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Autor: Pedro Pimenta de Mello Spineti QUANDO COMEÇA A VIDA HUMANA? Questões acerca da pesquisa com células-tronco embrionárias humanas no Brasil Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bioética da Coordenação Central de Extensão da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro como requisito para conclusão do curso. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. Professor orientador: Prof. Dr. Anibal Gil Lopes Rio de Janeiro 31 de Outubro de 2007

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Page 1: celulas tronco

Autor: Pedro Pimenta de Mello Spineti

QUANDO COMEÇA A VIDA HUMANA?

Questões acerca da pesquisa com células-tronco embrionárias humanas no Brasil

Monografia apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Bioética da Coordenação Central de Extensão da Pontifícia Universidade Católica do

Rio de Janeiro como requisito para conclusão do curso.

Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Professor orientador: Prof. Dr. Anibal Gil Lopes

Rio de Janeiro

31 de Outubro de 2007

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À Deus princípio e fim de toda vida,

aos meus pais colaboradores de Deus no milagre da minha vida,

aos meus mestres e colegas da pós-gradução na PUC-Rio.

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Sumário

1- Introdução

2- Células-tronco: O que são e por que estão gerando tanta discussão?

2.1- Células-tronco adultas

2.2- Células-tronco embrionárias

3- .Legislaçào Brasileira

3.1 - Ação Direta de Inconstitucionalidade

3.2 - Outras questões referentes à lei 11.105/2005

4- Quando começa a vida humana?

4.1- O que diz a biologia

4.2- O que diz a antropologia

4.3- O que dizem as religiões

5- Conclusão

6- Bibliografia

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1- Introdução

A terapia celular teve início em setembro de 1957 com o primeiro

transplante de células-tronco de medula óssea, realizado por Thomas Donnall, nos

Estados Unidos da América, em pacientes submetidos a altas doses de radiação1.

O sucesso desta técnica, no tratamento das moléstias hematológicas, levou os

cientistas a buscarem o transplante celular como possibilidade de tratamento para

uma série de doenças degenerativas.

Diversos tipos celulares tem sido utilizados em pesquisa, sendo as células-

tronco adultas as mais empregadas, até o momento, na pesquisa básica e clínica.

Os resultados preliminares, no entanto, têm demonstrado que estas células têm

pouco ou nenhum potencial de se transformar em células especializadas, como

miócitos ou neurônios, sendo seus efeitos justificados por efeitos parácrinos2,

vasculogênicos e imunomoduladores.

Em contraste, a pesquisa básica com células-tronco embrionárias, animais

e humanas, tem mostrado um grande potencial destas células em gerar células

especializadas avaliando-se, então, que elas poderiam ter um efeito superior às

células adultas. Isto tem levado cientistas, no mundo todo, a pressionarem seus

governos a autorizar este tipo de pesquisas.

O Brasil autorizou a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas

no ano de 2005, através da lei 11.105, conhecida como Lei de Biossegurança, que

envolveu um grande debate público acerca do uso dessas células. Tal lei está

tendo sua constitucionalidade questionada no Supremo Tribunal Federal (STF),

por permitir a destruição de embriões humanos.

Para julgar este processo, o STF convocou uma audiência pública para

tentar definir quando começa a vida humana. Este será o enfoque do presente

trabalho, que se propõe a analisar a problemática da pesquisa com células-tronco

embrionárias e tentar responder às questões levantadas pelos ministros do STF,

analisando o início da vida a partir de aspectos biológicos, antropológicos,

filosóficos e religiosos.

1 Cf. THOMAS, D. et al. Intravenous infusion of bone marrow in patients receiving radiation and chemotherapy. New England Journal of Medicine, v. 257, p. 491-6, 12 set. 1957. 2 Efeito parácrino é aquele devido a ação de mediadores celulares com atuação restrita à vizinhança do local de sua produção.

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2- Células-tronco: O que são e por que estão gerand o tanta discussão?

Células-tronco podem ser definidas como células capazes de multiplicar-

se, dando origem a novas células-tronco ou diferenciando-se em células mais

especializadas. Podem ser subdivididas, de acordo com sua capacidade de gerar

outros tipos celulares, em totipotentes, pluripotentes ou multipotentes.

Células totipotentes seriam aquelas capazes de gerar todos os tipos

celulares necessários à formação de um novo ser humano, podendo ser

identificadas com a célula ovo ou zigoto formado a partir da fecundação. As

células pluripotentes poderiam gerar todos os tipos celulares de um indivíduo, mas

não seriam capazes de gerar os tecidos placentários, assim como não poderiam

formar novas células totipotentes. Por fim, as céluas multipotentes poderiam gerar

apenas alguns tipos celulares do indivíduo, dependendo de sua origem.

A célula-tronco por excelência é o zigoto, capaz de dar origem a um novo

indivíduo com todos seus diferentes tipos celulares. Sabe-se que, ao longo do seu

processo de multiplicação celular, as célula filhas tornam-se cada vez mais

especializadas, perdendo sua capacidade de gerar diferentes tipos celulares e até

mesmo sua capacidade de multiplicar-se.

Somente no último século, foi descoberto que algumas células do adulto

ainda guardam características de células-tronco, autodividindo-se e sendo capazes

de dar origem a outros tipos celulares3. Estas célulares passaram a ser chamadas

de células-tronco adultas em contraste com as originadas dos tecidos

embrionários.

2.1- Células-tronco Adultas As células-tronco adultas podem ser encontradas em diferentes tecidos do

indivíduo. Sua presença foi descrita na medula óssea, sangue de cordão umbilical,

3 Santiago Ramón y Cajal, prêmio Nobel de medicina em 1906, demonstrou que neurônios podem voltar a crescer se postos no ambiente adequado. Rita Levi-Montalcini, prêmio Nobel de medicina de 1986, repetiu e confirmou os estudo de Cajal na década de oitenta. Angelo Vescovi demonstrou a plasticidade das células-tronco neuronais, mostrando podem dar origem a tipos celulares derivados do mesoderma in VESCOVI, A.; GALLI, R.; GRITTI, A. The Neural Stem cell and their transdifferetiation capacity. Biomedicine and Pharmacotherapy, v. 55, n. 4, p.201-5, 7 mai. 2001.

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líquido aminiótico, polpa dentária, criptas intestinais, gordura visceral e músculo

esquelético entre outros.

Estas células são utilizadas, desde a década de cinqüenta, para o

tratamento de neoplasias hematológicas, com segurança estabelecida em seu uso.

Isto permitiu o desenvolvimento de uma série de estudos clínicos, com estes tipos

celulares, para o tratamento de várias doenças crônico-degenerativas. A maioria

dos estudos em humanos, publicados até o momento, tem referido o uso de sangue

de medula óssea na sua fração mononuclear ou mesenquimal.

Os primeiro estudos, principlamente em cardiologia, foram bastante

animadores, sugerindo a capacidade destas células em recuperar função

miocárdica após o infarto agudo do miocárdio4. No entanto, apesar de

demonstrarem uma melhora clínica e funcional nestes pacientes, os estudo foram

incapazes de demonstrar a transformação das células tronco adultas em miócitos5.

