dissertação - a influência da expressão dramática na qualida

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A INFLUÊNCIA DA EXPRESSÃO DRAMÁTICA NA QUALIDADE DE VIDA DE CRIANÇAS Um estudo realizado na Urbanização Quinta de Lações em Oliveira de Azeméis Tânia Andreia de Oliveira Libras Trabalho de Projeto da Defesa Pública apresentado à Escola Superior de Educação de Bragança para a obtenção do Grau de Mestre em Animação Artística Orientado por Professor Doutor João Lopes Marques Gomes Bragança 16 Julho de 2012

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  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    i

    A INFLUNCIA DA EXPRESSO DRAMTICA NA QUALIDADE

    DE VIDA DE CRIANAS

    Um estudo realizado na Urbanizao Quinta de Laes em Oliveira de

    Azemis

    Tnia Andreia de Oliveira Libras

    Trabalho de Projeto da Defesa Pblica apresentado Escola Superior de Educao de

    Bragana para a obteno do Grau de Mestre em Animao Artstica

    Orientado por

    Professor Doutor Joo Lopes Marques Gomes

    Bragana

    16 Julho de 2012

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    ii

    A INFLUNCIA DA EXPRESSO DRAMTICA NA QUALIDADE DE

    VIDA DE CRIANAS

    Um estudo realizado na Urbanizao Quinta de Laes em Oliveira de

    Azemis

    Tnia Andreia de Oliveira Libras

    Trabalho de Projeto da Defesa Pblica apresentado Escola Superior de Educao de

    Bragana para a obteno do Grau de Mestre em Animao Artstica

    Orientado por

    Professor Doutor Joo Lopes Marques Gomes

    Bragana

    16 de julho de 2012

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    iii

    s minhas queridas

    Crianas do Projeto Solis

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    iv

    AGRADECIMENTOS

    Ao Professor Doutor Joo Gomes, orientador desta dissertao, profundo

    reconhecimento pelo tempo dispensado, interesse, otimismo e confiana depositada.

    Os meus sinceros agradecimentos Cmara Municipal de Oliveira Azemis,

    nomeadamente Sr. Vereadora da Cultura Dr Gracinda Leal, aos tcnicos do Projeto

    Solis, Dr Dora Brando, Dr Mnica Botelho e Dr Susana Almeida pelo apoio e

    disponibilidade prestada.

    Um reconhecimento particular ao contributo de todas as crianas inseridas no

    projeto, pela sua colaborao no desenvolvimento desta investigao.

    Um agradecimento especial minha famlia, pais, irmo, cunhada, afilhado e

    namorado pelo apoio e encorajamento nos momentos mais difceis deste trabalho.

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    v

    RESUMO

    A pobreza e a excluso social, so fenmenos que continuam a fazer parte do

    nosso quotidiano. Particularmente influenciados pela conjuntura scio-econmica

    colocam em evidncia um conjunto de carncias, geralmente associados a um baixo

    ndice de escolaridade, ao desemprego ou emprego precrio, s limitaes que o

    contexto familiar evidencia, frequentemente afastado de uma participao social ativa, o

    que se reflete na falta de qualidade de vida das crianas oriundas de meios degradados.

    Foi no sentido de inverter essa tendncia, que foi desenvolvido um trabalho de

    investigao-ao, como contributo significativo para o conhecimento e prtica das

    artes, uma vez que a Animao Artstica um elemento essencial na construo do eu

    e da troca com o outro, pois para alm de facultar a descoberta da prpria identidade ela

    permite um enriquecimento da relao com o mundo.

    O projeto artstico, realizado com um grupo de 16 crianas da urbanizao

    Quint de Laes em Oliveira de Azemis, baseado em particular na prtica de

    expresso dramtica, propiciou de forma nica uma experincia de vida, valorizando o

    desenvolvimento bio-psico-scio-motor dos seus participantes, o que se traduziu na

    evoluo significativa duma integrao e participao baseada na construo e aquisio

    de valores, e no sentimento de pertena a uma comunidade.

    A metodologia utilizada teve no uso do dirio de bordo e no inqurito por

    questionrio uma acentuao particular, tendo o estudo realizado permitido

    compreender que a prtica de expresso dramtica pode contribuir para a melhoria da

    qualidade de vida pessoal e social das crianas envolvidas nesse processo.

    Palavras-chave: educao; animao artstica; expresso dramtica;

    pobreza; excluso social.

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    vi

    ABSTRACT

    Poverty and social exclusion, are phenomena that are still part of our daily lives.

    Particularly influenced by socio-economic situation put in evidence a number of needs,

    usually associated with a low level of education, unemployment or precarious

    employment, the limitations that the family context shows, often away from an active

    social participation, which reflects the lack of quality of life of children from degraded

    means.

    In order to reverse this trend, which was developed a research-action, such as

    significant contribution to knowledge and practice of the arts, since Animation Artist is

    an essential element in the building of the "I" and the exchange with others, because in

    addition to providing a discovery of her own identity allows an enrichment of the

    relationship with the world.

    The art project, conducted with a group of 16 children Quinta urbanization of

    populations in Oliveira de Azemis, based in particular on the practice of dramatic

    expression, resulted in a unique way to experience life, emphasizing the development

    "bio-psycho-socio-motor "of its participants, which resulted in a significant evolution

    integration and participation based on the construction and acquisition of values and

    sense of belonging to a community.

    The methodology used was the logbook and questionnaire survey in a particular

    accent, having allowed the study to understand that the practice of dramatic expression

    can contribute to improving the quality of personal and social life of children involved

    in this process.

    Keywords: education, animation art, drama, poverty, social exclusion.

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    vii

    NDICE GERAL

    RESUMO ...

    V

    ABSTRACT .. VI

    Lista de tabelas ... X

    Lista de grficos . XII

    Lista de figuras .. XIV

    Lista de anexos ... XIV

    Lista de abreviaturas, siglas e smbolos usados .. XVI

    INTRODUO . XVII

    CAPITULO I EDUCAO, ARTE E INTEGRAO SOCIAL

    1. Educao para a integrao .... 20

    1.2 Educao e animao comunitria . 23

    1.3 Educao e animao artstica 25

    1.4 Expresso dramtica como linguagem artstica . 27

    1.5 Pobreza, marginalizao e excluso social . 30

    CAPITULO II CARATERIZAO DO CONTEXTO DE ESTUDO

    2.- Caraterizao da rea de interveno ..... 33

    2.1. Caraterizao geogrfica e scio-cultural 33

    2.2. Rede social e projeto de interveno.,.. 34

    2.3. Projeto Solis...... 36

    2.3.1 Plano de desenvolvimento... 37

    2.3.2. Durao, parcerias e equipa tcnica do projeto 38

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    viii

    2.3.3. Aes do projeto..... 39

    2.3.4.Apoio ao realojamento na Urbanizao Quinta de Laes .... 41

    2.3.5.Meio envolvente . 42

    2.3.6. Diagnstico social . 42

    III CAPITULO III METODOLOGIA

    3. Caraterizao do estudo e apresentao do problema

    45

    3.1.Objetivos do estudo ... 46

    3.2.Metodologia 47

    3.2.1. Observao participativa .

    48

    3.2.2. Tcnicas e instrumentos de recolha de dados . 48

    3.2.3. Inqurito por questionrio ... 49

    3.2.4. Papel do investigador .. 49

    CAPITULO IV PROJETO DE INTERVENO

    4. Projeto de interveno ... 52

    4.1.Calendarizao .. 52

    4.2.Recolha de dados.... 53

    4.3.Caraterizao do pblico alvo ... 55

    4.4.Atividades desenvolvidas .. 62

    CAPITULO V APRESENTAO E INTERPRETAO DE DADOS

    5. Dados preliminares .... 86

    5.1 Fases do processo de investigao. 91

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    ix

    5.2. Apresentao de dados e interpretao dos dados do questionrio .. 92

    5.3. Consideraes finais..

    101

    CONCLUSO . 102

    BIBLIOGRAFIA..... 104

    ANEXOS .... 115

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    x

    INDICE DE TABELAS

    Tabela 1

    Variao da populao do concelho de Oliveira de Azemis ... 33

    Tabela 2 Distribuio do funcionamento das atividades .

    52

    Tabela 3 Distribuio das seces leccionadas durante o ano 2009/10 ..

    53

    Tabela 4 Plano de recolha de dados .

    53

    Tabela 5 Distribuio da frequncia da varivel idade

    55

    Tabela 6 Distribuio da frequncia da varivel sexo .

    56

    Tabela 7 Distribuio da frequncia da varivel reside no bairro ...

    56

    Tabela 8 Distribuio da frequncia da varivel do agregado familiar ...

    57

    Tabela 9 Distribuio da frequncia da varivel escolaridade .

    58

    Tabela 10 Distribuio da frequncia da varivel aproveitamento escolar .......

    59

    Tabela 11 Distribuio da frequncia da varivel ano de entrada no Solis

    60

    Tabela 12 Distribuio da frequncia da varivel tempos livres ...

    61

    Tabela 13 Distribuio da frequncia da varivel realizao de atividades

    dramticas.

    86

    Tabela 14 Distribuio da frequncia da varivel realizao de atividades

    dramticas .

    87

    Tabela 15 Distribuio da frequncia da varivel atividade que gostaria de

    realizar ...

    88

    Tabela 16 Distribuio da frequncia da varivel desenvolvimento a nvel

    pessoal ......................

    90

    Tabela 17 Distribuio da frequncia da varivel qualidade de vida da criana ...

    92

    Tabela 18 Distribuio da frequncia da varivel satisfao pelas atividades

    dramticas .

    93

    Tabela 19 Distribuio da frequncia da varivel satisfao com o

    desenvolvimento dos sentimentos dentro do grupo ..

