diversidade e polÍticas pÚblicas povos indÍgenas...

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Maial Paiakan Kaiapó Advogada Assessoria técnica - SESAI Luana Silveira de Faria Analista Técnica de Políticas Sociais Chefe da Divisão de Ações de Saúde Indígena SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA MINISTÉRIO DA SAÚDE BRASÍLIA/DF, BRASIL - 2018 DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICAS POVOS INDÍGENAS [email protected] [email protected]

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Maial Paiakan KaiapóAdvogada

Assessoria técnica - SESAI

Luana Silveira de FariaAnalista Técnica de Políticas Sociais

Chefe da Divisão de Ações de Saúde Indígena

SECRETARIA ESPECIAL DE SAÚDE INDÍGENA

MINISTÉRIO DA SAÚDE

BRASÍLIA/DF, BRASIL - 2018

DIVERSIDADE E POLÍTICAS PÚBLICASPOVOS INDÍGENAS

[email protected]

[email protected]

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DECLARAÇÃO AMERICANA SOBRE OS DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS, da OEA, 2016:

- Povos indígenas das Américas.

- Aprovação ocorreu por aclamação pelos Estados Membros (35 Estados das Américas, incluindo os EUA

e Canadá).

- O processo de elaboração levou 17 anos.

- cerca de 30% mais extensa do que a Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas da ONU

- 4 temas novos, não contemplados pela ONU ou pela Convenção 169 da OIT.

• Artigo II: afirma o reconhecimento e o respeito dos Estados ao caráter pluricultural e multilíngue

dos povos indígenas, como parte integral das sociedades. CF/88 Art. 209 § 2º, 215 § 1º, 231

• Artigo IX: reconhecimento da personalidade jurídica dos povos indígenas, bem como suas formas de

organização. CF/88 Art 231 e 232.

• Artigo XVII: direito de manter e promover seus próprios sistemas de, determinando, ainda, que os

Estados respeitarão e protegerão as distintas formas indígenas de família, assim como suas formas

de união matrimonial, de filiação, de descendência e de nome familiar. Relação com o artigo 6º do

Estatuto do Índio (Lei 6.003/1973). Estabelece o direito da criança indígena de desfrutar de sua

própria cultura, religião ou a falar sua própria língua, entre outros. ECA (Lei 8.096/1990).

• Artigo XXVI: Com relação aos povos indígenas em isolamento voluntário ou em contato inicial,

assegura o direito de permanecerem nessa condição e de viver livremente e de acordo com suas

culturas. Dever dos Estados de reconhecer, respeitar e proteger as terras, os territórios, o meio

ambiente e as culturas desses povos, como já dispõe a política indigenista brasileira.

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QUEM É INDÍGENA NO BRASIL?

*IBGE: Autodeclaraçãode cor ou raça

https://www.youtube.com/watch?v=uuzTSTmIaUc&feature=youtu.be

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“Vamos procurar cumprir as metas fixadas pelo Presidente Geisel para que, através de um trabalho concentrado entre vários Ministérios, daqui a 10 anos possamos reduzir para 20 mil os 220 mil índios existentes no Brasil, e daqui a 30 anos, todos eles estarem devidamente integrados na sociedade nacional”. (Maurício Rangel Reis, cujo Ministério presidia os assuntos indígenas através da FUNAI - 1976).

Relatório Figueiredo: http://pt.scribd.com/doc/142787746/Relatorio-Figueiredo(Redigido pelo então procurador Jader de Figueiredo Correia)45 anos desaparecido. Ressurgiu em abril de 2013. Apurou matanças de comunidades inteiras, torturas e toda sorte de crueldades praticadas contra indígenas em todo o país — principalmente por latifundiários e funcionários do extinto Serviço de Proteção ao Índio (SPI). Denúncias: caçadas humanas promovidas com metralhadoras e dinamites atiradas de aviões, inoculações propositais de varíola em povoados isolados e doações de açúcar misturado a estricnina.

O encontro de sociedades / civilizações. O mito da democracia racial.

“(...) os europeus e seus descendentes tiveram de transigir com índios e africanos quanto às relações genéticas e sociais. A escassez de mulheres brancas criou zonas de confraternização entre vencedores e vencidos, entre senhores e escravos. " (FREYRE, 2006, p.33).

"Foi misturando-se (os portugueses) gostosamente com mulheres de cor logo ao primeiro contato e multiplicando-se em filhos mestiços que uns milhares apenas de machos atrevidos conseguiram firmar-se na posse de terras vastíssimas (...).” (FREYRE, 2006, p.70).