Esta observação repetiu-se nos estudos com doentes neurológicos e

hepatopatas o que fez os pesquisadores acreditaram que estas células atuem

através de efeitos parácrinos, estimulando a angiogênese no sítio em que são

injetadas, diminuindo a isquemia e inflamação nestes locais.

Esta avaliação, porém, tem feito muitos cientistas creditarem os resultados

não totalmente satisfatórios de seus experimentos à não ocorrência de

transdiferenciação das células, levando-os a buscar um novo tipo celular para seus

trabalhos.

2.2- Células-tronco Embrionárias Foram obtidas, pela primeira vez, em 1998 por James Thompson6, nos

Estados Unidos. Elas foram extraídas da massa celular interna de embriões

fertilizados in vitro e não implantados. Estas células são semeadas e amplificadas

em cultura para serem utilizadas posteriormente para terapia. Estudos têm tentado

utilizar diferentes estímulos para diferenciar estas células em células

especializadas como neurônios, cardiomiócitos, hepatócitos, células beta da ilhota

pancreática.

4 Cf. SCHÄCHINGER, V. et al. Intracoronary Bone Marrow-Derived progenitor Cells in Acute Myocardial Infarction. New England Journal of Medicine, v. 355, n. 12, p.1210-21, 21 set. 2006. 5 Células do músculo cardíaco. 6 Cf. THOMPSON, J. et al. Embryonic stem cell lines derived from human blastocysts. Science, v. 282, n. 5391, p. 1145-7, 6 nov. 1998.

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Os estudos em animais têm apresentado resultados promissores quanto à

capacidade de diferenciação destas células em tipos celulares especializados,

diferentemente das células-tronco adultas, o que tem gerado uma enorme pressão

dos cientistas para liberação das pesquisas com células-tronco embrionárias em

todo o mundo. Isto se confronta com a necessidade de destruir os embriões para

obtê-las, gerando um questionamento ético sobre este procedimento.

Além das questões éticas que serão analisadas, problemas técnicos ainda

precisam ser superados para que estas células possam ser utilizadas em pesquisas

clínicas, tais como: condições de cultura, imunogenicidade, tumorigênese,

diferenciação.

As primeiras linhagens humanas de células-tronco foram expandidas em

cultura sobre fibroblastos de ratos, o que torna estas células inadequadas para

experimentos em humanos, já que a contaminação da cultura pode desencadear

reações alérgicas e transmitir doenças ao homem. Foram desenvolvidos novos

meios de cultura que prometem dispensar o emprego de outras células animais ou

humanas na cultura, o que resolveria este impasse.

Embora alguns experimentos com transplante alogênico de certas

linhagens celulares em murinos tenham demonstrado ausência de reação contra o

enxerto, não pode-se afirmar que o mesmo venha a acontecer em seres humanos.

Sendo assim, a imunossupressão torna-se obrigatória para os transplantes de

células-tronco embrionárias, o que tem sérias conseguências, podendo causar

doenças mais graves que a própria doença de base do paciente. A única forma de

evitar este problema seria a clonagem terapêutica, mas isto traz mais

questionamentos éticos que o próprio uso das células-tronco embrionárias e é

proibido pela própria lei de biossegurança.

Todos os autores concordam que é necessário o desenvolvimento de

técnicas que garantam a qualidade das células-tronco embrionário transplantadas,

pois, uma vez em cultura, elas podem apresentar instabilidade de seu DNA,

sofrendo uma série de mutações que podem ser tumorigênicas. O grande problema

é que qualquer método de verificação irá basear-se em técnicas de amostragem,

principalmente quando fala-se de transplantes da ordem de 100.000.000 células.

Contudo, basta um clone neoplásico para iniciar um tumor.

As técnicas para induzir a diferenciação destas células ainda estão sendo

pesquisadas. Até o momento, encontra-se na literatura relato de diferenciação

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destas células em neurônios, músculo, células beta pancreáticas e hepatócitos.

Porém, não basta apenas adquirir o fenótipo de uma célula especializada, precisa-

se saber se estas células são funcionais, se elas sobrevivem no hospedeiro,

integram-se ao seu tecido e se são funcionais in vivo. Os estudos em modelos

animais estão, no momento, procurando chegar a conclusões sobre estas questões.

A tabela a seguir apresenta as principais diferenças entre as células tronco

embrionárias e as células tronco adultas.

Células-Tronco Adultas Células-Tronco Embrionárias Estudos clínicos fase I – III Estudos in vitro e em animais Não geram células especializadas São capazes de gerar células

especializadas Não são imunogênicas Potencialmente imunogênicas Não precisam ser cultivadas Necessitam expansão em cultura Não há evidência de tumorigênese Tumorigênese em animais Não são alergênicas Alergênicas Eficácia comprovada Precisam de avaliação de

seguranca gênica, integração e funcionalidade

3- Legislação Brasileira 3.1- Lei Nacional de Biossegurança

Em 24 de março de 2005, após uma grande campanha da comunidade

científica e de pessoas com doenças incuráveis, o Congresso Nacional Brasileiro

aprovou a Lei 11.105, também conhecida como Lei de Biossegurança. Esta lei

trata, em especial, de organismos geneticamente modificados, mas, em seu artigo

quinto, permite a pesquisa com células-tronco embrionárias humanas como pode-

se ver abaixo:

Art. 5º. É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I - sejam embriões inviáveis; ou II - sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. § 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores. § 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão

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submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa. § 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997. Art. 6º. Fica proibido: I - implementação de projeto relativo a OGM sem a manutenção de registro de seu acompanhamento individual; II - engenharia genética em organismo vivo ou o manejo in vitro de ADN/ARN natural ou recombinante, realizado em desacordo com as normas previstas nesta Lei; III - engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano e embrião humano; IV - clonagem humana; Art. 24. Utilizar embrião humano em desacordo com o que dispõe o art. 5o desta Lei: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. Art. 25. Praticar engenharia genética em célula germinal humana, zigoto humano ou embrião humano: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. Art. 26. Realizar clonagem humana: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.7

Esta lei foi regulamentada pelo decreto 5.591 de 22 de novembro de 2005

que define alguns termos da lei 11.105,segundo o texto abaixo:

IX - célula germinal humana: célula-mãe responsável pela formação de gametas presentes nas glândulas sexuais femininas e masculinas e suas descendentes diretas em qualquer grau de ploidia; X - fertilização in vitro: a fusão dos gametas realizada por qualquer técnica de fecundação extracorpórea; XI - clonagem: processo de reprodução assexuada, produzida artificialmente, baseada em um único patrimônio genético, com ou sem utilização de técnicas de engenharia genética; XII - células-tronco embrionárias: células de embrião que apresentam a capacidade de se transformar em células de qualquer tecido de um organismo; XIII - embriões inviáveis: aqueles com alterações genéticas comprovadas por diagnóstico pré implantacional, conforme normas específicas estabelecidas pelo Ministério da Saúde, que tiveram seu desenvolvimento interrompido por ausência espontânea de clivagem após período superior a vinte e quatro horas a partir da fertilização in vitro, ou com alterações morfológicas que comprometam o pleno desenvolvimento do embrião; XIV - embriões congelados disponíveis: aqueles congelados até o dia 28 de março de 2005, depois de completados três anos contados a partir da data do seu congelamento; XV - genitores: usuários finais da fertilização in vitro;8

Através da portaria 2.526 de 26 de dezembro de 2005, o Ministério da

Saúde passou à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) o dever de

7 BRASIL. Lei 11.105. Distrito Federal, 2005. 8 BRASIL. Decreto 5.591. Distrito Federal, 2005

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regulamentar as técnicas necessárias para o uso clínico das células-tronco

embrionárias, além de fazer um cadastro de todos os embriões disponíveis para

fins de pesquisa9. Estas normas estão sendo desenvolvidas e serão submetidas a

consulta pública antes de entrar em vigor.