    94

    Tabela 20 Distribuio da frequncia da varivel satisfao com o apoio dos

    amigos

    95

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xi

    Tabela 21 Distribuio da frequncia da varivel satisfao da manifestao da

    comunidade acerca do seu trabalho

    96

    Tabela 22 Distribuio da frequncia da varivel satisfao pela demonstrao

    do seu trabalho a comunidade .

    97

    Tabela 23 Distribuio da frequncia da varivel grau de influncia da

    expresso dramtica no seu bem estar ..

    98

    Tabela 24 Distribuio da frequncia da varivel grau de influncia do ateli na

    sua vida social ...

    99

    Tabela 25 Distribuio da frequncia da varivel grau de influncia das

    atividades no desenvolvimento do sentimento de companheirismo . 100

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xii

    INDICE DE GRFICOS

    Grfico 1

    Distribuio das crianas de acordo com a idade .

    55

    Grfico 2 Distribuio das crianas de acordo com o sexo ..

    56

    Grfico 3 Distribuio das crianas de acordo com a sua residncia ..

    57

    Grfico 4 Distribuio das crianas de acordo com o agregado familiar .

    58

    Grfico 5 Distribuio das crianas de acordo com a escolaridade ..

    59

    Grfico 6 Distribuio das crianas de acordo com o aproveitamento escolar .

    60

    Grfico 7 Distribuio das crianas de acordo com o ano de entrada no Solis

    61

    Grfico 8 Distribuio das crianas de acordo com atividades de tempos livres .

    62

    Grfico 9 Distribuio das crianas de acordo com noo de expresso

    dramtica ...

    87

    Grfico 10 Distribuio das crianas de acordo com realizao de atividades

    dramticas .

    88

    Grfico 11 Distribuio das crianas de acordo com tipo de atividades que

    gostarias de realizar

    89

    Grfico 12 Distribuio das crianas de acordo com desenvolvimento a nvel

    pessoal ..

    90

    Grfico 13 Distribuio das crianas de acordo com a sua qualidade de vida ...

    92

    Grfico 14 Distribuio das crianas de acordo com satisfao com as atividades

    dramticas .

    93

    Grfico 15 Distribuio das crianas de acordo com satisfao de

    desenvolvimento de sentimentos no grupo ..

    94

    Grfico 16 Distribuio das crianas de acordo com a satisfao com o apoio dos

    amigos .

    95

    Grfico 17 Distribuio das crianas de acordo com a satisfao de manifestao

    da comunidade acerca do seu trabalho

    96

    Grfico 18 Distribuio das crianas de acordo com satisfao apresentao do

    seu trabalho comunidade

    97

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xiii

    Grfico 19 Distribuio das crianas de acordo com o grau de influncia da

    expresso dramtica para o seu bem estar .

    98

    Grfico 20 Distribuio das crianas de acordo com o grau de influncia do ateli

    na sua vida social ..

    99

    Grfico 21 Distribuio das crianas de acordo com o grau de influncia das

    atividades para o desenvolvimento de sentimento de companheirismo

    100

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xiv

    LISTA DAS FIGURAS

    Figura 1

    Fases do projeto de investigao 54

    LISTA DOS ANEXOS

    Anexo 1

    Sobre Oliveira de Azemis ..

    115

    Anexo 2 Associao Dianova Portugal ...

    116

    Anexo 3 Programa Progride ....

    120

    Anexo 4 Projeto Desenvolvimento sciocomunitrio Solis

    121

    Anexo 5 Pedido de autorizao a Cmara Municipal ....

    122

    Anexo 6 Autorizao dos encarregados de educao ....

    123

    Apndices

    Apndice 1 Ficha do aluno ...

    124

    Apndice 2 Questionrio preliminar

    125

    Apndice 3 Planificao semanal

    127

    Apndice 4 Apontamentos da conversa com a responsvel pelo projeto Solis Dr. Dora Brando acerca do aparecimento e desenvolvimento do

    mesmo ..

    128

    Apndice 5 Apontamentos da conversa com assistente social do projeto Solis Dr. Mnica Botelho acerca das atividades, comportamentos, etc ...

    130

    Apndice 6 Planificao da atividade de Natal ...

    132

    Apndice 7 Atividade de Natal Rodolfo a rena do nariz vermelho .

    134

    Apndice 8 Avaliao das crianas na atividade de Natal Rodolfo a rena do nariz vermelho .

    135

    Apndice 9 Planificao da atividade da Festa do vizinho...

    136

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xv

    Apndice 10 Atividade da Festa do vizinho Ns, os vizinhos ...

    138

    Apndice 11 Avaliao das crianas na atividade da festa do vizinho Ns, os vizinhos ...

    141

    Apndice 12 Tabela de recolha de informao da sesso ..

    142

    Apndice 13 Tabela de codificao e identificao das crianas ..

    143

    Apndice 14 Questionrio aplicado no fim do ateli .

    144

    Apndice 15 Registos fotogrficos da Urb. Quinta de Laes. .

    147

    Apndice 16 Registos fotogrficos das atividades desenvolvidas no ateli...

    148

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xvi

    ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS USADOS

    AA Animao Artstica

    Art. Artigo

    ATL Atividade de Tempos Livres

    CAT Centro de Alojamento Temporrio

    C.A.O. Centro de Atividade Ocupacionais

    CERCIAZ Centro de Recuperao de Crianas Deficientes e Inadaptadas de Oliveira

    de Azemis

    CLAS Concelho Local de Ao Social

    CMOAZ Cmara Municipal de Oliveira de Azemis

    DAS Diviso de Ao Social

    ED Expresso Dramtica

    EFA Educao e Formao de Adultos

    GNR Guarda Nacional Republicana

    IP Instituto Portugus

    IPSSS Instituto Particular de Solidariedade Social

    ISS Instituto de Segurana Social

    N Nmero

    OAZ Oliveira de Azemis

    Ob. Objetivos

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xvii

    INTRODUO

    O presente trabalho de projeto, desenvolvido no mbito do Mestrado em

    Animao Artstica da Escola Superior de Educao, Instituto Politcnico de Bragana,

    pretende abordar e explorar as temticas subjacentes influncia da expresso

    dramtica na qualidade de vida das crianas vtimas de excluso social, sendo este

    ltimo, um fenmeno que tem sido alvo da preocupao da comunidade em geral.

    A existncia quotidiana exige laos de integrao nos diversos universos que

    compem a vida social, sendo a excluso, no apenas individual, mas um fenmeno

    social, o que nos leva a pensar que a insero deve atuar a dois nveis, intervindo para

    incluir o individuo e disponibilizar a sociedade para o acolher.

    A nossa interveno, teve lugar no concelho de Oliveira de Azemis, integrada

    no Projeto Solis, promovido pela autarquia, como ao de Apoio ao Realojamento na

    Urbanizao Quint de Laes, com a finalidade de melhorar a qualidade de vida de

    uma populao carenciada alterando a influncia negativa que essa realidade tem no

    desenvolvimento da populao infantil e juvenil.

    Pretende-se, com este estudo, salientar o contributo que a atividade artstica pode

    ter na sociabilizao, crescimento pessoal e social das crianas, constituindo a

    identificao de um processo, de uma experincia singular, que pode servir de

    referncia para outras modalidades de interveno.

    O quadro terico em que se baseia o nosso trabalho sustenta tambm que as artes

    e em particular a expresso dramtica contribuem para enriquecer e desenvolver vrias

    competncias, servindo como um veculo para a sociabilizao, coordenao e

    comportamento, contribuindo significativamente para a valorizao dos mtodos

    educativos.

    Nesse sentido, procurmos conceber e implantar um projeto de Animao

    Artstica, atravs da criao de um ateli de Expresso Dramtica dirigido a 16 crianas,

    com idades compreendidas entre os 7 e os 16 anos, que enriquecesse o seu

    desenvolvimento intelectual, pessoal, afetivo e sobretudo social, incrementando os

    sentimentos de autoestima e bem-estar que permitem reagir excluso social.

    Tendo por base a metodologia de investigao-ao, procurmos criar mtodos e

    estratgias que respondessem s questes iniciais e que so as seguintes:

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    xviii

    - Qual o contributo da expresso dramtica para a melhoria da qualidade de vida

    das crianas de meios carenciados?

    - At que ponto as atividades dramticas promovem a participao e a

    sociabilizao?

    Este trabalho encontra-se dividido em 5 captulos que passamos a identificar:

    reviso bibliogrfica; metodologia; apresentao e interpretao dos dados;

    consideraes finais e concluso.

    A primeira parte, composta pelo Captulo I, diz respeito reviso bibliogrfica,

    tratando a educao pela arte numa perspetiva artstica e comunitria, como rea de

    interveno em meios carenciados.

    No Captulo II, feita a caraterizao do contexto do estudo, apresentando o

    problema a ser investigado, os procedimentos metodolgicos e os objetivos atingir.

    O Captulo III, refere-se apresentao e interpretao de dados com a

    apresentao dos resultados tendo por base os inquritos por questionrio e a definio

    das atividades no dirio de bordo.

    Por fim, no captulo IV e V so referidas as consideraes finais bem como a

    concluso.

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    19

    CAPTULO I EDUCAO, ARTE E INTEGRAO SOCIAL

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    20

    1. Educao para a integrao

    A palavra educao, tem resistido a uma definio nica e universalmente aceite,

    existindo atualmente diferentes tendncias concebidas luz de conceitos terico-

    cientficos que se orientam segundo a perspetiva filosfica quando a instruo e a

    cultura, a disciplina que faz o homem (Kant 1781) ou como paideia universal

    englobando todos os conhecimentos, sendo uma formao de cultura geral como

    atividade intelectual permanente (Aristteles).

    J a perspetiva sociolgica defende que a educao um meio que sociedade

    dispe para formar os seus membros sua imagem (Durkheim 1925), enquanto na

    perspetiva transmissivista, a educao a ao de transmisso do saber cultural de uma

    gerao para outra (Roger Gal 1960).

