distrofia miotÔnica tipo 1: estudo neuropsicolÓgico e...

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i HELENA REZENDE SILVA MENDONÇA DISTROFIA MIOTÔNICA TIPO 1: ESTUDO NEUROPSICOLÓGICO E DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA CEREBRAL CAMPINAS 2015

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i

HELENA REZENDE SILVA MENDONÇA

DISTROFIA MIOTÔNICA TIPO 1:

ESTUDO NEUROPSICOLÓGICO E DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

CEREBRAL

CAMPINAS

2015

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

Faculdade de Ciências Médicas

HELENA REZENDE SILVA MENDONÇA

DISTROFIA MIOTÔNICA TIPO 1:

ESTUDO NEUROPSICOLÓGICO E DE RESSONÂNCIA MAGNÉTICA

CEREBRAL

Tese apresentada à Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas como parte dos requisitos exigidos para a obtenção do título de Doutora em Ciências Médicas na área de Neurologia.

ORIENTADOR: PROFA. DRA. ANAMARLI NUCCI

CO-ORIENTADOR: PROF. DR. MARCONDES CAVALCANTE FRANÇA JUNIOR

ESTE EXEMPLAR CORRESPONDE À VERSÃO FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA HELENA REZENDE SILVA MENDONÇA, E ORIENTADA PELA PROFA. DRA. ANAMARLI NUCCI. ___________________________

CAMPINAS

2015

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Ficha catalográficaUniversidade Estadual de Campinas

Biblioteca da Faculdade de Ciências MédicasMaristella Soares dos Santos - CRB 8/8402

Mendonça, Helena Rezende Silva, 1973- M523d MenDistrofia miotônica tipo 1 : estudo neuropsicológico e de ressonância

magnética cerebral / Helena Rezende Silva Mendonça. – Campinas, SP : [s.n.],2015.

MenOrientador: Anamarli Nucci. MenCoorientador: Marcondes Cavalcante França Junior. MenTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de

Ciências Médicas.

Men1. Distrofia miotônica. 2. Ressonância magnética. 3. Encéfalo. 4.

Neuropsicologia. I. Nucci, Anamarli,1947-. II. França Júnior, MarcondesCavalcante,1976-. III. Universidade Estadual de Campinas. Faculdade deCiências Médicas. IV. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Myotonic dystrophy type 1 : neuropsychological and brain magneticresonance image studyPalavras-chave em inglês:Myotonic dystrophyMagnetic resonanceBrainNeuropsychologyÁrea de concentração: NeurologiaTitulação: Doutora em Ciências MédicasBanca examinadora:Anamarli Nucci [Orientador]Cláudia da Costa LeiteElmano Henrique Torres de CarvalhoAnelyssa Cysne Frota D'AbreuFabiano ReisData de defesa: 23-02-2015Programa de Pós-Graduação: Ciências Médicas

Powered by TCPDF (www.tcpdf.org)

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RESUMO

Objetivo. O estudo propôs-se a caracterizar as alterações neuropsicológicas, encefálicas e

da bioquímica cerebral em pacientes com Distrofia Miotônica tipo 1 (DM1) e correlacionar

as anormalidades encontradas aos parâmetros clínicos.

Métodos: Estudo descritivo em 13 pacientes com diagnóstico clínico, laboratorial e

genético de DM1, comparados a 14 controles saudáveis com correção para gênero, idade e

escolaridade. Avaliações realizadas: 1) clínica e neurológica com ênfase na quantificação

da força muscular (MRC) e escala MIRS (motor impairment ranting scale). 2) cognitiva

pelo Mini Exame do Estado Mental. 3) do humor pelo questionário de depressão de Beck.

4) psicométrica pela escala de inteligência de Wechsler para adultos (WAIS III). 5)

neuropsicológica compreendendo os testes: dominância manual; atenção e memória

operacional por dígitos direto e inverso e Stroop incongruente; percepção visuoespacial;

fluência verbal semântica; nomeação de Boston; praxia construtiva visuoespacial por cubo

de Kohs; aprendizado auditivo-verbal de Rey; memória visuoespacial 10/36. As imagens

cerebrais por ressonância magnética foram obtidas em aparelho de 2 Tesla, com aplicação

da: a) Morfometria baseada em voxels (VBM) para substância cinzenta e branca. b)

Espectroscopia de single voxel nas áreas frontal, temporoparietal e occipital, sendo

considerados os valores relativos de N-acetilaspartato (NAA), creatina total (creatina mais

fosfocreatina), colina e glutamato mais glutamina. Análise estatística não paramétrica foi

aplicada aos dados cognitivos e de espectroscopia e teste-t com duas amostras

independentes para dados de VBM.

Resultados e Conclusões. Nos pacientes (6 DM1-infantil e 7 DM1-clássico) com

moderada a grave afecção muscular (MIRS 3 a 5), o desempenho psicométrico pelo WAIS

III foi pior na escala verbal. Encontrou-se significativo acometimento da praxia com cubos

de Kohs e com o teste Stroop incongruente, não correlacionado ao desempenho motor, nos

pacientes. Não houve diferença significativa nos demais testes entre DM1 e controles. Na

VBM houve redução de substância cinzenta nos pacientes em regiões: 1) frontais com

predomínio à direita: giro frontal inferior, porções orbicular, triangular e opercular; giro

pré-central, giro frontal inferior e medial; 2) lobo límbico: giro para-hipocampal direito e

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giro cingulado bilateral (anterior e médio à esquerda e posterior à direita); 3) lobo temporal

esquerdo (giros médio e superior). Atrofia da substância branca ocorreu no corpo caloso

posterior, giro frontal medial e polo temporal medial à direita e uncus bilateral. Na

espectroscopia não houve diferença na concentração relativa de metabólitos, mas a redução

da concentração relativa de NAA temporoparietal teve forte correlação com maior tempo

gasto no teste de Stroop e com a atrofia da substância cinzenta temporal à esquerda. No

total, as alterações córtico-subcorticais identificadas no estudo mostraram relação com as

redes neurofuncionais referentes às alterações neuropsicológicas construtiva visuoespacial e

processo inibitório executivo, sugerindo que redes neuronais de integração

frontotemporolímbicas, sobretudo a rede frontolímbica, implicada na integração de

componentes visuais e tomada de decisão envolvendo inibição, possam estar envolvidas na

gênese das disfunções encefálicas deste grupo de pacientes DM1.

Palavras-chave:

1. Distrofia miotônica. 2. Ressonância magnética. 3. Encéfalo. 4. Neuropsicologia.

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ABSTRACT

Objective. The study aimed to characterize the neuropsychological, encephalic and

biochemical disorders in patients with Myotonic Dystrophy Type 1 (DM1) patients and

correlate abnormalities findings with clinical parameters.

Methods. A descriptive study in 13 patients with clinical, biochemical and genetic

diagnosis of DM1, compared to 14 healthy controls with correction for gender, age and

education. Evaluations conducted: 1) clinical and neurological evaluation with emphasis on

quantification of muscle strength (MRC) and MIRS scale (motor impairment ranting scale).

2) cognitive assessment by the Mini-Mental State Examination – MMSE. 3) Evaluation by

Beck depression inventory. 4) the psychometric evaluation by Wechsler Intelligence Scale

for Adults, third edition - WAIS III. 5) neuropsychological evaluation comprising the tests:

handedness dominance; attention and working memory by span digits forward and reverse

and incongruent version Stroop test; visuospatial perception; semantic verbal fluency;

Boston naming test; constructive visuospatial praxis by Kohs’ bloks; Rey auditory-verbal

learning test; visuospatial memory 10/36.test. 6) Brain magnetic resonance images (MRI)

evaluation by 2 Tesla scanner by. a) Voxel based morphometry (VBM) to gray and white

matter. b) single voxel spectroscopy in the frontal, temporoparietal and occipital areas,

being considered the relative values of metabolites: N-acetyl aspartate (NAA), total creatine

(creatine plus phosphocreatine), choline and glutamate plus glutamine. Non-parametric

statistical analysis was applied to cognitive and spectroscopy data and t-test with two

independent samples to VBM data.

Results and Conclusions. In patients (6 DM1-infantile and 7 DM1-classical) with

moderate to severe muscular disorder (MIRS 3-5), the psychometric performance by WAIS

III was worse on the verbal scale. It was found significant impairment of constructive

visuospatial praxis with Kohs’ bloks and the incongruent Stroop test, not correlated to

motor performance in patients. There was no significant difference in the other tests

between DM1 and controls. VBM results: gray matter atrophy in patients in the regions: 1)

frontal predominantly right: inferior frontal gyrus, orbicularis, triangular and opercular

areas; pre-central gyrus, inferior and medial frontal gyrus; 2) limbic lobe: right

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parahippocampal gyrus and bilateral cingulate gyrus (anterior and middle to left and

posterior to right); 3) left temporal lobe: middle and superior temporal gyri. Atrophy of the

white matter occurred in the posterior corpus callosum, medial frontal gyrus and medial

temporal pole to right and bilateral uncus. In spectroscopy there was no difference in the

relative concentration of metabolites, but temporoparietal NAA was correlated with poorer

performance on the Stroop test and the atrophy of the left temporal gray matter. In total, the

cortico-subcortical changes identified in the study showed a relationship with the

neurofunctional networks related to neuropsychological visuospatial constructive and

executive inhibitory process disorders, suggesting that neuronal networks of fronto-

temporo-limbic integration, particularly the frontal-limbic network, involved in integration

of visual components and decision making involving inhibition, may be involved in the

genesis of brain dysfunction in this group of DM1 patients.

Key words:

1. Myotonic dystrophy. 2. Magnetic resonance. 3. Brain. 4. Neuropsychology

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SUMÁRIO

DEDICATÓRIA xiii

AGRADECIMENTOS xv

EPÍGRAFE xvii

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xix

LISTA DE FIGURAS xxi

LISTA DE TABELAS xxiii

1. INTRODUÇÃO 1

2. REVISÃO DA LITERATURA 3

3. OBJETIVOS 21

4. MÉTODOS 23

5. RESULTADOS 43

6. DISCUSSÃO 71

7. CONCLUSÕES 99

8. REFERÊNCIAS 101

9. ANEXOS 119

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Por acreditar que todos os caminhos

percorridos devem ser partilhados para facilitar aos

que seguem depois de nós, dedico esta obra aos meus

alunos, que sempre me instigam a aprender mais e à

minha família que colhe os frutos de um bom exemplo.

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Agradecimentos

As pessoas a quem devo agradecer são muitas, como professores, funcionários,

pacientes, voluntários da pesquisa e colegas de pós-graduação da UNICAMP. A todos a

minha sincera gratidão.

Entretanto, algumas pessoas deixaram suas marcas de forma profunda na

minha difícil caminhada até a conclusão deste trabalho. Assim agradeço de forma

especial.

À amiga Dra. Clarissa Yasuda por me mostrar o caminho.

À Profa. Dra. Anamarli Nucci por continuar acreditando e apoiando apesar

das dificuldades.

Ao Prof. Dr. Fernando Cendes, muito obrigada por me ajudar a cuidar de algo

tão precioso...

Ao Prof. Dr. Benito pela sua contribuição.

À Profa. Dra. Gabriela Castellano e ao Dr. Guilherme Côco Beltramini que me

mostraram que conhecimento, eficiência, prestatividade e simplicidade podem e devem

andar juntas. Jamais me esquecerei.

Aos amigos do Laboratório de Neuroimagem, especialmente Luciana e

Matheus, como foi boa a troca de conhecimentos e a partilha das angústias.

À Marina Weiler agradeço de forma especial por me ajudar a resolver o

dilema que tanto me assolou em todo o caminho e pelas demais dicas preciosas.

À amiga Lidiane Campos por me acolher em seu lar.

Aos amigos Marcondes e Andrea que sempre me apoiaram.

À minha família, meu grande esteio, não tenho palavras para agradecer.

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À Vilda e Jorge, meus anjos protetores.

À Deus e sua mãe, minha intercessora Nossa Senhora, sempre desatando os

piores nós e passando na frente de todos os problemas.

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xvii

“Procuro semear otimismo e plantar

sementes de paz e justiça. Digo o que penso, com

esperança. Penso no que faço, com fé. Faço o que

devo fazer, com amor. Eu me esforço para ser cada

dia melhor, pois bondade também se aprende.

Mesmo quando tudo parece desabar, cabe a mim

decidir entre rir ou chorar, ir ou ficar, desistir ou

lutar; porque descobri, no caminho incerto da vida,

que o mais importante é o decidir.”

Cora Coralina, 1889-1985

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1H-MRS Espectroscopia de prótons (magnetic resonance spetroscopy)

BA Área de Brodmann

Cho Colina (glicerofosfocolina mais fasfocolina)

Cho/Cre Concentração relativa de Cho em relação à creatinina

CLEF CUGBP/ETR-3-like factors

CMP Córtex Medial Posterior

CNS Central nervous system

Cre Creatina total (creatina mais fosfocreatina)

CTG Tri nucleotídeo citosina-timina e guanina

CUG Trinucleotídeo citosina-uracila-guanina

DLPFC Córtex pré frontal dorso lateral

DM Distrofia Miotônica

DM1 Distrofia Miotônica tipo 1 (de Steinert)

DM1-clássica Distrofia Miotônica tipo 1 forma juvenil e adulta, dita clássica

DM1-congênito Distrofia Miotônica tipo 1 forma congênita

DM1-infantil Distrofia Miotônica tipo 1 forma infantil

DM2 Distrofia Miotônica tipo 2

DMm Distrofia miotônica de herença materna

DMp Distrofia miotônica de herença paterna

DMPK Distrofia miotônica proteinoquinase

DMWD Dystrophia myotonica-containing WD repeat motif

DNA Acido desoxirribonucleico

DTI Imagem de tensor de difusão

EMG Eletromiografia

ENMG Eletroneuromiografia

FDG-PET Tomografia com emissão de pósitron marcada com F-deoxi-glicose

FOV Field-of-view

Glx Glutamato mais glutamina

Glx/Cre Concentração relativa de Glx em relação à creatinina

MBNL Muscle blind-like

MEEM Mini Exame do Estado Mental

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MIRS Escala de incapacidade motora (muscle impairment rating scale)

MNI Montreal Neurological Institute

MRC Medical Research Council

MT Tranferência de magnetização

NAA N-acetilaspartato mais N-acetilaspartato glutamato

NAA/Cre Concentração relativa de NAA em relação à creatinina

PRESS Point resolved spectroscopy

PROMM Miopatia Miotônica Proximal

QDB Questionário de depressão de Beck

QI Coeficiente de inteligência

RM Ressonância Magnética

RMc Ressonância Magnética Cerebral

RNA Ácido ribonucleico

RNAm Ácido ribonucleico mensageiro

RNAt Ácido ribonucleico transportador

ROI Região de interesse (Region of interest)

SB Substância branca

SC Substância cinzenta

SIX5 Sine oculis homeobox (Drosophila) homólogo 5

SNC Sistema Nervoso Central

SNR Sinal ruído

SPECT Single-photon emission computed tomography

STI Stroop incongruente

TA Tempo de aquisição

TAAVR Teste de Aprendizado Auditivo-verbal de Rey

TCc Tomografia Computadorizada de Crânio

TE Tempo de eco

TR Tempo de repetição

VBM Morfometria baseada em voxel

WAIS III Escala de Inteligência de Wechsler para Adultos, 3ª edição

WMS-R Escala de memória de Wechsler (Wechsler memory scale) revisado.

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xxi

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Quatro figuras do teste de Kohs usadas na pesquisa. 33

Figura 2: Imagens mostrando a localização dos voxels da espectroscopia. 36

Figura 3: Exemplo dos principais picos dos metabólitos identificados pela espectroscopia

em um controle. 38

Figura 4: Comparação de morfologia de substância cinzenta entre controles e pacientes com

DM1. Áreas em destaque mostram regiões atróficas em pacientes. 51

Figura 5: Comparação de morfologia de substância cinzenta entre controles e pacientes com

DM1. Áreas em destaque mostram regiões de “aumento” em pacientes. 54

Figura 6: Comparação de morfologia de substância branca entre controles e pacientes com

DM1. Áreas em destaque mostram regiões atróficas em pacientes. 56

Figura 7: Comparação de morfologia de substância branca entre controles e pacientes com

DM1. Área em destaque mostra região de “aumento” em pacientes. 58

Figura 8: Correlação entre a idade dos pacientes e o volume de substância cinzenta do giro

temporal superior esquerdo (SC6) pela VBM. 61

Figura 9: Correlação entre o volume de substância cinzenta do giro frontal medial direito

(SC8) dos pacientes e os escores do teste de aprendizado auditivo verbal de Rey A7

(TAAVR A7). 63

Figura 10: Correlação entre o valor relativo do NAA temporoparietal com o escore do teste

de Stroop incongruente por tempo em segundos (s). 65

Figura 11: Correlação entre o valor relativo do NAA temporoparietal com o volume da

substância cinzenta do giro temporal superior (SC11). 66

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Subtestes do WAIS-III agrupados em escalas verbal e de execução. 29

Tabela 2: Subtestes do WAIS-III agrupados por índices fatoriais. 29

Tabela 3: Distribuição dos testes para composição das escalas e dos índices fatoriais. 30

Tabela 4: Dados sociodemográficos dos voluntários da pesquisa. 43

Tabela 5: Idade de início dos sintomas e duração da doença na amostra de pacientes. 44

Tabela 6: Escala de classificação do comprometimento muscular - MIRS. 44

Tabela 7: Número de pacientes conforme desempenho nos índices primários WAIS III. 45

Tabela 8: Número de pacientes conforme desempenho nos subtestes primários WAIS III.46

Tabela 9: Resultados dos testes de coeficiente de inteligência do WAIS III nos pacientes

DM1. 47

Tabela 10: Estatística descritiva do questionário de depressão de Beck. 49

Tabela 11: Estatística dos testes neuropsicológicos. 50

Tabela 12: Áreas de alteração significativa para atrofia da substância cinzenta em pacientes

DM1 identificadas por análise de VBM. 52

Tabela 13: Áreas de alteração significativa para “aumento” de substância cinzenta em

pacientes com DM1 identificadas por análise de VBM. 53

Tabela 14: Áreas de alteração significativa para atrofia de substância branca em pacientes

com DM1 identificadas por análise de VBM. 55

Tabela 15: Área de alteração significativa para “aumento” de substância cinzenta em

pacientes com DM1 identificada por análise de VBM. 57

Tabela 16: Análise estatística das espectroscopias com amostras independentes. 59

Tabela 17: Testes neuropsicológicos com respectivas funções corticais requeridas e áreas

de Brodmann envolvidas no processamento complexo. 67

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1

1 INTRODUÇÃO

Distrofia Miotônica (DM), tipo 1 (DM1) é doença de manifestações sistêmicas,

com repercussões: na musculatura esquelética, cardíaca e lisa; oculares; endócrinas;

dermatológicas; osteo-articulares; pulmonares; nos nervos periféricos e no sistema nervoso

central. O fenótipo característico inclui face com ptose, redução das musculaturas

temporomandibular, e esternocleidomastóideos; palato ogival, calvície frontal precoce,

fraqueza distal progressiva, miotonia e catarata (Harper, 1988; 2001; Pfeilsticker, 2002;

Udd et al., 2006; Gagnon et al., 2010)1, 2, 3, 4, 5. Entretanto, os sinais e sintomas

neuromusculares são muito limitantes, com repercussões biopsicossociais e constituem a

expressão mais conhecida da doença. O comprometimento cerebral, especialmente quanto à

sua relevância, topografia de possíveis disfunções, repercussões neuropsicológicas e na

qualidade de vida é bem menos conhecido e dimensionado.

A DM1 não possui estudos que confirmem sua incidência e prevalência no Brasil.

Entretanto, está longe de ser uma doença rara. As distrofias miotônicas em 1976, num

levantamento retrospectivo de 15 anos, representaram 4% de todas as doenças

neuromusculares acompanhadas no Hospital das Clínicas da Universidade de SP- USP

(Levy et al., 1976)6. Seu caráter autossômico dominante, associado à baixa mortalidade

antes da idade fértil, torna-a recorrente em serviços de doenças neuromusculares. A grande

variação sintomática multissistêmica, com pacientes oligossintomáticos, pode contribuir

com a sua perpetuação, uma vez que esses casos, com certa frequência, não são

reconhecidos, retardando o diagnóstico em algumas famílias.

O conhecimento acerca das manifestações encefálicas e suas correlações clínicas

vêm aumentando ao longo dos anos. Isso motivou um encontro em maio de 2013 que

resultou no consenso sobre envolvimento cerebral na distrofia miotônica. Muitas dúvidas

pairam sobre o significado de biomarcadores do SNC, como as lesões hiperintensas da

substância branca (SB) na neuroimagem e sua correlação com anormalidades cognitivas, ou

ainda o aumento de proteína tau-total no liquor. A falta de correspondência entre as

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2

alterações de SB e as lesões, em sequências ponderadas T2, sugerem anormalidades

microestruturais, mas o significado neurofuncional e anatômico que isso possui não estão

claros (Bugiardini e Meola, 2014)7.

O pouco conhecimento do envolvimento do SNC na clínica da DM1 pode levar a

erro diagnóstico e seus consequentes agravos ao paciente, como recente caso publicado

(Caixeta et al., 2014)8. Na década de 90 dois estudos brasileiros avaliaram alterações

neuropsicológicas em pacientes com DM (Wigg and Duro, 1995; 1999) 9, 10. Em estudo de

medidas craniométricas foi encontrado sinais de atrofia cerebral à custa de alterações de

substâncias branca e cinzenta, assim como alterações psicométricas (Mendonça, 2010)11.

Pelo exposto, este estudo buscou aprofundar a avaliação do perfil neurocognitivo e

alterações encefálicas em um grupo de pacientes brasileiros portadores de DM1, a fim de

verificar se nossa amostra teria alterações semelhantes à descrita na literatura, ou

possuiriam alguma peculiaridade, visto não haver estudo desta natureza na América Latina.

Assim esperamos contribuir para o manejo da DM1, auxiliando no planejamento dos

cuidados aos pacientes, dentro de nossa realidade sociocultural.

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2 REVISÃO DA LITERATURA

Classificação e epidemiologia

Com a contribuição da Genética Molecular sabe-se que sob o título de Distrofia

Miotônica (DM) está um grupo heterogêneo de doenças, com pelo menos dois subtipos:

1. DM de Steinert ou DM1 (OMIM: 160900).

2. DM proximal, também conhecida como PROMM ou DM2 (OMIM: 602668).

A DM1 é uma doença hereditária autossômica dominante, sendo a distrofia

muscular mais frequente do adulto, com incidência estimada de 1 para cada 7000 a 8000

nascimentos; prevalência entre 2,1 e 14,3 por 100.000 indivíduos na população mundial. A

sua denominação como doença de Steinert ocorre por ter sido este autor, com auxílio de sua

equipe, o primeiro a caracterizar a doença em 1909, apesar de que, neste mesmo ano,

Batten e Gibb publicaram casos de DM os quais denominaram de doença de Thomsen

atípica (Harper, 2001; Ekström, 2009; Gagnon et al., 2010; Meola e Cardani, 2014)2, 12, 5,13.

O defeito genético responsável pela afecção foi identificado em 1992, por três

grupos independentes (Aslanidis et al., 1992; Buxton et al., 1992; Harley, Brook, et al.,

1992)14, 15, 16, como sendo uma expansão do tri nucleotídeo CTG na região 3’ (exon, não

traduzido) do gene proteinaquinase da distrofia miotônica (DMPK; OMIM: 605377) no

cromossoma 19 (locus 19 q13.2- 13.3). Logo em seguida, vários trabalhos apresentando

este mecanismo foram publicados (Brook et al., 1992; Harley, Rundle, et al., 1992;

Mahadevan et al., 1992; Zatz et al., 1997)17, 18, 19, 20. A alteração molecular afeta o processo

de splicing do RNA transcrito originando fragmentos anormalmente longos de (CUG)n,

que ficam retidos no núcleo celular e sequestram fatores de transcrição. Isto leva a

alterações da expressão de diversos genes reguladores não relacionados, comprometendo a

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síntese de proteínas em vários tecidos e levando às manifestações sistêmicas (Gatchel e

Zoghbi, 2005; Van Engelen e De Leeuw, 2010; Meola e Cardani, 2014)21, 22, 13.

