas e travessas interligando7as.  ) ,orma urbana de Mariana chamou a atenç#o de muitos estudiosos0 especialmente por seu desenho ortogonal $ue a di,erenciava das demais cidades coloniais mineiras. olocando7a como eceç#o dentro do conteto de =desleio> em $ue se ergueram os povoados coloniais no

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Page 1: DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E  DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE  MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747)  -Tércio Veloso

8/13/2019 DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747) -Tércio Veloso

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 14 

DO ARRAIAL À CIDADE: OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E

DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE

M ARIANA , MINAS GERAIS (1742-1747)T#&" 5e%""

Mestrando em HistóriaUniversidade Federal de Ouro Preto

[email protected] 

RESUMO: O presente artigo buscar elucidar algumas ações tomadas pela !mara de Marianapara resolver os problemas das enchentes do "ibeir#o do armo $ue assolavam a povoaç#o nosmeados do s%culo &'(((. ) *re+construç#o da cidade para terras mais a,astadas do rio ,oi ob-eto

de uma etensa disputa entre a sobredita !mara e a "eal Fa/enda. )pontando os argumentosutili/ados para cada uma das terras e0 tamb%m0 a decis#o tomada pelo rei 1. 2o#o '0 o $ue sepretende % apresentar as ,ormas de atuaç#o e a din!mica envolvida na con,iguraç#o do espaçourbano nas Minas 3erais0 no s%culo &'(((.

PALA5RAS-C3A5E: Minas 3erais0 Mariana0 Urbanismo.

 ABSTRACT: 4his article see5 to elucidate some actions ta5en b6 the ouncil o, Mariana tosolve the problems o, ,looding o, "ibeir#o do armo that ravaged the village in the mid7eighteenth centur6. 4he *re+construction o, the cit6 a8a6 ,rom the river has been the sub-ect o,etensive dispute bet8een the a,oresaid ouncil and the "o6al 4reasur6. 4hus0 the aim is to

present the ,orms o, action and d6namic involved in setting up urban space in Minas 3erais0 inthe eighteenth centur60 pointing out the arguments used ,or each part60 and also the decision b65ing 2o#o '.

FEHORDS: Minas 3erais0 Mariana0 Urbanism.

O processo de ocupaç#o do espaço0 a construç#o e as trans,ormações pelas $uais

passaram a cidade de Mariana s#o ob-etos -9 tratados por memorialistas e tamb%m por estudiosos

da História0 da )r$uitetura e do Urbanismo. nica povoaç#o a receber o t;tulo de cidade nas

Minas 3erais do s%culo &'(((0 % sabido $ue para se ade$uar a tal condiç#o de cidade o cen9riourbano precisou ser modi,icado. O traçado das ruas passou por pontuais inter,er<ncias

ad$uirindo vis;veis contornos regulares0 com ruas paralelas e travessas interligando7as.

 ) ,orma urbana de Mariana chamou a atenç#o de muitos estudiosos0 especialmente por

seu desenho ortogonal $ue a di,erenciava das demais cidades coloniais mineiras. olocando7a

como eceç#o dentro do conteto de =desleio> em $ue se ergueram os povoados coloniais no

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8/13/2019 DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747) -Tércio Veloso

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 14? 

?rasil0 muitos estudiosos0 especialmente a$ueles voltados 9rea do urbanismo0 atribu;ssem

cidade um plane-amento pr%vio das ações sobre o espaço urbano.A 

Bntretanto0 pretende7se mostrar0 de encontro com a recente historiogra,ia0 $ue essasintervenções se alinhavam com espec;,icos contetos de ocupaç#o do espaço0 con,erindo s

ações sobre o traçado urbano de 'ila do armoCMariana uma din!mica particular. Bn$uanto se

,a/ia urgente o a,astamento da cidade das inundações do "ibeir#o do armo0 recorrentes desde a

d%cada de ADE0 algumas disputas ,oram travadas na ocupaç#o das terras mais elevadas em

relaç#o ao "ibeir#oG. Bssas disputas0 envolvendo a !mara Municipal de 'ila do armo e a "eal

Fa/enda0 s#o o ob-eto desse artigo.

 ) 'ila do armo surgiu da -unç#o de dois ncleos menores: Mata avalos e )rraial deima. Fundada o,icialmente em ADAA0 en$uanto vila e unidade administrativa0 o arraial do

"ibeir#o do armo -9 se encontrava ocupado desde os ltimos anos do s%culo &'((. ) partir dos

acampamentos iniciados pelos eploradores Ialvador Furtado de Mendonça e )ntJnio Pereira0 a

 vila tomou ,orma seguindo o leito do ribeir#o $ue partilhava do mesmo nome. ) 'ila do armo

em seus primeiros anos tinha a mor,ologia longitudinal0 alongada acompanhando o curso dKagua

e os caminhos $ue por ali passavam0 con,orme apontaram muitos historiadores.E 

 ) criaç#o da 'ila representa um primeiro es,orço de imposiç#o da estruturaadministrativa portuguesa. ) demarcaç#o do rossio –  as terras pblicas da !mara L0 apesar de sua

de,iniç#o se arrastar durante os primeiros anos do s%c. &'(((0 ,oi ,ruto0 basicamente0 da doaç#o

A ) esse respeito ver: HO)N1)0 I%rgio ?uar$ue de. Raízes do Brasil.  I#o Paulo: ompanhia das etras0 G ')IONBOI0 I6lvio de.  Arquitetura, arte e cidade : tetos reunidos. ?H: Bd. ?1M3 ultural0 GQ ')IONBOI0 I6lvio de. Vila Rica : ,ormaç#o e desenvolvimento L resid<ncias. I#o Paulo: Perspectiva0 ARDDI)N4OI0 Paulo Ferreira. Formação de cidades no Brasil colonial. "io de 2aneiro: UF"20 GA 1BION0 "oberta Mar. Novas vilas para o Brasil-colnia!   plane-amento espacial e social no s%culo &'(((. *4rad. Fernando de 'asconcelosPinto+. ?ras;lia: )')7(O"10 ARRD. G  ) esse respeito ver: "B(I F(HO0 Nestor 3oulart.  A ur"anização e o ur"anismo na re#ião das $inas.  I#o Paulo:F)UCUIP0 ARRR FONIB)0 l9udia 1amasceno.  $ariana!   g<nese e trans,ormaç#o de uma paisagem cultural.1issertaç#o *Mestrado em 3eogra,ia+7(nstituto de 3eo7ci<ncias *(3+0 1epartamento de 3eogra,ia0 UniversidadeFederal de Minas 3erais0 ?elo Hori/onte0 ARR ?)I4OI0 "odrigo de )lmeida.  A arte do ur"anismo conveniente!   odecoro na implantaç#o de novas povoações em Minas 3erais na primeira metade do s%culo &'(((. 1issertaç#o*Mestrado em )r$uitetura e Urbanismo+ Faculdade de )r$uitetura0 Universidade Federal de Minas 3erais0 ?eloHori/onte0 GE ?O""B3O0 Maria )parecida de Mene/es. %&di#os e 'r(ticas!  o processo de constituiç#o Urbana em 'ila "ica olonial *ADG7ADQS+. I#o Paulo: )nnablume: Fapesp0 GQ I(')0 Fabiano 3omes da. 'edra e %al!  osconstrutores de 'ila "ica no s%culo &'((( *ADE7AS+. F)F(HCUFM30 GD ?O"IO(0 1iogo. 'or dentro de mapase planos!   pr9ticas cotidianas e din!mica urbana em Mariana7M3 *ADQ7AS+. Monogra,ia de ?acharelado.1BH(ICUFOP0 GS 4B1BIH(0 1enise.  )#uas ur"anas!   ,ormas de apropriaç#o das 9guas em Mariana *ADQ7ADRS+. ampinas0 IP : Ts. n.0 GAA. *dissertaç#o de mestrado+. E Iobre a ,ormaç#o longitudinal dos arraiais0 acompanhando os caminhos ver 1K)IIUMPVWO0 . =onsiderações

sobre a ,ormaç#o do espaço urbano setecentista nasMinas.> Revista do departamento de *ist&ria da +F$ . ?eloHori/onte. NXR pp.AE7AQ0 ARSR. 

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8/13/2019 DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747) -Tércio Veloso

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 147 

de um pedaço da terra *uma l%gua em $uadra+ por )ntJnio Pereira0 $ue recebeu em troca a posse

heredit9ria do cargo de escriv#o da !maraQ. Os s;mbolos do poder0 $ue se espalhavam pela

cidade eram a asa de !mara e adeia0 o pelourinho0 s;mbolo m9imo da -ustiça0 e os templosdo armo e da onceiç#o0 ob-etivando ,a/er presente o rei e a (gre-a na distante povoaç#o da

 )m%rica. 

 ) capela da onceiç#o0 ,undada pelo mesmo )ntJnio Pereira e escolhida como (gre-a

Matri/0 ,oi re,ormada e ampliada entre ADAG e ADAS0 denunciando uma primeira mudança no eio

de crescimento da populaç#o de  $ata %avalos para o  Arraial de Baio. Nessa %poca0 a vila ainda

conservava a apar<ncia de arraial com o =correr de ruas mal delineadas0 tortuosas e inconstantes

na largura0 de pe$uenas travessas0 de terrenos $ue parecem escorregar desalinhadamente> Y

. )s primeiras trans,ormações ocorreram no argo da Matri/0 $ue tomou uma ,orma

$uadrangular e abrigou os primeiros pr%dios pblicos e o pelourinho. No caminho de ,ora0 rua

lateral Matri/0 instalaram7se0 anos depois0 a casa dos -u;/es7de7,ora e asa da (ntend<ncia $ue

deu nome rua. Ieguindo a tradiç#o secular portuguesa0 a Rua ireita ,oi trans,erida para perto da

Matri/0 onde na %poca eistia apenas um caminho conhecido como =caminho de cima>D.

