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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS - FUCAPE ODIAS PEREIRA DE SOUZA OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: estudo de caso em uma organização industrial de grande porte VITÓRIA 2011

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FUNDAÇÃO INSTITUTO CAPIXABA DE PESQUISAS EM

CONTABILIDADE, ECONOMIA E FINANÇAS - FUCAPE

ODIAS PEREIRA DE SOUZA

OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO

CONHECIMENTO: estudo de caso em uma organização industrial

de grande porte

VITÓRIA 2011

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ODIAS PEREIRA DE SOUZA

OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO

CONHECIMENTO: um estudo de caso em uma organização industrial de

grande porte

Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Administração da Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças (FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Administração, na área de concentração Gestão de Pessoas. Orientador: Prof. Dr. Valcemiro Nossa

VITÓRIA 2011

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ODIAS PEREIRA DE SOUZA

OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO

CONHECIMENTO: um estudo de caso em uma organização industrial

de grande porte

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração da

Fundação Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças

(FUCAPE), como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em

Administração, na área de concentração Gestão de Pessoas.

Aprovada em 03/05/2011.

COMISSÃO EXAMINADORA

Profº. Dr. Valcemiro Nossa FUCAPE

Profº. Dra. Graziela Fortunato FUCAPE

Profº. Dr. Ricardo Roberto Behr UFES – Universidade Federal do Espírito Santo

VITÓRIA

2011

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Dedico este trabalho a minha

amada esposa Izaura e os

meus filhos abençoados Nádia,

Naiara e Rodrigo.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, em primeiro lugar, pois Ele é o autor e consumador da

minha fé. Ele é minha razão de ser, minha alegria e fortaleza; socorro bem presente

na hora da angústia.

À minha esposa Izaura minha inspiração e aos meus filhos Nádia, Naiara e

Rodrigo pela compreensão e todo carinho e apoio dispensados.

Aos colegas de trabalho que compreenderam minhas ausências e, em

especial, a Juliana Souto pelo incentivo e pela confiança.

Ao professor Dr. Annor da Silva Júnior pela aula que me motivou a trabalhar o

tema desta dissertação, e todas as orientações que me levaram até a qualificação.

Ao professor Dr. Valcemiro Nossa pelas orientações, sempre bem objetivas, e

apoio que foram necessários à concretização deste trabalho.

A todos os Professores da FUCAPE, que muito contribuíram para o meu

aprendizado e aquisição de novas experiências e competências.

Um profundo agradecimento aos meus irmãos da Assembleia de Deus em

Kubitscheck, Guarapari-ES, que oraram por mim e comigo comemoraram esta

conquista.

A todos que direta ou indiretamente deram suas contribuições e me apoiaram.

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RESUMO

O conhecimento, considerado uma fonte renovável de vantagem competitiva

sustentável, é inerente às pessoas. Dessa forma, a gestão do conhecimento

depende da disposição das pessoas em compartilhá-lo. Neste estudo,

compartilhamento é definido como o ato de partilhar conhecimento tácito e explícito

por meio de interação entre as pessoas e pode ser obstruído por aspectos

individuais e organizacionais que interferem nesse processo. Assim sendo, este

estudo tem por objetivo descrever e analisar de que forma os obstáculos individuais

e organizacionais interferem no compartilhamento do conhecimento. A metodologia

de pesquisa adotada caracteriza-se como qualitativa, descritiva, pelo tipo do estudo

de caso. Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas e

análise documental em uma organização de grande porte, do ramo de mineração e

beneficiamento de minério de ferro e submetidos à análise de conteúdo. Os

obstáculos ao compartilhamento do conhecimento encontrados na pesquisa com os

profissionais de carreira técnica, que se destacam foram: no nível individual a

ameaça á auto-imagem (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001) e a falta de tempo para

compartilhar (RIEGE, 2005); no nível grupal o foco nos resultados mais imediatos

(MCDERMOTT, 1999; NISEMBAUM, 2002) e a não apropriação dos gestores da sua

responsabilidade em estimular e promover o compartilhamento do conhecimento

(DAVENPORT; PRUSAK, 1998; RIEGE, 2005); e no nível organizacional a

organização do trabalho não favorável ao compartilhamento (FUNDAÇÃO

NACIONAL DA QUALIDADE, 2008) e a inexistência de um modelo formal de gestão

do conhecimento que privilegie o compartilhamento do conhecimento (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

Palavras-chave: Gestão do Conhecimento, Compartilhamento do Conhecimento,

Obstáculos ao Compartilhamento do Conhecimento.

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ABSTRACT

Knowledge is considered a renewable source of sustainable competitive advantage.

However, knowledge is inherent in people. Thus, knowledge management depends

on the willingness of people to share it. Sharing in this study defined as an act of

sharing tacit and explicit knowledge through interaction between people, can be

blocked by individual and organizational aspects that influence this process. Thus,

this study aims to describe and analyze the main barriers to interfere with individual

and organizational knowledge sharing. The research methodology used is

characterized as qualitative, descriptive, by type of case study. Data were collected

through semi-structured interviews and documentary analysis in a large organization,

industry, mining and beneficiation of iron ore and subjected to content analysis.

Noteworthy are the following obstacles to the sharing of knowledge, found in

research with technical career professionals: at the individual level: the threat to self-

image (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001) and lack of time to share (RIEGER, 2005);

the group level: the focus on immediate results (MCDERMOTT, 1999; NISEMBAUM,

2002 ) and non-appropriation by managers of their responsibility to encourage and

promote knowledge sharing (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; RIEGER, 2005) and at

the organizational level: the work organization is not conducive to sharing (QUALITY

NATIONAL FOUNDATION, 2008) and the absence of a formal model of knowledge

management that privilege the knowledge sharing (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Keywords: Knowledge Management, Knowledge Sharing, Barriers to Sharing

Knowledge.

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Estratégias para o gerenciamento do conhecimento .............................. 32

Quadro 2 – Aspectos dificultadores do processo de compartilhamento do

conhecimento ........................................................................................................... 39

Quadro 3 – Elementos de comunicação no processo de compartilhamento do

conhecimento ............................................................................................................ 40

Quadro 4 – Amostra dos sujeitos de pesquisa .......................................................... 50

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Hierarquia dos dados, informação e conhecimento ................................. 18

Figura 2 – Espiral de criação do conhecimento organizacional................................. 25

Figura 3 – Espiral do conhecimento .......................................................................... 26

Figura 4 – Modelo de compartilhamento de conhecimento ....................................... 35

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SUMÁRIO

Capítulo 1 .............................................................................................. 11 

1  INTRODUÇÃO .................................................................................. 11 

Capítulo 2 .............................................................................................. 16 

2  REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................ 16 

2.1 O CONHECIMENTO .................................................................... 16 

2.2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO .............................................. 22 

2.2.1 A criação do conhecimento ............................................... 24

2.2.2 A armazenagem e recuperação do conhecimento ........... 27

2.2.3 A transferência do conhecimento ..................................... 28

2.2.4 A aplicação do conhecimento ........................................... 29

2.3 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO .......................... 30 

2.4 MODELO DE COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO ... 34 

2.5 OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO

CONHECIMENTO .............................................................................. 41 

Capítulo 3 .............................................................................................. 43 

3  METODOLOGIA ............................................................................... 43 

3.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA ...................................................... 43 

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA ................................................ 44 

3.3 COLETA DE DADOS ................................................................... 45 

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ................................... 46 

3.5 UNIDADE DE ANÁLISE ............................................................... 47 

3.6 SUJEITOS DE PESQUISA ........................................................... 48 

3.7 ESCOLHA DOS SUJEITOS DE PESQUISA ................................ 50 

Capítulo 4 .............................................................................................. 51 

4  APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................. 51 

4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ...................................... 52

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4.1.1 Gestão do conhecimento .................................................. 52

4.1.2 Compartilhamento do conhecimento ................................ 55

4.1.3 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento ......... 58

4.1.3.1 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no

nível Individual ............................................................................... 58

4.1.3.2 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no

nível grupal .................................................................................... 63

4.1.3.3 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no

nível organizacional ....................................................................... 66 

Capítulo 5 .............................................................................................. 74 

5  CONCLUSÕES ................................................................................. 74 

REFERÊNCIAS ..................................................................................... 77 

APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA . 82 

APÊNDICE B – MODELO DO CONVITE ELETRÔNICO PARA

ENTREVISTAS ...................................................................................... 83 

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Capítulo 1

1 INTRODUÇÃO

A complexidade do mundo corporativo tem exigido das organizações

estratégias competitivas que as suportem frente aos desafios crescentes do

mercado e as mantenham sustentáveis ao longo do tempo. O conhecimento

organizacional pode ser uma fonte renovável de vantagem competitiva sustentável.

Mas, as organizações necessitam compreender que só podem criar conhecimento

por meio das pessoas (SENGE, 1990; NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT;

PRUSAK, 1998).

O fato das pessoas ocuparem cada vez mais espaço estratégico nas

organizações as fazem, não somente parte da vida produtiva das empresas, como

também constituem elemento essencial da dinâmica organizacional (DAVEL;

VERGARA, 2001). Nesse aspecto, elas fortalecem os processos organizacionais,

por meio do que lhes são peculiar – seus conhecimentos – proporcionando assim,

vantagem competitiva sustentável à organização (SENGE, 1990).

O interesse das pessoas em compartilhar seu conhecimento nas suas

interações relacionais, configura-se como um fator crítico de sucesso para a

consecução da estratégia da organização (GOULART, 2008). A gestão do

conhecimento organizacional, portanto, tem alta dependência da disposição das

pessoas em compartilhá-lo (OLIVEIRA JR; FLEURY; CHILD, 2001). Dessa forma,

compreender como o compartilhamento do conhecimento pode ser estimulado,

possibilitará às organizações operacionalizar a gestão do conhecimento de maneira

eficaz.

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O conhecimento tem-se mostrado um aspecto relevante para a

competitividade empresarial (STEWART, 1998; TERRA, 2001) e, em decorrência

desse fato, tende a aumentar o interesse de pesquisadores por novos estudos. Além

desse aspecto, considerando que a natureza do conhecimento é subjetiva e

relacional, cada contexto em que as pessoas estão inseridas, tende a fornecer

aspectos diferentes e novas possibilidades para a gestão do conhecimento

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Neste estudo o contexto no qual o conhecimento está

inserido é uma organização de grande porte, do ramo de mineração, denominada na

forma fictícia de Alpha S/A.

Neste estudo, o compartilhamento é conceituado como: o ato de partilhar

conhecimento tácito e explícito, por meio da interação entre as pessoas, com o

objetivo de gerar conhecimento novo. Entende-se por conhecimento tácito aquele

considerado informal, subjetivo, difícil de ser formulado, codificado, compartilhado ou

explicado (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). O conhecimento explícito é codificado,

passível de ser transmitido por meio de linguagem formal e sistemática (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

No contexto organizacional, os profissionais de carreira técnica se ocupam

com atividades de natureza analítica e consultiva as quais, dentro do seu campo de

atuação, se deparam com processos de escolhas que envolvem: decisões

programadas, fundamentadas geralmente em conhecimento explícito; e decisões

não-programadas, fundamentadas geralmente em conhecimento tácito (SIMON,

1971). Não obstante a distinção conceitual dessas atividades decisórias, elas devem

ser encaradas como complementares e não excludentes, pois, estão entrelaçadas

nas atividades inerentes a esses profissionais.

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Os profissionais de carreira técnica, segundo Dutra (1992), são aqueles que

atuam em áreas de pesquisa e desenvolvimento de produtos ou processos

produtivos e de qualidade. Ainda, segundo Dutra (1992), esse conceito de carreira

técnica pode ser estendido para outros profissionais de áreas que requeiram maior

especialização e sejam estratégicas para o negócio, e cita como exemplos os

profissionais de sistemas de informação, recursos humanos, finanças etc.

A manutenção desses profissionais de carreira técnica possibilita à

organização sustentar o aumento de complexidade tecnológica em seus produtos e

processos, por meio da incorporação de novos conhecimentos (DUTRA, 1992).

Percebe-se a importância do compartilhamento do conhecimento para o

desenvolvimento técnico desses profissionais e para que os objetivos

organizacionais sejam alcançados.

O compartilhamento do conhecimento, por parte dos profissionais de carreira

técnica, adquire relevância quando se admite que o conhecimento técnico pode

tornar-se obsoleto (BREI, 1998). Pressupõe-se, então, que decisões tomadas com

base em conhecimento obsoleto podem trazer prejuízo tanto para o profissional

quanto para a organização.

De acordo com Brei (1998), a evolução do conhecimento e a inovação

tecnológica tendem a tornar o conhecimento obsoleto. Para estimular a melhoria do

desempenho e proporcionar mais criatividade, a obsolescência deve ser evitada e

superada.

O compartilhamento do conhecimento, ao possibilitar a criação de

conhecimento novo (NONAKA; TAKEUCHI, 1997), pode contribuir para prevenir a

obsolescência do conhecimento entre os profissionais de carreira técnica, nos quais

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a organização se apóia para o desenvolvimento de novos processos, tecnologias e

produtos.

O compartilhamento do conhecimento pode ser obstado por aspectos

individuais e organizacionais (ICHIJO, 2008). Os aspectos individuais são aqueles

que envolve a capacidade do indivíduo de lidar com novas situações, eventos,

informações e contextos. Os aspectos organizacionais relacionam-se àqueles

decorrentes da estratégia, modelo de gestão e cultura da empresa (KROGH;

ICHIJO; NONAKA, 2001).

Considerando o exposto, propõe-se a seguinte questão de pesquisa: de que

maneira os obstáculos individuais e organizacionais interferem no

compartilhamento do conhecimento dos profissionais de carreira técnica, no

contexto de uma organização industrial de grande porte?

Na intenção de encontrar respostas para o problema de pesquisa

estabeleceu-se como objetivo principal descrever e analisar como os obstáculos

individuais e organizacionais interferem no compartilhamento do conhecimento dos

profissionais de carreira técnica no contexto de uma organização industrial de

grande porte.

Como objetivos específicos deste trabalho de pesquisa elencam-se os

seguintes: (a) identificar a percepção dos profissionais de carreira técnica sobre a

gestão do conhecimento na empresa Alpha S/A; (b) identificar a percepção dos

profissionais de carreira técnica sobre o compartilhamento do conhecimento; e (c)

identificar os aspectos que se constituem obstáculos ao compartilhamento do

conhecimento, entre os profissionais de carreira técnica, nos níveis do indivíduo, da

equipe e da organização.

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Dessa forma, este estudo amplia o entendimento sobre o tema proposto e

contribui para as discussões que envolvem o compartilhamento do conhecimento

dos profissionais de carreira técnica no contexto organizacional, em especial sobre

os obstáculos que dificultam esse processo.

Para tanto, face às características que envolvem o tema, o problema a ser

estudado e o objetivo que orienta esta pesquisa a abordagem qualitativa foi definida

como a mais apropriada, já que se pretende avaliar a forma e o contexto no qual

está inserido o objeto de pesquisa (MINAYO, 2001). O tipo de pesquisa adotado foi

o estudo de caso (YIN, 2001) de uma empresa de grande porte do setor industrial. A

coleta de dados foi por meio de três técnicas: entrevistas semi-estruturadas

(TRIVIÑOS, 1999), observação assistemática (RUDIO, 2004) e análise documental

(YIN, 2001; GIL, 2002) Os dados foram tratados pela análise de conteúdo por meio

de uma grade de categorização mista (BARDIN, 2004) que compreende elementos

provenientes tanto da literatura pertinente ao tema da pesquisa quanto dos dados

coletados nas entrevistas (VERGARA, 2005).