O mito do bom selvagem. (Rousseu, 1712-1778)

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305 POVOS

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Territórios indígenas no Brasil

Fonte: https://terrasindigenas.org.br/ (acesso em março/2018)

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10a HANAITI HO’UNEVO TERENOE

10a GRANDE ASSEMBLEIA DO POVO TERENA

“O Conselho Terena unido em torno da luta pelos direitos originarios dos Povos Indígenas renova o

compromisso de continuar a ardua luta pela vida e mae terra”

Terra Indígena Buriti / Mato Grosso do Sul, de 31 de maio a 03 de junho de 2017, com presença de

lideranças Guarani Kaiowa , Guarani Nhandeva, Guarani Mbya, Guajajara, Tuxa, Kaigang, Xavante, Bare ,

Xacriaba, Kadiwéu, Kinikinau e Cabiwa , juntamente com as mulheres, juventude, anciaos, professores e

nossos guerreiros.

Encaminhamentos: http://apib.info/2017/06/07/documento-final-da-10o-grande-assembleia-do-povo-

terena/

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https://www.youtube.com/watch?v=pXzWhqGaSt8minuto 12:15 ao 14:00

https://www.youtube.com/watch?v=Fx1ft0g55b010a HANAITI HO’UNEVO TERENOE10a GRANDE ASSEMBLEIA DO POVO TERENA

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POLÍTICAS PÚBLICAS e POVOS ORIGINÁRIOS

Entendemos interculturalidade como a possibilidade de diálogo entre

as culturas. É um projeto político, que transcende o educativo para pensarna construção de sociedades diferentes […] noutro ordenamento social.

(Consejo Regional Indígena de Cauca, 2004, p. 18)

A partir dos anos 90 existe na América Latina uma nova atenção à diversidade étnico-

cultural, que parte de uma necessidade cada vez maior de:• promover relações positivas entre distintos grupos culturais, • confrontar a discriminação, o racismo e a exclusão, • formar cidadãos conscientes das diferenças e capazes de trabalhar conjuntamente no

desenvolvimento do país e na construção de uma sociedade justa, equitativa, igualitária e plural.

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https://www.youtube.com/watch?v=zltOU0eLZeY&t=3s

Múltiplos sentidos e usos da interculturalidade (Catherine Walsh):

• Interculturalidade relacional:

Forma mais básica e geral ao contato e intercâmbio entre culturas, isto é,

entre pessoas, práticas, saberes, valores e tradições culturais e distintas, asquais poderiam dar-se em condições de igualdade ou desigualdade. Ainterculturalidade é algo que sempre existiu, pois sempre existiu o contato e arelação entre os povos indígenas e afrodescendentes, por exemplo.

Esta perspectiva oculta ou minimiza a conflitividade e os contextosde poder, dominação e colonialidade, limita a interculturalidade aocontato e à relação – muitas vezes somente individual –, encobrindo ou

deixando de lado as estruturas da sociedade - sociais, políticas, econômicas etambém epistêmicas - que põem a diferença cultural em termos desuperioridade e inferioridade.

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• Interculturalidade funcional ao sistema dominante:Reconhecimento da diversidade e diferença culturais, visando a inclusão desta no interior

da estrutura social estabelecida. A partir desta perspectiva - que busca promover odiálogo, a convivência e a tolerância –, a interculturalidade é “funcional” ao sistema

existente, não toca as causas da assimetria e desigualdade sociais e culturais,

tampouco “questiona as regras do jogo”, por isso “é perfeitamente compatível com alógica do modelo neoliberal existente” (Tubino, 2005).

O reconhecimento e o respeito à diversidade cultural se converteram em uma novaestratégia de dominação, que aponta não para a criação de sociedades mais

equitativas e igualitárias, mas ao controle do conflito étnico e à conservaçãoda estabilidade social com a finalidade de impulsionar os imperativos econômicos

do modelo (neoliberalizado) de acumulação capitalista, agora “incluindo” os gruposhistoricamente excluídos em seu interior. A onda de reformas educativas e constitucionaisdos anos 90 – as quais reconhecem o caráter multiétnico e plurilinguístico dos países eintroduzem políticas específicas para os indígenas e afrodescendentes – são parte destalógica multiculturalista e funcional.

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• Interculturalidade críticaProjeto político de descolonização, transformação e criação e que procura intervir na

refundação da sociedade, como dizia Paulo Freire (2004: 18) e, assim, na refundação

de suas estruturas, que racializam, inferiorizam e desumanizam.

Reconhecimento de que a diferença se constrói dentro de uma estrutura e matriz colonial de

poder racializado e hierarquizado. A interculturalidade passa a ser entendida como uma

ferramenta, projeto que se constrói a partir das gentes, em contraste à funcional, que se

exerce a partir de cima. A interculturalidade crítica ainda não existe, é algo por construir.

Por isso, se entende como uma estratégia, ação. Não é simplesmente reconhecer, tolerar ou

incorporar o diferente dentro da matriz e estruturas estabelecidas, é implodir – a partirda diferença - as estruturas coloniais do poder.E é por isso mesmo que a interculturalidade deve ser entendida como desígnio e propostade sociedade, como projeto político, social, epistêmico e ético dirigido à transformação

estrutural e sócio-histórica, assentado na construção entre todos de uma sociedaderadicalmente diferente.

