dissertacao b carneiro verbos psicologicos
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
BEATRIZ PATRIOTA CARNEIRO
UMA INVESTIGAO SOBRE MAPEAMENTO DE ARGUMENTOS E
AQUISIO DE VERBOS PSICOLGICOS
BRASLIA - DF
2011
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE LETRAS
DEPARTAMENTO DE LINGUSTICA, LNGUAS CLSSICAS E VERNCULAS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM LINGUSTICA
UMA INVESTIGAO SOBRE MAPEAMENTO DE ARGUMENTOS EAQUISIO DE VERBOS PSICOLGICOS
BEATRIZ PATRIOTA CARNEIRO
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-
Graduao em Lingustica da Universidade de
Braslia, como requisito parcial para obteno
do ttulo de mestre em Lingustica.
Orientadora: Dra. Rozana Reigota Naves.
BRASLIA - DF
2011
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TERMO DE APROVAO
BEATRIZ PATRIOTA CARNEIRO
UMA INVESTIGAO SOBRE MAPEAMENTO DE ARGUMENTOS E
AQUISIO DE VERBOS PSICOLGICOS
Dissertao apresentada ao Curso de Ps-
Graduao em Lingustica da Universidade de
Braslia, como requisito parcial para obteno
do ttulo de mestre em Lingustica.
Banca examinadora:
_____________________________________________________
Presidente/Orientadora: Prof Dra. Rozana Reigota Naves (LIP/UnB)
_____________________________________________________
Membro externo: Prof Dra. Letcia Maria Sicuro Corra (Departamento de
Letras/PUC-Rio)
_____________________________________________________
Membro interno: Prof Dra. Heloisa Maria M. L. de Almeida Salles (LIP/UnB)
_____________________________________________________
Membro suplente: Prof Dra. Helena da Silva Guerra Vicente (LIP/UnB)
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Agradecimentos
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RESUMO
Nesta dissertao, tratamos do que ficou conhecido na literatura como problema de
mapeamento dos verbos psicolgicos, relativo inverso de papis temticos, mantendo a
equivalncia da relao temtica, que ocorre em Jos teme a coruja e A coruja assusta
Jos. Investigamos e problematizamos a questo do mapeamento para defender que h
motivos para afirmar que os verbos psicolgicos so sinttica e semanticamente complexos,
ou, pelo menos, mais complexos do que os verbos de ao e que isso tem implicaes para o
processo de aquisio da linguagem. Apresentamos, tambm, resultados de uma pesquisa de
campo com foco na aquisio de verbos psicolgicos, empreendida com 30 sujeitos de
pesquisa de 4 a 7 anos, e 30 de 9 ou 10 anos, que tambm sustenta a argumentao. Temoscomo objetivo principal defender que verbos psicolgicos so de mais difcil aquisio do que
verbos de ao e, pressupondo haver uma propenso inata para o mapeamento de argumentos
com base em traos semnticos, organizados hierarquicamente, tambm defendemos que, em
uma sentena com verbo psicolgico, o papel temtico Experienciador preferido para
posio de sujeito, quando em contraposio a um papel temtico menos agentivo e menos
volitivo, como um Tema.
Palavras-Chave: Verbos Psicolgicos. Papis Temticos. Aquisio da Linguagem.
Estrutura Argumental.
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ABSTRACT
In this dissertation, we approach the linking problem of psych verbs, the inversion of
arguments resulting in the same relational meaning that occurs in sentences such asJohn fears
the owl and The owl frightens John. I also investigate the extent to which it represents a
problem, and argue that psych verbs are syntactic and semantically complex, or at least, more
complex than action verbs, and that it has implications on the language acquisition process.
We also present a field research with 30 subjects, from four to seven years old, and 30
subjects, from nine to ten years old, that also supports the discussion. Our main goal is to
defend that psych verbs are more difficult to acquire than action verbs, and, assuming an
innate basis to the mapping of arguments based on semantic properties, we also defend that, ina sentence containing a psych verb, the thematic role of Experiencer is preferred to the subject
position, rather than a thematic role with less volition and agency, as a Theme.
Key words: Psych Verbs. Thematic Roles. Language Acquisition. Argument Structure.
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Sumrio
AGRADECIMENTOS .......................................................................................................................................... 4
RESUMO .......................................................................................................................................................... 6
ABSTRACT ........................................................................................................................................................ 7
INTRODUO .................................................................................................................................................10
CAPTULO 1 O OBJETO DE ESTUDO, AS PERGUNTAS E OS DADOS QUE MOTIVARAM A PESQUISA ...............11
1.1INTRODUO .................................................................................................................................................. 111.2HISTRICO DOS ESTUDOS SOBRE VERBOS PSICOLGICOS NO GERATIVISMO .................................................................. 151.3PERGUNTAS DE PESQUISA .................................................................................................................................. 191.4DADOS QUE INFLUENCIARAM A PESQUISA ............................................................................................................. 20
CAPTULO 2 FUNDAMENTAO TERICA E METODOLOGIA ........................................................................30
2.1FUNDAMENTAO TERICA ............................................................................................................................... 302.2METODOLOGIA................................................................................................................................................ 37
CAPTULO 3 REVISO DA LITERATURA I: DISCUSSES TERICAS ..................................................................44
3.1PAPIS TEMTICOS ........................................................................................................................................... 443.2MAPEAMENTO ................................................................................................................................................ 493.3ESTRUTURA ARGUMENTAL ................................................................................................................................. 513.4ESTRUTURA ARGUMENTAL E SEMNTICA:PINKER (1989),JACKENDOFF (1990) E LEVIN (1993).................................... 553.5SNTESE DO CAPTULO....................................................................................................................................... 72
CAPTULO 4 REVISO DA LITERATURA II: PROPOSTAS DE MAPEAMENTO ....................................................74
4.1INTRODUO .................................................................................................................................................. 744.2B&R(1988) .................................................................................................................................................. 744.3GRIMSHAW (1990) ......................................................................................................................................... 754.4PESESTKY (1995) ............................................................................................................................................ 774.5CANADO (1995) ........................................................................................................................................... 794.6DIDESIDERO (1999) ........................................................ .............................................................. ................... 904.7NAVES (2005) ................................................................................................................................................ 994.8SNTESE DO CAPTULO..................................................................................................................................... 108
CAPTULO 5 PESQUISA DE CAMPO ............................................................................................................. 112
5.1APRESENTAO ............................................................................................................................................. 1125.2ANLISES ENTRE TIPOS DE VERBOS E GRUPOS DE IDADES ........................................................................................ 1195.3PRINCIPAIS OBSERVAES................................................................................................................................ 142
5.4RESULTADOS E DISCUSSO ............................................................................................................................... 151
CAPTULO 6 ALGUMAS PROPOSTAS ........................................................................................................... 155
6.1TRS PERGUNTAS E ALGUMAS PROPOSTAS........................................................................................................... 1556.2CONSIDERAES FINAIS .................................................................................................................................. 159
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................................................................... 164
APNDICE I RESUMO E QUADROS ILUSTRATIVOS DAS TEORIAS DE MAPEAMENTO DE ARGUMENTOS PARAVERBOS PSICOLGICOS ................................................................................................................................ 170
APNDICE II FIGURAS E FICHAS UTILIZADAS NAS ATIVIDADES ................................................................... 174
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Quadros:
Quadro IHierarquia Temtica e mapeamento ....p.12
Quadro IIMapeamento dos argumentos dos verbos psicolgicos Temer....p.13
Quadro IIIMapeamento dos argumentos dos verbos psicolgicosAssustar.... p 13
Quadro IVResultados dos testes sintticos .....p.22
Quadro VVerbos psicolgicos em contraste com outros verbos.... p.29
Quadro VIVerbos do tipo Temerem contraste com verbos do tipoAssustar......p.29
Quadro VIIMomentos das teorias de mapeamento...p.50
Quadro VIIIAlternncias Causativas....p.108
Quadro IXDescrio das atividades... p.116
Quadro XTabela de desempenho por verbo Atividade 1crianas pequenas ... p127
Quadro XITabela de desempenho por verbo Atividade 1crianas mais velhas... p.127
Quadro XIITabela de desempenho por verbo Atividade 3crianas pequenas ... p.128
Quadro XIIITabela de desempenho por verbo Atividade 3 crianas mais velhas..... p.128
Quadro XIVRespostas das crianas pequenas verso pronominais errados.....p.129
Quadro XV Respostas das crianas mais velhas verso pronominais errados....p.130
Quadro XVITabela utilizada no Excel, com as respostas da Atividade 1 verso
pronominais errados..... p.131
Quadro XVII Tabela utilizada no Excel, respostas da Atividade 1 verso pronominais
corretos.....p.132
Quadro XVIIIQuadro de respostas da Atividade 3crianas pequenas...... p.132
Quadro XIVQuadro de respostas da Atividade 3crianas mais velhas......p.133
Quadro XVTabela utilizada no ExcelResultados da Atividade 3...... p.134
Quadro XVITabela utilizada no Excel, respostas da Atividade 2compreenso do verbo
temer.... p.135
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Introduo
Nesta dissertao procuramos evidenciar que h motivos para considerarmos o grupo
dos verbos psicolgicos parte, por causa de seu mapeamento e aquisio, embora no
totalmente dissociado do grupo de verbos em geral. Pretendemos alcanar esse objetivo por
meio da seguinte estrutura de dissertao:
No Captulo 1, buscamos apresentar o problema de nossa pesquisa de forma objetiva e
sistematizada. Sem pensar que encontramos respostas definitivas ou evidentes para esse
problema, tentaremos ao longo da dissertao colocar os argumentos que nos levaram a
responder com um sim a cada uma das perguntas apresentadas nesse captulo.
No Captulo 2, justificamos porque nossa pesquisa se insere dentro do panorama deestudos gerativistas/chomskianos e explicamos por que, em nossa metodologia de pesquisa,
consideramos estudos gerativistas, investigaes de campo, estudos psicolingusticos e
aquisio da linguagem.
No Captulo 3, discutimos os conceitos de papis temticos e estrutura argumental e
aprofundamos teorias que pressupem uma forte conexo entre semntica e sintaxe, para
defender a ideia de que existem: grupos de verbos, motivao semntica para a organizao
da estrutura argumental e propenso inata para mapeamento.No Captulo 4, fazemos uma reviso das teorias de mapeamento de verbos
psicolgicos para defender que h problematizao, mas h tambm algum grau de
normalidade no mapeamento desses verbos.