As limitações deste trabalho estão relacionadas ao tipo de pesquisa adotado

e aos sujeitos de pesquisa. Com relação ao estudo de caso, trata-se de um tipo de

pesquisa não conclusiva, apesar de ser possível fazer generalizações analíticas

sobre a teoria (YIN, 2001). Quanto à eleição dos sujeitos de pesquisa também não

permite generalizações e ainda restringe parte das análises ao contexto específico,

no qual o caso está submetido (GIL, 1999).

O capítulo seguinte é resultado de uma revisão da literatura que servirá de

base teórica para as discussões que envolvem o problema de pesquisa. Nos

capítulos posteriores são apresentados os aspectos metodológicos que nortearam a

pesquisa empírica, a análise dos dados pesquisados e as considerações finais.

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Capítulo 2

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 O CONHECIMENTO

O conhecimento é tratado como um termo fluido (SPENDER, 2001), portanto,

defini-lo é uma atividade complexa e intrincada. Por milhares de anos, entender o

que é conhecimento tem sido assunto de debate filosófico vigoroso. Nem tudo ainda

está entendido.

O conhecimento também é caracterizado por uma riqueza de dados empíricos

e uma grande variedade de perspectivas teóricas, abrangendo as disciplinas de

economia, sistemas de informação, teoria do comportamento organizacional,

psicologia, gestão estratégica e sociologia (SPENDER, 2001; ARGOTE; MCEVILY;

REAGANS, 2003).

Conhecimento é um termo que vem do latim cognoscere: procurar, saber,

conhecer. É entendido como uma ação da vida psíquica, cujo efeito torna um objeto

presente aos sentidos ou à inteligência (JAPIASSÚ; MARCONDES, 1996).

Outra forma de entender o conceito de conhecimento envolve a distinção

entre dados, informação e conhecimento. Entretanto, fazer tal distinção não é fácil e

pode ser imprecisa. Não obstante, compreender essas diferenças é um ponto de

partida útil para o entendimento das implicações que permeiam o tema

conhecimento (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; ALAVI; LEIDNER, 2001).

Os dados são observações estruturadas de transação ou eventos, cujo

registro descreve apenas parte daquilo que aconteceu. São fatos brutos ou

quantificáveis, que por si só denotam pouca relevância, incapazes de proporcionar

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tomada de decisões ou oferecer conclusões. Todavia, constitui-se o insumo

essencial para a criação da informação (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; ALAVI;

LEIDNER, 2001).

A informação e o conhecimento apresentam várias características em comum:

é resultado de intervenção humana; diz respeito ao significado que proporciona

novos pontos de vista; muitas vezes difícil de armazenar e transferir; pode ter

diferentes significados (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT; PRUSAK,

1998).

Para Terra (2001) a informação é uma commodity, pois, possui pouco valor

em si mesma. Mas, uma distinção aceita na literatura define informação como dados

interpretados e transformados pela mediação das pessoas em algo disposto de

relevância e propósito (DRUCKER, 1988).

Já o conhecimento, é ancorado nas crenças, compromissos e valores de seu

detentor e a informação é um mecanismo necessário para extrair e construí-lo

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997). É descrito também, como informação valiosa

proveniente de sabedoria aplicada na reflexão, observação e julgamento dando

significado e interpretação às informações, ampliando suas implicações

(DAVENPORT, 1998). A interpretação da informação possibilita transformá-la em

conhecimento por meio da articulação de experiências e conhecimento acumulado

pelos indivíduos e, portanto, um processo dependente da mente humana (TERRA,

2001).

Entretanto, parece haver um pouco de consenso nessa discussão, pois, tanto

informação quanto o conhecimento são dependentes do contexto e produto da

interação social entre as pessoas.

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A relação entre dado, informação e conhecimento, tradicionalmente

concebida na forma de uma pirâmide hierárquica, na qual os dados se transformam

em informação e, esta, se transforma em conhecimento (ALAVI; LEIDNER, 2001)

pode ser vista, também, sob a perspectiva de uma hierarquia reversa (TUOMI,

1999). Nesse caso, o conhecimento, previamente existente, uma vez articulado

possibilita a compreensão e estruturação da informação que, por sua vez, possibilita

a verificação e a existência dos fatos que emerge enfim os dados.

Figura 1: Hierarquia dos dados, informação e conhecimento Fonte: Alavi; Leidner, 2001; Tuomi, 1999

Essas duas visões não devem ser tratadas como excludentes, mas

mutuamente complementares para absorção de entendimento mais amplo dessa

relação (TUOMI, 1999).

Conhecimento, no sentido adotado neste trabalho, não significa acúmulo de

informações, mas sim uma articulação delas por meio da validação empírica,

cognitiva e emocional. Dessa forma, o termo conhecimento abarca a compreensão

de todas as dimensões da realidade, apreendendo e expressando essa totalidade de

forma cada vez mais ampla e integral (ANGELONI, 2002).

O conhecimento organizacional, visto por uma perspectiva cognitiva, é o

produto do processo de interpretação de informações orientado à tomada de

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decisões. Por outra perspectiva, a construtivista, o conhecimento organizacional não

se trata de resultado final, pois, depende do contexto e da história da organização e

dos indivíduos e, portanto, é um processo que envolve a construção da realidade

(FLEURY; OLIVEIRA JR, 2001).

O conhecimento organizacional pode ser analisado, ainda, por meio de duas

visões distintas: conhecimento como objeto e conhecimento como processo

(FLEURY; OLIVEIRA JR, 2001).

Tratado como objeto o conhecimento pode ser criado, comprado, adquirido e

vendido, ou seja, como qualquer outro ativo da empresa como máquinas,

equipamentos ou imóveis (ALAVI; LEIDNER, 2001). Nesse aspecto, o conhecimento

pode ser armazenado e manipulado tal como os demais ativos organizacionais.

Muito desse conhecimento pode ser inventariado utilizando a moderna tecnologia

disponível, a fim de torná-lo prontamente recuperável quando necessário. Tal

proposição, entretanto, implica focalizar as dificuldades para identificar quais são

esses ativos de conhecimento organizacionais a serem retidos (SPENDER, 2001).

Como processo, centra-se na aplicação do conhecimento, simultaneamente

conhecer e agir (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Envolve os incentivos para a

criação e o compartilhamento de conhecimento (ALAVI; LEIDNER, 2001), tornando-

se muitas vezes um processo difuso e intrincado, com múltiplas facetas e

imprevisíveis formas de utilizá-lo (SPENDER, 2001).

Na perspectiva do conhecimento como objeto é dada pouca atenção às

pessoas, seja individual ou coletivamente. O que se busca, nessa visão, é abstrair o

conhecimento entranhado nas pessoas e armazená-lo de forma a ser reutilizado

posteriormente (ALAVI; LEIDNER, 2001). Na perspectiva do conhecimento como

processo, as atividades de interação social dos indivíduos são consideradas, ou

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seja, envolve compreender e estimular essas interações a fim que proporcionem

criatividade, inovação, motivação e desenvolvimento de competências essenciais

para sustentabilidade da organização (SPENDER, 2001).

Ainda na busca por compreender a complexidade do termo conhecimento,

faz-se necessário a distinção entre conhecimento tácito e conhecimento explícito

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997). Há quem privilegie o conhecimento explícito em

detrimento do conhecimento tácito. Entretanto, essas entidades devem ser vistas

como mutuamente complementares. As atividades criativas dos seres humanos

decorrem da interação entre o conhecimento tácito e o conhecimento explícito

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

O conhecimento tácito é pessoal e informal (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Aspectos relativos às pessoas como discernimento, instinto, percepção e

compreensão estão associados ao conhecimento tácito. Esse conhecimento está

presente na vivência pessoal, envolvendo dimensões de crenças e valores, portanto,

subjetivo, difícil de ser formulado, codificado, compartilhado ou explicado. Ele é a

base necessária para a interpretação e compreensão do conhecimento explícito

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Há outro ponto de vista que compreende o conhecimento tácito não como

conhecimento que não pode ser codificado, mas, como conhecimento ainda não

explicado (SPENDER, 1996). Dessa forma, “ao aprofundar o conceito de

conhecimento tácito, podemos identificar componentes tradicionalmente relegados

na discussão na literatura de administração” (FLEURY; OLIVEIRA JR, 2001, p. 133).

O conhecimento tácito possui três componentes ou formas: o consciente, o

automático e o coletivo (SPENDER, 1996). O componente consciente está

relacionado com a possibilidade de o indivíduo entender e explicar o que está

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fazendo e, portanto, possível de ser codificado. O componente automático é aquele

que é desempenhado de forma menos consciente, pois, o indivíduo não sabe o que

está aplicando. O componente coletivo está relacionado ao conhecimento elaborado

pelo indivíduo e compartilhado com outras pessoas e, portanto, resultado do

aprendizado assimilado da interação social (ALAVI; LEIDNER, 2001).

O conhecimento explícito, por sua vez, é aquele conhecimento codificado,

passível de ser transmitido por meio de linguagem formal e sistemática (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997). Esse conhecimento pode ser articulado e transmitido por meio

de publicações, em geral, sendo organizado em base de dados. Nas organizações

ele é exibido na forma de manuais, relatórios, revistas, jornais e boletins internos

(ALAVI; LEIDNER, 2001). É considerado, portanto, apenas a ponta do iceberg da

totalidade dos conhecimentos organizacionais (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Há ainda diferentes níveis de análise utilizados nos estudos sobre

conhecimento organizacional. Dentre esses, destaca-se o uso de três que estão em

consonância com o objetivo deste trabalho de pesquisa: o individual, o coletivo e o

organizacional (OLIVEIRA JR, 2001). O conhecimento individual é aprendido por

cada pessoa; o conhecimento coletivo é estabelecido por meio da aprendizagem em

grupo, compartilhando o conhecimento de cada pessoa integrante deste grupo; e o

conhecimento organizacional é aquele desenvolvido por funcionários de uma

organização com o objetivo de agregar valor à empresa.

Pelo exposto até aqui, observa-se que o conhecimento organizacional é

construído por meio do compartilhamento do conhecimento individual das pessoas

nos grupos, nos quais ocorrem as suas interações relacionais (KROGH, 1998).

Percebe-se ainda, que o conhecimento acumulado em algum lugar da

organização, se não estiver acessível não tem valor estratégico. Por esta razão ele

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22

precisa ser identificado e de alguma forma disponibilizado para que seja útil à

organização (STEWART, 1998).

A perspectiva adotada neste trabalho enfoca o conhecimento como processo

de interação social dos indivíduos. Dessa forma, o compartilhamento do

conhecimento é condição essencial desse processo e, portanto, supõe-se a

manifestação de obstáculos inerentes. Nesse aspecto, então, torna-se relevante

abordar como a organização administra ou facilita o conhecimento dentro do seu

âmbito de atuação.

2.2 A GESTÃO DO CONHECIMENTO

A gestão do conhecimento pode ser analisada sob duas perspectivas: a

cognitiva e a construtivista (KROGH, 1998). A perspectiva cognitiva vê o

conhecimento como um recurso, que embora intangível e complexo, pode ser

armazenado, e reutilizado (NAKANO; FLEURY, 2005). Nesse aspecto a gestão do

conhecimento precisará lidar com questões inerentes tais como: o aspecto dinâmico

e complexo do conhecimento, sua volatilidade e a variedade de formas de

armazenamento existentes (NAKANO; FLEURY, 2005). Assim, por esta perspectiva,

a gestão do conhecimento pode ser definida como “administração eficaz das

atividades relativas à aquisição ou criação, a utilização e a manutenção de um ativo

intangível” (NAKANO; FLEURY, 2005, p. 20). Na perspectiva construtivista, o

conhecimento adquire maior complexidade, pois, é considerado como sendo

resultado da interação entre as pessoas, e não um bem intangível a ser mantido e

utilizado (NAKANO; FLEURY, 2005). A gestão do conhecimento, de acordo com

esta perspectiva, está relacionada com a gestão de pessoas (NAKANO; FLEURY,

2005). O conhecimento considerado tácito ganha destaque nesta abordagem. Nessa

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23

perspectiva recomenda-se à gestão do conhecimento adotar a promoção do

conhecimento, por meio da criação de contexto propício para o seu

compartilhamento nas interações relacionais entre as pessoas, ao invés de tentar

controlá-lo (ICHIJO 2008).

Não obstante as diferentes perspectivas de análise possíveis, há um aspecto

fundamental que envolve a gestão do conhecimento: identificar o que é

conhecimento relevante para a organização. Duas questões devem ser

consideradas nessa atividade de identificação. Primeiro: analisar o conhecimento

considerando o seu contexto, propósito e ponto de vista – o conhecimento útil para

alguém ou empresa pode não ser para outra pessoa ou empresa. Segundo, grande

parte do conhecimento existente numa organização é tácito e, portanto, torná-lo

explícito favorece a organização examiná-lo, aperfeiçoá-lo e compartilhá-lo e usá-lo

da melhor forma que a interessa (STEWART, 1998).

A gestão do conhecimento, portanto, consiste na capacidade de uma

empresa utilizar e combinar as diversas fontes e tipos de conhecimento

organizacional com o propósito de desenvolver aprendizagens específicas que se

traduzem em vantagem competitiva sustentável (TERRA, 2001).

Para o propósito da gestão do conhecimento, pelo menos duas estratégias

bem distintas estão presentes nas organizações: codificação e personalização

(HANSEN; NOHRIA; TIERNEY, 1999). Na estratégia da codificação o conhecimento

é cuidadosamente codificado e armazenado em bases de dados, onde pode ser

acessado e usado, quando necessário, por qualquer pessoa na organização –

relacionado com o conhecimento explícito. Já na estratégia da personalização o

conhecimento é compartilhado por meio do contato pessoa-a-pessoa – mais voltado

para o conhecimento tácito. A escolha da estratégia de gerenciamento do

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24

conhecimento mais adequada deve ser impulsionada pela estratégia competitiva da

empresa. Os benefícios são maiores – para a empresa e seus clientes – quando os

dirigentes da organização escolhem uma das abordagens como estratégia principal

(HANSEN; NOHRIA; TIERNEY, 1999).

Entretanto, não se trata de escolher uma estratégia que privilegie o

conhecimento explícito ou o tácito, mas, apreender que tanto um quanto o outro

estão mutuamente comprometidos e imbricados no processo de aprendizagem

organizacional (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Para efeito deste trabalho de pesquisa assume-se que a gestão do

conhecimento organizacional engloba as estratégias interrelacionadas da

codificação e da personalização em quatro etapas – a criação, a armazenagem ou

recuperação, a transferência e a utilização do conhecimento (ALAVI; LEIDNER,

2001) – e o compartilhamento, por meio da interação social, é condição crítica para

eficácia desse processo.

A seguir cada etapa da gestão do conhecimento foi abordada, a fim de

verificar como o compartilhamento do conhecimento perpassa todo o processo da

gestão do conhecimento e perceber a suscetibilidade de obstáculos inerentes.

2.2.1 A criação do conhecimento

A criação do conhecimento envolve o desenvolvimento de um novo conteúdo

ou re-arranjo de um conteúdo existente por meio dos atributos tácitos e explícitos

(ALAVI; LEIDNER, 2001). Ocorre no processo de conversão do atributo tácito para o

explícito (e vice-versa) e do âmbito pessoal para o organizacional de forma dinâmica

e cíclica (NONAKA; TAKEUCHI, 1997). A criação do conhecimento é um processo

dinâmico e intrinsecamente relacional envolvendo duas dimensões: uma ontológica

e outra epistemológica (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

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25

Na dimensão ontológica, entende-se que somente os indivíduos criam o

conhecimento, e o processo de criação do conhecimento organizacional tem o papel

de ampliar, intra e inter-organizacionalmente, o conhecimento criado pelos

indivíduos, considerando-o parte da rede de conhecimentos da organização

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Figura 2: Espiral de criação do conhecimento organizacional Fonte: Nonaka; Takeuchi, 1997, p. 82.

