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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS NO DIREITO PÁTRIO VANESSA MOLLERI PEREIRA Itajaí(SC), 18 de novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS NO DIREITO PÁTRIO

VANESSA MOLLERI PEREIRA

Itajaí(SC), 18 de novembro de 2008.

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E JURÍDICAS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL E SEUS EFEITOS NO DIREITO PÁTRIO

VANESSA MOLLERI PEREIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientadora: Professora Msc. ANDRIETTA KRTZ VIVIANI.

Itajaí(SC), 18 de novembro de 2008.

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AGRADECIMENTO

A Deus, por ter sido amigo fiel em todas as

horas.

À Professora e Mestre Andrietta, minha

orientadora, pelo auxílio prestado de forma

exemplar, na confecção deste trabalho.

Aos meus pais Mazildo e Margareth pela

confiança demonstrada.

Aos meus irmãos Júnior e Douglas pelo

carinho e a todos que contribuíram direta ou

indiretamente para a conclusão desta

etapa.

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DEDICATÓRIA

Este trabalho dedico ao Sérgio de Carvalho

Rosa por me apoiar e estar sempre presente

em minha vida.

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“Eterno, é tudo aquilo que dura uma fração

de segundos, mas com tamanha

intensidade, que se petrifica, e nenhuma

força jamais o resgata...”

[Mário Quintana]

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e a Orientadora de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí(SC), 18 de novembro de 2008.

Vanessa Molleri Pereira Graduanda

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pela graduanda Vanessa Molleri

Pereira, sob o título Dissolução da União Estável e Seus Efeitos no Direito

Pátrio, foi submetida em 18 de novembro de 2008 à banca examinadora

composta pelas seguintes professoras: Msc. Andrietta Kretz Viviane

(Orientadora e Presidente da Banca) e Msc. Maria Fernanda do Amaral

Pereira Gugelmin Girardi (Examinadora) e, aprovada com a nota 9,7 (nove

vírgula sete).

Itajaí(SC), 18 de novembro de 2008.

Professora Msc. Andrietta Kretz Viviane Orientadora e Presidente da Banca

Professor Msc. Antônio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Ampl. Ampliada

Art. Artigo

Atual. Atualizada

CTN Código de Tributário Nacional

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

Ed. Edição

Min. Ministro

MSc. Mestre

n. Número

p. Página

Rel. Relator

Rev. Revista

v. Volume

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que a Autora considera estratégicas

à compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Casamento1

(...) união permanente do homem e da mulher, de acordo com a lei, a fim

de se reproduzirem, de se ajudarem mutuamente e de criarem os seus

filhos.

Concubinato2

O concubinato, por sua vez, consiste em relação que não merece a

proteção do direito de família, dado seu caráter adulterino, e são

denominados concubinos os seus participantes, na forma do art. 1727 do

citado diploma legal.

Concubinato puro3

Será puro se apresentar como uma união duradoura,

sem casamento civil, entre o homem e a mulher livres e desimpedidos, isto

é, não comprometidos por deveres matrimoniais ou por outra ligação

concubinária. Assim, vivem em união estável ou concubinato puro:

solteiros, viúvos, separados judicialmente ou de fato e divorciados.

1 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 38 ed, rev. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 11. 2 MONTEIRO, Washington Barros de. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p.30. 3 DINIZ. Maria Helena. Direito civil brasileiro: direito de família. 2004. pp. 345-346.

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Concubinato impuro4

Concubinato impuro ou simplesmente concubinato, são as relações não

eventuais em que um dos amantes ou ambos estão comprometidos ou

impedidos legalmente de se casar.

Dissolução5

(...) extinção de um contrato, sociedade, entidade ou órgão coletivo; (...).

Família6

(...) “é o complexo de normas que regulam a celebração do casamento,

sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e

econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a união estável,

as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos

complementares da tutela e curatela.”.

Efeitos7

Resultado; produto de uma causa; realização; fim; destino; aplicação;

eficácia; execução; (...).

União Estável8

(...) situação de fato em que um homem e uma mulher convivem como se

casados fossem, de modo público, contínuo e duradouro, com o objetivo

de constituir família.

4 DINIZ. Maria Helena. Direito civil brasileiro: direito de família. 2004. pp. 345-346 5 FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. 11 ed. aum. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1975. p. 420. 6 DINIZ, Maria Helena. Direito civil brasileiro: direito de família. 19 ed. ver., aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 07. 7 FERREIRA, Aurélio Buarque de Hollanda. Pequeno dicionário brasileiro da língua portuguesa. 11 ed. aum. Rio de Janeiro: Companhia Editora Nacional, 1975. p. 433. 8 FÜHRER, Mauiximilianus Cláudio Américo. Resumo de direito civil 32 ed. São Paulo: Malheiros, 2005. p. 118.

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SUMÁRIO

SUMÁRIO......................................................................................... XII

RESUMO.......................................................................................... XII

INTRODUÇÃO ................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ......................................... ............................................. 5

DA FAMÍLIA ......................................... .............................................. 5 1.1 FAMÍLIA: CONCEITO........................................................................................5 1.2 FAMÍLIA E SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE...........................................10 1.3 FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ......................................................................................................................12 1.4 FAMÍLIA NO ANTIGO CÓDIGO CIVIL DE 1916 ............................................18 1.5 FAMÍLIA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002 ...........................................................21

CAPÍTULO 2 ......................................... ........................................... 26

DA UNIÃO ESTÁVEL................................... .................................... 26 2.1 UNIÃO ESTÁVEL: CONCEITO .........................................................................26 2.2 UNIÃO ESTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 ....................................................................................................30 2.3 UNIÃO ESTÁVEL E O CÓDIGO CIVIL DE 2002 ..............................................32 2.4 UNIÃO ESTÁVEL: NATUREZA JURÍDICA .........................................................36 2.5 UNIÃO ESTÁVEL: REQUISITOS ........................................................................39

CAPÍTULO 3 ......................................... ........................................... 45

DO CONTRATO, DOS DIREITOS E DOS DEVERES, DO RECONHECIMENTO E DOS EFEITOS DA DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL...................................... ....................................... 45 3.1 DO CONTRATO DA UNIÃO ESTÁVEL.............................................................45 3.2 DOS DIREITOS E DOS DEVERES NA UNIÃO ESTÁVEL ....................................47 3.3 DO RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL ...............................................49 3.4 DO DOS EFEITOS JURÍDICOS DA DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL ..........52 3.5 DA UNIÃO ESTÁVEL E DO CONCUBINATO IMPURO: DIFERENÇAS .............58

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CONSIDERAÇÕES FINAIS............................... ............................... 62

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS ...................... .................... 66

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RESUMO

Esta monografia tem como objeto os Efeitos Jurídicos

da Dissolução da União Estável no ordenamento jurídico brasileiro, de

acordo com o que prevê a Constituição da República Federativa do Brasil

de 1988, em seu artigo 226 e seguintes, bem como as leis que

primeiramente regulamentaram os direitos referentes aos companheiros

e/ou conviventes, quais sejam, a Lei Ordinária Federal 8.971, de 29 de

dezembro de 1994 e a Lei Ordinária Federal 9.278, de 10 de maio de 1996,

respectivamente e, ainda, a Lei Ordinária Federal 10.406, de 10 de janeiro

de 2002 - Código Civil. A validade da pesquisa decorre da atualidade do

tema, da verificação das mudanças impostas pelo Código Civil vigente. O

objetivo investigatório geral foi pesquisar, analisar e descrever, com base

na legislação acima referida e na doutrina, os aspectos gerais sobre a

dissolução da União Estável, as considerações necessárias para o melhor

entendimento do instituto da União Estável.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto o estudo dos

Efeitos da Dissolução da União Estável, de acordo com o que prevê a

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, em seu artigo 226

e seguintes, bem como as leis que primeiramente regulamentaram os

direitos referentes aos companheiros e conviventes, quais sejam, a Lei

Ordinária Federal 8.971, de 29 de dezembro de 1994 e a Lei Ordinária

Federal 9.278, de 10 de maio de 1996, respectivamente e, ainda, a Lei

Ordinária Federal 10.406, de 10 de janeiro de 2002, ou seja o Código Civil.

O objetivo institucional foi o de produzir a presente

Monografia para a obtenção do título de Bacharel em Direito, pela

Universidade do Vale do Itajaí.

O objetivo geral da pesquisa foi a necessidade de

aprofundar o conhecimento sobre o assunto, buscando conhecer as

respostas aos problemas formulados, para testar as hipóteses e dirimir

dúvidas, especialmente sobre os Efeitos da Dissolução da União Estável.

Ainda, o objetivo geral da pesquisa será o exame crítico do instituto da

União Estável, apresentando os aspectos fundamentais e positivos desta.

Pretende-se analisar o problema sob o enfoque da legislação brasileira,

bem como sob a luz da doutrina e jurisprudência pátria.

Os objetivos específicos foram os seguintes:

- pesquisar sobre as considerações gerais acerca do

direito de família e da União Estável, em seus aspectos gerais,

conceituação, conteúdo e fundamento.

- descrever sobre o instituto da União Estável na

legislação vigente.

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- relatar especificamente acerca dos efeitos que a

dissolução da União Estável geram para ambos os conviventes, bem

como para seus sucessores.

A validade da pesquisa decorre da atualidade do

tema e das mudanças impostas pelo Código Civil vigente, tendo em vista

o tratamento diferenciado concedido por este novo ordenamento aos

companheiros, o que representa evidente avanço, ao comparar-se

àquele conferido anteriormente.

Para tanto, principia-se, no Capítulo 1, tratando das

considerações gerais acerca da Família e do Direito de Família, a

importância daquela na sociedade, a Família na Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988, no Código Civil de 1916 e nas leis

posteriores e no Código Civil de 2002.

No Capítulo 2, estudando o instituto da União Estável,

passando-se pelas considerações históricas, conceito e características,

bem assim seus requisitos evidenciadores.

No Capítulo 3, abordando acerca dos Efeitos da

Dissolução da União Estável, em que, após as pertinentes considerações

introdutórias, serão abordados os direitos e deveres dos companheiros na

União Estável, o reconhecimento da União Estável, os efeitos jurídicos da

dissolução da União Estável e, por fim, as diferenças entre a União Estável

e Concubinato Impuro.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais serão apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre a Dissolução da União Estável e seus Efeitos.

Foi elaborado o seguinte problema e respectivas

hipóteses, que serviram de desafio para a realização deste trabalho

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monográfico, conforme destaca-se abaixo.

Quais os efeitos que a dissolução da união estável

geram entre os contraentes e seus sucessores?

Primeira hipótese: O instituto da união estável é um

fato jurídico, qual seja, um fato jurídico social que gera efeitos jurídicos. Os

efeitos patrimoniais da união estável consistem nas conseqüências que

este instituto traz economicamente aos companheiros, os direitos que eles

adquirem por serem contraentes deste relacionamento. E estes efeitos

decorrem do fato de a união estável ser constitucionalmente prevista

como uma das entidades familiares. Em que pese todos os avanços

legislativos no sentido de proteger os contraentes da união estável, ainda

há detalhes a serem modificados, para que somente assim, se faça jus ao

caráter de entidade familiar o qual é revestido, constitucionalmente tal

modalidade de relacionamento.

Segunda hipótese: A Constituição Federal de 1988 não

equiparou a união estável ao casamento. O referido texto estabelece,

tão, somente, normas que visam facilitar a conversão da união estável em

casamento, deixando, assim, de conferir direitos e impor deveres aos

conviventes.

Terceira hipótese: A legislação infraconstitucional

passou a tratar dos direitos e deveres dos conviventes, dando uma maior

segurança e proteção à união estável.

Quarta hipótese: O elenco dos efeitos produzidos,

entretanto, não é taxativo, dependendo para isso, da demonstração de

sua existência em ação própria, por meio das partes interessadas. O

Código Civil de 2002 têm evoluído no sentido de possibilitar que se

produzam alguns efeitos jurídicos.

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Quanto à Metodologia empregada, registra-se que,

na Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo.9

Nas diversas fases da Pesquisa, foram acionadas as

Técnicas do Referente10, da Categoria11, do Conceito Operacional12 e da

Pesquisa Bibliográfica.13

Após a exposição dos capítulos, passa-se às

considerações finais, em que será apresentada breve síntese de cada

capítulo e as demonstrações sobre as hipóteses básicas da pesquisa, e se

foram ou não confirmadas.

