dissertacao_prp.pdf

168
PAULO ROGÉRIO PALO AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA DE MODELOS DE SIMULAÇÃO HIDRÁULICA NA OBTENÇÃO DE INFORMAÇÕES PARA DIAGNÓSTICO DE PERDAS DE ÁGUA. São Paulo - SP 2010

Upload: lucas-veltri

Post on 07-Sep-2015

217 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • PAULO ROGRIO PALO

    AVALIAO DA EFICCIA DE MODELOS DE SIMULAO

    HIDRULICA NA OBTENO DE INFORMAES PARA

    DIAGNSTICO DE PERDAS DE GUA.

    So Paulo - SP

    2010

  • PAULO ROGRIO PALO

    So Paulo - SP

    2010

    Dissertao apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de So

    Paulo para a obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia

    AVALIAO DA EFICCIA DE MODELOS DE SIMULAO

    HIDRULICA NA OBTENO DE INFORMAES PARA

    DIAGNSTICO DE PERDAS DE GUA.

  • PAULO ROGRIO PALO

    So Paulo - SP

    2010

    Orientador:

    Prof. Dr. Kamel Zahed Filho

    Dissertao apresentada Escola

    Politcnica da Universidade de So

    Paulo para a obteno do ttulo de

    Mestre em Engenharia

    AVALIAO DA EFICCIA DE MODELOS DE SIMULAO

    HIDRULICA NA OBTENO DE INFORMAES PARA

    DIAGNSTICO DE PERDAS DE GUA.

    rea de concentrao:

    Saneamento

  • Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob

    responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador.

    So Paulo, de setembro de 2010.

    Assinatura do autor ________________________________________

    Assinatura do orientador ____________________________________

    FICHA CATALOGRFICA

    Palo, Rogrio Paulo

    Avaliao da eficcia de modelos de simulao hidrulica na

    obteno de informaes para diagnstico de perdas de gua /

    P.R. Palo. -- ed.rev. -- So Paulo, 2010.

    169 p.

    Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade

    de So Paulo. Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanit-

    ria.

    1. Perdas de gua 2. Distribuio de gua 3. Modelos mate -

    mticos I. Universidade de So Paulo. Escola Politcnica.

    Depar-tamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria II. t.

  • Dedico este trabalho aos meus pais: Sr. Agostinho Palo (in memoriam) e

    Sra. Marina Rodrigues Palo

  • AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Doutor Milton Tomoyuki Tsutiya (in memoriam), pelos conselhos e

    orientaes.

    Ao Professor Doutor Kamel Zahed Filho, por dar continuidade orientao deste

    trabalho, por sua dedicao, incentivo, anlise cuidadosa, e cujas contribuies

    trouxeram melhorias inegveis a este trabalho.

    Aos Doutores Jos Rodolfo Scarati Martins e Renato Zambon, pela anlise e valorosas

    contribuies a este trabalho em sua fase de qualificao.

    Aos Professores do curso de Ps Graduao, em especial ao Professor Doutor

    Podalyro Amaral de Souza, pelos ensinamentos transmitidos e apoio ao longo do curso.

    Aos funcionrios do Departamento de Engenharia Hidrulica PHD, pela ateno e

    colaborao durante todo o curso.

    Sabesp, na pessoa do superintende Eng. Francisco Paracampos, e do Departamento

    de Engenharia, na pessoa da gerente lide Patella, pela oportunidade de desenvolver

    este trabalho. Ao meu gerente Eng. Fbio Denapoli, pela compreenso e apoio durante

    todo o trabalho.

    Ao Eng. Jos Luiz Lorentz, Eng.Joo Alberto Favero, e Eng Simone Previatelli que me

    apoiaram ao inicio deste trabalho.

    A amiga Eng Dbora Soares Melato e ao amigo Tecg Genival Abdias Carvalho, pela

    ajuda e apoio.

    Ao amigo Tecg Maurcio Suzumura, pela ajuda e apoio na realizao dos ensaios de

    campo e nas trocas de experincias dirias.

    As equipes de tcnicos da Diviso de Controle de Perdas Centro e da Diviso de

  • Cadastro Tcnico Centro, que se empenharam na execuo dos ensaios de campo e

    me apoiaram durante todo o trabalho.

    Ao Polo de Manuteno Vila Prudente na pessoa do gerente Eng Amarildo Miguel, pelo

    apoio nas obras de adequao do distrito de medio e controle.

    A minha esposa Mnica Nobuco Shirayama Palo, pelo apoio, pela pacincia e

    companheirismo.

    Tambm a todos os amigos, colegas e profissionais que contriburam direta ou

    indiretamente para a realizao deste trabalho.

  • "As pessoas no so nobres desde o nascimento,

    mas se enobrecem atravs de suas aes. As

    pessoas no so medocres desde o seu

    nascimento, mas tornam-se assim atravs de suas

    aes. Se existem alguma diferena entre as

    pessoas, ento essa diferena est somente nas

    suas realizaes."

    Dr. Daisaku Ikeda

  • RESUMO

    Atualmente a avaliao das perdas de gua, nos sistemas de distribuio, feita com

    base em equaes empricas, que utilizam informaes, agrupadas e totalizadas, de

    uma rea. Isto torna necessria sua subdiviso em fraes cada vez menores, na busca

    da frao mais crtica. Neste trabalho, apresentada uma avaliao da eficcia do uso

    de modelos de simulao hidrulica na obteno das informaes necessrias para a

    elaborao de um diagnstico de perdas de gua, com uma metodologia prtica para o

    uso de modelos com este objetivo. Apresenta uma classificao dos trechos de rede em

    trs categorias A, B e C, que facilita a priorizao dos trechos mais crticos facilitando a

    anlise por meio de grficos de pareto e mapas temticos. Demonstra que a adoo da

    simulao hidrulica no estudo das causas de perdas de gua, nos sistemas de

    abastecimento, uma ferramenta eficaz e permitir s empresas de saneamento, uma

    melhoria na gesto operacional, que garante a sustentabilidade da empresa, a

    economia dos recursos humanos, econmicos, e principalmente, os hdricos.

    Palavras Chave: Perdas de gua, Distribuio de gua, Modelos matemticos,

    Algoritmos Genticos, Calibrao de Modelo, Simulao Hidrulica, Ensaio de Campo.

  • ABSTRACT

    Currently water losses evaluation in distribution systems, is based on empirical

    equations using information, grouped and totaled, covering whole area. Thus, becomes

    necessary to subdivide the area into smaller and smaller fractions, searching for the

    most critical part. This study presents, the effectiveness evaluation of the hydraulic

    simulation models, use to obtain the information necessary in elaboration diagnosis of

    water losses, with a practical methodology for using models for this purpose. Shows a

    pipe classification in three categories A, B and C, its began possible analyses with

    pareto graphics and thematic maps. Demonstrates that hydraulic simulation adoption is

    an effective tool in the study of water loss in supply systems. It will allow companies an

    operational management improvement, ensuring the sustainability of the business and

    economics of human, financial, and especially, water resources.

    Keywords: water losses, water distribution, mathematical models, genetic algorithms,

    model calibration, hydraulic simulation, experimental test.

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Figura 4.1- Tap Fonte: Mecaltec ............................................................................ 28

    Figura 4.2 - Tipos de vazamentos - Tardelli Filho (2006) .......................................... 28

    Figura 4.3 - Componente de Perdas Reais. Fonte: Thornton et al. (2008) adaptada 30

    Figura 4.4 - Componentes de Perdas Aparentes Fonte: Thornton et al. (2008)

    adaptada ............................................................................................................ 33

    Figura 4.5 - Estruturao para definio de aes para reduo de perdas Farley et al.

    (2003) adaptada. ................................................................................................ 35

    Figura 4.6 - Relao do custo operacional e perdas Fonte: Farley et al. (2003) adaptada

    ........................................................................................................................... 37

    Figura 4.7 NEP para Perda Aparente Fonte: Thornton et al.(2008) adaptada ....... 37

    Figura 4.8 - Ciclo "PDCA" Adaptado de Tardelli Filho (2006) ................................. 40

    Figura 4.9 - Exemplo dos elementos do modelo hidrulico. (EPANET2, 2009) ........ 47

    Figura 4.10 - Uma possvel seqncia de etapas para a utilizao de um aplicativo

    simulador hidrulico. (Walski et al., 2003) adaptada. ......................................... 51

    Figura 4.11 - Alguns Equipamentos utilizados na coleta de dados ........................... 53

    Figura 4.12 - Espaos de codificao e de soluo .................................................. 56

    Figura 4.13 - Questes na codificao e decodificao (Ribeiro, 2005) Adaptada ... 56

    Figura 4.14 - Ciclo dos AGs Gen e Cheng (1997) apud Ribeiro (2005) .................... 58

    Figura 4.15 - Vazo mnima ...................................................................................... 62

    Figura 4.16 - Diagrama do Balano Hdrico IWA ....................................................... 64

    Figura 4.17 - Exemplo de grfico de Pareto(Silva, 2002) .......................................... 71

    Figura 5.1 - Consumo horrio desagregado por pontos de utilizao fonte: (Barreto,

    2008) .................................................................................................................. 78

    Figura 5.2 - Grfico de fator horrio obtido do estudo de (Barreto, 2008). ................ 80

    Figura 5.3 - Agrupamento de demandas nas junes por rea de influncia............ 81

    Figura 5.4 - Verificao dos registros ........................................................................ 82

    Figura 5.5 - Deteco de vazamentos (geofone eletrnico) ...................................... 82

    Figura 5.6 - Conserto de vazamento em ferrule ........................................................ 83

    Figura 5.7 - Esquema de nivelamento geomtrico Fonte: (Jelinek, 2010).............. 83

    Figura 5.8 - Detalhe do interior do PV ....................................................................... 84

    Figura 5.9 - Equipamentos instalados no PV ............................................................ 85

  • Figura 5.10 - Fechamento e lacrao dos registros .................................................. 85

    Figura 5.11 - Ponto de medio de presso.............................................................. 86

    Figura 5.12 - Esquema do ensaio da rugosidade absoluta ....................................... 87

    Figura 5.14 - Esquema do ensaio de FCI e N1 ......................................................... 89

    Figura 5.13 - Exemplo de grfico com valores de fcalculados ................................ 88

    Figura 5.15 - Grfico de N1 ........................................................................................ 91

    Figura 5.16 - Instalao de registrador de presso ................................................... 92

    Figura 5.17 Exemplo de grfico com a faixa de probabilidade dos valores ............ 93

