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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO Produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029- GLVIIA usando glicose como substrato e aplicações Jaciara Silva de Araújo Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto Natal/RN Fevereiro/2018

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Page 1: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO€¦ · espécies Candida tropicalis e Candida ... toluene, soybean oil, corn oil and motor oil. The last one presented the best response with emulsification

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA QUÍMICA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA QUÍMICA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029-

GLVIIA usando glicose como substrato e aplicações

Jaciara Silva de Araújo

Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos

Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

Natal/RN

Fevereiro/2018

Page 2: DISSERTAÇÃO DE MESTRADO€¦ · espécies Candida tropicalis e Candida ... toluene, soybean oil, corn oil and motor oil. The last one presented the best response with emulsification

Jaciara Silva de Araújo

Produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029-

GLVIIA usando glicose como substrato e aplicações

Natal/RN

Fevereiro/2018

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Engenharia Química

da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte, como parte dos requisitos

necessários para obtenção do grau de

Mestre em Engenharia Química sob a

orientação do Prof. Dr. Everaldo Silvino

dos Santos e coorientação do Prof. Dr.

Eduardo Lins de Barros Neto.

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Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Central Zila Mamede

Araújo, Jaciara Silva de.

Produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029-

GLVIIA usando glicose como substrato e aplicações / Jaciara Silva

de Araújo. - 2018. 93f.: il.

Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Tecnologia, Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Química, Natal, 2018. Orientador: Dr. Everaldo Silvino dos Santos.

Coorientador: Dr. Eduardo Lins de Barros Neto.

1. Biossurfactantes - Dissertação. 2. Ramnolipídeo -

Dissertação. 3. Biorremediação - Dissertação. 4. Atividade

antifúngica - Dissertação. I. Santos, Everaldo Silvino dos. II.

Barros Neto, Eduardo Lins de. III. Título.

RN/UF/BCZM CDU 661.185

Elaborado por Raimundo Muniz de Oliveira - CRB-15/429

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ARAÚJO, Jaciara Silva de – Produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa

AP029-GLVIIA usando glicose como substrato e aplicações. Programa de Pós-Graduação em

Engenharia Química. Área de Concentração: Engenharia Química, Linha de pesquisa:

Processos químicos, catalíticos e biotecnológicos, Natal/RN, Brasil.

Orientador: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos

Coorientador: Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto

RESUMO – Biossurfactantes são compostos anfifílicos de origem microbiana, os quais surgem

como alternativa ao uso dos surfactantes químicos devido ao fato destes serem sintetizados a

partir de derivados de petróleo, por conseguinte, bastante agressivos ao meio ambiente. Em

contrapartida, os surfactantes biológicos além de possuírem propriedades semelhantes às dos

surfactantes químicos, possuem também vantagens sobre eles: biodegradabilidade e

estabilidade em condições drásticas de pH, temperatura e salinidade. Diante disso, vários

estudos vêm se desenvolvendo a fim de tornar a produção dos biossurfactantes viável à sua

comercialização. Grande parte das pesquisas tem como objetivo avaliar a produção desses

compostos utilizando diferentes fontes renováveis e investigar suas propriedades surfactantes.

Os ramnolipídeos, biossurfactantes produzidos por bactérias e pertencentes ao grupo dos

glicolipídeos, são aplicados em diversas áreas industriais (petrolífera, agrícola, farmacêutica,

etc.) devido às suas várias propriedades: emulsificante, solubilizante, molhante, dentre outras.

Dessa forma, o presente trabalho tem como finalidade verificar a produção de ramnolipídeo por

Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA, variando-se a concentração de substrato: glicose

(10, 18 e 26 g/L) e a percentagem de inóculo (3, 10 e 17%) durante 72 horas de cultivo. Avaliou-

se durante esse tempo o crescimento celular (X), a concentração de glicose consumida (S), o

ramnolipídeo produzido (P), o pH do sistema e a produção de proteínas totais. Foram realizados

cinco ensaios dos quais a melhor condição avaliada (26 g/L de glicose e 3% de inóculo)

produziu 0,84 ± 0,06 g/L de ramnolipídeo em 24 horas, fator de conversão de biomassa em

produto (YP/X) de 0,260 g/g, fator de conversão de substrato em produto (YP/S) de 0,034 g/g e

produtividade em produto (PP) de 0,021 g/L∙h. Neste ensaio a biomassa alcançou o maior valor

dentre todos os cultivos realizados (2,5 ± 0,041 g/L), o pH variou entre 5,8 e 8 e o consumo de

substrato alcançou 82,45% ao fim do experimento. A partir do melhor resultado fez-se o estudo

do índice de emulsificação e da atividade emulsificante avaliando seis solventes: querosene,

hexadecano, tolueno, óleo de soja, de milho e de motor, dos quais o óleo de motor apresentou

as melhores respostas: índice de emulsificação de 77,55% nas primeiras 24 horas e elevada

estabilidade emulsificante, 2,23 U. Em seguida, a eficiência do biossurfactante na remoção de

petróleo presente em areia foi avaliada em 16,8% e a atividade antimicrobiana do ramnolipídeo

contra espécies fúngicas foi determinada, mostrando a sua capacidade em inibir fungos das

espécies Candida tropicalis e Candida albicans. Deste modo, os resultados obtidos comprovam

o potencial do ramnolipídeo produzido para aplicações biotecnológicas.

Palavras-chave: Biossurfactantes, ramnolipídeo, biorremediação, atividade antifúngica.

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ABSTRACT

Biosurfactants are amphiphilic compounds of microbial origin, which have aroused as an

alternative to the use of chemical surfactants, due to the fact that they are synthesized from

petroleum derivatives, therefore, very aggressive to the environment. In addition to, biological

surfactants have properties similar to the chemical surfactants and also have some advantages

over them such as biodegradability and stability in different pH, temperature and salinity

conditions. In face of this situation, several studies have been developed in order to make the

production of biosurfactants viable for commercialization. The most researches aim to analyze

the production of these compounds using different renewable sources and investigate their

surfactant properties. The rhamnolipids, which are biosurfactants produced by bacteria and

belonging to the group of glycolipids, are applied in several industrial areas due to its various

properties as emulsifying, solubilizing, wetting, so on. Thus, this work aims to verify the

production of rhamnolipid by Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA, changing the

following parameters: the concentration of glucose (10, 18 and 26 g / L) and the inoculum

percentage (3, 10 and 17%) for 72 hours. Along with time the cell growth (X), the glucose

concentration consumed (S), the produced rhamnolipid (P), the pH of the system and the

production of total proteins were assessed. Five trials were performed and the best condition

(26 g / L glucose and 3 ml inoculum) produced 0.838 ± 0.064 g/ L ramnolipid in 24 hours,

biomass conversion factor in product (YP/X) of 0.260 g/g, substrate conversion factor in product

(YP/S) of 0.034 g/g and product productivity (PP) of 0.021 g/L∙h. At this assay, the biomass

reached the highest value among all cultures (2.5 ± 0.041 g/L), pH ranged from 5.8 to 8 and

substrate consumption reached 82.45% at the end of the experiment. From the best outcome,

there were studied the emulsification index and the emulsifying activity with six different

solvents: kerosene, hexadecane, toluene, soybean oil, corn oil and motor oil. The last one

presented the best response with emulsification index of 77.55% in the first 24 hours and high

emulsifying stability, 2.23 U. Then, the efficiency of the biosurfactant in the removal of oil

present in sand was evaluated in 16.8% and the antimicrobial activity of the ramnolipid against

fungal species were determined. Therefore, this outcome shows out the ability of the ramnolipid

to inhibit fungi of the species Candida tropicalis and Candida albicans. At last, the obtained

results prove the potential of the rhamnolipid produced for biotechnological applications.

Keywords: Biosurfactants, rhamnolipid, bioremediation, antifungal activity.

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela força e discernimento concedidos durante toda a vida.

À Mainha, Maria Sebastiana, por ser responsável por todas as minhas vitórias e que

mesmo sem ter tido a possibilidade de ir à escola percebeu que o estudo seria uma forma de

resistirmos.

Às minhas irmãs pelo apoio e por se sentirem felizes a cada conquista alcançada durante

minha caminhada.

Ao meu companheiro, Maxwell Paulino, pela compreensão, amor, paciência e incentivo

oferecidos diariamente.

Aos meus amigos do eterno CEFET: Elder, Isabela, Hallana, Phelipe, Rayane e Vanessa

por todos os anos de amizade e por fazerem parte de cada momento especial.

À família LEB (Ana Carmen, Ana Laura, Carlos, Cleitiane, Davi, Emy, Juliene, Luan,

Marcos, Millena, Naldo, Patrícia, Sérgio e Vitor) que tornaram os longos dias de experimentos

mais alegres e proveitosos.

Aos Cooks (Fernando, Lucas, Paulo, Tatiara, Thiago, Virgínia e Vitor) pelos momentos

de divertimento e muita dança.

Ao meu orientador, Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos, pela dedicação em orientar

cada um dos seus inúmeros alunos e pela disposição e comprometimento durante a realização

deste estudo.

Ao meu coorientador, Prof. Dr. Eduardo Lins de Barros Neto, pelos anos de orientação,

antes no TCC e agora no mestrado.

Ao Prof. Dr. Francisco Canindé de Sousa Junior por ser uma pessoa tão acolhedora e

sempre disponível.

À Profª. Drª. Nathalia Kelly de Araújo por ter se mostrado bastante solícita em uma das

etapas da pesquisa.

Aos técnicos de Laboratório Gilmar e em especial à Waleska, por se mostrar sempre

disponível a ajudar durante o desenvolvimento do trabalho.

Aos membros da banca: Prof. Dr. Everaldo Silvino dos Santos, Prof. Dr. Eduardo Lins

de Barros Neto, Profª. Drª. Andréa Farias de Almeida e Prof. Dr. Leandro de Santis Ferreira por

colaborar com este estudo.

Aos servidores do PPGEQ, Mazinha e Medeiros, pela solicitude prestada.

À CAPES, pela bolsa concedida, a qual permitiu o desenvolvimento do projeto.

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A todos que de alguma forma contribuíram para conclusão de mais uma etapa da minha

vida.

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SUMÁRIO

1. Introdução ........................................................................................................................... 14

2. Objetivos .............................................................................................................................. 18

2.1 Objetivo geral ..................................................................................................................... 18

2.2 Objetivos específicos .......................................................................................................... 18

3. Revisão Bibliográfica .......................................................................................................... 20

3.1 Surfactantes ........................................................................................................................ 20

3.2 Biossurfactantes .................................................................................................................. 23

3.2.1 Principais classes e microrganismos produtores ......................................................... 25

3.2.2 Funções fisiológicas .................................................................................................... 27

3.2.3 Aplicações dos biossurfactantes .................................................................................. 29

3.2.3.1 Indústria de petróleo .............................................................................................. 29

3.2.3.2 Indústria de alimentos ........................................................................................... 30

3.2.3.3 Indústria de cosméticos ......................................................................................... 30

3.3 Produção de Ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa .............................................. 31

3.4 Atividade antimicrobiana dos ramnolipídeos ..................................................................... 34

3.5 Aplicação de ramnolipídeos na remoção de petróleo de áreas contaminadas .................... 35

4. Metodologia Experimental................................................................................................. 38

4.1 Microrganismo ................................................................................................................... 39

4.2 Preparo do inóculo .............................................................................................................. 39

4.3 Cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLIIA sob diferentes condições................. 39

4.3.1 Determinação da concentração de células (X) ............................................................ 41

4.3.2 Determinação da concentração de glicose (S) ............................................................. 42

4.3.3 Recuperação e quantificação do ramnolipídeo ............................................................ 42

4.3.3.1 Centrifugação ........................................................................................................ 43

4.3.3.2 Precipitação ácida .................................................................................................. 43

4.3.3.3 Extração com solvente .......................................................................................... 43

4.3.3.4 Quantificação do ramnolipídeo ............................................................................. 44

4.3.4 Quantificação de proteínas totais ................................................................................. 44

4.4 Parâmetros cinéticos ........................................................................................................... 45

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4.5 Determinação do pH ........................................................................................................... 47

4.6 Determinação do índice de emulsificação (E) .................................................................... 47

4.7 Atividade emulsificante ...................................................................................................... 48

4.8 Determinação da concentração micelar crítica (c.m.c)....................................................... 48

4.9 Avaliação da atividade antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não purificado ....... 48

4.10 Teste de remoção de petróleo de areia contaminada ........................................................ 49

5. Resultados e Discussão ....................................................................................................... 51

5.1 Cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA sob diferentes condições............... 51

5.2 Índice de emulsificação ...................................................................................................... 66

5.3 Atividade emulsificante ...................................................................................................... 68

5.4 Determinação da concentração micelar crítica (c.m.c.)...................................................... 70

5.5 Avaliação da atividade antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não purificado ....... 71

5.6 Teste de remoção de petróleo de areia contaminada .......................................................... 73

6. Conclusões ........................................................................................................................... 76

7. Referências Bibliográficas ................................................................................................. 78

ANEXO I ................................................................................................................................. 90

ANEXO II ................................................................................................................................ 90

ANEXO III .............................................................................................................................. 91

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LISTA DE FIGURAS

Figura 3.1 – Representação esquemática de uma molécula surfactante. ................................. 20

Figura 3.2 – Mercado global de surfactantes por subsegmentos. ............................................ 21

Figura 3.3 – Tensão superficial, tensão interfacial e solubilidade em função da concentração

de surfactante. ........................................................................................................................... 22

Figura 3.4 – Formação de micela esférica. .............................................................................. 23

Figura 3.5 – Estrutura química dos glicolipídeos. ................................................................... 26

Figura 3.6 – Estrutura da principal isoforma da surfactina. .................................................... 27

Figura 3.7 – Representação esquemática do éster glicerofosfolipídeo.................................... 27

Figura 3.8 – α-L-ramnopiranosil-α-L-ramnopiranosil-β-hidroxidecanoil-β-hidroxidecanoato

(Rha-Rha-C10-C10, di-ramnolipídeo). ....................................................................................... 32

Figura 3.9 – Estrutura de quatro ramnolipídeos diferentes produzidos por Pseudomonas

aeruginosa. ............................................................................................................................... 33

Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia experimental. ......................................................... 38

Figura 4.2 – Ilustração das etapas de cada ensaio para a produção de ramnolipídeos. ........... 41

Figura 4.3 – Recuperação do ramnolipídeo. ............................................................................ 43

Figura 5.1 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 1 (10 g/L e 3%). ......................................................... 51

Figura 5.2 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 1 (10 g/L e 3%). .................................... 53

Figura 5.3 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 2 (18 g/L e 3%). ......................................................... 54

Figura 5.4 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 1 (18 g/L e 3%). .................................... 55

Figura 5.5 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 3 (26 g/L e 3%). ......................................................... 56

Figura 5.6 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 3 (26 g/L e 3%). .................................... 57

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Figura 5.7 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 4 (18 g/L e 10%). ....................................................... 58

Figura 5.8 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 4 (18 g/L e 10%). .................................. 59

Figura 5.9 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 5 (18 g/L e 17%). ....................................................... 59

Figura 5.10 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 5 (18 g/L e 17%). .................................. 60

Figura 5.11 – Índice de emulsificação (E) determinado em diferentes instantes: 1, 15, 30, 45,

60, 75 e 90 dias para hidrocarbonetos (A) e óleos (B). Letras ou conjunto de letras iguais não

apresentaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05). ............................................ 66

Figura 5.12 – Capacidade de emulsificação do sobrenadante I de maior concentração de

ramnolipídeo obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose e 3% de inóculo) utilizando seis solventes

orgânicos: querosene (Q), tolueno (T), hexadecano (H), óleo de soja (OS), óleo de motor (OMo)

e óleo de milho (OMi) após 24 horas de emulsificação. ............................................................ 68

5.3 Atividade emulsificante ...................................................................................................... 68

Figura 5.13 – Determinação da atividade emulsificante durante 60 minutos a partir do

sobrenadante I de maior concentração de ramnolipídeo, obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose

e 3% de inóculo). O gráfico A se refere aos hidrocarbonetos e o B aos óleos. Letras ou conjunto

de letras iguais não apresentaram diferença estatisticamente significante (p < 0,05). As amostras

do gráfico B não apresentaram diferença estatisticamente significativa. ................................. 69

Figura 5.14 – Avaliação da atividade antimicrobiana do biossurfactante purificado incubado

com concentrações de 7,425 a 0,46 µg/mL, durante 24 horas, com os fungos Candida tropicalis

