dispositivo infovis: interfaces entre visualização da informação, infografia e interatividade em...
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Jlia Rabetti Giannella
Dispositivo infovis: interfaces entre visualizao da informao,
infografia e interatividade em stios jornalsticos
Dissertao apresentada Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Comunicao rea de Concentrao: Estudos dos Meios e da Produo Meditica. Linha de Pesquisa: Consumo e Usos Miditicos nas Prticas Sociais. Orientadora: Profa Dra Sandra Maria Ribeiro de Souza
So Paulo 2014
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Autorizo a reproduo e divulgao total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio convencional ou eletrnico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
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Folha de aprovao
Jlia Rabetti Giannella Dispositivo infovis: interfaces entre visualizao da informao, infografia e interatividade em stios jornalsticos
Dissertao apresentada Escola de Comunicaes e Artes da Universidade de So Paulo para obteno do ttulo de Mestre em Cincias da Comunicao.
Aprovado em: Banca examinadora Prof. Dr.: Julgamento: Instituio: Assinatura: Prof. Dr.: Julgamento: Instituio: Assinatura: Prof. Dr.: Julgamento: Instituio: Assinatura:
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Agradecimentos
Professora Dra Sandra Maria Ribeiro de Souza, pela orientao e pelo apoio sempre presentes. Secretaria de Ps-Graduao e biblioteca da Escola de Comunicaes e Artes, pela assistncia acadmica. Capes, pela concesso de bolsa de mestrado para a realizao da pesquisa . minha famlia, namorado e amigos, pelo suporte incondicional e por compreenderem as ausncias dos ltimos tempos.
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Resumo
GIANNELLA, J. R. Dispositivo infovis: interfaces entre visualizao da informao, infografia e interatividade em stios jornalsticos. 2014. 189 f. Dissertao (Mestrado) Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de So Paulo, 2014. A pesquisa busca alcanar novos aportes para estudos em infografia jornalstica medida que investiga qualidades, atividades profissionais e tecnologias envolvidas na produo de uma modalidade infogrfica emergente, o infovis, contextualizada pelas potencialidades do meio digital e on-line, e sintonizada com prticas comunicacionais contemporneas, que supera, em determinados aspectos, modelos infogrficos anteriores. Com vistas a atingir nosso objetivo investigativo adotamos metodologia de pesquisa em duas etapas: 1) reviso conceitual de trs referncias tericas fundamentais visualizao da informao, infografia jornalstica e interatividade; e 2) proposta de anlise de infovis com base na tcnica de pesquisa de anlise de contedo. Assim, o corpus emprico constitudo por 270 infovis de contedo temtico poltico, sobretudo eleitoral, de quatro stios jornalsticos The New York Times, The Guardian, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo veiculados entre jan. 2010 e dez. 2013. A partir de sistemtico procedimento de anlise elaborado segundo unidades e subunidades analticas orientadas pelas trs dimenses tericas do dispositivo infovis (input, interface e output), obtivemos respostas codificadas para todas as peas do corpus. A leitura do formulrio de anlise preenchido gerou resultados e inferncias sobre nossa amostra que apontam para aspectos produtivos pioneiros em infografia, como maior abertura comunicacional audincia, emprego de ferramentas on-line e gratuitas para produo de infovis e utilizao de tecnologia de atualizao contnua dos dados visualizados. Palavras-chave: Jornalismo on-line. Design da informao. Infografia. Infovis. Visualizao da informao. Interatividade. Base de dados.
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Abstract
GIANNELLA, J. R. Infovis device: interfaces between information visualization, infographics and interactivity on journalistic websites. 2014. 189 f. Dissertation (Masters degree) Escola de Comunicaes e Artes, Universidade de So Paulo, 2014. The research seeks to offer new contributions for studies on journalistic infographics by investigating the qualities, professional activities, and technologies involved in the production of an emerging form of infographics, the infovis, within the context of the potential of online environments, in synch with contemporary communications practices, and which overcomes, in certain aspects, previous infographics models. In order to meet our research objective, we employed a two-stage method: 1) conceptual review of three fundamental theoretical subjects information visualization, journalistic infographics, and interactivity; and 2) a proposal for the analysis of infovis based on the technique of content analysis research. Thus, the empirical corpus is made up of 270 examples of infovis with political thematic content, mainly electoral, from four journalistic websites - The New York Times, The Guardian, Folha de S. Paulo and O Estado de S. Paulo published between January 2010 and December 2013. Based on a systematic procedure for analysis, organized by analytical units and subunits, as well as by the three theoretical facets of the infovis device (input, interface and output), we obtained codified responses for all pieces within the corpus. From the reading of the completed analysis form, results and inferences were generated for our sample, which point to pioneering productive features in infographics, such as greater communicative openness with the audience, use of free online tools for the production of infovis, and use of real-time technology for on-screen data. Keywords: Online journalism. Information design. Infographics. Infovis. Information visualization. Interactivity. Database.
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Observaes iniciais aos leitores
Com exceo dos termos design e designer, as demais palavras estrangeiras so apresentadas nesta dissertao em itlico. O termo stio utilizado em detrimento de sua verso estrangeira site. As citaes de textos em idioma estrangeiro foram traduzidas por ns. Este trabalho acompanhado de CD contendo a verso digital da dissertao e o anexo para o formulrio de anlise de contedo preenchido. O formulrio de anlise tambm est disponvel na web no seguinte endereo: Por motivo de limitao de espao, no apresentamos imagens de todos os 270 infovis analisados no corpus da dissertao impressa. Contudo, quatro galerias virtuais foram criadas pela autora contendo imagens e hyperlinks para as peas constituintes da amostra, a saber: The New York Times
;
The Guardian ;
Folha de S. Paulo e
O Estado de S. Paulo .
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Lista de figuras
Figura 1 DIKW model ...................................... p. 23 Figura 2 Livro One Million ............................ p. 29 Figura 3 Cdula eleitoral da cidade
de Palm Beach ................................... p. 32
Figura 4 Linha do tempo da visualizao da informao ....................................
p. 34
Figura 5 Modos de implantao e variveis visuais ............................
p. 47
Figura 6 The best stats youve ever seen ........ p. 51 Figura 7 Pesquisa Eyetracking ...................... p. 62 Figura 8 Mr. Blights House ........................... p. 64 Figura 9 A navegao Brasileira ................... p. 65 Figura 10 Infogrfico vencedor do Malofiej
Awards em 2014 .............................. p. 68
Figura 11 Etapas da anlise de contedo ....... p. 87 Figura 12 Galeria de infovis da
Folha de S. Paulo ............................. p. 103
Figura 13 Esquema representativo das dimenses e unidades de anlise da seo caracterizao ...................
p. 106
Figura 14 Etapas de codificao e reduo ..... p. 119 Figura 15 Voter apathy 1964-2010:
Whats changed? .............................. p. 124
Figura 16 Local elections 2013: results mapped .................................
p. 125
Figura 17 Veja quem mais popular: Dilma ou o governador ...................
p. 126
Figura 18 A evoluo do custo dos partidos para os cofres pblicos .....................
p. 127
Figura 19 Cartograma ...................................... p. 129 Figura 20
Quatro infovis com qualidade de atualizao contnua ..................
p. 134
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Lista de figuras
Figura 21 At the Democratic Convention,
the Words Being Used ..................... p. 140
Figura 22 Obamas 2011 Budget Proposal ..... p. 141
Figura 23 The Electoral Map ........................... p. 142
Figura 24 Over the Decades, How States Have Shifted .......................................
p. 143
Figura 25 The Election Will Be Tweeted (and Retweeted) ...............................
p. 145
Figura 26 Estado de Dados ............................ p. 150
Figura 27 Abordagens comunicacionais ....... p. 156
Figura 28 Estrutura copo de Martini .............. p. 158
Figura 29 Corruption index 2010 ...................... p. 159
Figura 30 Estrutura slideshow interativo ....... p. 160
Figura 31 Diferentes configuraes visuais para The Electoral Map ...................
p. 162
Figura 32 Estrutura de profundidade ............. p. 163
Figura 33 Basmetro ......................................... p. 164
Figura 34 Gay Marriage bill: how did your MP vote? ..................................
p. 168
Figura 35 Flickr da seo Datablog ................. p. 169
Figura 36 You decide the 2012 US presidential election .........................
p. 174
Figura 37 Do you think Scotland should become independent? .......................
p. 175
Figura 38 What One Word Describes Your Current State of Mind? .....................
p. 176
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Lista de grficos
Grfico 1 Aumento da produo infogrfica
no suporte on-line ............................. p. 75
Grfico 2 Atualizao contnua cruzada com temtica ....................................
p. 134
Grfico 3 Distribuio de infovis por natureza de hibridizao e por veculo comunicativo ......................
p. 138
Grfico 4 Distribuio de infovis por veculo comunicativo e por editoria ...........
p. 149
Grfico 5 Mdia do gradiente de mediao e do gradiente de interatividade, por veculo comunicativo ...............
p. 152
Grfico 6 Guia para interpretar o modelo comunicacional do dispositivo infovis ......................
p. 157
Grfico 7 Distribuio de infovis por veculo comunicativo e por ao participativa .....................
p. 172
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Lista de quadros
Quadro 1 Inflao de dados ........................... p. 25 Quadro 2 Escala de Iconicidade
Decrescente ..................................... p. 36
Quadro 3 Hierarquia de definies de trabalho relacionadas visualizao da informao .........
p. 40
Quadro 4 Atividades, tecnologias e objetivos da visualizao de dados .........................................
p. 42
Quadro 5 Taxonomia de tipos de representao grfica da visualizao ..............................
p. 43
Quadro 6 Relaes entre os dados observados por diferentes autores ............................................
p. 45
Quadro 7 Geraes e produtos do jornalismo on-line ..........................
p. 58
Quadro 8 Definies e extenses de uso da infografia ..................................
p. 69
Quadro 9 Geraes da infografia no suporte on-line .........................