    Figura 5.18 - Junes inseridas para representar os registradores eletrnicos

    WaterGEMS .................................................................................................... 95

    Figura 5.19 - Esquema da estratificao da vazo simulada .................................... 97

    Figura 5.20 - Esquema do balano de vazes .......................................................... 97

    Figura 5.21 - Exemplo da avaliao das presses .................................................. 100

    Figura 5.22 - Exemplo de mapa feito no ArcView Verso 3.2. .............................. 102

    Figura 6.1 - Localizao geogrfica do DMC Fonte: Google Maps (2009) .............. 103

    Figura 6.2 - Altimetria do distrito de medio e controle (DMC) .............................. 104

    Figura 6.3 - Amostra da rede existente no DMC material FF e idade de 48 anos 105

    Figura 7.1 - Grfico comparativo da vazo medida e simulada ............................... 116

    Figura 7.2 - Comparao entre valores horrios medidos e simulados................... 117

    Figura 7.3 - Grfico comparativo dos valores L-02 .................................................. 118

    Figura 7.4 - Grfico comparativo L-03 ..................................................................... 119

    Figura 7.5 - Valores do registrador L03 simulados corrigidos pelo fator k=1,28 ...... 119

    Figura 7.7 Grfico de Pareto da porcentagem de perda total por trecho.............. 128

    Figura 7.8 Grfico de Pareto da perda total e extenso de rede acumuladas......... 129

    Figura 7.9 Grfico de Pareto Perda aparente x Nm. de ligaes acumuladas ...... 129

    Figura 7.10 - FCI x Vazamentos .............................................................................. 132

    Figura 7.11 - Perda por quilometro (L/km)............................................................... 133

    Figura 7.12 -Perda real (L/s) ................................................................................... 134

    Figura 7.13 - Perda aparente (L/s). ......................................................................... 135

    Figura 7.14 FCI x Vazamentos x Perdas . ............................................................ 136

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1 - Histrico da calibrao de modelos hidrulicos..................................... 41

    Tabela 4.2 - Histrico da calibrao de modelos considerando vazamentos ............ 45

    Tabela 4.3 - Elementos comuns em modelagem (Walski et al., 2003) ...................... 47

    Tabela 4.4 - Terminologia dos AGs (Ribeiro, 2005) .................................................. 55

    Tabela 4.5 - Valores de referncia IWA - (Lambert et al., 1998) Adaptada ............... 66

    Tabela 4.6 - Perda real anual inevitvel - (Lambert et al., 1998) Adaptada .............. 67

    Tabela 5.1 - Valores do fator horrio obtido de (Barreto, 2008) ................................ 79

    Tabela 5.2 - Exemplo de dados trabalhados e calculo de ...................................... 88

    Tabela 5.3 Exemplo de dados coletados em campo .............................................. 93

    Tabela 5.4 Exemplo de resultado da avaliao da incerteza ................................. 93

    Tabela 5.5 - Exemplo de planilha de junes ............................................................ 95

    Tabela 5.6 Exemplo da planilha de tubos.................................................................. 96

    Tabela 5.7 - Exemplo de tabulao de resultados .................................................... 99

    Tabela 6.1 - Dados fornecidos pelo controle sanitrio Fonte:(Sabesp, 2009) ......... 106

    Tabela 6.2 - Resumo dos valores mdios e as 12 horas......................................... 110

    Tabela 7.2 Trechos com vazamentos comprovados ............................................ 126

    Tabela 7.3 - Trechos com vazamentos no comprovados ...................................... 126

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ABENDE Associao Brasileira de Ensaios No Destrutivos

    ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas

    AG (AGs) Algoritmo Gentico (plural)

    AWWA American Water Works Association

    BABE Bursts and Background Estimates

    BH Balano Hdrico

    DMC Distrito de Medio e Controle

    EPI (EPIs) Equipamento de Proteo Individual (plural)

    FAVAD Fixed and Variable Area Discharge

    FCI Fator de Condio de Infraestrutura

    FND Fator Noite/Dia

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IPDT ndice de Perdas na Distribuio Total

    IWA International Water Association

    MASP Metodologia de Anlise para a Soluo de Problemas

    N1 Coeficiente exponencial da relao vazo/presso

    NEP Nvel Econmico de Perdas de gua

    NPSH Abreviao em Ingls de Net positive suction head

    P Presso mdia de operao

    PDCA Sigla em Ingls de Plan, Do, Check and Action

    PV Poo de Visita

    Q Vazo

    RMSP Regio Metropolitana de So Paulo

    Sabesp Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo

    TAP Nome em ingls para dispositivo que permite tirar gua de um tubo

    VMN Vazo Mnima Noturna

    VRP Vlvula Redutora de Presso

  • LISTA DE SMBOLOS

    Acelerao da gravidade

    Balano de vazes na juno do extremo A do trecho considerado

    Balano de vazes na juno do extremo B do trecho considerado

    1 Coeficiente exponencial da relao vazo/presso

    Consumo mnimo vazo mnima noturna

    Dimetro interno da tubulao

    Espessura da rugosidade interna absoluta da tubulao aps

    0 Espessura da rugosidade interna absoluta da tubulao nova

    LP Extenso de ramal da testada do imvel at o medidor

    L Extenso de rede

    Fator de atrito da equao de DarcyWeisbach de perda de carga

    Fator de Condio de Infraestrutura

    Fator de correo de demanda mdia

    Fator de pesquisa

    Fator de tempo pressurizado dirio

    Fator noite/dia

    Incerteza da srie de registros naquele horrio

    N Nmero de ligaes no trecho considerado

    Nmero de Reynolds

    Perda aparente

    Perda de carga distribuda

    Perda por quilometro

    Perda real

    Perda real anual inevitvel

    Perda total de gua

    Perodo de tempo

    Potencial hidrogeninico mdio das amostras de gua

    mH2O Presso em metros de coluna de gua

    Presso mdia

    Presso mdia de operao

  • 34 Presso mdia entre 3 e 4 horas

    0 Presso no instante 0

    1 Presso no instante 1

    Presso no ponto mdio

    Rugosidade absoluta terica

    Somatria dos consumos mensais de cada ligao numa juno

    Taxa de crescimento da aspereza

    Valor mdio horrio

    Valor observado

    Vazo mdia de perda inerente diria

    Vazo de perda inerente para rede, padro IWA

    Vazo de perda inerente para ramal, padro IWA

    Vazo de perda real inevitvel

    Vazo de vazamentos

    0 Vazo de vazamentos presso 0

    1 Vazo de vazamentos presso 1

    Vazo de vazamentos inerentes

    Vazo mdia

    Vazo mdia de demanda horria numa juno

    Vazo mdia de perda real diria

    Vazo mdia numa juno

    Vazo mnima noturna

    Vazo que entra nas junes extremas do trecho considerado

    Vazo que sai das junes extremas do trecho considerado

    Vazo total consumida no trecho

    Vazo total fornecida ao trecho

    Vazo total no trecho

    Vazes consumidas

  • SUMRIO

    1 APRESENTAO .............................................................................................. 20

    2 INTRODUO ................................................................................................... 22

    3 OBJETIVO ......................................................................................................... 25

    3.1 Objetivo geral.................................................................................................. 25

    3.2 Objetivos especficos ...................................................................................... 25

    4 REVISO BIBLIOGRFICA ............................................................................... 26

    4.1 Perdas de gua .............................................................................................. 26

    4.1.1 Causas das perdas de gua ..................................................................... 27

    4.1.2 Perdas reais .............................................................................................. 27

    4.1.3 Perdas aparentes ...................................................................................... 29

    4.2 Aes para combate as perdas reais ............................................................. 29

    4.2.1 Gerenciamento de presses ..................................................................... 31

    4.2.2 Controle ativo de vazamentos ................................................................... 31

    4.2.3 Reparo de vazamentos, melhoria da tcnica e de materiais. .................... 31

    4.2.4 Manuteno e reabilitao da infraestrutura. ............................................ 31

    4.3 Aes para combate s perdas aparentes ..................................................... 32

    4.3.1 Manuteno da macromedio ................................................................. 32

    4.3.2 Manuteno da micromedio .................................................................. 34

    4.3.3 Gesto comercial ...................................................................................... 34

    4.3.4 Elaborao de um programa de controle de perdas ................................. 35

    4.4 Modelagem matemtica de sistemas de distribuio de gua ....................... 40

    4.4.1 Montagem da topologia da rede no modelo .............................................. 46

    4.5 ALGORITIMOS GENTICOS ......................................................................... 54

    4.5.1 Funcionamento dos AGs. .......................................................................... 57

    4.6 Modelagem matemtica de perdas de gua ................................................... 59

    4.6.1 Mtodo Fixed and Variable Area Discharge (FAVAD) ............................ 60

  • 4.6.2 Mtodo Vazo mnima noturna (VMN) ...................................................... 61

    4.6.3 Mtodo do balano hdrico (BH) ............................................................... 63

    4.7 Mtodos de avaliao de volume perdido ...................................................... 65

    4.7.1 Perda real inerente.................................................................................... 65

    4.7.2 Perda real anual inevitvel ........................................................................ 66

    4.7.3 Controle ativo de vazamentos ................................................................... 67

    4.8 AVALIAO DOS DADOS DE UMA REA ................................................... 68

    4.8.1 MAPAS TEMTICOS................................................................................ 68

    4.9 GRFICOS DE PARETO ............................................................................... 70

    5 MATERIAIS E MTODOS ................................................................................. 73

    5.1 Introduo ....................................................................................................... 73

    5.2 Materiais ......................................................................................................... 75

    5.2.1 Microcomputadores e aplicativos utilizados .............................................. 75

    5.2.2 Construo do modelo no aplicativo de simulao hidrulica ................... 75

    5.2.3 Ensaios e medies de campo ................................................................. 76

    5.2.4 Tratamento de dados, simulao e anlise. .............................................. 77

    5.3 Mtodo ............................................................................................................ 77

    5.3.1 Carregamento das demandas ................................................................... 77

    5.3.2 Ensaios e medies em campo ................................................................ 81

    5.3.3 Tratamento dos dados coletados e determinao das incertezas ............ 92

    5.3.4 Calibrao do modelo com uso da ferramenta Darwin Calibrator........... 94

    5.3.5 Avaliao de perdas.................................................................................. 96

    5.3.6 Anlise da eficcia dos resultados no diagnstico de perdas de gua ..... 98

    5.3.7 Mapas temticos ..................................................................................... 100

    6 ESTUDO DE CASO APLICAO EM UM DISTRITO DE MEDIO E CONTROLE ........................................................................................................ 103

