dissertaÇÃo_brunno_revisado

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA ELÉTRICA Brunno Henrique Brito ANÁLISE COMPARATIVA DE DIFERENTES METODOLOGIAS PARA A SOLUÇÃO DO PROBLEMA DE COMISSIONAMENTO DE UNIDADES DE USINAS HIDRELÉTRICAS ACOPLADAS EM CASCATA Dissertação submetida ao Programa de Pós-graduação em Engenharia Elétrica da Universidade Federal de Santa Catarina para a obtenção do Grau de Mestre em Sistemas de Energia Orientador: Prof. Dr. Erlon Cristian Finardi. Florianópolis 2015

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Dissertação de Mestrado Comissionamento de Unidades Geradoras

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA

    ELTRICA

    Brunno Henrique Brito

    ANLISE COMPARATIVA DE DIFERENTES

    METODOLOGIAS PARA A SOLUO DO PROBLEMA DE

    COMISSIONAMENTO DE UNIDADES DE USINAS

    HIDRELTRICAS ACOPLADAS EM CASCATA

    Dissertao submetida ao Programa de

    Ps-graduao em Engenharia Eltrica

    da Universidade Federal de Santa

    Catarina para a obteno do Grau de

    Mestre em Sistemas de Energia

    Orientador: Prof. Dr. Erlon Cristian

    Finardi.

    Florianpolis

    2015

  • Catalogao na fonte elaborada pela biblioteca da

    Universidade Federal de Santa Catarina

  • AGRADECIMENTOS

    A execuo dessa dissertao no seria possvel sem o apoio direto ou

    indireto de diversas pessoas. Por isso, no tem como no ser grato:

    Inicialmente e principalmente Deus, por ter me concebido sade,

    fora, sabedoria e pessoas que me apoiaram, ajudaram e incentivaram

    nos momentos mais desafiantes.

    A minha esposa, Valdisclia Teixeira Barros de Brito, pela companhia e apoio incondicional durante o perodo de execuo do Mestrado.

    A minha filha, Brunna Raphaela Teixeira Brito, por me dar motivos e foras para no desistir jamais dos meus objetivos.

    Ao meu orientador, Prof. Erlon Cristian Finardi, que de forma

    descontrada e, ao mesmo tempo, responsvel, no mediu esforos para

    me incentivar a desenvolver um trabalho relevante sociedade.

    Ao meu coorientador, Prof. Fabrcio Yutaka Kuwabata Takigawa, por sua dedicao e pelas importantes contribuies e sugestes realizadas

    neste trabalho.

    Aos professores do Labplan e do Labspot pela mediao nas disciplinas

    cursadas no primeiro ano.

    Aos companheiros de sala no Labplan, Rodolfo Calderon, Carlos

    Ernani, Felipe Beltran, Guilherme Fredo, Pablo Galvis e Deysy

    Murillo, pelo convvio, pela pacincia, pelos auxlios e momentos de

    descontrao. Em especial, aos colegas Rodolfo Calderon e Carlos

    Ernani, pela parceria desde o primeiro ano de disciplinas.

    Aos demais colegas do Labplan pelos auxlios e momentos de

    descontrao. Em especial aos colegas Marco Delgado, Paulo Larroyd,

    Murilo Scuzziato, Carlos Arturo, Marcelo Cordova, Andres Martinez,

    Rodolfo Bialecki, Pedro Vieira, Valmor Zimmer, Marcelo Benetti, Daniel Tenfen e Fbio Mantelli.

  • Aos meus pais, Joo Gomes Brito e Mrcia Regina Girotto Brito, e

    irmos, Denis de Brito e Raphael de Brito, pelo incentivo, apoio e

    carinho.

    famlia da minha esposa. Em especial minha sogra, Maria Teixeira

    Barros, pelo carinho e apoio incondicional nessa etapa da minha vida.

    Aos professores da Coordenao de Indstria e direo do Instituto

    Federal de Educao, Cincia e Tecnologia do Tocantins (IFTO)

    Campus Palmas pela aprovao do meu afastamento para capacitao.

    Por fim, agradeo ao Governo Federal e Coordenao de

    Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes) pelo suporte

    financeiro para a realizao deste trabalho.

  • RESUMO

    No Brasil, o Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS) fornece uma

    meta de gerao de potncia ativa para cada usina hidreltrica e hora do

    dia seguinte. Neste cenrio, os agentes de gerao devem resolver o

    problema do Comissionamento das Unidades Hidreltricas (CUH), que

    define quais unidades geradoras estaro em operao, bem como os seus

    respectivos nveis de gerao, levando-se em conta as restries

    relacionadas com a operao das unidades e dos reservatrios. Devido

    s caractersticas inerentes gerao hidreltrica, ao nmero de

    unidades geradoras envolvidas, s variveis binrias necessrias para

    representar as unidades que estaro em operao em cada hora do dia

    seguinte e ao acoplamento temporal e espacial de usinas em cascata, o

    problema do CUH representado matematicamente como um problema

    de Programao No Linear Inteira Mista (PNLIM) de grande porte. No

    geral, problemas dessa natureza so resolvidos por tcnicas de

    programao matemtica e heursticas. Como as abordagens baseadas

    em heursticas so mais adequadas para problemas com estrutura

    combinatria relativamente simples, as tcnicas de programao

    matemtica tendem a ser mais adequadas para resolver este tipo de

    problema. Neste sentido, este trabalho apresenta uma anlise

    comparativa de trs diferentes estratgias de soluo baseadas em

    tcnicas de programao matemtica para o problema do CUH. A

    primeira utiliza tcnicas de Relaxao Lagrangiana (RL) e Recuperao

    Primal (RP) a partir de decomposies que exploram a estrutura do

    problema. A segunda utiliza um pacote computacional especializado em

    PNLIM capaz de resolver problemas de mdio porte. Por fim, a terceira

    estratgia busca linearizar o problema proposto e resolv-lo como um

    problema de Programao Linear Inteira Mista (PLIM). As simulaes e

    anlises associadas com este trabalho so obtidas em um sistema real de

    oito usinas acopladas em cascata, com um total de 29 unidades

    geradoras.

    Palavras-chave: Comissionamento de Unidades Hidreltricas,

    Relaxao Lagrangiana, Recuperao Primal, Programao No Linear

    Inteira Mista, Programao Linear Inteira Mista.

  • ABSTRACT

    In Brazil, the Independent System Operator (ISO) provides a day-ahead

    generation target for each hydroelectric plant. In this scenario,

    generation agents should solve the Hydro Unit Commitment (HUC)

    problem, where they must define which generating units will be in

    operation and their respective generation levels, given the constraints

    associated with the operation of the units and reservoirs. Due to the

    inherent characteristics of hydroelectric generation, number of units

    involved, binary variables needed to represent the units that will be in

    operation in each hour of the day and the temporal and spatial coupling

    plants constraints, the HUC problem is mathematically represented as a

    large-scale Mixed Integer Nonlinear Programming (MINLP) problem.

    In terms of solution strategies, computational methods can be divided

    into two groups: mathematical programming techniques and heuristics.

    In general, the heuristic-based approaches are not particularly

    competitive for HUC problem, since as they usually deal with simplified

    models. The apparent reason is that heuristics are best appropriate at

    problems that exhibit a predominant and relatively simple combinatorial

    structure to which the various elements of the heuristic can be

    specifically personalized. The HUC problem possesses several

    combinatorial structures, especially when complex constraints have to

    be dealt with; therefore, on the outset is best approached with

    mathematical programming techniques. In this scenario, this master

    dissertation aims to access the solution quality when HUC problem is

    solved by means of the following mathematical programming

    techniques: (i) Lagrangian relaxation, which is a dual decomposition

    technique that exploits the structure of the problem; (ii) MINLP solver that can handle the size and the nonconcavity of the problem; and, (iii)

    Mixed-integer linear programming (MILP) problem that uses a

    piecewise function of the hydropower model. To perform the

    comparative analysis, we present the numerical results related to a real-

    life system with 8-cascaded reservoirs and 29 generating units.

    Keywords: Hydro Unit Commitment, Lagrangian Relaxation, Mixed

    Integer Nonlinear Programming, Mixed Integer Linear Programming.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1.1: Etapas do POE no Brasil. ................................................................16

    Figura 2.1: Componentes bsicos de uma hidreltrica. Fonte: Scuzziato (2011).

    ...........................................................................................................................27

    Figura 2.2: Diagrama esquemtico de uma unidade. .........................................28

    Figura 2.3: Curva colina de uma turbina hidrulica. Fonte: Finardi (2003). ......33

    Figura 3.1: Nveis hierrquicos da RL. ..............................................................42

    Figura 3.2: Algoritmo AOA. ..............................................................................52

    Figura 3.3: fcm linear e no linear na usina de Santa Clara. ..............................54

    Figura 3.4: fcm linear melhorada e no linear na usina de Santa Clara. .............55

    Figura 3.5: Funo de Produo da usina de Santa Clara. .................................57

    Figura 3.6: Linearizao da funo de produo. ..............................................58

    Figura 4.1: Diagrama esquemtico do sistema hidreltrico. ..............................64

    Figura 4.2: Metas de demanda por usina Caso Base. ......................................69

    Figura 4.3: Metas de demanda para a Cascata Caso Base...............................69

    Figura 4.4: Evoluo da funo dual e norma do subgradiente na RL Caso

    Base. ..................................................................................................................70

    Figura 4.5: Evoluo da soluo na RP Caso Base. ........................................71

    Figura 4.6: Metas de demanda para a cascata Casos Variados. ..................... 83

    Figura A.1: Altura de queda lquida da usina H8. ............................................103

    Figura A.2: Funo de Produo no linear nas alturas de queda definidas para

    H8. ....................................................................................................................104

    Figura A.3: Pontos criados em H8. ...................................................................105

    Figura A.4: Espao bidimensional da funo de produo em H8. ..................106

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 4.1: Limites operativos dos reservatrios. ..............................................64

    Tabela 4.2: Coeficientes da funo de cota montante. .......................................65

    Tabela 4.3: Coeficientes da funo de cota jusante. ..........................................65

    Tabela 4.4: Constantes de Perdas Hidrulicas. ..................................................65

    Tabela 4.5: Coeficientes das funes de rendimento hidrulico. .......................66

    Tabela 4.6: Coeficientes das funes de vazo turbinada mxima. ...................66

    Tabela 4.7: Coeficientes das funes de vazo turbinada mnima. ....................67

    Tabela 4.8: Coeficientes das perdas no conjunto turbina-gerador. ....................67

    Tabela 4.9: Afluncias, tup

    e volumes iniciais Caso Base. ..............................68

    Tabela 4.10: Geraes obtidas na usina H6 via RL/RP Caso Base..................71

    Tabela 4.11: Volumes iniciais e finais via RL/RP Caso Base. ........................73

    Tabela 4.12: Geraes obtidas na usina H6 via AOA Caso Base. ...................74

    Tabela 4.13: Volumes iniciais e finais via AOA Caso Base. ..........................75

    Tabela 4.14: Alturas de queda lquida iniciais em m via PLIM Caso Base. ...76

    Tabela 4.15: Vazes turbinadas iniciais em m/s via PLIM Caso Base. .........76

    Tabela 4.16: Potncias iniciais em MW via PLIM Caso Base. .......................77

    Tabela 4.17: Valores iniciais para o clculo da queda lquida via PLIM Caso

    Base. ..................................................................................................................77

    Tabela 4.18: Geraes obtidas na usina H6 via PLIM Caso Base. ..................78

    Tabela 4.19: Volumes iniciais e finais via PLIM Caso Base. .........................79

    Tabela 4.20: Resumo dos resultados Caso Base. ............................................79

    Tabela 4.21: Vazes Defluentes em m/s Caso Base. .....................................80

    Tabela 4.22: Volumes finais em hm Caso Base. ...........................................80

    Tabela 4.23: Alocao de unidades e vazes na usina H6 Caso Base. ............81

    Tabela 4.24: Volumes iniciais com 30%. ..........................................................83

    Tabela 4.25: Valores da funo objetivo Casos variados. ...............................84

    Tabela 4.26: Resumo dos volumes finais Casos variados. ..............................84

    Tabela 4.27: Resumo dos tempos de simulao Casos Variados. ...................85

  • Tabela 4.28: Comparao RL/RP x AOA no Cenrio 2. ................................... 85

    Tabela 4.29: Resultados e comparaes Meta por usina x Meta por cascata. . 88

    Tabela 4.30: Resultados e comparaes Meta por usina x Meta por empresa.