3.2- Ação Direta de Inconstitucionalidade Em 14 de novembro de 2005, o procurador geral da república Cláudio

Fonteles impetrou uma ação direta de inconstitucionalidade contra o artigo quinto

da lei de bissegurança, que é justamente o artigo que permite o uso de células

embrionárias para fins terapêuticos10. Ele aponta que a vida se inicia na

fecundação e, portanto, a destruição destes embriões viola o direito inviolável a

vida expresso no artigo quinto da constituição brasileira11. Esta ação foi aceita

pelo Supremo Tribunal Federal que convocou uma audiência pública para que

pudesse definir quando começa a vida humana. Nos capítulos seguintes, tentar-se-

á chegar a uma conclusão acerca do tema, analisando diferentes pontos de vista,

buscando o bom senso entre as opinões de biólogos, filósofos, antropólogos e

teólogos.

3.3- Outras Questões referentes à Lei 11.105/2005

Com relação à legislação, é importante ressaltar que não existe, no Brasil,

nenhuma lei que regule a prática da fecundação assistida ou os bancos de

embriões. A lei de biossegurança só se refere aos embriões elencáveis para

pesquisa, ou seja, os inviáveis ou com mais de três anos após congelamento e que

tenham autorização dos progenitores.

Pesquisadores estrangeiros têm criticado os embriões congelados como

fonte de células-tronco, devido a baixa viabilidade de suas células após o

descongelamento. Isto leva ao questionamento que, mesmo que as células

9 CF. MINISTÉRIO DA SAÚDE, BRASIL. Portaria 2.526 de 21 de dezembro de 2005. 10 FONTELLES, C.L.; SOUZA, A.S.B.S. Ação direta de inconstitucionalidade nº 3510- 0/600. Distrito Federal, 14 nov. 2005. 11 “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes...” BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil. Art. 5º., caput. Distrito Federal: [n.d.], 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 29/10/2007.

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disponíveis para pesquisa, segundo a legislação atual, mostrem resultados, elas

não serão suficientes e as melhores a serem utilizadas.

O número de embriões disponíveis também é exíguo, segundo

levantamento da ANVISA, apresentado no II Simpósio internacinal de terapias

avançadas e células-tronco. De acordo com o levantamento, existem 10.000

embriões congelados há mais de três anos ou inviáveis, no Brasil, número muito

aquém dos 300.000 estimados antes da aprovação da lei. Estudos internacionais

mostram que o rendimento de embriões congelados para cultura celular é da

ordem de 0,06% o que daria apenas 600 culturas disponíveis de todos os embriões

congelados no país12.

Como mencionado anteriormente, a Lei de Biossegurança proíbe a

clonagem, seja ela reprodutiva ou terapêutica. Sendo assim, caso o transplante de

células-tronco embrionárias mostre-se imunogênico este deverá ser abandonado,

por não ser possível fazer uso da clonagem terapêutica de acordo com a lei

brasileira.

Somente a título de comparação, pode-se observar a posição de outros

países com relação ao uso de células tronco embrionárias:

Países que permitem a derivação de linhagens de cél ulas-tronco embrionárias e a transferência de núcleo (clonagem terapêutica) Reino Unido Japão Bélgica Coréia do Sul China Singapura Israel

Países que permitem a derivação de linhagens de cél ulas-tronco embrionárias, mas não permitem a transferência de n úcleo (clonagem terapêutica) Austrália Irã Brasil Letônia Canadá Holanda Dinamarca República Tcheca Estônia Rússia Finlândia Eslovênia França Espanha Grécia Taiwan Hungria Suíça

12 VALLE, S. Progress in stem cell research and its interface with the brazilian legislation. In: INTERNACIONAL SYMPOSIUM IN ADVANCED THERAPIES AND STEM CELLS, II, 2007, Rio de Janeiro. Conferência.

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Países que proibiram a derivação de linhagens de cé lulas-tronco embrionárias e não permitem a transferência de núcl eo (clonagem terapêutica) Alemanha Irlanda Austria

4- Quando começa a vida humana 4.1- O que diz a biologia

A embriologia é uma ciência relativamente nova. A descoberta dos

gametas data do século XVII, porém foi apenas no século XIX que surgiu o

conceito de fecundação. Esta idéia está presente na ‘teoria celular’ de Virchow13.

Atualmente, os embriologistas concordam que toda vida humana tem origem no

encontro do espermatozóide paterno com o óvulo materno.

O óvulo e o espermatozóide possuem 23 cromossomos cada um, e as

demais células do corpo humano têm 46, sendo chamadas células somáticas. Em

cada célula somática temos 22 pares de cromossomos denominados autossômicos

e um par de cromossomos sexuais XX ou XY, que definem o sexo feminino ou

masculino, respectivamente.

Com a união dos dois gametas, restaura-se o número total de

cromossomos, gerando um novo ser humano com uma identidade genética única,

diferente da dos progenitores. Esta primeira célula já tem, em seu núcleo, o DNA

com toda a informação genética necessária para gerar um novo ser.

Ainda não foi possível definir qual o instante exato da fecundação em que

se inicia o novo ser. Seria logo que o espermatozóide passa a barreira da

membrana do ovócito e entra em seu ambiente estrutural com o material

genômico que lhe é próprio? Seria após o apagamento das membranas dos pró-

núcleos, masculino e feminino, possibilitando uma conversação bioquímica entre

eles? Seria após o emparelhamento e troca genética entre os pró-núcleos até o

estabelecimento e estabilização da diploidia, logo seguida de divisão das duas

células, que são ainda totipotentes?

13 Cf. LEONE, S. As raízes antigas de um debate recente. In: CORREA, J. SGRECCIA, E. Identidade e Estatuto do Embrião Humano: Atas da Terceira Assembléia da Pontifícia Academia para Vida. São Paulo: EDUSC, 2007, p. 57.

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Hoje sabe-se que todo este processo ocorre em um período de cerca 30

horas, após o qual o zigoto completa sua primeira divisão celular. Daniel Serrão

propõe que durante este período chame-se este novo ser vivo de embrião

nascente14. A grande maioria dos biólogos concorda que o início do embrião dá-se

ao final da singamia, com a formação do zigoto unicelular. Porém, é certo que ao

final deste processo tem-se um indivíduo único que, se nada interferir no seu

desenvolvimento, irá nascer em 38 semanas.

