dissertacao celulas de produção

129
LUCIANO MOSER DIRETRIZES DE IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO DE CÉLULA DE MANUFATURA MÓVEL PARA O AMBIENTE DA CONSTRUÇÃO CIVIL Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Construção Civil, Curso de Pós-Graduação em Construção Civil, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof.: Aguinaldo dos Santos CURITIBA 2003

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Dissertacao sobre aplicação de celulas de produção na construção civil

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Page 1: Dissertacao Celulas de produção

LUCIANO MOSER

DIRETRIZES DE IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO DE CÉLULA

DE MANUFATURA MÓVEL PARA O AMBIENTE DA CONSTRUÇÃO

CIVIL

Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção de título de Mestre em Construção Civil, Curso de Pós-Graduação em Construção Civil, Setor de Tecnologia, Universidade Federal do Paraná.

Orientador: Prof.: Aguinaldo dos Santos

CURITIBA

2003

Page 2: Dissertacao Celulas de produção

ii

TERMO DE APROVAÇÃO

LUCIANO MOSER

DIRETRIZES DE IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO DE CÉLULA DE

MANUFATURA MÓVEL PARA O AMBIENTE DA CONSTRUÇÃO CIVIL

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no

Programa de Pós-Graduação em Construção Civil, Setor de Tecnologia da

Universidade Federal do Paraná, pela seguinte banca examinadora:

Orientador: Prof. Dr. Aguinaldo dos Santos (PhD – University of Salford -

Inglaterra)

Programa de Pós-Graduação em Construção Civil - UFPR

Prof. Ricardo Mendes Junior (Doutorado - UFSC)

Programa de Pós-Graduação em Construção Civil - UFPR

Prof. Dr. Fábio Favaretto (Doutorado – Escola de Engenharia de

São Carlos - USP )

Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção e

Sistemas – PUC-PR

Curitiba, 27 de outubro de 2003

Page 3: Dissertacao Celulas de produção

iii

AGRADECIMENTOS

A

Professores Mauro Lacerda Santos Filho, Ricardo Mendes Jr., Sérgio Scheer

e Aguinaldo dos Santos por todas as oportunidades e pelo suporte que me deram

durante todo o curso.

Frederico, Newton, Rafael, e todas as pessoas que contribuíram para o

desenvolvimento deste trabalho.

Todos os professores do Programa de Pós-Graduação em Construção Civil

do Paraná (PPGCC) e do Centro de Estudos de Engenharia Civil Professor Inaldo

Ayres Vieira (CESEC).

Adriana, Mônica, Frederico, Silvana, André, Sandro, Rogério, Áurea,

Susana, Lisiane, Anderson e aos demais amigos do PPGCC e do CESEC.

Soeli, Maristela e Ziza.

Meus irmãos, Robson, Tatiana e Sandro e especialmente aos meus pais Irany

e Rodolfo Moser

Minha esposa Tatiana

Page 4: Dissertacao Celulas de produção

iv

SUMÁRIO

SUMÁRIO ............................................................................................................................................................... IV

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................................................... VI

LISTA DE FIGURAS .............................................................................................................................................. VII

LISTA DE QUADROS ........................................................................................................................................... VIII

TÍTULO DE GRÁFICOS ......................................................................................................................................... IX

RESUMO X

ABSTRACT ............................................................................................................................................................. XI

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 12

1.1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................................ 12

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA ...................................................................................................................... 14

1.3 OBJETIVO .................................................................................................................................................. 14

1.4 HIPÓTESE ................................................................................................................................................. 14

1.5 MÉTODO .................................................................................................................................................... 14

1.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA ..................................................................................................................... 15

1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ............................................................................................................. 15

2 CÉLULA DE MANUFATURA ...................................................................................................................... 17

2.1 AS VÁRIAS ARQUITETURAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO ............................................................... 17

2.1.1 CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO CIVIL.............................................................. 18

2.2 DEFINIÇÃO DO CONCEITO “CÉLULA DE MANUFATURA” ..................................................................... 19

2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CÉLULA ............................................................................ 20

2.4 TIPOS DE CÉLULA .................................................................................................................................... 22

2.5 CARACTERÍSTICAS DE UMA CÉLULA “REAL”........................................................................................ 25

2.5.1 VISÃO GERAL............................................................................................................................................ 25

2.6 OS FATORES DE IMPLEMENTAÇÃO DA CÉLULA DE MANUFATURA .................................................. 27

2.6.1 PRODUÇÃO DE ACORDO COM A DEMANDA ......................................................................................... 27

2.6.2 FLUXO BALANCEADO ENTRE ESTAÇÕES DE TRABALHO .................................................................. 28

2.6.3 ADOÇÃO DE PEQUENOS LOTES DE PRODUÇÃO E TRANSFERÊNCIA .............................................. 30

2.6.4 TEMPO DESPENDIDO NA PREPARAÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO É MÍNIMO .......................... 32

2.6.5 EXISTÊNCIA DE FEEDBACK ENTRE CÉLULAS/FORNECEDORES/CLIENTES .................................... 34

2.6.6 ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DE TODOS NO CONTROLE E MELHORIA DA

QUALIDADE ......................................................................................................................................... 35

2.6.7 OPERADORES CAPACITADOS DE FORMA POLIVALENTE E COM EXPERIÊNCIA NO TRABALHO EM

EQUIPE ...................................................................................................................................................... 36

2.6.8 MINIATURIZAÇÃO E PROXIMIDADE DOS RECURSOS .......................................................................... 38

2.6.9 GERENCIAMENTO VISUAL ...................................................................................................................... 39

2.6.10 TRANSPORTE E MANUSEIO DE MATERIAIS DE FORMA EFICIENTE E SEGURA ............................... 43

2.6.11 MANUTENÇÃO PRODUTIVA TOTAL ........................................................................................................ 44

2.7 DISCUSSÃO .............................................................................................................................................. 46

3 A TECNOLOGIA DRYWALL ...................................................................................................................... 49

3.1 ASPECTOS GERAIS DA TECNOLOGIA DRYWALL ................................................................................. 49

3.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO DRYWALL ................................................................................... 50

3.2.1 DESCRIÇÃO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO TRADICIONAL ............................................................... 50

3.2.2 PROBLEMAS NA PRÁTICA TRADICIONAL DO DRYWALL ..................................................................... 56

3.2.3 DISCUSSÃO .............................................................................................................................................. 61

4 MÉTODO DE PESQUISA ........................................................................................................................... 63

4.1 SELEÇÃO DO MÉTODO ............................................................................................................................ 63

4.2 SEQUÊNCIA GERAL DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA.............................................................. 63

4.3 PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS .................................................................................................... 65

4.3.1 CARACTERIZAÇÃO DA DINÂMICA DOS FLUXOS DE PRODUÇÃO ....................................................... 66

4.3.2 ENTREVISTAS NÃO ESTRUTURADAS .................................................................................................... 67

4.3.3 OBSERVAÇÕES DIRETAS ........................................................................................................................ 68

4.3.4 REGISTRO DE IMAGENS ......................................................................................................................... 68

4.4 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE E VALIDAÇÃO .............................................................................................. 69

5 RESULTADOS & ANÁLISE ........................................................................................................................ 71

5.1 APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO ............................................................................................... 71

Page 5: Dissertacao Celulas de produção

v

5.2 ETAPA DE PREPARAÇÃO ........................................................................................................................ 72

5.2.1 MÃO-DE-OBRA .......................................................................................................................................... 72

5.2.2 EQUIPAMENTOS ....................................................................................................................................... 74

5.2.3 MÉTODO DE TRABALHO .......................................................................................................................... 76

5.3 IMPLEMENTAÇÃO E DINÂMICA DE OPERAÇÃO DA CÉLULA MÓVEL ................................................. 80

5.3.1 ETAPA DE PREPARAÇÃO ........................................................................................................................ 81

5.3.2 ETAPA DE PRODUÇÃO DAS DIVISÓRIAS .............................................................................................. 83

5.4 ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO EM RELAÇÃO AO CONCEITO DE CÉLULA DE MANUFATURA ...... 85

5.4.1 PRODUÇÃO DE ACORDO COM A DEMANDA (PUXADA) ....................................................................... 85

5.4.2 FLUXO BALANCEADO ENTRE ESTAÇÕES DE TRABALHO .................................................................. 87

5.4.3 ADOÇÃO DE PEQUENOS LOTES DE PRODUÇÃO E TRANSFERÊNCIA .............................................. 89

5.4.4 TEMPO DESPENDIDO NA PREPARAÇÃO DOS POSTOS DE TRABALHO É MÍNIMO .......................... 93

5.4.5 EXISTÊNCIA DE FEEDBACK ENTRE CÉLULAS/FORNECEDORES/CLIENTES .................................... 95

5.4.6 ENVOLVIMENTO E RESPONSABILIDADE DE TODOS NO CONTROLE E MELHORIA DA

QUALIDADE ............................................................................................................................................. 97

5.4.7 OPERADORES CAPACITADOS DE FORMA POLIVALENTE E COM EXPERIÊNCIA NO TRABALHO

EM EQUIPE ............................................................................................................................................... 99

5.4.8 MINIATURIZAÇÃO E PROXIMIDADE DE RECURSOS .......................................................................... 102

5.4.9 MANUTENÇÃO DE AMBIENTE TRANSPARENTE, LIMPO E ORGANIZADO ...................................... 103

5.4.10 MANUSEIO DE MATERIAIS DE FORMA EFICIENTE E SEGURA ......................................................... 109

5.4.11 OPERADORES CAPACITADOS EM MANUTENÇÃO PRODUTIVA TOTAL ........................................... 111

5.5 PERCEPÇÃO DOS OPERÁRIOS E GERENTES QUANTO À EFETIVIDADE DA CÉLULA ................... 111

5.6 DISCUSSÃO ............................................................................................................................................ 113

6 CONCLUSÃO ........................................................................................................................................... 118

6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS .................................................................................................................... 118

6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA ....................................................................... 121

6.3 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ......................................................................................... 121

7 BIBLIOGRAFIA ......................................................................................................................................... 123

Page 6: Dissertacao Celulas de produção

vi

LISTA DE TABELAS

TABELA 2.1 - FATORES CRÍTICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA CÉLULA E SUA INFLUENCIA COM AS

LIGAÇOES CRITICAS DA CELULA (BASEADO EM HYER & BROWN, 1999) .............................. 27

TABELA 5.1 – COMPARAÇÃO DA PERCENTAGEM DE UTILIZAÇÃO DO TEMPO NO PROCESSO

DRYWALL .................................................................................................................................................. 93

TABELA 5.2 – PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES ......................................................................................... 113

TABELA 5.3 – FATORES CRITICOS IMPLEMENTADOS E FATORES CRITICOS NÃO IMPLEMENTADOS .. 114

Page 7: Dissertacao Celulas de produção

vii

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 2.1 - TIPOS DE CÉLULA (FONTE: SILVEIRA, 1994) ............................................................................. 23

FIGURA 2.2– CÉLULA MÓVEL ............................................................................................................................. 24

FIGURA 3.1- ETAPAS DO CICLO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO DAS DIVISÓRIAS DE GESSO

ACARTONADO (TANIGUTI; BARROS, 2000) ........................................................................................... 51

FIGURA 4.1 -ETAPAS DA PESQUISA .................................................................................................................. 64

FIGURA 4.2 – MODELO DE VALIDAÇÃO DO PATTERN-MATCHING ................................................................ 69

FIGURA 5.1 – SESSÃO DE TREINAMENTO PARA PREPARAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA ................................... 72

FIGURA 5.2 – EQUIPAMENTOS DESENVOLVIDOS POSSIBILITANDO A MOBILIDADE DO POSTO DE

TRABALHO ................................................................................................................................................ 75

FIGURA.5.3 – ILUSTRAÇÃO DA BANCADA DE CORTE ..................................................................................... 77

FIGURA 5.4 - DETALHE DO PROJETO EXECUTIVO .......................................................................................... 78

FIGURA 5.5 – DEFINIÇÃO DO FLUXO DE MONTAGEM DE DRYWALL ............................................................ 79

FIGURA 5.6 – ESTAÇÃO DE TRABALHO MÓVEL SEGUINDO O FLUXO INDICADO PELAS SETAS PINTADAS

NO PISO ..................................................................................................................................................... 80

FIGURA 5.7– CARRINHO TRANSPORTADOR DE CHAPAS E LOCAL DE ARMAZENAGEM AO LADO DA

BANCADA DE CORTE ............................................................................................................................... 82

FIGURA 5.8 – DEMARCAÇÕES NO PISO DO APARTAMENTO ......................................................................... 83

FIGURA 5.9 – DETALHE DAS TUBULAÇÕES CHEGANDO NAS DIVISÓRIAS .................................................. 84

FIGURA 5.10 – ESTOQUE DE COMPONENTES DE DRYWALL PRESENTES NO CANTEIRO DE OBRAS ..... 86

FIGURA 5.11 – DINÂMICA DE PRODUÇÃO ANTES E DEPOIS DA IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO DE

CÉLULA ...................................................................................................................................................... 90

FIGURA 5.12 - DETALHE DAS DIVISÕES DA ESTAÇÃO DE TRABALHO MÓVEL ............................................ 93

Page 8: Dissertacao Celulas de produção

viii

LISTA DE QUADROS

QUADRO 4.1 – SIMBOLOGIA UTILIZADA NA ELABORAÇÃO DOS ESTUDOS DOS PROCESSOS................. 66

QUADRO 5.1 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DO PROCESSO PARA A ETAPA DE INSTALAÇÃO HIDRÁULICA 101

Page 9: Dissertacao Celulas de produção

ix

TÍTULO DE GRÁFICOS

GRÁFICO 3.1– AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE DRYWALL NOS CANTEIROS DE OBRAS (SANTOS, 2001) 57

Page 10: Dissertacao Celulas de produção

x

RESUMO

Esta dissertação apresenta os resultados de um estudo exploratório investigando a

aplicação do conceito de “célula de manufatura móvel” para a Construção Civil. Esta

investigação foi realizada utilizando o método de estudo de caso e teve como foco o

processo construtivo Drywall. A célula de manufatura é definida como um ambiente

de produção que dedica equipamentos e materiais para a produção de uma família de

partes ou produtos com requerimentos similares de processo. A análise do estudo de

caso foi realizada baseada nos fatores críticos de implementação utilizados em outros

setores industriais. O objetivo deste trabalho é o de obter diretrizes de implementação

da célula de manufatura para a Indústria da Construção Civil. Esta dissertação resultou

em diretrizes que permitem a efetivação desses fatores críticos para o ambiente da

Construção Civil. Os resultados indicam que o conceito de célula de manufatura móvel

é viável para a Construção Civil e possibilita a melhoria da eficiência dos processos

construtivos.

Page 11: Dissertacao Celulas de produção

xi

ABSTRACT

This dissertation presents the results of an exploratory study investigating the

application of the “mobile cell manufacturing” concept within the construction

environment. This dissertation was carried out using a case study research method and

focused on the drywall process. The manufacturing cell is defined as a production

environment that dedicates equipments and materials to produce a family of parts or

products with similar process requirement. The case study analysis was carried out

based on the Hyer and Brown (1999)’s list of cell manufacturing enablers. The aim of

this work is to obtain specific cell manufacturing implementation directives for the

construction. The study indicates that the mobile cell manufacturing is feasible to the

construction environment and enables increase of construction process efficiency.

Page 12: Dissertacao Celulas de produção

12

1 INTRODUÇÃO

1.1 INTRODUÇÃO

Esta dissertação trata da problemática de implementação do conceito de

célula de manufatura no ambiente da construção civil. Célula de manufatura é uma

abordagem alternativa de organização de sistema de produção em relação àquele

baseado na segmentação do processo, este último presente na quase totalidade dos

canteiros de obra brasileiros. Assim como ocorreu em outros setores industriais,

entende-se que o desenvolvimento de pesquisas neste tópico pode contribuir para a

identificação de oportunidades de inovações em produtos e processos na construção

civil.

HYER e BROWN (1999) definem a célula de manufatura como um

ambiente de produção que dedica equipamentos e materiais para a produção de uma

família de partes ou produtos com requerimentos similares de processo. Esse ambiente

é alcançado a partir da criação de um fluxo de trabalho onde as tarefas e aqueles que as

realizam estão proximamente conectados em termos de tempo, espaço e informação.

A célula de manufatura é tida como uma das principais abordagens do

gerenciamento da produção que tem contribuído para melhorar de forma significativa

a produtividade nos sistemas de produção em todo o mundo (LOGENDRAN; KO,

1997). Esta abordagem oferece o potencial de processar mudanças de sistemas de

produção inflexíveis e repetitivos, característicos da produção em massa, para

ambientes de produção mais flexíveis e voltados para a produção customizada e em

pequenos lotes (YANG; DEANE, 1994).

Na maioria dos estudos sobre célula de manufatura, assume-se que esta é

fixa ou que sua locação é conhecida antes do começo das operações (LOGENDRAN;

Page 13: Dissertacao Celulas de produção

13

KO, 1997). Este não é o caso dos processos e operações da construção civil, nos quais

as estações de trabalho geralmente se movem ao redor de um produto fixo e a exata

definição de sua localização nem sempre é possível. Durante o processo de montagem,

as partes se tornam muito grandes e pesadas para se moverem através das estações de

trabalho. As estações de trabalho têm que se mover através do produto, adicionando

peças à medida que se movem (BALLARD; HOWELL, 1998). Portanto, direcionou-se

o presente estudo para a implementação de “células móveis”, ou seja, células que

retém todas as características da célula de manufatura tradicional, porém com a

característica da mobilidade através do produto.

O estudo foi realizado com foco no processo construtivo de divisórias de

gesso acartonado, também conhecido pelo termo, em inglês, Drywall. SABATTINI

(1998) descreve esse processo construtivo como “...um tipo de vedação vertical

utilizada na compartimentarão e separação de espaços internos em edificações, leve,

estruturada, fixa ou desmontável, geralmente monolítica, de montagem por

acoplamento mecânico e constituída por uma estrutura de perfis metálicos ou de

madeira e fechamento de chapas de gesso acartonado”.

A motivação para o foco da pesquisa no processo do Drywall foi,

primeiramente, a natureza complexa do processo e as possibilidades oferecidas em

virtude do alto nível de padronização de seus componentes. Outra motivação foi o

resultado do estudo do Projeto Drywall 2000, realizado pela UFPR em parceria com

um fabricante de componentes e quatro construtoras da cidade de Curitiba (SANTOS,

2001). O objetivo daquele projeto era o de identificar a situação das práticas de

execução da tecnologia Drywall na cidade de Curitiba em relação às melhores práticas

conhecidas.

O estudo de SANTOS (2001) demonstrou que pouca atenção era dada às

atividades dos fluxos do processo de execução do Drywall, ou seja, atividades de

armazenamento, transporte, esperas e inspeções. Entre os principais problemas

encontrava-se o tamanho do lote de produção, o volume do trabalho em progresso, o

Page 14: Dissertacao Celulas de produção

14

baixo nível de transparência e a baixa velocidade e agilidade na montagem e transporte

dos postos de trabalho. Foi com o intuito de solucionar de forma conjunta estes

problemas que identificou-se na literatura o conceito de “célula de manufatura”. Dessa

forma delineou-se o problema a ser resolvido, o objetivo a ser atingido e a hipótese

levantada com o desenvolvimento desse projeto, como descritos nas sessões a seguir.

1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

Como implementar o conceito de célula de manufatura no ambiente da

construção civil?

1.3 OBJETIVO

O objetivo principal desta dissertação é obter diretrizes para se implementar

o conceito de célula de manufatura no ambiente da construção civil.

1.4 HIPÓTESE

A hipótese levantada é de que é possível implementar no ambiente da

construção civil as mesmas diretrizes de implementação que o conceito de célula

requer em outros setores industriais.

1.5 MÉTODO

Para a implementação exploratória do conceito de célula de manufatura

móvel no processo construtivo Drywall utilizou-se o método “estudo de caso”. Este

método foi escolhido pois permite a análise de um problema nas condições de “mundo

real”, ou seja, a pesquisa aborda uma situação possível de ser encontrada pelos

praticantes no dia-a-dia do canteiro de obras ( ROBSON, 1993; YIN, 1994). As

atividades desenvolvidas na implementação da célula englobaram sessões de

Page 15: Dissertacao Celulas de produção

15

treinamento para os trabalhadores, planejamento e desenvolvimento das novas

estações de trabalho e dos fluxos de produção e a implementação da célula

propriamente dita. A análise do estudo de caso foi realizada utilizando a abordagem do

“pattern-matching” similar à descrita por SANTOS, POWEL e HINKS (2001)

utilizando os fatores de implementação que definem uma “célula real”, seguindo

estrutura teórica adaptada de HYER e BROWN (1999).

1.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA

O presente estudo apresenta algumas limitações que se devem aos seguintes

fatores:

A implementação da célula deu-se em um único processo construtivo e em uma

única obra. Desta forma a análise restringe-se apenas à generalização analítica visto

que a população amostrada não permite generalização estatística dos resultados;

A implementação ocorreu em uma única obra na qual o projeto de execução

original não previa a utilização do conceito de célula de manufatura nem tão pouco

a tecnologia Drywall. Este fato limitou o impacto da célula na melhoria da

performance do processo Drywall nesta obra;

1.7 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Essa dissertação está estruturada da seguinte maneira:

No primeiro capítulo apresenta-se um apanhado geral da motivação de

implementação da célula de manufatura dentro do ambiente da construção civil e o

porque da utilização da tecnologia Drywall como objeto de estudo. Apresenta

também os objetivos, o problema de pesquisa, as hipóteses de estudo, o método de

pesquisa e as limitações do trabalho;

No segundo capítulo realiza-se uma revisão bibliográfica a respeito do tema célula

de manufatura tratando os aspectos mais críticos tais como a definição do

Page 16: Dissertacao Celulas de produção

16

conceito, características e seus fatores de implementação;

O terceiro capítulo apresenta uma revisão bibliográfica sintetizando a dinâmica do

processo construtivo Drywall;

O quarto capítulo apresenta o método de pesquisa utilizado para o desenvolvimento

da implementação do conceito célula de manufatura;

O quinto capítulo demonstra os resultados e análises das experiências

desenvolvidas na implementação do conceito de célula na construção civil e as

diretrizes de implementação específicas para a construção civil;

No sexto capítulo são apresentadas as considerações gerais, as conclusões do autor

e sugestões para pesquisas futuras;

Por fim apresenta-se as referências bibliográficas consultadas para a elaboração

desse trabalho.

É importante mencionar que no ano de 2001 esse projeto recebeu o primeiro

lugar no prêmio CNI de qualidade e produtividade no Estado do Paraná, prêmio

promovido pela Confederação Nacional das Indústrias. A síntese dos resultados

encontra-se publicada no ICFAI Journal of Operations Management em SANTOS,

MOSER e TOOKEY (2003).

Page 17: Dissertacao Celulas de produção

17

2 CÉLULA DE MANUFATURA

2.1 AS VÁRIAS ARQUITETURAS DE SISTEMAS DE PRODUÇÃO

Cada indústria possui características variadas de produtos e recursos entre

outras variáveis que as fazem se distinguir entre si. Entre essas características uma das

mais marcantes se referem às arquiteturas dos sistemas de produção. Existem cinco

arquiteturas diferentes que podem ser identificados: o leiaute funcional, também

chamado job shop; o leiaute em linha, também chamado flow shop; o leiaute de

posição fixa, também chamado project shop; o processo contínuo; e os sistemas de

produção com células de manufatura. Essas arquiteturas de produção são mais bem

explicadas a seguir (BLACK, 1998):

Job Shop – leiaute funcional: no leiaute funcional as máquinas são agrupadas por

função, por exemplo, todos os tornos juntos, todas as fresadoras juntas e assim por

diante. A vantagem desse tipo de leiaute é a sua capacidade de produzir uma

grande variedade de produtos. Cada peça diferente que requer sua própria

seqüência de operações pode ser direcionada através dos respectivos departamentos

na ordem apropriada;

Flow Shop – leiaute em linha: é caracterizado por grandes lotes, máquinas para fins

específicos, menor variedade e maior mecanização. Tem uma disposição fixa

orientada para o produto. Quando o volume de produção se torna muito grande, é

chamado de produção em massa;

Project Shop – leiaute de posição fixa: é caracterizado pela imobilidade dos itens

de fabricação. Nesse tipo de sistema de produção os trabalhadores, as máquinas e

os materiais são levados até o local de trabalho. Ë normalmente utilizado quando os

produtos são muito grandes ou não podem ser removidos;

Processo contínuo: nesse tipo de processo o produto flui fisicamente como por

exemplo as refinarias de petróleo, usinas de processamento químico e de alimentos.

Page 18: Dissertacao Celulas de produção

18

É considerado o tipo mais eficiente e, em contrapartida, o menos flexível dos

sistemas de manufatura.

Células de Manufatura: conjunto de recursos de produção dedicados à produção de

uma família de partes ou peças.

Foram descritas as várias arquiteturas de produção utilizadas em vários

setores industriais. Apesar de essas arquiteturas se generalizarem, a Indústria da

Construção apresenta algumas características próprias que são descritas na seção a

seguir.

2.1.1 Características da Indústria da Construção Civil

A construção civil apresenta certas peculiaridades e diferenças quanto aos

processos desenvolvidos em outros setores industriais. Uma característica importante

da Indústria da Construção Civil é devido ao produto (edificações) se tornar

extremamente grande e pesado à medida que se desenvolve, características do Project

Shop. Dessa forma, são as estações de trabalho que devem fluir através dos postos de

trabalho e não o produto que é deslocado através dos postos de trabalho (BALLARD;

HOWELL, 1998).

