dissertaÇÃo de mestrado
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REMOÇÃO DE FÓSFORO EM EFLUENTESTRANSCRIPT
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IARA REGINA SOARES CHAO
REMOO DE FSFORO DE EFLUENTES DE
ESTAES DE TRATAMENTO BIOLGICO DE
ESGOTOS UTILIZANDO LODO DE ESTAO DE
TRATAMENTO DE GUA
Dissertao apresentada Escola Politcnica da
Universidade de So Paulo para obteno do
Ttulo de Mestre em Engenharia.
So Paulo
2006
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IARA REGINA SOARES CHAO
REMOO DE FSFORO DE EFLUENTES DE ESTAES
DE TRATAMENTO BIOLGICO DE ESGOTOS
UTILIZANDO LODO DE ESTAO DE TRATAMENTO DE
GUA
Dissertao apresentada Escola Politcnica da
Universidade de So Paulo para obteno do Ttulo de
Mestre em Engenharia.
Orientadora: Profa. Dra. Dione Mari Morita
So Paulo
2006
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Este exemplar foi revisado e alterado em relao verso original, sob responsabilidade nica do autor e com a anuncia de seu orientador. So Paulo, de novembro de 2006. Assinatura do autor ____________________________ Assinatura do orientador _______________________
Chao, Iara Regina Soares
Remoo de fsforo de efluentes de estaes de tratamento biolgico de esgotos utilizando lodo de estao de tratamento de gua / I.R.S. Chao. -- So Paulo, 2006.
160 p.
Dissertao (Mestrado) - Escola Politcnica da Universidade de So Paulo. Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria.
1.Estaes de tratamento de gua 2.Lodo 3.Remoo de fsforo 4.Estaes de tratamento de esgoto I.Universidade de So Paulo. Escola Politcnica. Departamento de Engenharia Hidrulica e Sanitria II.t.
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Aos meus pais Joaquim e Neli, ao meu
marido George e minha filha Meily,
que souberam compreender minha
ausncia em tantos momentos
importantes de nossas vidas.
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AGRADECIMENTOS
A Deus e vida pela possibilidade de realizao deste trabalho.
A Profa. Dione, pela sua amizade e dedicao em todos os momentos.
Ao amigo Thadeu, pelo auxlio na investigao experimental e apoio espiritual.
Aos amigos Fernanda e Mauro por terem ficado tantas vezes com a minha filha para eu estudar;
Aos meus cunhados Nina e Pedro por todo o apoio recebido nestes anos;
Aos amigos Patrcia e Kevin, Solange, Eduardo, Daniel e Cnthia que mesmo a distncia sempre
me apoiaram com seu carinho e amizade;
Aos meus irmos Ivam e Altivo, meus sobrinhos Alexandre, Dbora e Jairo e meus cunhados
Alan, Laise, Sandra e Ana, pela amizade acima dos laos familiares;
Aos colegas da Cia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo Sabesp, em especial as
gerentes Ivana Wuo Pereira e Ana Lcia Silva que possibilitaram a concluso deste trabalho, aos
colegas da Diviso de Qualidade - TCCQ, ao pessoal da ETA Alto Cotia; Sheila Guzzo, Edlson,
Jos Nali e Carla e ao pessoal do laboratrio da ETE Barueri; Encarregado Francisco, Joo Paulo,
Marco Benzatti, Srgio, Benedito, Almiro e Ccero que me ajudaram na realizao dos ensaios
fsico-qumicos;
A todos os colegas e funcionrios da Escola Politcnica da USP com quem convivi;
Ao meu marido George e minha filha Meily, companheiros de muitas existncias;
E por ltimo quero expressar toda minha gratido e amor a minha me Neli, por todo o carinho
recebido, por toda dedicao e amor incondicional.
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i
RESUMO
O fsforo apontado como o principal responsvel pelo enriquecimento nutricional de
mananciais de abastecimento pblico, desencadeando por meio do fenmeno de eutrofizao, a
florao de grupos algais txicos e, portanto a sua remoo passa a ter grande significado para a
sade pblica e para o meio ambiente. O presente trabalho foi desenvolvido com os objetivos de:
avaliar a eficincia de remoo de fsforo do efluente de um sistema convencional de lodos
ativados (Estao de Tratamento de Esgotos de Barueri) pelo lodo de uma estao de tratamento
de gua, que utiliza sulfato de alumnio como coagulante (Estao de Tratamento de gua do
Alto Cotia) e verificar a influncia das seguintes variveis nesta remoo: tempo de permanncia
do lodo no decantador, dosagem de lodo, potencial zeta, teor de matria orgnica no lodo, pH da
mistura lodo/efluente e uso de polmero na coagulao/floculao da gua bruta. Para o
desenvolvimento prtico da pesquisa, foram realizados ensaios de jarros, variando as condies
operacionais, de tal forma a averiguar o efeito das variveis mencionadas anteriormente na
remoo do fsforo. Observou-se que esta remoo era dependente do pH; da dosagem de lodo;
do tempo de permanncia do mesmo no decantador; do tempo de mistura e da presena de
polmero. Independia do potencial zeta e do tempo de sedimentao. A mxima remoo obtida
foi de 100% (concentrao inicial de 2,9 mg P/L), em pH de 4,5, com dosagem de 37 mg lodo/L,
tempo de mistura de 15 minutos a 40 s-1 de gradiente, tempo de sedimentao de 30 minutos,
tempo de permanncia do lodo no decantador de 80 dias, sem polmero. Nestas condies, a
concentrao de fsforo do efluente tratado foi de 0,01mg P/L. Os resultados obtidos no presente
trabalho sinalizam uma alternativa tecnolgica, que pode vir a ser utilizada em projetos
sustentveis, em que as estaes de tratamento de esgotos e estaes de tratamento de gua sejam
planejadas de forma integrada, considerando o reaproveitamento e encaminhamento do lodo de
ETA como insumo a ser utilizado no fim do processo de tratamento de esgotos para remoo de
fsforo do efluente final, em consonncia com os conceitos de produo mais limpa na busca da
qualidade.
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ii
ABSTRACT
Phosphorus is considered as the main responsible for the nutritional enrichment of reservoirs of
public drinking water supplies, because eutrophication process has resulted in toxic algae blooms,
and therefore its removal has a great significance since these toxins represent a public health risk
and environment. The aim of this research work was to evaluate the efficiency of removal of
phosphate from activated sludge process (Barueri Wastewater Treatment Plant) by sludge from
water treatment plant that uses aluminum sulfate as coagulant (WTP Alto Cotia) and verify the
influence of following operational parameters in this removal: aging of sludge, sludge dose, zeta
potential, mixing time, sedimentation time, concentration of organic matter, pH and use of
polymer in coagulation/flocculation process. For the experimental research, the jar tests were
operated with different conditions. The removal of phosphate was dependent of pH, sludge dose,
aging of sludge, mixing time and presence of polymer. It was independent of zeta potential and
sedimentation time. It was verified that maximum efficiency of phosphate removal was around
100% (initial concentration = 2,9 mgP/L), in pH 4,5 with the use of 37 mg of sludge from Alto
Cotia Water Treatment Plant per liter of effluent from Barueri Wastewater Treatment Plant, with
a mixing time of 15 minutes at 40 s-1, 30 minutes for sedimentation time, 80 days for aging of
sludge, without polymer. Under these conditions it was obtained phosphate concentrations around
0,01mgP/L. Results obtained in this research work show a technological alternative, that can be
used in projects, that sewage and water treatment plants can be planned together, considering the
reuse and forwarding the water treatment plant sludge as beneficial use in the end of the sewage
treatment process for the phosphorus removal, in consonance with concepts of a cleaner
production practices in Environmental Management Systems.
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iii
NDICE
RESUMO i
ABSTRACT ii
INDICE iii
LISTA DE FIGURAS vii
LISTA DE TABELAS ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xi
1. INTRODUO 1
2. OBJETIVOS 5
3. REVISO DA LITERATURA 6
3.1 Principais Fontes de Fsforo 6
3.2 Especiao do Fsforo em Meio Aqutico 8
3.3 Conseqncias da Eutrofizao 9
3.4 Legislao Ambiental Sobre o Controle de Fsforo nas guas 13
3.4.1 Portaria Ms N518 de 25/03/2004 14
3.4.2 Resoluo Conama N 357, de 17/03/ 2005 14
3.4.3 Resoluo Conama N 359, de 29/04/ 2005 16
3.4.4 Padres Estaduais Brasileiros para Emisso de Fsforo 16
3.4.4.1 Lei N 997 do Estado de So Paulo de 31/05/1976 e
Decreto Estadual N 8.468 de 08/09/1976. 16
3.4.4.2 Lei N 5.793 do Estado de Santa Catarina de 15/10/1980 e
Decreto N 14.250 de 05/06/1981 17
3.4.4.3 Lei N 9.860 do Estado do Pernambuco de 12/08/1986. 17
3.4.5 Padres Internacionais de Emisso 18
3.5 Situao da RMSP quanto a Eutrofizao 20
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iv
3.6 Principais Formas de Remoo de Fsforo 27
3.6.1 Remoo biolgica 27
3.6.2 Remoo por processos fsico-qumicos 28
3.7 Caractersticas do Processo de Adsoro 30
3.7.1 Carga Superficial e Dupla Camada Eltrica 31
3.7.1.1 Foras Eletrostticas 34
3.7.1.1.1 Ionizao de Grupos Carboxlicos, Sulfonados, Silanicos
Entre Outros Presentes na Superfcie da Partcula 37
3.7.1.1.2 Imperfeies da Estrutura Cristalina da Partcula 37
3.7.1.2 Conceituao das Foras de Van der Waals 38
3.7.1.2.1 Conceituao do Potencial Zeta 42
3.7.1.2.2 Conceituao do Ponto de Carga Zero (Pcz) 43
3.7.1.3 Conceituao de Adsoro Mtua 45
3.7.1.4 Conceituao de Reaes e Hidratao 46
3.7.2 Qumica dos xidos Hidrxidos na Interface Slido- Lquido 47
3.7.2.1 Equilbrio cido Base 47
3.7.2.2 Formao de Complexos Superficiais com ons Metlicos 48
3.7.2.3 Troca de Ligantes com nions e cidos Fracos
Grupos Funcionais OH e OH2 + 49
3.7.2.4 Formao de Complexos Ternrios 49
3.8 O Potencial de Remoo de Fsforo com Lodos de ETAs 50
3.8.1 Utilizao do Lodo de ETA como medida de controle de eutrofizao
em reas agropastoris 50
3.8.2 Utilizao do Lodo de ETA na Recuperao de reas Degradadas como substitutivo
de Solos e/ou material de cobertura em obras de engenharia 52