O processo de divisão celular por mitose segue ininterruptamente e, pelo

menos até a fase de oito células, cada uma delas é capaz de se desenvolver em um

ser humano completo. São as células-tronco totipotentes.

Dentro de três ou quatro dias as células do embrião assumem um formato

esférico, sendo assim chamado de mórula. Após quatro ou cinco dias, forma-se

uma cavidade no interior da mórula e, então, o embrião passa a se chamar

blastocisto. As células internas do blastocisto, que formam a massa celular

interna, vão originar as centenas de tecidos que compõem o corpo humano, ou

seja, são pluripotentes. As células-tronco embrionárias humanas são obtidas

justamente da massa celular interna de embriões obtidos por fertilização in vitro.

A massa celular externa, por sua vez, dará origem à placenta e aos anexos

embrionários.

Depois da implantação no útero, inicia-se a formação da placenta, que

serve como interface entre o sistema circulatório da mãe e do embrião. A placenta

traz oxigênio e nutrientes ao embrião, promovendo a troca entre os nutrientes e

detritos, mantendo também a homeostasia do sistema circulatório sem que o

sangue do feto se misture com o da mãe. Também produz hormônios e mantem a

temperatura levemente maior que a da mãe. A comunicação entre a placenta e o

embrião é feita através dos vasos do cordão umbilical.

Dentro de uma semana, as células da massa interna formam duas camadas

chamadas de hipoblasto (que dá origem ao saco vitelino) e epiblasto (que origina a

membrana amniótica).

Depois de aproximadamente duas semanas e meia, o epiblasto terá

formado três tecidos especializados, ectoderma, endoderma e mesoderma. O

ectoderma dará origem ao cérebro, coluna vertebral, nervos, pele, unhas e cabelo.

14 Cf. SERRÃO, D. Livro Branco: uso de embriões humanos em investigação científica. Portugal: Ministério da Ciência e Ensino Superior, 2003, p 17-18.

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O endoderma dará origem ao sistema respiratório, tubo digestivo e órgãos como o

fígado e pâncreas. O mesoderma formará, principalmente, coração, rins, ossos,

cartilagens, músculos e células sanguíneas.

Dentro de três semanas, o cérebro estará se dividindo em três, chamados

cérebro anterior, médio e mesencéfalo. Nesta fase se desenvolvem os sistemas

respiratório e digestivo.

À medida que as primeiras células sanguíneas aparecem no saco vitelino,

vasos sanguíneos se formam por todo o embrião e aparece o coração tubular. Este,

rapidamente, começa a crescer, dobra-se sobre si mesmo, na medida que as

câmaras começam a se desenvolver.

O coração começa bater três semanas e um dia após a fertilização. O

sistema circulatório é o primeiro do corpo que atinge o estado funcional. Em

quatro semanas aparecem os brotos dos membros. A pele é transparente, tendo a

espessura de uma célula. À medida que vai se espessando, perde a sua

transparência, só se podendo observar o crescimento dos órgãos internos por

aproximadamente mais um mês.

Entre quatro e cinco semanas o cérebro continua seu rápido crescimento e

se divide em cinco partes distintas. A cabeça compreende cerca de um terço do

tamanho do embrião. Os hemisférios cerebrais aparecem, tornando-se

gradativamente a maior parte do cérebro.

Os rins permanentes surgem em cinco semanas. O saco vitelino contém as

primeiras células reprodutivas, chamadas germinativas, que migram dentro de

cinco semanas para os órgãos reprodutivos.Também em cinco semanas o embrião

desenvolve a placa das mãos e a formação da cartilagem inicia-se. Em seis

semanas, os hemisférios cerebrais estão crescendo desproporcionalmente mais

rápido que outras partes. O embrião começa a fazer movimentos espontâneos e

reflexos. Neste mesmo período ocorrem as formações de células sanguíneas no

fígado, onde estão os linfócitos (importante no desenvolvimento do sistema

imunológico).

Dentro de seis semanas e meia pode-se distinguir os cotovelos, os dedos

começam a se separar e podem-se observar movimentos das mãos. A formação

dos ossos, a ossificação, inicia-se nos ossos da clavícula e dos maxilares. Nesta

fase, já se observam soluços e podem ser vistos movimentos das pernas e resposta

a susto.

Page 15: celulas tronco

O coração com quatro câmaras, em geral está completo, batendo em média

168 batimentos por minutos, mantendo o padrão de ondas semelhantes aos

adultos. Os ovários são identificáveis em sete semanas e as mãos e os pés podem

se unir.Ao completar oito semanas, o cérebro é altamente complexo e constitui

quase metade do tamanho do embrião. O crescimento continua numa taxa

extraordinária, já tendo dominância da mão direita (75%) ou esquerda (25%).

O embrião torna-se mais ativo, ocorrendo rotação da cabeça, extensão do

pescoço, contato da mão com o rosto. Iniciam-se os movimentos respiratórios.Os

rins produzem urina que é liberada no líquido amniótico.

Oito semanas marcam o final do período embrionário. Durante esse

período, o embrião humano cresce de uma única célula a quase um bilhão de

células. Agora possui mais de 90% das estruturas encontradas em adultos15.

Durante suas oito primeiras semanas, o ser humano que se desenvolve é

chamado de embrião, que significa o que cresce internamente. Esta fase é

chamada de período embrionário e é nesta que se desenvolvem os principais

sistemas do corpo.

Com o advento da fecundação in vitro, buscou-se um termo para designar

o embrião antes de sua implantação na cavidade uterina, tendo-se originado o

termo ‘embrião pré-implantação’ ou ‘embrião na fase de pré-implantação’. Em

1979, foi ainda introduzido o termo ‘pré-embrião’ por GROBSTEIN16.

A partir da oitava semana, o embrião passa a ser chamado de feto, que

significa filho não nascido, e é neste período fetal que o corpo cresce e os órgãos

iniciam o seu funcionamento.17 Veja no ANEXO 1 o quadro completo sobre o

desenvolvimento emrbionário humano.

15 STILLWELL, B.J. The biology of prenatal development. [SI]: National Geographic, 2006. Disponível em: <http://www.ehd.org/resources_bpd_documentation.php?language=72#chapter3>. Acesso em 28/10/2007. 16 Cf. GROBSTEIN, C. External Human Fertilization. Scientific American, v. 240, n. 6, p. 33-43, jun. 1979. Este termo, ‘pré embrião’, tem sido duramente criticado por tentar negar ao embrião a sua natureza individual nos primeiros dias de seu desenvolvimento antes da implantação. LEJUNE, geneticista mundialmente conhecido, afirma: “Pré-embrião, esta palavra não existe. Não há necessidade de uma subclasse de embrião a ser chamada de pré embrião, porque nada existe antes do embrião; antes do embriào existe apenas o óvulo e o esperma...” LEJUNE, J. Apud. MESTIERE, J. Embriões. Consulex, n. 32, p.42-3. Apud DINIZ, M.H. O estado atual do biodireito. Ed 3. São Paulo: Saraiva, 2006. 17 Op cit.