Em outros setores industriais o fluxo do processo é mais bem definido pois,

apesar de o posto de trabalho se movimentar ao redor do produto, ao fim do ciclo de

produção o produto vai ser movimentado para outro local. Em contraste na construção

civil, o posto de trabalho deve ir para a próxima estação tornando o fluxo muito mais

dinâmico. Na construção civil, em especial, também não existe transporte de produtos

finalizados até o estoque, pois como os produtos se tornam muito grandes à medida

que vão incorporando novas partes, são processados já em seu local de destino

(BALLARD; HOWELL, 1998).

Outra característica da construção civil é que a cada novo empreendimento

modifica-se o projeto do produto, é o chamado “one-of-a-kind project” (KOSKELA,

1992). Isso exige adaptação do posto de trabalho e reconfiguração completa dos fluxos

Page 19: Dissertacao Celulas de produção

19

a cada novo empreendimento. Em outros setores industriais os produtos processados

em uma célula são mais padronizados e parecidos, facilitando o planejamento do fluxo

de processos.

Outra característica é referente à organização de projetos. Na construção civil

essa organização é usualmente temporária, projetada e montada para um projeto

particular. As várias atividades do projeto são realizadas por diferentes empresas

(KOSKELA, 1992).

A próxima seção contempla a definição do conceito de célula de manufatura.

2.2 DEFINIÇÃO DO CONCEITO “CÉLULA DE MANUFATURA”

Existe significativa convergência na literatura a respeito das definições dadas

ao conceito de célula de manufatura (CHAN; LAM E LEE, 1996; REYNOLDS, 1998;

HYER E BROWN, 1999; SARKER 1997). Para essa dissertação adota-se a definição

de que a célula é um ambiente de produção que dedica equipamentos e materiais para

a produção de uma família de partes ou produtos com requerimentos similares de

processo Dessa forma, as tarefas e aqueles que a executam criam uma linha de fluxo

ficando proximamente conectados em tempo, espaço e informação (HYER E

BROWN, 1999).

Para alguns autores, como SHAFER (1995) e WEMMERLOV (1996), a

célula de manufatura é apenas uma aplicação da Tecnologia de Grupo. BURBIDGE

(1991, 1996), define a Tecnologia de Grupo como sendo um método de organização

para fábricas no qual máquinas, outras instalações e pessoas são divididas em grupos e

cada grupo completa todas as partes que produz no estágio de processo que opera. O

próprio BURBIDGE (1991) admite que a célula de manufatura e a Tecnologia de

Grupo são a mesma coisa, justificando que na literatura inglesa evita-se a utilização do

termo célula (em inglês “cell”) pois o termo admite uma conotação de aprisionamento.

Page 20: Dissertacao Celulas de produção

20

2.3 EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE CÉLULA

Para SEKINE (1992) as células evoluíram a partir da aplicação da

polivalência da mão de obra às linhas de montagem móvel de Henry Ford. Nas

fábricas de Ford o carro era movimentado na direção do operário que ficava parado

realizando suas tarefas. Com a linha de montagem móvel, e fabricando um único

produto (o Ford T) em fluxo de peça única, Ford dispunha suas máquinas em

seqüência, de modo que cada etapa de montagem estivesse intimamente conectada à

próxima. Com essa organização de produção, Ford conseguiu reduzir drasticamente os

tempos de preparação de máquinas e elevou o volume de fabricação utilizando o

mesmo número de máquinas (WOMACK; JONES, 1992).

A grande diferença entre a logística de sistemas tradicionais em linha, como

por exemplo o sistema Ford, e os sistemas que adotam a célula de manufatura é que no

sistema em linha tradicional tanto as máquinas como os operários são destinados a

uma única tarefa especializada, resultando em uma grande inflexibilidade do sistema.

No caso da célula existe uma maior flexibilidade nos recursos que são destinados à

realização de mais de uma tarefa (WOMACK; JONES, 1992).

O trabalho de Sokolowsky na então USSR nos anos 30 é indicado como

primeira pesquisa conduzida sobre célula de manufatura (HYDE 1981, APUD HYER;

BROWN, 1999). Ele propôs que “partes de configuração e características similares

deveriam ser produzidas da mesma maneira por um processo tecnológico padrão”.

Este primeiro trabalho gerou numerosas aplicações em uma grande variedade de

indústrias.

Seguindo o crescimento de implementações bem sucedidas, outros russos

pesquisaram e escreveram definições sobre célula de manufatura como

MITROFANOV, que tem seus trabalhos nos anos 40 mencionados por GREENE e

SADOWSKY (1984), BURBIDGE (1991), DROLET ET ALL (1996) e HYER E

BROWN (1999). Por volta de 1965 é reportado que mais de 750 firmas soviéticas

haviam implementado as idéias de Mitrofanov.

Page 21: Dissertacao Celulas de produção

21

O livro de Mitrofanov de 1958, The Scientific Principles of Group

Technology, trouxe a atenção mundial para a célula de manufatura. A partir de então

vários centros de pesquisa ao redor do globo passaram a desenvolver estudos

científicos sobre o tema. No ocidente, são documentados trabalhos na França, no

Forges et Ateliers de Constructions Electrgnes de Jenment e na Alemanha no começo

dos anos 60 pelo Professor H. Optiz na Aachen Technical University. Na Inglaterra,

em 1968 foi criado o Centro de Tecnologia de Grupo. No mesmo país, o British

Institution of Production Engineers chegou a formar uma seção dedicada

exclusivamente ao estudo do assunto célula de manufatura (GREENE; SADOWSKY,

1984).

Paralelamente no Japão, na década de 50, OHNO (1988) deu iniciou a uma

revolução nos sistemas de produção embrionando o Sistema Toyota de Produção

(STP). O STP tem como um de seus pilares de sustentação o Just-in-Time (JIT), o qual

segue três princípios principais: a produção puxada , o fluxo de peça única (criado por

Henry Ford) e a utilização de multiprocessos em células de manufatura.

Foi a partir da adoção do conceito de célula que os gerentes japoneses

passaram a rejeitar a idéia de trabalhadores especializados e, como resultado,

treinaram seus operários em várias funções (polivalência) (SEKINE, 1992). O Sistema

Toyota de Produção tem como objetivo básico a eliminação de estoques e outras

perdas pela produção em pequenos lotes, tempos de preparação de postos de trabalho

reduzidos, cooperação com fornecedores e outras técnicas. (SHINGO 1996,

MONDEN, 1983, OHNO, 1988). A evolução do STP acarretou no surgimento de

várias técnicas hoje consagradas de engenharia de produção como por exemplo os

Poka-Yoke, que são mecanismos à prova de erros e o Sistema de Troca Rápida de

Ferramentas (TRF), que possibilitou grande agilidade na preparação de postos de

trabalho (Shingo,1989). Essas técnicas são parte integrante de estruturas de

implementação de sistemas de produção em células de manufatura (HYER; BROWN,

1999).

Page 22: Dissertacao Celulas de produção

22

Mais recentemente, com o rápido desenvolvimento de inovações

tecnológicas, as células têm evoluído no caminho de sistemas cada vez mais flexíveis e

automatizados. O conceito principal dessa evolução vem do agrupamento de um

conjunto de estações de trabalho e sistemas de manuseio de materiais controlados por

um sistema computadorizado. São projetadas para produzir eficientemente baixos e

médios volumes de vários tipos de partes, combinando altos níveis de flexibilidade

com alta produtividade e baixos níveis de trabalho em progresso. O controlador toma o

controle dessas estações escolhendo a melhor configuração de estações de trabalho

para produzir cada tipo de produto. Os avançados sistemas de manuseio de materiais e

de tecnologia de informação tornam a comunicação entre essas estações possível.

Dentre esses sistemas pode-se mencionar os conceitos de Célula Virtual e os Flexible

Manufacturing Systems (FMS) (DROLET ET ALL, 1996; GAMILA; MOTAVALLI,

2003).

A evolução da célula ao longo dos anos foi influenciada por vários fatores

que resultaram no desenvolvimento de vários tipos de célula, conforme descritos na

sessão a seguir.

2.4 TIPOS DE CÉLULA

Observando-se a linha evolutiva do item anterior, nota-se que as células

sofreram algumas alterações com o passar do tempo. Essas alterações são decorrentes

de vários fatores desde sociais e culturais, até fatores relacionados com a maturidade

tecnológica de uma determinada região ou empresa. Além destes fatores também

exercem influencia as atividades desenvolvidas na célula, a intensidade de mão de

obra na célula (maior ou menor grau de automatização), a extensão dos movimentos

inter e intracelulares (WEMMERLOV, 1996) ou ainda restrições de tamanho, o grau

emissão de poluentes e a mobilidade das máquinas que compõem o leiaute

(SILVEIRA ,1994).

Dentro dessa multitude de configurações possíveis para a célula, é possível

Page 23: Dissertacao Celulas de produção

23

estabelecer uma taxonomia daquelas mais recorrentes. A Figura 2.1 representa

esquematicamente os tipos de célula que são descritos logo em seguida (SILVEIRA,

1994):

FIGURA 2.1 - TIPOS DE CÉLULA (FONTE: SILVEIRA, 1994)

A. Máquina Célula: uma única máquina com alta capacidade de produção

colocada em um arranjo com outras máquinas, ou dedicada para a

produção de peças com fabricação simples, as quais se encontram

completamente processadas após passarem por somente esta máquina

(SILVEIRA, 1994);

B. Célula em “U”: arranjo compreendido por diversas máquinas agrupadas

de acordo com a seqüência de um determinado processo, posicionadas

em formato de “U” a fim de permitir que os trabalhadores possam se

deslocar dentro da área de trabalho para operar mais de uma máquina

durante o ciclo de fabricação de uma dada peça, ou família de peças

(SILVEIRA, 1994). Para MILTENBURG (2001) a célula de manufatura

toma sua mais completa forma em um ambiente de produção JIT quando

configurada dessa maneira;

C. Célula em Linha: disposição para arranjo de máquinas interligadas por

Page 24: Dissertacao Celulas de produção

24

transporte automático de peças, todas com processamento semelhante

passam por todas as máquinas do agrupamento (SILVEIRA, 1994);

D. Célula em “loop”: disposição para arranjo de máquinas interligadas por

transporte automático de peças, com algumas etapas de processos

diferentes podem não passar por todas as máquinas do agrupamento

(SILVEIRA, 1994).

Para os propósitos dessa dissertação existe uma quinta modalidade: a Célula

Móvel. Neste caso, o sistema de produção está alinhado com os princípios da célula

compondo equipes que são hábeis em produzir todas as partes ou produtos de sua

responsabilidade. Em empresas de manufatura de automóveis é adotada a produção em

fluxos paralelos com um sistema de “docas” onde o produto não se move. Várias

equipes trabalham em fluxos paralelos com postos de trabalhos móveis e com todos os

materiais e equipamentos que necessitam (ENGSTRÖM ET ALL, 1995, NIEPCE;

MOLLEMAN, 1996; MUFFATTO, 1999). Como exemplo pode-se citar o caso da

Volvo na Suécia (MILTENBURG, 2001).

A representação esquemática da célula móvel pode ser observado na Figura

2.2 a seguir, onde ilustra-se a mobilidade da célula através dos postos de trabalho.

FIGURA 2.2– CÉLULA MÓVEL

Nessa seção foi apresentada a definição de célula de manufatura, um resumo

de sua evolução e os tipos de célula existentes. Na próxima sessão serão discutidas as

principais características das células.

Célula

Móvel

Posto de Trabalho 1

Posto de Trabalho 2

Posto de Trabalho 3

Page 25: Dissertacao Celulas de produção

25

2.5 CARACTERÍSTICAS DE UMA CÉLULA “REAL”

2.5.1 Visão Geral

HYER e BROWN (1999) afirmam que a definição de célula de manufatura

dada pela maioria dos autores remete ao fato de que a célula nada mais é do que um re-

arranjo da configuração física da produção. HYER e BROWN (1999) tomam a

posição de que células envolvem uma disciplina integrativa que vai além da mera

configuração física. Com isso buscam estabelecer um modelo de célula ideal em pleno

funcionamento, referindo-se a ela como “célula real”, ou seja, aquela que alcançou seu

pleno potencial e conseguiu os benefícios desejados os quais motivaram os seus

projeto e implementação.

Estes autores propõem uma estrutura para descrever a disciplina de células

de manufatura e os elementos que a compõe. Para esses autores, como definido no

item 2.1, uma célula de manufatura “real”, ou “ideal”, pode ser caracterizada pela

reunião de materiais e equipamentos segundo uma linha de fluxo conectando as

tarefas, e as pessoas que a realizam, em termos de tempo, espaço e informação. O

significado prático destas três ligações críticas na dinâmica de uma célula de

manufatura é definido abaixo (HYER; BROWN, 1999).

Tempo: os tempos de transferência e espera entre tarefas seqüencialmente

dependentes são minimizados no ambiente da célula tendo em vista que numa

situação ideal não existem estoques intermediários ou, pelo menos, estoques de

segurança são mantidos em níveis mínimos;

Espaço: todas as tarefas da célula são realizadas em proximidade física umas das

outras, o que implica na proximidade de equipamentos e operadores. Operadores

devem estar próximos o suficiente de forma a permitir a rápida transferência de

materiais e componentes. Tão importante quanto o benefício da otimização do

fluxo físico devido à maior proximidade espacial dos componentes da célula é a

Page 26: Dissertacao Celulas de produção

26

possibilidade de visualização e comunicação direta entre os membros da equipe no

ambiente da célula. Esta última característica contribui para a promoção de

melhoria contínua e maior rapidez de resposta aos problemas de produção;

Informação: pessoas e máquinas responsáveis por atividades nas células tem acesso

a informações completas sobre as disposições de trabalho dentro das células. Estas

informações incluem desde objetivos, estado dos pedidos, requerimentos de

manutenção de equipamentos, entre outras informações relevantes para a efetiva

operação da célula.

De acordo com HYER e BROWN (1999) para se efetivar as ligações entre

tempo, espaço e informação no ambiente da célula, é necessária a presença de vários

“fatores críticos de implementação”. Dessa forma, os três elementos de ligação da real

célula de produção - tempo, espaço e informação – interagem uns com os outros, e

com os fatores de implementação, influenciando a performance da célula. Esses

elementos não são independentes, mas um reforça o outro, e são os vários fatores de

implementação que ajudam a criar esta sinergia entre eles.

Os fatores de implementação incluem procedimentos específicos nas práticas

de produção, políticas de gestão da qualidade, decisões de projeto, entre outros, que

tornam eficientes e eficazes as ligações entre tempo, espaço e informação na célula.

Na Tabela 2.1 a seguir apresentam-se os fatores críticos de implementação da célula e

suas principais influencia para com as ligações criticas em tempo, espaço e informação

baseado em HYER e BROWN (1999). Os fatores de implementação são adotados

nesta dissertação como estrutura analítica para análise de dados coletados no campo:

Page 27: Dissertacao Celulas de produção

27

TABELA 2.1 - FATORES CRÍTICOS NA IMPLEMENTAÇÃO DA CÉLULA E SUA INFLUENCIA COM AS

LIGAÇOES CRITICAS DA CELULA (BASEADO EM HYER & BROWN, 1999)

FATORES CRÍTICOS DE IMPLEMENTAÇÃO TEMPO ESPAÇO INFORMAÇAO

Produção de acordo com a demanda X

Fluxo balanceado entre estações de trabalho X

Adoção de pequenos lotes de produção e transferência X

Tempo despendido na preparação dos postos de trabalho é mínimo X

Existência de feedback entre células/fornecedores/clientes X

Envolvimento e responsabilidade de todos no controle e melhoria

dos resultados

X

Operadores capacitados de forma Polivalente e com experiência

no trabalho em equipe

X

Miniaturização e Proximidade dos Recursos X

Gerenciamento Visual X

Manuseio de materiais de forma eficiente e segura X

Manutenção Produtiva Total X

X = Principal influencia do fator de implementação na ligação critica

O pleno funcionamento da célula real depende da implementação dos fatores

acima relacionados de maneira integrada. Isso porque a implementação de um fator

tem influência na plena implementação de outros fatores que se complementam. A

sinergia vem dessa mútua complementação e como elas influenciam nos três

elementos de ligação da célula. As seções seguintes realizam uma descrição de cada

um destes fatores, procurando estabelecer a estrutura teórica que será utilizada na

análise dos estudos de campo.

2.6 OS FATORES DE IMPLEMENTAÇÃO DA CÉLULA DE MANUFATURA

2.6.1 Produção de Acordo com a Demanda

Esse fator crítico de implementação defende que nenhum item dentro da

célula deve ser produzido ou enviado para o cliente externo/interno até que se exista

demanda efetiva por ele. Este é um contraponto ao sistema de produção “empurrado”,

onde a produção de componentes para a construção ocorre com base em previsão da

demanda. Na célula de manufatura utiliza-se um sistema “puxado” onde a demanda

real é o gatilho para a produção e envio das quantidades requeridas para as estações de

Page 28: Dissertacao Celulas de produção

28

trabalho a jusante ou ao próprio consumidor final (SANTOS, 1999).

Em um processo enxuto, como o desenvolvido na célula de manufatura,

trabalhando sob a lógica da produção puxada, produz-se somente os produtos que são

requeridos pelos clientes. Ainda sob essa lógica, a programação da produção é

simplificada e auto-regulável, evitando as contínuas reavaliações das necessidades de

produção (GHINATO, 2000)

Segundo UMBLE (1990), de maneira ideal, bens acabados deveriam ser

entregues ao cliente final no exato tempo em que foram solicitados. Tal princípio

deveria ser buscado tanto nos sistemas de produção como nos fluxos ao longo da

cadeia produtiva. Nesta lógica, na célula, sub-montagens deveriam ser completadas e

entregues aos postos de trabalho antecedentes no exato tempo de serem montadas em

bens acabados, da mesma forma, partes fabricadas deveriam ser entregues bem a

tempo de se produzir sub-montagens e materiais deveriam ser entregues bem a tempo

de serem transformados em partes fabricadas.

Dessa forma a célula de manufatura, seguindo os princípios da filosofia JIT,

procura atender de forma imediata à variação de demanda do mercado só produzindo

os pedidos considerados firmes. Isso permite ao sistema eliminar vários tipos de

desperdício (atividades que não adicionam valor). Entre as principais perdas pode se

citar os estoques em geral, os tempos de espera e a movimentação de materiais e

pessoas (ANTUNES JR, 1989). A implementação do JIT deve vir acompanhada de

alguns fatores indispensáveis. Esses fatores são apontados por ANTUNES JR.(1989) e

incluem a produção em pequenos lotes, a redução de setup, uma sistemática de

controle da qualidade, manutenção produtiva, gerenciamento visual, entre outros.

Todos esses fatores estão dentre os fatores de implementação da célula e são

discutidos nos itens a seguir.

2.6.2 Fluxo Balanceado entre estações de Trabalho

O balanceamento do fluxo entre estações de trabalho dentro da célula de

Page 29: Dissertacao Celulas de produção

29

manufatura pode se basear no raciocínio desenvolvido na Teoria das Restrições

(Theory of Constraints - TOC). Este raciocínio é galgado na relação de

interdependência dos elementos de um sistema, onde o desempenho global está

relacionado diretamente ao desempenho de todo o conjunto, sem levar em conta o

desempenho individual de cada parte do sistema. Isso ocorre pois existe diferença de

capacidade entre os recursos presentes em um sistema de produção e esse fato não é

diferente na célula de manufatura (GOLDRATT, 1997)

O fato de existir diferença entre as capacidades dos recursos do sistema

significa dizer que alguns recursos possuem menor capacidade que outros. Esse

recurso é chamado na TOC de “restrição do sistema”. Essa restrição é também

conhecida como recurso gargalo que GOLDRATT (1997) define como aquele recurso

no qual a capacidade é igual ou menor à demanda colocada nele. Em contraponto, o

recurso não-gargalo é definido como qualquer recurso que tem a capacidade maior do

que a demanda a ele submetida.

Dessa forma, para o balanceamento das atividades dentro da célula, a ênfase

deve ser dada sobre o fluxo de materiais e não sobre a capacidade instalada dos

recursos e isto só é possível através da identificação das restrições do sistema. A partir

da identificação da capacidade de processamento do gargalo do sistema, determina-se

o nível de utilização dos recursos não-gargalo (GOLDRATT, 1997).

Dentro desse contexto, quando se busca economia de tempo e melhoria entre

os recursos presentes na célula, deve-se implementá-la sempre nos recursos gargalo.

Isso deve ser feito pois são os gargalos que determinam o fluxo do sistema, uma vez

que os demais recursos estão trabalhando de acordo com o ritmo imposto pelo mesmo.

Dessa maneira qualquer tempo perdido no gargalo seja através de preparação de

máquinas, produção de unidades defeituosas, ou fabricação de produtos que não

tenham demanda, diminui o tempo total disponível para atender o volume de

produção. Em contraponto, a busca por economia em um recurso não gargalo somente

estaria aumentando o tempo ocioso desse recurso (GUERREIRO, 1996).

Page 30: Dissertacao Celulas de produção

30

GOLDRATT (1997) define esta situação como a diferença entre a

“utilização” e “ativação” de um recurso. A utilização de um recurso corresponde ao

uso de um recurso não-gargalo de acordo com a capacidade do recurso gargalo. Por

outro lado, a ativação corresponde ao uso de recurso não-gargalo em volume superior

ao requerido pelo gargalo. Na ativação de um recurso, o fluxo se mantém constante,

limitado pelo gargalo, gerando estoques de produtos à frente dos gargalos que não

possuem capacidade para processá-los.

2.6.3 Adoção de Pequenos Lotes de Produção e Transferência

A adoção de pequenos lotes serve como apoio para a implementação da

“produção puxada”. Para o bom entendimento dessa inter-relação, faz-se necessário o

bom entendimento dos conceitos e das diferenças entre os tipos de lote. Existem dois

distintos tipos de lote: o lote de processo (UMBLE, 1990), também chamado de lote de

produção (BENJAAFAR, 1996) e o lote de transferência. Esses dois tipos de lote são

definidos a seguir (UMBLE, 1990):

Lote de Produção: lote que vais ser processado completamente em um

determinado recurso, antes da preparação para o processamento de um novo

recurso;

Lotes de Transferência: quantidade de unidades que são movidas ao mesmo

tempo de um recurso para o próximo.

A preocupação com a determinação do tamanho do lote de produção foi uma

das primeiras aplicações da matemática no gerenciamento das fábricas. Isso aconteceu

com Ford W. Harris em 1913 na determinação do “lote econômico de produção”

(HOPP; SPEARMANN, 1996). Utilizando o paradigma da produção em massa, em

contraposição à produção enxuta, Harris procurou encontrar um tamanho de lote nem

tão grande que acarretasse despesas excessivas de manutenção – onde se inclui custos

dos juros sobre o capital utilizado, o aluguel ou a amortização dos armazéns e os

salários dos trabalhadores ocupados - e nem tão pequeno que acarretasse despesas

Page 31: Dissertacao Celulas de produção

31

excessivas com a preparação dos postos de trabalho (SCHONBERGER, 1984).

Atualmente, aliado à análise econômica do tamanho dos lotes encontra-se a

busca pela melhoria de setups (operações de preparação de postos de trabalho),

arranjos físicos, entre outras melhorias, de forma a buscar a implementação do lote

unitário de produção, o qual oferece a vantagem de conferir o máximo de flexibilidade

à produção, possibilitando atender às mudanças de demanda e aos pedidos de forma

mais rápida (SHINGO, 1996).

De fato, se o tempo e o custo necessários para se efetuar as preparações de

postos de trabalhos forem mínimos, não existe mais a necessidade de produzir em

grandes lotes eliminando-se assim os estoques gerados pelos grandes lotes de

produção (SCHONBERGER, 1984; SHINGO, 2000). Outro benefício é a pronta

descoberta de eventuais peças defeituosas, evitando-se assim a propagação de erros na

produção (SCHONBERGER, 1984).

A célula de manufatura deve trabalhar com o menor tamanho possível de

lotes de produção, sendo que idealmente o lote deverá ser unitário (UMBLE, 1990).

Para viabilizar este lote unitário o sistema produtivo é estruturado de forma a eliminar

qualquer atividade que não adicione valor, como por exemplo as atividades de

transporte e inspeção. Outra característica principal é a eliminação dos estoques pois

são vistos como perdas uma vez que são considerados capital parado (MONDEN,

1983, SHINGO, 2000).

BENJAFAAR (1995) diz que utilizando lotes de transferência menores que

os lotes de produção pode-se significativamente melhorar a performance do sistema,

sendo que os benefícios máximos são conseguidos quando o lote de transferência é

igual a um. A não utilização de pequenos lotes de transferência causa as chamadas

esperas de lotes, que é o que acontece quando itens individuais esperam para entrar em

compasso com o lote inteiro. Por exemplo, num lote de 1000 itens, 999 itens não

processados aguardam enquanto o primeiro item do lote está sendo processado, 998

itens não processados aguardam enquanto o segundo item está sendo processado e

Page 32: Dissertacao Celulas de produção

32

assim por diante. O tempo de ciclo pode ser bastante reduzido, se os processos forem

conectados de uma forma que permita que uma peça uma vez concluída as operações

em uma unidade do lote, imediatamente o mesmo passe ao processo seguinte

(SHINGO, 1996).

2.6.4 Tempo Despendido na Preparação dos Postos de Trabalho é Mínimo

Na definição de célula de manufatura, dada por HYER e BROWN (1999),

ressalta-se que na célula de manufatura a família de partes ali produzidas deve possuir

um nível suficiente de similaridade de processos de forma a permitir o

compartilhamento de operações. Este compartilhamento demanda a minimização de

necessidade de se despender tempo em preparação do posto de trabalho (setup).

