disposiÇÃo subaquÁtica de rejeitos de dragagem: … · sempre e principalmente a minha mega...

170
DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: O CASO DO COMPLEXO LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ Maria Clara Cerqueira Paranhos Castiglia DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA CIVIL Aprovada por: Profª Maria Claudia Barbosa, D. Sc. Profº Márcio Soares de Souza Almeida, Ph. D. Profª Maria Cristina Moreira Alves, D. Sc. Drª Marilene de Oliveira Ramos Múrias dos Santos, D. Sc. RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL JUNHO DE 2006

Upload: trinhdan

Post on 29-Nov-2018

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: O CASO DO

COMPLEXO LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ

Maria Clara Cerqueira Paranhos Castiglia

DISSERTAÇÃO SUBMETIDA AO CORPO DOCENTE DA COORDENAÇÃO DOS

PROGRAMAS DE PÓS-GRADUAÇÃO DE ENGENHARIA DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS

PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM CIÊNCIAS EM ENGENHARIA

CIVIL

Aprovada por:

Profª Maria Claudia Barbosa, D. Sc.

Profº Márcio Soares de Souza Almeida, Ph. D.

Profª Maria Cristina Moreira Alves, D. Sc.

Drª Marilene de Oliveira Ramos Múrias dos Santos, D. Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JUNHO DE 2006

Page 2: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

CASTIGLIA, MARIA CLARA CERQUEIRA

PARANHOS

Disposição Subaquática de Rejeitos

Dragagem [Rio de Janeiro] 2006

X,152 p. 29,7 cm (COPPE/UFRJ, M.Sc.,

Engenharia Civil, 2006)

Dissertação – Universidade Federal do

Rio de Janeiro, COPPE

1. Parâmetros relevantes para a disposição

subaquática de rejeitos de dragagem

2. Impactos ambientais associados à

alternativa

3. Comportamento mecânico e hidrodinâmico

do material

4. Complexo Lagunar de Jacarepaguá

I. COPPE/UFRJ II. Título (série)

ii

Page 3: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Dedico esta tese aos meus pais, Carlos Alberto e Ana Maria,

à minha irmã, Maria Luiza,

à minha avó, Maria Dulce e

ao meu companheiro de todas as horas, José Augusto

iii

Page 4: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

AGRADECIMENTOS

Passou muito rápido! Parece que foi ontem que tudo começou. Mas, apesar de

rápido existiram muitas pessoas importantes e decisivas para realização deste

trabalho.

Começo agradecendo a Deus, afinal sem sua bênção nada disso seria possível.

Agradeço a minha orientadora, Maria Claudia, por ter acreditado no meu trabalho

e pelo empenho e dedicação a minha pesquisa.

Agradeço a todos os meus professores pela formação necessária. Em especial

agradeço ao Márcio e a pesquisadora Esther pela oportunidade de trabalhar na área

do meu estudo, foi bastante importante, assim como todas as dicas, explicações e

conselhos passados durante o projeto.

Agradeço ao pessoal de Engenharia Oceânica – ao Profº Rosman, pelo incentivo

no momento em que tudo parecia não ir adiante; a Profª Susana Vinzon, pela

oportunidade de participar do curso de Sedimentos Finos em Estuários e Águas

Costeiras; a Valéria, por todas as explicações, correções e por toda a paciência; ao

meu primo Renato, pela ajuda e correção do texto; a Marize, por toda simpatia,

sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos

materiais emprestados, pela correção do texto, pelas dicas e pela verdadeira amizade

destes anos.

Agradeço ao Prof° Hildebrando pelo material emprestado e principalmente pela

simpatia e alegria em me receber e me ajudar. Obrigada por todo o incentivo também.

Agradeço ao Engenheiro Ragoni, da Plarcon Engenharia, pelos relatórios

disponibilizados.

Agradeço a Profª Denise, da Escola de Química, pelas análises realizadas.

Agradeço a Comlurb, principalmente as pessoas da Base de Operações

Náuticas, pela visita e atenção.

E a galera do Laboratório de Geotecnia? Puxa vida, como tem pessoas que

contribuíram para a realização deste trabalho. Vamos começar pelas minhas

companheiras, parceiras, amigas – Raquel e Silvia – obrigada pela força, pelas dicas,

pela paciência de todos esses anos. Fiz ainda novos amigos que também foram muito

iv

Page 5: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

importantes: Marcela, Patricia, Renilson (não tão novo assim), Ana Paula, Ana Júlia,

Janaina e Marcelo. Além de amigos, foram também meus consultores laboratoriais,

afetivos, profissionais. Não mediram esforços para me escutar, me ajudar, me

aconselhar e até me ver chorar. Obrigada a todos, mesmo.

Tem ainda os consultores a distancia como a Ana Cecília, que por telefone ou e-

mail tinha soluções essenciais para o funcionamento do ensaio.

Agradeço a toda equipe da Geotecnia. Mauro e Hélcio, pela montagem do que

parecia impossível; Gil pelas adaptações necessárias; Maria da Gloria e Maiara, pelas

análises químicas e também pelo capricho no trabalho; Toninho e Fernando (filho do

Carlinho), pela retirada das amostras. Enfim, a todos, Marli, Edu, Bororó, Álvaro,

Rodrigo, Adriana, Ana, Luizão, França, Neide, Eliomar, que, cada um da sua maneira,

contribuíram para a harmonia do ambiente.

Gostaria ainda de fazer alguns agradecimentos especiais. Ao meu anjo da

guarda – Serginho, pela adoção aos 40 minutos do 2º tempo. Obrigada pela

dedicação. Ao Carlinhos pelas aulas e por toda a atenção. Renilson, obrigada pela 1ª

calibração dos transdutores (foram muitas), por me ensinar o caminho da Incomplst,

pelos conselhos e conversas, principalmente agora no final.

Não tenho como agradecer aos meus “técnicos” Marcelo e Janaina. Se vocês

não levantassem a minha poeira (ou melhor, a minha lama) eu não daria a volta por

cima. Valeu gente! Obrigada pelos lanchinhos também!

Agradeço as minhas procuradoras, Marcela e Raquel, que me ajudaram muito

numa das fases mais complicadas da tese, o fim, muito obrigada.

Agradeço ao meu companheiro de todas as horas, Zé, pela edição da tese e

também por estar comigo nos momentos difíceis dessa etapa, me compreendendo e

me incentivando mesmo que parecesse absurdo tudo o que tentava explicar.

E, por fim, agradeço a CAPES e a FAPERJ pelo apoio financeiro a pesquisa.

v

Page 6: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Resumo da Dissertação apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências (M.Sc.)

DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: O CASO DO

COMPLEXO LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ

Maria Clara Cerqueira Paranhos Castiglia

Junho/2006

Orientadora: Maria Claudia Barbosa

Programa de Engenharia Civil

Este trabalho analisa a alternativa de disposição subaquática para rejeitos de

dragagem, abordando os principais parâmetros relevantes associados ao

comportamento do material no corpo hídrico sob os aspectos geotécnico e

hidrodinâmico, com base no caso do Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá.

A pesquisa utilizou dados disponíveis de levantamentos, monitoramentos, estudos e

projetos relacionados à área de estudo, e investigações químicas e geotécnicas em

laboratório de amostras da coluna d’água e de sedimentos da Lagoa da Tijuca.

Através de ensaios de sedimentação e de adensamento (CRS), foi verificado o

comportamento geotécnico típico desse material após disposição, e os resultados

foram interpretados por um modelo numérico para a etapa de adensamento sob peso

próprio. O estudo mostra que a alternativa de disposição dos rejeitos nas cavas de

sobredragagem do Complexo Lagunar é tecnicamente viável. O material depositado

sedimenta em cerca de 14 horas e sua consolidação dentro da cava se completa em

menos de 5 anos. O padrão de circulação hidrodinâmica local favorece a estabilidade

do material dentro das cavas, sem dispersão do sedimento na coluna d’água ou a sua

ressuspensão.

vi

Page 7: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Abstract of Dissertation presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of de

requirements for the degree of Master of Science (M. Sc.)

UNDERWATER DISPOSAL OF DREDGED MATERIAL: THE JACAREPAGUA

LAGOON SYSTEM CASE, RIO DE JANEIRO, BRAZIL

Maria Clara Cerqueira Paranhos Castiglia

June/2006

Advisor: Maria Claudia Barbosa

Department: Civil Engineering

The work analyses the alternative of underwater disposal of dredged material,

discussing the major factors and parameters related to the sediment behavior after

disposal in the water body, from geotechnical and hydrodynamic points of view, based

on Jacarepaguá Lagoon System characteristics, in Rio de Janeiro, Brazil.

Data from previous site investigations and monitoring, and reports from technical

studies and projects related to this lagoon system were consulted and used. Besides,

water and sediment samples were collected and taken to the laboratory for

characterization, chemical analyses and geotechnical testing.

The typical geotechnical behavior of the sediment at disposal conditions was

investigated through sedimentation tests and CRS (Constant Rate of Strain)

consolidation laboratory tests. The results were interpreted by a numerical model for

the stage of self-weight consolidation after disposal inside existing over-dredging

caves. The research shows the technical feasibility of the alternative of underwater

disposal of dredged material in this particular case. Sedimentation takes place within

14 hours, and consolidation inside the caves is accomplished in less than 5 years. The

hydrodynamic pattern favors sediment stabilization inside the caves, and neither

dispersion into the water column nor ressuspension after disposal are significant.

vii

Page 8: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Índice

CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO.........................................................................................1

1.1 - Relevância do assunto...........................................................................................1

1.2 - Objetivos da pesquisa............................................................................................2

1.3 - Organização da pesquisa.......................................................................................2

CAPÍTULO 2: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM..........4

2.1 - Disposição Irrestrita.................................................................................................5

2.1.1 – Área de Disposição de Eaton Neck, Nova Iorque...............................................6

2.1.2 - Área de Disposição do Rio Columbia, Oregon.....................................................7

2.1.3 - Área de Disposição do Lago Erie, Ohio...............................................................9

2.1.4 - Área de Disposição do Golfo do México, Texas….......……...…………………..10

2.1.5 - Área de Disposição do Rio Duwamish, Washington......…………………………11

2.2 – Disposição Contida ou em Locais Confinados.....................................................12

2.2.1 - ADC em células do Porto de Boston - Massachusetts, EUA.....………………...13

2.2.2 - ADC do Porto de Rodewishhafen - Hamburgo, Alemanha................................14

2.2.3 - ADC do Porto de Helsingborg – Helsingborg, Suécia........................................16

2.2.4 - Depósito da Pedreira de Lüsse – Weser, Alemanha.........................................16

2.2.5 - ADC do Porto de Minamata – Kyushu, Japão....................................................18

2.2.6 - ADC da Baía de Mission – Ontário, Canadá......................................................20

2.2.7 - Depósito Subaquático de Rouillard – Rio Sena, França .....…....……………….21

2.3 – Capeamento In Situ..............................................................................................22

2.3.1 - Hidrovia de São Lourenço, Nova Iorque............................................................22

2.3.2 - Rio Ruston ISC, Nova Iorque.............................................................................23

2.3.3 - Little Elk ISC, Maryland......................................................................................24

2.4 – Casos Brasileiros..................................................................................................25

2.4.1 - Porto de Santos, Estuário de Santos.................................................................25

2.4.2 - Porto de Sepetiba, Baía de Sepetiba.................................................................29

2.4.3 - Projeto do Porto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), Baía de

Sepetiba........................................................................................................................33

viii

Page 9: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.5 – Considerações Finais...........................................................................................34

CAPÍTULO 3: COMPORTAMENTO, PARÂMETROS RELEVANTES E IMPACTOS ASSOCIADOS À DISPOSIÇÃO EM CORPO HÍDRICO..............................................35

3.1 – Comportamento do Sedimento durante e após o Lançamento............................35

3.2 – Parâmetros Associados às Características Físicas e Químicas..........................37

3.2.1 - Constituintes do Material Dragado.....................................................................37

a) Fração Argílica..........................................................................................................38

b) Fração Orgânica .......................................................................................................39

3.2.2 – Contaminantes Presentes no Material Dragado................................................40

a) Nutrientes..................................................................................................................40

b) Metais Pesados.........................................................................................................42

c) Compostos Orgânicos...............................................................................................46

d) Consideração sobre a avaliação da contaminação...................................................48

3.2.3 - Condições do Meio Relevantes para as Reações.............................................52

a) Salinidade..................................................................................................................52

b) Potencial Redox (Eh) e Potencial Hidrogeniônico (pH).............................................52

c) Temperatura..............................................................................................................53

3.3 – Parâmetros Hidrodinâmicos.................................................................................53

3.4 – Outros Parâmetros...............................................................................................55

3.4.1 - Operação de Dragagem e Disposição...............................................................55

3.4.2 – Utilização do Corpo Hídrico...............................................................................56

3.5 – Impactos Associados à Atividade de Disposição Subaquática............................57

3.5.1 - Impactos Físicos................................................................................................57

3.5.2 – Impactos Químicos............................................................................................58

3.5.3 – Impactos Biológicos...........................................................................................59

3.5.4 – Minimizando Impactos.......................................................................................60

CAPÍTULO 4: MODELAGEM HIDRODINÂMICA E GEOTÉCNICA DA DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA............................................................................................................64

4.1 – Modelagem Hidrodinâmica...................................................................................64

4.2 – Modelagem Geotécnica........................................................................................70

4.2.1 – Sedimentação....................................................................................................72

ix

Page 10: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

4.2.2 – Adensamento....................................................................................................75

4.3 – Resumo................................................................................................................86

CAPÍTULO 5: METODOLOGIA DA PESQUISA..........................................................87

5.1 – Objetivos...............................................................................................................87

5.2 – Estudo de Caso....................................................................................................87

5.2.1 – Coleta de Amostras...........................................................................................89

5.2.2 – Modelagem Hidrodinâmica................................................................................93

5.2.3 – Modelagem Geotécnica.....................................................................................93

CAPÍTULO 6: CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO LAGUNAR DE JACAREPAGUÁ...........................................................................................................94

6.1 – Descrição do Complexo Lagunar de Jacarepaguá..............................................95

6.2 – Caracterização.....................................................................................................96

6.2.1 – Caracterização do Sedimento...........................................................................96

6.2.2 – Caracterização da Água..................................................................................104

6.3 - Monitoramento realizado na água da Lagoa de Jacarepaguá............................109

6.4 – Comportamento Hidrodinâmico..........................................................................110

6.5 – Considerações Finais.........................................................................................116

CAPÍTULO 7: COMPORTAMENTO MECÂNICO DO SEDIMENTO DA LAGOA DA TIJUCA........................................................................................................................117

7.1 – Introdução...........................................................................................................117

7.2 – Metodologia e Equipamento...............................................................................117

7.3 – Procedimento Experimental...............................................................................119

7.4 – Resultados Experimentais..................................................................................122

7.4.1 - Ensaios Preliminares........................................................................................122

7.4.2 - Ensaios Finais..................................................................................................131

7.5 – Análise Teórica...................................................................................................135

7.5.1 - Modelagem do Sedimentos após o Lançamento no Corpo Hídrico.................135

x

Page 11: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

7.5.2 - Sedimentação e Adensamento sob o Peso Próprio.........................................136

CAPÍTULO 8: CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS................................................................................................................143

8.1 – Conclusões.........................................................................................................143

8.2 – Sugestões para Futuras Pesquisas....................................................................145

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA.............................................................................147

APÊNDICE 1...............................................................................................................154

APÊNDICE 2...............................................................................................................155

APÊNDICE 3...............................................................................................................158

xi

Page 12: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 1 INTRODUÇÃO

1.1 – Relevância do assunto

O carreamento de solo das margens e das encostas vizinhas dos corpos hídricos

através da água, do vento e da gravidade é um processo erosivo natural que modifica

constantemente o limite entre a terra e a água. A sedimentação das partículas

carreadas nos corpos hídricos reduz seu espelho d’água e a profundidade dos

mesmos, ou seja, provoca o seu assoreamento.

O processo de assoreamento é bastante intensificado pela ação antrópica. Com

o crescimento urbano desordenado (típico das cidades brasileiras), práticas de

lançamento de lixo, esgoto, efluentes industriais e agrícolas contribuem para tal

processo com o agravante de promover, em algum nível, a contaminação do

ambiente.

A ação continua de sedimentação e conseqüente assoreamento gera uma

necessidade permanente de dragagem de manutenção dos corpos, seja para fins de

recuperação ambiental, através da melhoria da capacidade de circulação de água nos

sistemas lagunares e costeiros, seja para melhoria da capacidade de drenagem,

através da ampliação da seção hidráulica dos canais ou ainda de incrementar a

navegação, aumentando a profundidade dos canais (Ramos, 1997).