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Subsistema de Atenção à Saúde

Indígena (SasiSUS)

Sistema Único de

Saúde (SUS)

POLÍTICAS PÚBLICAS e POVOS ORIGINÁRIOSA POLÍTICA DE ATENÇÃO À SAÚDE INDÍGENA

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Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)Ministério da Saúde

SRTV 702, Via W5 Norte, Edifício PO 700, 4º andar – Asa Norte, Brasília, DF. CEP 70723-040

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POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO À SAÚDE DOS POVOS INDÍGENAS

Portaria do Ministério da Saúde nº 254, de 31 de janeiro de 2002

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SESAI - OBJETIVO ESTRATÉGICO 2016-2019

Promover a atenção à saúde aos povos indígenas, aprimorando as ações de atenção básica e de saneamento básico nas aldeias, observando as práticas de saúde e os saberes tradicionais, e

articulando com os demais gestores do SUS para prover ações complementares e especializadas, com controle social.

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372

100 92

08

MÉDICOS DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NA SAÚDE INDÍGENA*

MÉDICOS DO PROGRAMA MAIS MÉDICOS NO ESTADO DO

AMAZONAS

MÉDICOS COOPERADOS CUBANOS

MÉDICOS INTERCAMBISTAS

MÉDICOS DA SAÚDE INDÍGENA

04

*No total o Subsistema tem 543 médicos: 171 contratados pelas conveniadas e 372 do PMM

Preconizado pela OMS: 1 médico por mil habitantesSaúde indígena: 0,71 médicos por mil habitantesBrasil geral: 2,18 médicos por mil habitantes

16 médicos indígenas

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Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)Ministério da Saúde

SRTV 702, Via W5 Norte, Edifício PO 700, 4º andar – Asa Norte, Brasília, DF. CEP 70723-040

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Fonte: SIASI/MS, março/2018

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PNASPI (2002): Diretriz 4.7 proteção ética na pesquisa e nas ações de atenção à saúde em contextos de altadiversidade sociocultural e linguística.Normativas que regulamentam a Ética em Pesquisa no Brasil instituídas pelo Conselho Nacional de Saúde/ComissãoNacional de Ética:- Resolução 304/2000 - Aprova as Normas para Pesquisas Envolvendo Seres Humanos – Área de Povos Indígenas.- Resolução 466/2012 - Incorpora, sob a ótica do indivíduo e das coletividades, referenciais da bioética e visa a

assegurar os direitos e deveres que dizem respeito aos participantes da pesquisa, à comunidade científica e aoEstado;

- Norma Operacional (NO) 001/2013 - organização e funcionamento do Sistema CEP/CONEP, e sobre osprocedimentos para submissão, avaliação e acompanhamento da pesquisa e de desenvolvimento envolvendoseres humanos no Brasil

- Resolução CNS 510/2016 – dispõe sobre as normas aplicáveis a pesquisas em Ciências Humanas e Sociais cujosprocedimentos metodológicos envolvam a utilização de dados diretamente obtidos com os participantes ou deinformações identificáveis ou que possam acarretar riscos maiores do que os existentes na vida cotidiana,(descreve o processo para consentimento e a forma de registro).

Imagens audiovisuais produzidas nos contextos das aldeias e Terras Indígenas: não devem ser publicadas sem quehaja expressa autorização dos sujeitos e povos indígenas diretamente envolvidos. O mesmo se aplica à divulgaçãodas imagens em redes sociais, sites de relacionamento, blogs, etc.. Especial cuidado deve ser observado para com odireito das crianças e jovens indígenas à privacidade, conforme previstos pelo ECA.

Pesquisas que envolvam Povos IndígenasPOLÍTICAS PÚBLICAS e POVOS ORIGINÁRIOS

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A Proteção do Conhecimento e dos Saberes Tradicionais e a Lei nº 13.123/2015

Se o projeto de pesquisa acessar Conhecimento TradicionalAssociado à Biodiversidades:• Lei nº 13.123, de 20 de maio de 2015: acesso ao patrimônio

genético, sobre a proteção e o acesso ao conhecimentotradicional associado e sobre a repartição de benefícios paraconservação e uso sustentável da biodiversidade. Os projetosde pesquisa que acessam esse tipo de conhecimento devemser submetidos a análise e aprovados pelo Conselho de Gestãodo Patrimônio Genético (CGEN/MMA.

• Observar a legislação que protege os direitos autorais dospovos indígenas e os direitos de imagem indígena (Portaria nº177/PRES/2006, FUNAI).