Estudos têm estabelecido a relação entre o tamanho da expansão de tri nucleotídeos

CTG no gene DMPK e a gravidade da doença (Hunter et al., 1992; Novelli et al., 1993;

Passos-Bueno et al., 1995; Marchini et al., 2000)23, 24, 25. Na população normal o número de

cópias CTG varia de 05 a 37 tripletos. Nos pacientes com DM1 a repetição está acima de

50 cópias, podendo ser encontradas mais de 1000 cópias nas formas congênitas (Brunner et

al., 1992; Lavedan et al., 1993; Zatz et al., 1997; Meola e Cardani, 2014)26, 27, 20, 13.

O acometimento muscular é bastante característico, embora muito variável, assim

como é variável a idade de início dos sinais e sintomas, devido às diferenças de penetrância

gênica e ao fenômeno de antecipação. Em consequência, por vezes é difícil precisar a data

de início da doença. Apesar disso, a DM1 tem sido classificada nas seguintes formas

(Mathieu et al., 1992; Brunner et al., 1997b)28, 29:

1. DM congênita, manifesta ao nascimento ou nos primeiros dias de vida;

2. DM infantil: idade de início abaixo de 10 anos;

3. DM juvenil e do adulto, ou “clássica”, idade de início entre 10 e 50 anos;

4. DM com mínimos sintomas e início acima de 50 anos.

Patogênese da DM1

A busca pela compreensão do mecanismo pelo qual a expansão de uma região não

codificadora do DNA promove alterações sistêmicas nos indivíduos, resultou em três

modelos:

1. Haploinsuficiência.

Neste modelo, o alelo mutante com a expansão CTG é transcrito em RNA

mensageiro (RNAm) contendo a expansão CUG, mas este fica retido no foci nuclear de

inibição do transporte núcleo-citoplasmático, resultando na redução da tradução da

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proteína DMPK no ribossomo citoplasmático e consequente redução da proteína na célula

do indivíduo. Isso contribui para ocorrência das manifestações musculares, especialmente

musculoesqueléticas e cardíacas, regiões onde esta proteína é predominantemente

transcrita, mas não explica outras manifestações da doença (Furling et al., 2001; Furling et

al., 2003)29, 30.

2. Expansão CTG mutante interferindo na expressão de genes adjacentes.

A expansão CTG mutante pode alterar a estrutura da cromatina levando a sua

condensação, mecanismo que alteraria a transcrição do gene DMPK e de seus genes

vizinhos sine oculis homeobox (Drosophila) homólogo 5 (SIX5) e distrofia miotônica-

contendo repetição motivo WD (dystrophia myotonica-containing WD repeat motif -

DMWD), como este último gene também é expresso no cérebro, esse mecanismo explica

em parte os sintomas cerebrais na DM1 (Frisch et al., 2001; Ekström, 2009)31, 12.

3. Ganho tóxico de função pelo RNA mutante.

As expansões CUG transcritas que ficam retidas no núcleo da célula formam

espécies de grampos, sendo que quanto maior a expansão, mais estáveis serão estas

estruturas. Ocorre então, a desregulação do splincing do RNAm, comprometendo a

remoção dos introns do pré-RNAm, na transcrição primária, para ligação dos exons. A

muscle blind-like (MBNL) e a CUGBP1/ETR-3-like factors (CELF) são proteínas

reguladoras que sofrem alterações em suas concentrações e levam a inclusões ou omissões

no processo de splicing do RNAm. Esse mecanismo é capaz de explicar desde as alterações

embrionárias, até as da forma adulta, sendo considerado o principal processo patogênico na

DM1 (Ekström, 2009; Udd e Krahe, 2012)12, 32.

Entretanto, a identificação de novas proteínas expressas no tecido neural, incluindo

a conexão neuromuscular, como as SLITRK, associadas a alterações neuríticas, ampliaram

a compreensão de como o SNC pode ser afetado na DM1. Como exemplo, seis proteínas

transmembranas que se assemelham a família Slit de fatores de crescimento axonal e

receptores da neurotrofina trk denominadas SLITRK4 tem sua expressão reduzida depois da

diferenciação das células precursoras neurais, como mostrou um estudo com células

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humanas embrionárias com mutação para DM1 (Mahadevan, 2011; Marteyn et al., 2011)33,

34.

O mecanismo molecular de interferência do RNA transcrito na atividade ou nível de

expressão de proteínas reguladoras, como a muscleblind-like 2 (MBNL2), apresenta um

importante papel no envolvimento do SNC (Bugiardini e Meola, 2014)7.

A alteração no gene de ligação do canal de cloro é outra base molecular de alteração

possível (Bugiardini e Meola, 2014)7.

Estudo com autópsias apresentaram degeneração neurofibrilar com predominância

amigdalo-temporo-insular. Além disso, a presença de agregados poliamina criados pelo

RNA traduzido sugerem um mecanismo semelhante a outras doenças degenerativas

(Bugiardini e Meola, 2014)7.

Das alterações psíquicas e cognitivas na DM1

Na descrição original de Steinert, em 1909, o autor relatou distúrbios do

comportamento e declínio intelectual em seus pacientes [Steinert et al., 1909 apud

(Bungener et al., 1998)]35. Desde então, vários estudos apresentaram resultados distintos

ou pouco consistentes acerca das alterações psicocognitivas na DM1. Talvez por adotarem

metodologias diversas, sendo que alguns, mais antigos, que não contavam com

confirmação genética da doença, podem ter agrupado, sob um mesmo nome, tipos

diferentes de miotonia numa mesma análise. Em alguns artigos, a inclusão de casos da

forma congênita de DM1 nas análises, pode ter levando a bias nos resultados. Entretanto,

apesar de suas limitações, alguns estudos mais antigos necessitam ser revisados pela sua

relevância.

Estudos das últimas décadas demonstram elevadas percentagens de alterações em

testes comportamentais e psicométricos e enfatizam alterações mentais, expressas por

sintomas como apatia, inércia, indiferença aos sintomas da doença, relutância em procurar

assistência médica, negativismo e depressão. Menos frequentemente, hiperirritabilidade,

agressividade e manifestações esquizoides, paranoides, hipomaníacas e histeriformes

foram encontradas (Brumback e Wilson, 1984)36.

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Para alguns pesquisadores, o grau de comprometimento intelectual se correlaciona

com a gravidade da doença muscular (Bird et al., 1983; Marchini et al., 2000)37, 38,

enquanto outros não encontraram correlação entre as duas variáveis (Woodward et al.,

1982; Huber et al., 1989)39, 40.

Os distúrbios cognitivos mais frequentes observados por Bird et al., 1983 e Huber et

al., 1989, foram nas áreas de cálculo, memória imediata e orientação visuoespacial. A

linguagem raramente esteve alterada.

Palmer et al. avaliaram o desempenho cognitivo de pacientes com DM, sendo que

sete receberam o gene anômalo via materna e 14 paterna, comparados a dez controles.

Ambos tiveram lentidão no processamento da informação, mas apenas os que receberam o

gene via materna tiveram medidas de inteligência, construção visuoespacial e algumas

medidas de funcionamento frontal anormais. Na avaliação da personalidade os autores

perceberam alta incidência de dependência e sintomas depressivos, inclusive entre os que

receberam o gene via paterna (Palmer et al., 1994)41.

Alterações da capacidade intelectual e deficiências visuoespaciais graves foram

observadas em pacientes brasileiros com DM nos estudos de Wigg e Duro (Wigg e Duro,

1995; 1999)9, 10.

Correlação entre a gravidade das alterações cognitivas em 17 DM1 adultos e o

tamanho da expansão CTG foi descrita por Perini et al. que compararam este grupo a seus

parentes não afetados e a pacientes com atrofia muscular espinhal e a controles normais.

Usaram o WAIS e a escala de desordem afetiva e esquizofrenia (SADS) como

instrumentos e avaliação neurofisiológica pelo P300. O P300 teve menor amplitude nos

DM1 (Perini et al., 1999)42. Em outro estudo, com DM1-congênita, não houve correlação

entre as anormalidades clínicas e os dados de neuroimagem por ressonância magnética

cerebral (RMc) com o tamanho da expansão CTG (Martinello et al., 1999)43.

Sistiaga et al. examinaram 121 adultos com diagnóstico genético de DM1 e 54

controles, através de testes neuropsicológicos abrangentes. Verificaram o perfil de suas

personalidades, com o inventário multiaxial Millon Clinical (MCMI)-II (incluindo WAIS

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III, Wisconsin Card Sorting Test- WCST, Matrises progressivas de Raven para dedução

visual e fluência verbal semântica e fonética, teste Benton judgment of line orientation-

BJLOT, figuras complexas de Rey e Califórnia computerized assessment package) e

utilizaram teste de aprendizado auditivo verbal de Rey (TAAVR) para verificar a memória

auditiva imediata e evocada. Analisando os dados por modelo de regressão linear múltipla

verificaram importante comprometimento dos pacientes nos testes de medidas de funções

executivas, especialmente inflexibilidade cognitiva, e nas habilidades visuoconstrutivas. As

personalidades paranoides e agressivas predominaram, sendo que todas as alterações

observadas foram inversamente proporcionais ao número de expansões e diretamente

relacionados à sonolência diurna. Os autores sugeriram que o lobo frontoparietal poderia

ser predominantemente afetado (Sistiaga et al., 2010)44.

A avaliação do comprometimento cognitivo dos pacientes DM1 através do Mini

Exame do Estado Mental (MEEM), apesar de apresentar escores dentro dos valores

normais para escolaridade, foram menores que os dos seus controles pareados conforme

estudos e revisões realizadas com este instrumento (Meola e Sansone, 2007; Mendonça,

2010). Entretanto o WAIS III e MEEM indicaram alterações cognitivas quanto à orientação

espacial, cálculo, senso comum e juízo social (Mendonça 2010)11.

Em estudo de qualidade de vida com o SF-36, Antonini et al. observaram grande

comprometimento do DM1 nos domínios físico e mental (Antonini et al., 2006)45.

Entretanto, em outro estudo usando a mesma ferramenta e comparando com controles

pareados, houve significativo comprometimento no domínio físico dos pacientes e não no

mental (Mendonça, 2010)11. Recentemente, um significativo impacto do comprometimento

cognitivo e comportamental na qualidade de vida de pacientes DM1 formas juvenil e adulta

foi descrito utilizando-se escala de depressão e ansiedade de Hamilton, escala de sonolência

diurna, escala de gravidade de fadiga de Krupp, bateria automatizada de testes

neuropsicológicos de Cambrige e questionário neuromuscular individualizado de qualidade

de vida (Rakocevic-Stojanovic et al., 2014)46.

Van Engelen e Leeuw alertaram para a insuficiente importância dada ao cérebro na

DM1 e DM2. Reforçam que, embora os mecanismos moleculares da doença venham sendo

desvendados, os mecanismos de comprometimento da função mental na DM1 ainda não

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são conhecidos. Salientam que o comprometimento da função mental tem sido relatado

principalmente na forma congênita e juvenil da DM1. No primeiro caso, predomina a

hipotonia generalizada, desconforto respiratório ao nascimento, bem como atraso no

desenvolvimento motor e retardo mental grave, enquanto na DM-juvenil os problemas

emocionais e comportamentais precedem os musculares. Quando o início da doença ocorre

no adulto, são comuns a sonolência diurna, fadiga e comprometimento das funções

executivas, sugerindo envolvimento das áreas frontais do cérebro (Van Engelen e De

Leeuw, 2010)22.

A associação entre a teoria da mente (importante componente do funcionamento

cognitivo social referente à capacidade de atribuir intenção a outros indivíduos, colocando-

se em seu lugar) e o comprometimento cognitivo social em pacientes DM1 foi identificada

em um estudo com DM1 (Kobayakawa et al., 2012)47.

Douniol et al. investigaram o fenótipo psiquiátrico e cognitivo na DM –infantil por

testes de inteligência geral, atenção visual e habilidade construtiva visuoespacial em

pacientes entre 7 a 24 anos de idade. Registraram pior desempenho do QI de execução,

fobias, distúrbios do humor e ansiedade, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade

(subtipo desatenção), alexitimia (inabilidade de expressar sentimentos com palavras e

reconhecer e dividir as emoções). Grave disfunção na atenção visual e habilidade

visuoconstrutiva se relacionaram a maior expansão CTG (Douniol et al., 2012)48.

O consenso sobre envolvimento cerebral na DM reforça que as disfunções cognitivas

e psiquiátricas estão presentes em todas as formas de DM1 em diversos níveis de

intensidade. Entretanto, pacientes adultos e crianças tem déficits seletivos envolvendo

habilidades visuoespaciais e funções executivas. Enquanto na DM1 congênita predominam

disfunções mais graves como retardo mental (Bugiardini e Meola, 2014)7. Retardo mental,

mais frequente na forma congênita da doença, não é raro também em pacientes que

apresentam a forma infantil da doença.

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A depressão na DM1

Bungener et al. revisaram o acometimento emocional e psicopatológico de 15

pacientes com DM1 e compararam com 11 de distrofia face-escapulo-umeral e 14 controles

saudáveis. Concluíram que não houve depressão e ansiedade significativas na DM1, mas

que o déficit emocional dos mesmos pode ser tanto por uma resposta adaptativa quanto por

comprometimento do SNC (Bungener et al., 1998)35. Phillips utilizou o questionário de

depressão de Beck (QDB) e concluiu que o mesmo pode ser contaminado pela limitação

física da DM1 (Phillips et al., 1999)49. Já outros autores não encontraram maior incidência

de depressão em pacientes DM1 comparados a controles (Rubinsztein et al., 1998; Meola e

Sansone, 2007; Mendonça, 2010)50, 51, 11.

A sonolência na DM1

Phillips et al afirmaram que a sonolência há muito tem sido associada com DM. A

primeira referência publicada sobre isso foi em 1916 por Rohrer, que observou a apatia, a

sonolência excessiva e falta de motivação. Em 1961 Phemister e Small relataram quatro

casos de hipersonia em DM embora um caso tenha sido complicado por bronquiectasias e

outro por coarctação da aorta. Apesar de a ptose, fácies miopática e fala disártrica

observados na DM poderem dar uma falsa impressão de sonolência e, portanto,

superestimar a verdadeira dimensão do problema; uma variedade de fatores, incluindo

estado afetivo, respiratórios, fraqueza muscular esquelética generalizada, anormalidades

centrais e periféricas do controle respiratório e no despertar podem estar associadas à

sonolência na DM1 (Phillips et al., 1999)49.

Marco importante no conhecimento dos distúrbios do sono na DM1 é o estudo de

Laberge et al. em 43 pacientes com confirmação genética e com comprometimento

muscular classificado pela escala de incapacidade motora (MIRS), os quais não estavam em

uso de medicamentos que afetassem o sono. Esses autores abordaram a sonolência diurna

pela escala Epworth, Sleep Questionnaire and Assessment of Wakefulness e usaram também

o Symptom Check-List-90-Revised, subescala de depressão e o WAIS. Os pacientes

realizaram exames de polissonografia, teste de latências múltiplas do sono e função

respiratória e confirmaram alta prevalência de sonolência diurna (sem correlação com

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Epworth) e grave apneia do sono (Laberge et al., 2009)52. Mendonça et al. utilizaram a

escala de sonolência Epworth e não obtiveram diferença na percepção de sonolência diurna

entre pacientes e controles (Mendonça, 2010)11.

A sonolência diurna é uma queixa muito comum na DM1, ocorrendo em cerca de

90% dos casos. A escala de Epworth e o teste de múltiplas latências do sono são alterados

em até 70% dos casos. Pacientes com alteração nos escores de sonolência tem maiores

níveis de depressão quando comparados aos pacientes sem alteração nos escores.

Comprometimento da qualidade de vida, com interferência no trabalho, vida diária e social

tem sido relacionados à sonolência diurna. A síndrome de desordem respiratória

relacionada ao sono pode ser encontrada na DM1 e tem associação com altos índices de

apneia, necessitando de apoio ventilatório em casos específicos. O acompanhamento da

sonolência, a investigação e tratamento fazem parte do manejo adequado da DM1 (Laberge

et al., 2013)53.

Estudos com imagem

Bird et al., 1983, avaliaram 29 pacientes com diagnóstico clínico e eletromiográfico

de DM, através do WAIS (em um caso o WISC), escala de Shipley-Hartford, Minnesota

Multiphasic Personality Inventory (MMPI) e tomografia computadorizada cerebral (TCc),

sendo que apenas o MMPI foi aplicado em todos os pacientes e repetido ao longo de 19

anos. Os pacientes foram divididos em cinco grupos, conforme a incapacidade física, e

avaliados por sexo e tipo de herança (paterna ou materna). Os resultados, pelo WAIS,

mostram função cognitiva significativamente menor nas mulheres, com ênfase no escore

verbal e de execução, entretanto, esta diferença não ocorreu pelo Shipley, no escore verbal

e abstrato. Houve 36% do grupo com desempenho abaixo da média (<80) e 7% acima

(>120), entretanto, pela média do grupo todo, não houve diferença significativa com o

normal. Pacientes com herança materna apresentaram significativo pior desempenho, sendo

as avaliações voltadas à parte verbal, as de melhor desempenho. Houve correlação direta e

significativa entre o grau de incapacidade motora e o desempenho cognitivo. Em 19

pacientes foi observado sinais de atrofia em diferentes graus. O acompanhamento

longitudinal foi conseguido em 5 pacientes e não mostrou alteração cognitiva importante ao

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longo do tempo. Distúrbio de personalidade leve ocorreu em 24% e importante em 32%,

enquanto 44% dos pacientes não apresentaram distúrbio (Bird et al., 1983)37.

Avrahami et al., que em 1987 utilizou a tomografia computadorizada do crânio (TCc)

e descreveu atrofia cerebral e espessamento da calota craniana, em regiões frontal,

temporal e occipital em 17 pacientes com diagnóstico clínico. A redução nas medidas da

área cerebral foi de 15 a 17 % em diferentes níveis. Pela associação do aumento de volume

dos ventrículos e redução do conteúdo cerebral os autores sugeriram microcefalia

(Avrahami et al., 1987)54.

A utilização da RMc, por ser um instrumento capaz de evidenciar melhor as

alterações encefálicas de forma não invasiva, vem se tornando uma forte aliada nos estudos

sobre este assunto. Foram evidenciados, em alguns casos, atrofia cerebral, espessamento da

calota craniana, sobretudo frontal; lesões focais na substância branca, principalmente

periventriculares, e aumento de sinal em T2 nos lobos temporais (Huber et al., 1989)40.

Neste estudo, não houve correlação entre o grau de atrofia cerebral e o grau de

acometimento intelectual, mas espessamento da calota craniana, anormalidades focais da

substância branca e anormalidades no lobo temporal anterior foram significantemente mais

comuns nos pacientes com problemas cognitivos mais intensos.

Nos estudos de Glantz et al. foram evidenciados dilatação ventricular moderada ou

intensa e aumento do sinal em regiões periventriculares, em imagens ponderadas em T2

(Glantz et al., 1988)55.

Censori et al. avaliaram pacientes com DM pareados a controles por sexo e idade.

Utilizaram RMc para verificar o tamanho, número e distribuição das lesões de substância

branca. Verificaram que 84% dos pacientes tinham lesões hiperintensas na substância

branca, distribuídas em todos os lobos cerebrais e sem predomínio de hemisfério.

Ressaltaram que 28% tinham lesões particulares do lobo temporal que pareciam mais

características da doença. Em corte coronal sobre o forâmen de Monro realizaram medidas

de atrofia cerebral e constataram que os pacientes tinham atrofia cortical significante, mas

que não se relacionavam com as lesões de substância branca. Não houve correlação das

alterações cerebrais com idade, duração da doença, inabilidade física ou da gravidade do

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comprometimento neuropsicológico (Censori et al., 1994)56. Em 2010, estudo com medidas

manuais e inspeção visual, com protocolo semelhante ao de Censori et al., mostrou: atrofia

cerebral, expressa pelo significativo alargamento dos ventrículos e aumento da frequência

do espaço de Virchow-Robin, sobretudo no tronco encefálico, e alta prevalência de alterações

em substância branca, com significância nas lesões parietais esquerdas dos pacientes com a

forma infantil de DM1 (Mendonça 2010)11.

Chang et al. estudaram 22 DM com diagnóstico clínico, por EMG e história familiar,

separando-os em 11 de herança paterna (DMp) e 8 de materna (DMm) e realizaram teste

neuropsicológico, RMc e SPECT, comparando-os a 10 controles. Encontrou significativa

redução no QI e fluxo cerebral dos pacientes em relação aos controles, sendo pior o

desempenho dos DMm. A região de menor fluxo foi o córtex de associação fronto-

têmporo-parietal (Chang et al., 1993)57.

Miaux et al. estudaram 13 pacientes com DM (diagnóstico por história familiar,

clínica, EMG, exame de lâmpada de fenda e confirmação genética), excluíram a forma

congênita, sendo pareados por sexo e idade com controles normais. Realizaram RMc e

avaliação cognitiva por matrizes progressivas padrão de Raven, verificando hipersinal em

T2 na, substância branca em 70% dos casos, sendo a maior parte destes na região anterior

do lobo temporal, entretanto não viram associação convincente de déficit intelectual nesta

amostra (Miaux et al., 1997)58.

Ogata et al. estudaram 12 pacientes DM com diagnóstico clínico e por EMG,

comparados a dez controles normais pareados por idade, usando RMc e MEEM. Revisaram

também a autópsia de um destes pacientes. Verificaram da mesma forma que Miaux et al.,

lesão na substância branca da região anterior do lobo temporal em 58,3% dos DM, sendo

que a avaliação anatomopatológica evidenciou importante perda e desarranjo da bainha de

mielina e axônios, com muitos neurônios heterotópicos nesta região, reforçando assim a

hipótese, dos autores, de displasia focal da substância branca (Ogata et al., 1998)59.

Meola et al. investigando as funções neuropsicológicas, os achados de tomografia por

emissão de pósitrons (PET) e de RMc, na DM1, mostrou correlação entre alteração da

função visuoespacial e redução do fluxo sanguíneo para as regiões frontal e temporal

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anterior. Não houve, entretanto, correlação entre essas anormalidades e o tamanho de

CTGn (Meola et al., 1999)60.

Em 2001 Di Costanzo et al. avaliaram por método sem quantitativo de RMc 66

pacientes DM1-adulto e encontraram alterações multifocais em substância branca que se

correlacionaram com a duração da doença. Em 2008 avaliaram DM1 não congênita,

pertencentes a 22 famílias com pelo menos dois parentes afetados em primeiro grau e

verificaram que a presença e extensão de lesões lobares temporal ou periventricular da

substância branca tinham associação significativa com a história familiar de lesões e

duração da doença e não tinham associação com o tamanho das repetições CTG. Os autores

sugerem que outras causas e/ou fatores desconhecidos do desenvolvimento poderiam

influenciar na ocorrência e gravidade das alterações cerebrais na DM1 (Di Costanzo et al.,

2001; Di Costanzo et al., 2008)61, 62.

Naka et al. estudaram 14 DM com diagnóstico clínico, por EMG e história familiar,

sem outras doenças neurológicas, pareados a 11 controles normais, através de técnica de

transferência de magnetização (MT) por RMc. O índice de MT foi obtido nas áreas de lesão

de substância branca obtidas pela região de interesse (ROI) e 12 áreas de substância branca

aparentemente normal foram definidas: lobo frontal (córtex orbitofrontal, giro frontal

superior e giro precentral), lobo temporal (polo temporal e giro temporal médio), lobo

parietal (lóbulo parietal superior), lobo occipital, porções anterior e posterior ao redor do

ventrículo lateral e nos níveis do joelho e esplênio do corpo caloso e braço posterior da

cápsula interna. Demonstrou haver redução significativa dos índices de TM nos pacientes

DM1 com correlação de piora com o tempo de doença (Naka et al., 2002)63.

A avaliação das alterações cerebrais através do estudo volumétrico realizada por

Kassubek et al. incluiu 10 DM1 e 9 PROMM, todos com diagnóstico genético, comparados

a controles pareados por idade, utilizando RMc tridimensional e calculando o índice de

volume intracraniano do parênquima cerebral, chamado fração do parênquima cerebral.

Observaram atrofia significativa dos pacientes em relação aos seus controles, a qual foi

maior na DM1, entretanto, ao contrário da PROMM, a atrofia não se correlacionou com a

idade, provavelmente por serem pacientes mais jovens com maior comprometimento

cerebral (Kassubek et al., 2003)64.