    A educao tambm uma renovao contnua que a criana faz luz das

    experincias por que passa (Dewey 1910), numa perspetiva desenvolvimentista, ou

    ento trata-se de uma conduo para um estado adulto do mundo do amanh, no

    tradicional (Paul Osterrieth, 1970), numa perspetiva progressivista.

    As perspetivas psicolgicas tentaram entender a educao como sendo a

    satisfao das necessidades biolgicas, afetivas, cognitivas, sociais e motoras, de acordo

    com um desenvolvimento equilibrado da pessoa (Wallon 1941) verificando-se nas

    teorias personalistas uma perspetiva da educao como sendo uma relao dinmica

    recproca, em que se verifica uma interao da personalidade do individuo com o meio

    scio cultural em que vive (Mounier 1962 e Faure 1968).

    Por outro lado, numa perspetiva sistemtica, a educao considerada como a

    influncia exercida sobre o indivduo pelas diferentes interaes desenvolvidas entre

    diferentes redes humanas e materiais (Berthalantty 1973) no esquecendo a perspetiva

    educacional de Plato, concebida como algo que conduz ao desenvolvimento moral e

    elevao espiritual.

    O termo educao tem a sua raiz no latim educo (educavi, educatam), tendo

    dado origem s palavras educat e educere. Educat est ligado ideia de tratar, cuidar,

    dispensar, alimentao (herbar quas hummus educat as ervas que a terra alimenta),

    tendo assim gerado a palavra educatio, j com o significado de instruo e de ensino

    enquanto no termo educere, ligado ideia de criar, de dar luz, de fazer sair, de

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    21

    conduzir ao desenvolvimento e evoluo (parvus educere natus o desenvolvimento

    dos filhos), se gerou a palavra education.

    As linhas de pensamento pedaggico que adotaram este segundo conceito,

    conceberam a educao como desenvolvimento ou como modo de evoluo da pessoa.

    Todos os sentidos de educao, apesar de diferentes orientaes, tm algo em

    comum, um certo significado que os une e que justifica que a todos eles se lhes aplique

    uma mesma palavra. Na lngua portuguesa o termo educao significa ensino, formao

    e instruo.

    Na sua essncia educao significa ensinar e aprender, como fenmeno que nas

    sociedades e nos grupos contribui para a sua manuteno e perpetuao, transpondo

    para as geraes que se seguem os modos culturais do ser, do estar e do agir,

    necessrios convivncia em sociedade, como um processo social, em

    desenvolvimento, constituindo no s uma preparao para a vida, mas a prpria vida

    (Dewey 1933).

    O pensamento pedaggico moderno (Sc. XVI e XVII), muito influenciado pela

    revoluo francesa, procurou fazer um apelo s liberdades individuais, inaugurando com

    Rousseau uma nova fase na educao que punha em causa a transmisso de saberes

    vigentes, tornando-se a mesma, com o aparecimento da escola pblica, obrigatria e

    gratuita para todos.

    As transformaes polticas, sociais, econmicas e tecnolgicas ocorridas no

    sculo XX, fizeram emergir a problemtica da educao e da sua adequao aos novos

    tempos, adaptando-se atravs de uma atualizao constante s novas realidades. As

    correntes pedaggicas que emergiram do Movimento da Escola Nova, no incio do

    sculo passado, com Decroly e Montessori, tiveram a uma influncia significativa no

    papel determinante que a escola desempenhou a partir dessa altura no desenvolvimento

    da sociedade moderna.

    Entendida enquanto processo de socializao a educao, exercida nos

    diferentes espaos de convivncia social, seja ela para adequao de um indivduo

    sociedade, do indivduo ao grupo ou dos grupos sociedade, coincidindo com o

    conceito de socializao (Durkheim 1973) ao considerar que a educao tem a funo

    de preparar o homem para viver em sociedade.

    A socializao no ser humano, precisa de ser apreendida cabendo esse papel

    primordial educao. Tendo a sociedade sofrido transformaes ao longo dos tempos,

    tambm a educao mudou procurando responder diretamente s necessidades da

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    22

    primeira, atravs de uma conceo do homem que, sendo egosta, necessita de ser

    preparado para a sua vida na sociedade (Durkheim 1973).

    Tambm para Parsons (1964) a educao deve ser entendida como socializao,

    como um mecanismo bsico da constituio dos sistemas sociais, de manuteno e de

    preparao dos mesmos, em formas de sociedades. Para o mesmo autor com a ausncia

    de socializao o sistema social torna-se ineficaz, deixando de estar integrado e de

    preservar a sua ordem, o seu equilbrio e os seus limites.

    Durkheim (1958) considera que o indivduo socializado o produto das

    influncias mltiplas da sociedade e o objetivo da socializao a administrao do

    consenso que torna possvel a vida social, acrescentando que, () a educao a ao

    exercida pelas geraes adultas para as que no esto ainda amadurecidas para a vida

    social (1958: 17).

    Nesse sentido, segundo o mesmo autor, a educao consiste na socializao

    metdica das novas geraes sendo a sua funo eternizar e reforar a integrao social

    pela formao do ser social gerado como () sistema de ideias, de sentimentos e de

    hbitos que exprimem em ns, no a nossa personalidade, mas o grupo ou os diferentes

    grupos que participamos (Durkheim 1958: 18).

    A socializao, segundo Dubar (2005), entendida como processo, atravs do

    qual o ser humano desenvolve as suas formas de estar no mundo relacionando-se com o

    meio e as pessoas que o rodeiam, tornando-se um ser social. Todavia, a socializao no

    tem um carater rgido de estrutura que no transforma, sendo entendida pelo contrrio,

    como um processo dinmico, permitindo a construo, desconstruo e reconstruo de

    identidades.

    Podemos ento considerar, a socializao como um processo fundamental, pelo

    qual o sujeito se integra no grupo onde nasceu obtendo os seus valores e costumes, no

    apenas como integrao do sujeito na sociedade mas tambm como continuidade dos

    sistemas sociais, modelando o seu comportamento em funo das normas da cultura em

    que se insere.

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    23

    1.2. Educao e animao comunitria

    A animao comunitria pode ser considerada uma interveno que tem como

    finalidade principal a participao dinmica de uma comunidade, como um conjunto de

    cidados que partilham os mesmos interesses, as mesmas heranas e os mesmos

    recursos formando um todo coletivo, atividade essa realizada de forma consciente e

    crtica, tendo em vista o progresso social e econmico.

    Gusfield (1975) props uma distino entre duas formas de usar o termo

    comunidade. A primeira prende-se com a noo territorial ou geogrfica em que o

    sentimento de comunidade se manifesta atravs dum sentimento de pertena a uma rea

    particular ou como estrutura social dentro dessa rea, que pode ser entendida como pas,

    regio, cidade, bairro, como prdio e sua vizinhana.

    A segunda, tem um carater relacional, que diz respeito rede social e

    qualidade das relaes humanas dentro da localizao de referncia. Nesse sentido se

    pronunciou tambm Nunes (2000) ao considerar que, para ser apreciada como

    comunidade, as pessoas devem tratar-se mutuamente como um fim em si mesmo e no

    como meros instrumentos, como membros unidos por laos, afetos e compromisso

    mutuo e no como empregados, comerciantes ou consumidores.

    Podemos considerar que a animao comunitria est intimamente relacionada

    com uma forma de interveno, que tem por objetivo promover o desenvolvimento de

    uma comunidade, incentivando os seus membros a gerir os recursos disponveis de

    forma participada e dinmica, atravs do exerccio de uma cidadania ativa para a

    melhoraria das condies culturais, sociais, econmicas e educacionais dessa mesma

    comunidade.

    A interveno pode realizar-se com o recurso a um leque amplo de projetos de

    animao e desenvolvimento, o que pode englobar vertentes to diversas como a

    econmica e laboral, com o lanamento de cooperativas, associaes ou a criao de

    meios alternativos de emprego. A vertente educativa e de dinamizao cultural pode

    tambm ser uma via de atuao promovendo a sade e a defesa dos consumidores, a

    preservao e melhoria do meio ambiente, e ainda, a educao para a ocupao dos

    tempos livres e o desenvolvimento dos meios de comunicao social.

    A animao comunitria pode tornar-se, deste modo, num instrumento

    importante para o exerccio da participao e motivao das pessoas na vida da

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    24

    comunidade onde se inserem, agindo de forma integrada sobre a realidade local,

    fortalecendo a coeso social, o sentimento de pertena e a sua identidade.

    Porm, a multiplicidade dos sinais de excluso social devem ser contrariados

    pela construo de processos que tornem os atores locais como protagonistas capazes de

    identificar e encontrar solues para os seus problemas.

    O desafio nesta rea passa tambm por reconhecer as fragilidades do sistema

    educativo, que no pode tudo resolver atravs do alargamento da escolaridade

    obrigatria, estimulando-se o investimento em novos projetos de educao no formal

    ou informal, ao ritmo das exigncias sociais locais.

    A animao comunitria aparece assim, como uma forma de educao no

    formal, aberta, centrada nos interesses e necessidades das comunidades. Pode ser

    encarada como uma ao de grande valor pedaggico que visa despertar a tomada de

    conscincia de cada ser humano, contribuindo para o reconhecimento das condies

    necessrias atualizao das suas potencialidades e dos mecanismos que impedem ou

    facilitam essa realizao.

    Por outro lado parece-nos que a vida democrtica exige um esforo educativo

    adicional que apele a uma interveno cvica acrescida numa realidade cada vez mais

    complexa. A formao para a cidadania surge assim como uma preocupao que

    deveria estar generalizada em todos ns, consciencializando os cidados dos seus

    direitos mas tambm dos seus deveres, para uma participao mais ativa das populaes

    no processo de desenvolvimento das suas comunidades.