p. 77
Quadro 10 Aes participativas ..................... p. 85 Quadro 11 Relao da amostra de infovis
do The New York Times ............... p. 94
Quadro 12 Relao da amostra de infovis do The Guardian ...........................
p. 97
Quadro 13 Relao da amostra de infovis da Folha de S. Paulo .....................
p. 99
Quadro 14 Relao da amostra de infovis de O Estado de S. Paulo ...............
p. 100
Quadro 15 Distribuio das unidades e subunidades de anlise ..............
p. 107
Quadro 16 Recursos do gradiente de mediao ...................................
p. 111
Quadro 17 Recursos do gradiente de interatividade ............................
p. 114
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Lista de tabelas
Tabela 1 Distribuio de infovis analisados
por veculo de comunicao ......... p. 102
Tabela 2 Resultados da dimenso input de anlise ..........................................
p. 121
Tabela 3 Resultados da dimenso interface de anlise ..........................
p. 136
Tabela 4 Resultados da dimenso output de anlise ..............................
p. 151
Tabela 5 Mdia de gradientes de mediao e de gradiente de interatividade por veculo comunicativo ..............
p. 153
Tabela 6 Codificao dos gradientes de Corruption index 2010 ................
p. 159
Tabela 7 Codificao dos gradientes de The Electoral Map ........................
p. 161
Tabela 8 Codificao dos gradientes do Basmetro ...................................
p. 164
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Sumrio
INTRODUO ........................................................................................................................... p. 14 1. INFORMAO NO CONTEXTO DO DESIGN ......................................................................... p. 19
1.1 DO DADO SABEDORIA ................................................................................. p. 22 1.2 COMUNICAO NA ERA DA INFORMAO EXCEDENTE ........................ p. 25 1.3 VISUALIZAO DA INFORMAO ................................................................. p. 34
1.3.1 Reviso terminolgica e conceitual ..................................................... p. 34 1.3.2 Classificao da representao grfica .............................................. p. 43 1.3.3 Tornando a realidade visvel e tangvel ............................................... p. 48
2. JORNALISMO ON-LINE E REPRESENTAO VISUAL ........................................................ p. 53 2.1 ESTILO JORNALSTICO .................................................................................... p. 53
2.1.1 Caractersticas do jornalismo on-line .................................................. p. 55 2.2 REPRESENTAO VISUAL NO JORNALISMO ............................................. p. 60
2.2.1 Infografia jornalstica ........................................................................... p. 62 2.2.2 Infografia: um breve apanhado histrico ............................................. p. 63 2.2.3 Divergncias de terminologia, conceito e extenso de uso ................ p. 66 2.2.4 Infografia no suporte digital e on-line .................................................. p. 75
2.2.5 Infovis como dispositivo interacional .................................................. p. 80 3. PROPOSTA DE ANLISE DE INFOVIS ................................................................................. p. 86
3.1 AMOSTRAGEM .................................................................................................. p. 88 3.1.1 Escolha dos stios jornalsticos ........................................................... p. 88 3.1.2 Escolha do perodo de anlise ............................................................ p. 90 3.1.3 Escolha da categoria de contedo analisada ..................................... p. 90 3.1.4. Delimitao do corpus ................................................................. p. 92
3.2 UNITIZAO ...................................................................................................... p. 104 3.2.1 Dimenso de input do dispositivo ....................................................... p. 108 3.2.1.1 Unidade tecnologia ............................................................ p. 108 3.2.2 Dimenso de interface do dispositivo ................................................. p. 110
3.2.2.1 Unidade design ................................................................... p. 110 3.2.2.2 Unidade tratamento jornalstico .......................................... p. 111
3.2.3 Dimenso de output do dispositivo .................................................... p. 114 3.2.3.1 Unidade interatividade ......................................................... p. 114 3.2.3.2 Unidade participao .......................................................... p. 116
3.3 CODIFICAO E REDUO ............................................................................ p. 119 4. INTERPRETAO DOS DADOS ........................................................................................... p. 121
4.1 DIMENSO INPUT ............................................................................................. p. 121 4.1.1 Ferramenta de produo ..................................................................... p. 122 4.1.2 Atualizao contnua ........................................................................... p. 132 4.2 DIMENSO INTERFACE ................................................................................... p. 136 4.2.1 Modo de organizao da informao ................................................. p. 137
4.2.2 Temtica .............................................................................................. p. 146 4.3 DIMENSO OUPUT ........................................................................................... p. 151
4.3.1 Gradiente de mediao versus gradiente de interatividade ............... p. 152 4.3.1.1 Abordagens direcionadas pelo autor e pelo usurio ................. p. 155
4.3.1.2 Extrao de dados ................................................................ p. 166 4.3.2 Contedo gerado pelo usurio ............................................................ p. 172
CONSIDERAES FINAIS ........................................................................................................ p. 178 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................................................ p. 182
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Introduo
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Introduo
A presente pesquisa de mestrado resultado do entrelaamento de trs
referncias tericas e prticas abordadas por quem transita entre reas da
Comunicao Social e do Design: visualizao da informao, infografia jornalstica e
interatividade. Da interligao entre esses trs eixos emerge o infovis, neologismo
assumido por ns para designar objeto de estudo emergente e pioneiro,
contextualizado pelo fenmeno do Big Data,1 que inaugura prticas pioneiras em
jornalismo de dados, e pelas tecnologias e potencialidades do meio digital e on-line,
que proporcionam o desenvolvimento de produtos miditicos com novas qualidades.
A definio do tema origina-se de percurso investigativo construdo desde a
defesa da monografia de graduao, em 2010, quando se optou por estudar e
desenvolver infogrficos jornalsticos impressos sobre a Copa do Mundo de Futebol,
realizada na frica do Sul. A trajetria profissional tambm contribui com
desdobramentos sobre o assunto da pesquisa: a passagem da funo de diagramadora
no jornal impresso O Globo (2009-2011) ao posto de designer de interface para tablets
na Editora Abril (2011-2012) suscitou uma srie de reflexes sobre a transio dos
produtos miditicos impressos para plataforma digital e on-line, sobretudo acerca dos
novos formatos para infogrficos com base em dados e suas possibilidades interativas.
Finalmente, o encontro desses interesses investigativos com a superviso de uma
orientadora inserida na linha de pesquisa Consumo e Usos Miditicos nas Prticas
Sociais, com tradio de estudo em Design da Informao, possibilitou a realizao da
presente dissertao.
O exerccio intelectual atividade, muitas vezes, no linear, apoiada em
flexes e reflexes, descobertas e retornos. Por configurar-se como produto
miditico interdisciplinar, extremamente atual, em transformao e sintonizado
com prticas comunicacionais contemporneas, a proposta de estudo sobre o objeto
infovis tarefa desafiadora. como falar sobre algo que comea a ser discutido por
1 Big Data expresso usada para descrever o acelerado crescimento de dados. Em 2001, o Grupo Gartner, Centro de Pesquisa em Tecnologia da Informao, estabelecido em Connecticut, Estados Unidos, definiu desafios e oportunidade do crescimento vertiginoso de dados por meio da avalio de trs parmetros: volume crescente (quantidade de dados), velocidade (entrada e sada de dados) e variedade (tipos e fontes de dados).
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Introduo
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vrias reas do conhecimento, possui diferentes denominaes, abordagens e
extenses de uso, e, portanto, carece de referncias tericas e prticas integradas e
consolidadas. nesse sentido que o projeto original foi reformulado ao longo de
dois anos e meio de pesquisa, tornando-se cada vez mais claro e coerente quanto a
seus propsitos, acompanhando, sempre que possvel, discusses acadmicas e
profissionais a respeito do tema to logo divulgadas. Partindo destas observaes, a
dissertao estrutura-se, em captulos e subcaptulos, de forma a, primeiramente,
apresentar definies e contextos de cada referncia fundamental da pesquisa
visualizao da informao, infografia jornalstica e interatividade , para, a partir
de suas interaes, propor objetivos investigativos e procedimentos metodolgicos
para um objeto comunicacional em emergncia o infovis,2 que, em definio inicial,
constitui-se como um infogrfico interativo baseado no cruzamento de dados.
Assim, o primeiro captulo tem como pano de fundo a transformao dos
processos comunicacionais diante da saturao de dados gerados e disponibilizados
de forma gratuita e acessvel por meio de um modelo circulatrio e multidirecional
em rede, que denominamos web. Nesse cenrio, o controle sobre a coleta de dados
brutos e suas transformaes em informaes significativas, realizadas em grande
parte pelos mediadores, constitui grande desafio e desejo para os mais diversos
setores da denominada Sociedade da Informao, entre os quais empresas de
comunicao. nesse sentido que abordamos a visualizao da informao
modalidade de organizao e apresentao visual da informao que pertence ao
universo maior constitudo pelo Design da Informao como alternativa para
manipular dados e proporcionar fluxos comunicativos dialgicos. A visualizao da
informao proporciona sociedade novos usos da informao bem como modos
alternativos de aquisio e produo de conhecimento, facilitando a compreenso de
grande quantidade de dados uma vez que evidencia suas relaes quantitativas,
geogrficas, temporais, grupais e conectivas em processo tanto dirigido pela
mediao dos comunicadores como orientado por atividades de sense-making3
realizadas pelo polo receptor.
2 Infovis, reiteramos, neologismo assumido por ns para designar o objeto estudado na presente dissertao caracterizado pela convergncia da visualizao da informao, da infografia jornalstica e da interatividade. 3 A expresso sense-making utilizada para designar um processo comunicacional e bidirecional no qual interagentes, individual ou coletivamente, participam das atividades de produo de sentido (DERVIN, 2000).
