dissertação_maria-josé-martins-gomes-de-castro

Upload: gleison-coelho

Post on 03-Jun-2018

250 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    1/94

    Centro Unisal

    Maria Jos Martins Gomes de Castro

    Pedagogia Waldorf: uma educao baseada no

    dilogo, afeto e arte

    Americana

    2010

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    2/94

    Centro Unisal

    Maria Jos Martins Gomes de Castro

    Pedagogia Waldorf: uma educao baseada no

    dilogo, afeto e arte

    Dissertao apresentada comorequisito parcial para obteno do titulode Mestre em Educao no CentroUniversitrio Salesiano de So Paulo,sob a Orientao do Prof. Dr. SeverinoAntnio Moreira Barbosa.

    Americana2010

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    3/94

    Castro, Maria Jos Martins GomesC352p Pedagogia Waldorf: uma educao baseada no

    dilogo, afeto e arte. Maria Jos Martins Gomes deCastro. Americana: Centro Universitrio Salesiano deSo Paulo, 2010.

    84 f.

    Dissertao (Mestrado em Educao). UNISAL SP.Orientador: Prof. Dr. Severino Antnio Moreira

    Barbosa.Inclui bibliografia.

    1. Educao Waldorf. 2. Antroposofia. 3. EscolasWaldorf Brasil. I. Ttulo.

    CDD 370.112

    Catalogao elaborada por Maria Elisa V. Pickler Nicolino.Bibliotecria do UNISAL UE Americana, CMA CRB-8/8292.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    4/94

    Maria Jos Martins Gomes de Castro

    Pedagogia Waldorf: uma educao baseada no dilogo, afeto e arte

    Dissertao apresentada comorequisito parcial para obteno do titulode Mestre em Educao no Centro

    Universitrio Salesiano de So Paulo.

    Dissertao de Mestrado defendida e aprovada em ___/___/___ pela

    Comisso Julgadora:

    _________________________________________

    Prof. Dr. Severino Antnio Moreira Barbosa

    _________________________________________

    Prof. Dr. Regina Clia Sarmento

    _________________________________________

    Prof. Dr. Luis Antonio Groppo

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    5/94

    Dedico esta dissertao primeiramente a Deus, pela sade, f e

    perseverana que me tem dado. A meus pais, com toda minha

    dedicao, amor e carinho. s crianas da escola Waldorf, que me

    receberam de forma muito calorosa.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    6/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    7/94

    Aos amigos que fiz durante o curso, pela verdadeira amizade que

    construmos e por estarem sempre ao meu lado; por todos os momentos que

    passamos, o meu especial agradecimento.

    Aos meus professores do Mestrado, pela pacincia, dedicao e

    ensinamentos disponibilizados nas aulas: cada um de forma especial contribuiu

    para a minha formao profissional.

    Agradeo nossa secretria do curso de Mestrado Inessa, por ser

    sempre atenciosa quando precisamos de sua ateno.

    Agradeo s pessoas do laboratrio de informtica da UNISAL, que me

    ajudaram muito quando mais precisei de suporte tcnico.

    s escolas Waldorf pesquisadas, pela oportunidade de fazer a minhapesquisa de campo; aos professores, por ter ajudado tanto a conseguir fazer a

    pesquisa nessas escolas. A todos os funcionrios que me receberam de uma

    forma muito acolhedora.

    A Carlos Coelho, pela ateno e dedicao nas correes da minha

    dissertao.

    Em especial ao meu amigo Wellington Oliveira, quero agradecer de

    corao pela amizade, carinho, pelas horas ao telefone ouvindo o meudesabafo. Que Deus pague tudo isso; com certeza, nunca poderei pagar tanta

    gentileza. Obrigada por tudo.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    8/94

    Confiana uma das palavras de ouro que, no futuro, deverodominar a vida social. Amor pelo que se tem a fazer outra palavrade ouro. E, no futuro, sero socialmente benficas as aes queforem realizadas por amor ao ser humano universal.

    Rudolf Steiner

    Meu filho deficiente mental, Hikari, foi despertado pela voz dospssaros para a msica de Bach e Mozart e acabou produzindosuas prprias obras. As pequenas peas que ele inicialmentecomps eram cheias de frescor e prazer. Pareciam gotas de orvalhobrilhando sobre a relva. A palavra inocncia composta de prefixo

    "in", que significa "no", e de "nocere", "ferir". Ou seja, ela quer dizer"aquele que no fere. A msica de Hikari era uma manifestaonatural de sua prpria inocncia. Conforme ele passou a criar maisobras, no entanto, no pude deixar de ouvir nelas tambm a voz deuma alma escura e atormentada. Apesar de deficiente, seusesforos extenuantes permitiram que ele melhorasse suas tcnicasde composio e aprofundasse suas concepes. E isso fez comque ele ento expressasse com a msica o que fora incapaz deexpressar com palavras. O fato de express-la em msica curaHikari de sua tristeza um ato de recuperao. Mais ainda, seusouvintes aceitaram essa msica como algo que tambm os fortalecee restaura. Nesses fenmenos, eu encontro as razes para acreditarno estranho poder curativo da arte. (trecho do discurso de aceitaodo Prmio Nobel.).

    (Kemzaburo Oe)

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    9/94

    RESUMO

    Este estudo, intitulado Pedagogia Waldorf: uma educao baseada no dilogo,

    afeto e arte, tem como meta compreender a pedagogia diferente proposta pela

    Escola Waldorf. Diante de tantas crianas com dificuldade de aprendizagem, a

    inteno de refletir se a Escola Waldorf, com sua proposta curricular muito rica,

    pode ser utilizada no ensino convencional. Assim, o objetivo deste presente trabalho

    analisar princpios e concepes pedaggicas da Pedagogia Waldorf. Como

    metodologia, apresenta-se a pesquisa terica e a pesquisa de campo. Nesta,

    realizada em duas escolas Waldorf, as vozes dos educadores e tambm de alunos

    so ouvidas e observadas. As respostas s questes so analisadas e

    interpretadas. O trabalho est organizado em dois captulos. O primeiro dialoga com

    o referencial terico, versando sobre a importncia do dilogo, afeto e harmonia na

    educao. Discorre sobre o trabalho de Rudolf Steiner, austraco, responsvel pela

    primeira escola Waldorf, que surgiu na Alemanha. Aborda brevemente a

    Antroposofia palavra originria do grego (antropos, homem; sophia, sabedoria) ,

    que tem foco no conhecimento do ser humano. Tambm apresentada umaexperincia desenvolvida na Associao Comunitria Monte Azul, sobre a vocao

    social e a Pedagogia Waldorf. O segundo captulo traz a revelao de uma

    educao encantadora, com a pesquisa realizada em duas escolas, na qual se

    mostra o resultado das observaes, bem como as vozes dos educadores Waldorf.

    Observamos nas escolas a importncia da arte, do dilogo e do afeto na educao.

    Diante dos questionrios aplicados para os professores, notamos que eles

    procuram a formao Waldorf por ser uma pedagogia que se baseia numaformao diferente da escola convencional, visando importncia de conhecer a

    essncia do aluno.

    Palavras-chave: Educao Waldorf, antroposofia, escolas Waldorf.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    10/94

    ABSTRACT

    This study, entitled "Waldorf education: an education based on the dialog,

    affection and art, aims to understand the different pedagogy proposed by the

    Waldorf School. With so many children with learning difficulties, the intention is

    to reflect the Waldorf School, with its rich curriculum, can be used in

    conventional teaching. Thus, the aim of this study is to analyze pedagogical

    concepts and principles of Waldorf education. The methodology presents the

    theoretical research and field research. This held in two Waldorf schools, the

    voices of educators and students are also heard and seen. Answers to

    questions are analyzed and interpreted. The paper is organized into two

    chapters. The first dialogue with the theoretical, concerning the importance of

    dialogue, affection and harmony in education. Discusses the work of Rudolf

    Steiner, Austrian, responsible for the first Waldorf school, which originated in

    Germany. Discusses briefly anthroposophy - the word originates from the Greek

    (anthropos, man, sophia, wisdom) - which focuses on knowledge of humanbeings. There is also an experience developed in Monte Azul Communitarian

    Association on the social vocation and Waldorf Pedagogy. The second chapter

    brings the revelation of a lovely education, with research conducted in two

    schools, which also shows the results of these observations, as well as the

    voices of Waldorf educators. Observed in the school the importance of art,

    dialogue and affect in education. Before the questionnaires for teachers, we

    note that they seek training to be a Waldorf education that is based on adifferent formation of the conventional school, aiming at the importance of

    knowing the essence of the student.

    Keywords: Waldorf education, anthroposophy, Waldorf Schools

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    11/94

    SUMRIO

    INTRODUO................................................................................................ 10CAPTULO 1 UM DILOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF.......... 141.1 Rudolf Steiner .......................................................................................... 151.2 Antroposofia ............................................................................................. 171.3 O estudo geral do homem: uma base para a Pedagogia ........................ 201.4Uma breve histria da Escola Waldorf ..................................................... 231.5 Metodologia e didtica...............................................................................261.6 Alguns dos aspectos da concepo pedaggica....................................... 331.7 A vocao social da Pedagogia Waldorf: da conscincia realizao.

    A Associao Comunitria Monte Azul ........................................................ 401.7.1 Reflexes sobre currculo social ........................................................... 44CAP TULO 2 REVELA ES DE UMA EDUCA O ENCANTADORA ... 472.1 Procedimentos metodolgicos................................................................. 482.2 Caracterizao da Escola Waldorf 1 ....................................................... 502.3 Relatos da observao na Escola Waldorf 1............................................ 522.4 Caracterizao da Escola Waldorf 2 ........................................................ 582.5 Relatos da observao na Escola Waldorf 2 ........................................... 602.6 Comparativo entre as duas escolas Waldorf............................................ 672.7 Modelo do questionrio aplicado aos professores das escolasWaldorf 1 e Waldorf 2 .................................................................................... 692.8 Perfil dos pesquisados ............................................................................. 712.9 As vozes das escolas Waldorf pelas respostas dos professores............ 72CONSIDERA ES FINAIS:.......................................................................... 76REFERNCIAS.............................................................................................. 80ANEXO......................................................................................................... 81

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    12/94

    INTRODUOReceber a criana em agradecimento ao mundo de onde ela vem;

    Educar com amor;

    Conduzir a criana atravs da verdadeira liberdade que pertence ao homem.

    Rudolf Steiner

    A arte da educao deve ser cultivada em todos os aspectos, para se

    tornar uma cincia construda a partir do conhecimento profundo da

    natureza humana.

    Pestalozzi

    Em Arte, os procedimentos so sagrados, desde quesatisfaam a uma necessidade interior.