(A) e a Candida albicans (B). Ctl corresponde ao controle de atividade antimicrobiana,

fluconazol. *** p < 0,001 e ** p < 0,01 comparado com o grupo controle (Ctl); ### p <0,001 e

##p < 0,05 comparado com o biossurfactante na concentração de 0,93 µg/mL. As amostras do

gráfico (B) não apresentaram diferença estatisticamente significativa. ................................... 72

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LISTA DE TABELAS

Tabela 3.1 – Classes de biossurfactantes e microrganismos produtores. ................................ 25

Tabela 3.2 – Companhias globais produtoras de biossurfactantes e suas aplicações. ............. 31

Tabela 4.1 – Variáveis analisadas no estudo cinético.............................................................. 40

Tabela 5.1 – Parâmetros cinéticos dos ensaios de produção de ramnolipídeos....................... 61

Tabela 5.2 – Concentração de proteínas totais para os ensaios realizados. ............................. 65

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

BE: Bioemulsificante

BS: Biossurfactante

BSA: Albumina sérica bovina

CIM: Concentração inibitória mínima

c.m.c.: Concentração micelar crítica

DNS: Ácido 3,5-dinitrosalicílico

E: Índice de emulsificação

MEOR: Microbial Enhanced Oil Recovery

OMW: Oil mill olive, resíduo gerado na extração de óleo de oliva

PCA: Plate Count Agar

Pmáx: Concentração máxima de ramnolipídeo

PP: Produtividade em produto

PX: Produtividade em biomassa

RL: Ramnolipídeo

S: Concentração de substrato

S0: Concentração inicial da glicose

SC: Porcentagem de substrato consumido ao fim das 72 horas

TPmáx: Tempo em que ocorreu a concentração máxima de surfactina

TXmáx: Tempo em que ocorreu a concentração máxima de biomassa

UFC: Unidade formadora de colônia

X: Concentração de biomassa

Xmáx: Concentração máxima de biomassa

YP/S: Conversão de substrato em produto

YP/X: Conversão de células em produto

YX/S: Conversão de substrato em células

μmáx: Velocidade específica máxima de crescimento celular

μp: Velocidade específica de formação do produto

μs: Velocidade específica de consumo do substrato

μx: Velocidade específica de crescimento celular

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Capítulo 1

Introdução

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Capítulo 1. Introdução 14

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

1. Introdução

A necessidade crescente em substituir compostos derivados do petróleo por aqueles

menos agressivos ao meio ambiente é a força motriz para muitos estudos acerca de compostos

biológicos. Os surfactantes são exemplos de moléculas oriundas de derivados do petróleo,

enquanto os biossurfactantes são subprodutos metabólicos de bactérias, fungos filamentosos e

leveduras (ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013).

Os surfactantes são moléculas anfipáticas com capacidade de reduzirem a tensão

superficial e interfacial entre líquidos, sólidos e gases. Esses compostos são identificados pela

presença de duas porções em sua estrutura, uma hidrofóbica e outra hidrofílica, responsáveis

pelas propriedades únicas dos surfactantes: detergência, atividade emulsificante, lubrificação,

capacidade espumante, capacidade molhante, além de solubilização e dispersão de compostos

hidrofóbicos em fases aquosas (LUNA et al., 2016; NITSCHKE; PASTORE, 2002; SOUZA et

al., 2018a).

No Brasil, 61% dos surfactantes são utilizados pelos setores de produtos de limpeza

doméstica, 22% na indústria e comércio e cerca de 13% em cosméticos e produtos de higiene

pessoal, valores relativos ao volume de vendas. Estima-se que o crescimento desses três

segmentos para os anos de 2017, 2018 e 2021 são de 9; 2,3 e 9% ao ano, respectivamente.

Dados considerados em nível nacional (BAIN & COMPANY, 2014).

Embora os surfactantes químicos possuam inúmeras aplicações, sua utilização pode

causar diversos impactos ambientais. Por esse motivo, nos últimos anos têm-se intensificado a

busca por surfactantes biológicos, os quais possuem propriedades ecologicamente interessantes,

como baixa toxicidade, elevada seletividade e biodegradabilidade, baixos valores de

concentração micelar crítica (c.m.c) e estabilidade em condições extremas de temperatura, pH

e salinidade. Além disso, esses produtos possuem uma vasta variedade de estruturas e podem

ser produzidos por inúmeros microrganismos utilizando matérias-primas renováveis e de baixo

custo. Suas aplicações são amplas assim como as dos surfactantes químicos e incluem

agricultura, biorremediação e indústrias: farmacêutica, petroquímica, cosmética e alimentícia.

(ABDEL-MAWGOUD; LÉPINE; DÉZIEL, 2010; ALMEIDA et al., 2016; GUDIÑA et al.,

2015a).

Uma das classes de biossurfactantes é representada pelos ramnolipídeos (RL),

surfactante aniônico produzido em sua grande maioria por Pseudomonas aeruginosa (PENG et

al., 2012).

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Capítulo 1. Introdução 15

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

Na indústria petroquímica, os biossurfactantes são usados nas principais etapas de

produção de óleo: extração, transporte e armazenamento. Por outro lado, a biorremediação

surge como uma das principais aplicações ambientais, tendo em vista que refinarias de petróleo,

bem como outros processos industriais em larga escala, são potenciais fontes de poluição. No

Brasil, entre os anos de 1975 e 2001, contabilizaram-se 33 acidentes com derramamento de

petróleo e seus derivados, contaminando solos, rios e mares (RUFINO et al., 2016; SILVA et

al., 2014). A biodegradação, processo no qual microrganismos são usados para degradar a

matéria contaminada transformando-a em compostos de baixo peso molecular e baixa

perniciosidade, é uma das melhores soluções para a poluição ambiental causada principalmente

por hidrocarbonetos de petróleo (OLUWASEUN et al., 2017). Ramnolipídeos exibem

excelentes propriedades emulsificantes, assim como capacidade de remover petróleo bruto de

solo contaminado e auxiliar na biorremediação de áreas afetadas com derramamento de óleo

(RANDHAWA; RAHMAN, 2014).

Biossurfactantes também apresentam ação antibacteriana, antifúngica e propriedades

antivirais e antiadesivas contra microrganismos patogênicos. Dentre esses surfactantes, o

ramnolipídeo e a surfactina já foram relatados como agentes antimicrobianos (ARAUJO;

FREIRE; NITSCHKE, 2013; DAS; YANG; MA, 2014). Já foram observadas atividades

antimicrobianas por alguns ramnolipídeos contra bactérias Gram-positivas (Staphylococcus

aureus, Bacillus subtilis, Clostridium perfringens), Gram-negativas (Salmonella Typhimurium,

Escherichia coli, Enterobacter aerogenes) e fungos (Phytophthora infestans, Phytophthora

capsici, dentre outros), sendo muitos desses microrganismos causadores de doenças em seres

humanos, animais e plantas (MAGALHÃES; NITSCHKE, 2013; SEMEDO-LEMSADDEK et

al., 2018).

Diante do que foi detalhado ao longo deste capítulo, é possível perceber importância

dos surfactantes biológicos, e por isso prevê-se um faturamento de cerca de US$ 2,7 bilhões e

um volume de comercialização de aproximadamente 524 mil toneladas desse produto em 2023.

Sendo a Ecover (Bélgica), Urumqi Unite (China), BASF-Cognis (Alemanha), Saraya (Japão) e

MG Intobio (Coreia do Sul) empresas líderes na produção desses compostos (FELIPE; DIAS,

2017).

Assim, de acordo com o exposto anteriormente e em consonância com a linha de

pesquisa de produção e aplicação de biossurfactantes, desenvolvida pelo Grupo de Engenharia

de Bioprocessos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte desde 2002, pretende-se

estudar a produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA usando

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Capítulo 1. Introdução 16

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como fonte de carbono a glicose, a fim de avaliar as melhores condições de cultivo e investigar

algumas aplicações desse produto, como a capacidade de biorremediação de solos

contaminados com petróleo e analisar a sua atividade antimicrobiana. Trabalhos anteriores

realizados no Laboratório de Engenharia Bioquímica (LEB) da UFRN produziram

ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa usando glicose, melaço e manipueira como

substrato, além da síntese de surfactinas por Bacillus subtilis e melaço.

A estrutura da pesquisa desenvolvida foi dividida em sete capítulos. No primeiro é

apresentada a Introdução, no segundo os Objetivos propostos, em seguida, na Revisão

Bibliográfica, detalham-se as características e propriedades dos surfactantes e biossurfactantes,

focando principalmente nos produzidos por Pseudomonas aeruginosa. No capítulo 4 é descrita

a Metodologia Experimental utilizada durante a investigação, seguido do capítulo 5, onde são

detalhados os Resultados e Discussão. O capítulo 6 aborda as Conclusões alcançadas e por

fim, no capítulo 7, são mostradas as Referências Bibliográficas usadas ao longo do texto.

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Capítulo 2

Objetivos

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Capítulo 2. Objetivos 18

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2. Objetivos

2.1 Objetivo geral

Avaliar a produção de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA

usando glicose como substrato e aplicações.

2.2 Objetivos específicos

Produzir ramnolipídeos a partir da cepa bacteriana Pseudomonas aeruginosa

AP029-GLVIIA.

Determinar as melhores condições de concentração de substrato (10, 18 ou 26

g/L) e percentagem de inóculo (3, 10 ou 17%) para o crescimento de P. aeruginosa e

produção de ramnolipídeos.

Estimar os parâmetros cinéticos de crescimento celular e produção do

biossurfactante (PX, PP μs, μx, μp, μmáx, YX/S, YP/S, YP/X).

Determinar a concentração micelar crítica (c.m.c) do biossurfactante produzido.

Avaliar o índice de emulsificação e atividade emulsificante em diferentes

solventes orgânicos.

Analisar a eficiência de remoção de petróleo presente na areia usando o

biossurfactante produzido.

Investigar a ação antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não purificado

em fungos das espécies Candida tropicalis e Candida Albicans.

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Capítulo 3

Revisão Bibliográfica

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 20

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3. Revisão Bibliográfica

No presente capítulo é abordada a revisão da literatura tendo como enfoque os assuntos

pertinentes à produção do ramnolipídeo e suas potenciais aplicações biotecnológicas.

3.1 Surfactantes

Surfactante é uma abreviação para o termo agente com superfície ativa, em outras

palavras, um surfactante é caracterizado pela sua tendência de adsorver na superfície e interface.

O termo interface denota a fronteira entre duas fases imiscíveis; já o termo superfície indica

que uma das fases é um gás, geralmente o ar (HOLMBERG et al., 2002).

Estruturalmente, o surfactante é uma molécula com uma porção hidrofílica e outra

hidrofóbica (conforme ilustrado na Figura 3.1) distribuído na interface entre duas fases fluidas

com diferentes polaridades e ligações de hidrogênio, tais como óleo/água ou ar/água

(VARJANI; UPASANI, 2017). A parte apolar tem origem em uma cadeia carbônica (linear,

ramificada ou com partes cíclicas), a qual possui baixa solubilidade em água. Por outro lado, a

região polar pode ser formada por carboidratos, aminoácidos, peptídeos cíclicos, fosfato, ácido

carboxílicos ou álcoois (DALTIN, 2011; SILVA et al., 2017).

Figura 3.1 – Representação esquemática de uma molécula surfactante.

Fonte: Araújo (2004).

De acordo com a presença ou ausência de cargas, o surfactante pode ser classificado em

anfótero, aniônico, catiônico ou não-iônico. Os anfóteros são aqueles que possuem dois ou mais

grupos funcionais e, dependendo das condições do meio, podem ser ionizados em solução

aquosa dando as características de surfactante aniônico ou catiônico. Os aniônicos

correspondem aos que em solução aquosa se ionizam produzindo íons orgânicos negativos, os

quais são responsáveis pela atividade superficial. Enquanto os surfactantes catiônicos possuem

como parte hidrofílica da cadeia um radical com carga positiva, ou seja, a parte que interage

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 21

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com a água possui caráter positivo, ao contrário dos aniônicos. Por fim, os não-iônicos são os

que não produzem íons em solução aquosa. A solubilidade em água desses compostos é devida

à presença de grupos funcionais que têm uma forte afinidade com a água (AMARAL;

JAIGOBIND; JAISINGH, 2007).

A Figura 3.2 apresenta a contribuição que cada um desses tipos de surfactante representa

no mercado global desde 2012 até 2020. Os principais contribuintes a esse crescimento são

China, África e América Latina. No Brasil, estima-se que seu volume de vendas alcance 2,1

bilhões de dólares em 2018 (BAIN & COMPANY, 2014).

Figura 3.2 – Mercado global de surfactantes por subsegmentos.

Fonte: Bain & Company (2014).

De acordo com o exposto na Figura 3.2 os surfactantes anfóteros e catiônicos são os que

exibem maior crescimento no período previsto. Enquanto os demais decrescem ou permanecem

praticamente constantes.

Além das diferentes características estruturais dos surfactantes há também propriedades

que os tornam singulares, como sua capacidade em reduzir a tensão superficial e interfacial, as

quais lhes conferem excelentes características de detergência, emulsificação, formação de

espuma e dispersão, tornando-os um dos produtos mais versáteis nos processos químicos (DAS;

MUKHERJEE, 2007).

A tensão superficial pode ser explicada pela capacidade que os líquidos têm em adotar

uma forma que minimize sua área de superfície, numa tentativa de manter as moléculas com

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 22

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

um maior número possível de vizinhos semelhantes. As forças coesivas entre as moléculas no

interior de um líquido são compartilhadas com os átomos vizinhos. Aquelas da superfície não

têm átomos vizinhos acima delas, e exibem uma força atrativa mais forte sobre suas vizinhas

mais próximas na superfície. Este aumento das forças atrativas intermoleculares na superfície

é chamado de tensão superficial (PIRÔLLO, 2006).

Devido à presença de um surfactante, é necessário menos trabalho para trazer uma

molécula para a superfície e a tensão superficial é reduzida. Por exemplo, um bom agente

surfactante pode baixar a tensão superficial da água de 72 para 35 mN/m e a tensão interfacial

(tensão entre líquidos não polares e polares) entre a água e o n-hexadecano de 40 para 1 mN/m.

A Figura 3.3 mostra como é possível determinar a c.m.c. a partir de algumas propriedades

físicas em função da concentração do surfactante (MULLIGAN, 2005).

Figura 3.3 – Tensão superficial, tensão interfacial e solubilidade em função da concentração

de surfactante.

Fonte: Mulligan (2005) adaptada pela autora.

A análise da Figura 3.3 nos permite perceber que a partir da concentração micelar crítica

as tensões superficial e interfacial alcançam seus menores valores e se mantêm praticamente

constantes com o aumento da concentração do surfactante. Em contrapartida, a solubilidade do

composto aumenta de forma linear. A c.m.c. corresponde a concentração mínima necessária

para que se inicie a formação de micelas (estrutura mostrada na Figura 3.4), agregado

responsável pela melhor miscibilidade dos componentes de uma mistura. As moléculas

c.m.c.

Monômero Micela

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 23

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surfactantes organizadas em micelas na solução são mais estáveis do que aquelas livres, porém

menos estáveis se comparadas com as moléculas presentes na superfície (DALTIN, 2011). A

c.m.c. é a característica mais importante de um surfactante, levando em consideração seu uso

prático. Além disso, seu valor depende da estrutura química, temperatura, pH e força iônica

(HOLMBERG et al., 2002).

Figura 3.4 – Formação de micela esférica.

Fonte: Daltin (2011).

3.2 Biossurfactantes

Os biossurfactantes foram descobertos como compostos anfifílicos extracelulares na

fermentação de hidrocarbonetos, no final dos anos 1960. Os surfactantes microbianos ou

biossurfactantes são semelhantes aos surfactantes químicos e incluem diferentes grupos de

partículas de superfície ativa produzidas por microrganismos, incluindo bactérias, fungos e

leveduras que estão presentes na natureza. Essas moléculas compreendem lipopeptídeos e

lipoproteínas, ácidos graxos, glicolipídeos e fosfolipídios (KHAN et al., 2017).

Nos últimos 10 anos, os biossurfactantes receberam bastante atenção devido às suas

excelentes propriedades: redução da tensão superficial da água a 27 mN/m, redução da tensão

interfacial nos sistemas de água/hidrocarbonetos, baixa toxicidade, alta biodegradabilidade e

estabilidade em condições extremas de temperatura, pH e salinidade. Devido a isso, os

biossurfactantes podem substituir os surfactantes químicos em aplicações ambientais e em

diferentes indústrias, como petróleo, alimentícia, química, cosmética e

farmacêutica (FRANÇA et al., 2015; SOUZA et al., 2018a).