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Introduo
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O segundo captulo traa breve panorama do jornalismo on-line, apontando
caractersticas do suporte em rede que significam adaptao e desenvolvimento de
atividades e produtos jornalsticos orientados para a emergente conjuntura
tecnolgica-social. Diante de novas possibilidades produtivas e novas dinmicas de
trabalho, o infogrfico jornalstico uma manifestao do jornalismo visual ancorada,
tradicionalmente, na unio de imagem, texto e elementos esquemticos com
finalidade informativa se renova e sinaliza a necessidade de incluir, na discusso
acerca da disciplina infografia, aspectos como anlise e cruzamento de dados,
interatividade e participao do usurio. nesse contexto que evidenciamos o
surgimento de uma precursora modalidade infogrfica, o infovis, que introduz novos
formatos e dinmicas de apresentao e narrativa jornalsticas, considerando a
natureza heterognea dos dados e a complexidade informativa contempornea.
Assim, o infovis compreende dispositivo miditico que conjuga, em sua interface,
modalidades e organizaes visuais oriundas da visualizao da informao para
representar e comunicar contedos jornalsticos baseados em dados, ao mesmo tempo
em que oferece recursos interativos que permitem aos usurios tornar-se mais ativos
no processo comunicacional, explorando e, em alguns casos, ressignificando
contedos visualizados.
Uma vez situado nosso objeto de estudo, definimos que a questo central dessa
pesquisa seria compreender aspectos do dispositivo infovis que o diferenciam de
outras modalidades infogrficas e que o sintonizam com prticas comunicacionais
contemporneas. Dessa forma, delineia-se cenrio investigativo marcado por duas
abordagens comunicacionais com nfases diferentes, mas no excludentes: modelo
direcionado pelo autor, que representa infovis mais explanatrios, com nfase na
linearidade, mediao e tratamento narrativo-jornalstico e modelo direcionado pelo
usurio, que representa infovis marcados pelo grau relativamente maior de autonomia
que cada usurio tem de participar de seus percursos informacionais e buscar
significaes por meio de recursos interativos de explorao do contedo e aes
participativas. Em torno dessa questo central, estabelecemos os seguintes objetivos de
pesquisa abordados no terceiro captulo:
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Introduo
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1. desenvolver um protocolo de anlise orientado pelas dimenses que caracterizam o
infovis como um dispositivo interacional no jornalismo on-line: tecnologia de
produo (input), mediao comunicacional (interface) e interatividade (output);
2. delimitar um corpus de anlise que possa ser submetido ao protocolo de anlise,
gerando resultados especficos e inferncias estendidas;
3. a partir da interpretao dos dados codificados segundo o protocolo de anlise,
gerar resultados e inferncias sobre o panorama atual e futuro para a produo de
infovis em stios jornalsticos.
O terceiro captulo apresenta, em detalhes, a metodologia de pesquisa adotada
para responder aos objetivos levantados. De modo geral, estudos consultados sobre
infogrficos, impressos ou digitais, apresentam dois caminhos para delimitao do
corpus: 1) exemplos ilustrativos dentro de determinada proposta de anlise e 2)
oposio entre boas e ms solues, em termos sintticos e pragmticos. No entanto,
diante do fato de nosso objeto ser pouco discutido e sistematizado, consideramos mais
interessante, do ponto de vista investigativo, adotar procedimento metodolgico por
amostragem, selecionando infovis com diversos nveis de complexidade de produo.
Dessa forma, nosso corpus composto por uma variedade de peas, desde as premiadas
em concursos de infografia quelas que passam despercebidas dos olhares de estudiosos
e especialistas. Para delimitao do corpus, apresentamos proposta de anlise de infovis
de contedo poltico, sobretudo eleitoral, por meio da tcnica de pesquisa anlise de
contedo. Segundo procedimentos criteriosos, a anlise de contedo compreende uma
importante e dispendiosa etapa da nossa pesquisa, a elaborao dos dados, que
desdobrada em quatro subetapas. Na primeira subetapa, unitizao, so elaboradas
unidades e subunidades de anlise orientadas pelas trs dimenses tericas do
dispositivo infovis (input, interface e output); na segunda, amostragem, delimitado um
corpus de anlise contendo 270 infovis de recorte temtico poltico, publicados em
perodo de quatro anos (jan. 2010 a dez. 2013) e procedentes de quatro stios
jornalsticos (The New York Times, The Guardian, Folha de S. Paulo e O Estado de S.
Paulo); na terceira, codificao, realiza-se preenchimento do formulrio de anlise
segundo operaes previstas na unitizao; finalmente, durante a reduo, so
realizados procedimentos de depurao do protocolo de anlise.
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Introduo
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A interpretao dos dados, apresentada no quarto captulo, resultado de
leitura sistemtica realizada ora por meio de operaes de mdia absoluta da
ocorrncia das respostas de cada subunidade de anlise, ora por meio de cruzamentos
entre respostas de determinadas subunidades a fim de buscarem-se relaes entre elas.
Resultados especficos para o corpus, assim como inferncias que podem expandir-se
para outros infovis e possveis encaminhamentos para produo infogrfica realizada
no ambiente on-line, so discutidos e confrontados com referncias tericas
exploradas e com os objetivos de anlise propostos.
Nas Consideraes Finais, retomamos inferncias e resultados discutidos,
enfatizando que eles no esgotam possibilidades de interpretao dos dados da
anlise, mas constituem aspectos que consideramos mais relevantes para delimitar
potencialidades, cenrios futuros e desafios para o infovis que, em ltima anlise,
repercutem na ampliao investigativa sobre o estado da arte da disciplina infografia.
De modo geral, as concluses da anlise sobre infovis encaminham-se para duas
principais reflexes. Primeiramente, a polarizao entre dois modelos
comunicacionais dirigido pelo autor e dirigido pelo usurio desdobra-se no
conflito entre procedimentos de controle versus aes de abertura estabelecidos pelos
veculos jornalsticos e seus produtos miditicos. Em segundo lugar, o exerccio
interdisciplinar e as inovaes tecnolgicas, aos quais se submetem a disciplina
infografia e as atividades profissionais a ela relacionadas, repercutem em questes
como democratizao de tecnologias de produo infogrfica, tenses e articulaes
entre especialistas e no especialistas em design e renovao do processo produtivo
jornalstico nas fases de apurao, produo e circulao do contedo.
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Informao no contexto do Design
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1. Informao no contexto do Design
O Design da Informao pode ser compreendido como disciplina que atua no processo comunicacional facilitando a compreenso de uma mensagem ou
como atividade que exerce aes em torno da organizao, planificao e
apresentao de determinada informao. Como disciplina ou atividade
profissional, a fundamentao terica do Design da Informao escassa, e isso
ocorre por dois principais motivos: 1) embora alguns autores reconheam a prtica
do Design da Informao desde as primordiais pinturas das cavernas do homem
pr-histrico,1 o exerccio intelectual e acadmico a seu respeito recente e pouco
sistematizado e 2) sua prtica extremamente dependente do contexto em que ela
se realiza, o que dificulta uma metodologia que possa ser replicada na anlise e
avaliao de seus objetos. Todavia, se no h receitas para o Design da Informao,
existem aspectos fundamentais que devem ser considerados durante seu processo,
a saber: a definio dos objetivos (por qu?; para qu?); a quem nos dirigimos
(para quem?), a definio do contexto (onde e quando?) e a estrutura da
informao (por quais meios?).
Horn (2000), ao defender que o Design da Informao uma das mais
recentes manifestaes da Comunicao, o definiu como [...] a arte ou a cincia de
preparar a informao de maneira que ela possa ser usada pelos indivduos com mais
eficincia e efetividade (HORN, 2000, p. 15). O autor identifica trs objetivos para o
Design da Informao:
1. desenvolver documentos compreensveis para assimilao rpida e precisa, e que
sejam facilmente convertidos em aes efetivas;
1 Existem divergncias a respeito do incio das atividades constituintes bsicas do Design da Informao. Horn (2000, p. 17) identifica a origem e histria do Design de Informao a partir de invenes de unidades comunicativas especficas (grfico de barras e linhas do tempo, por exemplo), o que s teria ocorrido no sculo XVIII. J Meggs e Purvis (2009, p. 18-19) reconhecem nas pinturas rupestres nas marcas, smbolos, figuras e letras traadas ou escritas sobre uma superfcie formas naturais de comunicar ideias, de registrar e transmitir informao.
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Informao no contexto do Design
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2. projetar interaes fceis, naturais e prazerosas para interfaces homem-
computador;
3. auxiliar pessoas a encontrar caminhos em espaos tridimensionais com conforto e
facilidade, especialmente em ambientes urbanos, mas tambm em espaos
virtuais.
Esses trs objetivos podem ser encaminhados para finalidade mais geral e
ampla: [...] assegurar a efetividade da comunicao mediante a facilitao dos
processos de percepo, leitura, compreenso, memorizao e uso da informao
apresentada (FRASCARA, 2011 p. 11). Com essas palavras, Frascara sugere que a
essncia do Design de Informao necessariamente centrada no usurio e em suas
necessidades, o que faz com que o objetivo primordial de sua atividade se desloque da
produo de objetos em si para a produo de sentidos para e pelo pblico:
A noo do design centrado no usurio parte do pressuposto de que o objetivo do design no a produo de objetos, mas a gerao de reaes desejadas nas pessoas. O problema central do designer de informao a criao de meios que sirvam para as pessoas aprenderem, recordarem, aturarem, interagirem (com objetos, pessoas e informaes), realizarem seus desejos e satisfazerem suas necessidades (FRASCARA, 2000, p. 23).
Justamente porque so produzidos para ser usados o que estabelece sua
intencionalidade pragmtica os produtos do Design da Informao, sem as excluir,
afastam-se de certas faculdades do Design Grfico e das Belas Artes: aspectos
estilsticos e estticos devem ser secundrios em relao aos princpios de claridade,
preciso, legibilidade, compreensibilidade e simplicidade (HORN, 2000, p. 25), que
operam para que a informao se torne acessvel, apropriada, atrativa, confivel,
concisa, completa, relevante, oportuna e compreensvel (FRASCARA, 2011 p. 10). O
Design da Informao no substitui as capacidades do Design Grfico e de outras
disciplinas visuais, mas estabelece a estrutura pela qual elas so expressas
(SHEDROFF, 2000, p. 270). O exemplo a seguir evidencia essa diferena:
[...] capas de discos. Um mesmo objeto mostra a diferena entre o Design Grfico (na capa) e o Design da Informao (na contracapa). Na frente, pode-se passar qualquer
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Informao no contexto do Design
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mensagem, pode-se at contrariar a mensagem do artista, se ele, e/ou o produtor, assim o quiser, ou concordar, naquele momento, naquele lanamento. s vezes no necessrio nem escrever o nome do artista, na frente. Mas, do outro lado, eu, como usurio, quero saber rapidamente sem esforo [...] alm do nome do artista, quais so as msicas, os autores, os msicos [...]. Tudo em tipo de letra no menor que Corpo 9 (REDIG, 2004, p. 49).