Por facilitar o setup do posto de trabalho, a célula deve ser projetada para

produzir uma família de partes que tenham tamanhos e formas parecidas. Dessa

maneira, possibilita-se que os operadores utilizem um número mínimo de ferramentas

e equipamentos diferentes, criando um número reduzido de diferentes setups. Além

disso, a familiaridade dos operários trabalhando rotineiramente com esses

equipamentos aumenta, diminuindo a probabilidade de erros e aumenta a

produtividade (GREENE; SADOWSKY, 1984).

Os sistemas de produção tradicionais, em contraste com os princípios da

célula, optam geralmente em produzir grandes lotes de produtos para que um custo

fixo de setup seja amortizado por uma grande quantidade de unidades (lote

econômico). Essa abordagem passa a impressão de reduzir o custo dos produtos por

unidade, mas , no entanto, resulta em custos extras associados. A conseqüência disso é

o carregamento de grandes estoques - e seus custos relacionados - e um aumento da

dificuldade de programação de produção. Reduzir os tempos de preparação dos postos

de trabalho não modifica o conceito de lote econômico, o importante é que os custos

de setup podem ser divididos em lotes com tamanhos cada vez menores, à medida que

esse tempo diminua cada vez mais (HYER; BROWN, 1999).

Page 33: Dissertacao Celulas de produção

33

Para SHINGO (2000), a diminuição de tempos de preparação de postos de

trabalho é o elemento central no contexto dos sistemas de produção em que se busca a

redução máxima dos estoques, como é o caso da organização em célula. A diminuição

dos setups possibilita a produção em pequenos lotes, diminuindo o tempo de

atravessamento e aumentando a flexibilidade do sistema, ou seja, possibilitando à

companhia responder mais rapidamente às variações de demanda do mercado. Com a

redução dos tempos de preparação de postos de trabalho, consegue-se também a

diminuição dos lotes de transferência, pois como os lotes de produção diminuem, as

matérias primas e produtos acabados ficam menos tempo estocados esperando a

produção de todo o lote para então serem encaminhados para o próximo posto de

trabalho (SHINGO 2000; KLEINER, DRURY E PALUSE, 1998).

O sistema mais utilizado para se conseguir a redução dos tempos de

preparação de postos de trabalho é o sistema de troca rápida de ferramentas (TRF)

desenvolvido por depois de exames detalhados e aspectos teóricos e práticos de

melhorias de preparação do posto de trabalho. Esse define as atividades de preparação

do posto de trabalho em dois tipos. Atividade de preparação de posto de trabalho

“interna” - que é aquela executada enquanto a máquina está parada; atividade de

preparação do posto de trabalho externa - que é executada enquanto a máquina está

operando -; ainda existem as atividades desnecessárias que não fazem parte das

atividades necessárias para a realização da preparação do posto de trabalho da máquina

e que está sendo erroneamente realizada (TUBINO, 1999).

A TRF é composta por quatro estágios e o conceito principal desse sistema é

distinguir as condições de preparação do posto de trabalho externo e interno. Com essa

distinção são desenvolvidos estudos para que se transformem as atividades de

preparação do posto de trabalho interno em externo. Essa transformação permite que a

produção transcorra normalmente sem que ocorram paradas para a realização de

atividades de preparação que podem ser feitas sem que a produção tenha que ser

interrompida (SHINGO, 2000).

Page 34: Dissertacao Celulas de produção

34

2.6.5 Existência de Feedback entre Células/Fornecedores/Clientes

Prega-se que exista integração e transparência total dos fluxos de

informação, implicando no compartilhamento de informação e conhecimento entre

células/fornecedores/clientes, os membros da cadeia de suprimento de forma acurada e

no tempo certo. Na medida do possível, informações tais como níveis de estoque,

planos e programações de produção, planos de promoção, previsões de demanda e

programações de envio e, também, informações sobre a demanda e reposição de

produtos devem ser disponibilizadas entre todos os membros da cadeia. A informação

deve tornar-se disponível com todos os demais participantes da cadeia desde o

momento em que um cliente efetua um pedido em um ponto de venda (FLEURY,

1999).

Neste sentido, uma das características fundamentais é que as empresas que

adotam a célula de manufatura na organização da produção, não devem competir no

mercado como entidades independentes, mas como integrantes de uma cadeia de

suprimentos (LAMBERT, 2001). Nesta visão colaborativa, as boas práticas estão

demonstrando que o desempenho da cadeia de suprimentos pode ser melhorado se

algumas ações forem adotadas. Dentre estas ações estão a parcerias entre as

organizações participantes dessa cadeia com uma visão de longo prazo (FLEURY,

1999). As parcerias devem possibilitar melhoria nos serviços, inovação tecnológica e

projeto de produto envolvendo fornecedores, desde os estágios iniciais de

desenvolvimento, ampliando os critérios decisórios para além da questão do preço das

mercadorias.

Outra ação é integrar o processo de desenvolvimento de produto com o

conhecimento presente ao longo de toda a cadeia (fornecedores, produtores, clientes,

etc..), criando condições para a “customização em massa”. Esta última é definida como

a habilidade de prover produtos os serviços adequados a cada consumidor

individualmente através de processos flexíveis em altos volumes e a custos

razoavelmente baixos (DA SILVEIRA, 2001). WOMACK e JONES (1994) afirmam

Page 35: Dissertacao Celulas de produção

35

que dando aos fornecedores a responsabilidade para o desenvolvimento do produto pode

se gerar acesso à abundância de conhecimento técnico e capacidade de inovação, e

evitar a replicação dessa expertise na organização compradora .

Uma abordagem alternativa à customização em massa é o chamado

postponement. Este é um conceito organizacional onde algumas das atividades da cadeia

de suprimentos não são realizadas até que os pedidos dos consumidores sejam

recebidos. As empresas podem então finalizar o produto de acordo com as preferências

do cliente de maneira mais próxima ao momento do pedido. Enquanto isso, pode-se

evitar o acúmulo de estoque de bens acabados em antecipação de ordens futuras

(HOEK, 2001).

2.6.6 Envolvimento e Responsabilidade de Todos no Controle e Melhoria da

Qualidade

A garantia de qualidade em uma célula de manufatura segue basicamente os

mesmos princípios do TQM (Total Quality Management). A implicação dos princípios

e ferramentas do TQM no ambiente de célula é a sustentação e a melhoria contínua da

qualidade dos produtos e dos processos através do envolvimento da alta gerência, dos

funcionários, dos fornecedores e dos clientes de uma empresa, tentando garantir que os

requerimentos dos clientes sejam cumpridos ou até mesmo superados (CUA ET AL.,

2001). Esta prática contrasta com a abordagem tradicional de estabelecer um

departamento específico exclusivo para controle da qualidade.

Dentro dessa visão a meta operacional deve ser o hábito de melhorar a

qualidade, enquanto o objetivo é a perfeição. O desempenho na área de qualidade é

medido pela forma como o produto se enquadra dentro das especificações do projeto.

Todos os processos e produtos devem ser controlados e melhorados por meio de

exames contínuos da qualidade no decorrer da produção utilizando padrões

mensuráveis de qualidade em todo o processo com indicadores de qualidade simples e

facilmente visíveis (SCHONBERGER, 1984).

Page 36: Dissertacao Celulas de produção

36

A aplicação na célula de manufatura envolve o chamado “empowerment”,

que é expressado como o compartilhamento da responsabilidade em tópicos como

qualidade e produção para os operários, incluindo a autoridade para tomada de

decisões nesses campos. Por outro lado, também desenvolve o comprometimento dos

trabalhadores com a organização (SHANI; MITKI, 1996).

A implementação dessas práticas é bastante beneficiada pela redução dos

lotes de produção, à medida que se busca alcançar o fluxo de peça única. Alcançar

esse estágio significa dizer que não existem mais lotes de produção e se torna possível

realizar uma inspeção minuciosa produto a produto. Esse fator tende a reduzir os riscos

de defeito para o cliente, com esse risco podendo chegar até a zero. Essa inspeção

minuciosa é realizada na própria linha de produção, quando as peças são processadas e

inspecionadas uma de cada vez. Além disso, organizando a produção em células

deixará os trabalhadores mais próximos uns dos outros, trabalhando como equipes.

Eles inspecionam o trabalho uns dos outros e discutem o problema assim que ele

aparece, não deixando que os defeitos passem para os processos seguintes. Os itens

que precisam de re-trabalho são imediatamente direcionados para onde ocorreu o

problema diminuindo de forma sensível o ciclo de detecção-correção de problemas

(SCHONBERGER, 1984; MILTENBURG, 2001).

2.6.7 Operadores Capacitados de forma Polivalente e com Experiência no Trabalho

em Equipe

Dentro de uma célula as atividades devem ser realizadas por equipes

organizadas em pequeno número de indivíduos dotados de capacidades

complementares, responsáveis e comprometidos mutuamente, envolvidos no alcance

de objetivos de produção específicos e comuns (NATALE; LIBERTELLA;

ROTSCHILD, 1995; KATZEMBACH; SMITH, 1994). O trabalho em equipe gera

um suporte mútuo e facilita uma organização de trabalho que encoraja a motivação

individual e o comprometimento com a produtividade, qualidade, flexibilidade e

Page 37: Dissertacao Celulas de produção

37

inovação (TRANSFIELD; SMITH, 2002).

Dentro do ambiente da célula de manufatura o trabalho é menos

especializado. Assim, os membros da equipe devem aprender a realizar uma grande

variedade de tarefas (HUBER; BROWN, 1991) e realizar várias das operações

requeridas dentro do processo, atingindo um nível de polivalência. Com os operários

aptos a realizar várias funções abre-se a possibilidade de se efetuar rotação no

trabalho entre as várias atividades realizadas dentro da célula. Essa rotação nos postos

de trabalho traz aos operários o entendimento de todo o processo criando um estoque

de capacidade de forma que mudanças na demanda podem ser tratadas com maior

efetividade pois se consegue dessa forma um aumento na flexibilidade do sistema.

Essa prática também torna a equipe menos vulnerável a flutuações no suprimento de

recursos causado por doenças ou ausência de algum trabalhador (NATALE;

LIBERTELLA; ROTSCHILD, 1995; HUT; MOLLEMAN, 1998; HYER; BROWN,

1999).

Para TRANSFIELD e SMITH (2002) o trabalho em equipe, além de facilitar

a polivalência, é uma forma organizacional que encoraja o ajustamento mútuo, e ajuda

a manter a ideologia corporativa compartilhada. As idéias, valores e crenças

fundamentais sublinhando todas as formas de trabalho em equipe dão ênfase ao

aumento de responsividade individual e coletiva, pró-atividade e flexibilidade, o que é

frequentemente rotulado como “empowerment” (NATALE; LIBERTELLA;

ROTSCHILD, 1995).

A autonomia dos operários da célula vai gerar uma usual fonte de idéias

para a melhoria do sistema. A implantação de trabalho em equipe na célula cria um

ambiente não estruturado de trabalho onde os próprios operários decidem como eles

irão realizar seu trabalho (HUBER; BROWN, 1991). A eles é delegada a autoridade

de se auto supervisionar, ou seja, se organizar, planejar e programar das tarefas, o que

em sistemas tradicionais é geralmente realizado por um supervisor (ATKINSON,

1997). O leiaute celular permite feedback imediato sobre os resultados da equipe,

Page 38: Dissertacao Celulas de produção

38

qualidade e quantidade de produção e como isso é compartilhado pelo grupo, os

operários se tornam mutuamente responsáveis pelo trabalho (HUBER; BROWN,

1991).

Outra característica importante é que a adoção de trabalho em equipe dentro

da célula de manufatura tem um profundo efeito nos critérios de promoção e sistemas

de compensação da empresa. Assim deve-se considerar no mínimo uma unidade de

objetivo de performance explícita para a equipe de produção da célula. O ponto crucial

é que esse objetivo de performance só possa ser conseguido através do trabalho em

equipe. Deve existir portanto um sistema de recompensa baseado na realização bem

sucedida desse objetivo sendo que o operário deve acreditar que a recompensa é

resultado direto de sua contribuição e percebe-la como justa (NATALE;

LIBERTELLA; ROTSCHILD, 1995).

2.6.8 Miniaturização e Proximidade dos Recursos

Uma das principais características para se atingir o estado de “célula real” é a

proximidade física. Uma célula com pequenas dimensões além de permitir a fácil

transferência de materiais, possibilita aos operários da produção estarem próximos o

suficiente para se enxergarem, conversarem, trabalharem como uma equipe e resolver

rapidamente os problemas que surjam durante a produção Estando próximos uns dos

outros, há um aumento no potencial para a comunicação natural, no compartilhamento

de informações entre os membros da equipe e no relacionamento positivo entre os

mesmos. Os operadores estarão provavelmente mais conscientes e poderão trocar mais

facilmente informações sobre fatores chaves de performance como níveis de estoque,

problemas de qualidade, gargalos, carência de partes entre outros (HYER; BROWN,

1999).

Deve ocorrer dessa forma, dentro da célula de manufatura, a miniaturização

de processos de grande volume, ou seja, processos que eram realizados em grande

escala agora são focalizados e modelados para produção em pequenos lotes.

Page 39: Dissertacao Celulas de produção

39

Consequentemente diminui-se a necessidade de vários equipamentos similares

transformando grandes quantidades de materiais. Não são mais necessários grandes

volumes de materiais, que de outra forma se tornariam trabalho em progresso, e os

estoques de materiais diminuem. Isso ocorre em uma organização utilizando modelo

de célula, à necessidade de se estocar somente os materiais para a se completar um lote

de produção de cada vez (HYER; BROWN, 1999).

Na determinação do tamanho da célula deve-se atentar para fatores tais como

flexibilidade do equipamento, capacidade dos operadores e o tamanho da equipe. Uma

célula não funciona efetivamente quando ali for requerido o processamento de

múltiplas partes de famílias não relacionadas pois, ao se tornarem muito grandes,

prejudicam a visibilidade e a comunicação dentro da célula (HYER; BROWN 1999).

ALLEN (1977, APUD HYER; BROWN, 1999) demonstrou que pessoas

essencialmente param de se comunicar umas com as outras se seus espaços de trabalho

estiverem afastados mais do que cerca de 3,30 metros.

2.6.9 Gerenciamento Visual

O gerenciamento visual consiste na aplicação contínua das práticas

relacionadas ao princípio da transparência. A Transparência pode ser definida como a

habilidade do processo de produção (ou suas partes) se comunicar com as pessoas

(SANTOS 1999). O princípio da transparência traz um grande potencial para

aumentar os níveis de eficiência e eficácia dos processos de produto dentro da célula

de manufatura. Uma célula de manufatura com transparência no processo é um

ambiente em que a maioria dos problemas, anormalidades, e tipos de perda podem ser

reconhecidos em um simples olhar, na disposição de permitir que medidas de correção

sejam prontamente tomadas (SANTOS, 1999).

Em um processo com excelência em termos de transparência os operários da

célula tem total conhecimento do processo e, além disso, qualquer pessoa, mesmo com

pouco conhecimento técnico, é capaz de compreender o processo e identificar

Page 40: Dissertacao Celulas de produção

40

problemas sem que seja necessário perguntar sobre ele (SANTOS ET ALL, 1998).

A maneira como a informação é organizada para acessibilidade é a

característica distinta de transparência como retratada em modernas teorias. Em

comunicações convencionais, a informação é transmitida de uma maneira “empurrada”

e o usuário tem pouco ou nenhum controle sobre o montante e o tipo de informação

que é recebida ou transmitida. Em contraste, nos novos paradigmas nada é transmitido:

um campo de informação é criado de forma que possa ser “puxado” por qualquer

pessoa a qualquer tempo. Esta é a mudança fundamental do processo de produção

usual silencioso para aquele mais comunicativo, mais auto-explicativo, auto-

ordenável, auto-regulável e auto-aperfeiçoável (SANTOS, 1999).

Seguindo o princípio da transparência, a organização em célula de

manufatura deve possibilitar rápida disponibilidade de informações aos operadores.

Estes não devem precisar perder tempo em atividades tais como a busca de

informações, medições entre outras. Estas atividades não adicionam valor ao cliente

final e devem ser eliminadas do processo. Dessa forma, a informação deve ser parte do

processo, e deve estar fisicamente o mais perto possível do ponto onde ela será

utilizada, deve ser atual e fácil de ser vista, sem a necessidade de as pessoas fazerem

perguntas ou gastar tempo para processá-la. Em resumo, o processo em si deve ter a

capacidade de informar seu estado (SANTOS, 1999).

As principais abordagens para implementar maior transparência e

organização no processo de produção em célula de manufatura são descritas a seguir:

A. Uso de controles visuais para permitir reconhecimento imediato do “status” do

processo

Implementar controles visuais significa possibilitar a imediata percepção por

qualquer um dos sentidos humanos (tato, olfato, visão, audição) de informações

relevantes de um processo. Controles visuais adequadamente desenvolvidos

possibilitam aumentar de forma significativa a velocidade de transmissão e percepção

da informação dos operadores da célula. Essa abordagem é imprescindível para a

Page 41: Dissertacao Celulas de produção

41

redução das perdas e aumento da velocidade dos processos dentro do ambiente de

célula. Na indústria da manufatura foram desenvolvidos uma grande variedade de

controles visuais, os mais citados são Kanban, Andon, Call light, Display Panels,

controles visuais em dispositivos POKA-YOKE (dispositivos a prova de erros),

bordas, etc... (SANTOS, 1999; MONDEN, 1998);

B. Tornar o processo diretamente observável

Esta abordagem significa aumentar a transparência através do planejamento

do arranjo físico da célula e do fluxo das estações de trabalho e, também, da

concepção de equipamentos e componentes, de tal forma a permitir direta visualização

do fluxo do processo e operações por tantos ângulos quanto possível. Com esta prática,

os operadores devem ser capazes de entender por que partes da estação de trabalho

precedente estão atrasadas ou porque a próxima estação de trabalho parou o trabalho.

O ambiente de célula de manufatura facilita essa abordagem pois o começo de um

processo é alocado tão próximo quanto possível do fim do próximo, tornando fácil a

seqüência do fluxo de trabalho (SANTOS, 1999).

C. Incorporar informação ao processo

Esta abordagem significa a obtenção do aumento da transparência no

ambiente de célula através da fixação de informações úteis em equipamentos, postos

de trabalho, produtos e caminhos de circulação. Essa ordem visual informativa começa

com todos os que tem contato com o processo cientes do que é preciso saber e do que é

preciso partilhar em termos de informação. Essas indagações devem ser feitas pelo

próprio processo e de acordo com o formato, quantidade e momento exatos de sua

necessidade. O conteúdo das informações exibidas pode ir desde recomendações

específicas sobre um determinado produto até informações gerais sobre o plano

estratégico da empresa. Pode apresentar desde recomendações de segurança até as

expectativas com relação a novos contratos.

D. Redução de Interdependência entre estações de trabalho.

Quando duas ou mais equipes de profissionais tem que trabalhar na mesma

Page 42: Dissertacao Celulas de produção

42

área a conseqüência imediata é usualmente um aumento no grau de interrupção e

confusão nesses processos. Isto freqüentemente torna esses ambientes mais difíceis de

entender e controlar. A redução de Interdependência entre estações de trabalho é uma

abordagem usada para minimizar a ocorrência dessas situações. Ela pode ser

conseguida por meio de melhorias e inovações em projeto, métodos de produção ou

simplesmente fazendo mudanças na programação. O arranjo de produção em células

de manufatura a maneira mais eficiente de se conseguir essa redução de

interdependência. Isso é devido à célula ser dedicada a entregar produtos acabados

através da produção em pequenos lotes, não sendo possível a sobreposição de

processos no ambiente de célula.

E. Tornar atributos invisíveis em visíveis através da adoção de medidores

Transparência significa a separação da rede de informações presentes em um

sistema de produção do sistema físico de produção (SANTOS, 1999). A rede de

informações está sempre implícita no sistema físico de produção em célula e pode ser

externada através da adoção de medidores. Por exemplo, atributos como qualidade de

produção da equipe de trabalho, perda ou produtividade são invisíveis a menos que

sejam medidos e transformados em indicadores de performance.

F. Manter o ambiente de trabalho limpo e ordenado

Quando o ambiente é limpo, seguro e ordenado, o trabalhador da célula de

manufatura pode relaxar e fazer seu trabalho mais eficientemente. O mais famoso e

bem sucedido método para se manter o ambiente de trabalho limpo e em ordem é

conhecido como “5S”. O termo “5S” é um termo familiar em companhias “world-

class” e se refere a cinco tradicionais práticas de economia doméstica e são parte da

rotina diária de cada família japonesa. No início dos anos 50 essas práticas se tornaram

imperativas nas companhias japonesas. As letras no 5S significam em Japonês:

Seiri (Senso de Arrumação): Nesta fase os materiais são separados em pilhas

necessárias e não necessárias. O “Seiri” é feito diariamente ou somente uma ou

duas vezes por ano dependendo do nível de perda.

Page 43: Dissertacao Celulas de produção

43

Seiton (Senso de Ordenação): Esta etapa determina a locação para cada item. A

prática usual é definir os itens mais freqüentemente usados e coloca-los próximos

aos locais de trabalho correspondentes.

Seiso (Senso de Limpeza): Depois da aplicação do “Seiri” e do “Seiton” apenas os

itens essenciais devem permanecer nos locais de trabalho. Neste estágio os

trabalhadores devem realizar uma arrumação que leve todos os itens para um nível

padrão de limpeza. Isto deve ser feito continuamente para manter a limpeza dentro

do sistema de produção.

Seiketsu (Senso de Asseio): trata de padronização das atividades do “5S” de modo

que as ações são específicas e fáceis de realizar.

Shitsuke (Senso de Auto-Disciplina): Este é o método usado para motivar os

trabalhadores a realizar e participar continuamente nas atividades de Seiso e

Seiketsu.

2.6.10 Transporte e Manuseio de Materiais de Forma Eficiente e Segura

O manuseio de materiais é a arte e a ciência que estão relacionados com o

movimento, estocagem, controle e proteção de bens e materiais. Essas são atividades

que não adicionam valor ao produto e que quase sempre consomem tempo. Além disso

são algumas vezes inseguras, especialmente quando o material e a distância são

grandes e o manuseio de materiais é freqüente. Por essa razão, o manuseio e a

estocagem imprópria de material podem causar grandes prejuízos em um sistema de

produção, sendo sua realização de maneira eficiente vital para o funcionamento de

instalações de produção (REESE, 2000; MATERIAL HANDLING INDUSTRY OF

AMÉRICA, 2002).

Para o eficiente manuseio de materiais em uma célula de manufatura, o

ponto principal é simplificar o fluxo de materiais eliminando, reduzindo ou

combinando movimentos ou equipamentos. Deve se cuidadosamente planejar o fluxo

do processo e operações de forma a obter máxima eficiência e segurança. Esse

Page 44: Dissertacao Celulas de produção

44

planejamento deve contemplar o projeto de equipamentos ergonômicos, portáteis e

fáceis de transportar que se adaptem facilmente às necessidades de mudança da célula

(REESE, 2000).

Se movimentações podem ser eliminadas, seja simplificando o trabalho,

mudando a programação ou rearranjando o processo de produção, será possível

aumentar sensivelmente a eficiência do processo (REESE, 2000; MATERIAL

HANDLING INDUSTRY OF AMÉRICA, 2002).

Essa prática é facilitada em uma célula de manufatura pois os grupos e as

máquinas que completam todas as partes que produzem estão muito próximas umas

das outras (BURBIDGE, 1991). Assim, as distâncias de movimentação e os tempos de

movimentação dentro de uma célula são bastante reduzidos por que a próxima

operação do processo está fisicamente próxima.

O leiaute celular tem estruturas de fluxo mais estáveis e simples,

possibilitando o uso de dispositivos simples e baratos para manuseio de materiais. A

única movimentação significativa dentro de uma célula é o movimento de matéria

prima desde o estoque central até a célula e o movimento das partes finalizadas para o

estoque. Por isso a célula reduz tanto o tempo dedicado ao manuseio de materiais

como o tempo de manuseio de materiais entre operações (GREENE; SADOWSKY,

1984).

2.6.11 Manutenção Produtiva Total

Antes da definição de Manutenção Produtiva Total (TPM) julga-se

necessário discorrer sobre a evolução das políticas de manutenção. As políticas de

manutenção preventiva foram introduzidas no Japão na década de 50 e o seu

crescimento pode ser dividido ao longo do tempo nos seguintes quatro estágios

(NAKAJIMA, 1988)

Manutenção Corretiva – antes de 1950 - é a forma mais primitiva de efetuar

manutenção e ainda é muito comum atualmente. Essa forma de manutenção é

Page 45: Dissertacao Celulas de produção

45

realizada de maneira emergencial após o acontecimento de algum defeito ou uma

parada imprevista da máquina devido à falhas geralmente quando a máquina

deveria estar em operação (WIREBSKY, 1997);

Manutenção Preventiva – introduzida por volta de 1950 - consiste em seguir a

recomendação dos fabricantes a respeito dos cuidados que devem ser tomados na

operação e manutenção dos equipamentos, considera-se uma alternativa muito cara

pois substitui-se equipamentos com base no tempo de uso enquanto poderiam ter

uma vida útil maior, além do excessivo número de homens-hora dedicados a tais

programas (WIREBSKY, 1997);

Manutenção Produtiva (chamada também de manutenção preditiva) - estabelecida

nos idos de 1960 - observa-se o comportamento das máquinas, verificando falhas

ou detectando mudanças nas condições físicas, podendo-se prever com precisão o

risco de quebra, permitindo assim a manutenção programada. Ainda existem

desvantagens, pois essa abordagem para manutenção requer acompanhamentos e

inspeções periódicas, através de instrumentos específicos de monitoramento, além

de profissionais altamente especializados (WIREBSKY, 1997);

TPM (Manutenção Produtiva Total): pode ser definida como uma campanha que

objetiva maximizar a efetividade do equipamento estabelecendo um minucioso

sistema de manutenção preventiva para toda a sua vida útil utilizando a filosofia do

gerenciamento orientado para o equipamento. A TPM abrange a empresa inteira,

com a participação de todo o corpo de empregados (desde a alta gerência até

trabalhadores de chão de fábrica) sendo implantada por vários departamentos. A

TPM é baseada na promoção da manutenção produtiva pelo gerenciamento da

motivação com suas atividades desenvolvidas por pequenos grupos autônomos

(NAKAJIMA, 1988; TAKAHASHI, 1993).