Na dimensão epistemológica o conhecimento é distinguido em tácito e

explícito, porém, mutuamente complementares. Nessa dimensão a criação do

conhecimento envolve novos arranjos criados ou recriados, por meio da articulação

dos conhecimentos tácitos e explícitos. O “conhecimento humano é criado e

expandido por meio da interação social entre conhecimento tácito e o conhecimento

explícito” (NONAKA; TAKEUCHI, 1997, p.67). Nessa interação denominada

conversão do processo de conhecimento, quatro etapas promovem a transição de

um a outro por meio do compartilhamento social: socialização, externalização,

combinação e internalização. Esse processo, num ciclo contínuo, se amplia intra e

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26

inter-organizacional, por meio da espiral de criação do conhecimento organizacional,

conforme Figura 3:

Figura 3: Espiral do conhecimento Fonte: Nonaka; Takeuchi, 1997

A socialização é um processo de compartilhamento do conhecimento tácito

que surge da interação entre os indivíduos. A subjetividade envolvida nesse

processo é característica das relações e interações humanas. Nesse contexto, a

linguagem não é suficiente. A aquisição de conhecimento advém da experiência

compartilhada por meio da observação, da imitação e da prática (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

A externalização é o processo que transforma o conhecimento tácito em

novos e explícitos conceitos. A linguagem é expressa em forma de metáforas,

analogias, símbolos, equações, conceitos e modelos. Este processo é fundamental

para valorização dos denominados “ativos do conhecimento” (NONAKA; TAKEUCHI,

1997).

A combinação proporciona uma nova configuração do conhecimento existente

por meio da articulação entre conhecimentos explícitos. A tecnologia de informação

pode ser usada como base desse processo. Outros mecanismos de troca de

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27

conhecimentos explícitos podem ser reuniões formais, conversas por telefone, e-

mail, redes de comunicação informatizada, documentos e outros (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

A internalização corresponde à incorporação ou agregação do conhecimento,

diretamente associada à aprendizagem. O conhecimento explícito, sob a forma de

modelos mentais, crenças e valores é incrustado no indivíduo. Adquire-se novo

conhecimento à medida que pratica – aprende-se fazendo, ou seja, a aprendizagem

é alcançada por meio de um processo de tentativa e erro. Nessa fase o

conhecimento torna a ser tácito novamente e um novo ciclo recomeça em uma nova

espiral (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

2.2.2 A armazenagem e recuperação do conhecimento

A armazenagem, organização e recuperação do conhecimento estão

associados à memória organizacional (SPENDER, 1996).

A memória organizacional pode ser entendida como um sistema de

conhecimentos e habilidades significativos e de valor para a organização, com a

finalidade de preservar e armazenar percepções e experiências associados,

possibilitando sua posterior recuperação e uso (PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002).

A memória organizacional abarca diversas formas de conhecimentos, tais

como: documentação escrita; informações estruturadas e armazenadas em banco

de dados eletrônicos; conhecimento humano codificado e armazenado em sistemas

especializados; procedimentos e processos organizacionais documentados; e

conhecimento tácito adquiridos de pessoas e grupos (TAN, 2000).

A memória organizacional pode influenciar o comportamento e o desempenho

organizacional de forma positiva ou negativa (ALAVI; LEIDNER, 2001). De forma

positiva, ao fundamentar e relacionar a mudança organizacional com as

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experiências passadas, facilitando a implementação de mudanças atuais e futuras;

de forma negativa, no nível individual, a memória pode ocasionar viés na tomada de

decisão e no nível organizacional, a memória pode reforçar, dentre outros aspectos,

a manutenção dos modelos, processos e cultura organizacionais (ALAVI; LEIDNER,

2001).

A memória organizacional pode ser construída por meio de duas estratégias

distintas: uma, utilizando a construção de banco de dados, para o qual o

conhecimento é codificado e disponibilizado para as pessoas na organização –

estratégia relevante para o conhecimento explícito; outra, por meio do

compartilhamento do conhecimento entranhado nas pessoas, em suas redes de

interações – esta estratégia relevante para o conhecimento tácito (FLEURY;

OLIVEIRA JR, 2002).

Considerando que para ser armazenado, o conhecimento necessita ser

identificado e posteriormente disponibilizado para uso, percebe-se que essa

atividade também é dependente do processo de compartilhamento e, logo, pode

sofrer interferências de obstáculos inerentes.

2.2.3 A transferência do conhecimento

A transferência do conhecimento refere-se à transmissão do conhecimento do

emissor para o receptor (ALAVI; LEIDNER, 2001). Ela pode ocorrer em vários níveis,

a saber: entre duas pessoas; de indivíduos para fontes explícitas de conhecimento;

de indivíduos para grupos; entre grupos; por meio de grupos; e de grupos para a

organização.

Para Huber (1991) esse não é um processo simples, já que as organizações

possuem dificuldades em controlar todas as fontes e o conteúdo do conhecimento,

além de possuírem limitações para localização e recuperação do conhecimento.

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29

Os processos de comunicação e fluxo de informação orientam a transferência

de conhecimento na organização (ALAVI; LEIDNER, 2001). Seguindo o mesmo

raciocínio, Gupta e Govindarajan (2000) descrevem a transferência de conhecimento

considerando os cinco elementos, também presentes no processo de comunicação:

(1) valor percebido da fonte de conhecimento; (2) disposição motivacional da fonte

em compartilhar o conhecimento; (3) presença e riqueza dos canais de transmissão;

(4) disposição motivacional de quem recebe; e (5) capacidade do receptor em

assimilar e utilizar o conhecimento recebido.

O compartilhamento, como se percebe, está também presente na etapa de

transferência do conhecimento.

2.2.4 A aplicação do conhecimento

Um aspecto central na teoria baseada no conhecimento da organização é que

a fonte de vantagem competitiva está muito mais na aplicação do que no

conhecimento em si (ALAVI; LEIDNER, 2001).

Há pelo menos três mecanismos de aplicação do conhecimento para a

aprendizagem organizacional: (1) diretrizes; (2) rotinas organizacionais; e (3)

equipes auto-gerenciadas (GRANT, 1996).

As diretrizes dizem respeito ao conjunto de regras, padrões, procedimentos e

instruções desenvolvidas por meio de conversões do conhecimento tácito em

explícito de forma integrada para uma eficiente comunicação para os usuários. Já as

rotinas organizacionais referem-se ao desenvolvimento da performance da tarefa e

padrões de coordenação, protocolos de interação e especificações de processos

que permitem aos indivíduos aplicarem e integrarem o seu conhecimento

especializado. E, equipes auto-gerenciadas podem ser formadas para solucionar

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problemas não rotineiros, especialmente quando em situações complexas e cheias

de incerteza quanto à melhor solução (ALAVI; LEIDNER, 2001).

Dado o exposto acima, percebe-se que a base fundamental do modelo de

gestão do conhecimento organizacional está centrada no compartilhamento do

conhecimento relevante entranhado nas pessoas, em suas interações relacionais.

E, se o conhecimento é produto social dessa interação, é preciso compreender

como se processa o compartilhamento do conhecimento no âmbito organizacional a

fim de proporcionar condições adequadas para que o conhecimento aflore. A

próxima seção destacará aspectos relevantes do processo de compartilhamento do

conhecimento.

2.3 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

A gestão do conhecimento organizacional, como abordado na seção anterior,

possui uma relação de dependência com o compartilhamento do conhecimento dos

indivíduos, especialmente pelo fato de que grande parte dele, presente na

organização, ser tácito – difícil de armazenar e altamente perecível (ARGOTE;

BECKMAN; EPPLE, 1990).

O compartilhamento do conhecimento é considerado atividade de

fundamental importância e talvez a mais relevante nas organizações (SVEIBY,

1998).

Na gestão do conhecimento, quando se trata do compartilhamento de

conhecimento entre as pessoas ainda há divergências de conceituação encontradas

na literatura. Tanto é que outras expressões variadas relacionadas a esse processo

são citadas, tais como transferência, repasse, difusão, transmissão ou disseminação

de conhecimento (TONET; PAZ, 2006).

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31

Neste trabalho de pesquisa, entretanto, compartilhamento de conhecimento é

concebido como uma interação relacional entre pessoas que partilham

conhecimento tácito e explícito como meio de geração de conhecimento novo e de

valor para a organização (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001; ICHIJO, 2008).

O ato de compartilhar o conhecimento é voluntário, uma vez que “o vocábulo

compartilhamento implica vontade. Aquele que compartilha pode passar a

informação adiante, mas não é obrigado a isso” (DAVENPORT, 1998, p. 115). Tal

entendimento implica em dizer que o interlocutor precisa estar disposto e motivado a

compartilhar o que sabe.

O compartilhamento do conhecimento pode ser realizado por duas vias: pela

informação e pela tradição (SVEIBY, 1998). Pela informação o conhecimento é

compartilhado por diversos canais de comunicação, eventos como palestras, livros,

meios informatizados e outros. Esse compartilhamento acontece muitas vezes de

forma indireta, sem a participação de uma pessoa transmissora do conhecimento.

Dessa forma, bastante adequado para o compartilhamento de conhecimentos

articulados, denominados explícitos. Pela tradição o compartilhamento do

conhecimento acontece de forma direta, ou seja, de pessoa para pessoa, por meio

da interação social, destacando o aprendizado pela prática. Nesse caso, muito

adequado para o compartilhamento dos conhecimentos tácitos (SVEIBY, 1998). A

informação está para o processo de combinação, citado anteriormente, assim como

a tradição está para o processo de socialização (NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

O conhecimento pode ser compartilhado, ainda, por meio de processos

formais ou informais. Quando a empresa cria mecanismos ou procedimentos para

identificar e codificar o conhecimento, tal proposição denota a formalidade nas suas

práticas de gestão (ANGELONI, 2002). É nesse aspecto que se insere a gestão do

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conhecimento, conforme abordado em seção anterior. O Quadro 1 detalha as duas

estratégias de formalização das práticas de compartilhamento do conhecimento,

codificação e personalização.

CODIFICAÇÃO ESTRATÉGIA COMPETITIVA PERSONALIZAÇÃO

PESSOA-A-DOCUMENTOS

Desenvolve um sistema de documentação eletrônica que codifica, armazena, dissemina e permite a reutilização do conhecimento.

Estratégia de gerenciamento do conhecimento

PESSOA-A-PESSOA

Desenvolve redes para ligar pessoas para que o conhecimento tácito possa ser compartilhado.

Investe pesadamente em TI; o objetivo é conectar as pessoas com conhecimentos codificados passíveis de serem reutilizados.

Tecnologia de informação Investe moderadamente em TI; o objetivo é facilitar conversas e a troca de conhecimentos tácitos.

Contrata recém-formados que são bem capacitados para a reutilização de conhecimento e a implementação de soluções. Recompensa as pessoas por usarem e contribuírem com o documento databases.

Recursos Humanos Contrata MBAs que gostam de solucionar problemas e tolerar ambiguidades. Recompensa as pessoas por compartilharem conhecimento diretamente com outros.

Quadro 1: Estratégias para o gerenciamento do conhecimento Fonte: Angeloni, 2002

O compartilhamento do conhecimento por meio informal, entretanto, é aquele

em que os atores desse processo o faz despretensiosamente, sem qualquer objetivo

estabelecido (ANGELONI, 2002). Ocorre de forma espontânea sem estruturação. A

informalidade favorece o compartilhamento do conhecimento tácito. A condição

chave para o compartilhamento do conhecimento informal é o relacionamento

pessoal (STEWART, 1998).

Nessa abordagem do compartilhamento informal do conhecimento, portanto,

se insere ainda a discussão sobre as comunidades de prática – o que são, como se

constituem e como contribuem para o compartilhamento do conhecimento

organizacional.

As comunidades de prática são grupos informais de pessoas que por

consenso se auto-organizam em torno de conhecimentos e interesses comuns. São

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pessoas motivadas pela troca de experiências e são atraídas umas às outras por

uma força tanto social quanto profissional. Essas comunidades incorporam um

conjunto de conhecimentos que são compartilhados por pessoas que se envolvem

num processo de aprendizagem coletiva. Elas são construídas com base em

relações de confiança que permitem as pessoas aprender umas com as outras

(STEWART, 1998; WENGER, 1998).

Comunidades de prática, então, diz respeito a grupos de pessoas que

compartilham um interesse ou paixão por alguma coisa que eles fazem e aprendem

como fazê-la melhor na medida em que interagem regularmente (WENGER, 1998).

As comunidades de prática estão presentes nas organizações. Reconhecidas

ou não, elas estão entre as estruturas de qualquer organização onde é importante

pensar. Elas não são propriedade da empresa e não se submetem às estruturas e

restrições formais da organização. Ressalta-se ainda, que a comunidade de prática

é voluntária e não está obrigada a gerar um relatório ou um produto novo

(STEWART, 1998).

Percebe-se que muitos dos obstáculos ao compartilhamento do conhecimento

como, por exemplo, a falta de confiança, conflitos interpessoais, valores divergentes

e outros são inexistentes ou minimizados nas comunidades de prática (STEWART,

1998).

Todavia, um aspecto importante a ser considerado é que o conhecimento

compartilhado informalmente muitas vezes não está documentado. Quem necessita

desse conhecimento e não está inserido nessa comunidade pode enfrentar sérias

dificuldades para obtê-lo a tempo e a contento. A dependência dessas conversas

informais, que por vezes não acontecem, pode se configurar outra dificuldade para

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obter certo conhecimento necessário para atender uma determinada demanda ou

solucionar um problema (ANGELONI, 2002).

Independente da organização querer ou não gerenciar o processo de

compartilhamento do conhecimento, ele ocorrerá (DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

Entretanto, mesmo que queiram, as organizações não podem gerenciar as

comunidades de prática. Todavia, as organizações podem ajudá-las reconhecendo

sua importância e oferecendo recursos que elas precisam (sem esperar um produto

específico). Dessa forma, portanto, esse fato configura um grande desafio para a

organização: encontrar formas para apropriar-se do conhecimento, abundantemente

gerado nas comunidades de prática, para sua utilização e geração de valor

estratégico para a empresa (STEWART, 1998).

Ao longo da discussão sobre o compartilhamento do conhecimento observam-

se aspectos que se configuram como dificultadores ou como obstáculos para a

consecução desse processo. A partir de um modelo de compartilhamento do

conhecimento organizacional, proposto por Tonet e Paz (2006), a próxima seção

discorrerá sobre os aspectos individuais e organizacionais que podem obstar esse

processo.

2.4 MODELO DE COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

O compartilhamento do conhecimento não deve ser visto apenas como um

ato em que uma pessoa passa algo a outra, mas, como processo que se constitui de

várias fases distintas, e cada fase com seus aspectos dificultadores inerentes

(SZULANSKI, 2000).

No contexto organizacional o compartilhamento do conhecimento é

influenciado por diversas variáveis que impactam de maneiras diferentes esse

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35

processo (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; DAVENPORT; PRUSAK, 1998;

SZULANSKI, 2000). Dentre essas variáveis este trabalho de pesquisa destaca

aquelas que são consideradas como obstáculos para o compartilhamento do

conhecimento, que surgem independente do estilo gerencial. Esse processo envolve

pessoas com diferentes expectativas, interesses, crenças, valores e capacidades

intelectuais, e tal diversidade e complexidade criam as condições propícias para que

se manifestem os obstáculos para o compartilhamento do conhecimento

organizacional (ICHIJO, 2008).