    Wassili Kandinski

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    13/94

    INTRODUO

    Nosso verdadeiro papel, como educadores, o de remover

    dificuldades. Cada criana traz das regies divinas algo de

    novo para o mundo, e nossa tarefa como educadores a

    remoo dos obstculos fsicos e psquicos de seu caminho de

    forma a permitir que seu esprito adentre a vida em toda

    liberdade.

    Rudolf Steiner

    A escolha desse tema surgiu por acreditarmos principalmente numa

    educao mais justa, baseada no dilogo, afeto e arte. A questo central desta

    pesquisa est focada em saber como a Escola Waldorf ensina, por meio de

    uma pedagogia diferente.

    Diante de tantas crianas com dificuldade de aprendizagem no ensino

    convencional, pretendemos pesquisar e refletir sobre a Pedagogia Waldorf,

    uma proposta muito rica, que talvez possa ser utilizada no ensino convencional.

    A Pedagogia Waldorf se baseia na Antroposofia e em sua viso do ser

    humano e da criana, e especialmente no sentir, no querer e pensar. Esta

    Pedagogia, que tem seu alicerce na Antroposofia conhecimento do ser

    humano , desenvolvida por Rudolf Steiner no incio do sculo XX, no uma

    religio; um caminho de conhecimento. Surge como uma necessidade do

    corao e de sentimento. Podemos perguntar se esta pedagogia no estariafora das expectativas do nosso pas.

    Apesar desse questionamento, d para perceber a importncia da

    Pedagogia Waldorf, que apresenta outra realidade, uma realidade baseada no

    amor, no afeto e no dilogo. Tem vida, poesia e esperana.

    A Pedagogia Waldorf uma educao apaixonante, com atividades

    manuais que proporcionam aos alunos o contato com materiais variados: fiar,

    tecer, forjar,modelar, esculpir, pintar etc. Trabalha, tambm, cotidianamente,com artes visuais, msica, poesia, histria e jardinagem. Acredita que, partindo

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    14/94

    dessa experincia, o aluno, mais tarde, no se assustar diante de um

    problema que de incio parea exceder suas foras.

    importante mencionarmos que, na Escola Waldorf, a professora

    cumprimenta individualmente a criana ao entrar na sala de aula. Dessa forma,

    a mesma aprende a ser saudada, a ser considerada, e j recebe, portanto, um

    primeiro contato do dia. As crianas ficam em filas, aguardando pacientemente

    sua vez. Recebem um gesto de ateno individual, considerao, e aprendem

    a ter pacincia; captam, assim, um exemplo de educao.

    Para a Pedagogia Waldorf, essencial entender que educar um ato de

    amor. importante ouvir vozes, dialogar, ouvir a histria de cada cultura, como

    uma linguagem simples. preciso haver interao entre o professor e o aluno;haver vida, sonho, amor. O educador tem que vencer sua insegurana e

    acreditar no novo.

    Por isso, a Pedagogia Waldorf importante para a criana, se

    pensarmos que, quanto mais a criana for motivada a aprender, melhor ser o

    seu desenvolvimento. O mesmo acontece com o andar e o falar: a criana

    desenvolve esse aprendizado em contato com outras pessoas.

    Justificamos a realizao da pesquisa em razo da quantidade decrianas com dificuldade de aprendizagem e tambm pela relevncia das

    contribuies da Pedagogia Waldorf para o desenvolvimento da aprendizagem.

    Assim, esta pesquisa est relacionada segunda linha de pesquisa do Mestrado

    em Educao Sociocomunitria do Centro Unisal, denominada A interveno

    educativa sociocomunitria: linguagem, inter-subjetividade e prxis.

    Como objetivo geral, intencionar estudar e analisar alguns dos princpios

    da Pedagogia Waldorf e, como objetivo mais especfico, refletir sobre como aEscola Waldorf ensina por meio de uma pedagogia diferente.

    Para Groppo e Martins (2007, p. 48),

    A observao cientfica diferencia-se da observaoespontnea pelo fato de que o pesquisador ir se interessarpor uma dada questo da realidade, ou de parte dela, emetodicamente ir coletar dados sobre a questo ou aspecto.

    Neste caso, a observao do tipo participante, pois, segundo os

    autores, ela permite ao pesquisador um contato direto com o que estobservando. Notamos que a pesquisa experimental visa a um padro nico, na

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    15/94

    cincia, pois parte de um modelo de estudo para todas as cincias; j a

    pesquisa qualitativa parte de uma viso dinmica que comporta a pesquisa de

    diferentes formas, visto que abrange tcnicas e mtodos de pesquisa

    diferentes em relao aos estudos experimentais.

    Houve, ainda, observao e pesquisa de campo, com uso de

    questionrio.

    Para Lakatos e Marconi (1996, p. 42),

    A pesquisa de campo uma fase que realizada aps oestudo bibliogrfico, para que o pesquisador tenha um bomconhecimento sobre o assunto e tm seu interesse da pesquisavoltado para o estudo de indivduos, grupos, comunidades,

    instituies, entre outros campos.

    Para a pesquisa de campo, foi utilizado o instrumento Questionrio, com

    a maioria das questes abertas. Tanto para o referencial terico quanto para a

    pesquisa de campo, so utilizados os ensinamentos de Rudolf Steiner, Rudolf

    Lanz e Tobias Richter.

    No Captulo 1 Um dilogo sobre a Pedagogia Waldorf ,abordamos a

    importncia do dilogo, afeto e arte, na educao; apresentamos brevemente o

    filsofo, cientista e artista austraco Rudolf Steiner, criador da Antroposofia eresponsvel pela primeira escola Waldorf criada em 1919, na cidade de

    Stuttgart, na Alemanha; discorremos sobre o estudo geral do homem como uma

    base para a Pedagogia e tambm sobre um pensador, que, a sua maneira, pode

    ter influenciado a Pedagogia Waldorf. Visando tambm metodologia e didtica

    da Pedagogia; apresentamos uma breve histria da escola Waldorf, com alguns

    dos princpios, objetivos e os aspectos que aliceram sua concepo

    pedaggica. Relatamos, ainda, a histria da Associao Comunitria MonteAzul, bem como as reflexes do currculo social.

    No Captulo 2 Revelaes de uma Educao Encantadora ,enfocamos os procedimentos metodolgicos para a realizao da pesquisa de

    campo, que foi realizada por meio de observao do ambiente, das salas de

    aula e da dinmica de duas escolas Waldorf, pertencentes a duas cidades do

    interior de So Paulo. Igualmente, apresentamos os resultados obtidos na

    aplicao do questionrio aos educadores das salas observadas, com anlise einterpretao de suas vozes.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    16/94

    CAPTULO I

    UM DILOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF

    A nossa mais elevada tarefa deve ser a de formarseres humanos livres que sejam capazes de, por si mesmos,

    encontrar propsito e direo para suas vidas.

    Rudolf Steiner

    A alegria de pensar mais rara, cada dia. Assim tambm a paixo de

    conhecer e transformar o mundo. Pensar dilogo. Pesquisar dilogo.

    Escrever dilogo. No h aprendizagem, nem ensino, sem dilogo.

    Severino Antnio

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    17/94

    CAPTULO 1

    UM DILOGO SOBRE A PEDAGOGIA WALDORF

    Neste captulo, abordamos a importncia do dilogo, afeto e arte, na

    educao. Apresentamos brevemente o filsofo, cientista e artista austraco

    Rudolf Steiner, criador da Antroposofia e responsvel pela primeira escola

    Waldorf. Igualmente, enfocamos a Antroposofia, que foi desenvolvida por

    Rudolf Steiner. Uma palavra que vem do grego anthropos, homem, e sophia

    que significasabedoria, e que aborda o conhecimento do ser humano. Alm

    disso, citamos algumas concepes de Pestalozzi. Terminamos o captulo

    com a vocao social, tomando como exemplo a Associao Comunitria

    Monte Azul.

    1.1 Rudolf Steiner

    Rudolf Steiner nasceu em 27 de fevereiro de 1861 em Kraljevec

    (ustria). Apesar de seu interesse humanstico ainda por uma sensibilidade

    para assuntos espirituais, cumpriu em Viena, a conselho do pai, estudos

    superiores de cincias exatas. Por seu desempenho acadmico, a partir de

    1883, Rudolf Steiner tornou-se responsvel pela edio dos escritos

    cientficos de Goethe na coleo Deustsches Nationalliteratur.

    (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm).

    Uma pequena observao se faz ao menino Steiner, que, aos oito anos

    de idade, teve despertada a sua paranormalidade, mas a manteve em segredo,

    devido ao preconceito da poca. Para integrar o seu dom, mantendo a lucidez,

    julgou ser necessrio ter uma viso concreta da realidade e para isso se

    entregou aos estudos da matemtica, cincias naturais e filosofia (EMANUEL,

    2009).

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    18/94

    Aos dez anos de idade, matriculou-se no colgio Liceu, numa cidade

    prxima da qual morava, chamada Wiener-Neustadt, na qual recebeu uma

    nota que nenhum aluno havia recebido antes, pois adquiriu sozinho o

    conhecimento da rea da matemtica como clculo, estatstica e geometria

    descritiva.

    Recebeu seu primeiro convite de trabalho em 1883, por sua aplicao

    nos estudos, cuja incumbncia era de responsabilizar-se pelos escritos de

    Goethe, e por l ficou at 1890, quando se transferiu para Weimar, na

    Alemanha, igualmente convidado para trabalhar no Arquivo Goethe-Schiller.

    Morou e trabalhou nessa cidade por sete anos.

    Em 1891, doutorou-se em Filosofia, com uma tese em epistemologia,publicada posteriormente como Verdade e Cincia.

    Seus estudos na rea humanstica lhe renderam, em 1894, a produo

    de um livro, intitulado A Filosofia da Liberdade. Nessa poca, morava em

    Berlim. Foi escritor, redator literrio e conferencista para divulgar suas ideias,

    por ele chamadas de cientfico-espirituais, iniciando pela Teosofia, no perodo

    de 1902 a 1912, e depois pela Antroposofia, sociedade da qual ele mesmo foi o

    fundador.Em Dornarch (Sua), Steiner construiu em madeira o Goetheanum,

    sede da Sociedade (e mais tarde tambm da Escola Superior Livre de Cincias

    Espirituais), destrudo em dezembro de 1922 por incndio e, posteriormente,

    substitudo pelo atual edifcio em concreto.

    (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm).

    Steiner faleceu nessa mesma cidade de Dornarch, em 1925, deixando

    grandes contribuies nos campos da Medicina, Agricultura, OrganizaoSocial, Pedagogia e Pedagogia Curativa.

    1.2 Antroposofia

    Em 1902, Steiner realizou uma palestra De Zaratrusta a Nietzsche na

    qual utilizou pela primeira vez a palavra Antroposofia, sendo mais tardedesignada ao conjunto de conhecimento criado por ele.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    19/94

    De acordo com Passerini (1998, p. 31),

    Steiner define a Antroposofia como "um caminho deconhecimento que pretende fazer o esprito humano chegar

    unio com o esprito csmico" ou conhecimento produzido peloeu superior do homem.