    ........................................................................................................................... 88

    Tabela 4.31: Vazo defluente economizada - Meta por empresa. ..................... 89

    Tabela A.1: Erros mdios entre as funes de produo linear e no linear. ... 107

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    ANEEL - Agncia Nacional de Energia Eltrica

    AOA - AIMMS Outer Approximation

    CEPEL - Centro de Pesquisas de Energia Eltrica

    EMQ - Erro Mdio Quadrtico

    EPE - Empresa de Pesquisa Energtica

    LAI - Lagrangiano Aumentado Inexato

    ONS - Operador Nacional do Sistema Eltrico

    PD - Programao Dinmica

    PDO - Programao Diria da Operao Eletroenergtica

    PL - Programao Linear

    PLIM - Programao Linear Inteira Mista

    PNL - Programao No Linear

    PNLIM - Programao No Linear Inteira Mista

    POE - Planejamento da Operao Energtica

    PQ - Programao Quadrtica

    PQS - Programao Quadrtica Sequencial

    RL - Relaxao Lagrangiana

    RP - Recuperao Primal

    SIN - Sistema Interligado Nacional

    UHE - Usina Hidreltrica

  • SUMRIO

    1 INTRODUO ........................................................................ 15

    1.1 REVISO BIBLIOGRFICA ........................................................... 18

    1.2 CONTRIBUIES ............................................................................ 24

    1.3 OBJETIVOS E ESTRUTURA DO TRABALHO .............................. 24

    2 MODELAGEM E FORMULAO DO PROBLEMA ........ 27

    2.1 INTRODUO .................................................................................. 27

    2.2 MODELAGEM DO SISTEMA HIDRELTRICO ............................ 27

    2.2.1 Altura de Queda Lquida ............................................................... 29

    2.2.2 Rendimento Hidrulico da Turbina ............................................. 32

    2.2.3 Perdas Mecnicas na Turbina e Globais do Gerador ................. 33

    2.2.4 Funo de Produo das Unidades Hidreltricas ........................ 34

    2.2.5 Restries Operativas Adicionais .................................................. 35

    2.3 FORMULAO DO PROBLEMA ................................................... 38

    2.4 CONCLUSES .................................................................................. 40

    3 ESTRATGIAS DE SOLUO ............................................ 41

    3.1 INTRODUO .................................................................................. 41

    3.2 RELAXAO LAGRANGIANA E RECUPERAO PRIMAL .... 41

    3.2.1 Relaxao Lagrangiana ................................................................. 42

    3.2.2 Recuperao Primal ....................................................................... 47

    3.3 PROGRAMAO NO LINEAR INTEIRA MISTA ...................... 50

    3.4 PROGRAMAO LINEAR INTEIRA MISTA ............................... 52

    3.4.1 Linearizao da Altura de Queda Lquida .................................. 53

    3.4.2 Linearizao da Funo de Produo........................................... 56

    3.4.3 Problema Linearizado ................................................................... 60

    3.5 CONCLUSES .................................................................................. 62

    4 IMPLEMENTAO COMPUTACIONAL E

    RESULTADOS .................................................................................... 63

  • 4.1 INTRODUO ................................................................................. 63

    4.2 DESCRIO DOS DADOS INICIAIS ............................................. 63

    4.3 RESULTADOS .................................................................................. 67

    4.3.1 Caso Base ........................................................................................ 68

    4.3.1.1 Relaxao Lagrangiana e Recuperao Primal ..................... 70

    4.3.1.2 Programao No Linear Inteira Mista ................................. 73

    4.3.1.3 Programao Linear Inteira Mista ......................................... 75

    4.3.1.4 Anlise Comparativa............................................................. 79

    4.3.2 Casos Variados ............................................................................... 82

    4.3.3 Considerao de Metas de Demanda para Grupos de Usinas .... 87

    4.3.3.1 Demanda por Cascata ........................................................... 87

    4.3.3.2 Demanda por Empresa .......................................................... 88

    4.4 CONCLUSES .................................................................................. 89

    5 CONCLUSES E RECOMENDAES PARA

    TRABALHOS FUTUROS ................................................................. 91

    REFERNCIAS .................................................................................. 95

    APNDICE Anlise da Funo de Produo do Problema de

    PLIM .................................................................................................. 103

  • Captulo 1 | Introduo

    15

    1 INTRODUO

    Segundo o Operador Nacional do Sistema Eltrico (ONS), o

    sistema de transmisso e produo de energia eltrica no Brasil, definido

    como Sistema Interligado Nacional (SIN), classificado como

    hidrotrmico de grande porte, com predominncia de usinas

    hidreltricas e com mltiplos proprietrios (ONS, 2014). Atualmente, a

    gerao hidreltrica no pas corresponde a cerca de 67% da capacidade

    total instalada (ANEEL, 2015).

    Por utilizarem a gua que corre nos rios como fonte de energia, as

    usinas hidreltricas so economicamente e ambientalmente priorizadas

    no despacho hidrotrmico. No entanto, as incertezas meteorolgicas e os

    perodos de estiagens caractersticos de algumas regies demandam

    estudos que busquem garantir o mximo do despacho hidreltrico ao

    longo do tempo. Neste sentido, o problema de Planejamento da

    Operao Energtica (POE) pretende estimar as geraes das usinas

    hidreltricas e termeltricas de forma a atender demanda de energia

    eltrica ao menor custo possvel, considerando um nvel de risco

    compatvel com as diretrizes do governo brasileiro.

    Dado as complexidades associadas ao POE (FINARDI, 2003), o

    ONS divide este problema em trs etapas coordenadas entre si. A

    diferena bsica entre as etapas est relacionada ao horizonte de estudo

    e ao nvel de detalhamento na modelagem do sistema hidrotrmico, a

    saber: quanto menor o horizonte de estudo, maior o nvel de

    detalhamento. A Figura 1.1 apresenta de forma resumida tais etapas com

    destaque para o horizonte, a discretizao temporal e os principais

    modelos de otimizao utilizados na otimizao hidrotrmica no Brasil.

  • Introduo | Captulo 1 16

    MDIO PRAZOHorizonte: 5 anos

    Discretizao: Mensal

    Ferramenta: NEWAVE

    CURTO PRAZOHorizonte: 2 meses

    Discretizao: Semanal

    Ferramenta: DECOMP/NEWAVE

    PROGRAMAO DIRIA DA

    OPERAO ELETROENERGTICA

    Horizonte: 1 semana

    Discretizao: 30 minutos

    Ferramenta: NO EXISTENTE

    Figura 1.1: Etapas do POE no Brasil.

    No planejamento de mdio prazo, uma poltica de gerao

    definida considerando cada subsistema do SIN (Sul, Sudeste/Centro-

    Oeste, Norte e Nordeste) para cada ms dos prximos cinco anos. Este

    estudo realizado anualmente com revises quadrimestrais e a principal

    ferramenta computacional de otimizao o modelo NEWAVE

    (CEPEL, 2001). Por isso, esse modelo auxilia a Empresa de Pesquisas

    Energticas (EPE) no planejamento da expanso do sistema eltrico

    brasileiro. Diversos estudos tm buscado o aprimoramento da

    modelagem e da estratgia de soluo utilizadas no modelo NEWAVE

    (PEREIRA e PINTO, 1985; KLIGERMAN, 1992; SILVA e FINARDI,

    2003; LARROYD, 2012; MATOS, 2012).

    Por sua vez, o planejamento de curto prazo define as diretrizes

    para o despacho de cada usina de energia eltrica do SIN para a prxima

    semana. Para tanto, utilizado um horizonte de dois meses com

    discretizao semanal no primeiro ms. A funo de custo futuro

    determinada na etapa anterior (i.e., a poltica de gerao) utilizada para

    determinar a poltica neste novo horizonte. O estudo desta etapa

    realizado mensalmente com revises semanais e as principais

    ferramentas computacionais so os modelos NEWAVE e DECOMP

    (CEPEL, 2003). Os estudos dessa etapa comearam com Pereira e Pinto

    (1983) e tm sido foco de aprimoramentos nos ltimos anos

    (GONALVES, 2007; SANTOS et al., 2008; SANTOS et al., 2009;

    SANTOS, 2010; GONALVES, 2011).

  • Captulo 1 | Introduo

    17

    Por fim, com relao a Figura 1.1, a Programao Diria da

    Operao Energtica (PDO) finaliza o processo do POE e tem como

    objetivo principal otimizar o despacho de todas as unidades do SIN para

    um horizonte de uma semana com discretizao de trinta minutos nos

    dois primeiros dias e horria nos demais. Devido complexidade das

    diversas no linearidades envolvidas no processo de gerao das

    unidades geradoras e a incluso de variveis binrias para determinar as

    unidades que sero acionadas ao longo do perodo da PDO, ainda no se

    tem uma ferramenta computacional consolidada para a POE. Nesse

    sentido, diversos estudos tm sugerido estratgias que buscam dar

    suporte para o desenvolvimento da PDO nos ltimos anos (BELLONI et al., 2003; FINARDI, 2003; MONTIBELLER, 2003; RODRIGUES et

    al., 2006; DINIZ, 2007; TAKIGAWA, 2010; SCUZZIATO, 2011;

    ARISTIZBAL, 2012).