Outros: Lei nº 9.610, de 19 de fevereiro de 1998: altera, atualizae consolida a legislação sobre direitos autorais; Lei nº 12.853, de14 de agosto de 2013: dispõem sobre a gestão coletiva dosdireitos autorais; e a Legislação específica que protege os direitode imagem – Artigo 5, Inciso X da Constituição Federal; Artigo 20do Código Civil – Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002.

http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/cartilha_protecao_conhecimentos_povos_indigenas.pdf

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Sandálias com grafismos sagrados para povos do Xingu geram

polêmica em rede socialhttp://radioyande.com/default.php?pagina=blog.php&site_id=975&pagina_id=21862&tipo=post&post_id=95

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“A sandália que tem a cara e o espírito do brasileiro convidou aqueles que possuem

o Brasil no DNA para trazer boas energias para você”. Com essa frase, a marca

mais famosa de chinelos do país abre um vídeo promocional em que apresenta

a coleção Tribos, que leva ilustrações da etnia Yawalapiti (ou Iaualapitis, outra

grafia que também pode ser encontrada), um dos povos do Alto do Xingu, que

vivem no Mato Grosso.

https://youtu.be/njKL0ob1JYc

Quem tem o poder de autorizar a reprodução de um desenho:

o autor, o povo, as lideranças, todos os povos?

Em julho de 2014, a agência de publicidade Almap BBDO, que atende o grupo Alpargatas

(empresa proprietária da marca cinquentenária de sandálias), obteve o “direito de uso e

reprodução de grafismos coletivos do povo Yawalapiti, (...) para a produção de 10.000 kits

promocionais de sandálias limitadas do projeto Havaianas Tribos, a serem distribuídos

gratuitamente em campanha e ação específica”. Acontece que, a pessoa que assina o contrato,

embora pertença à etnia, não é o chefe do grupo. E, mesmo se fosse, especialistas ouvidos pelo

EL PAÍS apontam que, em casos como esse, o ideal é que os caciques dos demais povos do Alto

do Xingu (são 15, ao todo, incluindo os Yawalapitis) fossem consultados para autorizar a

reprodução dos desenhos e, assim, evitar que qualquer um deles se sentisse lesado por identificar

elementos comuns aos grafismos das demais etnias da região.

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POLÍTICAS PÚBLICAS e POVOS ORIGINÁRIOSX

DIREITOS EM CONFLITO

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PL 119, DE 2015: Acrescenta o art. 54-A à Lei Nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973, que dispõe sobre o Estatuto do Índio.

Art. 54-A. Reafirma-se o respeito e o fomento às práticas tradicionais indígenas, sempreque elas estejam em conformidade com os direitos fundamentais estabelecidos na CF ecom os tratados e convenções internacionais sobre DH...§ 1º É dever (de todos os entes) bem como das autoridades responsáveis pela políticaindigenista zelar pela garantia do direito à vida, à saúde e à integridade física e psíquica dascrianças, dos adolescentes, das mulheres, das pessoas com deficiência e dos idososindígenas de acordo com a legislação brasileira, inclusive com o auxílio de entidades eassociações não governamentais.2º Os órgãos responsáveis pela política indigenista deverão usar todos os meios disponíveispara a proteção das crianças, dos adolescentes, das mulheres, das pessoas com deficiênciae dos idosos indígenas contra práticas que atentem contra a vida, a saúde e a integridadefísico-psíquica, tais como: I – infanticídio ou homicídio; II – abuso sexual, ou estuproindividual ou coletivo; III – escravidão; IV – tortura, em todas as suas formas; V – abandonode vulneráveis; VI – violência doméstica.

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§ 3º Os órgãos responsáveis pela política indigenista deverão garantir a proteção e o auxílio aqualquer pessoa, inclusive a membros das etnias que decidirem não permitir expor ousubmeter crianças, adolescentes, mulheres, pessoas com deficiência e idosos a práticas quecoloquem em risco a vida, a saúde e a integridade física e psíquica deles.§ 4º...§ 5º Os órgãos públicos... deverão manter cadastro atualizado de mulheres gestantes por etniae/ou aldeia e proporcionar a elas acompanhamento e proteção durante todo o períodogestacional e, ao verificarem que a criança gerada corre risco de vida, poderão, com anuênciada gestante, removê-la da aldeia, atendendo as especificidades de cada etnia.6º Os órgãos responsáveis pela saúde indígena deverão direcionar atenção especial àsmulheres indígenas com gravidez de risco e às gestantes que sejam solteiras, viúvas, queforam abandonadas pelos companheiros ou que estiverem gerando: I – mais de uma criança,no caso de gestação gemelar ou gestação múltipla; II – criança diagnosticada com deficiênciaou qualquer problema de saúde; III – criança cuja paternidade seja duvidosa; IV – criançaconsiderada como excesso no número de filhos adequado para o grupo; V – criança geradaem decorrência de estupro ou abuso sexual; VI – criança que seja, por medo, ideia, ousuperstição, considerada indesejada.