    A Antroposofia procura responder as mais profundas perguntas do

    homem atravs da razo sem negar os anseios espirituais.

    A Antroposofia uma palavra de origem grega que significa"conhecimento do ser humano", ou sabedoria humana e foiintroduzida em 1913 pelo austraco Rudolf Steiner,caracterizada pelo conhecimento da natureza, do ser humano edo universo, que em sua concepo amplia o conhecimentoobtido pelo mtodo cientfico convencional, bem como a suaaplicao em, praticamente, todas as reas da vida humana.(Sociedade Brasileira de Antroposofia). (SAB, 2009).

    Essa Antroposofia a base da Pedagogia Waldorf. Para aplic-la, no

    necessrio ser antropsofo ou antroposfico, mas sim compreender que o

    futuro da humanidade exige esprito de iniciativa, fantasia criadora e senso de

    responsabilidade.

    Em seus conceitos, h reflexes sobre a capacidade de pensar e sobrea compreenso do ser humano moderno, bem como quatro caractersticas de

    desenvolvimento: da conscincia, do autoconhecimento, da individualidade e

    da liberdade.

    Em seu livro Passeios atravs da Histria Luz da Antroposofia, Rudolf

    Lanz (1998) apresenta como o ser humano conseqncia de uma linha de

    acontecimentos espirituais.

    A criana, quando pequena, quer conquistar o seu espao, correr, pular,engatinhar, subir em rvore, em cadeiras, mesas e, assim, est treinando seu

    sistema motor. O mesmo podemos afirmar da motricidade da mo, que faz fluir

    a vontade contida no corpo inteiro.

    Conforme Lanz (1998, p. 43),

    O que toda criana deveria ter em primeiro lugar umambiente cheio de carinho e amor. Assim o leite maternoprotege o recm-nascido contra a substancialidade do mundoda figura da me (no necessariamente a me fsica), protege-o contra a frieza do ambiente, dando-lhe calor e aconchego.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    20/94

    Mesmo que a criana cresa num ambiente onde tudo parece ser

    perfeito, mas no tem calor humano, acabam gerando nela traumas, defeitos

    congnitos e psquicos. O que toda criana precisa de amor, afeto e dilogo

    porque s assim saber o quanto o mundo bom.

    A criana, inconscientemente, imita o que est ao seu redor, como o

    modo de falar, os gestos, e mais tarde ir imitar a me, brincar, com seus

    colegas, de mdico, vendedor, pois o seu mundo se baseia na identificao.

    Exatamente, por isso que no devemos destruir esse seu pequeno

    mundo, com comentrios irnicos, porque na verdade essa a realidade em

    que a criana vive. E os adultos tm que compreender que a mesma incapaz

    de fingir e mentir. Pois no sabe distinguir entre a realidade do seu mundo e ada sua imaginao.

    Para Lanz (1998, p. 43),

    Isso se aplica em particular a adultos que possuam um dosquatro temperamentos muito predominante. O colrico pode,com suas exploses, causar um impacto to grande numacriana que ela seja prejudicada, em toda a sua vida posterior,em seu sistema rtmico e circulatrio; o adulto melanclico,concentrado em si prprio, no dar criana o calor e oaconchego de que precisa, o que poder ter efeitos muitonegativos sobre seu sistema digestivo; o fleumtico, que umapessoa animicamente inspida, deixar a criana semestmulos, obtusa, com as capacidades cerebrais poucodesenvolvidas; o adulto sangneo no consegue segurar acriana com carinho: ela se sentir desamparada, e issodeixar um marco negativo em sua prpria vitalidade.

    Lanz (1998) compreende que isso se revelar como um dos princpios

    pedaggicos mais importantes para todas as idades: os educadores, inclusive

    os pais, devem trabalhar sobre si mesmos, para eliminar falhas que podem terefeitos negativos sobre seus educandos.

    Devemos compreender que a infncia no uma fase de brincadeiras,

    sem responsabilidade; pelo contrrio, a criana, at os trs anos de vida,

    aprende mais do que todos os anos de vida acadmica do homem. Se

    pensarmos no andar, pensar, falar so aprendizados que a mesma conquista

    antes mesmo do termino do terceiro ano. So aprendizados que fazemos em

    contato com outros seres humanos.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    21/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    22/94

    A criana que no sonha na infncia, ao se tornar adulta, no ter

    flexibilidade, respeito; quer dizer, ter inabilidade para fazer contato com outras

    pessoas e com isso acabar se isolando. Portanto, importante uma educao

    baseada no brincar, criar e ouvir histrias, pois atravs dessa imaginao

    infantil que ir possibilitar o desenvolvimento da criatividade na vida profissional

    e social.

    De acordo com Passerini (1998, p. 46), "A beleza de uma folha ou de um

    pr de sol faro nascer o sentimento de que o mundo beloe de que vale a

    pena viver".

    Quando falamos da beleza do pr do sol, brincar, ouvir histrias, amor,

    calor, so coisas que parecem pequenas, mas fazem toda a diferena na vidada criana, pois importante para o indivduo vivenciar esses fundamentos

    para o seu desenvolvimento pleno.

    1.3 O estudo geral do homem: uma base para a Pedagogia

    O livro de Rudolf Steiner (2003), intitulado A arte da Educao. II. Estudo

    geral do homem: uma base para a pedagogia, apresenta as catorze

    conferncias proferidas em Stuttgart, na Alemanha, de 21 de agosto a 5 de

    setembro de 1919, por ocasio da fundao da Escola Waldorf Livre.

    Uma das conferncias teve como tema A trimembrao do organismo

    social, realizada a pedido de alguns membros da Sociedade Antroposfica.

    Outra conferncia intitulada "Estudo geral do homem," foi escolhida por RudolfSteiner para ser feita aos professores da nova Escola Waldorf Livre.

    Com base nessas conferncias, devemos, primeiramente, distinguir

    entre a tarefa pedaggica que a sociedade nos prope hoje e aquela que a

    humanidade prope isto considerando que a cincia espiritual antroposfica

    coloca os homens em atividade, sempre novos e voltados para a sua poca.

    Para Steiner, deveramos dar incio educao para a criana quando

    realmente integrada ao plano fsico, ou seja, ao comear a respirar e sentir o ar

    exterior, pois a respirao tem uma relao com o sistema do metabolismo,

    alm das funes da respirao estarem ligadas ao sistema neurossensorial.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    23/94

    Steiner (2003) afirma que a criana no sabe respirar de modo a

    sustentar-se corretamente, pela respirao, no processo neurossensorial.

    Devemos, nesse momento, compreender o ser humano, pelo ponto de vista

    antropolgico-antroposfico. A educao deve ensin-los a respirar

    corretamente.

    Por outro lado, a criana sabe muito bem dormir e j nasce dormindo,

    mas o que ela ainda no sabe fazer o que constitui o fundamento dos

    estados de viglia e o sono.

    A criana tem toda a espcie de experincia no plano fsico;usa seus membros, come, bebe e respira. Mas enquanto faz

    tudo isso, em estados alternados de sono e viglia, no capazde levar para o mundo espiritual tudo que experimenta nomundo fsico o que v, ouve com os ouvidos, realiza comsuas mozinhas, e a maneira como esperneia; tampoucopoderia transform-lo no mundo espiritual e trazer o produtodessa atividade de volta para o plano fsico. O que caracterizaseu sono ser diferente do sono do adulto. (STEINER, 2003,p. 25).

    Entendemos que ocorre uma transformao no sono do adulto

    geralmente so experincias ocorridas entre o adormecer e o despertar o que

    o diferencia do sono da criana, visto que a mesma no leva para o sono o que

    realizou e vivenciou nesse entremeio.

    Steiner (2003) afirma que a atividade educacional e docente dirigida

    inicialmente a um campo elevado ou seja, o ensino da respirao e do ritmo

    na alternncia entre o sono e a viglia e, por essa razo, notamos que, para

    sermos bons educadores, devemos olhar para o que fazem.

    Para Steiner (2003, p. 40),

    O professor moderno deveria ter como fundamento de tudo quedesempenha na escola, uma ampla viso das leis do Universo.Obviamente nas primeiras classes, nos primeiros graus davida escolar que o ensino exige um relacionamento da alma dodocente com as mais elevadas idias da humanidade.

    Entendemos que o professor deve conhecer a fundo o papel que desempenha

    na escola. E principalmente na alma do aluno. por isso que, nos primeiros anos, o

    professor deve ter contato com o aluno por mais tempo, criando, assim, um lao

    afetivo.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    24/94

    De acordo com Steiner (2003, p. 68),

    Por curioso que parea, tudo que a criana faz e traquina realizado por simpatia para com o fazer e traquinagem.Quando nasce no mundo, a simpatia amor forte, querervigoroso. Mas no pode permanecer assim; deve permear-se,como que ser continuamente iluminada pela representaomental. Isso se d, em sentido mais amplo, quando integramosaos nossos instintos os ideais, os ideais morais.

    Pouco sabemos que, ao andar, as crianas esto, na verdade, vivendo

    conscientemente, e nada sabem do que acontece dentro dos msculos ou at

    mesmo do que ocorre no nosso corpo como um todo.Assim, segundo Steiner (2003, p. 77), tudo que possumos como

    conceitos de coeso, de adeso, de foras de atrao e repulso constituem,

    no fundo, apenas hipteses para a cincia exterior.

    Podemos dizer que os sentimentos que vivem na nossa alma s

    conhecem os sonhos, mas os sonhos so lembrados por ns, diferente dos

    sentimentos que so experimentados.

    De acordo com Steiner (2003, p. 100),

    O homem possui ao todo doze sentidos. O fato de a cinciacomum distinguir apenas cinco, seis ou sete sentidos decorrede esses serem especialmente evidentes, enquanto os demaisque completam o nmero doze so menos.

    Abordamos o sentido da audio, da viso, do paladar, olfato e tato,

    considerando que o sentido trmico e o tato so vistos como diferentes no

    homem ao se relacionar com o mundo.Steiner (2003) afirma que temos o sentido da linguagem e temos ainda

    os sentidos da audio, do calor, da viso, do paladar, do olfato e, depois, o

    sentido do equilbrio. Mantemos o nosso equilbrio frente, atrs, direita e

    esquerda , para no cairmos. Inclusive, os sentidos, como o olfato, viso e

    calor, esto ligados aos sentimentos.

    O sentido do calor est relacionado com os sentimentos, e confundimos

    com o sentido do tato que, na verdade, mais volitivo, enquanto o calor

    apenas sentimental.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    25/94

    1.4 Uma breve histria da Escola Waldorf

    A primeira escola Waldorf surgiu em 7 de setembro de 1919 em Sttutgart

    na Alemanha. Emil Molt, o proprietrio de uma empresa de cigarros, por ter

    conhecimento que Steiner entendia de pedagogia, props para o mesmo que

    fundasse uma escola para os filhos de seus operrios e para os funcionrios.