Em todo o mundo uma parcela dos sedimentos a serem dragados está

contaminada por uma grande diversidade de poluentes. Nesses casos, a atividade de

dragagem e destinação dos sedimentos torna-se um problema ambiental e, por isso,

com restrições quanto ao uso e disposição. Em vários países a legislação ambiental já

é bastante exigente no que diz respeito à redução dos impactos ambientais

associados a essas atividades. No Brasil, para disposição em terra, o material dragado

deverá ser classificado de acordo com os valores orientadores estabelecidos para

solos pela norma da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental – CETESB.

Já para disposição em águas jurisdicionais brasileiras, a atividade será limitada pela

Resolução CONAMA n° 344/2004.

Para os centros urbanos, existe também o problema da escassez de áreas para

disposição do rejeito de dragagem. Dentro do contexto de centros urbanos com

escassez de locais para disposição e transferência de material contaminado para uma

1

Page 13: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

área limpa é que a disposição aquática ganha importância. Essa alternativa, apesar de

pouco difundida no Brasil, é bastante utilizada no mundo e será objeto de estudo deste

trabalho.

1.2 - Objetivo da pesquisa

A presente pesquisa tem como objetivo apresentar os parâmetros relevantes

associados à opção de disposição de rejeitos de dragagem nos próprios corpos

hídricos, enfocando o comportamento mecânico – sedimentação e adensamento – dos

sedimentos após o lançamento. Trata-se da condição de um solo em formação dentro

de um corpo hídrico. Dessa forma, eventos hidrodinâmicos como, por exemplo, marés

e ondas, e também eventos diversos como tempestades e embarcações, influenciam

esse processo.

Para este trabalho, escolheu-se o Complexo Lagunar da Baixada de

Jacarepaguá em virtude da sua necessidade de dragagem e revitalização, tendo em

vista os problemas apresentados nos últimos anos como a mortandade de peixes,

crescimento desgovernado de gigogas e redução significativa do espelho d’água.

Dessa maneira, sua hidrodinâmica, seus sedimentos e suas águas serão avaliados de

forma a concluir se a alternativa sugerida é viável para o caso em questão.

1.3 – Organização da pesquisa

No Capítulo 2 é feita uma revisão onde se mostra como diversos locais do

mundo e também o Brasil, estão adotando a alternativa de disposição de seus rejeitos

de dragagem, ainda que com alto grau de contaminação, em corpos hídricos.

No Capítulo 3 é descrito o comportamento geral do sedimento após seu

lançamento, os parâmetros que devem ser avaliados para essa opção de disposição e

ainda os impactos associados à técnica.

O Capítulo 4 descreve o modelo hidrodinâmico do corpo hídrico que será

utilizado no trabalho e também o modelo geotécnico do material após o lançamento.

Enfocou-se o comportamento de longo prazo – sedimentação e adensamento – de

solos em formação.

O Capítulo 5 descreve a metodologia que será utilizada na pesquisa para avaliar

a alternativa de disposição subaquática no Complexo Lagunar de Jacarepaguá. Nesse

2

Page 14: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

capítulo está a descrição da coleta de amostras e a forma com que serão utilizados os

dados existentes sobre esse material.

A caracterização da área de estudo – Complexo Lagunar de Jacarepaguá, é feita

no Capítulo 6. Nesse capítulo também estão a caracterização dos sedimentos e da

água da Lagoa da Tijuca e a modelagem hidrodinâmica do corpo hídrico.

No Capítulo 7 descreve-se o ensaio que simula o comportamento do material

após o lançamento, apresentam-se os resultados e a discussão pertinente.

As conclusões e sugestões para futuras pesquisas estão no Capítulo 8. Em

seguida, apresentam-se as Referências Bibliográficas e os Apêndices.

3

Page 15: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 2 DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM

A disposição de rejeitos em corpos hídricos pode ser realizada em oceanos,

estuários, rios, lagos e lagoas. Neste tipo de disposição podem ser utilizadas diversas

técnicas para o controle adequado do sedimento dragado depositado.

A opção mais simples de disposição subaquática consiste no lançamento do

material dragado nos corpos hídricos e a conseqüente formação do monte de

sedimentos sem que o material seja isolado das águas adjacentes. Essa técnica é

geralmente aplicada a materiais limpos ou moderadamente contaminados.

O corpo hídrico também pode receber material com um grau de contaminação

mais elevado desde que se utilizem as medidas de controle apropriadas (Goes Filho,

2004). Este tipo de medida inclui o capeamento do material depositado e a disposição

realizada em fossas ou cavas com contenção lateral natural. À técnica de capeamento

sem contenção natural dá-se o nome de Capeamento do Nível do Fundo ou LBC

(Level Bottom Capping) e à técnica de disposição em depressões dá-se o nome de

Disposição Aquática Contida ou CAD (Contained Aquatic Disposal), que pode ou não

levar capeamento (Goes Filho, 2004).

Existe, ainda, a ADC (Área de Disposição Confinada) ou CDF (Confined Disposal

Facility) que consiste na disposição do material dragado em recintos especialmente

projetados para o confinamento do mesmo, isolando o material das águas ao redor

depois de efetuada a disposição (Goes Filho, 2004).

Figura 2.1 apresenta um esquema com as opções de disposição subaquática. A

Este capítulo apresenta experiências de disposição subaquática de material

dragado em diversos locais do mundo. São relatados os impactos observados e as

conclusões desta forma de disposição para cada local.

4

Page 16: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Sem Capeamento Com Capeamento

(a) (b)

(c) (d)

(e) (f)

Figura 2.1. Opções de disposição em corpos hídricos. (a) Disposição irrestrita; (b) Capeamento pelo nível do fundo; (c) Disposição com contenção lateral; (d) Disposição confinada; (e) Disposição em cavas; (f) Disposição confinada em cavas. (Fonte: Adaptado de IADC/CEDA – Environmental Aspects of Dredging – Guia 5, 1996)

2.1 - Disposição Irrestrita

Trata-se da disposição do material dragado no corpo hídrico sem utilização de

qualquer técnica ou medida de controle e/ou isolamento da águas adjacentes.

Os EUA, entre os anos de 1973 e 1978, desenvolveram um programa de

pesquisa para materiais dragados - DMRP (Dredged Material Research Program –

Programa de Pesquisa de Material Dragado) – administrado pelo USACE (U.S. Army

Corps of Engineer). Dentro deste programa foi realizado um estudo, chamado ADFI

(Aquatic Disposal Field Investigations – Investigações de Campos de Disposição

Aquática), para avaliar os impactos no ambiente natural associados a essa forma de

disposição. As investigações foram conduzidas em cinco locais, que representaram

5

Page 17: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

variedades no tipo de material, no ambiente aquático e nas práticas de dragagem e

disposição. Todas as áreas de disposição não contaram com qualquer tipo de

proteção ou isolamento para separar os sedimentos depositados do ambiente ao

redor. A seguir, serão apresentados estes estudos, que estão descritos em Wright

(1978).

Figura 2.2 mostra a localização das ADFIs no mapa dos EUA. A

Figura 2.2. Localização das ADFIs. (Fonte: Wright, 1978)

2.1.1 – Área de Disposição de Eaton Neck, Nova Iorque

Trata-se de um estuário localizado no “Long Island Sound”, cuja circulação é

imposta pelo fluxo de maré. Grande parte do fundo é coberta por uma camada

homogênea de sedimentos siltosos. É uma importante área de pesca comercial e

também recreativa.

Este local foi usado para disposição de materiais finos de dragagem por cerca de

75 anos. Além disso, entulho de construções, navios abandonados e outros materiais

também eram dispostos nesta área, cuja profundidade das águas varia de 12 a 55

metros. Vale ressaltar que durante as investigações esta área havia deixado de

receber materiais dragados a pelo menos 4 anos.

Realizaram-se investigações físicas no período entre 1974 e 1976, que incluíram

levantamentos batimétricos, fotografias do fundo, medições de correntes e ondas e

6

Page 18: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

observações meteorológicas. Investigações químicas também ocorreram neste

período através de amostras da água e dos sedimentos e análises de temperatura,

salinidade, oxigênio dissolvido, nutrientes e metais. As investigações biológicas foram

realizadas entre os anos de 1974 e 1975, com a coleta de amostras dos organismos

bentônicos, plâncton, peixes e crustáceos importantes para a atividade de pesca e as

posteriores análises de metais pesados e coliformes fecais. As conclusões foram

tiradas a partir da comparação com amostras e análises de uma área de referência.

Os estudos físicos mostraram que em 2 anos os depósitos de sedimentos se

modificaram muito pouco. Com isso, puderam concluir que não se trata de um

ambiente dispersivo e que, portanto, é um local adequado, pelo menos fisicamente,

para disposição de materiais dragados.

Os estudos químicos mostraram que as taxas de amônio, carbono orgânico e

nitrogênio orgânico são ligeiramente maiores nos sedimentos e na coluna d’água da

área de disposição do que da área de referência.

Não foram observadas diferenças em relação à abundância ou tipo de espécies

dos organismos bentônicos entre o local de disposição e o de referência. Verificou-se

que as lagostas são mais abundantes na área de disposição do que na área de

referência, o que foi justificado pela presença de entulhos que criam substratos

adequados para esses seres. Não se encontraram concentrações elevadas de metais

pesados nos animais verificados (Wright, 1978).

Como conclusão, observou-se que a área de Eaton Neck, após 4 anos que foram

cessadas as atividades de 75 anos de disposição de material dragado, apresentava

poucas diferenças químicas e biológicas em relação à área de referência, apesar dos

montes de sedimentos ainda estarem evidentes. Entretanto, vale ressaltar que

variações naturais e perturbações humanas podem não ter sido adequadamente

contabilizadas nesta conclusão (Wright, 1978).

2.1.2 – Área de Disposição do Rio Columbia, Oregon

Trata-se de uma área de disposição oceânica próxima à foz do Rio Columbia,

que é um rio navegável e de acesso a uma grande área portuária.

Os sedimentos que fazem parte do estudo são areias, geralmente de

granulometria fina, e silte e argilas em menores quantidades. O material é dragado de

áreas próximas à costa e do fundo do Rio Columbia.

7

Page 19: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

O local de disposição é um ambiente dinâmico, onde as correntes superficiais

correm a partir do norte e as correntes de fundo se movem em direção ao norte. Além

disso, as descargas do rio e as marés o influenciam bastante. Estes aspectos são

responsáveis pelas flutuações de algumas variáveis como salinidade, oxigênio

dissolvido, nutrientes e turbidez (Wright, 1978). Esta área apresenta também

diversidade e abundância de organismos bentônicos, plâncton e peixes marinhos,

onde os mais proeminentes são o salmão e o esturjão. Adjacente ao rio, existe uma

região bastante ativa para a pesca de caranguejos.

A operação de investigação consistiu de 4 fases: um estudo piloto; o estudo de

base anterior à disposição; o monitoramento da disposição e o estudo posterior à

disposição. As duas primeiras fases foram realizadas em 1974 e 1975. A operação de

disposição foi conduzida em junho e julho de 1975 e o monitoramento após esta fase

continuou até julho de 1976.

Na investigação física foram avaliados os ventos, as correntes, as ondas, os

sedimentos suspensos e a granulometria e mineralogia dos sedimentos. Através da

batimetria, perfil do fundo e fotografias subaquáticas foram determinadas as

características e a orientação do depósito (monte).

A investigação química envolveu a coleta de amostras e análises da coluna

d’água, da água intersticial dos sedimentos e dos próprios sedimentos. As variáveis de

interesse na coluna d’água foram salinidade, oxigênio dissolvido, pH, nutrientes,

partículas de carbono e nitrogênio e metais pesados. As análises dos sedimentos e

sua água intersticial incluíram metais pesados, nutrientes e amônio.

Foram retiradas amostras para análise do número e tipo de organismos

bentônicos, plâncton e espécies dominantes de peixes.

Foram dispostos 459.000 m3 de material, resultando em material com um raio de

460 metros, que se preservou durante todo o tempo de monitoramento. Foi verificado

que o material se movimentou para noroeste, que houve ressuspensão e transporte do

material mais fino e que o material granular (predominante) se preservou inalterado.

Não foram verificadas importantes variações químicas na coluna d’água nem nos

sedimentos como resultado da operação de disposição. Na coluna d’água observou-se

somente uma leve elevação de níquel após a disposição.

A disposição de material dragado causou impactos biológicos como a redução do

número de organismos bentônicos e o aumento da diversidade biológica. A redução

persistiu por pelo menos 8 meses, enquanto o aumento da diversidade biológica foi

evidente por pelo menos 10 meses (até o fim da investigação). Esses impactos

8

Page 20: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

atingiram cerca de 50% dos organismos e o grau de impacto foi função da

proximidade do centro de disposição, de forma que fora da área de disposição, pouco

ou nenhum impacto foi observado. Devido ao fato de não haverem alterações

químicas significativas, mostrou-se que o impacto biológico foi resultado de fenômenos

físicos (Wright, 1978).

Os peixes também sofreram impactos devido à disposição. Seus números foram

reduzidos após esta atividade, porém a recuperação foi observada depois de alguns

meses. Os mexilhões não se mostraram impactados.

Como conclusão, observou-se que esta área de disposição apresentou mínimos

impactos na natureza química dos sedimentos e da coluna d’água, porém provocou

impactos significativos sobre organismos bentônicos e peixes. Os impactos sobre os

primeiros se mostraram mais severos. Foi destacado que devem ter ocorrido impactos

e alterações químicas na natureza dos sedimentos que não foram detectados nas

investigações porque foram ocultados por modificações naturais locais.

2.1.3 – Área de Disposição do Lago Erie, Ohio

Trata-se de uma área de disposição localizada no Lago Erie, ao norte da entrada

do porto de Ashtabula e inteiramente em água doce. É uma grande área portuária,

altamente industrializada e com um grande número de fontes de contaminação

potenciais ao seu redor.

Os sedimentos dispostos são dragados da parte mais estreita do rio Ashtabula e

consistem de partes aproximadamente iguais de areia e silte e uma pequena

porcentagem (< 10%) de argila.

As investigações nesta área ocorreram entre 1975 e 1977 e podem ser divididas

em 4 fases: uma pesquisa piloto (1975); amostragens antes da disposição (1975 e

1976); operação de disposição (1975 e 1976) e amostragens após a disposição. Para

verificar a variação natural dos parâmetros, as amostras foram retiradas da área de

disposição e de uma área adjacente para servir como referência.

Os aspectos físicos observados incluíram as correntes, batimetria, ondas, perfis

de fundo, sedimentação e hidrologia da região.

Para a investigação química nas amostras da coluna d’água, foram realizadas

análises de oxigênio dissolvido, nutrientes, alcalinidade, metais, carbono orgânico,

silicatos e sulfatos. Nas amostras dos sedimentos e águas intersticiais, foram

9

Page 21: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

realizadas análises de nutrientes, metais e carbono orgânico, sendo que nos

sedimentos observaram também a capacidade de troca catiônica e o potencial redox.

Amostras de plâncton foram analisadas em termos de espécies e abundância.

Estudos sobre a variedade de peixes também foram realizados, assim como análises

que identificam a presença de metais nos peixes e nos invertebrados.

A disposição dos sedimentos não resultou na formação de um único monte de

material, mas sim na formação de alguns depósitos de alturas que variaram entre 30 e

50 centímetros. Esta operação criou um pequeno aumento de temperatura (< 2º) na

coluna d’água, que desapareceu nos meses seguintes. Observou-se erosão dos

montes e transporte de sedimentos, ambos provocados pelas tempestades de outono

e inverno.

Algumas mudanças químicas foram observadas, mas todas de pequena

magnitude ou de natureza transiente.

Houve alterações nas comunidades bentônicas que persistiram durante todo o

estudo. Não foram constatadas mudanças no número de espécies, mas sim no tipo de

espécies. Novas espécies transportadas do porto ficaram no lugar daquelas

eliminadas pela operação de disposição. Pôde observar-se também um aumento do

número de organismos bentônicos nesta área. Como estes servem de alimentos para

peixes, alterações nessa comunidade podem ser preocupantes, porém nenhum

impacto negativo neste sentido foi observado.

Não se verificou a ocorrência de bioacumulação em peixes e invertebrados.

A erosão espalhou o material dragado, de forma que as mudanças observadas

na fauna também se espalharam por uma área maior, mas não o suficiente para

detectar impactos.