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§ 7º É dever de todo cidadão que tenha conhecimento das situações de risco informar, notificar,comunicar ações e/ou atos que violam a vida, a saúde e a integridade física e psíquica de gestantes,nascituros, recém-nascidos, crianças, adolescentes, pessoa com deficiência, mulheres e idososindígenas, por qualquer motivação, sob pena de ser responsabilizado na forma das leis vigentes.§ 8º As autoridades descritas no § 1° deste artigo serão igualmente responsabilizadas, na forma dasleis vigentes...§ 10. ...caberão às ouvidorias dos órgãos que desenvolvem a política indigenista: I – receber asnotificações e comunicados de infanticídio, homicídio, escravidão, tortura, abandono, abuso eexploração sexual, estupro, atentado violento ao pudor, maus-tratos e outros tipos de violência...; II –encaminhar imediatamente as notificações e comunicados ao MP e às demais autoridadescompetentes para a devida apuração da notícia de violação dos direitos dos recém-nascidos, crianças...§ 11. Após a apuração dos fatos, preferencialmente acompanhada de estudos antropológicos epsicológicos, se constatada a disposição dos genitores, dos familiares ou do grupo em persistirem empráticas que coloquem em risco a vida, a saúde ou a integridade física dos vulneráveis, deverão osorgãos e autoridades competentes promover a retirada provisória deles do convívio da família ou dorespectivo grupo e determinar a sua colocação em lugar seguro, observando as especificidades decada etnia.§ 12. Após afastados definitivamente os riscos, é dever das autoridades indicadas fazer gestões parapromover o reingresso dos vulneráveis em suas comunidades de origem sempre que possível.

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NOTA TÉCNICA Nº 028/2005/CGASI/DESAI/FUNASA

Assunto: Planejamento familiar em comunidades indígenas

...Sobre o planejamento familiar, a Constituição Federal estabelece: “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e dapaternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos para o exercíciodesse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas”.A Lei n.º 9.263, sancionada em 12 de janeiro de 1996, regulamenta o planejamento familiar no Brasil e estabelece em seu art. 2º:“Para fins desta Lei, entende-se planejamento familiar como o conjunto de ações de regulação da fecundidade que garanta direitoigual de constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo homem ou pelo casal.”

...A Conferência Internacional da ONU sobre População e Desenvolvimento (CIPD), realizada no Cairo em 1994, conferiu papel primordial à saúdee aos direitos sexuais e aos direitos reprodutivos, ultrapassando os objetivos puramente demográficos, focalizando-se no desenvolvimento doser humano.A assistência em planejamento familiar deve incluir acesso à informação e a todos os métodos e técnicas para concepção e anticoncepção,cientificamente aceitos, e que não coloquem em risco a vida e a saúde das pessoas, de acordo com a Lei do Planejamento Familiar, Lei n.º9.263/1996.A demanda por programas de planejamento familiar tem sido pautada pelas comunidades indígenas, tendo sido objeto de uma das resoluçõesdo Fórum Nacional para Elaboração da Política Nacional de Segurança Alimentar e Desenvolvimento Sustentável dos Povos Indígenas do Brasil,realizado em Brasília no período de 24 a 27 de novembro de 2003. O item 38 da sistematização de propostas relativas ao tema saúde,constante do Relatório Final do evento recomenda: “Implantar programas de orientação para o planejamento familiar, respeitando aspeculiaridades e interesses de cada povo”....

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Do ponto de vista da saúde pública e da antropologia, programas de planejamento familiar podem ser importantespara determinar a melhoria da qualidade de vida de homens e mulheres, com positivo impacto à saúde da mulher citopor exemplo, a ampliação dos intervalos interpartais; a prevenção da gravidez indesejada, principalmente naadolescência; a prevenção da utilização de métodos abortivos ou até infanticídio, muitos destes métodos admitidosculturalmente.

A realização de planejamento familiar em comunidades indígenas pressupõe a realização de esclarecimento à família,possibilitando à pessoa, à família e à comunidade optar ou não pelo uso de determinada técnica. Em se tratando demétodos reversíveis com o devido uso racional prescrição e acompanhamento médico não se põe em risco apossibilidade de reprodução, dado a tratar-se de grupos étnicos de baixo número populacional, muitas vezessuscetíveis a baixa demográfica abrupta e às especificidades de suas regras de parentesco.

Observe-se que não se pode confundir a promoção de política de planejamento familiar com uma intenção de destruir,no todo ou em parte, um grupo étnico como tal, situação prevista na Lei no.2.889, de 01 de outubro de 1956, quetipifica e define punições para o crime de etnocídio. Esta Lei determina penas para quem “adotar medidas destinadas aimpedir os nascimentos... com a intenção de destruir, no todo ou em parte, grupo nacional, ético, racial ou religioso,como tal”. Assim sendo, a disponibilização de métodos contraconceptivos de forma generalizada deve ser analisadados pontos de vista demográfico e antropológico e ser debatida de forma clara com as comunidades indígenas,estabelecendo o acompanhamento participativo das comunidades.

...

Desta forma, é nosso parecer que a Política de Planejamento Familiar preconizada pelo Ministério da Saúde constituidireito das famílias indígenas brasileiras devendo ser promovida no âmbito dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas.