    Emil Molt sabia que Steiner, enquanto estudante foi responsvel por educar um

    menino excepcional (hidrocfalo incurvel), e esse estudante acabou sendo

    curado. O mesmo terminou seus estudos e formou-se em Medicina, e veio afalecer durante a primeira guerra mundial, mas nada relacionado sua

    deficincia.

    Steiner concordou, mas para tanto colocou 4 condies:

    primeira condio: que a escola seria aberta, indistintamente, para todas

    as crianas;

    a) segunda condio: que a escola fosse coeducacional;

    b) deveria tambm ser uma escola com um currculo unificado de 12 anose, por ltimo, que os professores da Escola fossem tambm os

    dirigentes e administradores da mesma. Queria que a Escola Waldorf

    tivesse o mnimo de interferncia governamental e no tivesse a

    preocupao com objetivos lucrativos.

    (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm).

    Aps uma conferncia em Oxford em 1922, Steiner definiu trs regras

    de ouro para o professor Waldorf:a) Receber a criana em agradecimento ao mundo de onde ela vem;

    b) educar a criana com amor;

    c) conduzir a criana atravs da verdadeira liberdade que pertence ao

    homem. (http://www.centrorefeducacional.com.br/waldorf.htm).

    O nome da primeira Escola foi emprestado por Emil Molt, o dono da

    empresa de cigarros, que tambm se chamava Waldorf.

    Foram vrias conferncias para a abertura da primeira Escola Waldorf,

    para os professores que Steiner escolheu.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    26/94

    Depois, outras escolas foram surgindo na Alemanha, na Inglaterra, na

    Sua, na Sucia, nos Estados Unidos. No Brasil, a primeira escola Waldorf

    surgiu em So Paulo em 1956, no dia 27 de fevereiro.

    O Quadro 1 apresenta o crescimento do nmero de escolas Waldorf, de

    1919 a 2009, na Alemanha, e no restante da Europa e do mundo,

    desconsiderados os estabelecimentos de educao infantil isolados.

    Alemanha Outros Pases daEuropa

    OutrosContinentes

    Total

    1919 1 0 0 11925 4 3 0 7

    1938 8 8 0 161955 25 8 8 411971 32 42 21 951983 80 154 76 3501992 144 289 149 5822004 187 444 249 8802009 213 468 312 993Var. 1971-2009

    665% 1.114% 1.486 % 1.045%

    Quadro 1 Crescimento das escolas Waldorf em nmeros, de 1919 a 2009

    Fonte: Rickli (2009a).

    No Brasil, ainda so raras as referncias Pedagogia Waldorf em

    cursos de formao de professores, os quais, s vezes, se referem com um

    tom irnico nem vamos falar dessa esquisitice. Percebemos que as pessoas

    ainda acreditam que a Escola Waldorf seja fora da realidade, e os professores,

    comumente, tm muito pouco contato com ela e at mesmo desconhecimento

    da mesma.

    Conforme o Quadro 1, podemos perceber que o nmero de EscolasWaldorf aumentou significativamente a partir da revoluo pedaggica que

    surgiu na cultura ocidental entre 1890 e 1930, e que ficou conhecida como:

    Nova Educao, Escola Nova, New Education, Education Nouvelle,

    Reformpdagogik. De 1919 a 2009, houve uma triplicao na quantidade

    de escolas Waldorf; um resultado extremamente positivo.

    O Quadro 2 apresenta os pases nos 15 primeiros lugares em nmero de

    escolas Waldorf no mundo.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    27/94

    Classificao Pas N deEscolas

    1 Alemanha 2132 EUA 130

    3 Holanda 924 Sucia 4155

    NoruegaSua

    35-

    6 Itlia 347 Austrlia 3388

    BrasilReino Unido

    32-

    99

    FinlndiaHungria

    25-

    10 Blgica 2211 Canad 2112 Rssia 1813 frica do Sul 1714 Dinamarca 1615 ustria 15

    Quadro 2 Os 15 primeiros colocados em nmero de escolas WaldorfFonte:Rickli (2009a).

    Conforme consta no Quadro 2, entre os quinze pases que mais tmEscolas Waldorf, a Alemanha est em primeiro lugar com 213, j que o pas

    bero da referida Pedagogia. J o Brasil e o Reino Unido esto empatados em

    8 lugar com apenas 32 escolas. Mesmo assim, percebemos que houve um

    crescimento significativo de escolas Waldorf, tanto no Brasil como tambm em

    outros pases.

    A Pedagogia Waldorf visa muito relao professor-aluno. O

    professor tem que ser uma artista, trazer o mundo para dentro da sala de

    aula, ou seja, contemplando a viso de Steiner que desejava uma educao

    baseada no dilogo, no afeto e na arte, uma pedagogia diferente da escola

    convencional.

    Para educar tem que ter arte, dar ao aluno a possibilidade de expressar

    seus sentimentos, emoes, mostrar seu lado criativo. A Pedagogia Waldorf

    tem convergncias com o que pode ser chamado de neoromntica. De um

    modo geral, segundo essas concepes, o educador precisa conhecer seu

    aluno para educ-lo e, principalmente, entender que ensinar no transmitir

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    28/94

    conhecimento, mas criar possibilidades para que o aluno construa o seu

    conhecimento.

    Os professores tm nas mos a chave-de-ouro para educar, mas

    infelizmente muitos no sabem como utiliz-la. O aluno j traz uma bagagem

    muito grande de histrias da sua vida, bem como alegrias e tristezas. A

    Pedagogia Waldorf preza uma educao baseada na arte, afeto e dilogo.

    Esse o cerne da Escola Waldorf.

    1.6 Metodologia e Didtica

    O livro "A arte Educao I: Metodologia e Didtica aborda catorze

    conferncias realizadas por Rudolf Steiner, de 21 de agosto a 5 de setembro

    de 1919, por ocasio da fundao da Escola Waldorf Livre. Em 2003, Rudolf

    Lanz faz a traduo para o portugus.

    O ensino aqui adotado diferente: transcorre de acordo com os

    impulsos evolutivos, conforme a ordem csmica geral. Trataremos da

    humanizao do ser humano superior e tambm do anmico espiritual, fsico,corpreo e do ser humano inferior.

    Steiner (2003) afirma que, primeiro, precisamos distinguir entre o ensino

    baseado na conveno num acordo entre os homens, mesmo que no seja

    preciso, e tambm aquele baseado no conhecimento da natureza humana em

    geral.

    Partindo desse aspecto de conhecimento da natureza humana em geral,

    um ensino baseado no querer, no sentir e no pensar. Mas vem a questo:como iremos fazer isso com uma classe inteira sendo que com um aluno

    mais fcil? O importante ter amor no que se pratica.

    Steiner (2003) faz uma analogia interessante quando comenta sobre o

    casulo da borboleta; Imagine voc dentro dessa borboleta; mas ela saiu. Agora

    imagine que voc est dentro desse casulo e sua alma mais tarde sair.

    Poderemos comentar com a criana se for explicar a sobrevivncia da

    alma aps a morte. Porm, antes dos catorze anos, no devemos falar sobre a

    imortalidade, mas sim fazer essa analogia com o casulo da borboleta. Portanto,

    tudo deve ser explicado de forma mais singela.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    29/94

    Percebemos tambm a importncia de ensinar partindo da alma da

    criana. Mas o professor precisa acreditar primeiro que a borboleta representa

    a alma do homem, do contrrio, no iremos conseguir nada com a criana.

    Conforme Steiner (2003, p. 13),

    Portanto, ao ensinar a escrever devemos comear pelodesenho das formas artsticas dos caracteres com seuelemento fontico, se quisermos retroceder a ponto da crianaser sensibilizada pelas diferenas entre as formas. No bastademonstrarmos isso oralmente a ela, pois tal procedimento fazdo ser humano aquilo que hoje eles tornaram.

    Percebemos que, ao ensinar, devemos partir do desenho da arte e,

    atravs do meio artstico, no ficar apenas no abstrato, buscando, nos

    elementos do desenho, as letras manuscritas e, em seguida, as letras de

    forma. Sendo assim, edificaremos a leitura sobre a atividade do desenho.

    Com isso, as crianas podero expressar, na leitura e na escrita, o que

    reside em seu sopro do falar. Em seguida, a criana comea a escrever frases

    independentes, se ela entendeu ou no; com isso, a criana, por meio da frase,

    percebe como que veio a conhecer as formas como sendo f em fish. Vai

    aprender a copiar, fazendo com que no apenas leia, mas reproduza com asmos o que v, principalmente as letras de forma.

    Conforme Steiner (2003, p. 15),

    Em seguida percorremos o caminho inverso: a frase que antesescrevemos na lousa agora desmembramos e os outroscaracteres que ainda no extramos de seus elementos nosevidenciamos pela atomizao das palavras, partindo do todopara o detalhe. Por exemplo, aqui est escrito cabea. Acriana aprende primeiro a escrever cabea em c, a, b, e, ,a, tirando cada letra da palavra indo, portanto, do todo para aparte.

    Dividimos o papel em pequenos retalhos e, em seguida, contamos os

    retalhos. Digamos que seja 24. Na sequncia, colocamos gros de feijo e

    retiramos esse retalho de papel, fazendo um montinho; e assim vou fazendo

    outros. Ao final, faremos quatro montinhos com 24 pedaos de papel.

    Chamando o que fica primeiro de nove, o segundo de cinco, o terceiro de sete

    e o quarto de trs. Consideramos que, antes, nos tnhamos 24 montinhos;

    agora, tenho 24 pedaos de papel; tenho 9, 5, 7, 3 pedaos de papel. Com

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    30/94

    isso, ensinamos para a criana a adio, visto que 24 pedaos de papel juntos

    so 9+5+7+3. No necessitamos chegar soma, que no corresponde com a

    natureza humana.

    De acordo com Steiner (2003, p. 19),

    O homem nasce no mundo querendo levar sua prpriacorporalidade do ritmo musical relao musical com o mundo;essa faculdade musical interior existe mais acentuadamenteentre os trs e os quatro anos de idade.

    Hoje, na verdade, tudo est misturado, de forma confusa, especialmente

    o artstico, porque desenhamos e modelamos com as mos; mas ambas so

    atividades diferentes entre si, podendo manifestar-se de forma especial quandointroduzimos as crianas no mbito artstico.

    Depois de havermos falado durante algum tempo com a criana sobre

    as mos e sobre trabalhar com as mos, passemos a fazer com que ela

    execute alguma coisa de habilidade manual. Isto pode acontecer, sob certas

    circunstncias, j na primeira aula. Agora eu fao isto (um trao reto, figura 1).