NAKAJIMA (1988) afirma que a TPM busca o Zero Defeito ou Falha Zero.

Quando elimina-se falhas e defeitos consegue-se melhorias na taxa de operação dos

equipamentos, a redução de custos, os estoques podem diminuir e, como

Page 46: Dissertacao Celulas de produção

46

conseqüência, consegue-se o aumento da produtividade da mão de obra.

A implementação da TPM no ambiente de célula de manufatura maximiza a

efetividade do equipamento através da eliminação das seis “grandes perdas” que

reduzem a efetividade do equipamento. Essas seis perdas são (NAKAJIMA, 1988):

paradas por falhas não esperadas; paradas para ajustes no setup; perdas por pequenas

paradas causadas por falhas no equipamento; perdas por discrepância entre a

velocidade planejada e a real velocidade de produção; perdas por defeitos no processo;

e perdas por redução na produção.

Consegue-se a eliminação destas perdas pois a TPM une os operários da

célula e o pessoal de manutenção em equipes que estabilizam as condições do

equipamento e cessam a sua deterioração. Essas equipes desenvolvem e dividem

responsabilidade por tarefas diárias de manutenção o que torna possível a utilização do

equipamento sempre em plenas condições. Através dessa manutenção autônoma os

operários aprendem a realizar diariamente tarefas de manutenção que raramente teriam

tempo para realizar. Com essas tarefas sendo transferidas aos operadores, o pessoal de

manutenção pode focar seus esforços no desenvolvimento e implementação de planos

pró-ativos de manutenção (MCKONE; SCHROEDER; CUA, 1999).

Dessa forma o programa de TPM promove o envolvimento dos operadores

da célula os tornando parceiros do pessoal de manutenção e engenharia na melhoria da

performance geral e da confiabilidade dos equipamentos. Sendo assim, os operários

aprendem mais sobre seus equipamentos, quais problemas podem ocorrer, por que

ocorrem e como podem ser prevenidos através de sua detecção o mais cedo possível,

além de como tratá-los quando ocorrem condições anormais (MCKONE;

SCHROEDER; CUA, 1999).

2.7 DISCUSSÃO

No desenvolvimento da revisão de literatura o pesquisador não encontrou

estudos demonstrando a implementação do conceito de célula de manufatura para o

Page 47: Dissertacao Celulas de produção

47

ambiente da construção civil. Esse fato impeliu o pesquisador a utilizar como base

para implementação conceitos de estudos aplicados em outros setores industriais.

O funcionamento da célula de manufatura em outros setores industriais

requer que o produto se mova através das estações de trabalho. Na Construção Civil é

o contrário, o produto permanece fixo sendo que o posto de trabalho deve se

locomover através do produto. Desta forma entendeu-se que a implementação do

conceito de célula para a construção civil demande algumas diferenças para sua plena

aplicação.

Por esse motivo utilizou-se na implementação do estudo de caso

desenvolvido nesse trabalho especificamente a célula móvel descritas no item 2.4

desse mesmo capítulo. Como é o posto de trabalho que se move, a cada estação de

trabalho seria montado um local de produção com todas as características de uma

célula real.

De acordo com a literatura consultada, o pleno funcionamento de uma célula

de manufatura em outros setores industriais depende da implementação de vários

fatores críticos de implementação. Aliando esse fato ao conceito de célula de

manufatura móvel na construção civil entende-se que a cada posto de trabalho deve ser

criado um ambiente em que todos os fatores de implementação descrito nesse capítulo

sejam implementados, atingindo o estado de “célula real” descrito por HYER e

BROWN (1999).

Presume-se que, devido às características inerentes da Construção Civil, a

implementação desses fatores de implementação nessa indústria deve também

demandar algumas diferenças práticas, que seriam portanto as diretrizes de

implementação da célula de manufatura para a Construção Civil. O objetivo dessa

dissertação é definir essas diretrizes e dessa forma realizou-se um estudo prático

tentando-se implementar o conceito de célula real para um processo construtivo típico

da Construção Civil. O processo escolhido foi o processo Drywall. Para a

familiaridade do leitor com esse processo construtivo realizou-se uma revisão

Page 48: Dissertacao Celulas de produção

48

bibliográfica acerca do tema Drywall que será apresentada no capítulo a seguir.

Page 49: Dissertacao Celulas de produção

49

3 A TECNOLOGIA DRYWALL

3.1 ASPECTOS GERAIS DA TECNOLOGIA DRYWALL

O estudo de caso foi realizado em uma obra utilizando divisórias de gesso

acartonado, também conhecido pelo termo, em inglês, Drywall. SABBATINI (1998)

descreve esse processo construtivo como “...um tipo de vedação vertical utilizada na

compartimentação e separação de espaços internos em edificações, leve, estruturada,

fixa ou desmontável, geralmente monolítica, de montagem por acoplamento mecânico

e constituída por uma estrutura de perfis metálicos ou de madeira e fechamento de

chapas de gesso acartonado”.

A tecnologia Drywall tem sido intensamente utilizada em vários países onde

observações práticas mostram vários benefícios para as construtoras e seus clientes. Na

Inglaterra, por exemplo, o setor de Drywall tem uma fatia estimada de 70% do

mercado de acabamentos internos (CANO-LOPEZ, 1999) e, nos Estados Unidos, 90%

das paredes internas são realizadas em gesso acartonado (CORBIOLI, 1995). Em se

tratando de consumo, os Estados Unidos utilizam cerca de 8,0 m2 placa/habitante,

sendo o maior consumidor de gesso acartonado, seguido pelo Japão (4,6 m2/hab),

Suécia (3,8 m2/hab), Irlanda (3,4 m2/hab) e França (3,0 m2/hab). No Brasil, consome-

se muito pouco (0,012 m2/hab), comparando com os países anteriormente citados.

Pesquisas indicam que no Brasil, em 1996, consumiu-se 2 milhões de m2 de chapa/ano

e, em 1998, esse consumo foi de 4,5 milhões de m2 de chapa, significando que em 2

anos o consumo das chapas de gesso aumentou 125% (TANIGUTI, 2000; CORBIOLI,

1996).

No Brasil, onde o déficit habitacional é estimado em 6,5 milhões de

habitações (FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, 2000) a utilização desta tecnologia pode

contribuir para a redução de custos e aceleração do processo de construção. De fato,

muitas construtoras estão começando a empregar o Drywall em suas obras motivadas

Page 50: Dissertacao Celulas de produção

50

pelo potencial de racionalização que esse sistema de vedação oferece. (TANIGUTI,

1999).

Esses fatos atentam para a necessidade de aumento dos investimentos em

Pesquisa e Desenvolvimento para adequar esta tecnologia às necessidades de

desempenho dos consumidores e as características dos sistemas de produção

Brasileiros. De acordo com TANIGUTI (1999), há um desconhecimento muito grande

a respeito da tecnologia de produção em Drywall, bem como de seu comportamento.

Deficiências nas práticas produtivas podem incorrer em patologias no produto final,

menor produtividade e aumento no índice de perdas. Estes fatos aliados à maior

complexidade e valor agregado presente nos componentes desta tecnologia motivam a

seleção da mesma como objeto de implementação exploratória do conceito de célula

de manufatura móvel.

A seguir é realizada uma descrição sucinta das etapas do processo

construtivo Drywall.

3.2 O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO DRYWALL

3.2.1 Descrição do Processo de Execução Tradicional

De forma geral as etapas do ciclo do processo de execução de divisórias de

gesso acartonado são aquelas apresentadas na Figura 3.1, embora não necessariamente

nesta ordem (TANIGUTI;BARROS, 2000). O boletim técnico BT/PCC/248 –

Vedação Vertical Interna de Chapas de Gesso Acartonado: Método Construtivo

produzido por TANIGUTI; BARROS (2000) descreve de maneira detalhada as várias

etapas deste processo. Observa-se na Figura 3.1 a seguir as etapas do ciclo do processo

de execução das divisórias de gesso acartonado.

Page 51: Dissertacao Celulas de produção

51

FIGURA 3.1- ETAPAS DO CICLO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO DAS DIVISÓRIAS DE GESSO

ACARTONADO (TANIGUTI; BARROS, 2000)

Na próxima seção serão descritas as etapas do processo construtivo Drywall.

Essas descrições estão baseadas fundamentalmente no trabalho de TANIGUTI;

BARROS (1999, 2000).

3.2.1.1 Locação e Fixação das Guias

A locação das guias é de fundamental importância para o todo o processo

pois determinará o posicionamento final da divisória. Os componentes necessários

nesta etapa são os perfis metálicos denominados guias. A “guia inferior” será fixada no

piso, e a “guia superior” que será fixada no teto. Os equipamentos geralmente

utilizados para marcação são a trena, o metro, o fio de prumo e o lápis. Em obras mais

avançadas tecnologicamente observa-se a utilização de laser para a marcação.

A trena e o metro são utilizados para localizar a posição da divisória a partir

de um ponto de referência. Essa referência deve ser encontrada em projeto e pode ser,

por exemplo, o eixo da obra ou mesmo as paredes da fachada, a caixa de escada ou os

elementos estruturais do edifício. Uma vez encontrado esse ponto utiliza-se o lápis

para marcar a posição da guia, geralmente a inferior. Uma vez locada a posição da

guia inferior utiliza-se o prumo de eixo e régua para realizar a marcação da guia

Page 52: Dissertacao Celulas de produção

52

superior. Para a fixação das guias sobre o piso e a laje é utilizada a pistola de tiro de

pólvora, de baixa velocidade. Antes de se realizar a fixação da guia, deve-se ainda

aderir a fita para isolamento acústico na face da guia que ficará em contato com o

piso/teto a fim de reduzir a passagem de som através das frestas entre

divisórias/teto/laje.

3.2.1.2 Colocação dos montantes

As placas de gesso não possuem resistência estrutural e por isso devem ser

fixadas sobre uma base plana e estável. Para isso são utilizados os montantes que são

constituídos de perfis metálicos. Estes ficam na posição vertical e servem também de

suporte para a fixação das chapas. Nessa etapa utiliza-se a trena e o lápis para marcar a

distância entre os montantes conforme especificação de projetos. Os cortes nos

montantes são realizados com o uso de uma tesoura específica.

Para iniciar a execução deve se verificar o tamanho do montante que deve ter

aproximadamente 10 mm menos que o pé direito. Inicia-se a colocação pelos

montantes perimetrais, assim como as guias, que também devem ser aderidos com a

fita de isolamento acústico. Os montantes perimetrais devem ser parafusados à

superfície onde ficarão encostados (pilar ou alvenaria) e às guias superior e inferior.

Os demais montantes são encaixados verticalmente no interior das guias obedecendo a

um espaçamento de aproximadamente 40 cm. Como os montantes possuem seção

transversal em “C”, a face aberta de todos os montantes de uma determinada parede

devem estar posicionadas na mesma direção.

3.2.1.3 Fechamento de uma face da divisória

Para os fechamentos da divisória são necessários os componentes de

fechamento e os elementos de fixação. Os componentes de fechamento são as chapas

de gesso acartonado que são um “sanduíche” com uma parte central de sulfato de

Page 53: Dissertacao Celulas de produção

53

cálcio dihidratado (CaSo4.2H2O) entre duas camadas de papel cartão. Essas chapas

possuem uma superfície lisa e as bordas rebaixadas para facilitar o acabamento,

permitindo o nivelamento após a realização do tratamento das juntas.

No Brasil comercializa-se a chapa para uso comum, coberta por cartão

branco em um lado e marfin do outro, e as chapas de gesso resistente à água que são

compostas na parte central por gesso e silicone e têm as superfícies cobertas por cartão

com hidrofugante (chapas de cor verde). Existe ainda a chapa resistente ao fogo que

contém fibras não combustíveis na camada de gesso.

Como componentes de fixação são utilizados parafusos específicos. Esses

parafusos são componentes auto-atarrachantes com cabeça de trombeta para a fixação

das chapas aos componentes metálicos ou de madeira. O tamanho do parafuso deve

corresponder à espessura da chapa acrescida de 10mm, isso para que penetrem nas

estruturas de suporte e tenham resistência suficiente à sua retirada. Deve se atentar que

a cabeça do parafuso fique nivelada com a face do papel cartão na superfície da chapa,

para não comprometer o acabamento. Para fixação das chapas de gesso utiliza-se as

parafusadeiras elétricas que possuem regulador de profundidade.

Para que as chapas sejam posicionadas corretamente, ou seja, fiquem

niveladas e sem contato com o piso para não absorver umidade, utiliza-se o pedal ou o

levantador de chapa. As chapas de gesso devem ser fixadas sempre sobre os montantes

com seu comprimento na posição vertical ou horizontal, de maneira a minimizar o

número de juntas. Ao se utilizar mais de uma camada de chapa, as junções das chapas

entre uma camada e outra devem ser desencontradas.

3.2.1.4 Colocação de reforço interno

No caso de serem previstas fixação de cargas superiores a 30 kg, deve-se

colocar um reforço dentro da divisória antes do fechamento da segunda face. Esses

reforços são geralmente de madeira embora existam reforços metálicos para casos

específicos. As madeiras devem estar planas, completamente secas e tratadas contra

Page 54: Dissertacao Celulas de produção

54

apodrecimento e ação de insetos e agentes biológicos. Recomenda-se o emprego de

madeira tratada por autoclavagem.

3.2.1.5 Execução de instalações

Para o caso das instalações elétricas, os eletrodutos flexíveis não apresentam

dificuldades de instalação sendo colocadas facilmente em qualquer direção

atravessando os orifícios dos montantes. O maior cuidado a ser tomado refere-se à

saída desses eletrodutos para as lajes que devem coincidir com a posição da divisória.

As caixas de luz podem ser fixadas diretamente sobre o montante, com o uso

de alguns acessórios específicos e, também, entre os vãos de dois montantes. Nesse

caso pode se empregar uma caixa de luz de plástico específica para ser fixada sobre o

gesso acartonado através de colocação de presilhas plásticas na própria caixa de luz.

A instalação hidráulica pode ser executada utilizando tubulação rígida ou

flexível. Da mesma forma, deve se observar as saídas das tubulações hidráulicas pelas

lajes anteriormente à execução da divisória. Outra preocupação é a compatibilidade

entre o diâmetro da tubulação e a espessura da divisória que deve Ter uma espessura

maior que o diâmetro da tubulação..

As tubulações rígidas horizontais podem atravessar os orifícios dos

montantes. Quando essas tubulações são de cobre, elas não devem ter contato com o

aço galvanizado para que não ocorra a corrosão do aço. A fixação das tubulações

ocorre nos pontos de saída, como registros, chuveiros, torneiras, entre outros utiliza-se

braçadeiras sobre estruturas de madeira. A não fixação nestes pontos pode resultar na

aplicação de esforços mecânicos na chapa, podendo causar danos.

No caso de tubulações flexíveis são frequentemente utilizados os tubos de

polietileno reticulado (PEX) para água quente ou fria. Neste caso não se utilizam

conexões, o que reduz o potencial de vazamentos. Recomenda-se a utilização de

“tubulações guia” para que, quando houver a necessidade de troca de tubulações, não

seja necessário retirar as chapas. Nas saídas dos pontos de utilização já existem

Page 55: Dissertacao Celulas de produção

55

orifícios para fixação por parafusos.

3.2.1.6 Preenchimento da divisória com isolante térmico acústico

Pode se utilizar lã de rocha ou de vidro no miolo da divisória para melhorar o

desempenho térmico-acústico da divisória. Os cuidados a serem observados são

quanto a compatibilidade da espessura do material isolante com a largura do montante

e a largura do mesmo com relação aos espaçamentos entre os montantes. Para garantir

que esse material fique distribuído por toda a altura da divisória, ele pode ser fixado

por parafusos na guia superior. O material isolante também pode envolver os ramais

hidráulicos para reduzir os ruídos provenientes dessas instalações.

3.2.1.7 Fechamento das faces da divisória

Essa atividade é executada de maneira similar à descrita no item 3.2.1.3 que

descreve o fechamento da primeira face da divisória. O fechamento da segunda face

deve ocorrer somente após a realização dos testes das instalações. Deve-se observar

também que as junções das faces das chapas de um lado da divisória estejam

desencontrados com as do outro lado.

3.2.1.8 Tratamento das juntas

Os materiais para essa atividade são as massas para tratamento das juntas e

as fitas de reforço. As massas podem ser à base de gesso ou a base de resina (situações

em que a divisória está sujeita à grandes deformações). É importante que a primeira

camada de massa esteja completamente seca antes da aplicação da Segunda camada

pois a perda de água causa retração na massa.

As fitas para juntas são utilizadas para reforçar as juntas no encontro de duas

ou mais chapas e para o reparo de fissuras. Essas fitas são microperfuradas para que a

fita tenha uma maior aderência quando em contato com a massa para tratamento das

Page 56: Dissertacao Celulas de produção

56

juntas. Ela também possui um vinco central por todo seu comprimento para facilitar o

rejuntamento nos cantos internos das divisórias. Nos cantos externos utiliza-se outro

tipo de fita que tem uma tira metálica aderida ao papel. Pode-se também utilizar

cantoneiras de aço galvanizado com orifício para facilitar a aderência entre a massa de

rejunte e a cantoneira.

Para a realização da aplicação da massa utiliza-se espátulas e

desempenadeiras. A aplicação da fita no encontro das chapas pode ser feita

manualmente ou com equipamentos e ferramentas que são o carretel que fica preso à

cintura do aplicador. Para a execução dos tratamentos das juntas em cantos internos

deve se antes aplicar uma camada de massa em cada lado do canto com o auxílio da

espátula. Em seguida dobrar a fita ao meio e pressionar no canto para aderir à massa.

Quando a primeira camada estiver seca, aplica-se a segunda camada.

3.2.2 Problemas na Prática Tradicional do Drywall

A descrição dos problemas nas práticas tradicionais de montagem das

divisórias de gesso acartonado baseou-se no diagnóstico realizado por SANTOS

(2001). Esse diagnóstico foi realizado comparando-se as boas práticas de execução do

processo Drywall descritas em literatura com as práticas realizadas em alguns

canteiros de obras da cidade de Curitiba. A apresentação dos resultados do diagnóstico

de SANTOS (2001) é relevante para a presente pesquisa devido ao mesmo ser

antecedente a ela. O corpo de pesquisadores participantes das duas pesquisas é o

mesmo e a pesquisa de SANTOS (2001) foi também um dos motivadores do estudo de

implementação do conceito de célula.

3.2.2.1 Aspectos Gerais

Para SANTOS (2001), de forma geral, um dos problemas mais críticos

identificados nas obras analisadas teve como origem o paradigma da conversão

Page 57: Dissertacao Celulas de produção

57

(KOSKELA, 1992). Pelo paradigma da conversão entende-se as atividades produtivas

como uma transformação de entradas e saídas. Dessa maneira o gerente direciona sua

atenção para as atividades de conversão (processamento). As outras atividades de

fluxo do processo, ou seja, armazenamento, transporte, esperas e inspeções são

relegadas a segundo plano, embora elas, usualmente, são as que mais ocupam o tempo

dos sistemas de produção. Os problemas são levantados em vários aspectos do

processo produtivo e são resumidos no Gráfico 3.1:

50

22

80

66

7470

66

80

0

100Transporte

Equipamentos

Guias

Montantes

Reforços

Chapas

Instalações

Isolamentos

GRÁFICO 3.1– AVALIAÇÃO DAS PRÁTICAS DE DRYWALL NOS CANTEIROS DE OBRAS (SANTOS, 2001)

O gráfico mostra a porcentagem de práticas identificadas realizadas nos

canteiros de obras em relação às boas práticas recomendadas pelos fabricantes de

componentes de Drywall. Nas sessões a seguir discute-se essa relação para as várias

etapas de montagem do Drywall dando ênfase aos principais problemas da prática

tradicional de montagem das divisórias.

3.2.2.2 Transporte

As observações mostraram que apenas 50% das práticas consideradas como

aplicáveis eram realizadas no canteiro de obras. Não foi possível observar sistemático

planejamento do leiaute de produção definindo locais de estoque, locais de descarga de

materiais ou delineando caminhos de transporte e de circulação. Os fluxos ineficientes

Page 58: Dissertacao Celulas de produção

58

dos postos de trabalho e de materiais de trabalho acarretavam grandes tempos gastos

com transporte e deslocamento que correspondiam a 12% e a 8% do tempo total

respectivamente. Contribuíam para essa situação a dispersão de máquinas e

equipamentos através do pavimento e morosidade para montagem das estações de

trabalho.

Um claro sinal da falha de atenção para o fluxo de trabalho era o recorrente

enclausuramento das estações de trabalho. Esta prática gerou dificuldades de

comunicação entre estações de trabalho e problemas de acessibilidade por parte das

operações de transporte. Isso trazia bastante ineficiência no transporte, o qual não

podia ser realizado diretamente ao posto de trabalho.

O fluxo do processo era também comprometido pois não havia projeto

específico de montagem disponível para orientar os operários com respeito ao sentido

de montagem. A ausência de projeto específico de montagem de Drywall relegava aos

operários a determinação de uma referência para a locação das guias, o tipo de chapa

de gesso a ser utilizada, o espaçamento entre os componentes que estruturam a

divisória entre outras coisas. A falta de projeto acarretava em perdas principalmente

relativas à medições e cortes de chapas que de acordo com o estudo de SANTOS

(2001), chegavam a ocupar 17% do tempo da mão de obra.

3.2.2.3 Equipamentos e ferramentas

A pesquisa demonstrou que 80% dos equipamentos/ferramentas

considerados aplicáveis para a produção de Drywall estavam presentes nos canteiros

de obras, ou seja, apenas 80% das ferramentas necessárias para a boa execução do

Drywall eram utilizadas. As principais dificuldades observadas eram relativas ao

transporte de ferramentas e materiais bem como nas operações de preparação dos

postos de trabalho (setup). O tempo de setup era excessivamente alto e era

virtualmente impossível transportar todos os equipamentos em apenas uma operação

de transporte. De fato, SANTOS (2001) demonstra que 35% do tempo total de

Page 59: Dissertacao Celulas de produção

59

produção de divisórias era usado em atividades auxiliares.

Além disso, a maioria dos postos de trabalho apresentavam problemas de

ergonomia. Dentre esses problemas pode-se ressaltar os andaimes que exigiam

movimentos da espinha dorsal de grande amplitude e possuíam baixa estabilidade,

comprometendo a qualidade da execução das operações. A improvisação de

equipamentos era muito utilizada e afetava o resultado final das operações de Drywall.

3.2.2.4 Marcação e fixação das guias

O estudo de SANTOS (2001), demonstrou que apenas 22% da práticas

aplicáveis para esta etapa estavam presentes no canteiro de obras. O estudo indicou

uma clara falha na aplicação do princípio da transparência. Por exemplo, o fornecedor

recomendava um controle visual indicando a posição das janelas e das portas, prática

essa não observada durante o estudo de SANTOS (2001). O substancial tempo perdido

pelos operários procurando por posições e realizando medições, que ocupava 10,4%

do tempo total, demonstrou a necessidade de aplicação desse princípio no processo

Drywall.

3.2.2.5 Instalação de montantes

O estudo indicou que 74% das práticas aplicáveis estavam presentes no

canteiro de obras. Um dos problemas foi identificado na operação de corte dos

montantes. No diagnóstico observou-se que para essa operação utilizava-se o Disco de

Corte Portátil (maquita) enquanto o equipamento recomendado pelo fabricante era a

“tesoura”. A “maquita” oferecia menor flexibilidade e exigia maior deslocamento por

parte dos operários para a realização da operação pois os operários percorriam longas

distâncias para encontrar pontos de tomada elétrica. Além disto, este equipamento

exige EPI´s (ex: luva, óculos de segurança, protetor auricular, máscara) que nem

sempre eram utilizados na estação de trabalho.

Page 60: Dissertacao Celulas de produção

60

3.2.2.6 Colocação de reforço interno

O diagnóstico identificou no canteiro de obras apenas 80% das práticas

consideradas aplicáveis para esta etapa. No entanto, SANTOS (2001) considerou

difícil verificar a presença destes itens já que não existiam projetos ou especificações

indicando a real necessidade e a localização para os reforços internos. Os reforços

eram então instalados em três níveis. Esse níveis eram marcados utilizando-se uma

ferramenta desenvolvida pelo próprio empreiteiro de Drywall.

3.2.2.7 Fixando as chapas

Apenas 70% das práticas recomendadas para a instalação das chapas foram

observadas nos canteiros de obras estudados. Um exemplo disso é que os operários

não marcavam as placas antes de realizar o corte nas mesmas. Outro exemplo é a não

observância da realização de testes nos sistemas hidráulicos e elétricos antes de se

fechar a “segunda face” da divisória. A falta desses testes pode gerar grandes custos

para nos estágios subseqüentes da construção ou até mesmo depois da entrega do

produto ao cliente final.

3.2.2.8 Isolamento

A avaliação desse item por SANTOS (2001) demonstrou que dois terços dos

itens aplicáveis no canteiro de obras para esta etapa eram efetivamente utilizados. Um

item era relativo à não aplicação da fita na interface entre a guia e o teto para melhorar

o isolamento acústico.