Parte signi,icativa das trans,ormações $ue modi,icaram a mor,ologia urbana da 'ila do

armo no s%culo &'((( ,oram ocasionadas pelas tentativas de controlar as destruições causadaspelo ribeir#o do armo. Iegundo aponta laudia 1amasceno Fonseca0 a utili/aç#o de t%cnicas

rudimentares na mineraç#o0 especialmente no momento $ue essa sai do leito dos rios para

alcançar os morros0 troue inmeros problemas no $ue di/ respeito eploraç#o predatória do

terreno.S 

Q  ,. FONIB)0 . Bspaço Urbano de Mariana: sua ,ormaç#o e suas representações. (n: (IZ0 )ndrea [PO(4O0 ". /ermo de $ariana. *ist&ria e ocumentação. vol.(. Ouro Preto: Bditora da Universidade Federal de OuroPreto0 ARRS. p.EE.Iobre a atuaç#o e import!ncia dos escriv#es. ,. FONIB)0 4eresa. =O ,uncionalismo camar9riono )ntigo "egime. Iociologia e pr9ticas administrativas.> (n: UNH)0 Ma,alda Ioares da *org.+. 0s municípios no'ortu#al $oderno: dos ,orais manuelinos s re,ormas liberais. isboa: Bdições olibri L (1BHUI7BU0 G. p.S7SA.  =Bm tese0 os signos o,iciais0 $uando institu;dos do sentido alme-ado0 tornavam presente o poder r%gio. ) linguagemconstitu;da do poder0 entretanto0 se insere num movimento dialógico $ue pressupõe um receptor n#o apenas ativo0mas tamb%m dotado de hori/ontes de conhecimento espec;,icos e capa/es de condicionar a compreens#o e aapropriaç#o da mensagem. )ssim considerando7se0 os signi,icados do poder se multiplicariam numa poli,onia desemitons0 criada pela recepç#o dos indiv;duos.> (n: I('B(")0 Marco )ntJnio [ )N4UNBI0 \lvaro. =asa de!mara e adeia: espaços e s;mbolos do poder em Mariana0 *s%culo &'(((+.> *(n%dito L cedido pelos autores+. Y ,. M)"&0 M.%idade no Brasil! terra de $uem]apud! FONIB)0 . =Bspaço urbano de Mariana.>0 p.EY. D ,. FONIB)0 . =Bspaço Urbano de Mariana: sua ,ormaç#o e suas representações.> (n: (IZ0 )ndrea [PO(4O0 ". /ermo de $ariana. *ist&ria e ocumentação. vol.(. Ouro Preto: Bditora da Universidade Federal de OuroPreto0 ARRS. p.GD. S Iobre o processo de ocupaç#o dos morros pelos serviços minerais ver "BIBN1B0 1e-anira Ferreira de. 1Arraia- mi2da3 nos morros das $inas. Monogra,ia de bacharelado. UFOP: Mariana0 GA.

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 14> 

 ) necessidade de desviar cursos dKagua para se ,a/er os desmontes dos terrenos e mais a

pr9tica de $ueimadas0 $ue visava ,acilitar a eploraç#o L n#o só mineral0 mas tamb%m agr;cola L

acabava tirando a camada natural de vegetaç#o0 abrindo espaço para a atuaç#o dos e,eitoserosivosR. O assoreamento do leito do "ibeir#o do armo ,oi0 ent#o0 o principal problema $ue

moradores tiveram $ue en,rentar e $ue n#o impunha ,9cil soluç#o0 uma ve/ $ue a pr9tica de

desmontes era a ,orma mais comum e mais utili/ada nos serviços minerais.

 )s enchentes eram ,re$^entes desde a d%cada de ADE0 tra/endo sempre tona a

preocupaç#o com a ordenaç#o urbana. ) partir de documento eposto por 1enise 4edeschi em

estudo sobre as 9guas na 'ila do armoCidade de Mariana0 % poss;vel perceber a preocupaç#o

dos camaristas com os =ecessos> do ribeir#o:No ano de mil setecentos e trinta e sete eperimentaram os moradores daprincipal "ua dessa vila com a inundaç#o do "io0 chamado "ibeir#o do armo0ocasionando da ru;na de um cerco0 $ue a de,endia dessas enchentes ,a/endo selhe despenderem do/e mil cru/ados para o seu reparo0 ameaçando novamentemesma ru;na com maior di,iculdade para se poder evitar0 pois se achava o "iomais Taltiado do $ue a mesma 'ila.A 

Iegundo interessante percepç#o de 1enise 4edeschi0 a povoaç#o s margens do

"ibeir#o do armo eperimentou dois momentos distintos em relaç#o s 9guas: =proimidade> e

=,uga>. Nos anos iniciais de sua ,ormaç#o0 o arraial do armo0 posteriormente 'ila do armo0 seestruturava s margens do ribeir#o0 seguindo seu curso alongando7se longitudinalmente -unto

com o curso dK9gua. 4odavia0 as cheias do "ibeir#o do armo0 em muito causadas pela

degradaç#o em suas margens ao longo de E anos de eploraç#o aur;,era em seu leito e morros

cont;guos0 ,i/eram com $ue os moradores buscassem segurança em 9reas mais a,astadas dos

=ecessos> do ribeir#o0 em ações capitaneadas0 na maioria das ve/es0 pela !mara de 'ila do

armo.AA 

 )lguns documentos conservados no )r$uivo Histórico Ultramarino nos d#o uma

dimens#o dos es,orços despendidos pela !mara de 'ila do armoCMariana na ordenaç#o do

espaço urbano nos anos da d%cada de ADQ. Os inmeros problemas $ue se seguiam de muitos

R =O terreno montanhoso0 entregue sem de,esa ao ;mpeto das chuvas0 perde o hmus0 esboroa7se em largos sulcos$ue v<m se -untar aos talhos abertos das minerações0 para dar paisagem um aspecto ainda mais dilacerado.> ,.)4(F apud : FONIB)0 l9udia 1amasceno.  $ariana! #4nese e trans5ormação de uma paisa#em cultural. 1issertaç#o*Mestrado em 3eogra,ia+7(nstituto de 3eo7ci<ncias *(3+0 1epartamento de 3eogra,ia0 Universidade Federal deMinas 3erais0 ?elo Hori/onte0 ARR. p.SG. A )HU ?rasilCM3. . Q. 1oc. A. apud!  4B1BIH(0 1.  )#uas ur"anas! ,ormas de apropriaç#o das 9guas emMariana *ADQ7ADRS+. ampinas0 IP: Ts. n.0 GAA. *dissertaç#o de mestrado+. p.QY. AA  =Na primeira metade do s%culo &'(((0 percebemos dois movimentos $uanto s 9guas do ribeir#o do armo:

inicialmente0 a proimidade em seguida0 a ,uga. ) tra-etória urbana e a estruturaç#o da cidade acompanhavam oitiner9rio dessas 9guas.> 4B1BIH(0 1. )#uas +r"anas, p.Q. 

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 14= 

anos de eploraç#o aur;,era predatória no leito0 nas margens e nas encostas do "ibeir#o do

armo agora re,letiam sobre grande parte da populaç#o.

O assoreamento do leito do "ibeir#o0 decorrente do $ue se denominava =entulhos> dosserviços minerais0 ,e/ com $ue este tomasse gradualmente o espaço ocupado pelas casas

constru;das em suas margens pelos primeiros moradores. ) principal rua L a ent#o "ua 1ireita L

da 'ila do armo havia sido $uase $ue em sua totalidade tomada pelo avanço do leito do

"ibeir#o e0 caso nada ,osse ,eito0 em pouco tempo estaria tomando outras partes da povoaç#o.

Pela an9lise das ,ontes0 pode7se perceber de antem#o $ue as ações do Ienado ,rente aos

transtornos causados pelas 9guas tomaram duas ,rentes. ) primeira se re,ere s obras para cercar

e conter os ecessos do rioAG. ) segunda0 incorporando terras mais a,astadas do rio paraconstruç#o de novos e$uipamentos urbanos0 pretendia situar a povoaç#o ,ora do alcance do

"ibeir#o do armoAE. )s di,iculdades impostas nos combates s enchentes acabavam0 portanto0

servindo como -usti,icativa para a solicitaç#o de novas terras -unto ao rei para a ampliaç#o da ur"e .

 )ssim0 podemos perceber $ue os empenhos da !mara se dividiam nesses dois ,ocos de

aç#o0 $ue correm $uase em paralelo durante anos de ADQ7AD. Por um lado0 a !mara procurou

propor ,ormas de ameni/ar a va/#o do caudaloso ribeir#o $ue cortava a 'ila0 denunciando

diretamente ao rei serviços minerais irregulares e debatendo em suas sessões obras $ue pudessemresolver o problema das inundações0 mas $ue ,ossem tamb%m vi9veis para as receitas da !mara.