9 Base lógica da dinâmica da Pesquisa Científica que consiste em pesquisar e identificar as partes de um fenômeno e colecioná-las de modo a ter uma percepção ou conclusão geral. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica, 2005. p. 238.) 10 Explicação prévia do motivo, objetivo e produto desejado, delimitando o alcance temático e de abordagem para uma atividade intelectual, especialmente para uma pesquisa. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica, 2005. p. 241.) 11 Palavra ou expressão estratégica à elaboração e ou à expressão de uma idéia. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica, 2005. p. 229.) 12 Definição estabelecida ou proposta para uma palavra ou expressão, com o propósito de que tal definição seja aceita para os efeitos das idéias expostas. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica, 2005. p. 229.) 13 Técnica de investigação em livros, repertórios jurisprudenciais e coletâneas legais. (PASOLD, Luiz César. Prática da pesquisa jurídica, 2005. p. 239.)

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CAPÍTULO 1

DA FAMÍLIA

1.1 FAMÍLIA E DIREITO DE FAMÍLIA: CONCEITO

A Família e/ou o Direito de Família é conceituado de

várias maneiras, por vários doutrinadores, mas qualquer que seja o

conceito empregado, este não foge do disposto nos artigos 226 e

seguintes da Constituição da República Federativa do Brasil de 198814 e os

artigos 1.511 e seguintes do Código Civil de 200215, os quais não oferecem

uma definição para família e, sim, apenas enunciam direito e deveres

inerentes à Família; entretanto tais dispositivos serão abordados mais

adiante.

A palavra Família, consoante entendimento de

Roberto Senise Lisboa16, foi empregada de diversas maneiras, em diversos

países. Na Roma Antiga o conceito de Família independia da

consangüinidade, tratando-se a Família de uma unidade econômica,

religiosa, política e jurisdicional. Nota-se, então, que a Família não é

somente aquela constituída pelo casamento.

Para os gregos a Família era: “a) o grupo de pessoas que se

reunia pela manhã e ao cair a tarde, em um lar (...), para realização do culto aos

seus deuses; b) os cônjuges e seus descendentes.”.17

14 Constituição da República Federativa do Brasil de 1.988, de agora em diante denomina-se com a sigla CRFB/88. 15 Código Civil de 2002, denominado doravante CC de 2002. 16 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. v. 05. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. pp. 43-44. 17 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. V. 05. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 43.

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Considerava-se Família na Roma Clássica:

a) os descendentes de um tronco ancestral comum (...);

b) todos os sujeito unidos por laços de parentesco,

inclusive por afinidade;

c) os cônjuges e os descendentes, mesmo os de

gerações posteriores à dos filhos;

d) os cônjuges e, tão somente, os seus filhos menores;

e) o grupo de pessoas que vivia sob o sistema de

economia comum, tendo como moradia o mesmo lugar

em outras palavras um conjunto de pessoas e um acervo

de bens; e

f) o grupo de pessoas que se reunia diariamente em

torno do altar doméstico , para cultuar os deuses, à

semelhança do modelo grego anteriormente citado.18

Mas, a expressão Família também foi designada como

sendo: “a) o grupo de pessoas ligadas entre si por consangüinidade; e b)o

núcleo constituído pelo casamento, da qual resultou a prole.”.19

Prolixa é a definição de família para Omar Gama Ben

Kauss20, veja-se:

O conceito de família, ainda que variando de acordo com

a ciência a ser estudada, apresenta sempre um ponto

comum que é a origem próxima ou afinidade na natureza

dos seus componentes. Como exemplo, na História Natural

a pressão serve para caracterizar uma categoria de

gêneros afins: nas categorias taxionômica, as plantas têm

as sus famílias da mesma forma que os animais.

18 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.. p. 43. 19 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 43. 20 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. a atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. pp. 03-04.

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Omar Gama Ben Kauss, ainda, define a família em

sentido lato e em sentido estrito, onde se pode observar que segundo ele

a família é a reunião de várias pessoas sob o pátrio poder, seja ela uma

família por consangüinidade ou por adoção.

Em sentido lato, abrange não somente a família oriunda da

consangüinidade, como também a família legitima ou

natural, e ainda aquele tipo de família criado pela lei sobre

vontade das partes, ou seja, a família adotiva. O conceito

de família, nesse sentido, compreende todas as pessoas

unificadas pela convivência, sob o mesmo teto e

economia comum.21

Em sentido estrito, família é um grupo de pessoas composto

de pais e filhos, apresentando uma certa unidade de

relações jurídicas, tendo uma comunidade de nome e

domicílio, unido pela identidade de interesses, fins morais e

materiais, organizado sob autoridade denominada pátrio

poder. Ainda em sentido mais estrito – uma concepção da

constituição moderna –, a entidade familiar como

comunidade formada por qualquer dos pais e seus

descendentes (...).22

Já, o Direito de Família para Omar Gama Ben Kauss23

“é o conjunto de regras que se aplicam às pessoas relacionadas pelo

casamento, pelo parentesco e vínculo assistencial.”.

Consoante Sílvio de Salvo Venosa24 o Direito de Família

pode ser conceituado em sentido amplo, “como um parentesco, ou seja,

o conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar”; e

aqui compreendendo os ascendentes e descendentes colaterais, inclusive

os dos cônjuges, que se denominam parentes pó afinidades ou afins.

21 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. a atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 04. 22 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. a atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 04. 23 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. a atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 09. 24 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 16.

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No aspecto sociológico, para o autor, família seria a

composta “pelas pessoas que vivem sob um mesmo teto, sob a

autoridade de um titular.”.25

Segundo Valter Kenji Ishida26 o “Direito de Família é

constituído de peculiaridades decorrentes de situações de

relacionamento familiar que podem se tornar graves.”.

Ainda Valter Kenji Ishida27 cita Teresa Arruda Alvim

Wambier e Alexandre Lazzarini, in Repertório de jurisprudência e doutrina

sobre direito de família, para ressaltar que: “O direito de família é um ramo

do direito que exige, talvez mais do que qualquer outro, qualidades

humanas do seu aplicador.”.

Enfatiza Valter Kenji Ishida que é o matrimônio quem

dá origem à constituição/formação da família tradicional.

Tradicionalmente a família surge do vínculo do matrimônio,

advindo daí os filhos legítimos, frutos dessa relação, e outras

conseqüências jurídicas (guarda e poder familiar sobre os

mesmos etc.) que exigem a intervenção judicial,

principalmente quando de sua dissolução. 28

Valter Kenji Ishida29, bem define o Direito de Família,

como sendo:

(...) o complexo de princípios que regulam a celebração

do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam,

as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal,

a dissolução desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo

25 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 3 ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 16. 26 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. XVII. 27 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. XVII. 28 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 01. 29 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 02.

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do parentesco e os institutos complementares da tutela,

curatela e da ausência.

Sílvio Rodrigues30, ao citar Lafayette Pereira Rodrigues,

ressalta que: “o direito de família tem por objeto a exposição dos

princípios de direito que regem as relações de família, do ponto de vista

da influência dessas relações não só sobre as pessoas como sobre os

bens.”.

José Lamartine Corrêa de Oliveira e Francisco José

Ferreira Muniz31, propugnam que: “O Direito de Família é aquele setor do

direito privado que disciplina as relações que se formam na esfera da vida

familiar.”.

Por fim, Maria Helena Diniz32, com propriedade, define

o Direito de Família quando afirma que este “é o complexo de normas

que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que

dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal,

a dissolução desta, a união estável, as relações entre pais e filhos, o

vínculo de parentesco e os institutos complementares da tutela e

curatela.”.

Nota-se que o conceito dado por Maria Helena Diniz é

deveras abrangente, uma vez que nele estão presentes todos os institutos

do Direito de Família, regulados pelo CC de 2002.

Verifica-se, que a Família e/ou o Direito de Família,

surge através união entre pessoas e do parentesco, seja ele por

consangüinidade ou por adoção. Porém, o Direito de Família regula as

30 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 03. 31 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família.4 ed. atual. Curitiba: Juruá, 2004. p. 11. 32 DINIZ, Maria Helena. Direito civil brasileiro: direito de família. 19 ed. ver., aum. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 07.

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relações existentes entres as pessoas e as influências que exercem sobre

estas e seus bens.

1.2 FAMÍLIA E SUA IMPORTÂNCIA NA SOCIEDADE

Inúmeras são as influências do ambiente social para a

formação da personalidade humana. A Família seria a mais importante de

todas, pois ela é o instituto no qual a pessoa humana encontra amparo

irrestrito.

Os membros integrantes da família moldam o ser

humano, contribuindo para a formação do futuro adulto. Não foi por

acaso que um dos maiores nomes da literatura brasileira, Machado de

Assis, já afirmara que “o menino é pai do homem”.

O grupo familiar tem sua função social e é

determinado por necessidades sociais.33 Tanto assim que a organização

familiar muda no decorrer da história do homem, é alterada em função

das mudanças sociais.34

Nesse sentido, entende-se que a Família não é apenas

uma instituição de origem biológica, mas, sobretudo, um instituto com

características e valores culturais e sociais que são reproduzidos de modo

a garantir a adequada formação do indivíduo.

Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka35, define a

Família perante a sociedade como sendo:

(...) uma entidade histórica, ancestral como a história,

interligada com os rumos e desvios da história ela mesma,

mutável na exata medida em que mudam as estruturas e a

arquitetura da própria história através dos tempos (...); a

33 BOCK, Ana Maria; et al. Psicologias. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 238. 34 BOCK, Ana Maria; et al. Psicologias. 9 ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 238. 35 HIRONAKA, Giselda Maria Fernandes Novaes. Família e casamento em evolução. In: Revista brasileira de direito de família. p. 7.

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história da família se confunde com a história da própria

humanidade.

É certo afirmar que a Família constitui a base da

sociedade.

Ela representa o alicerce de toda a organização social,

sendo compreensível, portanto, que o Estado a queira

preservar e fortalecer. Daí a atitude do legislador

constitucional proclamando que a família vive sob a

proteção especial do Estado.

O interesse do Estado pela família faz com que o ramo do

direito que disciplina as relações jurídicas que se constituem

dentro dela se situe mais perto do direito público que o

direito provado. Dentro do direito de família o interesse do

Estado é maior do que o individual. Por isso, as normas de

direito de família são, quase todas, de ordem pública,

insuscetíveis, portanto, de ser derrogadas pela convenção

entre particulares.36

Assim, sendo, a Família, juridicamente falando, tem

sua existência concreta na noção de Estado, “entendido este como uma

posição relativa que o indivíduo ocupa naquele agrupamento em que ela

se exterioriza.37

1.3 FAMÍLIA NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE

1988

A CRFB/88, cuida em capítulo destacado, da Família.

“Conservando, ainda, a gratuidade do casamento civil e os efeitos civis

do casamento religioso, trouxe, todavia, inovações marcantes.”.38

36 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 07. 37 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. a atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 04. 38 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 24.

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No entanto, antes de se verificar os dispositivos

constantes na CRFB/88, vamos fazer um breve relato dos princípios

constitucionais da Família, quais sejam eles: o princípio da dignidade

humana, o princípio da solidariedade, o princípio da busca da

erradicação da pobreza, o princípio da igualdade entre o homem e a

mulher na constância do casamento, o princípio do reconhecimento de

outras entidades familiares e o princípio de isonomia de tratamento aos

filhos.

Roberto Senise Lsiboa39 bem discorre a respeito dos

princípios constitucionais inerentes à Família ao Direito de Família.

O princípio da dignidade humana é objetivo fundamental

da República Federativa do Brasil, que deve ser observado

em todas as relações jurídicas públicas ou privadas.

(...).

O princípio da solidariedade familiar é decorrência do

princípio constitucional da solidariedade social. (...).

Externamente, a solidariedade social determina que

incumbe ao poder público e à sociedade civil a realização

de políticas de atendimento às necessidades familiares dos

menos abastados e dos marginalizados.

(...).

Decorrência do princípio da solidariedade social, encontra-

se a erradicação da pobreza como um objetivo a ser

alcançado pela república.

Ainda, segundo Roberto Senise Lsiboa40, o princípio da

igualdade e aqui se fala em igualdade entre o homem e a mulher na

constância do casamento e, também, dispõe sobre o reconhecimento de

39 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. V. 05. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. pp. 46-47. 40 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. V. 05. 3 ed. rev., atual e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. pp. 47-48.

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outras entidades familiares, além do casamento e por último ressalta que

pouco importa sua procedência, os filhos devem ser tratado de forma

igual.

Com o fim do patriarcalismo e a emancipação da mulher,

confere-se a ela igualdade de direitos em relação ao seu

marido, durante a constância do casamento. Isso significa

que não há mais o estado de sujeição no qual o cônjuge

virago se encontrava, podendo ela tomar as decisões em

conjunto com seu consorte.

(...).

O casamento deixa de se tornar a única instituição

protegida pelo direito de família, assegurando-se o

reconhecimento de outras cuja tutela não pode mais

deixar de ser concebida.

(...).