No Captulo 5, descrevemos e apresentamos resultados da pesquisa que
empreendemos com 60 participantes: 30 crianas de 4 a 7 anos; e 30 crianas de 9 e 10 anos.
Com base nos dados coletados nessa pesquisa, de formato inicial e preparatrio, apresentamos
algumas das principais concluses desta dissertao.No Captulo 6, nosso captulo final, sistematizamos os argumentos, delineando
algumas propostas para as perguntas colocadas no Captulo 1.
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CAPTULO 1O OBJETO DE ESTUDO, AS PERGUNTAS E OS DADOS QUEMOTIVARAM A PESQUISA
1.1 Introduo
Verbos psicolgicos, em sentido amplo, so todos os verbos que remetem a processos
mentais como os verbos de percepo (ver, ouvir, sentir); os de cognio (saber,
pensar, refletir) e os de sentimento/emoo (agradar, interessar, admirar,
respeitar, temer, assustar). Entretanto, em sentido estrito, como consideramos aqui,
verbos psicolgicos so apenas os verbos de sentimento/emoo.1 Tambm consideramos,
como Naves (2005, p. 18), que um dos dois argumentos desses verbos recebe o papel temtico
de Experienciador.2
Nesta dissertao, estudaremos o problema de mapeamento dos verbos psicolgicos,
que consiste no fato de esses verbos poderem apresentar a mesma relao temtica
(Experienciador e Tema) em posies sintticas inversas ((1)-(4)). 3
(1) a. O menino teme baratas.
b. Baratas assustam o menino.
(2) a. O violinista gosta de msica clssica.
b. Msica clssica agrada o violinista.4
(3) a. A juventude obedece a televiso.
b. A televiso subjuga a juventude.
(4) a. O sapateiro ignora o jogo.b. O jogo desinteressa o sapateiro.
1Naves (2005, p.17) aponta que essa diviso de verbos psicolgicos em trs tipos: percepo, cognio eemoo, provavelmente vem de Croft (1993). O prprio autor disponibiliza resenha da obra, em que explica que:The class of mental (or "psych") verbs, verbs ofperception,cognition andemotion, pose difficulties for theoriesof argument linking because of variation in the linking of experiencer and stimulus. Citao encontrada noendereo eletrnico: http://www.unm.edu/~wcroft/WACpubs.html , consultado em 2010 e 2011. Consideramverbos psicolgicos em sentido estrito, Levin (1993, p.189), Canado (1995, p.5) e Didesidero (1999, p.4).2 Consideram o Experienciador, um dos argumentos dos verbos psicolgicos, tambm Levin (1993, p.189),Canado (1995, p.6), Didesidero (1999, p.4) e Mioto, Silva e Lopes (2007, p.136).3
Mapeamento a atribuio de um papel temtico a uma funo sinttica, por exemplo: para a funo sintticade Sujeito, o papel temtico de Agente. Experienciador em negrito e Tema em sublinhado, nos exemplos (1)-(4).4 Luft (2003, p.43) indica duas regnciaspara o verbo agradar, transitivo direto e transitivo indireto.
http://www.unm.edu/~wcroft/WACpubs.htmlhttp://www.unm.edu/~wcroft/WACpubs.htmlhttp://www.unm.edu/~wcroft/WACpubs.html -
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Sobre o mapeamento, h algum consenso na literatura de que os verbos psicolgicos
se dividem em duas classes: Temer e Assustar. Verbos da classe Temer, ou Exp.Suj
(Experienciador sujeito), so classificados assim porque o Experienciador est em posio de
sujeito, como em (5):
(5) O menino teme baratas.
Verbos da classe Assustar, ou Exp.Obj (Experienciador Objeto), so classificados
assim porque o Experienciador est em posio de objeto, como em (6):
(6) Baratas assustam o menino.
Quando estudamos esse fenmeno (cf. (1)-(4) e (5)-(6)) geralmente, deixamos de lado
o fato de que os pares de frases no correspondem exatamente ao mesmo recorte de mundo e
consideramos apenas a possibilidade de relaes temticas equivalentes serem veiculadas de
forma inversa na sintaxe, o que um problema para uma teoria lingustica, cujos postulados
remetem ideia de que, desde o nascimento, carregamos na nossa capacidade intelectual-
cognitiva princpios bsicos de mapeamento, que guiam e facilitam a produo e compreensode sentenas, obedecendo a princpios de hierarquia temtica, segundo os quais haveria uma
correspondncia previsvel ou estanque entre papis temticos (Agente, Experienciador,
Tema) e funes sintticas (sujeito, objeto direto, oblquo), como no Quadro I.
Quadro IHierarquia Temtica e mapeamento
PAPIS TEMTICOS POSIES SINTTICAS
(mapeamento)
Agente sujeito
Causa
Experienciador
Tema objeto direto
Paciente
Locativo oblquo
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Vrias hierarquias temticas foram propostas e muitas vezes a nomenclatura utilizada
varia de autor para autor. Mas, de forma geral, entendemos quanto ao mapeamento que: 1-
papis temticos deveriam ser sistematicamente direcionados a certas posies sintticas, o
que no ocorre com todos os verbos psicolgicos (como vemos na oposio entre os Quadro
II e III); e 2- papis temticos mais altos (Agente, Causa, Experienciador) deveriam sempre
aparecer antes dos mais baixos (Tema, Paciente, Locativo) na sentena, mas isso, tambm,
como vemos no Quadro III, no ocorre com verbos psicolgicos do tipoAssustar.
Quadro IIMapeamento dos argumentos dos verbos psicolgicos Temer.
PAPIS TEMTICOS POSIES SINTTICAS
(mapeamento)
Agente sujeito
Causa
Experienciador
Tema objeto direto
Paciente
Locativo
Quadro IIIMapeamento dos argumentos dos verbos psicolgicosAssustar.
PAPIS TEMTICOS POSIES SINTTICAS
(mapeamento)
Agente sujeitoCausa problema
Experienciador
Tema objeto direto
Paciente
Locativo
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Como podemos ver, os verbos psicolgicos colocam um problema para as teorias que
preveem regras rgidas de correspondncia entre papis temticos e funes sintticas, porque,
por exemplo, um Experienciador, ora aparece em sujeito, ora aparece em objeto direto. E
tambm colocam um problema para teorias que explicam o mapeamento por propostas de
hierarquias temticas inatas, porque desobedecem s hierarquias (propostas at ento), um
Experienciador aparece mais baixo na sintaxe do que o papel temtico mais baixo na
hierarquia, o Tema, quando o verbo do tipoAssustar.
Nesta dissertao consideramos papis temticos como traos de significado do lxico
que tm relevncia para a sintaxe. Essa viso compatvel com trabalhos que se utilizam dos
rtulos Agente, Paciente, Experienciador e Tema, como forma de fazer referncia a conjuntos
de propriedades semnticas e no a entidades definidas e definitivas.5Percebemos que mesmo autores que no contemplam a teoria dos papis temticos, e
trabalham com noes de evento e causa imediata, acabam utilizando a nomenclatura de
papis temticos para fazer generalizaes semnticas. Ou seja, quando se analisa a estrutura
argumental dos verbos, quase impossvel no fazer uso da teoria de papis temticos. 6
Aqui mantivemos, como Belletti e Rizzi (1988), Thompson e Lee (2009) e
Manouilidou et. al (2009) a ideia de que os papis temticos dos verbos psicolgicos so
Experienciador e Tema. O papel temtico de Experienciador consenso para diversos autores,no entanto, o Tema, dependendo da classe de verbo, Temer ou Assustar, pode receber
definies mais especficas e diferentes nomes (Causa, Objetivo, Alvo da Emoo). Mas,
apesar disso, optamos por chamar de Tema o papel temtico oposto a Experienciador nas duas
classes, para evidenciar que so os mesmos papis temticos em funes sintticas opostas.
Experienciador pode ser definido, segundo Naves (2005, p.18), como o papel temtico
exercido pelo indivduo afetado pela experincia mental ou emocional descrita pelo verbo e
muitas vezes referido como o possuidor de sentimentos ou sensaes por causa deconstrues como O juiz teve compaixo do ru. O Experienciador, como apontam
Canado (1995, p.138) e Naves (2005, p.181) pode ser mais compatvel com propriedades de
Agente e ser direcionado para sujeito da sentena, ou ser mais compatvel com traos de
Afetado ou de mudana de estado e ser direcionado para complemento da sentena.7
5 Como Dowty (1991) e Canado (1995), que consideram papis temticos como noes sem limites estanques;
e Naves (2005) e Hornstein (2009), para quem traos temticos possam estar codificados nos traos formais.6 Por exemplo, Didesidero (1999), cuja proposta no engloba papis temticos, mas contm a nomenclatura.7 Termo provavelmente oriundo da psicolingustica e j registrado com significado similar h mais de 30 anos,porque Crystal (2000, p.103) remete a obra de Clark e Clark 1977, Cap 8, para explicar o termo.
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Tema, de acordo com Canado (1995, p.145; 2008, p.111, grifo da autora) a
entidade deslocada por uma ao como em Joo jogou a bola para Maria, o que vai ao
encontro da definio de Neveu (2008, p.230, grifo do autor), para quem Tema uma
entidade em movimento, em mudana, ou uma entidade localizada sem ser afetada por essa
localizao como em Carolina mora em Bayonne.Acrescentamos o entendimento geral de
que a caracterstica principal do Tema ter menos controle sobre a ao ou resultado da ao,
ser uma entidade que tem menos inteno, menos volio ou que no age diretamente sobre
outra.
1.2 Histrico dos estudos sobre verbos psicolgicos no gerativismo
Muitos autores gerativistas que estudaram verbos psicolgicos utilizaram em alguma
medida o trabalho do filsofo Vendler (1967, p. 107), para dizer que, quanto ao aspecto,
verbos Temerso estativos e verbos Assustar so processos culminados. 8 Por isso, quando
remontamos a histria dos estudos lingusticos sobre verbos psicolgicos, comeamos por
Vendler, pois muitas das reflexes do filsofo se tornaram testes sintticos na lingustica. Por
exemplo, a insero de advrbios como deliberadamente e cuidadosamente tornou-se um
teste bastante utilizado na Semntica para distinguir estados de outros tipos de eventos, tendo
em vista que, de acordo com Vendler, estados, como know e love (saber e amar), no
aceitam esses advrbios: one cannot know, believe or love deliberately or carefully (p.106).