Por outro lado0 os o,iciais passaram a solicitar ao rei o direito de ocuparem terras $ue

,icavam mais a,astadas do curso do ribeir#o. Bssa alternativa parecia duplamente rent9vel para a

!mara0 pois al%m de livrar a povoaç#o da =,ria> do "ibeir#o0 daria !mara novas terra para

serem postas em a,oramento0 conse$uentemente aumentando as rendas e o patrimJnio da

!maraAQ. ) parcela visada correspondia ao terreno $ue era utili/ado como pastos pelo _uartel

AG  )HU ?rasilCM3. :QD 1oc:EG. arta dos O,iciais da !mara de cidade de Mariana0 na $ual opinam serinatend;vel a proposta de eecuç#o de obras0 de molde a evitar novas inundações e conse$^entes destruições na ruaprincipal da cidade0 devido ao estado de ru;na total0 n#o se -usti,icando os gastos. Mariana0 ADCSCADQY. M1:REDQ. entro de Memória 1igital. )r$uivo Histórico Ultramarino0 Pro-eto "esgate. 1ispon;vel emhttp:CC888.cmd.unb.brCbiblioteca.htmlacesso em GYCACGAG0 s AY:GY.AE )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD7 "epresentaç#o dos o,iciais da !mara da 'ila de "ibeir#o do armo0 solicitandoa concess#o de terras $ue serviram as tropas de 1ragões0 para nelas edi,icarem0 visto a rua principal da 'ila estarsu-eita as inundações do rio. isboa0 ACRCADQG. M1: SSRY 7 entro de Memória 1igital. )r$uivo HistóricoUltramarino0 Pro-eto "esgate. 1ispon;vel em http:CC888.cmd.unb.brCbiblioteca.html  acesso em GYCACGAG0 sAY:GQ.AQ =) pr9tica dos a,oramentos era comum no reino desde o s%culo &(( e constitu;a na vinculaç#o de um bem a umconcession9rio mediante o pagamento periódico de um valor previsto em contrato. 4ais contratos tinham validade

perp%tua e muitas ve/es permitiam negociações de compra0 venda0 arrendamentos0 entre outros e ,icavam comoherança para as gerações ,uturas0 constituindo0 nas palavras de Paulo Merea0 em `propriedades imper,eitas>. (n:

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 1; 

dos 1ragões0 nos contra,ortes da (gre-a da onceiç#o0 ,utura atedral I% do bispado. Brguido na

d%cada de ADG0 os $uart%is encontravam7se inabitados e os pastos sem uso0 uma ve/ $ue a tropa

havia sido trans,erida para 'ila "ica0 sede da capitania. ) !mara de Mariana0 ent#o0 solicitava -unto ao rei o direito de ocupar os ditos pastos0

$ue haviam sido cedidos pela própria !mara para a utili/aç#o da tropa dos dragões. Bstas terras

se tornaram a ra/#o de etenso lit;gio $ue opJs a !mara de Mariana e a Provedoria da "eal

Fa/enda acerca da ocupaç#o e dos direitos sobre os a,oramentos. Na populaç#o respingava a

incerte/a sobre a $uem e $uanto pagar sobre os a,oramentos.

 A '&!0+$ !e%$ +e##$ '" 0$#+e% '" D#$.Je

 ) primeira solicitaç#o da !mara para ocupar as terras $ue antes abrigavam o $uartel

dos 1ragões e os pastos $ue seus cavalos utili/avam data do in;cio da d%cada de ADQ. Bm E de

 )bril de ADQG0 o rei 1. 2o#o ' solicitava ao ouvidor da omarca de 'ila "ica $ue enviasse

in,ormações mais precisas sobre o estado em $ue se encontrava a principal rua da 'ila do armo0

em decorr<ncia das inundações do "ibeir#o.

Na representaç#o0 1. 2o#o ' d9 a entender $ue -9 havia tomado conhecimento da

situaç#o em $ue se encontrava a povoaç#o do "ibeir#o do armo ,rente s inundações0 ou se-a0

os camaristas -9 haviam representado sobre o assunto ao rei. Bntretanto0 os pap%is e in,ormações

$ue os o,iciais da !mara de 'ila do armo haviam encaminhados nos anos anteriores n#o eram

esclarecedores o su,iciente ou n#o teriam sido devidamente encaminhadosA.

 4odavia0 com a urg<ncia da situaç#o $ue se apresentava0 o rei concedeu em EA de Maio

do mesmo ano as terras dos pastos para uso da !mara. Nessa concess#o0 ,ica evidente o

principal argumento usado pela !mara para solicitar a merc< -unto ao rei: ter cedido0 em outro

tempo0 as terras para o ,avorecimento da oroa portuguesa com a instalaç#o dos $uart%is na$uela

regi#o. O empenho e os gastos da !mara na$uela ocasi#o tamb%m eram de conhecimento do rei

e aparecem com consider9vel peso na determinaç#o real0 sobretudo com a trans,er<ncia das

tropas para 'ila "ica0 $uando as ditas terras ,icaram desocupadas.

Faço saber a vos o,iciais da !mara da 'ila do "ibeir#o do armo das Minas3erais0 $ue se viu a representaç#o $ue me ,i/estes de $ue se Tpara logar omelhor estabelecimento dessas Minas0 mandar levantar tropas de soldados dosdragões me Tservira este Ienado em To ano de ADGA0 T$uart%is nessa terra aos

M)()0 4halita. 4erras cariocas: a,oramentos do s%culo &'((( na historiogra,ia da cidade do "io de 2aneiro.  Anais do

 67V 8ncontro Re#ional AN'+*-Rio: História e patrimJnio. GA. p.E. A )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD.,.E. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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soldados0 e umas terras vi/inhas para o pasto dos cavalos0 tudo ,eito ecomprado pelas rendas do mesmo Ienado0 o $ue lhe T,ora servido Taceitarainda a $ue depois se mudaram os soldados para 'ila "ica0 sempre seconservaram as ditas terras para o dito e,eito0 e delas se serviram por largosanos at% $ue o tempo Tao redu/ira in,rut;,eras e sem capacidade para o ditoMinist%rio.AY 

Na mesma representaç#o0 o rei in,ormava tamb%m aos o,iciais da !mara $ue havia

tomado not;cia0 por meio de correiç#o enviada pelo ouvidor de 'ila "ica em ADQG0 =do pre-u;/o

$ue em o ano de ADEY eperimentaram os moradores da principal "ua dessa 'ila com a

inundaç#o do "io chamado "ibeir#o do armo>AD. (n,ormava conhecer tamb%m os gastos L AG

mil cru/ados L $ue a !mara havia despendido na ocasi#o da =ru;na de um cerco $ue a de,endia

das suas enchentes0T... ameaçando n#o somente a mesma ru;na com maior di,iculdade para se

poder evitar pois se achava o "io mais Televado do $ue a mesma 'ila>AS.

 ) partir da constataç#o de $ue se tornava muito di,;cil alguma obra $ue ,osse perdur9vel

em virtude do n;vel $ue -9 assumia o rio ,rente s construções da 'ila0 a soluç#o $ue se impunha

mais vi9vel era a trans,er<ncia dos moradores para uma paragem mais cJmoda0 ou se-a0 mais

a,astada dos perigos impostos pelas constantes cheias do "ibeir#o do armo. Iem $ue houvesse

outras terras mais cJmodas do $ue a$uelas $ue serviam de pastos para os cavalos do _uartel dos

1ragões0 o rei dava not;cia de $ue os o,iciais da !mara haviam solicitado ao ouvidor $ue 

representasse a urgente necessidade da concepç#o das mesmas terras para nelasse levantarem casas pagando a esse Ienado o costumado ,oro $ue pagam osmais $ue edi,icaram dentro da meia l%gua de sesmaria $ue Ta vos concedera0 e vistas as vossas ra/ões e in,ormaç#o $ue sobre ela mandei tomar0 em $ue ,oiouvido o procurador de minha ,a/enda Tse viu servido por resoluç#o de GD dopresente m<s e ano *maio de ADQG+ em consulta do meu onselho Ultramarino0conceder vos as ditas terras $ue serviram de pastos para nelas se edi,icaremcasas e pagarem a este Ienado o costumado ,oro $ue pagam os mais $ueedi,icaram dentro da meia l%gua da sesmaria $ue vos concedi.AR 

No mesmo de ano de ADQG0 em AX de setembro0 os o,iciais da !mara representam ao

rei para novamente solicitar as terras dos pastos dos cavalos0 $ue por despacho do onselhoUltramarino -9 lhes havia sido cedida0 mas possivelmente esta in,ormaç#o ainda n#o havia

chegado s Minas. Nessa representaç#o da !mara0 pode7se notar novamente o uso do -9 citado

argumento de $ue a !mara havia cedido ao rei as terras dos pastos outrora e agora0 com a

AY )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD.,. 7v.AD )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD.,.v. AS )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD.,.v. AR )HU ?rasilCM3. :QG 1oc:SD.,.Y. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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recuperaç#o dos direitos de posse sobre as terras0 buscava solucionar os problemas en,rentados

pela populaç#o com a enchente na rua principal da povoaç#o.

"epresentando a 'ossa Ma-estade este Ienado a urg<ncia $ue havia de paragemdonde os moradores da "ua principal desta 'illa houvessem de ,a/er novascasas para a sua habitaç#o0 em ra/#o de estar a dita "ua su-eita as inundações do"io0 $ue se apelida "ibeir#o do armo e $ue para a dita ,undaç#o era o lugar omais cJmodo o campo0 ou terras contiguas a mesma 'ila $ue se em outrotempo serviram de pastos aos cavalos das tropas de Ioldados 1ragões0 $ue 'ossa Ma-estade ,oi servido mandar levantar0 agora se acham estes assistindoem 'ila "ica em novos $uart%is $ue para a sua Tubicaç#o ,oram ,abricados0 ea$uelas totalmente inaptas e in,rut;,eras0 as $uais havia o,erecido este Ienadopara a$uele es,orço assim como tamb%m $uart%is0 em $ue os ditos soldadosresidissem0 tudo comprado e ,eito pelas rendas do mesmo Ienado.G 

 ) !mara0 contudo0 n#o pretendia apenas repetir os argumentos $ue -9 eram deconhecimento do rei. on,irmada a merc< sobre as terras0 os o,iciais da !mara solicitavam

tamb%m poder tomar posse das ru;nas do $uartel $ue se encontrava ent#o inabitado0

acrescentando tal construç#o0 ainda $ue em ru;nas0 ao patrimJnio e aos bens da !mara de 'ila

do armo.