Page 16: celulas tronco

4.2- O que diz a filosofia e a antropologia

Quando começa a vida humana? Esta questão tem sido levantada por

diversos pensadores e cientistas ao longo de milênios. Esta questão tomou ordem

prática desde a Grécia antiga, nas discussões acerca do aborto, pois já naquela

época discutia-se se esta prática era lícita As discussões acerca do aborto

permanecem até os dias atuais, porém, o questionamento acerca de quando

começa a vida humana vem ganhando cada vez mais destaque com o avanço da

biotecnologia e a posssibilidade de se gerar embriões in vitro, congelá-los para

posteriormente implantá-los, selecionar seu sexo e caracteres físicos.Será

analisado, a seguir, como evoluiu o conceito filosófico acerca do início da vida

humana e o estatuto antropológico do embrião humano, em diversos períodos da

história da humanidade.

4.2.1- Período Mitológico Encontra-se na mitologia hindu, chinesa, japonesa e pré-colombiana idéias

pré-formacionistas, indicando que o ser humano, já desde seu início, estaria

completo, sendo homem em sua totalidade. Em alguns mitos africanos existe,

inclusive, a idéia de que o embrião já estaria pré-formado no seio de uma mãe

celeste, antes de tomar forma no ventre da mãe terrestre.

4.2.2- Grécia Clássica Os gregos não tinham conhecimentos acerca da embriologia humana.

Segundo Hipócrates, o embrião formava-se quando o esperma masculino

coagulava o sangue no ventre materno. Seus conceitos acerca do estatuto do

embrião humano apresentam um caráter filosófico e especulativo. Em seu

juramento, Hipócrates proíbe a prática do aborto. Tal proibição irá permear a

medicina ocidental, não tendo sido questionada até os tempos modernos.

Lísias (445-478 a.C.) escreve O discurso sobre o aborto, que foi perdido

em sua maior parte. Porém, em um fragmento que chegou até o nosso tempo

encontramos a seguinte frase: "aquilo que ainda está em gestação é um homem".

No entanto, serão as idéias de Aristóteles que irão influenciar não só o

pensamento grego, como toda tradição filosófica subseqüente. Ele defende a

doutrina das três almas que se manifestam uma a seguir da outra na seguinte

ordem: alma nutriz, alma sensitiva e alma intelectiva.

Page 17: celulas tronco

A alma sensitiva seria a responsável pela sensibilidade e pela vida e só

começaria a atuar no quadragésimo dia de gestação para os homens e no

nonagésimo dia para as mulheres. Só a partir deste momento o embrião estaria

completamente formado, tornando-se um ser humano. Encontra-se aí a distinção

entre feto formado e não formado. Esta distinção permitia que o aborto fosse

realizado até o prazo estipulado para formação completa do embrião. Este período

“inanimado” foi arbitrariamente definido, não tendo fundamento biológico.

4.2.3- Estóicos 3 e 2 a.C. Os estóicos negavam qualquer autonomia do embrião humano antes do

nascimento. Encontra-se grande influência de sua filosofia no direito romano que

considerava o embrião como portio matris uteri vel viscerum.

4.2.4- Filosofia Cristã O estatuto do embrião humano foi tema de debate já entre os primeiros

Padres da Igreja, sobretudo devido à preocupação com a condenação do aborto.

Segundo Tertuliano “Não há diferença entre tirar uma vida já nascida e

destruí-la antes de nascer. Ela é um homem que quer tornar-se um homem.”18 Ele

ainda vai mais além, afirmando:

Se se determinar que a morte nada mais é que a disjunção do corpo e da alma, então a vida, que se opõe à morte, poderá ser definida como, meramente, a conjunção da alma e do corpo. Se a separação das duas substâncias ocorre no instante da morte, então a forma da conjunção dessas substâncias tem de ocorrer simultaneamente com a vida.19

Ou seja, ele defende o início da vida com a concepção, o que não foi

amplamente aceito em sua época.

Santo Agostinho, por sua vez, furta-se a definir quando começa a vida

humana, considerando-a um mistério até para o mais douto dos homens. O mesmo

não acontece no Oriente, onde São Basílio não faz distinção entre o ser formado e

não-formado, como Aristóteles e muitos Padres ocidentais. Ele irá condenar o

aborto em qualquer momento da gravidez20.

18 TERTULIIAN, Apologeticum, IX, 87. Apud LEONE, S. As Raízes de um antigo debate. In: CORREA, J. SGRECCIA, E. Identidade e Estatuto do Embrião Humano: Atas da Terceira Assembléia da Pontifícia Academia para Vida. São Paulo: EDUSC, 2007, p. 47. 19 Ibid. 20 Cf. LEONE, S. As Raízes de um antigo debate. In: CORREA, J. SGRECCIA, E. Identidade e Estatuto do Embrião Humano: Atas da Terceira Assembléia da Pontifícia Academia para Vida. São Paulo: EDUSC, 2007, p. 49.

Page 18: celulas tronco

São Gregório de Nissa esclarece ainda mais, utilizando de um princípio

único e comum de existência para afirmar que corpo e alma iniciam sua existência

ao mesmo tempo, contrariando Aristóteles21.

São Tomás de Aquino, ao contrário destes seus antecessores, continua a

afirmar a doutrina das três almas de Aristóteles. Para ele, a alma espiritual é

infundida junto com a alma racional. Disto decorre que matar o embrião em

qualquer fase é um pecado grave, porém, só poderia ser considerado crime após o

surgimento da alma racional22.

Neste momento da história, a preocupação da Igreja encontrava-se em

punir o pecado do aborto. A preocupação em definir o estatudo do embrião só

surgirá mais tarde.

4.2.5- Iluminismo As idéias de Aristóteles irão perdurar por todo o período medieval e

renascimento. Somente no século XVII, com a evolução da biologia, o debate

acerca do estatuto do embrião passará a ser conduzido pelas ciências naturais.

Com a descoberta dos gametas masculino e feminino, irão surgir novas

idéias pré-formacionistas que irão defender que o embrião encontra-se

completamente formado dentro dos gametas. Uma vez que o embrião já estaria

completamente formado no gameta, a terioa das três almas seria completamente

infundada. A única divergência entre os cientistas deste período seria acerca de

que gameta carreava os embriões: o ovócito ou o espermatozóide. Entre os

defensores destas teses encontramos Giusepe Gegli Aromatari (1568-1660),

Nicolò Stenone (1638-1686), Reinier de Graaf (1641-1673) e Anton van

Leeuwenhoek (1632-1723).

4.2.6- Idade Moderna Um século após o surgimento das teorias pré-formacionistas, Virchow

(1821-1902) irá apresentar a ‘teoria celular’, segundo a qual todas as células de

um determinado organismo têm sua origem numa célula mãe, ou zigoto, que é

formada pela união dos gametas parentais. Tal teoria colocará em cheque as idéias

pré-formacionistas e trará de volta a questão acerca de quando começa a vida

humana. 21 Cf. Op cit., p. 49. 22 Cf. Op cit., p. 52.