2.1.4 – Área de Disposição do Golfo do México, Texas

Trata-se de uma área de disposição localizada no Golfo do México, próxima à

entrada do canal, que permite acesso aos portos de Galveston, às cidades de Texas e

Houston e ainda conecta as Baías de Galveston, Trinity e East. É uma área de grande

importância comercial e recreativa devido à fauna presente.

O material é dragado dos portos e canais da região, na qual existem fontes

potenciais de contaminação. Este material consiste de areia de granulometria variando

de fina a média.

10

Page 22: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A investigação consistiu de um estudo piloto e das fases antes, durante e após a

disposição. No interior da área destinada à disposição dos sedimentos, foram tomados

3 locais para disposição experimental e 2 para servir como referência. Todo o material

disposto nestes locais foi classificado como não contaminado. Mais um local foi

selecionado, porém este para a disposição de um pequeno montante de material

contaminado por nutrientes e metais pesados.

Para investigação física foram verificadas as correntes, as ondas, turbidez,

batimetria, suspensão e transporte dos sedimentos, mineralogia e tamanho dos grãos.

Na investigação química da coluna d’água observou-se nutrientes, metais, óleos

e graxas, pesticidas, PCBs (bifenóis policlorídricos), salinidade e oxigênio dissolvido.

Análises similares foram conduzidas nos sedimentos e poucas análises foram

realizadas na água intersticial destes.

As investigações biológicas levaram em conta os organismos bentônicos,

plânctons e peixes.

A disposição de aproximadamente 800.000 m3 de material resultou em acúmulos

discretos de sedimentos. Observou-se erosão dos montes e transporte de sedimentos,

principalmente para sudoeste, devido à ação de ondas e correntes da região.

Através da investigação química observou-se a elevação de manganês e

nitrogênio-amoniacal na coluna d’água, mas estas variações se mostraram mínimas

(Wright, 1978).

A investigação biológica sugeria impactos sobre os organismos bentônicos,

entretanto, o comportamento destes organismos nas áreas de referência foi

suficientemente similar ao das áreas de disposição, de forma que não se definiu a

ocorrência de impacto.

Como conclusão, admitiu-se que se tratava de um sistema dinâmico altamente

variável, com perturbações naturais nos aspectos químicos e físicos e com uma

enorme biota, e estas características poderiam ocultar os impactos associados às

atividades de disposição dos sedimentos dragados.

2.1.5 – Área de Disposição do Rio Duwamish, Washington

Trata-se de uma área localizada em um estuário no interior da Baía de Elliott. Os

sedimentos são dragados do Rio Duwamish, um canal de navegação e também

principal rota de migração de salmão e truta.

11

Page 23: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Estes sedimentos consistem de um silte orgânico fino que se apresenta

contaminado por PCBs, metais pesados e hidrocarbonetos derivados de petróleo.

As investigações físicas, químicas e biológicas foram similares às realizadas em

todos os outros estudos desta pesquisa. Também utilizaram áreas para servirem de

referência. As investigações tiveram início em 1975 e foram concluídas em 1976. 3A disposição de aproximadamente 114.000 m de material resultou em montes

com 2 a 3 metros de altura e raio máximo de 200 metros. O monitoramento posterior à

disposição (de 6 a 9 meses após) mostrou que os montes se espalharam

gradativamente. Este movimento foi ocasionado pelas correntes, mas verificou-se

também que estas não eram fortes o suficiente para carregar o material para fora da

área de disposição.

Observaram-se mínimas alterações químicas na coluna d’água, que se

mostraram associadas ao movimento transitório de partículas em suspensão. Tão logo

este material sedimentou, os valores dos parâmetros químicos retornaram aos valores

anteriores à disposição.

Foi verificado um aumento significativo de PCBs e metais pesados nos

organismos que habitavam a área. Porém, isto não permaneceu por mais de 3

semanas. Algumas alterações também foram observadas em relação à abundância,

diversidade e composição das espécies bentônicas na área de disposição, entretanto,

mudanças similares nas regiões de referência fizeram com que a atividade de

disposição não parecesse a única responsável por elas.

2.2 – Disposição Contida ou em Locais Confinados

Conforme já dito, para a disposição em corpos hídricos de materiais

contaminados são necessárias algumas técnicas de controle, como por exemplo a

utilização do capeamento e do confinamento dos sedimentos.

A partir de um Relatório de um Grupo de Trabalho do PIANC, divulgado em

fevereiro de 2002 – ENVICOM 5 (Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and

Upland Confined Disposal Facilities Dredged Material) – pôde-se observar alguns

estudos de casos de disposição aquática confinada em todo o mundo. Para cada caso

estudado, as informações geradas são específicas para a situação e não devem ser

tomadas como padrões. Todas as pesquisas realizadas tiveram como objetivo

principal, encontrar as formas mais adequadas de isolar o material contaminado,

12

Page 24: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

minimizando os efeitos negativos da construção dessa estrutura no ambiente aquático.

A seguir, apresentam-se alguns destes estudos.

2.2.1 – ADC em células do Porto de Boston - Massachusetts, EUA

Os sedimentos dragados do porto de Boston são, normalmente, dispostos no

oceano (cerca de 22 km afastado da costa). Entretanto, aproximadamente 800.000 m3

de sedimentos que se encontravam sobre um depósito de argila (“blue clay”) foram

considerados inadequados para a disposição no oceano. Tratava-se de argila fina e

silte que apresentavam metais e contaminantes orgânicos (HPAs – hidrocarbonetos

polocíclicos aromáticos, PCBs, pesticidas).

Para dispor este material foi construída uma Área de Disposição Confinada no

interior do porto, que consiste de 9 células. Para esta construção foi necessário que

escavassem o fundo do porto na área destinada para a ADC.

A permissão para o projeto e para a disposição de material nesta área foi dada

de acordo com o U.S Clean Water Act, onde o estado de Massachusetts se tornava o

responsável pela qualidade da água e também pelo monitoramento exigido para a

construção, preenchimento e capeamento das células.

As células foram construídas no período de 1997 a 2000 e as atividades de

monitoramento continuaram durante 5 anos.

O programa de monitoramento foi projetado para garantir que as células fossem

preenchidas e capeadas conforme o esperado, focando principalmente os aspectos

geotécnicos.

Amostras da coluna d’água e estudos sobre a trajetória da pluma foram

realizados para determinar a extensão da dispersão dos sedimentos e a liberação de

contaminantes durante a disposição. A ressuspensão de sedimentos e a perda de

contaminantes foram menos intensas do que a estimada por modelos numéricos. Não

houve controle de efluentes nem o uso de liners.

O material foi dragado mecanicamente e transportado até as células através de

batelões. A cobertura da 1ª célula também foi feita dessa maneira, resultando em um

capeamento irregular. Portanto, as demais células tiveram o seu capeamento lançado

por dragas autotransportadoras, melhorando este aspecto. Além disso, o primeiro

capeamento foi lançado após 30 dias do fim do preenchimento da célula, resultando

na mistura da areia do capeamento com o material da célula e numa cobertura menos

eficiente (Palermo, 2002). Nas células seguintes, o capeamento foi lançado apenas 24

13

Page 25: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

semanas após o fim do preenchimento das células, resultando numa mistura mínima

dos materiais.

Abaixo segue a vista aérea do Porto de Boston com o esquema da ADC (Figura

2.3).

Figura 2.3. Vista do esquema da ADC no Porto de Boston. (Fonte: Palermo, 2002)

2.2.2 – ADC do Porto de Rodewishhafen - Hamburgo, Alemanha

Diante da falta de local para dispor sedimentos da dragagem de manutenção do

Porto de Hamburgo, este material, em 1993, passou a ser disposto na enseada no

interior do porto. A operação de disposição teve 20 semanas de duração. Porém,

alguns anos depois, em 2001, esta área passou a ser necessária para realização de

algumas atividades do porto e, portanto, teve que ser recuperada. 3O material dragado consistia de, aproximadamente, 290.000 m de material

siltoso com quantidade de areia variando de 7 a 45% e médio grau de contaminação.

Para implantação da ADC, foram construídas duas barragens de areia que

separavam esta área de dois canais adjacentes. O fundo consistia de finas camadas

de silte consolidado sobre uma camada de areia.

A solução adotada para o uso da área foi capear o material disposto com areia

até a altura desejada.

14

Page 26: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

As atividades de disposição e de capeamento para utilização da área foram

realizadas de acordo com as leis germânicas relacionadas com a qualidade da água.

Estudos da estimativa de impacto ambiental também foram realizados antes do

lançamento das camadas de areia sobre o material dragado. Possíveis efeitos na

qualidade da água, causados por saída da água intersticial durante a consolidação e

produção de gases foram extensamente examinadas. Detectou-se a presença de

amônio na coluna d’água(300 g/l). E não foi detectado fluxo de água através do

depósito de silte (Netzband, 2002).

O material siltoso havia sido bombeado diretamente para a enseada. Portanto,

nos 8 anos decorridos até a necessidade de utilização da área, houve tempo suficiente

para a consolidação deste sedimento disposto. Diante disto, o primeiro passo para a

recuperação da área foi a colocação de camada drenante horizontal na superfície do

depósito. A água liberada foi coletada e bombeada para uma estação de tratamento. A

estabilidade das barragens também teve que ser reforçada. Após o lançamento de

uma camada de areia, drenos verticais foram construídos e, em seguida, mais areia foi

lançada. Esperava-se que, em 4 anos, os efeitos do adensamento primário tivessem

acabado e que o local estivesse com uma altura suficientemente segura contra

enchentes e tempestades.

Após esse processo, o local estaria pronto para funcionar como área de

estocagem, uso pretendido para ele.

Como conclusão deste estudo verificou-se que enseadas no interior de portos

podem ser utilizadas como áreas de disposição subaquática de material dragado. A

Figura 2.4 mostra a ADC no Porto de Hamburgo.

ADC

Figura 2.4. ADC no Porto de Hamburgo. (Fonte: Netzband, 2002)

15

Page 27: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.2.3 – ADC do Porto de Helsingborg – Helsingborg, Suécia

Anteriormente, o material dragado do Porto de Helsingborg era disposto no

Estreito de Oresung, porém devido às restrições ambientais da área, entre elas a

produção de bacalhau e pesca, uma nova forma de dispor o material teve de ser

adotada. Optou-se pela construção de uma ADC dentro do porto.

A permissão para este projeto foi concedida por Autoridades Ambientais de

acordo com as regulamentações “temporárias” (1985) que prevaleciam na Suécia.

O material disposto era um silte com cerca de 20% de areia e medianamente

contaminado.

A ADC foi construída numa antiga enseada do porto para uma capacidade total

de 30.000 m3 de material. Nesta construção foram usadas pilhas de material arenoso

para contenção dos sedimentos e areia limpa para cobertura dos mesmos. Essa

solução se mostrou a mais economicamente viável (Hammarskjold, 2002).

Os sedimentos foram retirados por uma draga mecânica (retroescavadeiras) e

transportados em cisternas até o local de disposição. O mesmo processo foi feito com

o material de capeamento.

Diante do baixo nível de contaminação do material e da utilização de cobertura,

não se mostrou necessário o controle de efluentes, nem o monitoramento a longo

prazo.

2.2.4 – Depósito da Pedreira de Lüsse – Weser, Alemanha

Este estudo foi apresentado por Koethe (2002). Trata-se da disposição de

material dragado contaminado em uma antiga pedreira. Atravessando o Rio Weser e o

Canal de Mitthelland, estavam, aproximadamente, 290.000 m3 de sedimentos

contaminados que vinham sedimentando por muitos anos. Consistiam de sedimentos

orgânicos e de fina granulometria – material silto-argiloso com porções mínimas de

areia fina. A contaminação era principalmente causada por zinco e cádmio e

levemente por chumbo e HPAs. Em torno de 50.000 m3 destes sedimentos

apresentavam um alto grau de contaminação e o restante estava somente pouco

contaminado.

Segundo as normas ambientais de disposição de material dragado, estipuladas

na legislação alemã, foi decidido que uma pedreira já esgotada junto ao rio seria

usada para disposição subaquática. Estudos científicos, iniciados em 1992, foram

16

Page 28: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

realizados para assegurar a adequabilidade do depósito, diante das condições

naturais em que estava exposto e da qualidade das águas.

Esta pedreira estava separada do rio Weser somente por uma barragem,

portanto, para prevenir o retorno do material disposto para o rio, outras barragens

foram construídas.

Em torno de 180.000 m3 de material foi disposto no período entre 1992 e 1995.

Após ser constatado, por programas de monitoramento, a segurança da operação, o

restante do material foi disposto entre 1997 e 1999. O capeamento de areia foi

totalmente completado em 1999, o qual foi construído em 4 camadas.

Parte do material foi dragado, transportado e lançado por dragas

autotransportadoras (equipamentos hidráulicos). Para a outra parte foi usada a

caçamba de mandíbulas (equipamento mecânico) na retirada dos sedimentos, que

foram transportados por batelões até a estação de bombeamento e de onde foram

transportados até a pedreira por tubulações flexíveis. A areia do capeamento foi

espalhada através de um equipamento flutuante.

O plano de monitoramento consistiu de 3 partes: monitoramento extensivo da

água ao redor do depósito, que teve início em 1997 e permanecerá durante 10 anos;

registro dos níveis de contaminantes presentes nos sedimentos e checagem das

profundidades alcançadas por sedimentos durante a operação de disposição.

Não houve necessidade de controle de efluente e não foram verificados impactos

na agricultura das áreas próximas. De forma, que pode-se concluir que pedreiras sob

condições naturais adequadas podem ser uma solução para disposição do material

dragado.

E ainda, se a tubulação tiver diâmetro adequado (evitando entupimentos e

interrupções na operação), esta forma de transporte e disposição dos sedimentos

também se mostrou adequada.

Figura 2.5 mostra a vista aérea do local de disposição no ano de 1994. A

17

Page 29: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 2.5. Vista aérea do depósito de sedimentos no ano de 1994. A barragem ainda

se encontrava aberta. (Fonte: Koethe, 2002)

2.2.5 – ADC do Porto de Minamata – Kyushu, Japão

De acordo com Miayachi (2002), uma doença atingiu muitas pessoas em

Minamata no final da década de 70. Essa doença se deu pela ingestão de peixes e

mariscos contaminados por mercúrio. A contaminação da Baía de Minamata, de onde

os peixes e mariscos eram pescados, ocorreu pelo esgoto de áreas onde fertilizantes

eram utilizados.

Esta situação criou oportunidades para que o Japão fizesse regulamentos sobre

a contaminação do subsolo e das águas. Em 1974 foi desenvolvido e iniciado um

projeto para prevenir a poluição desses meios.

O sedimento contaminado da baía apresentava a concentração de

contaminantes variando de 0,04 ppm a 550 ppm de mercúrio. Definiu-se, então, que

todo material que apresentasse a concentração de mercúrio superior a 25 ppm seria

dragado. A área para disposição destes sedimentos consistia de duas células,

localizadas no interior do estuário da baía (uma de cada lado do canal de Hyakken). O

solo de fundação deste local era uma argila siltosa mole, sendo necessário a melhoria

18

Page 30: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

do mesmo, que foi realizada a partir de drenos e sobrecarga de areia antes da

construção da ADC.

As células foram circundadas por pilhas de material argiloso, de forma que

tinham aparência de paredes de “cut off”. Após o preenchimento, recebiam um

capeamento que consistia de uma fibra sintética sobre os sedimentos seguidos por

uma rede de cordas, uma camada de 80 cm de cinzas vulcânicas e por fim uma

camada de 1 m de solo montanhoso. 3O volume de material dragado e disposto foi de 1,51 milhões de m e a

construção da ADC ocorreu de 1977 a 1979.

Para evitar fontes secundárias de poluição, o material era retirado com dragas

hidráulicas sem desagregador e, então, transportado por tubulações até o local de

disposição. Para evitar a dispersão dos sedimentos contaminados, um quebra-mar

temporário de 340 metros foi construído.

A concentração de mercúrio nos peixes, mariscos e no plâncton foi monitorada.

A qualidade da água também foi monitorada e o tratamento de efluentes foi adotado.

Com a recuperação da área, uma das células está sendo usada para atividades

diversas do porto e na outra foi criada uma ilha verde, com parque, campo de beisebol

e também para atividades do porto, conforme pode ser observado na Figura 2.6.