3.2.2.9 Outros

Além dos problemas acima mencionados, SANTOS (2001) descreve outras

situações identificadas naquele diagnóstico que trazem prejuízo à eficiente montagem

Page 61: Dissertacao Celulas de produção

61

das divisórias de Drywall. Essas situações tem origem no método de trabalho adotado

nas práticas tradicionais de montagem. Um deles é a execução do Drywall de forma

segmentada, ou seja utilizando grandes lotes de produção. Cada etapa do processo (ex:

marcação, montante, etc ) é executada de forma isolada e em grande quantidade em

contraposição à ênfase na conclusão de produtos acabados (ex: cômodo).

Entre as conseqüências diretas do sistema segmentado de execução de

divisórias de gesso acartonado estavam o acúmulo de trabalho em progresso e o

aumento progressivo do tempo de espera entre a execução do Drywall e o início das

atividades subsequentes (ex: pintura). Esse aumento do tempo de espera ocorria devido

ao grande aumento do tamanho do lote de transferência, já que praticamente todas as

divisórias já deviam ter sido executadas para que as atividades subsequentes pudessem

iniciar.

Outro problema encontrado foi relativo à qualidade. Esse problema ocorria

pela produção em massa de etapas isoladas do processo na montagem do Drywall.

Como exemplo SANTOS (2001) relatou a observação de um duto colocado sobre o

forro impedindo a execução do forro em um nível adequado, dificultando a execução

do requadro da janela. Como as etapas eram desenvolvidas em grandes lotes, este erro

de projeto somente foi identificado após a execução de praticamente todos os

montantes do edifício. Dessa forma provavelmente todos os ganhos de produtividade

conseguidos com a produção em escala das guias e montantes tenham sido perdidos

com os retrabalhos e improvisações decorrentes destes erros.

3.2.3 Discussão

A partir da descrição dos problemas no estudo de SANTOS (2001) pode se

concluir que a prática tradicional seqüencial não é eficiente. Os problemas

identificados repercutem na grande porcentagem de atividades que não adicionam

valor (auxiliares e improdutivas) presentes no processo de montagem do Drywall. De

fato, se somadas, as atividades auxiliares e improdutivas tomam até 62% do tempo

Page 62: Dissertacao Celulas de produção

62

total do processo no estudo de SANTOS (2001).

Conclui-se que esse quadro ocorreu devido a vários aspectos produtivos.

Entre esses aspectos pode se ressaltar o método de trabalho, a dificuldade de

preparação dos postos de trabalho, a falta de transparência no processo, a falta de

planejamento dos fluxos físicos no canteiro de obras além da falta e da improvisação

de materiais e equipamentos para a perfeita montagem das divisórias.

A presente dissertação explora o uso do conceito de célula de manufatura

como mecanismo de solução simultânea dos problemas identificados no processo

tradicional de montagem de Drywall. A consulta à literatura demonstrou que em

outros setores industriais a organização em célula conseguiu minimizar ou eliminar

problemas causados pelos mesmos aspectos presentes nesse processo da Construção

Civil. O capítulo a seguir descreve o método de pesquisa utilizado para

operacionalização da implementação do conceito de célula de manufatura para a

Construção Civil.

Page 63: Dissertacao Celulas de produção

63

4 MÉTODO DE PESQUISA

4.1 SELEÇÃO DO MÉTODO

Devido à natureza do tema, a aplicação do conceito de célula de manufatura

móvel na Construção Civil, demandou o desenvolvimento de um estudo em uma

situação real, a qual deveria necessariamente envolver os protagonistas dos sistema de

produção. Decidiu-se, então, pela adoção de “estudo de caso” como principal método

de pesquisa. O estudo de caso é uma investigação empírica que busca analisar um

fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto na vida real (YIN, 1994).

O método de “estudo de caso” é adequado especialmente quando os limites

entre o fenômeno sob análise e seu contexto não estão claramente definidos. Devido ao

fato de envolver situações no mundo real implicam pouco ou nenhum controle sobre

os eventos decorrentes das práticas observadas (YIN, 1994; ROBSON, 1993).

Como o objeto desse estudo é o processo construtivo Drywall, a obra onde o

estudo de caso foi realizado deveria necessariamente possuir tal tecnologia. Além

disso a equipe de montagem de divisórias deveria concordar em participar de um

processo de treinamento para adaptação das novas técnicas a serem implementadas no

canteiro de obras.

4.2 SEQUÊNCIA GERAL DE DESENVOLVIMENTO DA PESQUISA

No estudo de caso desenvolvido buscou-se fundamentalmente comparar o

conjunto de práticas necessárias para a aplicação do conceito de célula de manufatura

na construção civil em relação à estrutura teórica desenvolvida no Capítulo 2, tal

comparação objetivou a obtenção de diretrizes para a implementação do conceito de

célula móvel para a Construção Civil. Comparou-se também a dinâmica da produção

em ambiente de célula com a prática seqüencial tradicional observada na construção

Page 64: Dissertacao Celulas de produção

64

civil. Neste último caso a dissertação revisita dados apresentados na dissertação de

TURRA (2002), desenvolvida paralelamente à presente dissertação, utilizando o

mesmo objeto (célula de manufatura) mas com enfoque diferenciado. Ambos os

autores fizeram parte de uma equipe de pesquisadores que teve participação ativa na

etapa de preparação do pessoal e do canteiro de obras e na etapa de implementação da

célula de manufatura. Os dados retirados da dissertação de TURRA (2002) estão

oportunamente referenciados. A Figura 4.1 expõe uma visão geral do desenvolvimento

do presente estudo de caso.

Primeira Etapa Quarta EtapaTerceira EtapaSegunda Etapa

Revisão

Bibliográfica

sobre Célula

de

Manufatura

Implementação no

canteiro de obras

em um pavimento

de um edifício

Diretrizes de

Implementação

para a

Construção

Civil

Quinta Etapa

Comparação com

Teoria

baseado em

Hyer e Brown

(1999)

Preparação

de pessoal

e canteiro

de obras

Revisão

Bibliográfica

sobre

Drywall

FIGURA 4.1 -ETAPAS DA PESQUISA

A primeira etapa da pesquisa consistiu na revisão bibliográfica sobre célula

de manufatura, buscando obter a estrutura geral de princípios e ferramentas que

norteiam a implementação da célula em outros setores industriais. Note-se que não foi

identificado durante esta dissertação publicações tratando deste tema para o caso da

construção civil. A estruturação desta revisão bibliográfica orientou-se inicialmente

pela estrutura dos fatores chave de implementação propostos por Hyer & Brown

(1999).

O foco principal da revisão bibliográfica foi a literatura nacional e os

principais periódicos ligados ao gerenciamento da construção e à engenharia de

Page 65: Dissertacao Celulas de produção

65

produção. Entre os periódicos consultados constam o International Journal of

Operation & Production Management, Construction Management and Economics,

International Journal of Production Economics, Journal of Operations Management,

International Journal of Operations Management, entre outros.

Na segunda etapa foi realizado uma revisão bibliográfica buscando

caracterizar o processo de execução tradicional do Drywall. Além de autores como

TANIGUTI (1998, 1999) e TURRA (2002) esta etapa incluiu a busca de descrições

presentes em manuais de orientação dos principais fabricantes de componentes para o

Drywall (KNAUF, S.DATA; LAFARGE, S.DATA). A identificação dos principais

problemas relativos ao processo tradicional de execução do Drywall utilizou os

resultados do relatório de SANTOS (2001). Este último estudo foi realizado através do

Programa de Pós-Graduação em Construção Civil da UFPR em parceria com quatro

construtoras curitibanas e precedeu o desenvolvimento da presente dissertação.

A terceira etapa consistiu na preparação da obra objeto do estudo de caso

para a implementação exploratória da célula de manufatura móvel. Observando os

problemas apontados para o processo tradicional de execução do Drywall em

SANTOS (2001) concluiu-se que esta preparação deveria ser a mais ampla possível

dentro do prazo disponível para a dissertação. Assim sendo, realizaram-se ações de

preparação desde a mão-de-obra até os equipamentos e projeto executivo.

A quarta etapa do estudo envolveu a implementação propriamente dita da

célula de manufatura na referida obra, a caracterização da dinâmica de produção

observada assim como a coleta de informações chave. Esta etapa proveu os principais

subsídios para a quinta etapa, a qual representou fundamentalmente a análise dos

resultados da coleta de dados.

4.3 PROTOCOLO DE COLETA DE DADOS

A seguir são descritas as técnicas de coleta de dados utilizadas para

caracterizar e avaliar a dinâmica do ambiente de célula de manufatura durante e após a

Page 66: Dissertacao Celulas de produção

66

implementação exploratória realizada no estudo de caso.

4.3.1 Caracterização da dinâmica dos fluxos de produção

Foi utilizado a técnica do “diagrama de processo” visando possibilitar a

comparação do fluxo do processo de execução do Drywall no ambiente da célula

implementada no estudo de caso em relação com o fluxo do processo tradicional

apresentado na literatura. Este mapeamento inclui a descrição das etapas, as operações

realizadas em cada etapa, a coleta de tempos médios de execução de cada operação e

os recursos necessários. A coleta é realizada em formulários que contém campos onde

registram-se as atividades (operações) envolvidas no processo observado. Para o

preenchimento destes são utilizados símbolos padronizados que descrevem os vários

passos da execução do processo. Esses símbolos estão melhor descritos no Quadro 4.1

(CLETO, 2003).

QUADRO 4.1 – SIMBOLOGIA UTILIZADA NA ELABORAÇÃO DOS ESTUDOS DOS PROCESSOS

O gráfico é formado por colunas verticais. Nessas colunas verticais são

indicados o número de operações das etapas das atividades, outra coluna com os

símbolos padronizados indicando qual o tipo de atividade para cada operação, outra

coluna onde é feita a descrição de cada uma dessas etapas do processo, uma coluna

Page 67: Dissertacao Celulas de produção

67

para indicação dos recursos necessários e coluna para a contagem de tempo.

Outra técnica similar utilizada foi o mapofluxograma, o qual possibilitou a

representação no plano da posição de equipamentos, estoques e os sentidos dos fluxos

principais. Com esta técnica objetivou-se a identificação das principais diferenças dos

fluxos físicos da organização em célula de manufatura em relação ao processo

tradicional, dando ênfase para a questão do nível de terminalidade das unidades de

produção.

4.3.2 Entrevistas Não Estruturadas

Foram realizadas entrevistas não estruturadas com o intuito de se obter

informações necessárias para compreensão da percepção dos envolvidos quanto à

efetividade da célula na melhoria das práticas de produção. Os principais

questionamentos eram os seguintes:

a) Você percebeu algum avanço em relação às práticas anteriores? Quais

foram estes avanços?

b) Quais as barreiras que você vislumbra na replicação desta experiência

em outro canteiro de obra?

c) Quais os retrocessos da célula em relação às práticas anteriores?

Em geral, estas entrevistas assumiram um modelo de conversação. Elas não

foram gravadas para evitar qualquer desconforto para os trabalhadores devido aos

gravadores, como recomendado por YIN (1994). Os principais argumentos coletados

através do questionamento de gerentes e operários utilizando as perguntas acima foram

estruturados em uma única matriz, a qual procura estruturar o entendimento dos

operários com relação à viabilidade de células de manufatura móvel na construção

civil.

Page 68: Dissertacao Celulas de produção

68

4.3.3 Observações Diretas

As observações diretas foram utilizadas na coleta de informações descritivas

da dinâmica da produção no ambiente de célula de manufatura. Estas observações

foram do tipo “sistemático” (YIN, 1994) visto que eram realizadas de forma planejada

no que diz respeito à estrutura, datas e local onde seriam realizadas. O pesquisador

realizava a atividade de facilitador em paralelo a estas observações, apontando

incoerências e melhorias para implantação da célula quando havia necessidade e

oportunidade.

A realização destas observações seguiam a estrutura do fluxo do processo de

acordo com a descrição realizada no “diagrama do processo” e foram anotadas de

acordo com a estrutura teórica apresentada no Capítulo 2.

4.3.4 Registro de Imagens

O registro de imagens foi utilizado como forma de documentação das

atividades desenvolvidas no canteiro e contemplou operações de processamento

movimentação de materiais e dinâmicas de produção. O objetivo foi conseguir um

maior entendimento dos processos de execução realizados pela construtora após a

implementação da célula. Estas imagens auxiliam o processo de comunicação com os

operários e gerentes através da confrontação com imagens do processo tradicional.

Este registro contribuiu sensivelmente na compreensão das implicações dos

resultados das outras técnicas de coleta de dados. Os instrumentos utilizados para

coletar imagens da prática durante todo o período de coleta de dados foram as

fotografias pois oferece velocidade e flexibilidade durante a coleta de dados.

A fotografia é a forma mais simples e barata de coleta de imagens no

canteiro. As imagens podem ser utilizadas para a confecção de slides para utilização

em workshops, treinamentos, reuniões de trabalho, entre outros. A facilidade de seu

manuseio permite a fixação em murais, distribuição entre operários, confecção de

Page 69: Dissertacao Celulas de produção

69

manuais, entre outros (SANTOS, 1995).

4.4 ESTRATÉGIA DE ANÁLISE E VALIDAÇÃO

A análise geral foi realizada comparando-se evidências empíricas com

proposições teóricas encontradas na literatura que descrevem a aplicação de célula em

outros setores industriais. Para isso, utilizou-se uma abordagem do “pattern-matching”

descrito em SANTOS, POWELL e HINKS (2001). Nesta abordagem quando

resultados similares aos descritos na teoria acontecem e por razões previstas na mesma

teoria, a evidência empírica é vista como igual à proposição teórica e, por isso, é

chamada de “replicação literal”. Em contraste, quando o estudo de caso produz

evidências empíricas com resultados contrastantes à proposição teórica mas, também

por razões previstas na mesma teoria, a evidência é chamada de “replicação teórica”

(YIN, 1994). No caso das “replicações teóricas” o pesquisador valeu-se das evidências

coletadas no estudo de SANTOS (2001), focando as atenções fundamentalmente na

busca por “replicações literais”. Esta análise de “pattern-matching” foi feita utilizando-

se as proposições teóricas apresentadas no Capítulo 2:

EVIDÊNCIA

A

REPLICAÇÃO

LITERAL

PROPOSIÇÃO

TEÓRICA

EVIDÊNCIA

B

REPLICAÇÃO

TEÓRICA

CO

MPA

RA

ÇÃ

O

IGU

AL À

PRO

POSIÇ

ÃO

DIFER

ENTE À

PRO

POSIÇ

ÃO

POR R

AZÕ

ES

PREV

ISÍVEIS

CO

MPA

RA

ÇÃ

O

FIGURA 4.2 – MODELO DE VALIDAÇÃO DO PATTERN-MATCHING

É importante adicionar que a validade externa deste estudo de caso sofreu

uma importante contribuição durante a realização da pesquisa tendo sido analisado

Page 70: Dissertacao Celulas de produção

70

por auditores externos à própria construção civil. De fato, a Comissão Julgadora do

Prêmio CNI (Confederação Nacional da Indústria) na categoria Qualidade e

Produtividade do ano de 2001 conferiu o primeiro lugar em nível regional ao projeto

reportado nesta dissertação. Entre os critérios de avaliação incluíram aumento da

produção, redução dos custos e redução do retrabalho. A comissão julgadora deste

prêmio é composta por especialistas de instituições públicas e privadas de reconhecida

competência nas categorias que compõem o prêmio (CNI, 2003).

A validação interna desta pesquisa foi realizada através do cruzamento das

informações das entrevistas não-estruturadas, observações diretas, mapeamento do

processo, registro de imagens e análise de documentos. Fundamentalmente, o processo

utilizado foi o da triangulação dos dados coletados na análise de cada um dos fatores

de implementação de célula descritos no Capítulo 2.

Page 71: Dissertacao Celulas de produção

71

5 RESULTADOS & ANÁLISE

5.1 APRESENTAÇÃO DO ESTUDO DE CASO

O estudo de caso foi realizado em um canteiro de obras de uma empresa

construtora de médio porte da cidade de Curitiba no Estado do Paraná (<500

funcionários). Esta construtora é uma das principais incorporadoras imobiliárias do

país e foi a pioneira na introdução do gesso acartonado como método construtivo de

divisórias em apartamentos. Este último fato foi determinante na seleção da mesma

para a realização desta dissertação.

A obra correspondia a um edifício de 22 pavimentos, sendo construído em

estrutura de concreto com fechamento externo em blocos cerâmicos e fechamento

interno utilizando divisórias em gesso acartonado. Em cada pavimento tipo havia

quatro apartamentos, tendo cada uma área de 115 m2 de área útil. Desses 22

pavimentos, inicialmente, dois foram cedidos pela empresa para a implementação do

estudo de caso, o 19º e 20º andar, totalizando 08 apartamentos.

A obra não tinha nenhum tipo de certificação (ISO, OHSAS, etc..) e a

empresa possuía um departamento de planejamento e controle da produção que

realizava o planejamento e orçamento da obra e o processamento e acompanhamento

de recursos materiais, humanos e financeiros. A execução e controle deste

planejamento eram de responsabilidade do engenheiro da obra, que detinha autonomia

parcial na administração dos recursos físicos e financeiros. O engenheiro da obra

também era responsável pela supervisão dos empreiteiros terceirizados que realizavam

as diversas atividades no canteiro de obras, o que incluía o processo de execução do

Drywall. Vale ressaltar que o empreiteiro de Drywall nesta obra prestava serviços para

a empresa há cerca de oito anos.

Page 72: Dissertacao Celulas de produção

72

5.2 ETAPA DE PREPARAÇÃO

Nessa seção serão descritas as práticas utilizadas para a preparação do

canteiro de obras para implementação do conceito de célula. Estas atividades de

preparação visavam tornar o canteiro de obras um lugar o mais propício possível para

que o conceito de célula real fosse plenamente conseguido.

5.2.1 Mão-de-obra

Para que as melhorias implantadas no canteiro de obras se efetivassem,

observou-se a necessidade de uma preparação da mão de obra. Essa preparação foi

realizada através de várias sessões de treinamento que tinham o objetivo de prover um

maior grau de entendimento da dinâmica dos novos conceitos a serem implantados na

produção de divisórias em gesso acartonado. Além disso, estavam também

direcionadas à resolução dos problemas inerentes a esse processo produtivo levantados

no diagnóstico de SANTOS (2001) descrito no Capítulo 3. A Figura 5.1 ilustra um

dos encontros realizados com os operários e gerentes nesta fase de preparação.

FIGURA 5.1 – SESSÃO DE TREINAMENTO PARA PREPARAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA

As seções de treinamento foram dedicadas a todo o pessoal responsável pelas

atividades produtivas no canteiro de obras. Essas sessões foram realizadas nas

dependências da UFPR (Universidade Federal do Paraná) e tiveram participação de

Page 73: Dissertacao Celulas de produção

73

diretores da empresa, engenheiro da obra, mestre-de-obra, empreiteiro e operários do

processo Drywall, pesquisadores e auxiliares de pesquisa. Essas reuniões foram

realizadas durante dois meses nas sextas-feiras à tarde. A construtora parceira nesta

pesquisa deu licença a todos os participantes da pesquisa, a ela vinculados, para

participação nessas reuniões. O material didático apresentado era composto de slides e

eram realizadas aulas expositivas apresentadas pelos pesquisadores. Os tópicos

apresentados durante as seções de treinamento foram apresentados por serem temas

relevantes para os fatores de implementação da célula de manufatura. Além disso o

diagnóstico de SANTOS (2001) apontou problemas críticos no processo tradicional de

execução do Drywall relacionados com esses temas. As sessões de treinamento

abrangeram os seguintes aspectos:

Treinamento sobre redução dos tamanhos de lote: esse treinamento visou

levar o entendimento necessário aos operários para superarem os problemas

relacionados à produção em grandes lotes;

Treinamento em trabalho em progresso e preparação de postos de trabalho:

foi realizado dando continuidade à discussão sobre pequenos lotes e sobre a

importância da necessidade de velocidade da preparação dos postos de

trabalho;

Treinamento sobre ergonomia: o objetivo era prover um maior entendimento

dos problemas ergonômicos relativos ao processo e dar subsídios concretos

para os operários se envolverem no projeto da estação de trabalho;

Treinamento sobre transparência no processo e perdas na Construção Civil:

realizado devido ao alto volume de perdas apresentados no processo e,

também, pela potencialidade de implantação de soluções que aumentassem a

transparência no processo Drywall;

Treinamento sobre indicadores de qualidade e sobre trabalho em equipe:

realizado para apresentar um novo enfoque sobre qualidade ao pessoal da

produção e conceitos de trabalho em equipe;

Page 74: Dissertacao Celulas de produção

74

Treinamento sobre leiaute e arranjo físico: um dos problemas do processo

era relativo à ineficiência dos fluxos dos processos dentro do canteiro de

obras, o treinamento visou suprir a deficiência que os operários

apresentavam acerca desses conceitos;

Treinamento sobre célula de manufatura: foi realizado para que os operários

entendessem a dinâmica do processo a partir da implementação do arranjo

em célula e das melhorias implantadas no processo;

Treinamento sobre planejamento e sobre gestão de custos: o presente estudo

de caso serviu como base para outro projeto de pesquisa que enfocou

diretamente aspectos de custeio e de planejamento. Esse treinamento foi

realizado para apresentação de conceitos relativos à esse estudo.

5.2.2 Equipamentos

Como anteriormente apresentado, uma das principais necessidades para a

melhoria no processo produtivo Drywall era a racionalização e agilidade nas operações

de montagem dos postos de trabalho. Isso ocorreu com o desenvolvimento de uma

estação de trabalho móvel. O projeto dessa estação de trabalho levou em consideração

aspectos ergonômicos, de mobilidade e de auto-suficiência. A idéia foi de que os

trabalhadores deveriam encontrar todos os materiais, equipamentos e informações

necessárias à produção em um único local. Dessa forma era possível move-los

simultaneamente e de maneira rápida entre os postos de trabalho através do canteiro de

obra com os operários despendendo baixo esforço físico.

A equipe responsável pela produção teve a oportunidade de participação

efetiva nas diretrizes do projeto do posto de trabalho, dando opiniões extremamente

válidas para que o posto de trabalho atendesse às suas necessidades. Dentro desse

contexto, o posto de trabalho apresentava compartimentos específicos para

componentes, equipamentos (ex: parafusadeira, pistola, etc...), e local para projetos.

Além disso, incorporou-se a ele um cabo de força que se conectava à prumada elétrica

Page 75: Dissertacao Celulas de produção

75

do canteiro alimentando cinco pontos de energia (tomadas) acoplados ao próprio

posto.

Para se solucionar os problemas de improvisação dos andaimes, foi acoplado

ao posto de trabalho um andaime ergonômico, de fácil movimentação e com

dispositivo de travamento nas rodas. Na Figura 5.2 pode se observar o projeto da

estação de trabalho móvel, a estação de trabalho depois de finalizada e o andaime no

canteiro de obras.

FIGURA 5.2 – EQUIPAMENTOS DESENVOLVIDOS POSSIBILITANDO A MOBILIDADE DO POSTO DE

TRABALHO

Para a realização do projeto do novo posto de trabalho, além da participação

efetiva da construtora e dos operários, estabeleceu-se uma parceria com o

Departamento de Engenharia Mecânica da UFPR (DEMEC UFPR). O DEMEC

realizou o estudo ergonômico e desenvolveu o projeto do posto de trabalho, que levou

em conta todos os aspectos acima citados. A construtora parceira neste estudo de caso

se responsabilizou pela construção do posto de trabalho seguindo minuciosamente o

Page 76: Dissertacao Celulas de produção

76

projeto acima citado.

5.2.3 Método de Trabalho

Dentro dessa etapa foram realizadas as atividades de elaboração da dinâmica

de funcionamento da produção em leiaute celular. Um dos pontos principais se referiu

à definição do tamanho do lote de produção a ser adotado. O lote de produção é o lote

que vai ser processado completamente em um determinado recurso, antes da

preparação para um novo recurso. A estação de trabalho móvel continha todos os

recursos necessários para a execução de todas as etapas do processo, a cada

movimentação dessa estação de trabalho (preparação para um novo recurso) um novo

lote seria processado. A dimensão da estação de trabalho móvel permitiu que ela se

movimentasse facilmente pelo pavimento estacionando a cada cômodo de um

apartamento. Definiu-se dessa forma que o lote de produção ideal seria equivalente a

um cômodo do apartamento. Com a movimentação da estação de trabalho móvel

ocorrendo dessa maneira, a cada nova preparação da estação de trabalho para a

produção de um cômodo (lote de produção) seria criado um ambiente onde o conceito

de célula real seria plenamente efetivado.

Outra modificação foi decorrente da dificuldade e do tempo perdido em

medições e cortes de componentes de Drywall. O fornecedor não entregava os

componentes pré-cortados conforme as necessidades da obra e não havia tempo hábil

para efetuar alterações nesta prática. Além disso, durante o corte dos montantes e das

chapas na implementação desse estudo de caso, foi possível a identificação de um

problema inerente à essa edificação. No projeto da edificação não se considerou

quando da definição do pé direito dos pavimentos, a dimensão dos montantes e das

chapas de Drywall. Dessa maneira era necessário o corte de 30 centímetros de todos os

montantes e de todas as chapas para adequação ao projeto da edificação gerando

grande quantidade de atividades improdutivas. Por esses motivos foi idealizada uma

área de preparação e corte dos componentes na própria obra, a qual consistia de uma

Page 77: Dissertacao Celulas de produção

77

bancada de corte para a preparação dos componentes. Essa bancada de corte foi de

fundamental importância pois permitia que esses componentes já chegassem pré-

processados ao ambiente de produção (ambiente de célula) das divisórias, prontos para

serem montados, sem a necessidade de interromper a produção. A bancada de corte é

ilustrada na Figura 5.3

FIGURA.5.3 – ILUSTRAÇÃO DA BANCADA DE CORTE

Nessa bancada de corte eram cortados kits de componentes. Cada kit

abrangia todos os componentes necessários para um lote de produção. Esses kits eram

assim processados de acordo com um projeto de montagem de Drywall (o projeto de

montagem será descrito a seguir). Todos os componentes dos kits eram então reunidos

e rotulados (nominados) de acordo com seu destino final e dessa maneira chegavam à

célula de manufatura perfeitamente dentro de especificações de montagem prontos

para sua instalação, sem necessitar outras operações de preparação. Esses kits seriam

entregues diretamente a cada posto de trabalho.