Outra reflexo de Vendler, que se tornou teste sinttico, foi a insero do progressivo
(gerndio) para tambm detectar estados. Vendler (1967, p.111) sugere que he is thinking
about Jones seja um processo e he thinks that Joe is a rascal, seja um estado, e que estados,
como know, no aceitam o gerndio,I am knowing does not exist in English (p.112).
Mas se Vendler estimulou reflexes sobre uma classe de verbo que no denota ao, a
classe dos estados, isso foi apenas uma reflexo inicial. Os verbos psicolgicos,provavelmente, comeam a fazer parte da literatura gerativista nos anos 70 em Lakoff (1970)
e em Postal (1971), que postula regras de psych movementpara falar da propriedade de
inverso de argumentos (apudHernicksen 1977). 9
Seguido a isso, os verbos psicolgicos provavelmente so tratados pela primeira vez
como paradigma terico e tm a propriedade de inverso de argumentos estudada em Ruwet
(1972). De acordo com Sereno (1996, p.2), Ruwet aponta que verbos psicolgicos, como
8 Vendler (1967) classificou as eventualidades por meio de propriedades aspectuais dos verbos em: estados,atividades, processos culminados e culminaes (states, activities, accomplishments, achievements).9 Em:www.tidsskrift.dk/visning.jsp?markup=&print=no&id=94279 . Consultada em 2 de maio de 2010.
http://www.tidsskrift.dk/visning.jsp?markup=&print=no&id=94279http://www.tidsskrift.dk/visning.jsp?markup=&print=no&id=94279http://www.tidsskrift.dk/visning.jsp?markup=&print=no&id=94279http://www.tidsskrift.dk/visning.jsp?markup=&print=no&id=94279 -
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mpriser(desprezar) e dgoter(dar desgosto), tm as restries de seleo de sujeito e
objeto aproximadamente invertidas, tambm comentado em Henriksen (1977):
Ruwet s'intresse aux relations entre les structures suivantes:
(1) Pierre mprise l'argent.
*ce rocher mprise l'argent.
(2) l'argent dgote Pierre.
*largent dgote ce rocher.
Les rapports entre ces constructions ont t dcrits en termes
transformationnels par Lakoff (1970) et Postal (1971). Les structures
profondes en seraient respectivement:
(3) Pierre - mpriser - l'argent
(4) Pierre - dgoter - largent10
Entendemos da resenha de Hernicksen (1977) que Ruwet (1972) se inspira em
Jackendoff (1969) e prope uma soluo semntica, por meio de funes temticas, para
explicar a possibilidade de inverso de argumentos dos verbos psicolgicos, em que Pierre
Lugar, e Largent Tema. Entendemos tambm que Ruwet (1972) considera que (1) e (2)
tenham a mesma estrutura profunda, sendo que (2) derivada por psych movement.
Apontamos tambm para uma questo, em princpio, de nomenclatura, mas que pode refletir
uma diferena de interpretao semntica dos elementos: Ruwet (1972) trata Pierre comoLugar, e no como Experienciador, ou seja, o sujeito de (1) e (2), Pierre, lugar de um
processo psicolgico.
Quanto aos estudos de verbos psicolgicos sobre o portugus, encontramos referncias
tese de doutorado de Oliveira (1979), que parece delimitar verbos psicolgicos para os do
tipo Experienciador-Objeto (Assustar), pois define os verbos psicolgicos como verbos cujo
sujeito denota um sentimento desencadeador e tm em objeto um argumento, lugar (sige),
que passa por um processo psicolgico. (Oliveira 1979, apudCanado 1995, p.13)
10 Pierre despreza o dinheiro/O dinheiro desgosta Pierre.
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A partir dos anos 80, esses verbos aparecem como tema principal de um grande
nmero de publicaes, dentre as quais: Grimshaw (1987) Psych Verbs and the Structure of
Argument Structure; Pesetsky (1987) Binding Problems with Experiencer Predicates;
Levin (1987) Psych Verbs, Further Dilemmas; Van Voorst (1988) The Aspectual
Semantics of Psychological Verbs; Baker (1988) On the Theta Roles of Psych Verbs; e
Belleti and Rizzi (1988) Psych verbs and Theta Theory segundo Pesetsky (1995, p.20)
uma das melhores discusses sobre o assunto.
Entendemos que o marco principal dos estudos sobre verbos psicolgicos na literatura
gerativa seja a referida obra de Belletti & Rizzi (1988), na qual tratam do problema de ligao
de anforas (himself, each other) e do problema de mapeamento dos verbos psicolgicos. O
problema de ligao se refere ao fato de que o Princpio A da Teoria de Regncia e Ligao(Chomsky 1981) pode ser desobedecido na presena de um verbo psicolgico com um sujeito
no-agentivo: The objet of psych-verbs can bind an anaphor properly contained within the
subject, but cannot bind an anaphor which is the subject(Belletti & Rizzi 1988, p. 317). Com
verbos psicolgicos e um sujeito no agentivo, como em (7), em contraposio a (8), em que
o sujeito agentivo, anforas podem aparecer antes de seus correferentes na sentena, o que
no deveria acontecer, dado o Princpio A.
(7) Descries de si mesmai preocupam Lisai.
(8) *Amigas de si mesmai preocupam Lisai.
Em conjunto com o problema de ligao de anforas, Belletti and Rizzi (1988, p. 291)
tratam do problema de mapeamento dos verbos psicolgicos, que consiste, como j dissemos,
em um mesmo papel temtico poder aparecer em diferentes lugares na sentena, contrariando
expectativas de que haveria uma correspondncia previsvel (Perlmutter and Postal, 1984,UAH) ou idntica (Baker, 1985, UTAH) entre papis semnticos e funes sintticas, como
nos exemplos:
(9) Gianni teme questo. (B&R, p.291)
(10) Questo preocupa Gianni. (B&R, p.291)
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A dcada de 90 tambm marcada por diversas publicaes sobre o tema, dentre as
quais destacamos: Ruwet (1993) Les verbes dits psychologiques: Trois thories et quelques
questions, (1994) tre ou ne pas tre un verbe de sentiment, (1995) Les verbes de
sentiment peuvent-ils tre agentifs?; Levin (1993) English verb classes and alternations;
Mendes (1994) Anlise sintctica dos verbos psicolgicos do portugus; Croft (1993) Case
marking and the semantics of mental verbs; Bouchard (1995) Les verbes psychologiques;
Belletti e Rizzi (1992) Notes on psych-verbs, theta-theory and binding; Van Voorst (1992)
The aspectual semantics of psychological verbs; Canado (1994) Problemticos Psico-
Verbos: Dados do PB e Algumas Propostas da literatura, (1995) Verbos Psicolgicos: a
Relevncia dos Papis Temticos Vistos sob a tica de uma Semntica Representacional,
(1996) Anlise Descritiva dos Verbos Psicolgicos do Portugus Brasileiro; Naves (1998)Aspectos Sintticos e Semnticos das Construes com Verbos Psicolgicos, (1999) A
Interpretao Causativa dos Predicados Psicolgicos.
Assim, esperamos ter sublinhado a existncia de estudos acadmicos sobre verbos
psicolgicos ao longo dos ltimos 40 anos. Para finalizar, mencionamos como evidncia de
que o assunto ainda motivo de interesse acadmico alguns trabalhos mais recentes como:
Naves (2005) Alternncias Sintticas: questes e perspectivas de anlise, (2009) A
propriedade de telicidade e a estrutura sinttica dos predicados psicolgicos da classe depreocupar; Thomas Greenall (2004) A minimalist analysis of English and Norwegian psych
verbs; Klein e Kutsher (2005) Lexical Economy and Case Selection of Psych -Verbs in
German; Mendes et Al. (2009) Defining and delimiting the class of psych-verbs: fiction or
reality?; Seungho Nam (2009) Event structures of Experiencer Predicates in Korean: their
causal, temporal, and focal sub-structure; Bresnan and Pylkkanen (2009) Behavioral and
MEG measures of two different types of semantic complexity, Running Head: Processing
Psych Verbs; Landau (2009) The Locative Syntax of Experiencers; Manouilidou et Al.(2009) Thematic roles in Alzheimer's disease: Hierarchy violations in psychological
predicates; Thompson e Lee (2009) Psych verb production and comprehension in
agrammatic Broca's aphasia.
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1.3 Perguntas de pesquisa
Esperamos ter demonstrado que muito j foi e est sendo estudado sobre verbos
psicolgicos. Mas este estudo surgiu, especificamente, da leitura dos trabalhos de Naves(1998, 2005 e outros) e da tese de doutorado de Didesidero (1999) sobre a aquisio de verbos
psicolgicos, em que a autora sugere que verbos psicolgicos sejam adquiridos como verbos
agentivos, de onde veio nosso interesse em investigar se esses verbos so adquiridos com ou
sem dificuldades especiais. Em outras palavras, consideramos necessrio estudar o
mapeamento dos verbos psicolgicos em conjunto com a aquisio da linguagem porque o
que conhecido na teoria gerativa como problema de mapeamento (Belletti & Rizzi 1988,
Grimshaw 1990 e Pesetsky 1995) no identificado como um problema de aquisio naprtica (Bowerman 1990 e Didesidero 1999).11 De acordo com Bowerman (1990), os verbos
psicolgicos comeam a ser usados junto aos demais verbos, como os de relao Agente-
Paciente (os verbos agentivos), e com a mesma acuidade dos ltimos, no discurso infantil, e
segundo Didesidero (1999), crianas adquirem verbos psicolgicos como verbos agentivos
comuns. Assim, a pergunta geradora deste estudo: O problema de mapeamento dos
argumentos dos verbos psicolgicos na teoria lingustica tem implicaes para a aquisio?
por sua vez, gerou outras trs questes a serem investigadas:
1- H motivos para classificarmos em especial verbos psicolgicos, como uma classe
especfica, em contraste com a classe de verbos de ao?
2- H motivos para classificarmos em especial uma classe de Temer(Experienciador Sujeito)
em contraste com uma classe deAssustar(Experienciador Objeto)?
3- H motivos para postularmos uma Hierarquia Temtica em que o Experienciador tem
preferncia para a posio de sujeito?