B por$ue os ditos $uart%is se acham inabitados0 por ocasi#o da$uela mudança$ue para 'ila "ica ,i/eram os soldados e por isso eperimentando umacontinuada ru;na em ,orma0 $ue sem dvida padeceram brevemente abatimentoe decad<ncia total0 esta causa por$ue recorre este Ienado a 'ossa Ma-estadepara $ue se digne conceder lhe os ditos $uart%is e um alpendre a eles -untos0para $ue acrescendo ao onselho estes bens0 possa melhor acudir aos reparosprecisos e operações necess9rias tendentes ao bem pblico.GA 

on$uanto0 a $uest#o sobre a ocupaç#o e uso das ru;nas do $uartel n#o iria ser o

principal empecilho para os usos da terra $ue os camaristas haviam solicitado ao rei. omo se

relatou0 as cheias do "ibeir#o do armo -9 assolavam a populaç#o da 'ila do armo desde

meados da d%cada de ADE L a primeira re,er<ncia ,eita acima0 ainda $ue indireta0 remete ao ano

de ADED. Nesse ;nterim0 muitos moradores solicitaram a "eal Fa/enda0 respons9vel pela

administraç#o das terras após a mudança do $uartel para 'ila "ica0 a concess#o de parcelas deterras por a,oramento0 de modo $ue os ,oros recolhidos ,icavam0 ent#o0 para a "eal Fa/enda.

om a concess#o das terras dos pastos a !mara em Maio de ADQG0 abriu7se espaço para

uma disputa sobre a administraç#o das terras0 e0 conse$uentemente0 das receitas provenientes dos

a,oramentos $ue -9 estavam ,eitos e a$ueles $ue ainda viriam a ser ,eitos0 entre a !mara da 'ila

do armo e "eal Fa/enda.

G )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.G. GA )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.G 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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Para se ter uma ideia sobre a ocupaç#o das terras na regi#o dos pastos0 em lista ,eita

pelos o,iciais da "eal Fa/enda no ano de ADQ0 encontram7se G a,oramentos ,eitos entre os anos

de ADEA e ADQQ0 per,a/endo um total de A braças a,oradas. O valor do ,oro era calculado pelara/#o de meia oitava de ouro por cada braça pela Fa/enda "eal. )s parcelas a,oradas pela

Fa/enda "eal at% o m<s de Maio de ADQG0 $uando o rei autori/ou os camaristas a ocuparem e

a,orarem aos moradores a regi#o supracitada0 totali/avam AR braças cedidas para AG moradores.

Posterior a concess#o de Maio de ADQG0 s#o a,oradas S parcelas0 com QA braças no totalGG.

(nteressante notar $ue0 ainda $ue antes ou depois da concess#o0 % o ano de ADQG o $ue o

tem maior nmero de terras a,oradas: AQ das G parcelas0 ou AE no total das A braças

anotadas. Ou se-a0 pode7se apontar desde o começo da d%cada de ADE0 alguns moradores0 ainda$ue na incerte/a sobre os direitos de posse0 procuraram ,ormas de a,orar as parcelas de terra na

regi#o dos pastos. omo os perigos das enchentes se agravaram no limiar das d%cadas de ADE e

ADQ e com a not;cia de $ue a !mara se empenhara para solicitar ao rei a merc< sobre as

re$uisitadas terras0 a populaç#o procurou ainda mais o a,oramento dessas parcelas0 tanto % $ue

das AQ parcelas a,oradas no ano de ADQG0 S ,oram ,eitas entre -aneiro e março e outras Y em -ulho

do mesmo ano0 posterior0 ent#o0 a dita concess#o real de Maio de ADQGGE.

om a maior procura dos moradores pelos a,oramentos0 cresceria tamb%m o montante$ue dali seria arrecadado com os ,oros0 o $ue pode nos dar uma dimens#o L ao menos

econJmica L da disputa $ue opJs a !mara da 'ila do armo e a "eal Fa/enda. Bm uma conta

r9pida: a partir da citada ra/#o de meia oitava de ouro por braça a,orada cobrada pela "eal

Fa/enda0 computando apenas a$ueles a,oramentos $ue eram v9lidos em ADQ0 ou se-a0 AG

braças0 tem7se o total de Y oitavas de ouro a cada ano. onsider9vel soma $ue como h9 de se

mostrar os provedores da Fa/enda "eal ,i/eram de tudo para n#o abandonar e os camaristas da

 'ila do armo tentaram tomar para as rendas do seu senado.

 ) disputa entre !mara e "eal Fa/enda tem seu primeiro registro em um termo da

provedoria da Fa/enda "eal de A de )bril de ADQE. 1e acordo com o termo0 os o,iciais da

!mara se obrigavam

pelos bens do mesmo Ienado a satis,a/er a "eal Fa/enda por esta Provedoriatodos os ,oros $ue se acham impostos nos pastos da 'ila do armopertencentes mesma "eal Fa/enda at% o dia da concepç#o $ue Iua Ma-estade,e/ dos ditos pastos ao mesmo Ienado *...+0 merc< de Iua Ma-estade a $uem

GG )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,. Q7Qv. GE )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,. Q7Qv. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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recorrem0 em Tcomo h9 por bem dele ,a/er merc< dos ditos ,oros0 com as maisclausulas e condições $ue se acham epressadas na dita procuraç#o.GQ 

 ) resposta da !mara ,oi r9pida. Na representaç#o ,eita pelos o,iciais da !mara0 datada

de GD de )gosto de ADQE0 o re,erido argumento usado pelos vereadores para solicitar as terras $ue

pretendiam em merc< -unto ao rei est9 claramente articulado. Bm sua ,ala0 os o,iciais relatavam o

estado de ru;na e o eminente perigo $ue se abatia sobre os moradores. "ecuperavam0 tamb%m0 a

not9vel doaç#o $ue ,ora ,eita pela !mara para o estabelecimento do $uartel dos 1ragões e o

,ato de0 ultimamente0 estarem desocupadas em virtude da trans,er<ncia das tropas para 'ila "ica.

 )l%m disso0 essas terras tamb%m se situavam dentro da demarcaç#o da l%gua em $uadra0 $ue ,ora

cedida para a !mara no momento da ,undaç#o da 'ila do armo.

om os pre-u;/os causados pelas cheias do "ibeir#o0 $ue assolavam a povoaç#o desde

os ,inais da d%cada de ADE0 a !mara

em o primeiro de outubro de ADQ representou a 'ossa Ma-estade este Ienado0o evidente perigo em $ue se acha su-eita a principal "ua desta 'illa pelasinundações do "io chamado "ibeir#o0 a $ue -9 sen#o podia acudir0 com reparos$ue as evitasse0 por estar o cerco $ue nele se ,e/ e em $ue se gastou do/e milcru/ados muito mais alto $ue a mesma "ua0 $ue -9 tinha sido alagada0 compre-u;/o grande dos seus moradores no ano de ADED e $ue por isso e por haveretrema necessidade de paragem para donde se mudassem as casas $ue ali est#oem notória deploraç#o era o melhor s;tio para se re,ormar a 'ila e edi,icarem

casas em $ue vivam os ditos seus moradores as terras do pasto0 Tmistiço amesma 'illa $ue em algum Ttempo ,oram deste Ienado0 e ele as o,ereceu a 'ossa Ma-estade para pasto dos cavalos das tropas $ue mandou 'ossaMa-estade levantar nestas Minas0 assim por$ue as ditas tropas -9 residiam em 'ila "ica0 desde o tempo do estabelecimento das casas de capitaç#o e estavama$uelas terras in,rut;,eras0 por se compreenderem na meia l%gua da Iesmaria0$ue ,oi 'ossa Ma-estade servido conceder ao mesmo Ienado para seusa,oramentos.G 

ontudo0 a,irmavam os o,icias $ue devido demora da resoluç#o de Iua Ma-estade e o

aumento da necessidade dos povos0 em virtude das 9guas $ue estavam por vim na$uele ano0

algumas pessoas recorreram "eal Fa/enda para a,orarem terras. 1e acordo com o relato dos vereadores0 algumas parcelas teriam sido a,oradas entre ,evereiro de ADED e -ulho de ADQG0

surgindo da; o empecilho colocado pelos provedores da "eal Fa/enda para o completo uso da

merc< $ue ,ora concedida !mara em maio de ADQG.

 ) dvida $ue acometia o debate entre os provedores da "eal Fa/enda e os o,iciais da

!mara da 'ila do armo era se a merc< recebida pelos camaristas di/ia respeito a toda etens#o

GQ )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.AYv7AD. G )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.E. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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dos pastos L opini#o partilhada pelos vereadores L ou se somente correspondia as terras ditas

devolutas0 ou se-a0 n#o incluindo0 ent#o0 os a,oramentos ,eitos pela "eal Fa/enda L ponto de vista

$ue tentavam de,ender os provedores da "eal Fa/enda. 1e acordo com os vereadores de 'ila doarmo0 muitos dos a,oramentos ,eitos "eal Fa/enda datavam de momento posterior concess#o

de maio de ADQG0 o $ue n#o seria permitido0 pois as terras -9 se encontravam em propriedade do

senado da 'ila do armo.