Para Tonet e Paz (2006) o processo de compartilhamento do conhecimento é

integrado e compõe-se de quatro fases distintas: iniciação, implementação, apoio e

incorporação. Esse processo é suportado por quatro elementos, tal como aqueles

clássicos que sustentam o processo de comunicação entre pessoas e que

pressupõe a existência de um interlocutor e um receptor: a fonte do conhecimento a

ser compartilhado, o destinatário desse conhecimento, o conhecimento em si, e o

contexto em que o compartilhamento de conhecimento ocorre (TONET; PAZ, 2006).

Em cada fase há aspectos ou situações que geram interferências no processo

de compartilhamento do conhecimento. Essas fases são detalhadas na Figura 4:

Figura 4: Modelo de compartilhamento de conhecimento Fonte: Tonet; Paz, 2006

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36

Na etapa de iniciação, a primeira fase do processo de compartilhamento do

conhecimento, ocorre a identificação de necessidades de conhecimento, ou seja, o

reconhecimento de uma oportunidade para o compartilhamento do conhecimento.

Essa demanda estimula a localização de fontes de conhecimentos que venham

suprir ou atender as necessidades identificadas. Um exemplo que se insere nessa

etapa é quando entra um novo membro na equipe de trabalho uma necessidade

premente é de repasse de conhecimentos pertinentes a sua função na organização.

O passo seguinte, após a análise dos conhecimentos que o novo membro precisa

receber, é localizar as fontes mais adequadas para atender essa demanda.

Características culturais podem dificultar ou até mesmo impedir esse processo.

Como exemplo pode citar a falta de abertura e incentivo ao diálogo, à discussão de

idéias, à inovação, à experimentação, ao aprendizado contínuo e ainda a falta de

capacitação e estrutura que facilite e promova o reconhecimento das oportunidades

de compartilhamento do conhecimento (TONET; PAZ, 2006; SZULANSKI, 2000;

TERRA 2001; DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

Na etapa de implementação é estabelecida uma relação de troca entre o

interlocutor possuidor do conhecimento e o receptor do conhecimento a ser

compartilhado. Nessa etapa requer-se que a fonte esteja devidamente habilitada

para repassar o que sabe e o destinatário para compreender e utilizar o

conhecimento adquirido. Essa etapa exige alguns cuidados necessários para que

ocorra de maneira a alcançar os resultados propostos, tais como: a identificação do

conhecimento a ser compartilhado; o preparo para repassar o conhecimento de

forma efetiva; competências fundamentais para a apreensão do conhecimento;

crença na possibilidade e oportunidade do compartilhamento; cuidado com a

recorrência de problemas já conhecidos, que poderão afetar a disposição e o

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interesse tanto da fonte quanto do destinatário do conhecimento (TONET; PAZ,

2006).

Na etapa denominada de apoio, o conhecimento compartilhado começa a ser

utilizado e problemas inesperados precisam ser corrigidos. A aplicação do

conhecimento pode ser de forma gradual ou imediata. Entretanto, pode surgir a

necessidade de esclarecimentos e correções para evitar que o conhecimento

repassado seja usado de forma ineficiente ou não adequado (TONET; PAZ, 2006;

SZULANSKI, 2000). As primeiras tentativas de compartilhamento do conhecimento

podem gerar problemas, que de acordo com o seu volume e gravidade, exigirão

esforço proporcionalmente relacionado para encontrar a solução. Quanto aos

problemas que podem surgir nessa etapa, destacam-se: treinamento insuficiente

para aplicação do conhecimento; o indivíduo retoma os seus conhecimentos

passados por julgar mais rápido e fácil, desprezando o novo conhecimento; falta de

acesso a fonte do conhecimento para esclarecimento de dúvidas; falta de estrutura e

recursos para aplicação do novo conhecimento. Esses e outros problemas merecem

tratamento rápido e adequado, principalmente porque o seu agravamento pode levar

a práticas incorretas que, uma vez arraigadas, tornam se difíceis de serem

removidas (TONET; PAZ, 2006).

Na etapa de incorporação o conhecimento compartilhado passa a ser

aplicado e utilizado na rotina das pessoas. Nessa etapa torna-se relevante

empreender um grande esforço para remover obstáculos a utilização do

conhecimento compartilhado facilitando sua aplicação. Pode ocorrer a necessidade

de mudanças nos padrões de trabalho do recebedor, bem como mudanças na

unidade de trabalho ou até mesmo na organização na qual o recebedor está

inserido. É preciso, portanto, estar atento a eventos externos à organização, bem

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como variáveis do ambiente interno que podem conturbar essa etapa do processo

de compartilhamento do conhecimento (TONET; PAZ, 2006).

Como eventos externos, aqueles que podem dificultar a incorporação do

conhecimento compartilhado, citam-se as mudanças ambientais, ou seja, aquelas

relacionadas com políticas governamentais, sociais e econômicas no contexto no

qual está inserida a organização. Já por eventos internos três situações

exemplificam bem esse aspecto: (a) as expectativas do recebedor por aumento

salarial, promoção ou outra diferenciação por estar aplicando o novo conhecimento,

e que não estavam previstas; (b) o uso do novo conhecimento pode gerar o

desligamento de pessoal, redução do quadro efetivo; (c) a atribuição de novas e

diferentes atividades a serem realizadas pelas pessoas pode dificultar ou inviabilizar

o uso do novo conhecimento, ou ainda gerar aumento da carga de trabalho para os

indivíduos. Nessa etapa, a capacidade de gestão dos conflitos organizacionais, as

habilidades e as atitudes necessárias para o uso e aplicação do conhecimento

compartilhado, tornam-se condição fundamental para alcançar a efetividade desse

processo (TONET; PAZ, 2006).

O Quadro 2 sintetiza os aspectos que afetam o compartilhamento do

conhecimento em cada etapa do processo.

ETAPA ASPECTOS QUE IMPACTAM O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

Iniciação Identificação precisa das necessidades ou demandas de conhecimento;

Localizar quem está apto e disposto a compartilhar o conhecimento;

Gerir as competências necessárias para quem vai repassar e receber o conhecimento;

Gerir os aspectos da cultura interna que possam impactar o compartilhamento do conhecimento.

Implementação Dificuldades de comunicação e uso de linguagem, pela fonte e pelo destinatário do conhecimento;

Resistência da fonte em repassar o conhecimento que detém, por receio de perder status ou poder, por temer ser substituído, ou outros;

Resistência do destinatário em adquirir o conhecimento, resistência em mudar a

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forma como trabalha, desconforto na posição de aprendiz, temor por não assimilar a nova aprendizagem;

Falta de interesse e comprometimento com as demandas da organização, pela fonte ou pelo destinatário;

Existência na organização de gerentes com estilos de gestão refratários à cooperação interna, e consequentemente, ao compartilhamento de conhecimento;

Possíveis necessidades de revisão de crenças, atitudes e valores arraigados na cultura organizacional, em decorrência do compartilhamento do conhecimento;

Falta de habilidade da fonte para compartilhar o conhecimento e não compreensão do receptor do conhecimento para manejar o conhecimento;

Situações desfavoráveis do contexto organizacional, falta de tempo, estrutura inadequada, falta de equipamento adequado para o compartilhamento.

Apoio Aumento ou redução de níveis hierárquicos podendo gerar resistências dos atingidos;

Linguagem comum entre os usuários ou aplicadores do conhecimento compartilhado;

Treinamento insuficiente dos usuários para a aplicação do conhecimento;

Dificuldades de assimilação por falta de requisitos pessoais ao uso do conhecimento compartilhado;

Retomada de conhecimentos antigos, por parecerem mais fáceis e rápidos de aplicar nas situações de sobrecarga de trabalho;

Falta de acesso à fonte do conhecimento, para solução de dúvidas surgidas;

Desempenho insuficiente ou fora dos padrões esperados;

Falta de condições físicas e materiais necessários para a prática do novo conhecimento;

Movimentação de pessoas para posições que impeçam sua aplicação;

Mudanças rápidas, que forçam redirecionar a organização e dificultam a realização do trabalho.

Incorporação Expectativas inadequadas não previstas de promoção ou atribuição de diferença salarial, devido à agregação de novas competências com o conhecimento assimilado;

Expectativas dos recebedores, por estarem aplicando o novo conhecimento;

Exigência de aplicação do conhecimento em situações não totalmente esclarecidas;

Evidências de consequências indesejáveis, decorrentes do uso do conhecimento, como redução de quadro e desligamento de pessoal;

Mudanças súbitas nas atividades que dificultem ou inviabilizem o uso do novo conhecimento; como atribuição de novas e diferentes atividades, com sobrecarga de trabalho para os indivíduos.

Quadro 2: Aspectos dificultadores do processo de compartilhamento do conhecimento Fonte: Tonet; Paz (2006)

Complementando o modelo de compartilhamento do conhecimento

apresentado, incluem-se os elementos clássicos de comunicação que procede de

forma circular, originando-se na fonte, passando pelo receptor e retornando

modificada à fonte (PROBST; RAUB; ROMHARDT, 2002; TONET; PAZ, 2006).

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No Quadro 3 estão descritas as características de cada elemento, bem como

os aspectos que podem interferir ou obstar o processo de compartilhamento do

conhecimento.

Elemento Descrição Aspectos relevantes que impactam o

processo de compartilhamento do conhecimento

Fonte do conhecimento

É quem possui o conheci-mento a ser compartilhado. Compõem ainda sua descrição por meio de suas habilidades de comunicação; suas atitudes frente a si mesma, ao destinatário, ao conhecimento a ser compartilhado, e ao contexto organizacional; o nível de domínio que possui do conhecimento que pretende repassar; e a posição que ocupa no contexto organizacional onde está inserida.

Domínio do vocabulário para transmitir o conhecimento explícito e adequação das metáforas e imagens para transmitir o conhecimento tácito;

Domínio do conhecimento a ser compartilhado;

Capacidade do receptor em apreender o conhecimento compartilhado;

Contexto organizacional propício para o compartilhamento;

Ato de compartilhar percebido como benéfico e vantajoso;

Motivação para cooperar ou competir com o destinatário;

Destinatário do conhecimento

É quem apresenta a expectativa ou a necessidade de adquirir o conhecimento. É também denominado recebedor ou receptor.

Clareza da expectativa ou necessidade de adquirir novos conhecimentos;

Resistência frente ao novo conhecimento, principalmente se ele exigir abandono de práticas já dominadas;

Habilidade para ouvir e refletir;

O quanto acredita ser capaz de absorver o novo conhecimento;

O contexto organizacional: crenças, valores, status social do grupo dentre outros.

Conhecimento a ser compartilhado

Corresponde à mensagem e deve possuir três características básicas: compreensibilidade, validade e utilidade.

Capacidade do receptor de retirar a ambiguidade da mensagem recebida, ou seja, interpretar adequadamente o que a fonte quis transmitir.

Contexto onde o conhecimento é compartilhado

Compreende a cultura organizacional, a estrutura, as políticas e práticas, as normas e procedimentos, as regras de conseqüências; a liderança.

Tipo de estrutura (centralizada ou formal em demasia pode inibir o compartilhamento);

Grau do detalhamento dos procedimentos e normas;

Grau de tolerância aos erros cometidos;

Grau em que os relacionamentos se mostram cooperativos e de confiança mútua;

Coerência entre discurso e prática;

Fomento ao compartilhamento do conhecimento.

Quadro 3: Elementos de comunicação no processo de compartilhamento do conhecimento Fonte: Tonet; Paz (2006); Szulanski (2000)

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41

Como é possível perceber, o compartilhamento é impactado por diversas

variáveis que, de maneira positiva ou negativa, afetam a gestão do conhecimento

organizacional. Entretanto, para efeito deste trabalho receberam atenção aquelas

variáveis que se constituem obstáculos ao compartilhamento do conhecimento.

2.5 OBSTÁCULOS PARA O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

O compartilhamento do conhecimento pode ser analisado em três níveis

básicos: nível individual, nível grupal e nível organizacional (NONAKA; TAKEUCHI,

1997; ROBBINS, 2004; AJMAL; KOSKINEN, 2007). Pressupõe que, dessa mesma

forma, os elementos que configuram os obstáculos para o compartilhamento do

conhecimento podem ser classificados nos níveis: individual, grupal e

organizacional.

No nível individual os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento estão

relacionados àqueles de foro íntimo como expectativas, valores, atitudes, percepção,

personalidade, emoções, sentimentos, disposição e motivação (ROBBINS, 2004).

Ainda no nível individual os obstáculos são aqueles que envolvem a capacidade que

cada pessoa tem para lidar com novas situações, eventos, informações e contextos

(KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001). Alguns exemplos de obstáculos no nível

individual são: falta de habilidade para a comunicação ou diálogo; disposição para a

guarda do conhecimento para si por orgulho em possuir um conhecimento

especializado; crença de que conhecimento é poder (PROBST; RAUB; ROMHARDT,

2002); medo de se expor, principalmente pela possibilidade de desaprovação dos

superiores (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001).

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No nível grupal os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento podem

advir da dinâmica de grupos, do estilo de liderança, do grau de confiança, do clima

psicológico reinante no grupo, dentre outros (ROBBINS, 2004). Os gestores podem

e precisam promover o compartilhamento do conhecimento encorajando o diálogo,

despertando a confiança entre os integrantes da equipe, comunicando os benefícios

e valores das práticas de compartilhamento do conhecimento (DAVENPORT, 1998;

RIEGE, 2005).

No nível organizacional os obstáculos estão relacionados à estratégia,

modelo de gestão (KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001), estrutura organizacional, aos

processos operacionais, à cultura (TERRA, 2001), às políticas e as práticas de

recursos humanos (ROBBINS, 2004). Envolve ainda a viabilidade econômica do

compartilhamento, falta de infra-estrutura e recursos (RIEGE, 2005). Alguns

exemplos de obstáculos nesse nível são: falta de integração clara entre a estratégia

e o modelo de gestão do conhecimento; pouco espaço para compartilhar; sistema

ineficiente de reconhecimento e recompensa para motivar o compartilhamento;

ambiente físico inadequado ou não propício ao compartilhamento; tamanho das

unidades de negócio dificultando o contato direto dos empregados (RIEGE, 2005).

No próximo capítulo serão descritos os procedimentos metodológicos

utilizados na pesquisa, nas análises e nas considerações finais deste trabalho de

dissertação.

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Capítulo 3

3 METODOLOGIA

3.1 ESTRATÉGIA DE PESQUISA

As características que envolvem o tema, o problema a ser estudado e o

objetivo que orientam esta pesquisa culminam na abordagem qualitativa, sendo

considerada a mais apropriada nesse contexto.

O enfoque qualitativo dessa pesquisa não possibilita uma perspectiva

fragmentada, todavia, possibilita seu desenvolvimento por meio de uma interação

dinâmica entre os elementos que compõem o contexto da pesquisa (TRIVIÑOS,

1999). O principal interesse do investigador é com o processo, em verificar como

determinado fenômeno se apresenta nas interações humanas e, portanto, o

ambiente no qual estão inseridos os indivíduos não pode ser desconsiderado.

Segundo essa perspectiva um fenômeno deve ser analisado no contexto em que

ocorre e faz parte para melhor ser compreendido (GODOY, 1995b).

A abordagem qualitativa é indicada quando o estudo for de caráter descritivo,

cujo propósito é descrever os fatos e compreendê-los no seu contexto

organizacional ao invés de mensurá-los (MINAYO, 2001).