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15

A aplicação da morfometria cerebral baseada em voxel (VBM) demonstrou atrofia da

substancia cinzenta em lobos frontais e parietais, em giros temporais superiores e occipitais

(Antonini et al., 2004)65. Em revisão de 2007, Meola e Sansone, citam concordância de

dados entre autores Antonini et al., 2004; Giorgio et al., 2006; Ota et al., 2006 que

utilizaram VBM na DM1. Vale dizer, perda neuronal ocorrendo em lobos parietal e frontal

e atrofia que se estende para o giro temporal médio e superior e ao lobo occipital (Meola e

Sansone, 2007)51.

Kuo et al. estudaram uma família, na qual 2 pacientes tinham DM1- congênito e 4

DM1-clássico. Foram incluídos controles pareados por idade e submetidos à análise

semiquantitativa da RM cerebral. Todos os pacientes apresentaram graus variáveis de

atrofia, com um padrão característico de hiperintensidade de substância branca no trígono

póstero-superior, nos casos congênitos. A avaliação neuropsicológica mostrou desempenho

global inferior nos pacientes, pior nos congênitos, porém, sem um padrão característico

(Kuo et al., 2005)66.

Giorgio et al. avaliaram dez pacientes DM1-adulto, sem ou com mínimas alterações

na RMc e encontraram significativa atrofia da substancia cinzenta neocortical (Giorgio et

al., 2006)67.

Kobayakawa et al. em nove pacientes DM1, sem alteração neuropsíquica prévia,

avaliaram a capacidade de reconhecimento das emoções faciais através de figuras.

Correlacionaram os dados com alterações na RMc, por análise semiquantitativa. Houve

associação entre lesões frontal, temporal e insular subcorticais e perda da sensibilidade

emocional para desgosto e raiva nos pacientes com DM1 (Kobayakawa et al., 2010)68.

Enquanto Takeda et al. avaliaram 2 casos de adultos com DM1 e encontraram menor

sensibilidade destes pacientes para o reconhecimento de faces com medo, desgosto e raiva.

Relacionaram essas alterações com lesões subcorticais no sistema límbico (Takeda et al.,

2009)69.

Em um estudo com autópsia de cérebros, não houve correlação entre alterações

neuropatológicas e a extensão da repetição do tripleto CTG. Os achados micro estruturais

encontrados incluíam état criblé na substância branca profunda cerebral e emaranhados

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neurofibrilares imunorreativos para proteína tau fosforilada no hipocampo e no córtex

entorrinal, sendo que ambos eram compatíveis com a demência subcortical nos pacientes

com DM1 (Itoh et al., 2010)70.

Weber et al. desenvolveram um estudo com 20 DM1, nove DM2 (diagnóstico clinico,

por EMG e genético) e 13 controles saudáveis e aplicaram testes neuropsicológicos, RMc

(com avaliação das lesões de substância branca e VBM e cálculo da fração do parênquima

cerebral) e Tomografia com emissão de pósitrons marcado com F-deoxi-glicose (FDG-

PET). Verificaram pronunciado comprometimento da memória episódica não verbal,

redução da substância cinzenta nas regiões dos lobos frontais e parietal, tálamo e redução

do volume hipocampal bilateral. As lesões de substância branca ocorreram em 13 de 19

DM1 principalmente na área frontal subcortical e centro semi-oval com menor intensidade

nos lobos temporais e parietais, sendo que a extensão das mesmas se correlacionou com a

velocidade psicomotora. Enquanto o FDG-PET apresentou hipometabolismo fronto-

temporal, independentemente da atrofia nestas regiões sugerindo processos independentes.

Estas alterações ocorreram nos DM1 e 2 sendo mais pronunciadas no primeiro grupo

(Weber et al., 2010)71.

Minnerop et al. compararam imagens cerebrais por VBM e tensor de difusão (DTI) de 22

pacientes DM1 e 22 DM2 a controles normais. Eles examinaram a relação destas alterações à

clínica e perfil neuropsicológico dos pacientes. Registraram maior prevalência das lesões de

substância branca sendo de predomínio frontal nas duas formas de DM, e temporal na DM1. As

lesões de substância cinzenta cortical, talâmica e putaminal foram restritas a DM1. O déficit

executivo e de atenção foi discreto, quando associado à disfunção motora e a análise de

regressão não mostrou associação das alterações de imagem com as neuropsicológicas. A

depressão dos pacientes aparentou ter caráter reativo, não sendo consequência das lesões,

enquanto a fadiga e a sonolência foram relacionadas à alteração da substância branca. Os

autores interrogam que as lesões de substância branca por serem extensas e dominantes,

possam não ser resultado de degeneração Walleriana (Minnerop et al., 2011)72.

Franc et al. utilizaram métodos de volumetria quantitativa e tensor de difusão para

avaliação cerebral e da musculatura mastigatória em pacientes com DM1, formas congênita

e adulta, e DM2, comparando a controles pareados. Eles observaram redução do volume

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muscular o qual se correlacionou fortemente a redução da integridade da substância branca

e volume de substância cinzenta em ambas DM1 e DM2 (Franc et al., 2012)73.

Em avaliação de 29 pacientes DM1, Caliandro et al. utilizaram functional near-

infrared spectroscopy durante a execução do teste de fluência verbal fonêmica na análise

do córtex pré-frontal. Hipometabolismo desta região foi observado quando comparado a

controles (Caliandro et al., 2013)74.

Axford e Pearson foram relatores do workshop intitulado Illuminating CNS and

cognitive issues in myotonic dystrophy, que ocorreu em Toronto em maio de 2012. Nove

temas foram discutidos e áreas importantes de ação foram estabelecidas, com destaque para

a necessidade de um biorrepositório de tecidos centralizado ou compartilhado para melhor

compreensão fisiopatológica das DMs; estudos longitudinais de cognição, se possível

incluindo neuroimagem e padronização de métodos, com questionários que favoreçam a

compreensão das funções afetadas no SNC (Axford e Pearson, 2013)75.

Renard e Taieb verificaram co-localização entre as dilatações dos espaços de

Virchow-Robin e as lesões de substância branca em 86% dos casos de pacientes DM1 e

sugeriram relacionamento entre a fisiopatologia de ambos os processos (Renard e Taieb,

2014)76.

Serra et al. em 2014 avaliaram 27 pacientes DM1 por RMc funcional em resting-state

comparando com indivíduos saudáveis, obtiveram aumento na conectividade funcional no

giro do cíngulo posterior bilateral e parietal esquerdo no default mode network . Através de

entrevista clínica e do Minnesota Multiphasic Personality Inventory-2 identificaram de

traços de personalidade esquizotípicas até paranoides. Ambos os achados de imagem e

psicopatológicos estavam fortemente associados (Serra et al., 2014)77.

Um estudo envolvendo 51 pacientes DM1, realizou avaliação cognitiva ampla e RMc

com VBM e DTI na substância branca (SB). Os resultados mostraram atrofia de substância

cinzenta (SC) nas regiões pré e pós central, área motora suplementar, orbitofrontal, medial

e dorso lateral frontral, insular, cíngulo anterior e posterior, parietal lateral e medial,

temporal lateral, hipocampal e occipital bilateral e, lesões de SB inter-hemisférica,

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corticoespinhal, límbica e em vias associativas. Alterações cognitivas significativas foram

observadas nos pacientes DM1 forma clássica quanto ao raciocínio e resolução de

problemas (teste de matrizes de Raven), na memória evocada (figuras de Rey), na

habilidade visuoespacial (Hooper Visual Organization Test), na função executiva (fluência

fonêmica e Trials Making Test, parte A), na linguagem (teste de nomeação de Boston) e no

humor e comportamento (Hamilton Depression Rating Scale e Hamilton Anxiety Rating

Scale). As lesões hiperintensas e microestruturais da SB, mas não da SC, se

correlacionaram com os déficits cognitivos. Os autores concluíram que as anormalidades da

SB promoveram desconexão entre as estruturas da SC levando a disfunção cognitiva

emocional (Caso et al., 2014)78.

Em maio de 2013 na cidade de Ferrere, Itália, foi realizado outro workshop que

resultou no consenso sobre envolvimento cerebral na DM. O objetivo principal do encontro

foi reunir pesquisadores, clínicos e representantes de indústrias para dividirem o

conhecimento sobre os mecanismos da disfunção do SNC na DM e identificar possíveis

alvos, avaliando possíveis benefícios terapêuticos para pesquisas com medicamentos. Nos

12 temas estudados ficou claro que falta ainda muita informação sobre a disfunção do SNC

na DM. Reforçou-se a necessidade de estudos longitudinais para esclarecer a natureza e

progressão destes distúrbios, sendo necessário incluir investigação de domínios não

cognitivos (como a força muscular e fadiga) nas avaliações dos pacientes para mensurar as

reais alterações cognitivas. A criação de subgrupos para estabelecer protocolos para

medidas de neuroimagem, análises neuropatológicas e neuropsicológicas é um ponto

fundamental para o desenvolvimento do conhecimento das disfunções cerebrais nas DMs

(Bugiardini e Meola, 2014)7.

Espectroscopia na DM1

Anormalidades da bioquímica cerebral por espectroscopia (1H-MRS) em DM1 foram

primeiramente descritas por Hashimoto et al, 1995, na forma congênita da doença

(Hashimoto et al., 1995)79. Chang et al., 1998 também demonstraram alterações na 1H

MRS em pacientes DM1 e uma correlação positiva com o número de repetições CTG

(Chang et al., 1998)80. Akiguchi et al., 1999, encontraram uma redução nos níveis da

relação N-acetilaspartato (NAA) com creatine ou com fosfocreatina e nos níveis da relação

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NAA com colina comparados a controles, pesquisando a região fronto-têmporo-parietal

direita (Akiguchi et al., 1999)81.

Vielhaber et al. avaliaram DM1 e DM2 por espectroscopia nas regiões corticais

occipital e tempoparietal e na região subcortical frontal à esquerda. Redução do N-

acetilaspartato em ambas as distrofias comparadas a controles foram observadas em todas

as regiões. Nos pacientes DM1, também observou redução dos níveis de creatina e colina

principalmente frontal (Vielhaber et al., 2006)82.

Considerando os dados obtidos na dissertação de mestrado (Mendonça, 2010) e os

acima relatados da literatura, dispomo-nos a estudar o perfil de comprometimento cerebral

e neuropsicológico em um grupo de pacientes brasileiros com DM1 fazendo uso de

ferramentas mais sensíveis em relação ao trabalho anterior e assim buscamos averiguar se

nosso contexto sociocultural promove alguma diferença na manifestação da doença,

descritas na literatura.

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3 OBJETIVOS

3.1 Caracterizar os parâmetros neurocognitivos em pacientes com DM1.

3.2 Caracterizar as alterações da substância branca e cinzenta do SNC por

morfometria baseada em voxels.

3.3 Caracterizar as alterações bioquímicas do SNC, através de espectroscopia de

prótons, em pacientes com DM1.

3.4 Correlacionar às anormalidades morfométricas e bioquímicas aos parâmetros

cognitivos e clínicos.

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4 MÉTODOS

4.1 Tipo de estudo e tamanho da amostra.

Este é um estudo correlacional, descritivo e comparativo entre pacientes DM1 e

controles saudáveis, pareados por sexo, idade e escolaridade, o qual representa a

continuação do projeto de mestrado “Estudo de imagens na distrofia Miotônica” aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Ciências Médicas da UNICAMP,

parecer número 781/2007, CAAE: 0569.0.146.000-07 (Anexo 5).

O tamanho mínimo da amostra foi sugerido no projeto com base nas publicações

científicas até 2007. Entretanto, o cálculo amostral foi estimado posteriormente e levou em

consideração prevalência da DM1 no mundo (2,1 a 14,3 por 100.000 habitantes) e

população brasileira em 2007 [183.987.291 de habitantes (Ibge, 2007)]. Utilizou-se a

ferramenta de Cálculo amostral on line (disponível em:

<http://www.calculoamostral.vai.la>). Os seguintes parâmetros foram considerados: erro

amostral, 5%; nível de confiança, 90%; população estimada de DM1 no Brasil, 26.310

habitantes; percentual máximo estimado de DM1 no Brasil, 0,01%. Obteve-se uma amostra

mínima de 11 indivíduos DM1. Os cálculos foram feitos conforme a fórmula:

Onde:

n - amostra calculada

N – população

Z - variável normal padronizada associada ao nível de confiança

p - verdadeira probabilidade do evento

e - erro amostral

Referência: (Santos, 2013)83.

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4.2 Seleção dos sujeitos

Para a seleção dos controles, consideramos 15 voluntários sem história de doença

neurológica ou transtorno psiquiátrico ou exposição crônica a substâncias neurotóxicas

(inclusive alcoolismo), com exame neurológico normal. Todos os sujeitos assinaram o

termo de consentimento livre e esclarecido para participação na pesquisa. Entretanto, um

controle foi excluído das análises devido a artefatos na imagem de RMc. Assim todas as

avaliações foram realizadas com 14 controles.

Entre os 15 pacientes com DM1, 13 preencheram os seguintes critérios.

4 . 2 . 1 Critérios de inclusão:

a) Diagnóstico de DM1 definido pela clínica e laboratório (eletroneuromiografia,

creatinoquinase, eventualmente biópsia), com genética molecular confirmatória da doença

no paciente ou pelo menos em membro próximo da família;

b) Estar matriculado e em seguimento regular no serviço;

c) Possuir mais de 16 anos de idade;

d) Ter condições de realizar os testes neuropsicológicos propostos, ou seja, ter no

mínimo dois anos de escolaridade, acuidade visual de pelo menos 0,5 em ambos os olhos e

capacidade motora nos membros superiores.

e) Assinar o termo de consentimento livre e esclarecido.

Foram considerados ambos os sexos, qualquer raça, naturalidade ou procedência.

4.2.2 Critérios de exclusão:

a) Paciente com outros tipos de miotonia ou outros tipos de DM;

b) Ter diagnóstico prévio de outras doenças neurológicas ou ter sido submetido a

procedimento cirúrgico cerebral;

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c) Ser portador de marca-passo ou possuir estruturas metálicas implantadas, ou

outras situações que contraindiquem a realização de ressonância magnética;

c) Paciente que não completou os protocolos da pesquisa.

4.3 Métodos utilizados

4.3.1 Avaliação clínica e neurológica

A reavaliação clínica e neuromuscular dos pacientes, realizada pela autora, constou

de um exame sistemático, com duração de cerca de uma hora, constituído de:

- Identificação: nome, sexo, raça, prontuário, data de nascimento, naturalidade, endereço e

telefone.

- Origem do paciente: ambulatório de origem, data da primeira consulta, classificação DM1

(Brunner et al., 1997a)84, duração da doença, confirmação genética e número de expansões

(quando disponível).

- História clínica: sintomas iniciais, história da doença atual.

- Doenças associadas: pormenorizadas por sistemas e hábitos.

- Exame físico geral: cardíaco, pulmonar e trato gastrointestinal.

- Exame neurológico: impressão geral neuropsíquica, consciência, face, nervos cranianos,

reflexos, pesquisa de fenômeno miotônico, coordenação, equilíbrio, sensibilidade, marcha e

sistema motor (avaliação da força muscular composta pelo tônus e trofismo para cada

músculo individualmente (Kendall et al., 1995)85 e a escala de classificação de

comprometimento muscular –MIRS (Mathieu et al., 2001)86 e pela quantificação da força

pela Medical Research Council.- MRC (Memorandum, 1981)87.

- Heredograma foi confeccionado para avaliação da forma de transmissão do gene anômalo.

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4.3.2 Avaliação cognitiva e do humor

A Teste geral de cognição.

A avaliação do estado mental, realizada pela autora, foi feita pelo Mini-Exame do

Estado Mental - MEEM; (Folstein et al., 1975)88; versão validada no Brasil (Brucki et al.,

2003)89.

O MEEM constitui-se 19 itens, com pontuação máxima de 35, abrangendo as

seguintes funções cognitivas: orientação temporal, orientação espacial, memória de

trabalho, cálculo, atenção (preservando o item “soletrar a palavra MUNDO de trás para

frente”), memória de evocação, fasia (nomeação e repetição), praxia (comando verbal e

escrito), escrita e cópia de desenho.

O escore mínimo para normalidade é considerado conforme o grau de instrução do

indivíduo: analfabetos, 20; de um a quatro anos de estudo, 25; de cinco a oito anos de

estudo, 26,5; de nove a 11 anos de estudo, 28 e acima de 11 anos de estudo, 29 (Brucki et

al., 2003)89.

B Avaliação do humor quanto à depressão.

Na avaliação do perfil depressivo utilizou-se o questionário de depressão de Beck -

QDB (Beck et al., 1961)90, validado no Brasil (Gorenstein e Andrade, 1996)91, aplicado

pela autora e por neuropsicólogo experiente.

O questionário é composto de 21 itens que abordam os temas: tristeza,

pessimismo, falhas passadas, falta de prazer, sentimento de culpa, sentimento de punição,

autodesprezo, autocrítica excessiva, pensamentos ou desejos suicidas, crises de choro,

irritabilidade, falta de interesse, indecisão, sentimento de desvalorização, falta de energia,

alteração do sono, cansaço ou fadiga, alterações no apetite, perda de peso, preocupações

hipocondríacas e falta de interesse em sexo. Cada tema possui quatro afirmações e o

indivíduo é orientado a marcar aquele que melhor descreve a maneira como ele tem se

sentido nos últimos sete dias. Pela somatória dos números correspondentes a cada item tem-

se o escore, cujo máximo é 63. Os valores de cut-off considerados pelo Center for

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Cognitive Therapy são: < 10, sem ou mínimos sintomas de depressão; 10 - 18, pouco a

moderada; 19 - 29, moderada a grave; 30 - 63, grave (Gorenstein e Andrade, 1996)91.

C Avaliação psicométrica.

Os dados psicométricos foram obtidos pela aplicação da escala de inteligência

Wechsler para adultos, terceira edição - WAIS III (Wechsler, 2004)92, realizado por uma

psicóloga experiente, com duração de cerca de 40 minutos.

A WAIS III é composta de 14 subtestes, a saber:

- Completação de figuras: compreende um conjunto de figuras coloridas de objetos e

ambientes usuais, as quais apresentam uma parte faltando. Essa parte faltante da figura

deve ser identificada pelo examinado.

- Vocabulário: compreende uma lista de palavras que são apresentadas oral e visualmente,

as quais devem ser definidas pelo examinando.

- Códigos: compreende uma série de números associados a símbolos. O examinado, ao

receber um grupo de símbolos, deve escrever os números correspondentes.

- Semelhanças: correspondem aos pares de palavras apresentadas de forma oral, onde o

examinado deve explicar a semelhança entre elas.

- Cubos: corresponde a figuras bidimensionais com padrões geométricos, as quais o

examinado deve reproduzir com a manipulação de cubos.

- Aritmética: consistem problemas aritméticos que devem ser resolvidos mentalmente e

respondidos de forma oral pelo examinado.

- Raciocínio matricial: corresponde a padrões incompletos dispostos em uma matriz que o

examinando deve completar conforme a lógica proposta na sequência inicial, escolhendo a

resposta entre cinco alternativas propostas.

- Dígitos: corresponde a uma série de números que o examinado deve repetir, logo após o

examinador, em ordem direta e inversa.

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- Informação: consistem em uma série de perguntas que avaliam o conhecimento do

examinado sobre eventos, objetos, lugares e pessoas comuns.

- Arranjo de figuras: corresponde a um composto de figuras apresentadas fora de ordem que

devem ser ordenadas pelo examinado para formar uma história lógica.

- Compreensão: corresponde a uma série de perguntas que exigem que o examinado

compreenda e articule regras sociais e conceitos ou soluções sociais para problemas de vida

diária.

- Procura de símbolos: consiste em grupos de símbolos pareados - sendo um de modelo e

outro de procura, devendo o examinado marcar se um símbolo modelo se encontra em um

grupo de procura.

- Sequência de números e letras: correspondem a séries de números e letras apresentadas

oralmente, as quais o examinado deve repetir em ordem crescente ou alfabética.

- Armação de objetos: são quebra-cabeças de objetos comuns que o examinado deve

montar adequadamente.

Estes subtestes fornecem escores que são utilizados na quantificação do

desempenho cognitivo dos indivíduos, denominado coeficiente de inteligência (QI). Além

do cálculo do desempenho global (QI total), é possível agrupar os testes e obter uma

discriminação do desempenho em escala verbal e escala de execução, conforme

apresentado na Tabela 1. Também é possível agrupar estes subtestes, baseados em

domínios mais refinados do funcionamento cognitivo, formando escalas de índices

fatoriais, conforme mostra a Tabela 2. A Tabela 3 apresenta um resumo de como estes

testes devem ser agrupados para sua análise conforme domínio cognitivo a ser considerado.

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Tabela 1: Subtestes do WAIS–III agrupados em escalas verbal e de execução.

Verbal Execução

Vocabulário Completação de figuras

Semelhanças Códigos

Aritmética Cubos

Dígitos Raciocínio matricial

Informação Arranjo de figuras

Compreensão Procura de símbolos a

Sequência de números e letras b Armação de objetos c

Legenda: a Subteste suplementar para cálculo de escores do QI que pode substituir apenas códigos se este subteste for anulado. b Subteste suplementar para cálculo de escore de QI que pode substituir apenas dígitos, se este subteste for anulado. c Subteste opcional que pode substituir qualquer subteste de execução anulado para indivíduos com idade entre 16 e 74 anos.

Tabela 2: Subtestes do WAIS-III agrupados por índices fatoriais.

Compreensão

verbal

Organização

perceptual

Memória

operacional

Velocidade de

processamento

Vocabulário Completação de figuras Aritmética Códigos

Semelhanças Cubos Dígitos Procura de símbolos

Informação Raciocínio matricial Sequência de números e letras

Observação: Arranjo de figuras, Compreensão e Armar objetos não contribuem para os escores de índices fatoriais.

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Tabela 3: Distribuição dos testes para composição das escalas e dos índices fatoriais.

Escala Verbal Escala de Execução

Compreensão

Verbal

Memória

Operacional

Organização

Perceptual

Velocidade de

Processamento

Voc

abul

ário

Sem

elha

nças

Info

rmaç

ão

Com

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l

Cód

igos

Proc

urar

sím

bolo

s

Arm

ar o

bjet

os

Os itens de cada subteste fornecem escores de subtestes primários e de índices

primários, os quais tornam possível a análise detalhada de cada função analisada. Os

subtestes primários são constituídos de: percepção; coordenação visuomotora; habilidade

de montagem; discriminação do essencial; velocidade; raciocínio abstrato; relação lógica

entre termos; planejamento; sequência lógico-temporal; reprodução de desenhos abstratos;

raciocínio numérico; memória auditiva imediata; capacidade de senso comum e juízo

social; atenção; análise e síntese. Eles fornecem ainda o rendimento intelectual, índice dos

recursos verbais (constituído dos itens compreensão e processamento) e índice dos recursos

de execução (constituído dos itens organização perceptual e velocidade).

A interpretação quantitativa do WAIS III quanto aos escores de QI e dos índices

fatoriais é dada por: 130 e acima = muito superior; 120 a 129 = superior; 110 a 119 = médio

superior; 90 a 109 = médio; 80 a 89 = médio inferior; 70 a 79 = limítrofe e 69 e abaixo =

extremamente baixo. Os resultados de cada subteste primário e índice primário foram

analisados conforme os valores convertidos em escores ponderados para idade da

população brasileira, os quais são classificados de 1 a 19 (desempenho médio é considerado

de 8 a 12) (Wechsler, 2004)92.

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D. Avaliação neuropsicológica:

A avaliação neuropsicológica foi realizada por examinador experiente que

desconhecia os dados clínicos e agrupamento (caso ou controle) dos indivíduos. Todos os

sujeitos foram examinados no período da manhã, após sono noturno repousante, sem efeito

sedativo de drogas e no mesmo ambiente (sala da Unidade de Neuropsicologia e

Neurolinguística do HC-UNICAMP). A avaliação, com duração de cerca de 70 minutos,

compreendeu os seguintes itens e tarefas:

D.1 Teste de dominância manual

A determinação da dominância manual foi realizada pelo Edinburgh Handedness

Inventory (Oldfield, 1971)93, constituído por um instrumento de 10 itens. O participante é

questionado quanto a sua preferência no uso das mãos, nas seguintes atividades: escrever,

desenhar, lançar/ atirar algo, utilizar uma tesoura, utilizar uma faca (sem o garfo), comer

com uma colher, varrer (qual mão fica por cima no cabo da vassoura), acender um fósforo

(qual mão segura o fósforo), abrir a tampa de uma caixa. Ele é orientado a escolher entre

direita e esquerda, marcando dois x se a preferência for forte, ou seja, nunca tentaria usar a

outra mão, apenas se forçado. Se o uso for realmente indiferente, o indivíduo assinala um x

nos dois lados. Somando-se as respostas de cada item é que se obtém a dominância pelo

maior escore.