O filho não havido das relações conjugais possui

atualmente os mesmos direitos dos filhos havidos do

casamento.

Feita esta breve abordagem conceitual acerca dos

princípios inerentes à Família ao Direito de Família, passa-se ao estudo dos

dispositivos constitucionais que tratam dos mesmos.

A CRFB/88, em seus artigos 226 e seguintes trata do

instituto da Família, mas de modo expressivo em seu artigo 226, assegura

especial proteção do Estado à Família, independente da forma que a

mesma foi constituída.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial

proteção do Estado.

§ 1º. O casamento é civil e gratuita a celebração.

§ 2º. O casamento religioso tem efeito civil, nos termos da

lei.

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§ 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a

união estável entre homem e mulher como entidade

familiar, devendo a lei facilitara sua conversão em

casamento.

§ 4º. Entende-se, também, como entidade familiar a

comunidade formada por qualquer dos pais e seus

descendentes.

§ 5º. Os direitos e deveres referentes à sociedade conjugal

são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher.

§ 6º. O casamento civil pode ser dissolvido pelo divórcio,

após prévia separação judicial por mais de um ano nos

casos expressos em lei, ou comprovada separação de fato

por mais de dois anos.

§ 7º. Fundado nos princípios da dignidade da pessoa

humana e da paternidade responsável, o planejamento

familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado

propiciar recursos educacionais e científicos para o

exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva

por parte de instituições oficiais ou privadas.

§ 8º. O estado assegurará a assistência à família na pessoa

de cada um dos que a integram, criando mecanismos

para coibir a violência no âmbito de suas relações.

Diante do artigo acima exposto verifica-se que a

CRFB/88 admite que a Família inicia-se com o casamento entre o homem

e a mulher, seja ele civil, seja ele religioso com efeitos civis. No entanto,

não pôde deixar de observar os costumes da sociedade brasileira e, por

isso, reconheceu a união estável e a comunidade formada por qualquer

dos pais e seus descendentes a entidade familiar, para fins de proteção

estatal.

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José Lamartine Corrêa de Oliveira e Francisco José

Ferreira Muniz41 enunciam que:

Deve-se entender de modo expressivo a palavra

<<família>> utilizada no art. 226 num sentido amplo,

abrangendo, não apenas a família fundada no

casamento, mas ainda as situações comunitárias análogas

à família <<matrimonializada>>, como a união de fato (art.

226, § 3º), a família natural assente no fato da procriação

(art. 226, § 4º), e família adotiva (adoção por pessoa não

casada).

Tal entendimento vai ao encontro do princípio do

reconhecimento de outras entidades familiares, além do casamento,

como a união de fato, a Família natural e a Família adotiva.

Entretanto, o sistema matrimonial adotado pela

CRFB/88, nas palavras de José Lamartine Corrêa de Oliveira e Francisco

José Ferreira Muniz42 foi “o sistema do casamento civil facultativo do tipo

anglo-saxão. O casamento é civil, mas se admitem duas formas do mesmo

ato jurídico, a civil e a religiosa (art. 226, §§ 1º e 2º).

Sendo assim, o casamento tanto pode ser celebrado

perante a autoridade o registro civil ou perante um ministro do culto

religioso.

Referente ao princípio da igualdade de direitos e

deveres entre o homem e a mulher no casamento e na Família, princípio

este disposto no parágrafo 5º, da CRFB/88, “infere-se que a organização e

a direção da família repousam no princípio da igualdade de direitos e

deveres dos cônjuges.”.43. Constata-se que a CRFB/88 não reconhece a

41 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família.4 ed. atual. Curitiba: Juruá, 2004. p. 20. 42 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família.4 ed. atual. Curitiba: Juruá, 2004. p. 22. 43 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família.4 ed. atual. Curitiba: Juruá, 2004. p. 22.

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possibilidade de distribuição de direitos e deveres entre o homem e a

mulher no casamento.”.44

Entretanto, os princípios preconizados na CRFB/88

provocaram uma profunda alteração do conceito de Família até então

predominante na legislação civil.

Inicialmente, há de se mencionar que o princípio do

reconhecimento da união estável (artigo 226, parágrafo 3o) e da Família

monoparental (artigo 226, parágrafo 4o) foi responsável pela quebra do

monopólio do casamento como único meio legitimador da formação da

Família.

Nessa esteira, cabe mencionar Paulo Luiz Netto Lobo45,

segundo o qual o artigo 226, parágrafo 4o, da CRFB/88, ao disciplinar que

"entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada

por qualquer dos pais e seus descendentes", acabou criando uma

cláusula geral de inclusão da Família, no sentido de que esta entidade,

antes reconhecida pela lei se constituída, unicamente, pelo casamento,

agora deve ser sempre reconhecida pelo ordenamento jurídico.

Em outras palavras, a Família deixa de ser constituída

pelo vínculo jurídico, para ser reconhecida pelo ordenamento quando

presente o intuitu familiae, o afeto como elemento de sua formação. Por

isso, passa-se a conferir maior importância à dignidade de cada um dos

membros da Família e ao relacionamento afetivo existente entre eles do

que propriamente à instituição em si mesma.

Os exemplos desse novo paradigma são citados pela

própria CRFB/88, ao reconhecer como entidade familiar também a união

44 OLIVEIRA, José Lamartine Corrêa de; MUNIZ, Francisco José Ferreira. Curso de direito de família.4 ed. atual. Curitiba: Juruá, 2004. p. 23.

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estável, em seu artigo 226, parágrafo 3o e a família monoparental, artigo

226, parágrafo 4o).

Por conseqüência, os modelos de família são sempre

sugeridos pela CRFB/88 e nunca impostos pelo ordenamento jurídico com

antes ocorria no Código Civil de 1916.

Então, em sentido amplo, tem-se como conceito de

família, o grupo de pessoas que descendem de um ancestral comum e os

afins. Já, o conceito de Família em sentido estrito seria o grupo que se

forma pelo casamento, união estável, filiação, bem como a comunidade

formada por um dos pais e descendentes, a chamada Família

monoparental.

1.4 FAMÍLIA NO ANTIGO CÓDIGO CIVIL DE 1916 E NAS LEIS POSTERIORES

O Código Civil de 1916 (Lei 3.071, de 1º de janeiro de

1916) mantinha disposições, em seu artigo 180 e seguintes, que iam de

encontro com as normas promulgadas na CRFB/88. Como exemplo,

podemos citar o princípio da absoluta igualdade entre homens e mulheres

nas relações conjugais admitido pela CRFB/88 enquanto aquela

codificação possuía discriminações entre os sexos.

Ressalta-se que o “Código Civil de 1916 revelou um

direito mais preocupado com o círculo social da família do que com os

círculos sociais da nação (...), tendo mantido, num Estado leigo, uma

técnica canônica, e, numa sociedade evoluída do século XX, o

privativismo doméstico e o patriarcalismo conservador do direito das

Ordenações.”.46

45 Entidades familiares constitucionalizadas: para além do numerus clausus. In Jus Navigandi. Teresina. Ano 6. n. 53. Janeiro 2002. Disponível em http://jus2.uol.com.br///doutrina/texto.asp?id=2552. Acesso em 20 de setembro de 2008. 46 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 21.

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Explica-se. No Código Civil de 1916, o homem era tido

como o chefe de Família, com algumas pequenas restrições, em oposição

à mulher casada. A mulher dependia do marido para poder exercer uma

profissão, pois o direito havia a incluído no rol dos relativamente

incapazes.47

Contudo, a partir de 1930 a proteção á Família foi

assegurada por várias leis48, as quais dispunham sobre a guarda dos filhos

menores e a prova do casamento para fins de previdência social.

Com a promulgação da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1937 e o advento da Lei 883, de 21 de outubro de

1949, o filho natural foi beneficiado, permitindo-se o reconhecimento e a

investigação de paternidade.

Posteriormente a Lei 7.250, de 14 de novembro de

1984, reconheceu o filho havido fora do casamento pelo cônjuge

separado de fato há mais de cinco anos ininterruptos.

A Lei 968, de 10 de dezembro de 1.949 estabeleceu

prévia conciliação nos desquites e nas ações de alimentos49.

A Lei 1.110, de 23 de maio de 1950 reconheceu os

efeitos civis do casamento religioso, direito este que já era garantido pela

Constituição da República Federativa do Brasil de 1937.

A Lei 3.133, de 08 de maio de 1.957 e a Lei 4.655, de 02

de junho de 1965, aquela atualizou e esta introduziu no direito brasileiro a

legitimação adotiva.

47 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 21. 48 Decreto-Lei 3.200, de 19 de abril de 1.914. Decreto-Lei 9.701, de 03 de setembro de 1.946. Decreto-Lei 7.485, de 23 de abril de 1.945. 49 A Lei 5.478, de 25 de julho de 1.968, reformou processualmente a ação de alimentos.

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Porém, importante foi a Lei 4.121, de 27 de agosto de

1962 para o Direito de Família, pois “emancipou a mulher casada,

reconhecendo-lhe, na família, direitos iguais aos do marido e situação

jurídica análoga, restaurando, outrossim, o pátrio poder (poder familiar) da

mulher bínuda.50 Referida Lei, também, trouxe inovações acerca do

regime de bens e da guarda dos filhos.

A dissolução da sociedade conjugal, seus efeitos e a

parte processual, foram regulados pela Lei 6.515, de 26 de dezembro de

1977, a qual, no entender de Arnold Wald51, sem dúvida, foi “a mais

importante no campo do direito de família nos últimos tempos.”.

A Lei 6.515, de 26 de dezembro de 1977, alterou

consubstancialmente o Código Civil de 1916, no que dispunha sobre a

Família; abolindo-se o desquite, substituindo-se a expressão por separação

judicial. Trouxe a referida outras mudanças como a do regime legal de

bens que passou a ser o da comunhão parcial de bens; atribuiu igualdade

no direito à herança aos filhos havidos em qualquer condição; atribuiu-se,

também, o direito de pagar alimentos entre cônjuges aos herdeiros, no

caso de falecimento do devedor.

Nota-se que inúmeras foram as modificações,

reformas, alterações, através de leis, decretos, decretos-leis, depois da

vigência do Código Civil de 1916, no entanto, não foram suficientes para

que o direito fosse de todo justo, sendo, então, reformado num todo o

respectivo diploma legal.

50 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 22. 51 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 22.

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1.5 FAMÍLIA NO CÓDIGO CIVIL DE 2002

A Lei 10.406, de 10 de janeiro de 2002, introduziu no

nosso ordenamento jurídico o CC de 2002 e, com ele, várias conquistas

legislativas. Enquanto o Código Civil de 1916 fazia referência ao ‘homem’,

o CC de 2002 emprega a palavra ‘pessoa’. A mudança está em

conformidade com a CRFB/88, que estabelece que "homens e mulheres

são iguais em direitos e obrigações.".52

O legislador, no CC de 2002, mantendo a trilha do

Código Civil de 1916, não apresentou a definição de Família, suas regras

são destinadas à sua constituição e seus efeitos, em conformidade com o

disposto na CRFB/88.

Para Sílvio Rodrigues53:

(...) o Código Civil de 2002 apresenta-se na parte destinada

ao direito de família como aglutinador das significativas

inovações legislativas conceituais a respeito desse ramo do

direito que, a partir da Constituição Federal, como visto,

tem se mostrado extremamente dinâmico.

O Direito de Família localiza-se na Parte Especial do

CC de 2002, compreendendo os artigos 1.511 a 1.783. Com a nova

distribuição dada pela lei, o Direito de Família e o Direito das Sucessões,

agora estão juntos nos dois últimos livros que enceram o diploma legal,

adotou-se, dessa forma, um critério mais técnico e didático.

As mudanças decorrentes do advento do CC de 2002

verificam-se logo na sua divisão. Em análise ao Livro IV, observa-se que o

Direito de Família compreende o direito pessoal, o direito patrimonial, a

união estável, a curatela e a tutela. Dessa forma, o Direito de Família

representou o ramo do Direito que mais sofreu alterações ao longo do

52 Artigo 5º inciso I.

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século XX, mais precisamente desde a edição do Código Civil de 1916,

como anteriormente visto.

O Código Civil de 1916 disciplinava o Direito de Família

com a concessão de diretrizes para a constituição da Família, as

capacidades para que o casamento possa ser celebrado, os

impedimentos para a realização do casamento, as suas causas de

suspensão e invalidades, dentre outros tópicos. Passou a regular, também,

as relações oriundas de união estável e relações de parentesco.

Com o advento do CC de 2002, houve uma harmonia

entre as legislações vigentes, adequando-se dessa forma, o texto legal à

previsão constitucional.