O processo do Design da Informao ocorre em dois momentos distintos: a
organizao da informao (o contedo e suas unidades de sentido, textos e imagens)
e a codificao e implementao de sua apresentao visual. Essas tarefas requerem
habilidades e conhecimentos interdisciplinares para processar, organizar e apresentar
a informao em formas lingusticas (escrita) e no lingusticas (a imagem em seu
sentido mais amplo), e resultam em uma multiplicidade de sistemas texto-visuais
como, por exemplo, projeto grfico de livros, sinalizao de ambientes, design
instrucional de materiais didticos e, finalmente, visualizao de informaes, que
ser explorada mais densamente nesta dissertao. A visualizao da informao um
produto do Design da Informao que no tem fim em si mesmo e pode ser
compreendido como potencial modalidade comunicacional.
Tentativas de teorizao sobre a disciplina estabelecem perspectivas
interessantes sobre o Design da Informao: no h nada de natural na informao.
Ela sempre construda (DERVIN, 2000, p. 36). A autora assim prope o conceito de
sense-making, isto , um processo comunicacional e bidirecional no qual indivduos,
individual ou coletivamente, participam dos processos de produo de sentido. Como
consequncia, [...] o design da informao , de fato, metadesign: design sobre design,
design para ajudar indivduos a fazer e desfazer suas prprias informaes, seus
prprios sentidos (DERVIN, 2000, p. 43). Essa abordagem do Design da informao,
embora possa ser problematizada em determinados discursos de efeito informacional,
sobretudo no Jornalismo, aproxima-se da forma como pretendemos tratar a
visualizao da informao, em seu sentido estrito, um processo comunicacional de
representao visual de dados que, ao mesmo tempo em que transmite e explana
ideias segundo um ponto de vista, possibilita a explorao do contedo por meio de
dilogo interativo com o receptor e, consequentemente, estimula formulao de
pensamento e gerao de sentidos. A perspectiva de Dervin encontra eco na defesa de
Frascara (2011) de que mensagens produzidas pelo Design da Informao no so
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Informao no contexto do Design
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apenas recebidas, mas sim interpretadas pelas pessoas (FRASCARA, 2011, p. 9). Para
o autor trata-se, sobretudo, de um processo comunicacional bidirecional emissorinterpretante, e que atualizaremos, dentro de nossos propsitos, para produtorusurio, no qual este ltimo interagente busca estabelecer significaes mediante
processo interativo que amplifica sua cognio. Nessa mesma linha de pensamento,
dois conceitos interligados nas atividades relacionadas ao Design da Informao so
distinguidos: edificao e comutatividade (JACOBSON, 2000, p. 2). Enquanto o
primeiro termo se refere ao processo de iluminao estabelecido no sentido
emissor>receptor, o segundo destaca a ao mtua entre produtor e usurio envolvida
no processo de significao. Embora as duas lgicas, muitas vezes, coexistam nos
produtos derivados do Design da Informao, nossa nfase ser na segunda, pois ela
reconhece e utiliza a natureza interativa e relacional da Comunicao.
Por produtos de Design da Informao compreendemos: design editorial
(livros, revistas, etc.); tabelas alfanumricas (horrios e diversos tipos de tabelas);
representaes grficas como grficos, diagramas e infogrficos; material didtico;
documentos administrativos (formulrios, boletos, etc.); instrues visuais (manuais,
regras de jogos, bulas de remdios, etc.); sistemas de sinalizao; catlogos, programas,
prospectos de exposies; interfaces para meios eletrnicos (FRASCARA, 2011).
Dentro desse amplo e difuso conjunto de possibilidades, nos concentramos em uma
modalidade especfica de infogrficos que, no jornalismo on-line, se configura como
um dispositivo comunicacional que articula trs dimenses em seu processo
produtivo: 1) input (tecnologia), interface (mediao de designers e jornalistas) e
output (recursos interativos de explorao do contedo e aes participativas).
1.1 DO DADO SABEDORIA O aumento da quantidade de informao disponvel e acessvel requer ampliao
do campo da arquitetura da informao, saber focado na combinao de princpios do
design e da arquitetura em espaos digitais, para que os dados possam ser organizados e
gerar sentido (WURMAN, 1991). Diante desse cenrio, o autor sugere que o grande
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Informao no contexto do Design
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desafio da era da informao evitar a ansiedade da informao,2 isto , evitar o buraco
negro entre dado e conhecimento.
Figura 1 DIKW model. Fonte: Shedroff, 2000, p. 271.
Essa lacuna evidenciada na Figura 1, o DIKW model3 (data, information,
knowledge, wisdom), esquema proposto por Shedroff (2000, p. 271) no qual os dois
extremos da mxima de Wurman (dado e conhecimento) so apresentados. No modelo,
quatro conceitos, frequentemente associados ao tratamento visual de mensagens
comunicativas, dado > informao > conhecimento > sabedoria, so evidenciados de
forma contnua. Ao propor o esquema, Shedroff atualizou esses quatro conceitos para o
contexto contemporneo das mdias digitais, tornando-o conhecido entre os que
estudam ou trabalham com Design e Arquitetura da Informao.
Dados (data) so produtos de pesquisa, criao, coleta ou descoberta.
Constituem o material bruto utilizado na construo de mensagens comunicativas. Para
ser entregues aos consumidores, precisam transformar-se e organizar-se em
2 Ansiedade da informao a traduo da expresso information anxiety, cunhada por Wurman e que intitulou seu livro. 3 DIKW model um modelo amplamente estudado no campo da arquitetura da informao. Diversos autores estudaram e reformularam o modelo, sendo que o que apresentamos no presente trabalho oportuno para nossos propsitos.
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Informao no contexto do Design
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informao (information), de maneira a revelar contedos e relaes significativas. Essa
transformao abrange, no mnimo, dois momentos do Design da Informao: 1) uma
organizao lgica dos dados e 2) uma apresentao apropriada da estrutura.
exatamente nessa transformao (dados > informao) que os comunicadores assumem
suas funes mediadoras, e a visualizao da informao torna possvel a construo do
conhecimento ao revelar padres subjacentes aos dados (DRSTELER, 2000, p. 24). O
conceito de informao ontologicamente relacionado ideia de causalidade
(PASQUALL, 2005). Para o autor, o termo informao pode ser rastreado desde a era
clssica [...] denotando a interpenetrao ou imposio de uma forma, ideia ou
princpio, com ou em matria, que assim se tornava in-formada ou formada
(PASQUALL, 2005, p. 25). Informar conota a mensagem transmitida
unidirecionalmente a um receptor passivo que ter seu comportamento direta e
imediatamente afetado. Em contraponto ideia de Comunicao, informao expressa
um relacionamento comunicativo menos equilibrado e [...] tende a produzir mais
verticalidade do que igualdade, mais subordinao do que reciprocidade [...]
(PASQUALL, 2005, p. 25). No toa, o uso do termo informao foi, durante dcadas,
quase monopolizado por jornalistas. Conhecimento (knowledge) e sabedoria (wisdom)
so etapas pertencentes esfera dos consumidores da informao e correspondem a
graus diferentes de compreenso das informaes apresentadas, processadas e
internalizadas por meio de experincias pessoais e intransferveis. O conhecimento a
compreenso alcanada via a experincia do usurio e implica a construo de
interaes com indivduos ou com ferramentas de modo que os padres e significados
em suas informaes possam ser percebidos e aprendidos pelos usurios em contexto
local. A sabedoria a compreenso profunda do conhecimento adquirido, sendo
extremamente pessoal e abstrata. No podemos criar sabedoria assim como coletamos
dados e os transformamos em informaes, nem podemos compartilh-la como
fazemos com o conhecimento. Finalmente, a sabedoria constitui um nvel de
compreenso que s pode ser obtido individualmente.
A partir dessas definies, percebemos o modelo proposto por Shedroff (2000)
como um processo contnuo que comea nos dados e termina na sabedoria, passando
pela informao e pelo conhecimento.
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Informao no contexto do Design
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A apresentao clara e efetiva da informao objetivo dos processos e
produtos do Design da Informao, particularmente a infografia jornalstica constitui-
se, por esse modelo, na base do processo de aquisio de conhecimento.
1.2 COMUNICAO NA ERA DA INFORMAO EXCEDENTE Uma edio do The New York Times em um dia da semana contm mais
informao do que o comum dos mortais poderia receber durante toda uma vida na
Inglaterra do sculo XVIII (WURMAN, 1991, p. 36). Com essa afirmao, publicada
originalmente em 1989, Wurman alerta-nos para a velocidade da produo de
informao que j se institua na sociedade h trs dcadas e que hoje nomeamos como o
fenmeno do Big Data. A preocupao do autor dirigia-se ao fato de que o aumento
gradativo de dados, fatos e nmeros no gera, necessariamente, conhecimento, pois entre
os dois nveis do DIKW model (dados e conhecimento) preciso haver a transformao
clara e significativa de dados em informao.
A revista inglesa The Economist publicou, no incio de 2010, a previso do
International Data Corp (IDC), empresa especializada em pesquisa de mercado, de
que a quantidade de dados digitais gerados naquele ano atingiria 1.200 exabytes,
sendo um exabyte equivalente a 10 bilhes de cpias de uma publicao (Quadro 1).
verdade que grande parte dos bytes gerados produto de processos automticos
somente entre computadores e outros dispositivos e, a princpio, no servem para
gerar conhecimento efetivo para os leitores; ainda assim, grande o desafio de
manipular e apresentar a massa de dados para que esses possam ser estruturados em
informaes significativas e gerar sentidos.