    O sistema educativo deveria estar tambm, quanto a ns, mais atento ao

    desenvolvimento pessoal e aquisio de capacidade crtica dentro num quadro de

    educao no formal, que privilegiasse, por exemplo, a educao de adultos e a

    formao de jovens adolescentes com dificuldades de insero escolar, em particular.

    Como refere Nunes (2000) a animao comunitria projeta e realiza um conjunto

    de atividades que visam o crescimento endgeno global e integrado da sociedade tendo

    por base iniciativas que destacam o protagonismo das pessoas no desenvolvimento das

    suas prprias comunidades.

    Consideramos, na sequncia do que acabamos de expor que esta rea tem

    justificadamente grande relevncia e reconhecimento a nvel social, acentuando-se cada

    vez mais como um domnio de trabalho alargado e heterogneo, distribudo por

    diferentes modalidades de interveno, com origem nas iniciativas de inmeras

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    25

    instituies sociais, com distintos graus de institucionalizao e pela participao de

    animadores com uma formao diversificada e enriquecedora.

    1.3. Educao e animao artstica

    Para definir arte, como referiu Abel Salazar (1922), seria preciso primeiro

    definir vida, o que significaria dizer que seria impossvel definir arte.

    O conceito de arte deriva do latim art, que significa tcnica ou habilidade, sendo

    entendido como uma atividade humana ligada as manifestaes de ordem esttica, ou

    seja, a criao humana com valores estticos (beleza, equilbrio, harmonia, revolta) que

    condensam as suas emoes, a sua histria, os seus sentimentos e a sua cultura.

    Pode ser considerada a linguagem das emoes procurando transmitir algo que

    no se decifra com palavras ou pensamentos.

    Segundo Crespi (1997), a arte apresenta-se sob vrias formas, as artes figurativas

    exprimem-se atravs de imagens, como a dana, a escultura, a pintura, a fotografia, a

    arquitetura e o cinema. Enquanto a literatura, considerada tambm uma forma de arte,

    exprime-se atravs da palavra falada e escrita, compreendendo as diferentes formas de

    poesia, a narrativa e o teatro, como expresso atravs dos sons nas suas diferentes

    formas.

    Estas formas de expresso transportam nas imagens, nos sons, na linguagem e no

    prprio movimento a complexidade da experincia vivida como forma de expresso

    para demonstrar (exprimir, descarregar, purgar) identificando emoes (sentimentos,

    afetos, paixes).

    A arte, que na opinio de Jos Rgio (1964), a mais completa expresso que o

    homem d de si pode ser considerada como uma linguagem e como comunicao,

    assim a linguagem das emoes de algo que no se consegue comunicar atravs de

    palavras.

    Outro aspeto fundamental a relao da arte com a cultura, sendo produto e

    responsabilidade de toda a comunidade, a arte tem de ser fruda, sentida e vivida por

    todas as pessoas, no podendo existir um verdadeiro desenvolvimento, nem uma

    melhoria da qualidade de vida sem o desenvolvimento cultural.

    A fruio artstica est tambm ligada atividade ldica, como algo que d prazer

    como o jogo, como referia Schiller (1795), ao considerar o jogo identificado com a arte

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    26

    como a essncia do humano. Neste sentido poderamos dizer, como Durkheim (1949),

    que a arte se aproxima do brincar, no sendo propriamente encarada como trabalho, mas

    antes como uma distrao, como uma necessidade de manifestar a atividade humana

    sem objetivo, s pelo prazer de a distribuir.

    A educao pela arte, de acordo com Read (1958), procurou associar a criao

    artstica formao da pessoa defendendo que esse trabalho deveria inicia-se na escola

    com os mais pequenos. A imaginao revelada como um fator que reconcilia os

    aspetos subjetivos com a beleza objetiva, sendo considerado pelo mesmo autor, que

    somos dotados de um esprito que no se satisfaz com uma atividade circunscrita mas

    que deseja criar e aventurar-se mais para alm do que lhe do.

    Neste sentido a criatividade tem um papel preponderante pois, partindo de ideias e

    conceitos j existentes, caracteriza-se pela aquisio de novas combinaes que se

    podem aplicar na resoluo de problemas, com a obteno de resultados com valor para

    o indivduo e para a sociedade, podendo ser valorizada, tanto no sentido esttico, como

    pela distino atravs da construo de novos padres de significado em relao s

    ideias mais convencionais (Navega 2000).

    A educao artstica, na sequncia do que temos vindo a referir, tem como

    finalidade essencial o desenvolvimento integral e harmonioso do indivduo conjugando

    as dimenses biolgicas, afetivas, cognitivas, sociais e motoras da personalidade de

    forma integrada e atribuindo a cada uma delas o mesmo grau de importncia. Barret e

    Landier (1991) defendem que as atividades artsticas favorecem a expresso e a

    comunicao, assumindo o corpo nessa correspondncia, um papel preponderante.

    Autores como Sokolov (1975), Coopersimth (1976) e Harter (1978),

    encontraram na educao artstica aspetos que tm uma relao significativa com o

    aumento de autoestima, auto-perceo e auto-realizao, atribuindo-lhes um papel

    preponderante na motivao das crianas para as atividades letivas e como ajuda

    inestimvel na conquista do sucesso escolar.

    A Conferncia Mundial sobre Educao Artstica, realizada pela UNESCO em

    Lisboa (2006), veio salientar a importncia desta rea para a formao do indivduo,

    tendo publicado no documento Roteiro para a Educao Artstica um conjunto de

    recomendaes, em que se destaca a criatividade e a conscincia cultural, como

    componentes essenciais de uma formao que conduz ao pleno desenvolvimento do

    indivduo, sendo necessria a sua incluso em contextos de aprendizagem para melhoria

    da qualidade da educao.

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    27

    A educao artstica assim, um elemento essencial da construo do eu e da

    troca com o outro, ela permite a descoberta da prpria identidade e favorece a relao

    com o mundo, sendo um instrumento privilegiado para a integrao das comunidades

    imigrantes, dos grupos culturais minoritrios ou das pessoas portadoras de deficincia.

    A legislao portuguesa, de acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo

    (Lei 46/86 de 14 de Outubro), veio considerar que a educao artstica passaria a estar

    integrada no ensino bsico como forma de sensibilizao para as diversas formas de

    expresso esttica, esprito crtico e criatividade, reconhecendo a sua importncia na

    promoo da realizao individual em harmonia com os valores da solidariedade social.

    De acordo com Robinson (1982) a criatividade no uma faculdade especial de

    algumas crianas, ela deve ser estimulada e desenvolvida, de forma a proporcionar

    atitudes de participao ativa e inovadora face s necessidades do mundo em que vivem.

    O desenvolvimento do pensamento criativo surge assim como pea fundamental

    visto que, num mundo em mudana, preciso estar constantemente disponvel perante

    novas situaes que exigem respostas divergentes (Aguirred 2005: 173). Tanto o

    pensamento como a explorao do corpo devem agir em simultneo, experimentando

    diferentes formas artsticas onde se incluem as artes-plsticas, a msica, a dana e o

    teatro, experimentao essa que pode ser valorizada atravs de trabalhos integrados que

    estabeleam uma relao entre eles.

    1.4. Expresso dramtica como linguagem artstica

    Um dos aspetos que sobressai da infncia a relao ldica com a realidade. O

    jogo dramtico disso um exemplo, a criana vive um mundo diferente usando a

    imaginao para representar algo atravs das suas aes.

    Representar o que se cria uma parte importante do jogo dramtico, que se

    diferencia das outras brincadeiras, pela sua organizao estruturada. Plato insistia que

    as lies tomassem a forma de jogo, pois isso ajudaria os pais a ver quais eram as

    aptides naturais dos seus filhos.

    O jogo pode ser definido, segundo Kamii, como sendo () um conjunto de

    atividades s quais o organismo se entrega, principalmente pelo prazer da prpria

    atividade( Kamii 1996: 27).

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    28

    O seu carter ldico responde s necessidades primordiais do ser humano a

    exteriorizao de si no contexto de comunicao e da busca do prazer na construo da

    aprendizagem.

    Leon Chancerel (1936) afirma que os jogos dramticos so para as crianas um

    meio de exteriorizao, pelo movimento e pela voz, dos seus sentimentos profundos e

    das suas observaes pessoais aumentando os seus desejos e possibilidades de

    expresso.

    No jogo do faz-de-conta a criana dedica-se inteiramente a uma atividade,

    conquistando a sua autonomia e formando o seu carater atravs das vivncias de fices,

    desenvolvendo esquemas prticos que sero necessrios para o seu desenvolvimento.

    Sendo ao mesmo tempo atora e espetadora a criana observa a expresso dos outros e

    exprime-se at se sentir capaz de atuar em conjunto com eles, no temendo integrar-se

    no jogo coletivo.

    As aes dramticas so o espelho das aes da vida real. So uma oportunidade

    da criana comunicar e experimentar-se com outros, perdendo timidez e o desejo de ser

    admirada, o que requer, como referia Piaget (1997), a necessidade de proporcionar aos

    mais pequenos os meios para que o real seja assimilado e compreendido, evitando a

    mera imitao.

    Os jogos dramticos tm particularidades que os distinguem dos outros jogos, so

    uma forma de desenvolvimento da criatividade, de explorao do mundo envolvente e

    do relacionamento entre intervenientes nas atividades, gerando ideias individualmente e

    em grupo.

    Nesse sentido, ao trabalhar a imaginao desenvolve-se a personalidade, processo

    que acompanhado pelo enriquecimento da expresso oral e fsica, que se manifesta

    atravs da representao com a aprendizagem de novas palavras e com diferentes modos

    de falar e comunicar.

    Mas sobretudo, a expresso ou a capacidade expressiva da criana que

    destacada por alguns autores. Aristteles, citado por Sousa (2003) designa a expresso

    como katharsis (catarse, sada, alvio, purificao) e associa-a s exteriorizaes

    psquicas que uma ao desenrolada num palco provoca nas pessoas que assistem.