    Como ainda no existe uma ferramenta computacional

    consolidada para estabelecer o comissionamento das unidades geradoras

    no sistema eltrico brasileiro, o ONS faz o uso de diretrizes resultantes

    dos estudos de curto prazo para conceber os programas dirios de

    produo, de intervenes e de defluncias (ONS, 2009). O programa

    dirio de produo caracteriza-se pela disponibilidade de uma meta de

    gerao, em MW, para cada hora do dia seguinte para todas as usinas do

    SIN. Dessa forma, os agentes de gerao tem a tarefa de, a partir dessas

    metas de gerao, determinar quais unidades geradoras devero ser

    acionadas e seus respectivos nveis de gerao. Contudo, a tarefa de

    comissionamento em unidades geradoras de usinas hidreltricas no

    trivial, visto que a funo de produo destas unidades determinada

    por uma srie de fatores relacionados s caractersticas fsicas e

    operativas das mesmas. Por isso, este problema tem como objetivo

    determinar quais unidades hidreltricas devem ser acionadas para cada

    hora do dia seguinte a partir das metas de gerao fornecidas pelo ONS.

    Adicionalmente, busca-se tambm determinar o nvel de gerao de

    cada unidade ao longo do prximo dia.

    O problema de comissionamento de unidades geradoras de

    natureza no linear, devido funo de produo, inteiro misto e de

    grande porte, por conta do elevado nmero de unidades envolvidas. Por

    isso, tcnicas de programao matemtica e ferramentas computacionais

    robustas tm sido utilizadas para se conseguir boas solues viveis para

    o problema. Estudos mais recentes mostram que solues desta natureza

    podem ser obtidas por meio da Relaxao Lagrangiana (RL) e do

    Lagrangiano Aumentado Inexato (LAI) (DINIZ, 2007; TAKIGAWA,

    2010; SCUZZIATO, 2011). No entanto, alguns autores linearizam a

  • Introduo | Captulo 1 18

    funo de produo e resolvem o problema linear com variveis inteiras

    diretamente por pacotes de Programao Linear Inteira Mista (PLIM)

    (MARTIN, 2000; MAHALIK et al., 2012; LI et al., 2014). No intuito de auxiliar os agentes de gerao de usinas

    hidreltricas e dar suporte ao desenvolvimento da PDO, esta dissertao

    visa apresentar uma anlise comparativa de diferentes estratgias de

    soluo para o problema de comissionamento de unidades geradoras de

    usinas hidreltricas acopladas em cascata. Neste sentido, a reviso

    bibliogrfica apresentada na prxima seo explicitar as diferentes

    estratgias de solues utilizadas em diferentes modelagens que

    otimizam o despacho de usinas hidreltricas em perodos de

    planejamento condizentes com a PDO.

    1.1 REVISO BIBLIOGRFICA

    De forma geral, as diversas modelagens que otimizam usinas

    hidreltricas no mbito da PDO so resolvidas por tcnicas de

    programao matemtica ou por abordagens baseadas em heursticas. As

    abordagens baseadas em heursticas no so particularmente

    competitivas para problemas de Comissionamento de Unidades

    Hidreltricas (CUH), pois normalmente lidam com modelos

    simplificados, ou seja, so melhor adequadas para problemas que

    exibem uma estrutura combinatria relativamente simples. Por isso,

    neste trabalho o problema resolvido por tcnicas de programao

    matemtica.

    Dentre as tcnicas de programao matemtica utilizadas para

    resolver problemas de CUH, destacam-se as estratgias de

    decomposio e aquelas que empregam o uso de pacotes comerciais de

    PLIM. Por outro lado, mais recentemente, tem havido um crescente

    interesse por pacotes de PNLIM para resolver uma srie de problemas

    prticos. Tal interesse pode ser explicado, por exemplo, em funo de

    novos paradigmas e melhor compreenso terica que resultaram em

    mais rpidos e confiveis pacotes de Programao No Linear (PNL).

    Portanto, esta reviso bibliogrfica tem como principais objetivos a

    apresentao das modelagens e das tcnicas de programao matemtica

    que tm sido utilizadas para resolver problemas que otimizam o

    despacho de hidreltricas no mbito da PDO.

    Inicialmente esta seo apresentar alguns dos principais

    trabalhos que aplicaram tcnicas de decomposio para problemas

    inerentes PDO. Essas tcnicas tm sido bastante pesquisadas no Brasil.

    No Laboratrio de Planejamento de Energia Eltrica (Labplan), por

  • Captulo 1 | Introduo

    19

    exemplo, diversas pesquisas tm mostrado evolues significativas tanto

    no nvel de detalhamento do sistema, bem como na qualidade das

    solues (MONTIBELLER, 2003; FINARDI, 2003; RODRIGUES,

    2009; TAKIGAWA, 2010; SCUZZIATO, 2011; ARISTIZBAL,

    2012). Alm desses trabalhos, outros que utilizaram tcnicas de

    decomposio do problema sero descritos na primeira parte desta

    seo.

    Montibeller (2003), Finardi (2003), Rodrigues (2009), Takigawa

    (2010) e Aristizbal (2012) modelaram um problema de

    comissionamento de unidades geradoras para um sistema hidrotrmico.

    O parque gerador hidreltrico nestes trabalhos representado em

    detalhes. Todos apresentaram uma funo de produo das unidades

    hidreltricas no-linear e dependente do volume, da vazo defluente do

    reservatrio e da vazo turbinada da unidade. No entanto, a forma com

    que cada problema foi modelado, decomposto e solucionado mostra

    como estratgias de soluo baseadas na decomposio do problema de

    programao podem ser eficientes.

    Montibeller (2003) considera as zonas proibidas de operao, os

    custos relacionados partida das unidades e os tempos mnimos que as

    unidades devem permanecer ligadas/desligadas (minimum up/downtime)

    na modelagem das hidreltricas. Por sua vez, restries de minimum up/downtime e de rampa no so consideradas na modelagem das

    unidades termeltricas. O problema resolvido utilizando RL para

    relaxar as restries de balano de potncia e de reserva girante das

    unidades hidreltricas e termeltricas e decompor o problema original

    em um subproblema contnuo hidreltrico, um subproblema inteiro

    tambm desta natureza e um subproblema termeltrico. O mtodo de

    feixes (LEMARCHAL et al., 1996) utilizado para otimizar a funo

    dual. Como a soluo da RL invivel ao problema primal, uma

    segunda etapa de Recuperao Primal (RP) organiza a soluo de forma

    atender todas as restries violadas na etapa anterior.

    Finardi (2003) e Rodrigues (2009) modelaram o problema de

    forma semelhante a Montibeller (2003). No entanto, eles consideram

    restries de minimum up/downtime e de rampa na modelagem das unidades termeltricas. Alm disso, o intercmbio entre os subsistemas

    tambm considerado nessa modelagem. Utilizando tcnicas de RL

    com duplicao de variveis, o problema original decomposto em

    quatro subproblemas: Hidreltrico, Termeltrico, Hidrulico e de

    Atendimento Demanda. Tais subproblemas so resolvidos utilizando

    tcnicas de Programao Quadrtica Sequencial (PQS), Programao

    Dinmica (PD) e Programao Linear (PL). O problema dual resolvido

  • Introduo | Captulo 1 20

    utilizando o mtodo de feixes. A diferena entre os trabalhos de Finardi

    (2003) e Rodrigues (2009) que Finardi (2003) resolveu apenas os

    subproblemas Hidreltrico e Hidrulico. Rodrigues (2009) resolve os

    quatro subproblemas, otimiza a funo dual e, como a soluo ainda

    invivel ao problema primal, realiza uma etapa de RP, utilizando a

    tcnica do LAI, para viabilizar a soluo. Desta forma, Finardi (2003)

    obtm um bom comissionamento para as unidades hidreltricas e

    Rodrigues (2009) obtm uma soluo vivel para a PDO do sistema

    hidrotrmico como um todo.

    Belloni et al. (2003) e Diniz (2007) tambm se destacaram por

    utilizar tcnicas de RL e LAI para resolver o problema de

    comissionamento de unidades em sistemas hidrotrmicos. Ambos

    usaram uma representao linear por partes para a funo de produo

    das unidades hidreltricas. Utilizando tcnicas de duplicao de

    variveis com RL, Belloni et al. (2003) decompe o problema em dois

    subproblemas menores (Termeltrico e Hidreltrico), que so resolvidos

    utilizando tcnicas de PL e PD. Diniz (2007) tambm duplica variveis

    no contexto da RL para decompor o problema em trs subproblemas

    menores (Eltrico, Hidreltrico e Trmico) que so resolvidos por PL,

    Programao Quadrtica (PQ) e PD. O mtodo de feixes tambm

    utilizado para resolver o problema dual neste trabalho.

    Takigawa (2010) modela o problema de forma semelhante a

    Montibeller (2003), Finardi (2003) e Rodrigues (2009). A principal

    diferena est na forma como o sistema de transmisso modelado.

    Alm disso, esse trabalho considera restries de minimum up/downtime

    tanto para as unidades termeltricas como para as unidades hidreltricas.

    O problema original decomposto em cinco subproblemas menores

    (Termeltrico, Hidreltrico, Hidrotrmico, Coordenao com

    Planejamento de Curto Prazo e Alocao de unidades Hidreltricas), que

    so resolvidos utilizando tcnicas de PL, PQ, PD e PQS. Assim como

    Rodrigues (2009), Takigawa (2010) faz uso das tcnicas da RL e do LAI

    para encontrar uma soluo vivel para o problema da PDO.

    Scuzziato (2011) resolve um problema de comissionamento de

    unidades geradoras de usinas hidreltricas acopladas em cascata. Neste

    trabalho, a funo de produo das unidades hidreltricas ainda mais

    detalhada, em relao s representadas nos trabalhos de Montibeller

    (2003), Finardi (2003), Rodrigues (2009), Takigawa (2010), com a

    adio das perdas mecnicas da turbina e das perdas globais do gerador.

    O objetivo dessa modelagem minimizar a vazo turbinada e o nmero

    de ligamentos e desligamentos das unidades. Utilizando RL com

    duplicao de variveis, o problema decomposto em dois

  • Captulo 1 | Introduo

    21

    subproblemas menores: um de natureza no-linear inteira-mista e outro

    linear. O problema dual resolvido utilizando o mtodo de feixes e o

    LAI utilizado para recuperar a soluo primal. Alm do bom

    comissionamento das unidades hidreltricas, o autor mostra a

    importncia da considerao das perdas mecnicas da turbina e globais

    do gerador na modelagem da funo de produo.

    Aristizbal (2012) resolve um problema de comissionamento de

    unidades em um sistema hidrotrmico utilizando RL e RP. Sua

    modelagem semelhante s apresentadas por Montibeller (2003),

    Finardi (2003), Rodrigues (2009) e Takigawa (2010). Duplicando

    variveis, o problema decomposto pela RL em quatro subproblemas

    (Hidrulico, de Atendimento Demanda, de Alocao de Unidades

    Termeltricas e de Alocao de Unidades Hidreltricas). O problema

    dual resolvido pelo mtodo de feixes. O diferencial desse trabalho

    uma anlise comparativa de quatro estratgias para encontrar a soluo

    vivel do problema na RP baseadas nas tcnicas do LAI e do Primal

    Proximal (PP) (DUBOST et al., 2005). O modelo hbrido LAI-PP

    apresentou os melhores resultados.