Page 19: celulas tronco

Rosmini (1797-1855) irá propor a teoria conhecida como transnaturação,

segundo a qual o começo do ser humano dá-se na concepção, na medida em que a

alma sensível é trasnaturada em alma intelectiva imediatamente no momento da

concepção, elevando o indivíduo ao estado de sujeito, ou pessoa intelectiva.

As idéias de feto animado e inanimado também encontrarão defensores

neste período, entre eles: P. Scavini (1790-1869) e G dÁniballe (1815-1892).

4.2.7- Idade Contemporânea Apesar de todo o avanço da biologia no campo da embriologia, vários

antropólogos defendem a tese de que o início do ser humano não é,

necessariamente, coincidente com o início de uma nova vida. Por isto, deve lhe

ser atribuida uma humanidade gradual, de acordo com seu desenvolvimento.

Diferentes autores apresentam critérios distintos para atribuir o status de

ser humano ao embrião, com todos os seus direitos, sendo fundamental conhecer a

corrente antropológica utilizada para definir estes critérios antes de debater a este

respeito 23.

São muito variados os critérios apresentados pela antropologia

contemporânea para atribuir o estatuto de pessoa humana ao embrião.

Didaticamente, pode-se dividí-los em extrínsecos e intrínsecos. Aqueles não têm

origem no embrião e sim em fatores externos, enquanto, estes se referem à

características do próprio embrião.

Os principais critérios extrínsecos são:

- Relações humanas: critério defendido pelos estruturalistas franceses que

afirma que o embrião só se torna uma pessoa humana quando passa a

estabelecer relações. Este momento do início da relação é apontado, por

alguns juristas, como o momento da nidação em que o zigoto passaria a

interagir diretamente com a sua mãe. No entanto, sabe-se hoje que, do

23 Cf. EJIK, J. The criteria of overall individuality and the bioanthropological status of the embryo before implantation. In: XII General Assembly International Congress "The Human Embryo Before Implantation". Vaticano, Libreria Editrice Vaticana, 2006. Disponível em: <http://www.academiavita.org/template.jsp?sez=Pubblicazioni&pag=testo/embr_preimp/eijk/eijk&lang=english>. Acesso em: 28/06/2007.

Page 20: celulas tronco

ponto de vista molecular, o embriào interage com sua mãe desde o

momento da fecundação.

- Lei positiva: o embrião só seria considerado como pessoa a partir do

momento que a lei o definisse como tal. Neste intuito, é que o Supremo

Tribunal Federal do Brasil fez uma audiência pública na tentativa de obter

um consenso sobre quando começa a vida humana, para que possa

interpretar as outras leis que influenciam diretamente o embrião. A

permissão do aborto até determinado período da gravidez também é um

exemplo claro do uso deste critério.

- Decisão de dar a vida ao embrião: este critério foi criado após o advento

da fertilização “in vitro”. Ele postula que a vida do novo embrião depende

do desejo de seus pais de o implantarem. Caso não haja esta decisão, ele

não poderá continuar a se desenvolver, não podendo ser considerado uma

pessoa humana.

Já os principais critérios intrínsecos são:

- Independência do corpo materno: o embrião só poderia ser considerado

uma pessoa uma vez que fosse independente do corpo materno. Alguns

autores sustentam que esta independência deve ser total, o que só acontece

ao nascimento, ou parcial, que aconteceria após a formação da placenta

que irá nutrir o embrião e servir de interface entre ele e a mãe.

- Natureza biológica humana: o embrião seria uma pessoa apenas por ser

humano em termos biológicos.

- Individualidade: o embrião só seria uma pessoa a partir do momento em

não pode mais se dividir, dando origem a um gêmeo. Isto só acontece ao

final da fase de blástula.

- Animação: o embrião só se torna humano após a infusão da alma. Como

este momento não é consensual entre filósofos e religiosos, deverá ser

analisado dentro do contexto em que está sendo discutido.

Page 21: celulas tronco

- Manifestação de atividade especificamente humana: segundo alguns

cientistas e bioeticistas, o embrião não pode ser pessoa humana até ter um

desenvolvimento mínimo do seu sistema nervoso central.

- Finalidade intrínseca: o embrião, mesmo não sendo ainda um indivíduo

humano, deve ser respeitado pelo fato da sua finalidade intrínseca não ser

outra, senão, tornar-se um indivíduo hhumano.

Muitas destas definições trazem consigo não apenas o conhecimento científico

acumulado acerca da embriologia e reflexões filosóficas acerca do início da vida

como, também, uma série de interesses que tendem a moldar um conceito de

início da vida e da pessoa humana de acordo com sua utilidade.

Como já foi pontuado anteriormente, a possibilidade de gerar embriões fora do

corpo materno tem levado a um questionamento do estatuto do embrião humano

antes de ser implantado, surgindo conceitos como o de ‘pré-embrião’.

4.3- O que dizem as religiões A religião tem vivido um perído de crise iniciado na modernidade, sendo

duramente criticada por filófosos como Feuerbach, Marx, Comte, Carnap e

Nietzsche. Este último chegou, inclusive, a proclamar a morte de Deus24. Sendo

assim, por que se discutir a posição das religiões diante do debate bioético acerca

do início da vida e do uso de células-tronco embrionárias? A resposta é simples,

pois ao mesmo tempo em que se prega a morte de Deus e o combate às religiões

formais, o ser humano nunca foi tão religioso, buscando algo que o transcenda.

FRANKL, V chegou a afirmar que:

Ser homem significa ir além de si mesmo. A essência da existência humana se encontra na própria autotranscendência. Ser homem quer dizer estar voltado para alguma coisa ou alguém, oferecer-se e dedicar-se plenamente a um trabalho, a uma pessoa amada, a um amigo a quem se quer bem, a Deus que se quer servir. 25

24 Cf. NIETZSCHE, F. A gaia ciência. Tradução: Márcio Pugliese. São Paulo: Hemus, 1976, seção 125. 25 FRANKL, V. Logoterapia e analisi esistenziale. p. 51-56. Apud. GALANTINO, N. Dizer homem hoje: novos caminhos da antropologia filosófica. Tradução Roque Fangiotti. São Paulo: Paulus, 2003.

Page 22: celulas tronco

A seguir,serão apresentadas as posições morais das principais religiões

presentes no Brasil, acerca da pesquisa com células tronco embrionárias.

4.3.1- Catolicismo Desde o século XIX, a Igreja católica tem defendido que o início da vida

humana ocorre a partir da concepção. Este é o fundamento de suas críticas a todos

os experimentos ou práticas que possam trazer algum prejuízo a este ser humano.

Com relação às células tronco, o Magistério da Igreja Católica tem

afirmado e reafirmado, insistentemente, sua posição favorável à pesquisa com

células tronco adultas, uma vez que estas respeitam a vida humana em todas as

suas fases26. O contrário acontece com pesquisa com células embrionárias

humanas, uma vez que levam à destruição do embrião, sendo proibidas, conforme

aponta o Papa Bento XVI (2006):

Perante a eliminação directa do ser humano não pode haver sujeições nem subterfúgios; não se pode pensar que uma sociedade possa combater eficazmente o crime, quando ela própria legaliza o delito no âmbito da vida nascente. Por ocasião de recentes Congressos da Pontifícia Academia para a Vida tive a ocasião de reafirmar o ensinamento da Igreja, dirigido a todos os homens de boa vontade, sobre o valor humano do recém-concebido, mesmo quando é considerado antes da sua implantação no útero.27

4.3.2- Protestantismo Clássico

De forma geral, os protestantes, assim como os católicos, reconhecem o

início da vida a partir da concepção. Não existe, entretanto, um consenso, entre as

diversas denominações protestantes, nas questões referentes às pesquisas com

células tronco embrionárias.