    Sousa (2003) recorre tambm a Freud, para explicar o significado de expresso e

    da energia libertada pela catarse fazendo a comparao com um rio de grande caudal

    que brota continuamente de uma fonte situada no inconsciente e que, como todos os

    rios, procura o caminho para desaguar no mar (a expresso), fazendo parte do seu

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    29

    percurso natural pelo leito os bloqueios (frustraes e conflitos), que causam problemas

    de expresso (agressividade), que encontram na energia a possibilidade de os ultrapassar

    e eliminar.

    No caso da expresso dramtica, rea que faz parte essencial do nosso trabalho,

    a natureza do jogo e da expresso est intimamente ligada com o drama, o teatro, a

    improvisao e representao de papis. Por um lado, na definio clssica, expresso

    tem a sua origem no verbo latino exprimere, que significa fazer sair, revelar-se,

    manifestar-se ou exteriorizar, enquanto que, a palavra dramtico teve origem no termo

    grego drama, que significa ao.

    A expresso dramtica consiste ento na expresso de sentimentos e ideias, num

    contexto de jogo que usa a linguagem especfica da ao (dramtica) para dar forma

    comunicao.

    Segundo Ryngaert (1981), a linguagem dramtica constituda pelos elementos

    voz, espao, corpo, tempo, texto e situao dramtica. A utilizao destes elementos

    permite a quem joga, comunicar com os outros atravs de papis, expressando-se pela

    criao com a produo de uma fico. A reflexo sobre as emoes e a interpretao

    do mundo fazem tambm parte deste tipo de atividades.

    Como refere Sousa a dimenso conceptual da expresso dramtica, por to

    vasta, hoje indiferentemente aplicada, quer se referindo a metodologia educativa,

    tcnica de ensino ou a disciplina curricular de curso de formao de atores (2003: 21) .

    Read (1943) considera esta rea como um dos melhores mtodos educativos,

    fundamental em todos os estdios da educao, pois as suas atividades permitem

    compreender e coordenar todas as outras formas de educao pela arte.

    A expresso dramtica, segundo Melo (2005), pode traduzir-se como estratgia

    de criao numa melhor compreenso das temticas de natureza social, mobilizando os

    intervenientes, atravs dos quadros de referncia do passado, para a compreenso e

    resoluo dos problemas que a modernidade apresenta.

    Como refere Leenhardt so os meios de expresso-oral e corporal to

    descuidados e contudo to indispensveis vida adulta () que constituem o principal

    benefcio da prtica do jogo dramtico (Leenhardt 1997: 27).

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    30

    1.5. Pobreza, marginalizao e excluso social

    A pobreza e a excluso social engloba todos aqueles que, como refere Sheppard

    (2006), esto numa situao de carncias mltiplas, de desemprego, que se encontram

    privados dos seus direitos como cidados e margem dos laos sociais.

    De uma forma geral, a excluso social pode considerar-se como uma fase

    extrema do processo de marginalizao, entendido como um percurso descendente, ao

    longo do qual se verificam sucessivas ruturas do indivduo na sua relao com a

    sociedade.

    Crucial no processo de marginalizao o afastamento do mercado de trabalho,

    atravs do desemprego, com todas as implicaes de carter econmico, social e

    cultural que lhe esto associadas, o se pode verificar tambm com os pequenos

    agricultores e camponeses, trabalhadores desqualificados ou com empregos precrios.

    Podem ento identificar-se tipos de excluso que se relacionam com os aspetos

    econmicos, sociais, culturais e patolgicos. Quanto ao primeiro, como j referimos,

    surge relacionado com os baixos nveis de instruo e qualificao profissional, com

    empregos precrios e instveis, sem contrato e mal renumerados, o que predomina, por

    exemplo, na economia informal.

    A nvel social, como o prprio nome indica, a causa de excluso situa-se no

    domnio dos laos sociais. Carateriza-se pelo isolamento, por vezes associado falta de

    autossuficincia e autonomia pessoal, como acontece com os idosos, os doentes

    crnicos e os deficientes.

    Os fenmenos de excluso cultural esto relacionados com o racismo, a

    xenofobia ou certas formas de nacionalismo enquanto os de tipo patolgico referem-se a

    problemas de natureza psicolgica ou mental, muitas vezes relacionados com

    comportamentos desviantes como a toxicodependncia, o alcoolismo ou a prostituio.

    Deve-se a Durkheim (1995) a criao, neste domnio, do conceito de anomia e

    que designa um estado do indivduo caraterizado pela falta de objetivos e pela perda de

    identidade, o que acontece quando as normas de conduta estabelecidas como regras pela

    sociedade para alcanar metas sociais no esto devidamente integradas.

    Segundo o mesmo autor, este estado em grande medida originado pelas

    intensas transformaes econmicas e polticas que ocorrem nas sociedades modernas

    onde o progresso constitui uma ameaa s estruturas ticas e sociais.

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    31

    Nesse sentido a excluso social, manifesta-se nas vrias dimenses da vida do

    indivduo ao nvel do:

    SER, ou seja de personalidade, de dignidade da autoestima e do auto-

    reconhecimento individual;

    ESTAR, ou seja, das redes de pertena social desde a famlia s redes de

    vizinhana, aos grupos de convvio e de interao social e sociedade

    em geral;

    FAZER, ou seja das tarefas realizadas e socialmente reconhecidas, quer

    sob a forma de emprego remunerado, quer sob a forma de trabalho

    voluntrio;

    CRIAR, ou seja a capacidade de empreender, de assumir iniciativas, de

    definir e concretizar projetos, de inventar e criar aes, quaisquer que

    elas sejam;

    SABER, ou seja do acesso informao necessria tomada de

    decises e da capacidade crtica face sociedade e ao ambiente

    envolvente;

    TER, ou seja do rendimento, do poder de compra, do acesso a nveis de

    consumo mdio da sociedade, da capacidade aquisitiva.

    Como temos vindo a referir, a excluso social uma situao de no realizao

    de algumas ou de todas estas dimenses, apresentando-se como um fenmeno social e

    no apenas individual. A conscincia deste processo implica que as modalidades de

    interveno para a insero atuem junto do individuo para o integrar, mas tambm,

    preparando a sociedade para o acolher.

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    32

    CAPTULO II CARATERIZAO DO CONTEXTO DE ESTUDO

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    33

    2. Caraterizao da rea de interveno

    O presente estudo desenrolou-se no espao de Apoio ao Realojamento da

    Urbanizao Quinta de Laes, como j foi referido anteriormente, pelo que, ser

    necessrio proceder a uma caracterizao do contexto geogrfico e socioeconmico do

    local onde se desenrolou a ao para entendermos mais aprofundadamente os

    comportamentos e atitudes manifestadas pelos sujeitos implicados neste trabalho.

    Posteriormente trataremos mais detalhadamente o plano de ao social deste

    municpio, os seus recursos, servios e parcerias nas diferentes reas de interveno,

    com particular destaque para o Projeto Solis, mais concretamente no que respeita ao

    de Apoio ao Realojamento na Urbanizao da Quinta de Laes.

    2.1. Caraterizao geogrfica e sociocultural

    O municpio de Oliveira de Azemis com uma populao aproximada de setenta

    mil habitantes, distribuda por 19 de freguesias, est situado na zona norte do pas sendo

    um dos concelhos do distrito de Aveiro. Servido por inmeras redes de comunicao

    est circunscrito a nordeste pelo municpio de Arouca, a este por Vale de Cambra e

    Sever do Vouga, a sul por Albergaria-a-velha, a oeste por Estarreja e Ovar e a noroeste

    por So Joo da Madeira e Santa Maria da Feira.

    Esta regio tem sofrido ao longo dos tempos sucessivas alteraes da densidade

    populacional como se pode verificar na Tabela 1.

    Populao do concelho de Oliveira de Azemis (1801 2011)

    1801 1849 1900 1930 1960 1981 1991 2001 2011

    16 943 16 899 29 506 33 072 46 263 62 821 66 846 70 721 68 825

    Tabela. 1 Variao da populao do concelho de OAZ Fonte: Wikipdia

    A zona central e as freguesias da zona norte e nordeste so aquelas que tm

    sofrido um maior acrscimo de populao, principalmente nas 5 freguesias consideradas

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    34

    como urbanas e onde se concentram mais de 50% da populao do Concelho, num

    corredor espacial que se distribui entre as cidades de Oliveira de Azemis e de So Joo

    da Madeira.

    Com uma intensa atividade cultural, dinamizada em grande parte por cerca de

    duas centenas de Associaes este concelho tem nos eventos Ciclo da Primavera e

    Mercado Moda Antiga dois acontecimentos que atraem ao centro da cidade milhares

    de pessoas. A Feira do Livro, o Festival da Juventude, o teatro, as exposies e

    espetculos varia, o ndole e completam o leque de propostas ao longo do ano.

    No que diz respeito terceira idade, destacam-se inmeras atividades recreativas

    e culturais, nomeadamente a Festa Snior, a celebrao do Dia Internacional do Idoso,

    os Encontros Interinstitucionais, as Olimpadas Snior e os encontros desportivos.

    A msica e em particular o folclore, fazem parte das tradies culturais desta

    regio, sendo as festas de Nossa Senhora de La-Salette realizadas todos os anos no

    primeiro domingo de agosto, sendo a que tem a maior adeso popular.

    Relativamente ao emprego este concelho, bastante industrializado e com

    vocao exportadora, concentra a sua atividade econmica principalmente nos setores

    do calado, metalurgia, metalomecnica e agroalimentar, enquanto o setor primrio

    aquele que emprega uma reduzida parte da populao sendo o desemprego bastante

    reduzido em comparao com as mdias nacionais.