3.8.3 Utilizao do Lodo de ETA para melhoria do crescimento de plantas 53
3.8.4 Remoo de Fsforo por disposio do Lodo de ETA no Tratamento de Esgotos 56
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v
4 MATERIAL E MTODOS 58
4.1 Planejamento da pesquisa 58
4.2 Caracterizao das unidades de tratamento estudadas 58
4.2.1 Caractersticas da ETE Barueri 59
4.2.1.1.1 Sntese do Processo de Tratamento da Fase Lquida 59
4.2.1.1.2 Sntese do Processo de Tratamento da Fase Slida 59
4.2.2 Caractersticas da ETA Alto Cotia 61
4.2.2.1 Breve Histrico da Bacia 61
4.2.2.2 Descrio da ETA Cotia 63
4.2.2.2.1 Dosagens de Sulfato de Alumnio 66
4.3 Caractersticas da gua Bruta 67
4.4 Coleta, Preservao e Caracterizao das Amostras do Lodo Gerado
na ETA Alto Cotia 68
4.4.1 Caracterizao Fsico-Qumica 68
4.4.2 Caracterizao Mineralgica 70
4.5 Coleta, Preservao e Caracterizao das Amostras de Efluente Final 71
4.6 Teores de Fsforo do Lodo da ETA do Alto Cotia 74
4.7 Variveis Intervenientes na remoo de fsforo pelo lodo de ETA e
Influncia do Potencial Zeta 74
4.7.1 Influncia das Cargas Eltricas das Partculas do Lodo da ETA
na Remoo de Fsforo 74
4.7.2 Influncia do Tempo de Permanncia do Lodo nos Decantadores da ETA sobre a
Remoo de Fsforo 76
4.7.3 Influncia do pH e do Tempo de Sed na Remoo de Fsforo 77
4.7.4 Influncia do pH e da Dosagem de Lodo na Remoo de Fsforo 77
4.7.5 Influncia do pH e do uso de Polmero na Coagulao/Floculao
da gua Bruta na Remoo de Fsforo 77
4.7.6 Influncia da Matria Orgnica na Remoo de Fsforo 78
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vi
5. RESULTADOS 79
5.1 Caractersticas da gua bruta 79
5.2 Caractersticas do Lodo Gerado na ETA -Alto Cotia 85
5.3 Caracterizao das Amostras de Efluente Final 89
5.4 Investigao de Ocorrncia de Adsoro de Fsforo da gua Bruta
Pelo Lodo Sedimentado nos Decantadores da Estao de Tratamento de gua 91
5.4.1 Procedimento de Lavagem dos Decantadores 91
5.4.2 Teor de fsforo do lodo da ETA Alto Cotia 92
5.5 - Variveis Intervenientes Na Remoo de Fsforo do Efluente da
ETE pelo Lodo da ETA 93
5.5.1 Influncia do Tempo de Permanncia do Lodo no Decantador 94
5.5.2 Influncia dos Tempos de Mistura e de Sedimentao 96
5.5.3 Influncia da Dosagem de Lodo 99
5.5.4 Influncia do Uso de Polmero Na Coagulao/Floculao da gua Bruta 101
5.5.5 Influncia do pH e das cargas eltricas das partculas de lodo 104
5.5.6 Influncia da Matria Orgnica na Adsoro de Fsforo 107
6. CONCLUSES E RECOMENDAES 109
7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 112
ANEXO I - ENSAIOS DE ADSORO POR TESTE DE JARROS 125
ANEXO II ENSAIOS DEPOTENCIAL ZETA 144
ANEXOIII DIFRATOGRAMA DAS AMOSTRAS DELODO DA ETA 146
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vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 3 1 Fotografia Area da represa Billings Brao do Rio Grande 10
Figura 3 2 Distribuio do potencial eltrico () na regio da dupla camada 33
Figura 3 3 Hidroxilao da superfcie dos minerais _ cargas dependentes de pH 38
Figura 3 4 Interao dipolo-dipolo 40
Figura 3 5 Dipolo-dipolo induzido 41
Figura 3 6 Representao esquemtica das foras de disperso 42
Figura 3 7 Estruturas de polmeros lineares e ramificadas 45
Figura 3 8 Representao esquemtica das pontes de hidrognio 47
Figura 3 9 Formao de complexos como uma funo do pH 48
Figura 4 1 Fotografia da vista area da ETE Barueri 63
Figura 4 2 Fluxograma esquemtico da ETE Barueri 64
Figura 4 3 Fotografia a montante da Barragem das Graas 65
Figura 4 4 Fotografia da vista area da ETA Alto Cotia 67
Figura 4 5 Corte esquemtico da ETA Alto Cotia 68
Figura 4 6 Fotografia da Limpeza Manual de um decantador da ETA alto Cotia 69
Figura 4 7 Fotografia do coletor de lodo 73
Figura 4 8 Desenho esquemtico dos pontos de amostragem da ETE Barueri 76
Figura 4 9 Fotografia do equipamento de jar test durante experimento 79
Figura 5 - 1 Teor de fsforo em funo do tempo de permanncia nos decantadores 92
Figura 5 - 2 Influncia do tempo de perm. do lodo em diferentes valores de pH 95
Figura 5 3 Influncia do pH em relao ao tempo de sedimentao Serie 1 97
Figura 5 4 Influncia do pH em relao ao tempo de sedimentao Serie 2 98
Figura 5 5 Influncia do Tempo de mistura 99
Figura 5 6 Influncia da dosagem do lodo 100
Figura 5 7 Influncia do polmero 103
Figura 5 - 8 Formao de complexos superficiais como uma funo do pH. 105
Figura 5 9 Comportamento das cargas eltricas ensaio numero 9 105
Figura 5 - 10 Comportamento das cargas eltricas ensaio numero 10 106
Figura 5 - 11 Comportamento das cargas eltricas ensaio numero 30 106
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viii
LISTA DE TABELAS
Tabela 3 - 1 Especiao do Fsforo em meio aquoso em funo do pH 09
Tabela 3 - 2 Parmetros de Controle de Eutrofizao 18
Tabela 3 - 3 Padres Internacionais de Lanamento de Fsforo 21
Tabela 3 - 4 Monitoramento dos parmetros que compem o IET
UGRHI 06 Bacia do Alto Tiete 23
Tabela 3 - 5 Monitoramento dos parmetros que compem o IET
UGRHI 10 Bacia do Mdio Tiet 26
Tabela 3 - 6 Comparao entre Adsoro Fsica e Qumica 35
Tabela 3 - 7 Coeficientes a e b da equao de van der Waals para alguns gases 39
Tabela 3 - 8 Valores de PCZ por ligaes ou dissociaes de prtons 43
Tabela 3 - 9 Propriedades fsico-qumicas de lodos e solos adequados ao crescimento de
plantas 55
Tabela 3 - 10 Caractersticas do afluente de lagoas aeradas e do efluente de lagoas de
sedimentao, com e sem dosagem de lodo de ETA 58
Tabela 4 - 1 Sntese do consumo mdio de produtos qumicos utilizado na ETA 70
Tabela 4 - 2 Mtodos analticos utilizados para caracterizao do efluente da ETE 72
Tabela 4 - 3 Mtodos analticos utilizados para caracterizao do lodo da ETA 75
Tabela 5 - 1 Resultado de qualidade das guas do sistema Alto Cotia 82
Tabela 5 - 2 Caractersticas fsico qumicas do lodo da ETA Alto Cotia 86
Tabela 5.- 3 Caractersticas fsico-qumicas de dois lodos da ETA Alto Cotia 88
Tabela 5.- 4 Eficincia de remoo de fsforo total na ETE Barueri 89
Tabela 5.- 5 Eficincia de remoo de DBO na ETE Barueri 89
Tabela 5 - 6 Composio dos esgotos afluente e tratados da ETE Barueri 90
Tabela 5.- 7 Datas das limpezas dos decantadores da ETA Alto Cotia 91
Tabela 5 - 8 Identificao dos melhores valores de pH 104
Tabela 5.- 9 Porcentagem de matria orgnica em lodos da ETA 107
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ix
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ABNT Associao Brasileira de Normas Tcnicas.
CETESB Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de So Paulo
CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientfico e Tecnolgico
CPRH Agncia Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos de Pernambuco
CTC Capacidade de troca de ctions
DBO Demanda Bioqumica de Oxignio
DQO Demanda Qumica de Oxignio
ETA Estao de Tratamento de gua
ETE Estao de Tratamento de Esgoto
IET ndice de Estado Trfico
MATC Diviso de Operao e Manuteno do Alto Cotia da Sabesp
MTTB Diviso de Operao e Manuteno da ETE Barueri da Sabesp
MTTI Diviso de Interceptao e Manuteno Oeste da Sabesp
OD Oxignio dissolvido
SABESP Companhia de Saneamento Bsico do Estado de So Paulo
Sl. Sed. Slidos Sedimentveis
ST Slidos Totais
SF Slidos Fixos
SV Slidos Volteis
SST Slidos em Suspenso Totais
SSF Slidos em Suspenso Fixos
SSV Slidos em Suspenso Volteis
SDT Slidos Dissolvidos Totais
SDF Slidos Dissolvidos Fixos
SDV Slidos Dissolvidos Volteis
TCCQ Diviso de Controle de Qualidade da Sabesp
USP Universidade de So Paulo
UGRHI Unidade de Gerenciamento de Recursos Hdricos
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1
1. INTRODUO
O crescimento desordenado da maioria das cidades brasileiras, em particular dos municpios
que compem as regies metropolitanas, gerou um acentuado desequilbrio ambiental, e mais
especificamente, uma multiplicidade de impactos nos recursos hdricos, devido ao lanamento
indiscriminado de poluentes ao longo das dcadas.
Recentemente, o homem vem tomando conscincia dos efeitos que o crescimento
desordenado traz e de sua interferncia negativa na sustentabilidade do planeta. Nesse
cenrio, profissionais da rea tecnolgica tm o privilgio de estar presenciando todas essas
mudanas como partcipes e agentes de transformao nas novas formas de relao entre os
seres humanos e destes com o ambiente.
A pergunta que se faz : qual o papel dos profissionais da rea tecnolgica no projeto e
construo de ambientes sustentveis? No que concerne aos sistemas de saneamento bsico,
h muito para ser feito e revisto.
No caso especfico da Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP), onde a maioria dos seus
mananciais encontra-se deteriorado, alm do enfrentamento de inmeros problemas
econmicos em funo da escassez de gua, agrava-se o fato de que as estaes de tratamento
de esgotos no foram projetadas para remoo de nutrientes, como nitrognio e fsforo, nem
mesmo aquelas que lanam montante de outras captaes ou em rea de proteo de
mananciais.
Ressalta-se o distanciamento existente entre as vrias esferas do poder pblico, dificultando
ainda mais as aes efetivas para o controle e recuperao dos recursos hdricos. Mesmo com
todos os avanos conseguidos com a Lei n 9.433/97 (BRASIL, 1997), rarssimas so as
bacias hidrogrficas que tm legislao sobre a necessidade de limitao de cargas de fsforo,
o que tem agravado a situao dos principais mananciais de abastecimento pblico de gua.
Alm disso, verifica-se que as prprias companhias de saneamento bsico, se por um lado,
cobram do poder pblico e da populao o comprometimento com a preservao do meio
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2
ambiente e dos mananciais de abastecimento de gua, por outro, ainda consideram prtica
comum lanar efluentes finais com altas concentraes de nutrientes e toneladas de lodos
provenientes do tratamento de gua in natura no corpo receptor mais prximo,
independentemente dos impactos ambientais decorrentes desta prtica.