    O trabalho de Wang e Zang (2012) utiliza estratgias de

    decomposio Lagrangiana para resolver o problema de

    comissionamento de unidades geradoras de usinas hidreltricas em

    cascata. Apesar dos autores linearizarem uma funo de produo

    quadrtica dependente da altura de queda lquida e da vazo turbinada

    da unidade geradora, o problema permanece com no linearidades na

    funo objetivo que busca maximizar as receitas proveniente da gerao,

    da reserva girante e do volume armazenado. Um mtodo de

    subgradiente aprimorado utilizado para atualizar os multiplicadores de

    Lagrange e, devido inviabilidade da soluo, uma heurstica

    considerada para viabilizar a soluo. O autor define as unidades

    idnticas como um nico gerador e reduz consideravelmente a dimenso

    do problema e o tempo de soluo.

    Na segunda parte desta seo sero destacados alguns trabalhos

    que utilizaram pacotes de otimizao de PLIM para resolver problemas

    relacionados programao da operao diria.

    Teegavarapu e Siminovic (2000) apresentam uma modelagem

    para o despacho de usinas hidreltricas em cascata considerando um

    forte acoplamento hidrulico. A funo objetivo visa a minimizao do

    custo total de produo e a minimizao dos custos associados ao

    vertimento das usinas. As restries consideram a seleo da curva de

    nvel de jusante resultante do acoplamento hidrulico das usinas, o

    balano hidrulico com tempo de viagem da gua e os limites tcnicos

  • Introduo | Captulo 1 22

    operacionais. A funo de produo das usinas aproximada por

    funes lineares por partes e o problema resultante resolvido por

    PLIM. Os resultados mostram as vantagens de se representar o

    acoplamento hidrulico na modelagem. Ressalta-se que este trabalho

    despacha as usinas da cascata, mas no cada unidade geradora

    invidualmente.

    Martin (2000) tambm utiliza PLIM para despachar as unidades

    em usinas do rio Colorado, no Texas, Estados Unidos da Amrica. O

    modelo tem como objetivo a maximizao da gerao de energia

    eltrica, desde que satisfaam as diversas restries, as quais levam em

    conta o balano hidrulico, as funes de produo e os limites tcnicos

    operacionais. As funes de produo so linearizadas por partes e o

    horizonte de planejamento de 72 horas. Um sistema de programao

    em tempo real desenvolvido para despachar 13 unidades geradoras de

    trs usinas.

    Mahalik et al. (2012) apresentam um programa (CHEERS) que otimiza o comissionamento de unidades para o dia seguinte e operaes

    em tempo real das usinas hidreltricas da cascata do Complexo Oroville-

    Thermalito, na Califrnia. O problema formulado buscando atender a

    critrios ambientais especficos e considerando os servios ancilares. A

    funo objetivo do problema visa maximizar as receitas provenientes de

    gerao, servios ancilares e reserva girante, e minimizar custos

    relativos a partidas e paradas de unidades geradoras. As restries

    contam com o balano hdrico, em que o tempo de viagem de uma usina

    para outra obedece uma funo densidade de probabilidade normal,

    alm de restries de rampa e limites tcnicos operacionais. O problema

    linearizado e solucionado por PLIM.

    Li et al. (2014) resolvem o problema de comissionamento de

    unidades geradoras da usina hidreltrica de trs gargantas, na China. A

    funo objetivo desse problema busca minimizar o custo relacionado s

    vazes turbinada e vertida da usina. As restries consideram a

    conservao da massa dgua, os limites operativos do sistema, o atendimento demanda horria e reserva girante, minimum

    up/downtime e integralidade das variveis binrias. Interpolaes tridimensionais so realizadas para linearizar as funes de produo

    das unidades. A altura de queda lquida tambm linearizada e o

    problema resolvido com pacotes de PLIM. Desta forma, os autores

    obtm boas alocaes das unidades geradoras envolvidas.

    Por fim, a terceira parte desta seo destaca alguns trabalhos que

    utilizaram pacotes computacionais de PNLIM para resolver problemas

    relacionados PDO.

  • Captulo 1 | Introduo

    23

    Catalo et al. (2009), Catalo et al. (2010a), Catalo et al.

    (2010b) utilizam pacotes de PNLIM para resolver problemas de

    comissionamento de unidades hidreltricas de uma usina. As no

    linearidades da funo de produo dependente da vazo e do volume

    do reservatrio so consideradas. Alm disso, as modelagens destes

    trabalhos consideram as zonas proibidas de operao, o balano

    hidrulico e a uma linearizao para eficincia das unidades. Catalo et

    al. (2010a) ainda consideram rampas e limites para partidas e paradas nas unidades. Catalo et al. (2010b) tambm consideram a averso ao

    risco na modelagem. Em Catalo et al. (2009) e Catalo et al. (2010a) os

    resultados so comparados com modelagens linearizadas e resolvidas

    por pacotes de PLIM. Os autores perceberam que, mesmo com um

    tempo computacional maior, os resultados obtidos utilizando pacotes de

    PNLIM so mais realistas sob ponto operacional.

    Em Catalo et al. (2010c) apresentado um modelo de PNLIM

    para despachar usinas hidreltricas em cascata; porm, tambm no se

    otimiza o despacho das unidades geradoras invidualmente. A funo

    objetivo deste modelo busca maximizar o lucro obtido pela usina,

    minimizar os custos associados partida das usinas e maximizar o valor

    futuro da gua armazenada nos reservatrios. As restries levam em

    conta a equao de balano hidrulico, a queda lquida varivel, a

    funo de produo, os limites tcnicos operacionais e a relao entre as

    variveis binrias do problema. Apesar das funes de produo e queda

    lquida serem linearizadas, o problema solucionado por um pacote de

    PNLIM pelo fato da funo objetivo no ser linear.

    Cordova et al. (2013) desenvolvem um sistema de otimizao da

    gerao a partir de dois problemas de PNLIM para a usina hidreltrica

    de It, localizada no sul do Brasil. O primeiro faz o despacho das

    unidades de forma a minimizar o consumo de gua considerando uma

    funo de produo no linear semelhante a de Scuzziato (2011). O

    segundo determina faixas operativas de gerao de cada unidade

    considerando um determinado nvel de otimizao. Neste trabalho, a

    acelerao da gravidade e a densidade da gua no so constantes. Alm

    disso, so consideradas perdas por detritos nas grades das unidades

    geradoras. Os dois problemas so resolvidos por pacotes de PNLIM. O

    comissionamento resultante eficiente e as geraes em unidades

    idnticas despachadas no so iguais devido s diferenas nas constantes

    que ponderam as perdas nas grades.

    Com base na descrio anterior, o presente trabalho prope

    resolver o problema do CUH em cascata a partir de uma modelagem

    semelhante abordada em Scuzziato (2011), tendo em vista o nvel de

  • Introduo | Captulo 1 24

    detalhamento da funo de produo das unidades hidreltricas. No

    entanto, algumas modificaes sero implementadas modelagem do

    problema. Trs diferentes estratgias de soluo, baseadas em RL/RP e

    pacotes computacionais de PLIM e PNLIM, so implementadas e

    analisadas comparativamente.

    1.2 CONTRIBUIES

    Este trabalho inicialmente prope uma modificao modelagem

    do trabalho do Scuzziato (2011) a partir da retirada do termo que

    minimizava as partidas e paradas das unidades e insero de restries

    que garantem as unidades geradoras ligadas por um tempo mnimo

    depois de acionadas (restries de minimum uptime). Isso minimiza o

    problema de definio emprica dos custos relativos s partidas e

    paradas das unidades. Adicionalmente, acrescenta-se funo objetivo

    do problema o somatrio dos vertimentos das usinas ao longo do

    perodo de planejamento para garantir que a defluncia total seja

    minimizada.

    Alm de propor uma modificao na modelagem, este trabalho

    resolve o problema de comissionamento de unidades geradoras de

    usinas hidreltricas em cascata por trs estratgias diferentes afim de

    verificar a qualidade de soluo de cada uma. A primeira ser baseada

    nas estratgias de RL e RP de forma semelhante ao trabalho de

    Scuzziato (2011). A segunda estratgia baseada na simulao do

    problema em um solver de PNLIM que utiliza um algoritmo de

    aproximao exterior (DURAN e GROSSMANN, 1986). Esta

    ferramenta computacional chamada de AIMMS outer approximation

    (AOA) e est disponvel no programa computacional AIMMS 3.14

    (AIMMS, 2014). Por sua vez, a terceira estratgia de soluo proposta

    neste trabalho baseia-se na linearizao das funes de produo a partir

    das interpolaes tridimensionais realizadas em Li et al. (2014). No

    entanto, as interpolaes foram adaptadas para otimizar as unidades de

    usinas hidreltricas acopladas em cascata. O problema de PLIM

    resultante solucionado pelo CPLEX 12.6 (CPLEX, 2014), disponvel

    tambm no programa computacional AIMMS.

    1.3 OBJETIVOS E ESTRUTURA DO TRABALHO

    O objetivo geral deste trabalho consiste em apresentar anlise

    comparativa de diferentes estratgias de soluo ao problema de

    comissionamento de unidades geradoras de usinas acopladas em cascata.

  • Captulo 1 | Introduo

    25

    Nesse sentido, os objetivos especficos a serem cumpridos so:

    1. Apresentar uma modelagem detalhada ao problema, incluindo restries de uptime, que visam minimizar as intervenes de manutenes no planejadas, e

    adicionando a minimizao das vazes vertidas na

    funo objetivo em relao Scuzziato (2011);

    2. Mostrar uma modelagem linear para o problema de comissionamento de unidades geradoras de usinas

    acopladas em cascata, considerando a modelagem no

    linear completa apresentada em Scuzziato (2011);

    3. Realizar uma anlise comparativa de diferentes estratgias de soluo a fim de se verificar a qualidade,

    as vantagens e as desvantagens inerentes cada uma;

    4. Buscar formas de simplificar o problema para melhorar a qualidade e/ou o tempo de simulao das estratgias;

    5. Analisar o efeito das solues quando as metas de demanda so otimizadas para um grupo de usinas de um

    mesmo agente, em vez de uma meta de demanda por

    usina independente de quem o agente proprietrio.

    Este trabalho est organizado conforme descrito na sequncia. No

    Captulo 2 apresentada a modelagem detalhada do problema de

    comissionamento de unidades geradoras em usinas hidreltricas

    acopladas em cascata. Por sua vez, no Captulo 3, as diferentes

    estratgias de soluo so detalhadas. J no Captulo 4, os resultados de

    cada estratgia de soluo, assim como uma anlise comparativa das

    mesmas, so apresentados. Por fim, no Captulo 5 so descritas as

    principais concluses e sugestes para trabalhos futuros.

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    27

    2 MODELAGEM E FORMULAO DO PROBLEMA

    2.1 INTRODUO

    O objetivo deste captulo apresentar a modelagem do problema

    de comissionamento das unidades em usinas hidreltricas acopladas em

    cascata concebido como um modelo de PNLIM. Para isso, inicialmente

    so consideradas as principais caractersticas operativas das usinas e os

    parmetros necessrios para modelar a funo de produo das suas

    unidades geradoras. Na sequncia, apresentado o problema de

    otimizao de interesse, que tem como objetivo minimizar a vazo

    defluente da cascata.