D.2 Atenção e memória operacional

a) Subteste de repetição de dígitos do WMS-R (Wechsler, 1987)94: consiste em

dizer de forma clara uma sequência de números, em um mesmo tom com intervalo de 1

segundo entre elas, e pedir à pessoa avaliada para repeti-los na mesma ordem (span digito

direto) ou em ordem inversa (span dígito inverso). A cada série de números dita,

acrescenta-se um número a lista na próxima sequência a ser repetida, até um máximo de 8

números ou até que a pessoa não consiga repetir corretamente duas séries de números.

b) Teste de Stroop versão incongruente (Stroop, 1935)95: consiste de oito fileiras

horizontais, cada uma com oito palavras (nomes de cores) impressas em cores diferentes

das dos respectivos nomes. O sujeito é solicitado a nomear as cores das tintas usadas para

imprimir as palavras, o mais rápido possível, evitando ler as palavras. Os escores foram

registrados por tempo em segundos e número de erros.

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D.3 Percepção visuoespacial

Testes de percepção visuoespacial compreendendo:

a) Subtestes da Bateria Neuropsicológica de Luria itens G12, G13, G14, G17),

(Christensen, 1979)96, consistindo mostrar ao sujeito várias figuras sobrepostas de objetos,

em que o sujeito deve dizer quais objetos estão desenhados no conjunto de figuras e nomear

cada um deles.

b) Testes para rotação mental de figuras (Ratcliff, 1979)97: o sujeito deve

identificar, em uma figura humana esquemática, o lado da mão (direita ou esquerda) que

segura um disco preto. O teste apresenta quatro figuras humanas, cada uma em posição

diferente da das outras: de frente, de costa, de cabeça para cima e de cabeça para baixo.

O escore máximo dos testes é de 20 pontos.

D.4 Fluência verbal semântica (categoria: animais)

O teste consiste em solicitar aos examinandos para dizerem nomes de quaisquer

animais durante um minuto.

Na população brasileira a escolaridade tem importante influência no escore do teste.

Assim, pode-se considerar normais os seguintes cut-off: analfabetos e até 4 anos de estudo,

12; de 5 a 8 anos de estudo, 14, de 9 a 11 anos de estudo, 16 e acima de 11 anos de estudo,

17 nomes (Brucki e Rocha, 2004)98.

D.5 Teste de nomeação de Boston

O teste é composto de 30 pares de desenhos com graus de dificuldade crescente. A

pessoa é solicitada a dizer o nome de cada figura considerando-se um tempo de 20s. O

examinador anota a resposta. Se ela foi errada, dá-se uma pista fonética (por exemplo, a

letra inicial do nome) e classifica a resposta em mais ou menos. O teste é feito até o final

em sua sequência numérica, ou até que a pessoa se recuse a responder. Escore máximo: 30

pontos (Kaplan et al., 1983)99.

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D.6 Praxia construtiva visuoespacial com cubos de Kohs:

O teste consiste em apresentar figuras em duas dimensões, com partes em branco e

vermelho, que devem ser reproduzidos com cubos que possuem a superfície de seus lados

em branco, vermelho, azul ou amarelo, em toda a face ou só em metade diagonal (Strub e

Black, 1993)100. A Figura 1 mostra as quatro figuras (1, 2, 3 e 4) a serem reproduzidas

pelos examinandos. O sistema de pontuação: escore 3, se a figura é reproduzida

corretamente em até no máximo 1 minuto; 2, se reproduzida em mais de 1 minuto até no

máximo 2 minutos; 1, se reproduzida em mais de 2 minutos e até no máximo 3 minutos; e

0, se incapaz de reproduzi-la neste tempo máximo.

Figura 1: Quatro figuras do teste de Kohs usadas na pesquisa.

D.7 Teste de aprendizado auditivo-verbal de Rey (TAAVR)

No TAAVR uma lista de 15 substantivos (lista A) é lida em voz alta para o

examinando cinco vezes consecutivas. Cada uma das tentativas é seguida por um ensaio de

recuperação espontânea (evocação imediata durante 1 minuto). Após a quinta tentativa,

uma lista de interferência, também com 15 substantivos (lista B) é lida para o examinando,

seguido de sua recuperação (tentativa B1). Após tentativa B1, o examinador pede ao

indivíduo para recordar as palavras da lista A, sem lê-la novamente (tentativa A6). Depois

de um intervalo de 20 minutos, o examinador pede ao indivíduo para se lembrar das

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palavras da lista A (tentativa A7) sem ler esta lista. Após tentativa A7, o indivíduo é

submetido a um teste de reconhecimento de memória, em que uma lista que inclui as 15

palavras da lista A, as 15 palavras da lista B, assim como 20 palavras para distração

(semelhantes às palavras da lista A e B em termos fonológicos ou semânticos) é lida para o

indivíduo. A cada palavra lida em voz alta, o indivíduo é convidado a indicar se ele

pertence à lista A, ou não. O tempo total de aplicação da TAAVR varia de 35 a 40 minutos

(Rey, 1964)101.

D.8 Teste de memória espacial 10/36

O teste de memória espacial 10/36 avalia primeiro o aprendizado e posteriormente

(após 15 minutos) a evocação tardia das posições espaciais de 10 fichas pretas distribuídas

em um tabuleiro de xadrez constituído de 6x6 (36) quadrículos. A fase de aprendizado

consiste de três tentativas nas quais o examinador mostra o tabuleiro, no qual cada uma das

10 fichas está distribuída em 10 diferentes posições (quadrículos), as quais o sujeito deve

memorizar durante 10 segundos. Logo, a seguir, o tabuleiro com as fichas é retirado e o

sujeito é solicitado a pôr as 10 fichas nas mesmas posições (quadrículos) em um tabuleiro

idêntico vazio. O número total de respostas corretas nas três tentativas consecutivas é o

escore de aprendizado; e o número total de respostas corretas após 15 minutos é o escore de

evocação tardia (Rao et al., 1990; Boringa et al., 2001)102, 103.

4.3.3 Avaliação cerebral por RM

As imagens de ressonância magnética cerebral (RMc) foram obtidas em aparelho

Elscint Prestige, Haifa, Israel, de 2 Tesla.

A. Morfometria baseada em voxel (VBM)

As imagens cerebrais foram obtidas em formato DICOM, com uma sequência

volumétrica em T1 ponderado em alta resolução (tridimensional), gradiente echo de 1 mm3,

voxels isotrópicos, cortes no plano sagital (direita para esquerda), espessura de 1 mm;

tempo de aquisição (TA): 6 min; tempo de ECO (TE): 9 ms; tempo de repetição (TR): 22

ms; flip angle: 35°; matrix 256 × 220 e FOV, 24 × 24 cm.

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As imagens foram convertidas para NIfTI pelo software dicom2nii

(http://www.mccauslandcenter.sc.edu/mricro/mricron/dcm2nii.html). Usou-se o software

SPM8 (www.fil.ion.ucl.ac.uk/spm/software/spm/) implementado no pacote Matlab (The

MathWorks, Ink., versão R 2013b) para processar as imagens.

A.1 Pré-processamento do VBM

Antes que fosse feita a análise volumétrica das imagens realizou-se uma

padronização de todas as imagens no espaço nativo (arquivos de imagens c1*.nii). Para

tanto, fez-se a marcação da origem do sistema de coordenadas na comissura anterior e a

correção do posicionamento da imagem pela linha média e pelo corpo caloso para cada

indivíduo.

Com as imagens adequadamente posicionadas, realizou-se a segmentação das

imagens em substância cinzenta e substância branca. Outros tecidos como líquor, ossos,

partes moles e ar não foram utilizados neste estudo.

A qualidade das imagens foi testada pelo teste de homogeneidade da amostra por

covariância e pela análise visual (Display one slice for all images, Check sample

homogenity using covariance), através de toolbox VBM8. Um dos controles foi excluído

das análises estatísticas por artefato frontal na imagem.

Na sequência, as imagens foram moduladas por DARTEL Tools, que estima as

deformações que melhor alinham as imagens em conjunto interativamente, registrando as

imagens importadas com suas médias, criando Templates. A ideia da ferramenta DARTEL é

aumentar a precisão do alinhamento inter-sujeitos por meio de modelagem da forma de

cada cérebro utilizando milhões de parâmetros (três parâmetros para cada voxel), através do

alinhamento da substância cinzenta entre as imagens, enquanto que, simultaneamente,

alinha a substância branca.

Finalizado o pré-processamento, as imagens são suavizadas representando o volume

regional do tecido. Esta imagem foi, então, utilizada para as análises estatísticas

(Ashburner, 2010)104.

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A.2 Processamento do VBM

O processamento das imagens de volumetria constitui a análise estatística das

mesmas e será descrito em detalhes no item avaliação estatística.

B. Espectroscopia

Foram realizadas medidas espectrais em três áreas cerebrais (3 single voxels) em

cada indivíduo, sendo utilizada uma imagem em T2 ponderada axial para determinação dos

voxels frontal e occipital, e imagem imagem em corte coronal para marcação

temporoparietal, conforme apresentado na Figura 2. Cada voxel possuía 2x2x2 cm3, os

parâmetros da sequência utilizada foram: PRESS; TR de 1500 ms, TE de 135 ms, 256

médias (Vielhaber et al., 2006)82. Os principais metabólitos considerados nos espectros

foram: N-acetilaspartato mais N-acetilaspartato-glutamato (NAA), creatina total (creatina

mais fosfocreatina, Cre), Colina (glicerol fosfocolina mais fosfocolina, Cho) e glutamato

(glutamato mais glutamina, Glx) (Figura 3).

Figura 02: Imagens mostrando a localização dos voxels da espectroscopia: frontal com substância branca, médio occipital com substância cinzenta e temporoparietal com substância cinzenta (Vielhaber et al., 2006)82.

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Através de rotinas desenvolvidas em Matlab pelo grupo foram obtidos, de cada

indivíduo da pesquisa, os espectros das regiões: frontal, temporoparietal e occipital (Figura

3). Estes espectros foram analisados visualmente sendo excluídos os com qualidade muito

ruim, onde os picos dos metabólitos não eram visíveis devido ao ruído, e que, portanto,

impossibilitavam uma medida adequada dos valores.

Os espectros foram então quantificados com o programa LCModel (Provencher,

2013), com a remoção do pico de água. Este programa fornece os valores “absolutos” dos

metabólitos, mas que são dependentes de uma série de fatores (como o fator de ganho

relacionado à configuração geométrica das bobinas de aquisição e ao posicionamento da

cabeça do indivíduo). Assim, cada aquisição tem um fator de ganho diferente (uma vez que

sempre haverá pequenas diferenças no posicionamento do examinando). Por isso, não é

possível comparar duas aquisições de espectroscopia, nem de um mesmo indivíduo. Esse

fator de ganho pode ser eliminado calculando-se a razão entre duas concentrações obtidas a

partir do mesmo espectro.

Estes valores foram tabulados no Excel (Microsoft Corp. Microsoft Office Excel

versão 2010). Para controle da qualidade dos mesmos foram ainda analisados os seguintes

critérios:

- Relação sinal-ruído do espectro total (SNR): preferencialmente maior ou igual a três

(quando picos estiveram visíveis no espectro, considerou-se SNR até 2).

- Erro relativo < 30% para cada metabólito.

Para contornar o problema do ganho da bobina na análise estatística da

espectroscopia, utilizou-se a concentração relativa destes metabólitos em relação à

concentração de Cre (NAA/Cre, Cho/Cre e Glx/Cre). Isso possibilita que esses valores

sejam comparados entre espectros obtidos em diferentes aquisições.

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Figura 3: Exemplo dos principais picos dos metabólitos identificados pela espectroscopia

em um controle. Legenda: NAA: N-acetil-aspartato; Cre: creatina; Cho: colina; Glx:

glutamato, glutamina, GABA e piruvato.

4.3.4 Avaliação estatística:

A. Análises preliminares

Os dados clínicos e neurológicos, bem como os resultados dos testes cognitivos,

volumes e valores dos metabólitos cerebrais foram tabulados pelo Excel.

Testes de normalidade foram realizados para todas as variáveis dependentes

pelo software Action (http://www.portalaction.com.br), suplemento do Excel. Utilizou-se a

estatística de Shapiro-Wilk, considerando a hipótese H0 como a da amostra provir de uma

população Normal, com nível de significância do teste p ≤ 0,05, com correção para

continuidade (Anexos 1, 2, 3 e 4).

Cre2 Cho

Cre

Glx 1

NAA

Glx 1

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A avaliação do adequado pareamento da amostra quanto à idade, escolaridade e

sexo foi realizada por teste não paramétrico de Mann-Whitney U para amostras

independentes com intervalo de confiança de 95%, pelo SPSS.

B. Análise dos dados clínicos e de cognição e humor:

B.1 Psicometria

Os resultados do WAIS foram analisados por distribuição das frequências dos

escores de cada teste, dos índices fatoriais e QIs conforme a classificação considerada para

a população brasileira (Wechsler, 2004)92. As frequências foram calculadas pelo Excel.

B.2 Neuropsicologia

Utilizou-se o software SPSS (IBM Corp. Released 2011. IBM SPSS Statistics

for Windows, Version 20.0. Armonk, NY: IBM Corp.) para análise dos dados obtidos nos

testes clínicos e neuropsicológicos.

B.2.1 Confiabilidade das escalas

Os testes span dígito direto e inverso, fluência verbal, percepção visual, cubos de

Kohs, Stroop incongruente por tempo e por erros, nomeação de Boston, aprendizado

auditivo-verbal de Rey, memória espacial 10/36, escala de depressão de Beck e MEEM

foram avaliados quanto à confiabilidade do conjunto.

B.2.2 Explorando a diferença entre os grupos

A análise da distribuição dos escores dos testes entre pacientes DM1 e controles

foi realizada pelo teste não paramétrico de Mann-Whitney U. Os escores resultantes dos

testes neuropsicológicos foram considerados variáveis dependentes. Uma variável

denominada grupo foi criada para separar os resultados obtidos dos pacientes DM1 e

controles, sendo esta variável independente considerada o fator fixo. A estatística descritiva

foi realizada pelo Excel. A correção para múltiplas comparações foi feita pelo método de

Bonferroni, sendo considerado significativo p < 0,004. O intervalo de confiança foi de

95%.

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B.2.2 Explorando a relação entre os grupos

Testes de correlação de Spearmann rho foram realizados entre as variáveis

clínicas, neuropsicológicas, de volumetria cerebral e espectroscopia dos pacientes. A

tabulação de dados e os gráficos de correlação foram feitos pelo Excel

Para verificar a interferência de fatores motores nas avaliações cognitivas foi

realizado teste de correlação entre a força muscular dos membros superiores com os testes

neuropsicológicos. O valor considerado foi o somatório dos escores MRC dos músculos

que contribuem para com o movimento dos membros superiores: trapézios, romboides,

grande dorsal, deltoides, serrátil anterior, peitorais maior e menor, rotadores mediais do

ombro (grande dorsal, peitoral maior, subescapular, redondo maior), rotadores laterais do

ombro (redondo menor e infra espinhoso), tríceps, braquiorradial, supinador, pronadores

redondo e quadrado, flexores radial e ulnar do carpo, extensores radial e ulnar do carpo,

flexores profundos e superficiais dos dedos, lumbricais, interósseos dorsais e palmares,

extensores longo e curto do polegar, abdutores longo e curto do polegar, flexor do dedo

mínimo, abdutor do dedo mínimo, abdutor do dedo mínimo. Escore máximo de 560 (280

por lado, direito e esquerdo).

C Morfometria cerebral

Para realizar a análise das volumetrias utilizaram-se os programas Matlab com

os softwares relacionados SPM8 (Kurth et al., 2010)105, marsbar

(http://marsbar.sourceforge.net/) e xjview (http://www.alivelearn.net/xjview8/download/).

C.1 Analisando a diferença entre os grupos

As imagens foram analisadas por teste-t entre pacientes e controles, covariando para

idade e volume intracraniano total, tanto para substância cinzenta, quanto para substância

branca através do SPM. Foram criados dois contrastes para apresentação do resultado, um

constituído dos volumes de controles menos os dos pacientes, denominado área de atrofia; e

outro constituído dos volumes de pacientes menos de controles, ou seja, volume que

excedeu nos pacientes, então chamado de “aumento”, tanto para substância cinzenta,

quanto para substância branca. Foram considerados significativos os clusters com extensão

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de 50 voxels ou mais, p < 0,001 (equivalente a T > 3,1), não corrigido para múltiplas

comparações.

Para extrair os clusters de cada sujeito da pesquisa nas regiões de interesse (ROI)

identificadas no teste-t, utilizou-se o software Marsbar relacionado ao Matlab. Esses

valores foram usados para realizar correlação de Spearmann’ rho com os demais dados do

estudo.

Criou-se uma máscara com os resultados do teste-t para uso na regressão múltipla

pelo SPM.

C.2 Analisando a correlação entre os testes neuropsicológicos e as imagens

Realizou-se um teste de regressão múltipla entre as imagens dos pacientes e os

resultados das avaliações clínicas, neuropsicológicas e psicométricas pelo SPM, covariando

para o nível de escolaridade. Para considerar apenas as áreas onde houve diferença entre os

grupos no teste-t utilizamos a máscara criada com o resultado deste. O mesmo nível de

significância do teste-t foi utilizado nas regressões.

As imagens com suas coordenadas e resultados da análise estatística foram obtidas

diretamente do software SPM8. Utilizou-se o software associado xjview para visualização

de imagens em fatias axiais, coronais e sagitais e para obtenção da localização anatômica

da coordenada MNI fornecida pelo SPM8.

D Espectroscopia

Os espectros foram analisados por teste não paramétrico de Mann-Whitney U

para amostras independentes entre pacientes e controles utilizando a razão em relação à Cre

de cada metabólito pelo software SPSS, intervalo de confiança de 95%, com correção para

múltiplas comparações por Bonferroni, sendo significativo p < 0,005.

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5 RESULTADOS

5. Estatística descritiva:

5.1 Dados sociodemográficos:

Os dados sociodemográficos encontram-se na Tabela 4.

Tabela 4: Dados sociodemográficos dos voluntários da pesquisa.

Controles (n=14) DM1 (n=13) p

Gênero (F/M) 8/6 7/6 0,88

Idade 38,6 ± 12,5 (17-57) 39,4 ± 12,8 (22-62) 0,98

Escolaridade 9,4 ± 3,6 (4-20) 8,6 ± 4,1 (4-18) 0,61

Legenda: Dados apresentados como média ± desvio padrão, em parênteses extremos em anos. n: número de indivíduos por grupo; DM1= Distrofia Miotônica tipo 1. Escolaridade em anos. F= feminino, M= masculino.

A avaliação do adequado pareamento da amostra quanto à idade, escolaridade e

gênero foi demonstrada por não haver diferença significativa entre os dois grupos.

O grupo dos controles foi submetido à avaliação neurológica e neuropsicológica

onde se certificou que todos se apresentavam dentro de padrões clínicos de normalidade.

5.2 A Distrofia Miotônica tipo 1

Os pacientes DM1 eram provenientes de nove famílias. O início dos sintomas se

deu até os 10 anos em seis casos (três homens e três mulheres), ou seja, a forma infantil da

doença. Os demais pacientes iniciaram seus sintomas entre 11 e 36 anos (três homens e

quatro mulheres), sendo classificados na forma juvenil/adulto (dita, forma clássica). A

idade de início e a duração da doença estão apresentadas na Tabela 5.

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Tabela 5: Idade de início dos sintomas e duração da doença na amostra de pacientes DM1.

DM1 infantil (6) DM1 clássica (7) Total DM1

Início 5± 3,4 (1 - 10) 24,5± 9,5 (11- 36) 15,5± 12,4 (1-36)

Duração 29,5 ±12,8 (14 – 49) 15,5 ±14,5 (4 - 40) 22 ±14,5 (4 - 49)

Legenda: Dados apresentados como média ± desvio padrão, (extremos) em anos. DM1 = distrofia miotônica tipo 1.

A confirmação genética de DM1 foi realizada através de exame de sangue

periférico do próprio paciente em quatro casos, pela genética do pai (um caso), dos filhos

(três casos), do irmão (um caso), da sobrinha (um caso), do primo (dois casos). Quanto à

transmissão do gene anômalo, oito receberam via paterna e quatro via materna. Em apenas

um caso não foi possível determinar o padrão de transmissão genética, por se tratar de filho

adotivo.

O déficit motor pela escala de classificação do comprometimento muscular

(MIRS) está apresentado na Tabela 6 em números absolutos e porcentagem. Demonstra o

comprometimento moderado a grave na casuística.

Tabela 6: Escala de classificação do comprometimento muscular - MIRS

Escores

1 2 3 4 5

Pacientes 0 0 1 (7,7%) 7 (53,8%) 5 (38,5%)

Legenda: MIRS: muscle impairment rating scale. 1= Sem comprometimento muscular, 2= Sinais mínimos, sem fraqueza distal, 3= Fraqueza distal, sem fraqueza proximal, 4= Ligeira a moderada fraqueza proximal, 5= Intensa fraqueza proximal.

A quantificação da força muscular no segmento superior avaliado pelo somatório

do escore da escala MRC (Memorandum, 1981) tem média 430,46, desvio padrão ±76,06

(extremos 300 a 560).

A marcha com padrão miopático ocorreu em quatro pacientes, sendo que não havia

pacientes cadeirantes na amostra. À avaliação neurológica, certificou-se que os pacientes

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apresentavam coordenação, sensibilidade, pares cranianos e reflexos dentro de padrões da

normalidade.

5.4 Avaliação psicométrica dos pacientes pelo WAIS III:

Os pacientes tiverem seus escores de QI total entre 78 e 123, com 38,5% com

desempenho médio inferior e 53,8% desempenho médio. O QI de execução teve escores

maiores (76,9% no médio) que o QI verbal (53,8% no médio). Na escala verbal houve

melhor desempenho na compreensão com mais de 70% no médio ou acima, enquanto que

na memória operacional 23,1% estavam no médio. Quanto à escala de execução, tanto a

organização perceptual quanto a velocidade de processamento tiveram predomínio de

escores médios. Na Tabela 7 e 8 os resultados dos testes são discriminados pelos escores

dos subtestes e índices primários. Os resultados dos QIs e índices das escalas do WAIS III

são apresentados na Tabela 9.

Tabela 7: Número de pacientes conforme desempenho nos índices primários do WAIS III

Classificação Baixo

Extremo

Limí

trofe

Médio

Inferior Médio

Médio

Superior

Supe

rior

Rendimento Intelctual 0 0 5(38,5%) 8(61,5%) 0 0

Recursos de execução

Organização percetual de Execução 0 0 3(23,1%) 9(69,2%) 1(7,7%) 0

Velocidade de Execução 0 1(7,7%) 4(30,8%) 8(61,5%) 0 0

Recursos verbais

Compreensão Verbal 0 0 7(53,8%) 5(38,5%) 1(7,7%) 0

Processamento Verbal 0 0 8(61,5%) 4 (30,8%) 1(7,7%) 0

Legenda: Classificação realizada conforme estudos na população brasileira: Baixo extremo: 0-1; Limítrofe: 2-3; Médio inferior: 4-5; Médio: 6-8; Médio superior: 9-10; Superior: 10-12; Muito superior: 13 e acima (Wechsler, 2004). Dados apresentados em números absolutos de pacientes (porcentagem).