Para agravar a situao, as estruturas fsicas existentes nos sistemas de tratamento de gua
remontam ao incio do sculo na maior parte das grandes estaes: sistemas de decantao
sem mecanismos de separao de lodo, de lavagens de filtros em circuitos abertos, remoo
manual de lodo e em funo disso, altos tempos de descarte, alto grau de desperdcio de gua
tratada durante a retirada do lodo, pois nesse processo, toda a gua potvel que se encontra
nos decantadores, descartada durante a limpeza.
No Estado de So Paulo, segundo a SABESP - Companhia de Saneamento Bsico do Estado
de So Paulo, na RMSP, das 08 estaes de tratamento de gua (ETAs) que compem o
Sistema Adutor Metropolitano, todas descartam em rios e crregos, os lodos gerados no
processo de tratamento de gua, contribuindo para o agravamento da qualidade dos
mananciais de abastecimento.
Esse cenrio retrata bem o descomprometimento do poder pblico com as questes
ambientais. No h dvidas de que a sustentabilidade das regies metropolitanas esteja
diretamente vinculada com a garantia e manuteno de fontes de gua, pois o
desenvolvimento econmico, a produo agrcola e todas as atividades humanas dependem da
disponibilidade hdrica e do acesso gua de qualidade adequada. Assim, o desenvolvimento
sustentvel, o grande desafio destes tempos, vem como a nica possibilidade de se resolverem
os conflitos metropolitanos.
A crescente eutrofizao dos recursos hdricos e a conseqente deteriorao da qualidade de
gua dos mananciais tm exigido o comprometimento de todos os atores envolvidos, e cabe
aos profissionais que interferem no espao fsico, o compromisso tico de questionar a
direo que se est seguindo, propor sugestes, delinear e projetar possveis novos caminhos.
Esta pesquisa levanta algumas questes referentes forma de gerenciar os sistemas de
saneamento e refora a importncia da viso sistmica sobre os processos de saneamento
bsico no contexto de produo mais limpa, pautada em princpios que visem ao
-
3
desenvolvimento humano, sua sobrevivncia para um destino mais harmnico e mais
igualitrio.
O caminho para o desenvolvimento sustentvel, definido segundo a Comisso Mundial Sobre
Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU, como a satisfao das necessidades do presente
sem comprometer a capacidade das futuras geraes de satisfazerem suas prprias
necessidades (BRUNDTLAND, 1991), o que possvel atravs da aplicao do conceito de
produo mais limpa; prioritariamente produzir, tendo compromisso ambiental, o que implica
na necessidade de gesto dos resduos resultantes dos processos, por meio de um conjunto de
atividades tcnicas, econmicas e administrativas.
Com base nesses conceitos, a remoo de fsforo de efluentes de estaes de tratamento de
esgotos deve ser avaliada luz de solues tecnolgicas e economicamente viveis para o
enfrentamento dos problemas ambientais, tanto em relao disposio adequada do lodo de
ETA como do lanamento de esgotos tratados.
Dessa forma, essa pesquisa teve por objetivo avaliar a possibilidade tcnica de utilizao de
lodo de ETA, para remover fsforo do efluente final de estaes de tratamento biolgico de
esgoto, e apresentar uma contribuio que possa vir a ser utilizada em projetos futuros, de
forma que esse subproduto das ETAs entre na estao de tratamento de esgotos no fim do
processo secundrio, como insumo para remoo de fsforo do efluente final, em consonncia
com os conceitos de produo mais limpa.
Para o desenvolvimento prtico desta pesquisa, utilizou-se o lodo da Estao de Tratamento
de gua do Alto Cotia, que utiliza sulfato de alumnio como coagulante, e o efluente da
estao de tratamento de esgoto (ETE) Barueri, localizadas na Regio Metropolitana de So
Paulo.
Os captulos foram estruturados da seguinte forma;
No Captulo 3, fez-se uma reviso bibliogrfica sobre a importncia da remoo do fsforo,
levantamento da legislao internacional e nacional relativos ao controle de fsforo, tanto no
corpo receptor, como padres de lanamento de efluentes nas reas urbanizadas. A seguir,
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4
avaliou-se o potencial de remoo de fsforo dos efluentes finais com o lodo de ETA e
apresentaram-se os mecanismos responsveis por esta remoo.
No Captulo 4, detalhou-se a metodologia de trabalho; no 5, so apresentados os resultados e
discusses dos ensaios de laboratrio. No Captulo 6, so indicadas as concluses e
recomendaes e no 7, listadas as referncias bibliogrficas consultadas para o
desenvolvimento deste estudo.
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5
2. OBJETIVOS
A presente pesquisa foi desenvolvida tendo por objetivos:
Avaliar a eficincia de remoo de fsforo do efluente de um sistema de tratamento biolgico de esgotos por lodos ativados convencionais pelo lodo de uma estao de
tratamento de gua, que utiliza sulfato de alumnio como coagulante;
Verificar a influncia das seguintes variveis nesta remoo: tempo de permanncia do lodo no decantador, potencial zeta, dosagem de lodo, teor de matria orgnica no lodo,
tempos de mistura e de sedimentao, pH da mistura lodo/efluente e uso de polmero
na coagulao/floculao da gua bruta.
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6
3. REVISO DA LITERATURA
A importncia da remoo de nutrientes no tratamento de esgotos fundamenta-se na proteo
qualidade das guas de rios e reservatrios. Os nutrientes, principalmente nitrognio e
fsforo, por constiturem-se em complemento nutricional usado pelos organismos aquticos,
so capazes de desencadear o fenmeno da eutrofizao, que o crescimento excessivo de
plantas aquticas e a proliferao de organismos com predominncia de grupos algais, com
graves conseqncias para o meio ambiente e sade pblica.
O fsforo considerado como o nutriente de maior importncia nos fenmenos de
eutrofizao e tm sido o foco de atenes para a melhoria da qualidade dos corpos dgua,
pois este elemento considerado fator limitante ao desencadeamento das floraes de algas,
uma vez que o fsforo, sendo fornecido por fontes identificveis, naturais ou artificiais
(lanamento de esgotos brutos, efluente de estaes de tratamento secundrio e pelo
escoamento superficial em reas agrcolas), pode melhor ser controlado, enquanto que o
nitrognio, como pode ser metabolizado pelas algas a partir do ar atmosfrico, de difcil
controle (van HAANDEL e MARAIS, 1999; BRANCO, 1986; ALM SOBRINHO, 1991).
VON SPERLING (1996) enfoca o processo de eutrofizao principalmente em lagos e
represas, mas salienta que ele pode ocorrer tambm em rios, embora seja menos freqente,
devido s condies ambientais serem mais desfavorveis para o crescimento de algas e
outras plantas, como turbidez e velocidades elevadas.
3.1. PRINCIPAIS FONTES DE FSFORO
As principais fontes de fsforo presentes em ecossistemas aquticos continentais tm origem
em fontes naturais e artificiais.
A quantidade de fsforo de fontes naturais no sistema aqutico depende diretamente do teor
presente nos minerais primrios de rochas da bacia de drenagem. Outras fontes naturais
importantes so as que provm do material particulado presente na atmosfera e o fsforo
resultante da decomposio de organismos de origem alctone (ESTEVES, 1998).
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7
As fontes artificiais de fsforo mais importantes so o esgoto domstico e a atividade
industrial (gua residuria e material particulado). Alm do esgoto bruto, o efluente tratado
tem um impacto forte no lanamento de nutrientes como nitrognio e fsforo, principalmente
na RMSP, pelo fato que as estaes foram projetadas para tratamento secundrio, ou seja, no
foi prevista a remoo de nutrientes.
Sendo assim, essas instalaes funcionam pela oxidao bacteriana da matria orgnica, que
reduz a carga orgnica, porm, esse processo oxida os principais elementos dos efluentes,
inclusive o nitrognio. Neste processo, parte do fsforo dos despejos removida por
incorporao no lodo biolgico, e outra parte pode ser encontrada na forma solubilizada e em
concentraes ainda bem elevadas nos efluentes das estaes.
Segundo vrias publicaes consultadas, importante ressaltar a distino existente entre as
fontes naturais e artificiais de eutrofizao, pois as artificiais, em regies notadamente
industrializadas e com elevada densidade populacional, so mais relevantes, em termos de
impactos negativos que provocam, do que as naturais. (ESTEVES, 1998; UNEP/IETC, 2001;)
A eutrofizao induzida por atividades humanas, acima de nveis naturais, conhecida como
eutrofizao cultural. As fontes naturais de nitrognio e fsforo derivam da reciclagem de
nutrientes e de processos biogeoqumicos, em que a fonte primria inclui nutrientes do solo e
da atmosfera.
A eutrofizao cultural constituda por duas vertentes importantes do ponto de vista
conceitual: a vertente de focos de poluio pontuais e a de focos de poluio difusos.
(UNEP/IETC, 2001)
As estaes de tratamento de esgotos so focos pontuais de nitrognio e fsforo, os quais
entram como soluto no meio lquido e por reaes qumicas se transformam, tanto na coluna
de gua como nos sedimentos, em sua forma solvel, tornando-se rapidamente assimilveis
para o desenvolvimento e a diversificao de plantas aquticas. Outros focos pontuais
importantes so as descargas industriais e atividades agropastoris, como por exemplo, as
unidades para a criao de animais confinados (UNEP/IETC, 2001).
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8
Os focos no pontuais ou difusos incluem a descarga direta de esgoto de fontes domsticas,
no ligadas s estaes de tratamento e que eventualmente chegam aos corpos hdricos; o
escoamento superficial e a lixiviao de fertilizantes, ricos em nitrognio e fsforo, aplicados
em reas agrcolas ou de silvicultura (UNEP/IETC, 2001).
Pela prpria concepo, verifica-se que os focos pontuais so os mais fceis de serem
identificados, segregados e controlados, principalmente as estaes de tratamento de esgotos e
as descargas industriais, quando comparadas com as fontes difusas, que representam uma
carga considervel e so, pela prpria dificuldade de identificao, segregao, quantificao
e monitoramento, mais difceis de serem controladas.
3.2 ESPECIAO DO FSFORO NO MEIO AQUTICO
Do ponto de vista limnolgico, todas as formas de fsforo so importantes, porm devido ao
fato de que apenas a parcela solvel encontra-se imediatamente disponvel para o crescimento
das plantas e algas, o fsforo solvel acaba tendo maior interesse limnolgico sobre outras
fraes.
O fsforo total corresponde soma do contedo de fsforo dissolvido, do fsforo no
disponvel e do fsforo incorporado ao fitoplncton. O fsforo solvel chega gua na forma
de ons inorgnicos (P04 3-, H2P04 -, HPO4 2-) e assume diferentes formas, em funo do pH do
meio, como mostra a Tabela 3-1.
Tabela 3.1 Especiao do fsforo no meio aquoso em funo do pH
Fonte: ESTEVES (1998)
pH % H3PO4 % H2PO4- %HPO42- %PO43-
4,0 0,9 99,0 0,2 7X10-10
5,0 0,1 98,0 2,0 7X10-8
6,0 8X10-3 82,0 18,0 6X10-6
7,0 3X10-4 33,0 67,0 2X10-4
8,0 4X10-6 3,0 97,0 2X10-3
9,0 5X10-8 0,5 99,5 4X10-2
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A ttulo ilustrativo, pode-se comparar as formas de fsforo presentes nos efluentes de duas
estaes de tratamento de esgotos na RMSP: ETEs Salespolis (efluente com pH maior que
7,0) e Barueri (efluente com pH entre 6,5 e 7,0). Assim, no efluente da primeira predomina a
forma HPO42-, enquanto que no da segunda, H2PO4- e HPO42-.