Quadro 1 Inflao de dados
Unidade Tamanho O que significa
Bit (b) 1 ou 0 Abreviao para binary digit (dgito binrio), cdigo binrio (1 ou 0) utilizado pelos computadores para armazenar e processar dados.
Byte (B) 8 bits Informao suficiente para criar uma letra ou nmero no cdigo computacional. a unidade bsica da computao.
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Informao no contexto do Design
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Kilobyte (KB) 1.000 ou 210 bytes De mil em grego. Uma pgina de texto corrido equivale a 2KB.
Megabyte (MB)
1.000 KB ou 220 bytes De grande em grego. A obra completa de Shakespeare totaliza 5 MB. Uma tpica msica pop tem cerca de 4MB.
Gigabyte (GB) 1.000 MB ou 230 bytes De gigante em grego. Um filme de duas horas pode ser comprimido em 1-2GB.
Terabyte (TB) 1.000 GB ou 240 bytes De monstro em grego. Todos os livros catalogados da Biblioteca do Congresso (Washington, D.C., Estados Unidos) totalizam 15TB.
Petabyte (PB) 1.000 TB ou 250 bytes Todas as cartas entregues pelos correios americanos este ano alcanaro cerca de 5PB. O Google processa cerca de 1PB por hora.
Exabyte (EB) 1.000 PB ou 260 bytes Equivale a 10 bilhes de cpias do The Economist.
Zettabyte (ZB) 1.000 EB ou 270 bytes 1.2ZB a quantidade total de informao existente prevista para ser alcanada este ano.
Yottabyte (YB)
1.000 ZB ou 280 bytes Demasiadamente grande para se imaginar.
Nota: Os prefixos foram estabelecidos pelo grupo internacional de padronizao The International Bureau of Weights and Measures. Yotta (YB) e Zetta (ZB) foram adicionados em 1991. Termos para quantificao de medidas maiores ainda no existem.
Fonte: The Economist, 2010. 4
Trs atividades podem ser associadas difuso da informao no processo
comunicacional: armazenamento, transmisso e compreenso (WURMAN, 1991, p.
54). O modelo transmissionista (emissor>mensagem>canal>receptor), que por muito
tempo vigorou como modelo tradicional de comunicao de massa, atualmente
renova-se para paradigmas mais dialgicos, nos quais: 1) transmisso atualiza-se em
circulao (FAUSTO NETO, 2010); 2) o papel de receptor se torna complexo na
atuao do usurio ou interagente e 3) as relaes comunicativas, com base na ideia de
causa e efeito, evoluem para uma concepo mais consensual, ainda que a lgica
distribucionista continue presente em muitos contextos comunicacionais. Feita essa
colocao, Wurman aponta que, enquanto as atividades de armazenamento e
transmisso so diretamente otimizadas e desenvolvidas no contexto das tecnologias
digitais (computador, hardware, software, base de dados, etc.) e pelo modelo
4 Disponvel em: . Acesso em jun. 2013.
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Informao no contexto do Design
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multimdia e multilinear que a web constitui, acompanhando a crescente produo de
dados, existe um enfraquecimento da terceira atividade, a compreenso, sem a qual
no existe Comunicao. Para o autor, profissionais dedicados atividade de
compreenso, responsveis por ajudar pessoas a extrair significados dos mais diversos
contedos, so aqueles a quem se recorreria:
[...] para tornar inteligvel o censo dos Estados Unidos, obter um relatrio anual com informao concreta em lugar de brilharescos (sic); preencher formulrios de seguro e solicitaes de emprstimos em linguagem inteligvel. Redes de TV e jornais poderiam recorrer a elas para tornar as notcias internacionais compreensveis para o pblico. Reparties governamentais poderiam consult-las para garantir que a informao de interesse pblico realmente se tornasse pblica. Os consumidores teriam a quem apelar quando no estivessem entendendo suas contas de telefone e de energia (WURMAN, 1991, p. 55, grifo nosso).
O tratamento lgico e mediado da informao precede seu tratamento grfico-
visual e , em regra, o resultado da interveno poltico-criativa do ser humano ao
delimitar, escolher e priorizar (e, consequentemente, reduzir) determinado domnio
informativo em um nmero finito de dados relacionveis entre si. A reduo lgica da
informao o meio pelo qual o homem pode aplicar ao maior conjunto possvel de
observaes o nmero limitado de instantes de percepo que dispe no curso de sua
existncia (BERTIN, 1970, p. 178).
As possibilidades de atuao do Design da Informao, assim como de outras
atividades da Comunicao, so claramente ampliadas no contexto de excesso de
dados e da valorizao do tempo e da informao evidente em nossa sociedade. Dessa
forma, o Design da Informao pode tornar-se um caminho decisivo para controlar a
chamada exploso da (no) informao e contribuir para sua gesto, tornando-se
disciplina de considervel relevncia social. Diante do aumento vertiginoso de coleta e
armazenamento de dados por meio do computador e outros sistemas digitais,
viabilizam-se o cruzamento e relacionamento desses dados por intermdio de listas,
planilhas, tabelas, frmulas, etc. Uma planilha Excel um exemplo de base de dados
que cumpre o primeiro momento do processo de Design da Informao: alm de
coletar e armazenar os dados, a planilha capaz de organiz-los (arranjar, elencar
prioridades, selecionar, excluir, comparar, etc.). No entanto, a base de dados, por si s,
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Informao no contexto do Design
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no realiza o segundo momento do Design da Informao, sem o qual leitores
poderiam sentir-se perdidos diante de tanta informao: a etapa de codificao e
implementao da apresentao visual.
A combinao de escrita, imagens e nmeros constitui, para Wurman (1991,
p. 62), o acesso ao mundo compreensvel. Enquanto imagens tm alta densidade
informativa, palavras e nmeros tm maior poder descritivo e de diferenciao, e
por isso que mesmo apresentaes predominantemente visuais utilizam recursos
lingusticos para representar determinadas unidades informativas. Voltemos, porm,
nossa ateno para a Comunicao Visual. Se os nmeros, por um lado, por seu
carter absoluto e incontestvel, so considerados cdigos fceis para transmisso e
assimilao da informao, por outro, sua exatido perde referncia quando seus
valores so muito altos. Qual a diferena entre um milho e um bilho?
O projeto One Million (Figura 2) reflete as potencialidades da visualidade no
discurso comunicativo. Alm da alta densidade informativa, certas modalidades de
apresentao visual favorecem a compreenso de contedos gerados pelo grande
fluxo e cruzamento de dados, pois elas possibilitam a visualizao de conceitos
abstratos, ou seja, conceitos mentais, como, por exemplo, comparaes, propores,
organizaes, conexes e hierarquias (FRASCARA, 2011, p. 43). A ideia
fundamental do projeto One Million, de Hendrik Hertzberg que motivou a
publicao, em 1970, do livro de ttulo homnimo , tornar um nmero grande e
abstrato, no caso um milho, um valor mais tangvel e contextualizado para os
leitores. Para tanto, Hertzberg projetou um livro em que cada uma de suas 200
pginas rene 5.000 pontos, totalizando um milho de pontos. Em cada pgina,
alguns pontos, organizados numericamente, so destacados, seus valores so
apresentados por escrito, e algumas informaes estatsticas relevantes e
contextualizadas a respeito dos mesmos so anotadas.
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Informao no contexto do Design
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Figura 2 Livro One Million. Fonte: Design Notes, 2010.5
Como observado na Figura 1 (p. 22), o DIKW model apresenta um modelo do processo comunicacional a partir da possvel continuidade entre as unidades dado e
sabedoria. Dois agentes so retratados nesse modelo: produtores que dentro de nossa
perspectiva seriam os comunicadores e consumidores que seriam, em contrapartida, os
usurios da informao. A interao entre esses dois agentes acontece no nvel da
informao que, por sua vez, se constitui, para o comunicador, na etapa de transformao
de dados brutos em informaes significativas, por meio de sua organizao e apresentao
e, para o usurio, no acesso traduzido e manipulado de dados para que, mediante suas
experincias6 individuais e/ou coletivas, os significados possam ser assimilados:
O designer da informao mediador entre os dados abstratos, que integram uma informao em seu estado bruto, e suas apresentaes em informaes visualmente significativas, compreensveis para o leitor (COSTA, 1998, p. 34).
5 Disponvel em: . Acesso em fev. 2013. 6 Experincias podem ser passivas ou interativas. De um lado, temos experincias como, por exemplo, ler um livro ou assistir a um programa de televiso. Embora alguns possam argumentar que essas atividades j implicam certo grau de interao entre dispositivo e mente, ns as consideramos experincias passivas. De outro lado, temos experincias como, por exemplo, conversar, pintar, jogar. Essas atividades envolvem escolhas, controle, produo e criatividade e, por isso, as consideramos interativas (SHEDROFF, 2000, p. 283).
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Informao no contexto do Design
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Exatamente no ponto de transformao dados>informao, comunicadores
atuam ao aplicar sua expertise na reduo da complexidade cognitiva e na
apresentao da informao por meio de uma interface que conjugue as fontes, as
informaes e os leitores (BONSIEPE, 2000, p. 6). No entanto, embora os
produtores do contedo s alcancem, diretamente, o nvel da informao, suas
posturas devem projetar a produo de conhecimento para usurios. Essa
abordagem prope a superao de uma viso funcionalista sobre os produtos
comunicativos a ser reconfigurados em uma perspectiva que integra contexto,
interesses e prticas sociais dos consumidores. O Design da Informao pode ser
compreendido, por um lado, como atividade que, para alm da organizao de
informaes complexas em uma configurao visual que facilite sua apreenso,
tambm organiza e produz significados; em outras palavras, [...] seu objetivo
facilitar o metabolismo cognitivo e a assimilao de conhecimento (BONSIEPE,
2000, p. 6). Por outro lado, o Design da Informao deve considerar a natureza
interativa, dialgica e de sense-making da Comunicao, a ao mtua entre
produtor e usurio envolvida no processo de significao.