    2.2 MODELAGEM DO SISTEMA HIDRELTRICO

    Uma usina hidreltrica composta por uma ou mais unidade(s)

    geradora(s), que transforma(m) a energia mecnica, resultante do torque

    provocado no eixo da turbina pela energia potencial gravitacional da

    gua acumulada no reservatrio, em energia eltrica. Neste trabalho,

    uma unidade geradora refere-se a um conjunto turbina e gerador.

    Na Figura 2.1 podem ser observados os componentes bsicos de

    uma usina hidreltrica.

    Figura 2.1: Componentes bsicos de uma hidreltrica. Fonte: Scuzziato

    (2011).

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 28

    Atravs da Figura 2.1, observa-se que a gua captada em um

    certo nvel (cota de montante), entra no canal de aduo, atravessa o

    conduto forado, passa pela turbina, e descarregada pelo tubo de

    suco em uma cota inferior (cota de jusante). Quanto maior for a altura

    de queda bruta (diferena da altura entre os nveis de montante e jusante,

    medida em metros), hb, maior ser a potncia de sada. Se forem

    descontadas as perdas hidrulicas no canal de aduo e no tubo de

    suco, tem-se a altura de queda lquida, hl, tambm em metros. Tais

    alturas de queda so modeladas na Seo 2.2.1.

    Para a modelagem da funo de produo de uma unidade

    geradora, as caractersticas fsicas da turbina (que converte a energia

    potencial gravitacional da gua em energia mecnica) e do gerador (que

    converte energia mecnica em eltrica), bem como as perdas envolvidas

    em cada etapa, devem ser consideradas em detalhes (FINARDI, 2003).

    Na Figura 2.2 apresentada de forma esquemtica o processo de

    produo da potncia eltrica e as perdas envolvidas em uma unidade

    hidreltrica. Esse processo comea com a potncia associada ao

    armazenamento da gua no reservatrio e vai at a potncia disponvel

    nos terminais do gerador.

    Turbina Geradorphd pet pst peg pg

    ph pt pmt pgg

    Figura 2.2: Diagrama esquemtico de uma unidade.

    Os principais parmetros ilustrados na Figura 2.2 so definidos

    a seguir. phd a potncia hidrulica disponvel na unidade

    hidreltrica (MW) dada pelo produto entre a altura de

    queda bruta, hb (m), a vazo turbinada na mesma, q (m

    3/s), e uma constante G

    1:

    , phd G hb q (2.1)

    1 Essa constante obtida pelo produto da acelerao da gravidade (g) do local, da densidade da

    gua () e do sistema de unidades considerado. Este trabalho considera g = 9,8361 m/s, = 997 kg/m e MW como unidade de potncia, o que resulta em G = 9,81.10-3 kg/(ms).

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    29

    pet a potncia na entrada da turbina (MW) dada pelo

    produto da altura de queda lquida, hl (m), com a vazo turbinada; alternativamente, pode ser calculada

    pela diferena entre a potncia hidrulica disponvel,

    phd, e as perdas hidrulicas, ph (MW):

    ou , pet G hl q pet phd ph (2.2)

    pst a potncia mecnica na sada da turbina (MW), dada

    pelo produto de pet e , em que o rendimento hidrulico da turbina; alternativamente pst pode ser dada pela diferena entre pet e as perdas na turbina

    associadas , pt:

    ou , pst G hl q pst pet pt (2.3)

    peg a potncia mecnica na entrada do gerador (MW) entregue pelo eixo da turbina, sendo que pmt

    representa as perdas mecnicas no eixo que acopla a

    turbina ao gerador:

    , peg pst pmt (2.4)

    pg a potncia de sada nos terminais do gerador (MW), sendo que pgg representa as perdas globais do

    gerador:

    . pg peg pgg (2.5)

    Na sequncia, a altura de queda lquida, hl, o rendimento

    hidrulico da turbina, , e as perdas no conjunto turbina-gerador (pmt e pgg) so modelados matematicamente afim de representar a funo das unidades geradoras. As modelagens de hl e so baseadas em Finardi (2003). Por sua vez, as representaes das perdas pmt e pgg baseiam em

    Scuzziato (2011).

    2.2.1 Altura de Queda Lquida

    A diferena entre o nvel de montante, fcm, e o nvel de jusante,

    fcj, define a queda bruta, hb. No sistema eltrico brasileiro, o nvel de

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 30

    montante usualmente representado matematicamente por um

    polinmio de quarta ordem que depende do volume do reservatrio, v,

    em hm. O valor da cota de montante dado pelo seguinte polinmio:

    2 3 4

    0 1 2 3 4( ) a a a a a ,fcm v v v v v (2.6)

    em que,

    fcm o valor da cota de montante (m);

    a0,...,a4 so os coeficientes do polinmio que representa a cota

    de montante para o reservatrio.

    O nvel de jusante da usina, por sua vez, representa o nvel do rio

    aps o canal de restituio. Quando a turbina do tipo de reao, como

    as consideradas nesse trabalho, a mesma opera afogada e a alterao do

    nvel de jusante afeta a altura de queda lquida da unidade. Neste caso,

    esse nvel dado matematicamente por um polinmio, tambm em geral

    de quarta ordem, que depende da vazo defluente do reservatrio, dado

    pela soma entre a vazo turbinada da usina, Q, e o vertimento, S2. O

    valor da cota de jusante dado pelo seguinte polinmio:

    2 3

    0 1 2 3

    4

    4

    , b b b b

    b ,

    fcj Q S Q S Q S Q S

    Q S

    (2.7)

    em que,

    Fcj o valor da cota de jusante (m);

    b0,...,b4 so os coeficientes do polinmio que representa a cota

    de jusante para o reservatrio.

    Caso haja elevao no nvel de jusante causado pelo retardo no

    escoamento dgua, faz-se necessrio adicionar, alm das vazes turbinadas e vertidas da usina, uma cota que pode ser obtida a partir do

    volume armazenado no reservatrio a jusante ou, em alguns casos, a

    partir da vazo lateral de um afluente a jusante. Contudo, neste trabalho

    considerado que a cota de jusante no depende do nvel de montante

    do reservatrio imediatamente a jusante.

    2 A varivel S no clculo de cota de jusante no considerada quando o vertedouro est

    suficientemente distante do canal de fuga da usina (FINARDI, 2003).

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    31

    Logo, pode-se definir a altura de queda bruta, em metros, por:

    , , , .hb Q S v fcm v fcj Q S (2.8)

    A altura de queda lquida, hl, dada pela diferena entre a altura

    de queda bruta, hb, e as perdas hidrulicas, ph, que ocorrem no canal de aduo e no tubo de suco. Essas perdas hidrulicas correspondem

    parcela da altura de queda bruta que no aproveitada pela turbina.

    Uma parte dessas perdas ocorre por atrito da gua nos condutos

    forados, hlp, e a outra parte so associadas energia hidrulica no

    aproveitada pela turbina, hls. Neste trabalho, hlp representado matematicamente por uma funo quadrtica que depende da vazo

    turbinada da unidade geradora da seguinte forma:

    2pk ,hlp q q (2.9)

    em que,

    kp uma constante que depende das caractersticas fsicas

    do conduto forado que conecta o reservatrio com uma

    certa unidade hidreltrica (s2/m

    5).

    Adicionalmente, hls tambm pode ser representada por uma

    funo quadrtica dependente de q:

    2sk ,hls q q (2.10)

    em que,

    ks uma constante que depende da rea da seo de

    baixa presso da turbina e da acelerao da gravidade

    (s2/m

    5).

    Com a queda bruta e as perdas hidrulicas definidas, pode-se

    modelar matematicamente a equao de queda lquida como sendo:

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 32

    2 3 4

    0 1 2 3 4

    2 3

    0 1 2 3

    4 2 2

    4 p s

    , , , a a a a a

    b b b b

    b k k ,

    hl v Q S q v v v v

    Q S Q S Q S

    Q S q q

    (2.11)

    em que,

    Hl a altura de queda lquida da unidade hidreltrica (m).

    2.2.2 Rendimento Hidrulico da Turbina

    Entre a potncia na entrada da turbina, pet, e a potncia na sada

    da turbina, pst, existe uma perda, pt, relacionada ao rendimento hidrulico da turbina, , que representa a eficcia com que transferida a potncia disponvel na gua que flui atravs da turbina para o eixo do

    rotor (GULLIVER e ARNDT, 1991).

    Sob ponto de vista prtico, o rendimento hidrulico fornecido

    pelo fabricante da turbina por meio de um conjunto de pontos do tipo (, pst, hl). Contudo, como pst no varivel de deciso no problema, mas

    sim a vazo turbinada, deve-se ento realizar alguns clculos para

    converter o conjunto (, pst, hl) em outro do tipo (, q, hl). Essa tarefa realizada calculando os valores de q associados aos pontos (, pst, hl) por meio da Equao (2.3). Por meio de uma anlise grfica do conjunto

    (, q, hl) pode-se observar que a representao matemtica desse rendimento pode ser dada por uma funo quadrtica cncava, conforme

    descrito por:

    0 1 2

    22

    3 4 5

    , , , c c c , , ,

    c , , , c c , , , ,

    v Q S q q hl v Q S q

    q hl v Q S q q hl v Q S q

    (2.12)

    em que,

    o rendimento hidrulico de uma dada unidade

    hidreltrica;

    c0,...,c5 so os coeficientes do polinmio que representa o

    rendimento hidrulico de uma dada unidade hidreltrica.

    Os coeficientes c0,...,c5 so obtidos usando tcnicas de regresso

    linear (WONNACOTT e WONNACOTT, 1972). Por ter um formato de

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    33

    colina, a curva de rendimento hidrulico da turbina tambm conhecida

    por curva-colina. A Figura 2.3 apresenta o exemplo ilustrativo de uma

    curva-colina.

    .0.92

    0.900.88

    0.86

    0.84

    0.82

    0.80

    0.80

    Va

    z

    o T

    urb

    ina

    da

    (m

    3/s

    )

    Queda Lquida (m)

    Queda Lquida Mxima

    (48 m)

    Queda Lquida Mnima

    (32 m)

    Queda Lquida

    Nominal

    41 m

    0.7870 MW

    80 MW

    90 MW

    100 MW

    110 MW

    Potncia Mecnica de

    Sada da Turbina

    Eficincia Hidrulica da

    Turbina

    180

    200

    220

    240

    260

    280

    300

    320

    340

    VAZO TURBINADA

    MXIMA

    .

    .

    41

    mx = 0.94

    Zona Probida

    X X

    X

    X X

    X

    X

    X

    X

    X

    XX

    X

    X

    X

    X

    X

    X

    X

    X

    X

    XX

    X

    X

    X

    XX

    120 MW

    MXIMA POTNCIA DE SADA

    X

    X

    X

    Figura 2.3: Curva colina de uma turbina hidrulica. Fonte: Finardi (2003).