3.3 CONSEQUNCIAS DA EUTROFIZAO
As conseqncias da eutrofizao, para as empresas de saneamento bsico, resultam em
elevados custos operacionais, tanto para a adequao da gua de abastecimento como para a
resoluo de problemas operacionais nas ETAs, decorrentes das floraes de algas.
Alguns problemas operacionais detectados na operao de tratamento de guas de mananciais
eutrofizados referem-se a maior ocorrncia de entupimento dos filtros e a conseqente
necessidade de aumento de lavagens; a necessidade de utilizao de carvo ativado para
remoo de gosto e odor; pr-clorao devido s maiores concentraes de matria orgnica,
o que leva formao de compostos precursores de THMs - uma sria ameaa sade
pblica, por suas caractersticas carcinognicas.
Segundo Agujaro (2002), os problemas desencadeados com a eutrofizao dos corpos
hdricos pelo lanamento de nutrientes, levam proliferao e predominncia de grupos algais
txicos, como o das cianobactrias. Apresenta-se na Figura 3-1 uma foto ilustrativa de um
trecho da represa Billings eutrofizado.
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Figura 3-1 Foto Area da Represa Billings _Brao do Rio Grande
O problema torna-se especialmente preocupante, em face da potencialidade de produo e
liberao de substncias txicas destes organismos ao meio, com graves conseqncias para o
meio ambiente e sade pblica.
Algumas destas cianotoxinas ocasionam a morte de mamferos por parada respiratria aps
poucos minutos de exposio, e tm sido identificadas como alcalides ou organofosforados
neurotxicos. Outras atuam com menor velocidade e so identificadas como peptdeos ou
alcalides hepatotxicos (CRUZ et al, 2002). Estas toxinas so de difcil remoo e por sua
caracterstica de persistncia, podem estar presentes na gua mesmo aps tratamento, o que
pode agravar seus efeitos crnicos, reduzindo a qualidade e as possibilidades de usos
(MORITA, 2004).
Segundo Lorenzi (2004), existem muitos registros de intoxicao em populaes humanas
devido exposio s toxinas de cianobactrias, porm, o primeiro registro mundial de
envenenamento fatal em humanos ocorreu em fevereiro de 1996, no Hospital de Caruaru
(PE), aonde mais de 60 pacientes vieram a falecer em um centro de hemodilise, devido
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contaminao da gua por microcistina. A eutrofizao tambm afeta o ndice de Proteo da
Vida Aqutica (IVA), no s por meio do ndice de estado trfico, mas tambm atravs da
toxicidade, a qual detectada em floraes de cianobactrias ou quando da aplicao de
sulfato de cobre (LAMPARELLI, 2004).
A literatura rica em estudos de casos que evidenciam os impactos negativos da eutrofizao
sade pblica e ao meio ambiente (BRANCO, 1986; VON SPERLING, 1996; MAASDAM,
et al 1998; MOSS, 1998; HOSPER, 1998; REEDERS et al, 1998; VAN DUI et al,1998;
GONALVES et al, 2000; BEIRUTH, 2000; AGUJARO, 2002; CRUZ et.al, 2002;
TUNDISI, 2005). Relacionam se, a seguir, os principais:
Maior dificuldade e elevao nos custos de tratamento de gua. A presena excessiva de algas afeta substancialmente o tratamento de gua, devido necessidade de
remoo da prpria alga, remoo de cor, sabor e odor; maior consumo de produtos
qumicos, principalmente para guas de resfriamento e caldeiras; e problemas com
entupimentos e lavagens mais freqentes dos filtros;
Impactos scio-econmicos: problemas com o abastecimento de guas industriais, por elevao dos custos de tratamento, impelem a migrao de indstrias e retraem o
desenvolvimento de atividades econmicas, resultando em reduo da capacidade de
gerar e ampliar empregos; desvalorizao imobiliria devido perda do valor esttico
e turstico da regio;
Florescimento de algas e crescimento incontrolvel de outras plantas aquticas;
Toxicidade das algas: rejeio da gua para abastecimento humano e animal, em razo da presena de secrees txicas por certas algas da espcie cianofcea;
Modificaes na qualidade e quantidade de peixes de valor comercial;
Reduo na navegao e capacidade de transporte: mesmo quando os mananciais eutrofizados so utilizados apenas para usos menos nobres, como hidroeltricas e
navegao, os riscos potenciais da eutrofizao recaem principalmente sobre a
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interferncia de macrfitas ou do crescimento de algas sobre as condies
operacionais, tais como o impedimento navegao, paradas para desobstruo de
equipamentos, grades e canais. O crescimento de plantas aquticas como o aguap
(Eichhornia crassipes), o alface de gua (Pistia stratiotes) e outras relatadas na
literatura (VON SPERLING, 1996; VELINI et al, 2002; TUNDISI, 2005) interfere na
navegao, bloqueia canais e obstrui grades de sistemas de captao e proteo de
turbinas. Alguns reservatrios j tm sua eficincia comprometida, como a de
Americana, cuja rea total infestada com plantas aquticas era de 191 ha em junho de
2001, tendo sido constatado crescimento mdio mensal de 2,27% (VELINI et al,
2002). Merece destaque tambm, pela magnitude dos impactos negativos, o caso da
hidreltrica de Jupi, que em alguns meses do ano, precisa ter a operao interrompida
por causa da obstruo das grades de proteo das turbinas por grandes massas de
Egeria densa e Egeria najas, conforme relatado por Tanaka (1998) apud Velini et al.
(2002);
Depleo de oxignio, particularmente durante o outono, nas camadas mais profundas, de lagos e reservatrios de regies temperadas, que causa a morte de peixes e de
invertebrados por anoxia (ausncia de oxignio dissolvido) e tambm resulta na
liberao de gases txicos com odores desagradveis;
Altas concentraes de matria orgnica, as quais, se tratadas com cloro, podem produzir compostos carcinognicos;
Menor nmero de espcies e diversidade de plantas e animais (biodiversidade) e alteraes na composio de espcies daquelas mais importantes para as menos
importantes (em termos econmicos e valor protico);
Diminuio da produo de peixes, causada por depleo significativa de oxignio na coluna de gua e nas camadas mais profundas de lagos e reservatrios;
Problemas estticos e recreacionais: deteriorao do valor recreativo de um lago ou de um reservatrio, devido diminuio da transparncia da gua; minimizao do uso da
gua para recreao, balneabilidade e reduo geral na atrao turstica, devido a
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freqentes floraes de algas; crescimento excessivo da vegetao; distrbios com
mosquitos e insetos; eventuais maus odores principalmente pelo gs sulfdrico, que
causa tambm problemas de toxicidade e de eventuais mortandades de peixes;
Condies anaerbias no fundo do corpo dgua: o aumento da produtividade do corpo
dgua causa elevao da concentrao de bactrias heterotrficas, que se alimentam da
matria orgnica das algas e de outros microrganismos mortos, consumindo oxignio
dissolvido do meio lquido. No fundo do corpo de gua, predominam condies
anaerbias, devido sedimentao da matria orgnica e reduzida penetrao de
oxignio a estas profundidades, bem como ausncia de fotossntese (ausncia de luz).
Com a anaerobiose, predominam condies redutoras, com compostos e elementos no
estado reduzido: o ferro e o mangans encontram-se na forma solvel, trazendo
problemas ao abastecimento de gua, representando uma fonte interna de fsforo para
as algas (VON SPERLING, 1996);
Eventuais condies anaerbias no corpo dgua como um todo: dependendo do grau de crescimento bacteriano, podem ocorrer, em perodos de mistura total da massa
lquida (inverso trmica) ou de ausncia de fotossntese (perodo noturno),
mortandade de peixes e reintroduo dos compostos reduzidos em toda a massa
lquida, com grande deteriorao da qualidade da gua.
De acordo com o centro internacional de tecnologia ambiental, IETC - International
Environmental Technology Centre, da UNEP (2001), rgo que est a frente dos assuntos
ambientais da ONU Organizao das Naes Unidas, o problema de eutrofizao dos lagos
e reservatrios est aumentando em todo o mundo, e de acordo com as estimativas
populacionais feitas pelas Naes Unidas, ainda neste sculo, metade da populao mundial
dever estar morando em reas urbanas, enfatizando a necessidade de se desenvolver uma
abordagem holstica e multissetorial para equacionar problemas ambientais desta natureza.
3.4. LEGISLAO AMBIENTAL SOBRE O CONTROLE DE FSFORO NAS
AGUAS
Considerando-se a importncia sanitria do controle de fsforo nas guas de abastecimento,
por suas implicaes na sade pblica e no meio ambiente, verificou-se nesse estudo que o
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conjunto de leis brasileiras que contempla este parmetro considerado insuficiente para a
proteo e a recuperao dos Recursos Hdricos no Brasil.
No mbito federal, houve um significativo avano com a Lei Federal n. 9433/97, que
estabeleceu a Poltica Nacional de Recursos Hdricos (BRASIL, 1997), que entre as
inovaes, se destacam a adoo do conceito de bacia hidrogrfica como unidade de gesto
dos recursos hdricos; a valorizao dos mltiplos usos da gua, tais como saneamento bsico,
transporte e irrigao - e o reconhecimento da gua enquanto valor econmico.
A primeira lei sobre o assunto, o Cdigo de guas, de 1934, priorizava a utilizao dos rios
brasileiros para a produo de energia eltrica. Nos perodos subseqentes, a nfase foi dada
aos planos de grandes sistemas e construo de grandes empreendimentos hidroeltricos.
Entre as dcadas de 1950 a 1980, a deteriorao dos principais cursos de gua que cortam a
RMSP, atingiu seus nveis mais elevados de degradao. desta poca que se contabilizam
inmeras perdas, algumas praticamente definitivas, tais como a destruio de importantes
recursos hdricos paulistas, como, por exemplo, a Bacia do Tamanduate, Bacia do Alto Tiete
- Zona Metropolitana, Bacia do Ipiranga, Pinheiros, entre outros, que vo demandar ainda
muitos esforos de recuperao, principalmente por parte das futuras geraes (ISO, 2004).
As conseqncias dessa postura de no valorizao da gua como bem precioso e limitado,
ainda se mantm nos dias de hoje, e suas conseqncias so bem conhecidas: a deteriorao
da qualidade de gua dos principais mananciais de abastecimento pblico da RMSP, como os
Reservatrios Guarapiranga e Billings e seus afluentes, assim como os inmeros problemas
ambientais e de sade pblica que envolve esta questo. No mbito jurdico, a importncia do
controle de fsforo contemplada por meio das seguintes normas legais:
3.4.1 PORTARIA MS N518, DE 25/03/2004.
Esta portaria trata do Controle e Vigilncia da Qualidade da gua para Consumo Humano e
substituiu a Portaria MS n1.469/2000. Exige o monitoramento de cianobactrias nas
captaes e a anlise de suas toxinas, estabelecendo limites mximos aceitveis (BRASIL,
2004).