No caso dessa dissertação a opção por uma abordagem qualitativa se

justifica pela intenção de entender o fenômeno obstáculos individuais e

organizacionais, buscando a compreensão de que maneira esse fenômeno interfere

no compartilhamento do conhecimento, dentro do contexto das relações sociais que

se estabelece no interior de uma organização industrial de grande porte (GODOY,

1995a).

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44

3.2 CLASSIFICAÇÃO DA PESQUISA

Para efeito desse trabalho de pesquisa optou-se pelo estudo de caso (YIN,

2001), como modalidade de pesquisa a ser utilizada. Esse tipo de pesquisa é

amplamente utilizado nas ciências sociais e adotado quando se deseja analisar

profundamente uma determinada unidade social (GODOY, 1995b).

O estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida [...] quando há pouca possibilidade de controle sobre os eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre os fenômenos atuais, que só poderão ser analisados dentro de algum contexto de vida real (GODOY, 1995b, p. 26).

Os estudos de caso são essencialmente de caráter qualitativo e algumas de

suas características são: (a) explora situações da vida real cujos limites não estão

claramente definidos; (b) preserva o caráter unitário do objeto estudado; (c)

descreve a situação do contexto em que está inserida determinada investigação; (d)

explica as variáveis causais de determinado fenômeno em situações complexas

difíceis de serem utilizados levantamentos e experimentos (GODOY, 2005a; GIL,

2002).

Não obstante a proeminência dessa modalidade de pesquisa nas ciências

sociais, três objeções se destacam. A primeira objeção está relacionada com a falta

de rigor metodológico e, consequentemente, a ocorrência de vieses nos estudos de

caso. Salienta-se, então, que o pesquisador seja mais cuidadoso com o

planejamento e com a coleta dos dados para minimizar o efeito dos vieses. A

segunda objeção corresponde à dificuldade de generalização. Tal fato se justifica

pelo propósito do estudo de caso que não é o de proporcionar conhecimento preciso

sobre uma população e sim uma visão ampla e panorâmica do problema ou

identificar prováveis elementos imbricados com esse problema. A terceira objeção

refere-se ao tempo destinado à pesquisa considerado bastante dispendioso.

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45

Entretanto, estudos de caso em períodos mais curtos já se mostraram viáveis e

válidos (GIL, 2002).

3.3 COLETA DE DADOS

Os dados foram coletados por meio de três técnicas: entrevistas semi-

estruturadas (TRIVIÑOS, 1999), observação assistemática (RUDIO, 2004) e análise

documental (YIN, 2001; GIL, 2002).

A utilização das entrevistas justifica-se pelo fato desse estudo considerar a

ótica dos entrevistados, possibilitar e valorizar a presença do pesquisador, e

oferecer um amplo campo de interrogativas (TRIVIÑOS, 1999). As entrevistas foram

gravadas e depois transcritas para posterior análise.

A técnica da observação assistemática consiste em observação espontânea

sem meios técnicos especiais ou perguntas diretas (RUDIO, 2004). Trata-se de um

tipo de observação no qual as informações são obtidas casualmente, sem que saiba

de antemão quais são os aspectos relevantes a serem observados, cabendo ao

observador estar atento aos acontecimentos (RUDIO, 2004). Neste caso o autor

mantém-se presente no contexto social desta pesquisa, face a face com os

observados – os profissionais de carreira técnica. Ao inserir-se no mesmo contexto

social e cultural desses profissionais, o pesquisador colhe dados e se faz parte do

contexto sob observação, podendo ao mesmo tempo modificar e ser modificado por

este (MINAYO, 2004).

Além disso, documentos relevantes para o trabalho foram coletados na

empresa em estudo, tais como Relatório de Gestão, Manual da Carreira Técnica e

Manual da Gestão de Pessoas por Competências. Esse procedimento conferiu

maior significância aos resultados obtidos (YIN, 2001; GIL 2002).

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46

3.4 TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS

Para o tratamento dos dados foi escolhida a análise de conteúdo. Essa

escolha é adequada e conveniente à proposta desta dissertação dado que,

"qualquer comunicação que veicule um conjunto de significados de um emissor para

um receptor, pode em princípio, ser decifrada pela técnica de análise de conteúdo"

(GODOY, 1995b, p. 23).

A análise de conteúdo, como técnica utilizada para tratamento dos dados, tem

o propósito de identificar o que está sendo explicitado sobre um tema específico. O

método de análise de conteúdo ocorre em três fases distintas: (a) pré-análise por

meio da seleção e organização dos dados coletados; (b) exploração e categorização

dos dados; e (c) interpretação dos dados (BARDIN, 2004).

A definição de categorias de análise constitui-se o procedimento básico dessa

técnica. Categorias podem ser definidas como “rubricas ou classes, as quais reúnem

um grupo de elementos sob um título genérico” (BARDIN, 2004, p. 117).

Na etapa de classificação dos dados pode-se optar por três tipos de grades

de categorização: aberta, fechada e mista. Para fins dessa análise foi adotada a

grade mista que compreende elementos provenientes tanto da literatura pertinente

ao tema da pesquisa e, portanto, definidas a priori, quanto à posteriori utilizando-se

dos dados coletados nas entrevistas (VERGARA, 2005). Nesta grade, todos os

elementos coletados são considerados e integrados às categorias.

Os dados coletados foram classificados e analisados em três categorias: (a)

gestão do conhecimento; (b) compartilhamento do conhecimento; e (c) obstáculos

ao compartilhamento do conhecimento. Esta última subdivide-se nas perspectivas

do indivíduo, da equipe e da organização. Essas categorias de análise são

provenientes do referencial teórico utilizado neste trabalho.

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47

Os fragmentos das entrevistas utilizados neste estudo são referidos ao final

como respostas da seguinte forma: profissionais do eixo administrativo (PA),

profissionais do eixo tecnologia (PT) e profissionais do eixo comercialização (PC).

3.5 UNIDADE DE ANÁLISE

A unidade de análise, conforme descrito em seu Relatório de Gestão, trata-se

de uma organização industrial de grande porte, empresa de capital fechado, cujos

acionistas dividem o controle com 50% de participação cada. Denominada de Alpha

S/A, neste trabalho, trata-se de uma empresa de mineração com processo único de

produção, que contempla lavra, beneficiamento, transporte, pelotização e embarque

de minério de ferro. A empresa Alpha possui duas unidades industriais, mineroduto e

terminal marítimo próprios, dois escritórios internacionais de vendas e duas usinas

hidrelétricas, que suprem cerca de 25% da demanda energética da empresa. Essa

estrutura, operada diretamente pela empresa, garante um processo produtivo

integrado, eficiente, de baixo custo e independente na comercialização de produtos

no mercado transoceânico de pelotas de minério de ferro, onde detém a posição de

segunda maior fornecedora (ALPHA S/A; 2009)1.

De acordo com os documentos consultados o modelo de gestão, as práticas e

políticas de gestão de pessoas e consequentemente de conhecimento

organizacional adotados pela empresa Alpha S/A são corporativos abrangendo as

unidades industriais e escritórios. Sendo assim, definiu-se como alvo de análise

dessa pesquisa uma das unidades industriais da empresa Alpha S/A.

A empresa em estudo estabeleceu em sua intenção estratégica o

investimento em ativos do conhecimento. Além disso, a empresa definiu uma

1 As citações sobre Alpha são provenientes de conteúdo coletado de documentos que não serão relacionados nas referências para preservar a identidade da empresa estudada.

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48

competência requerida dos seus empregados de carreira técnica que está

intimamente relacionada com o tema desta dissertação, denominada: aprendizagem

organizacional. Esta competência constitui-se elemento fundamental para

consecução de sua estratégia. Por aprendizagem organizacional a empresa

conceitua como:

Diz respeito à busca, internalização e ao uso que o profissional faz do conhecimento adquirido, abrangendo: busca constante pelo próprio desenvolvimento e pelo das pessoas com quem interage; sistematização, registro e disseminação do conhecimento na empresa; incentivo ao desenvolvimento tecnológico (ALPHA S/A, 2009).

Portanto, essa empresa possui características que justificam a sua escolha

para foco deste trabalho.

3.6 SUJEITOS DE PESQUISA

Os sujeitos de pesquisa são profissionais de nível superior que atuam na

carreira técnica, composto por aproximadamente 200 pessoas na unidade industrial

estudada, conforme documentos consultados. A empresa em estudo define carreira

técnica como:

É a carreira na qual o profissional desenvolve as suas competências e capacidades técnicas da sua área de atuação e formação, com resultados para a empresa, com papel consultivo, tomando decisões no seu nível de atuação. Possibilita o aprofundamento de conhecimentos específicos e/ou de uma visão mais generalista e abrangente da empresa, sem, contudo, que este profissional exerça a função de gestão de pessoas nos aspectos administrativos. O profissional de carreira técnica pode vir a ter responsabilidade sobre projetos e coordenar equipes situacionais com base na sua referência técnica, mas sempre respondendo a um gestor, representante formal da empresa (ALPHA S/A, 2009).

Os documentos consultados revelam que a empresa Alpha S/A desafia esses

profissionais a apoiar o seu processo de operação por meio de desenvolvimento ou

incorporação de tecnologia, aprimorando produtos e processos internos a partir de

análises técnicas.

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Essa definição insere o que Dutra (2004), categoriza de “profissionais”, na

qual está inserida a carreira técnica, e conceitua como aquela que está ligada a

“atividades específicas; geralmente, exigem pessoas com formação técnica ou de

terceiro grau (superior)” (DUTRA, 2004, p. 79). Essas atividades não são definidas

em função da estrutura organizacional, mas, pelos processos fundamentais. Como

exemplo, Dutra (2004) cita algumas dessas atividades, as quais classifica em três

tipos: (1) administrativa – envolvendo atividades administrativas, sistemas de

informação, finanças, contabilidade, recursos humanos, atividades jurídicas etc.; (2)

tecnologia – envolvendo as engenharias de produtos, processos, qualidade,

produção, materiais etc.; e (3) comercialização – envolvendo vendas, marketing,

gestão de consumidores etc.

Vê-se que os profissionais envolvidos nessa carreira dependem e se apóiam

em seus conhecimentos técnicos específicos de sua área de atuação e formação.

Dessa forma, os profissionais de carreira técnica ocupam posição de natureza

analítica e consultiva os quais, dentro do seu campo de atuação, se deparam com

processos de escolhas que envolvem: decisões programadas – caracterizadas pela

objetividade, relacionadas a situações repetitivas, rotineiras e estruturadas,

fundamentalmente baseadas em conhecimento explícito, e decisões não-

programadas – desestruturadas e inovadoras, caracterizadas pela subjetividade,

próprias em situações imprevisíveis, cujas soluções são encontradas à medida que

os problemas aparecem; dessa forma baseiam-se no julgamento, intuição e

criatividade e, portanto, condicionadas ao conhecimento tácito (SIMON, 1971). Não

obstante a distinção conceitual dessas atividades decisórias, elas devem ser

encaradas como complementares e não excludentes, pois estão imbricados no

processo de gestão do conhecimento.

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50

3.7 ESCOLHA DOS SUJEITOS DE PESQUISA

O estudo de caso não baseia sua investigação em amostragem, ou seja, não

se estuda um caso com a intenção de compreender outros casos, mas para

entender o caso estudado (STAKE, 1995).

Assim, para Bravo e Eisman (1998) a escolha dos sujeitos de pesquisa

sempre será intencional buscando-se não a uniformidade, mas as variações

possíveis, adaptadas a diferentes contextos.

Para efeito desta pesquisa foram selecionadas 20 pessoas mais indicadas

para contribuir com a pesquisa, considerando a sua capacidade para expor os

pontos de maior importância para a compreensão do fenômeno (TRIVIÑOS, 1999).

Além disso, em função da natureza deste estudo, definiram-se os seguintes critérios

buscando aproximar o que Spradley (1979) apresenta como condições mínimas

para a seleção de "um bom informante": (1) tempo mínimo de permanência na

empresa de um ano, de modo que os respondentes já tivessem vivenciado

experiências significativas na organização; e (2) a proporcionalidade entre diferentes

eixos de atuação conforme classificação proposta por Dutra (2004): administrativo,

tecnologia e comercialização. A partir da definição desses critérios foi elaborada

uma listagem com os nomes dos sujeitos de pesquisa e enviado um convite. O

Quadro 4 apresenta como ficou constituída a amostra dos sujeitos de pesquisa.

Eixo de atuação Efetivo Selecionados

Administrativo 139 12

Tecnologia 43 6

Comercialização 15 2

Total 197 20

Quadro 4: Seleção dos sujeitos de pesquisa Fonte: Elaborado pelo autor

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Capítulo 4

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

No presente estudo foram coletados dados junto a 20 empregados de nível

superior (terceiro grau) atuantes da carreira técnica (DUTRA, 2004). Foram

escolhidos representantes de três eixos distintos da carreira técnica, conforme

proposto por Dutra (2004): administrativo, tecnologia e comercialização. Na empresa

estudada essa mesma classificação corresponde aos eixos de suporte, técnico e

mercadológico, respectivamente.

Os dados foram coletados por meio de entrevistas semi-estruturadas,

gravadas com a concordância dos entrevistados. As gravações foram transcritas

pela empresa Tcem Work Digitação.

Na análise dos dados utilizou-se três categorias distintas. A primeira categoria

– gestão do conhecimento – envolveu as seguintes questões:

sobre a percepção do entrevistado abrangendo a gestão do conhecimento

na empresa;

se a empresa trata e como trata o compartilhamento do conhecimento; e

quais os aspectos da gestão do conhecimento podem ser melhorados.

A segunda categoria – compartilhamento do conhecimento – buscou-se

identificar a importância do compartilhamento do conhecimento como âncora do

desenvolvimento de carreira dos entrevistados, bem como a motivação dos

entrevistados para compartilhar o conhecimento que possuem.

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Na terceira categoria – obstáculos ao compartilhamento do conhecimento –

tratou-se dos aspectos considerados obstáculos para o compartilhamento do

conhecimento dos profissionais de carreira técnica.

4.1 APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

4.1.1 Gestão do conhecimento

Na Alpha S/A há várias práticas, políticas, procedimentos e processos que

sinalizam para um modelo de gestão do conhecimento, constatado nos documentos

analisados, e citados por alguns dos entrevistados: programa de reconhecimento

das idéias dos empregados, gestão de pessoas por competências, tutoria, programa

Lean Seis Sigma, biblioteca digital, remuneração variável, intranet, e-learning dentre

outras. Essas práticas, inclusive, estão entre aquelas que Terra (2001) propõe no

seu modelo de gestão do conhecimento organizacional. Para o entrevistado PA2,

esse é um tema de interesse da organização e que ela está se empenhando nisso:

É um tema que tem, e eu acho que sempre teve, uma noção de importância dentro da Alpha. Desde que estou aqui sempre se falou em questão do conhecimento. Várias iniciativas foram tentadas, desde criação de uma gerência, criação de um grupo de estudo, remodelamento desse grupo, até a continuidade como projeto estratégico. Então você vê que a noção de que conhecimento é importante e de que a gente precisa gerir esse conhecimento e a empresa depende do conhecimento para produzir os seus resultados. Eu acho que essa noção a empresa tem bem clara (PA2).

Os relatos dos entrevistados revelam uma noção sobre o conceito de gestão

do conhecimento que se insere no que Krogh (1998) classificou de cognitiva. Ao

afirmar que o conhecimento “deveria estar sendo, primeiro, preservado e, segundo,

compartilhado dentro da organização, [...] para que ele possa ser usado depois”

(PA1), e observando os dados coletados das entrevistas, é possível concluir que os

entrevistados concordam que a gestão do conhecimento refere-se à necessidade de

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tratar o conhecimento como recurso, passível de ser armazenado e reutilizado

(NAKANO; FLEURY 2005).