A ideia de mediao corresponde percepo de que no h conhecimento
direto da realidade e de que o acesso ao real sempre intermediado por um ponto
de vista (BRAGA, 2012a, p. 32). Tal perspectiva compartilhada por Dervin em
afirmativa segundo a qual a realidade sempre construda a partir dos produtores da
informao (DERVIN, 2000, p. 36). No entanto, sua proposta do sense-making
aplicado ao Design de Informao, que se traduz em uma abordagem comunicativa
frente informao, compe um contraponto ao conceito de mediao ao incorporar
os consumidores da informao nos processos de significao da mensagem.
Mediao e sense-making, como buscaremos demonstrar neste trabalho, compem
abordagens comunicacionais distintas, mas que podem integrar, simultaneamente e
segundo diferentes gradientes, os dispositivos miditicos.
A atividade de aplicar design informao , por vezes, chamada de
Arquitetura da Informao ou Engenharia do Conhecimento. Adotamos a expresso
Design da Informao em detrimento de Arquitetura da Informao, pois, a nosso
ver, enquanto a ltima contempla, essencialmente, questes relativas organizao
dos dados e dos seus caminhos de acesso (navegao, usabilidade, etc.), a primeira
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Informao no contexto do Design
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enfatiza, alm da organizao das informaes, as relaes entre contedo,
apresentao visual e usurio. O Design da Informao responsvel por "[...]
delinear a forma [visual e interativa7] na qual o usurio encontra as informaes,
realiza sua leitura, estabelece a relao entre os seus elementos, interage com a
interface e compreende essa experincia" (PASSOS; MOURA, 2007, p. 22). Nesse
sentido, estabelece-se a responsabilidade tica e social que o Design deve expressar
frente aos produtos gerados para a comunicao. A falta de considerao quanto a
prticas e contextos de usos da informao (includas situaes de risco, insegurana,
despreparo, nervosismo e tenso) pode significar descompromisso com o contedo e
com a sociedade.
Redig (2004, p. 50) ao recompor uma notcia veiculada no jornal Folha de S.
Paulo, em 13 de novembro de 2001, a respeito da repercusso das eleies
presidenciais norte-americanas realizadas em 2000, demonstra como um problema de
Design da Informao prejudicou a compreenso de milhares de usurios, afetando o
resultado final da eleio. Na ocasio do pleito, a cidade de Palm Beach, Flrida, optou
por aumentar o corpo tipogrfico da fonte utilizada no painel de votao (Figura 3) o
que acarretou diagramao da listagem de candidatos em duas colunas. Na
contabilizao dos votos, percebeu-se que, em muitos casos, Pat Buchanan
candidato reformista, cuja inteno de voto em Palm Beach representava apenas
algumas centenas e Al Gore receberam votos simultaneamente em uma mesma
cdula, indcio de que os eleitores se confundiram quanto posio do crculo
perfurvel correspondente a cada candidato (crculos posicionados na faixa amarela).
Especula-se que grande parte dos votos anulados era intencionada a Al Gore, o que
lhe garantiria a preferncia do Colgio Eleitoral da Flrida e os votos dos respectivos
25 delegados que o elegeriam como o 43o presidente dos EUA.
7 Reiteramos que o Design da Informao responsvel pelas estruturas visuais e interativas de um projeto. A interatividade, no entanto, diferentemente dos aspectos visuais, no atributo inerente ao Design. Tornou-se uma de suas qualidades aps o Design convergir, tambm, para as mdias digitais. No suporte digital, interatividade e representao visual, muitas vezes, se complementam na organizao da informao, resultando, por exemplo, na criao de elementos (textos e cones) com funes de hyperlinks que sofrem modificaes em cor, tamanho, orientao, etc. ao ser clicados ou sofrer outro tipo de interao.
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Informao no contexto do Design
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Figura 3 Cdula eleitoral da cidade de Palm Beach. Fonte: Gauge, 2013.8
H, no atual cenrio de excesso de dados, a possibilidade de os produtores da
informao atuarem como mediadores do processo comunicativo, reduzindo a
complexidade informativa gerada pelo fluxo e cruzamento de dados, ao retratar a
realidade sobre um ponto de vista. Paralelamente, observamos a emergncia de prticas
de comunicao alternativas, multilineares e descentralizadas, permitidas pelo modelo
circulatrio que a web constitui e pelos recursos interativos de explorao do contedo,
que possibilitam ao usurio refletir ressignificaes e usos sociais sobre a informao que
consome. Podemos, portanto, problematizar os produtos comunicacionais em torno de
duas abordagens que atuam sobre eles: 1) a narrativa mediada, que constri uma
hierarquizao dos enunciados com objetivo de facilitar o acesso a um fato ou fenmeno
e 2) o sense-making que engaja o receptor-usurio no processo de significao e de
construo de seu conhecimento. Soma-se, a essas duas abordagens, a dimenso
tecnolgica do processo de criao dos produtos miditicos nos meios digitais.
Contedos gerados nesses contextos, no entanto, no podem ser concebidos sem a
capacidade criadora e mediadora dos comunicadores, ao transformar dados em
informaes visualmente significativas. Dessa forma, compreendemos que, embora
necessrios, progressos em tecnologias, que possibilitam coleta, armazenamento e
circulao de dados, assim como desenvolvimento de softwares e gadgets habilidosos
8 Disponvel em: . Acesso em mar. 2013.
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Informao no contexto do Design
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(MANOVICH, 2001), que aprimoram e enriquecem a interface visual-interativa, no
devam subjugar a ferramenta mais primria, mais essencial, mais capaz de converter
dados em informaes significativas e teis: o crebro humano:
Computadores no podem dar sentidos aos dados; s os homens podem. Mais precisamente, somente pessoas que possuem as habilidades para analisar dados podem. Computadores nos servem para fazer mais eficiente e acuradamente o que j sabemos fazer (FEW, 2009, p. 2).
Longe de estabelecer um determinismo, compreendemos que os progressos
tecnolgicos e o impacto das novas mdias podem condicionar uma reorientao da
sociedade e de suas prticas frente s informaes, estabelecendo um processo que
permite novas formas de produzi-las, circul-las e consumi-las, de sentir, ver e interpretar
o mundo. Contudo, se computadores, por um lado, avanam em termos de capacidade de
memria, so potentes e geis coletores, armazenadores e organizadores de informao,
por outro lado, so limitados em termos de pensamento, imaginao e criatividade. A
constatao de Wurman de que das trs atividades associadas difuso da informao
transmisso, armazenamento e compreenso (WURMAN, 1991, p. 54) a ltima mais
renegada trata justamente dessa questo. Enquanto nos concentramos apenas em
tecnologias, esquecemos que, sem a habilidade daquele que manipula e analisa dados, no
podemos gerar sentido sobre eles. Softwares inteligentes devem reforar olhos e mentes
dos comunicadores de modo a contribuir com suas habilidades tcnicas para organizao
e apresentao do contedo. Esse processo, contudo, no intuitivo, nem pr-
programado (embora possa ser agilizado por uso de templates9). Precisa ser estudado caso
a caso, levando em conta natureza dos dados e objetivo da mensagem, tarefas que s o
crebro humano pode realizar.
Esta pesquisa enfoca aspectos e potencialidades de uma modalidade especfica de
representao texto-visual que favorece a comunicao, por parte dos comunicadores, e
explorao, por parte dos usurios, de contedos jornalsticos baseados em dados e
apresentados na plataforma on-line: a visualizao da informao.
9 Template o modelo inicial de documento utilizado para criar novos projetos.
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Informao no contexto do Design
34
1.3 VISUALIZAO DA INFORMAO 1.3.1 Reviso terminolgica e conceitual
A visualizao da informao corresponde a uma modalidade de organizao e
apresentao visual da informao e pertence ao universo maior constitudo pelo
Design da Informao. Em sentido lato, designa processo cujo objetivo facilitar a
compreenso de grande quantidade de dados e suas relaes de semelhana, ordem e
proporcionalidade. Constitui-se em campo interdisciplinar com base em saberes
especficos do Design da Informao, do Design de Interao, da Percepo Visual e
da Comunicao Social, entre outros com potencial de proporcionar sociedade
novos usos da informao, bem como modos alternativos de aquisio e produo de
conhecimento em diversas reas, como economia, sade, meio ambiente, educao,
poltica, etc. Assim como o Design da Informao, a pesquisa acadmica sobre
visualizao da informao recente e pouco sistematizada. Few (2009, p. 14), no
entanto, reconstitui breve histrico das principais manifestaes dessa modalidade de
representao texto-visual que proporcionaram o desenvolvimento de pesquisas
cientficas a seu respeito:
Figura 4 Linha do tempo da visualizao da informao. Fonte: elaborao prpria adaptada de Few, 2009, p. 14.
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A Figura 4 reconstitui, em ordem cronolgica, algumas das principais
referncias histricas da pesquisa em visualizao da informao, com base nas
contribuies de Few (2009, p. 13-17) e Cairo (2008, p. 38-61).10 A linha do tempo
destaca oito eventos que consideramos importantes para compreender a trajetria da
visualizao da informao at seu encontro com os infogrficos, no campo jornalstico,
e a introduo de aspectos interativos permitidos pelas mdias digitais: 1) inveno da
tabela (sculo II); 2) ilustraes cientficas renascentistas, principalmente de Leonardo
da Vinci e Andrea Vesalius (sculos XV e XVI); 3) criao do grfico cartesiano por
Ren Descartes (sculo XVII); 4) grficos desenvolvidos por William Playfair (1759-
1823), particularmente os que compuseram os livros The Commercial and Political
Atlas (1786) e Statistical Breviary (1801); 5) mapa da epidemia da clera, criado pelo
mdico John Snow (1854); 6) mapa da campanha do exrcito Napolenico na Rssia, de
Charles Joseph Minard (1869); 7) estudos cientficos e obras acadmicas (sculo XX);11 e
8) popularizao dos computadores domsticos (1984).