A maioria dos biossurfactantes conhecidos é produzida em meios contendo

substratos imiscíveis em água, tais como óleo, gorduras ou hidrocarbonetos sólidos, embora

muitos sejam obtidos em substratos solúveis. O tipo de matéria-prima e a disponibilidade

do substrato para produzi-los contribuem consideravelmente para o custo de produção, o que

corresponde de 10 a 30% do custo total. Por outro lado, anualmente, milhões de toneladas de

resíduos são descartados ou poluem acidentalmente o meio ambiente em todo o mundo. Logo,

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 24

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como uma forma de reduzir os custos de produção e diminuir a quantidade de resíduos

desperdiçados, muitos estudos utilizam substratos como, casca de batata, manipueira, palha de

trigo e arroz, casca de soja e milho, melaço de cana-de-açúcar e beterraba e bagaço de cana de

açúcar. Esse reaproveitamento se torna ainda mais interessantes pelo fato dos processos de

tratamento para reduzir ou eliminar esses contaminantes representam um alto custo para os

governos e indústrias locais (BANAT et al., 2014; GUDIÑA et al., 2015b; SANTOS et al.,

2017).

As diversas formas estruturais dos biossurfactantes ocorrem devido às diferentes fontes

de carbono e microrganismos usados durante o cultivo. Alguns exemplos de surfactantes

microbianos são os ramnolipídeos, produzidos por Pseudomonas aeruginosa; surfactinas,

sintetizadas por Bacillus subtilis; emulsões de Acinetobacter calcoaceticus e soforolipídeos de

Candida bombicola (NITSCHKE; COSTA, 2007).

Mesmo possuindo uma ampla variedade de compostos, a produção de biossurfactante

em escala industrial ainda encontra limitações devido a sua baixa produtividade e recuperação,

bem como os altos preços dos meios de cultura usados em sua síntese. A recuperação e/ou

purificação, downstream processing, custa entre 60 e 80% da produção total, o que explica os

elevados valores dos produtos comercializáveis baseados em biossurfactante (BS) e

bioemulsificante (BE) (BANAT et al., 2014; SOUZA et al., 2018a).

Geralmente a purificação e a precipitação de biossurfactantes de elevada massa

molecular é realizada usando-se sulfato de amônio, seguido por diálise para remoção de

pequenas moléculas. Outros métodos também envolvem a utilização de ácido tricloroacético

(TCA), precipitação com acetona, etanol e clorofórmio/metanol, além de precipitação ácida.

Demais métodos convencionais conhecidos para recuperação de BS/BE são: adsorção-

dessorção, cromatografia de troca iônica, centrifugação, cristalização, filtração e precipitação,

fracionamento de espuma, focalização isoelétrica, extração utilizando solvente, ultrafiltração,

diálise e liofilização (SATPUTE et al., 2010).

Vale salientar que o bioemulsificante possui massa molecular mais elevada se

comparado ao biossurfactante, uma vez que são misturas complexas de heteropolissacarídeos,

lipopolissacarídeos, lipoproteínas e proteínas. São também conhecidos como biopolímeros de

elevada massa molecular ou exopolissacarídeos. Similares aos biossurfactantes, os

bioemulsificantes podem emulsificar eficientemente dois líquidos imiscíveis, contudo são

menos eficazes na redução da tensão superficial (UZOIGWE et al., 2015).

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 25

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3.2.1 Principais classes e microrganismos produtores

Os biossurfactantes são classificados de acordo com os seguintes grupos principais:

glicolipídeos (ramnolipídeos, soforolipídeos, trealolipídeos), lipopeptídeos (surfactinas,

lichenisinas, iturinas, fengicinas), fosfolipídeos e ácidos graxos e (GEETHA; BANAT; JOSHI,

2018). A Tabela 3.1 apresenta os tipos de biossurfactantes e os microrganismos que os

originam.

Tabela 3.1 – Classes de biossurfactantes e microrganismos produtores.

Biossurfactante Classe Microrganismo

Glicolipídeos

Ramnolipídeos Pseudomonas aeruginosa

Serratia rubidea

Soforolipídeos

Candida lipolytica

Torulopsis bombicola

Candida bombicola

Candida tropicalis

Trealolipídeos Rhodococcus erythropolis

Lipopeptídeos

Surfactina

Bacillus subtilis K1

Bacillus siamensis

Iturina

Bacillus subtilis K1

Bacillus amylofaciens

Fengicina Bacillus subtilis

Ácidos graxos Ácidos graxos

Corynebacterium lepus

Arthrobacter parafineus

Nocardia erythropolis

Penicillium spiculisporum

Talaromyces trachyspermus

Fosfolipídio Fosfolipídio Thiobacillus thiooxidans

Fonte: Van Hamme; Singh; Ward (2006); Uzoigwe et al. (2015).

A Tabela 3.1 apresentada anteriormente ilustra de forma resumida alguns dos principais

biossurfactantes. A seguir será detalhada cada uma das categorias abordadas.

Os glicolipídeos (Figura 3.5) pertencem à classe de biossurfactante mais estudada, sua

estrutura é formada por um mono ou dissacarídeo ligado a um ácido alifático de cadeia longa

ou hidroxialifático (REIS et al., 2013). Os glicolipídeos mais eficazes do ponto de vista das

propriedades surfactantes são os trealolipídeos de Mycobacterium e bactérias relacionadas, os

ramnolipídeos de Pseudomonas sp. e os soforolipídeos de leveduras. O lipídeo de

manosileritritol (MEL), um biossurfactante de glicolipídeo de levedura, é abundantemente

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 26

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produzido a partir de óleos vegetais por cepas de Candida e tem numerosas aplicações que

variam de propriedades antimicrobianas a imunológicas e neurológicas (CAMEOTRA;

MAKKAR, 2004).

Figura 3.5 – Estrutura química dos glicolipídeos.

Fonte: Felipe; Dias (2017).

Outra classe de biossurfactante bastante investigada é a dos lipopeptídeos (Figura 3.6),

compostos produzidos por B. subtilis e classificados em três famílias de acordo com a sequência

de aminoácidos que compõem a parte peptídica, tipo e grau de ramificação do ácido graxo.

Desta forma, tem-se a família iturina, representada por iturina A, micosubtilina e bacilomicina.

A família das fengicinas, que incluem as plipastatinas A e B, compostos de grande espectro de

ação antifúngica e antibiótica. Por fim, a família da surfactina, a mais estudada dentre os

lipopeptídeos, destacando-se através da sua poderosa ação surfactante (SOUSA, 2012).

Dentre os ácidos graxos, os principais são os ácidos ustilágico, os ácidos

corinomicólicos e os ácidos lipoteicóico (COLLA; COSTA, 2003).

Ramnolipídeo

Trealolipídeo

Soforolipídeo

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 27

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Figura 3.6 – Estrutura da principal isoforma da surfactina.

Fonte: Barros et al. (2007)

Por fim, têm-se os fosfolipídeos (Figura 3.7), os quais possuem a característica de

excelente biocompatibilidade e anfifilicidade especial. Essas propriedades únicas tornam os

fosfolipídeos mais apropriados a serem utilizados como excipientes farmacêuticos e têm uma

gama muito ampla de aplicações nos sistemas de administração de fármacos. Esses compostos

são constituídos por moléculas nas quais o grupo hidrofílico e as cadeias hidrofóbicas estão

ligadas ao álcool. A variação nos grupos, cadeias alifáticas e álcoois leva à existência de uma

grande variedade de fosfolipídeos. Vários deles, tais como a fosfatidilcolina da soja, do ovo, ou

sintética, bem como a hidrogenada, são comumente utilizados em diferentes tipos de

formulações (LI et al., 2015).

Figura 3.7 – Representação esquemática do éster glicerofosfolipídeo.

Fonte: Li et al. (2015).

3.2.2 Funções fisiológicas

O biossurfactante influencia o comportamento fisiológico microbiano nas áreas tais

como: mobilidade e comunicação da célula (quorum sensing), assimilação de nutriente,

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 28

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competição célula-célula e patogêneses de plantas e animais (OLIVEIRA, 2010). Abaixo estão

listadas algumas das principais funções fisiológicas dos biossurfactantes.

Transporte de hidrocarbonetos: função atribuída aos biossurfactantes ligados à parede

celular de Candida tropicalis, onde um aumento significativo da porção lipídica do

polissacarídeo de membrana foi detectado quando o microrganismo crescia em alcanos,

indicando que o complexo polissacarídeo-ácido-graxo presente na superfície celular estaria

envolvido no transporte de hidrocarbonetos (NITSCHKE; PASTORE, 2002);

Mobilidade: é um processo fisiológico essencial aos microrganismos que procuram novos

ambientes para colonizar e continuar seu crescimento e reprodução. Os mecanismos

complexos de detecção e sinalização que permitem que os microrganismos se movam em

resposta a estímulos externos (ex.: luz, pH, potencial redox, nutrientes, substratos tóxicos)

e internos (ex.: níveis de energia, força motriz do próton). Uma vez que um sinal é recebido

e decifrado, o movimento pode ocorrer através de processos mecânicos, tais como a rotação

flagelar ou mobilidade de deslizamento que se baseia no movimento de fricção de proteínas

de membrana contra uma superfície para impulsionar o organismo para a frente (VAN

HAMME; SINGH; WARD, 2006);

Emulsificação: uma emulsão convencional, conhecida como emulsão ou macro emulsão,

tem tipicamente partículas com raios médios entre 100 nm e 100 μm. Este tipo de dispersão

coloidal é termodinamicamente instável, isto é, a energia livre das fases de óleo e água

separadas é inferior à da própria emulsão (elevada tensão interfacial) (MCCLEMENTS;

RAO, 2011). Porém, as etapas de emulsificação contribuem significativamente para a

obtenção de sistemas de composição bem definidos e com distribuição de tamanho de

partículas mais homogênea e com maior estabilidade cinética (PEREIRA; GARCIA-

ROJAS, 2015).

Quorum sensing: é o termo usado para descrever o processo de comunicação intra e

interespécies microbianas que permite que estas tenham a capacidade de se comportar como

organismos complexos, que se comunicam e agem coordenadamente, respondendo a

diferentes estímulos de modo unificado, sendo tal processo mediado pela densidade

populacional (ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013)

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 29

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3.2.3 Aplicações dos biossurfactantes

Os biossurfactantes são aplicados em diferentes campos, como no setor da saúde,

alimentos, papel, celulose, processamento de carvão, têxtil, mineral e biorremediação. Eles são

utilizados a fim de diminuir as tensões superficiais, aumentar a solubilidade, o poder de

detergência, a capacidade de molhar e a capacidade de formação de espuma (GEETHA;

BANAT; JOSHI, 2018; MULLIGAN, 2005). Neste tópico serão destacadas algumas dessas

aplicações.

3.2.3.1 Indústria de petróleo

Os biossurfactantes possuem muitas aplicações biotecnológicas na indústria do petróleo.

Todas as operações, incluindo exploração e produção do óleo, refinamento, transporte,

manipulação de produtos e gerenciamento de resíduos de petróleo podem ser melhorados,

otimizados e administrados pelo uso de um determinado biossurfactante (ALMEIDA et al.,

2016).

Uma das aplicações mais estudadas a recuperação avançada do petróleo a qual explora

atividades microbianas e metabólitos. MEOR (Microbial Enhanced Oil Recovery) consiste na

recuperação terciária de óleo em que microrganismos ou seus produtos metabólicos são usados

para recuperar óleo residual. Essa técnica vem ganhando notoriedade devido as diversas

vantagens que possui (PERFUMO; RANCICH; BANAT, 2010), tais como:

Produtos naturais são geralmente inofensivos e menos prejudiciais para o ambiente;

Processos microbianos não requerem grande consumo térmico de energia;

Os custos dos produtos microbianos não são afetados pelo preço do petróleo bruto e podem

ser matérias-primas baratas ou mesmo resíduos;

Os produtos/atividades dos microrganismos podem ser estimulados potencialmente in situ

no reservatório, permitindo tratamentos feitos sob medida além de uma boa razão custo-

benefício.

No âmbito ambiental os riscos envolvendo derramamentos de óleo em associação com

metais pesados aumentaram, mas poucas tecnologias são capazes de lidar com os efeitos de

ambos os contaminantes simultaneamente. Uma alternativa é utilizar biossurfactantes com

capacidade de remover contaminantes orgânicos e metálicos, além de apresentarem

comportamento semelhante para aumentar a solubilidade na água, o que facilita a sua remoção

por biodegradação ou lavagem. O uso de biossurfactantes na biorremediação é uma opção que

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 30

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oferece a possibilidade de destruir ou tornar inofensivo vários contaminantes usando a atividade

biológica natural (FRANÇA et al., 2015; VIDALI, 2001).

3.2.3.2 Indústria de alimentos

Nas indústrias de processamento de alimentos alguns microrganismos causam danos aos

produtos, interferindo na qualidade de estocagem e provocando a deterioração do alimento, o

que coloca em risco a segurança alimentar devido à transmissão de doenças a partir desse

alimento, principalmente se essa contaminação ocorrer após uma etapa de

pasteurização/esterilização do produto. Desse modo, é necessário que haja um bom controle de

qualidade que elimine ou diminua bastante esses riscos e uma forma é utilizar biossurfactantes

capazes de inibir a formação de biofilmes microbianos (ANJUM et al., 2016; ARAUJO;

FREIRE; NITSCHKE, 2013).

3.2.3.3 Indústria de cosméticos

Vários cremes cosméticos são formulados com óleos essenciais de plantas devido suas

propriedades oclusivas, emolientes e hidratantes na pele. A maioria dessas substâncias à base

de óleo requer a presença de um agente estabilizante como emulsionantes e/ou surfactantes a

fim de se obter boas emulsões. Biossurfactante obtido de Lactobacillus paracasei foi usado

como agente estabilizador de emulsões formuladas com componentes à base de óleos essenciais

e/ou extrato de antioxidantes naturais (FERREIRA et al., 2017). Além disso, alguns

ramnolipídeos também são eficazes para vários tratamentos da pele (RANDHAWA;

RAHMAN, 2014). A Tabela 3.2 apresenta algumas companhias responsáveis pela produção de

biossurfactantes que são usados em diferentes ramos industriais ao redor do mundo.

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 31

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Tabela 3.2 – Companhias globais produtoras de biossurfactantes e suas aplicações.

Companhias Localização Produto (s) Aplicação

TeeGene Biotech Reino Unido Ramnolipídeos e

lipopeptídeos Farmacêutica e cosméticos

AGAE Technologies LLC EUA Ramnolipídeos

Farmacêutica, recuperação

terciária de óleo (EOR) e

biorremediação

Jeneil Biosurfactant Co. LLC EUA Ramnolipídeos Produtos de limpeza e EOR

Paradigm Biomedical Inc. EUA Ramnolipídeos Farmacêutica

Rhamnolipid Companies, Inc. EUA Ramnolipídeos

Agricultura, biorremediação,

cosméticos, EOR, produtos

alimentícios e farmacêuticos

Fraunhofer IGB Alemanha Glicolipídeos e MELs

Produtos de limpeza, géis de

banho, shampoos, e produtos

farmacêuticos

Saraya Co. Ltd. Japão Soforolipídeos Produtos de limpeza e higiene

Ecover Belgium Bélgica Soforolipídeos Biorremediação, produtos de

limpeza e controle de pragas

Groupe Soliance França Soforolipídeos Cosméticos

MG Intobio Co. Ltd. Coréia do Sul Soforolipídeos Suprimentos de banho, beleza

e cuidados pessoais

Henkel Alemanha Soforolipídeos e

ramnolipídeos

Produtos de limpeza de vidro,

lavandaria e produtos de

beleza

Lion Corporation Japão Éster metílico

sulfonado

Formulação de detergentes e

produtos de limpeza

Fonte: Randhawa; Rahman (2014).

3.3 Produção de Ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa

Pseudomonas aeruginosa foi isolada pela primeira vez em 1882 por Gessard, que a

chamou de Bacillus pyocyaneus, sendo uma de suas características a produção de um pigmento

denominado piocianina. É um bacilo Gram-negativo, aeróbio facultativo, com mínimas

exigências nutricionais, tolera grandes variações de temperatura, vive no ambiente (solo,

plantas, frutas e vegetais) e tem predileção por umidade (FERRAREZE et al., 2007).