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Tabela 8: Número de pacientes conforme desempenho nos subtestes primários do WAIS III

Classificação Baixo

Extremo

Limí

trofe

Médio

Inferior

Médio Médio

Superior

Supe

rior

Subtestes Primários

Percepção 0 0 2(15,4%) 11(84,6%) 0 0

Coordenação Visuomotora 0 0 2(15,4%) 11(84,6%) 0 0

Habilidade de montagem 0 1(7,7%) 1(7,7%) 11(84,6%) 0 0

Discriminação do Essencial 0 0 0 13(100%) 0 0

Velocidade 0 0 4(30,8%) 9(69,2%) 0 0

Raciocínio Abstrato 0 0 2(15,4%) 11(84,6%) 0 0

Relação Lógica entre Termos 0 0 0 13(100%) 0 0

Experiências Escolares e Culturais 0 2(15,4%) 6(46,1%) 5(38,5%) 0 0

Planejamento 0 0 1(7,7%) 12(92,3%) 0 0

SequênciaaLógicoatemporal 0 0 2(15,4%) 11(84,6%) 0 0

Reprodução de Desenhos Abstratos 0 1(7,7%) 1(7,7%) 11(84,6%) 0 0

Raciocínio Numérico 0 0 4(30,8%) 9(69,2%) 0 0

Memória Auditiva Imediata 0 0 4(30,8%) 8(61,5%) 1(7,7%) 0

Capacidade de Senso Comum e Juizo Social 0 4(30,8%)‡ 5(38,5%) 4(30,8%) 0 0

Atenção 0 1(7,7%) 2(15,4%) 9(69,2%) 1(7,7%) 0

Análise 0 0 2(15,4%) 11(84,6%) 0 0

Síntese 0 0 3(23,1%) 10(76,9%) 0 0

Legenda: ‡ Pior desempenho com quase 1/3 dos pacientes abaixo do médio inferior. Classificação realizada conforme estudos na população brasileira: Baixo extremo: 0-1; Limítrofe: 2-3; Médio inferior: 4-5; Médio: 6-8; Médio superior: 9-10; Superior: 10-12; Muito superior: 13 e acima (Wechsler, 2004). Dados apresentados em números absolutos de pacientes (porcentagem).

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Tabela 9: Resultados dos testes de coeficiente de inteligência do WAIS III nos pacientes

DM1.

Classificação Baixo

Extremo

Limí

trofe

Médio

Inferior Médio

Médio

Superior

Supe

rior

QI Verbal 0 1 (7,7%) 4 (30,8%) 7 (53,8%) 0 1 (7,7%)

QI Execução 0 0 2 (15,4%) 10 (76,9%) 1 (7,7%) 0

QI Total 0 0 5 (38,5%) 7 (53,8%) 1 (7,7%) 0

Escala Verbal

Compreensão verbal 0 1 (7,7%) 1 (7,7%) 9 (69,2%) 1 (7,7%) 1 (7,7%)

Memória operacional 0 1 (7,7%) 8 (61,5%) 3 (23,1%) 1(7,7%) 0

Escala de Execução

Organização perceptual 0 0 1 (7,7%) 10 (76,9%) 2(15,4%) 0

Velocidade de processamento 0 1 (7,7%) 2 (15,4%) 9 (69,2%) 1 (7,7%) 0

Legenda: Dados apresentados em números absolutos de pacientes (porcentagem). QI: Coeficiente de inteligência. Classificação realizada conforme estudos na população brasileira: Extremamente baixo: 69 e abaixo; Limítrofe: 70-79; Médio inferior: 80-89; Médio: 90-109; Médio superior: 110-119; Superior: 120-129 (Wechsler, 2004).

Em resumo, o desempenho global no WAIS III teve predomínio de desempenho

médio e médio inferior.

5.2- Análises preliminares:

5.2.1 Testes Neuropsicológicos:

A. Teste de dominância manual.

O teste de dominância manual feito pelo Edinburgh Handedness Inventory revelou

todos os pacientes destros, e apenas um dos controles ambidestro, sugerindo ser o

hemisfério esquerdo o dominante em toda a amostra.

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B. Avaliação da confiabilidade das escalas dos testes neuropsicológicos:

Os testes span dígito direto e inverso, fluência verbal, percepção visual, cubos de

Kohs, Stroop incongruente por tempo e por erros, nomeação de Boston, aprendizado

auditivo-verbal de Rey, memória espacial 10/36, escala de depressão de Beck e MEEM

foram avaliados quanto à confiabilidade do conjunto.

A análise de confiabilidade dos testes neuropsicológicos apresentou, na matriz de

correlação inter-item fornecida pelo programa SPSS, valores negativos para os itens Stroop

incongruente por tempo e por erros. Isso ocorreu, pois nestes testes os escores aumentam

quanto pior for o desempenho do paciente, diferentemente dos demais testes. Para corrigir

essa inconsistência, foi realizado o procedimento de reversão de itens negativos para os

dois testes pela fórmula abaixo:

Escore = (maior valor obtido na amostra – x) + menor valor obtido na amostra, onde

x é o valor obtido por cada indivíduo durante o teste.

A variável foi renomeada nos dois casos e a análise de confiabilidade foi repetida.

Obteve-se então um coeficiente Cronbach’s Alpha de 0,282. Esse coeficiente avalia a

consistência interna da escala, ou seja, se todas as medidas seguem uma mesma construção,

se alteram em um mesmo sentido. Um ótimo nível recomendado para correlação inter-item

é de 0,2 a 0,4 conforme Briggs e Cheek. (apud Pallant 2011)106.

O valor de Cronbach’s Alpha com base nos itens padronizados foi de 0,755,

indicando que as escalas de cada teste seguem escores que variam em grandeza diferente

entre as mesmas, mas encontra-se ainda em níveis adequados para análise em conjunto,

estando o coeficiente de confiabilidade entre 0,7 a 0,9 (Pallant 2011)106. Portanto, os testes

mostraram possuir boa confiabilidade e consistência interna, possibilitando sua posterior

análise em conjunto.

C. Avaliação do humor quanto à depressão pelo questionário de depressão de Beck:

Nenhum dos voluntários apresentava queixas clínicas compatíveis com depressão.

Não houve diferença significativa na avaliação não paramétrica com amostras

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independentes dos escores entre os grupos (p = 0,48 intervalo de confiança 95%), ficando

tanto a média, quanto a moda dentro da faixa de assintomáticos. O resumo da análise do

questionário de depressão de Beck encontra-se na Tabela 10.

Tabela 10: Estatística descritiva do questionário de depressão de Beck.

Controles Pacientes p

Descrição 9,4 ±8,9 (1) 9,7 ±5,5 (5) 0,48

Classificação da depressão

Assintomático 8 (57,1%) 6 (46,2%)

Leve 5 (35,7%) 6 (46,2%)

Moderado 0 1 (7,7%)

Grave 1 (7,1%) 0

Legenda: Descrição apresentada como média, ± desvio padrão (moda); Classificação da depressão apresentada em número absoluto de indivíduo (porcentagem). Valores de cut-off considerados pelo Center for Cognitive Therapy: < 10, assintomático ou mínimos sintomas de depressão; 10 - 18, pouco a moderada; 19 - 29, moderada a grave; 30 - 63, grave (Gorenstein e Andrade, 1996)91.

5.3 Avaliando as diferenças entre os grupos pacientes e controles:

5.3.1 Testes neuropsicológicos:

Os testes cubos de Kohs e Stroop incongruente por tempo foram os que

apresentaram diferenças significativas entre os grupos.

As médias, desvio padrão, intervalo de confiança e teste de Mann-Whitney U,

considerado significante p < 0,004, corrigido para múltiplas comparações pelo método de

Bonferoni, de cada teste neuropsicológico aplicado encontram-se na Tabela 11.

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Tabela 11: Estatística dos testes neuropsicológicos.

Teste Controles Pacientes p

Span Dígito Direto 5,8 ±0,89 (5,2-6,3) 5,3 ±1 (4,8-5,9) 0,26

Span Dígito Inverso 4,1 ±1,2 (3,5-4,6) 3,62 ±0,9 (3,0-4,3) 0,55

Fluencia verbal 18,1 ±5,2 (15,6-20,4) 15,2 ±3,6(12,8-17,8) 0,20

Percepção visual 19,3 ±0,9 (18,6-19,8) 18,6 ±1,4 (18,0-19,3) 0,25

Cubos Kohs 11,9 ±0,4 (11,1-12,6) 9,5 ±1,8 (8,7-10,2) <0,001*

STI Tempo 147,9 ±30,2 (131,7-165,7) 110,0 ±29,6 (91,4-126,7) 0,003*

STI Erro 8,1 ±1,4 (6,9-9,2) 6,5 ±2,4 (5,3-7,7) 0,01

Nomeação de Boston 26,4 ±2,4 (25,3-27,4) 27,5 ±1,7(26,5-28,7) 0,23

TAAVR 10,6 ±2,4 (9,0-12,2) 8,9 ±3,4(7,3-10,5) 0,32

Memória Espacial 10/36 5,2 ±1,9 (3,9-6,4) 6,7 ±2,6 (5,4-8,1) 0,14

MEEM 32,9 ±1,9 (31,7-34,0) 31,2 ±2,7(30,1-32,5) 0,94

Legenda: Dados apresentados como média ± desvio padrão, em parênteses: 95% intervalo de confiança. STI Tempo: Stroop incongruente por tempo; STI Erro: Stroop incongruente por erro; TAAVR: teste de aprendizado auditivo-verbal de Rey; MEEM: mini exame do estado mental. *Significância p<0,004.

Todos os voluntários da pesquisa tiveram o escore do MEEM considerados dentro

da normalidade para o grau de instrução. Nos controles o menor escore foi de 29, enquanto

nos pacientes foi de 27.

5.3.2 Morfometria baseada em voxel (VBM)

As imagens resultantes da análise por teste-t para duas amostras independentes, pela

VBM da substância cinzenta e branca de 14 controles e 13 pacientes são apresentadas a

seguir.

Nenhuma área apresentou clusters com extensão ≥ 50 voxels com p < 0,05,

corrigido para múltiplas comparações.

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51

A. Substância cinzenta

A.1 Atrofia da substância cinzenta nos pacientes

As áreas de atrofia são apresentadas na Tabela 12 e Figura 4. Observa-se

comprometimento em áreas das regiões frontais e em estruturas do sistema límbico bilateral

e temporal à esquerda.

Figura 4: Comparação de morfologia de substância cinzenta entre controles e pacientes com DM1. Áreas em destaque mostram regiões atróficas em pacientes. Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. A: visão espacial das áreas nas coordenadas. B: Secção sagital, coronal e axial apresentando parte das áreas identificadas no teste. C: Cortes axiais de 4 mm mostrando todas as áreas atróficas identificadas.

A B

C

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Tabela 12: Áreas de alteração significativa para atrofia da substância cinzenta em pacientes

com DM1 identificadas por análise de VBM.

Tamanho

Cluster

Coordenadas

(mm) Região T Equivalente Z

X Y Z

Lobo Frontal

SC 1 546 47 20 -2 Giro frontal inferior

orbicular, triangular e opercular direito

6,25 4,73

SC 5 188 -45 27 -2 Giro frontal inferior orbicular, triangular

esquerdo 4,50 3,77

SC 7 254 53 14 17 Giro pré-central ,

rolândico, Opercular inferior direito

4,39 3,70

SC 8 82 12 51 11 Giro frontal medial direito 4,29 3,64

SC 12 59 48 41 -18 Giro frontal inferior orbicular direito 3,84 3,34

Lobo Límbico

SC 2 163 27 -18 -33 Giro Para-hipocampal direito 4,79 3,95

SC 3 403 8 -56 11 Cingulado posterior, Precuneo, Calcarino direito 4,66 3,87

SC 4 136 -11 21 35 Giro cingulado, Cíngulo médio esquerdo 4,61 3,84

SC 10 51 -12 36 15 Cingulado anterior esquerdo 3,93 3,40

Lobo Temporal

SC 6 209 -54 -36 12 Giro temporal superior e médio esquerdo 4,50 3,77

SC 9 284 -56 -23 -2 Giro temporal médio e superior esquerdo 4,23 3,60

SC 11 84 -51 -18 8 Giro temporal superior (Heschl) esquerdo 3,86 3,35

Legenda: Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. SC= substância cinzenta.

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A.2 “Aumento” da substância cinzenta nos pacientes:

As áreas com “aumento” de substância cinzenta nos pacientes estão apresentadas

na Tabela 13 e Figura 5. Mostram regiões cerebelares e occipital esquerda.

Tabela 13: Áreas de alteração significativa para “aumento” de substância cinzenta em

pacientes com DM1 identificadas por análise de VBM.

Tamanho

Cluster

Coordenadas (mm) Região T Equivalente Z

X Y Z

Cerebelo

AumSC 1 316 -30 -39 -45

Tonsila cerebelar,

Lobo posterior cerebelo esquerdo

5,50 4,35

AumSC 3 89 33 -51 -42

Lobo posterior cerebelo direito, Tonsila

cerebelar

4,29 3,64

Lobo Occipital

AumSC 2 100 2 -81 -15

Giro Lingual esquerdo

4,95 4,05

Legenda: Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. AumSC= “aumento” de substância cinzenta.

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Figura 5: Comparação de morfologia de substância cinzenta entre controles e pacientes com DM1. Áreas em destaque mostram regiões de “aumento” em pacientes. Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. A: visão espacial das áreas nas coordenadas. B: Secção sagital, coronal e axial apresentando parte das áreas identificadas no teste. C: Cortes axiais de 4 mm mostrando todas as áreas em “aumento” identificadas.

B A

C

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B. Substância branca:

B.1 Atrofia da substância branca nos pacientes:

As áreas de atrofia são apresentadas na Tabela 14 e Figura 6. Observou-se

comprometimento em áreas das regiões corpo caloso bilateral, estruturas do sistema

límbico e tronco cerebral.

Tabela 14: Áreas de alteração significativa para atrofia de substância branca em pacientes

com DM1 identificadas por análise de VBM.

Tamanho

Cluster

Coordenadas (mm) Região T Equivalente Z

X Y Z

Inter-hemisférico

SB 1 566 -5 -30 7

Corpo Caloso; extra nuclear

direito e esquerdo.

5,08 4,12

Lobo Límbico

SB 2

73 9 44 18

Cíngulo anterior e giro frontal medial

direito

5,05 4,10

SB 3 150 27 3 -36

Polo temporal medial e Uncus

direito 4,26 3,62

SB 4 108 -29 6 -32 Uncus esquerdo 4,24 3,61

Tronco Cerebral

SB 5 68 20 -28 -41 Ponte direita 4,12 3,53

Legenda: Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. SB= substância branca.

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Figura 6: Comparação de morfologia de substância branca entre controles e pacientes com DM1. Áreas em destaque mostram regiões atróficas em pacientes. Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. A: visão espacial das áreas nas coordenadas. B: Secção sagital, coronal e axial apresentando parte das áreas identificadas no teste. C: Cortes axiais de 4 mm mostrando todas as áreas em “aumento” identificadas.

C

A B

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B.2 “Aumento” da substância branca nos pacientes:

A área com “aumento” de substância branca nos pacientes está apresentada na

Tabela 15 e Figura 7, mostrando a região frontal direita.

Tabela 15: Área de alteração significativa para “aumento” de substância cinzenta em

pacientes com DM1 identificada por análise de VBM.

Tamanho

Cluster

Coordenadas (mm) Região T Equivalente Z

X Y Z

Lobo Frontal

AumSB 1 54 30 42 -15

Giro frontal medial, orbital direito

4,56 3,81

Legenda: Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. AumSB= “aumento” de substância branca.

A

B

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Figura 7: Comparação de morfologia de substância branca entre controles e pacientes com DM1. Área em destaque mostra região de “aumento” em pacientes. Análise covariada para idade e volume intracraniano; p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações; clusters ≥ 50. A: visão espacial das áreas nas coordenadas. B: Secção sagital, coronal e axial apresentando parte das áreas identificadas no teste. C: Cortes axiais de 4 mm mostrando todas as áreas em “aumento” identificadas.

5.3.3 Espectroscopia:

As espectroscopias das regiões frontal, temporoparietal e occipital de cada

voluntário da pesquisa foram selecionadas conforme descrito no capítulo métodos. Deste

modo, houve redução do número de casos para a análise estatística.

Assim realizou-se análise por teste não paramétrico de cada razão média (valor

relativo) dos metabólitos, para cada região. Os resultados são apresentados na Tabela 16,

sem diferença significativa para o nível de significância p< 0,005, corrigido para múltiplas

comparações.

C

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Tabela 16: Análise estatística das espectroscopias com amostras independentes.

Razão média dos metabólitos Pacientes Controles p

Frontal

Cho/Cre 0.32 ±0.08 (8) 0.31 ±0.09 (8) 0,64

NAA/Cre 1.52 ±0.28 (8) 1.68 ±0.25 (8) 0,16

Glx/Cre 0.97 ±0.11 (5) 1.15 ±0.42 (8) 0,94

Occipital

Cho /Cre 0.28 ±0.05 (12) 0.28 ±0.03 (11) 0,69

NAA/Cre 1.55 ±0.38 (12) 1.60 ±0.17 (11) 0,37

Glx/Cre 1.22 ±0.31 (11) 1.19 ±0.20 (8) 0,96

Temporoparietal

Cho /Cre 0.29 ±0.04 (12) 0.2995 ±0.07 (12) 0,79

NAA/Cre 1.43 ±0.33 (12) 1.6856 ±0.24 (12) 0,06

Glx/Cre 1.15 ±0.36 (10) 1.1925 ±0.19 (8) 0,57

Legenda: Cho= glicero fosfocolina mais fosfocolina; NAA= N-acetil-aspartato mais N-acetil-aspartato-glutamato; Cre= creatina mais fosfocreatina; Glx= glutamato mais glutamina. Dados apresentados como média ± desvio padrão (número de casos considerados para análise conforme critérios de qualidade); p<0.005, corrigido para múltiplas comparações.

5.4 Avaliando as relações entre os resultados dos testes obtidos para os pacientes:

5.4.1 Análise de regressão múltipla das áreas de alteração cerebral da VBM:

A análise de regressão múltipla da VBM pelo Matlab, covariada para escolaridade,

não identificou nenhuma relação entre as áreas de alteração de substância cinzenta ou

branca (identificadas pelo teste-t) quando avaliadas com cada um dos testes

neuropsicológicos, escores do WAIS III, força muscular, início e tempo da doença

individualmente. Foram considerados p<0.001, não corrigido para múltiplas comparações e

clusters ≥ 50 voxels.

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5.4.2 Estudo exploratório de correlação entre clínica, morfometria e espectroscopia.

Um estudo exploratório, menos restritivo, foi realizado a fim de conhecer o grau de

relação entre os dados obtidos no grupo de pacientes como idade, escolaridade, força dos

membros superiores, início e tempo de doença, avaliação neuropsicológica e psicométrica e

os resultados da espectroscopia,

Obteve-se o índice de correlação de Spearman’s rho, sendo considerados

significativos p corrigidos para múltiplas comparações, conforme o teste em análise.

Antes de proceder à análise da correlação seus pressupostos foram analisados:

- Nível de medição: verificou-se que todos os dados a serem correlacionados possuíam

escalas contínuas.

- Pares relacionados: confirmou-se que cada par de dados a ser analisado pertenciam a um

mesmo sujeito.

- Independência de observação onde os resultados dos testes de cada voluntário não

sofreram interferência dos demais, nem de condições externas que induzissem a

determinado resultado.

- Normalidade: o teste de Shapiro-Wilk, através do software Action, foi aplicado em cada

variável a ser correlacionada (apenas os dados dos pacientes foram utilizados). Houve

algumas variáveis que não apresentaram distribuição normal, como mostram as tabelas dos

Anexos 1, 2, 3 e 4. Desta forma utilizamos a correlação não paramétrica de Spearman’s

rho.

Linearidade e homocedasticidade adequados ao estudo foram observadas nos diagramas de

dispersão dos pares relacionados.

Serão apresentados os resultados significativos para índice de coorelação de

Spearman’s rho, R > 0,5, com p bicaudado ajustado para multiplas comparações.

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61

5.4.1 Idade, início dos sintomas e tempo de doença:

A. A idade:

Não houve correlação estatisticamente significativa da idade com a avaliação

neuropsicológica, psicométrica, valores relativos dos metabólitos na espectroscopia e força

muscular.

A.1 Correlação da idade com itens da avaliação pelo WAIS III:

Houve correlação significativa da idade com a área de atrofia SC6, conforme

mostra a figura 8:

Figura 8. Correlação entre a idade dos pacientes e o volume de substância cinzenta do giro temporal superior esquerdo (SC6) pela VBM. Significância para índice de correlação Spearman’ rho R > 0,5 com p bicaudado < 0,004.

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B. O início dos sintomas:

Não houve correlação estatisticamente significativa entre o início dos sintomas e a

avaliação psicométrica pelo WAIS III, os testes neuropsicológicos, os valores relativos dos

metabólitos na espectroscopia e a força muscular.

C. O tempo de doença:

Não houve correlação estatisticamente significativa entre o tempo de doença e a

avaliação psicométrica pelo WAIS III, os testes neuropsicológicos, a força muscular, as

alterações da VBM e os valores relativos dos metabólitos na espectroscopia.

D. Força muscular no seguimento dos membros superiores:

Não houve correlação estatisticamente significativa entre a força muscular no

seguimento dos membros superiores e a avaliação psicométrica pelo WAIS III, os testes

neuropsicológicos, os valores relativos dos metabólitos na espectroscopia e a força

muscular.

E. Áreas de alteração cerebral da VBM:

E.1 Análise de correlação das áreas de alteração cerebral da VBM:

As análises de correlação de Sperman’s rho entre os volumes dos ROIs de

alteração cerebral da VBM obtidos pelo software Marsbar e psicométrica pelo WAIS III e

testes psicométricos são apresentadas a seguir.

E.1.1 Correlação dos volumes dos ROIs pela VBM com itens da avaliação pelo WAIS

III:

Não houve correlação estatisticamente significativa entre volumes dos ROIs pela

VBM e a avaliação psicométrica pelo WAIS III, tanto para substância cinzenta, quanto para

substância branca. Alguns escores tiveram índices de correlação altos, embora o valor de p

não atingisse a níveis significativos quando corrigido para múltiplas comparações.

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E.2.2 Correlação dos volumes da VBM com itens da avaliação neuropsicológica:

E.2.2.1 Atrofia de substância cinzenta:

a) Região Frontal

O volume de substância cinzenta da área 8 (SC8) teve correlação estatisticamente

significativa com os escores do TAAVR A7, apresentado na Figura 9.

Figura 9: Correlação entre o volume de substância cinzenta do giro frontal medial direito (SC8) dos pacientes e os escores do teste de aprendizado auditivo verbal de Rey A7 (TAAVR A7). Significância para índice de correlação Spearman’ rho R > 0,5 com p bicaudado < 0,012.

b) Região Límbica

Não houve correlação estatisticamente significativa nestas áreas com p corrigido

para múltiplas comparações.

c) Região Temporal

Não houve correlação estatisticamente significativa nestas áreas com p corrigido

para múltiplas comparações.

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E.2.2.2 Atrofia de substância branca:

a) Inter hemisférios

Não houve correlação estatisticamente significativa nesta área com p corrigido

para múltiplas comparações.

b) Região Límbica

Não houve correlação estatisticamente significativa nestas áreas com p corrigido

para múltiplas comparações.

c) Tronco Cerebral

Não houve correlação estatisticamente significativa e com significado clínico

nesta área com p corrigido para múltiplas comparações.

E.2.2.3 “Aumento” de substância cinzenta:

a) Cerebelo

Não houve correlação estatisticamente significativa nestas áreas com p corrigido

para múltiplas comparações.

b) Occipital

Não houve correlação estatisticamente significativa nesta área com p corrigido para

múltiplas comparações.

E.2.2.4 “Aumento” de substância branca:

Não houve correlação estatisticamente significativa nesta área com p corrigido para

múltiplas comparações.

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F. Valores relativos dos metabólitos cerebrais pela espectroscopia:

F.1 Correlação dos valores relativos dos metabólitos cerebrais pela espectroscopia

com itens da avaliação pelo WAIS III:

Não houve correlação estatisticamente significativa dos valores relativos dos

metabólitos cerebrais pela espectroscopia com itens da avaliação pelo WAIS III com p

corrigido para múltiplas comparações.

F.2 Correlação dos valores relativos dos metabólitos cerebrais pela espectroscopia

com itens da avaliação neuropsicológica:

Houve correlação estatisticamente significativa do valor relativo do NAA

temporoparietal com o teste de Stroop incongruente por tempo, como mostra a Figura.10.

Então quanto menor os níveis do metabólito pior o desempenho no teste.