    6.1 CARACTERISTICA GEOGRFICA .............................................................. 103

    6.2 CARACTERISTICA FISICA .......................................................................... 104

    6.3 CARACTERISTICA OPERACIONAL ............................................................ 106

  • 6.4 ENSAIOS DE CAMPO .................................................................................. 107

    6.5 SIMULAO HIDRULICA .......................................................................... 111

    7 RESULTADOS E DISCUSSES ..................................................................... 112

    7.1 AS DIFICULDADES E AS SOLUES ADOTADAS ................................... 112

    7.1.1 Dificuldade na coleta de dados de campo .............................................. 113

    7.1.2 Dificuldade de realizao de ensaios de campo ..................................... 113

    7.1.3 Falha na estanqueidade da rea ............................................................ 115

    7.1.4 Demora na simulao em perodo estendido pelo WaterGEMS .......... 115

    7.2 COMPARATIVO ENTRE AS GRANDEZAS MEDIDAS E SIMULADAS ....... 115

    7.2.1 Medio de vazo ................................................................................... 116

    7.2.2 Medio de presso ................................................................................ 117

    7.3 A AVALIAO DAS PERDAS ...................................................................... 120

    7.4 DISCUSSO SOBRE O USO DOS RESULTADOS NO DIAGNSTICO DE PERDAS DE GUA. ........................................................................................... 124

    7.4.1 Comprovaes na previso de vazamentos. .......................................... 126

    7.4.2 As presses simuladas com as medidas no sistema real. ...................... 126

    7.4.3 A vazo fornecida simulada e a medida na entrada do sistema real. ..... 127

    7.4.4 A rugosidade absoluta terica e a obtida no ensaio de campo. .............. 127

    7.4.5 Anlises com grficos de Pareto ............................................................. 128

    7.4.6 Os mapas temticos ............................................................................... 129

    8 CONCLUSES ................................................................................................ 137

    9 REFERENCIA BIBLIOGRFICA ...................................................................... 138

    10 BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................. 142

    APNDICE A CCULO DA INCERTEZA DA MEDIO... 143

    APNDICE B RESUMO EXECUTIVO..... 149

    APNDICE C CONTEDO DO CD. 169

  • 20

    1 APRESENTAO

    O autor formado em engenharia civil e trabalha na Companhia de Saneamento Bsico

    do Estado de So Paulo Sabesp h dezessete anos. Nos ltimos anos desenvolve

    seus trabalhos na Diviso de Controle de Perdas Centro. Com o conhecimento e a

    experincia adquiridos na vivncia cotidiana de atividades relacionadas a reduo das

    perdas de gua, e no uso de softwares de simulao hidrulica, viu na modelagem

    matemtica, de sistemas de distribuio de gua, uma possvel ferramenta para auxiliar

    no diagnostico operacional e de perdas em uma determinada rea. Na atualidade, as

    perdas so avaliadas por equaes empricas cujos dados so anualizados, ou seja,

    totalizados por ano. Isto feito para diluir o efeito da sazonalidade no abastecimento, e

    a diferena entre os perodos de leitura do volume fornecido e o consumido na rea.

    Desta forma a avaliao de uma rea, sem ou com menos de um ano de dados

    histricos, demorada, uma vez que os valores devem ser considerados em perodos

    completos de 12 meses, e ao mesmo tempo, imprecisa, pois o resultado representa o

    passado da rea e abrange a sua totalidade. necessria a repetio da avaliao em

    partes cada vez menores na busca da frao mais crtica.

    Surgiu ento a ideia de desenvolver este trabalho, que avalia a eficcia da aplicao de

    modelos de simulao hidrulica apoiado em dados de campo, para o diagnstico

    operacional e de perdas em uma rea. A simulao do comportamento hidrulico do

    abastecimento, obtida com a utilizao de amostragem dos dados reais medidos em

    campo, fornece resultados por trecho de rede, o que permite priorizar e direcionar as

    aes nos trechos onde haver reduo significativa de perdas, sem a necessidade de

    subdividir a rea e repetir a avaliao, trazendo os melhores resultados. As perdas so

    geradas por fatores: fsicos, comportamentais e ambientais. Estes influem diretamente

    nos valores medidos no sistema de abastecimento real. Na simulao, estes fatores

    esto implcitos nos dados de campo que so utilizados pelo algoritmo gentico para

    representar o comportamento do sistema real. Desta forma, torna-se premente saber

    qual o grau de confiana apresentados pelos resultados obtidos da simulao para a

    avaliao da rea em estudo.

  • 21

    A eficcia da simulao hidrulica avaliada pela comparao entre os vazamentos

    detectados e os resultados obtidos na simulao hidrulica, cujo comportamento

    hidrulico foi aproximado por meio de algoritmo gentico.

    Este trabalho contribui para a adoo da simulao hidrulica no estudo das causas de

    perdas de gua nos sistemas de abastecimento, bem como demonstra como selecionar

    os trechos, nos quais os investimentos em aes de reduo de perdas reais ou

    aparentes, ou ambas, traro a melhor relao custo-benefcio.

    A utilizao dos modelos de simulao hidrulica, com o enfoque dado neste trabalho,

    permitir as empresas de saneamento, uma gesto operacional que busca a excelncia

    na distribuio de gua. Esta busca tem a reduo de perdas, como um dos pontos de

    maior destaque, pois est relacionada : reduo de despesas, investimentos

    assertivos, e manuteno preventiva. Estas aes garantem a sustentabilidade da

    empresa e economia dos recursos hdricos.

  • 22

    2 INTRODUO

    A modelagem matemtica ou computacional tem evoludo significativamente com o

    aumento da capacidade e da velocidade de processamento dos computadores, que

    permitiram a manipulao de uma grande quantidade de dados e a realizao de series

    de clculos com grande velocidade e preciso. O uso de modelos matemticos teve

    com isso uma arrancada significativa, o que permitiu o desenvolvimento e aplicao em

    diversas reas.

    Junto da evoluo tecnolgica da modelagem matemtica, o combate s perdas de

    gua tornou-se ao indispensvel para todas as companhias de saneamento, pois

    como j foi amplamente divulgado, a escassez de recursos hdricos uma realidade

    nos grandes centros urbanos, como a Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP).

    Entretanto, no combate s perdas, so necessrias aes com um alto custo em sua

    execuo, por exemplo, a revitalizao da infraestrutura, a instalao de vlvulas

    redutoras de presso, a deteco e consertos de vazamentos, dentre outras. Para

    tanto, imprescindvel que haja uma definio acertada das reas onde a aplicao de

    aes de combate a perdas, trar os bons resultados que justificam e viabilizam o

    investimento com a reduo dos volumes perdidos.

    Nos dias de hoje, com o acelerado crescimento dos centros urbanos, torna-se premente

    acompanhar este ritmo na adoo das medidas. Para isso, indispensvel um bom

    diagnstico de perdas, que apresente informaes que subsidiem a seleo mais

    precisa de aes, a serem aplicadas na a rea em estudo.

    Para o diagnstico de perdas, so realizadas vrias atividades, envolvendo um nmero

    significativo de profissionais. Entre elas, fazem parte os ensaios de campo, que visam

    obter o valor de algumas das variveis necessrias para o conhecimento do sistema em

    estudo. Determinados valores so de fcil obteno, enquanto que outros possuem um

    alto grau de complexidade, pois so dependentes de fatores diversos, tais como:

    hidrulicos, geogrficos e comportamentais. Como exemplo, pode-se citar a demanda

  • 23

    horria que influenciada pelo clima, costumes e hbitos dos clientes. O ensaio de

    campo um trabalho demorado e regularmente incorre na necessidade de intervenes

    na rede de distribuio, e no abastecimento, o que pode gerar incmodos aos clientes.

    Por exemplo, nos testes para a determinao do fator de condio da infraestrutura

    (Fci), necessrio o fechamento de todas as ligaes, durante a execuo do teste, ou

    seja, por um perodo aproximado de oito horas, e contar com a mobilizao de tcnicos

    e ajudantes.

    Um modelo matemtico representa ou interpreta simplificadamente a realidade,

    apresenta uma viso ou cenrio baseado nas informaes coletadas em campo. Assim,

    a aplicao dos modelos permite o estudo do comportamento hidrulico nos mais

    diversos cenrios, e a anlise em situaes nas quais impossvel testar ou medir as

    diversas solues possveis. Evita gastos maiores na criao de modelos experimentais

    ou a aplicao de profissionais para testes em campo, ou em extensos clculos

    analticos.

    A aplicao de modelos matemticos no saneamento bsico est bastante disseminada

    e se desenvolve rapidamente. Existem aplicativos para a simulao hidrulica como,

    por exemplo, WaterCAD da Haestad Methods, que em Agosto de 2004, fundiu-se a

    Bentley Systems, e o EPANET da U.S. Environmental Protection Agency. Eles

    oferecem aos profissionais maior rapidez na execuo dos modelos e anlises com

    maior nvel de detalhamento.

    Com a simulao hidrulica, so obtidos resultados que permitem avaliar e conhecer o

    comportamento hidrulico do sistema. A criao de cenrios atuais e futuros

    demonstram quais aes traro o maior retorno financeiro e operacional, mesmo sem

    se ter executado as aes planejadas.

    Na montagem da topologia da rede de distribuio feita no modelo, tem-se

    necessariamente que coletar vrias informaes da rea, o que por si s, ajuda no

    conhecimento e caracterizao da rea em estudo, auxiliando no diagnstico de perdas.

    As informaes tcnicas e as comerciais so coletadas e inseridas na topologia do

    modelo. Por exemplo, do cadastro tcnico so obtidos os materiais e idades das

  • 24

    tubulaes e do comercial os consumos mensais por tipo de cliente.

    Comensurando a obteno de informaes para o clculo das perdas de gua, atravs

    de modelos de simulao hidrulica e dos mtodos tradicionais, no primeiro a aquisio

    com mais rapidez e menor investimento de recursos, tanto financeiros quanto

    humanos, o que nos dias atuais representa uma grande vantagem.

    No Brasil, a preocupao com a reduo das perdas teve incio na dcada de 1970, e

    h poucas publicaes nacionais sobre o assunto. Internacionalmente, a reduo de

    perdas se iniciou no sculo XIX. Um marco importante foi criao da Fora Tarefa de

    Perdas de gua (Water Loss Task Force) da International Water Association (IWA) em

    1996, em Londres (Inglaterra), cujo objetivo desenvolver e promover as melhores

    prticas internacionais em gerenciamento de perdas de gua. Como referncias

    internacionais de melhores prticas em perdas, destacam-se o Japo e a Inglaterra.