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3.4.2 RESOLUO CONAMA N 357, DE 17/03/2005.
Esta resoluo classifica os corpos de gua e estabelece os padres de qualidade dos mesmos
de modo a assegurar seus usos preponderantes. importante ressaltar que no foram
definidos padres de qualidade para o fsforo em corpos receptores enquadrados como Classe
4. Em relao emisso de efluentes, quanto a este parmetro, a Resoluo CONAMA, por se
tratar de legislao de mbito federal, cumpre com seu papel ao no definir limites de padres
de emisso, e sim, indicar diretrizes de gesto, deixando o papel de detalhar os padres de
emisso para os nveis mais locais, conforme trecho transcrito a seguir: ...no podendo os
efluentes conferir ao corpo receptor caractersticas em descordo com o seu enquadramento
nesta resoluo (BRASIL, 2005).
Nesta reviso, houve um avano significativo em relao ao controle de fsforo com relao
proteo dos recursos hdricos, em comparao com a verso anterior, Resoluo CONAMA
n. 020, pois nessa atualizao, o estabelecimento de limites de fsforo foi diferenciado em
funo das condies hidrodinmicas, para cada classe de rio, conforme apresentado a seguir,
na Tabela 3-2.
Tabela 3 - 2 - Parmetros de controle de eutrofizao
CLASSE 1 CLASSE 2 CLASSE 3
PARMETROS
CONCENTRAES MXIMAS
Fsforo total (ambiente lntico) 0,020 mg P/L 0,03 mg P/L 0,05 mgP/L
Fsforo total (ambientes
intermedirios, com tempo de
residncia entre 2 e 40 dias, e
tributrios de ambiente lntico)
0,025 mg P/L 0,05 mg P/L 0,075 mg P/L
Fsforo total (ambiente ltico) 0,1 mg P/L 0,1 mg P/L 0,15 mg P/L
Clorofila 10 g/L 30 g/L 60 g/L Densidade de cianobactrias 20.000 cel/mL
ou 2 mm3/mL
50.000 cel/mL
ou 5 mm3/mL
100.000000 cel/mL
ou 10 mm3/mL
Fonte: Brasil, 2005
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3.4.3 RESOLUO CONAMA N 359, DE 29/04/05.
Esta resoluo estabelece os critrios para a utilizao de fsforo na formulao de
detergentes em p para o uso no mercado nacional, visando a reduo e eventual eliminao
deste elemento nessas fontes e conseqente minimizao do seu aporte nos corpos de gua
(BRASIL, 2005).
Desde 1985, na Europa, pases como a Alemanha e Sua baniram a utilizao do STPP
(tripolifosfato de sdio) na produo de detergentes em p.
Destaca-se que o uso de zelita em substituio ao STPP recomendado pela Diretiva
Ambiental da Comunidade Europia, documento de Junho de 2002 (BEVILACQUA, 2006).
3.4.4 PADRES ESTADUAIS BRASILEIROS PARA EMISSO DE FSFORO
Apesar da gravidade da situao de eutrofizao dos recursos hdricos brasileiros, a maioria
dos estados no tem legislao para controle do lanamento de fsforo.
So apresentadas, a seguir, algumas consideraes sobre a legislao ambiental do Estado de
So Paulo. Em seguida, so mencionados dois exemplos de estados brasileiros, um ao Sul e o
outro no Nordeste, em que o poder pblico institucionalizou aes voltadas proteo dos
recursos hdricos.
3.4.4.1 LEI N 997 DO ESTADO DE SO PAULO DE 31/05/1976 E DECRETO N.
8.468 DE 08/09/1976.
Esta lei dispe sobre o controle da poluio sobre o meio ambiente no Estado de So Paulo.
Foi regulamentada atravs do Decreto n. 8.468 de 08/09/1976, que define o tipo de despejo
que poder ser lanado nos corpos dgua, de forma a no sofrerem alteraes de suas
caractersticas e classificao. Est em vigor desde 1976, sem nunca ter sofrido nenhum tipo
de alterao significativa, em quase trs dcadas de vigncia.
Embora a maioria dos corpos dgua das bacias hidrogrficas monitoradas no Estado de So
Paulo pela CETESB tenha apresentado elevadas concentraes de fsforo e de clorofila-a,
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acima dos padres de qualidade de gua, estabelecidos pela Resoluo CONAMA 357/05,
indicando eutrofizao dos mananciais, a legislao paulista no estabelece padro de emisso
de fsforo.
Para agravar ainda mais o quadro dos recursos hdricos no Estado de So Paulo, todas as
estaes de tratamento de esgotos da RMSP foram projetadas para tratamento secundrio, ou
seja, no foi prevista a remoo de nutrientes, nem mesmo para estaes localizadas em rea
de Proteo de Mananciais APM.
O que se verifica em relao aos aspectos legais e institucionais que o poder pblico do
Estado de So Paulo no reconhece a situao catica em que os recursos hdricos se
encontram, diferentemente de outros estados brasileiros, exemplificados a seguir, como o
Estado de Santa Catarina e o de Pernambuco.
3.4.4.2 LEI N 5.793 DO ESTADO DE SANTA CATARINA DE 15/10/1980 E
DECRETO N 14.250 DE 05/06/1981.
Foi definido no Artigo 19 dos Padres de Emisso de Efluentes Lquidos, item VIII, que nos
lanamentos em trecho de corpos de gua contribuintes de lagoas, lagunas e esturios, sero
observados os limites mximos:
Fsforo total: 1,0 mg P/L;
Nitrognio total: 10 mg N/L;
Ferro Total: 15 mg Fe/L.
3.4.4.3 LEI N 9.860 DO ESTADO DO PERNAMBUCO DE 12/08/1986.
A posio do Estado de Pernambuco, atravs do Artigo 21 da Lei N. 9.860 de 12/08/1986,
a de repassar a atribuio de definio das cargas mximas, sua alocao e os limites
mximos de concentrao de fsforo para lanamento em mananciais com tendncia
eutrofizao, CPRH - Agncia Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hdricos.
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Verifica-se nessa determinao, a preocupao do poder pblico estadual em obter limites
apropriados quela realidade, definidos a partir da considerao das cargas afluentes, e de
forma local, apropriado realidade de cada Bacia Hidrogrfica, utilizando-se efetivamente
dos dispositivos legais conquistados com a Lei N 9.433/97.
3.4.5 PADRES INTERNACIONAIS DE EMISSO
Na maioria dos pases em que foram definidos padres de lanamento de fsforo em corpos
receptores, estes foram baseados no conceito de limite local e o gerenciamento do reservatrio
incorpora a carga anual mxima total (GALARNEAU e GEHR, 1999; EPA, 2004).
Por essa metodologia, as cargas mximas que um manancial pode receber, sem
comprometimento de sua capacidade suporte, so calculadas e depois distribudas entre os
principais contribuintes, geralmente entre ETEs e reas agrcolas. De uma forma geral, para
atender as exigncias de tratamento de esgotos, so necessrios tratamentos tercirios, atravs
da adio de produtos qumicos, para alcanar padres abaixo de 1,0 mg P/L. Nas regies
mais crticas, onde os limites so inferiores a 0,5 mg P/L, so necessrios sistemas de filtrao
do efluente final aps o tratamento fsico qumico (SEDLAK et al, 2001).
Nos Estados Unidos, o levantamento nacional sobre qualidade de guas de 1996 (EPA, 1996)
aponta os nutrientes nitrognio e fsforo como uma das principais causas de deteriorao de
rios, lagos e reservatrios. Por esse motivo, atualmente, naquele pas, alm de se
desenvolverem estudos para a determinao de limites locais a partir da carga mssica
permitida de nutrientes para os diferentes ambientes, foram estabelecidos novos critrios de
qualidade de guas para nitrognio, fsforo e clorofila-a (LAMPARELLI, 2004).
Sem pretender esgotar o assunto, foram selecionados alguns exemplos internacionais,
mostrados na Tabela 3-3, de padres de emisso para lanamento de fsforo em corpos
receptores, que ilustram bem a aplicao do conceito de se atrelar esses padres vazo do
efluente final ou populao de projeto (carga mssica). Por esse motivo, a Tabela 3-3
mostra, para uma mesma regio, vrios padres de lanamento, pois foram definidos em
funo da capacidade de suporte local.
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Tabela 3-3 Padres internacionais de lanamento de fsforo em corpos receptores
PAS
ESTADO
PADRES DE
LANAMENTO
Nova Iorque 1,0 mg/L at 2 L/s
0,5 mg/L de 2 L/s a 20 L/s
0,2 mg/L > 20 L/s
Grandes Lagos 1,0 mg P/L
Florida 1,0 mg P/L
Estado da Pensilvnia 2,0 mg P/L
Reno Sparks / Nevada 0,4 mg P/L
Lago Tahoe 1,0 mg P/L
EUA
Bacia Hidrogrfica do Rio
Bear/ Alabama
1,0 mg P/L
Obs: A carga mxima de
fsforo, fixada para a bacia
foi de 2,4 t/d, valor a ser
dividido por todas as ETES
inseridas na regio.
SUA
Geral
1,0 ou 85% de remoo
para descarte em lagos
SUCIA
Geral
1,0 mg P/L
EUROPA
Geral
(Diretiva Europia)
At 2 mg P/L equivalente
populacional entre 10.000
a 100.000 hab.
1 mg/L > 100.000 hab.
Fonte: SEDLAK et al. (2001)
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3.5 SITUAO DA RMSP QUANTO EUTROFIZAO
No caso especfico da Regio Metropolitana de So Paulo (RMSP), a questo da eutrofizao
causa grandes impactos negativos ecolgicos, de sade pblica, ambientais e econmicos,
devido deteriorao de seus principais mananciais, em uma regio, que por estar totalmente
inserida na cabeceira do Rio Tiet, se caracteriza por apresentar baixssima disponibilidade
hdrica para as propores metropolitanas.
Segundo PORTO (2003), o consumo total de gua da bacia do Alto Tiet excede em muito
sua prpria produo hdrica, caracterizando-a como uma regio de forte escassez de gua.
Para atender o abastecimento de gua da RMSP constituda por uma populao estimada em
torno de 20 milhes de habitantes, foram necessrios sistemas estruturais de transposio de
bacias, tanto do interior do Estado (importao de gua da cabeceira do Rio Piracicaba) como
interestaduais (Minas Gerais), alm de outros procedimentos emergenciais, como a adoo do
sistema de rodzio em pocas de estiagem, como forma de manter a eqidade no
abastecimento pblico.
De acordo com a SABESP, a produo de gua para abastecimento pblico na RMSP de
63,1 m3/s, dos quais 31,0 m3/s so importados da Bacia do Rio Piracicaba, localizada ao norte
da Bacia do Alto Tiet, 2,0 m3/s so provenientes de reverses menores dos rios Capivari e
Guaratuba e que corresponde ao atendimento de 99% da populao (PORTO, 2003).
Em relao qualidade de gua dos reservatrios de abastecimento pblico, segundo o
monitoramento realizado pela Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado
de So Paulo, nos ltimos quatro anos (CETESB, 2002, 2003, 2004, 2005) foram constatadas
concentraes de clorofila-a e fsforo total acima dos limites estabelecidos pela Resoluo n 357 do CONAMA (BRASIL, 2005), indicando elevado nvel de eutrofizao.