Dentre as várias categorias de biossurfactantes estão os glicolipídeos, dos quais

destacam-se os ramnolipídeos. Uma molécula de ramnolipídeo é composta por duas

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 32

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partes, uma hidrofílica (constituída por uma ou duas moléculas de ramnose) e outra lipofílica

(formada por cadeias de ácidos graxos saturados ou insaturados). Existem vários tipos desse

biossurfactante, sendo sua diversidade estrutural determinada pela presença

do número de ramnoses e/ou ácidos graxos (GOGOI et al., 2016).

Os ramnolipídeos mostram o maior número de publicações e patentes entre os

biossurfactantes glicolipídicos. Eles são conhecidos desde 1949 (Figura 3.8) e muitas pesquisas

têm sido realizadas neste campo. Esse biossurfactante é biodegradável, apresenta baixa

toxicidade aquática e pode ser produzido a partir de recursos renováveis. No entanto, em

particular, o seu benefício adicional de atividade antibacteriana e antifúngica os tornam

interessantes para o mercado (MÜLLER et al., 2012).

Figura 3.8 – α-L-ramnopiranosil-α-L-ramnopiranosil-β-hidroxidecanoil-β-hidroxidecanoato

(Rha-Rha-C10-C10, di-ramnolipídeo).

Fonte: Abdel-Mawgoud; Lépine; Déziel (2010).

Os ramnolipídeos são predominantemente produzidos por Pseudomonas aeruginosa e

classificados como mono e di-ramnolipídeos (Figura 3.9). Outras espécies de Pseudomonas

que foram relatadas como produtoras de ramnolipídeos são P. chlororaphis, P. plantarii, P.

putida e P. fluorescens. Algumas dessas bactérias são conhecidas por produzir apenas mono-

ramnolípídeos, enquanto outras produzem ambos. A proporção entre mono e di-ramnolipídeo

pode ser controlada no método de produção, além disso, existem enzimas disponíveis que

podem converter mono-ramnolípídeo em di-ramnolipídeo (RANDHAWA; RAHMAN, 2014).

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 33

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Figura 3.9 – Estrutura de quatro ramnolipídeos diferentes produzidos por Pseudomonas

aeruginosa.

Fonte: Mulligan (2005).

Inúmeros estudos avaliam a produção de biossurfactantes por Pseudomonas aeruginosa

e diferentes fontes de carbono, a fim de conseguir um produto com potencial para produção

industrial e um custo acessível, ademais são investigadas propriedades que tornem seu uso

atrativo.

Ramnolipídeos produzidos por Pseudomonas aeruginosa em processos de fermentação

descontínuos e semicontínuos têm demonstrado alta produtividade, tornando este método viável

para a produção de L-ramnose em escala comercial, tendo em vista que esse produto tem

aplicação industrial como matéria-prima na produção de alguns compostos orgânicos

(BARROS et al., 2007).

Benincasa et al. (2002) investigaram a produção de ramnolipídeos a partir da cepa

Pseudomonas aeruginosa LBI isolada do solo contaminado com petróleo, usando como

substrato resíduo do processamento de óleo de girassol. Durante o estudo foi observado um

aumento na produção de biossurfactante após esgotada a fonte de nitrogênio e ao aumentar o

fornecimento de oxigênio. Esses autores obtiveram um valor de produtividade em produto (PP)

de 0,2 g/L⋅h com uma concentração final de 15,9 g/L.

Kronemberger (2007) estudou a produção de ramnolipídeos por Pseudomonas

aeruginosas PA1 em biorreator. O experimento alcançou valores de PP de 44,3 mg/L⋅h,

concentração de biossurfactante de 16,9 g/L e YP/S de 0,34. Foi avaliada a taxa específica de

consumo de oxigênio desse microrganismo e notou-se que sua variação ao longo do tempo teve

seu valor elevado durante a fase exponencial do crescimento celular, atingindo até 85,0

miligramas de oxigênio por grama de célula por hora.

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 34

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Mais recentemente, Ramírez et al. (2015) produziram ramnolipídeos com Pseudomonas

aeruginosa e OMW (oil mill olive, resíduo gerado na extração de óleo de oliva). A partir disso

puderam comprovar que seria possível obter um produto de elevado valor agregado e

reaproveitar o resíduo gerado industrialmente.

No ano seguinte, Varjani; Upasani (2016) investigaram a produção de biossurfactante a

partir de Pseudomonas aeruginosa NCIM 5514 em diferentes fontes de carbono (óleo bruto,

nonano, decano, dodecano, N-parafinas, querosene, diesel, xileno, glicose e glicerol). O estudo

mostrou que à temperatura de 37ºC, velocidade de rotação de 180 rpm, percentagem de inóculo

de 1% (v/v) e tempo de cultivo de 96 horas o substrato que gerou melhores resultados foi a

glicose, a qual alcançou concentração de biomassa de 3,88 g/L e rendimento de biossurfactante

de 2,95 g/L.

3.4 Atividade antimicrobiana dos ramnolipídeos

O processamento inadequado e a contaminação microbiana diminuem a vida útil de

prateleira dos alimentos e potencializam o risco de doenças alimentares. Uma opção para

diminuir essa ameaça é utilizar agentes antimicrobianos, os quais podem ser implementados

por imersão, pulverização e escovação da superfície dos alimentos a fim de evitar o crescimento

microbiano. Contudo, a aplicação desses métodos é difícil e precisa de altas concentrações de

agentes antimicrobianos incorporados em gêneros alimentícios (BAYAZIDI; ALMASI; ASL,

2018).

Por outro lado, a atividade antimicrobiana também pode ser explorada por meio do uso

de biossurfactantes. Os ramnolipídeos apresentam atividade antimicrobiana contra bactérias

Gram-positivas e Gram-negativas, fungos e também afetam a estrutura do biofilme formado

por Pseudomonas aeruginosa. A combinação de nisina com ramnolipídeos foi capaz de

aumentar a vida de prateleira e inibir esporos termofílicos em leite de soja UHT. O uso de

natamicina associada a ramnolipídeos em molhos para saladas foi capaz de aumentar a vida de

prateleira e inibir crescimento de leveduras. A associação de natamicina, nisina e ramnolipídeos

também prolongou a vida de prateleira e inibiu crescimento de bactérias e leveduras em queijo

cottage (ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013; DAS; YANG; MA, 2014).

A preocupação com contaminações por microrganismos não atinge apenas a indústria

de alimentos. Outros ambientes bastante suscetíveis à proliferação microbiana são os hospitais,

onde os microrganismos causam diversos problemas em pacientes internados (SAMADI et al.,

2012).

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 35

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Devido à elevada resistência das bactérias contra grande parte dos antibióticos presentes

no mercado, faz-se necessário o desenvolvimento de técnicas que inibam essa resistência. O

quorum sensing (QS), sistema de comunicação entre as células, participa na formação de

biofilmes microbianos, uma das causas da resistência aos antibióticos e, possivelmente, das

infecções crônicas. A inibição das moléculas QS requer o rastreio específico de várias

moléculas com diferentes naturezas químicas. Recentemente alguns estudos demonstraram

propriedades anti-QS de substâncias medicinais naturais à base de plantas (BOUYAHYA et al.,

2017).

Levando em consideração a problemática apresentada, Oluwaseun et al. (2017)

produziram ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa C1501 usando glicose e glicerol como

fontes de carbono. Eles testaram a capacidade do biossurfactante em atuar como agente

antimicrobiano contra diferentes bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e fungos. Os

valores obtidos mostraram que o surfactante biológico apresentou resultados de menor

concentração inibitória mínima (CIM) se comparado ao surfactante químico Tween 20.

3.5 Aplicação de ramnolipídeos na remoção de petróleo de áreas

contaminadas

A contaminação do solo por hidrocarbonetos de petróleo (diesel, gasolina e óleos

combustíveis) é algo bastante crítico em termos de saúde e meio ambiente. No solo, esses

compostos orgânicos quase não se degradam, causando danos ao bem-estar humano,

degradando o meio ambiente e potencializando ameaças à fauna e à flora. Diferentes métodos

químicos, físicos e biológicos são utilizados para tratar esses contaminantes nocivos. Dentre

eles o tratamento biológico, devido à sua abordagem natural, ganhou maior notoriedade nas

últimas décadas. Esse tratamento é integrado a processos físico-químicos para biorremediação

de regiões contaminadas (KHAN et al., 2017).

A investigação acerca dos biossurfactantes é bastante abrangente no que diz respeito às

várias condições nas quais essas substâncias podem atuar. A partir do estudo de emulsificação

realizado por Pirôllo (2006), foi possível comprovar a capacidade do ramnolipídeo, produzido

por Pseudomonas aeruginosa LBI e diferentes substratos hidrofóbicos, em emulsificar

diferentes hidrocarbonetos. De acordo com a autora, a cepa bacteriana utilizada na pesquisa e

o biossurfactante produzido possuem potencial para aplicação em biorremediação de áreas

impactadas com hidrocarbonetos e possivelmente na recuperação terciária de petróleo.

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Capítulo 3. Revisão Bibliográfica 36

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Costa et al. (2010) avaliaram a síntese de ramnolipídeos por Pseudomonas aeruginosa

L2-1 e manipueira, resíduo agroindustrial gerado a partir da produção de farinha de mandioca.

Eles constataram que o biossurfactante apresentou uma mistura de mono e di-ramnolipídeo,

com maior percentagem do último. Obtiveram valores de c.m.c., tensão superficial e interfacial

bastante satisfatórias e analisaram também a ação antimicrobiana e capacidade do ramnolipídeo

em biorremediar amostras de areia contaminadas com petróleo.

Silva et al. (2010) estudaram a produção de ramnolipídeos utilizando como substrato o

glicerol, coproduto na produção de biodiesel. Segundo eles o uso de glicerol é uma alternativa

promissora e barata para a produção de biossurfactantes devido à crescente demanda de

biodiesel no mundo. Os ramnolipídeos produzidos por Pseudomonas aeruginosa UCP0992

mostraram atividades emulsificantes elevadas para diferentes óleos, capacidade de remover

contaminantes hidrofóbicos, além de não apresentarem toxicidade.

Em contrapartida, Rufino et al. (2016) produziram biossurfactantes a partir de

Pseudomonas aeruginosa UCP0992 e meio contendo resíduos de óleo de castanha e milhocina.

A partir do estudo pôde-se confirmar o potencial do biossurfactante em ser usado em aplicações

ambientais devido a sua estabilidade em diversas faixas de salinidade (1, 3 e 5% de NaCl), pH

(5, 7 e 9) e temperatura (40 e 50ºC).

Diante do que foi detalhado neste tópico, pode-se perceber o potencial de os

biossurfactantes ramnolipídeos serem aplicados no tratamento de áreas contaminadas com

petróleo. Outro fator importante está relacionado à produção desses compostos por fontes

alternativas e de baixo custo (resíduos agroindustriais).

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Capítulo 4

Metodologia Experimental

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 38

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4. Metodologia Experimental

Neste capítulo, são apresentados o microrganismo, o preparo do inóculo e o meio de

cultivo necessários à produção do biossurfactante. Aborda-se também o planejamento

desenvolvido no estudo, variando-se a concentração da fonte de carbono (10, 18 ou 26 g/L) e a

percentagem de inóculo (3, 10 ou 27%) a fim de avaliar a produção de ramnolipídeos em cada

situação. Além disso, são mostradas as análises de concentração de biomassa, concentração de

substrato, recuperação e quantificação do biossurfactante, quantificação de proteínas totais e os

parâmetros cinéticos e emulsificantes. Por fim, apresentam-se as aplicações abordada.

O fluxograma da Figura 4.1 resume as etapas detalhadas na metodologia.

Figura 4.1 – Fluxograma da metodologia experimental.

Fonte: A autora.

Sobrenadante I

Biomassa (X)

Acidificação

Precipitado

Extração

Centrifugação

Centrifugação

Quantificação

Microrganismo

Inóculo (24 h)

Cultivo (até 72 h)

Caldo Bruto

Medição do pH

Aplicações:

Remoção de petróleo

Atividade antimicrobiana

Substrato (S)

Recuperação do

ramnolipídeo

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 39

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4.1 Microrganismo

O ramnolipídeo estudado neste trabalho foi produzido pela cepa Pseudomonas

aeruginosa AP029-GLVIIA, isolada de um poço de petróleo de Canto do Amaro (Mossoró/RN)

e depositada na coleção de culturas do Departamento de Antibióticos da Universidade Federal

de Pernambuco.

A cepa, originalmente conservada em glicerol 20%, foi reativada em caldo nutriente

composto por Peptona (5,0 g/L), Extrato de Levedura (3,0 g/L) e NaCl (5 g/L), além disso fez-

se a correção do pH para 7,0, adicionando-se NaOH (PENG et al., 2012). Previamente, o

recipiente contendo o caldo foi esterilizado em autoclave a 121ºC durante 15 minutos. Em

seguida foi feita a transferência de 500 µL da solução estoque contendo Pseudomonas

aeruginosa para o meio e por fim colocou-se os Erlenmeyers em incubador rotativo (TE-421,

TECNAL) a 150 rpm e 30°C por 24 h. Posteriormente, uma alíquota do microrganismo foi

transferida para o meio sólido de PCA (ágar para contagem de placa).

Depois de 24 h incubadas em estufa, à temperatura ambiente 25 ± 2ºC, as placas de

Petri foram armazenadas em geladeira a temperatura de 5ºC, conforme descrito por Oliveira

(2010). A renovação das células foi realizada a cada três meses a fim de mantê-las ativas.

4.2 Preparo do inóculo

A obtenção do inóculo foi realizada em Erlenmeyers de 250 mL com volumes de meio

de 100 mL, de modo a manter uma boa razão de aeração para o crescimento microbiano. O

meio do inóculo possui a mesma composição do caldo nutriente preparado para reativar o

microrganismo (Seção 4.1). Os Erlenmeyers foram esterilizados em autoclave a 121°C durante

15 minutos e, após resfriados à temperatura ambiente, foram levados à câmara de fluxo laminar

para que fosse possível realizar a transferência das células presentes nas placas para os frascos

contendo o meio. Para cada Erlenmeyer, a transferência das células foi feita com auxílio da alça

de platina, repetindo-se três vezes. Os frascos foram colocados em incubador rotativo a 38 °C

por 24 horas, sob agitação de 200 rpm.

4.3 Cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA sob diferentes

condições

No cultivo foram utilizados Erlenmeyers de 250 mL, com o volume final de meio de

100 mL (volume de inóculo + volume de meio de cultivo), de acordo com a matriz dos ensaios

(Tabela 4.1). Esse meio era composto por Glicose (10, 18 ou 26 g/L), Sulfato de Magnésio

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 40

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heptahidratado (1,0 g/L), Fosfato de Sódio dibásico heptahidratado (1,1 g/L), Fosfato de

Potássio monobásico (1,5 g/L), Nitrato de Sódio (2,0 g/L) e Sulfato de Ferro II heptahidratado

(0,1 g/L). O pH do meio foi ajustado para 6,5 com NaOH e, em seguida, os frascos foram

esterilizados a 121°C por 15 minutos. Depois, os Erlenmeyers foram inoculados na câmara de

fluxo laminar (percentagem descrita na Tabela 4.1) e, posteriormente, colocados no incubador

rotativo a 200 rpm e 38 °C (PENG et al., 2012). A escolha da concentração de glicose (18 g/L)

e percentagem de inóculo (3% v/v) foi baseada no estudo de Araújo (2016), o qual avaliou a

produção de ramnolipídeos utilizando a mesma cepa e mesma fonte de carbono investigados

neste trabalho, valores destacados na Tabela 4.1. Primeiro, fixou-se a percentagem de inóculo

em 3% variando-se a concentração de glicose em 10, 18 e 26 g/L e logo após foi fixada a

concentração de 18 g/L variando-se a percentagem em 10 e 17%. Cada ensaio foi feito em

duplicata.

Tabela 4.1 – Variáveis analisadas durante os cultivos realizados.

Ensaio Concentração de

glicose (g/L)

Percentagem de

inóculo (%)

Percentagem de

meio de cultivo (%)

1 10 3 97

2 18 3 97

3 26 3 97

4 18 10 90

5 18 17 83

Fonte: A autora.