Figura 10: Correlação entre o valor relativo do NAA temporoparietal com o escore do teste de Stroop incongruente por tempo em segundos (s). Significância para índice de correlação Spearman’ rho R > 0,5 com p bicaudado < 0,008.

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F.3 Correlação dos valores relativos dos metabólitos cerebrais pela espectroscopia

com áreas de alteração cerebral pela VBM:

F.3.1 Atrofia de substância cinzenta:

Houve correlação estatisticamente significativa do valor relativo do NAA

temporoparietal com o volume de substância cinzenta da região temporal (SC11), como

mostra a Figura 11. Assim, quanto maior a atrofia, menor concentração do metabólito.

Figura 11: Correlação entre o valor relativo do NAA temporoparietal com o volume da substância cinzenta do giro temporal superior (SC11). Significância para índice de correlação Spearman’ rho R > 0,5 com p bicaudado < 0,008.

F.3.2 “Aumento” de substância cinzenta:

Não houve correlação estatisticamente significativa dos valores relativos dos

metabólitos cerebrais pela espectroscopia com áreas de “aumento” de substância cinzenta

pela VBM.

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F.3.3 Substância branca:

Não houve correlação estatisticamente significativa dos valores relativos dos

metabólitos cerebrais pela espectroscopia com áreas de alteração de substância branca pela

VBM.

5.4.2 Correlação clínica dos testes neuropsicológicos com as redes neurofuncionais.

As funções cerebrais requeridas à realização dos testes neuropsicológicos são

resumidas nas Tabelas 17 a, b, c e d, juntamente com as áreas de Brodmann relacionadas.

Na última coluna são listadas as áreas atrofia de substância cinzenta identificadas no

estudo, nas quais estão contidas as áreas de Brodmann em negrito.

Tabela 17 a: Testes neuropsicológicos com respectivas funções corticais requeridas e áreas

de Brodmann envolvidas no processamento complexo.

Teste Função Cerebral BA SC

Linguagem Nomeação de Boston Processamento visual primário,

Atenção visual. 17, 18; 37

Capacidade de reconhecer objetos 19 Integração visual: processamento e

memória de reconhecimento 20 SC2

Memória de trabalho verbal 39, 44 e 45; 9, 10, 46 e 47

SC7, SC8, SC1, SC5, SC12

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 44 e 45; 47; 24, 32 e 33

SC9, SC1, SC5, SC12, SC4, SC10

Fluência verbal Memória semântica explícita

evocada 37

Memória de trabalho verbal 39, 44 e 45; 9, 10, 46 e 47;

SC7, SC8, SC1, SC5, SC12

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 44 e 45; 47; 24, 32 e 33

SC9, SC7, SC1, SC5, SC12, SC4, SC10

Legenda: BA: área de Brodmann; SC: área de atrofia de substância cinzenta identificadas no estudo na qual estão contidas as BA identificadas em negrito.

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Tabela 17 b: Testes neuropsicológicos com respectivas funções corticais requeridas e áreas

de Brodmann envolvidas no processamento complexo.

Teste Função Cerebral BA SC

Percepção Visual Processamento visual primário,

Atenção visual. 17, 18; 37

Capacidade de reconhecer objetos 19 Atenção visuoespacial 6, 8; 39, 24, 32-

33; 35; 45 SC4, SC10

Localização de objetos no espaço 7 Processo visuoespacial e rotação mental 5 Integração visual: processamento e

memória de reconhecimento 20 SC2

Memória de trabalho verbal 39, 44 e 45; 9, 10, 46 e 47

SC7, SC8, SC1, SC5, SC12

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 44 e 45; 47; 24, 32 e 33

SC9, SC7, SC1, SC5, SC12, SC4, SC10

Praxia construtiva Cubos de Kohs Processamento visual primário,

Atenção visual. 17, 18; 37

Atenção visuoespacial 6, 8; 39, 24, 32-33; 45

SC4, SC10

Integração do elemento visual na percepção global

20 SC2

Planejamento executivo e motor 6, 8, 9, 10; 13-16; 24, 32-33; 5; 40

SC4, SC10, SC8

Motora primária 4 e 6

Legenda: BA: área de Brodmann; SC: área de atrofia de substância cinzenta identificadas no estudo na qual estão contidas as BA identificadas em negrito.

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Tabela 17 c: Testes neuropsicológicos com respectivas funções corticais requeridas e áreas

de Brodmann envolvidas no processamento complexo.

Teste Função Cerebral BA SC

Memória Memória de trabalho e Atenção

Span Dígito Direto Percepção auditiva acurada 41, 42 e 22 SC11, SC6 Atenção seletiva para sons 6, 9, 10; 24, 32-33 SC8, SC4, SC10 Memória curto prazo 44, 45 SC7 Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 47; 44 e 45 SC9 SC1, SC5, SC12,

SC7 Inverso Percepção auditiva acurada 41, 42 e 22 SC11, SC6 Atenção seletiva para sons 6, 9, 10; 24, 32-33 SC8, SC4, SC10 Memória trabalho 5, 7, 6, 8, 9, 10, 20; 24,

32-33; 40, 41, 44, 45, 46,47; (28, 34-36, 48)

SC8, SC2, SC4, SC10, SC11, SC7, SC1, SC5, SC12

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 47; 44 e 45 SC9, SC1, SC5, SC12, SC7

Stroop incongruente Tempo/Erros Processamento visual primário,

Atenção visual. 17, 18; 37

Capacidade de reconhecer cores 18 Integração visual: processamento e

memória de reconhecimento 20 SC2

Memória de trabalho 5, 7, 6, 8, 9, 10, 20; 24, 32-33; 40, 41, 44, 45, 46,47; (28, 34-36, 48)

SC8, SC2, SC4, SC10, SC11, SC7, SC1, SC5, SC12

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 47; 44 e 45 SC9, SC1, SC5, SC12, SC7

Legenda: BA: área de Brodmann; SC: área de atrofia de substância cinzenta identificadas no estudo na qual estão contidas as BA identificadas em negrito.

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Tabela 17 d: Testes neuropsicológicos com respectivas funções corticais requeridas e áreas

de Brodmann envolvidas no processamento complexo.

Teste Função Cerebral BA SC

Memória longo prazo Evocação

TAAVR A7 Memória Evocação 8, 9, 10; 26, 29, 30; 24,

31, 32, 33; 38, 40 SC8, SC4, SC10, SC3

Linguagem Expressão 21; 6 e 8; 47; 44 e 45 SC9, SC1, SC5, SC12, SC7

Memória Visual Espacial 10/36

Memória visuoespacial 17, 18, 19; 39; 7, 5 Atenção visuoespacial 6,8; 39,24,32-33; 45 SC4, SC10 Processamento Visuoespacial 39, 7 Integração do elemento visual na

percepção global 20 SC2

Planejamento executivo e motor 6, 8, 9, 10; 13-16; 24, 32-33; 5; 40

SC4, SC10, SC8

Motora primária 4 e 6

Depressão pelo questionário de Beck

Processamento emocional/Vivencia

38, 46; (27-28, 34-36, 48)

Relacionado a linguagem 23, 26, 29, 30, 31; 25 SC3 Estímulo emocional 9, 10; 24, 32-33 SC8, SC4, SC10 Resposta de medo 13-16

Legenda: BA: área de Brodmann; SC: área de atrofia de substância cinzenta identificadas no estudo na qual estão contidas as BA identificadas em negrito.

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6 DISCUSSÃO

6. 1 Considerações Iniciais

Foram convidados apenas pacientes maiores de 16 anos, com pelo menos dois anos

de escolaridade e acuidade visual de pelo menos 0,5 em ambos os olhos para que os testes

usados no estudo estivessem adequados a suas capacidades neuropsíquicas. Os controles

foram selecionados buscando uma semelhança das médias dos grupos em relação à idade,

escolaridade e sexo, não havendo diferença estatisticamente significativa pela análise não

paramétrica. Mesmo com estes cuidados, estas informações foram utilizadas como

covariáveis, como mencionado no capítulo dos resultados, a fim de minimizar os erros tipo

1 no estudo. A utilização do volume intracraniano como covariável na avaliação

morfométrica foi importante para reduzir possíveis diferenças entre os sexos e também à

influência antropométrica de cada sujeito na amostra.

Ressalta-se que para adequada realização e consideração de desempenho dos

indivíduos nos testes neuropsicológicos, realizou-se a conferência de que cada tarefa foi

devidamente compreendida pelo indivíduo, após a qual os testes foram iniciados. Todos os

sujeitos realizaram todos os testes.

‘Toda atividade mental complexa é um sistema funcional passível de ser perturbado

em diferentes componentes e de ser comprometido por lesões cerebrais em

diferentes situações (Luria, 1981)107’.

Assim, para compreender as relações entre as alterações neuropsicológicas e as

lesões encefálicas é preciso proceder à ‘análise de como a atividade mental é alterada em

diferentes lesões cerebrais locais e de que fatores são introduzidos na estrutura de formas

complexas de atividade mental por cada sistema cerebral’ (Luria, 1981)107. Assim, o

conjunto de testes selecionados neste estudo procurou avaliar de forma ampla, mas

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aprofundando nas funções cerebrais com maior possibilidade de comprometimento na

DM1, baseado na literatura (Meola e Sansone, 2007)51.

Pacientes com a forma congênita não foram considerados neste estudo, pois

possuem maior incidência de retardo mental e alterações encefálicas (Kuo et al., 2005;

Meola e Sansone, 2007; Echenne et al., 2008)66, 51, 108.

A constatação da dominância cerebral esquerda na amostra, sugerida pelo teste de

dominância manual, foi pressuposto para adequada análise das funções cerebrais nos testes

neuropsicológicos.

A utilização da morfometria baseada em voxels estabeleceu uma visão global das

diferenças de volumes entre pacientes e seus controles, aumentando a sensibilidade dos

testes feitos no estudo anterior (Mendonça, 2010)11.

Nesta discussão, apresentaremos aspectos da doença, os testes neuropsicológicos

com suas redes neurofuncionais requeridas, seguindo para as áreas cerebrais identificadas

pela morfometria com as funções que lhes são atribuídas, para finalmente discutirmos a

correlação entre ambas e entre as alterações bioquímicas pela espectroscopia.

6.2 Os Resultados:

6.2.1 A Distrofia Miotônica tipo 1

Quanto ao comprometimento muscular dos pacientes, todos estavam acima de 3

pela escala MIRS, ou seja grau moderado a grave de déficit motor, embora funcionalmente

independentes, não havendo cadeirantes na amostra. A escala MIRS avalia a clínica

muscular, sendo um interessante instrumento para seguir a história natural da doença,

embora não reflita o impacto funcional da fraqueza no indivíduo. Então, a fraqueza distal

grau 3 ocorre após 9 a 10 anos de doença, enquanto a fraqueza proximal grau 4 ocorre por

volta de 18 anos de sintomas e a fraqueza proximal intensa grau 5 acontece após 27 anos de

doença (Mathieu et al., 2001)86. Na amostra do estudo os pacientes com DM1 infantil tem

duração média de 29,5 anos de doença, enquanto os DM1 clássica têm 15,5 anos, estando

seu comprometimento muscular médio dentro do esperado para evolução natural da DM1.

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Importante observação acerca do déficit motor dos membros superiores, é que ele

não impossibilitou os pacientes realizarem as atividades propostas a contento, bem como

não teve correlação estatisticamente significativa com o desempenho das mesmas. Com

isso sugere-se que os déficits cognitivos encontrados sejam manifestações das alterações

encefálicas.

6.2.2 Avaliação psicométrica dos pacientes pelo WAIS III:

Pela distribuição de frequência observou-se um desempenho na escala verbal pior

que na executiva, com cerca de um terço dos pacientes com QI médio inferior ou abaixo,

oposto do apresentado por outros autores (Meola e Sansone, 2007; Sistiaga et al., 2010;

Douniol et al., 2012; Tanaka et al., 2012)51, 44, 48, 109. Um paciente teve QI total e de

execução médio superior, também com desempenho médio superior na compreensão verbal

e processamento verbal, sendo este indivíduo o de maior escolaridade. Pior desempenho na

escala verbal foi observado nas mulheres com DM1 do estudo de Bird, Follett e Griep,

curiosamente os descendentes destas mulheres tiveram melhor desempenho na escala

verbal. O QI variou muito na avaliação destes autores, sendo pior na forma congênita (Bird

et al., 1983)37. Enquanto um amplo estudo com DM1 infantil, que utilizou WAIS ou WISC,

conforme a idade do paciente, e uma escala denominada SAMUEL, apresentou pior

desempenho na escala de execução. Esses autores, entretanto, não avaliaram a estrutura

cerebral de sua amostra por nenhum método de imagem (Douniol et al., 2012)48.

O índice de memória operacional, que compõe a escala verbal, teve mais de 60%

dos escores médio inferior ou abaixo, constituindo o pior desempenho entre os índices

fatoriais do WAIS III. Este índice é composto pelos testes: aritmética (que utiliza o

raciocínio matemático), dígitos e sequência de números e letras (que possuem o índice

primário de memória auditiva).

O teste de aritmética contém atividades de raciocínio numérico em que quase um

terço dos pacientes teve escores médio inferior. Os processos de cálculo mais simples são

associados à região parieto-occipital (BA 39 e 40) e parietal superior (BA 7), enquanto os

testes matemáticos mais complexos, com múltiplos cálculos e considerações intermediárias,

são mediados em áreas pré-frontais (BA 9, 10) e frontais (BA 4, 6, 8, 44, 45, 46). As áreas

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do córtex pré-frontal dorso-lateral (DLPFC, sigla em inglês) atuam de forma coordenada,

sendo que as áreas direitas utilizam a memória de trabalho espacial como recurso para

construir situações modelos, enquanto as esquerdas usam os recursos não espaciais.

O armazenamento e processo de transformação da informação numérica para a

verbal (como letra, dígitos e informação semântica) ativam, além das regiões DLPFC, a

região opercular frontal esquerda, área de Broca (BA 44, 45 e 47), área pré-motora (BA 6)

e regiões parietais esquerda, giro angular e supramarginal da área de Wernicke (BA 39 e

40). Assim, percebe-se que enquanto o raciocínio se processa na resolução do problema, a

memória de trabalho fica ativada. Áreas temporais são requisitadas na resolução de

problemas envolvendo palavras (BA 21, 22, 37). Áreas do cíngulo (BA 17, 24, 23, 29, 30,

31 e 32) e occipitais (BA 17, 18 e 19) são ativadas no processo, sendo que quanto maior a

complexidade do problema, mais áreas são ativadas (Prabhakaran et al., 2001)110. Enfatiza-

se que as BA 10, 44, 47, 21, 30 e 32 estão contidas nas áreas de atrofia de substância

cinzenta (SC8; SC7; SC1, SC 5 e SC12; SC 9; SC4 e SC 10, respectivamente) identificada

neste estudo, sugerindo que estas áreas atrofiadas possam participar na fisiopatogenia do

déficit verificado.

O teste de dígitos utiliza memória auditiva imediata, na qual cerca de um terço dos

pacientes tiveram desempenho na média inferior. Também a atenção é requerida no teste de

dígitos, e nesse quesito houve cerca de 23% de desempenho médio inferior ou abaixo.

Dígitos é uma variação do span dígito, assim envolve as mesmas funções descritas na

Tabela 20 e, consequentemente, apresentam o envolvimento das BA 41, 42, 10, 20, 32, 44,

47 e 21, contidas nas áreas de atrofia cinzenta (SC 11; SC 6; SC 8; SC 2; SC4 e SC 10; SC

7; SC1, SC5 e SC 12, SC9, respectivamente) identificadas neste estudo, também sugerinto

associação entre a atrofia e o déficit cognitivo em questão

O teste de compreensão que envolve a capacidade de senso comum e juízo social

teve a maior frequência de escores abaixo do médio inferior entre os testes. A compreensão

e articulação de regras sociais e conceitos ou soluções sociais para problemas da vida diária

são funções requeridas para realização deste teste. Há evidência disponível compatível com

o papel de um sistema de espelho relacionados à junção temporoparietal, os quais

possibilitam inferir metas temporárias e intenções em um relativo nível perceptual de

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representação, e o córtex medial pré-frontal funciona como um módulo que integra

informações sociais através do tempo e permite reflexão e representação de características e

normas, e presumivelmente, também da intencionalidade, a um nível cognitivo mais

abstrato (Van Overwalle, 2009)111. Reforça-se que áreas dos cortex préfrontal (SC 8, BA

10; SC 1, SC 5 e SC 12, BA 47) foram identificadas como atroficas nos pacientes deste

estudo.

O desempenho deficitário quanto à teoria da mente, observado no estudo de

Kobayakawa Tsuruya e Kawamura. (Kobayakawa et al., 2012)47, a inflexibilidade

cognitiva observada por Sistiaga et al. (Sistiaga et al., 2010)44 e a alexitimia descrita por

Douniol et al.(Douniol et al., 2012)48, podem ser processos envolvidos no

comprometimento do senso comum e juízo social na DM1.

Como o teste de compreensão e o índice de memória operacional contribuem para o

cálculo do escore da escala verbal, este acaba por exprimir pior desempenho. Pelo exposto,

pressupõe-se que isto ocorreu por influência de disfunção no planejamento e na inibição,

característicos das áreas frontais (executivas). O déficit em funções executivas na DM1 é

descrito na literatura (Meola e Sansone, 2007; Sistiaga et al., 2010)51, 44.

Em um estudo comparando capacidade intelectual entre DM1 clássica e mínimos

sintomas, foi observado pior desempenho na forma clássica (Jean et al., 2014)112. Enquanto

a comparação de DM1 infantil com DM1 clássica mostrou pior desempenho na forma

infantil (Meola e Sansone, 2007; Mendonça, 2010)51, 11. Considerando estes estudos, há

indícios de que quanto mais precoce as manifestações da doença piores o desempenho

cognitivo dos pacientes.

Assim como outros estudos de medida do QI através do WAIS na DM1 (Brumback

e Wilson, 1984; Chang et al., 1993; Palmer et al., 1994; Winblad, Lindberg, et al., 2006;

Meola e Sansone, 2007)36, 57, 41, 113, 51, no estudo observou-se escores dentro do normal para

a população, mas reduzido quando comparado a controles saudáveis.

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6.2.3 Testes Neuropsicológicos:

A. Avaliação do humor pelo questionário de depressão de Beck:

Não houve significativa alteração depressiva nos pacientes neste estudo,

diferentemente do estudo de Weber et al., o qual usou o questionário de depressão de Beck

e outro questionário de auto avaliação para depressão e obteve a média dos escores de 20

pacientes DM1 em 10,1 (DP ± 7,4) e controles com 5,7 (DP ± 6,7) com p = 0,02 (Weber et

al., 2010)71. O estudo de Winblad et al., por sua vez, apresenta 32% de depressão leve a

moderada na DM1, mas sem diferença significativa com o grupo controle utilizando-se do

QDB, tendo separado para a análise a dimensão cognitivo afetiva da dimensão física

(Winblad et al., 2010)114.

O questionário de depressão de Beck apesar de ser uma ferramenta muito utilizada

em pesquisas, facilitando a comparação de estudos e estar validada na língua portuguesa,

possui algumas limitações no diagnóstico de depressão na DM1. Foi muito importante

neste estudo para ponderar os efeitos do humor nas respostas dos testes neuropsicológicos.

Entretanto, sendo um questionário de auto avaliação, pode ter seu resultado subestimado

pela redução de insight que ocorre na DM1 (Meola e Sansone, 2007; Mendonça, 2010)51, 11.

Por outro lado, a dimensão física pode provocar um aumento na estimativa da depressão na

DM1. Essa dicotomia auxilia na compreensão da divergência entre os estudos da literatura.

No estudo anterior, a avaliação dos escores por itens teve diferença significativa

entre os grupos DM1 e controles no item sentimento de culpa (Mendonça, 2010)11.

Como o escore total não apresenta diferença significativa entre pacientes e controles

em vários estudos há autores que discutem os sintomas depressivos na DM1 como

adaptativos ou reativos e não consideram que os DM1 tenham mais depressão que os

controles (Bungener et al., 1998; Minnerop et al., 2011)35, 72. Podendo ser esta uma

explicação para os escores alterados de forma isolada na amostra deste estudo.

Essa teoria da depressão reativa/ adaptativa pode ser reforçada pelo estudo que

analisou 152 pacientes DM1 com a forma clássica e 48 com mínimos sintomas com

questionários de personalidade, psicológicos, de autoestima e de risco de suicídio. Os

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autores observaram resultados dentro dos valores normatizados para os questionários,

entretanto, os fenótipos mais graves tiveram piores sintomas psicológicos, enquanto

ansiedade fóbica e baixa autoestima foram associadas a baixo nível educacional, maior

número de repetições CTG, pior comprometimento muscular e cognitivo (Bertrand et al.,

2014)115.

B. Testes neuropsicológicos:

Os testes neuropsicológicos realizados neste estudo buscaram aprofundar o perfil

cognitivo, em especial nas áreas com maior possibilidade de disfunção na DM1. A

localização quanto à área de Brodmann (BA) é feita no intuito de facilitar a localização

anatômica referida, mas a função cortical em discussão pode não estar restrita a esta área.

B.1 Avaliação cognitiva global:

O MEEM é um instrumento abrangente que fornece uma visão cognitiva global, não

sendo muito sensível, é muito usado como rastreamento neuropsicológico.

O escore do MEEM ficou dentro da normalidade para o grau de instrução. Também

não houve diferença significativa na comparação com os controles, semelhante aos dados

de Tanaka et al., (Tanaka et al., 2012)109, mas diferentemente do resultado a apresentado na

dissertação de mestrado da autora e por outros autores (Meola et al., 1999; Meola et al.,

2003; Modoni et al., 2004; Mendonça, 2010; Weber et al., 2010)60, 116, 117, 11, 71. A

divergência entre a avaliação de 2010 e a atual se deve a redução na amostra e não a

melhora do desempenho dos indivíduos avaliados.

B.2 Linguagem

B.2.1 Nomeação de Boston

A avaliação da linguagem neste estudo, como no de Minnerop et al., não

encontrou diferença significativa no desempenho dos DM1 em relação a seus controles pelo

teste de nomeação de Boston (Minnerop et al., 2011)72. Enquanto Rakocevic-Stojanovic et

al., encontraram 52,3 % dos pacientes DM1 juvenil e 67,4% de DM1 clássico com

significativo pior desempenho neste teste quando comparado a controles saudáveis

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pareados (Rakocevic-Stojanovic et al., 2014)46. Caso et al., por sua vez, com este

instrumento, encontraram diferença significativa entre pacientes e controles (Caso et al.,

2014)78.Quando comparados com pacientes DM2, os DM1 tiveram pior desempenho na

nomeação (Peric et al., 2015)118.

No teste de nomeação de Boston, o examinando deve dizer o nome da figura

apresentada no desenho. A tarefa inicia-se com o processamento visual primário nas

regiões occipitais (BA 17 e 18) e necessita da atenção visual (fixação visual) e atenção às

relações semânticas, processadas na região têmporo-occipital esquerda (BA 37). A

capacidade de reconhecer os objetos ocorre com auxílio das regiões secundárias da visão

(BA 19) e passa por processo de integração com memória de reconhecimento, na região

temporal inferior (BA 20). Então, as informações são processadas na memória de trabalho

episódica que funciona pela interação entre estruturas da região temporal medial, em

especial o hipocampo, e áreas associativas dos córtices pré-frontal, visual e auditivo. O

subsistema verbal da memória de trabalho, através da região parietal posterior (de

Wernicke, parte visual-parietal associada ao armazenamento, BA 39) e região articulatória

da fala na área de Broca (BA 44 e 45), fazem parte deste processamento (Kandel et al.,

2013)119.

A área de Wernicke de integração visual possibilita que o significado apropriado

selecionado para a imagem seja convertido na forma de linguagem. Áreas pré-frontais

participam da memória de trabalho auxiliando na escolha da resposta, inibindo alternativas

irrelevantes e contribuindo no processo semântico (BA 9, 10, 46 e 47). Por sua vez, o giro

temporal médio esquerdo (BA 21) participa no processo semântico, incluindo a geração de

palavras. A inicialização da fala e sua fluência voluntária ocorre pela regulação de áreas

motoras secundárias (BA 6 e 8), enquanto a região frontotemporal esquerda promove o

sequenciamento da fala (BA 44 e 45) (Luria, 1981)107. Mantém-se a modulação do processo

fonológico na região pré-frontal inferior (BA 47), a qual é associada à tomada de decisão.