As igrejas tradicionais não têm uma posição única, válida mundialmente,

encontrando-se, na literatura, reflexões de diferentes teólogos divergentes entre si.

Os que são contrários à pesquisa baseiam-se, de forma geral, na dignidade da

26 Cf. BENTO XVI. Discurso ao senhor Ji-Young Francisco Kim, novo embaixador da República da Coréia junto da Santa Sé por ocasião da apresentação das cartas credenciais. Vaticano: [s.n.], 2007. Disponível em: <http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2007/october/ documents/hf_ben-xvi_spe_20071011_ambassador-korea_po.html>. Acesso em: 29 out. 07. 27 BENTO XVI. Discurso durante o encontro com os participantes no congresso promovido pela Pontifícia Academia para Vida. Vaticano: [s.n.], 2006. Disponível em: <http://www.vatican.va /holy_father/benedict_xvi/speeches/2006/september/documents/hf_ben-vi_spe_20060916_pav_po. html> Acesso em: 29 out. 07.

Page 23: celulas tronco

pessoa humana e apontam a destruição dos embriões como uma afronta aos seres

humanos mais indefesos que existem.28

Já os autores favoráveis à pesquisa com células-tronco embrionárias

afirmam que estas podem ser realizadas, quando não existe nenhum outro meio

possível para obter os mesmos resultados e que, preferencialmente, devem ser

utilizados embriões que foram descartados para o processo reprodutivo. O ponto

fundamental atrás destas reflexões é o bem maior que a terapia com células-tronco

poderá trazer para outros indivíduos.

4.3.3- Pentecostalismo Protestante As duas principais representantes do pentecostalismo protestante no Brasil

são a Assembléia de Deus e a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD).

Não encontra-se um ensino formal da IURD acerca do início da vida, mas

pode-se extrapolar o seu pensamento acerca do uso de células-tronco, a partir do

testemunho de seus 16 deputados no Congresso Nacional, os quais votaram a

favor da pesquisa com células-tronco embrionárias, em desacordo com o restante

da frente parlamentar evangélica29.

Já a Assembleia de Deus defende que a vida humana se inicia com a

concepção, sendo a destruição de embriões para pesquisa um grave pecado diante

de Deus, conforme afirmou o Pastor Pedro Ribeiro em seu discurso para o

plenário da Câmara:

Não somos contra a ciência. Pelo contrário. Queríamos que a ciência aliasse a sua profundidade e eficácia com o conhecimento Daquele que rege todo o Universo, Daquele que criou todos nós e as nações, que é o nosso querido e amado Deus, que provê vida e espírito que tem vida, e vida eterna. Sabe-se quando há exatamente o acasalamento, a junção entre o espermatozóide e o óvulo, criando o ovo, com a fecundação. Portanto, há vida.30

28 Cf. MEILAENDER, G. Algumas reflexões protestantes. In: HOLLAND, S.; LEBACQZ, K.; ZOLOTH, L. (Org.). As células tronco embrionárias humanas em debate. Tradução: Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2006, p. 150-1. 29 CÂMARA deve votar lei que permite pesquisas com células tronco. [S.I.]: Agência Brasil, mar. 2005. Disponível em: <http://noticias.terra.com.br/ciencia/interna/0,,OI480900-EI1434,00.html>. Acesso em: 29 out. 07. 30 RIBEIRO, P. Discurso. In: FÓRUM DE AÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 2, 2005, Brasília. Disponível em: <http://www.biotecnologia.com.br/ biocongresso/discursos.asp?id=384>. Acesso em: 29 out. 07.

Page 24: celulas tronco

4.3.4- Judaísmo De acordo com o Talmude Babilônico, até os primeiros 40 dias da

gestação o ser humano em formação é “algo semelhante a água” 31. Este escrito é

utilizado por alguns rabinos para permitir o aborto dentro deste período. O mesmo

escrito tem sido evocado na discussão acerca da pesquisa com células-tronco

embrionárias humanas. Outros escritos acerca do aborto ainda afirmam que o

embrião é parte do corpo da mãe, assim como sua coxa, podendo ser retirado em

caso de doença grave. Ou seja, ele não tem estatuto de um ser humano pleno32.

Baseado nestes dois pontos, a moral judaica permite a pesquisa com

células-tronco embrionárias, pois considera que os embriões produzidos in vitro

não podem ser considerados propriamente indivíduos humanos, por terem menos

de 40 dias e por terem sido gerados extra-útero, não fazendo parte do corpo da

mãe e nào sendo capazes de gerar novos seres humanos a não ser que sejam

implantados no útero.

4.3.5- Kardecismo Segundo Allan Kardec, “A União começa na concepção, mas ela não se

completa senão no momento do nascimento.”33, ou seja, o novo ser humano só

passa a apresentar uma alma com o nascimento. Caso o corpo escolhido morra

antes do nascimento, o espírito pode escolher um novo corpo para reencarnar.34

O Livro dos Espíritos afirma, ainda, que existem alguns natimortos que

nunca tiveram espírito, pois não havia nada a fazer pelos seus corpos35. Em “A

Gênese”, KARDEC explora mais o tema, introduzindo o conceito de que o

perispírito se liga ao óvulo fecundado desde a concepção e vai se ligando

molécula a molécula ao corpo de acordo com o desenvolvimento do feto,

culminando no nascimento, quando a ligação é completa e irreversível.36

Apoiadas nos conceitos apresentados acima, encontraremos duas correntes

dentro do espiritismo. A primeira é contrária à pesquisa com células-tronco

31 Cf. DORFF, E.N. A pesquisa com células tronco: uma perspectiva judaica. In: HOLLAND, S.; LEBACQZ, K.; ZOLOTH, L. (Org.). As células tronco embrionárias humanas em debate. Tradução: Adail Sobral e Maria Stela Gonçalves. São Paulo: Loyola, 2006, p. 99. 32 Cf. Ibid. P. 98. 33 KARDEC, A. Livro dos Epíritos. Questão 344. São Paulo: Petit, 1998. 34 Cf. Ibid questão 346. 35 Cf. Ibid questão 356. 36 Cf. KARDEC, A. A gênese: os milagres e as previsões segundo o espiritismo. São Paulo: Lake, 2005.

Page 25: celulas tronco

embrionárias, pois defende que só Deus é quem pode retirar a vida de uma pessoa,

mesmo que tenha sido gerada a partir de uma fecundação in vitro37.

A outra corrente apoia a pesquisa, apontando que alguns embriões nunca

chegam a ter alma, gerando os natimortos. Para eles, os embriões utilizados em

pesquisa seguiriam um destino semelhante, não vindo a ter alma ou, caso

tivessem, com a sua destruição o espírito buscaria outro corpo38.