    A modelagem hidrulica pode simular a operao do sistema, e assim presumir as

    informaes necessrias para o clculo das perdas. Proporciona a elaborao do

    diagnstico das perdas de gua e o direcionamento de aes nos trechos mais crticos.

    Possibilita a anlise e avaliao das condies operacionais do sistema em estudo,

    proporcionando detectar desvios da realidade causados por alteraes das condies

    operacionais (fechamentos de registros, alterao de demandas, novos

    empreendimentos, etc.), com a aproximao do comportamento hidrulico por meio de

    algoritmo gentico com parmetros levantados em campo. Desta forma, o

    comportamento do sistema real reproduzido, o que permite a elaborao do

    diagnstico operacional do sistema.

    O modelo pode apoiar as estratgias de investimento por meio de uma anlise de custo

    benefcio, apoiada nos resultados simulados. Isto porque aplicando os resultados na

    elaborao de grficos de Pareto e mapas temticos, facilitam a identificao de trechos

    de rede nos quais so necessrias, a deteco de vazamentos ou recuperao

    estrutural. O modelo permite o clculo das variveis necessrias para estimar as perdas

    pelo mtodo da IWA, o que permite comparar os resultados na rea em estudo com

    outras reas estudadas internacionalmente.

  • 25

    3 OBJETIVO

    3.1 Objetivo geral

    O presente trabalho tem por objetivo, avaliar a eficcia da utilizao de modelos de

    simulao hidrulica de sistemas de abastecimento, apoiados em levantamentos de

    dados hidrulicos de campo, na obteno de informaes para elaborao do

    diagnstico de perdas de um sistema de distribuio de gua.

    3.2 Objetivos especficos

    Demonstrar a eficcia na obteno de informaes para diagnstico de perdas

    por meio de modelos de simulao hidrulica.

    Apresentar uma metodologia para o uso de modelos de simulao hidrulica, na

    obteno de informaes para a elaborao de um diagnstico de perdas.

  • 26

    4 REVISO BIBLIOGRFICA

    Neste captulo sero apresentados os seguintes tpicos:

    Perdas de gua:

    o Definio, causas e tipos;

    o Aes para combate s perdas reais de gua;

    o Aes para combate s perdas aparente de gua;

    o Elaborao de um plano de perdas;

    o Nvel econmico de perdas;

    Modelagem matemtica de sistema de distribuio de gua;

    Algoritmos genticos;

    Modelagem matemtica de perdas de gua;

    o Mtodo FAVAD;

    o Mtodo da Vazo Mnima Noturna;

    o Mtodo do Balano Hdrico.

    Mtodo de avaliao do volume perdido;

    o Perda real inerente;

    o Perda real inevitvel;

    Mapas temticos;

    Grficos de Pareto.

    4.1 Perdas de gua

    Segundo Alegre et al. (2006), as perdas de gua o volume referente diferena entre

    a gua entregue ao sistema de abastecimento e os consumos autorizados, medidos e

    no medidos, faturados ou no faturados. As perdas de gua se dividem em dois

    grupos:

    a) A perda real corresponde ao volume de gua produzido que no chega ao

    consumidor final devido ocorrncia de vazamentos nas adutoras, redes de

    distribuio e reservatrios, bem como de extravasamentos em reservatrios

    setoriais (Tardelli Filho, 2006).

  • 27

    b) A perda aparente so volumes efetivamente consumidos que por algum motivo

    no foram contabilizados pela companhia de saneamento (Tardelli Filho, 2006).

    4.1.1 Causas das perdas de gua

    A perda de gua entendida pela maioria das pessoas como sendo vazamentos nas

    tubulaes de distribuio. Entretanto, a perda de gua acontece em diversas

    situaes, e para seu entendimento, necessrio conhecer as vrias causas que as

    produzem.

    4.1.2 Perdas reais

    As causas mais comuns das perdas reais segundo a AWWA (1999) so:

    Materiais de m qualidade ou com defeito de fabricao, seja nas juntas ou na

    vedao ou ainda apresentar bordas e superfcie irregulares.

    Rompimento da tubulao devido ao assentamento em base irregular contendo

    pedras em contato com os tubos falta de uma vedao efetiva nas juntas, danos

    causados por trfego pesado ou ainda defleco excessiva nas juntas.

    Erros operacionais, excesso de presso, abertura ou fechamento rpido de

    vlvulas causando transiente hidrulico.

    Corroso interna devido a agentes agressivos na gua ou externa devido falta

    ou insuficincia de proteo contra corroso ou solo e/ou lenol fretico

    agressivo.

    Vazamentos em componentes dos elementos da tubulao como vlvulas,

    ventosas, hidrantes, etc. Que se dividem em:

    Danos acidentais ou deliberados a hidrantes e tap (nome em ingls para

    dispositivo que permite tirar gua de um tubo ou barril, utilizado tambm para a

    insero de medidores, ver Figura 4.1).

    Os vazamentos so classificados segundo a ABENDE (2003), em:

    Vazamentos visveis;

    Vazamentos no visveis.

    Os vazamentos no visveis so ainda subdivididos em detectveis e no detectveis

  • 28

    (ou inerentes). A Figura 4.2 apresenta os tipos de vazamentos e as aes para elimin-

    los ou reduzi-los (Tardelli Filho, 2006).

    Figura 4.1- Tap Fonte: Mecaltec

    Figura 4.2 - Tipos de vazamentos - Tardelli Filho (2006)

    Em cada sistema de abastecimento o nmero e a importncia relativa destes trs

    componentes de perdas reais (vazamentos visveis, no visveis e inerentes)

    apresentam caractersticas diferentes, e no h situao normal para anlise. Fatores

    como condies fsicas do terreno, solo, topografia, material das tubulaes e presso

    de operao da rede afetam a proporo entre as parcelas de perdas responsveis por

    cada tipo de vazamento (Farley et al., 2003).

  • 29

    4.1.3 Perdas aparentes

    Segundo Tardelli Filho (2006), as causas das perdas aparentes so:

    Erros dos medidores de vazo: todo medidor de vazo possui uma incerteza

    na medida apresentada, expressa geralmente em porcentagem. Essa incerteza

    definida dentro de uma faixa de trabalho. Se o medidor estiver operando fora

    desta faixa de trabalho, as incertezas em sua medio podem ser maiores do

    que o previsto. Existem outros fatores que geram erros nos medidores, por

    exemplo, a instalao inadequada, a descalibrao, o dimensionamento

    inadequado, a m avaliao da faixa de trabalho, problemas fsicos na instalao

    do elemento primrio ou do secundrio e problemas na coleta ou transmisso

    dos dados.

    Erros de cadastro comercial: relaciona-se ao registro da ligao na companhia

    de saneamento. Ele contm todas as informaes que caracterizam o uso da

    gua, localizao da ligao, tipo de ligao, etc. Se o cadastro comercial

    possuir erros, a avaliao dos consumos fica prejudicada. de suma importncia

    mante-lo sempre atualizado e com informaes confiveis.

    Ligaes clandestinas: so ligaes existentes sem cadastro comercial.

    Fraudes: so ligaes existentes com cadastro comercial, porm com alguma

    irregularidade em seu consumo, ou seja, o volume medido no corresponde ao

    volume real consumido. Isso pode acontecer por meio de by pass no cavalete,

    manipulao do hidrmetro, entre outras aes.

    Uso Irregular de Hidrantes: constitui o uso inadequado de hidrantes por

    pessoas ou empresas que abastecem caminhes-pipa para uso prprio ou

    comercial.

    4.2 Aes para combate as perdas reais

    Segundo Lambert et al. (1998), a condio da infraestrutura da rede de distribuio de

    gua claramente um dos fatores que determinam o volume de perdas reais no

    sistema de distribuio. Alguns pontos devem ser observados desde os estudos de

    concepo do sistema para reduzir as perdas:

  • 30

    Escolha adequada do material do tubo, levando em considerao a qualidade da

    gua e as condies do solo ao redor da tubulao;

    Obedecer s especificaes na execuo do servio, obedecendo aos limites

    definidos em projeto para o assentamento, no torque no aperto das juntas

    roscadas e nos parafusos de flanges;

    Cuidados de transporte e manuseio dos tubos quando em transporte ou

    estocado;

    Qualidade na execuo de reparos na tubulao e em suas juntas;

    Controle de presso: quando a tubulao entra em carga, fica sujeita a esforos

    repetitivos de presso, o que potencializa o surgimento de vazamentos tanto nas

    juntas como por rompimentos.

    Cada sistema de abastecimento possui caractersticas prprias que definem quais

    aes proporcionaro reduo de perdas e manuteno a um nvel aceitvel (Tardelli

    Filho, 2006). No combate as perdas reais existem basicamente quatro principais

    componentes ilustrados na Figura 4.3, que so: Gerenciamento de presses, Controle

    Ativo de Vazamentos, Rapidez e Qualidade no Reparo de Vazamentos e Melhoria da

    Tcnica e Materiais, Manuteno e Reabilitao da Infraestrutura.

    Figura 4.3 - Componente de Perdas Reais. Fonte: Thornton et al. (2008) adaptada

  • 31

    4.2.1 Gerenciamento de presses

    A presso um dos principais fatores que influenciam o nmero e a vazo de

    vazamentos. A operao com nveis de presso que atendam aos mnimos

    especificados para as horas de consumo mximo representa um bom referencial para

    se balizar. Devem atender s exigncias das normas quanto mnima e mxima

    presso, que atualmente so 10 e 50 mH2O, respectivamente. As alternativas que se

    ajustam a esta situao so: setorizao, o emprego de vlvulas redutoras de presso

    (VRP) e boosters, desde que bem especificados e operados. Estes apresentam

    elevada relao custo benefcio, alm de grande flexibilidade para se adaptar s

    variaes de demandas que ocorrem diariamente em uma rea.

    4.2.2 Controle ativo de vazamentos

    O Controle Ativo de Vazamentos representa a ao sistemtica desenvolvida no sentido

    de localizar os vazamentos no visveis, atravs de mtodos acsticos de pesquisa. O

    principio bsico de deteco acstica ouvir o rudo do vazamento.