Tentaremos responder essas perguntas de pesquisa levando em considerao estudos
sobre o mapeamento e a sintaxe dos verbos psicolgicos, como os de Belletti & Rizzi (1988),
Grimshaw (1990), Pesetsky (1995), Canado (1995), Didesidero (1999), Naves (2005), em
conjunto com anlises de dados naturalsticos de aquisio em Bowerman (1990) e
Didesidero (1999) e resultados de pesquisas experimentais em Tinker et al. (1989), Thompson
& Lee (2009), Manouillidou et al. (2009). Selecionamos a seguir as obras e resultados que
fomentaram as indagaes iniciais desta pesquisa.
11 Ver Quadros II e III.
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1.4 Dados que influenciaram a pesquisa
1.4.1 Naves (2005)testes sinttico-semnticos que diferenciam TemerdeAssustar.
Fazemos esses testes sintticos com base no estudo de Naves (2005) sobre verbos
psicolgicos e alternncias sintticas, mas lembramos que a autora utiliza tambm outros
testes alm dos que selecionamos com mais discusses do que fazemos aqui.
Um dos testes utilizados por Naves (2005, p.122) para comprovar uma possvel leitura
agentiva dos verbos psicolgicos acrescentar estrutura advrbios de intencionalidade,
como intencionalmente em Os palhaos assustaram intencionalmente as crianas
(Grimshaw1990 apud Naves 2005). Por isso, utilizamos o teste da insero do advrbiointencionalmente para detectar agentividade do sujeito. Colocamos em todos os testes os
mesmos cdigos utilizados em nossa pesquisa de campo: S-Exp.Sujeito (Temer); O-
Exp.Objeto (Assustar) e A-Verbos de Ao.
TESTE IAGENTIVIDADE (advrbios de intencionalidade).
S1-Amar: * o espectador amou intencionalmente a apresentadora.
S2-Admirar: * o espectador admirou intencionalmente a apresentadora.
S3-Detestar: * o espectador detestou intencionalmente a apresentadora.
S4-Respeitar:* o espectador respeitou intencionalmente a apresentadora.
O1-Preocupar: a apresentadora preocupou intencionalmente o espectador.
O2-Assustar: a apresentadora assustou intencionalmente o espectador.
O3-Irritar: a apresentadora irritou intencionalmente o espectador.
O4-Encantar: a apresentadora encantou intencionalmente o espectador.
A1-Perseguir: a apresentadora perseguiu intencionalmente o espectador.
A2-Empurrar: a apresentadora empurrou intencionalmente o espectador.
A3-Puxar: a apresentadora puxou intencionalmente o espectador.
A4-Machucar: a apresentadora machucou intencionalmente o espectador.
Predicados psicolgicos do tipo Experienciador objeto permitem a alternncia causativa
(Naves 2005, p.24), como demonstrado no Teste II, a seguir:
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TESTE IIALTERNNCIA CAUSATIVA.
S1-Amar: o espectador amou a apresentadora. /*a apresentadora amou.
S2-Admirar: o espectador admirou a apresentadora. /*a apresentadora admirou.
S3-Detestar: o espectador detestou a apresentadora. /*a apresentadora detestou.S4-Respeitar: o espectador respeitou a apresentadora. /*a apresentadora respeitou.
O1-Preocupar: a apresentadora preocupou o espectador. / o espectador preocupou.
O2-Assustar: a apresentadora assustou o espectador. / o espectador assustou.
O3-Irritar: a apresentadora irritou o espectador. / o espectador irritou.
O4-Encantar: a apresentadora encantou o espectador. / o espectador encantou.
A1-Perseguir: a apresentadora perseguiu o espectador. / *o espectador perseguiu.
A2-Empurrar: a apresentadora empurrou o espectador. / *o espectador empurrou.
A3-Puxar: a apresentadora puxou o espectador. / *o espectador puxou.
A4-Machucar: a apresentadora machucou o espectador. / o espectador machucou.
Aplicamos o teste de Zubizarreta (1992), citado por Naves (2005, p.36), de adjunto
causal metonimicamente relacionado ao sujeito, como em O artigoi enfureceu Bill peloseu
contedoi
TESTE IIICAUSATIVIDADE (Adjunto causal do sujeito).
S1-Amar: * o espectadori amou a apresentadora pelo seu jeito i.
S2-Admirar: * o espectadori admirou a apresentadora pelo seu jeitoi.
S3-Detestar: * o espectadori detestou a apresentadora pelo seu jeitoi.
S4-Respeitar: * o espectadori respeitou a apresentadora pelo seu jeito i.
O1-Preocupar: a apresentadorai preocupou o espectador pelo seu jeitoi.O2-Assustar: a apresentadorai assustou o espectador pelo seu jeitoi.
O3-Irritar: a apresentadorai irritou o espectador pelo seu jeitoi.
O4-Encantar: a apresentadorai encantou o espectador pelo seu jeitoi.
A1-Perseguir: *a apresentadorai perseguiu o espectador pelo seu jeitoi.
A2-Empurrar: *a apresentadorai empurrou o espectador pelo seu jeito i.
A3-Puxar: *a apresentadorai puxou o espectador pelo seu jeitoi.
A4-Machucar: a apresentadorai machucou o espectador pelo seu jeitoi.
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Outro teste interessante o utilizado para deteco de controle, que pode ser feito por
meio de insero da expresso por querer (Naves, 2005, p.126).
TESTE IVCONTROLE
S1-Amar: * o espectador amou a apresentadora por querer.
S2-Admirar: * o espectador admirou a apresentadora por querer.
S3-Detestar: * o espectador detestou a apresentadora por querer.
S4-Respeitar: * o espectador respeitou a apresentadora por querer.
O1-Preocupar: a apresentadora preocupou o espectador por querer.
O2-Assustar: a apresentadora assustou o espectador por querer.
O3-Irritar: a apresentadora irritou o espectador por querer.
O4-Encantar: ? a apresentadora encantou o espectador por querer. 12
A1-Perseguir: a apresentadora perseguiu o espectador por querer.
A2-Empurrar: a apresentadora empurrou o espectador por querer.
A3-Puxar: a apresentadora puxou o espectador por querer.
A4-Machucar: a apresentadora machucou o espectador por querer.
Quadro IVResultados dos testes sintticos 13
1)TESTE I -AGENTIVIDADEintencionalmente
2)TESTE II -CAUSATIVIDADEalternncia causativa
3)TESTE III -CAUSATIVIDADEadjunto causal do sujeito
4)TESTE IV -CONTROLEpor querer
Temer:negativo.
Temer:negativo.
Temer:negativo.
Temer:negativo.
Assustar:positivo.
Assustar:positivo.
Assustar:positivo.
Assustar:positivo.
Ao:positivo.
Ao:positivo.
Ao:positivo.
Ao:positivo.
De acordo com o resultado de nossos testes sintticos, podemos dizer que os sujeitos
de Temeremanam menos agentividade e controle sobre a ao, e que os verbos dessa classe
no denotam causatividade. J os sujeitos deAssustarpodem receber leitura mais agentiva e
denotar mais controle, e os verbos dessa classe podem ter leitura causativa. Esses testes
motivam a distino entre TemereAssustar.
12Notamos que encantar passa no nosso teste de agentividade e duvidoso quanto ao controle. Isso pode serentendido da seguinte forma: uma pessoa pode agir com a inteno de encantar algum, mas no possvel ter
controle sobre o outro ficar ou no encantado. Naves (c.p) comenta que essa distino pode ter a ver com o fatode encantar ser da classe de Preocupar, de Canado (1995), desujeito menos controle.13 Temer no foi analisado pelos autores que aparecem citados nos testes, nem em Naves (2005), de onde tiramosos testes.
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1.4.2 Bowerman (1990) anlise longitudinal de dados naturais: a no excepcionalidade na
aquisio dos verbos psicolgicos.
Nessa obra, Bowerman relata a observao de dados naturalsticos de, pelo que
entendemos, dez anos de vida de suas filhas. Bowerman diz que, apesar de teorias gerativistas
preverem que o Agente seja o papel mais alto e prefervel para a posio de sujeito, ela no v
razo para isso porque, quando suas filhas comearam a usar sentenas de duas combinaes
SV ou VO, por volta de 1 ano e 8 meses:
1- Verbos de relao Agente-Paciente NO sugiram primeiro no discurso das crianas;2- Verbos de relao Agente-Paciente NO foram mais acertados do que outros;3- Uma de suas filhas ainda errou mais verbos Agente-Paciente do que outros (p.1275);4- Verbos psicolgicos surgiram ao mesmo tempo que verbos Agente-Paciente: entre 1;9 e
1;11 anos. Bowerman ainda nota que os psicolgicos (stay, see, forgot, watch, scare,
want) surgiram junto aos de ao (open, close, push, eat, hit);
5- Verbos psicolgicos NO foram mais errados do que os de Agente-Paciente.
Bowerman relata uns erros tardios com verbos psicolgicos, que aconteceram com ascrianas por volta dos 6 e 8 anos, que consistiram no uso de verbos Fearno padro Frighten,
ou seja, na inverso de papis temticos de Fear, como emHow does Hurly girl fancy you?,It
didnt mind me very much e I saw a Picture that enjoyed me. Por causa desses erros,
Bowerman sugere que os verbos psicolgicos, alm da generalizao da terminao de
passado ed (p.1282), sejam mais uma prova de que crianas so sensveis estatstica, ao
padro dominante, e no possuem regras de mapeamento inatas, o que fazem generalizar o
padro dominante. Como existem muito mais verbos Frighten do que Fearem ingls, elasutilizam para Fearo padro dominante Frighten. A autora conclui que:
1- Crianas analisam o lxico em busca de padres de regularidade que se aplicam a classesde verbos e supergeneralizam regras, verbos psicolgicos so prova disso; (p.1284)
2- O padro dominante Frighten no universal em Atsuegwi, na California do Norte, opadro dominante Fear; (p.1283)
3- O padro dominante Agente em posio de sujeito no universalem Dyirbal, o padrodominante Paciente em posio de sujeito.(p.1258)
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1.4.3 Tinker e Beckwith (1989) pesquisa experimental que defende que FEAR marcado
para a aquisio.