Regiões do córtex do cíngulo são também associadas ao processo de expressão da

linguagem, participando de vários processos associativos cognitivos (BA 24, 32 e 33)

(Trans Cranial Technologies, 2012)120.

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Das várias áreas corticais implicadas no teste reforça-se que as BA 10, 20, 21, 32,

44 e 47 estavam contidas em áreas de atrofia cortical identificadas por VBM. Assim, por se

tratar de uma tarefa que utiliza extensa rede neurofuncional para a sua execução, um

acompanhamento longitudinal dos pacientes poderia ser uma forma de conhecer a evolução

das alterações encefálicas na DM1 e sua repercussão na linguagem de nomeação.

B.2.2 Fluência verbal semântica

Da mesma forma que neste estudo, um grupo italiano não observou diferença da

média e do desvio padrão do número de palavras da fluência verbal, comparando pacientes

DM1 de início na idade adulta e controles. Entretanto, eles tiveram 14% de respostas

patológicas nos pacientes e, usando espectroscopia funcional com infravermelho próximo,

obtiveram hipometabolismo frontal durante teste de fluência verbal fonêmica com as letras

A, F, S, nos pacientes sem atrofia prévia pela RMc de 1,5 T. Os autores sugerem alterações

de natureza funcional precedendo as alterações anatômicas (Caliandro et al., 2013)74.

Apesar do fenótipo facial, da fraqueza e miotonia da musculatura relacionada à

fala dificultarem a comunicação dos pacientes DM1, o desempenho da função verbal tem se

mantido dentro dos padrões da normalidade em estudos com ferramentas diversas, como o

teste Token, o de associação controlada de letras e categorias e mesmo a fluência verbal

semântica e fonêmica (Meola et al., 1999; Meola e Sansone, 2007; Weber et al., 2010;

Tanaka et al., 2012)60, 51, 71, 109.

Quando o examinador solicita que um indivíduo fale o nome de todos os animais

que puder se lembrar em um minuto, a memória de longo prazo, semântica explícita, na

região temporal esquerda (giro fusiforme lateral, BA 37), que representa a forma de coisas

e objetos, é ativada, juntamente com sulco temporal superior direito. Então, o sistema de

memória de trabalho, em seu subsistema verbal, processa as informações de forma

semelhante à citada no teste de nomeação, ativando as mesmas áreas. A inicialização da

fala e a manutenção voluntária fluente dos nomes dos animais ocorrem também sob-

regulação das mesmas áreas citadas anteriormente (Trans Cranial Technologies, 2012;

Kandel et al., 2013)120, 119.

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Dentre as áreas ativadas na realização do teste as BA 44, 10, 47, 21 e 32, estão

contidas nas áreas de atrofia de substância cinzenta identificadas por VBM (SC 7; SC 8; SC

1, SC 5 E SC 12; SC 9; SC4 e SC 10).

B.3 Percepção visual

No presente estudo, não houve alteração significativa da percepção visual, quanto à

discriminação de objetos comuns e reconhecimento direita-esquerda. Não identificamos na

literatura outros trabalhos que tenham utilizado esta mesma metodologia na avaliação de

pacientes DM1.

Entretanto, a alteração da percepção visual tem sido descrita na literatura para

funções específicas como a capacidade de reconhecimento das expressões faciais (Winblad,

Hellstrom, et al., 2006; Winblad, Lindberg, et al., 2006; Takeda et al., 2009)113, 121, 69 ou em

associação a alterações visuais, como os defeitos refrativos e outras alterações

oftalmológicas (Ekström, 2009)12, e os distúrbio da motricidade ocular, como os

movimentos sacádicos (Aring et al., 2012)122. A dificuldade em reconhecer as expressões

faciais ocorreu, especialmente, com as emoções negativas como raiva e desgosto. Foi

observada redução no fluxo temporal medial e na base do lobo frontal o que poderia levar a

disfunção do sistema límbico, incluindo a amígdala que é relacionada ao reconhecimento

das emoções (principalmente as negativas) pelas expressões faciais.

B.3.1 Subtestes da Bateria Neuropsicológica de Luria (Christensen, 1979) itens G12,

G13, G14, G17.

Quando cartões contendo figuras sobrepostas de objetos a serem distinguidos e

nomeados individualmente são apresentados aos examinandos, inicia-se o processamento

visual primário nas regiões occipitais (BA 17 e 18). De forma semelhante à descrita no teste

de nomeação, também é necessária a atenção visual (fixação visual) e atenção às relações

semânticas, processadas na região têmporo-occipital esquerda (BA 37), bem como a

capacidade de reconhecer os objetos processados nas regiões secundárias da visão (BA 19)

e a integração com memória de reconhecimento, na região temporal inferior (BA 20).

Assim como exposto anteriormente, o sistema de memória de trabalho, em seu subsistema

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verbal e a linguagem de expressão são processos necessários para que o indivíduo dê a

resposta ao teste (Trans Cranial Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120, 119.

Nas regiões ativadas pelo teste, acima citadas, encontram-se as BA 32, 44, 10, 47,

21, contidas nas áreas de atrofia cortical deste estudo (SC 4 e SC 10; SC7; SC8; SC1, SC 5

e SC 12; SC9).

B.3.2 Teste para rotação mental de figuras de Ratcliff.

Neste teste, para que o indivíduo identifique em que lado da figura humana

esquemática (direita ou esquerda) está o disco preto, além do processamento visual

requerido na bateria de Luria, é necessária atenção visuoespacial cujo processamento

envolve áreas motoras secundárias (BA 6 e 8), área de Wernicke no giro angular (BA 39),

regiões associativas do córtex do cíngulo (BA 24, 32 e 33) e a região triangular do giro

frontal inferior (BA 45) (Trans Cranial Technologies, 2012). A região parietal superior

direita (visual-parietal, BA 7) é, também, envolvida para a localização do objetos no

espaço, enquanto o córtex somato-sensorial associativo processa a rotação mental, BA 5

(Gall et al., 2008)123.

Este subteste da percepção visual envolveu as mesmas áreas citadas na bateria de

Luria acima.

B.4 Praxia construtiva visuoespacial com cubos de Kohs

O teste cubos de Kohs apresentou diferença significativa entre os grupos,

coincidindo com revisões da literatura (Meola e Sansone, 2007)51.

O baixo desempenho dos pacientes na montagem dos cubos observado neste estudo

é condizente com os achados da literatura (Wigg e Duro, 1999)10. Dificuldade de copiar

figuras complexas com ângulos, montar quebra-cabeças ou atividades com elementos em

duas ou três dimensões é uma deficiência reconhecida pelos pacientes DM1. Isso representa

o espectro do déficit visuoespacial da doença (Meola e Sansone, 2007; Sistiaga et al.,

2010)51, 44.

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Em estudo descritivo com DM1 forma infantil, os autores observaram grave déficit

de atenção visual e construtivo visuoespacial e fizeram a hipótese que distúrbios da óculo-

motricidade e do desenvolvimento do sistema visual (como baixa acuidade e astigmatismo)

poderiam contribuir com esta disfunção cognitiva, com o distúrbio de aprendizado e o

transtorno de déficit de atenção na DM1 (Douniol et al., 2012)48.

Para que o examinando consiga reproduzir nos cubos tridimensionais os modelos

apresentados, além do processamento visual, já descrito, são necessários os planejamento

executivo pré-frontal (BA 9, 10, 46 e 47) e dos movimentos coordenados complexos (lobo

parietal superior, BA 5,7 e giro supra marginal, BA 40), além de áreas associativas do lobo

límbico relacionadas a cognição (BA 24, 32 e 33). Para a conclusão da tarefa são

necessários os movimentos voluntários (motora primária e secundária, BA 4 e 6) que são

modulados pelo sistema extrapiramidal, envolvendo estruturas cerebelares (Trans Cranial

Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120, 119.

As áreas deste teste que se relacionam as áreas corticais de atrofia deste estudo são

BA 32 (SC 4 e SC 10), BA 20 (SC 2), BA 10 (SC 8).

B.5 Memória

B.5.1 Atenção e memória operacional

a. Span dígitos

O span dígito se assemelha ao teste dígitos do WAIS III, no qual todos os pacientes

tiveram escores médio ou superior, entretanto, a memória auditiva imediata, componente

deste teste, apresentou mais de 30% de desempenho médio inferior, sem comprometer o

desempenho final. Não houve diferença significativa entre pacientes e controles neste teste,

o que foi observado também nos estudos que utilizaram as avaliações de Wechsler (Bird et

al., 1983; Winblad, Hellstrom, et al., 2006; Douniol et al., 2012)37, 113, 48. Entretanto, Weber

et al., obtiveram significativa diferença em seu estudo (Weber et al., 2010)71. Enquanto um

estudo comparativo, que subdividiu os pacientes DM1 em tipo juvenil e adulto, observou

19% da forma juvenil e 11,6% da forma adulta com resultados considerados anormais neste

teste (Rakocevic-Stojanovic et al., 2014)46.

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a.1) Repetição de dígitos em ordem direta (Span dígito direto)

A repetição de números em ordem direta requer ativação de menor número de

áreas de processamento, que a repetição inversa. É necessária a percepção auditiva acurada

em áreas do córtex auditivo primário e secundário (BA 41, 42 e 22) associado à atenção

seletiva para sons (BA 6, 9, 10; 24, 32, 33) (Luria, 1981)107. Então, a memória de curto

prazo, em seu subsistema verbal, componente de repetição na área de Broca (BA 44 e 45)

processa as informações, as quais são verbalizadas no processo de linguagem de expressão

(BA 21; 6 e 8; 47; 44 e 45) (Trans Cranial Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120, 119.

Nas regiões ativadas pelo teste, acima citadas, encontram-se as BA 41, 42, 10, 32,

44, 21, 47, contidas nas áreas de atrofia cortical deste estudo (SC 11; SC 6; SC8; SC4 e SC

10; SC 7; SC9; SC 1, SC 5 e SC 12, respectivamente).

a.2) Repetição de dígitos em ordem inversa (Span dígito inverso)

A repetição de números em ordem inversa, por sua vez, além das funções descritas

acima, necessita do processamento da memória de trabalho, inibindo a repetição direta.

Nas regiões ativadas pelo teste, já citadas, encontram-se as BA 41, 42, 10, 32, 20,

41, 44, 21, 47, contidas nas áreas de atrofia cortical deste estudo (SC 11; SC 6; SC8; SC4 e

SC 10; SC 2;SC 11; SC 7; SC9; SC 1, SC 5 e SC 12, respectivamente) (Trans Cranial

Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120,119.

b. Teste de Stroop versão incongruente.

O teste de Stroop incongruente por tempo apresentou diferença significativa entre

os grupos, coincidindo com outros trabalhos (Meola et al., 2003; Tanaka et al., 2012)116, 109.

É possível que alterações nos mecanismos executivos de controle inibitório estejam

associadas e contribuam para queda no desempenho no teste de Stroop incongruente. Uma

vez que a atenção, componente importante deste teste, foi observada como normal em

outros estudos (Meola e Sansone, 2007)51.

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Para nomear a cor das letras sem ler o nome escrito são necessários, inicialmente,

o processamento visual primário nas regiões occipitais (BA 17 e 18), a atenção visual

(fixação visual) e atenção às relações semânticas, processadas na região têmporo-occipital

esquerda (BA 37). A capacidade de reconhecer as cores ocorre com auxílio das regiões

secundárias da visão (BA 18) o qual passa por processo de integração com memória de

reconhecimento, na região temporal inferior (BA 20). Então, a memória de trabalho

processa as informações em seu subsistema verbal (BA 39) e região articulatória da fala

(BA 44 e 45), enquanto a integração visual atribui o significado apropriado selecionado à

imagem, convertendo-a em linguagem. As alternativas irrelevantes são inibidas nas áreas

pré-frontais (BA 9, 10, 46 e 47) e as palavras são geradas no giro temporal médio esquerdo

(BA 21). A fala se inicia e é mantida sob-regulação de áreas motoras secundárias (BA 6 e

8), e o seu sequenciamento correto é processado na região fronto-temporal esquerda (Trans

Cranial Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120,119.

A BA 47 tem importante papel regulatório na realização adequada deste teste, pois

atua na leitura de palavras isoladas, na atenção seletiva ao discurso, no raciocínio dedutivo,

na memória episódica e de trabalho e na decisão de fazer, resolvendo conflitos (Trans

Cranial Technologies, 2012)120.

As áreas deste teste que se relacionam as áreas corticais de atrofia deste estudo são

BA 20 (SC 2), BA 10 (SC 8), BA 32 (SC 4 e SC 10), BA 41 (SC 11), BA 44 (SC 7), BA

47 (SC 1, SC 5 e SC 12) e BA 21 (SC 9).

b) Memória de longo prazo- evocação pelo teste de aprendizado auditivo-verbal de

Rey.

A memória de evocação é estimada no escore A7 do teste de aprendizado auditivo-

verbal de Rey e não apresentou diferença significativa na comparação dos pacientes DM1 a

seus controles neste estudo. Concordando com esses achados, através de um teste

semelhante para comparar pacientes DM1 com controles saudáveis, Weber et al., não

obtiveram diferença significativa tanto na memória imediata quanto na tardia (Weber et al.,

2010)71. Enquanto Rakocevic-Stojanovic et al., utilizaram esta ferramenta e tiveram 42,9%

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dos pacientes DM1 forma juvenil e 41,9 % da forma adulta com resultados anormais

(Rakocevic-Stojanovic et al., 2014)46.

O processo de recuperação (evocação) da memória envolve ativação da área

intermediária frontal (BA 8) e das áreas pré-frontais (BA 9 e 10). Segue processamento em

áreas mediais temporais do hipocampo. No lobo límbico: ectosplenial (BA 26), giro do

cíngulo posterior (BA 29) e no istmo (BA 30) ocorre a integração límbica associativa (Gall

et al., 2008). Enquanto o giro cingulado posterior (BA 31) integra o sistema límbico as

informações da região associativa parietal. Também o giro do cíngulo anterior (BA 24), o

cingulado dorso-anterior (BA 32) e a área pré-genual (BA 33) participam do processo

associativo cognitivo-emocional. Por sua vez, a região têmporo-polar (BA 38),

principalmente à esquerda, contribui à memória evocada multimodal. O giro supramarginal

(BA 40), parte somato-sensória da área de Wernicke, mantém a atenção nas relações

fonológicas e auxilia no processo semântico mais elaborado e completo. Então, a

informação será encaminhada para processamento da linguagem expressiva verbal, já

descrita, para a apresentação da resposta do teste através da fala (Trans Cranial

Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120, 119.

Nas regiões ativadas pelo teste, citadas previamente, encontram-se as BA 10, 30, 32,

21, 47, 44, contidas nas áreas de atrofia cortical deste estudo (SC 8; SC 3; SC4 e SC 10; SC

9; SC 1, SC 5 e SC 12; SC 7, respectivamente).

c) Memória visuoespacial 10/36

A amostra de indivíduos deste trabalho não apresentou diferença significativa da

memória visuoespacial. Já Douniol et al., utilizaram ampla investigação em DM1 infantil e

observaram importante comprometimento da atenção visual, repercutindo na capacidade

construtiva visuoespacial. Eles sugerem que o prejuízo do desenvolvimento visual possa ter

associação com distúrbios refrativos e da oculomotricidade, bem como os de atenção

auditiva, porém, eles não tiveram grupo controle para comparação no estudo (Douniol et

al., 2012)48.

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A evocação da posição espacial das fichas no tabuleiro quadriculado depende,

inicialmente, da ativação da memória evocada visuoespacial no córtex occipital (BA 17, 18,

19). O giro angular direito está associado ao foco de atenção espacial e ao processamento

visuoespacial (BA 39), enquanto o giro supramarginal (BA 40) controla os movimentos

guiados pelas informações visuoespaciais processadas no giro angular. Tanto o

processamento, quanto a memória visuoespacial são processadas no lobo parietal superior

direito (BA 7 e, de forma menos significativa, na BA 5). A atenção visuoespacial tem

componentes frontais (BA 6, 8 e 45) e límbicos (BA 24, 32 e 33) (Trans Cranial

Technologies, 2012)120. A região temporal inferior (BA 20) tem importante papel no

processamento visual e memória de reconhecimento (Gall et al., 2008)123. Na realização do

movimento de resposta ao teste são necessários os planejamento executivo pré-frontal (BA

9, 10, 46 e 47) e dos movimentos coordenados complexos (lobo parietal superior, BA 5,7 e

giro supra marginal, BA 40), além de áreas associativas do lobo límbico relacionadas a

cognição (BA 24, 32 e 33). Para a conclusão da tarefa são necessários os movimentos

voluntários (motora primária e secundária, BA 4 e 6) que são modulados pelo sistema

extrapiramidal, envolvendo estruturas cerebelares, como descrito para o teste de cubos de

Kohs (Trans Cranial Technologies, 2012; Kandel et al., 2013)120, 119.

Nas regiões ativadas pelo teste, listadas anteriormente, encontram-se as BA 32, 20,

10, contidas nas áreas de atrofia cortical deste estudo (SC4 e SC 10; SC 2; SC 8,

respectivamente).

6.2.4 Morfometria baseada em voxel (VBM)

A. Substância cinzenta

A.1 Atrofia da substância cinzenta nos pacientes

Neste estudo foram identificadas 12 áreas de atrofia de substância cinzenta em

ambos os hemisférios pelo estudo da VBM. Na literatura encontram-se alguns estudos que

apresentaram atrofia da substância cinzenta, entretanto, não há consenso quanto à

localização predominante da mesma.

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Antonini et al., utilizando VBM, analisou a substância cinzenta de pacientes DM1

(excluiu as formas congênitas e os que possuíam outras doenças neurológicas) e obteve

atrofia significativa nas regiões frontais [giros frontais medial esquerdo (BA 9), superior

direito (BA 6), pré-central direito (BA 4), inferior direito (BA 4)], parietais [no lóbulo

superior esquerdo (BA 7) e direito incluindo precuneo; lóbulo inferior (BA 40); e giro pós

central esquerdo (BA 1 a 3)], temporais [giro medial direito (BA 39); superior (BA 22) e

medial esquerdo (BA 21)], occipital [giro superior (BA 19)] e caudado (Antonini et al.,

2004)65.

Weber et al., observaram em pacientes DM1 no estudo com VBM, atrofia difusa da

substância cinzenta, incluindo marcante alteração simétrica nos tálamos e formação

hipocampal. As regiões de atrofia hipocampais medial e posterior bilaterais apresentaram

forte correlação com estado clínico da doença e com as alterações neuropsicológicas, como

a memória episódica não verbal. No mesmo estudo os autores avaliaram o metabolismo da

glicose cerebral e observaram redução difusa do mesmo, o qual não se correlacionou aos

testes neuropsicológicos. Eles sugeriram que os mecanismos de alteração da substância

cinzenta e do metabolismo cerebral possam ocorrer por processos independentes (Weber et

al., 2010)71.

Minnerop et al., usaram o VBM na DM1 e encontraram várias regiões corticais de

atrofia bilaterais, mas ressaltaram as regiões frontais e parietais e o pouco acometimento

temporal (Minnerop et al., 2011)72.

A discussão quanto à função neurocognitiva, atribuída a cada área identificada neste

estudo, é feita a seguir no intuito de apresentar a possibilidade que as mesmas possam estar

associadas as disfunções neuropsicológicas, visto que não se obteve correlações

estatisticamente significativas entre as mesmas.

A.1.1 Áreas do Lobo Frontal

O lobo frontal possui, em sua região anterior, áreas denominadas de pré-frontais

que recebem informações de todas as demais áreas de associação cerebral, incluindo o

sistema límbico. São bem descritas suas funções de planejamento estratégico

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comportamental, adequando as decisões a situações físicas e sociais do momento;

manutenção da atenção e controle do comportamento emocional. A porção mais posterior

do córtex frontal constitui a área motora primária, com fundamental papel na realização das

atividades motoras. Entre estas duas áreas, estão regiões de associação, ditas, motoras

secundárias (Machado, 2001)124. Entretanto, nas últimas décadas, os estudos funcionais

vêm esclarecendo com mais detalhes o funcionamento encefálico, e novas funções vem

sendo acrescidas a estas regiões cerebrais.

a) SC1 e SC 12

As áreas SC 1 e SC 12 identificadas neste estudo estão no giro frontal inferior

orbicular, triangular e opercular direito e englobam a área de Brodmann (BA) 47. Elas são

associadas, a funções de planejamento executivo (inibição do comportamento e inibição

motora; inibição emocional adversa; decisão de fazer, envolvendo conflito e recompensa) e

raciocínio dedutivo. Também participam da linguagem no aprendizado semântico;

evocação semântica ativa; processamento fonológico; leitura de uma palavra; inflexão

lexical, principalmente no cérebro esquerdo (Costafreda et al., 2014)125; prosódia afetiva;

memória de trabalho e episódica antiga; atenção seletiva ao discurso; atribuição de intenção

a outros (teoria da mente). A participação em funções auditivas musicais, também são

conhecidas nestas áreas, tais como: processamento auditivo não espacial, incluindo

percepção da qualidade do som; memória auditiva musical (Zatorre et al., 1994)126;

coerência temporal (na linguagem e na musica) e acesso léxico-semântico para

representações melódicas (Trans Cranial Technologies, 2012)120.

b) SC5:

SC 5 está no giro frontal inferior orbicular, triangular esquerdo e engloba as

mesmas áreas e funções descritas para SC 1 e SC 12 para BA 47, entretanto está mais

associada com funções de linguagem verbal (Costafreda et al., 2014)125, sendo a região

opercular associada ao controle motor da fala, neste caso do hemisfério dominante, área de

Broca.

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c) SC7:

A área SC 7 está no giro frontal pré-central, rolândico e opercular inferior direito,

engloba a área de Brodmann (BA 44). Tem participação na linguagem de expressão da

informação emocional; percepção de informação prosódica (entonação) no discurso;

compreensão de sentença; fluência e sequência do discurso (principalmente à esquerda na

maioria das pessoas). Outras funções que podem ser processadas nesta região incluem:

atenção no processamento do discurso; memórias de trabalho, sintática, memória episódica

de longo prazo, de aprendizado declarativo e de repetição. Inclui também função motora,

com neurônios espelho para movimentos expressivos; programação motora do discurso;

inibição da resposta motora e manipulação de objetos. Incluindo o processamento intensivo

de meta; aprendizado de palavras e faces; geração de melodias; apreciação musical;

imaginação tátil; resolução de atividades aritméticas e olfação para odores familiares (Trans

Cranial Technologies, 2012)120.

d) SC8:

A área SC 8 está no giro frontal medial direito, engloba a área de Brodmann 10, pré-

frontal, a qual é associada às funções executivas de planejamento e inibição do

comportamento. Tem importante função mnésica participando na memória de trabalho;

evocada; espacial; de aprendizado e reconhecimento; memória prospectiva baseada em

evento e tempo e no esquecimento intencional. Outras funções identificadas incluem;

olfação para odores familiares; processamento não verbal da audição; geração verbal da

linguagem; atenção seletiva para sons; articulação da atenção; processamento dos estímulos

emocionais agradáveis e desagradáveis; cálculo; tomada de decisão, envolvendo conflitos e

recompensa; resposta ao estímulo térmico (Trans Cranial Technologies, 2012)120.

A.1.2 Áreas do Lobo Límbico

O lobo límbico composto pelo giro para-hipocampal, istmo do cíngulo e giro do

cíngulo compõe o sistema límbico e são sabidamente relacionados com comportamento

emocional e o controle do sistema nervoso autônomo (Machado, 2001)124. Entretanto,

outras funções também tem seu processamento com participação destas áreas.

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a) SC2:

A área SC 2 está no giro para-hipocampal direito, engloba a área de Brodmann 20, a

qual é associada à integração de elementos visuais dentro percepção global; fixação visual;

compreensão de ambiguidade semântica na linguagem; memória de processamento duplo

na atividade da memória de trabalho; atribuição de intenção a outros (teoria da mente)

(Trans Cranial Technologies, 2012)120.

b) SC3:

A área SC 3 está no cingulado posterior ventral, se estendendo para o precuneo e

calcarino direito, engloba a área de Brodmann 30, retroesplenial. O córtex cingulado

posterior ventral faz parte do córtex medial posterior (CMP), juntamente com o córtex

cingulado posterior, córtex retroesplenial e precuneo. Todas as porções do CMP são

fortemente interconectadas e funcionalmente relacionadas a tarefas diversas, como à

atenção, memória, navegação espacial, emoção, detecção da relevância de si mesmo, e

avaliação da recompensa. O córtex cingulado posterior e o precuneo estão fortemente

ligados às conexões para-hipocampais. Interessantemente, o CMP não possui conexão

direta com regiões sensoriais primárias, mas atua como um importante conector de rede.