Terminologias e conceituaes a respeito da visualizao da informao no
so convergentes, o que pode ser atribudo ao fato de serem desenvolvidas por
disciplinas distintas, a saber, Engenharia, Estatstica, Cincias da Computao, Design
da Informao e Comunicao. Destacamos termos que, independentemente das
reas em que foram formulados, nos ajudam a caracterizar e analisar questes
relativas s estruturas visuais e interativas dessa modalidade de representao:
visualizao da informao (CAIRO, 2008; 2013; CARD; MACKINLAY;
SHNEIDERMAN, 1999; DRSTELER, 2003; FEW, 2009; KOSARA, 2007;
MANOVICH, 2011), visualizao esquemtica (COSTA, 1998), visualizao narrativa
(CIUCCARELLI, 2012; SEGEL; HEER, 2010), grficos da informao (BERTIN, 1986;
2010), diagrama (FRASCARA, 2011), grficos de dados (CLEVELAND, 1994;
TUFTE, 1983), representao grfica (ENGELHARDT, 2002).
No obstante as diferenas terminolgicas, a abstrao elemento essencial e
10 Para aprofundamento sobre eventos que marcaram a histria da visualizao da informao, interessante conferir o projeto Milestones, desenvolvido pelos pesquisadores Michael Friendly e Daniel J. Denis, que oferece cronologia sobre cartografia temtica, grficos estatsticos e visualizao de dados e est disponvel em: . Acesso em: jun. 2013. 11 Destacamos, em ordem de publicao, cinco obras acadmicas fundamentais acerca da visualizao da informao: 1) Semiology of Graphics, de Jacques Bertin (1967); 2) Exploratory Data Analysis, de John Tukey (1977); 3) The Visual Display of Quantitative Information, de Edward Tufte (1983); 4) The Elements of Graphing Data, de William Cleveland (1985) e 5) Readings in Information Visualization: Using Vision to Think, de Card, Mackinlay e Shneiderman (1999).
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comum extenso conceitual de todos os termos. A abstrao consiste, em
contraponto figurao, em representaes visuais de baixo nvel de iconicidade, isto
, menor ou nula relao indicial com seu respectivo referente. Para melhor
compreender e avaliar a abstrao de uma representao visual, Costa (1998, p. 104)
apresenta a Escala de Iconicidade Decrescente desenvolvida por Abraham Moles, em
1970, que veio a se tornar uma das ferramentas mais completas em termos de estudo
da iconografia, iconologia e esquematizao. A abstrao e esquematizao
constituem o fio condutor da escala, que situa, em 12 pontos (Quadro 2), os diferentes
graus de abstrao progressiva:
No incio encontra-se a figurao ou iconicidade total: o objeto autorrepresentado. A abstrao mxima, pelo contrrio, seria a designao algbrica em que a imagem do objeto se dissolve na evocao mental constituda pelo signo arbitrrio (COSTA, 1998, p. 104).
Quadro 2 Escala de Iconicidade Decrescente
Classe Definio Critrio Exemplos
12 O prprio objeto Objeto e imagem coincidem, mas existe uma relao de representao
Objetos na vitrine
11 Modelo bi ou tridimensional em escala
Cores e materiais escolhidos segundo critrios arbitrrios
Maquetes, esculturas
10 Esquema bi ou tridimensio-nal, reduzido ou aumentado
Cores ou materiais escolhidos segundo critrios lgicos
Mapas geolgicos, globo terrestre
9 Fotografia ou projeo realista sobre um plano
Projeo e perspectiva rigorosas, uso de semitons e sombras
Fotografias, cartazes, catlogos ilustrados
8 Desenho ou fotografia de contorno; perfis
A imagem mantm relao correta com a realidade atravs de critrios de similaridade, contorno de formas, silhueta
Catlogos, prospectos e fotografias tcnicas
7 Esquemas anatmicos ou de construo
A imagem simplifica-se e pode mostrar coisas que no se veem primeira vista; representam-se o que se v e o que se sabe
Corte anatmico, corte de um motor mostrando seus componentes internos
6 Imagem fragmentada Disposio perspectivada das peas conforme suas relaes de vizinhana topolgica
Elementos tcnicos em manuais de instruo
5 Esquema de princpios (eletricidade e eletrnica)
Substituio dos elementos por smbolos normalizados, passagem da topografia tipologia; geometrizao
Plano esquematizado do metr; plano dos cabos de um receptor de TV
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4 Organograma ou esquema Desaparecem todas as caractersticas sensveis, e os elementos so quadros reunidos por conexes lgicas, hierrquicas
Organograma de empresa, de stios da web
3 Esquema de formulao Relao lgica e no topolgica, em espao no geomtrico, entre elementos abstratos; as ligaes so simblicas; todos os elementos so visveis
Frmulas qumicas
2 Esquemas em espaos complexos
Combinao, em um espao de representao, de elementos esquemticos (flechas, retas, plano, objeto) pertencentes a sistemas diferentes
Diagramas de foras
1 Esquema de vetores em espaos abstratos
Representao da relao entre grandezas vetoriais grficas em um espao mtrico abstrato
Grficos vetoriais
0 Descrio em palavras normalizadas ou em frmulas algbricas
Signos puramente abstratos sem relao imaginvel com o significante
Palavras, textos, equaes, frmulas
Fonte: Costa, 1998, p. 105.
O universo da visualizao esquemtica inicia-se no nvel sete da escala e cresce
em termos de abstrao at atingir o nvel zero (COSTA, 1998, p. 104). Para o autor,
correspondem a esquematizaes, portanto, visualizaes da informao de baixa
iconicidade como, por exemplo, planos, desenhos tcnicos, visualizaes cientficas,
etc. e visualizaes da informao de nula iconicidade ou no figurativas como, por
exemplo, mapas de dados, diagramas, grficos e esquemas.
Os tericos pioneiros que, a partir de enfoque predominantemente visual,
sistematizaram uma teoria sobre visualizaes de nula iconicidade foram Bertin, na
dcada de 1960, que as denominou grficos da informao (1986, 2010), e Tufte
(1983), que as chamou de grficos de dados. Para compreender as propriedades da
linguagem grfica e visual e o modo como atuam no desenvolvimento de um discurso
comunicativo, Bertin (1986, 2010). desenvolveu pesquisas sobre a Neogrfica, ou
Semiologia Grfica. Em seu estudo, o autor sistematizou um conjunto monossmico
de cdigos para a construo de grficos que poderiam ser classificados em
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diagramas,12 redes e mapas. Para relacionar os elementos grficos, Bertin reconheceu:
1) seis variveis visuais (tamanho, valor, cor, forma, orientao e textura); 2) trs
modalidades de implementao (pontos, linhas e reas) e 3) quatro nveis de
organizao dos componentes (seletivo, ordinal, quantitativo e geogrfico). A ideia
principal dessa sistematizao que a informao significativa no reside nos dados
isolados, mas sim nas relaes de todo o conjunto. O tratamento grfico oferece uma
estratgia para revelar informaes e relaes contidas nos dados brutos, facilitando a
compreenso e a produo de conhecimento.
As contribuies de Tufte (1983) enfatizam sobretudo princpios para
representao de dados quantitativos (grficos de dados) que conjugam eficincia da
representao, revelao de informaes complexas, simplicidade e excelncia grfica:
Em ltima instncia, grficos so instrumentos para raciocinar sobre informaes quantitativas. Normalmente, o modo mais efetivo de descrever, explorar e resumir um conjunto de dados mesmo um grande conjunto visualizar imagens desses nmeros (TUFTE, 1983, p. 9).
A fim de sistematizar princpios para uma teoria sobre representao dos dados
e avanar nos estudos comunicativos por meio da apresentao simultnea de palavras,
nmeros e imagens, Tufte reuniu saberes e habilidades especficos dos campos visual-
artstico e estatstico-matemtico. Dessa forma, concluiu que a excelncia grfica
ilustrada por meio de quatro classes de apresentaes grficas fundamentais: mapas de
dados (Data maps), linhas do tempo (Time-series), narrativas espaotemporais (Space-
time narrative) e grficos relacionais (Relational graphs). Essas apresentaes grficas
servem s diversas possibilidades semnticas, sintticas e pragmticas dos dados, e
compem um sistema coeso que possibilita o desenvolvimento de uma teoria sobre
grficos de dados.
Seguindo uma linha de pensamento prxima, Cleveland (1994) desenvolve
pesquisa sobre visualizao de dados na cincia e na tecnologia. Segundo o autor,
mtodos e princpios grficos so poderosas ferramentas para evidenciar e explorar
dados (CLEVELAND, 1994, p. 1). Nesse sentido, Cleveland atribui dupla funo aos 12 Frascara (2001, p. 42) ao optar pelo termo diagrama para referir-se s representaes no figurativas, o fez considerando o repertrio terico de Tufte (1983) e Bertin (2010). Embora o autor constate que [...] os diagramas servem para visualizar comparaes, propores, evolues, conexes e hierarquias (Ibidem), entendemos que tal qualidade no pertence somente aos diagramas, j que esses, a nosso ver, correspondem a uma modalidade de esquematizao que faz parte de universo maior, o da visualizao da informao.
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grficos de dados: 1) anlise dos dados, quando o objetivo estudar e investigar a
natureza e as relaes dos dados por meio de grficos; e 2) comunicao dos dados,
quando o objetivo explanar para determinado pblico, por meio de grficos, a
natureza e as relaes dos dados.
Quando um grfico de dados concebido, relaes quantitativas e categricas
so encodadas por mtodos de apresentao. Logo, para mensagens significativas
serem apreendidas, informaes precisam ser visualmente decodificadas. No
importa o quo pertinente e interessante seja o contedo, nem o quo
tecnologicamente impressionante seja a codificao: a visualizao falha se a
decodificao falhar (CLEVELAND, 1994, p. 1). S por meio do estudo cientfico da
Percepo Visual e de mtodos de apresentao visual podem ser concebidas
eficientes e acuradas codificaes visuais.