    2.2. Rede social e projetos de interveno

    A rea de ao social do Municpio de Oliveira de Azemis, depende da Diviso

    de Ao Social (DAS) tendo esta por funo informar e encaminhar as pessoas para

    recursos locais que possam dar resposta aos problemas apresentados, prevenir e criar

    respostas concretas a problemas especficos, reabilitar/reinserir as pessoas, famlias e

    grupos com problemas e ainda, entre outros, o estudo e identificao de causas da

    marginalidade e delinquncia, propondo e desenvolvendo servios sociais de apoio.

    Este concelho tem ao seu dispor na rea da infncia e juventude 14 valncias de

    creche, 15 de atividades de tempos livres (ATL), 14 valncias do ensino pr-escolar, 1

    lar de menores, 1 estabelecimento de educao especial (rea da deficincia), 1 valncia

    de formao profissional (rea da deficincia), 1 estabelecimento de ensino pr-

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    35

    profissional (rea da deficincia) e 1 valncia de atividades ocupacionais (CAO) na rea

    da deficincia.

    Relativamente aos equipamentos de apoio a idosos, a maioria das instituies

    oferece o servio de Centro de Dia (11) e Servio de Apoio Domicilirio (10). A

    valncia de Lar a menos oferecida contando apenas com 5 em todo o concelho.

    Existe uma instituio direcionada para o apoio populao portadora de

    deficincia, designada por CERCIAZ, estando o seu mbito de atendimento direcionado

    para aquelas que se referem aos problemas de natureza intelectual, de audio,

    deficincia orgnica ou multideficincia.

    A ao social, tem sido considerada como uma rea de interveno prioritria e

    em desenvolvimento, visando essencialmente, contribuir de forma ativa para a criao

    de um ambiente social saudvel, caraterizado pela solidariedade e minimizao de

    carncias dos grupos sociais mais desfavorecidos.

    Tem sido prtica do setor de ao social principalmente:

    Efetuar estudos que detenham as carncias sociais da comunidade e de grupo

    sociais especficos;

    Estudar e identificar as causas da marginalidade e delinquncia especficas ou de

    maior relevo na rea do municpio, propondo medidas adequadas com vista

    sua eliminao;

    Desenvolver aes de apoio a grupos de indivduos especficos, s famlias e

    comunidade, no sentido de desenvolver o bem-estar social;

    Desenvolver e implementar aes de apoio infncia e terceira idade de forma

    a melhorar o seu bem-estar;

    Acionar todos os mecanismos e recursos disponveis com fim de minimizar a

    pobreza e excluso social;

    Avaliar e definir estratgias interventivas;

    Potenciar agentes e iniciativas de desenvolvimento social local.

    Nesta rea, verificou-se no diagnstico social de 2008, que a falta de

    equipamentos de apoio populao idosa um problema sentido de igual forma em

    todas as freguesias do concelho e que afeta sobretudo aqueles que esto mais

    dependentes, o que implica a criao de equipamentos diferenciados, como por

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    36

    exemplo, centros de noite, centro de convvio ou servios de apoio domicilirio

    integrado.

    Todas estas modalidades de interveno fazem parte da Rede Social (Resoluo

    do Conselho de Ministros n 197/97), definida como um frum de articulao e

    congregao de esforos por parte das entidades pblicas ou privadas, sem fins

    lucrativos, para erradicar ou atenuar os fenmenos de pobreza e excluso, contribuindo

    para promoo do desenvolvimento social.

    Esta abordagem da interveno social baseia-se num trabalho planeado, feito em

    parceria, visando racionalizar e trazer maior eficcia ao das entidades pblicas e

    privadas que atuam numa mesma unidade territorial, encontrando solues para os

    problemas locais, de forma integrada e ajustada s necessidades das populaes

    abrangidas.

    Deste modo a Rede Social de Oliveira de Azemis, tem promovido diversos

    projetos de apoio comunidade englobando os vrios pblicos-alvo onde se incluem

    para alm do Projeto Solis, aquele que nos interessa mais particularmente, o Projeto

    (Re) Agir, o Projeto (Re) Aprender, o Projeto Importa Incluir, o Projeto Famlia e

    Comunidade, o Projeto Soltar Amarras e o Projeto Comossela.

    2.3. Projeto Solis

    O Projeto Solis, surge no mbito de uma candidatura apresentada e aprovada

    pelo Instituto da Segurana Social (ISS, I.P.)1. A Medida 1 abrange 4 reas de

    interveno:

    1. Acesso de todos os cidados abrangidos pelos projetos e aes aos servios

    pblicos e divulgao dos direitos, deveres e benefcios sociais;

    2. Apoio melhoria das condies de habitao e das acessibilidades;

    3. Qualificao das populaes atravs da melhoria das competncias pessoais,

    sociais e profissionais dos indivduos e das famlias;

    4. Fomento de iniciativas econmicas de modo a promover a incluso pelo

    emprego.

    1 Ao abrigo da Medida 1 do Programa para a Incluso e Desenvolvimento Progride.

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    37

    Este Projeto de desenvolvimento social, tendo como Entidade Promotora a Cmara

    Municipal de Oliveira de Azemis e como entidade executora a Associao Dianova

    Portugal.

    O projeto composto por vrias aes na rea social, que visam responder ao

    levantamento de necessidades inscritas em diagnstico e complementar as aes

    definidas no Plano de Desenvolvimento Social, abrangendo, designadamente, as reas

    da famlia, da terceira idade, da deficincia, da criao de equipamentos e servios e da

    formao/informao das populaes.

    2.3.1. Plano de Desenvolvimento Social

    Como pudemos analisar no documento Plano de Desenvolvimento Social

    concelho local de Ao Social de Oliveira de Azemis (2006:17-34), o combate s

    desigualdades sociais e s situaes de excluso exige um planeamento estratgico

    numa determinada rea territorial, o que pressupe desenvolver a melhoria da qualidade

    de vida da populao de acordo com 4 vertentes fundamentais:

    1. Atacar as causas das situaes de disfuncionamento social;

    2. Implementar novas metodologias de interveno;

    3. Promover melhorias nos nveis de participao da populao;

    4. Aumentar a oferta de equipamentos e respostas promotoras e preventivas

    no combate pobreza e excluso social.

    A partir desta linha orientadora, o plano est estruturado segundo 4 eixos

    fundamentais:

    EIXO I Intervir ativa e preventivamente nas disfuncionalidades familiares e

    situaes vulnerveis pobreza e excluso social, ou seja, melhorar os nveis de

    funcionalidade familiar e de integrao social reduzindo os dfices de

    competncias a nvel pessoal e familiar. Neste eixo as intervenes esto

    organizadas por 3 aes especficas: A primeira tem por objetivo geral que cerca

    de 30 famlias com problemas de disfuncionalidade, com crianas at aos cinco

    anos beneficiem de um acompanhamento/interveno integrada. A segunda tem

    por objetivo que o conjunto de cerca de 40 agregados familiares realojados em

    habitao social estejam organizados ao nvel associativo e beneficiem de

    acompanhamento especfico para a melhoria dos nveis de integrao social. A

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    38

    terceira tem por objetivo que um grupo de cerca de 30 agregados familiares, em

    situao de desfavorecimento social, beneficie de aes integradoras e de

    promoo de competncias.

    EIXO II Melhorar a qualidade de vida dos idosos, no que diz respeito s suas

    necessidades essenciais, alimentao, higiene, habitao e sade. Nesse sentido,

    procurou-se que as pessoas idosas a viver ss (isoladas ou em casal) e em situao

    de desfavorecimento social viessem a beneficiar de apoios diversificados para a

    melhoria das suas condies de vida.

    EIXO III Promover o aumento de equipamentos e servios de apoio famlia e a

    grupos especficos, contribuindo para uma melhoria da cobertura de equipamentos

    e servios, sensibilizando e informando as diversas instituies para a criao de

    mais servios, ao nvel da juventude, dos idosos, da infncia, da deficincia, da

    imigrao e dos sem-abrigo.

    EIXO IV Melhorar os nveis de informao e conhecimento da populao

    relativamente a temticas relevantes com o objetivo de mobilizar e dinamizar a

    comunidade, sendo mais participativa e informada relativamente a temticas

    relevantes, nomeadamente atravs da realizao de aes de sensibilizao e

    informao.

    Segundo o mesmo documento, estes eixos atravessam de forma transversal

    problemticas diversificadas, sendo fundamental a sua interao, uma vez que os

    problemas que afetam a populao, bem como as suas causas, no so estanques, no se

    manifestam de forma isolada e exigem uma interveno multidisciplinar.

    2.3.2. Durao, parcerias e equipa tcnica do projeto

    O Projeto teve uma rea de interveno concelhia de um perodo de execuo de

    4 anos, com incio a 1 de setembro de 2005 e termo a 31 de agosto de 2009, mas

    acabando por se prolongar at junho. De facto, a equipa de trabalho encontrava-se

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    39

    formada a 1 de setembro, de modo a iniciar a planificao das aes, pois a grande

    maioria delas encontra-se ainda em fase de estruturao.

    O Projeto surge da conjugao de parcerias com diferentes instituies: Centro

    Distrital de Segurana Social de Aveiro; Hospital de S. Miguel; Centro de Sade de

    Oliveira de Azemis; Instituto de Emprego e Formao Profissional Centro de

    Formao Profissional de Rio Meo; Cruz Vermelha Portuguesa Ncleo de Cucujes;

    Centro Social Dra. Leonilda Aurora da Silva Matos Fajes; Guarda Nacional

    Republicana; Santa Casa da Misericrdia de Oliveira de Azemis; Centro de Apoio

    Familiar Pinto de Carvalho; Cmara Municipal de Oliveira de Azemis.