Figura 2.6. Vista aérea da ADC de Minamata. (Fonte: Miayachi, 2002)

19

Page 31: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.2.6 – ADC da Baía de Mission – Ontário, Canadá

Thunder Bay é o maior porto do Canadá e se localiza na extremidade oeste dos

Grandes Lagos. A área que rodeia o porto apresenta muitas indústrias, responsáveis

pela economia local.

Segundo Osborne (2002), as atividades de dragagem são necessárias para a

manutenção dos canais de navegação do porto e dos rios associados. A cada ano

draga-se de 46.000 m3 a 306.000 m3 de sedimentos para manutenção da

profundidade necessária para navegação.

Historicamente, estes sedimentos eram dispostos em um local especifico do

Lago Superior, porém na década de 70 começou-se a observar que os níveis de

poluição dos Grandes Lagos estavam aumentando. Ao verificar os níveis de

contaminantes nos sedimentos, constatou-se que estavam superiores aos permitidos

para disposição em águas abertas. Os sedimentos de determinados locais

apresentavam elevados níveis de metais pesados (mercúrio, chumbo, zinco, cádmio,

etc) e PCBs.

Diante das opções para dispor este material, optou-se por uma ADC próxima à

costa devido à facilidade de acesso e à proximidade dos locais de dragagem. Este

local consistia de uma berma periférica que apresentava no seu interior um

reservatório temporário para armazenamento do material e mais 4 células para serem

preenchidas definitivamente e tinha capacidade para 2 milhões de m3.

Sua construção teve início em 1978, as duas primeiras células foram

preenchidas e capeadas em 1987. Em 2001, a terceira célula estava sendo

preenchida. A ADC apresenta um filtro revestindo as bermas externas e uma cortina

de silte na sua entrada. O projeto de operação das células permite uma otimização do

processo de sedimentação.

Os sedimentos são dragados mecanicamente e transportados à área de

disposição através de uma barcaça, de onde também são liberados.

Vários programas de monitoramento da qualidade das águas locais e adjacentes

foram implantados. Investigações sobre a vegetação e a fauna local também foram

realizadas. E as bermas são constantemente inspecionadas, de forma que sua

integridade seja assegurada.

20

Page 32: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.2.7 – Depósito Subaquático de Rouillard – Rio Sena, França

Esta pesquisa foi apresentada por Cevere(2002). O material contaminado do Rio

Sena era dragado e disposto na área de uma antiga pedreira dentro de um local de

lazer, sujeito a inundações. As maiores preocupações associadas a isso são os

impactos diretos ao meio ambiente, já que se trata de uma área pública, e os efeitos

em longo prazo desse método de disposição.

O material dragado vem da bacia do Rio Sena, incluindo sedimentos dos rios

Oise e Marne. Esses sedimentos são de granulometria variável, mas na média

apresentam cerca de 20% de partículas finas e o grau de contaminação não muito

elevado.

Como solução, foi determinado um amplo programa de monitoramento,

avaliando constantemente a qualidade das águas superficiais e subterrâneas e

também dos sedimentos, durante todo o tempo de disposição e após esta operação.

O local onde os sedimentos estavam sendo dispostos tratava-se de uma lagoa

na área de uma antiga pedreira, distante 150 metros do Rio Sena e com 8 metros de

profundidade.

Um dique foi construído para separar o local de recebimento dos sedimentos do

restante da lagoa. O sistema de descarga do material foi finalizado em junho de 1999

e somente em julho de 2000 o local começou a receber sedimentos. A capacidade da

área era para 200.000 m3 e após o preenchimento sua profundidade chegava a 1metro

(contra os 8 metros iniciais).

Neste caso, admitiu-se que a primeira camada de material disposto,

principalmente argila, funcionaria como camada impermeabilizante.

O material dragado era bombeado para a área de disposição após ser misturado,

numa razão de 1:9, com a água do Rio Sena. A água introduzida no açude retornava

ao rio através de tubulações enterradas.

O monitoramento foi feito com piezômetros e medidores de nível. Verificaram-se

todos os parâmetros no efluente e na água do açude, durante e após a disposição.

Foi verificado (entre março de 1999 e março de 2001) que a concentração de

amônio (NH4+) nas águas superficiais do açude se mantinha elevada quando

comparadas à da água do Rio Sena. Isso sugeriu que o aumento da concentração de

NH4+ se devia à combinação de efeitos da sedimentação e também à dessorção de

NH4+ dos sedimentos, e não à suposta água contaminada do rio (Cevere, 2002).

Outras medidas mostraram que, mesmo se durante a disposição do material

dragado significativas concentrações de metais pesados fossem encontradas na fase

21

Page 33: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

dissolvida, estes, em seguida, eram adsorvidos pelas partículas e permaneciam

acumulados nos sedimentos da lagoa e não eram liberados para a água.

Com relação aos HPAs, encontrou-se apenas uma pequena quantidade desses

compostos livres na água. As elevadas concentrações encontradas na lagoa se devem

à alta contaminação dos materiais dispostos no momento da amostragem.

Como conclusões deste estudo de caso, observaram que a quantidade de

sólidos em suspensão poderia ser reduzida caso utilizassem um tanque de

decantação antes da descarga e dragas mecânicas; que, apesar do aumento da

concentração de NH4+ (o que aumenta o processo de eutrofização), em curto prazo os

micro-poluentes não são liberados para a sua fase líquida. Foi observado também que

a disposição deste material em áreas públicas gera muita pressão sobre a operação.

2.3 – Capeamento In Situ

Esta operação não se trata, exatamente, de uma forma de disposição de

materiais dragados. Neste caso, o material contaminado já está no local e somente

recebe uma cobertura para não impactar ou ainda, para minimizar os impactos sobre o

meio aquático. Não há a necessidade física da retirada de materiais, mas se trata de

técnicas que podem ser empregadas no capeamento de material dragado já disposto.

Os casos apresentados a seguir foram estudados nos EUA por Hagerty e

Trotman (2001) e a aprovação dos projetos foi concedida pelos órgãos USEPA e

USACE.

2.3.1 – Hidrovia de São Lourenço, Nova Iorque

Trata-se de uma proteção para sedimentos contaminados por PCBs.

Inicialmente, os sedimentos foram removidos através de dragagem, porém o nível de

descontaminação não foi alcançado, de forma que houve a necessidade de se instalar

o capeamento sobre os sedimentos remanescentes.

A proteção foi construída numa área de aproximadamente 7.000 m2, onde a

profundidade da lâmina d’água variava de zero a 5 metros.

O projeto do capeamento protegia química e fisicamente a coluna d’água dos

sedimentos contaminados. Este consistia de 3 camadas: logo acima dos sedimentos

havia uma camada de isolamento com 15 centímetros de areia, em seguida, uma

camada com 15 centímetros de pedregulho de diâmetro de 5 centímetros e por último

22

Page 34: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

mais uma camada com 15 centímetros de pedregulho de diâmetro de 10 centímetros.

A camada de isolamento apresentava areia com granulometria de média a fina

misturada com 1% de carbono ativado granular, sendo responsável pela minimização

da difusão de PCBs para a coluna d’água.

O projeto levou em consideração a ação das ondas e a velocidade de

escoamento do rio próximo, de maneira a prever os efeitos erosivos sobre as

camadas.

Figura 2.7 apresenta o esquema de capeamento realizado na área. A

Figura 2.7. Esquema do projeto de capeamento. (Fonte: Hagerty et al., 2001)

2.3.2 – Rio Ruston ISC, Nova Iorque

Trata-se de um capeamento para sedimentos contaminados por níquel e cádmio.

A origem da contaminação foi a descarga de efluentes de uma fábrica de manufatura

de baterias na margem do Rio Ruston.

O material que apresentava uma concentração de cádmio superior a 100 ppm foi

removido. O restante recebeu um capeamento que consistia de GCL (geosynthetic

clay liner) e uma camada de areia com 30 centímetros de espessura retirada de uma

área de empréstimo. Após a construção desta proteção, uma camada de plantas

típicas da região pantanosa da margem do Rio Ruston foi plantada sobre ela. O

esquema dessa descrição está apresentado abaixo (Figura 2.8).

23

Page 35: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 2.8. Esquema de capeamento utilizado no rio Ruston. (Fonte: Hagerty et al.,

2001)

2.3.3 – Little Elk ISC, Maryland

Trata-se de um capeamento para isolar sedimentos contaminados por VOCs

(compostos orgânicos voláteis) e DNAPLs (dense non-aqueous phase liquids -

contaminante orgânico de reduzida solubilidade e mais denso que a água). A

contaminação se deu por descargas de efluentes de uma indústria de solventes. Os

DNAPLs estavam presentes na água, nos sedimentos e também nas fraturas dos

maciços rochosos da região.

O projeto de capeamento consistia de um liner formado por 5 componentes,

conforme pode ser verificado na Figura 2.9. Logo sobre os sedimentos, encontrava-se

um geotêxtil responsável pelo controle da erosão e pela minimização da liberação de

compostos voláteis durante a construção das demais camadas. Em seguida, havia um

GCL, servindo de camada secundária. Mais um geotêxtil foi colocado para proteger os

componentes anteriores da camada de gabião, que foi colocada por último. Esta

apresentava uma espessura de 30 centímetros e a função de proteger a coluna d’água

acima e ainda ajudar o restabelecimento das comunidades ribeirinhas e bentônicas.

24

Page 36: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 2.9. Esquema do projeto de capeamento adotado em Maryland. (Fonte: Hagerty

et al., 2001)

2.4 – Casos Brasileiros

No Brasil a alternativa de disposição subaquática de rejeitos de dragagem é

pouco pesquisada e implementada. Os casos mais importantes e discutidos

atualmente são os dos Portos de Santos e Sepetiba, devido à suas importâncias

econômicas e à proximidade dos maiores centros urbanos do país. Existem outros

episódios de adoção dessa alternativa, mas trata-se de situações com carência de

estudos completos ou, até mesmo, negligência dos órgãos ambientais.

2.4.1 – Porto de Santos, Estuário de Santos

O maior porto da América Latina está localizado em uma região invejável. O

Estuário Santista, onde se localiza o Porto de Santos, caracteriza-se pelas águas

calmas e sem maiores interferências climáticas e meteorológicas. Porém, pelas suas

características geográficas, muito parecidas com as de um rio, o estuário recebe uma

grande contribuição de sólidos em suspensão, tornando-o altamente vulnerável ao

assoreamento, reduzindo, portanto, a profundidade da sua via de navegação

constantemente (Portal do Governo do Estado de São Paulo, 2006). A Figura 2.10

mostra uma vista geral do Porto de Santos.

25

Page 37: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Em seu projeto original, o canal onde atracam os navios deveria ter o calado

variando entre 12 e 14 metros. Atualmente, essa profundidade varia de 10 a 12 metros

(Portal da Folha de São Paulo, 2005). A conseqüência pratica da redução do calado é

que os navios estão saindo do porto com menos carga do que poderiam levar e ainda

navios maiores deixam de atracar.

O Porto de Santos é o principal do país, responsável por cerca de 30% das

exportações, dessa forma o assoreamento encarece o preço dos produtos exportados

e traz prejuízos à economia do país. Por conta disso e também das pretensões de

crescimento do porto, a dragagem é de grande importância.

Figura 2.10. Vista geral do Porto de Santos (Site do Porto de Santos, 12/12/2005)

O material a ser dragado do estuário de Santos é composto fundamentalmente

por vaza marinha (argila-siltosa extremamente fluida), com traços de areia. Esse

material encontra-se contaminado por benzopireno oriundo da queima de carvão em

altos fornos das indústrias de Cubatão (Portal da Folha de São Paulo, 2005).

O descarte do sedimento dragado é realizado em zona oceânica exterior à baía

de Santos, a 4 quilômetros da Ponta de Monduba, Guarujá.

Apesar de necessária, a dragagem do porto está, desde 2001, com uma

seqüência de interrupções comprometedoras. Depois da primeira suspensão

determinada em novembro de 2001 pela CETESB (Companhia de Tecnologia de

Saneamento Ambiental) para esclarecimentos do grau de contaminação dos

sedimentos, houve muitas discussões e explicações sobre condicionantes, padrões e

legislação de resíduos. Inicialmente, não existia legislação brasileira nem dados das

substâncias químicas em sedimentos da região da Baixada Santista. Dessa forma,

26

Page 38: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

utilizou-se o critério estabelecido no Canadá para rejeitos de dragagem. Mas essa não

era a solução mais adequada, já que os critérios devem ser próprios para cada região.

Foi então que a CODESP (Companhia Docas do Estado de São Paulo) deu início a

consulta às empresas especializadas para a execução de extração de amostras e

análises físico-químicas e ecotoxicológicas no canal de navegação.

Após a caracterização hidrossedimentalógica no Porto de Santos, a avaliação do

modelo de circulação hidrodinâmica para estudo da descarga do lodo proveniente da

dragagem e praticamente dois anos de interrupção do serviço, a Secretaria Estadual

do Meio Ambiente, em novembro de 2004, emitiu a Licença Ambiental de Operações

para a retomada da dragagem. O principal condicionante da licença é o

monitoramento da área de bota-fora.

De acordo com o estudo desenvolvido pela Universidade Santa Cecília

(Unisanta), em parceria com o Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST) e com a

empresa portuguesa Hidromod, o Porto de Santos tem alternativas seguras para

descarte do material retirado do estuário. Além da área já utilizada como bota-fora,

mais três foram apontadas como indicadas. De acordo com o estudo, o despejo não

apresenta qualquer retorno para as praias ou prejuízo ambiental (Portal da

Universidade Santa Cecília, 2002). Nenhum dos locais analisados recebe qualquer

tipo de medida ou técnica de isolamento. O material que não permanece sedimentado

é dispersado para fora da costa.

Em fevereiro de 2005, então, a dragagem do canal e das bacias de evolução do

Porto de Santos foi retomada. O projeto envolve a dragagem de manutenção do canal

de Barra até a Alamoa e em uma segunda fase, a dragagem de aprofundamento

dessa mesma área. A figura a seguir mostra os canais citados (Figura 2.11).

Figura 2.11. Detalhe dos canais que serão dragados (Site do Porto de Santos,

12/12/2005).

27

Page 39: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

O monitoramento realizado pela CODESP na área de bota-fora oceânico

consiste em avaliar a qualidade dos sedimentos, as comunidades bentônicas e dos

costões rochosos, a qualidade da água de fundo e da coluna d’água, bioacumulação

no tecido de organismos e da pluma em suspensão, além do monitoramento de um

local isento da influência do despejo, para efeito comparativo. A Figura 2.12 mostra

parte do monitoramento realizado.

Figura 2.12. Detalhe do monitoramento ambiental realizado pela CODESP (Site do

Porto de Santos, 12/12/2005)

Em julho de 2005 a CETESB suspendeu novamente a atividade de dragagem,

alegando inconsistência nos dados contidos no relatório feito pela empresa contratada

pela CODESP, DTA Consultoria S/A, para monitoramento. A CESTESB esclareceu

que através dos resultados apresentados não ficara claro o grau de contaminação

(Portal da Folha de São Paulo, 2005).

Após nova avaliação dos resultados das primeiras campanhas de

monitoramento, a CODESP recebeu em dezembro de 2005 da Secretaria Estadual de

Meio Ambiente, a licença para dragagem do Porto de Santos e descarte de material

dragado em bota-fora oceânico com validade de um ano (Portal do Ministério dos

Transportes, 2005).

De acordo com o Jornal A Tribuna – Baixada Santista de 15 de março de 2006, a

CESTESB limitou a retirada de 300 mil m³ de sedimentos por mês e esse valor poderia

ser ampliado para 400 mil ³ por mês se a CODESP apresentasse uma avaliação

consistente comprovando explicitamente a preservação da área de descarte.

28

Page 40: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.4.2 – Porto de Sepetiba, Baía de Sepetiba

O Porto de Sepetiba é um porto de águas profundas, resguardado pela Restinga

de Marambaia, no Município de Itaguaí (RJ). Criado para aliviar o Porto do Rio, suas

operações começaram no final de 1982. Atualmente, é responsável por 35% do

faturamento da Cia. Docas do RJ. O Porto de Sepetiba está localizado na Baía de

Sepetiba, a 80 km do Rio de Janeiro e em um raio de 500 km dos outros principais

centros econômicos do Brasil (São Paulo, Belo Horizonte, Vitória). Além disso a Baía

de Sepetiba situa-se fora das principais trajetórias de tempestades, o mar apresenta-

se calmo o ano todo, tendo como abrigo natural a Restinga da Marambaia. A Figura

2.13 mostra a localização estratégica do porto e a Figura 2.14 mostra uma vista geral

do porto.