Outro aspecto observado nas entrevistas é que para os profissionais de

carreira técnica, especialmente os do eixo de atuação tecnologia, o conhecimento

codificado na forma de manuais, relatórios e outros meios físicos de registros é de

suma relevância para consecução das suas atribuições. Para eles, o conhecimento

não pode ficar na cabeça das pessoas. Por isso, afirmam que a organização está

perdendo muito conhecimento por não ter uma forma adequada de identificação,

armazenamento e reutilização do conhecimento gerado.

É muito difícil você fazer gestão de conhecimento sem guardar o conhecimento de uma forma palpável. Então quando você procura não só os padrões, [...] mas, o porquê você faz daquele jeito é que costuma ficar dentro da cabeça de quem o escreveu; fica na cabeça do cara (PT5). [...] tem que haver, por parte da empresa, uma formalização desses processos, seja em ferramentas, em documentos explícitos, bibliotecas virtuais, profissionais de referência dentro desses assuntos. Seria interessante se formalizasse isso; às vezes fica muito na informalidade (PT1).

O relato abaixo é de um entrevistado falando a respeito de sua impressão

quando chegou à sua área de atuação:

[...] não tinha muita coisa padronizada, uma coisa que fosse procedimentada. E, digo mais, o que tinha era muito superficial. Então, o conhecimento estava, e creio que ainda está nas pessoas. Não está num diretório, num papel. Acaba que torna o processo um pouquinho mais lento (PT3).

Como observado nos relatos dos entrevistados a seguir, percebe-se que os

profissionais de carreira técnica ressentem da inexistência de um modelo formal e

declarado de gestão do conhecimento na Alpha S.A.:

Eu entendo que hoje a empresa não faz isso. [...] como um processo, estruturado da empresa, não existe. Tenho vinte e cinco anos de empresa e eu não percebo isso estruturado e, assim, não vejo ainda nenhuma ação que produza o efeito que se espera de uma boa gestão do conhecimento. (PA1). Eu não vejo um trabalho específico de gestão de conhecimento na empresa (PA6).

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Bem, não sei se a gente pode falar que a Alpha tem uma gestão de conhecimento. Tem quinze anos que eu estou aqui e nada se mudou em termos de gestão de conhecimento (PT2). A gente tem muita informação solta que poderia ser transformada em conhecimento (PA8). Eu entendo que a Alpha praticamente não gerencia o conhecimento (PT8).

A inexistência de uma gestão estruturada ou formal faz com que os

profissionais busquem alternativas isoladas para obter ou não perder o

conhecimento que necessitam para suas atividades, conforme observado nos

fragmentos a seguir:

Acho que é alguma coisa que se tenta fazer cada um do seu jeito, né? E, dependendo muito da necessidade de cada um e da demanda que ele tem naquele momento (PA9). [...] cada um vai usar para atividade dele. Mas, a empresa não está fazendo essa gestão de forma que possa preservar esse conhecimento, depois compartilhá-lo e até vir a ter, assim, uma aplicação mais direta dele (PA1). As pessoas, hoje, para buscar um conhecimento, ou elas são autodidatas digamos assim, ou elas procuram alguma referência interna, a boa vontade de uma referência interna, ou faz um misto dessas duas coisas (PT1). Eu tive certa dificuldade de encontrar informações a respeito do processo como um todo, e até mesmo dentro da área onde eu ia atuar. [...] e então, dependeu muito de ter jogo de cintura e saber achar a fonte certa e conseguir obter dessas fontes as informações que eu precisava (PT3). Os conhecimentos são geridos por cada área em particular. Eu tenho meu banco pessoal (PT2).

As ações paliativas, adotadas pelos profissionais de carreira técnica para gerir

o conhecimento, comprometem o que Nonaka e Takeuchi (1997) classificaram como

dimensão ontológica do conhecimento. Nesse aspecto o conhecimento não é

ampliado na rede de conhecimentos da organização:

É como uma palavra que o pessoal gostava muito de usar: são os feudos; cada um gere seu conhecimento; não tem compartilhamento entre as gerências, entre departamentos e entre as áreas. Então, fica uma coisa meio solta; e dentro desses feudos também ocorre uma centralização do conhecimento, ou seja, não tem compartilhamento dentro do próprio feudo. Tem que sair desse negócio da “caixinha”, [...] um feudo aqui, outro ali; tem que ter mais interação. (PT2). O conhecimento muitas vezes fica restrito ao individuo [...]. Raramente esse conhecimento é compartilhado, ampliado (PT7).

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Para Davenport (1998), no modelo denominado político feudal, os gerentes

das unidades, como senhores feudais, cada um no seu castelo, tentam tratar as

informações e o conhecimento de forma isolada, como tendo sua propriedade

exclusiva. Para o referido autor, metade das empresas que ele estudou continham

fortes características feudais. Tal comportamento constitui um entrave para a gestão

do conhecimento organizacional (DAVENPORT, 1998).

Davenport (1998) relatou também sobre a anarquia que ocorre quando cada

profissional possui seu próprio banco de dados, o que pode, mesmo não

intencionalmente, gerar informações divergentes.

Ponchirolli e Fialho (2005) afirmam que o conhecimento é um recurso mal

gerido em muitas organizações, entre as quais, encontram-se aquelas que estão

operando com estruturas impróprias, sistemas obsoletos e gestores ultrapassados.

Conclui-se que “sem uma estrutura condizente com uma estratégia voltada para o

conhecimento, todo o empenho da criação pode ser em vão” (PONCHIROLLI;

FIALHO, 2005, p. 136)

Para os entrevistados, a Alpha poderia obter benefícios significativos com a

implantação de um processo formal de gestão do conhecimento. O parecer dos

entrevistados está em concordância com Terra (2001), que reconhece que gestão

do conhecimento e resultados das empresas estão diretamente relacionados.

4.1.2 Compartilhamento do conhecimento

Os entrevistados reconhecem que o conhecimento é imprescindível para o

desenvolvimento de suas atribuições.

O compartilhamento do conhecimento é fundamental para o desenvolvimento

na carreira do profissional de carreira técnica na Alpha S/A, conforme declaram os

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entrevistados. Para os entrevistados compartilhar é uma forma de ampliar o

conhecimento que já possuem e, consequentemente, gerar resultados mais valiosos

para organização e com isso desenvolverem-se na carreira profissional.

A literatura sugere que o compartilhamento de conhecimento pode ajudar o

destinatário a economizar tempo, melhorar os resultados, e contribuir para a geração

de novas idéias (CABRERA; CABRERA, 2002).

Os fragmentos a seguir revelam como alguns dos entrevistados se

posicionam em relação a importância do compartilhamento do conhecimento para os

profissionais de carreira técnica. Percebe-se nos fragmentos que a expectativa de

reciprocidade nesse processo de troca de conhecimento, impacta positivamente a

propensão dos entrevistados ao compartilhamento, conforme sugere Bock et al.

(2005).

Na medida em que você compartilha você aprende (PA1). Eu acho fundamental. [...] carreira técnica basicamente lida com conhecimento. Então, invariavelmente você não tem o conhecimento todo. O compartilhamento de conhecimento na carreira técnica é o que faz com que os seus resultados sejam atingidos e faz com que o profissional suba na carreira (PA2). O cara da carreira técnica vive é de conhecimento. A gente não vai a lugar algum sozinho. (PT2). [...] é fundamental, por que: qual é a missão da carreira técnica? Não é a produção de conhecimento, principalmente com melhoria de processos? [...] está no núcleo da carreira técnica, é a natureza do trabalho dele. Eu produzo conhecimento para a organização (PA8). Se você não passa esse conhecimento pra frente você não assume outros desafios, entendeu? Você fica preso àquilo que você fez e não compartilhou (PT6).

Os entrevistados, na sua totalidade, declaram-se motivados a compartilhar o

conhecimento que possuem. Vários afirmam que compartilhar é uma característica

pessoal que possuem, e falam, também, de uma satisfação pessoal que sentem ao

compartilhar. Todavia, percebe-se nos relatos que o compartilhamento do

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57

conhecimento não está ocorrendo com todo o seu potencial. Outra percepção a

partir dos relatos é que, os entrevistados afirmam que compartilham o conhecimento

e que não têm problemas para compartilhar. Porém, quando falam das barreiras e

da disposição para o compartilhamento, fazem suas declarações referindo-se a

outro sujeito e não a si mesmos. Os fragmentos abaixo dão uma amostra desse

fenômeno:

[...] você vê pessoas que não tem essa disposição, não se mostram muito abertas, pessoas às vezes que tem medo [...] da pessoa ali que está te perguntando, mais tarde pegar o seu lugar ou então dela passar a perna nela de alguma forma. (PA4). Pode ser uma coisa própria do perfil dele, que ele seja um cara travado mesmo, não conseguir, ter dificuldades dele mesmo ou pode ser um mecanismo de defesa dele, a gente vive num mundo competitivo, num mundo que algumas pessoas ainda acreditam que segurar o conhecimento o coloca numa posição privilegiada (PA5). [...] eu não sou cobrado disso, pra que eu vou compartilhar? O que eu ganho? O cara pode pensar assim: eu não ganho nada, não ganho nada compartilhando isso, não vou ser cobrado... (PT3).

Alguns dos entrevistados declararam o risco de obsolescência do

conhecimento por haver pouco espaço para o compartilhamento dentro da

organização, conforme o seguinte relato:

Eu vejo que o cara dá uma ‘emburrecida’, porque ele tem poucas pessoas com quem compartilhar. [...] não tenho ninguém pra conversar sobre essas coisas, então eu vou perder, eu vou descer na média. [...] eu acho que dei uma ‘emburrecida’, é uma sensação muito sincera do que eu tenho sentido (PT5).

Um dos entrevistados relatou vantagens que a organização pode obter

estimulando e facilitando o compartilhamento do conhecimento na carreira técnica:

A empresa amadurece o seu corpo técnico; a empresa passa a ter um corpo técnico tecnicamente muito mais forte; e forma a mão de obra técnica muito mais rápido. Assim, a empresa tem mais capacidade de fazer um rodízio [...]; eu pego o cara boto ele na posição chave de uma expansão e formo um outro cara muito mais rápido (PT5).

Nos relatos dos entrevistados e nas observações realizadas percebe-se que a

empresa, em análise, não trata adequadamente o compartilhamento do

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58

conhecimento, tanto o explícito quanto o tácito. Os entrevistados acreditam que o

compartilhamento do conhecimento, entre os profissionais de carreira técnica, pode

e precisa ser ampliado e melhor explorado pela organização. Para tanto, é

importante atentar para os aspectos considerados obstáculos ao compartilhamento

do conhecimento dentro da organização (PONCHIROLLI; FIALHO, 2005), que são

abordados a seguir.

4.1.3 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento

Vários obstáculos ao compartilhamento do conhecimento, identificados na

literatura pesquisada foram evidenciados nas entrevistas com os profissionais de

carreira técnica. A seguir esses obstáculos serão apresentados classificados nos

níveis individual, grupal e organizacional (NONAKA; TAKEUCHI, 1997; ROBBINS,

2004; AJMAL; KOSKINEN, 2007).

4.1.3.1 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no nível Individual

A partir dos relatos dos entrevistados foi possível identificar aspectos que

constituem obstáculos ao compartilhamento do conhecimento na carreira técnica,

que são provenientes de expectativas, valores, atitudes, percepção, personalidade,

emoções, sentimentos, disposição e motivação de cada profissional (ROBBINS,

2004; RIEGE, 2005) e por essa razão classificados no nível individual.

Os principais obstáculos ao compartilhamento do conhecimento encontrados,

a partir dos relatos dos entrevistados, no nível individual são descritos a seguir.

Nos relatos dos entrevistados, conforme citado no tópico 4.1.2, percebe-se

uma tentativa de atribuir aos outros os problemas relacionados ao compartilhamento

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59

do conhecimento. A maioria dos entrevistados não assume que possui dificuldades

em compartilhar o conhecimento, mas, refere-se aos outros colegas quando fala dos

obstáculos ao compartilhamento. Os poucos que assumem dificuldade em

compartilhar parecem querer justificar seus comportamentos transferindo para a

organização as causas de não fazê-lo. Tal constatação pode indicar a presença de

um obstáculo ao compartilhamento do conhecimento, que os autores Krogh, Ichijo e

Nonaka (2001) denominam de ameaça a auto-imagem. O relato de um dos dois

entrevistados (engenheiros) parece uma evidencia desse fenômeno:

Às vezes eu percebo que acontece quando aquele cara tem uma imagem muito bacana, assim, ele é o cara do dia-a-dia. E no dia-a-dia não precisa ter tanta teoria. O que funciona muito mais é a prática. [...] Mas, quando é preciso colocar isso na forma de um relatório ou numa reunião que ele precisaria fundamentar mais o que ele está falando, ele tem um pouco de dificuldade, por isso evita compartilhar (PT3). Os engenheiros, eles estão mergulhados nos problemas deles; querem resolver o problema deles; o mundinho deles que se chama: a área onde eles estão atuando. Então às vezes eles se esquecem de olhar a cadeia como um todo (PT3).

O ser humano tende a reagir de algum modo a se proteger quando uma

informação ou algo pode ameaçar a sua auto-imagem (HAMPTON, 1990). A

Psicologia denomina de “mecanismos de defesa” (FREUD, 1983) aqueles que o ser

humano utiliza para se proteger da ameaça à sua auto-imagem. Entre os

mecanismos de defesa destacam-se a racionalização, a projeção, a negação e a

formação de reação. Na racionalização uma pessoa é capaz de inventar

justificativas para o comportamento, considerado como injustificado, porém, o faz

inconscientemente. Na projeção uma pessoa atribui a outros pensamentos e

sentimentos que possui ou acredita, mas não aceita de modo consciente. Na

negação a pessoa insiste que não possui aqueles sentimentos ou pensamentos que

tem, os quais são inaceitáveis para ela. Na formação de reação a pessoa defende e

faz o oposto ao que deseja, ainda que considere como inaceitável. Os mecanismos

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de defesa agem no inconsciente e se manifestam quando o ser humano se sente

ameaçado (FREUD, 1983).

O medo de perder o poder de barganha junto aos colegas e a organização foi

apontado como obstáculo ao compartilhamento por diversos autores, dentre eles

Davenport e Prusak (1998), Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) e Probst, Raub e Romhart

(2002).

Vários dos entrevistados revelaram haver no grupo de profissionais de

carreira técnica aqueles que evitam compartilhar, tanto informações quanto

conhecimento, com receio de perder espaço político (DUTRA, 2004) ou ainda o

receio de perder seu valor individual para a organização, por abrir mão de um

conhecimento que somente eles detinham (BOCK ET AL., 2005). Tonet e Paz

(2006) relatam que muitos profissionais temem repassar o conhecimento que detém

por receio de perder status ou poder, ou ainda por temerem ser substituídos. Para

Davenport e Prusak (1998), poder é um ponto utilizado para explicar que o

compartilhamento do conhecimento pode acarretar na perda de força em relação à

posição de um empregado que tenha a mente voltada para perceber o

conhecimento como fonte de estabilidade e poder.

No relato de um dos entrevistados é patente a preocupação do profissional

não somente com o status do conhecimento que possui, quanto com a possibilidade

de alcançar um patamar superior na carreira por ser referência no assunto:

[...] o objetivo dele é se tornar um máster dentro da empresa. Então, tem essa questão de, pô, esse é o meu diferencial competitivo e se eu compartilhar esse conhecimento eu posso estar desvalorizando meu passe (PT7).