Destes princpios fundamentais, avalia-se o distanciamento existente entre as vrias esferas de
poder, pois apesar da escassez e do alto grau de deteriorao e eutrofizao dos mananciais do
Estado de So Paulo, constatado anualmente, as estaes de tratamento de esgotos da RMSP
no foram projetadas para a remoo de nutrientes, nem mesmo as que lanam em rea de
Proteo e Recuperao de Mananciais APRM. Para exemplificar, pode-se citar as ETEs
Biritiba Mirim e Salespolis, que lanam seus efluentes tratados em trecho de rio enquadrado
-
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como Classe 2, ambas localizadas montante dos principais reservatrios de abastecimento
pblico, Jundia e Taiaupeba, pertencentes a UGRHI 6 - ALTO TIET, e que no esto
sujeitas a nenhuma restrio legal em relao descarga de fsforo.
Para agravar ainda mais a situao dos recursos hdricos na RMSP, das 08 estaes de
tratamento de gua que compem o Sistema Adutor Metropolitano, todas descartam em rios e
crregos, o lodo gerado no processo de tratamento de gua.
Apesar de todos estes impactos negativos montante dos reservatrios de Taiaupeba e
Jundia (pertencentes a cabeceira do rio Tiet), a CETESB Companhia de Tecnologia
Ambiental do Estado de So Paulo no tem nenhum ponto de monitoramento prximo ao
lanamento dos efluentes finais para avaliao dessas cargas. Esta uma grande lacuna do
monitoramento, pois o efetivo gerenciamento s se torna possvel a partir do conhecimento do
que lanado, e do quanto lanado.
Na TABELA 3-4, so mostrados os resultados do primeiro ponto da rede de monitoramento
da CETESB, aps o lanamento da ETE Salespolis, ponto TIET -02050, localizado a jusante
da barragem de Ponte Nova, na regio de cabeceiras do Rio Tiet.
Tabela 3-4 - Monitoramento dos parmetros que compem o IET UGRHI 06 Bacia do
Alto Tiet - zona cabeceiras.
FSFORO CLOROFILA-a
Ponto de
Monitoramento da
Rede da CETESB
Mdia dos
ltimos dez anos
(1993 a 2004)
Concentrao
mdia
ano 2004
Mdia dos
ltimos dez anos
(1993 a 2004)
Concentrao
mdia
ano 2004
TIET 02050 0,105 mg/L 0,047 mg/L 1,53 g/L 2,16 g/L
CONAMA 357/2005 0,020 mg/L 10 g/L
Fonte: CETESB, 2005.
Dos resultados apresentados na tabela 3-4, observa-se que a mdia das concentraes de
fsforo dos ltimos dez anos apresenta-se em patamares em torno de 50 vezes maiores que o
limite estabelecido pela Resoluo CONAMA 357/05, e apesar da mdia de 2004 apresentar-
-
22
se razoavelmente inferior a mdia dos ltimos dez anos, esse resultado no foi devido a
melhorias na Bacia, mas pela necessidade de utilizao de produtos qumicos no manancial
para o controle das algas, e que acabam precipitando o fsforo para o sedimento, diminuindo
sua concentrao na coluna de gua. Tambm foram verificadas concentraes de clorofila-a
abaixo do limite estabelecido pelo CONAMA, em funo destas intervenes. Ainda assim,
as concentraes em 2004 j se apresentam 40% mais altas que a mdia dos ltimos dez anos.
Os impactos negativos dessa prtica devem ser considerados e mensurados, pois neste caso,
tem se verificado que o fsforo tem ficado adsorvido nos sedimentos, e como conseqncia
direta das transformaes deste elemento, este assimilado principalmente na forma de
fsforo solvel e liberado para o meio tambm desta forma, atravs da hidrlise de
compostos orgnicos excretados pelos microrganismos.
Como principal conseqncia dessa dinmica de ressolubilizao, ocorre o enriquecimento
nutricional e a elevao dos nveis de eutrofizao. Para evidenciar mais ainda estas questes,
o rgo ambiental paulista verificou, atravs das anlises de gua dos interstcios dos
sedimentos, a ocorrncia de liberao de fsforo deste compartimento para a coluna dgua no
reservatrio de Taiaupeba, problema que foi alertado no captulo de concluses do Relatrio
de Qualidade de guas Interiores do Estado de So Paulo da CETESB (2005). Tambm
foram identificadas toxinas do grupo peptdeos cclicos Microcistina da Microcystis sp e a
toxina do grupo alcalide, cylindrospermopsinas da espcie Cylindrospermopsis sp, algas
consideradas potencialmente txicas pela literatura.
As transformaes qumicas que ocorrem com o fsforo representam importante papel no
entendimento de ecossistemas aquticos, sendo esse um aspecto fundamental sobre a
importncia do controle do fsforo. Esse acmulo de fsforo nos sedimentos, segundo Arajo
(2002), dificulta a recuperao de um ambiente aqutico, mesmo aps o corte de aporte
externo de nutrientes.
Por outro lado, a ETE Barueri, maior estao de tratamento de esgotos do Brasil, com
capacidade nominal de 9,5 m3/s e previso de ampliao para 12,5 m3/s at 2007, descarrega 2
toneladas de fsforo por dia no Rio Tiete, a montante da Bacia do Mdio Tiet, em trecho
enquadrado como Classe 4, portanto no sujeito a nenhuma restrio legal, nem em relao a
padres de qualidade e nem de emisso de fsforo, independente dos impactos ambientais que
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essa prtica possa causar ao meio ambiente e sade das populaes, que se encontram em
municpios situados jusante do lanamento.
Por todas estas consideraes, o impacto negativo dessas cargas de fsforo nos corpos de gua
preocupante e exige por parte do poder pblico medidas de controle e de monitoramento,
independente de estar ou no na legislao.
Para exemplificar melhor o que essa carga de fsforo representa, ela corresponde ao impacto
equivalente aos despejos dirios, sem tratamento, de uma cidade de 1 milho de habitantes.
Na Tabela 3-5 so mostrados os resultados do monitoramento dos parmetros de controle de
eutrofizao; clorofila-a e fsforo total, do ponto de amostragem TIBT 02500, localizado no
trecho inicial do Mdio Tiet, onde tem sido constatado que um dos principais problemas da
Bacia Hidrogrfica - URGHI-10 refere-se ao estado trfico do reservatrio Barra Bonita, em
conseqncia das elevadas cargas de fsforo provenientes do Rio Tiet.
Tabela 3-5 - Monitoramento dos parmetros que compem o IET UGRHI 10
Bacia do Mdio Tiet.
Fsforo Clorofila-a
Ponto de
Monitoramento da
Rede da CETESB
Mdia dos
ltimos dez anos
(1993 a 2004)
Concentrao
mdia
ano 2004
Mdia dos
ltimos dez anos
(1993 a 2004)
Concentrao
mdia
ano 2004
TIBT 2500 0,288 mg/L 0,596 mg/L 43,45 g/L 47,47 g/L
CONAMA 357/2005 Faixas de transio de ambientes intermedirios a lticos, para corpos
de gua tributrios de ambiente lntico
Classe 1 0,0025 a 0,05 10 g/L
Classe 2 0,05 a 0,10 30 g/L
Classe 3 0,075 a 0,15 60 g/L
Fonte:CETESB, 2005.
Os resultados obtidos pela CETESB mostram que este ponto, TIBT 2500, foi o que
apresentou a maior concentrao de nutrientes de toda a rede de monitoramento da Bacia
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Hidrogrfica do Mdio Tiet, no se enquadrando em nenhuma das classificaes do IET.
Fica muito claro que essa condio provm do fato de que a Bacia do Mdio Tiet recebe a
montante, elevadas cargas de fsforo provenientes da RMSP, especificamente da URGHI
06, Bacia do Alto Tiet Zona Metropolitana
Nesse ponto, importante ressaltar uma outra lacuna sentida no programa de gerenciamento
dos mananciais da RMSP: a falta de objetividade na identificao e quantificao dos
principais contribuintes pontuais, que impactam fortemente os mananciais com elevada carga
de fsforo. Nesse trecho, por exemplo, que conta com toda a contribuio de vrios
municpios que lanam no Rio Tiet, os esgotos domsticos sem nenhum tratamento, como
por exemplo, o prprio municpio de Barueri, alm de Santana de Parnaba e Itapevi, apenas
para citar os do entorno da estao, no h nenhuma referncia quali-quantitativa do que
representa esse impacto no manancial, nos relatrios de monitoramento da CETESB
(CETESB, 2003, 2004, e 2005).
3.6. PRINCIPAIS FORMAS DE REMOO DE FSFORO
A remoo de fsforo classificada como processo tercirio, que definido como o
tratamento, que alm da remoo dos slidos sedimentveis (tratamento primrio) e do
material solvel (tratamento secundrio), tambm prev a remoo dos nutrientes nitrognio e
fsforo (van HAANDEL e MARAIS, 1999).
Com relao ao tratamento dos esgotos com remoo de fsforo, esta pode ser efetuada por
meio de processos biolgicos e/ou fsico-qumicos.
3.6.1 REMOO BIOLGICA
A remoo de fsforo no tratamento de esgotos por meio de processos biolgicos foi
desenvolvida h cerca de duas dcadas, estando hoje bastante consolidada.
O processo baseia-se na alternncia entre condies aerbias e anaerbias, situao que faz
com que um determinado grupo de bactrias assimile uma quantidade de fsforo superior
requerida para os processos metablicos usuais. Ao se retirar estas bactrias do sistema, est
se retirando, em decorrncia, o fsforo absorvido pelas mesmas.
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Nas ultimas dcadas, muitos pesquisadores contriburam para elucidar os mecanismos de
remoo de fsforo em sistemas biolgicos de tratamento e a partir deste conhecimento,
foram desenvolvidos projetos com diferentes configuraes, de forma a fornecer condies
para que as bactrias fossem submetidas a uma situao de estresse, sendo expostas
alternadamente a condies anaerbias e aerbias, propiciando elevada capacidade de
desenvolvimento de organismos acumuladores de fsforo, chamados poli-P.
A partir deste conhecimento, foi possvel projetar confiavelmente sistemas de tratamento de
lodos ativados, que possibilitaram produzir efluentes com concentraes de fsforo abaixo de
1,0 mgP/L. Dessa forma, conseguia-se a remoo de fsforo unicamente por meio biolgico,
que considerada a melhor forma de tratamento, j que no utiliza coagulante e gera menos
lodo (van HAANDEL; MARAIS, 1999).
O meio cientfico reconhece as vantagens da remoo biolgica de fsforo em relao ao
tratamento fsico-qumico, no entanto, se por um lado, o primeiro considerado o melhor
mtodo em relao aos custos/benefcios, por outro lado, no descarte de lodo de estaes de
tratamento de gua - ETA so desprezadas toneladas de produtos qumicos, que poderiam ser
recicladas e utilizadas como insumo para remoo de fsforo por tratamento fsicoqumico,
com vantagens econmicas.