Figura 2.13. Localização estratégica do Porto de Sepetiba

(www.geocities.com/pentagon/bunker/6676/sepetiba.html, 01/04/2006)

Figura 2.14. Vista geral do Porto de Sepetiba (Portal da Companhia de Docas do Rio

de Janeiro, 14/02/2006)

A circulação hidrodinâmica da Baía de Sepetiba é causada por forças associadas

à ação de marés, ventos e dos rios que deságuam na baía (Ecologus Engenharia

29

Page 41: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Consultiva, 2005). O transporte de sedimentos para a Baía de Sepetiba é um

fenômeno natural que vem sendo agravado nas ultimas décadas em decorrência de

diversas atividades humanas. Essas ações contribuem em menor ou maior grau para

a intensificação da produção e transporte dos sedimentos, cujo resultado é o

assoreamento das calhas dos rios e finalmente da Baía de Sepetiba (Ecologus

Engenharia Consultiva, 2005). A foto abaixo (Figura 2.15) apresenta um detalhe do

assoreamento da Praia da Capela (Pedra de Guaratiba).

Figura 2.15. Detalhe do assoreamento na Praia da Capela. (Fonte: Ecologus

Engenharia Consultiva, 2005)

Um dos fatores que contribuiu para a viabilização do Porto de Sepetiba foi o fato

de haver, dentro da própria baía, uma área adequada para bota-fora de dragagem. O

material disposto nesta área não retornaria para área dragada nem para as praias. O

estudo deste local foi realizado pelo INPH. (Instituto Nacional de Pesquisas

Hidroviárias) em conjunto com o IPT (Instituto de Pesquisa Tecnológica) (INPH, 2005).

A Baía de Sepetiba é um sistema que sofre impactos consideráveis das

atividades antrópicas. Nessa baía, os aportes de rejeitos industriais são mais

significativos que os aportes de resíduos domésticos (que ainda assim, atualmente,

são consideráveis e estão sendo incrementados). Dentre estas indústrias que podem

ter médio ou grande porte, enumeram-se indústrias metalúrgicas, químicas, têxteis, de

bebidas, de beneficiamento de minerais não metálicos e parques gráficos.

30

Page 42: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Não obstante as numerosas fontes difusas e pontuais de metais pesados, a

contaminação por zinco e cádmio aponta para uma grande fonte pontual que é a

Companhia Mercantil Ingá Metais, se constitui no maior passivo ambiental da região. A

falência da empresa levou ao abandono da bacia de rejeitos, que nos últimos 5 anos

vazou grandes quantidades de resíduo para a baía (Ecologus Engenharia Consultiva,

2005). Apesar da contaminação dos sedimentos, esta está restrita às camadas mais

superficiais (em torno de 50 cm).

Para avaliar os possíveis impactos da dragagem de ampliação do Porto de

Sepetiba, a FEEMA (Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente)

desenvolveu um programa de investigação da situação ambiental da bacia. Esse

programa foi implementado de 1996 a 1998 e continha, entre outros estudos, análises

granulométricas e de contaminação dos sedimentos, análises de qualidade de água,

medições de correntes e ensaios ecotoxicológicos. Com base nesse programa a

FEEMA concluiu que a contaminação dos sedimentos por cádmio e zinco

apresentava-se elevada nas camadas superficiais e recomendou que essa camada

superficial fosse disposta de forma controlada, enquanto o restante do material poderia

ser disposto no próprio corpo hídrico.

Figura 2.16A mostra uma ilustração da Baía de Sepetiba com os locais de

amostragem de sedimento superficial na área de dragagem do canal principal de

acesso ao Porto de Sepetiba.

31

Page 43: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 2.16. Estações de Amostragem de sedimentos superficiais no canal principal de

acesso ao Porto de Sepetiba (Fonte: FEEMA, 1996)

Dessa forma, as obras de ampliação do Porto de Sepetiba utilizam o bota-fora

subaquático para os materiais isentos de contaminação e não adequados para

utilização em aterros e o material oriundo da camada contaminada tem de ser disposto

em área confinada, seja em terra ou no corpo hídrico.

O início do bota-fora utilizado para material dragado dista aproximadamente

6780 metros do Porto de Sepetiba (INPH, 2005). O Relatório INPH -21/2004 informa

que essa área de bota-fora ainda poderá receber cerca de 40 milhões de metros

cúbicos de material dragado, desde que sejam utilizadas dragas compatíveis com as

profundidades ali encontradas, as quais segundo o mesmo relatório variam de 8 a 10

metros na área definida como adequada para receber sedimentos silto-argilosos, que

são predominantes na Baía de Sepetiba.

32

Page 44: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

2.4.3 – Projeto do Porto da Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA), Baía de Sepetiba

A área do projeto está localizada na Baía de Sepetiba. A implementação do

terminal portuário depende da preparação do terreno para receber as instalações

portuárias e ainda da construção do canal de acesso e da bacia de evolução. Ambas

as necessidades serão atendidas com a dragagem da Baía de Sepetiba.

Conforme dito no item anterior, os sedimentos da baía apresentam-se

contaminados por metais pesados, principalmente cádmio e zinco. Isto por causa das

fontes de contaminação existentes na bacia contribuinte, dentre elas o reservatório de

resíduos da antiga Companhia Mercantil Ingá Metais. Entretanto, esta contaminação

está restrita às camadas mais superficiais, até cerca de 50 centímetros dos

sedimentos de fundo (Ecologus Engenharia Consultiva, 2005). Esses sedimentos são

predominantemente finos (argila e silte). Dessa maneira, se a camada contaminada for

retirada adequadamente e os sedimentos dispostos em locais também adequados, as

camadas inferiores (não contaminadas) não apresentarão problemas durante a

operação de dragagem.

As alternativas avaliadas no EIA/RIMA desse terminal portuário consideram

algumas premissas, entre elas maximizar a disposição de material dragado no terreno,

com vista à redução da necessidade de utilização de bota-fora marítimo, dentro ou

fora da baía.

Esse documento apresentou como alternativa mais indicada aquela que sugeria

a disposição de material granular no terreno, a disposição de sedimentos finos isentos

de contaminação em áreas de bota-fora dentro da Baía de Sepetiba e por fim a

disposição de todo material contaminado em cavas submersas de confinamento –

ADC. Para minimizar os custos com bota-fora e maximizar o aproveitamento de

material para os aterros, ampliou-se as campanhas de sondagem a fim de avançar em

profundidades superiores às previstas e explorar depósitos de areia com até 25 metros

de profundidade.

Figura 2.17A apresenta um esquema ilustrativo das formas de disposição dos

sedimentos dragados, assim como a localização do Porto da CSA.

33

Page 45: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 2.17. Esquema das formas de disposição que serão utilizadas para os sedimentos dragados para a construção do Porto da CSA. (Fonte: Ecologus

Engenharia Consultiva, 2005)

2.5 – Considerações Finais

De acordo com os casos apresentados de disposição subaquática, percebe-se

claramente que, com os passar dos anos, essa alternativa ficou cada vez mais

restritiva e regularizada de forma a minimizar ao máximo os impactos sofridos pelo

ambiente causados pelas atividades de dragagem e principalmente de disposição de

sedimentos. Pode-se observar também a tendência dos países terem as suas próprias

restrições para esse tipo de disposição, já que as características locais são bastante

decisivas. As limitações devem ser avaliadas caso a caso, mesmo dentro de um

mesmo país.

Dessa forma, é cada vez mais freqüente o uso de técnicas que isolem ou

minimizem os efeitos da disposição na biota local. Cada vez é mais difícil ser aprovada

a utilização da disposição irrestrita, já que, de maneira geral, os sedimentos dragados,

principalmente da manutenção de portos, canais, rios e lagoas, podem apresentar

algum grau de contaminação.

É interessante ainda observar que algumas vezes a disposição subaquática

acaba se tornando um uso benéfico do material, como no caso da criação de ilhas

artificiais, onde mesmo se tratando de sedimentos contaminados confinados, amplia-

se ou cria-se uma área para diversas atividades.

34

Page 46: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 3 COMPORTAMENTO, PARÂMETROS RELEVANTES E IMPACTOS ASSOCIADOS À DISPOSIÇÃO EM CORPOS HÍDRICOS

3.1 – Comportamento do Sedimento durante e após o

Lançamento nos Corpos Hídricos

O comportamento mecânico dos sedimentos nos corpos hídricos durante e após

o seu lançamento pode ser dividido em curto e longo prazo. Em cada um dos casos

existirão características dos sedimentos e do corpo hídrico que comandarão esse

comportamento.

O comportamento de curto prazo pode ser identificado pelo que ocorre durante e

depois de decorridas algumas horas da descarga dos sedimentos. Entre os principais

eventos que ocorrem nesse período, destaca-se a descida convectiva, o colapso do

material, a formação do monte e a dispersão passiva.

Assim que o material é liberado, sua queda é determinada pela gravidade,

comportando-se como uma massa concentrada ou um jato. Esse processo é

denominado descida convectiva. Quando essa massa ou jato atinge o fundo, tem-se o

que se chama colapso dinâmico e a parte do material que chega ao fundo dá origem

ao monte ou depósito.

A parcela de material que atingirá o fundo depende do tipo de sedimento, da

forma que são dragados e lançados e até da quantidade de ar (ou gases) presente

nos sedimentos.

A parte do material que permanece na coluna d’água poderá ser dispersa

lateralmente por ação de ondas e marés, formando uma pluma suspensa. A esse

processo chama-se dispersão passiva. A pluma suspensa pode perdurar por horas e

como os sedimentos finos apresentam baixas velocidades de sedimentação, podem

acabar ultrapassando os limites da área de disposição.

O comportamento de longo prazo é aquele apresentado pelo material depois de

decorridos meses ou mesmo anos da sua descarga. Entre os principais eventos estão

a sedimentação, o adensamento ou consolidação e a possível erosão e ressuspensão

dos sedimentos depositados.

35

Page 47: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

No caso de disposição em corpos hídricos a sedimentação pode se prolongar

não só pela granulometria fina dos sedimentos, mas também pela ocorrência de

eventos hidrodinâmicos locais, que mesmo que de baixa intensidade podem retardar

essa etapa.

De acordo com Barbosa et al. (2003), à medida que o processo de sedimentação

avança, ocorre um aumento da concentração de sólidos no fundo, formando uma

camada de sedimento depositada. Cada camada depositada representa uma

sobrecarga para a camada subjacente, gerando um excesso de poropressão na

estrutura, que se dissipará com o tempo, aumentando a tensão efetiva. Este processo

é denominado adensamento sob peso próprio.

A redução do volume ocupado pelo material em virtude da saída de água dos

vazios (adensamento) normalmente é considerada um aspecto positivo, já que assim o

depósito vai ganhando resistência, aumentando sua capacidade para novas

disposições e alcançando o objetivo da opção de disposição aquática. Entretanto, o

adensamento pode trazer problemas aos depósitos quando a saída de água estiver

associada à liberação de contaminantes e ainda no caso em que os depósitos tiverem

recebido capeamento antes do tempo, de forma que essa proteção sofra recalque ou

venha a se misturar ao material depositado, tendo sua eficiência comprometida.

Para materiais finos o processo de adensamento é duradouro, necessitando de

estudos mais específicos, conforme será visto nos capítulos seguintes.

Outros processos que podem ocorrer nos montes de material dragado são a

erosão e a conseqüente ressuspensão dos sedimentos. Esses processos podem ser

produzidos por marés, ondas, ventos, tráfego de embarcações, tempestades. As

partículas erodidas podem voltar a se depositar em algum local de baixa energia ou

permanecer no processo de transporte de sedimentos, que dependerá da

hidrodinâmica local. Cabe ressaltar que depósitos de materiais dragados

hidraulicamente possuem um maior potencial erosivo, porque apresentam maior

conteúdo de água. Com o passar do tempo, os processos erosivos se tornam menos

expressivos já que o processo de adensamento apresentar-se-á mais avançado (Goes

Filho, 2004).

Existem alguns parâmetros que comandam o comportamento do material

dragado e, portanto, têm de ser avaliados para a adoção da disposição em corpo

hídrico. Esses parâmetros podem ser divididos em parâmetros hidrodinâmicos e

parâmetros relacionados às características físicas e químicas dos sedimentos, os

36

Page 48: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

quais, juntamente com as condições encontradas no meio, determinarão se tal forma

de disposição é recomendável ou, ainda, possível.

Conclui-se, portanto, que o comportamento do material estará submetido às

condições hidrodinâmicas do corpo hídrico que o receberá, assim como às suas

próprias características. Avaliando-se a interação de todos os parâmetros pode-se,

então, recomendar ou não a disposição em corpo hídrico.

3.2 – Parâmetros Associados às Características Físicas e

Químicas dos Sedimentos

Conforme dito anteriormente, parte do comportamento do material após o seu

lançamento será comandado por suas próprias características tais como: constituintes

mineralógicos, contaminantes presentes e condições encontradas no meio como

salinidade, pH e temperatura. Para esse estudo lança-se mão dos processos de

interação físico-química para compreender como tais características influenciarão na

disposição do material.

3.2.1 – Constituintes do Material Dragado

O material dragado é composto predominantemente de partículas minerais que

variam em areia grossa a fina, silte e argila. Além de conter outros tipos de materiais

como pedras, madeira, pedaços de metais, vidros, além de elevada quantidade de

água e matéria orgânica (Monteiro, 2006). No que diz respeito à constituição dos

materiais dragados, as frações argílica e orgânica são as mais relevantes.

O tamanho do grão e a quantidade de matéria orgânica do sedimento

determinam a capacidade de adsorção e dessorção de íons, óleos e graxas e

pesticidas do material. O predomínio de silte e argila com elevado conteúdo de matéria

orgânica permite a absorção de maiores quantidades de nutrientes e outros

constituintes (Monteiro, 2006).

Os sedimentos mais grosseiros são mais pesados e, portanto, dependem de

ações ou eventos de magnitudes mais significativas para serem mobilizados. Dessa

forma, permanecem menos tempo em suspensão, ficando menos sujeitos aos

processos de interação que ocorrem na coluna d’água.

37

Page 49: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

a) Fração Argílica Os argilominerais se caracterizam por uma estrutura cristalina lamelar, resultante

da combinação de unidades cristalinas compostas essencialmente por sílica e

alumina. A particularidade dos argilominerais reside na ocorrência do fenômeno da

substituição isomórfica, que consiste na substituição parcial dos cátions originais das

unidades cristalinas por outros que não aqueles da estrutura ideal. Esse processo gera

um desequilíbrio de cargas elétricas, seja diretamente, nos casos de substituição por

cátions de valência distinta, seja indiretamente, em decorrência de quebras das

ligações favorecidas pela distorção estrutural. Para compensar esta deficiência de

cargas, outros cátions são adsorvidos nos espaços interlamelares ou nas superfícies

das partículas. Esse mecanismo é denominado de troca catiônica e a capacidade de

adsorção de cátions pelo solo de capacidade de troca catiônica (CTC) (Vieira,1988).

A estrutura, as forças interlamelares e as substituições isomórficas mais

freqüentes determinam o tamanho das partículas e a atividade do argilomineral.

Quanto mais fracas as ligações, menores serão as partículas e maior a atividade, tanto

pela maior facilidade de substituição isomórfica quanto pelo aumento da superfície

específica.

A caulinita é o argilomineral predominante das regiões de clima equatorial e

tropical. As ligações interlamelar e entre as estruturas cristalinas são fortes, permitindo

a construção de várias camadas (partículas maiores) e prevenindo a entrada de

moléculas de água e cátions no espaço interlamelar. Suas principais fontes de carga

de superfície são geralmente a quebra de ligação e a ionização das hidroxilas e

grande parte dessa carga é variável com o pH (CTC é baixa em meio ácido e alta em

meio alcalino), ou seja, apresenta uma pequena parcela de carga permanente e uma

capacidade significativa de sorção de ânions. A CTC da caulinita varia normalmente

entre 3 e 5 cmol /Kg de solo seco. c

Esse comportamento dos argilominerais é bastante relevante para a avaliação do

potencial de impacto de contaminantes iônicos como, por exemplo, os metais

pesados. Estes podem ter seu avanço retardado ou até mesmo interrompido por

serem adsorvidos pelas partículas de argila e em troca da liberação de íons menos

impactantes como Na+, K+ 2+, Ca e Mg2+.

Em contrapartida, os sedimentos argilosos são bastante finos e permanecem um

tempo maior na coluna d’água, sendo facilmente transportados por marés e/ou ondas,

mesmo que de baixas intensidades. Dessa forma, se espalham para fora da área

prevista de disposição, aumentando também a região impactada.