Tinker, Beckwith e Dougherty (1989, p.253) dizem que Williams (1981) define
marcado em termos de aprendizagem: formas no marcadas so mais fceis de aprender e
formas marcadas so mais difceis de aprender. Segundo os autores, os estudos sobre verbos
psicolgicos postularam dificuldades para Frighten, fazendo de Frighten o tipo marcado, mas
eles defendem que Fear seja a classe marcada para a aquisio. Os autores fizeram um
experimento com 7 crianas de 4 anos de idade, de uma creche, que consistiu numa tarefa
chamada de pronoun resolution task(p.257). Para elicitar as respostas, fizeram encenaes
com bonequinhos de brinquedo (Gumby, Pernalonga, Tazmania) e cada criana produziuquatro sentenas para cada verbo, como no seguinte quadro (p. 258), em que as marcaes [*]
e [**] so nossas:
Test Situations Childrens Responses
Gumby feared the monster
Bugs Bunny frightened Gumby
Bugs Bunny feard Gumby [*]
Bugs Bunny frightened Gumby
Gumby heard BugsBugs was heard by Gumby
Gumby Heard BugsGumby was heard by Bugs [**]
Bugs pushed Gumby
Gumby was pushed by Bugs
Bugs pushed Gumby
Gumby was pushed by Bugs
A tarefa consistiu em se fazer pequenas encenaes e perguntar para a criana: quem
verbo quem?, em ordem aleatria, e pelo que conclumos, em fase preliminar: who saw
who?, who noticed who?, who heard who?; e em fase teste: who frightened who?, who fearedwho?, who pushed who?. Todas as sete crianas inverteram os papis temticos com o verbo
fear, como em [*]Bugs Bunny feared Gumby (teste que foi refeito com o monstro Tazmania,
no lugar de Gumby e teve o mesmo resultado). Segundo os autores These results are
significant at the .01 level (p.258). Resultado similar aconteceu com as respostas das passivas,
como em [**] Gumby was heard by Bugs, em que na encenao Bugs tinha gritado para
acordar Gumby, que estava dormindo. A interpretao dos autores para [*] e [**] que a
criana tem uma configurao argumental invertida da dos adultos, e chamam o fenmeno [*]
de reverse fear(p.258).
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De acordo com Tinker et al. (1989, p.262), para a criana fazer o mapeamento dos itens
na sentena, o trao relevante o trao objeto afetado. As crianas observam o objeto afetado
e presumem que h uma Causa para essa afetao, motivo pelo qual aplicam ao verbo feara
mesma lgica defrighten e de break:
We have suggested that for children, fear and frighten are associated with
the same thematic roles (i.e., Cause and Theme) and these roles are realized
as the same gramatical functions (i.e., subject and object, respectively).
Children assign fear and frighten to the same class [...]
Para os autores, verbos do tipo de Frighten permitem leitura agentiva e essa seria anica interpretao disponvel para a criana no incio da aquisio. Our claim is that early in
acquisiton, this interpretation is the only one available to the child (p.260). J quanto aos
verbos do tipo de Fear, os autores dizem que essa a classe marcada: FEAR-class verbs are
marked for acquisition (p.261), porque o argumento Causa no o sujeito.
1.4.4 Didesidero (1999) anlise de dados naturais: aquisio de verbos psicolgicos no
diferente de verbos de ao
Didesidero constri o argumento de sua tese em torno do fato de que crianas adquirem
verbos psicolgicos de forma agentiva e sem problemas, e que eventuais erros so provocados
pela tentativa de construrem sentenas com sujeitos mais abstratos (Xe). Por meio de testes
sintticos a autora evidencia que os verbos psicolgicos tambm passam em contextos de
agentividade e controle; e para o seu principal argumento, da aquisio de forma agentiva, a
autora prov, ao todo, dois dados de fala, de seus filhos (embora tambm cite alguns deBowerman) para ilustrar a questo.
Mom: Jeremy! What are you doing? (He has his baby sister in a strangle hold) (p.70)
Jeremy, age 3;9: Dont worry, Mommy.Im just loving my sister. (He squeezes harder.)
Samantha, age 2;1: Now IF you be good, i will love you very good. And I wont give you any
time-outs. (to her dolls)
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1.4.5 Thompson e Lee (2009)pesquisa experimental: Experienciador preferido na posio
sinttica de sujeito, em oposio a Tema.
Os autores pesquisaram 8 sujeitos afsicos, com mdia de 58,8 anos, 17 anos de
escolaridade e cerca de 2 a 12 anos depois de um AVC. Todos tinham leso na mesma parte
do hemisfrio esquerdo; e apenas 1 tinha tambm um infarto na regio frontal. Nenhum tinha
histrico de alcoolismo, uso de drogas, insanidade mental, ou outros problemas neurolgicos.
Todos tinham um diagnstico de afasia por algum rgo legitimado e faziam parte do Centro
de Pesquisa em Afasia e Neurolingustica da Northwestern University. Havia tambm um
grupo controle, formado por 5 estudantes da Northwestern University, com mdia de 19,7
anos, e um grupo de pr-testagem de figuras (umas cinco pessoas).Os pesquisadores selecionaram 12 verbos psicolgicos do tipo Experienciador objeto
(Assustar) que apareceram como mais frequentes em uma base de dados chamada CELEX, e
12 verbos Experienciador-sujeito (Temer), selecionados pela equipe, para que significassem
aes reversveis aos 12 ExpObj. Depois, desenharam 24 figuras, uma para cada verbo.
No experimento de produo, os pacientes viam 3 figuras de pr-testagem, antes de
iniciar o teste, que consistia na apresentao das 24 figuras em ordem aleatria para cada
participante, que deveria descrever a figura numa nica e completa sentena. O examinadorpedia aos pacientes que descrevessem a figura, utilizando o verbo escrito abaixo da figura.
Depois, apontavam o personagem da figura que no havia sido o sujeito sinttico da primeira
sentena dita e pediam ao paciente que dissesse uma segunda sentena comeada pelo
segundo personagem apontado, utilizando o mesmo verbo, elicitando a voz passiva.
No experimento de compreenso 24 figuras eram repassadas em ordem pseudo-
aleatria, para que 3 passivas, ou 3 ativas, no fossem perguntadas em sequncia. As
respostas foram marcadas como corretas ou incorretas em tempo real (on line). Se o sujeito depesquisa se auto-corrigisse em 10 segundos, na produo, e em 30 segundos, na compreenso,
as respostas eram aceitas. Para as ativas eram consideradas corretas construes como: Girl
adoring boy, Girl adore boy, Girl adores boy . Para as passivas eram consideradas corretas
construes como:Boy is adored by girl; Boy adored by gil, Boy is adore by Girl. As passivas
tinham que ter by para serem consideradas corretas. A preferncia da voz foi calculada pela
quantidade de vezes com que uma voz aparecia na primeira tentativa. De maneira geral, os
participantes afsicos se saram melhor na compreenso do que na produo. Os participantes
controle tiveram alto ndice de acerto, sem diferena de tarefa.
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Quanto ao teste de produo (p.361):
1- No afsicos no tiveram dificuldades;2- Afsicos produziram melhor ativas do que passivas em TemereAssustar;3- Nas ativas, acertaram 85,4% ExpSuj (Temer) e 47,9% ExpObj (Assustar);4- Nas passivas, acertaram 15,7% ExpSuj (Temer) e 36,5% ExpObj (Assustar).
Quanto ao teste de compreenso (resultados aproximados de acordo com o grfico na
p.361):
1- No afsicos no tiveram dificuldade em compreender ativas ou passivas;2- Afsicos compreenderam melhor as ativas de SubExp (Temer);3- Nas ativas, acertaram 75% SubjExp (Temer) e 65% ObjExp (Assustar);4- Nas passivas, acertaram 52% SujExp (Temer) e 72% ObjExp (Assustar).
Os participantes comearam mais vezes pela voz passiva quando o verbo era ExpObj:
62% dos afsicos e 78% dos no afsicos. Isso significa que preferiram comear com o
Experienciador em sujeito, assim como acertaram mais as passivas de ExpObj (Assustar),
72%, que tm o Experienciador em sujeito, do que as ativas de ExpObj (Assustar), 65%, que
tm o experienciador em objeto. Para os autores, as passivas foram mais difceis para os
afsicos porque exigem movimento de sintagma nominal. E, alm disso, os autores defendemque as passivas dos verbos ExpObj, em que o Experienciador mapeado em sujeito, foram
melhor compreendidas porque existe uma preferncia cognitiva pelo Experienciador na
posio de sujeito: This finding suggests that aphasic speakers, like unimpaired speakers, are
influenced by the prominence of arguments on the thematic hierarchy and thus prefer to
produce Experiencer argument in the subject position (p.365). A seguir, fizemos um esquema
dos experimentos dos dos autores, utilizando as duas figuras disponibilizadas no artigo:
1) Aps mostrar a figura, o Examinador pede que o participante descreva a cena u sando o verbo disposto
adore shock
2) O Examinador pede que o participante descreva a mesma cena mas dessa vez comeando pelo outroitem (que ele aponta com o dedo)
A meninaadora omenino
A moaassusta ohomem
O homem
assustadopela moa
O menino
adoradopela menina
FEAR
FEAR
FRIGHTEN
FRIGHTEN
ACERTOSPRODUO
85.4% 47.9%
15.7% 36.5%
ATIVA ATIVA
PASSIVA PASSIVAp.361
Thompson e Lee (2009)
A menina adorao menino
A moa assustao homem
O menino adorado pela
menina
SIM
O homem assustado pela
moa
SIM
1) APS MOSTRAR A FIGURA O EXAMINADOR PERGUNTA:
2) O PARTICIPANTE RESPONDE: SIM ou NO
ACERTOSCOMPREENSO
SIM
FEAR FEAR FRIGHTEN FRIGHTEN
SIM
As figurasso dosautores.
(sem coraoe balozinho)
FRIGHTENFEAR
75% 52%65% 72%
ATIVA ATIVAPASSIVA PASSIVA
Thompson e Lee (2009)
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1.4.6 Manouillidou et al. (2009)pesquisa experimental: Frighten tem a estrutura argumental
marcada.