    Faa o mesmo com sua mo! Pode-se ento fazer as crianas executarem a

    mesma coisa o mais devagar possvel, pois isso j ser vagaroso sechamarmos as crianas uma a uma para fazer o desenho na lousa e voltar

    para o seu lugar. Nesse caso, a durao correta da aula de grande

    importncia.

    Em seguida, pode-se dizer criana: Agora eu fao isto ( figura 2).

    Faam-nos, vocs tambm, com as suas mos. Ento cada criana o far

    tambm. Ao terminarmos, ns lhe diremos: Esta 1 (figura 1) uma linha reta

    e a outra (figura 2) uma curva, portanto vocs fizeram com as suas mos,uma linha reta e uma curva.

    Figura. 3 Figura. 4

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    31/94

    Notamos que a criana realiza as tarefas de modo que o contedo seja

    recapitulado na prxima aula.

    Segundo Steiner (2003, p. 51),

    Ns nos segregamos do mundo exterior ao aprender adesignar os objetos por substantivos. Ao designarmos algo pormesa ou cadeira deparamos-nos da mesa ou da cadeira:ns estamos aqui, e a mesa ou a cadeira est l. bemdiferente quando designamos as coisas por objetivos. Ao dizera cadeira azul eu exprimo algo que me une cadeira. Aqualidade que percebo une-me cadeira. Designando umobjeto por um substantivo, separo-me dele; pronunciando-mesobre a sua qualidade, junto-me novamente a ele, de modoque desenrola a tala individual que se tem de levar ainteiramente conscincia.

    Ao ensinar lngua estrangeira para a criana, no devemos ficar

    perdendo tempo com tradues, por exemplo, do alemo para o latim e vice-

    versa. Devemos fazer mais leituras, expressar os prprios pensamentos. Ler

    em voz alta de modo correto, proporcionando a leitura da forma correta; depois,

    pedir para narrar com suas prprias palavras e principalmente ficar atento se

    acaso o aluno no tiver entendido algo.

    Em seguida, conversamos com os alunos com a nossa prpria lngua,

    sobre algo qualquer, mas que sejam capazes de sentir e compreender

    conosco. E depois pedimos para a criana reproduzir na lngua estrangeira o

    que acabamos de conversar.

    Segundo Steiner (2003, p. 99),

    No convm ensinar na escola uma lngua estrangeira semrealmente exercitar tanto a gramtica quanto a sintaxe.Especialmente no caso de crianas que j ultrapassaram os

    doze anos, necessrio trazer-lhes conscincia o contedoda gramtica.

    Para chegar ao aspecto gramatical, devemos discutir com o aluno

    assuntos da vida, de forma que estar valendo para o ensino da lngua

    estrangeira.

    De acordo com Steiner (2003, p. 110),

    Teremos assim de distribuir os espaos na escola de tal forma

    que uma coisa passa a coexistir com outra. No podemos, porexemplo, fazer recitar poesias ou falar sobre histria, se nasala vizinha, os pequenos tocam trombeta.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    32/94

    Percebemos a importncia da organizao dos horrios porque no

    podemos, com crianas pequenas, comear a aula de msica na mesma

    classe, quando, ao lado, os outros esto precisando de silncio.

    Outro ponto importante que deve ser ressaltado a leitura de livros. O

    professor deve narrar oralmente ou at falar textualmente um trecho de poesia.

    O aluno deve ouvir e no ler junto. de suma importncia para a lngua

    estrangeira, porm no to necessrio para a lngua materna.

    De acordo com Steiner (2003, p.114), A geometria lhes oferece um

    exemplo extraordinriamante adequado para ligar o ensino visual sua prpria

    matria didtica.

    I

    Figura 3:tringulo retngulo (1) Tringulo issceles (2).

    Ao desenhar um triangulo, (figura 3) podero fazer, embaixo e limtrofe a

    ele, um quadrado. Ensine ento criana caso ainda no o tenham feito, o

    conceito de que, num tringulo retngulo, os lados a e b so os catetos, o lado

    c a hipotenusa. Sendo assim, construram um quadrado sob a hipotenusa.

    Isto tudo vale, claro, apenas para um tringulo issceles. Agora dividam o

    quadrado por suas diagonais. Faam uma parte vermelha (V1 e V2) (em cima e

    embaixo) e uma parte amarela (A1) ( direita). Digam, ento, criana: Vou

    recortar a parte amarela e coloc-la ao lado ( figura 2). E coloque tambm a

    parte vermelha ao lado da amarela. Agora construam um quadrado sobre um

    dos catetos, mas nesse quadrado composto de um pedao vermelho e um

    pedao amarelo.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    33/94

    O aluno deve comear a dar incio ao ensino de geografia na segunda

    etapa do primeiro grau. Para Steiner, a criana, at os nove anos, deve

    aprender msica, pintura, escrita e leitura, lngua estrangeira e, mais tarde,

    aritmtica. At aos 12 anos, gramtica, morfologia, histria natural do reino

    animal e vegetal, lngua estrangeira e geometria.

    Segundo Steiner (2003, p. 13),

    Tentaremos dar criana, inicialmente de modo artstico, umaespcie de imagem das condies montanhosas e fluviais, mastambm de outras condies da redondeza. faamo-lo demodo realmente a elaborarmos com crianas um mapaelementar da regio para uma mais prxima de sua casa, que

    lhe familiar.

    Iremos transformar uma rea conhecida em mapa. Desenharemos os

    rios, os crregos da rea do mapa e aos poucos ns os transformaremos em

    uma viso das redondezas. Poderemos trabalhar com as cores, como, por

    exemplo: os rios em cor azul e as montanhas em marrom.

    Utilizaremos os prados para alimentar o gado; temos tambm o posteiro.

    Com isso, o aluno receber uma viso econmica da regio e tambm

    poderemos abordar que dentro das montanhas tem carvo, metais, etc. Os riosservem para transportar as coisas.

    Para Steiner (2003, p. 125),

    Viemos a conhecer as trs etapas da evoluo humana quevigoram entre a troca dos dentes e a puberdade, incidindoespecialmente na poca do primeiro grau e no incio dosegundo. Precisamos apenas ter em mente queprincipalmente na ltima dessas etapas o subconscientedesempenha um grande papel junto ao plano consciente umpapel significativo para toda a vida futura da pessoa.

    Imaginamos agora quantas pessoas andam de trem eltrico sem ao

    menos saber como se d a sua impulso. Visto que ns utilizamos algo que

    no compreendemos.

    Na verdade, tudo que ensinado na escola para a criana deveria ter

    ligao com a vida prtica. O que hoje considerado antissocial, na verdade,

    deveramos torn-los sociais, podendo vir a fazer parte da vida profissional do

    aluno mais tarde.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    34/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    35/94

    1.7 Alguns dos aspectos da concepo pedaggica de Steiner

    De acordo com Richter (1995, p. XII), A publicao da Obra Objetivo

    Pedaggico e Metas de Ensino de uma escola Waldorf visa possibilitar aos

    professores acesso bibliografia da Pedagogia Waldorf em portugus.

    Segundo Richter (1995, p. XII),

    Na esperana de que cada pessoa envolvida na arte deeducar seja capaz de dar vida a formas mortas, desenvolvendoe plasmando assim sua prpria escultura curricular, sua prpriaimagem curricular, que se ouse por em prtica esta tentativa de

    apresentao das metas de educao e dos possveiscontedos de aula.

    Ainda de acordo com Richter (1995, p. 6),

    H que se plantar sementes, tanto em relao aos contedos,quanto estrutura do ensino. Isto significa que mais tarde,dentro de novos contextos, a matria aprendida deve servir deestmulo para o desenvolvimento dos contedos de novasquestes e de novos pontos de vista. preciso estimular e

    preservar a vontade espontnea de aprender, o esprito deinvestigao, a disposio para a atividade criativa e para aparticipao na formao da sociedade. Assim, a educaopode ser reconhecida como instrumento para odesenvolvimento e para transformao.

    Alguns professores acreditam que a tecnologia muito importante, mas,

    para a Pedagogia Waldorf, o educador deveria dar prioridade arte,

    jardinagem, msica e histrias esquecidas no tempo. Como tambm a temas

    atuais que tem a ver com a realidade, como a pedagogia social, ecologia,

    higiene, sexualidade, educao ambiental e de trnsito, etc., que devem ser

    integrados no ensino global.

    Conforme Richter (1995, p. 7),

    A Pedagogia Waldorf tem um carter cristo, que permeia todoo ensino e que transcende os limites de uma confisso.Nenhuma criana deveria crescer sem um ensino religioso. Deacordo com a vontade dos pais, o ensino ministrado pelasvrias confisses e comunidades religiosas, e tambm como

    "ensino cristo livre" pelos professores da escola.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    36/94

    Para a Pedagogia Waldorf, as matrias, tanto tericas como prticas,

    so agrupadas de uma forma que a aula permita mudanas, incluindo o

    intervalo que visto como o momento de assimilao do aprendizado da

    matria. A criana precisa ter uma pausa entre o sono e a viglia, podendo

    durante a noite se distanciar de tudo que aprendeu.

    A partir destes apontamentos, notamos a importncia do professor saber

    valorizar a experincia do aluno para melhor ensinar. O professor precisa

    entender que o importante na educao no a nota, prova, sabatina, mas,

    sim, como ensinar. Livros que correspondem com a faixa etria.

    O ser humano deve permear a busca do conhecimento comamor pelo saber, de tal forma que nessa atividade, ele secomporte como o artista criador ou como aquele que vivenciauma obra de arte e assim a reproduz em seu ntimo.(RICHTER, 1995, p. 11).

    Alm disso, a escola Waldorf parte de uma educao baseada no

    dilogo e no afeto, que o cerne dessa pedagogia. Inclusive, tudo isso muito

    bem trabalhado e discutido, pois tem uma preocupao especial com a aura da

    criana.

    Na pedagogia Waldorf, a educao no deve ser baseada apenas em

    contedos especficos e sim no empenho do professor. Todo ensino , na

    verdade, uma arte, e o professor deve saber entender a alma do aluno. Pois o

    aluno deve estar preparado para essa vivncia, formando um conjunto de

    imagens, facilitando a leitura por conta prpria.

    De acordo com Richter (1995, p. 343),

    Hedwick Hauck,a primeira professora de trabalhos manuais naescola Waldorf Stuttgart, concluiu a seguinte frase: Crianasque aprenderam na juventude a criar com a mo objetosartsticos teis para outros e para elas mesmas de umamaneira adequada, no ficaro, como adultos, alheias ao serhumano e vida. Sabero, de maneira artstica e social,enriquecer e dar forma fecunda existncia e ao convvio comos outros.

    A arte plstica de suma importncia para a criana, considerando que

    o treino da motricidade importante para o desenvolvimento infantil. O tric

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    37/94

    atividade muito importante tambm porque nessa atividade desenvolve algo

    que aperfeioa a capacidade de julgar.