    4.2.3 Reparo de vazamentos, melhoria da tcnica e de materiais.

    um fator de alta responsabilidade da companhia de saneamento possuir uma

    infraestrutura e logstica tal que permita corrigir o problema no menor prazo possvel. E

    que seja vivel do ponto de vista econmico. As bases para a definio de metas

    relativas ao intervalo de tempo entre a identificao do vazamento e o seu conserto

    mudam de local para local, dependendo da extenso de rede, quantidade de

    vazamentos, condies internas das companhias e tambm de fatores externos. O

    tempo normalmente adotado pelas companhias est entre 10 e 24 horas, em sistemas

    com boa gesto operacional.

    4.2.4 Manuteno e reabilitao da infraestrutura.

    Considera se, em projeto, que a vida til das redes de distribuio seja, em geral, de 50

    anos. Para os ramais, adotado um tempo de vida til bem menor j que eles esto

    sujeitos a mais fatores agressivos que as tubulaes. A manuteno e reabilitao da

  • 32

    infraestrutura se fazem por meio de duas aes bsicas que segundo Tardelli Filho

    (2006) so:

    Troca de Rede: geralmente exigindo mtodos de execuo no destrutivos.

    Pode ter dois objetivos:

    Melhoria das condies hidrulicas da tubulao, substituindo trechos

    com elevada incidncia de incrustaes;

    Melhoria das condies estruturais da tubulao, substituindo trechos

    com elevada incidncia de vazamentos.

    Reabilitao de tubulaes: feita por meio da limpeza e revestimento da rede.

    Na maioria das vezes, tem por objetivo melhorar as condies hidrulicas, ou

    seja, procura-se garantir o escoamento com a menor perda de carga, em redes

    cujas condies estruturais (fsicas) sejam satisfatrias.

    4.3 Aes para combate s perdas aparentes

    As perdas aparentes produzem uma variao no volume contabilizado pelas

    companhias de saneamento, seja no volume macromedido quanto no micromedido.

    Requerem aes especiais, pois so oriundas de fatores que possuem caractersticas

    relacionadas metodologia de medio dos volumes e gesto comercial. As aes

    bsicas na reduo de perdas aparentes so apresentadas na Figura 4.4, que so:

    manuteno da macro e micro medio, gesto comercial, reduo de fraudes e

    qualificao da mo de obra.

    4.3.1 Manuteno da macromedio

    A macromedio fundamental numa companhia de saneamento, pois subsidiam

    dados importantes para o diagnstico operacional, quantificao de dosagens de

    produtos qumicos, e indicadores qualitativos e quantitativos da companhia.

    importante ter no sistema de abastecimento pontos de medio (Tap ou registro de

    derivao) que sero utilizados em:

    a) Medies em distritos de medio e controle (DMC), que so reas da rede de

    distribuio obtida pelo fechamento permanente de vlvulas limtrofes, na qual a

  • 33

    quantidade de gua que entra ou sai medida (IWA, 2007). Na NBR 12.218

    denominado como Setor de Medio. No caso de fechamento temporrio de

    vlvulas limtrofes para obteno de dados (ensaios de campo), denominado

    DMC temporrio, devendo ser menor que o DMC permanente, mas garantindo

    uma vazo mnima que permita sua medio atravs de medidores fixos ou

    portteis (IWA, 2007);

    b) Trabalhos de calibrao in loco dos macromedidores. A manuteno peridica

    dos macromedidores (especialmente os deprimogneos) muito importante para

    garantir a confiabilidade nas leituras obtidas. Grande parte da impreciso dos

    medidores se d por falhas na manuteno (90%), e o restante resulta de

    problemas na instalao do mesmo (10%). A calibrao do medidor j se faz

    necessrio logo no inicio de operao e posteriormente deve ser feita

    periodicamente com uma frequncia mnima anual.

    Segundo Tardelli Filho (2006), a calibrao in loco com pitometria incorpora uma

    impreciso da ordem de 2%.

    Figura 4.4 - Componentes de Perdas Aparentes Fonte: Thornton et al. (2008) adaptada

  • 34

    4.3.2 Manuteno da micromedio

    A troca de Hidrmetros de grande importncia na reduo de perdas aparentes. O

    envelhecimento do hidrmetro ocasiona perda gradativa da preciso da medio e

    aumenta a perda aparente. H trs situaes bsicas para a troca:

    a) Manuteno corretiva: a prioridade deve ser dada manuteno corretiva, uma

    vez que neste caso no h leitura e o consumo fica estimado pela mdia

    histrica;

    b) Manuteno preventiva: realizada quando os medidores atingem o limite de sua

    vida til;

    c) Adequao: a adequao dos hidrmetros faixa de consumo uma ao muito

    importante, e deve ser avaliada atravs da comparao do perfil de consumo da

    ligao levantado com os parmetros nominais do hidrmetro, principalmente

    para os de grande capacidade.

    Outro fator a ser avaliado, a verificao da inclinao do hidrmetro, que

    negligenciada na maioria das companhias de saneamento, gerando um fator de

    submedio que poderia ser evitado (Tardelli Filho, 2006).

    4.3.3 Gesto comercial

    A reduo de perdas requer investimentos no gerenciamento da micromedio,

    avaliao de consumos pblicos e prdios prprios, pesquisa de fraudes, gesto de

    grandes consumidores, pesquisa de vazamentos e formao e manuteno de equipe

    dedicada ao controle de perdas (Gomes et al., 2007).

    A gesto comercial diz respeito a atividades voltadas a recuperao de perdas

    aparentes, segundo Fontanazza, Freni, & La Loggia (2009), a perda aparente e

    causada por fraudes e erros na contabilizao dos volumes consumidos autorizados,

    faturados e no faturados (medidos e estimados). Farley & Trow (2003), apresentam a

    perda aparente como sendo consumos ilegais e erros de medio.

    O cadastro comercial uma fonte de informaes importantes sobre os tipos de

    clientes, da manuteno e troca dos hidrmetros, e combate s ligaes inativas, aes

    que atacam diretamente s perdas aparentes.

  • 35

    Segundo Tardelli Filho (2006), a gesto comercial compreende as seguintes atividades:

    a) Cadastramento apropriado de novas ligaes;

    b) Procura de falhas no cadastro comercial, para eliminar ligaes inativas,

    clandestinas e fraudes;

    c) A atualizao cadastral do tipo de ocupao do imvel (residencial, comercial,

    pblico ou industrial), o que reflete tambm na poltica tarifria;

    d) Combate s fraudes que deve ser constante, pois uma vez que se demonstre

    fragilidade nesta ao o numero de fraudadores tende a aumentar;

    e) Manuteno e troca dos hidrmetros.

    A perda aparente possui outro fator importante alm dos j descritos, pois o faturamento

    dos volumes de esgoto coletado feito a partir do volume de gua consumido. Assim

    para cada unidade de perda aparente recuperada, equivale a duas unidades no

    faturamento.

    4.3.4 Elaborao de um programa de controle de perdas

    Farley et al. (2003) propuseram uma estruturao geral para a definio de estratgias

    de reduo de perdas (ver Figura 4.5).

    Figura 4.5 - Estruturao para definio de aes para reduo de perdas Farley et al. (2003) adaptada.

  • 36

    Baixar as perdas de gua a busca de todas as companhias de saneamento. Contudo,

    sempre haver as perdas inevitveis, causadas pelos vazamentos no detectveis (ou

    inerentes).

    Para chegar a esse nvel de perdas necessrio um grande aporte financeiro que se

    torna invivel do ponto de vista econmico. Assim, o programa de perdas visa atingir o

    nvel economicamente vivel, atravs da avaliao de aes espacializadas, integradas

    e sequenciais, buscando os melhores resultados.

    Segundo Farley et al. (2003) o mais importante na definio de uma estratgia de

    combate aos vazamentos definir qual o nvel de perdas se deseja atingir e por quanto

    tempo possvel mante-lo.

    Segundo Tardelli Filho (2006), a importncia deste processo est em que as decises

    devem ser tomadas baseadas em indicadores e anlises criteriosas dos resultados,

    como definidora das aes. O incio de qualquer programa pressupe o conhecimento

    do problema a enfrentar.

    Para isso, sero necessrios levantamentos de campo e estimativas para se chegar aos

    nmeros representativos de cada setor, que definiro as linhas de ao mais

    adequadas para cada caso. Para todos os setores, existe um nvel de perdas o qual

    economicamente aceitvel que chamado nvel econmico de perdas (NEP).

    Muito tem sido escrito sobre a teoria do NEP, que consiste na avaliao do custo para

    reduzir um metro cbico de perda, e o custo equivalente do metro cbico de gua. E

    tambm sobre os mtodos para estimar seu valor.

    O NEP deve ser avaliado levando em conta a perda real e a aparente. A Figura 4.6,

    apresenta a relao entre os custos operacionais e das perdas reais de um modo geral.

    Quanto menor a perda, mais onerosa fica a deteco de vazamentos, pois o nmero de

    vazamentos detectveis diminui e so necessrios esforos maiores e mais tecnologia

    para encontr-los.

  • 37

    Figura 4.6 - Relao do custo operacional e perdas Fonte: Farley et al. (2003) adaptada

    A perda aparente deve ser avaliada de maneira semelhante. Thornton et al. (2008),

    apresenta o NEP de perdas aparente como a igualdade dos custos das aes de

    combate as perdas aparentes e o custo da produo da gua aplicado ao volume

    recuperado, ou seja, que comea a ser medido aps a execuo da ao (Figura 4.7).

    Figura 4.7 NEP para Perda Aparente Fonte: Thornton et al.(2008) adaptada

    Abaixo alguns pontos destacados por Farley et al. (2003) cuja anlise deve ser

    desenvolvida na avaliao do NEP.

    No existe um nico NEP. O NEP varia com o tempo e depende de fatores

    como: frequncia de vazamentos, sazonalidade no abastecimento e melhoria

    nas condies da infraestrutura.

  • 38

    Investimentos no controle de presso, diviso em DMCs e o uso de telemetria

    que agiliza a deteco de vazamentos.

    O valor econmico da gua varia com o tempo e a quantidade disponvel. Pode

    aumentar quando a quantidade pronta para o tratamento insuficiente para

    atender demanda. E pode reduzir quando novos mananciais e estaes de

    tratamento entram em operao. O custo de operao tambm muda com o

    passar do tempo, devido variao da qualidade da gua, ou ainda devido a

    mudanas nas regulamentaes, tornando as atuais prticas obsoletas.