A pesquisa consistiu numa tarefa de preenchimento de lacunas de verbos de Ao, Fear
e Frighten, que continham sentenas com os papis temticos e uma lacuna no lugar do verbo,
que deveria ser escolhido por meio de teclas relacionadas a quatro opes. No caso dos verbos
psicolgicos, as opes eram verbos: alvo, errado-sinnimo com reverso de papis temticos
para ser correto; errado-semanticamente relacionado; e errado sintaticamente impossvel,
como nas ilustraes que fizemos do experimento dos autores, abaixo:
The hunter______the deer
killed died descended sneezed
agent
active
AD YC EC
89.1% 100% 95%
Manouilidou et. Al (2009)
The public______the statue
admired fascinated rode slept
fear
active
AD YC EC
78.1% 93.8% 94.2%
Manouilidou et. Al (2009)
The statue______the public
fascinated admired rode slept
frighten
active
AD YC EC
60.9% 90.4% 91.7%
Manouilidou et. Al (2009)
Os sujeitos de pesquisa foram dez pacientes com algum tipo de Alzheimer, AD; um
grupo controle de 49 jovens, YC; e um grupo controle de 11 idosos, EC. A pesquisa de
Manouillidou et al. (2009) evidenciou que portadores de Alzheimer tm mais dificuldades em
compreender construes com verbos psicolgicos do que com verbos agentivos. Os
pacientes completaram a lacuna mais adequadamente, em 89% das vezes, quando o verbo era
de ao, e menos quando o verbo era psicolgico, 78% para Feare 60,9% para Frighten. Esse
resultado repetiu-se nas passivas: os pacientes AD acertaram 91,8% de passivas de verbos de
ao; 71,6% de passivas de Fear; e 61,8% de passivas de Frighten. Dentre os psicolgicos, o
verbo Frighten foi de mais difcil compreenso do que os verbos Fear, de onde os autores
concluram que um verbo cuja estrutura argumental (Tema-Experienciador) no s foge do
padro Agente-Paciente, como quebra uma hierarquia temtica em que o Experienciador
deveria aparecer antes do Tema, ou seja, no-cannico, representa maior dificuldade de
compreenso para quem tem algum dano no aparato lingustico, j que o dano causado pelo
Alzheimer no seria s de memria, mas tambm de linguagem.
Manouillidou et al. (2009) falam de estrutura argumental, enquanto Thompson e Lee
(2009) se referem a papis temticos. Ou seja, para Manouillidou et al. no so os papis
temticos que atuam em cada sentena, como para Thompson e Lee, mas sim a entrada lexical
do verbo, que carrega uma estrutura argumental fixa para cada verbo. A estrutura argumental
de Frighten infringe a hierarquia temtica, por isso de mais difcil compreenso.
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Os dados expostos formaram o ponto de partida de nossas investigaes. Eles
proveram motivos para considerar verbos psicolgicos parte e motivos para consider-los
como quaisquer outros verbos, e motivos para diferir TemereAssustarcom base no quesito
marcado para a aquisio, como ilustramos a seguir, nos Quadros V e VI. Foi a partir dessa
dicotomia inicial que buscamos mais conhecimento emprico-terico para comear a pesquisa.
Quadro VVerbos psicolgicos em contraste com outros verbos.
VERBOS PSICOLGICOS tm especificidade VERBOS PSICOLGICOS so como qualquer verbo
Bowerman (1990): Verbos Psicolgicos so adquiridos como
qualquer outro verbo. (naturalstica)
Didesidero (1999): Verbos Psicolgicos (- controle no sujeito)
Assustare (-controle) Temerso mais difceis de serem adquiridos
pela criana. (naturalstica) (com base em Bowerman)
Didesidero (1999): Verbos Psicolgicos so adquiridos como
qualquer outro verbo. (naturalstica) (com base em seus prprios
dados)
Manouillidou et al (2009): Verbos Psicolgicos so de mais
dificuldade de compreenso para indivduos com Alzheirmer do que
os verbos de ao. (experimental)
Tinker et Al (1989): Verbos Psicolgicos so diferentes porque
Temer marcado para a aquisio. (experimental)
Quadro VIVerbos do tipo Temerem contraste com verbos do tipoAssustar.
Temer (EXPERIENCIADOR SUJEITO)
TEMER - MARCADO
Assustar(EXPERIENCIADOR OBJETO)
ASSUSTAR - MARCADO
Bowerman (1990): Existem menos verbos Temerem ingls do que
Assustar, ento as crianas so passveis de super-generalizar o
padro dominante e errar os Fear. (naturalstica)
Didesidero (1999): Verbos Psicolgicos Temer, especialmente o
fearpodem representar dificuldade pela falta de controle do sujeito
(referindo-se a Tinker et Al., experimental)
Didesidero (1999): Crianas tm dificuldade para usar o sujeito sem
controle deAssustar, Xe. (naturalstica, com base em Bowerman)
Manouilidou et al (2009): VerbosAssustarso mais difceis para
pacientes de Alzheimer do que verbofear, pois sua grade temtica
no cannica. (experimental)
Tinker et Al (1989): Os objetos Tema, de Temer podem ser
interpretados como a Causa do sentimento e por isso serem
colocados em sujeito. Temer a classe marcada. (experimental)
Thompson e Lee (2009): Verbos Assustar so mais difceis na
forma ativa, do que o verbo fear, pois pacientes com Afasia de
Broca preferem o Experienciador em sujeito, e por isso, tambm,preferem as passivas deAssustar. (experimental)
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CAPTULO 2FUNDAMENTAO TERICA E METODOLOGIA
2.1 Fundamentao Terica
Nesta pesquisa, tomamos como arcabouo terico a Gramtica Gerativa, no mbito do
programa minimalista (Chomsky, 1995), embora retomemos muito do que foi colocado em
momentos anteriores (Chomsky, 1981). Apresentamos, a seguir, como os temas relativos
nossa pesquisa, aquisio epapis temticos, foram tratados pelo mentor gerativista. 14
Segundo Chomsky (1984, p.34), cada lngua um conjunto de princpios e parmetros
e, para adquiri-la, apenas preciso exposio aos dados da lngua durante os primeiros anos
de vida, de modo que os parmetros so fixados sem que a criana se d conta. Para o autor,
qualquer beb inserido em determinado ambiente em que h trocas lingusticas adquire a
lngua falada pelos demais (Chomsky, 2006, p.182), isso porque Acquisition of a particular
language is the process of fixing the lexical options on the basis of simple and accessible data
(Chomsky 1993, p.50). 15
Sobre a concepo de lngua e mente, em Chomsky (1984, p.16-17), temos que a
mente humana modular e que um desses mdulos destinado linguagem. No momento da
teoria conhecido como Government and Binding, GB, ele postula uma faculdade de
linguagem dotada de subcomponentes: lxico, sintaxe, Forma Fontica (PF), Forma Lgica
(LF); e subsistemas: Teoria das Fronteiras, Teoria do Controle, Teoria Theta, Teoria da
Ligao, Teoria do Caso (Chomsky, 1981, p.5), que so chamados de mdulos da linguagem
em Chomsky (1995, p. 27, sobre a fase GB). No minimalismo, Chomsky prope um sistema
de interfaces com:
1- Um aparato especfico para a linguagem, o sistema computacional, Computation for
Human Language, CHL (Chomsky, 1995, p.221), que checa traos do lxico (op.cit., p. 228),
como traos categoriais (N,V), traos phi (pessoa, nmero e gnero), traos de Caso e traosde fora (op.cit. p. 277) e se baseia em duas operaes, concatenar e mover: merge e move
(Chomsky, 1995, p. 254; Chomsky 2000, p.28), sendo complemento e especificador
objetos sintticos que so concatenados, respectivamente, em primeiro (merge) e em segundo
(merge) (Chomsky, 2006, p.165).
14 Chomsky (1965, p.283) analisa o verbofrighten, mas desconhecemos obra sua dedicada a verbos psicolgicos.15 Sobre a diluio da proposta de aquisio por parmetros no minimalismo e sobre a escassez de exemplosparamtricos outros que o sujeito nulo, Lopes (2007, p.80) diz que A partir de meados dos anos 90, atravs da
proposta do Programa Minimalista [...] a concepo de Faculdade da Linguagem se torna mais restrita [...] Comela, a viso paramtrica tambm sofre uma modificao e passa a ser concebida como estando baseada naseleo de traos formais e/ou semnticos em determinadas categorias funcionais, gerando uma granularidademuito bem vinda para a descrio das lnguas naturais e para a explicao dos fenmenos em aquisio.
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2- Uma interface interpretativa, C-I, conceptual-intentional, para a interpretao semntica
(Chomsky, 1995, p.165).
3- Uma interface para o aparato motor, A-P, articulatory-perceptual,para a interpretao
fontica (Chomsky, 1995, p.165).
Com relao a 2 e 3 acima, Chomsky (1995, p.168) diz que descries estruturais
(structural descriptions, SD, p.167) so expresses da lngua e podem ser consideradas
instrues para os sistemas de performance A-P e C-I (p.168). O componente lingustico que
interage com os sistemas CI e AP o sistema computacional. Basicamente, tem-se que a
faculdade de linguagem em sentido estrito um sistema computacional que atua sobre traos
formais do lxico (Chomsky, 1995, p. 168).
Sobre a crtica de o sistema computacional ser universal, mas as lnguas variarem naforma, Chomsky (1995, p.170) diz que a variao lingustica est limitada a partes e
propriedades do lxico, mas que existe, sim, apenas um sistema computacional e um lxico.
Em torno da ideia de que as lnguas variam, mas o sistema lingustico nico, clssica a
referncia ao marciano que visita a Terra e considera haver somente uma lngua (Chomsky,
1993, p.50), e ideia de que nosso crebro como uma caixa de ferramentas com a
capacidade para construir lnguas, mas que a variao se d porque nem todas as lnguas
utilizam-nas todas: []our language faculty provides us with a toolkit for buildinglanguages, but not all languages use all the tools (Fitch, Hauser & Chomsky, 2005, p.204).
Como tratamos do problema da aquisio da estrutura argumental, ou seja, do verbo e
seus argumentos, e das relaes temticas envolvidas, ou seja, Agente-Paciente,
Experienciador-Tema, tentamos esboar aqui como esses assuntos so tratados no
gerativismo, primeiramente no perodo Government and Binding, GB, e, depois, no
minimalismo.