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Gestação de mulheres indígenas menores de 14 anos

• Diferentes compreensões dos ciclos de vida, relações de parentesco, matrimônio e início da vida sexual;

• 23% das mulheres indígenas que tiveram gestação finalizada em 2017 eram menores de 18 anos (SIASI);

• 13% delas eram menores de 14 anos;• 77% eram maiores de idade, porém não sabemos quando foi a

primeira gestação;• Deve-se considerar a possibilidade de gestações resultantes de

violência sexual, porém o dado deve ser avaliado com cautela para não criminalizar as organizações sociais próprias e promover situações que dificultem acesso aos serviços de saúde;

• Protagonismo das mulheres indígenas e reconhecimento das perspectivas dos indígenas;

• Considerar a diversidade entre os povos

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POR SUICÍDIO

*COMPETIÇÃO DE RISCOS

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POLÍTICAS PÚBLICAS e POVOS ORIGINÁRIOSPROGRAMAS DE TRANSFERÊNCIA DE RENDA

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Assistência à saúde dos Povos Indígenasem terras e territórios indígenas e em contexto urbano

MINISTÉRIO DA SAÚDEPARECER TÉCNICO Nº 40/2018-DIASI/CGAPSI/DASI/SESAI/MS

Assunto: Ação Civil Pública n.º 1005974-06.2018.4.01.0000Prestação de atendimento de saúde pelo DSEI Kaiapó do Pará ao povo indígena Atikum.

CONTEXTUALIZAÇÃO

• MP: Inquérito Civil Público com o objetivo de apurar a representação feita por X e Y (etnia Atikum)

residentes na Aldeia Umã, localizada no município de Redenção, Estado do Pará.

• DSEI Kaiapó do Pará: foi oficiado a explicitar os motivos que fundamentavam a negativa do

atendimento à saúde destes indígenas.

• Ofício N°881/2014, de 06/11/14: entendimento de que não seria competência do DSEI realizar ações

assistenciais em saúde para os indígenas da etnia Atikum, por eles não habitarem em terras indígenas

demarcadas ou em processo de demarcação.

• Oficio n° 123/2014 de 03 de fevereiro de 2015: relatório situacional produzido a partir de visita técnica

a aldeia Umã - etnia Atikum, que fundamentaria essa posição.

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• MPF/PRMRDC/PA: Recomendação 01/2015: o DSEI Kaiapó do Para deve tomartodas as providências necessárias para que os indígenas da aldeia Umã – etniaAtikum recebam tratamento em saúde pelo SASI-SUS, independentemente dademarcação de terras ou de reconhecimento externos de status da comunidade.

• AGU: comunicou o MS a respeito do Parecer de Força Executória n°0191/2018/CODESP/PRU1R/PGU/AGU, relativo ao Processo Judicial 1005974-06.2018.4.01.0000. Informou sobre o deferimento do pedido de tutela antecipadarecursal que determinou à União: “realize a efetiva prestação do serviço público desaúde diferenciada aos indígenas da etnia Atikun que habitam terras indígenasainda não integralmente demarcadas, assim como aos índios que residem noscentros urbanos dos municípios situados na circunscrição do juízo.” Gozando adecisão de plena força executória, deve ser cumprida imediatamente.

• DSEI Kaiapó do Pará: encaminhou Memorando nº 155/2018/KPA/DSEI/SESAI/MSinformando que seriam tomadas todas as providencias necessárias para oatendimento do povo Atikum, no que tange a atenção básica de saúde oferecidapelo Distrito

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ANÁLISE TÉCNICA:

No processo foram inseridos:

• I - Declaração da Organização do Povo Atikum, afirmando que a comunidade residente no município deRedenção/PA, na aldeia Umã, seria integrante do seu povo;

• II - Declaração da FUNAI - informa que os membros da comunidade indígena ATIKUM, residentes nomunicípio de REDENÇÃO, são reconhecidos e assistidos pelo órgão.

• III - Declaração de X e Y, se identificando como cacique e liderança da aldeia Umã, declarandopertencer a etnia Atikum, com vínculo de parentesco com a população da aldeia localizada na SerraUmã, em Carnaubeira da Penha, no Estado de Pernambuco, que denominam como “aldeia sede”

• 2 relatórios de visita à aldeia Umã, um do procurador e outro relatório situacional produzido porequipe técnica do DSEI Kaiapó do Pará.

São vinculadas à comunidade de Umã aproximadamente 14 famílias da etnia Atikum, sendo queparte delas residiria, naquele momento, na área urbana do município de Redenção, pormotivos de trabalho. A comunidade estaria pedindo o apoio dos órgãos responsáveis para oreconhecimento da aldeia e o acesso às políticas públicas, incluindo a saúde indígena.

De acordo com esse documento, as condições atuais e a insatisfação com a rede municipal levariam apercepção de que a assistência do DSEI facilitaria o acesso à saúde pelos indígenas.

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Após análise da documentação que consta no processo, apresento algumas considerações:

1. Não cabe ao MS, através do DSEI, questionar a identidade dos indígenas ou o vínculo, dos queresidem na sede urbana do município, com a aldeia de origem. Na documentaçãoencaminhada pelo DSEI, há questionamentos sobre a identidade dos indígenas (chamadosequivocadamente de aculturados) e a necessidade deles receberem um atendimento diferenciado.