No estudo de Araújo (2016) o ramnolipídeo foi produzido no tempo de 48 horas apenas,

porém para avaliar melhor como se comportaria os parâmetros cinéticos no presente trabalho,

fez-se o acompanhamento do cultivo durante 72 horas. Nas primeiras 12 horas analisou-se um

ponto a cada duas horas e, após, a cada 12 horas até completar 72, totalizando 12 pontos em

cada ensaio. A cada ponto retirado mediu-se o pH do caldo e, em seguida, o corrigiu para 8, o

que facilitava a centrifugação na etapa posterior. O sobrenadante I (Figura 4.1) obtido dessa

operação foi utilizado para determinar a concentração de glicose (S), de ramnolipídeo, de

proteínas totais presentes no meio e os parâmetros de emulsificação (atividade e índice de

emulsificação), além de ser usado nos testes de biorremediação e atividade antimicrobiana.

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 41

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A Figura 4.2 mostra o esquema de cada ensaio realizado.

Figura 4.2 – Ilustração das etapas de cada ensaio para a produção de ramnolipídeos.

Fonte: A autora.

4.3.1 Determinação da concentração de células (X)

O método utilizado para quantificar a concentração celular (X) foi o de massa seca que

consiste em separar as células do meio, secá-las e quantificar sua massa (BEZERRA, 2006;

LOBATO, 2003). As amostras retiradas do incubador rotativo foram colocadas na centrífuga

5415 D (Eppendorf, Alemanha) a 13.000 rpm por 15 minutos, mas antes os microtubos vazios

foram previamente colocados em estufa a 70 °C por 24 horas até obter peso constante.

Após a centrifugação, o sobrenadante foi recolhido para análises posteriores e aos tubos

com a massa úmida foram adicionados 2,0 mL de água destilada para a lavagem e retirada de

outros componentes solúveis ainda presentes. Ao fim da segunda lavagem, as amostras foram

colocadas na estufa a 70 °C por 24 horas. Transcorrido esse tempo os microtubos foram

colocados em dessecador por cinco minutos e depois pesados. Cada ponto foi realizado em

triplicata e o valor médio obtido considerado para os cálculos. A quantidade de biomassa (g/L),

mseca, é expressa de acordo com a Equação (1):

𝑚𝑠𝑒𝑐𝑎 =𝑇1−𝑇2

2𝑥 1000 (1)

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 42

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Sendo:

T1: massa do microtubo com biomassa.

T2: massa do microtubo vazio.

4.3.2 Determinação da concentração de glicose (S)

Na determinação da concentração de glicose (S), foi utilizado o método do DNS

(MILLER, 1959), o qual se baseia na redução do ácido 3,5 dinitro-salicílico a ácido 3- amino-

5- nitrossalicílico, ao mesmo tempo em que o grupo aldeído do açúcar é oxidado a grupo

carboxílico com o desenvolvimento de coloração avermelhada.

Para realizar a análise, adicionou-se 0,5 mL do reagente DNS a 0,5 mL do sobrenadante

obtido da centrifugação descrita no tópico 4.3.1. Após isso, os tubos foram agitados em vórtex

e levados ao banho-maria em água fervente (100ºC). Após resfriadas, 4,0 mL de água destilada

foram adicionados às amostras, seguida de homogeneização em agitador do tipo vórtex. As

amostras tiveram suas absorbâncias medidas utilizando o espectrofotômetro Genesys 10 UV

(Thermo Scientific, EUA) no comprimento de onda 540 nm contra o branco preparado com 0,5

mL de água destilada em vez do sobrenadante do cultivo. As análises foram realizadas em

triplicata.

A determinação da concentração de substrato foi obtida a partir da equação gerada pela

curva de calibração (Anexo I), a qual relaciona a concentração de glicose em função da

absorbância. Como a curva possuía concentração máxima de 1 g/L as amostras foram diluídas

50 vezes de modo a se chegar a valores de absorbância compatíveis com o espectrofotômetro.

Por isso, os valores obtidos foram multiplicados pelo fator de diluição, neste caso 50.

4.3.3 Recuperação e quantificação do ramnolipídeo

A Figura 4.3 apresenta o esquema de recuperação do ramnolipídeo descrito do tópico

4.3.3.1 ao 4.3.3.3

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 43

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Figura 4.3 – Recuperação do ramnolipídeo.

Fonte: A autora.

4.3.3.1 Centrifugação

A cada ponto retirado corrigiu-se o pH para 8 (Figura 4.2), fez-se a distribuição do caldo

bruto para microtubos do tipo Eppendorf para determinação da concentração celular (X) (tópico

4.3.1), sendo o remanescente colocado em tubos do tipo Falcon de 50 mL e levado à centrífuga

5804 R (EPPENDORF, USA) a 3500 rpm (1370 x g) por 10 minutos, para remoção da biomassa

(PENG et al., 2012). O sobrenadante I obtido dos tubos de 50 mL foi então armazenado para

purificação do ramnolipídeo.

4.3.3.2 Precipitação ácida

Na precipitação, o sobrenadante I, livre de células, foi acidificado a pH 2,0 utilizando

HCl 6,0 M e armazenado a temperatura de 4-8ºC por aproximadamente 12 h (overnight). Após

esse período, centrifugou-se a amostra a 3500 rpm (1370 x g) por 10 minutos (PENG et al.,

2012). O sobrenadante II da última centrifugação foi descartado e o precipitado ressuspenso

com 5,0 mL de água destilada.

4.3.3.3 Extração com solvente

A extração do ramnolipídeo foi realizada através da adição de éter de petróleo ao tubo

contendo o precipitado após ressuspensão em água destilada (5 mL), conforme descrito na

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 44

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Seção 4.3.3.2. O éter foi adicionado na proporção 1:1 (v/v). Esse procedimento foi repetido três

vezes para garantir a máxima extração do ramnolipídeo. A cada repetição, a emulsão formada

pelo éter de petróleo e o ramnolipídeo foi retirada e estocada em tubos com auxílio de

micropipeta, para posterior concentração do biossurfactante (OLIVEIRA, 2010).

A fase orgânica recolhida anteriormente foi levada ao evaporador rotativo V-850 (Büchi

Switzerland, Suíça) para ser concentrada a uma temperatura de 40ºC e velocidade de rotação de

20 rpm (ROCHA, 2017). O concentrado obtido foi ressuspendido com 10 mL de água destilada

e guardado, sob refrigeração, para posterior quantificação.

4.3.3.4 Quantificação do ramnolipídeo

Após a etapa de extração, o biossurfactante produzido foi quantificado através do

método colorimétrico tioglicólico, que consiste na reação da molécula de ramnose com um

composto químico de cor. De acordo com o método, adiciona-se 4,5 mL de ácido sulfúrico

diluído (6:1) a 1,0 mL de amostra contendo o ramnolipídeo. Após agitação em vórtex, os tubos

de ensaio contendo a mistura foram aquecidos durante 10 minutos a uma temperatura de 100

°C e, em seguida, resfriados à temperatura ambiente (OLIVEIRA, 2010; RAHMAN et al.,

2002). Decorrido o tempo de resfriamento foi adicionado aos tubos 0,1 mL da solução de ácido

tioglicólico 4%, preparado no mesmo instante. Os tubos foram agitados novamente e

armazenados em ambiente escuro por três horas. Por fim, mediu-se a absorbância utilizando-se

o espectrofotômetro Genesys 10 UV (Thermo Scientific, EUA) a comprimentos de onda de 400

e 430 nm.

Para determinar a concentração de ramnose, fez-se a diferença entre os dois

comprimentos de onda (400 e 430 nm) utilizando uma curva de calibração (Anexo II)

previamente determinada com diluições de ramnose comercial de concentração de 0,00 a 0,07

g/L. Essa diferença é necessária, pois a leitura de 430 nm identifica outros açúcares redutores.

As medidas foram realizadas em triplicata e o valor obtido multiplicado por 3,4 a fim de se

obter o ramnolipídeo em termos de ramnose (OLIVEIRA, 2010).

4.3.4 Quantificação de proteínas totais

Para determinação da quantidade de proteínas presentes no sobrenadante I, analisou-se

cada um dos 12 pontos de cada ensaio. Para isso, foram adicionados 3,0 mL do reagente

Coomassie (reagente de Bradford), previamente preparado, a 100,0 μL de amostra. Os tubos

foram agitados suavemente em vórtex e em seguida incubados durante 5 minutos. Logo após,

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 45

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realizou-se a leitura no espectrofotômetro Genesys 10 UV (Thermo Scientific, EUA) a 595 nm,

contra um branco (3,0 mL de reagente Bradford + 100,0 μL de água destilada) (BRADFORD,

1976). A curva de calibração (Anexo III) foi preparada através de diluições de uma solução de

albumina de soro bovino (BSA), utilizando-se uma faixa de concentração de 0,0 a 1,0 g/L e em

duplicata.

4.4 Parâmetros cinéticos

As velocidades instantâneas de transformação “r” são descritas pelas Equações 2, 3 e 4,

as quais definem as velocidades de crescimento do microrganismo (rx), de consumo de substrato

(rs) e formação de produto (rp), respectivamente.

𝑟𝑥 =𝑑𝑋

𝑑𝑡 (2)

𝑟𝑠 = −𝑑𝑆

𝑑𝑡 (3)

𝑟𝑝 =𝑑𝑃

𝑑𝑡 (4)

A produtividade em biomassa (PX) e em produto (PP) corresponde à velocidade média

de crescimento celular e formação de produto referente ao tempo de cultivo, respectivamente.

Elas são determinadas segundo as Equações 5 e 6 (HISS, 2001).

𝑃𝑋 =𝑋𝑡−𝑋0

𝑡 (5)

Sendo PX a produtividade em biomassa (g/L.h), Xt a concentração máxima de biomassa

seca (g/L) no tempo t de cultivo, X0 a concentração de biomassa seca (g/L) no início do cultivo

e t o tempo de cultivo máximo (h).

𝑃𝑃 =𝑃𝑡−𝑃0

𝑡 (6)

Para o produto têm-se significados semelhantes, no qual Pp corresponde a produtividade

em produto (g/L.h), Pt a concentração volumétrica de produto (g/L) no tempo t de cultivo, P0 a

concentração volumétrica de produto (g/L) no início do cultivo e t o tempo de cultivo (h).

Outros parâmetros calculados foram as velocidades específicas de crescimento celular

(µx), de consumo de substrato (µs) e de formação do produto (µp), determinadas conforme as

Equações 7, 8 e 9, respectivamente.

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 46

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𝜇𝑥 =1

𝑋

𝑑𝑋

𝑑𝑡 (7)

𝜇𝑠 =1

𝑋(−

𝑑𝑆

𝑑𝑡) (8)

𝜇𝑝 =1

𝑋

𝑑𝑃

𝑑𝑡 (9)

A determinação de μx, μs e μp foi realizada através de implementação das equações, para

determinação das respectivas derivadas, em planilhas conforme o método proposto por Le Duy

& Zajic (HISS, 2001). A velocidade específica máxima de crescimento celular (𝜇𝑚á𝑥) foi

determinada a partir do ajuste linear ln (X) em função do tempo, sendo o valor do coeficiente

angular da reta correspondente ao 𝜇𝑚á𝑥.

Os fatores de conversão de substrato em produto (𝑌𝑃/𝑆), substrato em células (𝑌𝑋/𝑆), e

células em produto (𝑌𝑃/𝑋) são descritos pelas Equações 10, 11 e 12.

𝑌𝑃 𝑆⁄ =𝑃 − 𝑃0

𝑆0 − 𝑆 (10)

Sendo 𝑌𝑃/𝑆 o fator de conversão de substrato em produto (g de produto obtido/g de açúcar total

consumido), P a concentração de produto (g/L) no tempo t de cultivo, P0 a concentração de

produto (g/L) no início do cultivo, S0 a concentração do substrato (g/L) no início do cultivo e S

a concentração do substrato (g/L) no tempo t de cultivo.

𝑌𝑋 𝑆⁄ =𝑋 − 𝑋0

𝑆0 − 𝑆 (11)

𝑌𝑋/𝑆 corresponde ao fator de conversão de substrato em células (grama de biomassa seca

obtida/grama de açúcar total consumido), X a concentração de biomassa seca (g/L) no tempo t

de cultivo, X0 a concentração de biomassa seca (g/L) no início do cultivo, S0 a concentração do

substrato (g/L) no início do cultivo e S a concentração do substrato (g/L) no tempo t de cultivo.

𝑌𝑃 𝑋⁄ =𝑃 − 𝑃0

𝑋 − 𝑋0 (12)

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 47

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E 𝑌𝑃/𝑋 o fator de conversão de células em produto (g de biomassa seca/ g de produto

obtido), P a concentração de produto (g/L) no tempo t de cultivo, P0 a concentração de produto

(g/L) no início do cultivo, X a concentração de biomassa seca (g/L) no tempo t de cultivo e X0

a concentração de biomassa seca (g/L) no início do cultivo.

Hiss (2001) ainda descreve que a fase exponencial de crescimento também tem como

característica o tempo de geração tg (Equação 13), ou seja, o tempo necessário para que o valor

da concentração celular dobre.

𝑡𝑔 =𝑙𝑛 2

𝜇𝑚á𝑥 (13)

4.5 Determinação do pH

O acompanhamento do potencial hidrogeniônico (pH) foi verificado em todos os doze

pontos de cada ensaio utilizando-se o potenciômetro mPA 210 (Tecnopon, Brasil).

4.6 Determinação do índice de emulsificação (E)

A capacidade do biossurfactante para emulsificar hidrocarbonetos e óleos foi avaliada

pelo índice de emulsificação (E) do sobrenadante I obtido do ponto de maior concentração de

ramnolipídeo (Ensaio 3 da Tabela 4.1). Esse índice foi determinado de acordo com o método

de Cooper; Goldenberg (1987) com pequenas modificações. Neste caso, 2,0 mL do

sobrenadante I foram adicionados a um tubo contendo 2,0 mL do solvente em estudo:

hexadecano, tolueno, querosene, óleo de soja, óleo de milho e óleo de motor. Após 24 horas,

mediu-se o índice de emulsificação conforme a Equação 14, descrita por Wei; Chou; Chang

(2005). Essa medição se repetiu a cada 15 dias até completar 90 dias. As análises foram

realizadas em triplicata.

𝐸 =𝐻𝑒𝑚𝑢𝑙𝑠ã𝑜

𝐻𝑡𝑥100 (14)

Sendo:

E: Índice de emulsificação.

Hemulsão: Altura da emulsão.

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 48

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Ht: Altura total.

4.7 Atividade emulsificante

A atividade emulsificante foi determinada segundo metodologia descrita por

CIRIGLIANO; CARMAN (1984). Para isso, foi colocado em tubo de ensaio 0,5 mL de meio

cultura fermentado livre de células (sobrenadante I), 0,5 mL de tampão acetato de sódio 0,1 M

(pH 3,6) e 0,25 mL dos mesmos solventes utilizados para cálculo do índice de emulsificação.

Em seguida, procedeu-se a agitação em vórtex durante 2 minutos, em alta rotação. A emulsão

resultante foi deixada em repouso por 10 minutos e, em seguida, a absorbância dessa emulsão

foi medida em espectrofotômetro a 540 nm. Para determinação da estabilidade da emulsão, a

absorbância foi medida a cada 10 minutos, até completar 60 minutos. No preparo do branco,

utilizou-se 0,5 mL de água destilada no lugar de 0,5 mL do meio de cultura. As análises foram

realizadas em duplicata. Define-se uma unidade de atividade emulsificante como a quantidade

de biossurfactante necessária para aumentar a absorbância da fase aquosa em 1,0 a 540 nm

(CIRIGLIANO; CARMAN, 1984).

4.8 Determinação da concentração micelar crítica (c.m.c)

Essa análise foi realizada para o ponto de maior concentração de ramnolipídeo (Ensaio

3, referente ao tempo de 24 horas). Para determinar a c.m.c., fizeram-se diluições de uma

mistura de ramnolipídeo não purificado de 100 mg/L (1,65; 4,96; 6,20; 9,92; 24,82; 33,08;

49,63; 100), de acordo com o trabalho de Araújo (2016). Além da preparação das misturas

diluídas, foi necessário calcular a densidade do ramnolipídeo produzido (1,14 g/cm3). As

amostras foram medidas no tensiômetro SEO Phoenix 150 (Coreia) obtendo-se os valores, em

triplicata, da tensão superficial referente a cada concentração definida.