Os estudos sobre papis temticos e estrutura argumental foram tema de pesquisa dateoria no momento apelidado de Regncia e Ligao (Government and Binding, GB), com
relao ao trabalho de Chomsky (1981). A teoria postulava que existiam posies sintticas
(theta positions) que poderiam receber papis temticos (theta roles). Foi formulado, ento,
um princpio e um critrio para reger a relao entre propriedade semntica (theta roles) e
posio sinttica. O princpio, chamado de Princpio de Projeo, determinava que o lxico
projetava representaes no nvel sinttico; e o critrio, chamado de Critrio Theta,
estabelecia que cada argumento do verbo s se referiria a um papel temtico e vice-versa.
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Com referncia ao perodo de Regncia e Ligao, Chomsky (1995, p.30) explica que,
nesse momento, tinha particular interesse na discusso sobre a seleo semntica dos
argumentos e nas propriedades temticas de ncleos lexicais: verbos, nomes, adjetivos e pr
ou posposies. Segundo Chomsky (1995, p.30), as propriedades temticas especificariam a
estrutura argumental de um ncleo indicando quantos argumentos so requisitados pelo
ncleo e quais papis temticos cada argumento recebe. Chomsky (1995, p.30) coloca o
exemplo do verbo give (dar) que pode ser completado pelos papis de agent (John), theme
(book) e goal/ recipient(Mary) em:John gave a book to Mary.
Chomsky (1981, p.35) diz que o que sempre foi assumido como agent of action e goal
of action tem papel importante na descrio dos papis semnticos dos argumentos da
sentena e que tais noes foram consideradas semantic relations, para Katz; thematicrelations, para Gruber e Jackendoff; case relations para Fillmore eprimitive notions of event
logics para Davidson. 16 J em sua viso, tais noes so -roles, e fazem parte das relaes
temticas (op.cit., p.35).
Mas o que consideramos mais importante, com referncia teoria gerativa no
momento GB, o j mencionado Princpio de Projeo proposto por Chomsky (1981),
segundo o qual o lxico projeta representaes (papis temticos) nos nveis sintticos, e o
Critrio Theta, segundo o qual cada argumento s possui um papel temtico. O referidoprincpio pode ser visualizado a seguir na sua verso simplificada (op. cit., p.29), seguido do
Critrio Theta (p.36):
Representations at each syntactic level (i.e.; LF, and D- and S- structure)
are projected from the lexicon, in that they observe the subcategorization
properties of lexical items.
Let us call this principle andlater refinements the projection principlefor syntactic representations.17
Each argument bears one and only one role, and each -role is assigned
to one and only one argument.
I will refer to [this] as the -criterion. An argument is assigned a 0-role
by virtue of the -position that it or its trace occupies in LF.
16 Chomsky (1986, p.35) menciona-os sem ano ou nome de obra.17 Na mesma obra (p.38), encontra-se uma reforulao do Princpio de Projeo.
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Com referncia a uma crtica de Jackendoff (1972), que sugere que em alguns casos
como John deliberately rolled down the hill, John Agente e Tema, ou seja, que um
argumento pode ter mais de um papel temtico, Chomsky (1981, p. 139) argumenta, dizendo
que o foco de sua anlise so as grammatical relations: verb-object, verb-subject e que, se
Jackendoff estiver correto, ele (Chomsky) poderia at fazer uma modificao na formulao
do role assignmentou no -criterion, mas que this modification is quite irrelevant to the
uses to which we will put this principle.
At agora, mostramos que os assuntos temticos e de estrutura argumental
interessaram ao autor gerativista, mas preciso reconhecer que, se tais assuntos parecem
importantes no mbito da Teoria de Regncia e Ligao, h, ali, um prenncio de que, para
Chomsky (1981, p.336), os traos theta so deveras menos importantes para ele do que outros.Por exemplo, no vemos as relaes temticas aparecerem em sua proposta de checagem
(op.cit., p.331) e temos que para o autor o critrio theta uma condio da Forma Lgica
enquanto o Filtro de Caso, sim, parte da gramtica (op. cit., p. 336). Adicionalmente, j so
colocados como traos importantes na Teoria GB (op. cit, p.323) os traos de pessoa, nmero,
gnero e Caso, alm de [wh-]; traos que se tornam protagonistas no Programa Minimalista
(Chomsky, 1995), enquanto os assuntos temticos foram relegados interpretao semntica
em Forma Lgica.So vrios os indcios de que as novas diretrizes minimalistas propem diminuir, se
no eliminar a relevncia dos papis temticos nos estudos gerativistas (embora, como
veremos ao final, isso no acontea). No captulo em que explica o Programa Minimalista,
Chomsky (1995, p.187) diz que o Princpio de Projeo e o Critrio Theta no tm relevncia
para a Forma Lgica. E mesmo que atenue essa assero em nota de rodap dizendo que This
is not to say that theory is dispensable at LF, for example (op. cit. nota 24, p. 214) o que
Chomsky prope no Programa Minimalista o fim do Princpio de Projeo, quando diz que:
It is simply that the Criterion and Projection Principle play no role. (op.
cit, p. 214);
If the empirical consequences can be explained in some other way and
D=Structure eliminated, then the Projection Principle and the -Criterion
can be dispensed with. (op. cit., p. 188);
Similarly, we assume that there are no conditions relating lexical properties
and interface levels, such as the Projection Principle (op. cit., p.220).
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S no podemos afirmar categoricamente que Chomsky (1995) elimina o Princpio de
Projeo porque entendemos que o princpio permanece no fato de que um ncleo pode
projetar uma estrutura maior, quando Chomsky (op.cit: p.199) coloca que:
The computational system selects an item X from the lexicon and projects it
to an X-bar structure of one of the forms in (18), where X = X0 = [x X]
(18) a. X
b. [XX]
c. [XP [XX]]
This will be the soleresidue of theProjection Principle.
Sendo assim, Chomsky (1995) no dispensa totalmente o Princpio de Projeo,
porque este se mantm na medida que um item pode ser concatenado a outro item, formando
uma estrutura maior.
Na abordagem minimalista o sistema computacional atua em conjunto com o lxico e
o lxico, por sua vez, considerado um conjunto de traos: a lexical item, which is a
collection of properties called features (Chomksy, 2000, p.22). Sobre quais seriam tais
traos, Chomsky (1995, p.35) aponta: 1- os traos de propriedades categoriais (substantivo/nome, verbo), 2- no caso dos nomes, os traos de Caso (nominativo, acusativo) e os traos de
concordncia (phi-features: pessoa, nmero e gnero) (Chomsky, 1995, p.35):
a typical lexical entry consists of a phonological matrix and other features,
among them the categorical features N, V, and so on; and in the case of Ns,
Case and agreement features (person, number, gender), henceforth phi-
features.
Como no minimalismo o sistema computacional atua sobre traos (Chomsky, 1995,
p.168), isso tornou traos do lxico um dos principais itens estudos gerativistas. 18
Segundo Chomksy (2006, p.142), O termo traos significa apenaspropriedades que
so introduzidas no sistema computacional. Chomsky (1995, p.308) refere-se
especificamente a traos formais, que so os traos de Caso, phi e de fora que devem ser
checados e eliminados:
18 Apesar da noo de traos j estar presente emAspects (1965/ 1978, p. 160, 268, 265).
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As discussed, all formal features of heads that create checking domains
(that is, all their formal features apart from category) [](Case and phi-
features of verbs and adjectives, strong features , etc.). [...] must be checked
Segundo Chomsky (1995, p.279 -282), os traos phi (pessoa, nmero e gnero) so
checados em categorias de checagem como Agr, o que provoca o movimento de itens lexicais.
Em uma palestra na Universidade de Braslia, em 1996, Chomsky (1998, p.53) diz que os
traos phi, flexionais e de Caso so ininterpretveis e os traos semnticos ou fonticos,
interpretveis (p.50). Ou seja, aparentemente, os traos morfolgicos so formais e
ininterpretveis (tambm em Chomsky (2000, p.27)) e os semnticos no so formais, masso interpretveis. Isso no afeta diretamente o que estudamos neste trabalho, mas
enfatizamos essas classificaes chomskianas sobre os traos formais porque aqui nos
interessam as propriedades temticas e semnticas dos argumentos dos verbos e
aparentemente os traos formais de Chomsky no parecem incluir as propriedades temticas,
ou seja, Chomsky considera os papis temticos apenas traos e no traos formais, ou pelo
menos ainda no se pronunciou especialmente sobre isso.19 O pouco que encontramos de
Chomsky sobre essa questo est em Chomsky (1995, p.312), quando diz que papistemticos no so traos formais no sentido relevante: - roles are not formal features in
the relevant sense; ou seja, diz atenuadamente que papis temticos no so traos formais e
acrescenta que no passam pelo domnio de checagem, pois so virtualmente
complementares checagem (op.cit. p. 312), sem se deter em pormenores.
Se tudo que vimos at agora parece indicar que no perodo GB a teoria theta e os
estudos sobre os papis temticos foram importantes para os estudos chomskianos, mas no
minimalismo passam a ter um papel secundrio, a seguir, selecionamos algumasmanifestaes do principal guia do gerativismo, que colocam nosso objeto de estudo como
ponto de interesse na teoria gerativista. Mas, antes, vamos retornar no tempo, e enfatizar que,
desdeAspects, Chomsky (1965, p.160) defende que a semntica dos argumentos relevante
para a sintaxe, como pode ser visto na citao, a seguir, e que isso no mudou.
19 Sobre traos semnticos serem traos formais, Lopes (2007, p.80)) diz que: Cabe aqui um pequenoparnteses. A literatura em aquisio de primeira lngua, seguindo a tradio terica, pressupe que o processode formatao da GU envolva to-somente a seleo de traos formais em determinadas categorias na aquisio
de diferentes lnguas. Isso se deve ao fato de que so os traos formais que fazem o sistema computacionalfuncionar, pois traos semnticos so, por definio, interpretveis na interface, no precisando ser manipuladospela sintaxe, embora sua interpretao seja considerada como composicionalmente derivada da sintaxe. Lopes(2006), contudo, prope que traos semnticos tambm desempenhem um papel na aquisio de primeira lngua
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de admitir que um linguista seriamente interessado pela semntica se
esforce por aprofundar e alargar a anlise sinttica at que esta lhe faculta
a informao relativa subcategorizao, em vez de relegar isso para uma
intuio semntica no analisada, j que, de momento, no existem outras
propostas quanto a uma possvel base semntica para estabelecer as
distines necessrias. claro que o problema de saber se esta tentativa
poder resultar, ainda que em parte, um problema que est em aberto.