O local destinado à bancada de corte foi o pavimento térreo do edifício, junto

ao local de estocagem dos componentes, a fim de se minimizar as atividades de

transporte e manuseio de materiais. Elaborou-se o leiaute da seção de corte de chapas e

perfis, prevendo-se área para armazenamento de kits separadamente por apartamento e

área especifica para depósito de rejeito e sobras. Essa seção de corte continha uma

bancada para o corte dos componentes onde foi instalada uma serra circular para

aumentar a produtividade dessa operação. Após o corte, os componentes eram

Page 78: Dissertacao Celulas de produção

78

transportados para o local de instalação, o ambiente de célula.

É importante frisar que a bancada de corte não fazia parte do ambiente de

célula. A bancada de corte era somente destinada à operações de preparação para que o

fluxo no ambiente de produção não fosse interrompido para a realização dessas

operações de preparação.

Para viabilizar o funcionamento dessa bancada de corte e pelos problemas

que sua ausência causam ao processo de produção, elaborou-se projeto executivo de

montagem de divisórias por apartamento. Esse projeto continha numeração de

componentes e detalhes de execução para Drywall. A partir desse projeto montou-se

um caderno de especificações técnicas com os detalhes de projeto descritos. Esse

caderno de especificações foi desenvolvido com o auxílio da equipe de produção de

modo a maximizar a utilização dos materiais ali especificados. Na Figura 5.4 a seguir

ilustra-se o detalhe desse projeto executivo.

FIGURA 5.4 - DETALHE DO PROJETO EXECUTIVO

Observa-se na figura como era feita a rotulação dos componentes cortados na

bancada de corte. Quando realizava o corte dos componentes, o operário observava o

projeto e cortava por exemplo o item “GI 1.A” que se referia à guia inferior da parede

1 (um) na posição A. O projeto apresentava as especificações de corte (dimensões) e

Page 79: Dissertacao Celulas de produção

79

em seguida o operário escrevia no próprio componente a rotulação (GI 1.A) para que,

quando da instalação desse componente, o montador responsável soubesse exatamente

qual o destino desse componente. A partir dessa lógica, montou-se um caderno de

especificações técnicas com todos os detalhes de projeto apresentados no formato A4.

Esses detalhes de projeto (projeto executivo) foram acoplados à bancada de corte e à

estação de trabalho móvel, locais onde essa informação seria necessária. A marcação

dos rótulos abrangia os principais componentes de montagem: as guias, os montantes e

as chapas de gesso acartonado

Outro etapa de preparação foi a definição do fluxo de trabalho dentro do

apartamento. Foram definidos os locais de armazenamento de materiais e o fluxo a ser

obedecido para o processo. Esse fluxo foi definido de acordo com o mapofluxograma

apresentado na a seguir. O mapofluxograma indica o sentido de montagem a ser

obedecido e os locais de operação. Os símbolos utilizados na Figura 5.5 no estão

demonstrados Quadro 4.1.

FIGURA 5.5 – DEFINIÇÃO DO FLUXO DE MONTAGEM DE DRYWALL

Foram ainda realizadas atividades relativas ao gerenciamento visual do

canteiro de obras na sua nova forma de organização de produção. Para demonstrar aos

operários o fluxo de montagem das divisórias no apartamento foram desenvolvidas

soluções de controles visuais. Um dos controles visuais desenvolvidos demonstrava no

piso do apartamento o sentido de execução aos operários e também contemplava os

Page 80: Dissertacao Celulas de produção

80

rótulos dados aos componentes de Drywall. Esses controles visuais permitiam aos

operários reconhecer imediatamente o sentido de fluxo e quais os componentes

designados para cada cômodo, pois, como anteriormente exemplificado, eles vinham

rotulados dessa maneira a partir da bancada de corte no térreo do edifício.

FIGURA 5.6 – ESTAÇÃO DE TRABALHO MÓVEL SEGUINDO O FLUXO INDICADO PELAS SETAS PINTADAS

NO PISO

Além dos controles visuais outras soluções em gerenciamento visual foram

implementadas no estudo de caso e serão melhor observadas na seção 5.4.9. Todas

essas atividades buscaram preparar o canteiro de obras e os funcionários para a

implementação da nova dinâmica de produção em célula de manufatura móvel. O

funcionamento dessa nova dinâmica de produção aplicado no canteiro de obras será

descrito na seção a seguir.

5.3 IMPLEMENTAÇÃO E DINÂMICA DE OPERAÇÃO DA CÉLULA MÓVEL

Essa seção pretende demonstrar o funcionamento da dinâmica de produção

de divisórias de gesso acartonado após a implementação do conceito de célula de

manufatura móvel para o processo construtivo Drywall. Essa demonstração abrange a

montagem típica de um lote de produção, ou seja, um cômodo do apartamento.

Uma vez determinada a montagem de divisórias em um apartamento do

edifício, a equipe de produção, cuja composição empregava entre 7 e 9 operários, se

dividia da seguinte forma: três operários seguiam para o pavimento, onde seria

Page 81: Dissertacao Celulas de produção

81

procedida a montagem das divisórias transportando consigo o posto de trabalho.

Outros dois operários seguiam para a bancada de corte, dois operários para instalação

elétrica e dois para hidráulica. Como a bancada de corte não fazia parte do ambiente de

célula, considera-se como sete o número de operários atuando na célula.

5.3.1 Etapa de Preparação

Na bancada de corte, os dois operários consultavam o projeto executivo para

saber a quantidade de materiais (chapas, guias e montantes) necessária para o lote de

produção a ser processado. Eles se dirigiam ao estoque de materiais para coletar

primeiramente a quantidade de guias pedidas em projeto. Com as guias ao lado da

bancada procedia-se o corte das mesmas nas dimensões especificadas. Por questões de

facilidade, o corte foi realizado com a maquita apesar da serra circular estar acoplada à

bancada de corte. A cada guia cortada, efetuava-se a sua rotulação, ou seja, marcava-se

na guia um rótulo pelo qual essa guia era identificada no projeto executivo. Esse rótulo

seria a referência dos instaladores quando da instalação da guia no apartamento, o

mesmo rótulo estaria no projeto executivo em poder dos montadores, possibilitando a

identificação de sua localização no piso do apartamento demonstrando o local exato de

instalação dessa guia. Essas operações eram repetidas para cada uma das guias sendo

que cada uma recebia o seu rótulo específico.

As guias eram então depositadas na área de armazenamento ao lado da

bancada de corte, agrupadas e amarradas de acordo com o lote correspondente. Tendo

sido processadas todas as guias de um lote, seguia-se para as operações de corte dos

montantes.

Os montantes necessários para um lote de produção eram coletados no

estoque, trazidos para a área de corte, cortados de acordo com o projeto, rotulados e

depositados agrupados ao lado das guias na área de armazenagem.

As operações com as placas de gesso acartonado seguiam basicamente os

mesmos padrões descritos para guias e montantes. Elas eram trazidas do estoque e

Page 82: Dissertacao Celulas de produção

82

deixadas ao lado da bancada. As folhas de especificações dessas placas também

demonstravam como os cortes referentes às portas seriam realizados. As chapas de

gesso eram cortadas utilizando-se estiletes e da mesma forma eram rotuladas de acordo

com as especificações. Essas chapas eram levadas ao local de armazenamento e

colocadas agrupadas junto aos outros materiais. Os reforços de madeira para as

divisórias eram também cortados na área de corte de acordo com o projeto executivo.

Uma vez reunidos todos os materiais de um lote, os operários efetuavam o

transporte desse lote de produção até o apartamento de destino. Esse transporte era

realizado com o carrinho transportador. Na Figura 5.7 é ilustrado em primeiro plano o

carrinho transportador e em segundo plano a área de armazenagem de materiais já

processados.

FIGURA 5.7– CARRINHO TRANSPORTADOR DE CHAPAS E LOCAL DE ARMAZENAGEM AO LADO DA

BANCADA DE CORTE

Concomitantemente às operações realizadas na bancada de corte, os outros

operários abasteciam a estação de trabalho com os materiais necessários (parafusos,

espoletas para a pistola, etc.) e a transportavam até o apartamento onde seriam

realizadas as instalações. Uma vez no apartamento, a estação de trabalho móvel era

ligada à prumada elétrica e colocada na posição para a instalação do lote a ser

produzido.

A seguir consultava-se o projeto executivo para a indicação dos pontos de

referência para início da marcação das guias. Cada guia demarcada recebia o seu

Page 83: Dissertacao Celulas de produção

83

devido rótulo, constante no projeto executivo. Esse rótulo servia de indicação tanto

para fixação das guias como para a posterior fixação das chapas de gesso.

Uma vez demarcadas as guias, recorria-se à folha de especificação do fluxo

do processo para a demarcação dos sentidos de fluxo que deveria ser seguido na

execução das instalações. Estas demarcações eram realizadas no próprio piso, como

exemplifica a Figura 5.8.

FIGURA 5.8 – DEMARCAÇÕES NO PISO DO APARTAMENTO

Como todos os equipamentos e informações necessárias já estavam

acoplados à estação de trabalho, assim que os componentes processados na área de

corte chegassem no apartamento, a operação de montagem do posto de trabalho estaria

terminada. Os operários responsáveis pelo corte retornavam à bancada de corte para o

processamento do próximo lote e o restante da equipe iniciava a instalação das

divisórias.

5.3.2 Etapa de Produção das Divisórias

A nova dinâmica de produção no apartamento funcionava da seguinte

maneira. De acordo com o sentido do fluxo determinado pelas demarcações

previamente marcadas no piso, o operário reconhecia o local de instalação do lote. O

operário coletava as guias referentes àquele lote. A demarcação indicava, através do

rótulo no piso, qual a primeira guia a ser instalada. Em seguida todas as guias, tanto

inferiores como superiores, eram instaladas seguindo o fluxo do processo demarcado

Page 84: Dissertacao Celulas de produção

84

no piso.

Em uma situação ideal as guias deveriam ser instaladas diretamente no piso e

laje do apartamento sem a necessidade de nenhum outro tipo de operação de

preparação. Isso na prática não ocorreu devido ao projeto do edifício não ter sido

desenvolvido para a utilização de Drywall como parede divisória. Como demonstra a

Figura 5.9, existiam varias saídas de instalação elétrica que chegavam exatamente no

local de instalação das guias, demandado aos operários a realização de cortes nas guias

para a passagem das tubulações.

FIGURA 5.9 – DETALHE DAS TUBULAÇÕES CHEGANDO NAS DIVISÓRIAS

Essa operação demandava muito tempo perdido dos operários na medição e

corte das guias. Essas perdas poderiam ter sido evitadas se, na concepção do projeto da

edificação, tivessem sido previstas poucas saídas de tubulações que não afetassem as

instalações de Drywall. Em seguida procedia-se à colocação dos montantes, os quais

seguiam a mesma lógica adotada para a fixação das guias no que concerne ao fluxo de

execução. A próxima etapa era a de instalação das chapas. As chapas chegavam pré

cortadas e também apresentavam os rótulos indicando o seu local de instalação já

previstos no projeto executivo e a colocação dos reforços internos auxiliados pelo

marcador de reforços.

Na sequência os operadores responsáveis pelas instalações realizavam essas

Page 85: Dissertacao Celulas de produção

85

atividades. O próximo passo seria a colocação do segundo lado das chapas e em

seguida o tratamento das juntas. Ao término desse lote de produção (cômodo), os

componentes para a instalação do próximo lote já estavam armazenados no pavimento

e os operários da montagem já poderiam iniciar a montagem do próximo lote de

produção.

5.4 ANÁLISE DO ESTUDO DE CASO EM RELAÇÃO AO CONCEITO DE

CÉLULA DE MANUFATURA

Essa seção é dedicada à análise da dinâmica de produção e de seus

problemas relativamente aos fatores de implementação de uma célula real. Essa análise

tem como base o capítulo 2 dessa dissertação e tem o objetivo de embasamento para a

definição de diretrizes de implementação de uma célula real especificamente para a

Construção Civil.

Ao final da análise de cada fator de implementação é listada uma serie de

diretrizes de implementação especificas para a construção civil sugeridas pelo autor

referentes a cada um dos fatores de implementação.

5.4.1 Produção de Acordo com a Demanda (Puxada)

A dinâmica de produção do Drywall, implementada neste estudo

exploratório não pode ser caracterizada como “produção puxada” em sua totalidade.

UMBLE (1990) aponta que é o “cliente” quem solicita a produção de uma peça ou

produto. A principal divergência da produção de Drywall quanto a essa definição, no

estudo de caso, é que a atividade subseqüente (pintura), “cliente” interno do Drywall,

não estava sendo realizada no canteiro de obras. Em um ambiente onde funciona um

sistema de produção puxada, é o cliente que formaliza a ordem/pedido de produção de

um lote para a atividade antecedente. A atividade de pintura não estava sendo realizada

no canteiro de obras pois o cronograma da obra foi baseado no desembolso financeiro

Page 86: Dissertacao Celulas de produção

86

e não na otimização do fluxo de montagem.

Outra divergência era relativa à entrega de materiais pois, durante o período

do estudo, não houve entregas de materiais segundo a lógica do Just-in-Time. Essa

situação ficou comprovada pelo grande volume de estoque de materiais depositados no

edifício. Observa-se Figura 5.10 a seguir o depósito de materiais encontrado no

canteiro de obras evidenciando o grande volume de estoque ali presente.

FIGURA 5.10 – ESTOQUE DE COMPONENTES DE DRYWALL PRESENTES NO CANTEIRO DE OBRAS

A presença desse estoque era explicada pelo mesmo motivo atribuído à

ausência da atividade subsequente ao processo Drywall, ou seja, devido ao fato da

empresa desvincular o cronograma financeiro do fluxo de produção no canteiro de

obras. Dessa maneira a empresa adquiria o material para as divisórias de Drywall em

grandes lotes, armazenando-o em canteiros de obras. Esse material ficava em estoque

até que o cronograma indicasse a sua necessidade, ou seja, de maneira empurrada.

Essa prática teve continuidade mesmo durante a tentativa de implementação do

conceito de célula, de forma que a célula foi abastecida com componentes já presentes

em estoque. O problema central foi o não envolvimento do fornecedor na melhoria do

processo de entrega de materiais para a célula.

Concluiu-se através do estudo que, para a plena implementação do conceito

Page 87: Dissertacao Celulas de produção

87

de célula no processo Drywall, dever-se-ia utilizar um sistema “puxado” de produção,

onde a demanda real, solicitada pelo cliente interno, seria o gatilho para a produção e

envio das quantidades requeridas para as estações de trabalho a jusante ou ao próprio

consumidor final. A efetividade desse fator de implementação demanda maior

pontualidade dos fornecedores, assim como maior acuracidade quanto aos locais e

volumes de entrega de materiais. O cronograma financeiro deve estar vinculado à

otimização do fluxo físico na obra e deve ocorrer comunicação ágil entre fornecedores

e obra/suprimentos. De uma maneira ideal o fornecedor deveria entregar os materiais

diretamente no seu ponto final de utilização (apartamento). Essa prática diminuiria,

entre outras coisas, a longa distância de transporte percorrida dentro do canteiro de

obras.

Diretrizes de Implementação para a Construção Civil:

a) Definir um sistema de produção onde a atividade subsequente

seja o cliente interno da atividade onde se implanta o conceito de

célula. O cliente é responsável por emitir o pedido/ordem de um novo

lote de produção e pelo recebimento desse lote;

b) Planejar e programar a obra contemplando as dinâmicas de

pedido e recebimento entre os clientes internos dentro da obra

vinculando o cronograma físico financeiro a essa dinâmica;

c) Envolver os fornecedores na programação de forma a permitir a

entrega de materiais em pequenos lotes e de acordo com a demanda

existente no canteiro de obras;

d) Desenvolver um sistema de informação que agilize a comunicação

entre os vários agentes permitindo o refinamento da programação de

entrega de materiais.

5.4.2 Fluxo Balanceado Entre Estações de Trabalho

GOLDRATT (1993) afirma que para o balanceamento de um sistema, deve-

Page 88: Dissertacao Celulas de produção

88

se focar na otimização do fluxo de trabalho e não na capacidade de produção de uma

máquina ou operador particular. Ao alocar a equipe de elétrica e hidráulica em outros

postos de trabalho (inconscientemente) o empreiteiro desbalanceava o processo.

Nem sempre as divisórias de Drywall possuiam instalações hidráulicas ou

elétricas. Isso acarretava que em alguns casos não se realizavam todas as seis etapas do

processo na célula. Nesses casos, o empreiteiro insistia em alocar tarefas para

instalações elétricas e hidráulicas fora do ambiente da célula como uma maneira de

ativação dessa equipe, mantendo-a ocupada. Ao alocar tarefas para as equipes de

hidráulica e elétrica, o empreiteiro somente conseguia a ativação dessa equipe sem

melhoria do fluxo. Em casos extremos, as outras etapas do processo tinham que

esperar o retorno da equipe de hidráulica e elétrica para continuar as suas atividades.

Ou seja, essas etapas se transformavam na restrição do sistema. De acordo com

GUERREIRO (1996), esse tempo perdido no gargalo provoca automaticamente

redução de tempo de trabalho de todo o sistema.

Outro fato importante foi o aparecimento de uma restrição no sistema de

transporte vertical do edifício. Com a sequência das operações constatou-se que para

cada kit de componentes entregue no apartamento, provindo da bancada de corte, era

necessária uma operação de transporte através do elevador de cargas do canteiro de

obras. Como só havia um elevador de carga, o atendimento constante ao processo

Drywall sobrecarregava essa via de transporte que se tornava uma restrição do sistema.

Esse problema não poderia ser contornado sem um investimento financeiro por parte

da empresa. Dessa forma ocorreu uma adaptação do sistema de produção planejado

sendo necessário que o transporte de componentes de Drywall através do elevador

fosse feito menos vezes. Definiu-se então que seriam cortados kits de componentes

para todos os cômodos do apartamento e só então seriam transportados ao local de

instalação. Dessa forma foi necessária a criação de um local de armazenagem no

apartamento para depósito dos kits. Esse fato acarretou uma redefinição no tamanho do

lote que também passou a ser considerado o apartamento completo. Com isso houve

Page 89: Dissertacao Celulas de produção

89

redefinição também no fluxo de produção das divisórias pois os operários deveriam a

cada cômodo produzido, se deslocar ao local de armazenamento para apanhar os

materiais necessários.

Conclui-se que modificar essa visão segmentada das etapas do processo

produtivo seja um passo importante na busca pela implementação do conceito de

célula real dentro da Indústria de Construção Civil. A preocupação com o fluxo

produtivo de maneira mais conjuntural pode levar a uma suavização dos processos

construtivos diminuindo as interrupções tão freqüentes na Indústria da Construção.

A entrega de materiais em pequenos lotes de produção pode trazer

dificuldades ao sistema de transporte de materiais dentro da obra, podendo ocasionar

sobrecarga nesse sistema. Desta forma, é fundamental que o sistema de transporte de

cargas esteja dimensionado levando em conta a movimentação de materiais em

pequenos lotes para todos os processos sendo executados na edificação.

Diretrizes para implementação na Construção Civil:

a) Dimensionar o sistema de transporte de materiais, principalmente

em obras verticais, de maneira que comporte a movimentação de

materiais em pequenos lotes levando em conta todos os processo

sendo desenvolvidos no canteiro de obras;

b) Alocar tarefas tendo em vista o fluxo de produção do processo

completo. Os recursos devem ser utilizados em função da sequência

de operações e não a sequência de operações ser definida pela

disponibilidade de um recurso;

5.4.3 Adoção de Pequenos Lotes de Produção e Transferência

Com a implementação do conceito de célula ocorreu uma alteração da

prática segmentada tradicional. Essa alteração se caracterizava pela execução de todas

as fases do processo em pequenos lotes de produção, modificando completamente o

fluxo de trabalho.

Page 90: Dissertacao Celulas de produção

90

Como observa-se na Figura 5.11, na maneira tradicional de produção, cada

etapa do processo era realizada independentemente, ou seja, na etapa 1, locação e

fixação das guias, as guias eram fixadas em todos os apartamentos de todos os andares

do edifício, e só em seguida é que seria iniciada a etapa 2, colocação de montantes, o

mesmo se repetindo para as outras etapas do processo Com a implementação do

conceito de célula, estas etapas passaram a ser realizadas de maneira agrupada, ou seja,

eram realizadas todas as 6 etapas do processo de uma única vez em cada lote. Só então

se poderia seguir para o lote seguinte, realizando todas as etapas novamente e assim

por diante.

Antes da Célula Depois da Célula

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45

FIGURA 5.11 – DINÂMICA DE PRODUÇÃO ANTES E DEPOIS DA IMPLEMENTAÇÃO DO CONCEITO DE

CÉLULA

A adoção da lógica de produção em pequenos lotes, demonstrada acima, fez

com que todos os estágios do processo tivessem que ser realizados antes que a equipe

se movesse para o próximo local de trabalho, ou seja, processado completamente em

um determinado posto de trabalho, antes da preparação para o processamento em um

novo posto de trabalho. Pode-se afirmar dessa forma que com a implantação do

conceito de célula o lote de produção teve uma redução significativa se comparado ao

processo realizado da maneira tradicional, ou seja, de vários apartamentos para um

cômodo de um apartamento. Um cômodo de um apartamento pode ser considerado

como o lote unitário de produção.

Esse quadro foi um pouco modificado no decorrer do período de estudo com

Page 91: Dissertacao Celulas de produção

91

o aparecimento da restrição de transporte vertical descrita na seção 5.4.2. O

aparecimento dessa restrição forçou a modificação do tamanho de lote. Esse lote

passou a ser considerado como um apartamento completo, que se comparado ao lote

utilizado na maneira tradicional também caracteriza uma redução significativa no

tamanho do lote. Vale lembrar que a presente análise é feita com base no lote de

produção dimensionado como um cômodo do apartamento.

A partir do início da nova dinâmica de produção foi possível se constatar

uma característica muito importante do conceito de célula que é a simultaneidade na

realização das etapas do processo. Na nova dinâmica de produção de um lote as etapas

de produção ocorriam paralelamente no ambiente de célula, ou seja, as várias etapas

eram realizadas simultaneamente. Quando a equipe produzia um lote, à medida que as

primeiras guias estivessem colocadas por um operário, os outros membros da equipe já

iniciavam a colocação dos montantes que uma vez terminados já davam margem ao

fechamento das chapas e assim por diante. Um dos principais benefícios dessa prática

é um grande aumento no potencial de redução do tempo de ciclo. Essa característica

contrasta com a forma tradicional de montagem que valorizava a segmentação das

etapas do processo de produção onde uma etapa somente iniciava com o término da

antecedente.

Além disso, cada vez que o posto de trabalho se direcionava para a produção

do próximo lote é o sinal para que os operários dos processos seguintes (decoradores,

pintores) iniciem seus trabalhos. Ou seja, eram movidas todas as unidades do lote para

o próximo recurso considerando-se portanto o lote de transferência igual ao lote de

produção. A implementação deste princípio permite a entrega mais rápida das

divisórias aos clientes imediatos (no nosso caso seriam as atividades de pintura), pois,

reduz-se as esperas entre estações de trabalho dado que os trabalhadores “clientes” do

processo poderiam iniciar suas operações imediatamente após o funcionamento da

célula móvel.

Apesar disso, o nosso estudo de caso não permitiu a avaliação dos lotes de

Page 92: Dissertacao Celulas de produção

92

transferência, pois, como já mencionado anteriormente, de acordo com o planejamento

original os processos a jusante não estavam presentes no canteiro de obras. Isso

ocorreu, pois, o planejamento do edifício com seus cronogramas físicos e financeiros

foi realizado anteriormente à resolução da implementação do conceito de célula,

considerando-se as contingências do momento. Além disso, foram destinados apenas

dois andares do edifício para a implementação desse estudo de caso.

SHINGO (2000) afirma que se o tempo e o custo necessários para se efetuar

as preparações de postos de trabalhos forem mínimos, não existe mais a necessidade

de se produzir em grandes lotes. Para que a diminuição desse tempo de setup ocorresse

foi fundamental o desenvolvimento de uma estação de trabalho móvel, fator esse que

deu suporte à redução dos tamanhos de lote. A análise da redução de tempo de setup

será realizada na próxima seção.