    O eixo horizontal est relacionado com a queda lquida e o eixo

    vertical com a vazo turbinada. As curvas de nvel representam o

    rendimento e as linhas tracejadas a potncia mecnica no eixo da turbina

    em relao a um dado ponto de operao. Pode-se perceber, para esse

    caso, que a melhor eficincia ocorre quando a queda lquida est

    prxima de 41 metros e a vazo turbinada prxima de 260 m/s, o que

    indica o ponto de projeto desta turbina.

    2.2.3 Perdas Mecnicas na Turbina e Globais do Gerador

    As perdas mecnicas na turbina esto associadas potncia

    consumida pelo atrito com os mancais guias e mancais de escora, alm das perdas na vedao do eixo da turbina (RIBAS, 2003). Tais perdas

    so dadas em MW e podem ser representadas matematicamente atravs

    de uma funo quadrtica dependente da potncia gerada, pg, por meio

    da seguinte expresso:

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 34

    20 1 2g g g ,pmt pg pg pg (2.13)

    em que,

    g0,...,g2 so constantes obtidas por ensaios de campo.

    Por sua vez, as perdas globais do gerador so constitudas pelas

    perdas eltricas da mquina mais uma parcela das perdas mecnicas nos

    mancais e selo de vedao (SCUZZIATO, 2011). Matematicamente, so

    dadas em MW e representadas pela seguinte funo exponencial:

    1f .0f ,pg

    pgg pg e (2.14)

    em que,

    f0,f1 so constantes obtidas por ensaios de campo.

    2.2.4 Funo de Produo das Unidades Hidreltricas

    Atravs da equaes (2.4) e (2.5), pode-se definir a funo de

    produo das unidades geradoras hidreltricas como sendo:

    0.pg pst pmt pg pgg pg (2.15)

    Como pmt e pgg dependem da varivel pg, a potncia gerada por uma unidade hidreltrica definida por meio da seguinte restrio de

    igualdade no linear:

    ( , , , ) ( , , , ) ( )

    ( ) 0.

    pg G v q Q S hl v q Q S q pmt pg

    pgg pg

    (2.16)

    Na produo de energia eltrica tem-se como variveis de

    controle a vazo turbinada na unidade geradora, q, e a vazo vertida da usina S. O volume armazenado no reservatrio, v, a vazo turbinada da

    usina, Q, e a potncia de sada do gerador, pg, so consideradas

    variveis de estado.

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    35

    2.2.5 Restries Operativas Adicionais

    Alm da funo de produo das unidades geradoras, para se

    modelar o problema do comissionamento de unidades de usinas

    acopladas em cascata faz-se necessrio a considerao de restries de

    conservao da massa dgua, de atendimento demanda, de tempo mnimo de operao para as unidades geradoras e de limites tcnicos

    operacionais de gerao, armazenamento e vertimento.

    O princpio da conservao da massa dgua garante que o volume do reservatrio, em qualquer estgio de tempo, igual ao

    volume anterior mais o volume afluente e menos o volume defluente.

    Desconsiderando os efeitos de evaporao e infiltrao, esse princpio

    representado pela seguinte restrio:

    , 1 , , ,

    mr mr

    r

    rt r t rt rt m t m t rt

    m

    v v c Q S Q S c y (2.17)

    em que,

    r o ndice associado aos reservatrios da cascata;

    t o ndice associado aos estgios de tempo;

    c a constante que transforma a vazo (m/s) em um volume (hm) em um perodo de tempo equivalente

    ao utilizado na discretizao do horizonte de

    planejamento;

    r o conjunto de reservatrios imediatamente a

    montante ao r-simo reservatrio;

    mr o tempo de viagem da gua entre os reservatrio m

    e r (h);

    Qrt a vazo turbinada na r-sima usina ao longo do

    estgio t (m/s), representada pela soma das vazes

    turbinadas das j unidades geradoras:

    1

    rtn

    jrt rt

    j

    q Q

    ;

    Srt a vazo vertida do r-simo reservatrio ao longo do

    estgio t (m/s);

    vrt o volume armazenado do r-simo reservatrio no incio do estgio t (hm);

    yrt a vazo incremental afluente do r-simo

    reservatrio ao longo do estgio t (m/s).

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 36

    A equao de conservao da massa dgua (2.17) mostra que a operao dos reservatrios acoplada no tempo e no espao, ou seja,

    que a operao de uma usina a montante afeta a operao da usina a

    jusante.

    Os limites tcnicos dos volumes e da vazo vertida dos

    reservatrios so modelados como segue:

    min max

    max

    ,

    0 ,

    r rt r

    rt r

    v v v

    S S (2.18)

    em que,

    Srmax

    a vazo vertida mxima do r-simo reservatrio

    (m/s);

    vrmin

    o valor do volume mnimo do r-simo reservatrio (hm);

    vrmax

    o valor do volume mximo do r-simo reservatrio (hm).

    No tocante as restries relacionadas com as unidades, existe uma

    regio de gerao definida como zona proibida (como pode ser

    observado na Figura 2.3). Nessas regies podem ocorrer cavitaes,

    fortes vibraes mecnicas, oscilaes de presso no tubo de suco e

    oscilaes no eixo do rotor. Por isso, deve-se evitar operar

    continuadamente nessas regies. Alm disso, precisa-se garantir que a

    unidade geradora opere somente em uma zona de operao. A restrio

    abaixo estabelece os limites de potncia para cada regio de operao:

    min max

    1 1

    ,

    jr jr

    jkr jkrt jrt jkr jkrt

    k k

    pg z pg pg z (2.19)

    em que,

    j o ndice associado s unidades geradoras; k o ndice das zonas de operao das unidades;

    jr o nmero total de zonas proibidas de operao da

    unidade j do reservatrio r;

    zjkrt a varivel binria que indica se a unidade j do

    reservatrio r est ligada (1) ou desligada (0) na zona

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    37

    k, no estgio t, tal que 1

    1

    jr

    jkrt

    k

    z ;

    pgjrt a potncia gerada na unidade j e no reservatrio r durante o estgio t (MW);

    pgmin

    jkr a potncia mnima da unidade j e reservatrio r operando na zona k (MW);

    pgmax

    jkr a potncia mxima da unidade j e reservatrio r

    operando na zona k (MW).

    necessrio tambm limitar a vazo turbinada da unidade

    geradora. A partir da curva colina da unidade, extrai-se o conjunto de

    pontos (, hl, q) e, em seguida, aproxima-se o conjunto de pontos (q

    min,q

    max, hl) para polinmios que limitam os valores das vazes

    turbinadas de cada unidade (SCUZZIATO, 2011). A representao

    matemtica das vazes mnimas e mximas ficam da seguinte forma:

    max 2 3

    0 1 2 3

    min 2 3

    0 1 2 3

    min max

    ( ) d d d d ,

    ( ) e e e e ,

    ( ) ( ),

    jrt jrt jr jr jrt jr jrt jr jrt

    jrt jrt jr jr jrt jr jrt jr jrt

    jrt jrt jrt jrt jrt jrt jrt

    q hl hl hl hl

    q hl hl hl hl

    u q hl q u q hl

    (2.20)

    em que,

    d0,...,d3 so constantes; e0,...,e3 so constantes.

    ujrt a varivel binria que indica se a unidade j do

    reservatrio r est ligada (1) ou desligada (0) no

    estgio de tempo t, tal que 1

    jr

    jrt jkrt

    k

    u z ;

    Para que o desgaste das unidades geradoras seja reduzido,

    adicionado formulao do problema um conjunto de restries que

    limita o tempo mnimo em que a unidade deve permanecer em operao.

    Dessa forma, a unidade geradora tende a ligar e desligar menos vezes

    durante o dia, minimizando as intervenes de manutenes no

    planejadas. Essas restries, definidas como tempo mnimo de operao,

    so modeladas como em Frangioni et al. (2009):

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 38

    , 1, 1 , 1 , up

    jrt jrp jr p jru u u p t t t (2.21)

    em que,

    tup

    jr o nmero de estgios em que a unidade j do reservatrio r deve permanecer ligada (h).

    Vale ressaltar que quanto maior for o valor de tup

    , mais restries

    de uptime sero necessrias ao problema. Por exemplo, se o tup

    for de 7

    horas, o problema ter 6 restries de uptime para cada estgio de tempo

    e para cada unidade geradora.

    Por fim, conforme citado anteriormente, no Brasil as metas de

    gerao so atribudas pelo ONS para cada usina durante cada hora do

    dia seguinte (ONS, 2009). Sendo assim, as restries de atendimento

    demanda podem ser modeladas da seguinte maneira:

    1

    ,

    rtn

    jrt rt

    j

    pg L (2.22)

    em que,

    pg a potncia gerada pela unidade j, reservatrio r e no

    estgio t; nrt o nmero de unidades disponveis para operao no

    reservatrio r e no estgio t;

    Lrt a meta de gerao para a usina do reservatrio r no estgio t (MW).

    Na prxima seo apresentada a formulao proposta para o

    problema de comissionamento de unidades geradoras de usinas em

    cascata.

    2.3 FORMULAO DO PROBLEMA

    Esta seo apresenta a modelagem proposta para o problema de

    comissionamento de unidades geradoras de usinas hidreltricas

    acopladas em cascata. Devido s caractersticas apresentadas, o

    problema classificado como um problema de PNLIM e de grande

    porte. Tal problema tem como objetivo a minimizao da vazo

    defluente da usina. Desta forma, no problema buscam-se as menores

  • Captulo 2 | Modelagem e Formulao do Problema

    39

    vazes turbinadas para as unidades atenderem as metas de potncia e os

    menores vertimentos para as usinas, o que resulta na maximizao do

    recurso energtico (i.e., gua) disponvel ao final do perodo de

    planejamento.

    Sendo assim, o problema de otimizao proposto nesse trabalho

    dado por:

    , , , ,

    1 1

    min ( ),T R

    rt rtQ S v q pg

    t r

    Q S

    (2.23)

    sujeito a :

    1 , , ,

    mr mr

    r

    rt rt rt rt m t m t rt

    m

    v v c Q S Q S c y (2.24)

    min max

    max

    ,

    0 ,

    r rt r

    rt r

    v v v

    S S (2.25)

    1

    ,

    rtn

    jrt rt

    j

    pg L (2.26)

    ( , , , ) ( )

    ( ) 0,

    jrt jrt rt jrt rt rt jrt jrt

    jrt jrt

    pg pst v q Q S pmt pg

    pgg pg (2.27)

    1

    0,

    rtn

    jrt rt

    j

    q Q (2.28)

    min

    max

    ( , , , ),

    ( , , , ),

    jrt jrt jrt rt rt rt jrt

    jrt jrt jrt rt rt rt jrt

    q u q v Q S q

    q u q v Q S q (2.29)

    , 1, 1 , 1 ,up

    jrt jrp jr p jru u u p t t t (2.30)

    min max

    1 1

    ,

    jr jr

    jkr jkrt jrt jkr jkrt

    k k

    pg z pg pg z (2.31)

    1 1

    , 1, 0,1 , 0,1 ,

    jr jr

    jkrt jrt jkrt jkrt jrt

    k k

    z u z z u (2.32)

    em que,

    R o nmero total de reservatrios do sistema; T o nmero total de estgios da programao (h).