 )demais0 os empecilhos e dvidas colocados pelos provedores da "eal Fa/enda

re,letiam diretamente sobre o bem pblico e a boa ordem da povoaç#o0 impedindo $ue a !mara

pudesse reali/ar as devidas obrigações0 como os arruamentos necess9rios e demarcaç#o dos

espaços para a nova praça e a asa de !mara e adeia. Os vereadores a,irmavam $ue pelasdvidas impostas pela "eal Fa/enda n#o era poss;vel atender a boa ordem dese-ada0 por isso0 =só

se espera por resoluç#o de 'ossa Ma-estade para se ,a/erem0 vindo assim Ta servir em maior

Tcondiç#o para a utilidade deste Ienado e seus povos>GY.

Por ,im0 a !mara sinali/ava na possibilidade de um acordo com a "eal Fa/enda0 se

comprometendo a satis,a/er os ,oros at% a data da concess#o0 maio de ADQG0

a ,im de $ue lhe ,icassem livres para por ele se a,orarem com arruamentosconvenientes e se determinar lugar para praça0 asa de !mara e adeia com aobrigaç#o de Tassentar dentro de dois anos resoluç#o de 'ossa Ma-estade0 e,icar o Ienado livre da contribuiç#o dos ,oros da "eal Fa/enda e as terras dopasto por ela a,oradas0 assim como as devolutas pertencendo ao mesmoIenado.GD 

 ) !mara se comprometia ent#o a respeitar a$ueles a,oramentos ,eitos anteriormente

pela "eal Fa/enda0 entretanto0 somente at% a data da concess#o do rei0 ou se-a0 maio de ADQG. )t%

essa data0 a "eal Fa/enda poderia recolher os ,oros $ue lhes eram devidos. 1epois disso0 as terras

passariam administraç#o da !mara0 a $uem caberia todos os ,oros da regi#o0 tanto das terras -9

a,oradas como da$uelas $ue ainda haviam de se a,orar. 

Pelo lado dos provedores da "eal Fa/enda0 a in,ormaç#o passada em AD de )gosto de

ADQQ tra/ argumentos e articulações distintas. Bstes a,irmam $ue o interesse da !mara sobre as

terras era somente sobre o montante arrecado nos ,oros0 tirando esses da "eal Fa/enda com o

,im de avultar as rendas do Ienado. Para os provedores0 os camaristas teriam se mobili/ado na

re$uisiç#o da merc< das terras apenas depois $ue a "eal Fa/enda tinha passado a a,or97las aos

moradores.

GY )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.E. GD )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.E. 

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8/13/2019 DO ARRAIAL À CIDADE:OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA NA (RE)CONSTRUÇÃO DE MARIANA, MINAS GERAIS (1742-1747) -Tércio Veloso

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 1? 

Na esteira de seu argumento0 os ,uncion9rios da "eal Fa/enda procuravam epor a

pouca necessidade $ue tinha a !mara da 'ila do armo das terras e das rendas dos ,oros dali

provenientes. Para eles0 erasó o interesse dos ,oros $ue pretendem0 por$ue ,a/endo Tdeiaram delas a dita!mara a Iua Ma-estade para pasto dos cavalos das tropas $ue nestas Minas selevantaram T em tais terras ,alaram sen#o depois $ue por esta Provedoriacomeçaram a,orar0 nem o preteto da necessidade de se ,a/er nelas 'ila por seachar detriorada *sic+ pelas inundações do "io % causa primeira do seure$uerimento.GS 

not9vel $ue0 em sua tentativa de convencer o rei de sua pre,er<ncia na administraç#o

das terras0 os o,iciais da "eal Fa/enda buscaram inverter o argumento usado pelos camaristas.

Para ,ortalecer a sua vis#o sobre o dito argumento e resguardar7se na administraç#o das terras0esses o,iciais citavam $ue0 inclusive0 -9 havia sido ,eita anteriormente uma tentativa de ocupar as

terras dos pastos sobre a sua responsabilidade.

 'endo o 3overnador $ue ,oi destas Minas Martinho de Mendonça o perigo em$ue a dita 'ila estava por causa das re,eridas inundações ,oi o primeiro $uedeterminou $ue lhas ditas terras se T,i/esse 'ila por ser a melhor paragem $uehavia para isso0 e para $ue assim se e,etivasse ele mesmo ,oi a dita 'ila e na suapresença se mediram e repartiram as ruas Tdela em tudo ,orma como se deviaestabelecer0 e por sua ordem se começaram a,orar as ditas terras por estaProvedoria a $uem nelas $uis ,a/er casas a ra/#o de meia oitava de ouro por

cada braça.GR Nessa eposiç#o0 a estrat%gia dos o,iciais da "eal Fa/enda era se colocar como

administradora dessas mesmas terras.)o mesmo tempo0 procuravam des$uali,icar o interesse da

!mara sobre os pastos0 argumentando sobre a pouca necessidade $ue tinham e sobre os -9

avultados rendimentos da$uele senado. )ssim0 esses o,iciais tentavam mostrar ao rei $ue o

interesse da !mara se restringia somente s rendas $ue proveriam dos a,oramentos0 o $ue0 no

,im das contas0 poderia se tornar um problema0 uma ve/ $ue

cessando a necessidade $ue a dita !mara tem ho-e dos ditos ,oros por ser dasmais ricas destas Minas0 se n#o ,e/ cr;vel $ue Iua Ma-estade a $ueria ,a/er maisopulenta com o pre-u;/o da Iua Fa/enda0 n#o sendo outro o ,im e Tmente dodito Ienhor do $ue atender a sua conservaç#o $ue cessando por ter rendasabundantes0 parece cessa tamb%m a disposiç#o por$ue lhe ,e/ merc<0especialmente dos ,oros $ue por esta Provedoria se tem concedido antes da"eal ordem em tempo h9bil e com direito ad$uirido para assim se ,a/er.E 

GS )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.GG. GR )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.GAv. E )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GG. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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Por essas ra/ões0 =se n#o devia dar por inibida esta Provedoria de continuar nos

a,oramentos de $ue estava de posse>EA. Bm suma0 para a "eal Fa/enda0 o interesse da !mara

sobre as terras dos pastos0 ancorado na necessidade e urg<ncia $ue tinham os moradores deserem socorridos das inundações do rio0 n#o passava de um mero preteto para aumentar ainda

mais as rendas do -9 rico senado da 'ila do armo. Por isso0 seria mais acertado manter a posse0

pelo menos0 da$ueles a,oramentos $ue -9 haviam sido concedidos.

Pelo lado dos camaristas da 'ila do armo0 noutros documentos0 pode7se perceber $ue

os argumentos se mant<m ,irmes em mostrar o estado de penria da 'ila e a eminente

necessidade da populaç#o de terras mais acomodadas0 ou se-a0 a,astadas dos ecessos do rio. Na

representaç#o $ue ,i/eram ao "ei 1. 2o#o '0 de AD de Outubro de ADQQ0 os o,iciais da !mara de 'ila do armo procuraram epor os inconvenientes decorridos dos embargos colocados pelos

provedores da "eal Fa/enda para a posse e uso da merc< $ue ,ora concedida pelo "ei e0 logo0

para os moradores $ue necessitavam de paragens mais acomodadas para reconstruir suas

moradas. Bm princ;pio0 os vereadores ,ornecem um resumo da contenda:

Foi 'ossa Ma-estade servido por resoluç#o de E de Maio de ADQG epedidapelo seu onselho Ultramarino determinar $ue vista a necessidade $ue havia deparagem para edi,icar7se a nova 'ila visto a ru;na $ue se esperava na $ue eistiacom a viol<ncia do "io chamado "ibeir#o do armo0 e ser a mais apta a do

pasto $ue o Ienado em outro tempo tinha o,erecido a 'ossa Ma-estade paraacomodaç#o das novas tropas 1ragonesas $ue de novo se criaram nestas Minas$ue concedia o dito pasto para a reedi,icaç#o da nova 'ila e entrando o Ienadoa $uerer a,orar aos moradores se opuseram os o,iciais da "eal Fa/enda de 'ossa Ma-estade com o ,undamento de $ue -9 tinham anteriormente a,orado a v9rias pessoas e $ue estas haviam de ,icar pagando a mesma Provedoria o $ueparece n#o deve ter lugar por ser a merc< ,eita em tempo $ue ainda n#o haviaa,oramento algum.EG 

 )s enchentes do "ibeir#o do armo0 a eminente necessidade de se ocupar terras mais

a,astadas para a segurança da 'ila0 a doaç#o ,eita pela !mara ao "ei das terras dos pastos $ue a

mesma visava retomar da administraç#o real0 uma ve/ $ue os pastos n#o estavam sendo utili/adospelo _uartel dos 1ragões0 $ue ,ora trans,erido para 'ila "ica e0 por ,im0 os inconvenientes $ue

proviam dos embargos impostos pelos o,iciais da "eal Fa/enda: todo o argumento utili/ado pela

!mara est9 resumido no trecho supracitado.