4.9 Avaliação da atividade antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não

purificado

Os testes para avaliar a atividade antimicrobiana do biossurfactante produzido foram

realizados seguindo a metodologia descrita pelo CLSI com modificações (COCKERILL et al.,

2012). Analisou-se a ação antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não purificado contra

duas cepas de leveduras: Candida tropicalis e Candida albicans. Em uma placa de 96 poços,

50 µL da suspensão fúngica com densidade de 105 UFC/mL em caldo Müeller Hinton (MH),

suplementado com 0,2% de glicose, foram adicionados ao ramnolipídeo (7,425; 3,71, 1,85; 0,93

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Capítulo 4. Metodologia Experimental 49

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e 0,46 µg/mL) e fluconazol 0,58 µg/mL e incubada a 35 ± 2ºC, sob agitação a 200 rpm, sendo

avaliada a densidade óptica a 595 nm em um leitor de microplacas (Epoch Biotek, Winooski,

EUA) nos tempos de 0 e 24 horas. Os poços com meio e solução salina foram utilizados como

controle de esterilidade do meio (controle negativo de crescimento).

4.10 Teste de remoção de petróleo de areia contaminada

A recuperação do óleo foi avaliada usando areia da Praia do Meio, Natal/RN, contendo

10% (m/m) de óleo. Amostras de 40 g de areia foram misturadas com 4 g de óleo bruto em

Erlenmeyers de 250 ml. O meio foi misturado e deixado em repouso por 24 horas.

Posteriormente, foram adicionados 40 ml de biossurfactantes (1 g/L) a cada frasco. Os

Erlenmeyers foram levados ao incubador rotativo (TE-421, TECNAL) a 100 rpm e 40°C

durante 24 h. Em seguida, a mistura água/óleo foi transferida para tubos do tipo Falcon de 50

mL e levada a centrífuga (SL-706, Brasil) a 5000 rpm (3248 x g) por 25 minutos. Após a

separação da mistura, retirou-se a água, para depois, se medir a massa do tubo contendo

petróleo. Previamente, mediu-se a massa do tubo seco para ser possível quantificar a massa de

óleo removida. O ensaio de controle foi realizado utilizando água destilada nas mesmas

condições e todos os experimentos foram executados em triplicata (GUDIÑA et al., 2015b;

PEREIRA et al., 2013).

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Capítulo 5

Resultados e Discussão

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 51

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5. Resultados e Discussão

Neste capítulo são discutidos os resultados obtidos a partir do ensaio cinético e a

posterior análise da capacidade emulsificante do ramnolipídeo produzido e suas aplicações.

5.1 Cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA sob diferentes

condições

Sabe-se que os ramnolipídeos são constituídos por uma mistura de homólogos e que a

composição dessa mistura depende das condições de cultivo (composição dos substratos, pH,

temperatura), da idade da cultura e das linhagens utilizadas (SANTANA FILHO, 2009). Por

isso, o presente estudo teve como finalidade investigar a produção desse metabólito por

Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA durante 72 horas. Para isso, variou-se a

concentração de substrato: glicose (10, 18 e 26 g/L) e percentagem de inóculo (3, 10 e 17%).

Os ensaios foram realizados de acordo com a Tabela 4.1, descrita na Seção 4.3. Vale salientar

que a temperatura e a velocidade de rotação foram mantidas constantes para todos os ensaios,

38ºC e 200 rpm, respectivamente. A Figura 5.1 mostra os resultados obtidos no Ensaio 1.

Figura 5.1 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 1 (10 g/L e 3%).

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 52

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Observa-se na Figura 5.1 e nos parâmetros cinéticos calculados que a concentração

celular atingiu o valor máximo (Xmáx) de 1,33 ± 0,02 g/L em 12 horas, fator de conversão de

substrato em célula (YX/S) de 0,169 g/g, velocidade específica máxima de crescimento celular

(µmáx) de 0,285 h-1 e produtividade volumétrica de biomassa (PX) igual a 0,099 g/L⋅h.

Calculando-se o tempo de geração (tg) foi possível determinar que a fase “lag”, fase de

adaptação do microrganismo ao meio, durou aproximadamente 2,4 horas. Outro detalhe

importante é que após 12 horas se iniciou a fase de declínio celular, ou seja, as células mortas

são maioria se comparadas às viáveis.

Em relação ao consumo de glicose é possível inferir que sua concentração em 12 horas,

tempo no qual a biomassa foi máxima, teve seu valor reduzido de 9,49 g/L ± 0,07 g/L

(concentração de glicose no tempo zero) para 2,51 ± 0,06 g/L, expondo um consumo bastante

significativo do substrato. Se considerarmos a concentração inicial de glicose no cultivo (10

g/L) e a respectiva ao fim de 72 horas calcula-se o consumo de 85,35% da fonte de carbono.

No que diz respeito ao ramnolipídeo produzido a maior concentração obtida (Pmáx) foi

no tempo de 4 horas (0,302 ± 0,00 g/L). A conversão de biomassa em produto (YP/X) chegou a

3,43 g/g, enquanto a conversão de substrato em produto (YP/S) alcançou 0,581 g/g. Por fim, a

produtividade do ramnolipídeo (PP) foi de 0,065 g/L⋅h.

A curva de pH mostra que houve uma variação entre 6,01 e 8,02, sendo o valor de 6,52

± 0,03 referente ao de maior produção do ramnolipídeo.

Outra análise realizada neste estudo foi a determinação da concentração proteínas totais,

a fim de estimar os metabólitos extracelulares gerados durante os cultivos. Neste ensaio a

formação desse produto iniciou a partir de 10 horas de cultivo, atingindo o valor máximo de

0,15 ± 0,01 g/L em 48 horas.

Outros parâmetros importantes para avaliar o comportamento cinético correspondem à

velocidade específica de crescimento celular (µx), formação do produto (µp) e consumo do

substrato (µs). Tais medidas são capazes de mostrar a relação existente entre biomassa, substrato

e produto por hora de reação (SOUSA et al., 2014). A Figura 5.2 representa esses parâmetros

para o Ensaio 1.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 53

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Figura 5.2 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 1 (10 g/L e 3%).

A análise da Figura 5.2 mostra que o comportamento das curvas de substrato e produto

possuem tendências semelhantes, pois iniciam de valores elevados (3,587 e 0,800 h-1,

respectivamente) e decaem rapidamente nas primeiras quatro horas, indicando uma relação

direta entre o consumo de substrato e a síntese do produto. Além disso, ao fim desse tempo há

a produção máxima de biossurfactante. Enquanto isso, a curva de crescimento celular possuiu

velocidade específica máxima de 0,372 h-1 em duas horas de cultivo, tendendo a valores

bastante reduzidos em 12 horas e permanecendo praticamente invariável até o fim do ensaio.

Os resultados do Ensaio 2 são apresentados nas Figuras 5.3 e 5.4 mostradas abaixo.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 54

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Figura 5.3 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 2 (18 g/L e 3%).

A Figura 5.3 mostra a concentração celular máxima (Xmáx) de 1,57 ± 0,06 g/L em 24

horas, fator de conversão de substrato em célula (YX/S) de 0,094 g/g, velocidade específica

máxima de crescimento celular (µmáx) de 0,305 h-1 e produtividade volumétrica de biomassa

(PX) igual a 0,063 g/L⋅h. Enquanto isso, a fase de adaptação do microrganismo foi de

aproximadamente 2,3 horas e a concentração de células começou a diminuir a partir de 24 horas

de cultivo.

A concentração do substrato atingiu seu menor valor (1,81 g/L ± 0,00) no mesmo

instante em que a concentração de biomassa foi máxima e, ao comparar as concentrações inicial

e final, pode-se afirmar que houve um consumo de 82,97% de glicose.

O ramnolipídeo produzido obteve maior concentração (Pmáx) em 60 horas (0,78 ± 0,01

g/L), conversão de biomassa em produto (YP/X) de 0,408 g/g e conversão de substrato em

produto (YP/S) de 0,038 g/g, além de produtividade (PP) de 0,010 g/L⋅h.

Os valores de pH variaram entre 5,87 e 6,79, atingindo 6,28 ± 0,05 para o ponto de

maior concentração de produto.

A concentração máxima de proteínas totais (0,25 ± 0,01 g/L) foi alcançada em 60 horas.

De forma geral, o crescimento celular, o consumo de substrato, a formação do produto,

a variação de pH e a concentração de proteínas tiveram comportamentos semelhantes nos dois

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 55

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ensaios apresentados. Ademais, o aumento na concentração de glicose de 10 para 18 g/L

influenciou diretamente a produção de ramnolipídeo e biomassa, considerando a mesma

percentagem de inóculo (3%).

Figura 5.4 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 2 (18 g/L e 3%).

No ensaio ilustrado pela Figura 5.4 as curvas referentes às velocidades específicas da

biomassa e do substrato apresentaram perfis semelhantes, iniciando com valores máximos de

2,500 e 8,136 h-1 e em seguida decrescendo linearmente nas duas primeiras horas e a partir de

24 horas seus valores permaneceram praticamente constantes. A velocidade de formação do

ramnolipídeo alcançou o valor máximo de 0,100 h-1 em 12 horas.

No Ensaio 3, conforme os dois anteriores, a percentagem de inóculo permaneceu a

mesma (3%), mas a concentração de glicose no meio foi aumentada para 26 g/L. As Figuras

5.5 e 5.6 mostram os resultados obtidos.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 56

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Figura 5.5 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 3 (26 g/L e 3%).

Os dados mostrados na Figura 5.5 indicam que a curva de crescimento microbiano teve

fase de latência correspondente a 2,7 horas seguido de um crescimento celular que atingiu seu

valor máximo (Xmáx) em 24 horas (2,50 ± 0,04 g/L), a partir desse instante iniciou-se a fase de

declínio celular. O fator de conversão de substrato em célula (YX/S) foi de 0,132 g/g, velocidade

específica máxima de crescimento celular (µmáx) de 0,259 h-1 e produtividade volumétrica de

biomassa (PX) igual a 0,082 g/L⋅h.

A concentração de glicose ao atingir o Xmáx foi de 7,74 ± 0,39 g/L e ao considerar as 72

horas de cultivo houve um consumo de 82,45% do substrato.

Em relação à concentração de ramnolipídeo produzido o valor máximo alcançado (Pmáx)

foi de 0,84 ± 0,06 g/L no tempo de 24 horas, conversão de biomassa em produto (YP/X) chegou

a 0,260 g/g, enquanto a conversão de substrato em produto (YP/S) foi de 0,034 g/g. Além disso,

a produtividade do biossurfactante (PP) foi de 0,021 g/L⋅h.

O pH do meio fermentativo variou de 6,29 a 8,14 durante todo o experimento, mas para

o ponto de maior concentração de produto o seu valor foi de 6,44 ± 0,05.

A concentração de proteínas totais chegou ao seu maior valor (0,43 ± 0,00 g/L) no

tempo final do cultivo, 72 horas.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 57

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Figura 5.6 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 3 (26 g/L e 3%).

Na Figura 5.6 o crescimento celular e o consumo de substrato se relacionam diretamente

atingindo valores máximos de 0,222 e 1,652 h-1, nessa ordem. A maior velocidade específica

de síntese do biossurfactante se dá em 8 horas (0,079 h-1), ponto no qual a velocidade de

formação da biomassa era próxima da máxima e a de consumo de glicose tendia a zero.

O Ensaio 4 foi realizado em concentração de substrato de 18 g/L e percentagem de

inóculo de 10 mL e os resultados são mostrado nas Figuras 5.7 e 5.8.

Na Figura 5.7 a concentração celular máxima (Xmáx) foi de 2,03 ± 0,20 g/L em 12 horas,

o fator de conversão de substrato em célula (YX/S) correspondeu a 0,494 g/g, velocidade

específica máxima de crescimento celular (µmáx) foi de 0,252 h-1 e produtividade volumétrica

de biomassa (PX) igual a 0,138 g/L⋅h. A fase “lag” foi de cerca 2,75 horas e a morte celular

predominou a partir das 12 horas de cultivo.

O ramnolipídeo obteve maior concentração (Pmáx) em 12 horas (0,39 ± 0,03 g/L),

conversão de biomassa em produto (YP/X) de 0,153 g/g e conversão de substrato em produto

(YP/S) de 0,076 g/g. A produtividade (PP) foi de 0,021 g/L⋅h.

O consumo de glicose atingiu 84,13% considerando todo o tempo do experimento, 72

horas. A concentração do substrato chegou ao mínimo de 2,86 g/L ± 0,10 em 24 horas e se

manteve praticamente constante no decorrer do processo.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 58

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Para a maior concentração de produto o pH foi de 6,58 ± 0,03, porém ele variou de 5,79

a 7,49 durante o processo.

Neste ensaio, a concentração máxima de proteínas totais (0,23 ± 0,00 g/L) foi alcançada

em 48 horas e diferente dos demais cultivos a formação de proteínas iniciou a partir do ponto

correspondente a 8 horas.

Figura 5.7 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 4 (18 g/L e 10%).

Na Figura 5.8 as velocidades específicas da biomassa e do substrato apresentaram

comportamentos bastante similares, iniciando com valores baixos e chegando em seguida a

0,281 e 1,531 h-1, respectivamente. De modo que em menos de 12 horas tais velocidades eram

praticamente nulas. Conforme alguns dos outros ensaios, neste, a velocidade de produção do

ramnolipídeo apresentou tendência diferente da biomassa e glicose.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 59

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Figura 5.8 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 4 (18 g/L e 10%).

Em relação ao Ensaio 5, realizado com 18 g/L de substrato e 17% de inóculo, tem-se as

Figuras 5.9 e 5.10.

Figura 5.9 – Perfil de crescimento celular, consumo de substrato, produção de ramnolipídeo e

pH em função do tempo para o Ensaio 5 (18 g/L e 17%).

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 60

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Na Figura 5.9 a concentração celular máxima (Xmáx) alcançou 1,93 ± 0,14 g/L em 10

horas, fator de conversão de substrato em células (YX/S) de 0,191 g/g, velocidade específica

máxima de crescimento celular (µmáx) de 0,020 h-1 e produtividade volumétrica de biomassa

(PX) de 0,161 g/L⋅h. A fase de morte celular foi percebida a partir de 12 horas de cultivo.

O pH do sistema variou de 6,16 a 7,16 chegando a 6,46 ± 0,00 em 48 horas, ponto de

maior produção do biossurfactante.

A máxima concentração de ramnolipídeo (Pmáx) foi 0,40 ± 0,01 g/L, conversão de

biomassa em produto (YP/X) de 0,114 g/g e conversão de substrato em produto (YP/S) de 0,022

g/g. A produtividade (PP) foi de 0,021 g/L⋅h.

O substrato foi consumido em mais de 90% durante todo o processo.

A formação de proteínas totais foi iniciada em 6 horas de cultivo e atingiu seu maior

valor (0,12 ± 0,00 g/L) no tempo de 48 horas.

Figura 5.10 – Curvas das velocidades específicas de crescimento celular (µx), consumo de

substrato (µs) e formação de produto (µp) do Ensaio 5 (18 g/L e 17%).

O perfil apresentado pela Figura 5.10 é parecido com o da Figura 5.4, na qual as

velocidades específicas da biomassa e do substrato apresentaram comportamentos semelhantes.

Iniciando com valores elevados 1,038 e 5,653 h-1, mas caindo drasticamente em seguida. A

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 61

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velocidade de produção do ramnolipídeo apresentou tendência diferente, alcançando o máximo

(0,041 h-1) ao fim do ensaio.

As Figuras 5.1, 5.3, 5.5, 5.7 e 5.9 nos permite perceber que a produção do

biossurfactante está associada ou parcialmente associada ao crescimento celular, pois o

ramnolipídeo começa a ser sintetizado ainda na fase exponencial de crescimento microbiano.

A Tabela 5.1 apresenta os parâmetros cinéticos de cada ensaio a fim de que seja possível

uma discussão mais clara dos resultados alcançados.

Tabela 5.1 – Parâmetros cinéticos dos ensaios de produção de ramnolipídeos.