    Novas tcnicas de deteco de vazamentos aumentam a eficincia na pesquisa

    de vazamentos no visveis, resultando na mudana do NEP. Dependendo do

    mtodo utilizado para a deteco de vazamentos, podem-se obter valores

    diferentes para o NEP. Por exemplo: a utilizao regular do controle ativo de

    vazamentos, ou a observao frequente da vazo mnima noturna (VMN) em

    DMCs.

    Na estimativa do NEP imprescindvel utilizar dados, informaes e regras

    operacionais de cada rea e do planejamento operacional de cada empresa de

    saneamento. Entretanto, antes que um significativo trabalho para a reduo de

    perdas tenha sido concludo e os dados necessrios para a estimativa de custos

    e efeitos sejam coletados, impossvel fazer uma suposio precisa do NEP.

    Assim, o clculo do NEP estar num estgio aproximado, sendo necessrios

    vrios anos para uma determinao precisa.

    Metas para a reduo de perdas baseadas no NEP devem ser especficas e

    dinmicas.

    importante diferenciar duas situaes do programa de perdas:

    1. Quando estabelecida uma meta de reduo de perdas a um patamar definido.

    2. Quando necessrio manter o nvel de perdas atingido.

    Estes dois estgios podem ocorrer simultaneamente numa mesma organizao. Em

    uma zona so necessrias aes para a reduo de perdas, e em outra, aes para a

    manuteno do nvel alcanado.

    Farley et al. (2003), expem quatro pontos principais para a elaborao de um

    programa para a reduo de perdas:

  • 39

    1. Entender o ponto de partida: essencial para definir a estratgia de combate

    perda, compreender as fontes e nveis atuais das perdas.

    2. Executar testes de campo com o intuito de: demonstrar os benefcios da reduo

    de perdas para a organizao, aplicao de novas tecnologias e coletar dados

    para anlise e definies de aes.

    3. Estabelecer recursos financeiros: qualquer programa de perdas necessita de um

    aporte financeiro para sua execuo. Mesmo demonstrando os aspectos

    econmicos da reduo de perdas, necessrio fundament-los com base no

    perodo de retorno do investimento, em alguns casos calculado para um perodo

    de 20 anos.

    4. Destacar os benefcios que sero alcanados com a reduo das perdas:

    a. Melhora na distribuio, pois com a reduo das perdas a vazo

    excedente (antes perdida), passa a abastecer o sistema, diminuindo a

    produo e os gastos com bombeamento.

    b. Reduo na frequncia de novos vazamentos, gerando economia nos

    reparos.

    c. Reduo nas reclamaes dos clientes, pois com um gerenciamento

    adequado de presses, garantido o abastecimento de todos.

    d. Aumento da organizao dos trabalhos: o programa de perdas

    proporciona um conhecimento detalhado das zonas de abastecimento e

    com a reduo dos vazamentos possvel melhorar as estratgias de

    consertos e a deteco de vazamentos.

    e. Reduo na produo de gua, gerando economia de produtos qumicos,

    energia e depsitos de lodos (resduos finais do processo de tratamento

    da gua).

    f. Economia de recursos hdricos, com a reduo de perdas possvel

    postergar investimentos na captao de gua em outros mananciais.

    Com a avaliao dos resultados obtidos na execuo do programa de perdas

    elaborado, so definidas novas aes e melhorias no processo. Isto permite a aplicao

    do mtodo de melhoria contnua da qualidade ou PDCA sigla do ingls Plan, Do,

    Check and Action. A Figura 4.8 apresenta a sequencia da aplicao do mtodo.

    No planejamento, feita a criao dos padres de trabalhos juntamente com a lgica de

    deciso em cada etapa do plano. Na execuo, os padres de trabalhos so postos em

  • 40

    ao, gerando os comandos que atuam no processo de combate s perdas reais ou

    aparentes.

    Figura 4.8 - Ciclo "PDCA" Adaptado de Tardelli Filho (2006)

    Na avaliao dos resultados do processo, so levantadas as interferncias e as

    medies. Com a avaliao, feita a anlise geral do programa de perdas e so

    tomadas decises que geram alteraes na operao e assim modificam os processos.

    O programa de perdas, uma vez iniciado, deve ser contnuo, pois ao diminuir o nvel de

    perdas fica difcil mant-lo e um esforo maior requerido para reduzi-lo ainda mais.

    4.4 Modelagem matemtica de sistemas de distribuio de gua

    Um modelo matemtico uma representao (ou interpretao), simplificada da

    realidade de um sistema (ou fragmento deste), segundo uma estrutura de conceitos

    tericos e experimentais. A modelagem matemtica ou computacional trata da

    aplicao de modelos matemticos anlise, compreenso e estudo da fenomenologia

    de problemas fsicos complexos, e a aplicao de modelos j desenvolvidos, para a

    simulao, previso e projees temporais e espaciais, nas reas de engenharia,

    cincias exatas, biolgicas, humanas, economia e cincias ambientais. Permite criar

    modelos computacionais para situaes nas quais impossvel testar ou medir as

    diversas solues possveis ou o custo para a criao de modelos experimentais ou a

    soluo analtica invivel (Rios, 1982).

  • 41

    Em Teoria de modelos um modelo uma estrutura composta por um conjunto universo

    e por constantes, relaes e funes definidas neste conjunto universo (Rios, 1982).

    No caso da simulao de sistemas de distribuio de gua, as leis fsicas que regem o

    fenmeno de escoamento do fluido sob presso, so utilizadas para este fim. Os

    modelos de simulao hidrulica so baseados no equacionamento das variveis

    envolvidas no processo: vazes nos trechos de rede e presses nos ns entre trechos

    consecutivos. A anlise pode ser realizada em regime permanente de escoamento ou

    com variaes de vazes e presses ao longo do tempo. Geralmente os modelos que

    utilizam o regime permanente, baseiam-se na equao da continuidade nos ns e a

    equao da energia ao longo dos trechos. O sistema de equaes obtido resolvido

    por meio de linearizaes sucessivas, pelo processo de Hardy-Cross ou Newton-

    Raphson (Carrijo, 2004).

    At o incio da dcada de 80, os aplicativos desconsideravam os vazamentos nas suas

    avaliaes hidrulicas. A Tabela 4.1, mostra alguns mtodos criados ao longo do tempo

    para simular os sistemas de distribuio de gua, e um resumo de suas principais

    caractersticas. Os trabalhos apresentados na Tabela 4.1, limitam a calibrao do

    modelo a coeficientes de rugosidade, demandas e dimetros, no consideram perdas

    por vazamentos e demandas dependentes das presses no modelo (Soares, 2003).

    O combate aos vazamentos constitui uma tarefa contnua que se inicia na fase de

    concepo do projeto da rede, estendendo-se por toda a sua vida til.

    Tabela 4.1 - Histrico da calibrao de modelos hidrulicos.

    Ano Autor / Autores Proposio

    1986 ORMSBEE & WOOD

    Propuseram mtodo explicito de calibrao de rede de distribuio

    de gua. O processo formulado em termos de fatores de atrito e

    de uma reformulao das equaes governantes do escoamento, e

    que so resolvidas explicitamente para determinadas situaes

    operacionais. Mtodos explcitos, conhecidos como analticos ou

    diretos, resolvem um sistema de n equaes no lineares com n

    incgnitas, sendo que para cada incgnita requerido medio de

    vazo ou presso.

  • 42

    Tabela 4.1 - Histrico da calibrao de modelos hidrulicos.

    Ano Autor / Autores Proposio

    1989 ORMSBEE Desenvolve mtodo matemtico implcito para calibrao de redes

    de distribuio de gua. O mtodo utilizou um algoritmo de

    otimizao no linear juntamente com uma rede complexa,

    ajustando os parmetros do modelo para diversas condies de

    carga em regime permanente, e para perodo estendido. Os

    melhores resultados foram obtidos com o uso de duas etapas para a

    calibrao: na primeira os valores de rugosidade calibrados em

    regime permanente (elevada perda de carga), e na segunda a

    distribuio da demanda foi calibrada baseada em condies no

    perodo estendido (baixa perda de carga).

    1990 BOULOS & WOOD

    Desenvolveram um algoritmo explicito para determinar diretamente

    as variveis. Oferecendo uma boa base para a determinao de

    valores timos para os parmetros de projeto, operao e

    calibrao. Para a resoluo simultnea foi utilizado o mtodo de

    Newton-Raphson, para a linearizao dos termos no lineares.

    1991

    BOULOS &

    ORMSBEE

    Aperfeioaram o mtodo explicito proposto por ORMSBEE & WOOD

    em 1986, estendendo para que diversos testes, sob diferentes

    condies de contorno, fossem considerados.

    LANSEY & BASNET

    Apresentou uma aproximao similar a de ORMSBEE (1989),

    segundo a qual o algoritmo de programao no linear incorporou

    um modelo de simulao hidrulica. O mtodo pode ser aplicado

    tanto no regime permanente quanto no perodo estendido para a

    calibrao de coeficientes de rugosidade, abertura de vlvulas e

    demandas nos ns.

    1994

    FERRERI, NAPOLI

    & TUMBIOLO

    Apresentam uma metodologia para a avaliao dos coeficientes de

    rugosidade de tubulaes de uma rede de distribuio de gua

    utilizando dados de vazo e presso em determinados pontos de

    observao. Os autores utilizaram uma matriz de sensibilidade para

    a determinao da rede de amostragem e concluem que o melhor

    perodo para a obteno dos dados o noturno.

    DATTA &

    SRIDHARAN

    Apresentaram um mtodo de calibrao de coeficientes de

    rugosidade baseado na soluo do problema inverso, expresso

    como a minimizao dos quadrados das diferenas dos valores

    computados e observados, incluindo pesos nos desvios dos valores

    na funo objetivo. A vantagem apontada foi a aplicao do mtodo

    para diferentes condies de demanda com variado nmero de

    medidas de presso e vazo.

  • 43

    Tabela 4.1 - Histrico da calibrao de modelos hidrulicos.

    Ano Autor / Autores Proposio

    1996 SRIDHARN & RAO

    Propuseram um mtodo baseado em DATTA & SRIDHARAN

    (1994), para calibrao com uma metodologia melhorada para a

    determinao dos pesos. Esta baseada na varincia dos valores de

    presses e vazes observados e simulados, com uma sistemtica

    de dois passos para o procedimento de adoo dos pesos.

    1997 SAVIC & WALTERS

    Emprega algoritmos genticos como mtodo de busca no processo

    de otimizao. O mtodo proposto foi utilizado para a calibrao dos

    coeficientes de rugosidade da rede e os resultados comparados

    com aqueles obtidos de procedimentos de tentativa e erro,

    apresentando a dominncia total dos algoritmos genticos sobre

    estes ltimos.