Tal pensamento se mantm no minimalismo, como evidenciamos, a seguir, na
apresentao de Chomsky (2000, p. 73) sobre o programa minimalista, em que diz que o
estudo das relaes temticas sintaxe (grifos nossos):
If semantics is the study of relations like agency, thematization, tense, event-
structures and the place of arguments in them and so on and so forth, that is
a rich subject but that is syntax; that is, it is all part of mental
representation. [] This is mislabeled semantics.
Inclusive, interessante notar o questionamento terico sobre papel temtico eaquisio da linguagem de Chomsky (1995, p.35), quando se pergunta se a criana consegue
determinar a parte da sentena que constitui o agente, e se a noo de agente da ao estaria
disponvel antes da noo de agente da sentena:
[] can the child determine what portion of a sentence constitutes the
agent? Although the notion agent of an action is possible available to the
child in advance of any syntactic knowledge, it is less clear that the theoretic notion agent of a sentence is.
Ainda sobre essa questo, relatamos tambm a resposta de Chomsky (2000, p.74) a um
participante que faz diversas perguntas, dentre elas: 1- se o aparato conceitual inato e o
computacional so mdulos diferentes e 2- se a experincia lingustica desencadeia alguma
interao entre os dois no resultado de uma estrutura argumental. Chomsky (2000, p. 75,
grifos nossos) responde que:
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Are the computational and conceptual components different modules?
Really, that is not known very well either.[] These question may be
referring to a book of mine about ten years ago in which I said that the child
has a repertorie of concepts as part of its biological endowment [...]. But
then come this questions [] Is the agent theme property fixed or is it
variable? This is a research topic.
E assim, podemos finalizar essa parte da fundamentao terica chomskiana dizendo
que papis temticos so matria de interesse gerativista e que nossa pesquisa insere-se nesse
campo. Ou seja, the agent theme property [...] is a research topic (Chomsky, 2000, p.75) e
relations like agency, thematization [...] event-structures and the place of arguments in them[...] is syntax (Chomsky, 2000, p.73).
2.2 Metodologia
Aps situar nossa pesquisa na rea de estudos gerativistas, passaremos segunda parte
dessa fundamentao terica, em que explicamos por que consideramos testes e teoria
gerativa, em conjunto com estudos de processamento (psicolingustica) e aquisio.
Consideramos testes sintticos porque eles fazem parte do procedimento gerativista.
Eles consistem em julgamentos de valor por parte dos falantes sobre construes sinttico-
semnticas com relao aceitabilidade e gramaticalidade das sentenas na lngua. Numa
pesquisa gerativista no necessrio informar o nmero de pessoas que concordam com
aquele julgamento, uma vez que o pesquisador tambm considerado um falante ouvinte
ideal. Esses testes so fontes das mais diversas informaes, podendo indicar questes
puramente sintticas ( possvel colocar tal item em tal lugar?) ou tambm semnticas (se talitem aparece em tal lugar, qual significado ele tem?). Esses testes, que tambm podem vir a
ser testados com sujeitos de pesquisa, de forma controlada, no futuro, constituram-se na
principal fonte de informao para o nosso trabalho, indicando que os sujeitos sintticos dos
verbos psicolgicos carregam papis temticos passveis de exercer algum controle e algum
tipo de agentividade sobre o evento denotado pelo verbo, e tambm que TemereAssustartm
possibilidades sintticas distintas, por exemplo, Temer no permite alternncia causativa e
Assustarsim, o que por si s um motivo para diferenci-los.
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Consideramos a aquisio da linguagem porque faz parte de uma anlise gerativista
considerar o estado inicial de GU (Gramtica Universal sistema cognitivo que processa a
linguagem), ideia tambm reforada por Guimares e Lopes (2010) e Guimares (2010). Mas
cabe Psicolingustica e estudos em Aquisio da Linguagem explicar como esse
conhecimento formalizado pode ser adquirido por qualquer criana em estado de
desenvolvimento normal.
Com relao aos dados de aquisio da linguagem, consideramos em especial os erros,
porque os erros manifestados pelas crianas no perodo de aquisio da linguagem podem ser
importantes fontes de informaes. Bloom (1994, p.32) diz que so justamente esses erros que
podem indicar conhecimento incorreto da lngua alvo, ou intermedirio.
There are domains of language development (such as the acquisiton of word
order) where children are virtually error-free. These are frustrating from
the standpoint of acquisition research; after all, we study children because
they have not completed the acquisiton process to the extent that child
language is perfect, one might just as well run experiments on adults.
Errors, on the other hand, offer important insights. They might illustrate
false or intermatiate knowledge of the adult language and thus inform usabout the manner in which the children infer properties of language on the
basis of the input they receive.
Essa viso tambm defendida por Eisenbeiss (2010, p.29), que diz que: The error
analysis provides insights into acquiston mehcanisms. Bloom (1994, p.32) acrescenta que For
any systematic error three descriptive questions arise: Why do children make this error, what
is the time course of this error, and what makes them stop? ou seja, que, para cada erro,existem trs perguntas, que colocamos em destaque, porque ao final desta dissertao, elas
sero retomadas em nossa anlise dos dados lingusticos registrados na pesquisa da campo:
1- Por que as crianas fazem esse erro?
2- Qual a faixa etria/o perodo total em que esse erro se manifesta?
3- O que faz esse erro parar?
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Verificar o uso dos verbos psicolgicos no perodo de aquisio da linguagem pode
prover pistas sobre como funciona o mapeamento entre os argumentos dos verbos e a sintaxe.
Ao buscarmos evidncias em observaes de campo, pensvamos que se verbos
psicolgicos fossem to bem compreendidos e utilizados pelas crianas, quanto os verbos de
ao, isso poderia sugerir que o mapeamento dos seus argumentos no era especial, e talvez
fosse at possvel falar em relao Agente-Paciente, como em qualquer outro verbo de ao.
Isso porque acreditamos que, por ainda estarem em fase de desenvolvimento, as crianas
podem apontar o que de mais difcil processamento, confirmando ou refutando hipteses
gerativistas de hierarquias temticas e mapeamento.
E quando consideramos estudos embasados em testes controlados e sistematicamente
repetidos, estamos falando em estudos de processamento, oriundos da Psicolingustica, quetambm tem modelos tericos prprios, alm do forte vis experimental.
Aqui cabe fazer uma pequena distino entre modelos gerativistas e modelos
psicolingusticos, que, apesar de complementares, so diferentes. Modelos psicolingusticos
devem gerar previses e seus critrios de validao emprica incluem testes de hipteses, em
que os fatores a serem analisados so isolados, em variveis independentes, e em que o
comportamento dos sujeitos, que a varivel dependente, em face desses fatores
contabilizado (Corra 2008, p.234). Tais variveis dependentes podem ser o nmero derespostas de determinado tipo, tempo de reao a um dado evento e tempo de execuo de
uma tarefa (op.cit p.234). J modelos gerativistas devem prover descries e frmulas
capazes de gerar todas as sentenas bem formadas da lngua e somente elas (Corra, 2008,
p.234-235), para terem adequao descritiva. Mas os modelos gerativistas tambm precisam
de adequao explanatria, pois tambm devem explicitar o estado inicial de GU (Gramtica
Universal), estado lingustico com o qual a criana inicia a aquisio da lngua, e oferecer um
modelo da interao entre GU e restries biolgicas do aparato cognitivo (principledexplanations).Em resumo, poderamos finalizar dizendo que (citando Corra 2008, p.232):
1-Uma gramtica gerativa apresenta uma teoria da computao lingustica, representando a
lngua (interna) em estado virtual.
2- Um Processador lingustico o aparato cognitivo responsvel pela conduo da
computao lingustica em tempo real (on-line).
e que gramtica gerativa e processador lingustico so complementares.
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No entanto, consideramos necessrio fundamentar essa viso e em seguida apontar
como a questo temtica est contemplada do ponto de vista do processamento.
Corra (2002, 2006, 2008) prope que a Psicolingustica e o gerativismo, com o
minimalismo, possam passar por um processo de reaproximao20, o que tambm seguido
por Augusto (2005) e Trueswell & Gleitman (2007, p.652).
Ao tratar dessa possvel reaproximao entre gerativismo (gramtica) e psicolingustica
(processador), Corra (2008, p.232) diz que isso possvel porque o gerativismo se prope
ser um modelo descritivo compatvel com um modelo explicativo, e porque apsicolingustica
deve observar o processamento com base em algum modelo de lngua. Segundo a autora, o
Princpio de Interpretabilidade Plena, que pressupe que o aparato lingustico interaja com
outros aparatos (motor, fonador, de memria e outros) e o Princpio de Economia, que prev apreferncia pelo menor custo para uma derivao, propostos no minimalismo, so condizentes
com o que j havia sido colocado no mbito da Psicolingustica dos anos 70, e tambm
servem de pressupostos tericos para pesquisas em aquisio da linguagem (cf. Corra 2006).
A autora aponta que a aproximao do gerativismo com a psicolingustica poderia
contribuir (Corra, 2008, p.234): para que entendamos como um formulador sinttico
(produo) e um parser (compreenso) funcionam em tempo real e em funo da lngua
interna; e para que faamos previses acerca do processamento lingustico luz de umateoria lingustica, a serem verificadas em dados comportamentais ou neurocientficos
(Corra, 2008, p.234). Essas previses poderiam prever e caracterizar afasias e dficit de
linguagem, por exemplo, perspectiva interessante ao nosso estudo, porque defendemos que
propostas gerativistas que sugerem um mecanismo de hierarquia temtica presente na
cognio humana podem ter respaldo em estudos de processamento, os papis mais altos
seriam acessados facilmente pela cognio e seriam mais visveis ou menos custosos para a
sintaxe.No entanto, para que no passemos a impresso de que a aproximao entre gerativismo
e psicolingustica se faz sem problemas, mencionamos duas dificuldades, apontadas por
Corra (2008, p.235), em compatibilizar uma derivao minimalista (formalizao terica da
gramtica gerativa) com modelos de processamento lingustico (formalizao terica da
psicolingustica):
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Harley (2008, p.292) diz que quando os primeiros trabalhos de Chomsky apareceram houve grande otimismopor parte dos psicolingustas em sua teoria transformacional, que propunha um mdulo autnomo para a sintaxe,sups-se que quanto mais complexa fosse a d