O processo a ser utilizado no presente estudo, para a remoo do fsforo remanescente de
sistemas de lodos ativados, ser o fsicoqumico, utilizando lodo de ETA como insumo, com
a inteno de se reciclar o residual de sulfato de alumnio, de forma a se inserir dentro do
conceito de produo mais limpa.
Portanto, o processo biolgico no ser discutido. Excelentes revises podem ser encontradas
em ALEM SOBRINHO (1991) e van HAANDEL e MARAIS (1999).
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26
3.6.2. - REMOO POR PROCESSOS FSICO-QUMICOS
Os mtodos de tratamento fsico-qumicos para remoo de fsforo so conceitualmente
processos auxiliares ao tratamento biolgico, quando as concentraes remanescentes de
fsforo so maiores que os limites legais estabelecidos para lanamento em corpos receptores.
Efluentes de sistemas biolgicos convencionais de tratamento de esgotos apresentam valores
mdios de fsforo elevados.
Dentre os processos fsico-qumicos, destacam-se a precipitao com sais metlicos ou com
cal hidratada e processos por adsoro.
O tratamento fsico qumico por precipitao com sais metlicos consiste na utilizao de
sais de alumnio ou de ferro, com a finalidade de reagir entre si ou com a gua e os compostos
presentes no meio, dando origem formao de complexos simples e polimricos
hidroximetlicos, que precipitam e so removidos em decantadores.
Suas principais vantagens referem-se a excelente qualidade do efluente produzido e o baixo
custo de implantao das unidades de tratamento. Segundo NUNES (2004), a eficincia de
remoo de fsforo por precipitao qumica gira em torno de 95%. Entretanto, os autores
MORITA; PIVELI (1998) enumeram as desvantagens relacionadas com o custo operacional
relativamente elevado, devido aos gastos com produtos qumicos e o grande volume de lodo
gerado.
A precipitao com cal hidratada, por sua vez, apesar de ser um tratamento mais barato, tem o
mesmo problema de gerao de resduos e apresenta menor eficincia de remoo em
comparao com os sais metlicos. Outros estudos tambm consideram os aspectos
econmicos como um dos principais obstculos sua utilizao em larga escala
(Middlebrooks et al., 1974 apud GONALVES et al, 2000).
O mtodo de adsoro considerado um dos melhores para remoo de fsforo de guas de
rios e lagoas, devido a sua eficcia mesmo para baixas concentraes deste elemento. Muitos
adsorventes tm sido investigados como caulinita (CHEN et al, 1973), xidos e hidrxidos de
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27
ferro e alumnio (STUMM, 1992); xidos de ferro e quartzo (SHANG LIEN et al, 1997),
alumina ativada (HANO, H et al, 1997), entre outros.
Estes adsorventes tm mostrado elevada capacidade para remover tanto fsforo como outros
nions que compem o efluente final de estaes de tratamento de esgotos, e segundo os
estudos desenvolvidos por Urano e Tachikawa (1991), esta caracterstica de remoo de
outros nions no interfere na capacidade de adsoro de fsforo, exceto quando as
concentraes de sulfato e/ou nitrato so elevadas.
Os autores elencam as principais vantagens da utilizao do processo de adsoro com
produtos qumicos derivados de alumnio na remoo de fsforo: alta capacidade e
seletividade; granulometria adequada; elevada fora qumica e fsica; no contm poluentes
perigosos em sua composio; simples regenerao; baixo custo e fornecimento sustentvel
(URANO e TACHIKAWA, 1991).
Outra vantagem do processo de adsoro enfatizado por HANO et al (1997) a questo da
utilizao de processos de tratamento sustentveis, que permitam a regenerao de
substncias qumicas e sua reutilizao, de forma a preservar os recursos naturais e garantir a
sustentabilidade do planeta.
O fsforo um dos mais importantes recursos naturais e que dever, segundo KOTABE
(1987), estar com suas fontes exauridas at 2035. Sua utilizao racional com enfoque na
reciclagem passa a ganhar relevncia e a ter inferido um importante referencial para a tomada
de deciso num processo de escolha de alternativas de tratamento.
Nesse cenrio, a adsoro passa a ter mais uma vantagem competitiva, pela facilidade e
simplicidade da regenerao e recuperao de fsforo. SUZUKI (1997) enfatiza que a
adsoro pode contribuir com os ndices de recuperao e reso de nutrientes e ser uma
importante chave no ciclo de vida dos materiais na esfera antropognica.
Considerando que as principais fontes futuras de fsforo sero provenientes dos lagos e
reservatrios eutrofizados e que devero passar por processo de recuperao e regenerao
deste elemento, a utilizao de adsorvente apresenta a vantagem de reso posterior, pela
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28
possibilidade de reserva das cargas de fsforo removidas dos mananciais e efluentes no
prprio material adsorvente.
Esse fsforo aderido sobre o material adsorvente pode ento ter uma reutilizao com
benefcios econmicos e ambientais. Para essa reutilizao, o fsforo armazenado no
adsorvente pode ser submetido a um processo de tratamento por dessoro, como por
exemplo, atravs de lcali e, em seguida, ser tratado com CaCl2, produzindo Ca(H2PO4)2, que
um fertilizante qumico (HANO, 1997).
3.7 CARACTERSTICAS DO PROCESSO DE ADSORO
O processo de adsoro um fenmeno ligado s reaes qumicas desencadeadas na
superfcie das partculas do adsorvente, sendo essa sua caracterstica principal. Fundamenta-se
na cintica de transferncia de um ou mais constituintes (adsorvatos) de uma fase fluida
(adsortivo) para a superfcie de uma fase slida, chamada de adsorvente (STUMM, 1992).
Rabockai (1979) ressalta a importncia da distino do conceito de adsoro, que puramente
interfacial e, como tal, envolve interaes entre as molculas de adsorvato e o adsorvente e o
fenmeno de absoro, que consiste na penetrao de um componente no interior de outro.
Quando o soluto incorporado ao mineral por uma reao com ligaes qumicas fortes
(usualmente covalentes), o processo chamado soro qumica ou absoro. Neste caso, as
molculas sorvidas perdem sua identidade, com o rearranjo dos tomos para formar um novo
composto.
3.7.1 CARGA SUPERFICIAL E DUPLA CAMADA ELTRICA
Conforme as partculas aproximam-se umas das outras, as foras superficiais tornam-se mais
significativas, destacando-se as foras de origem eletrosttica (foras de ligao de longa
distncia), as de van der Waals (ligaes formadas pelo resultado de foras de curta distncia
de atuao), adsoro mtua e reaes de hidratao (FERREIRA FILHO, 1996).
Estas camadas carregadas eletricamente e os efeitos do movimento trmico levam formao
da dupla camada eltrica, que pode ser representada conceitualmente pela Figura 3-2.
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29
A carga desequilibrada na superfcie das partculas compensada com a acumulao de ons
de carga oposta, de maneira que um on previamente aderido que tenha menor afinidade com
o mineral trocado por outro on em soluo. Como a carga lquida (soma de todas as cargas
positivas e negativas) das superfcies usualmente negativa, os ons atrados s superfcies
so ctions. A afinidade entre os ctions e as superfcies depende da carga eltrica, do raio
hidratado e da configurao molecular do ction. Geralmente, ctions de maior valncia so
adsorvidos preferencialmente e ctions de menor raio tendem a substituir os de maior raio.
Segundo Rabockai (1979), vrios pesquisadores como Helmholtz (1897), Gouy (1910),
Chapman (1917), Debye e Huckel (1923) e Stern (1924) propuseram modelos para explicar a
dupla camada eltrica. Combinando estas diferentes teorias, chega-se ao modelo que melhor
explica os fenmenos observados. Este divide a dupla camada eltrica em regies:
1. Camada Compacta - ordenamento de cargas positivas e negativas de um modo rgido nos
dois lados (slido/soluo) da interface, dando origem designao dupla camada (ou camada
compacta).
2. Camada Difusa - camada de espessura varivel, estando os ons livres para se moverem. O
potencial aplicado e a concentrao do eletrlito influenciam no valor da capacidade da dupla
camada.
A Figura 3-2 mostra os casos extremos de protonao com formao do mximo de cargas
positivas, e desprotonao com formao do mximo de carga negativa. Entre os extremos de
carga positiva e negativa, h um ponto em que a carga zero ou pela ausncia de cargas ou
pela presena de quantidades iguais de carga positiva e negativa. Esse ponto recebe a
denominao genrica de ponto de carga zero (PCZ). Destacam-se: o Plano Interior de
Helmholtz (IHP), que passa pelo centro dos ons adjacentes superfcie, e o Plano Exterior de
Helmholtz (OHP) ou Plano de Stern, que passa atravs dos centros dos ons solvatados.
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30
Figura 3-2: Distribuio do potencial eltrico () na regio da dupla camada
Fonte : Adaptado de QMCUEB (2006)
Apresentam-se, a seguir, os conceitos de carga relacionados com os tipos de adsoro
envolvidos, conceituados como carga de complexos de esfera interna ou de ligaes qumicas
e cargas de complexos de esfera externa, ou de ligaes fsicas por emparelhamento de ons
(CHEN, 1973; RABOCKAI, 1979; STUMM, 1992).
a) Carga de Complexos de Esfera Interna (Ou de Ligaes Qumicas)
Carga lquida de complexos de esfera interna a carga originria da presena de ons, exceto
H+ e OH-, que formam complexos com os grupos funcionais superficiais, ligando-se
Pote
ncia
l de
Supe
rfc
ie
Pote
ncia
l de
Ster
n
Pote
ncia
l Zet
a
Aumento da distncia da superfcie da partcula
Aum
ento
do
pote
ncia
l da
carg
a di
sper
sa
Partcula
Camada difusa
Camada compacta
Plano de Cisalhamento
Plano de Gouy
Plano de Stern
Carga lquida negativa superficial
Carga dispersa
0
-
31
diretamente estrutura cristalina dos minerais. Essa carga tem origem na adsoro especfica
de alguns nions como fosfato, sulfato, silicato, etc.
b) Carga de Complexos de Esfera Externa (Ou de Emparelhamento de ons)
A carga lquida de complexos de esfera externa origina-se de ons que se localizam na camada
de Stern, prximos da superfcie das partculas, mas sem a interferncia estrutural. ons como
Al3+, Ca2+, Mg2+, SO42-, etc, so importantes na formao deste tipo de carga.
3.7.1.1 FORAS ELETROSTTICAS
Em meio aquoso, a maioria das superfcies de substncias finamente divididas adquire cargas
eltricas, resultantes de um ou mais mecanismos, envolvendo ionizao de molculas da
superfcie, dissociao de grupos superficiais, adsoro inica e devido ao prprio arranjo
estrutural da partcula.
No processo de adsoro, as molculas presentes na fase fluida so atradas para a zona
interfacial, devido existncia de foras atrativas no compensadas na superfcie do
adsorvente, decorrentes do prprio equilbrio de formao de complexos, que ocorrem na
superfcie de separao das duas fases da interface slido lquido (STUMM, 1992).
Segundo Rabockai (1979), a adsoro em uma interface slido-liquido propicia a interao
entre as molculas do lquido com o slido, resultando no aparecimento de um certo grau de
ordenamento estrutural e substituio isomrfica. Tambm se verificam variaes de
concentraes de molculas na interface e no interior do lquido.