38

Page 50: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

b) Fração Orgânica A fração orgânica é formada por um conjunto de substâncias originadas de

resíduos de animais e vegetais associados ao solo e de substâncias resultantes de

processos biológicos, químicos e físicos nesses resíduos. A matéria orgânica é

potencialmente reativa por ser altamente hidrofílica (capacidade de absorção de água)

e apresentar alta capacidade de complexação de íons e de troca catiônica,

características que aumentam a capacidade de retenção de espécies químicas pelos

sedimentos. E ainda, por ser solúvel em água, sua mobilidade potencializa mais

reações (Mitchell, 1993).

Além das características comentadas acima, a matéria orgânica ainda apresenta

algumas outras propriedades de grande interesse para a Engenharia, como sua baixa

densidade (da ordem de 0,5 g/cm³) e o efeito da histerese sob desidratação (ou seja,

se o material for secado além de um determinado ponto no qual se forma um gel

escuro, não-elástico, ele não será mais capaz de recuperar o estado original através

de adição de água). Barbosa (1992) e Michell (1993) descrevem em seus trabalhos os

principais efeitos dessas propriedades da matéria orgânica sobre o solo, entre elas

pode-se destacar as seguintes:

• A presença de matéria orgânica no solo aumenta consideravelmente a

capacidade de absorção e retenção de água do solo como um todo.

Combinado com a baixa densidade, este efeito acarreta para os solos um

teor de umidade tipicamente elevado, peso específico baixo e índice de

vazios alto;

• A presença de matéria orgânica aumenta substancialmente a plasticidade

do solo, devido ao aumento da capacidade de absorção de água.

Entretanto, como ambos os Limites de Atterberg sofrem este aumento, o

índice de plasticidade sofre um efeito proporcionalmente menor;

• O efeito da matéria orgânica sobre a permeabilidade do solo depende da

quantidade e grau de decomposição. Quantidades menores de matéria

orgânica totalmente decomposta podem ter como efeito a redução da

permeabilidade, mas grandes quantidades pouco decomposta tendem a

causar o aumento da permeabilidade do solo (porosidade elevada);

• O aumento da capacidade de absorção e retenção de água, aliado ao

elevado índice de vazios, acarreta um aumento significativo da

compressibilidade do solo;

39

Page 51: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

• A presença de matéria orgânica parcial ou totalmente decomposta

acarreta a redução de resistência ao cisalhamento da massa de solo,

como resultado da combinação dos efeitos da pequena contribuição de

resistência da matéria orgânica em si, do baixo peso específico natural e

do alto teor de umidade.

Verifica-se, então, que a fração orgânica do solo pode modificar o seu

comportamento físico e químico e com isso influenciar na disposição do sedimento de

dragagem no corpo hídrico. Isso porque, apesar de aumentar sua capacidade de

retenção de espécies químicas, a matéria orgânica diminui a resistência do solo e

aumenta o tempo necessário para a consolidação e dessa forma, os eventos

hidrodinâmicos podem perturbar o depósito de rejeitos erodindo e ressuspendendo os

sedimentos mais finos ainda não consolidados.

3.2.2 – Contaminantes Presentes no Material Dragado

A contaminação de um meio é causada por substâncias tóxicas sejam elas

contaminantes orgânicos ou inorgânicos. As características dos contaminantes

influenciam de forma diferenciada as propriedades do solo. A classificação do

contaminante conforme suas características, aliada às condições do meio

contaminado e ao nível de contaminação, em grande parte definem a técnica

adequada para lidar com o material (Monteiro, 2006).

Entretanto, a simples presença de contaminantes no material a ser depositado

não significa que ocorrerão impactos sobre a qualidade da água e biota local. Se os

contaminantes estiverem em formas imóveis ou não disponíveis não haverá impacto

ao ambiente aquático.

Os principais contaminantes presentes nos sedimentos são os nutrientes fósforo

e nitrogênio, os metais pesados e os compostos orgânicos. (Brannon, 1978)

a) Nutrientes Os nutrientes ocorrem naturalmente nos sedimentos, mas também podem ter

origem em fontes artificiais poluidoras. O problema associado a eles ocorre quando se

apresentam em formas de ocorrência ou em quantidades prejudiciais ao ambiente

aquático.

40

Page 52: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

O fósforo é provavelmente o mais essencial dos elementos para os organismos.

É responsável pelo armazenamento de energia e estruturação da membrana celular

(Esteves, 1988). Suas principais fontes de ocorrência natural são o conteúdo de

fosfato das rochas da bacia de drenagem e o fosfato resultante da decomposição de

organismos de origem alóctone. Como fontes artificiais tem-se os esgotos doméstico e

industrial, os fertilizantes agrícolas e metais particulados de origem industrial contidos

na atmosfera. Vale ressaltar que em regiões industriais as fontes artificiais são mais

relevantes.

Com relação às reações químicas que ocorrem com a participação do fosfato,

em geral, em condições de pH ácido ou ligeiramente ácido ele é adsorvido pelos

sólidos em suspensão. Já em situações de baixas concentrações de oxigênio

dissolvido, sua liberação para a coluna d’água ocorre mais facilmente, o que pode

provocar o aumento excessivo de algumas espécies e conseqüentemente efeitos

danosos ao ecossistema aquático, como a eutrofização (Esteves, 1988).

O outro nutriente também bastante importante para os organismos é o nitrogênio.

Sua importância está associada ao metabolismo dos ecossistemas, pois esse

elemento participa da formação de proteínas (componentes básicos da biomassa)

(Esteves, 1988). As principais fontes de nitrogênio são as chuvas e materiais

orgânicos e inorgânicos, podendo ocorrer sob diversas formas como nitratos (NO3-),

nitritos (NO2-), amônia (NH3), íon amoníaco (NH4

+), nitrogênio molecular (N2).

A liberação da amônia para a coluna d’água constitui o principal problema

associado ao nitrogênio. Essa substância pode ter origem na descarga de esgoto pela

transformação do íon amônio, que ocorre em condições de pH alcalino, ou ainda na

degradação microbiana de resíduos orgânicos em condições anaeróbias. A amônia é

altamente solúvel, o que aumenta o seu potencial de contaminação. Quando liberada

em altas concentrações, mostra-se tóxica para alguns organismos. Entretanto, essas

concentrações são, em geral, reduzidas rapidamente a valores inferiores aos tóxicos

pelo processo de diluição. A bioacumulação de amônia também é um processo que

deve ser observado, apesar de que, para ocorrer, há necessidade de exposição a

concentrações tóxicas durante um tempo mais longo (Brannon, 1978). De acordo com

Esteves (1988), concentrações de amônia maior ou igual a 0,25 mg/L afeta o

crescimento dos peixes e maior ou igual a 0,50 mg/L mata 50% da população (pH > 9

e T> 26°C).

Assim, como com o fósforo, a liberação de nitrogênio em ambientes aquáticos

pode provocar o processo de eutrofização, que, de acordo com a Resolução CONAMA

41

Page 53: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

n° 344 de 25 de março de 2004, é o processo de enriquecimento de nitrogênio e

fósforo em lagos, represas, rios e estuários e, conseqüentemente, da produção

orgânica. Se este processo for decorrente de atividades antrópicas, como a descarga

de esgoto, os efeitos danosos são ainda maiores, porque há uma aceleração

significativa do processo natural. Esses efluentes, por sua vez, apresentam também

um elevado teor de matéria orgânica, que para ser decomposta necessita do consumo

de oxigênio dissolvido na água. Dessa forma, outros processos de degradação da

água podem ser iniciados.

b) Metais Pesados Os metais pesados são normalmente conhecidos como um grupo de elementos-

traço com densidades atômicas superiores a 6 g/cm³. As principais fontes de metais

pesados para o ecossistema aquático são o intemperismo de rochas, a erosão de

solos, atividades industriais, atividades de mineração, efluentes domésticos, adubos

químicos e defensivos agrícolas (Esteves, 1988).

Os metais são elementos altamente reativos e, por isso, estão envolvidos em

muitos mecanismos de interação entre o meio e o contaminante. Além disso, não

sofrem degradação, acumulando-se no solo por tempo indefinido (Monteiro, 2006).

Entretanto, nem todos os metais são tóxicos. Alguns deles são até mesmo essenciais

aos seres vivos, desde que em pequenas concentrações. Estes são conhecidos como

micronutrientes e entre eles estão o manganês (Mn), zinco (Zn) e ferro (Fe). Já

elementos como mercúrio (Hg), chumbo (Pb) e cádmio (Cd) não apresentam qualquer

função biológica conhecida e ainda produzem efeitos tóxicos ao ambiente.

A elevada concentração dos metais resulta na diminuição da qualidade do solo e

riscos ao ambiente e à vida humana e animal por meio da transferência via cadeia

alimentar, causando danos ao DNA por sua capacidade mutagênica e conseqüentes

efeitos carcinogênicos. A não degradabilidade resulta na persistência destes

elementos na natureza por longos períodos e agrava ainda mais a problemática

ambiental.

Tabela 3.1A apresenta um resumo dos principais metais pesados, toxicidade e

fontes antropogênicas.

42

Page 54: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Tabela 3.1. Principais metais pesados, toxicidade e fontes antropogênicas. (Fonte: Barbosa,1998)

METAL TOXICIDADE FONTES ANTROPOGÊNICAS Mineração: mineração e beneficiamento de Zn e Pb; Indústria: fabricação de plástico, siderúrgica, baterias de Ni-Cd; Outras: aplicação de fertilizantes fosfatados, fumaça do cigarro

Cádmio (Cd)

Altamente tóxico para plantas e animais

Micronutriente: para animais e alguns microorganismos (vitamina B12); A deficiência causa anemia profunda; Importante para fixar o nitrogênio no solo

Indústria: siderúrgica, pigmentos de cor azul, fabricação de vidro

Cobalto (Co)

Micronutriente: importante para plantas, homem e animais; Tóxico para o homem somenrte acima de um determinado valor; Tóxico para plantas aquáticas e alguns peixes

Mineração: geral; Indústria: efluentes, química; Agricultura: fertilizantes, fungicidas, bactericidas esterco de porco e de galinha; Outras: esgoto doméstico, corrosão de tubulações, cinza volante de usinas termoelétricas

Cobre (Cu)

Mineração: exploração e beneficiamento; Indústria: química, tintas; Agricultura: esterco de animais, adubo de ETEs;

Altamente tóxico para o homem e animais, provável cancerígeno; nenhum efeito benéfico

Chumbo (Pb)

Micronutriente: a deficiência é problemática; Os cromatos são tóxicos, provável cancerígeno

Indústria: metalúrgica, fabricação do cimento, química; Outras: combustão do carvão mineral

Cromo (Cr)

Micronutriente: a deficiência é problemática; Não é tóxico; Abundante no ambiente natural

Ferro (Fe)

Mineração, corrosão de tubulações e peças metálicas à base de Fe

Micronutrientes: para animais, plantas e microorganismos; Importante para fixar o nitrogênio no solo; Os efeitos tóxicos registrados por excesso de Mn em plantações estão geralmente associados a solos ácidos e clima quente

Manganês (Mn)

Mineração, efluentes industriais e domésticos

Mineração: Au e Ag; Indústria: produção eletrolítica de cloro, instrumentos científicos, baterias e lâmpadas; Agricultura inseticidas; Outras: queima de combustíveis fósseis, sobretudo carvão mineral.

Mercúrio (Hg)

Altamente tóxico para o homem e outros animais de ordem superior

Micronutriente: a necessidade é pequena, sendo facilmente satisfeita; Em quantidades excessivas torna-se tóxico para plantas e animais, e há indícios de que é cancerígeno quando inalado

Indústria: produtos derivados de petróleo, baterias de Ni-Cd, componentes elétricos, manufatura de aço inoxidável

Níquel (Ni)

Micronutriente: elemento essencial para o homem, plantas e animais; Pode ser tóxico em concentrações muito elevadas, sobretudo para plantas

Mineração: Zn; Indústria: química e metalúrgica; Agricultura: fertilizantes, pesticidas, esterco; Outras: esgoto

Zinco (Zn)

43

Page 55: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Os metais distribuem-se em diferentes frações do solo que alteram seu

comportamento (especiação). São ordenados conforme as frações do solo e esta

característica regula a variação do risco ambiental, logo, sua periculosidade é

governada pela forma como é encontrado no solo. A entrada na cadeia alimentar

através de sua absorção pelas plantas só é possível se estiverem dissolvidos na

solução do solo ou na forma trocável. Metais precipitados, oclusos, complexados ou

residuais (presentes na estrutura mineral) oferecem menor risco ambiental (Monteiro,

2006). Na Tabela 3.2 encontra-se as diferentes formas de metais de acordo com as

frações do solo.

Tabela 3.2. Distribuição dos metais nas diferentes frações. (Fonte: Monteiro, 2006)

FRAÇÃO CONDIÇÃO DO ELEMENTO

Íons livres ou complexos solúveis com ânions inorgânicos ou ligantes orgânicos Solúvel

Retidos por forças eletrostáticas em sítios de minerais de argila, matéria orgânica ou outros minerais carregados negativamente Trocável

Retidos mais fortemente por ligações covalentes, sendo liberados mais lentamente Adsorvida

Imobilizados por resíduos provenientes do metabolismo microbiano ou imobilizados na estrutura de células vivas microbianas

Retida

Oclusos em óxidos de Fe, Al ou Mn, adsorção dos metais controlada pelo pH Oclusa

Precipitada Carbonatos, sulfetos, fosfatos, hidróxidos

Residual Estrutura de minerais primários

A dinâmica dos compostos ou íons metálicos é função principalmente das

condições de pH e potencial redox (Eh) do meio. Em condições de pH ácido, de modo

geral, prevalecem as formas solúveis, enquanto que, em pH neutro ou básico,

prevalecem as insolúveis que, do ponto de vista da contaminação, são a forma mais

interessante de se apresentarem.

Esses elementos podem também reagir com outros compostos como carbonatos

e sulfatos, formando novos compostos de baixa solubilidade que, conseqüentemente,

precipitarão. Dessa maneira, tem-se a redução da disponibilidade dos metais pesados

para o ambiente, diminuindo o potencial de poluição.

44

Page 56: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Quanto à mobilidade, Pb, Cr e Cu são menos móveis e acumulam-se na

superfície do solo. O Zn, Mg, Ni e Cd são mais móveis apresentando maior risco de

contaminação (Sobrinho, 1996; citado em Monteiro, 2006). A mobilidade dos metais

está relacionada ao raio iônico hidratado (espessura da camada de hidratação do íon)

e à densidade de carga do cátion. Os cátions com maior densidade de carga são mais

fortemente retidos nas cargas negativas do solo. A diferença na retenção de cátions

com carga semelhante se deve à diferença existente entre os raios iônicos hidratados.

Um aspecto bastante relevante que tem de ser observado ao lidar com

contaminação por metais pesados é o fato de esses elementos ocorrerem

naturalmente em alguns ambientes, de forma que o grau de contaminação é um grau

relativo, determinado pela taxa de crescimento da sua concentração em relação aos

valores já existentes na área – valores de referência (background). A Tabela 3.3

apresenta os valores orientadores para metais pesados em solos do Estado de São

Paulo.

Tabela 3.3. Valores orientadores para metais em solos do Estado de São Paulo. (Fonte: CETESB, 2005)

VALOR DE REFERÊNCIA* (mg/Kg solo)

VALOR DE PREVENÇÃO** (mg/Kg solo)

METAIS

Cádmio (Cd) <0,5 1,3

Chumbo (Pb) 17 72

Cobalto (Co) 13 25

Cobre (Cu) 35 60

Cromo (Cr) 40 75

Ferro (Fe) - -

Manganês (Mn) - -

Mercúrio (Hg) 0,05 0,5

Níquel (Ni) 13 30

Zinco (Zn) 60 300 * É a concentração de determinada substância no solo ou na água subterrânea que define um solo como limpo ou a qualidade natural de uma água subterrânea. ** É a concentração de determinada substância, acima da qual podem ocorrer alterações prejudiciais à qualidade do solo e da água subterrânea.

45

Page 57: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

De acordo com o grau de contaminação e o elemento em questão, a disposição

subaquática pode sofrer algumas restrições para alcançar a garantia de prejudicar

minimamente o ambiente envolvido.

c) Compostos Orgânicos A classe dos poluentes orgânicos é constituída por contaminantes provenientes

do petróleo, indústrias de organoclorados, resíduos de pesticidas, indústrias de

munição, entre outras atividades antropogênicas.