Diretrizes para implementação na construção civil:

a) Dimensionar o tamanho do lote de produção de maneira que a

cada operação de preparação de um posto de trabalho todas as

etapas do processo da célula possam ser realizadas;

b) Dimensionar o lote levando em conta outros aspectos do sistema

produtivo, como, por exemplo, o sistema de transporte de materiais, a

quantidade necessária de pessoas para a realização da atividade,

quantidade de recursos que podem ser movidos em uma única

operação;

c) Realizar as várias atividades de um processo na célula de forma

paralela, valorizando a simultaneidade na realização de operações;

d) Desenvolver o cronograma da obra prevendo o início da

atividade subsequente tão cedo quanto possível, ou seja,

possibilitando a diminuição do tamanho do lote de transferência;

Page 93: Dissertacao Celulas de produção

93

5.4.4 Tempo Despendido na Preparação dos Postos de Trabalho é Mínimo

O desenvolvimento da estação de trabalho móvel e auto suficiente

possibilitou um grande índice de melhoria para as atividades de setup do processo em

questão. Ela permitiu o transporte de todos os equipamentos e materiais necessários à

conclusão de um lote de produção com grande agilidade. Isso significa dizer que uma

vez que a estação de trabalho estivesse no local de produção, somente seriam

necessárias pequenas operações de ajuste fino para que todas as atividades de

preparação fossem completadas. A estação de trabalho conferiu grande facilidade e

agilidade também na hora de seguir ao próximo posto de trabalho, visto que se tornou

muito fácil o recolhimento dos equipamentos, que tinham local determinado com

divisões bem definidas (ver detalhe na Figura 5.12 dentro da estação de trabalho, para

seguir adiante.

FIGURA 5.12 - DETALHE DAS DIVISÕES DA ESTAÇÃO DE TRABALHO MÓVEL

Essa redução na percentagem de tempo de tempos despendidos em

atividades auxiliares pode ser observado na Tabela 5.1 a seguir: TABELA 5.1 – COMPARAÇÃO DA PERCENTAGEM DE UTILIZAÇÃO DO TEMPO NO PROCESSO DRYWALL

Atividades Produtivas Auxiliares Improdutivas

Processo Tradicional

Santos (2001)

26% 35% 39%

Após implementação

Da célula

(Turra, 2002)

56,03% 25% 18,97%

Essa tabela compara a distribuição dos tempos despendidos nas atividades do

Page 94: Dissertacao Celulas de produção

94

processo Drywall no processo tradicional, antes de implementação da célula, e após a

implementação da célula. A distribuição de tempos para as atividades após a

implementação da célula são retirados da dissertação de TURRA (2002). Vale lembrar

que a dissertação de TURRA (2002) teve como objeto de pesquisa o mesmo canteiro

de obras e as observações ali contempladas foram realizadas concomitantemente ao

presente trabalho. De acordo com esse levantamento a utilização de tempos das

atividades auxiliares obteve uma redução de 10 pontos percentuais. Realizando a

mesma comparação para as atividades improdutivas constata-se que a utilização do

tempo na realização dessas atividades reduziu em 20 pontos percentuais.

Essa redução é também explicada pois conseguiu-se com a dinâmica adotada

na célula a implementação dos conceitos utilizados por SHINGO (2000) para o

desenvolvimento da TRF. De acordo com esses princípios deve-se distinguir as

condições de preparação do posto de trabalho externo e interno e transformar as

atividades de preparação do posto de trabalho interno em externo.

No processo tradicional de montagem a maioria das atividades de preparação

para a produção de Drywall (ver item 5.3.1) eram realizadas do no próprio local de

montagem. Como anteriormente explicado, com a implementação do conceito de

célula, enquanto alguns operários montavam um lote de produção, outros operários da

equipe trabalhavam na bancada de corte realizando atividades de preparação como

corte de chapas, guias e montantes bem como a rotulação. Essas atividades foram

separadas do fluxo principal e passaram então a ser realizadas paralelamente às

atividades de produção. Seguindo as recomendações de SHINGO (2000), essas

atividades auxiliares se tornaram atividades de Setup externas. Sendo assim, não era

mais necessário a interrupção da produção para que elas fossem realizadas.

Diretrizes para Implementação na Construção Civil:

a) Desenvolver estação de trabalho móvel, compacta, facilmente

transportável e auto suficiente que possibilite que a preparação do

posto de trabalho para a realização de um lote seja realizada em uma

Page 95: Dissertacao Celulas de produção

95

única operação ;

b) Transferir atividades realizadas no fluxo principal (atividades

internas) para um fluxo secundário (atividades externas). Se possível

transferir essas atividades para fora do canteiro de obras, ou seja, as

atividades de preparação (medições, corte, etc..) passam a ser

realizadas pelo fornecedor;

c) Fazer projeto detalhado do produto e enviar para o fornecedor;

5.4.5 Existência de Feedback entre Células/Fornecedores/Clientes

A comunicação e interação entre os vários departamentos da empresa e entre

a empresa e fornecedores tem um enfoque mais abrangente do que a melhoria

operacional proporcionada pela implementação da célula de manufatura nesse estudo

de caso. Apesar disso, a implementação da célula permitiu uma grande flexibilidade de

produção com a facilidade de preparação de postos de trabalho e a produção em

pequenos lotes. Essa flexibilidade permitiria à empresa atender facilmente às

mudanças de projeto oferecidas aos clientes, caso fossem demandadas. Isso se daria

através de um retardamento (postponement) da produção das divisões internas

passíveis de mudança pelos clientes, as quais somente seriam produzidas a partir da

definição do cliente quanto aos seus novos requerimentos, ou seja, algumas das

atividades da cadeia de suprimentos não são realizadas até que os pedidos dos

consumidores sejam recebidos. Isso de fato não ocorreu em nosso estudo de caso.

Como citado anteriormente, os apartamentos continuaram sendo montados de maneira

“empurrada” sendo que em alguns casos foi necessário retornar a um apartamento já

terminado para a realização de mudanças no projeto das divisórias. Esse fato

ocasionou grande volume de retrabalho, atividades consideradas improdutivas.

O envolvimento do fornecedor no projeto das edificações e no projeto

executivo de divisórias de gesso acartonado possibilitaria que, em um estado ideal do

processo, as guias, montantes e chapas chegassem ao canteiro de obras cortadas de

Page 96: Dissertacao Celulas de produção

96

acordo com o projeto e em pequenos lotes, sendo necessário somente sua montagem

no local especificado. Essas práticas cessariam, entre outras coisas, as perdas de

materiais citadas anteriormente devido à diferença entre as dimensões dos

componentes oferecidos pelo fornecedor e as especificadas nos projetos dos edifícios.

Dessa maneira o fornecedor deve participar em todas as fases do projeto de

construção. No projeto do edifício, quando ele pode modificar certas propriedades do

produto para se adequar ao projeto e vice-versa, na fase de planejamento quando ele

passa a ter percepção da demanda facilitando o seu planejamento de produção e na

fase de execução, sincronizando a entrega dos componentes em pequenos lotes que

correspondam à necessidade da produção, entregando esses lotes diretamente nos

postos de trabalho onde serão processados. Essa sincronização emergiria de uma

comunicação ágil partindo da empresa aos fornecedores desde o momento em que um

cliente efetua um pedido, como prega FLEURY (1999), com informação tornando-se

disponível a todos os demais participantes da cadeia. Assim o fornecedor já teria

ciência da necessidade de abastecimento da célula com materiais, e os operários da

célula não precisariam se preocupar com essas atividades.

Diretrizes para implementação na Construção Civil:

a) Envolver o fornecedor no projeto da edificação, trabalhando com

projetistas e responsáveis (clientes internos) pela produção para

possibilitar a adequação dos materiais às necessidades da obra;

b) Envolver os fornecedores no processo de planejamento da

produção e na execução da edificação possibilitando a sincronização

de entrega para se adequar ao tamanho do lote definido para um

ambiente de célula;

c) Desenvolver sistemas de informações que possibilitem aos vários

agentes da cadeia (projetistas, fornecedores, responsáveis pela

produção, etc..) informações sobre aspectos chave da produção na

célula e feedback sobre eventuais problemas que ocorram no

Page 97: Dissertacao Celulas de produção

97

ambiente de produção bem como reprogramações, informações sobre

níveis e reposição de estoques, carência de partes, entre outros;

d) Retardar ao máximo os pedidos de produção de partes da

edificação que sejam passíveis de mudança, como por exemplo as

divisórias de Drywall, que podem ter seu projeto arquitetônico

modificado pelo cliente final;

5.4.6 Envolvimento e Responsabilidade de Todos no Controle e Melhoria da

Qualidade

A aplicação dos princípios e ferramentas do TQM no ambiente de célula

demanda o envolvimento da alta gerência, dos funcionários, dos fornecedores e dos

clientes de uma empresa em um programa que tente garantir que os requerimentos dos

clientes sejam cumpridos ou até mesmo superados. A qualidade deve ser medida pela

forma como o produto se enquadra dentro das especificações do projeto com

indicadores de qualidade simples e facilmente visíveis.

Como já mencionado no item 5.4.5 não houve envolvimento do fornecedor

de componentes e nem dos clientes na implementação da célula de manufatura. O

envolvimento se deu somente por parte da alta gerência e dos responsáveis pela

montagem do Drywall. Por parte da alta gerência, o envolvimento se deu no sentido de

dar sustentação ao projeto tanto no contexto financeiro como no sentido de

encorajamento. Isso ocorreu com a presença de um dos diretores nas várias etapas de

implementação do novo modelo de organização. No contexto de que o conceito de

célula e seus fatores de implementação incluem a qualidade como parte integrante,

pode-se afirmar que o envolvimento da alta gerência nesse caso também foi

direcionado ao aspecto da garantia e melhoria da qualidade.

Ao se produzir em célula de manufatura, os lotes de produção diminuíram de

maneira significativa, passando a ser considerados um cômodo do apartamento. A

redução dos lotes de produção buscando alcançar o fluxo de peça única são tidos por

Page 98: Dissertacao Celulas de produção

98

SCHONBERGER (1984) e MILTENBURG (2001) como um ponto de benefício na

busca pela garantia e melhoria da qualidade na célula. No processo tradicional, a

qualidade era atestada pelo engenheiro e pelo mestre de obras ao término de todas as

atividades. Essa prática dava margem ao aparecimento de erros em massa,

exemplificado no item 3.2.2.9 gerando uma grande quantidade de retrabalho.

O cronograma de execução original da obra previa dez meses para a

conclusão dos serviços de montagem de divisórias (o cronograma seguido pela

empresa foi um dos documentos coletados pelo pesquisador). Como a execução de

Drywall era realizada de maneira segmentada, com a análise desse cronograma

conclui-se que um problema de qualidade ocorrido no início da montagem poderia

levar meses até ser detectado.

Com a produção ocorrendo em pequenos lotes (ver Figura 5.11), a

verificação de problemas de qualidade deveria ser realizada pelos operários no próprio

local de montagem a cada finalização de um lote pelo cliente interno do processo.

Como já mencionado, o cliente interno (atividade subsequente) do Drywall, a

atividade de pintura, não estava presente no canteiro de obras devido à desvinculação

do cronograma da obra com o fluxo de produção. Ao se adotar essa prática torna-se

possível diminuir o ciclo detecção correção de defeitos já que o cliente interno não

receberá um produto fora das especificações, o que prejudicaria a realização de seu

próprio trabalho.

Diretrizes para implementação na construção civil:

a) Realizar projeto executivo da edificação, com especificações e

instruções bem claras de forma que a concordância com essas

especificações seja facilmente realizada pelo pessoal de produção;

b) Relegar as atividades de inspeção da qualidade ao pessoal de

produção na figura do cliente interno (próxima atividade) que será

responsável por receber o produto. Essa inspeção deve ser realizada

a cada lote de produção;

Page 99: Dissertacao Celulas de produção

99

c) Envolver a gerência da construtora nos programas de

implementação da célula para que o pessoal de operação se sinta

sustentado e encorajado a se envolver no programa;

5.4.7 Operadores Capacitados de forma Polivalente e com Experiência no Trabalho

em Equipe

Ao longo da implementação dessa nova dinâmica de produção alguns

problemas que influenciaram diretamente a efetivação do conceito de célula real se

tornaram patentes. Um deles é relacionado com a falta polivalência da mão de obra.

Um dos principais fatores de implementação da célula é o que diz respeito ao trabalho

em equipe. HUBER e BROWN (1991), apregoam que uma das características

principais do trabalho em equipe é a polivalência dos operários. Dessa forma, dentro

do ambiente da célula de manufatura os membros da equipe de trabalho devem

aprender a realizar as várias operações requeridas dentro do processo, e efetuar

rotação no trabalho entre as várias atividades realizadas dentro da célula. Isso cria um

estoque de capacidade tornando a equipe menos vulnerável à ausência de um

trabalhador.

Como mencionado no item 5.4.2 ao alocar tarefas para operários

responsáveis pelas instalações criava-se em alguns casos uma restrição no sistema.

Isso não ocorreria se existisse a polivalência da mão de obra. Nesse caso qualquer um

dos membros da equipe estaria capacitado para realizar as operações de instalação sem

prejuízos ao fluxo de produção. Em nosso estudo de caso, os trabalhadores conheciam

praticamente todas as operações do processo, mas não estavam familiarizados com a

realização dessas tarefas. Dessa forma foram possíveis apenas pequenas rotações de

trabalho em algumas tarefas.

Além disso, havia uma forte barreira hierárquica entre os trabalhadores da

equipe de montagem, pois, o chefe da equipe era também o empregador dos outros

membros. A divisão de funções e a diferença do tempo de trabalho entre alguns

Page 100: Dissertacao Celulas de produção

100

elementos da equipe, vinham a fortalecer essa divisão.

Comprova-se essa situação ao se verificar os formulários do diagrama de

análise de processo. Nesses formulários eram registradas todas as atividades de uma

das etapas do processo (o formulário foi aplicado a todas as etapas). Eram também

registrados os tempos de duração dessas atividades e os recursos necessários à sua

execução. Parte de um desses formulários é ilustrado no Quadro 5.1. Observa-se nesse

formulário , no campo “Mão de Obra” (onde se relacionou os recursos necessários

para a realização dessa etapa) que as atividades de instalação hidráulica eram somente

realizadas por operários específicos para atividades relativas à esse processo. Na

análise dos outros formulários constata-se que a mesma situação ocorria para as outras

etapas do processo. O quadro 5.1 ilustra somente parte do diagrama de análise do

processo.

Page 101: Dissertacao Celulas de produção

101

QUADRO 5.1 - DIAGRAMA DE ANÁLISE DO PROCESSO PARA A ETAPA DE INSTALAÇÃO HIDRÁULICA

ATIVIDADE: Método Método

Processo D Atual Proposto

n.º tempo n.º

Operações 9 6:21:42

Medições 1 1:44:30

Transportes 1 3:22:24

Demoras 1 0:37:24

Armazenagem

Distancia m

Tempo Total Unitário hh 12:06:00E

lem

en

to

Op

era

çõ

es

Med

içõ

es

Tra

nsp

ort

e

Dem

ora

Arm

azen

.

Descrição dos Elementos

MO

1 2 Medição

2 1 Quebra de Parede

3 1 Fixando suporte e kits

4 3 Transporte material

5 4 Espera

6 1 Ajustes do suporte

7 1 Colocação da Tubulação

8 1 Limpeza do chão

9 1 Quebra piso

10 1 Conectando tubulação

11 1 Rebocando Parede

12 1 Quebra piso

Código Descrição Cat Hh Valor

MO05 Hidraulico H-I 12:06:00 47,67$

MO06 Auxiliar Hidráulico H-II 1:19:12 4,64$

TOTAL 13:25:12 52,31$

Mão de Obra

O treinamento em várias funções, ou polivalência, é provavelmente uma das

partes mais difíceis da implementação do trabalho em equipe, pois envolve mudanças

na maneira como a produtividade das pessoas é avaliada. Em uma célula o resultado

do grupo deve ser visto como mais importante do que o resultado individual dos

operários. Além disso, a continuidade das barreiras hierárquicas também prejudicou o

comprometimento mútuo dos trabalhadores, que mantinham a visão de

responsabilidade somente pelas suas tarefas.

NATALE, LIBERTELLA e ROTSCHILD (1995) dizem que um dos pontos

Page 102: Dissertacao Celulas de produção

102

mais importantes para os operários se tornarem mutuamente responsáveis seria a

definição de pelo menos um objetivo de performance comum para a equipe com um

sistema de recompensa baseado na realização bem sucedida desse objetivo. Esse

objetivo não foi traçado em nosso estudo de caso remetendo à continuidade de um

sistema hierárquico de recompensa e avaliação de produtividade.

Diretrizes para implementação na construção civil:

a) Gradualmente incentivar e promover a polivalência da mão de

obra, através de treinamento nas várias atividades, realização de

rotações entre os operários na realização de atividades, quebra de

barreiras hierárquicas dentro da equipe;

b) Estipular objetivos de performance comum para a equipe que só

possam ser atingidos através do trabalho em equipe definindo

recompensas justas pelo alcance desses objetivos;

c) Implementar sistemas de pagamento referenciados à entrega de

produtos acabados fazendo com que todos os operários ajudem

mutuamente no alcance dos objetivos de produção;

d) Estimular a polivalência não somente nas atividades do processo

mas também habilitando operários em atividades como preparação

de postos de trabalho, qualidade, manutenção produtiva, entre outras

atividades relacionadas aos fatores de implementação da célula de

manufatura;

5.4.8 Miniaturização e Proximidade de Recursos

A organização do processo Drywall permitiu o alcance de uma das principais

características de uma “célula real” que é a proximidade física (HYER; BROWN,

1999). Ocorreu, dessa forma, a miniaturização de processos de grande volume. O

processo que antes da implementação da célula era realizado em grande escala, passou

a ser realizados de maneira focalizada em pequenos lotes.

Page 103: Dissertacao Celulas de produção

103

No geral os operários dentro do ambiente de célula mantinham geralmente a

distância de no máximo o tamanho de um cômodo do apartamento. Isso porque a

dinâmica de movimentação da estação de trabalho móvel requeria que ela se

movimentasse de cômodo a cômodo do apartamento. Essa proximidade espacial

mantém os recursos necessários para a produção de um lote muito próximos uns aos

outros possibilitando aos operários da produção estarem próximos o suficiente para se

enxergarem, conversarem e resolverem rapidamente os problemas que surgissem

durante a produção.

Diminui-se a necessidade de grandes volumes de materiais no ambiente de

célula pois só existe a necessidade de se estocar somente os materiais para se

completar um lote de produção de cada vez. Essa proximidade possibilita aos

operadores uma grande facilidade na movimentação dos recursos e uma maior

percepção de fatores chaves de performance como níveis de estoque, problemas de

qualidade e carência de componentes.

Diretrizes para implementação na construção civil:

a) Organizar o ambiente de produção de forma a garantir que, a

cada movimentação da estação de trabalho, a sua localização esteja a

uma distância mínima dos locais onde o operário irá efetivamente

trabalhar;

b) Entrega de materiais para a produção de um lote completo junto

à estação de trabalho, fazendo com que todos os recursos necessários

à produção estejam proximamente localizados;

5.4.9 Manutenção de Ambiente Transparente, Limpo e Organizado

O conceito de célula de manufatura é uma solução inovadora para a

organização do processo de construção, e o uso de práticas de gerenciamento visual

como por exemplo, as abordagens para aumento de transparência no processo, são

fundamentais para se obter todos os seus benefícios.

Page 104: Dissertacao Celulas de produção

104

Para maior eficácia do conceito de célula objetivou-se moldar o sistema de

produção de forma a possibilitar o processo se comunicar com as pessoas, o que é

denominado como “Transparência do Processo”. Um ambiente onde as informações

pudessem ser puxadas pelos operadores de forma que eles não mais precisassem

perder tempo em sua busca.

Esse ambiente transparente foi criado com a implementação das abordagens

para implementação de transparência. Essas práticas estão descritas a seguir.

A. Uso de controles visuais para permitir reconhecimento imediato do “status” do

processo

Para possibilitar a imediata percepção de informações relevantes de um

processo e aumentar de forma significativa a velocidade de transmissão e percepção da

informação dos operadores da célula foram desenvolvidos alguns controles visuais. Os

controles visuais são um importante direcionador para se reduzir a possibilidade de

erros ou a necessidade de desperdício de tempo em medições e atividades de controle

nesse novo modelo organizacional. Os controles visuais implementados nesse estudo

de caso são os seguintes:

Bordas: Essa técnica foi utilizada para a clara delineação dos fluxos de produção.

Foram adotadas setas indicativas pintadas sobre o solo demonstrando o fluxo de

produção mais eficiente que deveria ser seguido pelos operadores. As bordas

podem ser observadas na Figura 5.6. E o fluxo de produção pode ser observado na

figura 5.5. Com essa solução os operários podiam antecipar as próximas operações

e seus correspondentes requerimentos em termos de utilização do espaço. Além do

fluxo de produção, todos os outros caminhos dentro do canteiro de obras, incluindo

o caminho para visitantes, também foram delineados com essa solução.

Rótulos: Como uma das melhorias desenvolvidas durante o estudo de caso todos os

componentes processados no canteiro de obras (bancada de corte) recebiam rótulos

especificando sua correta destinação além de outras informações complementares

do processo possibilitando a rápida compreensão das posições e medidas de

Page 105: Dissertacao Celulas de produção

105

materiais utilizados economizando muito tempo dos operários (ver Figura 5.4

ilustrando o projeto executivo). A partir da consulta ao projeto executivo o operário

responsável pelo corte sabia exatamente quais as características da peça a ser

processada, e após processá-la escrevia nela seu rótulo. Da mesma forma, quando

essa peça estivesse em seu local de destino, o operador responsável pela montagem

consultando o projeto executivo, saberia exatamente seu local de destinação que

correspondiam aos sinais no piso possibilitando o rápido reconhecimento do

destino de cada componente.

Walkie-talkie adicionado ao posto de trabalho: tal melhoria foi implementada para

possibilitar uma comunicação mais rápida entre a estação de trabalho e, também,

entre todas as outras estações de trabalho cada líder de operações tinha uma via de

comunicação direta com o gerente do canteiro de obras através de um walkie-

talkie. Este simples dispositivo permitia a antecipação de fáceis soluções,

particularmente para problemas com potencial para interromper o fluxo de

trabalho;

B. Tornar o processo diretamente observável

A visualização direta do processo de execução de divisórias tornou-se

possível através do cuidadoso planejamento do fluxo de produção e do re-arranjo do

leiaute do canteiro de obras em célula de manufatura. Esta abordagem aliada à

utilização de controles visuais possibilitou aos operários um rápido reconhecimento

dos fluxos de processo evitando desperdícios em atividades que não adicionam valor

como movimentos desnecessários dentro do canteiro de obras. O posto de trabalho

móvel, seguia o fluxo pré-elaborado e a cada estação de trabalho realizava todas as

etapas da atividade finalizando um produto acabado. Dessa maneira era possível a

observação de todas as etapas em um único ponto de visão. A aplicação dessa

abordagem é facilitada pois o começo de um processo é alocado tão próximo quanto

possível do fim do próximo, essa é uma característica inerente do ambiente de célula

de manufatura tornando facilitada a seqüência do fluxo de trabalho. Esse planejamento

Page 106: Dissertacao Celulas de produção

106

do fluxo também evitou a ocorrência do enclausuramento dos postos de trabalho,

recorrente nas práticas tradicionais de montagem de Drywall.

C. Incorporar informação ao processo

No sentido de que a informação deve ser parte do processo, e deve estar

fisicamente o mais perto possível do ponto onde ela será utilizada, procurou-se a

incorporação de informações importantes ao processo. Em resumo, o processo em si

tinha a capacidade de informar seu estado.

Essa incorporação ocorreu de várias formas demonstradas a seguir:

Identificação dos participantes do processo: todas as pessoas participantes do

processo sejam operários, gerentes, mestre de obra e pesquisadores foram

identificados através de um crachá com o objetivo de melhoria na comunicação

entre os envolvidos no processo;

Projeto executivo de montagem de divisória incorporado aos postos de trabalho: o

projeto executivo de Drywall desenvolvido para o estudo de caso foi incorporado

tanto à bancada de corte, quanto à estação de trabalho móvel. Esse projeto

executivo continha informações a respeito das medidas para o corte das chapas, dos

montantes e guias e os rótulos que esses componentes receberiam correspondentes

ao seu destino que já estava pintado no piso dos apartamentos. Os responsáveis

pelos cortes tinham segurança e facilidade para desenvolver seu trabalho e os

operadores da bancada reconheciam facilmente os destinos de cada um dos

componentes de um lote ;

Painéis exibindo o cronograma e os fluxos de operação: foram fixados em painéis

os cronogramas das etapas e os fluxos de operação que os operários deveriam

seguir na compleção de suas tarefas;

Numeração dos andares: com placas de madeira: objetivando o rápido

discernimento do local de destino;

Identificação dos projetos através de etiquetas: com o objetivo de não se perder

tempo procurando informações;

Page 107: Dissertacao Celulas de produção

107

Fixação de um painel de plantas na entrada do apartamento: demonstrando projeto

de Drywall e o sentido do fluxo de execução;

D. Redução de Interdependência entre estações de trabalho.

A redução de Interdependência entre postos é uma das características mais

importantes conseguidas com a implementação da célula de manufatura. Essa

característica é inerente à organização em célula de manufatura pois a produção em

célula se dedica a entregar produtos acabados. Essa produção é realizada em pequenos

lotes, não sendo possível a sobreposição de processos no ambiente de célula. Ou seja,

o processo seguinte ou o próximo lote de produção só poderão ser iniciados após o

término do processo em andamento.

Essa abordagem foi plenamente implementada pois existiu a possibilidade de

confinar todos os materiais e informações necessárias para a completa execução de

todo o processo de execução de divisórias de Drywall em uma estação de trabalho

móvel auto-suficiente (ver item 5.2.1). Esse estação de trabalho seguia o fluxo do

processo finalizando todas as etapas do processo sem a necessidade de retorno à

estação de trabalho anterior para completar qualquer atividade, essa característica

eliminava por completo a interdependência entre as etapas de montagem de divisórias

e também para as atividades subseqüentes.