    1998 WALTERS Utiliza os algoritmos genticos em seus trabalhos para a

    determinao das rugosidades absolutas.

    1999 GRECO &

    DEL GIUDICE

    Apresentam um mtodo de calibrao dos coeficientes de

    rugosidade, com o auxilio de uma matriz de sensibilidade para

    otimizao no linear, alem de pacotes computacionais para

    simulao hidrulica.

    2000

    De SCHAETZEN et

    al.

    Avaliou alem da rugosidade absoluta, os dimetros das tubulaes

    e as demandas nos ns.

    GAMBALE

    Avaliou os algoritmos genticos na calibrao de modelos de redes

    de distribuio de gua. So realizados estudos quanto a influencia

    dos operadores genticos e do nmero de pontos monitorados na

    determinao dos coeficientes de rugosidade de uma rede

    hipottica. O autor evidenciou a robustez dos algoritmos genticos e

    a necessidade de uma rede de amostragem otimizada para a

    calibrao.

    2001

    CHEUNG

    Estudo comparativo dos mtodos para calibrao apresentados por

    WALSKI (1983), BHAVE (1988) e BOULOS & WOOD (1990). E para

    este ltimo trabalho prope melhorias na metodologia como

    generalizao do mtodo, antes restrito apenas a uma rede da

    literatura, e a incluso de um simulador hidrulico proposto por

    SOUZA (1994).

    RIGHETTO

    Prope uma tcnica de calibrao de modelos de rede de

    distribuio de gua, visando determinao das demandas nodais,

    rugosidades absolutas e dimetros das tubulaes. O modelo

    hidrulico empregado baseia-se no mtodo dos ns e na tcnica

    dos elementos finitos, sendo cada trecho da rede considerado como

  • 44

    Tabela 4.1 - Histrico da calibrao de modelos hidrulicos.

    Ano Autor / Autores Proposio

    um elemento, em que cada um destes interage diretamente com os

    ns de suas extremidades.

    BRDYS et al.

    Desenvolve um algoritmo para a calibrao dos coeficientes de

    rugosidade utilizando tcnica de linearizaes sucessivas em duas

    e trs dimenses para a soluo do problema no linear e no

    convexo. Houve a descrio das incertezas dos parmetros

    utilizados no modelo.

    LANSEY

    Desenvolveu um procedimento em trs etapas para calibrao, que

    considerava a incerteza nos valores observados e simulados e

    proporciona o grau de incerteza na soluo final.

    2002

    LINGIREDDY &

    ORMSBEE

    Utilizam algoritmos genticos para a avaliao de rugosidades

    absolutas e demandas.

    KAPELAN, SAVIC &

    WALTERS

    Desenvolvem um mtodo hbrido, operando no regime transiente. A

    proposta utilizar um mtodo de busca global, til para a

    varredura do espao de busca, mas que oscila em torno da

    soluo tima. Alem da determinao da rugosidade absoluta, o

    mtodo tambm til para a deteco de vazamentos.

    MALLICK et al.

    Desenvolveram uma metodologia para quantificar o impacto

    introduzido no modelo devido a simplificao deste na escolha de

    setores com coeficientes de rugosidade homogneos. O mtodo

    determina o melhor nmero de tubulaes em setor, e o nmero de

    setores o qual a rede deve ser dividida, em funo da idade, tipo de

    material, dimetro e localizao das tubulaes.

    Fonte: (Soares, 2003) adaptada

    Considerando que, de uma maneira geral, em uma rede de distribuio de gua, tanto

    os vazamentos quanto as demandas dependem das presses variveis no tempo e no

    espao, h a necessidade da previso do comportamento das redes nas mais diversas

    condies operacionais. Tais previses s podem ser realizadas a contento com o

    suporte de modelos matemticos que descrevam adequadamente as leis fsicas que

    regem o escoamento no interior dos condutos, bem como as demandas e os

    vazamentos, especialmente se a parcela relativa a estes ltimos for expressiva (Gomes

    et al., 2007).

    A influncia das perdas nos custos finais de operao foi estudada por Colombo &

  • 45

    (Farley et al., 2003). Os autores demonstraram que os custos dependem de vrios

    fatores que incluem o regime da demanda, a distribuio espacial das perdas e a

    complexidade do sistema (Carrijo, 2004).

    At 1994, havia poucos estudos disponveis de modelagem de perdas. Segundo Farley

    et al. (2003), existiam alguns fatores que dificultavam a modelagem de perdas, eram

    eles:

    O desconhecimento sobre o processo dos vazamentos;

    O conhecimento emprico somente do relacionamento entre a ocorrncia de

    vazamentos e a presso;

    A perda era considerada como uma entidade nica, desconhecendo suas

    componentes.

    Alguns trabalhos foram apresentados para a incluso dos vazamentos e demandas

    dependentes da presso. A Tabela 4.2, contm um resumo de algumas propostas de

    mtodos de clculos e de suas principais caractersticas.

    Tabela 4.2 - Histrico da calibrao de modelos considerando vazamentos

    Ano Autor / Autores Proposio

    1998 TUCCIARELLI &

    TERMINI

    Empregaram um processo de dois passos para a calibrao.

    Primeiro a estimativa dos parmetros no modelo (inclusive os

    vazamentos) para um dado conjunto de medidas de presso. A

    seguir as vlvulas so abertas para a aquisio de um novo

    conjunto de medidas. O problema inverso ento resolvido, e o

    procedimento novamente repetido at que haja convergncia. A

    desvantagem principal do mtodo o grande esforo computacional

    necessrio para a inverso de duas matrizes da funo objetivo

    para cada conjunto de medidas (resistncias das vlvulas).

    1999

    TUCCIARELLI,

    CRIMINISI &

    TERMINI

    Utilizou o mtodo de busca simulated annealing, o processo foi

    empregado em uma rede real com medidas de presses e vazes

    na funo objetivo. Possibilitou a quantificao do total de

    vazamentos em diversos setores da rede, com a possibilidade de

    utilizar dados relativos a testes noturnos.

    2000 AINOLA et al.

    Apresenta metodologia para a calibrao de coeficientes de

    rugosidade considerando as perdas por vazamentos no modelo,

    baseado na setorizao da rede de distribuio de gua quanto a

  • 46

    Tabela 4.2 - Histrico da calibrao de modelos considerando vazamentos

    Ano Autor / Autores Proposio

    coeficientes de rugosidade e perdas por vazamentos similares. Na

    primeira etapa dos clculos a distribuio das perdas de gua com

    a utilizao de uma formulao emprica, que leva em considerao

    o comprimento, idade, dimetro e material das tubulaes, alem da

    presso atuante. A seguir os coeficientes de rugosidade so

    estimados atravs da minimizao de uma funo objetivo que leva

    em considerao as presses medidas e calculadas.

    2002 SILVA et al.

    Propuseram um mtodo interativo para a calibrao em termos de

    rugosidade absoluta e parmetros do modelo presso x vazamento

    de setores da rede de distribuio de gua da cidade de So Carlos,

    SP, Brasil. Primeiro passo consiste em determinar as rugosidades

    absolutas das tubulaes e no segundo passo os parmetros de

    vazamentos utilizando a rotina computacional desenvolvida por

    CALIMAN (2002). Os dados de campo foram obtidos de ensaios

    noturnos de campo, em setores com elevada taxa de vazamentos.

    Os autores propem um estudo sobre a posio e status das

    vlvulas na rede, pois tais componentes podem comprometer a

    operao do sistema. A ferramenta de busca apoia-se nos

    algoritmos genticos e operadores inerentes da tcnica.

    Fonte: (Soares, 2003) adaptada

    4.4.1 Montagem da topologia da rede no modelo

    A modelagem matemtica de sistemas de abastecimento de gua envolve uma srie de

    abstraes. Primeiro as tubulaes e equipamentos reais so representados

    graficamente nas plantas cadastrais do sistema de distribuio de gua. As informaes

    das demandas e os dados tcnicos so levantados. Ento, as plantas, as informaes e

    os dados so convertidos em modelos que simulam o fenmeno de transporte da gua

    nas tubulaes, demonstrando o comportamento do sistema de distribuio em

    determinada condio de operao. Para aprimorar o resultado, feita a calibrao do

    modelo, obtendo dados de campo em pontos arbitrrios do sistema, que so

    carregados no modelo (Walski et al., 2003).

    Montar, calibrar e utilizar um modelo matemtico de um sistema de distribuio de gua

    pode parecer um imenso trabalho logo de inicio, mas qualquer trabalho pode ser

  • 47

    facilmente executado se dividido em etapas.

    No incio da modelagem, necessrio definir qual o propsito para o qual se est

    modelando o sistema de distribuio, as intervenes de mdio e longo prazo, e o

    planejamento das coletas das informaes de cadastro e de campo.

    Um modelo matemtico uma representao da realidade sendo que, quanto melhor

    for a qualidade da informao, melhor sero os resultados (Thornton et al., 2008).

    A concepo de rede fundamental para construo de um modelo de distribuio de

    gua. A rede contm vrios componentes de um sistema, e define como estes

    elementos esto interligados Figura 4.9.

    Figura 4.9 - Exemplo dos elementos do modelo hidrulico. (EPANET2, 2009)

    A rede composta de ns, os quais representam caractersticas de um local especfico

    dentro do sistema, e de linhas retas, que definem as relaes entre os ns, ver Tabela

    4.3.

    Tabela 4.3 - Elementos comuns em modelagem (Walski et al., 2003)

    Elemento Tipo Funo no modelo

    Reservatrio N Prover gua ao sistema.

    Tanque N Estoca o excesso de gua do sistema e devolve nos

    horrios de pico de consumo.

    Juno N Retira ou coloca vazo de gua no sistema.

    Tubulao Linha Conduz gua de uma juno a outra.

    Bombas N ou linhas Aumenta a carga hidrulica para sobrepor desnveis

    geomtricos ou perda de carga.

    Vlvulas de Controle N ou linhas Controla a presso ou vazo no sistema de acordo com

    critrios definidos.

  • 48

    Reservatrios

    O reservatrio representa um ponto na borda do modelo, capaz de fornecer ou receber

    gua em grande quantidade. Ele um fornecedor ou receptor infinito, teoricamente

    mantedor de vazes de entrada ou sada do sistema durante todo o perodo de tempo.