    Com isso, percebemos a necessidade das atividades manuais para a

    criana, como comentamos anteriormente da motricidade, que importante

    para o desenvolvimento infantil e tambm para o relacionamento com o ser

    humano, como saber compartilhar, como respeitar uma obra de arte

    futuramente.

    Entre dois e trs anos de idade, a criana ainda est na fase da

    imitao; com isso, as aulas devem proporcionar uma aprendizagem na qual o

    eu no deve se separar do mundo, e muito menos entre as coisas que

    pertencem ao mundo.Richter (1995, p. 366) afirma que

    A jardinagem permite ao jovem entender, de fato, o inter-relacionamento de fenmenos da natureza. A situaopossibilita que ele adquira a experincia atravs de atividadesprticas. O trabalho e a observao, realizados durante algunsanos, transformam a interao das foras da natureza emvivncia. Do trabalho comum no jardim da escola resulta umabase para julgamentos e para a prpria responsabilidade.

    A atividade relacionada jardinagem faz o aluno adquirir

    responsabilidade, confiana diante das suas prprias capacidades, estimulando

    as qualidades como gratido, persistncia, respeito e admirao.

    Conforme Richter (1995, p. 360), numa segunda poca as tcnicas so

    ampliadas principalmente pelo processo de envolver, que possibilita a

    produo de copas, vasos, bules, regadores, formas de bolo, sinos etc..

    Essas tcnicas exigem dos alunos muita segurana e concentrao nas

    marteladas, crescendo assim o desejo de executar seus prprios projetos.

    Deve dominar os processos, dobrar, soldar etc.

    De acordo com Richter (1995, p. 361),

    Contrariamente ao trabalho frio com cobre (ou lato), o ferro trabalhado em estado quente. O aluno aprende logo no incio adiferena entre trabalhar o ferro em estado incandescente oufrio e vivencia a maleabilidade com a qual o ferroincandescente moldado pelo martelo.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    38/94

    interessante comentar que, nessa idade, os jovens querem atividades

    desafiadoras, que exigem energia, coragem e presena de esprito.

    importante para o aluno participar, por exemplo, na elaborao de uma

    fazenda, com produo bsica da terra, da paisagem, podendo trabalhar tanto

    individualmente como em grupo.

    Nas escolas Waldorf, as peas de teatro podem ser vistas como ponto

    alto do ensino da lngua materna, tanto que os alunos tm que saber interpretar

    pela fala, pelos gestos e tambm pela msica.

    Os alunos devem, tambm, principalmente na arte, ter contato com a

    prtica, como copiar um quadro, por exemplo, de Rembrandt no Museu da

    histria da arte em Viena, visitar estdios de obras artsticas contemporneas,visitar concertos e museus.

    De acordo com Richter (1995, p. 21),

    O primeiro setnio; anterior ao ingresso na escola caracteriza-se pela atividade particularmente intensa dos sentidos e poruma reao pouco seletiva da criana s experinciassensoriais. Nisso se expressa uma forte tendncia de entrega atodo o mundo ambiente. A criana precisa do exemplo dosadultos e do ambiente perceptvel. A vivncia convertida emao que, por sua vez, contribui para o desenvolvimento doorganismo. Assim, a imitao educa, inclusive, o organismosensrio. Quando atingido um determinado grau dedesenvolvimento, entre o do crebro, as foras plasmadorasdos rgos tornando-se suficientemente livres para seremacessveis educao. Este o momento da maturidadeescolar. Essas foras podem agora ser alcanadas porimagens e pensamentos, pela memria e pelo ritmo.

    Nos primeiros anos de vida, a criana aprende com a imitao e com

    imagens; alm disso, a melhor fase para se ensinar. Portanto, partindo dessaviso, fundamental o bom exemplo no ambiente que a rodeia. No ambiente

    familiar, por exemplo, os pais so como referncias para as crianas. Para a

    mesma, os adultos nunca erram. Quando observam qualquer erro, ficam

    decepcionados.

    No segundo setnio,entre os 10 e os 12 anos de idade, comea uma

    nova fase. o desenvolvimento infantil: o corpo perde dimenses

    harmoniosas, predomina o crescimento dos membros e o sistema musculartorna-se visivelmente importante.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    39/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    40/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    41/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    42/94

    12 ano Pintura Modelagem

    Fonte: Richter (1995, p. 310)

    Do 1ao 8ano, a pintura faz parte da aula princi pal, portanto seria

    interessante, desde o incio, diferenciar a pintura com blocos de cera ou giz de

    cera, e, mais tarde, com aquarela e lpis de cor.

    No 9 ano, o aluno pode iniciar o estgio na silvicultura e na agricultura;

    portanto, o estgio no deve ser visto apenas como alternativa e sim como um

    aprofundamento.

    No 10 ano, os alunos aprendem usando moldes feitos por eles, comosaias e casacos etc. Os objetos produzidos so de forma diferente como

    copos, vasilhames, vrios tipos de cestas. Os alunos que aprendem lngua

    estrangeira tm matria alternativa como artesanal prtico ou trabalho

    artesanal artstico, o teatro de fantoches, tanto de mo como de vara; montam

    o cenrio, arrumam a iluminao, entre outros.

    Os alunos do 11 ano fazem estgios em institutos, escolas para

    deficientes e tambm em hospitais. No 12 ano, comeam a ver os problemas

    da vida com mais responsabilidade. Com isso, a vida se torna mais visvel,

    dando uma viso mais ampla em relao s matrias de ensino.

    Aps a leitura da obra Objetivo Pedaggico e Metas de Ensino de uma

    Escola Waldorf,percebemos que a educao Waldorf parte de uma viso mais

    humanista, para o educar com amor e o trabalhar com os sentimentos da

    criana. A mesma precisa ter uma viso que o mundo belo, bom e

    verdadeiro. Outra coisa que chama a ateno tambm que o aluno aprende

    por meio de imitao, estmulo, imagem, conto de fadas, fbulas, poesia. Para

    educar tem que ter vida, interao entre professor e aluno. O olhar do educador

    tem que estar em tudo que o rodeia, por meio da arte. Isso educar com amor.

    1.8 A vocao social da Pedagogia Waldorf: da conscincia realizao.

    A Associao Comunitria Monte Azul

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    43/94

    O importante no a perfeio com a qual conseguimosrealizar o que deve provir vontade, e sim que o que tiver desurgir nesta vida, por mais imperfeito que venha a parecer, sejafeito uma vez para que haja um comeo. (STEINER, s/d)

    Para Steiner, a educao no podia ser algo desgastante no corao do

    educador e do educando, mas sim algo que permitisse que a dignidade

    humana se tornasse realidade na qual os alunos pudessem aprender a

    conviver com a diversidade, fosse ela social, cultural ou tnica.

    A famlia, na verdade, a primeira responsvel pela educao da

    criana, sendo que as atitudes, falas, aes, refletem crenas; so valores

    que necessitam ser percebidos, conhecidos, compreendidos, refletidos e

    que, geralmente, so transformados. Seremos responsveis como

    educadores quando formos capazes de criar possibilidades para as

    crianas e jovens obterem encontros verdadeiros com as pessoas e com o

    mundo para que isso possa gerar nas almas a gratido e assim frutferas

    aes sociais no mundo.

    Aps receber freqentes visitas das crianas de uma favela prxima

    Escola Rudolf Steiner de So Paulo, local em que trabalha, a pedagoga Ute

    Craemer resolveu fundar a Associao Comunitria Monte Azul (ACMA), em 25

    de janeiro de 1979. (ASSOCIAO COMUNITRIA MONTE AZUL, 2010).

    Essa Associao desenvolve atividades pedaggicas, profissionalizante,

    culturais e de sade social. A educao vista como prioridade na ACMA,

    onde a educao se inicia desde o berrio, passa pela creche, jardins de

    infncia, pr-escola, centro de juventude e escola para excepcionais; as

    crianas recebem acompanhamento pedaggico, reforo escolar para os

    alunos que freqentam escolas pblicas.Hahn (2008, p. 7)afirma que

    O frum pela humanizao do social (FHS) foi fundado em 2001a fim de dar continuidade s vrias iniciativas que ocorreram nosanos oitenta e noventa at 1998/9 no sentido de promoverreflexes e trocas de experincias em torno da questo social luz da Antroposofia, fomentando grupos de estudo sobre aTrimembrao do organismo social.

    Hahn afirma que, em 2001, um grupo de pessoas ligado iniciativa

    social para cursos de pedagogia social se reuniu com a necessidade de

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    44/94

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    45/94

    Conhecendo a trimembrao do organismo social, coletnea editada

    pela Monte Azul;

    Questo social, coletnea de textos editada pela Monte Azul;

    Dinheiro, ouro e conscincia, de G. Klockenbring, pela Monte Azul;

    Pindorama, tambm pela Monte Azul.

    Falamos da vocao social da Pedagogia Waldorf, da necessidade do

    bem ao ser humano, da participao dos alunos ao se deparar com os

    problemas da sociedade, em geral, porque a participao dos alunos, dos

    jovens, nos grupos de estudos, em prol dos problemas da desigualdade social,

    faz com que estes amaduream, aprendam a dar e receber, e voltem sempre

    enriquecidos de cada encontro.

    Em maro de 2008, foi realizado o segundo Frum Waldorf de

    Integrao Ao social, na sede da escola Waldorf Francisco de Assis, com a

    presena de alunos, ex-alunos, professores, pais e voluntrios tambm

    engajados na iniciativa da pedagogia Waldorf.

    Segundo Craemer (2008, p. 14),

    Partimos de relatos de experincias realizadas em escolasWaldorf, e constatamos que elas eram de dois tipos:1- Incorporados do currculo pela prpria escola, como no casoda escola Waldorf Francisco de Assis e Waldorf So Paulo.2- Iniciativas prprias de alunos ou professores no amparadospela escola; como no caso da escola Waldorf Rudolf Steiner.

    Conforme Craemer (2008, p. 15),

    Do primeiro grupo foram ressaltados: o interesse pelo outro, oreconhecimento da diversidade, a disposio para a troca, paraaprender conjunto, a compaixo.

    Percebemos a importncia de incentivar a participao no currculo

    social e tambm que temos que aproximar os jovens da realidade do mundo;

    desta forma, estaremos tornando-os agentes de transformao a favor de uma

    sociedade mais justa.

    Notamos que realizaram um grupo de estudo para discussodo currculo, no sentido de amadurecimento das idias e para aformao dessa comunidade utilizam jornais eletrnicos,

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    46/94

    peridicos, divulgam em novos eventos. Portanto quando essealicerce estiver maduro podero levantar os pilares para umanova conscincia. (CRAEMER, 2008, p. 15).