A proteção à Família não é só verificada no Livro IV do

CC de 2002, ela se ramifica e pode ser percebida em vários outros

negócios jurídicos disciplinados por essa codificação, como exemplifica

Washington de Barros Monteiro, “nas doações (arts. 544, 546, 550, 511,

parágrafo único, do Código Civil de 2002), na venda de ascendente a

descendente (art. 496 do Cód. Civil de 2002), na reparação do dano (art.

948, inciso II, do Código Civil de 2002), ...”.54

O CC de 2002, em seu artigo 1.511 enfatiza a

igualdade dos cônjuges e no artigo 1.513, estabelece a não interferência

das pessoas jurídicas de direito público no casamento, definindo o regime

do casamento religioso e dos seus efeitos.

Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de

vida, com base na igualdade de direitos e deveres dos

cônjuges.

53 RODRIGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 15. 54 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de Direito Civil Volume 2. Direito de Família. 37ª ed. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 7

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Art. 1.513. É defeso a qualquer pessoa, de direito público

ou privado, interferir na comunhão de vida instituída pela

família.

As principais modificações ou inovações adotadas

pelo CC de 2002, no Direito de Família, seriam segundo Valter Kenji

Ishida55, as relativas:

- ao casamento (arts. 1.521 a 1.524);

- as que versem sobre erro essencial (art. 1557, inc. I a

IV e art. 1.560, inc. III);

- suprimento de idade (art. 1.520);

- suprimento de consentimento (art. 1.517 e § único e

art. 1.519);

- deveres dos cônjuges (art. 1.566, inc. V);

- efeitos do casamento (arts. 1.567 a 1.568);

- regime de bens (arts. 1.672 a 1.686);

- separação litigiosa (art. 1.572, caput e art. 1.573 §

único);

- a separação consensual (art. 1.574, caput);

- separação e divórcio – guarda dos filhos (art. 1.584,

caput);

- a separação de corpos (art. 1.562);

- união estável e concubinato (art. 1.723, § único e

arts. 1.724 e 1.727);

- filiação (art. 1.597, inc. III, IV e V e art. 1.601);

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- poder familiar (arts. 1.630 a 1.638);

- alimentos (art. 1.694) e;

- ausência (art. 6º e art. 1.571, § 1º).

Destarte, toda a interpretação do CC de 2002 deve

ser realizada em consonância com a CRFB/88, pois consoante

entendimento doutrinário de Arnold Wald56, verifica-se que:

A Constituição de 1988, precisamente, é que provocou

profunda modificação no Código Civil de 2002, na parte

do Direito de Família. Considerando a família ‘base da

sociedade’, sob ‘especial proteção do Estado’, deu-lhe

amplitude singular. Não a conceitua mais como originária

apenas do casamento. A este prestigiando, até com a

gratuidade de sua celebração, inovou com o

reconhecimento da ‘união estável entre homem e mulher

como entidade familiar’. E recomenda que se lhe facilite a

‘conversão em casamento’. Em norma coerente com a

evolução da sociedade contemporânea, proclama que

‘os direitos e deveres inerentes à sociedade conjugal soa

exercidos igualmente pelo homem e pela mulher’.

Manteve o divórcio como causa de dissolução do

casamento, após prévia separação judicial por mais de um

ano, ou comprovada separação de fato por mais de dois

anos. Preceitua, com firmeza, que o ‘planejamento familiar

é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar

recursos educacionais e científicos por parte de instituições

oficiais ou privadas’. (...).

Douglas Phillips Freitas57, coaduna do mesmo

entendimento ao discorrer que:

55 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. XIX-XX. 56 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 31. 57 FREITAS, Douglas Phillips. Curso de direito de família. Florianópolis: Vox Legem, 2004. p. 40.

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(...) o intérprete deverá dar à Lei 10.406/02, o novo Código

Civil Brasileiro, uma “interpretação constitucional”,

lembrando-se sempre que é a própria Constituição quem

traz os principais apontamentos em seara de Direito de

Família, para sempre depois perquirir os ditames do Código

Civil.

Vê-se, que o legislador pátrio procurou estabelecer

princípios de proteção à família, e dentro dessa, resguardar os membros

mais carentes de resguardo, quais sejam os filhos.

Entende-se que a atual legislação atentou ainda para

permitir à sociedade o início de uma Família observando-se os valores

morais, éticos e religiosos por ela seguidos, mas manteve o Estado para

proteger à Família, visto que a proteção da Família é uma proteção do

próprio Estado.

Abordar-se-á no capítulo seguinte o instituto da União

Estável na CRFB/88 e no CC de 2002, ainda sua natureza e os requisitos

para a sua caracterização.

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CAPÍTULO 2

DA UNIÃO ESTÁVEL

Feitas as considerações necessárias acerca da Família

e do Direito de Família, cumpre estudar a partir deste momento o instituto

da União Estável. Para atingir tal finalidade, dividiu-se o presente capítulo

em seis partes, começando pelo conceito, analisando a União Estável à

luz da CRFB/88, do Código Civil de 1.916 e do CC de 2.002, abarcando a

natureza jurídica do instituto em estudo e, por fim, concluindo com os

requisitos configuradores da União Estável, passa-se portanto, agora à

abordagem conceitual.

2.1 UNIÃO ESTÁVEL: CONCEITO

Maria Helena Diniz58 conceitua a União Estável como

uma união duradoura de pessoas livres e de sexos diferentes, que não

estejam ligadas entre si por casamento civil.

Sílvio Rodrigues59 entende tal instituto como a união do

homem e da mulher, fora do matrimônio, de caráter estável, mais ou

menos prolongada objetivando a satisfação sexual, assistência mútua e

dos filhos comuns, implicando numa presunção de fidelidade da mulher

ao homem.

Rodrigo da Cunha Pereira60 ensina, em resumo, que

“união estável é a relação afetivo-amorosa entre um homem e uma

mulher, não adulterina e não incestuosa, como estabilidade e

58 DINIZ, Maria Helena. Direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 37. 59 RODRIGEUS, Sílvio. Direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 287.

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durabilidade, vivendo sob o mesmo teto ou não, constituindo família sem

vínculo do casamento civil.”.

Importante estabelecer a diferença entre União

Estável e o concubinato, pois aquela consiste na união de um homem

com uma mulher, sem ligações pelos vínculos matrimoniais, durante tempo

duradouro, sob o mesmo teto, ou diferente, com aparência de casados

more uxório.61

Já, o concubinato segundo Irineu Antônio Pedrotti62:

Concubinato é o mesmo que hemigamia, que é o

matrimônio livre (matrimonium vocatur), ou casamento de

fato. Observa-se que genericamente a expressão diz

respeito a um homem e a uma mulher que vivam juntos

sem ser casados, mas como se assim fossem. Ressalta-se

que more uxório significa conforme o costume de mulher

casada, ou consoante determina o casamento.

Ainda referido autor63 dispõe que a união estável entre

o homem e a mulher está reconhecida como entidade familiar pela

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Assim, os motivos

inspiradores que ensejaram o Código de 1916 não mais encontram

evidência na realidade da família brasileira.

Importante ressaltar, no entendimento de Irinei Antônio

Pedrotti64, que o concubinato constitui uma situação fática que pode

gerar conseqüências jurídicas, e acrescenta:

60 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável de acordo com o novo código civil. 6 ed. Del Rey: Belo Horizonte, 2001. p. 29. 61 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato união estável. 5 ed. São Paulo: Universitária de Direito,2002. p. 08. 62 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato união estável. 5 ed. São Paulo: Universitária de Direito,2002. p. 08. 63 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato união estável. 5 ed. São Paulo: Universitária de Direito,2002. p. 09. 64 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato união estável. 5 ed. São Paulo: Universitária de Direito, 2002. p. 11.

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Logo, é um fato jurídico diante de uma realidade social

com valoração dos homens a todo instante e com

aceitação nas legislações modernas, pois, considera-se

fato jurídico qualquer acontecimento ao qual o corpo

jurídico positivo concede conseqüências jurídicas. O que se

evidencia tanto na doutrina como na jurisprudência, é que

o concubinato como situação geradora de direitos e

obrigações, deve revestir-se de condição moral.

Washington de Barros Monteiro65 assevera que a União

Estável é a relação lícita entre o homem e a mulher, visando à formação

de família, sendo chamados os partícipes desta relação de companheiros,

conforme artigo 1.723 do CC de 2002.

Ainda o mesmo autor66 ressalta que o concubinato,

por sua vez, consiste em relação que não merece a proteção do direito

de família, dado seu caráter adulterino, e são denominados concubinos

os seus participantes, na forma do artigo 1.727 do CC de 2002.

Prelecionam os mencionados dispositivos:

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união

estável entre o homem e a mulher, configurada na

convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida

como o objetivo de constituição de família.

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a

mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.

Sílvio de Salvo Venosa67 nesse sentido explica:

Contemplada a terminologia união estável e companheiro

na legislação mais recente, a nova legislação colocou os

termos concubinato e concubinos na posição de uniões de

segunda classe, ou aquelas para as quais há impedimentos

para o casamento. Isso fica muito claro no vigente Código

65 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p. 30. 66 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p. 30. 67 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 2005. p. 54.

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Civil em seu artigo 1.727. Trata-se do outrora denominado

concubinato impuro. Concubinato apresenta o sentido

etimológico de comunhão de leito cum (com) cubare

(dormir).

Ana Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti68 esclarece

que:

Mesmo considerando o casamento a forma única e

exclusiva de constituição de família, a união

extramatrimonial sempre esteve presente na realidade

social, embora não possamos negar que seu significado

sofreu relevante modificação desde os tempos mais

antigos (...).

Referida autora69 afirma que, em síntese, considera-se

união estável o relacionamento entre um homem e uma mulher que

intencionam formar uma entidade familiar sem as formalidades atribuídas

ao casamento.

Sílvio de Salvo Venosa70 destaca, ainda, que o

concubinato ou a união são fatos sociais e fatos jurídicos, sendo essa a sua

natureza. O casamento, por outro lado, é um fato social e um negócio

jurídico. Considerando-se que fato jurídico é qualquer acontecimento que

gera conseqüências jurídicas, a união estável é um fato do homem que,

gerando efeitos jurídicos, torna-se um fato jurídico.

Verifica-se, portanto, o reconhecimento da união

estável como entidade familiar, o qual sua proteção é devida pelo

Estado, mas sem equiparação formal ao casamento ou união legítima,

68 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 67. 69 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 67. 70 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 2005. p. 58.

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uma vez que o dispositivo constitucional faz distinção entre casamento e

união estável.71

2.2 UNIÃO ESTÁVEL NA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO

BRASIL DE 1988

A CRFB/88 veio suprir a omissão do legislador no

Código Civil de 1916, que ignorava a então chamada Família ilegítima, ao

dizer que, “para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a união

estável entre o homem e a mulher como entidade familiar, devendo a lei

facilitar sua conversão em casamento.”.72

Com essa inovação introduzida pela CRFB/88, os

tribunais estaduais, por força do artigo 226, parágrafo 3º, equipararam a

União Estável ao casamento, tendo como regime de bens dessa união o

da comunhão parcial, não importando a comprovação da forma como

os bens foram adquiridos.73

Para Omar Gama Ben Kauss74 a União Estável é um

instituto que por imitar o casamento se tem como estável, mas ao mesmo

tempo recomendasse a sua conversão:

Uma união de fato, imitando o casamento, estável que

deve ser provisória porque recomendada a conversão em

casamento, até facilitada pelo comando constitucional

(art. 226, § 3º)e recebido pelo Código Civil (art. 1.726), sem

parâmetro em direito comparável respeitável, realmente é

difícil regular a sua existência.

71 PEDROTTI, Irineu Antônio. Concubinato união estável. 5 ed. São Paulo: Universitária de Direito, 2002. p. 199. 72 Artigo 226, parágrafo 3º, da CRFB/88. 73 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 268. 74 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões.5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 95.

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Sílvio Rodrigues75 propugna que:

O § 3º do art. 226 da Constituição de 5 de outubro de 1988

ficou por alguns anos sem ser regulamentado, havendo,

durante esse tempo, controvérsia a respeito de ele ser, ou

não, auto aplicável, estendendo os efeitos do casamento

indistintamente à união estável. O que parece fora de

dúvida é ter o dispositivo promovido à união estável à

condição de entidade familair.

E mais, para o mesmo autor76 a CRFB/88:

(...) determina que a união estável entre homem e mulher

está sob a proteção do Estado, colocando, assim, o

concubinato sob o regime de absoluta legalidade, tirando-

o da eventual clandestinidade em que ele, possivelmente

vivia.

Assim, consoante Sílvio Rodrigues77, “a família nascida

fora do casamento, com origem na união estável entre o homem e a

mulher, ganhou novo status dentro do nosso direito.”.