Em relação ao metabolismo, o CMP tem o maior consumo basal de glicose em humanos.

Parte dos axônios do CMP possui mielinização tardia no desenvolvimento pós-natal em

macacos, o que ocorre geralmente em regiões de associação mais desenvolvidas. A região

do precuneo está mais relacionada á mudanças no foco da atenção. O córtex cingulado

posterior ventral atua mais em processamento de tarefas relacionadas a objetos, enquanto

que a porção dorsal deste córtex atua nas tarefas envolvendo aspectos espaciais. O córtex

retroesplenial faz a mediação da mudança entre o ambiente sensorial atual e a perspectiva

de mundo assumida, de forma dissociativa (Bzdok et al., 2014)127.

c) SC4:

O giro do cíngulo é associado, de forma ampla, a emoção e cognição (Kandel et al.,

2013)119. A área SC 4, identificada no estudo, está no cíngulo médio esquerdo e engloba a

área de Brodmann 32, a qual é associada, mais especificamente, às seguintes funções

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corticais superiores: planejamento motor e imagem motora; olfação de odores familiares;

linguagem de expressão; memória de trabalho, evocada e de aprendizado; atenção

visuoespacial; atenção seletiva para sons; processamento da dor; inibição do

comportamento e inibição motora; estímulo emocional; controle mental do tempo (Trans

Cranial Technologies, 2012)120.

d) SC10:

A área SC 10 está no cingulado anterior esquerdo e também engloba a área de

Brodmann 32, estando associada às mesmas funções corticais superiores descritas para

SC4.

A.1.2 Áreas do Lobo Temporal

a) SC6:

A área SC 6 está no giro temporal superior e médio esquerdo e engloba a área de

Brodmann 42, responsável pelo processamento primário e associativo auditivo.

Especificamente, as funções corticais superiores atribuídas a esta área incluem:

compreensão da linguagem; processamento básico do estímulo auditivo; processamento dos

padrões acústicos descontinuados; detecção de desvios de frequência; percepção de tons

harmônicos; processamento e sensibilidade da intensidade dos sons; detecção de sons

rápidos; segregação do som (vogal); integração da percepção visual do discurso; memória

de trabalho auditivo; efeito de iniciação da repetição; atenção ao discurso e percepção de

odores familiares (Trans Cranial Technologies, 2012)120.

b) SC9:

A área SC 9 está no giro temporal médio e superior esquerdo e engloba a área de

Brodmann 21, que de forma ampla, participa no processamento auditivo a da linguagem.

As funções corticais superiores associadas incluem: o processamento seletivo de texto e

leitura; processamento semântico; geração de sentenças; geração de palavras;

processamento de sons complexos; observação do movimento; atribuição de intenção aos

outros; raciocínio dedutivo (Trans Cranial Technologies, 2012)120.

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c) SC11:

A área SC 11 está no giro temporal superior (estendendo-se ao giro temporal

transverso anterior no giro de Heschl) esquerdo, área auditiva primária, engloba a área de

Brodmann 41, a qual é associada ao processamento auditivo primário e associativo,

intimamente relacionada à BA 42. Assim, as funções desta área são relacionadas à

compreensão da linguagem; processamento básico do estímulo auditivo; detecção de

desvios de frequência; percepção de tons harmônicos; processamento e sensibilidade da

intensidade dos sons; detecção de sons rápidos; segregação do som (vogal); memória de

trabalho auditivo; efeito de iniciação da repetição; percepção de odores familiares; atenção

ao discurso (Trans Cranial Technologies, 2012)120.

A.2 “Aumento” da substância cinzenta nos pacientes:

Não há relatos na literatura de avaliação do volume de paciente menos controles que

gera o aspecto de “aumento” de substância cinzenta observado pela técnica de VBM em

pacientes DM1.

As áreas com “aumento” de substância cinzenta nos pacientes foram as regiões

cerebelares (tonsila cerebelar e lobo posterior do cerebelo bilateral, AumSC1 e AumSC3) e

região occipital esquerda, no giro língual (AumSC2).

a) AumSC1 e AumSC3:

As tonsilas cerebelares, como o cerebelo possuem várias funções relacionadas à

motricidade. Regulam o balanço corporal e os movimentos dos olhos atuando na

coordenação motora, no planejamento dos movimentos com avaliação da informação

sensorial direcionada à ação, estão envolvidos na formação de memória relacionada ao

movimento e aprendizado motor (Kandel et al., 2013)119. Também as relações cognitivas

afetivas e a linguagem são moderadas por este sistema que se comunica de forma recíproca

com áreas cerebrais supratentorias associativas, autonômicas e límbicas. Mais

especificamente, as áreas corticais enviam informação para o cerebelo via base da ponte e

os núcleos profundos do cerebelo as retornam para áreas pré-frontais pela via

dentatotalâmica. Assim, as funções cognitivas processadas pelo sistema cerebelar incluem

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fluência verbal e recuperação lexical; sintaxe; coordenação entre planejamento e execução

dos movimentos na escrita (grafia) e habilidades metalinguísticas (De Smet et al., 2013)128.

A síndrome cognitiva afetiva cerebelar foi descrita por Schmahmann e Sherman em

1998 para identificar um distúrbio cognitivo-afetivo em pacientes com lesões cerebelares

isoladas. Esta síndrome consiste em: disfunções executivas, como os distúrbios no

planejamento, na ligação entre o raciocínio abstrato e a memória de trabalho; déficits

visuoespaciais, abrangendo organização e memória; distúrbios de linguagem, como

agramatismo e anomia; e distúrbios afetivo-comportamentais, consistindo de embotamento

ou desinibição afetivos ou comportamentos inadequados (De Smet et al., 2013)128.

Curiosamente a descrição da síndrome cognitiva afetiva cerebelar remete a

lembrança dos achados clínicos ora descritos nos pacientes DM1. Entretanto, as alterações

destes não se limitam ao aumento da substância cinzenta cerebelar, mas possui substrato de

atrofia córtico-subcortical.

b) AumSC2:

A região AumSC2 localizada no giro lingual esquerdo engloba a área de

Brodmann 18, visual secundária extra estriada, a qual é associada às seguintes funções

corticais superiores (Gall et al., 2008)123: motricidade dos movimentos sacádicos;

percepção visual de padrões e intensidade luminosa; reconhecimento de cores; atenção

visual; reconhecimento e descrição de objetos visualizados.

O “aumento” de substância cinzenta identificado no cerebelo bilateral e giro lingual

esquerdo pode não representem aumento de células neuronais locais, uma vez que

aparentam ter um papel disfuncional, contribuindo para o pior desempenho cognitivo-

emocional dos pacientes. Os achados de emaranhados neurofibrilares imunorreativos para

proteína tau fosforilada no hipocampo e no córtex entorrinal, nos pacientes com DM1

identificado em autópsias (Itoh et al., 2010)70 podem ser o substrato para essas alterações.

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B. Substância branca:

B.1 Atrofia da substância branca nos pacientes:

Este estudo identificou 5 áreas de atrofia de substância branca pela técnica de

VBM. Como o que ocorreu com a substância cinzenta, também os estudos que avaliaram a

substância branca não apresentam consenso quanto aos seus achados.

Minnerop et al., usando o VBM e a tratografia por tensor de difusão, em pacientes

DM1, consideraram que a redução da substância branca foi maior que a da cinzenta. A

atrofia ocorreu em todo o corpo caloso, ambos os fórnices, fascículo do cíngulo, substância

branca de todos os lobos, ponte pedúnculo cerebelar medial e substância branca cerebelar.

Os autores sugerem que a DM1 seja uma doença primariamente de substância branca,

contrariando a hipótese de que o acometimento desta pudesse ser consequente à

degeneração Walleriana (Minnerop et al., 2011)72. Importante alteração da substância

branca foi visto também em outros estudos (Franc et al., 2012; Caso et al., 2014)73, 78.

B.1.1 Área Inter-hemisférica

a) SB1:

A área SB 1 está na região inter-hemisférica no corpo caloso posterior (VI) e se

estende a substância branca extra nuclear bilateral. Nesta topografia o corpo caloso integra

as informações provenientes das regiões mediais parieto-occipitais do cérebro, em especial

do precuneo e giro do cíngulo posterior (Park et al., 2014)129. Funcionalmente esta área é

relacionada à transferência do aprendizado não específico, como os de tarefas não motoras

(Ruddy e Carson, 2013; Moreno et al., 2014)130, 131.

B.1.2 Lobo Límbico

a) SB2

A Área SB 2 está no cíngulo anterior e giro frontal medial direito que são áreas

associativas envolvidas no processamento cognitivo emocional. O giro do cíngulo anterior

é envolvido no processamento de informações sobre recompensa, em especial na avaliação

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do custo e benefício (Apps e Ramnani, 2014)132. Há conectividade funcional entre o

cíngulo anterior e o córtex orbitofrontal durante o processo de tomada de decisão.

Entretanto, o córtex cingulado anterior está envolvido em controle comportamental,

monitorização do erro e cálculo de recompensa. Enquanto o córtex orbitofrontal participa

da rede de planejamento, memória de trabalho e cálculo da decisão. As áreas que

apresentaram sobreposição no resultado de conectividade na tomada de decisão incluem a

BA 32 e BA 23 sugerindo que a conectividade funcional destas áreas se relacione ao

planejamento e controle das respostas motoras ou aos aspectos emocionais da tomada de

decisão (Rogers et al., 2004; Cohen et al., 2005)133, 134.

b) SB3

Área do polo temporal médio e uncus direito. O polo temporal é associado a

diversos processos como linguagem, emoção, funções executivas e memória. Enquanto o

uncus se associa ao olfato.

c) SB4

Área uncus esquerdo se associa ao olfato.

B.1.3 Tronco cerebral

a) SB5

A área SB 5 está na ponte à direita. A substância branca da ponte é composta por

diversas fibras longitudinais e transversais. As fibras longitudinais são ascendentes

(lemniscos medial, lateral, trigeminal, espinhal e pedúnculo cerebelar superior),

descendentes (tractos córtico-espinhal, córtico-nuclear, córtico-pontino, tecto-espinhal,

rubro-espinhal, vestíbulo-espinhal e espinhal do trigêmio) e de associação (fascículo

longitudinal medial). As fibras transversais são compostas por fibras pontineas, pedúnculo

cerebelar médio, corpo trapezoide e decussação dos pedúnculos cerebelares superiores

(Machado, 2001)124. Assim, a ponte tem importante papel integrador da aferência e

eferência encefálicas e na modulação cerebelar.

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B.2 “Aumento” da substância branca nos pacientes:

A área de “aumento” de substância branca encontrada no giro frontal medial,

estendendo para giro orbital direito, está próxima à área SC8 (atrofia da substância cinzenta

do giro frontal medial direito). Essa alteração provavelmente não represente o aumento da

substância branca local, mas alterações degenerativas ainda não esclarecidas

anatomopatologicamente. Achados microestruturais, que incluíam état criblé, descritos na

substância branca profunda de autópsia de pacientes DM1 (Itoh et al., 2010)70 podem ser

um indício destas alterações. Estudos futuros correlacionando as alterações de imagem às

anatomopatológicas podem esclarecer estes achados.

6.2.5 Espectroscopia:

A concentração relativa de NAA na região temporoparietal se relacionou a área de

atrofia no giro temporal superior. Esta região é descrita como integrante da memória de

trabalho na maioria dos testes realizados, incluindo o teste de Stroop incongruente, no qual

também se obteve correlação significativa entre o pior escore do teste e a redução de NAA

temporoparietal. Isso sugere que possa haver um substrato bioquímico nas disfunções dos

pacientes DM1, uma vez que esta redução pode ser resultado de perda neuronal e axonal

observada no estudo morfométrico.

Entretanto, não se obteve diferença significativa entre a concentração relativa dos

metabólitos dos pacientes e seus controles, resultado que difere da literatura que apresenta

redução nas relações NAA e Colina com a creatina (Chang et al., 1998; Akiguchi et al.,

1999; Vielhaber et al., 2006)80, 81, 82.

6.3 Relações morfofuncionais:

A maioria das áreas identificadas como atróficas no estudo de morfometria não

tiveram correlação com a idade, sugerindo que este fator não contribuiu de forma

significativa no processo, reforçando a hipótese de serem consequentes a DM1.

A correlação funcional apresentada na Tabela 20 mostra quão complexa são as

relações entre função e estrutura anatômica. Nela observa-se que todas as áreas de atrofia

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da substância cinzenta encontradas possuem participação nos testes realizados em graus

diferentes de importância. Entretanto, apenas os testes de praxia construtiva com cubos de

Kohs e Stroop incongruente tiveram diferença entre os pacientes e controles, com

desempenho significativamente pior dos primeiros. Uma possível explicação para este fato

seria que nas redes funcionais dos outros testes avaliados haveria vias alternativas

compensatórias reduzindo o impacto das áreas alteradas.

A região pré-frontal direita (SB 8, BA 10) e a região dorsal anterior do cíngulo

(SC 10, BA 32; e SB 2), bem como a parte posterior do corpo caloso, fazem parte dos

circuitos envolvidos nos testes de praxia construtiva com cubos de Kohs e Stroop

incongruente por tempo. Ambas as áreas são associativas e contribuem na etapa de

planejamento executivo e memória de trabalho envolvendo componentes visuais. Os dois

testes apresentam funcionalmente a necessidade de inibição da cor indesejada no seu

planejamento, no primeiro teste para manipulação e no segundo para a não leitura. Além do

exposto nos tópicos anteriores, o conhecimento de que o hipocampo é funcionalmente

conectado com o estriado e o córtex orbitofrontal durante o processamento de tomada de

decisão (Ross et al., 2011)135, reforça a hipótese que o baixo desempenho dos pacientes

DM1 possa se relacionar as alterações deste sistema de redes funcionais. Ou seja, o

conjunto de alterações encontradas neste estudo indica a importância das conexões entre as

áreas pré-frontais e límbicas que envolvem principalmente as BA 32, 10 e 47.

As anormalidades cerebrais têm sido associadas às disfunções neuropsicológicas,

em especial, construtivas visuoespacial, reconhecimento facial e executiva, bem como a

neuropsiquiátricas, como comportamento de esquiva ou psicoesquizotípicos (Meola et al.,

2003; Winblad, Hellstrom, et al., 2006; Winblad, Lindberg, et al., 2006; Meola e Sansone,

2007; Sansone et al., 2007; Ekström, 2009; Winblad et al., 2010; Angeard et al., 2011;

Douniol et al., 2012)116, 121, 113, 51, 136, 12, 114, 137, 48.

Há várias interpretações possíveis da patogenicidade das alterações cerebrais na

DM1. Considerando da displasia focal da substância branca, desarranjo na bainha de

mielina e axônios, neurônios heterotópicos (Ogata et al., 1998)59, a presença de

emaranhados neurofibrilares, resultantes da hiperfosforilação da proteína Tau nos

neurônios, especialmente no hipocampo e córtex entorinal (Itoh et al., 2010)70, as recém-

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identificadas proteínas reguladoras inflamatórias expressas no tecido neuronal (Mahadevan,

2011; Marteyn et al., 2011)33, 34.

6.4 Considerações finais

Houve alterações neuropsicológicas na amostra de pacientes DM1 avaliada, as

quais não tiveram correlação estatisticamente significativa com as anormalidades da VBM,

mas estes dois aspectos se relacionaram quando analisados pelas redes neurofuncionais

requisitadas nos testes.

O tamanho da amostra pode ter sido um fator desfavorável para que se tivessem

correlações estatisticamente significativas da estrutura e sua função. Entretanto, as

considerações das relações entre as alterações neuropsicológicas e morfobioquímicas

cerebrais partindo da avaliação das redes neurofuncionais conhecidas têm servindo de

importante ferramenta há muito tempo para o conhecimento da fisiopatogenia das afecções.

Exemplo disso são os registros de Luria, que descreveu funcionamentos neuropsicológicos

baseando-se nas informações clínicas de lesões encefálicas e estudos anatomopatológicos

cerebrais (Luria, 1981)107.

O uso de TE maior que 30 ms pode ter dificultado a obtenção do pico de

glutamato, o que reduziu o número de observações. De uma forma geral, a redução de casos

das amostras da espectroscopia pode ter sido a causa de não se ter encontrado diferença

significativa entre os grupos.

Estudos longitudinais que avaliem aspectos neuropsíquicos, imagem cerebral e

estudo anatomopatológico serão muito importantes na compreensão da doença e em

proposições terapêuticas futuras (Axford e Pearson, 2013; Bugiardini e Meola, 2014)75, 7.

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7 CONCLUSÕES

7.1 Caracterizações dos parâmetros neurocognitivos em pacientes com DM1.

Os pacientes DM1, pelo WAIS III, apresentaram cerca de 70% de desempenho

abaixo da média no teste de compreensão referente à capacidade de senso comum e juízo

social. O raciocínio numérico e a repetição de dígitos também mostraram baixo

desempenho.

As alterações observadas no WAIS III sugerem disfunção no planejamento e na

inibição, característicos das áreas frontais.

Entre os testes neuropsicológicos, os de cubos de Kohs e Stroop incongruente

apresentaram significativo pior desempenho nos pacientes, sugerindo disfunção de redes

neuronais pré-frontais e límbicas relacionadas à integração de informações visuais e

planejamento inibitório.

7.2 Caracterizações das alterações da substância branca e cinzenta do SNC por

morfometria baseada em voxels em pacientes com DM1.

Houve alterações morfológicas com redução de substância cinzenta nos pacientes

em regiões: 1) frontais: giro frontal inferior, porções orbicular, triangular e opercular; giro

pré-central, giro frontal inferior e medial à direita e giro frontal inferior esquerdo; 2) lobo

límbico: giro para-hipocampal direito e giro cingulado bilateral (anterior e médio à

esquerda e posterior à direita); 3) lobo temporal esquerdo: giros temporal médio e superior.

Quanto à substância branca houve redução do volume no corpo caloso posterior,

cíngulo anterior e giro frontal medial direitos; polo temporal medial direito e uncus bilateral

nos pacientes DM1.

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7.3 Caracterizações das alterações bioquímicas do SNC, através de espectroscopia de

prótons, em pacientes com DM1.

Não houve diferença bioquímica significativa entre os pacientes e seus controles.

A concentração relativa de NAA na região temporoparietal se correlacionou a área de

atrofia no giro temporal superior, podendo refletir (ou ser secundária) ao dano neuronal e

axonal local.

7.4 Correlação das anormalidades morfométricas e bioquímicas aos parâmetros

cognitivos.

As alterações córtico-subcorticais identificadas no estudo possuem relação

morfofuncional com as alterações neuropsicológicas observadas, sugerindo que redes

neuronais de integração fronto-têmporo-límbicas, sobretudo a rede fronto-límbica

relacionada integração de componentes visuais e tomada de decisão envolvendo inibição,

possam estar envolvidas na gênese das disfunções encefálicas deste grupo de pacientes

DM1.

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101

8 REFERÊNCIAS

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Muscles. Edinburg: Churchill Livingstone, 1988. p.569-587.

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ANEXOS

Anexo 1. Teste de normalidade Shapiro Wilk para as variáveis clínicas e neuropsicológicas do estudo.

Shapiro-Wilk p-valor

Distribuição da

variável

Idade 0.95 0.3 normal

Educação 0.89 0.01 anormal

Início dos sintomas 0.91 0.18 normal

Tempo de doença 0.92 0.24 normal

Span Dígito Direto 0.89 0.01 anormal

Inverso 0.88 <0,01 anormal

Fluência verbal 0.91 0.02 anormal

Percepção visual 0.81 <0,01 anormal

Cubos Kohs 0.75 <0,01 anormal

STROOP incongruente Tempo (s) 0.93 0.11 normal

Erros 0.77 <0,01 anormal

BNT Total sem e com pista visual 0.94 0.12 normal

Memória verbal TAAVR (A7) 0.95 0.23 normal

Memória visual evocada espacial 10/36 0.92 0.04 anormal

Escala depressão Beck 0.87 <0,01 anormal

MEEM 0.9 0.01 anormal

Estatística de Shapiro-Wilk, considerando a hipótese H0 como a da amostra provir de uma população Normal, com nível de significância do teste p ≤ 0,05. Em negrito as variáveis com distribuição anormal, conforme critério que rejeição de H0.

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Anexo 2. Teste de normalidade Shapiro-Wilk para as variáveis psicométricas do estudo.

Shapiro-Wilk p-valor Distribuição

da variável

QI VERBAL

0.88 0.08 normal

QI EXECUÇÃO

0.93 0.45 normal

QI TOTAL

0.85 0.03 anormal

Esca

la V

erb

al

Compreensão Verbal

Índice 0.89 0.12 normal

Vocabulário 0.97 0.89 normal

Semelhanças 0.95 0.59 normal

Informação 0.79 0.01 anormal

Compreensão 0.93 0.31 normal

Memória operacional

Indice 0.88 0.08 normal

Aritmética 0.95 0.60 normal

Dígitos 0.91 0.17 normal

Sequência números e letras 0.94 0.51 normal

Esca

la d

e Ex

ecu

ção

Arranjo de figuras 0.95 0.57 normal

Organização perceptual

Índice 0.97 0.87 normal

Completar figuras 0.94 0.42 normal

Cubos 0.91 0.16 normal

Raciocínio matricial 0.91 0.21 normal

Velocidade Processamento

Índice 0.90 0.15 normal

Códigos 0.81 0.01 anormal

Procurar símbolos 0.88 0.09 normal

Armar objetos 0.950 0.60 normal

Estatística de Shapiro-Wilk, considerando a hipótese H0 como a da amostra provir de uma população Normal, com nível de significância do teste p ≤ 0,05. Em negrito as variáveis com distribuição anormal, conforme critério que rejeição de H0.

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Anexo 3. Teste de normalidade Shapiro-Wilk para as variáveis da morfometria no estudo. Shapiro-Wilk p-valor Distribuição da variável

Mor

fom

etria

Substância Cinzenta

SC1 0.96 0.56 normal

SC2 0.96 0.51 normal

SC3 0.94 0.18 normal

SC4 0.98 0.87 normal

SC5 0.97 0.67 normal

SC6 0.94 0.21 normal

SC7 0.98 0.93 normal

SC8 0.97 0.63 normal

SC9 0.96 0.49 normal

SC10 0.93 0.12 normal

SC11 0.96 0.56 normal

SC12 0.97 0.78 normal

Substância Branca

SB1 0.96 0.52 normal

SB2 0.95 0.35 normal

SB3 0.86 <0,01 anormal

SB4 0.97 0.81 normal

SB5 0.96 0.45 normal

“Aumento” de Substância Cizenta

AumSC1 0.94 0.14 normal

AumSC2 0.94 0.17 normal

AumSC3 0.98 0.96 normal “Aumento” de Substância Branca AumSB1 0.97 0.84 normal

Glx/Cre 0.92 0.16 normal Estatística de Shapiro-Wilk, considerando a hipótese H0 como a da amostra provir de uma população Normal, com nível de significância do teste p ≤ 0,05. Em negrito as variáveis com distribuição anormal, conforme critério que rejeição de H0.

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Anexo 4. Teste de normalidade Shapiro-Wilk para as variáveis da espectroscopia no estudo. Shapiro-Wilk p-valor Distribuição da variável

Espe

ctro

scop

ia

Frontal Cho/Cre 0.93 0.29 normal NAA/Cre 0.94 0.36 normal

Glx/Cre 0.82 0.01 anormal

Occipital

Cho/Cre 0.82 0.01 anormal

NAA/Cre 0.92 0.09 normal

Glx/Cre 0.88 0.02 anormal

Temporparietal Cho/Cre 0.96 0.51 normal NAA/Cre 0.97 0.57 normal

Glx/Cre 0.92 0.16 normal Estatística de Shapiro-Wilk, considerando a hipótese H0 como a da amostra provir de uma população Normal, com nível de significância do teste p ≤ 0,05. Em negrito as variáveis com distribuição anormal, conforme critério que rejeição de H0.

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Anexo 5 A

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Anexo 5 B