E. Manter o ambiente de trabalho limpo e ordenado

A nova organização da produção foi concebida de forma a reservar locais

para cada recurso necessário ao processo. A estação de trabalho móvel tinha divisões

destinadas a todos os equipamentos, informações e materiais que seriam utilizados no

processo. A cada movimentação da estação de trabalho para a montagem de um

próximo lote, todos os recursos deveriam ser colocados em seu respectivo local e só

então a estação de trabalho seria dirigida ao próximo posto de trabalho. Além disso

providenciou-se um local para depósito dos resíduos de obra. Essas providências

possibilitaram a organização e a limpeza do ambiente de célula.

Page 108: Dissertacao Celulas de produção

108

Diretrizes para implementação na Construção Civil:

a) Produzir um lote de produção completo antes de iniciar a

produção do próximo lote, não sendo necessário voltar ao posto de

trabalho anterior para terminar atividades (terminalidade como

meta);

b) Desenvolver controles visuais para que os operários não percam

tempo em marcações e medições. Se possível esses controles visuais

já devem ser deixados pelos operários desde o processo anterior. No

caso do Drywall poderiam ser deixadas marcações para a localização

das guias quando da concretagem da laje;

c) Desenvolver controles indicando informações importantes do

projeto executivo (rotulação e numeração dos componentes,

localização dos componentes no apartamento, etc..) e do fluxo de

produção (sentido de produção, locais de armazenamento, locais de

processamento entre outros);

d) Disponibilizar as informações a respeito do processo diretamente

em seu ponto de utilização. Por exemplo nesse estudo de caso, o

projeto executivo estava disponível na estação de trabalho e na

bancada de corte;

e) Ambiente de produção deve ser limpo e organizado;

f) Prever na estação de trabalho locais específicos para todos os

recursos (materiais, equipamentos e informações) para que a cada

operação de preparação de posto de trabalho esses recursos sejam

rapidamente acondicionados para transporte;

g) Disponibilizar local para resíduos da obra. Se possível esse local

deve acompanhar o fluxo não deixando resíduos para serem

recolhidos mais tarde;

Page 109: Dissertacao Celulas de produção

109

5.4.10 Manuseio de Materiais de Forma Eficiente e Segura

REESE (2000) diz que o ponto principal de um eficiente sistema de

manuseio de materiais em uma célula de manufatura é a simplificação do fluxo de

materiais na busca pela eliminação, redução ou combinação de movimentos ou

equipamentos. Para que isso ocorresse em nosso estudo de caso foram realizadas duas

práticas. A primeira prática foi o desenvolvimento da estação de trabalho móvel e a

outra prática foi o planejamento dos fluxos do processo.

O posto de trabalho móvel ( ver item 5.2.1.), do ponto de vista da melhoria

do manuseio de materiais, possibilitou a combinação de vários movimentos. Esses

movimentos são referentes à movimentação dos equipamentos e componentes

necessários à conclusão das seis etapas do Drywall.

Antes da implementação da célula, as etapas do Drywall eram realizadas de

forma segmentada, etapa por etapa. Dessa forma, a cada mudança na localização do

posto de trabalho era necessária a movimentação de todos os equipamentos e

componentes dessa etapa para o próximo posto de trabalho. Isso acontecia na

movimentação entre todos os postos de trabalho e em todos os pavimentos. Iniciada

uma nova etapa, tornava-se necessário repetir essas operações de manuseio de

materiais novamente para cada estação de trabalho em cada pavimento. Cada um

desses movimentos era realizados até seis vezes, uma vez para cada etapa do Drywall.

Com a implementação do conceito de célula e a introdução do posto de

trabalho móvel, as etapas passaram a ser realizadas de maneira agrupada. Assim

sendo, o posto de trabalho foi desenvolvido de maneira a transportar,

ergonomicamente, todos os equipamentos e componentes necessários à conclusão de

todas as etapas de maneira ergonômica. Com esse conceito, a cada movimentação para

uma nova estação de trabalho, todos os equipamentos e componentes eram

transportados de uma só vez, não sendo necessário mais o retorno dos operários,

àquela estação de trabalho. O potencial de redução das operações de manuseio com a

implementação do conceito de célula móvel, chegou ao nível de uma movimentação

Page 110: Dissertacao Celulas de produção

110

para cada seis realizadas no processo tradicional. A eficiência das operações de

manuseio de materiais foram portanto aumentadas com o rearranjo do sistema de

produção.

O leiaute celular tem estruturas de fluxo mais estáveis e simples,

possibilitando o uso de dispositivos simples e baratos para manuseio de materiais. A

única movimentação significativa dentro de uma célula é o movimento de matéria

prima desde o estoque central até a célula e o movimento das partes finalizadas para o

estoque. Por isso a célula reduz, tanto o tempo dedicado ao manuseio de materiais

como o tempo de manuseio de materiais entre operações.

Além do posto de trabalho, com a implementação do conceito de célula, a

seqüência de operações e equipamentos foram planejados, possibilitando uma

melhoria significativa no fluxo de produção. Conforme as orientações de BURBIDGE

(1991), as movimentações passaram a ocorrer de forma ordenada e sem duplicação de

movimentos. Esse fluxo foi desenvolvido aproveitando-se a proximidades entre os

recursos inerentes à organização em sistema celular, facilitando as operações de

manuseio de materiais. As distâncias de movimentação e os tempos de movimentação

dentro de uma célula são bastante reduzidos por que a próxima estação de trabalho do

processo está fisicamente próxima. O mapofluxograma exibido na Figura 5.5,

demonstra como acontecia o fluxo de produção com a implementação do conceito de

célula.

Diretrizes para a construção civil:

a) Projetar o fluxo de produção minimizando ao máximo ou

eliminando as atividades de transporte e manuseio de materiais,

prevendo a movimentação da estação de trabalho móvel através dos

postos de trabalho no canteiro de obras;

b) Localizar pontos de descarga de materiais o mais próximo

possível do posto de trabalho onde o material será utilizado;

c) Utilizar, se possível, sistema de transporte que separe o fluxo de

Page 111: Dissertacao Celulas de produção

111

transporte de materiais do fluxo principal de execução da atividade

(ex: utilização de grua para se transportar os materiais diretamente

ao seu local de utilização);

d) Desenvolver sistemas de transporte que combinem as atividades

de transporte de das diversas etapas de um lote. Em nosso estudo de

caso foi desenvolvido uma estação de trabalho móvel que transporta

os recursos para todas as etapas simultaneamente;

5.4.11 Operadores Capacitados em Manutenção Produtiva Total

Apesar de se constatar extremamente necessário para a implementação da

célula real, não foi possível a implementação da Manutenção Produtiva Total no

processo produtivo Drywall. A implementação desse fator dependeria de uma

mudança muito radical na política de manutenção da empresa, o que exigiria uma

mudança em suas decisões estratégicas. A política da empresa quanto à manutenção

dos equipamentos continuou a mesma após a implementação da célula de manufatura,

ou seja, a equipe de produção das divisórias não foi envolvida no processo de

manutenção dos equipamentos. O envolvimento dos operários nas atividades de

manutenção dos equipamentos seria, entre outras coisas, relevante para se acabar com

paradas de produção devido à falhas em equipamento.

Diretrizes para implementação na Construção Civil:

a) A manutenção dos equipamentos deve ser feita de maneira preventiva

pelos próprios operários da célula;

5.5 PERCEPÇÃO DOS OPERÁRIOS E GERENTES QUANTO À EFETIVIDADE

DA CÉLULA

Essa seção pretende mencionar o ponto de vista da equipe de produção do

Page 112: Dissertacao Celulas de produção

112

Drywall e dos seus gerentes quanto à percepção do funcionamento da nova dinâmica

de produção. Em entrevistas não estruturadas, o pesquisador procurou entender quais

os pensamentos dessa equipe a respeito dos avanços que a organização em célula

proporcionou, quais as barreiras que uma nova replicação dessa técnica enfrentaria e

também sobre os retrocessos que essa maneira de organização da produção imputou ao

processo.

O quadro a seguir resume essas percepções separando as visões dos

operários, onde se inclui o pessoal responsável pelas operações de preparação e

montagem no canteiro de oras, e dos gerentes, onde se inclui o mestre-de-obra e o

engenheiro da obra.

O ponto de vista dos operários enaltece situações típicas de produção. Para

eles os avanços que a organização em célula provocou vem suprir algumas das

dificuldades identificadas no diagnóstico de SANTOS (2001) como por exemplo a

facilidade no transporte dos equipamentos. O outro avanço percebido pelos operários é

inerente ao sistema de produção em célula. Esse avanço provavelmente tenha sido

citado pela facilidade que os operários adquiriram pela minimização das distâncias

percorridas à procura de equipamentos, materiais, entre outros recursos, quando da

carência dos mesmos.

No que diz respeito às barreiras para replicação do conceito de célula na

percepção dos operários, citou-se o sistema de pagamentos e a preocupação com o

leiaute de produção. Entende-se que ao demandar a polivalência da mão de obra não se

cogitou a possibilidade de os operários se sentirem injustiçados realizando a atividade

que antes era delegada somente a alguns sem uma equiparação de remuneração. A

organização em célula demandou que os operários se preocupassem com alguns

aspectos produtivos com os quais não estavam acostumados em lidar. Um desses

aspectos é o leiaute de produção. Nesse estudo de implementação, o fluxo de

montagem foi definido e exposto aos operários, mas a maneira como eles organizariam

cada posto de trabalho ficou a cargo da própria equipe de produção. Com relação aos

Page 113: Dissertacao Celulas de produção

113

retrocessos, o ponto de vista dos operários expõe que a organização em célula

diminuiu a possibilidade de improvisação no canteiro de obras. Essas percepções estão

descritas na Tabela5.2. TABELA 5.2 – PERCEPÇÃO DOS PARTICIPANTES

Percepção dos

participantes

a) Você percebeu algum

avanço em relação às

práticas anteriores? Quais

foram estes avanços?

b) Quais as barreiras que

você vislumbra na

replicação desta

experiência em outro

canteiro de obra?

c) Quais os retrocessos da

célula em relação às

práticas anteriores?

Operários - Facilidade para

transporte de

equipamentos

- Todos os recursos

necessários próximos

- Preocupação com o

leiaute de produção

- Sistema de pagamento

diferenciado entre

vários operários

- Menor possibilidade

de improvisação

Gerentes - Facilidade para

controlar o processo

- Adequação ao fluxo

financeiro da Obra

- A falta de recursos

estanca o processo.

Não existem outras

frentes de trabalho em

outro local da obra.

Do ponto de vista da gerência a principal percepção com relação aos avanços

proporcionados pelo arranjo em célula foi a facilidade de controle do processo. Isso é

devido à característica de terminalidade do sistema de produção que passou a entregar

produtos prontos em pequenos lotes. A principal barreira de replicação do ponto de

vista dos gerentes era a vinculação do cronograma ao fluxo de produção e como

principal retrocesso os gerentes citaram a necessidade de parada do processo com a

falta de algum recurso. Conclui-se que essas percepções são fruto da visão segmentada

que os gerentes tem dos processos na construção civil que os leva a não se preocupar

com o fluxo de produção como um todo.

5.6 DISCUSSÃO

Esse capítulo analisou a dinâmica da tentativa de implementação do conceito

de célula de manufatura para uma atividade da construção civil. Essa análise foi

realizada relativamente a cada um dos fatores de implementação de uma célula real,

descritos no capítulo 2 desse trabalho. O objetivo foi o de encontrar diretrizes que

tornem possível a implementação desse conceito para a Construção Civil. Isso

Page 114: Dissertacao Celulas de produção

114

aconteceu por que a Construção Civil apresenta algumas características próprias não

encontradas em outros ambientes industriais.

A análise da tentativa de implementação da célula de manufatura no

processo Drywall relativamente a cada um dos fatores críticos de implementação

demonstrou que nem todos esses fatores puderam ser efetivados no canteiro de obras.

Entre os onze fatores apresentados cinco deles chegaram próximos de uma

implementação efetiva enquanto os outros seis não foram efetivados. Dessa forma não

se conseguiu nesse estudo de caso atingir o estado de “célula real”. Os fatores de

implementação estão listados na tabela 5.3 identificando-se ali os efetivamente

implementados nesse estudo de caso. Identifica-se também nesta tabela qual a ligação

critica da célula mais influenciada por cada fator efetivado. TABELA 5.3 – FATORES CRITICOS IMPLEMENTADOS E FATORES CRITICOS NÃO IMPLEMENTADOS

FATORES CRÍTICOS DE IMPLEMENTAÇÃO IMPLEMENTADO LIGAÇAO CRITICA

Produção de acordo com a demanda

Fluxo balanceado entre estações de trabalho

Adoção de pequenos lotes de produção e transferência X TEMPO

Tempo despendido na preparação dos postos de trabalho é mínimo X TEMPO

Existência de feedback entre células/fornecedores/clientes

Envolvimento e responsabilidade de todos no controle e melhoria

dos resultados

Operadores capacitados de forma Polivalente e com experiência

no trabalho em equipe

Miniaturização e Proximidade dos Recursos X ESPAÇO

Gerenciamento Visual X INFORMAÇAO

Manuseio de materiais de forma eficiente e segura X TEMPO

Manutenção Produtiva Total

Apesar de não se alcançar uma célula real, os cinco fatores efetivados

proporcionaram um aumento significativo na eficiência ao processo. Isso foi

demonstrada pela grande diminuição das atividades que não agregam valor ao produto.

Essas atividades utilizavam no processo tradicional cerca de 75% do tempo da mão de

obra passando a utilizar 44% do tempo com a implementação do conceito de célula.

A diminuição dos tamanhos dos lotes foi um fator preponderante para esse

aumento de eficiência incorporando o conceito de terminalidade ao processo,

eliminando o acúmulo de trabalho em progresso tão comum no processo tradicional.

Com lotes pequenos o processo passou a ser realizado em pequenos ambientes

Page 115: Dissertacao Celulas de produção

115

minimizando distâncias. Outro fato foi o desenvolvimento da estação de trabalho

móvel que agilizou as operações de setup e permitiu a combinação das operações de

transporte de materiais na célula já que se necessitava mobilidade através do produto.

Realizou-se também a separar várias operações auxiliares do fluxo principal de

produção através da criação de uma bancada de corte. A estação de trabalho móvel e a

definição do fluxo de produção foram essenciais também para a eficiência do sistema

de manuseio de materiais. As soluções em gerenciamento visual implementadas

tiveram influência direta na efetivação de todos os fatores de implementação atingidos

nesse estudo de caso.

A não efetivação de alguns dos fatores de implementação foi devida a

existência de algumas barreiras identificadas nessa análise. A maioria dessas barreiras

tem origem em situações práticas dos processos de construção civil. Entre as principais

barreiras inclui-se a desvinculação do cronograma da obra com o fluxo de produção, a

falta de polivalência da mão de obra, o sistema de remuneração, o não envolvimento

de todos os agentes da cadeia de suprimentos do processo Drywall nas várias etapas do

empreendimento, entre outras.

Entre os fatores não implementados ressalta-se o envolvimento de todos no

controle dos resultados, a existência de feedback entre células/fornecedores, a adoção

de trabalho em equipes polivalentes e adoção da TPM, pois são iniciativas que

demandam uma mudança conjuntural da empresa. A implementação destes fatores

deve modificar a maneira como a produtividade de cada operário é avaliada, políticas

da empresa (por exemplo a política de manutenção), mudanças no sistema de

remuneração, mudanças no sistema de controle entre outras coisas.

Ao se analisar as ligações criticas da célula real (tempo, espaço e

informação), verifica-se que entre os fatores de implementação efetivamente

implementados, a principal melhoria com relação as ligações criticas ocorreu com

relação ao tempo, pois três dos fatores de implementação efetivados são a ele

relacionados. No que diz respeito a ligação em espaço, o único fator de implementação

Page 116: Dissertacao Celulas de produção

116

relacionado com essa ligação também foi efetivado. A ligação em informação teve

somente um fator de implementação, a ela relacionado, efetivamente implementado.

Essa situação indica que a implementação da célula, a curto prazo, pode

trazer melhorias nos aspectos de fluxo de materiais e pessoas, utilização do espaço

físico do canteiro, da mobilidade dentro do canteiro entre outros aspectos diretamente

relacionados ao próprio canteiro de obras. O único fator de implementação efetivado,

relacionado à ligação em informação, também diz respeito ao gerenciamento interno

do canteiro de obras trazendo soluções a serem implementadas no setor de produção

da empresa.

Esse quadro indica que a implementação completa do conceito de célula, em

nosso estudo de caso, estaria relacionada com a ligação critica em informação, ou seja,

as políticas de qualidade, relacionamento com clientes e fornecedores, capacitação e

remuneração dos funcionários e políticas de manutenção adotadas pela empresa. Esses

fatores podem ser encarados como barreiras de implementação da célula uma vez que

a empresa onde ocorreu o estudo de caso, a exemplo de grande parte das empresas de

construção civil, não adotava tais praticas em sua administração. A implementação

desses fatores depende de uma mudança conjuntural e cultural da empresa onde a

célula venha a ser implantada. A adoção dessas práticas deve demandar maiores

investimentos em treinamento de pessoal, desenvolvimento de produtos entre outros

que não foram possíveis de se realizar nesse estudo de caso.

Na análise do estudo de caso com relação a cada um dos fatores foram

propostas diretrizes de implementação da célula para o ambiente da Construção Civil.

Essas diretrizes abrangem aspectos práticos identificados no canteiro de obras através

de um estudo de caso. Essas diretrizes são apresentadas como subsídios para o alcance

do estado de célula real para o ambiente da construção civil, ou seja, elas representam

aspectos práticos que devem auxiliar na implantação de cada fator crítico de

implementação do conceito de célula, tornando possível a implementação de cada um

deles no ambiente da Construção Civil.

Page 117: Dissertacao Celulas de produção

117

A percepção dos operários e gerentes apresentadas nesse capítulo auxiliam a

evidenciar os fatores positivos e as barreiras de implementação aqui discutidas. Essas

percepções, portanto, ajudam a validar as diretrizes de implementação da célula de

manufatura móvel apresentadas nessa dissertação.

Page 118: Dissertacao Celulas de produção

118

6 CONCLUSÃO

6.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS

A presente dissertação tratou da problemática de implementação do conceito

de célula de manufatura para o ambiente da construção civil. Na revisão de literatura a

respeito do tema “célula de manufatura” não foi possível encontrar nenhum estudo

relacionado com esse tema aplicado ao setor da construção. O objetivo dessa

dissertação foi, então, obter diretrizes que possibilitassem que o conceito de célula de

manufatura fosse implementado para o ambiente da construção civil.

Conseguiu-se alcançar este objetivo através de um estudo de caso

exploratório aplicado a um processo típico da construção civil, o processo construtivo

Drywall. Esse estudo de caso possibilitou a análise das várias características da

construção civil que teriam influência na validação da seguinte hipótese: é possível

implementar no ambiente da construção civil as mesmas diretrizes de implementação

que o conceito de célula requer em outros setores industriais.

Essas diretrizes aplicadas a outros setores industriais foram extraídas da

consulta à literatura e são traduzidas pelos fatores críticos de implementação da célula

de manufatura. Esses fatores estão expostos no capítulo 2 dessa dissertação e são eles

que possibilitam que se atinja o estado de “célula real”, ou seja, uma célula de

manufatura em pleno funcionamento.

Realizou-se uma análise dos resultados do estudo de caso em relação a cada

um dos 11 fatores de implementação relacionados na literatura. Dos 11 fatores críticos

de implementação apresentados 6 não foram efetivados, enquanto os outros 5 fatores

foram atendidos pelo menos em parte. Dessa forma, não foi possível se alcançar o

estado de “célula real”. Apesar disso, demonstra-se no capítulo 5 que, após a

implementação do conceito de célula de manufatura, obteve-se um grande aumento na

eficiência do processo Drywall.

Page 119: Dissertacao Celulas de produção

119

Através dessa análise identificou-se que a Indústria da Construção apresenta

várias características inerentes que alteram alguns aspectos da célula presentes em

outros setores industriais. Entende-se que dessa maneira é possível a plena

implementação dos fatores de implementação se adotadas uma série de aspectos

práticos que auxiliam na implementação de cada fator crítico de implementação da

célula para o ambiente da Construção Civil. Considera-se esses aspectos práticos como

as diretrizes de implementação da célula de manufatura móvel para a Construção

Civil, essas diretrizes estão expostas no capítulo 5 dessa dissertação.

Uma das características principais da Construção Civil que tem influência

nesse estudo é de que, nesse setor industrial, são as estações de trabalho que se movem

através do produto. Dessa forma, o estado de célula real nesse setor industrial deve ser

atingido a cada vez que uma estação de trabalho estaciona em um posto de trabalho

para realização de um lote de produção. Nesse momento todos os fatores de

implementação devem ser efetivados no ambiente da célula. Esse foi o motivo da

implementação de célula de manufatura móvel, ou seja, célula com todas as

características da célula real mas com característica de mobilidade através do produto.

Nesse estudo de caso a família de partes a que se dedica um grupo de

recursos de produção é a atividade Drywall. Seguindo o conceito de célula de

manufatura, em uma situação ideal, todas as atividades, realizadas em uma intervenção

no ambiente da Construção Civil, devem estar organizadas e distribuídas em células

dedicadas a produção de um grupo de atividades. O balanceamento da produção entre

as diversas células de produção existentes em uma obra deve criar uma reação em

cadeia que beneficie o fluxo de produção como um todo.

A organização em célula vem se somar à várias práticas utilizadas

atualmente na tentativa de se melhorar a produtividade e a qualidade dos processos na

Construção Civil, e como a maioria delas, é de difícil implementação. Acredita-se que

a célula de manufatura deve ser implementada pois, diferentemente da maioria dessas

práticas, ela abrange um grande número de princípios e técnicas aplicados em conjunto

Page 120: Dissertacao Celulas de produção

120

e que interagem mutuamente umas com as outras, facilitando a implementação de cada

uma delas e potencializando seus efeitos. Observa-se isso praticamente em nosso

estudo de caso com a redução do tamanho dos lotes, que minimizou o trabalho em

progresso diminuindo o volume de produção, o que facilitaria a efetivação do sistema

Just-in-Time; o leiaute celular de dimensões reduzidas que minimizava as distâncias

facilitando o fluxo de produção e a comunicação entre os operários; o

desenvolvimento de uma estação de trabalho móvel auto-suficiente que permitia

rapidez e agilidade nas operações de setup, e permitia também a combinação das

atividades de transporte das várias etapas de produção melhorando o sistema de

manuseio de materiais; as soluções em gerenciamento visual, a disponibilização das

informações diretamente em seu ponto de utilização e o isolamento das atividades do

fluxo principal das atividades de suporte que reduziram a necessidade de várias

atividades auxiliares aumentando a eficiência do processo como um todo, entre outros

Alguns fatores de implementação da célula não foram efetivados nesse

estudo de caso devido à existência de algumas limitações. A implementação desses

fatores dependeria de maiores investimentos, de longo prazo e de mudanças

estratégicas em alguns princípios da empresa, como a política de qualidade, política de

manutenção, remuneração de funcionários, relacionamento com outros membros da

cadeia de suprimentos entre outros, situações que não puderam ser contempladas no

presente estudo. Apesar disso indicam-se algumas diretrizes específicas de

implementação que podem facilitar na implementação desses fatores para a

Construção Civil.

Conclui-se que a implementação integrada de todos os fatores de

implementação para a construção civil, operacionalizada pelas diretrizes específicas

descritas nesse capítulo, pode trazer um grande avanço na eficiência dos processos

dessa Indústria. Esse estudo indica que o conceito de célula móvel é possível de ser

aplicado no ambiente da Construção Civil e merece pesquisas mais profundas e maior

disseminação nesse setor.

Page 121: Dissertacao Celulas de produção

121

6.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO DE PESQUISA

A abordagem “pattern-matching” utilizada nessa dissertação é bastante

interpretativa pois depende da interpretação do pesquisador a respeito das práticas e

princípios estudados. O objetivo dessa abordagem é confirmar se na comparação da

teoria com a prática ocorreu uma “replicação literal” – a prática confirma a teoria por

razões previsíveis-, ou uma “replicação teórica” - quando os resultados são

contrastantes também por razões previsíveis.

Os resultados alcançados nessa dissertação foram, portanto, atingidos através

de uma análise qualitativa realizada pelo pesquisador. Esses resultados apresentam

credibilidade à medida que a percepção dos operários e gerentes do processo ratifica

algumas proposições. Além disso,outro fator que fortalece a validade desses dados foi

análise da Comissão Julgadora do Prêmio CNI (Confederação Nacional da Indústria)

que acabou por conferir o primeiro lugar em nível regional ao projeto reportado nesta

dissertação na categoria Qualidade e Produtividade no ano de 2001. Porém acredita-se

que a inclusão de indicadores quantitativos e técnicas formais de análise de dados

pudessem auxiliar na ratificação e também na comunicação desses resultados.

6.3 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

A plena implementação do conceito de célula para o ambiente da Construção

Civil demanda que vários aspectos não efetivados no presente estudo de caso sejam

atingidos. Demanda-se portanto estudos mais abrangentes que possam ampliar os

conhecimentos sobre o tema quando aplicado para o ambiente da Construção Civil.

Dessa forma recomenda-se alguns pontos para estudos futuros:

- Replicação do estudo com envolvimento dos fornecedores na

operacionalização do ambiente de célula;

- Replicação do estudo com a participação de operários com maior grau de

polivalência;

Page 122: Dissertacao Celulas de produção

122

- Implementação da célula em mais de um processo simultaneamente

sendo que um processo seja o cliente interno do outro;

- Implementação de células em empresas em que alguns fatores críticos de

implementação já estejam difundidos;

Page 123: Dissertacao Celulas de produção

123

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