Nas entrevistas, vários profissionais citam que alguns colegas do grupo de

carreira técnica possuem, o que Probst, Raub e Romhart (2002) qualificaram,

orgulho em ter a posse de um tipo de conhecimento especializado.

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O fragmento de uma entrevista abaixo demonstra como um profissional

percebe como vantagem por possuir um conhecimento que julga ser diferenciado:

Tem colega que começa a desenvolver um trabalho e ele fica meio que guardando o trabalho; ele acha que aquilo vai dar um grande resultado, aquilo vai ser uma projeção pra ela (PT2).

A falta de capacidade para compartilhar, envolvendo a falta de habilidade de

comunicação interpessoal e interação social deficiente, é encontrada na literatura

como uma relevante barreira para o compartilhamento do conhecimento (PROBST;

RAUB; ROMHART, 2002; RIEGE, 2005).

Nonaka e Takeuchi (1997) afirmam que para compartilhar o conhecimento

que possuem, os profissionais necessitam ser qualificados na condução de diálogos.

Nos relatos analisados há indicativos da falta de capacidade como obstáculo

ao compartilhamento do conhecimento entre os profissionais de carreira técnica,

conforme se observa abaixo:

[...] a maneira dela buscar uma resposta e de estar sempre procurando irrita algumas pessoas (PT2). Tem pessoas que não sabem como compartilhar aquele conhecimento (PT8). [...] apesar de agregar um conhecimento técnico, [...] ela é uma pessoa que muitas vezes desagrega, a partir do momento que a forma como ela coloca é tão negativa que o grupo desconsidera o que ela falou por mais bem embasada que fez. (PA4).

Vários autores destacam como obstáculo ao compartilhamento o fator tempo.

Ele surge quando o indivíduo acredita que compartilhar é uma atividade que pode

demandar muito tempo e energia e roubar o tempo que poderia utilizar para produzir

mais resultados (NISEMBAUM, 2002). Riege (2005), em sua pesquisa, revela que

há pessoas que reclamam da falta de tempo para compartilhar o conhecimento e

tempo para identificar os colegas de trabalho que precisam de um determinado

conhecimento. Para Cabrera e Cabrera (2002), a disponibilidade de tempo para

compartilhar pode impactar a consecução e o resultado desse processo. A

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percepção da falta de tempo pode estar relacionada com não saber gerenciar e

integrar o compartilhamento às atividades do seu dia-a-dia (CABRERA; CABRERA,

2002).

Praticamente todos os entrevistados alegaram a falta de tempo como um dos

principais obstáculos ao compartilhamento do conhecimento entre os profissionais

de carreira técnica. Nos relatos abaixo é possível perceber esse fenômeno e as

causas declaradas, além das que estão relacionadas com a organização do

trabalho, descritas em obstáculos no nível organizacional:

[...] a gente acha que vai perder tempo com essa atividade (PA8). O tempo que eu vou gastar para ensinar, eu vou e faço (PA9). [...] você acaba se entregando de tal forma pra rotina, querendo o melhor resultado dentro da rotina, que você focaliza o seu processo e por isso fica um pouco limitado, não tendo uma interação maior com todas as áreas de atuação (PT4). Eu não vejo as pessoas tendo tempo para compartilhar. A rotina é lotada de tal forma que a pessoa não consegue parar e pensar. Muitas vezes ela está no piloto automático. A rotina está tomando um tempo das pessoas muito grande e às vezes o cara se fecha na bolha (PT7).

Outro obstáculo ao compartilhamento do conhecimento está relacionado com

a falta de confiança nas pessoas, por conta do uso incorreto do conhecimento ou do

uso sem os devidos créditos (RIEGE, 2005). Esse obstáculo ao compartilhamento

está evidenciado nos relatos dos entrevistados. Uma amostra dessa afirmação está

nos fragmentos a seguir:

Tem essa questão do cara querer se projetar e fica escondendo o trabalho. Não querer compartilhar, a não ser quando o trabalho estiver pronto, porque tem receio de alguém pegar aquilo e usar indevidamente (PT2). [...] essa pessoa pegar a informação, se expõe e ganha os méritos, entendeu? Usa a informação, aquele conhecimento que não era dele, era do outro, mais não dá o devido crédito por isso (PT8).

Vários obstáculos ao compartilhamento do conhecimento organizacional

identificados no nível individual são potencializados pelos obstáculos existentes no

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nível grupal e no nível organizacional. A seguir os obstáculos ao compartilhamento

do conhecimento identificados no grupal serão apresentados.

4.1.3.2 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no nível grupal

Nos relatos dos entrevistados foi possível identificar obstáculos ao

compartilhamento do conhecimento na carreira técnica provenientes da dinâmica de

grupos, do estilo de liderança, do grau de confiança, do clima psicológico reinante no

grupo, dentre outros, aqui classificados no nível grupal.

Nas entrevistas foi identificado um obstáculo que diz respeito ao

compartilhamento apenas com as pessoas que estão mais próximas ou com aquelas

com as quais se tem mais afinidade e, não necessariamente, com as que dominam

o conhecimento em questão (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Nos fragmentos

abaixo percebe-se a presença desse fenômeno no grupo de profissionais de carreira

técnica:

[...] eu só compartilho com poucos; eu compartilho com quem é mais parceiro (PA7). No dia-a-dia, com as pessoas que estou mais próxima o compartilhamento flui (PT9). Se você tem afinidade, você compartilha, você busca e ajuda. Caso contrário fica mais limitado o compartilhamento (PA9). Falta afinidade entre as pessoas (PT2).

Para Szulanski (2000) a ausência de relacionamentos "íntimos" entre fontes e

receptores pode obstruir o compartilhamento do conhecimento.

Os entrevistados também relatam a ocorrência de um fenômeno que

McDermott (1999) encontrou em sua pesquisa: as equipes tendem a se isolar por

estarem focadas e concentradas nos seus objetivos e resultados mais imediatos.

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Os fragmentos a seguir dão a dimensão desse obstáculo ao

compartilhamento do conhecimento organizacional presente no grupo de

profissionais de carreira técnica:

[...] mas, a gente trabalha em feudos (PA7). Os engenheiros, eles estão mergulhados nos problemas deles, querem resolver o problema deles, o mundinho deles que se chama: a área onde eles estão atuando. Então às vezes eles esquecem de olhar a cadeia como um todo. Às vezes a gente tem iniciativas de estudos aqui que mostraram que seria complicado atingir as metas que a gente propôs para os diretores e acionistas. E numa reunião que a gente teve oportunidade de compartilhar essa visão o cara falou: Ué, péra aí! Vocês estão estudando isso desde quando? Ah, desde janeiro. Mas, a gente está em Outubro e até agora eu não soube de nada! E, nessa altura do campeonato já tinha sido feito inúmeros encontros pra discutir exaustivamente dentro da gerência. A gente não teve o cuidado de fazer que a informação e o conhecimento já produzido fluísse para as outras áreas da cadeia produtiva (PT3). [...] a gente tem bastante que avançar ainda, para tentar unir os conhecimentos, entendeu? Porque a engenharia mecânica por si só, a engenharia elétrica por si só, a engenharia metalúrgica por si só, não faz muita coisa. Acho que a grande vantagem mesmo você só tem quando consegue integrar as contribuições, o conhecimento de cada área (PT6).

A falta de vocabulário técnico comum aos profissionais de automação e

produção provoca uma barreira ao compartilhamento do conhecimento entre esses

grupos. Esse fato foi destacado por um dos entrevistados:

Imagine a dificuldade que tem o pessoal da automação para interagir com o pessoal da produção. Existe uma dificuldade sim, até mesmo de linguagem; de se entender como fazer as coisas (PT6).

Vários autores (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; KROGH; ICHIJO; NONAKA,

2001; RIEGE, 2005; TONET E PAZ, 2006) descrevem como o uso de vocabulários,

que não sejam comuns aos envolvidos, pode ser um obstáculo para o

compartilhamento do conhecimento.

Outro obstáculo identificado nas entrevistas está relacionado com a atuação e

o comportamento inadequado dos gestores em relação ao compartilhamento do

conhecimento (DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Esse fenômeno foi também

observado por Eskerod e Skriver (2007) que identificaram em sua pesquisa que

muitas pessoas compartilhavam suas experiências somente quando eram

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incentivados por seu superior e não de forma espontânea. Aqueles que

necessitavam de auxílio não o solicitavam, e os que dispunham do conhecimento

não o ofereciam espontaneamente (ESKEROD; SKRIVER; 2007).

Os gestores precisam incentivar e estimular o diálogo, ser capazes de ajudar

os membros da sua equipe a compartilhar seu conhecimento e de promover a

confiança entre eles (DAVENPORT; PRUSAK, 1998).

Para Riege (2005) a falha da liderança e falta de direção gerencial em relação

a uma comunicação clara dos benefícios e valores das práticas de compartilhamento

do conhecimento é um obstáculo à consecução desse processo.

Há vários indícios, com base nos relatos dos entrevistados, que apontam para

a frequência do obstáculo relacionada com a atuação e ao comportamento

inadequado dos gestores frente ao compartilhamento do conhecimento. Alguns

desses relatos são descritos a seguir:

Falta interesse e incentivo dos gestores na promoção do compartilhamento (PA3). Acontece comigo, não faz parte do meu trabalho; eu não sou cobrado, por isso eu não tenho margem pra fazer. Quando você acorda suas metas com seu chefe, se tiver bem claro lá que você tem de compartilhar seu conhecimento, como profissional vou colocar no meu plano de trabalho. Então, eu vou colocar duas horas pra compartilhar informação e conhecimento. Agora, se eu não sou cobrado e não é me dado oportunidade pra isso, você acha que eu vou parar duas horas do meu serviço? Aqui eu tenho um monte de coisas para entregar (PA6). [...] o meu chefe não me demanda por isso, não me paga por isso e aquilo outro. Então, você vê que depende também do gestor estimular (PA7). A liderança tem que realmente cobrar isso das pessoas, e identificar esses problemas de relacionamento e tratar (PA9). Se ela [a liderança] cumprir a cartilha na gestão de pessoas que a empresa está dando para os líderes, estará eliminando uma barreira forte para a disseminação do conhecimento. A liderança precisa mostrar para o empregado a importância do trabalho em equipe, de não ser o dono do processo, de não ser o dono daquele negócio sozinho, mas o responsável, não o dono, e fazê-lo entender que o problema ou dificuldade do outro te afeta, e que você pode e deve ir lá e ajudar o outro (PT1). Eu não sou cobrado disso, pra que eu vou compartilhar? [...] O cara pode pensar assim, eu não ganho nada [...], não vou ser cobrado, pelo contrário eu vou ser cobrado do porque aquela máquina está parada, então deixa eu

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ir pra área correr atrás disso (PT3). Olha meu chefe não cobra nada. Ninguém quer gastar tempo com isso de compartilhar algo que não está sendo cobrado dele (PT6).

De acordo com Leonardi (2005), estimular e fazer as pessoas compartilharem

seus conhecimentos é um grande desafio para aqueles que precisam gerenciar o

conhecimento organizacional.

Dois comentários cabem em relação ao comportamento inadequado dos

gestores frente ao compartilhamento do conhecimento organizacional. Primeiro, é

provável que esse comportamento ocorra em decorrência da forte orientação para

os resultados mais imediatos demandados pelo modelo de negócios da empresa.

Nas empresas onde ocorre uma acentuada pressão por resultados, o tempo de

reflexão pode não ser suficiente. O tempo que a equipe tem disponível para explorar

a relação entre a ação e o resultado é que permite traduzir com sucesso a

experiência em conhecimento (NISEMBAUM, 2002). Segundo, o comportamento

inadequado do gestor pode potencializar os obstáculos já descritos anteriormente,

especialmente aqueles no nível individual.

A seguir serão apresentados os obstáculos ao compartilhamento do

conhecimento, classificados no nível organizacional.

4.1.3.3 Obstáculos ao compartilhamento do conhecimento no nível organizacional

Nos relatos dos entrevistados foram encontrados obstáculos ao

compartilhamento do conhecimento decorrentes da organização do trabalho, da

estrutura, do modelo de gestão, da cultura, política de reconhecimento, recompensa

e remuneração, dentre outros correspondentes ao nível organizacional, descritos a

seguir.

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Para a Fundação Nacional da Qualidade (2008), a organização do trabalho

deve proporcionar flexibilidade, resposta rápida e aprendizado organizacional. A

forma como as pessoas estão organizadas, como elas interagem entre si e como as

tarefas e responsabilidades estão divididas, estão relacionadas com a organização

do trabalho. Os aspectos que englobam a organização do trabalho, dentre outros,

são: agrupamentos das pessoas em áreas e departamentos; repartição de

responsabilidades e autoridades; estruturas de cargos, salários e níveis

hierárquicos; grupos de trabalho e similares e; grau de autonomia das diversas

categorias de pessoas (FUNDAÇÃO NACIONAL DA QUALIDADE, 2008).

A respeito de um dos aspectos relacionado à organização do trabalho, O'Dell

e Grayson (1998) afirmam que organizações que estabelecem uma estrutura

fechada, com áreas e funções demasiadamente focados em maximizar seus

próprios resultados e reconhecimento, acabam estimulando as pessoas a

sonegarem informações relevantes para a organização, subotimizando seu

desempenho no todo.

Ponchirolli e Fialho (2005) apontam a existência de fronteiras departamentais

como uma barreira ao compartilhamento do conhecimento. Esses autores

encontraram em sua pesquisa que cada departamento se isolava em sua fronteira,

limitando o compartilhamento do conhecimento (PONCHIROLLI; FIALHO, 2005).

Os relatos dos entrevistados evidenciam a existência de fronteiras

departamentais, conforme se pode observar nos relatos abaixo:

A estrutura da Alpha hoje é muito departamentalizada. Você tem muitos chefes de equipe, muitos chefes de departamento, as áreas são muito divididas. Falta visão de processo (PA4). [...] a gente trabalha muito focado e muito fechado, como se fosse um feudo (PT7). [...] mas, a gente trabalha em feudos (PA7).

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Ainda relacionado à organização do trabalho, há, entre os profissionais

entrevistados, uma queixa em relação ao acúmulo de atividades sobre sua

responsabilidade e sobrecarga de trabalho. Pode ser que isso ocorra em

decorrência da falta de uma melhor distribuição das atividades ou até mesmo uma

melhor definição dos papéis e responsabilidades. Os extratos a seguir evidenciam

esse fenômeno que pode estar relacionado com a organização do trabalho:

Em muitas áreas eu vejo que não tem estruturado o que aquela pessoa vai fazer: não tem um procedimento, não tem instrução de trabalho, não está claro o que aquela pessoa que está chegando vai ter que fazer. (PA9). Acho que é grave na empresa o excesso de trabalho que ocorre junto às pessoas. Então, [...] praticamente ninguém dá conta do que tem que fazer. Então, quando você pede ajuda a um colega seu, e hoje aconteceu isso comigo, ele disse: ’Oh colega eu adoraria te ajudar, mas isso vai tomar muito meu tempo, entende?’ Ou seja, vou compartilhar com você agora, você vai ser ajudado mais do que eu, porque eu vou abandonar o meu trabalho, tenho que fazer uma entrega, e eu não vou conseguir, eu vou ter que ficar aqui depois do horário, à noite e ... (PA5). Eu to participando de muito projeto ao mesmo tempo, então meu tempo está meio contado (PT2). Etapas do processo que vão ficando cada dia mais, maiores; o fluxo vai ficando maior e o número de pessoas continua o mesmo (PA4).