Ensaio S0

(g/L)

SC

(%)

Xmáx

(g/L)

tXmáx

(h)

Pmáx

(g/L)

tPmáx

(h)

Px

(g/L∙ 𝐡)

PP

(g/L∙ 𝐡)

YX/S

(g/g)

YP/S

(g/g)

YP/X

(g/g)

1 10 85,35 1,33 ± 0,02 12 0,30 ± 0,00 4 0,053 0,065 0,083 0,581 3,430

2 18 82,97 1,57 ± 0,06 24 0,78 ± 0,01 60 0,063 0,010 0,094 0,038 0,408

3 26 82,45 2,50 ± 0,04 24 0,84 ± 0,06 24 0,082 0,021 0,132 0,034 0,260

4 18 84,13 2,03 ± 0,20 12 0,39 ± 0,03 12 0,138 0,021 0,494 0,076 0,153

5 18 90,40 1,93 ± 0,14 10 0,40 ± 0,01 48 0,161 0,004 0,191 0,022 0,114

Sendo: S0: concentração inicial de glicose (antes da inoculação); SC: porcentagem de substrato consumido durante

as 72 horas de experimento; Xmáx: máxima concentração de biomassa; tXmáx: instante em que ocorreu o Xmáx;

Pmáx: concentração máxima de ramnolipídeo; tPmáx: instante em que ocorreu o Pmáx; YX/S: conversão de subtrato

em células; YP/S: conversão de substrato em produto; YP/X: conversão de células em produto; PX: produtividade

em biomassa; PP: produtividade em produto.

Os ensaios 1, 2 e 3 foram realizados com a mesma percentagem de inóculo (3%),

variando-se a concentração de glicose (S0) de acordo com a Tabela 5.1. Esse aumento na

concentração de substrato influenciou de forma positiva o crescimento microbiano e a formação

do produto. O consumo do substrato pelo microrganismo permite a renovação celular e,

consequentemente, a geração do produto desejado (BORZANI et al., 2001). Diante disso, ao

comparar os ensaios 1 e 3, constatou-se que a biomassa aumentou em 1,9 vezes, enquanto a

produção do biossurfactante foi 2,8 vezes maior. Conforme previamente relatado na literatura,

a estimulação da síntese de ramnolipídeos ocorre em condições limitadas de nitrogênio

(SANTOS et al., 2002), situação semelhante a encontrada neste estudo, pois para os ensaio 1,

2 e 3, com razões carbono/nitrogênio (C/N) de 5, 9 e 13, respectivamente, foi possível afirmar

que o aumento desse parâmetro favoreceu a produção de ramnolipídeos.

Ademais, em todos os experimentos houve um consumo bastante considerável da fonte

de carbono (entre 82,45 e 90,4%), sugerindo que a glicose é facilmente assimilada pelo

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 62

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

microrganismo. Vale salientar que essas percentagens consideram a concentração inicial antes

da inoculação (S0) e aquela ao final das 72 horas. De modo geral, a redução drástica do substrato

se deu em até 36 horas de cultivo, com leves oscilações até se completar todo o ensaio.

Bezerra et al. (2012) ao estudarem a produção de ramnolipídeos usando manipueira

como fonte de carbono e a mesma cepa bacteriana deste trabalho, chegaram a resultados

semelhantes, porém com intervalo de consumo maior (55,7 e 91,9%). Por outro lado Sousa et

al. (2014) alcançaram consumo mínimo de 36,61 e máximo de 50,77%, tendo como substrato

o glicerol e microrganismo Pseudomonas aeruginosa MSIC02.

Recentemente, Radzuan; Banat; Winterburn (2017) avaliaram a produção de

ramnolipídeos em frascos de 5 L utilizando destilado de ácido graxo de palma (PFAD) e glicose

como substratos, ambos com as mesmas concentrações (20, 50 e 100 g/L). O microrganismo

usado na síntese do biossurfactante foi Pseudomonas aeruginosa PAO1, do qual os autores

obtiveram concentrações de ramnolipídeo proporcionais à concentração de substrato, sendo

0,43 g/L para PFAD e 0,36 g/L para glicose. A produtividade em produto para PFAD e glicose

foi de 0,006 e 0,004 g/L∙h, respectivamente, sendo a última igual a obtida no Ensaio 5 deste

estudo.

Ao comparar os ensaios 4 e 5, os quais possuíam a mesma concentração de glicose (18

g/L) e percentagens de inóculo de 10 e 17%, nessa ordem, observou-se que apesar de uma

quantidade maior de células no meio a concentração de biomassa não cresceu tanto se

comparado ao crescimento devido à concentração da fonte de carbono, talvez pelo fato de essas

células não estarem totalmente viáveis ao crescimento. Isso pode ser explicado pelas Figura 5.7

e 5.9 que mostram a fase de morte celular sendo iniciada a partir de 12 horas de cultivo, ao

passo que nos ensaios 2 e 3 esse tempo é duas vezes maior.

A diferença entre as concentrações de biomassa dos ensaios com 10 e 17% de inóculo

mostram que o primeiro é um pouco maior do que o segundo. Além disso, a formação do

produto foi praticamente a mesma 0,39 ± 0,03 e 0,40 ± 0,01 g/L, indicando uma possível

inibição do produto pela elevada quantidade de biomassa. Segundo Li; Jendresen; Nielsen

(2016) o acúmulo de biomassa contribui para a diminuição dos rendimentos de produção e,

portanto, é desejável um método para limitar a formação de biomassa, enquanto permite a

produção contínua de metabólitos bioquímicos.

Ao analisar os ensaios 2, 4 e 5 os quais continham 18 g/L de substrato e 3, 10 e 17% de

inóculo, é possível inferir que a concentração do ramnolipídeo é favorecida ao utilizar uma

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 63

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

menor percentagem de células, sendo a produção com 3% (0,78 ± 0,01 g/L) quase o dobro das

demais.

A diminuição da concentração de ramnolipídeos ao aumentar a percentagem de inóculo

pode ser explicada pelo quorum sensing (QS), meio de sinalização bacteriana que se baseia na

produção durante a fase de crescimento celular de pequenas moléculas mediadoras chamadas

autoindutores. Quando um limite de concentração é alcançado, esses autoindutores interagem

com um regulador transcricional, permitindo a expressão específica de um grupo de genes. Um

dos autoindutores intraespécies mais estudado é o N-acil homoserina lactonas (AHL) liberados

por bactérias Gram-negativas. Existem mais de 70 espécies de bactérias Gram-negativas

conhecidas por usar AHL como molécula de sinalização (BOUYAHYA et al., 2017).

Estudos demonstram que Pseudomonas aeruginosa usam quorum sensing para

coordenar várias funções, incluindo a formação de biofilmes, motilidade, produção de

exopolissacarídeos e agentes de virulência. O QS é responsável pela regulação de cerca de 10%

dos genes de Pseudomonas aeruginosa e controla a produção de vários compostos que

desempenham papéis importantes na formação de biofilmes, tais como ramnolipídeos, lectina

A e sideróforos (piochelina e pioverdina) (KARIMINIK; BASERI-SALEHI; KHEIRKHAH,

2017).

Em relação ao encontrado neste estudo e se baseando no que foi apresentado

anteriormente, possivelmente houve inibição na produção de ramnolipídeo causado pelo

sistema de quorum sensing da Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA.

No que se refere aos parâmetros cinéticos obtidos nesta pesquisa tem-se que a

produtividade em biomassa foi favorecida tanto com o aumento de glicose quanto com o

aumento de células no meio. Porém, a produtividade em produto obteve melhor resposta para

o ensaio 1, o qual possuiu menor concentração de substrato e percentagem de inóculo. Isso pode

ser explicado devido a máxima produção de ramnolipídeo (0,30 ± 0,00 g/L) ter se dado em um

tempo curto (4 horas) e 6 vezes menor que o alcançado no ensaio 3 (24 horas e 0,84 ± 0,06 g/L).

Desse modo, o ensaio 1 seria o mais indicado a ser reproduzido em biorreator, pois

gerou os maiores valores de produtividade em produto (PP), conversão de substrato em produto

(YP/S) e conversão de biomassa em produto (YP/X), parâmetros importantes ao se pensar no

aumento de escala.

Inúmeros trabalhos abordam a produção de ramnolipídeo com diferentes cepas de

Pseudomonas aeruginosa e diversos substratos, em sua maioria resíduos industriais. Haba et

al. (2000) testaram 36 cepas, das quais nove eram de Pseudomonas. Dentre elas, a P. aeruginosa

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 64

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

47T2 foi selecionada para estudos posteriores e foi capaz de produzir 2,7 g/L de ramnolipídeo

e um rendimento de produção (YP/X) de 0,34 g/g para uma razão C/N igual a 8. A fim de estudar

substratos de baixo custo, os autores escolheram trabalhar com óleos de frituras, o que mostra

a versatilidade na produção de biossurfactantes.

Rahman et al. (2002) estudaram duas linhagens de Pseudomonas aeruginosa, GS9-119

e DS10-129. Tendo a última apresentado os melhores resultados de produção: 4,31; 2,98 e 1,77

g/L de ramnolipídeo utilizando respectivamente óleo de soja, óleo de cártamo e glicerol.

Gudiña et al. (2016) conseguiram produzir ramnolipídeos com Pseudomonas

aeruginosa #112 e um meio contendo milhocina (10% v/v), melaço (10% m/v) e OMW (25%

v/v). Eles obtiveram valores de 4,5 e 5,1 g/L de produto em erlenmeyers e biorreator,

respectivamente.

Por outro lado, Araújo (2016) ao produzir ramnolipídeos nas mesmas condições deste

trabalho (18 g/L de glicose e 3% de inóculo) obteve 0,80 g/L em 48 horas de cultivo.

Posteriormente, na investigação promovida por Mondal et al. (2017) foi analisada a

produção de ramnolipídeos por cepas P19 de Pseudomonas sp. em diferentes fontes de carbono

(glicose, sacarose, lactose, frutose, sorbitol, maltose, dextrose, arabinose e manitol) e nitrogênio

(NaNO3, NH4Cl, KNO3, (NH4)2SO4, L-asparagina e glicina). O estudo apontou que a melhor

fonte de nitrogênio (NaNO3) associada a glicose formou a máxima concentração de

biossurfactante, 0,315 g/L. Em contrapartida o menor valor foi encontrado para o manitol,

aproximadamente 0,025 g/L. As fontes de carbono e nitrogênio usadas pelos autores são as

mesmas do presente estudo.

Em relação ao pH, parâmetro de fundamental importância na produção de

biossurfactantes, a investigação mostrou que os valores obtidos para as maiores concentrações

de ramnolipídeo ficaram entre 6,28 e 6,58. Porém, considerando os valores alcançados durante

cada um dos cinco cultivos percebeu-se que a faixa de pH se tornou mais ampla, de 5,88 a 8,20.

Embora a variação de pH tenha sido diferente nos cultivos, pode-se observar uma tendência

durante as 72 horas de cultivo, pois no início o valor do pH é de aproximadamente 6,5-6,8,

decresce e em seguida aumenta.

Sousa et al. (2014) avaliaram que na produção de ramnolipídeos por Pseudomonas

aeruginosa MSIC02 e glicerol por até 72 horas, o pH variou de 6,8 a 8,2 e de acordo com

Varjani; Upasani (2017), a síntese de ramnolipídeos por Pseudomonas sp. é favorecida com pH

de 6,0 a 6,5, dado semelhantes ao observado neste trabalho.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 65

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Por outro lado, a análise de proteínas totais resultou nos máximos valores mostrados na

Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Concentração de proteínas totais para os ensaios realizados.

Ensaio Proteínas Totais (g/L)

1 0,149 ± 0,01

2 0,248 ± 0,01

3 0,426 ± 0,00

4 0,233 ± 0,00

5 0,123 ± 0,00

No trabalho de Araújo (2016) foi detectada uma concentração de 3 g/L de proteínas,

valor quase 13 vezes maior se comparado ao ensaio 2 (Tabela 5.2), ambos com as mesmas

condições de cultivo. A autora ainda analisou a atividade enzimática (FPase) do extrato a fim de

constatar a presença de enzimas presentes no meio, porém a atividade encontrada foi praticamente

nula.

Anteriormente, Santos et al. (2002) investigaram a síntese de ramnolipídeos por

Pseudomonas aeruginosa, quatro fontes de carbonos (glicerol, etanol, óleo de soja e óleo de

oliva) e duas fontes de nitrogênio (nitrato de sódio e sulfato de amônio). Ao variar a razão C/N

em 10, 20, 40 e 60 os autores constataram que o cultivo com glicerol usando sulfato de amônio

gerou valores de proteínas totais de até 2,5 g/L, enquanto que para o nitrato de sódio o valor

máximo foi de 1 g/L, permanecendo praticamente constante nas diferentes razões C/N.

No que diz respeito a este trabalho, a razão C/N foi de 5, 9 e 13 e pôde-se verificar que

o aumento desse parâmetro influenciou diretamente na produção de proteínas totais o que pode

ser explicado pelo fato de os ramnolipídeos aumentarem a permeabilidade da membrana celular

e, consequentemente, a concentração de proteínas, como xilanase, CMCase, amilase e protease

no meio (SHAO et al., 2017). Porém, ao manter a razão C/N igual a 9 e aumentar a percentagem

de inóculo para 10 e 17% observou-se um comportamento contrário, ou seja, a quantidade de

proteínas totais diminuiu, fato que pode estar associado à regulação bacteriana por quorum

sensing.

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 66

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

Ao analisar as Figuras 5.1, 5.3, 5.5, 5.7 e 5.9 percebe-se que o aumento na concentração

de proteínas totais influencia diretamente no aumento do pH isso porque há formação do íon

amônio durante o metabolismo das proteínas (SOUSA et al., 2014).

5.2 Índice de emulsificação

Uma emulsão é formada quando a fase líquida está dispersa como gotículas

microscópicas em outra fase líquida contínua. Os biossurfactantes podem estabilizar ou

desestabilizar a emulsão (BANAT; DESAI, 1997) e segundo Santos et al. (2013) nem sempre

a estabilidade dessa emulsão está associada a baixas tensões superficiais.

Os testes do índice de emulsificação foram desenvolvidos com o sobrenadante livre de

células do ponto que apresentou maior formação de ramnolipídeo (ensaio 3 no ponto de 24

horas de cultivo) de acordo com adaptações do método de Cooper; Goldenberg (1987). Foram

avaliados seis solventes: hexadecano, tolueno, querosene, óleo de soja, óleo de milho e óleo de

motor; a determinação do índice de emulsificação foi determinada após 1, 15, 30, 45, 60, 75 e

90 dias, a fim de verificar a capacidade emulsificante do bioproduto e sua estabilidade no

decorrer do tempo. A Figura 5.11 mostra a quantificação dos índices de emulsificação para cada

solvente nos diferentes instantes de medição.

Figura 5.11 – Índice de emulsificação (E) determinado em diferentes instantes: 1, 15, 30, 45,

60, 75 e 90 dias para hidrocarbonetos (A) e óleos (B). Letras ou conjunto de letras iguais não

apresentaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05).

A

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 67

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

A Figura 5.11 nos permite afirmar que os valores dos índices de emulsificação no

primeiro dia foram 57,47% (óleo de milho), 58,62% (tolueno), 59,32% (óleo de soja), 62,07

(querosene), 66,30 (hexadecano) e 77,55% (óleo de motor). Ademais, é possível afirmar que

com o passar do tempo a estabilidade das emulsões oscilou, mas os hidrocarbonetos ainda

mantiveram os índices de emulsificação superiores a 50%, com exceção do tolueno, o qual só

ficou emulsionado por um dia. Em relação aos óleos apenas o de milho não conseguiu manter

o índice de emulsificação acima de 50% nos últimos 30 dias.

Vários estudos abordam a capacidade dos biossurfactantes formarem emulsões estáveis

por 24 horas. Costa et al. (2006), por exemplo, utilizaram Pseudomonas aeruginosa LBI na

síntese de ramnolipídeos usando como substrato os óleos de Babassu (Orbignya spp.), Andiroba

(Carapa guianensis), Cupuaçu (Theobroma grandiflora), Buriti (Mauritia flexuosa), Fruto da

Paixão (Passiflora alata) e Castanha Brasileira (Bertholletia excelsa) atingindo índices de

emulsificação de 93-100% (tolueno) e 70-92% (querosene). Em contra partida, Bezerra et al.

(2012) avaliaram esse parâmetro com ramnolipídeos formados por Pseudomonas aeruginosa

AP029/GLVIIA e querosene, obtendo valores superiores a 65% por até 72 horas.

Gudiña et al. (2015a), usaram ramnolipídeos produzidos por Pseudomonas aeruginosa

#112 e n-hexadecano alcançando um índice de emulsificação de 60%, enquanto Rufino et al.

(2016) estudaram a influência da temperatura, pH e salinidade sobre o índice de emulsificação

de biossurfactantes sintetizados por Pseudomonas aeruginosa UCP0992 em três óleos: soja,

motor e milho, durante 90 dias. Eles mostraram que para todas as condições o óleo de motor

apresentou as melhores respostas (85 a 100%). Porém, os óleos de milho e soja apresentaram

B

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 68

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

valores bastante variados. A pH 9 esses óleos chegaram a mais de 88%, com 1% de NaCl foi

possível chegar em 62,5% (óleo de milho) e para as temperaturas de 40 e 50ºC obteve-se

medidas entre 70 e 75% depois de 24 horas, decrescendo drasticamente em seguida.