Muito embora os vereadores n#o estivessem eatamente corretos sobre o ,ato de n#o

haver a,oramentos anteriores a merc< de Maio de ADQG0 ,ica evidente a postura $ue seria mantida

EA )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GG. EG )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.G. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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pela !mara na contenda0 procurando sempre mostrar as necessidades dos moradores e o estado

de ru;na $ue ameaçava a povoaç#o0 e de $ue ,orma os embargos da "eal Fa/enda n#o

contribu;am em nada com o bem pblico. nessa esteira $ue os o,icias da !mara narram na representaç#o alguns recentes

acontecimentos0 alegando $ue0 se anteriormente havia tempo para pensar e debater sobre a

trans,er<ncia da 'ila para as terras dos pastos e os melhores meios de combater as enchentes0 era0

agora0 urgente eecutar tal mudança visto os pre-u;/os $ue vinham tendo os moradores. Iegundo

os o,icias da !mara0 =em AE de 1e/embro *de ADQE+0 pois com a continuaç#o da cheia do

chamado "ibeir#o arruinou a "ua *1ireita+ e est9 em perigo o mais resto da 'ila no $ue houve e

haver9 dano consider9vel destes povos e de 'ossa Ma-estade>EE

.O empecilho imposto pela "eal Fa/enda se mani,estava0 ainda0 no valor praticado dos

,oros aos moradores. 1e acordo com os dados ,ornecidos pelos camaristas0 en$uanto na "eal

Fa/enda os a,oramentos eram ,eitos a setecentos e cin$^enta r%is0 a !mara tinha o costume de

cobrar a metade0 tre/entos e setenta e cinco r%is0 a "eal Fa/enda praticava meia oitava0 en$uanto

a !mara praticava a ra/#o de meia pataca0 algo próimo a um $uarto de ouro. ) di,erença no

 valor cobrado sobre cada braça a,orada era consider9vel e0 na opini#o dos camaristas0 isso

a,astava os moradores0 deiando7os receosos0 pois se esses podiam a,orar os terrenos por um valor mais baio0 observando o $ue -9 era pr9tica e costume da !mara0 n#o iriam se epor a

pagar o ,oro mais caro praticado pela "eal Fa/enda.EQ 

Os vereadores encerram a representaç#o tra/endo tona os conhecidos temas do bem

pblico0 ressaltando a eminente necessidade em $ue se encontrava a povoaç#o. 1essa ,orma0 os

embargos da "eal Fa/enda ao uso da merc< concedida pelo rei acabavam tendo re,leos diretos

sobre os moradores. Os vereadores solicitavam0 ent#o0 $ue se resolvessem0 a bem desses

moradores0 tal contenda para $ue a !mara pudesse levar a cabo as obras necess9rias para aocupaç#o da regi#o.

B demais como n#o se pode usar da merc< de 'ossa Ma-estade % impratic9vel opoder haver servid#o para o bem pblico0 por ser necess9rio abrir7se uma "uapor Tbeco dos $uart%is $ue o mesmo Ienado o,ereceu a 'ossa Ma-estade e seacha em a terra da contenda. "ogamos a 'ossa Ma-estade humildemente sedigne mandar $ue ,i$ue a merc< e graça ,eita a este Ienado do dito pasto para

EE )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.G7Gv. EQ  =T... os embargos alegados d#o causa a $ue n#o $ueriam os moradores edi,icar antes da decis#o por n#o se

eporem a pagar a "eal Fa/enda por ,oro setecentos e cin$^enta r%is podendo ,a/er com tre/entos e setenta e cinco0pelo $ue costuma este Ienado a,orar.> )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.Gv. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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$ue como seu possa usar sem a menor dvida. Iempre por%m ,aremos o $ue 'ossa Ma-estade nos ,or mandado.E 

 ) contenda recebe uma resposta de 1. 2o#o ' em AR de Março de ADQ0 em ,avor da

!mara de 'ila do armo0 cedendo inteiramente as terras dos pastos para a administraç#o local

da 'ila do armo0 sem restriç#o da$ueles a,oramentos $ue -9 tinham sido ,eitos pela "eal

Fa/enda. 4odavia0 o rei n#o se rogava em apenas ceder as terras !mara da 'ila do armo0 e

tendo em vista a eminente necessidade de colocar a povoaç#o sobre boa ordem0 ,oi bastante

en,9tico ao determinar os usos $ue a !mara deveria dar s terras concedidas.

"esponda se aos o,iciais da !mara $ue a merc< $ue Iua Ma-estade lhe ,e/ delhe tornar alargar as terras $ue seus antecessores tinham o,erecido para pastosdos cavalos das tropas ,oi completa0 sem Tlimitar as $ue estivessem a,oradas0 e

assim competem a !mara na mesma $ue as tinha antes de as o,erecer0 mas,i$ue entendendo $ue neste s;tio se devem edi,icar as casas $ue de novo se,i/erem e para esse e,eito se lhe ordena $ue ,aço logo planta da nova povoaç#o0elegendo s;tio para praça espaçosa e demarcando as ruas0 $ue ,i$uem direitas ecom bastante largura0 sem atenç#o a conveni<ncias particulares0 ou edi,;cios $uecontra esta ordem se achem ,eitos no re,erido s;tio dos pastos.EY 

Os o,iciais da !mara deveriam0 ent#o0 em primeiro lugar providenciar a ,atura e

demarcaç#o dos arruamentos $ue se abririam nos pastos0 separando espaço para uma praça

espaçosa. ) retid#o das ruas deveria ter pre,er<ncia sobre as conveni<ncias particulares0 =por$ue

se deve antepor a ,ormosura das ruas>

ED

. Bssa preocupaç#o pode ser um ind;cio de $ue o rei -9tinha em mente a escolha da 'ila do armo para delegar o status de cidade e receber a sede do

bispado $ue se instalaria nas Minas. B as recomendações n#o pararam por a;: depois de

demarcadas as ruas0 =cordeadas estas0 se demar$uem s;tios em $ue se edi,i$uem os edi,;cios

pblicos>ES0 para somente depois passar a,orar as terras para os moradores0 dando pre,er<ncia

para a$ueles $ue -9 haviam ,eito a,oramentos -unto a "eal Fa/enda0 de modo a regulari/ar a

situaç#o desses.

No caso de ser necess9rio ,a/er alguma demoliç#o0 a !mara deveria se responsabili/arpelos custos0 sempre em observ!ncia da boa ordem da povoaç#o. O rei determinava tamb%m as

,ormas das construções $ue ali se deveriam erguer0 sendo =todos os edi,;cios se h#o de ,a/er a

,ace da ruas cordeadas as paredes em linha reta0 e havendo comodidade para $uintais das casas0

E M1: SSRY. )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.Gv. EY )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GA. ED )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD.,.GA. ES )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GA. 

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NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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devem estes ,icar pela parte de tr9s delas e n#o para a parte das ruas em $ue as casas tiverem suas

entradas>ER.

O rei tamb%m incumbia ao 3overnador 3omes Freire de )ndrada de acompanhar oandamento das ações dos camaristas0 =para com a sua atenç#o praticar o re,erido ,icando

entendendo eles o,iciais da !mara e seus sucessores $ue em nenhum tempo poder#o dar licença

para se tomar parte da praça ou das ruas demarcadas>Q. O rei via0 ent#o0 na presença da

autoridade do governador uma garantia de $ue os o,iciais0 e tamb%m os moradores0 obedeceriam

s determinações do rei para garantir a boa ordem da povoaç#o e os espaços reservados para a

praça e os pr%dios pblicos de $ue a vila carecia.

Bsse ,ato % interessante para a história da cidade de Mariana0 pois0 ainda $ue o risco e aconstruç#o do histórico pr%dio da !mara Municipal se-am do ltimo $uartel do s%culo &'(((0

 vemos a$ui -9 um ind;cio do local $ue seria reservado para a construç#o0 local este $ue

provavelmente abrigou tamb%m o -9 re,erido $uartel dos 1ragões. tamb%m not9vel a

preocupaç#o com a devida alocaç#o dos pr%dios pblicos0 sobretudo se levar em consideraç#o o

eminente perigo tra/ido pelas cheias do "ibeir#o do armo. ) ideia era a,astar a asa da !mara

e adeia dos ecessos do "ibeir#o0 e o local escolhido ,oi o acomodado s;tio dos pastos.

Por ,im0 o rei esclarece sobre as ,ormas dos a,oramentos a serem concedidos na regi#o0e $ue os o,iciais da !mara n#o deviam alterar a$ueles a,oramentos ,eitos na "eal Fa/enda0 ainda

$ue esses se passassem para a administraç#o. =B os ,oros ,eitos na Provedoria da "eal Fa/enda

$ue ,icam pertencendo a !mara depois de merc< de Iua Ma-estade n#o se devem alterar0 porem

os $ue a !mara ,i/er h#o de ser na ,orma da ei do "eino e n#o como eles di/em nesta sua

representaç#o.>QA 

1esse modo0 o "ei 1. 2o#o ' epressava sua pre,er<ncia pela !mara de 'ila do armo

,rente "eal Fa/enda para a administraç#o das terras dos pastos. Bmbora n#o apareça epressaem momento algum0 pode7se supor tamb%m $ue essa pre,er<ncia dada pelo rei !mara -9 tra/ia

impl;cita a de,iniç#o de elevar a 'ila do armo condiç#o de cidade para receber o bispado0 $ue

seria concreti/ada nos meses seguintes de ADQ.

 )$ui reside a base da decis#o tomada pelo monarca 1. 2o#o ' como -usti,icativa para a

criaç#o da cidade de Mariana: somada ao status de mais antiga povoaç#o das Minas0 o novo

ER )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GAv. Q )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GAv.QA )HU ?rasilCM3. :QG 1oc: SD. ,.GAv. 

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assentamento $ue tomava ,orma seria ideal para a sede do prelado. ) antiguidade da povoaç#o e

a comodidade do s;tio dos $uart%is ,oram decisivas para tal $uest#o. Na Ordem "%gia de criaç#o

da cidade de Mariana enviada a 3omes Freire de )ndrade0 em ADQ0 apesar de breve0 o rei n#odeiava de elencar os motivos de sua escolha da 'ila do armo como sede do bispado: =a mais

antiga das Minas 3erais0 e $ue ,ica em s;tio muito cJmodo para a ereç#o de uma das duas

catedrais>QG.

Os argumentos utili/ados pelos camaristas0 sobretudo o estado de ru;na em $ue se

encontrava a povoaç#o em decorr<ncia das cheias do "ibeir#o do armo0 parecem ter sido

bastante relevantes para a an9lise e de,er<ncia do rei e de seu onselho Ultramarino. ) escalada

na hierar$uia dos lugares na )m%rica lusitana -usti,icaria a pre,er<ncia do rei dada a a$uela 'ila$ue se tornaria idade0 com a intenç#o de avultar os rendimentos da !mara talve/ -9 consciente

de outras despesas $ue a mesma teria para ade$uar decorosamente o seu espaço urbana a sua

nova condiç#o hier9r$uica.