2.3 UNIÃO ESTÁVEL E O CÓDIGO CIVIL DE 2002

O CC de 2.002 trouxe significativa mudança quando

inseriu o Título referente à União Estável no Livro de Família; tratando os

cinco artigos aí inseridos, dos aspectos pessoais e patrimoniais, dando

ênfase a esses a jurisprudência.

Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união

estável entre o homem e a mulher, configurada na

75 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 276. 76 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 258. 77 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 256.

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convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida

com o objetivo de constituição de família.

§ 1o A união estável não se constituirá se ocorrerem os

impedimentos do art. 1.521; não se aplicando a incidência

do inciso VI no caso de a pessoa casada se achar

separada de fato ou judicialmente.

§ 2o As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a

caracterização da união estável.

Art. 1.724. As relações pessoais entre os companheiros

obedecerão aos deveres de lealdade, respeito e

assistência, e de guarda, sustento e educação dos filhos.

Art. 1.725. Na união estável, salvo contrato escrito entre os

companheiros, aplica-se às relações patrimoniais, no que

couber, o regime da comunhão parcial de bens.

Art. 1.726. A união estável poderá converter-se em

casamento, mediante pedido dos companheiros ao juiz e

assento no Registro Civil.

Art. 1.727. As relações não eventuais entre o homem e a

mulher, impedidos de casar, constituem concubinato.

Repetindo a proposta dada pela Lei 9.278 de 10 de

maio de 1996 – a Nova Lei do Concubinato, o CC de 2002 indica os

parâmetros para configuração da União Estável em seu artigo 1.723, o

qual dispõe que: “É reconhecida como entidade familiar a união estável

entre homem em mulher, configurada na convivência pública, contínua e

duradoura estabelecida com o objetivo de constituição de família.”.

Sílvio Rodrigues78 enuncia que com o advento do CC

de 2002, desnecessário é a existência de filhos para a configuração da

União Estável, bem como o artigo 1.723 manteve o disposto na Lei

9.278/96, vejamos:

78 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 282.

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Quanto à caracterização da união estável, mantiveram-se,

pelo art. 1.723, aqueles elementos constantes na lei de 1996

(convivência pública, contínua e duradoura estabelecida

com o objetivo de constituição de família), desprendendo-

se o legislador, definitivamente, de prazo preestabelecido

ou evento prole para identificar a união.

Consoante Marcos Baschera79: “A norma do citado

artigo veio a consolidar a doutrina e a jurisprudência dominante em nossos

Tribunais, conceituando com propriedade a União Estável entre o homem

e mulher.”.

Colhe-se da jurisprudência:

União estável. Partilha, patrimônio comum. União estável de

23 anos confere à concubina o direito à metade do capital

acumulado durante a convivência, para cuja formação

contribuiu cuidando da casa, criando e educando os filhos.

O fato de a união ter sido desfeita antes da vigência da Lei

nº 9.278/96 não elimina o direito da mulher, deferido com

base em norma jurisprudencial pacificada nesta Corte.

Recurso não conhecido.80

No artigo 1.724, o qual “regula as relações pessoais

entre os companheiros, declarando que devem obedecer aos deveres”81

e no artigo 1.725, do CC de 2002, vem enunciado, respectivamente,

que82:

Ainda no campo pessoal, reitera os deveres de “lealdade,

respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação

dos filhos”, como obrigação recíproca entre os conviventes

(...).

79 BASCHERA, Marcos. Alimentos e união estável à luz da nova lei civil. 5 ed. Leme: Mizuno, 2006. p. 125. 80 STJ – Resp 297.910/SE – Ac. Unân. 4ª T. – Rel. Min. Ruy Rosado – publ. Em 20.08.2001. 81 GONÇALVE, Carlos Roberto. Direito de família. V. 2. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 189. 82 RODRUGUES, Sílvio. Direito civil: direito de família. 28 ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 282.

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Quanto aos efeitos patrimoniais, determina a aplicação, no

que couber, do regime da comunhão parcial de bens (...),

e, assim, os companheiros passam a partilhar todo o

patrimônio adquirido na constância da união, como se

casados fossem.

Marcos Baschera83 enuncia que:

A própria Constituição Federal reconhece a união estável

como entidade familiar, recebendo total proteção do

Estado, de tal sorte que os mesmos deveres e obrigações

do casamento devem ser estendidos à União Estável.

Referente ao artigo 1.725, Maria Berenice Dias e

Rodrigo da Cunha Pereira84 ressalta que:

(...), uma vez caracterizada a união estável, os bens

adquiridos na constância da relação, a título oneroso,

pertencem a ambos os conviventes. Em caso de dissolução

do vínculo, deverão ser partilhados como determinam as

regras do regime da comunhão parcial de bens, dispostas

no artigo 1.658 e seguintes do novo Código Civil brasileiro.

Comenta Marcos Baschera85: “A norma do presente

artigo trata dos deveres e obrigações entre os companheiros que formam

a união estável, ditando as mesmas regras do casamento, para aqueles

que não celebram contrato escrito.”.

É da jurisprudência:

União estável. Bem adquirido anteriormente à Lei nº

9.278/96. Presunção de condomínio. Inadmissibilidade.

Esforço comum para a aquisição do bem. Comprovação.

Existência. Pedido de partilha. Procedência. Não se aplica

a presunção de condomínio, e que trata a Lei nº 9.278/96,

se o bem foi adquirido anteriormente à vigência do referido

83 BASCHERA, Marcos. Alimentos e união estável à luz da nova lei civil. 5 ed. Leme: Mizuno, 2006. p. 126. 84 DIAS, Maria Berenice; PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 273.

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diploma legal. É de se julgar procedente pedido de

partilha, se foi do esforço comum de ambos os conviventes

que resultou a compra do bem imóvel.86

Já, o artigo 1.726, do CC de 2002, disciplina que:

(...) destina-se a operacionar o mandamento constitucional

sobre a facilitação da conversão da união estável em

casamento, facultando aos companheiros formular

requerimento nesse sentido ao juiz e providenciar o assento

no Registro Civil.87

Marcos Baschera88 elucida que: “Deverá a lei facilitar

a conversão da união estável em casamento, ocasião em que os

companheiros deverão requerer ao juiz o assento no Registro Civil.”.

Finalizando, os artigos 1.694 a 1.710, do CC de 2002,

faz menção aos alimentos, o qual veio a ser estabelecido junto com a

pensão decorrente do casamento, tendo, dessa forma, o mesmo

tratamento.

Necessário ressaltar que não se aplica os dispositivos

do CC de 2002 às situações de convivência cessadas, em definitivo, antes

da data de vigência do citado diploma legal.

2.4 UNIÃO ESTÁVEL: NATUREZA JURÍDICA

As principais teorias que procuram explicar a natureza

jurídica da União Estável, consoante entendimento de Roberto Senise

85 BASCHERA, Marcos. Alimentos e união estável à luz da nova lei civil. 5 ed. Leme: Mizuno, 2006. p. 126. 86 TJMG – AC 000.191.328-4/00 - 3ª C.Cív. – Rel. Des. José Antonino Baía Borges – DJMG 04.05.2001. 87 GONÇALVE, Carlos Roberto. Direito de família. V. 2. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 190. 88 BASCHERA, Marcos. Alimentos e união estável à luz da nova lei civil. 5 ed. Leme: Mizuno, 2006. p. 126.

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Lisboa89, são as seguintes: o enriquecimento sem causa, a sociedade de

fato, a prestação de serviços, a obrigação natural, a finalidade social, a

eqüidade e a teoria da aparência, in verbis:

a) a teoria do enriquecimento sem causa é aquela

segundo a qual despesas feitas pela mulher durante a

união, em proveito do casal, devem ser restituídas;

b) a teoria da sociedade de fato preceitua que a mulher

tem o direito a uma parte do patrimônio, no caso de

dissolução, se a concubina demonstrasse que havia

efetivamente contribuído para a constituição do

patrimônio;

c) a teoria da prestação de serviços dispõe que é devido o

pagamento de indenização em beneficio da

companheira, graças a seus serviços prestados ao

convivente;

d) a teoria da finalidade social apregoa o reconhecimento

da união estável no fato de o juiz ter de aplicar a norma

jurídica em conformidade com o fim social para qual ela se

destina;

e) teoria da obrigação natural se fundamenta na

impossibilidade de restituição dos pagamentos e das

liberalidades efetuadas por um dos conviventes em

benéfico do outro;

f) teoria da eqüidade procura se impor ante a existência

de omissão da regulamentação legal acerca do

concubinato;

g) a teoria da aparência se reporta à atribuição errônea

da condição de casados aos concubinos e à ignorância

alheia sobre a inexistência do casamento civil.

Em virtude do aumento do número de pessoas

vivendo em União Estável, foram editadas as Súmulas 380 e 382 do

Supremo Tribunal Federal. A teor das referidas Súmulas a União Estável foi

89 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed.

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elevada ao ramo do direito obrigacional, do direito comercial, criando a

jurisprudência a teoria da sociedade de fato.

Súmula 380. Comprovada a existência de sociedade de

fato entre os concubinos, é cabível a sua dissolução

judicial, com Partilha Do Patrimônio Adquirido Pelo Esforço

Comum.

Súmula 382. A vida em comum sob o mesmo teto, "more

uxório", não é indispensável à caracterização do

concubinato.

Como nas sociedades comerciais legitimamente

constituídas, os sócios, individualmente, têm direito ao seu quinhão,

proporcionalmente à participação na pessoa jurídica.

Assim, comparava-se o concubinato às sociedades de

fato do direito comercial. Com a promulgação da CRFB/88, em face do

disposto no parágrafo 3º, do artigo 226, houve significativa modificação

na maneira como o ordenamento jurídico enfocava tais uniões, elevando-

as à categoria de entidade familiar, como já visto.

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial

proteção do Estado.

(...).

§ 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a

união estável entre o homem e a mulher como entidade

familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em

casamento.

Nesse contexto, verifica-se que a ênfase dada ao

casamento como única forma de constituição de Família legítima já não

atendia integralmente aos interesses sociais, uma vez que não é mais

reconhecido como única forma válida e exclusiva de constituição da

Família.

rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. pp. 221-222.

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Rodrigo da Cunha Pereira90 já assinalava:

[...] o assunto, que tem sido tratado até então no campo

do Direito das Obrigações, muda seus rumos para o Direito

de Família, especialmente a partir da Constituição de 1988,

que inscreveu expressamente o concubinato (união

estável) como uma das formas de constituição de família.

Em rigor, as leis regulamentadoras da União Estável,

quais sejam, a Lei 8.971/94 e a Lei 9.278/96, em consonância com a

CRFB/88, deram tratamento institucional à União Estável, tanto que a Lei

9.278/96 fixou a competência jurisdicional, em caráter absoluto, como

sendo da Vara de Família.

Como no casamento, o Estado estabeleceu também

para a União Estável as normas quanto aos direitos patrimoniais e não-

patrimoniais em geral.

2.5 UNIÃO ESTÁVEL: REQUISITOS

Tratando-se de situação elevada à categoria de

ordem jurídico-constitucional, a união estável terá de estar condicionada

a alguns elementos caracterizadores para que seja reconhecida como

instituidora de família.91

Nesse sentido observa Ana Elizabeth Lapa Wanderley

Cavalcanti92:

A união estável possui características diversas do

casamento e a principal diferença entre os dois institutos é

que o casamento é consolidado por um ato jurídico solene,

90 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família contemporâneo: concubinato - união estável. Belo Horizonte: Del Rey, 1997. 91 BORGHI, Hélio. Casamento e união estável. 2003. p. 05. 92 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 113.

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sendo regulamentado por normas rígidas de ordem

pública, que definem sua validade e eficácia.

Referida autora93 esclarece, ainda:

De outro lado, a união estável, diferentemente do

casamento civil, se encontra prevista no ordenamento

jurídico com certa “liberdade” na sua constituição. Trata-se

de fato jurídico não solene, de formação sucessiva e

complexa. Ou seja, somente após a configuração de

certos elementos é que finalmente poderá ser reconhecida

como entidade familiar pelo sistema jurídico. Isto quer dizer

que a união estável precisa se adequar a certos elementos

para que seja finalmente reconhecida como fato jurídico.

Ana Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti94

complementa:

Que a união estável se diferencia do casamento quanto à

sua constituição, seus efeitos e quanto ao momento de

incidência desses efeitos. Contudo, reconhecida como um

fato jurídico, deve ser sempre protegida pelo Estado, como

forma legítima de família.

Como elementos que integram ou que caracterizam a

união estável pode-se dizer, a durabilidade da relação, a diversidade de

sexos, exclusividade, inexistência de impedimentos matrimoniais,

convivência more uxório, a construção patrimonial em comum, affectio

maritalis, a coabitação, fidelidade, notoriedade, a comunhão de vida,

enfim, tudo aquilo que faça a relação parecer um casamento. É a posse

de estado de casado.95

93 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 113. 94 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 114. 95 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável de acordo com o novo código civil. 2001. p. 29.