    1.8.1. Reflexes sobre Currculo Social

    Segundo Cerri (2008, p. 16),

    Ao ouvirmos falar de currculo social provvel nos decorrer aidia de que se trata de mais um componente curricular, uma

    matria de ensino que preencha a grade curricular na escola.Isso talvez possa at contemplar um anseio para a educaodos jovens de nossos tempos, porm, para escola Waldorf,currculo social tem abrangncia muito maior. Em primeirolugar, espera-se que o currculo social refira-se a um trabalhoeducativo cujo resultado seja ter jovens conscientes dasnecessidades sociais que existem no mundo e que semobilizem para a ao, participando de iniciativas queverdadeiramente buscam atender essas necessidades oucriando novas iniciativas.

    Percebemos que, ao falar de currculo social, estamos tambm falandode futuro, mas de um futuro em que todos tenham acesso dignidade,

    respeito, no qual os jovens estejam inseridos numa sociedade onde tenha

    entendimento entre as pessoas, que possam ouvir umas s outras, que se

    ajudem mutuamente.

    Entendemos que o social significa qualquer relao com o outro, seja ela

    com uma pessoa prxima, que vive ao nosso redor, como tambm uma pessoa

    completamente distante da comunidade na qual vivemos.

    De acordo com Cerri (2008, p. 17),

    Dessa forma, falar de currculo social na escola Waldorf falarda responsabilidade social cuja abrangncia vai muito alm deidia de ajuda centrada em diminuir a pobreza material queassola as pessoas. [...] O interesse verdadeiro e genuno pelomundo e pelas pessoas o que pode nos despertar para quese preste ateno no outro e se perceba o outro como um sernecessitado. O interesse verdadeiro e no interesseiro leva aque se aprenda a ver as pessoas com mais respeito e

    compreenso, leva a que se acredite que elas podemtransformar, e desenvolver.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    47/94

    A autora comenta que fcil imaginarmos o que pode acontecer

    criana pequena que vive privada de carinho, ateno e de ambiente amoroso.

    O que resulta para uma criana viver em meio a um ambiente conturbado em

    que as pessoas tm atitudes grosseiras? O que acontece com a alma da

    criana que v gestos bruscos no lidar com objetos e pessoas? O que se forma

    na criana que ouve palavras de violncia?

    O currculo social est mais voltado a que se proporcione criana um

    ambiente bom, acolhedor, compreensivo, amoroso, harmonioso e pleno de

    gestos que tenham sentido do que propriamente ao no social.

    As favelas so como espelhos da sociedade contempornea. Refletem

    grande parte das suas contradies, desigualdades e injustias. So espelhosnos quais poucos desejam mirar-se. Ao contrrio, cumpre passar bem longe, e

    se isso no for possvel, se a viso desses aglomerados humanos for

    inevitvel, sente-se compaixo e/ou medo. Para evitar todo esse mal-estar, ora

    erradicam-se favelas pela expulso, ora escondem atrs dos outdoors. De

    qualquer maneira, os problemas permanecem. (ACM, 2009).

    Mesmo sendo moradora na Vila Beleza, Ute Craemer (zona sul de So

    Paulo) no se importava em receber essas crianas de uma favela prximaprosseguindo com o trabalho pedaggico que j realizava na Escola Rudolf

    Steiner (hoje escola Rudolf Steiner de So Paulo).

    Craemer convidou seus alunos a vir brincar e fazer trabalhos manuais

    com as crianas da favela. A convivncia dessas crianas, vindas de

    realidades to diversas, contribua para lhes despertar a conscincia de um

    mundo de diferenas onde compartilhar essencial.

    Aprendem a construir mveis e brinquedos educativos na aula demarcenaria e a loja fica na favela Monte Azul e tem estabelecimentos

    espalhados tambm pela cidade de So Paulo e outros estados. Os jovens

    podem, inclusive, frequentar oficinas de reciclagem de papel, de panificao,

    corte de costura, informtica e cidadania.

    Craemer comenta que educar as crianas no apenas transmitir

    informaes, mas incentivar jovens e adultos a tomar seus destinos nas mos

    e transformar a realidade dura do meio social em que vivem essa uma das

    metas da ACMA.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    48/94

    Alm dessa atividade, a Monte Azul tambm tem o curso de formao

    de educadores comunitrios (Mainumby) nos finais de semana, e escola-oficina

    social com oficinas para o pensar-sentir-querer, oferecidas para

    colaboradores e comunidade.

    A misso promover o amor ao ser humano, independentemente da

    nacionalidade, raa, religio, posio poltica e condies sociais,

    proporcionando oportunidades de educao, cultura e sade, especialmente

    para as pessoas no privilegiadas, desenvolvendo-as social, material e

    espiritualmente, com isso estimulando o agir com liberdade e amor.

    Percebemos a sensibilidade de Rudolf Steiner ao criar a Pedagogia

    Waldorf que se preocupa com a aura do aluno. Parte de uma viso humanista,que mostra o respeito, a igualdade e a fraternidade. Quando Steiner criou a

    educao Waldorf pensou numa educao para todos, independentemente do

    nvel de vida social e econmico do aluno.

    Tanto isso verdade que Craemer resolveu ajudar essa comunidade e

    deu a eles uma vida, uma profisso, do mesmo modo que os alunos da escola

    Waldorf. Chega a ser apaixonante o trabalho realizado, por ser uma iniciativa

    social que deveria servir de exemplo para a nossa sociedade.Quando comentamos do pilar da Escola Waldorf, esta menciona que

    tanto o funcionrio, como o faxineiro, cozinheiro e o setor administrativo

    costumam participar das atividades. A relao de Craemer com as crianas da

    comunidade ACMA um exemplo de uma relao social.

    No Captulo 2, procuraremos mostrar a pesquisa de campo desenvolvida

    em duas escolas com Pedagogia Waldorf.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    49/94

    CAPTULO II

    REVELAES DE UMA EDUCAO ENCANTADORA

    O que mais importante para um professor sua concepo da vida e do

    mundo. A inspirao que flui no professor de sua concepo interior e a cada

    nova experincia carregada alm, na constituio anmica da criana a ele

    confiada.

    Rudolf Steiner

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    50/94

    CAPTULO 2

    REVELAES DE UMA EDUCAO ENCANTADORA

    2.1 Procedimentos metodolgicos

    Ressaltamos como foram os procedimentos metodolgicos nas escolas,

    campo de pesquisa.

    Primeiramente, salientamos aqui algumas de nossas indagaes da

    pesquisa, que so: 1-Como se aplica a Pedagogia Waldorf nas escolas

    Waldorf? 2- Nessas escolas, realmente cumprido o que Steiner props para a

    primeira escola Waldorf, em 1919? 3- Como as crianas aprendem diante de

    uma pedagogia to diferente? 4- O que levou os educadores a fazerem o curso

    de formao Waldorf?

    Para obtermos respostas, utilizamos a parte terica j mencionada na

    introduo deste trabalho, as observaes sobre o dia a dia da escola,

    realizadas durante trs dias em duas escolas Waldorf, e um questionrio para

    os professores.

    As escolas pesquisadas esto localizadas no interior do estado de So

    Paulo. Os nomes das escolas no sero revelados e so aqui identificados

    como Escola Waldorf 1 e Escola Waldorf 2. Do mesmo modo, os professores

    entrevistados esto identificados por letras.

    A Escola Waldorf 1 fica localizada numa cidade caracterizada pela

    exuberncia do rio e do salto, da caa e da pesca.Consolidou-se como importante rea de produo de cana-de-acar no

    estado de So Paulo, em torno da qual se formou um complexo agroindustrial

    de acar e lcool, que inclui a fabricao de aguardente.

    um importante polo regional de desenvolvimento industrial e agrcola,

    situado em uma das regies mais industrializadas e produtivas de todo o

    estado de So Paulo. A regio concentra uma populao de 1,2 milho de

    habitantes. um importante centro regional de formao profissional, com

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    51/94

    dezenas de cursos tcnicos profissionalizantes ministrados pelo Senac e

    Senat, dispondo tambm de curso de mecatrnica.

    Na rea da educao, a cidade vista como um polo de

    desenvolvimento importante e reconhecida pelas suas instituies de ensino e

    pesquisa. Por esse motivo, a populao de mais de 365 mil habitantes tem fcil

    acesso a um nmero grande de cursos tcnicos, tornando o municpio um

    excelente centro regional de formao profissional. Por esse motivo, dentre

    outros, a qualidade de vida da populao referncia no pas, atingindo o

    ndice acima da mdia do estado de So Paulo.

    A Escola Waldorf 2 fica localizada numa cidade conhecida pelos

    bosques, jardins floridos, placidez dos bairros, moderna arquitetura,despertando o interesse dos visitantes. Surgiu na metade do sculo XVIII como

    um bairro rural. Est localizada s margens de uma trilha aberta por paulistas

    do Planalto de Piratininga, entre 1721 a 1730. No mesmo perodo, chegavam

    os fazendeiros que buscavam terras para instalar as lavouras de cana e

    engenho de acar, utilizando-se de mo de obra escrava.

    A cidade conta com uma vida cultural intensa e variada, principalmente

    em relao Msica Popular Brasileira. vista como uma das cidades que sedestaca pela produo de recursos culturais, contando com mais de trs

    teatros municipais, galeria de arte, museus e editoras de destaque nacional.

    Na rea da educao, a cidade vista tambm como um polo de

    desenvolvimento importante. Conta com as escolas de cadetes do Exrcito

    Brasileiro, que oferecem o ensino mdio integrado formao militar,

    possibilitando a graduao, aps quatro anos, ao posto de aspirante a oficial. A

    cidade possui ainda escolas tcnicas, cursos de metodologia distncia (EAD)e cursos presenciais (Universidades e faculdades), alm de estabelecimentos

    de ensino pr-escolar, fundamental e mdio.

    Foram vrias as tentativas para conseguir realizar essa pesquisa de

    campo. Enviamos e-mail Escola Waldorf 1 e no obtivemos resposta no

    primeiro momento. Decidimos entrar em contato por telefone. Conversamos,

    explicamos o objetivo do trabalho, sendo que, anteriormente, um e-mail j

    havia sido enviado, explicando o motivo da pesquisa. Diante de vrias

    tentativas por telefone, a funcionria pediu que mandasse a mensagem para

    seu e-mail particular. Aps alguns dias, chegou um e-mail informando que a

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    52/94

    pesquisa de campo tinha sido aceita e que poderia ser realizada entre os dias

    13, 14 e 15 de abril de 2010.

    O mesmo aconteceu com a Escola Waldorf 2. Foram vrias tentativas,

    por e-mail e tambm por telefone. Inclusive fomos informados que um e-mail

    tinha sido enviado, comunicando que a pesquisa tinha sido aceita, mas no

    recebi. Entramos em contato por telefone para combinar os dias da realizao

    da pesquisa. Perguntaram quais os melhores dias da semana para mim. A

    pesquisa acabou sendo realizada nos dias 3, 6 e 7 de maio de 2010.