1e acordo com 1. 4edeschi0 a intenç#o dos camaristas de Mariana em ocupar o s;tio

dos pastos0 ,ugindo das 9guas e abrindo um novo eio da povoaç#o0 teria in,luenciado

diretamente o rei para a escolha da 'ila do armo para sede do bispado e a conse$^ente elevaç#o

categoria de cidade

QE

. O =s;tio mais cJmodo> ,re$uentemente citado na documentaç#opes$uisada revela $ue o monarca tinha conhecimento das intenções dos moradores em ocupar os

ditos pastos dos $uart%is0 no intuito de garantir maior comodidade e segurança ,rente aos

problemas causados pelas cheias do "ibeir#o do armo.

Mesmo as ressalvas ,eitas pelo governador 3omes Freire sobre o estado em $ue se

encontrava a ent#o cidade de Mariana n#o persuadiram o rei0 $ue se manteve ,irme na sua

proposta de instalar o prelado na vila do armo. 1epois de tiradas =as plantas> a mando do

monarca0 o governador a,irma $ue =o rio tem levado a cidade0 'illa0 arraial0 pelo pouco $ue ho-e%0 só o parece.> )inda in,orma0

% necess9rio saber $ue a Matri/ como dir9 o ?ispo ameaça ru;na: como estoupersuadido0 a mente de Iua Ma-estade % escolher o lugar mais próprio para a

QG )PM I SY0 ,.EE. apud! ?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente! o decoro na implantaç#o de novas povoaçõesem Minas 3erais na primeira metade do s%culo &'(((. 1issertaç#o *Mestrado em )r$uitetura e Urbanismo+Faculdade de )r$uitetura0 Universidade Federal de Minas 3erais0 ?elo Hori/onte0 GE.0 p.AGR. on,orme o dito

autor aponta0 a outra catedral0 e bispado0 a $ue se re,ere % o de I#o Paulo0 institu;do em ADQ. QE ,. 4B1BIH(0 1. )#uas ur"anas . p.QY7QD. 

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nova ,undaç#o0 só se ,i/er tamb%m uma nova cidade0 ,ora do rio0 poder9 sertudo capa/ T....QQ 

 )ssim0 tanto para o rei0 para o governador e tamb%m para os vereadores de Mariana0 a

soluç#o seria construir uma nova povoaç#o0 ,ora dos ecessos do ribeir#o para garantir a

segurança da sede do prelado. )pós tomarem conhecimento da decis#o do rei em ,a/er de 'ila

do armo a idade de Mariana0 os camaristas enviaram um etenso documento sobre a situaç#o

em $ue se encontrava a cidade:

 )s inundações do "io chamado "ibeir#o do armo tem alagado a maior parteda melhor "ua desta idade com grande pre-u;/o de seus habitadores0 e sen#ose atalhar a corrente do mesmo "io o $ual agora corre por grande parte da dita"ua ,a/endo7se lhe algum desvio0 cerco ou outra obra0 $ue parecer conveniente

nas 9guas $ue proimamente se esperam0 ir9 prosseguindo o dano0 $ue ,a/ aosedi,;cios0 e nestes n#o se restaurar9 a nova perda iminente com oitenta0 ou cemmil cru/ados.Q 

 ) tare,a0 $ue antes parecia demais onerosa0 com o alvoroço causado pela not;cia da

escolha para recepç#o do bispo0 colocava !nimo nos povos =onde se descobriram alguns meios

para atalhar o dano do dito "io0 seguros e de menos custo do $ue parecia pedir semelhante

obra>QY. )ssim0 os vereadores in,ormavam a pretens#o de reedi,icar a "ua 1ireita =com mais

,ermosura *sic+> e colocarem tamb%m a (gre-a Matri/ em terras a,astadas do rio.

Na espera de uma resposta de,initiva do rei0 os vereadores in,ormavam no documento$ue seguiam trabalhando0 com despesa do Ienado0 para conter os ecessos do ribeir#o0 o $ue n#o

seria su,iciente mediante os insucessos nas obras0 demandando gastos0 sem a soluç#o esperada.

1essa ,orma0

n#o ser9 -usto0 n#o só pelo detrimento dos particulares mas dos edi,;ciospblicos0 e principalmente por $ue n#o deve submergir7se uma povoaç#o $uedeve a 'ossa Ma-estade a honra de a ealtar a idade e como da ra/#o de bons vassalos % aumentar0 e n#o destruir as povoações0 $ue os Ieus soberanoscriam.QD 

1essa ,orma0 a,irmavam $ue as despesas e o empenho empregado os colocavam como bons

 vassalos0 trabalhando para o aumento da povoaç#o $ue o monarca digni,icava chamar de

QQ Iegundo as re,er<ncias0 esse documento ,oi citado pela primeira ve/ com o t;tulo de %arta de . 9oão V a omesFreire de Andrade de :; de A"ril de <=>?  por ')IONBOI0 1iogo. História do ?ispado de Mariana. Nas leituras,eitas0 % citado por FONIB)0 . $ariana, p.SE7SQ ?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente 0 p.AEE.Q "epresentaç#o da !mara de Mariana )HU ?rasilCM3 :QD0 doc. EG0 p.AA7AG. Mariana0 GCRCADQ. apud!?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente 0 p.AEG.QY "epresentaç#o da !mara de Mariana )HU ?rasilCM3 :QD0 doc. EG0 p.AA7AG. Mariana0 GCRCADQ. apud!?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente 0 p.AEG. QD "epresentaç#o da !mara de Mariana )HU ?rasilCM3 :QD0 doc. EG0 p.AA7AG. Mariana0 GCRCADQ. apud!?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente 0 p.AEG. 

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 1?< 

=cidade>. B prosseguiam0 deiando claro o ob-etivo de ,a/er obra perdur9vel em ra/#o do bem

pblico.

*....+ Pedimos humildemente a '. Ma-estade se digne mandar ao ouvidor destaomarca leve em conta a despesa0 $ue para remediar o dano do rio0interinamente ,i/er0 visto $ue a ela só nos move a ra/#o do bem pblico eoutrossim $ue 'ossa Ma-estade tamb%m se sirva determinar a obra perdur9vel0$ue se deve ,a/er para reparo do dito rio0 sem o $ual n#o pode subsistir estapovoaç#o: B esperamos da )ugusta lem<ncia de 'ossa Ma-estade $ue o ha-aassim por bem tanto em resolver o meio perdur9vel0 como em aprovar orem%dio Tpresentaneo0 $ue ,icamos dando ao dito rio0 e o disp<ndio $ue nele,i/er o mesmo Ienado. 1eus nos guarde e onserve a "eal Pessoa de 'ossaMa-estade para aumento desta terra.QS 

Por mais $ue a re,er<ncia dos vereadores de Mariana n#o se-a clara na carta acima0 pode7

se cogitar $ue a =obra> ou =meio> perdur9vel $ue apontavam ser necess9rios ,osse eatamente o

a,astamento da cidade dos ecessos do rio. omo bem ,oi demonstrado na correspond<ncia

entre o rei e o governador 3omes Freire0 o espaço urbano da nova cidade se encontrava

arruinado0 somente seria tudo capa/ para o ,im $ue convinha se se ,i/esse uma nova cidade0 =,ora

do rio>. Bm terreno mais a,astado0 a segurança da sede do prelado estaria garantida.

 )demais0 o rei -9 parecia disposto a escolher a opç#o de ,a/er novos assentamentos nas

terras dos pastos0 re$ueridas pela !mara0 em virtude das comodidades $ue se apresentavam.

 4ransmudar a povoaç#o para um local ,ora dos ecessos do "ibeir#o parecia mais certo eduradouro do $ue reali/ar obras dispendiosas e incertas no leito do rio para evitar a ru;na

completa da localidade. olocar7se longe dos perigos das inundações0 de alguma ,orma

domesticando as 9guas $ue margeavam a cidade episcopal0 era o ob-etivo $ue os envolvidos com

a re,ormulaç#o de Mariana deviam ter em mente.

Para tanto0 o rei solicitou0 ainda em G de Maio de ADQY0 in,ormações sobre o melhor

local para a alocaç#o da praça e para a construç#o da nova asa de !mara e adeia e dos mais

edi,;cios pblicos $ue ,ossem necess9rios. ) resposta0 encaminhada em con-unto pelo3overnador 3omes Freire de )ndrada0 pelo ouvidor geral de 'ila "ica 2os% )ntJnio de Oliveira

Machado e pelos o,iciais da !mara de Mariana0 data de AQ de 2unho de ADQD0 com o parecer de

3omes Freire datado de GE de Ietembro do mesmo anoQR.