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Nesse sentido, o artigo 1.724 do CC de 2002 dispõe, in

verbis, “As relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos

deveres de lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e

educação dos filhos”.

Washington de Barros Monteiro96 destaca os

pressupostos para que se reconheça a entidade familiar apta a produzir

efeitos pessoais e patrimoniais, tais quais, a união estável, com

constituição de família, entre um homem e uma mulher; convivência sob o

mesmo teto prolongada, pública e contínua; capacidade civil dos

companheiros; a inexistência de impedimento matrimonial, salvo no caso

de casamento, se houver separação de fato.

A diversidade de sexos trata-se de requisito essencial

para a consolidação, existência e validade de uma união estável

caracterizada como entidade familiar para o sistema jurídico atual. Esse

elemento está disposto no artigo 226, parágrafo 3º, da CRFB/8897, o qual

determina:

Art. 226.

§ 3º. Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a

união estável entre homem e mulher como entidade

familiar, devendo a lei facilitar a sua conversão em

casamento.

Ana Elizabeth Lapa Wanderley Cavalcanti98 assinala

que:

A exclusividade está relacionada com o princípio da

monogamia, uma vez que se trata de um princípio de

direito de família aplicável a qualquer forma de entidade

96 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p. 36. 97 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 117. 98 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 118.

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familiar prevista em nosso sistema jurídico, com o direito e o

dever de respeito e consideração.

Outro elemento, a durabilidade, ou seja, a

continuidade do relacionamento é um dos requisitos que diferenciam a

união estável do casamento, posto que, no casamento, a sua

configuração se dá pela própria celebração, sem ser necessária a

comprovação da durabilidade e estabilidade da relação. Por outro lado,

este aspecto é extremamente relevante na união estável.99

No que pertine à notoriedade, assevera Hélio

Borghi100:

Considerada também como elemento essencial para a

caracterização das relações concubinárias, a notoriedade

significa em linhas gerais, o conhecimento de terceiros das

afeições recíprocas entre os concubinos. A notoriedade é

elemento complementar à noção de fidelidade, pois torna

pública a situação de quase-casados que é representada.

Maria Helena Diniz101 acrescenta:

A convivência more uxória deve ser notória, os

companheiros deverão tratar-se, socialmente, como

marido e mulher, aplicando-se a teoria da aparência,

revelando a intentio de constituir família, traduzida por uma

comunhão de vida e interesses, mesmo que não haja prole

comum.

Referida autora102 destaca, ainda:

A união estável por ter a aparência de casamento, ante a

circunstância de que o próprio casamento pode haver

uma separação material dos consortes por motivo de

doença, de viagem ou de profissão, a união estável pode

99 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 120. 100 BORGHI, Hélio. Casamento e união estável. 2003. p. 07. 101 DINIZ, Maria Helena. Direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 341. 102 DINIZ, Maria Helena. Direito civil: direito de família. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 343.

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existir mesmo que os companheiros não residam no mesmo

teto, desde que haja notório que sua vida se equipara à

vida de casados civilmente. Isto se dá a coabitação.

Nesse mesmo sentido dispõe a Súmula 382 do

Supremo Tribunal Federal: “A vida em comum sob o mesmo teto, more

uxório, não é indispensável à caracterização do concubinato”.

Segundo Ana Elizabeth Lapa Wanderley

Cavalcanti103, “referida súmula não afastou a coabitação, mas

demonstrou que, em situações excepcionais, poderia ser desconsiderada

a convivência more uxória sob o mesmo teto, para que se caracterizasse

o concubinato”.

Washington de Barros Monteiro104 acrescenta:

As relações de caráter meramente afetivo não configuram

união estável. Simples relações sexuais, ainda que repetidas

por largo espaço de tempo, não constituem união estável.

A união estável, que é manifestação aparente de

casamento, caracteriza-se pela comunhão de vidas, no

sentido material e imaterial, isto é, pela constituição de

família. Pode acontecer, entretanto, que não convivam

sob o mesmo teto, desde que tenham justa cauda para

tanto, como necessidades profissionais, pessoais ou

familiares que impeçam a unicidade domiciliar.

A permanência estável da relação, também é

requisito da união estável, uma vez que, embora a lei não estabeleça um

prazo determinado de duração para a sua configuração, é necessário

que a convivência seja contínua e duradoura, conforme está disposto no

artigo 1.723, caput, do CC de 2002.105

103 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. p. 135. 104 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p. 31. 105 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil: direito de família. 2004. p. 33.

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Sílvio de Salvo Venosa106, a respeito do tema, acentua:

O objetivo de constituição de família é corolário de todos

os elementos legais antecedentes. Não é necessário que o

casal de fato tenha prole comum, o que se constituiria

elemento mais profundo para caracterizar a entidade

familiar. Contudo, ainda que sem filhos comuns, a união

tutelada é aquela intuitu familiae, que se traduz em uma

comunhão de vida e interesses.

Rodrigo da Cunha Pereira107 ensina que, em síntese, os

elementos caracterizadores da união estável são os que delineiam o

conceito de família, e acrescenta:

Não é a falta de um desses elementos aqui apresentados

que descaracteriza ou desvirtua a noção de união estável.

O importante, ao analisar cada caso, é saber se ali, na

somatória dos elementos, está presente um núcleo familiar,

ou, na linguagem do artigo 226 da Constituição da

República, uma entidade familiar. Se aí estiver presente

uma família, terá a proteção do Estado e da ordem

jurídica.

Por fim, pode-se concluir que a afeição familiar não

significa a continuidade ou durabilidade de relacionamentos afetivos, e

sim a vontade de estar ligado a alguém com laços familiares, ou seja, é o

objetivo de constituir família. É exatamente essa união que deve ser

considerada como entidade familiar da forma como prevista na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 e na legislação

ordinária vigente.108

Verificados os requisitos caracterizadores do instituto

da União Estável, faz-se necessário, para alcançar o objetivo deste

106 VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: direito de família. 2005. p. 61. 107 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Concubinato e união estável de acordo com o novo código civil. 2001. p. 34. 108 CAVALCANTI, Ana Elizabeth Lapa Wanderley. Casamento e união estável: requisitos e efeitos pessoais.1 ed. São Paulo: Manole, 2004. pp. 139-140.

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trabalho, estudar especificamente a dissolução da União Estável, o que se

passa a fazer no próximo capítulo.

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CAPÍTULO 3

DO CONTRATO, DOS DIREITOS E DOS DEVERES, DO

RECONHECIMENTO E DOS EFEITOS JURÍDICOS DA DISSOLUÇÃO

DA UNIÃO ESTÁVEL

3.1 DO CONTRATO DA UNIÃO ESTÁVEL

O contrato da União Estável “é negócio jurídico por

meio do qual um homem e uma mulher decidem formalmente se unir,

porém sem as solenidades exigidas pela legislação vigente.”.109

O contrato da União Estável, somente poderá ser

celebrado por pessoas maiores e desimpedidas de contrair núpcias.

Permite-se que, por meio de negócio jurídico, os interessados regularizem a

sua união de fato, estabelecendo cláusulas, onde constem direitos e

deveres mútuos aos companheiros decorrentes da União Estável; direitos e

deveres que recairão tanto no aspecto patrimonial como pessoal.

Também, pode-se fazer prova do reconhecimento da

existência da União Estável, por ocasião da averbação de um bem imóvel

como bem de família.

Sobre o acima abordado, comenta Roberto Senise

Lisboa110:

A lei civil permite que os conviventes procedam à

averbação para fins de se tornar o imóvel impenhorável

109 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 222. 110 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 222.

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ante o não pagamento de dívidas vencidas, exceção feita

ao inadimplemento de obrigações tributárias e despesas

condominiais.

Assim, se os interessados comparecerem perante o oficial

do registro de imóveis, declarando formalmente que se

encontram vivendo juntos como conviventes, o documento

será o meio de prova da união estável, para todos os fins.

Outro aspecto do contrato de União Estável que

merece destaque é o seu conteúdo probatório, ou seja, existindo o

contrato de União Estável, este servirá de prova inequívoca, em juízo ou

fora dele, para a existência da relação. A simples existência do contrato

afasta a necessidade de se fazer qualquer outra prova (testemunhas,

fotos, depoimento pessoal, etc.) da presença dos elementos

caracterizadores da União Estável.

Vale ainda ressaltar que o contrato de União Estável,

também, poderá regular os aspectos, no caso de dissolução da relação,

referentes aos alimentos devidos entre pais e filhos, alimentos devidos ou

não entre os companheiros, regulamentação de visitas, etc.

Enfim, o contrato de União Estável é de suma

importância para que se garantir o entendimento claro das intenções e

do modo de ser e pensar dos companheiros

Finalizando o assunto sobre o contrato de União

Estável, Arnold Wald111 faz importantes indagações, quando ressalta que:

O novo Código Civil, tal como a Lei n. 9.278/96, nada dispôs

acerca do contrato de convivência, nem mesmo ainda

sobre a possibilidade ou não de seu registro, como

tampouco sobre a possibilidade de mudança de regime

de bens adotados pelos conviventes.

111 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: Saraiva, 2005. p. 329.

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Todavia, apesar da omissão do legislador, a doutrina e a

jurisprudência têm se manifestado no sentido de ser

perfeitamente possível o registro público do instrumento de

convivência, mostrando-se ainda lícito aos contratantes

alterar o pactuado, quantas vezes assim quiserem, tanto no

que diz respeito às relações patrimoniais quanto às pessoais

então ajustadas.

Assim sendo, a possibilidade de mudança de regime

de bens na União Estável é ampla, diferentemente do que ocorre no

casamento.

3.2 DOS DIREITOS E DOS DEVERES NA UNIÃO ESTÁVEL

Quanto aos direitos e deveres entre os companheiros,

vale lembrar que o artigo 2º, da Lei 9.278/96 (Lei da União Estável), já os

contemplava; assim, o CC de 2002 os ratificou no artigo 1.724,

determinado que as relações pessoais entre os companheiros deverão

obedecer o ali estatuído.

O artigo 1.724, do CC de 2002 enuncia que: “As

relações pessoais entre os companheiros obedecerão aos deveres de

lealdade, respeito e assistência, e de guarda, sustento e educação dos

filhos.”.

O artigo 1.724, do CC de 2002, veio explicitar os

deveres que já se constituíram regras mínimas, implícitas ao instituto da

União Estável, embora não estivessem escritos, anteriormente.

A Lei 9.278/96 (Lei da União Estável), em seu artigo 2º e

incisos dispõe que: “São direitos e deveres iguais ao conviventes: I –

respeito e consideração mútuos; II – assistência moral e material recíproca;

III – guarda, sustento e educação dos filhos comuns.”.

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Nota-se que a União Estável assemelha-se ao

casamento, uma vez que tem como paradigma a constituição de família,

onde os direitos e deveres entre os companheiros são quase os mesmos do

artigo 1.566, do CC de 2002112. E, ainda, não consta dentre os deveres

entre os companheiros a convivência sob o mesmo teto. A Súmula 382, do

Supremo Tribunal Federal já tinha manifestado sobre isto.

Omar Gama Ben Kauss113, coaduna do mesmo

entendimento:

No tocante aos direitos e deveres emergentes da união de

fato, devemos enfocar o nosso raciocínio para torná-los o

mais próximo possível dos direitos oriundos do casamento,

no qual essa união se espelha. Assim, o uso do nome do

companheiro pela concubina (...), direito ao recebimento

de indenização por acidente do trabalho que vitimar o

companheiro (...), benefício da pensão deixada por

servidor público ou do trabalhados contribuinte da

previdência social, continuação da locação morrendo o

companheiro, etc. Os exemplos dizem bem da

equiparação dos direitos da união de fato aos do

casamento.

Valter Kenji Ishida114, aborda os direitos e deveres dos

companheiros quando propugna que:

Existem os direitos e deveres do concubinos, incluindo a

exigência de fidelidade, assistência mútua e guarda,

sustento e educação dos filhos. (...). Na hipótese de morte,

segundo a Lei n. 8.971/94, havendo filhos, o concubino terá

direito ao usufruto da quarta parte dos bens e, não

havendo filhos, à metade. Na hipótese de inexistência de

ascendentes e descendentes, terá direito à totalidade da

112 Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: I – fidelidade recíproca; II – vida em comum, domicílio conjugal; III – mútua assistência; IV – sustento, guarda e educação dos filhos; V – respeito e consideração mútuos. 113 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 98. 114 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. pp. 220-221.