A Figura 5.12 apresenta a capacidade emulsificante do biossurfactante.

Figura 5.12 – Capacidade de emulsificação do sobrenadante I de maior concentração de

ramnolipídeo obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose e 3% de inóculo) utilizando seis solventes

orgânicos: querosene (Q), tolueno (T), hexadecano (H), óleo de soja (OS), óleo de motor (OMo)

e óleo de milho (OMi) após 24 horas de emulsificação.

Na Figura 5.12 observa-se que todas as amostras foram capazes de manter a emulsão

após 24 horas, confirmando a boa ação emulsificante do ramnolipídeo produzido por

Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA. Além disso, segundo Nguyen; Sabatini (2011), a

forma como se distribui a emulsão na parte superior indica a formação de uma emulsão do tipo

água em óleo (A/O), na qual a emulsão solubiliza a água em micelas reversas dentro da fase

contínua (óleo).

5.3 Atividade emulsificante

Nesta análise mediu-se a atividade emulsificante (U) durante 60 minutos, de modo a

avaliar a estabilidade da emulsão formada a cada 10 minutos. Os solventes analisados foram os

mesmos do item anterior (querosene, tolueno, hexadecano, óleo de soja, óleo de milho e óleo

de motor). A Figura 5.13 apresenta os resultados alcançados.

OS OMo OMi Q H T

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 69

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

Figura 5.13 – Determinação da atividade emulsificante durante 60 minutos a partir do

sobrenadante I de maior concentração de ramnolipídeo, obtido no Ensaio 3 (26 g/L de glicose

e 3% de inóculo). O gráfico A se refere aos hidrocarbonetos e o B aos óleos. Letras ou conjunto

de letras iguais não apresentaram diferença estatisticamente significante (p < 0,05). As amostras

do gráfico B não apresentaram diferença estatisticamente significativa entre elas.

A

B

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 70

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

Segundo Cirigliano; Carman (1984) uma unidade de atividade emulsificante é definida

como a quantidade de biossurfactante necessária para aumentar em 1,0 a absorbância da fase

aquosa a 540 nm. Logo, quanto maior essa medida melhor a emulsão formada. Além disso, a

variação da atividade indica se o composto possui uma boa estabilidade.

Nesta dissertação observou-se que dentre os hidrocarbonetos, o querosene e hexadecano

apresentaram valores próximos (1,3 e 1,4 U, respectivamente), porém, a variação no decorrer

dos 60 minutos foi um pouco mais acentuada para o querosene. O tolueno, apesar de apresentar

o maior valor inicial, varia severamente com o tempo, ou seja, o biossurfactante é capaz de

emulsificá-lo, mas a emulsão será desfeita rapidamente. No que diz respeito aos óleos, todos

atingiram respostas acima de 2 e estabilidade bastante satisfatória. As análises da atividade

emulsificante complementam as de índice de emulsificação, comprovando a boa capacidade

emulsificante do ramnolipídeo em diferentes solventes orgânicos, além de avaliar melhor a

estabilidade da emulsão formada.

Amaral et al. (2006) investigaram a produção de bioemulsificantes por Yarrowia

lipolytica em meio YPD após 50 horas de cultivo e obtiveram atividade emulsificante em torno

de 2 U para hexadecano. Em contrapartida, BUENO; SILVA; GARCIA-CRUZ (2010)

sintetizaram biossurfactantes por Bacillus. pumilus variando a fonte de carbono (glicose,

sacarose, manitol, frutose, glicose + frutose e caldo de cana). Eles utilizaram a atividade

emulsificante para selecionar o melhor substrato e obtiveram valores entre 0,37 e 0,72 U.

5.4 Determinação da concentração micelar crítica (c.m.c.)

Compreender os diferentes fatores que influenciam a c.m.c. é crucial para prever

propriedades e projetar a biossíntese de biossurfactantes direcionadas a aplicações específicas.

Geralmente, a c.m.c. depende do pH, da temperatura, da força iônica e da estrutura do

surfactante. Como os ramnolipídeos são sintetizados em um meio iônico, o pH terá influência

mais significativa na c.m.c. se comparado aos demais parâmetros mencionados

(KŁOSOWSKA-CHOMICZEWSKA et al., 2017).

Neste estudo, a c.m.c. foi determinada através de medição da tensão superficial para

várias concentrações de biossurfactante, mostradas no tópico 4.8 da Revisão Bibliográfica. A

análise foi realizada com amostras do sobrenadante I (Figura 5.1), referente ao meio livre de

células, do cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA. Utilizou-se o sobrenadante

do ponto que apresentou maior concentração de ramnolipídeos (ensaio 3, no tempo de 24 horas).

O valor da c.m.c. (49,63 mg/L) foi obtido a partir da leitura da tensão superficial correspondente

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 71

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

a cada concentração definida. O ramnolipídeo foi capaz de reduzir a tensão superficial da água

de 71,94 ± 1,07 para 29,42 ± 1,41 mN/m.

O dodecil-sulfato de sódio (SDS), surfactante químico bastante utilizado

industrialmente, apresenta c.m.c. em torno de 2023-2890 mg/L e redução da tensão superficial

de 72 mN/m para 37 mN/m (ARAUJO; FREIRE; NITSCHKE, 2013). Isso mostra que o

biossurfactante produzido possui maior eficiência se compararmos esses dois parâmetros.

Geralmente, os ramnolipídeos conseguem atingir valores bastante baixos de tensão superficial

(28-30 mN/m) e c.m.c. (10-200 mg/L) (GUDIÑA et al., 2015a).

Samadi et al. (2012) avaliaram os valores de c.m.c e tensão superficial em misturas de

ramnolipídeos (RLs) e em mono (RL1) e di-ramnolipídeos (RL2) isolados. Para o sistema

contendo RLs chegou-se a c.m.c de 22 mg/L e tensão de 26 mN/m, para RL1 a c.m.c. foi de 15

mg/L e tensão de 25 mN/m e por fim, para o RL2 a c.m.c. alcançou 30 mg/L com tensão

superficial de 29,5 mN/m. A pesquisa foi desenvolvida utilizando-se Pseudomonas aeruginosa

MN1.

Mais tarde, Gogoi et al. (2016) alcançaram valores de c.m.c. de 72 e 110 mg/L referentes

ao ramnolipídeo purificado e não purificado, respectivamente. Em relação ao ramnolipídeo

purificado houve redução da tensão superficial da água de 72,2 para 29,5 mN/m. A cepa

estudada na produção foi a Pseudomonas aeruginosa NBTU-01.

De acordo com os dados apresentados é possível afirmar que o ramnolipídeo produzido

mostrou resultados satisfatórios de atividade superficial e c.m.c., propriedades que o

caracterizam como um potencial agente surfactante.

5.5 Avaliação da atividade antimicrobiana do ramnolipídeo purificado e não

purificado

Candida albicans é um fungo patogênico comensal causador de infecções superficiais

e sistêmicas em paciente com imunidade comprometida, como aqueles com AIDS ou em

tratamentos relacionados ao câncer (XIAO et al., 2018). Em contrapartida, Candida tropicalis

é um patógeno que atinge principalmente pacientes oncológicos e sua patogenicidade é

facilitada por vários fatores de virulência, incluindo a secreção de enzimas hidrolíticas. No

entanto, pouco se sabe sobre a capacidade de C. tropicalis de secretá-los e seu papel na doença

(TREVIÑO-RANGEL et al., 2018).

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 72

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

Diante da necessidade em combater esses microrganismos foi realizado um ensaio para

analisar a atividade antimicrobiana, no qual apenas o ramnolipídeo purificado exibiu atividade

antifúngica contra as cepas estudadas: Candida tropicalis e Candida albicans. Não foi possível

determinar a concentração inibitória mínima (CIM), menor concentração que consegue inibir o

crescimento do microrganismo, pois para todas as concentrações avaliadas houve a inibição de

100% dos fungos, como apresentado na Figura 5.14.

Figura 5.14 – Avaliação da atividade antimicrobiana do biossurfactante purificado incubado

com concentrações de 7,425 a 0,46 µg/mL, durante 24 horas, com os fungos Candida tropicalis

(A) e Candida albicans (B). Ctl corresponde ao controle de atividade antimicrobiana,

fluconazol. *** p < 0,001 e ** p < 0,01 comparado com o grupo controle (Ctl); ### p <0,001 e

##p < 0,05 comparado com o biossurfactante na concentração de 0,93 µg/mL. As amostras do

gráfico (B) não apresentaram diferença estatisticamente significativa.

A

B

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 73

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

A Figura 5.14 exibe que a concentração de ramnolipídeo que apresentou maior atividade

antifúngica foi a de 0,93 µg/mL para ambos os fungos. Além disso, a concentração de 0,46

µg/mL, valor menor do que o do fluconazol, conseguiu inibir o crescimento dos

microrganismos.

Previamente Abalos et al. (2001) produziram ramnolipídeos por Pseudomonas

aeruginosa AT10 e comprovaram a capacidade antifúngica desse composto contra os seguintes

microrganismos: Aspergillus niger e Gliocadium virens (16 μg/mL), Chaetomium globosum,

Penicillium chrysogenum e Aureobasidium pullulans (32 μg/mL), Botrytis cinerea e

Rhizoctonia solani (18 μg/mL). Os valores apresentados são referentes à CIM.

Oluwaseun et al. (2017) avaliaram a atividade antimicrobiana de ramnolipídeos contra

bactérias (Bacillus cereus, Escherichia coli e Staphylococcus aureus) e fungos (Saccharomyces

cerevisiae, Aspergillus flavus e Aspergillus niger) e constataram que a concentração inibitória

mínima das bactérias variou de 28,4 a 89,3% v/v, enquanto a concentração inibitória mínima

dos fungos foi de 24,0 a 64,2% v/v.

Pesquisas mostram que a borracha de silicone condicionada com ramnolipídeos reduziu

as taxas de adesão de Streptococcus salivarius e Candida tropicalis em 66%. O número de

células aderidas de Staphylococcus aureus, Staphylococcus epidermidis, Streptococcus

salivarius e Candida tropicalis foi reduzido em 48% e a perfusão de biossurfactante para células

aderidas produziu alto desprendimento (96%) de microrganismos (NITSCHKE; COSTA,

2007).

Em suma, nota-se a importância da análise antimicrobiana realizada, pois pôde-se

comprovar a ação do ramnolipídeo em inibir o crescimento desses microrganismos tão

prejudiciais à saúde humana.

5.6 Teste de remoção de petróleo de areia contaminada

Diferentemente dos surfactantes químicos, os biossurfactantes são prontamente

biodegradáveis na água e no solo, apresentando uma melhor compatibilidade ambiental, o que

os torna adequados para aplicações como biorremediação e tratamento de resíduos (ARAUJO;

FREIRE; NITSCHKE, 2013).

A biorremediação do solo e da água encontra obstáculos associados à biodegradação de

hidrocarbonetos de petróleo, uma vez que esses compostos hidrofóbicos se ligam às partículas

do solo e têm um baixo grau de solubilidade na água, o que reduz sua biodisponibilidade para

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Capítulo 5. Resultados e Discussão 74

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

microrganismos e, consequentemente, limita a transferência de massa à biodegradação. A chave

para aumentar a biodisponibilidade de óleos contaminantes é a mobilização do poluente

hidrofóbico através da fase aquosa. Assim, o uso de surfactantes se desenvolve como uma

alternativa para aumentar a solubilidade dos óleos através da dessorção e consequente

mobilização e solubilização de hidrocarbonetos facilitando o transporte, acesso e assimilação

desses compostos pelas células microbianas (SANTOS et al., 2017).

No persente estudo, foi realizado um teste prévio de recuperação de petróleo de areia

contaminada. O experimento consistiu em misturar areia da Praia do Meio, localizada em

Natal/RN, com petróleo e em seguida adicionar a solução de ramnolipídeo (1 g/L). A partir do

ensaio foi possível determinar que o biossurfactante conseguiu remover 16,8 ± 1,6% do

petróleo se comparado ao ensaio controle (areia + petróleo + água destilada).

Pesquisa semelhante, como a desenvolvida por Gudiña et al. (2015a), mostrou que o

ramnolipídeo produzido por Pseudomonas aeruginosa #112 foi capaz de remover petróleo de

amostras de areia usando soluções de biossurfactante com concentrações de 1; 2,5 e 5 mg/mL.

A remoção do óleo foi de 22,1; 43,7 e 55,0%, respectivamente.

Gudiña et al. (2015b) realizaram o mesmo ensaio, mas dessa vez com surfactina

sintetizada por Bacillus subtilis, chegando a valores inferiores (15,3 26,3 e 25,1%) àqueles

obtidos pelo ramnolipídeo. Mais recentemente, Souza et al. (2018) avaliaram a aplicação de

biossurfactantes produzidos por Wickerhamomyces anomalus CCMA 0358 na remoção de

petróleo e conseguiram alcançar 20% de remoção se comparado ao ensaio controle.

Diante dos resultados apresentados pode-se afirmar que o biossurfactante produzido

possui potencial para ser aplicado na biorremediação de solos contaminados com petróleo.

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Capítulo 6

Conclusões

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Capítulo 6. Conclusões 76

Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

6. Conclusões

Neste capítulo, serão apresentadas as conclusões referentes aos resultados obtidos no

estudo e sugestões para trabalhos futuros. As conclusões foram as seguintes:

O cultivo de Pseudomonas aeruginosa AP029-GLVIIA usando glicose como fonte de

carbono obteve maior concentração de ramnolipídeo e biomassa no ensaio 3 (18 g/L de

substrato e 3% de inóculo).

A determinação dos parâmetros cinéticos mostrou que o ensaio 1 (10 g/L e 3%) exibiu

os melhores valores de produtividade em produto (PP), conversão de substrato em

produto (YP/S) e conversão de biomassa em produto (YP/X).

Os testes de emulsificação indicaram que o ramnolipídeo não purificado foi capaz de

formar emulsões em diferentes solventes orgânicos por até 90 dias.

O biossurfactante produzido por P. aeruginosa apresentou respostas satisfatórias para a

redução da tensão superficial e concentração micelar crítica.

O biossurfactante foi eficiente na remoção de petróleo de amostras de areia

contaminadas, mostrando seu potencial para ser usado em biorremediação de áreas

contaminadas com hidrocarbonetos.

O ramnolipídeo purificado apresentou atividade antifúngica contra as espécies Candida

tropicalis e Candida albicans.

Como sugestão para trabalhos futuros, propõe-se a produção de biossurfactantes por

outros microrganismos assim como o uso de resíduos agroindustriais como substrato. Além

disso, faz-se necessário aprofundar o conhecimento acerca do que ocorre durante essa síntese e

uma alternativa é o estudo dos parâmetros cinéticos, bastante importante ao se pensar em

aumento de escala. Outra proposição, seria a de aplicar os biossurfactantes produzidos de modo

a torná-los mais propícios à comercialização.

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Referências Bibliográficas

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Capítulo 7. Referências Bibliográficas 78

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Anexos

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Anexo 90

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

ANEXO I

Curva de calibração do DNS para quantificação da concentração de glicose.

ANEXO II

Curva de calibração da ramnose comercial para quantificação da concentração de

ramnolipídeos.

y = 1,5748x + 0,0188

R² = 0,9968

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70

Co

nce

ntr

açã

o d

e g

lico

se

(g/L

)

Absorbância (540 nm)

y = 0,079x + 0,0029

R² = 0,99970,010

0,020

0,030

0,040

0,050

0,060

0,070

0,080

0,200 0,300 0,400 0,500 0,600 0,700 0,800 0,900

Co

nce

ntr

açã

o d

e ra

mn

ose

(g

/L)

Absorbância (400-430 nm)

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Anexo 91

___________________________________________________________________________ Jaciara Silva de Araújo Dissertação de Mestrado

ANEXO III

Curva de calibração da albumina sérica bovina (BSA) para quantificação da concentração de

proteínas totais.

y = 0,7604x - 0,0134

R² = 0,9822

0,00

0,20

0,40

0,60

0,80

1,00

1,20

0,000 0,200 0,400 0,600 0,800 1,000 1,200 1,400

Co

nce

ntr

açã

o d

e B

SA

(g

/L)

Absorbância (595 nm)