  • Modelagem e Formulao do Problema | Captulo 2 40

    As no linearidades e variveis inteiras presentes tornam o

    problema complexo e de difcil soluo. Alm disso, o acoplamento

    espacial e temporal presente na restrio de conservao da massa

    dgua e o acoplamento temporal da restrio de uptime tendem a tornar o problema ainda mais complexo. Por isso, faz-se necessrio o uso de

    tcnicas e ferramentas adequadas para a obteno de solues viveis ao

    problema.

    2.4 CONCLUSES

    Este captulo teve como objetivo principal apresentar a

    modelagem proposta para o problema de CUH de usinas acopladas em

    cascata. Devido proximidade temporal com a operao em tempo real,

    as caractersticas tcnicas, fsicas e operacionais devem ser modeladas

    de forma realstica.

    A funo de produo das unidades geradoras considera o

    rendimento do conjunto turbina-gerador, a queda lquida, a vazo

    turbinada, as perdas mecnicas da turbina e as perdas globais do

    gerador. Adicionalmente, a formulao do problema tambm considera

    o princpio da conservao da massa dgua entre as usinas, o atendimento meta de demanda por usina, os limites tcnicos

    operacionais das variveis envolvidas, assim como as restries de

    uptime, que mantm a unidade ligada por um perodo pr-estabelecido afim de reduzir o desgaste da unidade geradora.

    Tais consideraes resultam na modelagem de um problema de

    otimizao com variveis inteiras e contnuas, no-linear e de grande

    porte. Com isso, o problema torna-se complexo por se tratar de um

    problema combinatrio e no convexo.

    Logo, para que esse problema seja resolvido de forma eficiente,

    faz-se necessrio a utilizao de tcnicas de programao matemtica

    robustas e/ou ferramentas computacionais que garantam boas solues

    viveis e em tempos aceitveis ao modelo proposto.

    No prximo captulo, as trs diferentes estratgias de soluo

    utilizadas neste trabalho para resolver o problema proposto so

    apresentadas.

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    41

    3 ESTRATGIAS DE SOLUO

    3.1 INTRODUO

    O objetivo deste captulo apresentar as trs estratgias de

    soluo utilizadas neste trabalho para resolver o problema do

    comissionamento de unidades geradoras de usinas hidreltricas

    acopladas em cascata, representado em (2.23)-(2.32). Como esse

    problema no linear inteiro-misto (PNLIM), o procedimento de

    soluo no uma tarefa trivial, sendo necessria a aplicao de tcnicas

    matemticas e de ferramentas computacionais eficientes para que uma

    boa soluo seja obtida em um tempo condizente.

    A primeira metodologia utilizada neste trabalho baseada em

    tcnicas de decomposio do problema original em problemas menores

    e mais fceis de serem resolvidos. A segunda metodologia baseia-se na

    utilizao do pacote computacional AIMMS Outer Approximation (AOA) que resolve diretamente o problema de PNLIM. Na terceira

    metodologia, o problema de PNLIM linearizado por meio de uma

    remodelagem da funo de produo, sendo ento resolvido como um

    problema de PLIM pelo pacote computacional CPLEX.

    3.2 RELAXAO LAGRANGIANA E RECUPERAO PRIMAL

    Umas das metodologias utilizadas neste trabalho para a obteno

    de solues viveis ao problema proposto o uso de tcnicas de

    Relaxao Lagrangiana (RL) e Recuperao Primal (RP) (DINIZ, 2007;

    RODRIGUES, 2009; TAKIGAWA, 2010; SCUZZIATO, 2011;

    ARISTIZBAL, 2012). Inicialmente, para decompor o problema em

    subproblemas mais simples, utiliza-se a tcnica de duplicao de

    variveis na etapa da RL. A etapa da RL fornece uma soluo primal

    invivel e por isso necessria a etapa da RP, a qual resolvida

    utilizando a metodologia do Lagrangiano Aumentado Inexato (LAI). O

    principal objetivo da RP tornar a soluo primal invivel da RL em

    uma soluo vivel.

    Esta seo inicialmente descreve a metodologia da RL, assim

    como os subproblemas resultantes da decomposio e os algoritmos de

    soluo desta etapa. Posteriormente, a estratgia de soluo que busca

    viabilizar a soluo na etapa de RP abordada.

  • Estratgias de Soluo | Captulo 3 42

    3.2.1 Relaxao Lagrangiana

    A RL baseia-se na construo do problema dual a partir da

    relaxao das restries que acoplam o problema, as quais so

    transferidas para a funo objetivo e ponderadas por variveis

    denominadas multiplicadores de Lagrange (BERTSEKAS, 1999). O

    problema dual resultante pode ser dividido em subproblemas locais

    menores e mais fceis de serem solucionados. As solues desses

    subproblemas servem de entrada para o algoritmo do chamado problema

    mestre, responsvel por atualizar os multiplicadores de Lagrange a cada

    iterao. Ao longo das iteraes do problema mestre, o valor da funo

    objetivo do problema dual tende a aproximar-se do valor da funo

    objetivo do problema primal, que desconhecido. Se o problema primal

    original for convexo, esses valores iro coincidir; caso contrrio, o valor

    da funo objetivo do problema dual constitui uma cota inferior para o

    valor da funo objetivo do problema primal. Essa diferena entre os

    valores das funes objetivos dos problemas primal e dual chamada de

    gap de dualidade (BERTSEKAS, 1999). O procedimento geral da RL

    ilustrado na Figura 3.1, a seguir.

    Resolve Subproblemas

    LocaisProblema Mestre

    Solues Primais

    associadas as restries

    relaxadas e valor da

    Funo Objetivo

    Multiplicadores de Lagrange Atualizados

    Figura 3.1: Nveis hierrquicos da RL.

    Mesmo com a presena do gap de dualidade, a soluo do

    problema por meio da RL pode fornecer bons pontos de partida para

    heursticas especializadas em tornar a soluo primal vivel

    (GUIGNARD e KIM, 1987). Para isso, importante que o gap

    resultante no final do processo iterativo seja o menor possvel. Para que

    isso ocorra, a funo dual deve ser otimizada de maneira eficiente. Alm

    disso, a maneira como o problema primal decomposto e o dual

    construdo tambm ir influenciar na qualidade do gap resultante, pois os subproblemas resultantes do problema dual devem ser resolvidos de

    maneira eficiente. Uma ideia nessa direo mostrada sob ponto de

    vista terico em Lemarchal et al. (1996) e prtico em Finardi (2003).

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    43

    Para decompor o problema primal deste trabalho, utiliza-se uma

    tcnica em que duplica-se as variveis que acoplam o problema,

    introduzindo as chamadas variveis artificiais. Assim, possvel obter o

    desacoplamento do problema relaxando as equaes de igualdade entre

    as variveis originais e artificiais. Essa tcnica possui vantagens com

    relao RL clssica (LEMARCHAL e RENAUD, 2001;

    GUIGNARD e KIM, 1987; BATUT e RENAUD, 1992).

    Como a restrio de conservao da massa dgua acopla o problema no espao, duplica-se as variveis presentes nessa restrio

    para decompor o problema. A incluso das variveis artificiais e das

    respectivas restries de igualdade apresentada a seguir.

    0,

    0,

    0.

    rt rt

    rt rt

    rt rt

    Qa Q

    Sa S

    va v

    (3.1)

    Com o intuito de dividir a parte hidrulica da parte que envolve

    as unidades geradoras, substitui-se as variveis artificiais (Qa, Sa e va)

    na funo objetivo, nas restries de conservao da massa dgua e nos limites hidrulicos. Desta forma, tem-se:

    , , , , , , ,

    1 1

    min ( ),T R

    rt rtQa Sa va Q S v q pg

    t r

    Qa Sa

    (3.2)

    sujeito a :

    1 , , ,

    mr mr

    r

    rt rt rt rt m t m t rt

    m

    va va c Qa Sa Qa Sa c y

    (3.3)

    min max max, 0 , r rt r rt rv va v Sa S (3.4)

    1

    ,

    rtn

    jrt rt

    j

    pg L (3.5)

    ( , , , ) ( ) ( ) 0, jrt jrt rt jrt rt rt jrt jrt jrt jrtpg pst v q Q S pmt pg pgg pg

    (3.6)

    1

    0,

    rtn

    jrt rt

    j

    q Q (3.7)

  • Estratgias de Soluo | Captulo 3 44

    min

    max

    ( , , , ),

    ( , , , ),

    jrt jrt jrt rt rt rt jrt

    jrt jrt jrt rt rt rt jrt

    q u q v Q S q

    q u q v Q S q (3.8)

    , 1, 1 , 1 , up

    jrt jrp jr p jru u u p t t t (3.9)

    min max

    1 1

    ,

    jr jr

    jkr jkrt jrt jkr jkrt

    k k

    pg z pg pg z (3.10)

    1 1

    , 1, 0,1 , 0,1 ,

    jr jr

    jkrt jrt jkrt jkrt jrt

    k k

    z u z z u (3.11)

    0, 0, 0. rt rt rt rt rt rtQa Q Sa S va v (3.12)

    Percebe-se agora que apenas as restries (3.12) esto acoplando

    o problema entre reservatrios diferentes. Assim, pode-se relax-las e

    formar o problema dual da seguinte forma:

    , , , , , , ,

    1 1

    min [ ( )

    ( ) ( )],

    sujeito a : (3.3) a (3.11),

    T RRL

    rt rt rt rt rtQa Sa va Q S v q pg

    t r

    rt rt rt rt rt rt

    Qa Sa Q Qa Q

    S Sa S v va v

    (3.13)

    em que,

    Qrt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (Qart Qrt=0);

    Srt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (Sart Srt=0);

    vrt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (vart vrt=0).

    A funo do problema dual (3.13) pode ser avaliada por meio de

    dois subproblemas menores. O primeiro subproblema definido como

    subproblema hidrulico por conter as restries de conservao da

    massa dgua, sendo descrito como:

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    45

    , ,

    1 1

    min [(1 ) (1 )

    ],

    sujeito a : (3.3) e (3.4),

    T RSH

    rt rt rt rtQa Sa va

    t r

    rt rt

    Q Qa S Sa

    v va

    (3.14)

    O segundo subproblema definido como subproblema de

    programao das unidades por conter as restries no lineares e com

    variveis binrias. Esse subproblema dado da seguinte maneira:

    , , , , 1 1min ( ),

    sujeito a : (3.5) a (3.11),

    T RSP

    rt rt rt rt rt rtQ S v q pg

    t r

    Q Q S S v v

    (3.15)

    Conforme pode ser visto, o subproblema hidrulico (3.14) linear

    e possui restries de todas as usinas da cascata, por isso pode ser

    resolvido como um nico problema a cada iterao da RL por pacotes de

    otimizao que resolvem problemas lineares. Neste trabalho, o

    subproblema hidrulico resolvido dentro do programa computacional

    AIMMS, atravs do pacote CPLEX.