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herança. Também na hipótese de falecimento, haverá

direito real de habitação na moradia de residência,

enquanto viver ou não constituir novo relacionamento.

Rodrigo da Cunha Pereira, ressalta que: “Os deveres

pessoais entre os companheiros, como lealdade, respeito e assistência,

são os mesmos estabelecidos para os cônjuges, à exceção da

coabitação.”.115

A coabitação não é indispensável à caracterização

da União Estável; permitindo, dessa forma, o CC de 2002 o

reconhecimento da existência de união estável entre pessoas que não

residam sobre o mesmo teto.

Outro ponto relevante é o referente à existência ou

não, no caso da União Estável, da criação de um novo estado civil, qual

seja o parentesco por afinidade. O artigo 1.595, do CC de 2.002, enuncia

que: “Cada cônjuge ou companheiro é aliado aos parentes do outro pelo

vínculo da afinidade.”.

3.3 DO RECONHECIMENTO DA UNIÃO ESTÁVEL

A Lei 9.278/96 (Lei da União Estável), em seu artigo 1º

dispõe que: “É reconhecida como entidade familiar a convivência

duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher,

estabelecida com o objetivo de constituição de família.”.

O artigo 1.723, caput, do CC de 2002, assim deixa

claro quais são os requisitos para o reconhecimento da União Estável

como entidade familiar:

115 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Direito de família e o novo código civil. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 269.

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Art. 1.723. É reconhecida como entidade familiar a união

estável entre homem e mulher, configurada na

convivência pública, contínua e duradoura e estabelecida

com o objetivo de constituição de família.

Consoante Marcos Baschera116: “A norma do referido

artigo veio consolidar a doutrina e a jurisprudência dominante em nossos

Tribunais, conceituando com propriedade e união estável entre homem e

mulher.”.

O legislador constituinte reconheceu a União Estável,

institucionalizando-a na CRFB/88, em seu artigo 226, parágrafo 3º:

Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial

proteção do Estado.

(...).

3º Para efeito da proteção do Estado, é reconhecida a

união estável entre o homem e a mulher como entidade

familiar, devendo a lei facilitar sua conversão em

casamento.

Segundo Anold Wald117, através da CRFB/88:

Foi concedida, portanto, proteção constitucional às

famílias de fato, ou naturais, sem que tal signifique a sua

equiparação às famílias legítimas ou constituídas pelo

matrimônio. Tanto é assim que o dispositivo constitucional

determina que a lei deverá facilitar a conversão das uniões

estáveis em casamento. (...). A matéria padecia de

regulamentação em lei ordinária, impondo a definição do

que seja “união estável” e os seus efeitos legais.

Omar Gama Ben Kauss118, ressalta, em síntese, que:

116 BASCHERA, Marcos. Alimentos e união estável à luz da nove lei civil. 5 ed. Leme: Mizuno, 2006. p. 125. 117 WALD, Arnold. Curso de direito civil brasileiro: o novo direito de família. 16 ed. São Paulo: saraiva, 2005. p. 300. 118 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 98.

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(...) os elementos de que se tem valido a jurisprudência

para o reconhecimento da união podem ser relacionados:

continuidade das relações sexuais, reciprocidade de

afeições, coabitação, dependência econômica da

mulher, unicidade de amante, casamento religioso,

casamento no estrangeiro, gravidez e filhos da

companheira ou companheiro, etc.

Colhe-se do entendimento jurisprudencial:

Apelação cível – Reconhecimento da união estável. É

cedido que para fins de caracterização da união estável,

não somente em vista da legislação extravagante que veio

a disciplinar o art. 226 da Constituição Federal, Lei 9.278/96,

assim como do art. do novo Código Civil, necessário se faz

que esta união, para ser reconhecida como entidade

familiar, venha possuir configuração de convivência

pública, contínua, duradoura e que tenha como objetivo a

constituição de uma família. Já o denominado “namoro”, a

despeito de se constituir em uma relação pública,

contínua, duradoura (característica essa mutável

considerando o casal que venha ser analisado), diferencia-

se da união estável no tópico relativo à finalidade.

Enquanto a união estável traz em seu bojo a idéia de

constituição de núcleo familiar, o namora, não. No caso

dos autos, a prova produzida dá conta de que houve um

longo namoro entre os litigantes, não havendo entre eles a

intenção de constituírem um núcleo familiar. Apelo

improvido.119

Verifica-se não acórdão acima, que o namoro a

despeito de se constituir, modo igual, em uma relação pública, continua,

duradoura, diferencia-se da União Estável no tópico relativo à finalidade;

posto que a União Estável traz a idéia de constituição de família, já o

namoro não.

Ressalta-se, que alteração que o CC de 2002 trouxe,

no Livro referente ao Direito de Família, em relação ao Código Civil de

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1.916, a inserção da União Estável que incorporou parte dos preceitos

contidos nas Leis 8.971/94 e 9.278/96, que foram revogadas somente na

parte que contraria dispositivos deste do CC de 2002.

Por fim, o parágrafo 1º, do artigo 1.723, do CC de 2002

trata das hipóteses de não constituição da União Estável “se ocorrerem os

impedimentos do art. 1.521120; não se aplicando a incidência do inciso VI

no caso de pessoa casada se achar separada de fato ou judicialmente.”.

3.4 DOS EFEITOS JURÍDICOS DA DISSOLUÇÃO DA UNIÃO ESTÁVEL

São vários os fatores imputáveis aos companheiros que

extinguem a União Estável, como a morte, pela vontade das partes

(resilição unilateral – denúncia e resilição bilateral - distrato) e com a

resolução, ou seja, a não observância de um dos requisitos da união

estável, referentes aos deveres.

O artigo 7º, da Lei 9.278/96 versa que a União Estável

será dissolvida por rescisão; essa nomenclatura representa o caráter

contratual dado pelo legislador ordinário ao instituto. Contudo, se for feita

através de acordo entre os companheiros, este deverá dispor sobre os

alimentos devidos a quem os necessita. Havendo culpa de um dos

companheiros na dissolução da União Estável, deverá ser aplicada por

analogia o artigo 19, da Lei 6.515/77, que trata do Divórcio.

119 TJRS - 2ª Câmara Especial Cível – Apelação 70005730288 – Relatora Desembargadora Marta Borges Ortiz – Data do acórdão 19.09.2003. 120 Art. 1.521. Não podem casar: I – ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil; II – os afins em linha reta; III – o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem foi o adotante; IV – os irmãos unilaterais ou bilatérias, e demais colaterais, até p terceiro grau; V – o adotado como filho do adotante; VI – as pessoas casadas; VII – o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio contra seu consorte.

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Roberto Senise Lisboa121, com propriedade aborda

cada um dos fatores que levam a dissolução da União Estável:

a) com a morte de um dos conviventes, fator que não

pode ser imputado a qualquer um deles, a menos que

suceda o homicídio ou a instigação ou auxílio ao suicídio;

b) pela vontade de uma ou de ambas as partes, por meio

de resilição unilateral (denúncia) ou da resilição bilateral

(distrato);

c) pela resolução, ante a quebra de um dos requisitos da

união estável, referentes aos deveres dos conviventes.

Valter Kenji Ishida122, assim discorre sobre a dissolução

da União Estável:

A união estável pode-se dissolver por vontade das partes,

por meio de resilição unilateral ou distrato; com a morte de

um dos companheiros; pela resolução, tratando-se de

quebra de um dos requisitos como o adultério.

A dissolução da União Estável possibilita a partilha dos

bens havidos pelos companheiros.

Roberto Senise Lisboa123, enuncia que: “Os bens

imóveis e móveis obtidos, a título oneroso, por um dos conviventes,

durante a união estável, são frutos do trabalho e esforço comum,

justificando-se a constituição de um condomínio sobre esses bens.”.

Em se tratando da dissolução da União Estável, a

Súmula 380, do Supremo Tribunal Federal, apesar de editada há um bom

tempo, é possível a sua aplicação.

121 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 238. 122 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 221. 123 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 238.

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Segundo a matéria sumulada: “comprovada a

existência de sociedade de fato entre os concubinos, é cabível a sua

dissolução judicial, com a partilha do patrimônio adquirido pelo esforço

comum.”.

O esforço comum de que trata a Súmula 308, pode ser

pessoal, decorrente da atividade laboral dos companheiros, ou

econômico, originário da atividade de auxílio ao outro companheiro.

Entretanto, verifica-se que:

O atual sistema admite a aplicação da súmula transcrita

para a união estável, porém repudia o concubinato,

considerando-se união não eventual entre um homem e

uma mulher impedidos de se casar e que, destarte, não

teriam direitos patrimoniais sobre os bens reciprocamente

considerados.124

Referente aos alimentos, com a dissolução da União

Estável, os companheiros poderão obter o direito de alimentos, um do

outro.

A obrigação de alimentos entre os conviventes decorre

não da existência de culpa na dissolução da união estável,

mas do dever de assistência material, existente tanto no

decorrer da união estável como após o seu término.125

Porém, para o reconhecimento ao direito à

percepção de alimentos, necessário é a comprovação da União Estável,

o que se dá: se o período mínimo de duração da união tiver sido de dois

anos ou se da União Estável tiver havido prole.126

124 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 239. 125 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 239. 126 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 239.

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E, mais, as principais regras referentes aos alimentos

pelos companheiros são enumeradas por Roberto Senise Lisboa127,

vejamos:

a) os alimentos concedidos na constância da união

estável consubstanciam uma obrigação de fazer,

enquanto os alimentos pagos após a dissolução da

entidade familiar consubstanciam uma obrigação de dar;

b) a culpa não é pressuposto para a constituição da

obrigação alimentar em desfavor de um dos conviventes,

pois os alimentos se fundamentam no dever de assistência

decorrente da solidariedade entre os integrantes da

entidade familiar em referência;

c) somente pode requerer e receber alimentos

decorrentes da união estável o convivente cujo estado civil

é solteiro, separado judicialmente, divorciado ou viúvo;

d) o direito de alimentos do convivente cessa com a nova

união estável ou casamento civil;

e) a morte do convivente credor ou do convivente

devedor importa extinção da obrigação, pois ela é de

natureza personalíssima e, portanto intransmissível;

f) a concessão dos alimentos pode ocorrer por meio de

decisão judicial;

g) os alimentos pagos a título provisório ou provisional não

se sujeitam a repetição de indébito, no caso de

improcedência da demanda;

h) a reconciliação dos conviventes cessa a obrigação de

alimentos fixados a partir da união estável.

Em se tratando da guarda compartilhada dos filhos,

essa resta caracterizada pelo reconhecimento conjunto do filho mediante

o registro de nascimento, salvo se não houver estado de convivência.

127 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. pp. 240-241.

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Ocorrendo a dissolução da União Estável a guarda

poderá continuar sendo a compartilhada, “hipótese em que se

demonstrará mais favorável a adoção da modalidade da guarda

alternada.”.128

Caso a guarda do filho não seja concedida de forma

conjunta, o juiz determinará a guarda unilateral. Em favor da mãe,

quando a criança for de tenra idade; para o pai, para um vantajoso

desenvolvimento psíquico do menor e; em favor de algum parente,

quando for impossível conferir a guarda aos pais.

Também, concernente aos filhos, estes têm o direito

aos alimentos, independentemente do reconhecimento ou não da União

Estável, pois a relação entre o menor e o alimentante não é a mesma,

nem pode se confundir com a dos conviventes.129

E, em se tratando da partilha dos bens, deverá ser

observado o critério fixado pela lei para a dissolução da sociedade

conjugal submetida ao regime de comunhão parcial de bens; devendo

ser partilhados os bens que se sujeitam a comunicação dos aqüestos.

Roberto Senise Lisboa130, relaciona os bens que não se

comunicam na União Estável, vejamos:

a) os bens adquiridos por subcessão a título individual, por

meio de doação (...) ou de sucessão;

b) os bens adquiridos com valores próprios em sub-rogação

de bens particulares;

c) os bens excluídos da comunhão universal;

128 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 241. 129 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 242. 130 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. 3 ed. rev. atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 242.

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d) as dívidas em geral, bem como as provenientes de ato

ilícito;

e) as pensões, dotes e utensílios profissionais;

f) os bens cuja aquisição se deve a uma causa anterior ao

casamento;

g) os bens adquiridos em negócios condicionais cujo

implemento se verifique após o casamento;

h) os rendimentos de bens dos filhos precedentes ao

casamento.

Referente ao direito de sucessório, o artigo 1.790, do

CC de 2002, disciplina que:

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará

da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos

onerosamente na vigência da união estável, nas condições

seguintes:

I – se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota

equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II – se concorrer com descendentes só do autor da

herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um

daqueles;

III – se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá

direito a um terço da herança;

IV – não havendo parentes sucessíveis, terá direito a

totalidade da herança.