2. A CF e a Convenção n° 169 ... adotam o paradigma multicultural que reconhece o direito a diferença e odireito à autodeterminação dos povos indígenas, garantindo a eles o respeito à forma de sobrevivênciae aos costumes, sem padronizações e estigmatizações.

3. ...foram anexadas documentações suficiente que evidenciam o autoreconhecimento dos indígenas dacomunidade Umã, que residem em Redenção/PA, o reconhecimento de seus parentes que residem emPernambuco, na denominada “aldeia sede”, assim como do órgão indigenista oficial.

4. O MS, através da SESAI/DSEI, não deve se eximir de responsabilidade sanitária sobre os povosindígenas, independente do seu local de residência, mas identificar responsabilidades ecompetências, no que se refere à organização territorial do SUS e do SASI-SUS, e articularcom os entes federados para promover a atenção integral à saúde dos indígenas quenecessitam atendimento nas unidades municipais e estaduais de saúde.

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A PNASPI foi instituída em 2002 com o propósito de:

“garantir aos povos indígenas o acesso à atenção integral à saúde, de acordo com os princípiose diretrizes do SUS, contemplando a diversidade social, cultural, geográfica, histórica e políticade modo a favorecer a superação dos fatores que tornam essa população mais vulnerável aosagravos à saúde de maior magnitude e transcendência entre os brasileiros, reconhecendo aeficácia de sua medicina e o direito desses povos à sua cultura.”

Com relação às responsabilidades institucionais, foi estabelecido que:

“As características excepcionais da assistência à saúde dos povos indígenas determinam anecessidade de uma ampla articulação em nível intra e intersetorial, cabendo ao órgãoexecutor desta Política a responsabilidade pela promoção e facilitação deste processo. APNASPI prevê a existência de uma atuação coordenada, entre diversos órgãos e ministérios, nosentido de viabilizar as medidas necessárias ao alcance de seu propósito.”

O DSEI é definido como:

“um modelo de organização de serviços orientado para um espaço etnocultural dinâmico,geográfico, populacional e administrativo bem delimitado...”. Ele é responsável por “organizaruma rede de serviços de atenção básica de saúde dentro das áreas indígenas, integrada ehierarquizada com complexidade crescente e articulada com a rede do SUS”.

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A PNASPI atribuiu ao DSEI a competência de organizar os serviços de atenção básica dentrodas “areas indígenas”, mas não desenvolve conceitualmente as características desse território.

Em sua introdução e em algumas outras normativas da saúde indígena fala-se em “terraindígena” (Decreto n°3159/1999, artigo 2, parágrafo único), porém não de forma restritiva.Não existe, portanto, dispositivo estabelece o entendimento de “area indígena” como sendoexclusivamente o território que teve o processo administrativo de demarcação finalizado porparte do órgão indigenista oficial.

Embora a construção de edificações permanentes por parte da união seja somente possívelem territórios regularizados, a Sesai tem desenvolvido ações de atenção à saúde para coletivosque se autodeclaram indígenas e são reconhecidos por seu grupo étnico de origem, ainda quevivam em territórios em diferentes estágios do processo de demarcação. As áreas indígenasatendidas pela SESAI devem ter, entretanto, um território delimitado, não cabendo oatendimento a indígenas dispersos nos centros urbanos.

A oferta dos serviços de atenção básica do SASI-SUS é restrita às áreas indígenas, atendendoa indígenas e não indígenas que estejam naquele território. A única estrutura assistencialestabelecida em áreas urbanas é a CASAI, que serve para o apoio, acolhimento e assistênciados indígenas em tratamento na rede de serviços municipal e estadual e de seusacompanhantes.

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Segundo as Diretrizes do Modelo de Gestão da Saúde Indígena, “a estrutura do DSEIfica composta pelos Postos de Saúde situados dentro das aldeias indígenas, quecontam com o trabalho do AIS e do Aisan; pelos Polos-Base com as EMSI e pela CASAIque apoia as atividades de referência para o atendimento de média e altacomplexidade”.

...permanece o entendimento de que as unidades responsáveis pela atenção básica àsaúde indígena devem estar localizadas dentro de Terras ou territórios indígenas.

...Como consta na descrição dos subtipos de estabelecimentos, os Polos Base Tipo II(PBII), localizados em área urbana, devem ser unidades exclusivamenteadministrativas, não cabendo o desenvolvimento de ações de atenção à saúde nestelocal. A CASAI, por outro lado, é organizada para atender exclusivamente os indígenasreferenciados de seu território de origem para tratamento no município.

Esses serviços, como foram estruturados, não têm a competência de atenderadequadamente as demandas espontâneas de indígenas que estejam em trânsito ouresidindo no ambiente urbano e, portanto, não têm espaço, recursos humanos einsumos disponíveis para esta finalidade.

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O fenômeno de migração e deslocamentos espaciais da população indígena em direção aos centrosurbanos, seja esporádico ou para fixar moradia, deve ser abordado pelo SUS à luz da compreensão deque, enquanto cidadãos, podem acessar os serviços de saúde do SUS. Os indígenas que estejam emcontextos urbanos, seja de forma esporádica, temporária ou com residência permanente, devem seratendidos sem qualquer tipo de discriminação.