    Por sua vez, o subproblema de programao (3.15) de natureza

    no linear inteiro-misto, desacoplado no espao (i.e., cada problema

    possui restries e variveis associadas a uma nica usina), mas

    acoplado no tempo devido s restries de uptime. Assim, (3.15) equivale a resolver R subproblemas de PNLIM a cada iterao da RL.

    Estes subproblemas so solucionados pelo pacote AOA disponvel no

    programa computacional AIMMS.

    Com relao maximizao do problema dual (3.13), existem

    vrias tcnicas para se implementar esse problema mestre. A mais

    simples e menos eficiente a do Subgradiente (ZHUANG e GALIANA,

    1988; FERREIRA et al., 1989). Nesta tcnica no existe critrio de

    parada consolidado. Os mtodos dos planos cortantes (WOLSEY, 1998)

    e de feixes (LEMARCHAL et al., 1996) superam essa dificuldade. No

    entanto, o mtodo de feixes apresenta vantagens significativas em tempo

    de simulao por resolver problemas de Programao Quadrtica (PQ) a

    cada iterao e, consequentemente, necessita de um nmero menor de

    iteraes que o mtodo dos planos cortantes. Isso acontece porque o

    mtodo de feixes aplicado a este problema consegue gerar uma

    sequncia de multiplicadores de Lagrange que garantem uma efetiva

  • Estratgias de Soluo | Captulo 3 46

    subida com relao ao ponto timo da funo dual. Logo, neste trabalho,

    o mtodo de feixes implementado no problema mestre da RL, de

    maneira semelhante ao exposto em Scuzziato (2011).

    De forma resumida, o mtodo de feixes utiliza a soluo dos

    subproblemas locais para construir e resolver um problema de PQ de

    forma a se obter os novos multiplicadores de Lagrange da iterao e

    uma aproximao para o modelo da funo dual. Por ltimo, o mtodo

    verifica se o passo srio ou nulo. Em caso de passo srio, atualizam-se

    os multiplicadores e a funo objetivo do problema dual. O algoritmo

    utilizado na soluo da RL segue os seguintes passos:

    1) Resolver os subproblemas locais considerando todos os multiplicadores de Lagrange iniciais

    0. Como resultado tem-se:

    0 0 0( ) ( ) ( ) RL SH SP e sg0;

    2) Resolver o problema mestre: 1 2

    1

    max ,2

    iic

    sujeito

    a: 1 1 1( ) .( ), 1,..., RL n n nsg n i . Como resultado

    tem-se: , i i = ;

    3) Resolver os subproblemas locais considerando = i. Obtendo-

    se: ( ) RL i

    e sgi;

    4) Calcular a medida de progresso e uma interpolao quadrtica para o parmetro de penalidade, c (KIWIEL, 1990):

    1

    ( ),

    i

    i i RL

    1

    1

    int 1

    ( ) ( )2 1 .

    ( )

    iRL i RL

    i i

    ii RL

    c c

    5) Verificar passo: Se 1

    ( ) ( ) 0,1. ,

    i

    RL i RL i faa ,

    ii

    ( ) ( ) i

    RL RL i e 1 minintmin ,0,1 , . i i ic c c c Seno, faa

    1

    ,

    i i 1

    ( ) ( )

    i i

    RL RL e 1 maxintmax ,10 , . i i ic c c c

    6) Se i RLtol ou i=imax

    convergiu. Seno, fazer i=i+1 e voltar ao

    passo 2.

    em que,

    tolRL

    o valor da tolerncia para a convergncia; it

    max o nmero mximo de iteraes na RL;

    i o ndice associado ao nmero de iteraes;

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    47

    i o multiplicador de Lagrange associado soluo

    candidata a subida da i-sima iterao;

    i

    o multiplicador de Lagrange associado ltima

    soluo de subida, ou centro de estabilidade do

    problema mestre, da i-sima iterao;

    ci o parmetro de estabilidade quadrtica do problema

    mestre da i-sima iterao;

    cmin

    o limite mnimo para o parmetro de penalidade quadrtica do problema mestre;

    cmax

    o limite mximo para o parmetro de penalidade

    quadrtica do problema mestre;

    ciint o valor do parmetro c

    i obtido por interpolao

    quadrtica na i-sima iterao;

    RL o valor da funo dual da RL;

    sgi o vetor de subgradientes na iterao i;

    i a aproximao das solues, ou medida do progresso, do algoritmo para a i-sima iterao;

    n o ndice associado ao nmero de aproximaes

    lineares que compem a funo dual.

    Como j mencionado, a aplicao do algoritmo da RL resulta em

    uma soluo invivel ao problema primal. A etapa de RP, que ser vista

    a seguir, tende a viabilizar a soluo obtida na etapa da RL.

    3.2.2 Recuperao Primal

    A Recuperao Primal tem como principal objetivo tornar vivel

    a soluo obtida na RL. Nesta etapa, a tcnica do Lagrangiano

    Aumentado (BERTSEKAS, 1999; FREUND, 2004) utilizada para

    penalizar as restries relaxadas adicionando termos quadrticos na

    funo dual. Isso evita efeitos oscilatrios das variveis primais dos

    subproblemas e torna a funo dual diferencial. Assim, tem-se a

    seguinte funo dual:

  • Estratgias de Soluo | Captulo 3 48

    *

    , , , , , , ,1 1

    * *

    2 2

    2

    min [ ( )

    ( ) ( )

    1 1( ) ( )2 2

    1 ( ) ],2

    sujeito a : (3.3) a (3.11),

    T RLAI

    rt rt rt rt rtQa Sa va Q S v q pg

    t r

    rt rt rt rt rt rt

    rt rt rt rt

    rt rt

    Qa Sa Q Qa Q

    S Sa S v va v

    Qa Q Sa S

    va v

    (3.16)

    em que,

    Q

    *rt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (Qart Qrt=0) na RP;

    S

    *rt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (Sart Srt=0) na RP;

    v

    *rt o multiplicador de Lagrange associado restrio

    (vart vrt=0) na RP;

    o parmetro de penalidade ( 0 ).

    Com a introduo dos termos quadrticos, percebe-se a

    impossibilidade de decompor o problema em subproblemas menores

    conforme acontece na RL. Por isso, faz-se necessrio o uso de um

    mtodo de linearizao parcial conhecido como Princpio do Problema

    Auxiliar (COHEN, 1980) para contornar essa situao. Para isso, os

    termos quadrticos de (3.16) so aproximados da seguinte forma:

    2 2 2

    2 2 2

    2 2 2

    ( ) ( ) ( ) ,

    ( ) ( ) ( ) ,

    ( ) ( ) ( ) .

    i i

    rt rt rt rt

    i i

    rt rt rt rt

    i i

    rt rt rt rt

    Qa Q Qa kQ Q kQ

    Sa S Sa kS S kS

    va v va kv v kv

    (3.17)

    em que i o nmero da iterao da RP e kQi, kS

    i e kv

    i so constantes

    chamadas de centro de gravidade obtidas a partir dos valores das

    variveis primais da iterao anterior da seguinte maneira:

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    49

    1 1

    1 1

    1 1

    ,2

    ,2

    .2

    i i

    i rt rt

    i i

    i rt rt

    i i

    i rt rt

    Qa QkQ

    Sa SkS

    va vkv

    (3.18)

    Substituindo os termos quadrticos de (3.16) pelas

    correspondentes aproximaes mostradas em (3.17), o problema pode

    ser decomposto e os subproblemas locais resultantes so dados por:

    * *

    , ,1 1

    * 2

    2 2

    min {(1 ) (1 )

    1 [( )2

    ( ) ( ) ]},

    sujeito a : (3.3) e (3.4),

    T RSH

    rt rt rt rtQa Sa va

    t r

    rt rt rt rt

    rt rt rt rt

    Q Qa S Sa

    v va Qa kQ

    Sa kS va kv

    (3.19)

    * * *

    , , , ,1 1

    2 2

    2

    min {

    1 [( ) ( )2

    ( ) ]},

    sujeito a : (3.5) a (3.11),

    T RSP

    rt rt rt rt rt rtQ S v q pg

    t r

    rt rt rt rt

    rt rt

    Q Q S S v v

    Q kQ S kS

    v kv

    (3.20)

    Percebe-se que o subproblema hidrulico (3.19) um problema

    de Programao Quadrtica (PQ) e o subproblema de programao

    (3.20) um PNLIM.

    Como o problema dual (3.16) diferencivel, pode-se usar

    tcnicas de otimizao irrestrita para maximizar a funo dual

    aumentada. Nesse sentido, a atualizao dos multiplicadores de

    Lagrange utilizada neste trabalho baseada no mtodo do gradiente (BERTSEKAS, 1999). As atualizaes dos multiplicadores de

    Lagrange, bem como dos parmetros de penalidade so dadas da

    seguinte forma (SCUZZIATO, 2011):

  • Estratgias de Soluo | Captulo 3 50

    * 1 * ,

    ii i

    i

    g

    g

    (3.21)

    lim

    11

    lim

    2

    , se,

    , se

    i

    i

    i

    (3.22)

    em que,

    o tamanho do passo do mtodo do gradiente;

    gi

    o vetor de gradientes na iterao i dado pelos

    valores das restries relaxadas (xa - x);

    1,2 so as constantes de atualizao do parmetro de

    penalidade;

    lim uma constante que define o limite para se mudar a

    atualizao do parmetro de penalidade.

    O objetivo do algoritmo do LAI de forar a viabilidade primal a

    partir do decrscimo do parmetro de penalidade, , a cada iterao. Os

    principais passos do algoritmo da RP so dados por:

    1) Atualizar o centro de gravidade (3.18); 2) Resolver os subproblemas locais

    3 e obter

    * * *( ) ( ) ( ) LAI i SH i SP i e gi;

    3) Atualizar os multiplicadores de Lagrange e o parmetro de penalidade;

    4) Se2i RPg tol ou i=i

    max convergiu. Seno, fazer i=i+1 e

    voltar ao Passo 1.

    Aplicado a RP, o algoritmo retorna uma soluo ao problema de

    comissionamento de unidades geradoras de usinas em cascata.

    3.3 PROGRAMAO NO LINEAR INTEIRA MISTA

    Esta seo apresenta a forma pelo qual o pacote computacional AIMMS Outer Approximation (AOA) disponibilizado pelo programa

    AIMMS tenta encontrar uma soluo para o problema de

    3 Na primeira iterao, considera-se que as variveis primais e duais so aquelas obtidas na

    ltima iterao da RL.

  • Captulo 3 | Estratgias de Soluo

    51

    comissionamento de unidades geradoras de usinas hidreltricas

    acopladas hidraulicamente.

    Para resolver problemas de PNLIM, o algoritmo de aproximao

    exterior padro do pacote AOA resolve uma sequncia alternada de

    problemas de natureza no linear contnuos, tambm conhecidos como

    probl