Ainda, finalizando este sub-capítulo, Omar Gama Ben

Kauss131, estabelece três modalidades de ressarcimento no caso de

dissolução da União Estável:

A primeira seria o velho reconhecimento da dissolução da

sociedade de fato (...), com o ressarcimento proporcional à

131 KAUSS, Omar Gama Ben. Manual de direito de família e das sucessões. 5 ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lúmen Júris, 2004. p. 98.

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colaboração na formação do patrimônio comum, hipótese

sem discrepância na jurisprudência; a segunda seria

partilha do patrimônio, independentemente da sua

colaboração para a formação, em favor da companheira

que se dedicou às lides domésticas na situação de quase-

mulher, hipótese com forte concorrente jurisprudencial que

tende a engrossar em face do dispositivo constitucional ; e

a terceira, a que reconhece o direito à indenização por

serviços domésticos prestados pela concubina, para evitar

o enriquecimento sem causa à custa do trabalho alheio,

ressarcimento em bases variáveis, atendidas inúmeras

condições, o que se vê na torrencial jurisprudência.

3.5 DA UNIÃO ESTÁVEL E DO CONCUBINATO IMPURO: DIFERENÇAS

Por fim, necessário se faz estabelecer a diferença

entre União Estável e concubinato impuro, uma vez que ambos por muitas

vezes se confundem.

Segundo Rodrigo da Cunha Pereira e Maria Berenice

Dias132:

A distinção entre concubinato e união estável faz-se

necessária para aplicar as medidas e conseqüências

jurídicas em cada um dos institutos. Os direitos e deveres de

uma união estável serão buscados no campo do Direito de

Família utilizado-se seus marcos teóricos.

A CRFB/88, em seu artigo 226, utiliza a expressão União

Estável, para substituir a expressão concubinato. “Começa-se, então, a

fazer distinções através das expressões ‘concubinato puro’ e ‘concubinato

impuro’.”.133

132 PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Maria Berenice. Direito de família e o novo código civil. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 265. 133 PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Maria Berenice. Direito de família e o novo código civil. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 263.

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Assim, com a evolução do pensamento construtorda

doutrina sobre o direito consuetudinário, podemos dizer

que o concubinato não-adulterino é a união estável e o

adulterino continua sendo o concubinato propriamente

dito.134

O artigo 1.727, do CC de 2002, estabeleceu a

diferença entre concubinato impuro e União Estável: “As relações não

eventuais entre o homem e a mulher, impedidos de casar, constituem

concubinato.”.

Para Rodrigo da Cunha Pereira135: “Este artigo mantém

a coerência com o princípio jurídico da monogamia ao fazer a distinção

entre o concubinato não adulterino (união estável) e concubinato

adulterino (concubinato propriamente dito).”.

Contudo, ressalta-se para a expressão impedidos de

casar que o artigo 1.727, do CC de 2002 utilizou, uma vez que os

separados judicialmente, por exemplo, são impedidos de casar, mas não

são impedidos de viver em União Estável; deveria o dispositivo de lei ter

sido mais claro quando usou a expressão impedidos de casar.

Propugna Carlos Roberto Gonçalves136 que a União

Estável “é a que e constitui pela convivência pública, contínua e

duradoura de um homem e uma mulher, estabelecida com objetivo de

constituição de família.”.

Prossegue o autor citado137:

A expressão “concubinato” é hoje utilizada para designar o

relacionamento amoroso envolvendo pessoas casadas,

134 PEREIRA, Rodrigo da Cunha; DIAS, Maria Berenice. Direito de família e o novo código civil. 3 ed. rev., atual. e ampl. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 2634. 135 PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Código civil anotado: legislação correlata em vigor. 2 ed. Porto Alegre: Síntese, 2003. p. 210. 136 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de família. V. 2. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 191.

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que infringem o dever de fidelidade (adulterino). Configura-

se quando ocorrem “relações não eventuais entre homem

e a mulher, impedidos de casar” (...). Denominado

“concubinato impuro”, não enseja a configuração de

união estável, pois o objetivo desta é a constituição de

família.

Valter Kenji Ishida138, apresenta a seguinte definição

para o concubinato puro e impuro:

Puro é aquele em que o homem e a mulher não estão

vinculados a matrimônio ou a outra relação concubinária.

Impuro é aquele em que existe essa vedação ou

impedimento, abrangendo o adultério, o incesto e a

existência de outra relação concubinária (concubinato

impuro desleal).

Roberto Senise Lisboa139 apresenta a seguinte

definição para concubinato impuro ou concubinato espúrio:

“Concubinato espúrio ou impuro é aquele efetivado entre pessoas de

sexo diferentes, de forma estável, porém com algum impedimento para a

realização do casamento civil.”.

Ainda, o concubinato impuro ou espúrio pode ser

classificado em: concubinato adulterino e concubinato incestuoso.

a) concubinato adulterino, ante a existência de

impedimento matrimonial de, ao menos, um dos

concubinos, que se encontra casado civilmente com outra

pessoa; e

137 GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito de família. V. 2. 11 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 191. 138 ISHIDA, Valter Kenji. Direito de família e sua interpretação doutrinária e jurisprudencial. São Paulo: Saraiva, 2003. p. 219. 139 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. V. 5. 3 ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 217.

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b) concubinato incestuoso, decorrente do parentesco

próximo entre os concubinos, que pudesse impedir o

casamento civil deles.140

Arnold Wald, com propriedade aborda o tema,

quando ressalta que o concubinato impuro tem seu amparo no direito

brasileiro, vejamos:

No entanto, tendo em vista eu a Lei Civil brasileira, antes

mesmo do advento do novo Código Civil, já amparava as

relações que, eivadas de vício, foram estabelecidas com a

boa-fé, o concubinato impuro não é totalmente relegado

ao abandono pelo direito nacional. De fato, se um dos

concubinos ignora o estado de casado do outro, não há

razão para não equiparar esta relação ao casamento

putativo, o qual, como cediço, socorre o cônjuge que

ignorar vício capaz de implicar nulidade ou anulação do

matrimônio, em nome da boa-fé.

Cabe ressaltar, que para alguns doutrinadores a União

Estável é uma espécie do gênero concubinato, tratando-se do

concubinato puro estável. Para outros, a expressão concubinato, de

acordo com o CC de 2002, reserva-se para a união de fato impura.

Então, nota-se que o concubinato impuro não é

equivalente à União Estável, posto que esta é exercida com a intenção de

formar família, fundamentando-se na possibilidade da facilitação de sua

conversão em casamento. Já, o concubinato é a relação não eventual

entre homem e mulher, impedidos de casar.

Desse modo, conclui-se a pesquisa observando que a

União Estável caracteriza-se pela união, mais ou menos prolongada, de

um homem e uma mulher, fora do matrimônio, com o objetivo de

constituir família, assistência mútua, filhos comuns e fidelidade recíproca.

140 LISBOA, Roberto Senise. Manual de direito civil: direito de família e das sucessões. V. 5. 3

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

No presente trabalho monográfico aprofundou-se os

conhecimentos acerca da Dissolução da União Estável e seus Efeitos.

Para tanto, iniciou-se a pesquisa com o estudo da

família e do Direito de Família e, como se viu, o Direito de Família e a

família possuem características como: o caráter biológico, o caráter

psicológico (elemento espiritual – sentimento familiar), o caráter

econômico (auxílio mútuo), o caráter religioso, o caráter político e o

caráter jurídico.

Verificou-se, ainda no primeiro capítulo, a importância

da família na sociedade, constatando-se que inúmeras são as influências

do ambiente social para a formação da personalidade humana; sendo a

Família a mais importante de todas.

Abordou-se, também, ainda que brevemente, os

princípios constitucionais da Família, quais sejam: princípio da dignidade

humana, princípio da solidariedade, princípio da busca da erradicação

da pobreza, princípio da igualdade entre o homem e a mulher na

constância do casamento, princípio do reconhecimento de outras

entidades familiares e princípio de isonomia de tratamento aos filhos.

Constatou-se que a CRFB/88, em seu artigo 226, admite

que a Família inicia-se com o casamento entre o homem e a mulher, seja

ele civil, seja ele religioso, com efeitos civis. No entanto, não pôde deixar

de observar os costumes da sociedade brasileira e, por isso, reconheceu a

União Estável.

ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 217.

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Constatou-se, também, que o Código Civil de 1916

mantinha disposições, em seu artigo 180 e seguintes, que iam de encontro

com as normas promulgadas na CRFB/88.

Entende-se que o Código Civil de 2.002 atentou ainda

para permitir à sociedade o início de uma Família observando-se os

valores morais, éticos e religiosos por ela seguidos, mas manteve o Estado

para proteger à Família.

No segundo capítulo analisou-se a evolução histórica

do instituto da União Estável, reconhecida pela primeira vez na

Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, passando a ter

proteção do Estado, deixando de ser apenas uma sociedade de fato,

tornando-se entidade familiar.

Viu-se que a Lei n. 8.971, de 29 de dezembro de 1994,

estabeleceu alguns requisitos da união estável, destacando-se que foi a

primeira a reconhecer o direito a alimentos e os direitos sucessórios dos

companheiros.

Verificou-se que a Lei 9.278, de 10 de maio de 1996

conceituou a União Estável como a convivência duradoura, pública e

contínua de um homem e uma mulher, com a finalidade de constituir

família, sem fixar um prazo para caracterizá-la, disposições que restaram

mantidas no artigo 1.723 do CC de 2002, diploma legal que pacificou,

ainda, a utilização da nomenclatura “companheiro” àquele que vive em

união estável.

Constataram-se ainda, neste capítulo, os requisitos

caracterizadores da União Estável, conforme prevêem os artigos 1.724 e

1.725 do CC de 2002, quais sejam, os deveres de lealdade, respeito,

assistência, guarda, sustento e educação dos filhos, bem assim, a

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prevalência do regime da comunhão parcial de bens, salvo se houver

contrato escrito entre os companheiros escolhendo regime diverso.

Finalmente, no terceiro capítulo, estudou-se

especificamente o contrato, os direitos e os deveres, o reconhecimento e

os efeitos da Dissolução da União Estável e, verificadas as diferenças de

tratamento concedidas ao cônjuge e ao companheiro sobreviventes,

passou-se à análise da diferença entre União Estável e Concubinato

Impuro.

Assim, quando pesquisado sobre o contrato da União

Estável, restou clara que a possibilidade de mudança de regime de bens

na União Estável é ampla, diferentemente do que ocorre no casamento.

Quanto aos direitos e deveres entre os companheiros,

o artigo 2º, da Lei 9.278/96 (Lei da União Estável), já os contemplava; assim,

o CC de 2002 os ratificou no artigo 1.724, determinado que as relações

pessoais entre os companheiros deverão obedecer o ali estatuído.

Referente a Dissolução da União Estável, o artigo 7º, da

Lei 9.278/96 versa que a União Estável será dissolvida por rescisão; porém,

se for feita através de acordo entre os companheiros, este deverá dispor

sobre os alimentos devidos a quem os necessita e; em havendo culpa de

um dos companheiros na dissolução da União Estável, deverá ser aplicada

por analogia o artigo 19, da Lei 6.515/77, que trata do divórcio.

Por fim, verificou-se que o Concubinato Impuro não é

equivalente à União Estável, posto que esta é exercida com a intenção de

formar família, fundamentando-se na possibilidade da facilitação de sua

conversão em casamento; já, o concubinato é a relação não eventual

entre homem e mulher, impedidos de casar.

Analisando-se o problema e as respectivas hipóteses

que deram ensejo a esta pesquisa, constatou-se conforme segue.

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Problema: Quais os efeitos que a dissolução da união

estável geram entre os contraentes e seus sucessores?

A Constituição da República Federativa do Brasil de

1988, em seu artigo 226, parágrafo 3º, reconheceu, para efeito de

proteção do Estado, a união estável entre homem e mulher como

entidade familiar.

As Leis 8.971/94 e 9.278/96 por tratar mais

especificamente sobre a união estável. A primeira trazia como requisitos

para a constituição da união estável: que fosse entre homem e mulher;

que os contraentes fossem solteiros, viúvos, ou separados de fato ou

judicialmente; e que a união perdurasse por mais de cinco anos, ou que

houvesse filho frutos da relacionamento. Já a outra lei apresentou uma

evolução ao trazer como requisitos: a durabilidade; continuidade; e

publicidade da união.

O CC de 2002 traz uma significativa mudança e, para

tanto, foi criado um capítulo e, separado dentro do Título do Direito de

Família, para tratar da União Estável. O legislador ordinário ofereceu

requisitos para estabelecer os limites que permitem atribuírem direitos e

deveres a esse tipo de união, bem como os efeitos da sua dissolução.

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