    A observao realizada foi participante, pois tivemos contato direto com

    tudo o que estvamos observando. Nessa observao, fizemos um dirio com

    as anotaes referentes ao processo de observao. As anotaes foramsintetizadas, analisadas e interpretadas por esta pesquisadora.

    2.2 Caracterizao da Escola Waldorf 1

    A escola est situada numa rea de 10 mil m, repleta de muito verde,com rvores plantadas pelas famlias da Associao Pedaggica da Escola. O

    aluno est em contato com a natureza e vivencia o trabalho com a terra, o fiar,

    tecer, fazer po, pintar e tocar instrumentos musicais, alm de ter acesso a um

    vasto conhecimento terico.

    A Escola Waldorf 1 tem um total de 190 alunos, sendo 110 do Ensino

    Fundamental e 80 da Educao Infantil. A escola vai do maternal ao 8 ano do

    Ensino Fundamental. O perfil socioeconmico e cultural dos alunos de classemdia alta e mdia baixa. Alguns alunos so filhos de funcionrios e de

    professores.

    uma associao sem fins lucrativos, uma Organizao NoGovernamental (ONG) cujo objetivo promover a educaoWaldorf [...]. Todos os recursos levantados pela Associaoso investidos na educao das crianas. Diferentemente deuma cooperativa, o patrimnio da Escola no pertence a umgrupo de pessoas, mas est a servio de todos que dela

    necessitam. Nas escolas Waldorf, o envolvimento das famlias parte integrante do processo educativo das crianas. A

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    53/94

    administrao realizada de modo participativo, envolvendopais, professores e colaboradores. 1

    A Pedagogia Waldorf, como ser apresentada neste nosso estudo, traz

    uma proposta educacional diferente da convencional, proporcionando aos seusalunos muito mais do que apenas conhecimento. Oferece um modelo

    educacional que tem como objetivo prover matrizes no momento certo e na

    hora certa, de modo que a criana se desenvolva de acordo com a sua

    individualidade.

    De todas as coisas que proporcionamos aos nossos filhos, aeducao a nica que podemos afirmar que eles levaro por

    toda a vida. Por esse motivo, nada mais importante naformao das nossas crianas que uma escola com a propostapedaggica de intensificar, nos alunos, a criatividade, acuriosidade, o prazer de aprender e a reverncia e o respeitopela natureza e pela existncia humana.A pedagogia das escolas Waldorf apontada, pelaOrganizao das Naes Unidas para a Educao, a Cincia ea Cultura (UNESCO), como aquela que capaz de responderaos desafios educacionais da atualidade, principalmente nasreas de grandes diferenas sociais.2

    Na Escola Waldorf 1, o professor acompanha uma classe durante todo o

    Ensino Fundamental, por 8 anos, sendo que a primeira aula do dia desse

    professor. Partem do pressuposto de que, desse modo, o professor passa a

    conhecer profundamente cada aluno e a sua necessidade educacional

    formativa.

    Numa escola Waldorf os alunos possuem pequenos intervalosentre cada aula. Ao incio de cada uma delas, os alunos sorecebidos, na porta da classe, pelo professor da matria ecumprimentados um a um, momento em que, segurando-ospela mo, o professor verifica o estado fsico e emocional decada um deles.3

    Ao enfocar o contedo das disciplinas ministradas, o currculo das

    escolas Waldorf leva em conta aspectos relacionados aos estmulos do gosto

    pelo saber.

    1 Informao retirada do site da Escola pesquisada, cujo nome omitido, conforme jinformado no incio da pesquisa.

    2 Informao retirada do site da Escola pesquisada, cujo nome omitido, conforme jinformado no incio da pesquisa.

    3 Informao retirada do site da Escola pesquisada, cujo nome omitido, conforme jinformado no incio da pesquisa.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    54/94

    Na maneira de se apresentar cada matria, procura-sepropiciar aos alunos uma vivncia real das diversas reas doconhecimento humano relacionadas ao que ele estaprendendo, O esforo pedaggico busca fazer com que acriana vivencie as mais diversas situaes, com todos os seussentidos, para ento chegar reflexo e ao conhecimento.4

    A Escola Waldorf 1 atua em conformidade com as determinaes da Lei

    de Diretrizes e Bases da Educao Nacional (LDB 9394/96), mas oferece

    tambm ao seu aluno, durante o Ensino Fundamental:

    a) duas lnguas estrangeiras (Ingls e Alemo) em todas as sries do

    Ensino Fundamental;

    b) aulas de canto e msica (que voltou a ser obrigatrio nas escolaspblicas), com aprendizado de instrumentos musicais;

    c) desenho, educao artstica e artesanato, com trabalhos em tecido, l,

    madeira, metais e tapearia.

    A escola no se preocupa apenas com a formao dos alunos baseada

    no mercado de trabalho, mas procura ajudar os alunos a serem capazes de se

    estabelecer, em qualquer situao da vida, com criatividade, responsabilidade,

    flexibilidade e capacidade de questionamento.

    2.3 Relatos da observao na Escola Waldorf 1

    Salientamos que nos sujeitamos a observar as sries autorizadas pela

    escola; neste caso, um segundo ano, um quarto ano e um stimo ano.

    2.3.1 Tera-feira 2 ano

    Ao chegar escola, fui recebida pela funcionria da secretaria, que

    pediu que eu aguardasse um pouco, pois estava terminando de conversar com

    4 Informao retirada do site da Escola pesquisada, cujo nome omitido, conforme jinformado no incio da pesquisa.

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    55/94

    uma me de aluno. Essa me estava acertando o pagamento da merenda do

    ms seguinte.

    Enquanto isso, observei a escola, as crianas brincando e correndo pelo

    ptio, outras crianas chegando com os pais ou responsveis. Um lugar com

    bastante verde, os brinquedos do parque, todos feitos em madeira.

    Aps a funcionria ter terminado de conversar com a me, o sinal j

    tinha sido tocado e fui com ela at o 2 ano, no qual fui recebida pela

    professora B, que me cumprimentou dizendo: Bom-dia, professora Maria

    Jos. Eu falei: Bom-dia, professora B. B pediu que eu sentasse numa

    cadeira, de modo que eu tivesse uma viso geral da classe e dos alunos

    tambm. Os alunos foram cumprimentados com aperto de mo e B dizia acada um: Bomdia, (nome do aluno). Os alunos falavam: Bom-dia,

    professora B.

    Depois que entraram na classe, B ainda falou: Bom-dia, alunos do 2

    ano. Os alunos falavam: Bom-dia, querida professora B. B comentou com

    os alunos que, naquele dia, eles teriam uma estagiria na classe, que eu era

    professora, que estava nessa classe porque os alunos eram os mais

    comportados. B pediu que os alunos cumprimentassem a professora MariaJos: Bom-dia, professora Maria Jos.

    A sala de aula um lugar aconchegante, as carteiras dos alunos so de

    madeiras artesanais onde sentam dois alunos; ao lado, uma pia com um

    escorredor, um balco para colocar as cestas contendo os materiais usados na

    aula de trabalhos manuais. Tem gua potvel, armrio para guardar a roupa

    usada para a aula de eurritmia. Na escola, setrabalha com os movimentos; os

    alunos aprendem atravs dos movimentos. H lugar para pendurar osdiminutos aventais. A mesa da professora B tem uma vela, que acesa na

    hora de contar histrias. H uma lousa que abre. Quando os alunos chegam,

    perguntam qual o desenho que tem na lousa naquele dia.

    So trs fileiras, cada uma tem um nome: a que fica perto da janela se

    chama diamante; a segunda fileira, rubi; e a terceira, esmeralda. Quando os

    alunos viravam para trs, B falava: Adoro seus cabelos (cachos), mas prefiro

    seu rostinho. Era o modo de a professora buscar a ateno do aluno.

    Alguns alunos fizeram muita baguna, deitaram na mesa, brigaram,

    puxaram cabelos dos colegas, saram da carteira para conversar com outro

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    56/94

    colega, correram dentro da classe, saram da classe sem autorizao. B

    pegou seu caderno e marcou quais os alunos que iriam ficar sem pausa, na

    classe, fazendo tarefa. B comentou que os alunos se manifestavam assim,

    porque estavam na fase de transio, sendo normal esse comportamento

    durante um ano.

    Ao iniciar a aula, B contou uma histria. Mas, antes de comear, B

    pediu para os ajudantes do dia apagarem as luzes, fecharem as cortinas,

    acenderem a vela, e comeou a contar a histria. Enquanto B recitou o verso,

    os alunos ficaram quietinhos ouvindo. Ao terminar de contar a historinha, B

    pediu para um aluno apagar a vela.

    B explicou que na lousa havia um desenho muito bonito com o nmero5, com uma tabuada que era para fazer no caderno de exerccios, usando giz

    de cera. B fez um desenho com o nmero 5, pois os alunos estavam

    aprendendo a tabuada do 5.

    A cada uma hora e meia, tem uma pausa; neste caso, tem um lanche

    que preparado pela professora da classe, com as coisas que esto na cesta

    que fica na porta da classe, onde tem suco, frutas e po com pat.

    Os alunos, antes de tomar o lanche, fazem uma orao para agradecero alimento. Aps a orao, os alunos limpam sua mesa, guardam a sua

    toalhinha e empurram a sua cadeira e vo brincar no parquinho. O aluno que

    sasse, e no guardasse a toalhinha e nem empurrasse a cadeira, era

    chamado pela professora.

    Um aluno ficou de castigo durante a pausa, pois fez muita baguna

    durante a aula. B comentou que esse aluno tem esse comportamento porque

    tomava remdio forte e a famlia decidiu parar com esse remdio. Segundo ela,o aluno se encontra na fase de transio.

    Aps a pausa, os alunos retornaram para a classe e tiveram aula de

    alemo. Depois que todos sentaram em suas carteiras, D cantou uma msica

    em alemo. Alguns alunos ficaram fazendo baguna enquanto os colegas

    cantavam. Os alunos bateram palma, pularam e cantaram em alemo.

    D tirou a blusa de frio da mo do aluno que estava batendo no colega

    com a blusa, e o colocou sentado na carteira. O aluno que ficou de castigo

    durante a pausa, ficou sendo segurado por D pela mo, agindo normalmente;

  • 8/12/2019 Dissertao_Maria-Jos-Martins-Gomes-de-Castro

    57/94

    o mesmo pedia para solt-lo, mas D continuou segurando e andou pela

    classe com ele.

    Aps a aula de alemo, tiveram aula de trabalho manual. E entregou

    para os alunos um saco branco de pano no qual estavam guardados os

    novelos de l dos alunos. Os alunos tinham que fazer um rabo de gato.

    2.3.2Quarta-feira 4 ano

    A professora da classe cumprimenta os alunos individua