Os compostos orgânicos possuem sua base estrutural constituída por átomos de

carbono (C) e hidrogênio (H), porém podem conter átomos de nitrogênio (N), oxigênio

(O), cloro (Cl), enxofre (S), fósforo (P), entre outros. Podem ser classificados quanto à

sua cadeia como alifáticos (cadeia aberta), aromáticos (cadeia com anel benzênico) ou

ainda a combinação dos anteriores, heterocíclica.

Existem algumas propriedades dos compostos orgânicos que diferem dos

inorgânicos e têm grande relevância para o meio ambiente, entre elas estão o peso

molecular dos compostos orgânicos que pode ser muito elevado e as reações dos

compostos orgânicos que são usualmente moleculares e não iônicas, e por isso quase

sempre lentas. De forma geral, os HPAs de baixo peso molecular são mais facilmente

degradados em comparação aos HPAs de alto peso molecular, por conta da complexa

estrutura química e propriedades físico-químicas correspondentes.

Outra característica desses compostos é que são pouco ou nada solúveis em

água, de forma que seu avanço através do solo constitui um avanço multifásico,

envolvendo o avanço da fase aquosa (parcela que está solubilizada), da fase não

aquosa (parcela que não se encontra dissolvida) e também da fase vapor (parcela que

se move pelos poros não preenchidos por água dos sedimentos). Os orgânicos são

classificados quanto à sua solubilidade em miscíveis (solúveis) ou não miscíveis em

água (insolúveis). Denomina-se NAPLs (non-aqueous phase liquids) os orgânicos não

miscíveis.

Os compostos orgânicos podem apresentar densidades e/ou viscosidades

bastante distintas da água e são essas características que comandarão o avanço da

fase não aquosa. Os NAPLs podem ser menos densos que a água – LNAPLs (light

non-aqueous phase liquids) ou mais densos que a água – DNAPLs (dense non-

aqueous phase liquids). Os LNAPLs permanecem flutuando sobre o lençol freático,

gerando uma pluma dissolvida na água. Os DNAPLs, mais pesados que a água,

migram até encontrarem uma camada de permeabilidade muito baixa, onde

46

Page 58: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

permanecem sob forma de piscinas. A densidade de um NAPL aumenta com o peso

molecular.(Monteiro, 2006).

A adsorção por partículas sólidas em suspensão é um processo que também

pode ocorrer para esses compostos. A partir daí é preciso avaliar a possibilidade de

criação de um reservatório de contaminantes orgânicos com a sedimentação do

material em suspensão, que, apesar de contribuir para a interrupção da contaminação,

pode propiciar um ambiente altamente danoso para os organismos bentônicos. Além

disso, deve-se avaliar também o potencial de solubilização desses compostos

adsorvidos no caso de haver ressuspensão de sedimentos.

Outro aspecto que deve ser considerado para o estudo do comportamento dos

contaminantes orgânicos é a ocorrência de processos físicos, químicos e biológicos

que os degradem com o tempo, transformando-os quimicamente. Em alguns casos a

toxicidade pode ser atenuada, em outros pode ser aumentada.

Tabela 3.4Na são identificados alguns contaminantes orgânicos assim como os

valores orientadores em solo fornecidos pela CETESB. Ao contrário dos demais

contaminantes já comentados, eles não ocorrem naturalmente nos sedimentos nem

nos ambientes aquáticos, portanto, em qualquer concentração, trata-se de uma

contaminação. Sendo assim, o valor de referência não se aplica para substâncias

orgânicas. O que se deve verificar é se essa contaminação provocará prejuízos

significativos ao meio ambiente.

Tabela 3.4. Valores orientadores para compostos orgânicos em solo. (Fonte: CETESB,

2005)

COMPOSTO ORGÂNICO VALOR DE PREVENÇÃO (ppm)

Benzeno 0,03

Tolueno 0,14

Xileno 0,13

Estireno 0,2

Etilbenzeno 6,2

Naftaleno 0,12

Diclorobenzeno 0,39

Hexaclorobenzeno 0,003

Cloreto de Vinila (cloroetileno) 0,03

Fenol 0,2

Endrin 0,001

47

Page 59: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

d) Consideração sobre a avaliação da contaminação Antes de estudar os possíveis impactos aos quais o corpo hídrico estará

submetido pela disposição de material dragado, há necessidade de verificar se o

material em questão pode ser disposto em águas jurisdicionais brasileiras. Os critérios

que limitam essa forma de disposição foram estabelecidos na Resolução CONAMA nº

344, de 25 de março de 2004 e envolvem somente os parâmetros associados às

características dos sedimentos.

Os sedimentos dragados têm de ser classificados a partir de análises

laboratoriais previstas nessa Resolução e se estiverem dentro dos limites

estabelecidos no Art. 7º, que será transcrito a seguir, podem então apresentar a

disposição subaquática como uma opção de disposição final. Isso porque a decisão

final sobre a melhor opção deverá envolver as vantagens e desvantagens de cada

forma de disposição, incluindo o seu custo, que muitas vezes é o principal fator de

decisão.

“Art. 7º O material dragado poderá ser disposto em águas jurisdicionais

brasileiras, de acordo com os seguintes critérios a serem observados no

processo de licenciamento ambiental:

I – não necessitará de estudos complementares para sua caracterização:

a) material composto por areia grossa , cascalho ou seixo em fração igual

ou superior a 50%, ou

b) material cuja concentração de poluentes for menor ou igual ao nível 1,

ou

c) material cuja concentração de metais, exceto mercúrio, cádmio, chumbo

ou arsênio, estiver entre os níveis 1 e 2, ou

d) material cuja concentração de Hidrocarbonetos Aromáticos Policíclicos

– HPAs do Grupo B estiver entre os níveis 1 e 2 e a somatória das

concentrações de todos os HPAs estiver abaixo do valor

correspondente a soma de HPAs.

II – o material cuja concentração de qualquer poluente exceda o nível 2

somente poderá ser disposto mediante prévia comprovação técnico-científica e

monitoramento do processo e da área de disposição, de modo que a biota

desta área não sofra efeitos adversos superiores àqueles esperados para o

48

Page 60: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

nível 1, não sendo aceitas técnicas que considerem como princípio de

disposição a diluição ou a difusão dos sedimentos do material dragado.

III – o material cuja concentração de mercúrio, cádmio, chumbo ou arsênio, ou

de HPAs do Grupo A estiver entre os níveis 1 e 2, ou se a somatória das

concentrações de todos os HPAs estiver acima do valor correspondente à

soma de HPAs, deverá ser submetido a ensaios ecotoxicológicos, entre outros

testes que venha a ser exigidos pelo órgão ambiental competente ou propostos

pelo empreendedor, de modo a enquadra-los nos critérios previstos nos

incisos I e II deste artigo.”

São definidos, nos incisos I e II do Art. 3º, os critérios de qualidade a partir de

dois níveis:

“I - nível 1: limiar abaixo do qual prevê-se baixa probabilidade de efeitos

adversos à biota.

II - nível 2: limiar acima do qual prevê-se um provável efeito adverso à biota.”

Tabela 3.5A apresenta os níveis de classificação do material a ser dragado

fornecidos pela resolução CONAMA n° 344/2004.

49

Page 61: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Tabela 3.5. Níveis de Classificação dos material a ser dragado (Fonte: CONAMA, 2004)

NÍVEIS DE CLASSIFICAÇÃO DO MATERIAL DRAGADO (unidade de

material seco) POLUENTES Água Doce Água Salina/Salobra

Nível 1 Nível 2 Nível 1 Nível 2 Arsênio (As) 5,9 17 8,2 70 Cádmio (Cd) 0,6 3,5 1,2 9,6 Chumbo (Pb) 35 91,3 46,7 218

Metais Pesados e Arsênio (mg/kg)

Cobre (Cu) 35,7 197 34 270 Cromo (Cr) 37,3 90 81 370 Mercúrio (Hg) 0,17 0,486 0,15 0,71 Níquel (Ni) 18 35,9 20,9 51,6 Zinco (Zn) 123 315 150 410 BHC (Alfa-BHC) - - 0,32 0,99 BHC (Beta-BHC) - - 0,32 0,99 BHC (Delta-BHC) - - 0,32 0,99 BHC (Gama-BHC) - Lindane 0,94 1,38 0,32 0,99

Pesticidas Organoclorados (μg/kg)

Clordano (alfa) - - 2,26 4,79 Clordano (gama) - - 2,26 4,79 DDD 3,54 8,51 1,22 7,81 DDE 1,42 6,75 2,07 374 DDT 1,19 4,77 1,19 4,77 Dieldrin 2,85 6,67 0,71 4,3 Endrin 2,67 62,4 2,67 62,4 Bifenilas Policloradas - Totais 34,1 277 22,7 180 PCBs (μg/kg) Benzo(a)antraceno 31,7 385 74,8 693 Benzo-(a)-pireno

32,9 782 88,8 763

Criseno Grupo

A 57,1 862 108 846 Dibenzo(a)antraceno 6,22 135 6,22 135

Acenaftaleno 6,71 88,9 16 500

Acenaftileno

5,87 128 44 640 Antraceno 46,9 245 85,3 1100

Hidrocarbonetos Poliaromáticos (HPA’s) (μg/Kg)

Fenantreno

41,9 515 240 1500 Fluorantreno 111 2355 600 5100

Fluoreno

Grupo B

21,2 144 19 540 2-Metilnaftaleno 20,2 201 70 670

Naftaleno 34,6 391 160 2100 Pireno 53 875 665 2600

Soma de HPA’s 1000 3000

Segundo a mesma Resolução, o programa de investigação laboratorial para

caracterização do material dragado deve ser realizado em três etapas. A primeira

delas consiste na caracterização física destes sedimentos, na qual os critérios

avaliados são a quantidade de material a ser disposto, sua distribuição granulométrica

e o peso específico dos sólidos.

50

Page 62: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A etapa seguinte consiste na caracterização química, que determinará a

concentração dos poluentes, de carbono orgânico total e dos nutrientes fósforo e

nitrogênio presentes nos sedimentos.

A última etapa consiste na caracterização ecotoxicológica, que será realizada em

complementação às etapas anteriores com o objetivo de avaliar os possíveis impactos

à biota da região de disposição. De acordo com o Art. 13 da Resolução citada, esta

etapa pode ser dispensada quando houver: monitoramento do local de disposição com

o objetivo de verificar a existência de prejuízos à vida aquática, de acordo com

procedimentos determinados pelo órgão ambiental competente, ou quando o local de

disposição já tenha recebido, nos últimos 3 anos, volume igual ou superior de material

dragado de mesma origem, de características físicas e químicas equivalentes e que

não tenha apresentado impacto significativo ao meio.

Tabela 3.6A tabela abaixo ( ) mostra um resumo das etapas do programa de

investigação laboratorial para caracterização dos sedimentos.

Tabela 3.6. Etapas do programa de investigação laboratorial

ETAPA DESCRIÇÃO

Quantidade de material a ser disposto 1ª Etapa - Caracterização

Física Distribuição granulométrica

Peso específico dos sólidos

Concentração de poluentes (tabela 3.5) 2ª Etapa - Caracterização

Química Concentração de carbono orgânico total (COT)

Concentração dos nutrientes nitrogênio e fósforo

Complementação às etapas anteriores

Avaliação dos possíveis impactos à biota da região de disposição

3ª Etapa - Caracterização

EcotoxocológicaOs ensaios e os tipos de amostras a serem analisadas serão determinados pelo órgão ambiental competente

Para interpretação dos resultados os ensaios ecotoxicológicos deverão ser acompanhados dos dados referentes ao pH, temperatura, salinidade e oxigênio dissolvido

51

Page 63: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Após a verificação de que o material poderá ser disposto em águas brasileiras,

tem-se que avaliar o seu comportamento dentro do próprio corpo hídrico de forma a

trazer o menor impacto ao ambiente.

3.2.3 – Condições do Meio Relevantes para as Reações

a) Salinidade É a concentração de sais minerais dissolvidos na água. A variação da salinidade,

que conseqüentemente representa uma variação da concentração iônica do meio

aquático, produz efeitos na condutividade elétrica e na tendência de floculação de

materiais em suspensão.

O aumento da salinidade implica no aumento da condutividade elétrica do meio,

e provoca também a contração da dupla camada difusa que envolve as partículas de

argilominerais e, com isso, tem-se a floculação dos sedimentos (Mitchell, 1993).

b) Potencial Redox (Eh) e Potencial Hidrogeniônico (pH) Os mecanismos de interação que ocorrem entre o ambiente e os contaminantes

são influenciados significativamente pelas variações de Eh e pH.

O Eh expressa o potencial redox do meio. As condições de Eh baixo ou negativo

favorecem a existência de espécies reduzidas (doadoras de elétrons), enquanto que

as condições de Eh alto favorecem a existência de espécies oxidadas (receptoras de

eletros). Os solos anóxicos podem apresentar Eh variando entre –414 e +118 mV,

enquanto os solos óxicos podem apresentar Eh variando entre +300 e +800 mV. Os

elementos mais afetados pelas variações de Eh são o carbono (C), o nitrogênio (N), o

enxofre (S), o ferro (Fe) e o manganês (Mn) (Yong, 1992). +O pH representa o equilíbrio de íons livres de hidrogênio (H ) e íons hidroxilas

(OH- +), indicando se o meio é ácido (predominância de H - pH<7), neutro (equilíbrio de

H+ e OH- - - pH=7) ou básico (predominância de OH - pH>7). É um dos fatores que

controlam a solubilidade de espécies e compostos químicos. Para os metais, por

exemplo, em condições de pH ácido em geral prevalecem as formas solúveis.

Nas reações de Complexação/Quelação, quanto maior o pH, maior a

estabilidade dos compostos orgânicos formados. Além disso, o pH determina a

densidade de carga negativa na superfície das partículas sólidas de alguns minerais e

conseqüentemente influencia na capacidade de troca catiônica (CTC) do solo (Yong,

1992).

52

Page 64: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

c) Temperatura O aumento da temperatura acelera a velocidade das reações químicas e

biológicas. Outro aspecto importante do aumento da temperatura é que diminui a

solubilidade do oxigênio na água, que acarretará uma série de novas possibilidades

para o comportamento dos compostos químicos presentes.

3.3 – Parâmetros Hidrodinâmicos

Os principais ambientes aquáticos utilizados para disposição de rejeitos de

dragagem são oceanos, estuários, rios e lagoas. Cada um desses ambientes

apresenta características hidrodinâmicas próprias que influenciarão de forma diferente

o material a ser depositado, podendo existir também, dentro de um mesmo corpo

hídrico, zonas com características próprias que implicarão em diferentes

comportamentos.

Com o objetivo de verificar se há a possibilidade de disposição em um

determinado corpo hídrico tem-se de analisar a circulação hidrodinâmica desse

ambiente. Assim, deve-se checar se o corpo é capaz de abrigar um reservatório e,

caso seja possível, qual será sua melhor localização.

Para haver circulação hidrodinâmica, tem de haver gradientes de pressão. Esses

gradientes são causados por variação de densidade nas diferentes estratificações do

ambiente e também por variação do nível d’água. A variação de densidade se dá pela

variação de temperatura e/ou variação da salinidade ao longo da coluna d’água e

recebe o nome de forçante baroclínica. Já a variação de nível d’água é causada pela

ação de ventos e marés, e é denominada de forçante barotrópica.

Os parâmetros que dominam a circulação (temperatura, salinidade, ventos e

marés) serão, portanto, os objetos de estudo. Ao final da análise, chega-se aos efeitos

(isolada e conjuntamente) desses parâmetros, concluindo sobre a viabilidade

hidrodinâmica dessa alternativa.

Deve-se ressaltar que as informações obtidas podem variar de acordo com o

período do ano e isso também tem de ser considerado. Além disso, dependendo do

corpo hídrico, deve-se admitir o tempo de recorrência de eventos meteorológicos

extremos.

Figura 3.1A mostra um esquema do efeito das ondas no depósito de sedimentos dragados.

53

Page 65: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 3.1. Esquema da propagação de ondas no depósito de sedimentos. (Fonte:

IADC/CEDA – Environmental Aspects of Dredging – Guia 5)

Os locais de disposição podem ser classificados como dispersivos ou retentivos

dependendo se o sedimento for transportado para fora do local de disposição ou

permanecer na área a que foi destinado, respectivamente (Goes Filho, 2004). É

importante observar que o local deve ser o menos dispersivo possível para que os

impactos fiquem restritos à área determinada, levando em conta as atividades usuais

da mesma.