No caso de um soluto na fase lquida, as variaes de concentrao no interior da soluo, em
virtude da adsoro de soluto na interface, so decorrentes do deslocamento de molculas do
solvente adsorvidas, sendo os seus lugares ocupados pelas molculas do soluto, devido
competio entre as mesmas pelos stios ativos de adsoro, disponveis na superfcie do
slido.
Entretanto, segundo o autor, pode ocorrer que o slido esteja disperso na fase lquida, neste
caso o grau de disperso de um slido finamente dividido no interior de um lquido depende
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32
da relao entre a adeso das partculas slidas entre si e a adeso slidolquido. Quando esta
superior primeira, a disperso das partculas acentuada, e no caso oposto, as partculas
tendem a aglomerar-se, formando uma nova fase slida, que consiste em duas etapas distintas:
a nucleao, que a formao de centros de cristalizao, e o crescimento dos cristais ou
aglomerados (RABOCKAI, 1979).
As investigaes experimentais (RABOCKAI, 1979) mostraram que os processos de
adsoro, por envolver a acumulao do adsorvato na superfcie do adsorvente, apresentavam
comportamentos diferenciados, sugerindo a diviso da adsoro em fsica e qumica.
Segundo FERREIRA FILHO (1996), os extremos dos dois tipos de adsoro so bem
conhecidos e definidos, porm como o processo de adsoro fsica melhor identificado,
quando um processo de adsoro no caracterizado como fsico, ele o como qumico,
mesmo que este contenha algumas caractersticas de uma adsoro fsica. Esta caracterizada
por ser extremamente rpida, no seletiva e reversvel, e sob determinadas condies, o
adsorvato pode desligar-se da superfcie, passando novamente para a fase lquida, verificando-
se a ocorrncia do processo de dessoro.
No processo de adsoro qumica, h o envolvimento de stios ativos de adsoro e o
adsorvato, com troca e ou compartilhamento de eltrons entre ambos. Ao contrrio da
adsoro fsica, no processo de adsoro qumica, caso ocorra a dessoro do adsorvato, este
possuir uma diferente estrutura qumica. Outra diferenciao importante entre os dois tipos
de adsoro refere-se s caractersticas de adeso do adsorvato em camadas sobre a superfcie
adsorvente ( RABOCKAI, 1979; STUMM, 1992; FERREIRA FILHO, 1996).
No processo de adsoro fsica, a formao de camadas se d mesmo que toda a superfcie do
adsorvente esteja recoberta por uma camada de molculas do adsorvato, permitindo assim que
uma segunda camada de molculas deste possa ser adsorvida pelo mesmo adsorvente. Na
adsoro qumica, forma-se apenas uma nica camada de substncia adsorvida na superfcie
do adsorvente.
Sendo assim, em funo da natureza das ligaes, pode-se definir a adsoro fsica como
aquela em que as foras de ligao so do tipo van der Waals (a energia de adsoro
relativamente pequena), e ocorre quando as foras intermoleculares de atrao das molculas
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33
na fase fluida e da superfcie slida so maiores que as foras atrativas entre as molculas do
prprio fluido. Os dois tipos de adsoro podem ocorrer para um mesmo par
adsorvente/adsorvato: pode a adsoro ser fsica a baixas temperaturas e tornar-se qumica a
altas temperaturas.
Embora a adsoro qumica possa ocorrer entre a primeira camada de molculas do adsorvato
e o adsorvente, nada impede que uma segunda camada de molculas do adsorvato possa
surgir, em funo das interaes entre as molculas do adsorvato presentes na fase lquida e
da primeira camada de molculas deste retidas na superfcie do adsorvente (FERREIRA
FILHO, 1996). Na Tabela 3-6 so mostradas as principais diferenas entre os dois tipos de
adsoro, divididas segundo Rabockai (1979).
Tabela 3-6 - Comparao entre adsoro fsica e qumica
Adsoro Fsica
Adsoro Qumica
Foras de Van der Waals
Foras comparveis a ligaes qumicas
tambm chamadas de quimiosoro
Calor de adsoro inferior a 10 kcal/mol Calor de adsoro superior a 20kcal/mol
Quantidade adsorvida depende mais do
adsorvato do que do adsorvente
A quantidade adsorvida depende tanto do
adsorvato como do adsorvente
Especificidade baixa Especificidade elevada
Adsoro aprecivel somente abaixo do
ponto de ebulio do adsorvato
A adsoro pode ocorrer tambm em
temperaturas elevadas
Energia de ativao baixa Energia de ativao pode ser elevada
Adsoro possvel em multi camadas Adsoro no mximo em monocamadas
Dessoro fcil A dessoro pode ser difcil, ou pode ser
acompanhada de transformaes qumicas.
Fonte: RABOCKAI (1979)
-
34
3.7.1.1.1 - IONIZAO DE GRUPOS CARBOXLICOS, SULFONADOS,
SILANICOS, ENTRE OUTROS, PRESENTES NA SUPERFCIE DA PARTCULA
Muitos slidos contem grupos funcionais ionizveis em sua superfcie, tais como: -OH,
COOH, -OPO3H2, -SH. As reaes de ionizao, para grupos silanicos, podem ser
representadas pelas seguintes reaes:
SiOH2 SiOH +H+
SiOH SiO- + H+
No equilbrio qumico:
K1= (SiOH+) (H) (Eq.1)
(SiOH2+)
K2= (SiO-) (H+) (Eq.2)
(SiOH+)
A carga destas partculas depende do grau de ionizao (transferncia de prtons) e
consequentemente do pH do meio (STUMM, 1992).
3.7.1.1.2 - IMPERFEIES DA ESTRUTURA CRISTALINA DA PARTCULA
As trocas e substituies entre tomos no arranjo cristalino da partcula podem conferir uma
distribuio irregular de cargas, que tanto pode ser negativa como positiva. Segundo Ferreira
Filho (1996), a existncia destas partculas funo unicamente do seu arranjo estrutural, no
sofrendo influncia das caractersticas da fase lquida. definida, a seguir, a origem das
principais cargas que podem se desenvolver superficialmente:
Uma caracterstica essencial formao e desenvolvimento de cargas nos colides de carga
varivel a possibilidade da hidroxilao da sua superfcie. Na presena de gua, os ons Si,
Al ou Fe, por exemplo, localizados na superfcie de minerais como caulinita, hematita,
-
35
goethita e gibbsita, completam sua camada de coordenao com ons hidroxila de modo que
toda superfcie se torna hidroxilada (STUMM, 1992). A Figura 3-3 mostra a representao do
fenmeno:
Figura 3-3 Hidroxilao de superfcies de minerais que apresentam cargas dependentes do
pH
Fonte: QMCUEB (2006)
Nessa representao, introduz-se o conceito de que os grupamentos hidroxila nesses minerais
podem estar ligados a um, dois, ou at trs metais, de acordo com a proposio de Russel et
al. (1974) e Parfitt et al. (1975) apud STUMM (1992). Assim, podem ser chamados de
hidroxila de coordenao simples, dupla e tripla, respectivamente.
Como foi descrito no item anterior, as cargas eltricas de um xido - hidrxido podem ser
explicadas pelo comportamento superficial dos grupos hidroxilas S-OH. Nesse processo, as
cargas de superfcie influenciam a distribuio espacial dos ons prximos mesma, que atrai
ons com carga oposta, chamados de contra-ons e repele os de mesma carga, denominados
co-ons. A rea superficial um dos fatores mais importantes na extenso da adsoro e tem
evidentemente a ver com a superfcie do slido, sendo maior em slidos porosos,
pulverizados ou irregulares, como os amorfos, em que a rea de contato ampliada, devido s
suas vrias facetas. (STUMM, 1992)
3.7.1.2 CONCEITUAO E ORIGEM DAS FORAS DE VAN DER WAALS
So foras de ligaes exclusivamente intermoleculares e se diferenciam das foras
covalentes, que se caracterizam por ligaes intramoleculares, ou seja, ligaes que unem
apenas os tomos que formam a prpria molcula. Em comparao com as ligaes inicas ou
covalentes, so consideradas foras muito fracas e atuam apenas quando as molculas esto
bem prximas umas das outras, mas apesar disso, so muito importantes quando se deseja
explicar as propriedades macroscpicas da substncia, pois so estas foras as responsveis
pela existncia dos trs estados fsicos da matria. Sem elas, s existiriam gases. Atualmente,
o termo tende a se referenciar a foras relacionadas com dipolos de ngulos fixos ou mdios
-
36
(foras de Keesom) e livres ou rotao dos dipolos (foras de Debye), bem como
deslocamentos na nuvem eletrnica.
Em 1873, o cientista Johannes Diderick van der Waals props um conjunto de modificaes
na teoria original de cintica molecular, relacionando a presso e a temperatura de um gs
com o seu volume. Para ele, nem sempre possivel desconsiderar o efeito de uma molcula
na outra, principalmente em sistemas aquosos, devido a maior interao entre as molculas.
Van der Waals observou que a equao geral dos gases ideais no podia ser aplicada para
gases reais. O erro estava no fato de assumir que no existiam foras atrativas e/ou repulsivas
entre as partculas do gs e que o volume de cada partcula era zero. O cientista tambm
verificou que a presso deveria ser um pouco maior do que previam as equaes at ento
adotadas, devido s foras de atrao entre as molculas do gs. Este pesquisador introduziu,
em 1881, famosa equao de Clapeyron, mais dois parmetros relacionados ao tamanho e s
foras intermoleculares. Ele reescreveu a equao dos gases ideais e publicou uma nova
equao, em 1873, conhecida como equao de van der Waals para gases reais.
No gs real, a presso (P) maior do que a prevista para o gs ideal. Por isso, ela deve ser
corrigida pelo fator a/V2. Da mesma forma, molculas reais possuem volume. O termo b
uma funo do dimetro da molcula de gs, conhecido como dimetro de van der Waals.
Para 1 mol de gs (n=1), a equao :
(Eq.3)
E, para n moles de gs:
(Eq.4)
Na Tabela 3- 7, so mostrados alguns valores dos coeficientes a e b da equao de van der
Waals, onde se verifica que os gases hidrognio, hlio e nenio apresentam valores muito
prximos a zero. Isto porque eles quase no exibem interaes intermoleculares no estado
gasoso, sendo seu comportamento classificado como quase ideal.
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Tabela 3-7 Coeficientes a e b da equao de van der Waals para alguns gases
Gs A b
H2 0.2444 0.02661
O2 1.360 0.03183
N2 1.390 0.03913
CO2 3.592 0.04267
Cl2 6.493 0.05622
Ne 0.2107 0.01709
He 0.03412 0.02370
Fonte: QUAGLIANO; VALLARINO (1973)
Foi este trabalho que lhe garantiu o Prmio Nobel e que tambm permitiu James Dewar e
Heike K. Onnes alcanarem a liquefao do gs hidrognio e hlio. A teoria de van der Waals
continha a idia indita de que um nico tipo de interao entre molculas poderia descrever
distintas fases termodinmicas. Conceitualmente, as foras de van der Waals so sempre
foras de natureza atrativa entre partculas e que se originam a partir de trs fontes