    Reservatrios so utilizados no modelo como sendo fontes de gua, onde a carga

    hidrulica dada por valores diversos das geradas pelas demandas do sistema. Lagos,

    represas, poos profundos e at estaes de tratamento de gua so usualmente

    representados por reservatrios. Tambm na modelagem, o fornecimento de gua entre

    sistemas de abastecimentos podem ser considerados como reservatrio fornecedor

    para um e receptor para o outro.

    Para um reservatrio, duas informaes so necessrias: a cota altimtrica do nvel da

    gua e a qualidade da mesma. Por definio, o reservatrio no estoca gua, assim

    nenhuma informao quanto ao volume disponvel necessria.

    Tanques

    Um tanque de reservao tambm um ponto da borda do modelo. Difere de um

    reservatrio, pois sua carga hidrulica varia de acordo com o consumo de gua. Os

    tanques possuem volumes limitados que podem ser repostos ou consumidos durante o

    perodo de tempo. Os tanques existem na maioria dos sistemas de distribuio, e sua

    representao no modelo geralmente bem fiel ao seu comportamento real.

    Numa modelagem esttica, o tanque se comporta identicamente a um reservatrio, uma

    vez que o fluxo de gua calculado com sua carga hidrulica constante. J numa

    modelagem em tempo estendido, existe a variao de sua carga hidrulica.

    Junes

    Junes so mais do que simples conexes entre trechos da rede. Definem a posio

    de demandas do sistema de abastecimento, podendo esta ser um consumo ou um

    fornecimento de gua do sistema. Pode-se utilizar uma juno no final de um trecho,

    para ser utilizado como uma descarga ou um consumo localizado. As junes conectam

    trechos da topologia da rede que representam as tubulaes. Nas tubulaes reais, as

    conexes ocorrem por meio de juntas entre os diversos tubos que compem a

    tubulao, e os consumos se distribuem ao longo deles. A importncia das junes na

    topologia devida a simplificao causada no modelo, pois concentram nas as

    demandas existentes, sem afetar os resultados dos clculos. A caracterstica fsica

  • 49

    definida numa juno sua cota geomtrica. Este atributo parece simples de ser

    atribudo, porm existem algumas consideraes a serem observadas. Isto porque a

    presso determinada pela diferena entre a carga hidrulica calculada e a cota

    geomtrica, assim atribuir o valor correto da cota geomtrica imprescindvel.

    Tubulaes

    As tubulaes conduzem a gua de um ponto a outro dentro da rede de distribuio. Os

    tubos, de ao e ferro fundido, so fabricados em comprimentos em torno de 6 metros, e

    so montados em srie formando a tubulao. Na tubulao, existem vrias conexes,

    como cotovelos ou curvas, que causam variaes de direo ou vlvulas que controlam

    a vazo em determinados trechos de rede. Para a modelagem, trechos individuais de

    rede e suas conexes podem ser combinados em um nico trecho, tendo as mesmas

    caractersticas, ou seja, material, dimetro, etc. O comprimento total entre uma juno e

    outra representa o percurso completo da gua, mas no necessariamente em linha reta.

    O dimetro da tubulao utilizado seu dimetro interno, ou seja, a distncia de um

    ponto interno at seu diametralmente oposto na da parede interna. Este valor difere do

    dimetro nominal, pois a medida exata depende da classe de presso e material do

    tubo.

    Perda de carga

    As tubulaes possuem uma rugosidade que causa uma perda de carga distribuda ao

    longo de sua extenso. Com o passar do tempo, envelhecem e com isso essa

    rugosidade pode aumentar, pois podem ocorrer incrustaes e corroso das paredes do

    tubo.

    Bombas

    As bombas so elementos que adicionam energia, ao sistema de modo a aumentar a

    carga hidrulica. A bomba empregada para possibilitar que o fluxo de gua na

    tubulao vena as perdas de carga e diferenas de cotas geomtricas. A menos que o

    sistema seja totalmente operado por gravidade, as bombas fazem parte integrante do

    sistema de abastecimento. Nos sistemas de abastecimento de gua, o tipo de bomba

    mais frequentemente utilizado a centrfuga. Uma bomba centrfuga tem um motor que

    conectado a um rotor que impulsiona a gua pela tubulao. A energia mecnica de

    rotao impulsiona a gua na tubulao aumentando a carga hidrulica.

  • 50

    As caractersticas fsicas das bombas necessrias para a modelagem so obtidas a

    partir da sua curva caracterstica. Os parmetros necessrios so: altura manomtrica,

    eficincia, potncia e o NPSH (Net positive suction head) requerido.

    A curva da altura manomtrica representa o fornecimento de energia ao sistema para

    vencer o desnvel geomtrico e as perdas de carga. As outras curvas so utilizadas

    para determinar consumo de energia, requisitos do motor e avaliao da cavitao.

    Vlvulas

    As vlvulas so elementos utilizados para controle operacional e delimitaes de reas

    de abastecimento (setores, distritos de medio e controle, etc.) e sua operao

    definida segundo as regras operacionais do sistema de abastecimento. Estas

    informaes entram no modelo de simulao hidrulico em cada trecho de rede nos

    elementos obtidos no levantamento planialtimtrico. A seguir, so citados alguns tipos

    de vlvulas: bloqueio, controle de vazo, controle, mantenedora de presso, nvel,

    reduo de presso, reteno e ventosas.

    Existem aplicativos desenvolvidos para simulao hidrulica, baseados nos

    equacionamentos tericos que representam as leis fsicas do comportamento dos

    fludos em condutos forados, cujas caractersticas devem ser estudadas e entendidas

    para obteno de resultados significativos e otimizados. A Figura 4.10 apresenta uma

    possvel sequencia de etapas para a utilizao de um aplicativo simulador hidrulico.

    Na etapa um feita a seleo e aprendizado do aplicativo, no qual a simulao ser

    feita. Nesta etapa necessrio um treinamento eficaz, pois o bom conhecimento dos

    recursos e dos dados de entrada do aplicativo permite um aproveitamento pleno do

    mesmo, alm de imprimir maior velocidade criao do modelo.

    Na etapa dois realmente executada a simulao, e o primeiro passo selecionar uma

    rea discreta do sistema de abastecimento, e estudar suas caractersticas para

    conhec-la suficientemente bem, proporcionando um bom domnio do comportamento,

    do consumo e das variveis fsicas e temporais envolvidas no transporte da gua pelas

    tubulaes. Todos os dados sero carregados no aplicativo.

  • 51

    Figura 4.10 - Uma possvel seqncia de etapas para a utilizao de um aplicativo simulador hidrulico. (Walski et al., 2003) adaptada.

  • 52

    . Existem dados que so influenciados por fatores complexos e aleatrios, e que tero

    de ser levantados em campo ou estimados, como por exemplo, o perfil de consumo (ou

    demanda horria), e o estado fsico atuais da tubulao. As seguintes caractersticas

    devem ser levantadas nesta etapa:

    Topografia: o levantamento planialtimtrico da rea em estudo obtido no cadastro

    tcnico, com a consulta s plantas cadastrais da rede de distribuio existente. No caso

    de se tratar de uma rea recm-implantada, pode existir a necessidade do

    levantamento no campo de algumas informaes ainda inexistentes no cadastro. Com o

    levantamento planialtimtrico, toma-se conhecimento das cotas altimtrica envolvidas, e

    do caminhamento das redes de distribuio pela rea em anlise, bem como das

    vlvulas existentes. Estas informaes sero carregadas no modelo de simulao.

    Extenso de rede: As informaes referentes rede de distribuio, ou seja, extenso,

    materiais, dimetros, idade, vlvulas e equipamentos que a compem, so obtidas

    tambm no cadastro tcnico das concessionrias.

    Tubulaes e seus materiais, dimetros e idades: pela avaliao da idade e do

    material de cada trecho rede, feita a avaliao das condies fsicas do mesmo e seu

    efeito sobre o fluxo de gua em seu interior. Para isso tomam-se como base as tabelas

    existentes e as equaes de perda de carga distribuda e localizada, por exemplo, a

    rugosidade que afetada diretamente pela incrustao existente em redes de ferro

    fundido com idades avanadas. Uma estimativa da espessura da camada de

    incrustao pode ser obtida pela equao de Colebrook-White, que estabeleceram uma

    relao linear para levar em conta o aumento da rugosidade, equaes 4.1 e 4.2, com o

    passar do tempo (Azevedo Netto, 1998).

    = 0 + (4.1)

    Onde: 0 a altura da rugosidade; a altura da rugosidade aps t anos; o

    perodo de tempo em anos; a taxa de crescimento da aspereza, em m/ano.

    2 log = 6,6 (4.2)

    Onde: taxa de crescimento da aspereza, em m/ano; o potencial hidrogeninico

    mdio das amostras de gua coletadas.

    Tipos de clientes: para modelar o comportamento da distribuio de gua em uma

    determinada rea, o comportamento da demanda horria de consumo deve ser obtido,

    pois atravs de sua variao que os valores das vazes e presses horrias

    existentes em cada trecho da rede so calculados. Os clientes so divididos,

    regularmente, em: Residenciais, Comerciais, Industriais e Pblicos. E quanto ao seu

  • 53

    porte em: Comuns e Especiais. Com o perfil de consumo, a demanda horria em cada

    trecho calculada.

    Demandas: a demanda horria caracterstica de cada cliente. Para sua determinao

    necessrio conhecer o perfil de consumo horrio de cada cliente, para isso

    necessrio a coleta de dados individuais por meio de registradores eletrnicos

    instalados em cada ramal, a Figura 4.11 mostra alguns equipamentos utilizados no

    levantamento.

    Presses: a presso esttica obtida pela diferena de cotas altimtricas mais a carga

    hidrulica do sistema.

    Na etapa trs feita a calibrao do modelo com o levantamento de dados em campo,

    que sero fornecidos ao modelo, e que por meio de ciclos de interaes matemticas,

    adqua s diversas variveis aos valores correspondentes em campo.

    Na etapa quatro, depois que todas as informaes relativas rea e de todas as

    caractersticas dos elementos e tubulaes que compem o sistema forem definidas, o

    modelo pode ser finalmente simulado. O modelo est pronto para o uso e planejam-se

    as alternativas previstas para o sistema de abastecimento, como por exemplo, a troca

    de redes, ampliao da malha de distribuio, a incluso de um grande

    empreendimento imobilirio, etc. Criando assim diversos cenrios que sero utilizados

    na etapa cinco e fornecero os resultados que sero utilizados na anlise da rea e

    emisso de diagnstico.

    Figura 4.11 - Alguns Equipamentos utilizados na coleta de dados

    Ex