O SASI-SUS foi instituído como componente do SUS e deve funcionar em perfeita integração. Emboracaiba à União financiá-lo, os Estados e Municípios atuam complementarmente no custeio e execução dasações. O SASI-SUS tem como base os DSEI, com responsabilidade sanitária por um território específico,que diz respeito aos territórios indígenas.

Nos contextos urbanos a autoridade sanitária é da Secretaria Municipal de Saúde, conforme estabelece oartigo 198 da Constituição Federal de 1988 e o artigo 9 da Lei nº 8.080/90. Dessa forma, a autoridadesanitária do DSEI é limitada.

A Lei n° 9836/99, conhecida como Lei Arouca, que instituiu o SASI-SUS, estabeleceu:

• Art. 19-G § 3º As populações indígenas devem ter acesso garantido ao SUS, em âmbito local, regionale de centros especializados, de acordo com suas necessidades, compreendendo a atenção primária,secundária e terciária à saúde.

• Art. 19-H. As populações indígenas terão direito a participar dos organismos colegiados deformulação, acompanhamento e avaliação das políticas de saúde, tais como o Conselho Nacional deSaúde e os Conselhos Estaduais e Municipais de Saúde, quando for o caso.

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Ainda que o legislador não houvesse incluído esses dispositivos na Lei Arouca, o direito dos indígenas serem atendidosadequadamente nas unidades básicas e especializadas de saúde dos estados e municípios deveria estar garantido, vistoque a universalidade e a equidade são princípios do SUS. A universalidade compreende a saúde como um direito decidadania, devendo o acesso às ações e serviços ser garantido a todas as pessoas, independente de sexo, raça, etnia,ocupação, ou outras características sociais e pessoais. A equidade visa a diminuir desigualdades e insta o sistema a tratardesigualmente os desiguais, investindo mais onde a carência é maior.

De acordo com a lei n° 8.080 e a lei complementar n° 141, é dever do município garantir os serviços de atenção básica àsaúde e prestar serviços em sua localidade, com a parceria dos governos estadual e federal. Esses serviços devem serorientados pela Política Nacional de Atenção Básica, aprovada e revisada em 2017, que dispõe:

Art. 2° (...)

§ 3º É proibida qualquer exclusão baseada em idade, gênero, raça/cor, etnia, crença, nacionalidade, orientação sexual,identidade de gênero, estado de saúde, condição socioeconômica, escolaridade, limitação física, intelectual, funcional eoutras.

As prefeituras devem implementar as políticas de saúde aplicando recursos próprios (mínimo de 15% de sua receita) e os

repassados pela União e pelo Estado. O valor per capta da população indígena adstrita em determinadomunicípio é contabilizado nos repasses financeiros da União e Estado.

Dessa forma, considerar o atendimento dos indígenas em contexto urbano pela rede municipal de saúde, não se trata denegar direitos, mas de reconhecer que o SUS é hierarquizado e descentralizado, havendo níveis de gestão e decompetência. Enquanto cidadãos brasileiros, aos indígenas deve ser garantido o acesso à atenção integral e diferenciadaà saúde em todos os níveis do sistema. Trata-se de reconhecer que o princípio da equidade em saúde aborda asespecificidades de cada segmento da população e que a implementação das diretrizes da PNASPI não se esgota ao SASI-SUS, mas deve ser fomentada e realizada em todos os níveis do Sistema.

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CONCLUSÕES

1. Considerando as responsabilidades dos municípios com relação às populações indígenas, oMS, através da SESAI/DSEI e da SAS, deve articular com o município de Redenção do Pará, comvistas a identificar a qual(is) território(s) da atenção básica do município os indígenas Atikumestão adstritos, qual equipe (equipe de saúde da família de atenção básica) é responsável poressa população, quais os motivos deles estarem em condições precárias de saúde e o que deveser feito para qualificar a atenção diferenciada a essa população, de acordo com as diretrizesda PNAB e PNASPI;

2. Que o DSEI continue atendendo a população na aldeia Umã, de acordo com o determinadono Parecer de Força Executória n°00191/2018/CODESP/PRU1R/PGU/AGU e envie adocumentação comprobatória, conforme instituído pela decisão em questão, registrando essapopulação no SIASI e incluindo no seu planejamento de ações. Deve ainda articular com omunicípio para uma atuação integrada com relação à atenção à saúde dessa população;

3. Que o município de Redenção do Pará seja inserido no processo movido pelo MinistérioPúblico da União, de forma que possa também prestar os esclarecimentos necessários, no quese refere a suas atribuições e competências.

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Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI)Ministério da SaúdeSRTV 702, Via W5 Norte, Edifício PO 700, 4º andar – Asa Norte, Brasília, DF. CEP 70723-040

Maial Paiakan KaiapóAdvogada

Assessoria técnica – [email protected]

Luana Silveira de FariaAnalista de Políticas [email protected]