    A equipa tcnica do projeto constituda por 1 Coordenador Tcnico formado

    em Poltica Social, 1 Jurista, 1 Tcnico Superior de Servio Social, 1 Tcnico de

    servios Gerais e 1 Administrativo. O Tcnico Superior de Servio Social desenvolve o

    seu trabalho mais centrado numa ao em particular, a ao 5, ficando responsvel pela

    elaborao dos planos integrados das diferentes famlias, levantamento de dados e

    coordenao das aes no meio em que iro decorrer. Os outros quatro elementos

    formam um grupo mais coeso e dinmico, organizando e delineando estratgias de

    divulgao e implementao para as restantes aes do Projeto.

    2.3.3. Aes do projeto

    O projeto engloba um conjunto diversificado de aes num total de 12. As

    primeiras quatro e a ao 12 esto inscritas na rea de interveno 1 (acesso de todos os

    cidados abrangidos pelos projetos e aes aos servios pblicos e divulgao dos

    direitos, deveres e benefcios sociais).

    A primeira ao tem como propsito a implementao de um Centro de

    Alojamento Temporrio (CAT), destinado populao flutuante, famlias desalojadas e

    outros grupos em situao de emergncia social. Este Centro iniciou oficialmente o seu

    funcionamento em maro de 2006. A par do acompanhamento aos indivduos,

    desenvolvido pelo Assistente Social do CAT e pela Psicloga, est a ser realizado um

    trabalho de divulgao do programa, no sentido de albergar mulheres vtimas de

    violncia domstica, podendo acolher tambm os seus filhos.

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    40

    A ao 2 prev a implementao do Banco Local de Voluntariado do Concelho

    de Oliveira de Azemis, de forma a habilitar pessoas interessadas em apoiar atividades

    de mbito social.

    A ao 3 prev a criao do Servio Itinerante de Atendimento Jurdico na rea

    da famlia, de modo a responder s situaes de violncia domstica, dotando os seus

    destinatrios de informao necessria tomada de decises conscientes e autnomas

    que lhes permitam melhores nveis de informao sobre direitos e deveres de cidadania.

    A ao 4 passa pela implementao de um servio de Apoio Domicilirio para

    pequenas reparaes domsticas, a Ajuda Lar, como resposta s necessidades de

    melhoria do nvel habitacional da populao idosa.

    A ao 12 relaciona-se com a dinamizao de aes de Animao Sociocultural,

    com vista realizao de atividades diversificadas de cariz ldico, ocupacional,

    recreativo e desportivo, destinadas ao fortalecimento das relaes humanas, descoberta

    de aptides e participao do pblico alvo na organizao das iniciativas.

    Na rea de Interveno 2 (apoio requalificao dos espaos, proteo

    ambiental, melhoria das condies de habitao e das acessibilidades) podem

    encontrar-se as aes 5, 6 e 7.

    Deste modo, a ao 5, relacionada com o Apoio ao Realojamento na

    Urbanizao Quinta de Laes, tem como destinatrios as famlias realojadas em

    habitao social e destina-se a promover a realizao de cursos de qualificao

    complementada com o apoio social integrado, dinamizao de sesses de informao e

    formao em diferentes reas, o que contempla tambm a constituio de uma

    associao de moradores.

    A ao 6 relaciona-se com a Reabilitao Habitacional, atravs da realizao de

    obras de melhoria habitacional para a populao idosa e populao portadora de

    deficincia.

    A ao 7 visa a melhoria das instalaes da Dianova para o funcionamento do

    Centro de Alojamento Temporrio.

    Na rea de interveno 3 (qualificao das populaes atravs da melhoria das

    competncias pessoais, sociais e profissionais dos indivduos e famlias) encontram-se

    mais trs aes, isto , as aes 8, 9 e 10.

    A ao 8 relaciona-se com a realizao de Aes de Sensibilizao/

    Informao/Formao nas reas da sade, procurando realizar programas especficos de

    melhoria dos nveis de informao, participao e incluso social.

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    41

    A ao 9 passa pela implementao de um Curso de Qualificao na rea do

    Apoio Familiar e Apoio Comunidade, com a finalidade de dotar as pessoas de uma

    qualificao de nvel 2 inserindo-as na vida ativa.

    A ao 10 pretende implementar um Curso de Qualificao na rea da

    Jardinagem e Espaos Verdes, dotando os interessados de uma qualificao de nvel 2

    com vista sua integrao no mercado de trabalho.

    A rea de interveno 4 (fomento de iniciativas econmicas das populaes de

    modo a promover a incluso pelo emprego e a fixao das populaes) conta com a

    ao 11, que passa pela Implementao de uma Empresa de Insero na rea dos

    Servios Domsticos, de modo a aumentar os nveis de competncias pessoais e

    socioprofissionais que melhorem as condies de empregabilidade para os grupos mais

    desfavorecidos.

    2.3.4. Apoio ao realojamento na Urbanizao Quinta de Laes

    Este trabalho foi desenvolvido no mbito da ao 5, designado como programa

    de Apoio ao Realojamento Social na Urbanizao Quinta de Laes, e contemplou

    atividades diversificadas como a instalao e funcionamento de um gabinete de apoio e

    acompanhamento social, a realizao de cursos de promoo de competncias, o apoio

    ao associativismo e iniciativas na rea da animao sociocultural.

    A Urbanizao Quinta de Laes constituda por 5 Blocos de habitao social

    e encontra-se integrada num conjunto de residncias que foram vendidos a preos

    controlados.

    Tendo por base, os acordos de colaborao um primeiro acordo estabelecia a

    construo de 78 fogos em situao de realojamento social. Esto apenas concretizados

    40, que resultaram de duas fases: 16 em 2002, que correspondem aos Blocos B3 e B4, e

    24 em 2003, composta pelos Blocos B5, B6 e B7. Com o Programa Prohabita, que

    pretendia eliminar as barracas, similares (pr-fabricados) e habitaes com falta de

    infraestruturas e segurana, surgiu um segundo acordo para a construo de 95 fogos

    mas ainda sem especificaes definidas de localizao.

    De uma forma geral, todas as aes mencionadas esto interligadas entre si

    trabalhando em conjunto ou completando o trabalho das outras.

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    42

    2.3.5. Meio envolvente

    Os blocos de habitao social, de construo recente, so aqueles que se

    encontram em melhor estado de conservao, o que no se verifica com a conservao

    dos prdios mais antigos nomeadamente ao nvel da pintura exterior.

    possvel distinguir os blocos de habitao social dos restantes. Existe uma

    diferenciao que visvel na utilizao que os moradores do s suas varandas,

    enquanto que dos Blocos B3 ao B7 se verifica uma certa desorganizao, com muita

    roupa estendida e amontoada, nos restantes encontramos um maior cuidado na

    preservao das habitaes, com a colocao, por exemplo, de plantas ornamentais nas

    suas fachadas.

    Ao nvel de infraestruturas de apoio esta urbanizao est servida pela ajuda

    populao portadora de deficincia (CERCIAZ), pelas foras de segurana (GNR), a

    Escola EB 3/Secundria Ferreira de Castro, uma Escola Primria, o Centro de Apoio

    Familiar Pinto de Carvalho, que conta com a valncia de Centro de Acolhimento

    Temporrio para raparigas e rapazes dos 5 aos 12 anos, a valncia de Creche, Infantrio,

    ATL e Lar Feminino de Menores, para raparigas dos 12 aos 18 anos. Esta zona vir

    tambm a ser abrangida pelo novo Centro de Sade que se encontra em fase de

    construo.

    Este conjunto de infraestruturas favoreceu a abertura dos blocos de habitao

    social, integrando as crianas na comunidade e criando disponibilidade para os adultos

    participarem ativamente nos projetos desenvolvidos na sua rea de residncia.

    2.3.6. Diagnstico social

    No diagnstico social realizado pela Tcnica Superior de Servio Social,

    responsvel pela Equipa da Habitao, verifica-se que as pessoas gostam de viver no

    bairro pelo facto de ser essa a sua residncia, mas um nmero significativo delas

    manifesta-se insatisfeito com a falta de cumprimento das regras de condomnio.

    Em relao s infraestruturas que gostariam de ver implementadas na

    urbanizao aparece referida a ocupao de tempos livres e o apoio educativo, enquanto

    que, relativamente oferta formativa se destaca o interesse pelos cursos ocupacionais de

    artes e ofcios, informtica e cidadania. O interesse por temas como hbitos de higiene,

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    43

    alcoolismo, violncia domstica, hbitos alimentares e toxicodependncia, ficou

    tambm demonstrado nesse estudo.

    No diagnstico social, referido que a Urbanizao Quinta de Laes rene 39

    famlias, num total de 144 pessoas. Predominam os agregados com 4 pessoas. Nesta

    populao existe uma variedade de tipos de famlias, sendo a de tipo nuclear aquela que

    predominante com uma representao de 63%, seguem-se as de tipo extensa e

    monoparental com a mesma representao de 13%, as reconstrudas com 5% e as

    alargadas e unipessoais com 3% cada. Em termos de idades referido neste documento

    que se trata de uma populao jovem sendo predominante aquela que tem menos de 19

    anos com 41,4%, enquanto os residentes com idade superior a 60 anos representam

    apenas 8.3%, o que significa que mais de 50% da populao se encontra em idade ativa.

    relevante a percentagem de populao inativa abrangendo mais de metade da mesma

    com 71%. O maior nmero de situaes de inatividade est relacionado com o

    desemprego, seguindo-se os problemas de invalidez e a aposentao. A populao, no

    seu conjunto, tem problemas relacionados com o analfabetismo, o abandono precoce da

    escola e o insucesso escolar. A participao social da populao em atividades no

    exterior muito reduzida.

    So ainda registados problemas de competncias pessoais, familiares/parentais e

    sociais, falta de formao acadmica e dificuldades associados falta de hbitos de

    trabalho e comportamentos aditivos. Consequentemente, verificam-se situaes de

    disfuncionalidade, desorganizao e m gesto familiar, conflitos de vizinhana com a

    ausncia de normas bsicas de convivncia social e uma manifesta resistncia

    mudana.