Os entrevistados também relatam a cobrança por resultados mais imediatos

como um obstáculo ao compartilhamento do conhecimento:

A empresa tem colocado muito foco nos resultados mais imediatos (PA9). [...], são tantas metas, tantos indicadores que você tem que estar olhando, que a última preocupação é com o disseminar o conhecimento (PT3).

Ainda relacionado à organização do trabalho, os profissionais de carreira

técnica encontram obstáculos para compartilhar o conhecimento por baixa ou por

ausência de autonomia nos processos decisórios, como pode ser visto no relato a

seguir:

O que eu tenho visto é isto as pessoas gostam que respeite essa hierarquia. Antes de vir até a mim, mesmo que você tenha mais conhecimento que o seu gestor, por exemplo, tem que passar por ele [...] você é o especialista naquele assunto e podia, de repente, resolver. Mas, você sempre valida, ou seja, passa por este filtro, mesmo que o gestor só dê a benção (PA7).

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Outro fator relacionado com a organização do trabalho é destacado pelos

entrevistados como obstáculo ao compartilhamento do conhecimento: o espaço

físico de trabalho – o layout.

Para Terra (2001), os espaços de trabalho, cada vez mais estão sendo

percebidos como influenciadores da criatividade, do aprendizado organizacional e da

qualidade do ambiente de trabalho favorável à inovação nas empresas. Para o

referido autor várias empresas transformaram seus espaços físicos, antes

considerados símbolos de status, fechados e relacionados à hierarquia para aqueles

que favorecem e facilitam os contatos informais e a comunicação (TERRA, 2001).

Os fragmentos dos relatos dos entrevistados a seguir são uma amostra da

percepção a respeito do espaço físico de trabalho:

Falta espaço físico adequado. Estamos em ilhas (PA1). A própria maneira como a gente organiza as pessoas fisicamente ao longo do prédio, faz com que exista uma distância. Tem feudos ao longo do processo. A gente trabalha muito focado e muito fechado, como se fosse um feudo. E se for olhar como as pessoas estão locadas em seus espaços de trabalho, isso se reflete (PT7).

Um dos profissionais entrevistados apontou a distância física entre as áreas

como outro dificultador do compartilhamento do conhecimento:

A gente tem unidades separadas, uma área aqui, outra área acolá, distâncias de 1 km, 1 km e meio, 500 m, isso não favorece no relacionamento no dia a dia (PA1).

O modelo de gestão de carreira da empresa Alpha S.A. possui característica

que se torna um obstáculo ao compartilhamento do conhecimento na percepção dos

entrevistados. A questão está relacionada com a possibilidade de migração do

profissional da carreira gerencial para a carreira técnica e a dificuldade que esse ex-

gestor irá encontrar junto aos profissionais que já estavam na carreira técnica,

conforme relato abaixo:

O cara que está na carreira gerencial, via de regra, ele se especializa em gerenciar pessoas. Então ele não tem muito tempo para estudar processo de causa. Um dia esse cara sai da carreira gerencial, por algum motivo, e

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vai para a carreira técnica. Aí surge uma grande barreira. Um outro cara que está se achando o tal, querendo ser promovido na carreira técnica, [...] vê o ex-gestor que entrou no mesmo nível que ele. Esse você esquece... esse outro aí vai boicotar, mas vai boicotar muito mesmo. E isso, pra ser sincero, existe (PT2).

Outra característica do modelo de gestão de carreira, aplicada à política

salarial está descrita no relato seguinte:

Ocorre uma situação quando a pessoa que foi promovida passará por um enquadramento de, sei lá, de 2 ou 3 anos, até atingir o salário objetivo do cargo. Aí, vem um de fora com o salário objetivo do cargo, superior ao que está no enquadramento. Então, esse que está no enquadramento ele ainda vai ter que ensinar para esse que está chegando, passar muita coisa para ele, né? Acaba desmotivando o pessoal (PA9).

A inexistência de um processo formal de gestão do conhecimento

organizacional, como mostrado em tópico anterior, tende a obstruir o

compartilhamento do conhecimento. Alguns obstáculos ao compartilhamento do

conhecimento, evidenciados nos relatos dos entrevistados, poderiam ser

minimizados ou até mesmo eliminados com a implantação de um modelo de gestão

do conhecimento organizacional que privilegie o compartilhamento do conhecimento

(NONAKA; TAKEUCHI, 1997).

Os profissionais de carreira técnica entrevistados expõem a dificuldade em

identificar: o conhecimento relevante a ser compartilhado (STEWART, 1998); a fonte

ou o detentor desse conhecimento (TONET; PAZ, 2006); a quem interessa ou

necessita esse conhecimento (TONET; PAZ, 2006); a forma de armazenamento

(TAN, 2000) e; como compartilhar o conhecimento (CABRERA; CABRERA, 2002),

considerando a definição de espaços formais (RIEGE, 2005) para o

compartilhamento. Os relatos a seguir dão a dimensão dessa realidade revelada

pelos entrevistados:

Falta uma estrutura ou modelo de gestão que te favoreça trocar/compartilhar mais. Quando fala de compartilhamento do conhecimento você às vezes fica nessa duvida, que momento de envolver as pessoas a gente não sabe. A gente tem dificuldade em saber que momento envolver as pessoas (PA8). Falta de um processo estruturado para o compartilhamento contínuo (PA1).

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Sinto falta de uma metodologia que nos ajude a compartilhar o que sabemos (PT1). Não há uma gestão de como chegar a esse conhecimento relevante (PT2). Não tem onde procurar: se eu quiser saber de um estudo que foi feito por um ex funcionário, tem que ir à pasta desse ex funcionário. Só que a pasta dele está com um padrão que somente ele entende. Fica muito difícil eu procurar alguma coisa ali. Então, esse é um ponto que a gente precisava melhorar: ter uma biblioteca; ter alguma forma que a pessoa quando criasse algum relatório, algum estudo, alguma iniciativa, algum projeto seis sigma, que ele fosse armazenado de forma que quando o cara fosse procurar na pasta, tivesse um acesso fácil (PT3). Mesmo num projeto estruturado, as melhores práticas, as lições aprendidas, [...] eu não sei onde buscar isso (PT7). Falta espaço formal para o compartilhamento. Exemplo: Fóruns técnicos (PA1). Não existe nenhum mecanismo dentro da organização que promova esse compartilhamento do conhecimento (PT5). Acho que existe dentro da organização dificuldades de se encontrar um público que se interessa por aquilo que se desenvolveu. Eu tenho mais dificuldade, ás vezes, ao compartilhar é achar que não vai haver interesse da outra parte por aquilo (PT6).

A cultura organizacional é entendida, segundo Terra (2001), pelas normas e

valores que contribuem para a interpretação e avaliação daquilo que é apropriado e

inapropriado no contexto organizacional.

Um aspecto que está relacionado com a cultura é que a forma como a

organização trata a questão do erro pode ser um obstáculo ao compartilhamento do

conhecimento (DAVENPORT; PRUSAK, 1998; RIEGE, 2005). Uma cultura que não

tolera erros pode intimidar as pessoas ao compartilhamento do conhecimento

(DAVENPORT; PRUSAK, 1998). Também, quando não se vê com bons olhos

aqueles que cometeram erros no passado pode ser um impeditivo a novas tentativas

de compartilhamento (RIEGE, 2005).

Esse comportamento hostil frente aos erros foi destacado pelos entrevistados

como barreira ao compartilhamento do conhecimento:

Ainda somos muito avessos ao erro. Gostamos de ser o melhor sempre e achamos que somos. O problema é que isso acaba nos levando a evitar correr riscos para não cometer erros. As pessoas que cometem erros são

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rechaçadas, ficam rotuladas (PA10). A gente mantém a questão da cultura do erro ao invés da cultura do aprendizado. E quando a gente aumenta a cultura de aprendizado eu acho que a gente precisa entender que a gente pode aprender com qualquer pessoa (PA8).

Vários autores destacam a importância de implementar uma forma de

reconhecimento das pessoas que compartilham o seu conhecimento (DAVENPORT;

PRUSAK, 1998; RIEGE, 2005).

Para Davenport e Prusak (1998), a inexistência de incentivos direcionados

para se compartilhar o conhecimento poderá ser um agravante ao processo de

gestão do conhecimento organizacional.

Riege (2005), em seus estudos, percebeu que as pessoas tendem a

compartilhar seu conhecimento quando são reconhecidas.

A falta de reconhecimento é apontada pelos entrevistados como um

desestímulo ou um obstáculo ao compartilhamento do conhecimento, conforme os

seguintes relatos:

O cara que já me ensinou, já está ensinando uma terceira geração, e não se reconhece isso. A empresa não recompensa essa pessoa, não destaca, não tem nenhuma política, uma ação de reconhecer (PA8). O que eu ganho com isso? Quando é institucionalizado, quando aquilo que você está fazendo é formalizado pela empresa, você vê ganho. Exemplos disso são o programa padrinhos da segurança e o programa de mentores. São programas que são da instituição. Aí a coisa flui. Você não tem o sentimento de perder tempo, embora esteja parando de fazer o que você faz para atender aquilo ali (PA9).

Vários aspectos que foram destacados como obstáculos ao compartilhamento

do conhecimento, especialmente aqueles que faltam à organização, podem tornar-

se facilitadores ao compartilhamento se forem devidamente tratados e

implementados pela organização.

De acordo com Ichijo (2008), as organizações devem promover o

conhecimento organizacional. A real essência da promoção do conhecimento é a

facilitação das conversações e das relações organizacionais. As relações

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adequadas depuram o processo de desconfiança e medo, e suprimem as barreiras

individuais, grupais e organizacionais (ICHIJO, 2008).

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Capítulo 5

5 CONCLUSÕES

Este trabalho objetivou descrever e analisar de que forma os obstáculos

individuais e organizacionais interferem no compartilhamento do conhecimento entre

os profissionais de carreira técnica, no contexto de uma organização de grande

porte. A análise dos dados coletados corrobora os estudos de Oliveira Jr, Fleury e

Child (2001) ao afirmar que a gestão eficaz do conhecimento organizacional é

dependente do compartilhamento do conhecimento. Além disso, confirma a pesquisa

de Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) no que diz respeito a existência de obstáculos

individuais e organizacionais ao compartilhamento do conhecimento interferindo na

gestão do conhecimento organizacional.

A abundância de conhecimento tácito, evidenciada na análise dos dados,

comprova a afirmação de Stewart (1998) que ainda sugere a necessidade de tornar

esse conhecimento explícito para o seu melhor aproveitamento.

Constatou-se que os profissionais de carreira técnica necessitam ter dois

tipos de conhecimentos: técnico e sistêmico, confirmando os estudos de Choi e Lee

(2003) que afirmam serem necessários para o pleno desenvolvimento das

atribuições do cargo e para o entendimento de como suas atribuições específicas

inserem-se no contexto dos demais processos da organização.

Os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento, entre os profissionais

de carreira técnica, que se destacam dentre os demais encontrados na análise dos

dados, são: no nível individual a ameaça a auto-imagem corrobora com os achados

de Krogh, Ichijo e Nonaka (2001) e a falta de tempo para compartilhar que Riege

(2005) encontrou nos seus estudos; no nível grupal o foco nos resultados mais

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imediatos confirma as pesquisas realizadas por Mcdermott (1999) e Nisembaum

(2002) e a não apropriação dos gestores da sua responsabilidade em estimular e

promover o compartilhamento do conhecimento corrobora as pesquisas de

Davenport e Prusak (1998) e Riege (2005); e no nível organizacional a inexistência

de um modelo formal de gestão do conhecimento que privilegie o compartilhamento

do conhecimento está em conformidade com os estudos de Nonaka e Takeuchi

(1997).

Os dados analisados evidenciam a complexidade do tema gestão do

conhecimento confirmando as proposições de Nakano e Fleury (2005) e Davel e

Vergara (2001). Tal constatação inclui a percepção de aspectos objetivos e

subjetivos relacionados à gestão de pessoas na organização. Propõe-se que as

organizações tendem a obter vantagem competitiva quando os líderes

organizacionais combinarem, em suas ações de promoção do compartilhamento do

conhecimento, esses aspectos relacionais e intrínsecos à natureza humana.

Ao perceber que a gestão do conhecimento ocupa cada vez mais espaço

estratégico nas organizações, que o compartilhamento do conhecimento é

fundamental para essa gestão e que obstáculos ao compartilhamento do

conhecimento interferem nesse processo, é relevante olhar para a contribuição que

cada grupo de profissionais pode oferecer para a eficácia dessa gestão. Nesse

contexto, o presente trabalho, ao analisar o grupo de profissionais de carreira

técnica, contribui para ampliação do entendimento desse complexo assunto, bem

como fomenta as discussões sobre os obstáculos que podem dificultar ou obstruir a

geração dos resultados desejados e esperados pela organização, quando da

implantação de um modelo de gestão do conhecimento organizacional.

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A opção pelo recorte teórico obstáculos ao compartilhamento do

conhecimento constitui-se uma delimitação deste estudo, mas, pode ser também

uma limitação, pois, não foram tratados os aspectos facilitadores do processo de

compartilhamento do conhecimento. Outra delimitação desse estudo foi não

considerar a percepção dos gestores.

Como sugestão para trabalhos futuros propõe-se estudar os aspectos

facilitadores do compartilhamento do conhecimento entre os profissionais de carreira

técnica e verificar a relação existente entre os estilos de liderança e os obstáculos

ao compartilhamento do conhecimento. Além disso, outra proposta é estudar o tema

na perspectiva de outros grupos de profissionais e em outros contextos

organizacionais além do privado.

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APÊNDICE A – ROTEIRO DE ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

A) DADOS DO ENTREVISTADO

CARGO ATUAL

TEMPO NA ORGANIZAÇÃO

TEMPO NO CARGO

IDADE

SEXO

B) ENTREVISTA

1. Como você percebe a gestão do conhecimento na Alpha S/A?

2. Na sua opinião, o que pode ser melhorado/mudado na gestão do conhecimento da Alpha S/A?

3. Qual a importância do compartilhamento do conhecimento para o desenvolvimento na carreira do profissional de carreira técnica na Alpha S/A?

4. Como você avalia a sua motivação para compartilhar o que sabe?

5. Como você avalia a motivação dos colegas de equipe para compartilhar o que sabem?

6. Como é tratado o compartilhamento do conhecimento pela Alpha S/A?

7. O que leva o profissional de carreira técnica a não compartilhar o que sabe?

8. Quais dificuldades/obstáculo a equipe de trabalho da qual você faz parte estão presentes e impactam o compartilhamento do conhecimento?

9. Quais obstáculos organizacionais, decorrentes de sua estrutura, cultura, políticas e práticas de Rh etc. podem impedir o compartilhamento do conhecimento?

10. Quais sugestões você faria para mitigar ou eliminar os obstáculos ao compartilhamento do conhecimento na Alpha S/A?

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APÊNDICE B – MODELO DO CONVITE ELETRÔNICO PARA ENTREVISTAS

Prezado (nome do profissional),

Estou cursando o Mestrado em Administração, na FUCAPE - Fundação

Instituto Capixaba de Pesquisas em Contabilidade, Economia e Finanças e estou na

etapa de desenvolvimento do Projeto de minha Dissertação. O foco do meu projeto

de pesquisa é conhecer os obstáculos para o compartilhamento do conhecimento.

A organização Alfha S/A é o objeto desse estudo e para isso preciso contar

com a sua colaboração. Para tanto gostaria de agendar uma entrevista com você, no

dia ___/___/2010 às ____ horas.

Desde já agradeço sua contribuição e aguardo a confirmação.

Atenciosamente,

(nome e contato do pesquisador e orientador)