5- Conclusão

O debate acerca da pesquisa com células-tronco está apenas começando e

está longe de uma solução pacífica. Porém, dentre tudo o que tem sido discutido,

gostaria de ressaltar dois pontos. O primeiro foi o enfoque até o presente

momento, e é: quando começa a vida humana? O segundo é: deve-se controlar o

desenvolvimento científico ou este não deve ter nenhum controle para o bem da

humanidade?

Quanto ao questionamento acerca do início da vida humana, pode-se

perceber que os cientistas, de forma especial os embriologistas, parecem acordar

que se encontra no momento da fecundação, com a formação da célula ovo ou

zigoto. Tal pressuposto também é reafirmado pela maioria das religiões em nosso

país. A pergunta que deve-se colocar neste momento é: esta vida, originada na

concepção, têm a mesma dignidade da vida de um indivíduo já nascido?

Esta é uma pergunta ardilosa, pois, dependendo do interesse de quem a

propõe ou da utilidade que possa ter, pode haver respostas diferentes. Àqueles

favoráveis às pesquisas com células-tronco, ou ao aborto, tendem a separar o

surgimento desta pessoalidade, desta dignidade, do momento da concepção. Neste

sentido, afirmam que o embrião só ganha dignidade de pessoa ou após a

implantação, ou do surgimento do sistema nervoso, ou do seu nascimento.

Contudo, todos estes critérios são extremamente arbitrários, uma vez que no

zigoto já se encontra todo o programa do novo ser que passa apenas por estágios

diferentes, durante a gestação.

37 Cf. MORAIS, A.F. Células Tronco. Centro Espírita Ismael. Disponível em: <http://www. ceismael.com.br/tema/tema062.htm>. Acesso em: 29 out. 07. 38 Cf. RÉGIS, M.C. O dilema das células tronco embrionárias. [S.I.]: Jornal Abertura, 2001. Disponível em: <http://www.espiritnet.com.br/Abertura/Ano2001/dilema.htm>. Acesso em: 29 out. 07.

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Os embriões excedentes dos processos de fecundação in vitro também não

podem ser considerados menos embriões do que aqueles implantados, pois foram

produzidos com o mesmo propósito, ou seja, gerar um novo indivíduo. Portanto,

não se deve tentar roubar a dignidade destes pequenos indivíduos e nem tirar-lhes

o direito de serem reconhecidos como seres humanos e, portanto, com direito

inviolável a vida, apenas para justificar, de uma forma mais fácil, os nossos

anseios científicos.

Isto leva ao segundo questionamento apresentado acima, pois muitos

cientistas, embora considerem o embrião humano antes da implantação como uma

pessoa dotada de dignidade, acreditam que seu sacrifício seria válido desde que o

objetivo seja nobre. Porém, antes de adotar-se tal procedimento, deve-se pensar

em longo e não em curto prazo.

Atualmente, discute-se o uso de embriões excedentes para as pesquisas,

porém, se a sociedade for incapaz de definir limites para a biomedicina, estar-se-á

discutindo, no futuro, a produção de embriões para terapia com células-tronco e a

clonagem terapêutica, pois, como foi apresentado anteriormente, o número de

células disponíveis para pesquisa é pequeno e estas podem apresentar problemas

de incompatibilidade que só seriam solucionáveis através da clonagem

terapêutica.

Portanto, antes de defender e aplaudir os possíveis resultados das

pesquisas com células tronco embrionárias humanas, deve-se pensar nas

consequências que o seu uso pode trazer para o nosso próprio conceito de homem.

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6- Bibliografia

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26- PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO. Normas para apresentação de teses e dissertações. Rio de Janeiro: PUC-Rio, 1980;

27- RÉGIS, M.C. O dilema das células tronco embrionárias. [S.I.]: Jornal Abertura, 2001. Disponível em: <http://www.espiritnet.com.br/Abertura/ Ano2001/dilema.htm>. Acesso em: 29 out. 07;

28- RIBEIRO, P. Discurso. In: FÓRUM DE AÇÃO POLÍTICA DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLÉIA DE DEUS, 2, 2005, Brasília. Disponível em: <http://www.biotecnologia.com.br/biocongresso/discursos.asp?id=384 Acesso em: 29 out. 07

29- SCHÄCHINGER, V. et al. Intracoronary Bone Marrow-Derived progenitor Cells in Acute Myocardial Infarction. New England Journal of Medicine, v. 355, n. 12, p.1210-21, 21 set. 2006;

30- SERRÃO, D. Livro branco: uso de embriões humanos em investigação científica. Portugal: Ministério da Ciência e do Ensino Superior, 2003

31- SGRECCIA, E. Manual de Bioética. Vol. 1. Ed. 2. Tradução: Orlando Soares Moreira. São Paulo: Loyola, 2002;

32- THOMAS, D. et al. Intravenous infusion of bone marrow in patients receiving radiation and chemotherapy. New England Journal of Medicine, v. 257, p. 491-6, 12 set. 1957;

Page 29: celulas tronco

33- THOMPSON, J. et al. Embryonic stem cell lines derived from human blastocysts. Science, v. 282, n. 5391, p. 1145-7, 6 nov. 1998;

34- UN APPELLO PER LA VITA, México. Dignità e statuto dellémbrione umano: atti del congresso scientifico internazionale. Vaticano: Libreria Editrice Vaticana, 2000;

35- VESCOVI, A.; GALLI, R.; GRITTI, A. The Neural Stem cell and their transdiferetiation capacity. Biomedicine and Pharmacotherapy, v. 55, n. 4, p.201-5, 7 mai. 2001;

Page 30: celulas tronco

ANEXO 1

Desenvolvimento do Embrião Humano

0 min Fecundação fusão de gametas

Celular

12 a 24 horas Fecundação fusão dos pró-núcleos

Genotípico estrutural

2 dias Primeira divisão celular Divisional 3 a 6 dias Expressão do novo genótipo Genotípico funcional 6 a 7 dias Implantação uterina Suporte materno

14 dias Células do indivíduo diferenciadas das células dos anexos

Individualização

20 dias Notocorda maciça Neural 3 a 4 semanas

Início dos batimentos cardíacos Cardíaco

6 semanas Aparência humana e rudimento de todos os órgãos

Fenotípico

7 semanas Respostas reflexas à dor e à pressão Senciência

8 semanas Registro de ondas

eletroencefalográficas (tronco cerebral)

Encefálico

10 semanas Movimentos espontâneos Atividade 12 semanas Estrutura cerebral completa Neocortical 12 a 16 semanas

Movimentos do feto percebidos pela mãe

Animação

20 semanas Probabilidade de 10% para sobrevida fora do útero

Viabilidade extra-uterina

24 a 28 semanas

Viabilidade pulmonar Respiratório

28 semanas Padrão sono-vigília Autoconsciência 28 a 30 semanas

Reabertura dos olhos Perceptivo visual

40 semanas Gestação a termo ou parto em outro

período Nascimento

2 anos após o nascimento “Ser moral”

Linguagem para comunicar vontades