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    44

    III - METODOLOGIA

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    45

    3. Caracterizao do estudo e apresentao do problema

    O presente trabalho de projeto tem como tema principal a influncia da

    expresso dramtica na qualidade de vida das crianas, estudo esse que vem de encontro

    aos fenmenos de excluso social que se verificam na populao j identificada. A

    nossa ao desenvolveu-se no mbito do Projeto SOLIS, como estrutura de apoio ao

    realojamento da populao.

    medida que nos fomos integrando nessa realidade, constituda essencialmente

    por famlias desfavorecidas, verificmos que um dos aspetos que requeria mais ateno

    era precisamente a falta de qualidade de vida das crianas, manifestando muitas delas

    uma deficiente autoestima, acompanhada por dificuldades de expresso e de

    comunicao que acabavam por conduzir ao insucesso escolar.

    A famlia tem um papel indispensvel na sociedade, constituindo-se como uma

    instituio nuclear que desempenha um papel fundamental na socializao da criana,

    promove junto dela a interiorizao de um conjunto de valores, a construo de uma

    srie de expectativas, a estruturao de formas de pensamento, a incorporao de

    normas de comportamento e desenvolvimento que garantem a sua integrao no todo

    social.

    Relativamente Urbanizao da Quinta de Laes, verifica-se que grande parte

    das famlias manifestam problemas de disfuncionalidade e desagregao, o que se

    reflete nas carncias evidenciadas pelas crianas nas suas competncias, visto que os

    aspetos normalmente associados ao seu desenvolvimento no se encontram

    salvaguardados.

    A compreenso desta realidade passa por entender, Campos afirma, que a

    excluso social um fenmeno transdisciplinar que diz respeito no s ao acesso a bens

    de servios bsicos como existncia de restries ao nvel dos direitos humanos.

    (Campos 2004:33)

    Seguindo esta ordem de ideias o problema que nos propusemos investigar tem

    como ponto de partida a interferncia da excluso social na qualidade de vida das

    crianas, tendo a nossa ao sido orientada no sentido de contribuir, atravs das prticas

    artsticas de expresso dramtica, para a melhoria da integrao e socializao das

    crianas dessa comunidade e do seu desenvolvimento em particular.

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    46

    A possibilidade de valorizar a vida das crianas, constitui o centro das nossas

    preocupaes tendo a nossa ao sido dirigida para responder, por um lado, s

    limitaes que encontrmos, e por outro, aprofundar o conhecimento to necessrio

    nossa formao no campo das artes.

    3.1. Objetivos do estudo

    Com a implementao deste projeto, foi nossa inteno propiciar momentos de

    aprendizagem, atravs da experimentao de atividades de expresso/comunicao, que

    fizessem apelo criatividade e estimulasse as relaes com os elementos do grupo e

    com a comunidade.

    Desse modo, tendo sempre em considerao a opinio dos participantes,

    procurmos compreender, atravs das suas reflexes de que forma a Animao Artstica

    e em particular a Expresso Dramtica, podiam contribuir para a qualidade de vida das

    crianas desta comunidade.

    Nesse sentido procedemos planificao de atividades dramticas que foram

    desenvolvidas no Espao Inter, de acordo com as seguintes finalidades:

    Ob1 Aplicar a Expresso Dramtica como via de desenvolvimento intelectual,

    pessoal e afetivo das crianas intervenientes neste processo;

    Ob2 Contribuir para o aumento dos sentimentos de autoestima, bem-estar e

    estmulo das relaes de confiana;

    Ob3 Estabelecer relaes de proximidade com a comunidade local atravs de

    apresentaes pblicas;

    Ob4 Questionar a realidade a partir de improvisaes tendo como suporte as

    vivncias pessoais, a observao e interpretao do mundo, e os conhecimentos do

    prprio grupo.

    O estudo foi realizado com 16 crianas, 10 do gnero feminino e 6 do gnero

    masculino, e com idades compreendidas entre os 7 e os 16 anos, todas elas integradas

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    47

    no programa de Apoio ao Realojamento Social na Urbanizao Social de Quinta de

    Laes.

    3.2. Metodologia

    Nesse sentido e de acordo com a identificao do contexto da nossa interveno,

    considermos que a metodologia de investigao qualitativa seria aquela que estaria

    mais adequada essncia do nosso trabalho, visto estar associada descrio,

    compreenso e interpretao de fenmenos sociais.

    A opo pelo estudo de caso foi aquela que nos pareceu estar mais prxima do

    objetivo de estudo, pois prendia-se com o interesse em conhecer e descrever prticas e

    concees pessoais, de forma a compreender o processo pelo qual os intervenientes

    constroem significados e em que consistem esses mesmos significados, de acordo com

    Bogdan e Biklen (1994: 70).

    Apesar do padro qualitativo ser dominante tambm recorremos aos aspetos

    quantitativos para fundamentar as interpretaes, explicaes e procedimentos, que

    envolveram estas crianas ao longo desse processo.

    Embora a anlise dos dados das investigaes qualitativas seja essencialmente

    de carter descritivo e interpretativo, nada obsta utilizao de tcnicas quantitativas de

    anlise e interpretao (Figueira, 2001:344).

    Merriam (1991) define estudo de caso qualitativo como sendo uma descrio e

    anlise intensiva e holstica de uma nica entidade, fenmeno ou unidade social. No

    entanto Yin (2005) refere que no podemos confundir o estudo de caso com a pesquisa

    qualitativa, pois uma estratgia de investigao que pode incorporar tcnicas

    qualitativas, quantitativas ou mistas, de acordo com a especificidade do fenmeno que

    se pesquisa. O estudo de caso pode referir-se a um indivduo, a um acontecimento, a um

    programa ou a uma organizao.

    A sua utilizao faz sentido se pretendermos investigar relaes entre indivduos

    num contexto especfico ou interaes entre participantes numa situao definida, ou

    ainda, o comportamento de indivduos num contexto especfico.

    Schram (1971) defende que a essncia de um estudo de caso se relaciona com o

    esclarecimento de uma deciso ou um conjunto de decises, motivo pelo qual foram

    tomadas, como foram implementadas e com que resultados. Deste modo o estudo de

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    48

    caso, uma abordagem metodolgica de investigao adequada compreenso,

    explorao ou descrio de acontecimentos histricos e contextos complexos, em que

    esto envolvidos diversos fatores.

    Para vrios autores (Yin, 1994; Punch, 1998; Gomes Flores e Jimenez, 1996;

    Coutinho&Chaves, 2002) o estudo de caso considerado mais uma estratgia do que

    uma metodologia de investigao. Como refere Goodet&Hatt (1952) o estudo de caso

    no uma metodologia especfica mas antes uma forma de organizar dados preservando

    o carter nico do objeto social em estudo.

    Como refere Godoy (1995), na pesquisa qualitativa o estudo de caso

    corresponde a uma anlise intensa e detalhada de uma unidade de estudo o que implica

    o exame do ambiente de um sujeito ou situao em particular.

    Consideramos que este mtodo foi determinante para conhecer com

    profundidade o nosso trabalho, visto que foram utilizados diferentes abordagens da

    recolha de dados, que contemplaram a observao direta, os dirios de bordo, os

    questionrios, e a consulta de documentao relacionada com este contexto em

    particular.

    3.2.1. Observao participante

    Atravs da observao participante, procurmos proceder a uma anlise

    qualitativa do contexto de estudo e entender, dada a posio particular de proximidade

    com o campo de pesquisa, a complexidade da situao em que estvamos inseridos.

    A importncia da observao participante salientada por Quivy e

    Campenhoudt (1998) quando referem que so os nicos mtodos de investigao social

    que captam os comportamentos no momento em que eles se produzem. A natureza do

    nosso trabalho esteve tambm associada, para alm da integrao na ao, ao

    desenvolvimento da componente reflexiva.

    3.2.2. Tcnicas e instrumentos de recolha de dados

    O investigador recorre a fontes mltiplas de dados e mtodos de recolha

    diversificados: observao direta e indireta, registos udio e vdeo, dirios, cartas e

    documentos como referem Coutinho e Chaves (2002).

  • Instituto Politcnico de Bragana Mestrado em Animao Artstica

    49

    A recolha de dados neste estudo, foi realizada ao longo de vrios meses em

    ambiente natural no Espao Inter.

    Como observadora e investigadora, as tcnicas de recolha de dados incluram a

    recolha documental, a fotografia, o vdeo, o dirio de bordo, e registos de conversas,

    tanto com os sujeitos (objeto de estudo) como com a assistente social, pessoa que

    conhecia melhor a sua realidade.

    Com estes instrumentos procurmos colher dados que correspondam s

    diretrizes que regem o estudo de caso, nomeadamente, a descrio, a reconstruo do

    ocorrido e a procura de solues.

    3.2.3. Inqurito por questionrio

    Foram elaborados dois questionrios (apndice 2 e 14) de forma simples e

    objetiva de modo a manter o interesse na sua concluso expressando-se de forma menos

    comprometida.

    O principal objetivo deste primeiro questionrio, foi tentar perceber se as

    crianas tinham algum conhecimento sobre expresso dramtica, se j tinham

    participado em atividades deste gnero e se esperavam poder desenvolver alguma

    competncia pessoal. Por outro lado pretendeu-se tambm conhecer melhor a realidade

    de cada criana.

    Procedeu-se ento distribuio do questionrio (apndice 2) pelas 16 crianas

    envolvidas tendo sido todos eles entregues depois de preenchidos.

    Depois de finalizadas as atividades foi entregue um segundo questionrio com o

    intuito de sabermos o seu grau de satisfao em termos pessoais e sociais com a

    participao na experincia, todos eles tambm devolvidos atempadamente e em boas

    condies.

    3.2.4. Papel do investigador

    Inicialmente, tnhamos previsto dirigir a nossa investigao para o grupo Nariz

    Vermelho que desenvolve o seu trabal