Nos estudos que se seguiram, sobretudo a partir da segunda metade dos anos 90,
podemos observar adensamentos em torno da visualizao da informao, assim como
avanos tericos da especialidade, alm dos aspectos visuais de esquematizao. Fatores
como surgimento do computador e expanso da internet salientaram questes ligadas
possibilidade de uso de bases de dados, uso de softwares para a manipulao desses dados,
representaes visuais multidimensionais (com muitas variveis informativas) e uso de
suportes digitais para produo, circulao e apresentao do contedo. Nessa linha de
pensamento, as contribuies de Cairo (2008; 2013), Card, Mackinlay, Shneiderman.
(1999), Few (2009), Kosara (2007) e Manovich (2011) so fundamentais.
A visualizao da informao, para esses autores, configura-se em um sentido
mais estrito, no qual a interatividade se faz presente, e que adotaremos neste trabalho
como recorte metodolgico para nosso objeto, o infovis 13 , como o [...] uso de
representaes visuais interativas de dados abstratos, auxiliado por um computador, para
ampliar a cognio (CARD, MACKINLAY, SHNEIDERMAN, 1999, p. 6-7). Para chegar
a esse conceito, Card, Mackinlay e Shneiderman desenvolveram uma hierarquia de
definies de trabalho, do termo mais geral ao mais especfico, para todos os conceitos
relacionados visualizao da informao (Quadro 3).
13 Infovis um neologismo assumido por ns para designar o objeto estudado na presente dissertao que situa-se nas interfaces de trs principais referncias tericas e prticas: visualizao da informao, infografia jornalstica e interatividade. Para distinguir nosso objeto infovis de outras acepes e contextos de uso que o termo assume (ver p. 73, Captulo 2.), utilizaremos o termo grafado em itlico, ao longo da dissertao.
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Quadro 3 Hierarquia de definies de trabalho relacionadas visualizao da informao
Cognio externa Design da Informao Grfico de dados Visualizao Visualizao cientfica Visualizao da informao
Fonte: Card, Mackinlay, Shneiderman, 1999, p. 7.
Das definies (CARD, MACKINLAY, SHNEIDERMAN, 1999, p. 7)
Cognio externa: uso do mundo externo para alcanar cognio;
Design da Informao: Design de representaes externas para ampliar a
cognio;
Grfico de dados: uso de representaes visuais de dados abstratos para ampliar a
cognio;
Visualizao: uso de representaes visuais interativas, auxiliado por um
computador, para ampliar a cognio;
Visualizao cientfica: uso de representaes visuais interativas de dados
cientficos normalmente baseados em aspectos fsicos auxiliado por um
computador, para amplificar a cognio;
Visualizao da informao: uso de representaes visuais interativas de dados
abstratos, auxiliado por um computador, para ampliar a cognio.
Para esses autores, o termo visualizao no deve ser aplicado s configuraes
apresentadas e acessveis em interfaces impressas, como o papel, por exemplo. A
representao visual de dados em suportes no auxiliados por um computador se
configuraria como grfico de dados (data graphics). J a subdiviso da categoria
visualizao em visualizao cientfica e visualizao da informao ocorre em termos
da natureza dos dados. Para a primeira, necessrio haver espaos fsicos ou dados
fsicos (corpo humano, Terra, molculas, ou seja, informaes visveis). Para a segunda,
necessrio haver informaes no fsicas, como dados financeiros, dados de negcios,
coleo de documentos, conceitos abstratos, etc. (CARD, MACKINLAY,
SHNEIDERMAN, 1999, p. 6-7). Essa diferena conceitual partilhada por Costa (1998,
p. 62-81), que associa visualizao cientfica aos fenmenos invisveis a olho nu, mas
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que, pela mediao de instrumentos como microscpios, scanners, etc. podem ser
revelados e compreendidos. No entanto, diferentemente de Card, Mackinlay e
Shneiderman (1999), o autor no inclui o computador como requisito fundamental
visualizao informativa, enfatizando apenas a necessidade de [...] critrios de sntese e
inteligibilidade com fins comunicacionais (COSTA, 1998, p. 113).
Kosara (2007) reitera a importncia da abstrao para diferenciar uma
visualizao da informao de outras formas de representaes visuais, mas utiliza
outra expresso para designar essa qualidade: dados abstratos so, para o autor, dados
no visuais. E conclui: [...] visualizao no processamento de imagem, nem
fotografia; se a fonte dos dados uma imagem e ela representada como imagem no
resultado final, ento ela no est sendo visualizada (KOSARA, 2007, p. 632). J
Manovich (2011) menciona os termos abstrao e no visual, embora defina
visualizao da informao como [...] mapeamento entres dados discretos e uma
representao visual (MANOVICH, 2011, p. 3, destaque nosso).
Para o dicionrio Aurlio visualizar 1) Tornar visvel, mediante manobra ou
procedimento; 2) Formar ou conceber uma imagem visual mental de (algo que no se
tem ante os olhos no momento). Dessa forma, tambm pela perspectiva terminolgica
possvel deduzir que, em seu sentido mais amplo, a visualizao da informao apoia-
se fundamentalmente na capacidade humana de produzir e apreender informaes por
meio de abstraes visuais, e que seu objetivo maior ampliar a cognio. Assim
tambm o compreende Drsteler (2003) que, aps identificar e reunir definies sobre
visualizao da informao e passar por questes ligadas ao computador e
interatividade, retorna ao sentido mais lato do termo ao defini-lo como [...] processo
de interiorizao do conhecimento mediante a percepo da informao ou, se assim se
preferir, mediante a elaborao dos dados (DRSTELER, 2003, p. 22). Concordamos
com a compreenso de que o uso de computadores no estabelece condio
determinante para que haja visualizao da informao, pois sua justificativa maior,
dentro da abordagem comunicacional, facilitar a compreenso, o que pode ser
alcanado dentro das limitaes e potencialidades de qualquer suporte. Como objetivo
de pesquisa, entretanto, pretendemos verificar de que modo aspectos interativos de
explorao do contedo auxiliam nos processos de significao, e, portanto, a produo
por meio de computadores faz-se necessria para que a interatividade ocorra.
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Few (2009, p. 12) utiliza a expresso visualizao de dados como termo guarda-
chuva que cobre tanto a visualizao da informao como a visualizao cientfica,
compreendidas a partir das definies de Card, Mackinlay e Schneiderman (1999).
Assim como estes ltimos, Few desmembra e define termos envolvidos na conceituao
de visualizao da informao conforme descrito no Quadro 4:
Quadro 4 Atividades, tecnologias e objetivos da visualizao de dados
Visualizao de dados
Atividades Explorao Sense-making Comunicao
Tecnologias Visualizao da informao Visualizao cientfica Representao grfica
Objetivos imediatos Compreenso
Objetivos finais Boas decises14
Fonte: Few, 2009, p. 12.
Embora prefiramos assumir a visualizao da informao como processo, e no
como tecnologia, o Quadro 4 ajuda-nos a compreender que sua atividade comunicativa
alcanada mediante a explorao do contedo ou sense-making, tarefas realizadas nas
etapas tanto de produo como de consumo da mensagem visualizada. A visualizao,
portanto, tanto o meio pelo qual jornalistas e designers analisam e investigam relaes
entre dados para, ento, os transformar em informaes significativas e visualmente
estruturadas, como o produto miditico final, no qual o usurio busca interpretar um
conjunto de dados:
Visualizao pode ser descrita como o mapeamento de dados em formatos visuais que favorecem a interao humana em um ambiente de trabalho para o sense-making visual (CARD; MACKINLAY; SHNEIDERMAN, 1999, p. 17).
Alm disso, o Quadro 4 reitera nossa perspectiva de que os objetivos da
visualizao da informao no incluem a produo de produtos com fins em si
mesmos, mas antes, por meio deles, estabelecer processos de significao
14 Provocar decises fundamentadas, nos usurios da informao, constitui o grau mximo de afetao que um produto do Design pode alcanar. Entretanto, qualificar boas decises tarefa que no nos cabe nesta dissertao, de modo que nos ateremos compreenso como objetivo final de uma visualizao da informao.
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intermediados, por um lado, pelo tratamento editorial-grfico dos comunicadores e,
por outro, pelos percursos de explorao de contedo dos usurios.
1.3.2 Classificao da representao grfica
Muitas propostas de classificao para representaes grficas podem ser
encontradas na literatura acadmica. Algumas foram desenvolvidas especificamente
para aplicao na infografia jornalstica Peltzer (1992), Moraes (1998), Leturia
(1998), De Pablos (1999), Sancho (2001), Nichani e Rajamanickam (2003) , outras
especificamente para aplicao nas modalidades de visualizao esquemtica
Shneiderman (1996), Lengler e Eppler (2007), Heer, Bostock e Ogievetsky (2010).
Tambm possvel encontrar autores que propem uma classificao para as
representaes grficas de forma mais ampla, sem delimitar campo de aplicao e
suporte (impresso ou digital). So eles Tufte (1983), Richards (1984), Wurman (1991),
Holmes (1993), Engelhardt (2002), Roam, (2008) e Bertin (2010).
Destacamos, neste momento, classificaes desenvolvidas especificamente
para a modalidade de visualizao da informao (Quadro 5). Nosso objetivo
ilustrar mtodos e tcnicas de representao que vm sendo considerados, pela
academia, prprios da visualizao da informao, sedimentando, dessa forma, uma
modalidade especfica e diferenciada de representao visual. Taxonomias so
importantes instrumentos de reflexo sobre determinados objetos. No entanto, so
simplificaes que buscam sistematizar produtos e processos e, dificilmente, abarcam,
na rea da Comunicao Visual, todas as possibilidades criativas e de hibridizao.
Quadro 5 Taxonomia de tipos de representao grfica da visualizao
Autor(es) Taxonomia
Shneiderman (1996)
O autor prope uma taxonomia para visualizao da informao em sete classes definidas pelo