QS "epresentaç#o da !mara de Mariana )HU ?rasilCM3 :QD0 doc. EG0 p.AA7AG. Mariana0 GCRCADQ. apud!?)I4OI0 ". A arte do ur"anismo conveniente 0 p.AEG. QR )HU ?rasilCM3. : 1oc:YA. "epresentaç#o do governador0 3omes Freire de )ndrade0 do ouvidor7geral de

 'ila "ica0 2os% )ntonio de Oliveira Machado e da !mara de Mariana0 a 1.2o#o'0 dando conta da analise $uehaviam ,eito aos terrenos da cidade0 para escolha do local para construç#o da praça0 cadeia e outros edi,;cios

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

Te!"#$%&'$'e Re*&+$ D&e+e '" P#".#$$ 'e P/-G#$'0$" e 3&+/#&$ '$ UMG 5"%6 , 6 1, 8$9A# - 2;1< ISSN: 1=>4-?1; @@@6$&60.6#9+e!"#$%&'$'e P.&$ 1?4 

Bm seus termos0 os vereadores in,ormam $ue0 tendo como opções as proimidades da

"eal (ntend<ncia0 na rua lateral da (gre-a Matri/0 e os rec%m cedidos pastos do $uartel0 a primeira

n#o era conveniente em decorr<ncia dos perigos $ue impunham as cheias do ribeir#o e dosdemais córregos $ue cortavam a cidade. Por outro lado0

saindo mais acima ao alto donde chamam os $uart%is e Tassim resolveram $ueno dito s;tio era mais acomodado estabelecer se a dita praça0 cadeia e maisedi,;cios pblicos por haver capacidade no dito terreno demolindo7se huns$uart%is velhos $ue nele se acham. 

O parecer do governador 3omes Freire % ainda mais esclarecedor sobre a ra/#o da

escolha da$ueles s;tios mais elevados para a demarcaç#o da praça e construç#o dos necess9rios

pr%dios pblicos. Na opini#o do governador0 indo de acordo com os o,iciais da !mara0 a regi#o

$ue outrora abrigava o $uartel0 =era o mais ade$uado e Tconginente para a praça0 cadeia e mais

edi,;cios pblicos dela0 *...+ n#o só pela capacidade do re,erido terreno0 mas tamb%m por estar em

s;tio a $ue s#o inacess;veis os ecessos e ,rias do córrego e rio no tempo das 9guas>A.

 ) situaç#o $ue se colocava aos camaristas era o insucesso no combate dos ecessos das

9guas0 $ue ano após ano0 tra/iam gastos em obras $ue n#o resolviam o problema como era

esperadoG. Por outro lado0 a ocupaç#o das terras dos pastos se colocava como uma alternativa

duplamente rent9vel0 pois a,astaria a vilaCcidade do rio0 ao mesmo tempo em $ue a !mara

poderia compor suas receitas atrav%s do a,oramento de parcela de terras.

on,orme demonstrado0 os debates sobre a ,orma de inter,er<ncia na 'ila do

armo se -untavam oportunamente com a necessidade de escolher uma localidade condigna para

receber o t;tulo de cidade0 elevando7se na hierar$uia dos lugares no conteto pol;tico das Minas

3erais em meados do s%culo &'((( conteto pol;tico este0 ali9s0 $ue n#o se pode desconsiderar

na pontual escolha de 'ila do armo para passar a condiç#o de cidade. Bstrat%gias de diluiç#o do

poder eram comuns s pr9ticas de governo portuguesas0 e visavam apresentar s elites locais a

oroa como s;mbolo da -ustiça0 ou se-a0 como ,orma de manutenç#o de seus direitos ad$uiridos.

Bm contrapartida0 delegar alguma autonomia administrativa ou prerrogativa de -ustiça era

pblicos. isboa0 GECRCADQD.M1: RYED.entro de Memória 1igital. )r$uivo Histórico Ultramarino0 Pro-eto"esgate. 1ispon;vel em http:CC888.cmd.unb.brCbiblioteca.html acesso em GYCACGAG0 s AY:GD. )HU ?rasilCM3. : 1oc:YA.,.. A )HU ?rasilCM3. : 1oc:YA.,.G. G =Nos contratos de obras da !mara0 entre os per;odos de ADES aADQG0 a $uantia de Y:AR de r%is ,oi investidana construç#o e reparos dos cercos. Bste nmero0 com toda certe/a0 ,oi bem superior se considerarmos os pre-u;/os

nos calçamentos0 pontes0 pr%dios pblicos e tamb%m nas casas de particulares.> ,. 4B1BIH(0 1.  )#uas ur"anas .p.QD7QS.

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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tamb%m a ,orma da oroa lusitana garantir $ue os con,litos intra7elites convergissem para dentro

de seu aparelho burocr9tico.E 

Nesse $uesito0 'ila do armoCMariana se apresentava como bastante convidativa parase estabelecer como sede do poder =espiritual> em Minas0 ,icando a sombra da proimidade com

a sede da apitania e do governo =temporal>0 'ila "ica. B as alterações $ue ,ossem necess9rias

em seu espaço urbano acabavam -usti,icadas pela preocupaç#o de estabelecer condignamente a

povoaç#o $ue0 al%m do status hier9r$uico e da sede episcopal0 passaria tamb%m a homenagear a

,igura da rainha de Portugal 1. Maria )nna dK)ustria0 e deveria estar tamb%m de acordo com a

augusta ,igura real.

 )l%m disso0 procuramos ressaltar $ue havia toda uma estrutura art;stico7construtiva $uecuidava do estabelecimento das povoações lusitanas na )m%rica Portuguesa0 especi,icamente em

Minas 3erais0 observando0 sobretudo0 as conveni<ncias do espaço e da populaç#oQ. Obviamente0

as ações e inter,er<ncias variavam de localidade para localidade0 baseado0 sobretudo0 na hierar$uia

eistente entre elas. Um pe$ueno con-unto de casas0 um povoado0 acabava merecendo uma

atenç#o menor do $ue uma localidade sede de paró$uia0 o ncleo de uma ,reguesia0 $ue por sua

 ve/ tinha menos obrigações sobre o espaço urbano do $ue uma sede de onselho0 ou se-a0 uma

 'ila. Bssa di,erença de algum modo tamb%m deveria se epressar entre uma localidade designadacomo 'ila e outra designada como idade.

1essa ,orma0 embora Mariana tenha sido a nica localidade nas Minas do s%culo &'(((

a receber o t;tulo de cidade0 isso n#o ,a/ de seu desenho ar$uitetJnico ou da retid#o de suas ruas

uma eceç#o ,rente ao =desleio>0 ou =espontaneidade>0 das demais povoações. on,orme

demonstrou Maria 3uerreiro0 esses aglomerados seriam melhor de,inidos em sua evoluç#o como

=org!nicos>. Haveria uma certa organicidade no interior dos espaços habitados$ue0 n#o

obedecendo a procedimentos estruturais pr%vios0 seria regida pela eperi<ncia0 pela observaç#oemp;rica dos agentes0 pela pr(is .

E (nteressante perceber a ,undaç#o de vilas próimas umas as outras0 no intento de produ/ir pólos concorrentes depoder0 evitando a centrali/aç#o em um ou outro local e0 ent#o0 desarticulando tentativas de sublevações. Bm Minas0isso pode ser notado entre 'ila "ica e 'ila do armo0 Iabar9 e aet%0 I#o 2os% e I#o 2o#o 1Kel "ei0 como ,ormadesarticular elites locais e coloc97las em concorr<ncia0 evitando concentraç#o de poderes. ,. )MPOI0 Maria 'erJnica. overno de mineiros : =de como meter as minas numa moenda e beber7lhes o caldo dourado> AYRE7ADD.FFHCUIP0 I#o Paulo0 GG *tese de doutorado+. Q ,. ?)I4OI0 ".  A arte do ur"anismo conveniente.  ,. 3UB""B("O0 Maria "os9lia. ) lógica territorial na g<nese e ,ormaç#o das cidades ?rasileiras: O caso de

Ouro Preto. omunicaç#o apresentada no coló$uio  A construção do Brasil +r"ano0 onvento de )rr9bida L isboa0G. p.A7G. 

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 D O ARRAIAL À CIDADE :  OCUPAÇÃO DO ESPAÇO E DINÂMICA URBANA  

NA ( RE  ) CONSTRUÇÃO DE M  ARIANA  , M INAS G ERAIS (1742-1747)

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Bm maior ou menor grau0 todas as povoações $ue ergueram com a coloni/aç#o da

 )m%rica se organi/aram a partir dessa inter,er<ncia intermitente de seu respectivo conselho

administrativa para garantir alguma ordem sobre o seu espaço urbano.O processo de ,ormaç#odo espaço urbano de Mariana % o eemplo de uma ,orma de urbanismo0 por assim di/er0 $ue se

ocupa mais em observar as conting<ncias espec;,icas a cada localidade0 debater as poss;veis ações0

escolher a mais til e menos onerosa0 levando sempre em consideraç#o o bem pblico.

O terreno dos pastos do abandonado $uartel dos 1ragões0 onde ,oi aberta uma rua0

chamada em seus primeiros tempos de "ua Nova pelos o,iciais da !maraY  *atual "ua 1om

Iilv%rio+0 ,oi re,gio dos moradores a,etados pelas cheias do "ibeir#o0 o lugar escolhido para

garantir a segurança da povoaç#o agraciada com o t;tulo de =cidade>. Nesse conteto0 a disputaentre a !mara de Mariana e "eal Fa/enda ,oi um dos ,atores condicionantes das re,ormulações

,eitas no espaço urbano da$uela localidade0 constituintes da caracter;stica =org!nica> da cidade.

 'imos nesse artigo como cada uma dessas instituições argumentava sobre sua

pre,er<ncia sobre a visada parcela de terras dos pastos0 e como esses argumentos ,oram

considerados pelo "ei 1. 2o#o ' e seu onselho Ultramarino0 dando pre,er<ncia !mara.

 4odavia0 % necess9rio ressaltar $ue outros processos0 como as inundações do "ibeir#o do armo

ou poss;veis sobreposições de demarcaç#o de terras0 tamb%m s#o ,atores condicionantes daocupaç#o do espaço0 sobre os $uais cabem estudos mais apro,undados.

"ecebido em: ECACGAG. )provado em: ECGCGAE.

Y )r$uivo Histórico da !mara de Mariana *)HMM+ ódice QAD. ,.AEEv7GSQ.