De acordo com Goes Filho (2004), um estudo realizado pela PIANC

(International Navigation Association (1996) identifica 4 tipos de localizações offshore :

• Zonas oceânicas de grande profundidade – áreas afastadas da

plataforma continental, ou onde a profundidade exceder a 200 metros.

Para este tipo o material dragado tende a permanecer no local

depositado;

• Plataforma continental – compreende a plataforma marítima continental,

entre as profundidades de 40 e 200 metros. Estas são zonas de energia

relativamente elevada, influenciadas principalmente por correntes de

maré e ondas;

• Zonas próximas à costa – áreas entre as zonas de 40 metros de

profundidade e a zona de arrebentação. São zonas de alta energia com

ondas e correntes de maré litorâneas. Estas zonas apresentam grande

potencial de transporte dos sedimentos;

54

Page 66: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

• Enseadas – são as zonas adjacentes aos estuários, rios e baías, onde

ocorre movimento de sedimento em grande escala. Nestes locais os

níveis de energia são similares àqueles das zonas próximas à costa.

Porém, a influência das correntes de maré pode originar padrões

bastante complexos de ondas, que vão atuar sobre o transporte dos

materiais ali depositados.

Tabela 3.7A apresenta os parâmetros hidrodinâmicos aos quais os sedimentos

podem ser submetidos.

Tabela 3.7. Parâmetros Hidrodinâmicos (Fonte: Adaptado de Holliday, 1978)

PARÂMETROS CONSIDERAÇÕES

Marés (fatores astronômicos

e meteorológicos) Diurnas ou semidiurnas; amplitudes

Medições continuas em oceanos para determinar o seu

comprimento, altura e duração Ondas (efeito dos ventos)

Correntes (efeitos das

ondas e marés)

Proximidade do fundo da área de disposição;

freqüência; velocidade; direção

Sazonalidade das

Informações

Condições de verão x condições de inverno para os

parâmetros acima

Probabilidade de ocorrência de eventos meteorológicos

extremos (tempestades, furacões, tufões) Eventos meteorológicos

Taludes íngremes; topografia de fundo plana; largura

dos montes x profundidade da área Batimetria

3.4 – Outros Parâmetros

Existem outros parâmetros que devem ser considerados, apesar de possuírem

uma importância reduzida quando comparados aos anteriores. Abaixo esses aspectos

são descritos.

3.4.1 – Operação de Dragagem e Disposição

Nas operações de dragagem realizadas com equipamentos hidráulicos (dragas

de sucção e recalque, dragas autotransportadoras), o sedimento é desagregado,

55

Page 67: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

misturado com água e então sugado. Isso faz com que a concentração de sólidos

fique reduzida, facilitando a dispersão do material na ocasião do seu lançamento.

As dragagens realizadas com equipamentos mecânicos minimizam esse

problema. Além disso, o lançamento de material a partir do batelão também é uma

forma de reduzir a concentração de sólidos na coluna d’água, já que os sedimentos

saem por gravidade de uma única vez com a abertura das comportas de fundo (Goes

Filho, 2004).

Apesar dos equipamentos mecânicos juntamente com o transporte e

lançamentos com batelão serem os mais indicados para minimizar a concentração de

sólidos em suspensão, é preciso verificar se as características do corpo hídrico e os

objetivos da dragagem são compatíveis com essa escolha. Cada equipamento tem

limitações e isso deve ser levado em consideração.

A dragagem por sucção e recalque é o método mais comum, sendo muito

utilizado em lagos, rios e canais.

Figura 3.2. Formas de lançamento do sedimento dragado. (a) Draga de sucção e

recalque; (b) Draga autotransportadora; (c) Batelão. (Fonte: Adaptado de IADC/CEDA

– Environmental Aspects of Dredging – Guia 5, 1996)

3.4.2 – Utilização do Corpo Hídrico

Um outro aspecto que deve ser analisado para validação da escolha de

disposição em corpo hídrico é a sua utilização pela população.

56

Page 68: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

É preciso verificar, por exemplo, se o corpo d’água é utilizado para navegação e,

caso seja, qual é a freqüência com que as embarcações trafegam. Isso é importante

porque pode alterar o processo de sedimentação e adensamento dos sedimentos no

reservatório, deixando os sólidos em suspensão por mais tempo.

Além disso, tem de se considerar as atividades desenvolvidas no ambiente,

como pesca e recreação, pois as conseqüências da disposição, mesmo sendo de

curto prazo, podem prejudicá-las.

3.5 – Impactos Associados à Atividade de Disposição

Subaquática

Antes de relacionar os impactos relativos à disposição, é importante observar

que durante a execução da própria dragagem ocorrerão impactos. Entre eles estão a

turbidez devido ao aumento dos sólidos em suspensão e também a possível liberação

de contaminantes, que antes se encontravam indisponíveis e que com o revolvimento

provocado pela dragagem passaram a biodisponíveis. Os efeitos negativos da

atividade de dragagem guardam relação com a quantidade de material a ser dragado,

o tipo de material que será movimentado e a presença de contaminantes. Mas vale

ressaltar que todos os tipos de dragagem implicarão em impactos para o corpo hídrico.

Os impactos ocasionados no meio aquático devido à disposição de materiais

dragados estão intimamente associados ao comportamento desse material durante e

após a sua descarga, conforme se pode verificar pelo item inicial desse capítulo.

Os impactos que ocorrem no ambiente aquático pela disposição de sedimentos

podem ser divididos em físicos e químicos. E a partir deles originam-se os impactos

biológicos. A seguir serão discutidos os principais impactos negativos dessa atividade.

3.5.1 – Impactos Físicos

O primeiro impacto físico da atividade de disposição é a própria formação do

monte ou a construção do depósito. Trata-se de uma forma estranha ao ambiente, que

altera a morfologia do fundo e pode, por conseqüência, prejudicar a circulação das

águas locais. Para avaliar esse impacto, deve-se verificar o projeto da geometria dos

depósitos. Estes apresentam alturas e raios variáveis que dependem não só do

volume de sedimentos, mas também de suas características físicas (granulometria e

coesão) e dos métodos de dragagem e disposição empregados. Os limites

57

Page 69: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

estabelecidos em projeto não devem ser ultrapassados, caso contrário a circulação

hidrodinâmica pode ser prejudicada, ou até mesmo a condição de navegabilidade do

corpo hídrico (Goes Filho, 2004).

Outro impacto físico associado à disposição subaquática é a turbidez da água

ocasionada pela dispersão dos sólidos na coluna d’água e também pela erosão e

ressupensão de sedimentos já depositados. A turbidez provoca alteração na cor da

água e esse aspecto não é favorável em áreas utilizadas para atividades de pesca e

recreação.

Há ainda outro aspecto que muitas vezes não é admitido, que é a formação de

novos montes de material fora dos limites da região. Isso pode ser provocado pelo

transporte de sedimentos e sua redisposição em um local de mais baixa energia.

Assim, esse local passa a apresentar os mesmos impactos da área destinada para a

disposição.

3.5.2 – Impactos Químicos

Os impactos químicos estão associados aos processos físico-químicos que

ocorrem entre o ambiente e os sedimentos despejados. As interações físico-químicas

entre o meio e o material podem provocar a formação de novas substâncias ou ainda

modificar algumas outras já presentes nos sedimentos ou na água.

O impacto químico, portanto, se caracteriza pelas reações e seus conseqüentes

produtos que têm o objetivo de restabelecer o equilíbrio físico-químico do meio, após

ter sido perturbado pela descarga de novas substâncias.

Dentro dessas interações, aquelas que são mais importantes para o ambiente

aquático são a dissolução (solubilização) e a dessorção. A primeira remove espécies

químicas da fase sólida para a fase líquida, de forma que fiquem livres para circularem

na solução intersticial e acessarem mais facilmente a água do meio. A segunda

transfere os íons ou moléculas que estavam fixados na superfície das partículas

sólidas para a solução intersticial e assim, novamente, podem chegar à água (Yong,

1992).

Vale ressaltar que alcançando o meio aquático, essas espécies e partículas

podem ultrapassar os limites da área de disposição e impactar quimicamente outras

regiões.

É interessante observar que, apesar dos processos de sedimentação e

consolidação serem físicos, há impactos químicos que são influenciados por eles. Por

58

Page 70: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

estarem associados à saída de água dos vazios, influenciam o fluxo de substâncias do

interior do monte para o meio ao redor.

Acrescenta-se ainda o fato de que essas substâncias que estão sendo liberadas

podem, e muitas vezes são, contaminantes. Assim, a contaminação pode se espalhar

prejudicando a qualidade da água do ambiente aquático.

3.5.3 – Impactos Biológicos

Conforme dito anteriormente, os impactos biológicos ocorrem como

conseqüência dos impactos físicos e químicos.

O primeiro impacto biológico que se verifica é o asfixiamento de alguns

organismos locais, pela deposição de material no fundo. Essa é uma das

conseqüências do impacto físico da formação do monte. Além disso, os sedimentos

podem trazer organismos diferentes dos encontrados no local, provocando competição

entre eles, o que também é impactante para a biota da área.

Outro impacto observado é que a turbidez – impacto físico provocado pela

dispersão de partículas sólidas – reduz a incidência de luz no ambiente, acarretando

uma diminuição nas atividades fotossintéticas das plantas e algas e ainda pode

dificultar a mobilidade da fauna. Acrescenta-se que os sólidos em suspensão

prejudicam os seres na medida em que obstruem suas vias respiratórias.

Os impactos químicos muitas vezes se mostram mais prejudiciais à biota. A

liberação de substâncias no ambiente aquático pode causar efeitos tóxicos aos

organismos, podendo gerar bioacumulação. Os seres impactados podem fazer parte

da alimentação de outros seres, de forma que estes também sofrerão os impactos. Até

os humanos podem ser atingidos pelo consumo de peixes ou outros animais

contaminados.

Outro efeito observado no ambiente aquático é o aumento de nutrientes,

principalmente nitrogênio e fósforo, que resulta no crescimento excessivo de algas e

plantas aquáticas, fenômeno denominado eutrofização (Mota, 1997).Quando esse

processo é agravado por ações antrópicas, como o lançamento de esgotos doméstico

ou industrial ou ainda de fertilizantes, a proliferação das algas é intensificada

provocando inconvenientes para o corpo hídrico: sabor e odor; toxidez; turbidez e cor

e a formação de massas de matéria orgânica que, ao serem decompostas, provocam

redução do oxigênio dissolvido e ainda aspecto estético desagradável (Mota, 1997).

Esse efeito implica na degradação da água e no impacto à biota.

59

Page 71: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Diante do que foi descrito, percebe-se que os organismos de menor mobilidade

são os que mais sofrem com os efeitos da atividade de disposição, já que os seres

com maior mobilidade podem deixar o local quando perceberem alterações

desfavoráveis. Portanto, esses merecem uma atenção especial quando os impactos

forem avaliados.

Cabe ressaltar que os processos de erosão e transporte de sedimentos

espalham os impactos muitas vezes para fora da área de disposição, o que também

deve ser avaliado no processo de aceitabilidade dessas atividades.

Figura 3.3A mostra um esquema dos impactos ambientais gerados nas

atividades de dragagem e disposição do material.

Figura 3.3. Impactos gerados pelas atividades de dragagem e disposição (Fonte: IADC/CEDA – Environmental Aspects of Dredging – Guia 6, 1996)

3.5.4 – Minimizando Impactos

Existem algumas medidas que reduzem os efeitos prejudiciais das atividades de

disposição, tornando locais antes inviáveis ambientalmente em áreas adequadas.

Algumas dessas medidas são simples, mas todas geram um custo adicional que deve

ser levado em consideração para a escolha da solução dos sedimentos dragados.

60

Page 72: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A primeira medida associada à minimização desses impactos é a utilização de

métodos mecânicos de dragagem juntamente com o batelão para transporte e

descarga. Isso reduz a dispersão dos sedimentos e ainda, a liberação de

contaminantes para o meio, já que há menos quantidade de água nos depósitos.

Entretanto essa medida é limitada pela geometria do corpo hídrico.

Há também as cortinas de filtração/proteção, que consistem em estender uma

“cortina” geotêxtil com pesos em sua extremidade inferior (com a finalidade do

geotêxtil permanecer esticado até o fundo do corpo hídrico), evitando o transporte das

partículas descarregadas para fora da área de disposição. Trata-se de uma técnica

que minimiza impactos físicos e químicos, pois restringe a região impactada.

Entretanto essa medida só deve ser utilizada em locais de baixa energia. A Figura 3.4

mostra essa alternativa.

Figura 3.4. Cortina para sedimentos (Fonte: IADC/CEDA – Environmental Aspects of Dredging – Guia 6, 1996)

A Figura 3.5 mostra um esquema do funcionamento da cortina de geotêxtil para

disposição de sedimentos dragados em cavas submersas.

61

Page 73: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 3.5 Esquema de funcionamento da cortina de geotêxtil

Uma outra medida que pode ser adotada é o uso de capeamento e/ou estruturas

de contenção lateral, conforme ilustrado na Figura 3.6. Esses recursos têm a função

de estabilizar o material contaminado através da prevenção da ressuspensão e

transporte para fora do local especificado e ainda de isolamento químico entre os

sedimentos contaminados e o ambiente bentônico (Goes Filho, 2004). É importante

verificar que para o bom funcionamento dessas medidas, os transportes advectivo e

difusivo dos contaminantes devem ser avaliados para, então, se determinar os

materiais que serão usados na construção das proteções. Os processos erosivo e de

consolidação também têm de ser avaliados, pois também podem prejudicar a

eficiência desses artifícios.

62

Page 74: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 3.6. Esquema de isolamento do material. (a) Disposição Confinada; (b) Capeamento de fundo. (Fonte: Terra et Aqua nº 98, março de 2005)

Portanto, o que se pode concluir é que os impactos sobre o ambiente aquático

vão sempre existir. Porém, o que se tem de verificar é se eles estarão dentro dos

limites estabelecidos para o meio e se o benefício da disposição supera os malefícios

para a área.

De acordo com os casos observados no capítulo 2, a maior parte dos impactos

dessa forma de disposição é de curto prazo, de maneira que em algumas semanas os

efeitos já desapareceram e o meio já se restabeleceu.

63

Page 75: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 4 MODELAGEM HIDRODINÂMICA E GEOTÉCNICA DA DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA

4.1 – Modelagem Hidrodinâmica

Lista de Símbolos

- coeficiente de arraste do vento CD

- coeficiente de atrito no fundo Cf

- coeficiente de Chezy Ch

- aceleração da gravidade (L/T³) g

- profundidade instantânea ou altura da coluna d'água local (L) H

- tempo (T) t

- valor médio na vertical da velocidade da corrente na direção x (L/T) u

- componente da velocidade tridimensional da corrente na direção x (L/T) U

- velocidade do vento a 10 metros acima da superfície (L/T) U10

- valor médio na vertical da velocidade da corrente na direção y (L/T) v

- componente da velocidade tridimensional da corrente na direção y (L/T) V

- elevação do nível d'água ou posição da superfície livre (L) z

- amplitude da rugosidade equivalente do fundo (L) ε

- densidade do fluido (M/L³) ρ

- densidade do ar (M/L³) ρar

- tensões turbulentas τi,j

2τ F - tensão de atrito no fundo (F/L ) i

τiS - tensão de atrito na superfície (F/L2)

64

Page 76: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

De acordo com Relatório COPPETEC (1998) e Rosman (2001), o conceito de

modelagem envolve a utilização de aproximações que simplificam o problema

estudado, centrando a atenção nos principais fenômenos que atuam no corpo d’água.

No caso em apreço nas escalas de interesse, a circulação relevante para o Complexo

Lagunar é a causada por forças motrizes de longo período, como marés e ventos,

sendo desnecessária a consideração de gradientes de pressão devido a diferenças de

densidade. Essa simplificação baseia-se no fato do escoamento mais significativo ser

quase horizontal, uma vez que a estratificação da coluna d’água no Sistema Lagunar é

geralmente muito fraca. Considerando que a área de interesse apresenta baixas

profundidades e insignificante estratificação vertical, a adoção de um modelo

hidrodinâmico bidimensional na horizontal (2DH), com variáveis promediadas na

vertical, foi admitido adequado para representação desse sistema.

No modelo 2DH, as equações governantes tridimensionais gerais são integradas

analiticamente na dimensão vertical, reduzindo a dimensionalidade do problema. O

modelo resultante, bidimensional na horizontal, é largamente utilizado em estudos

ambientais. A metodologia matemática empregada no modelo está resumida a seguir.

Maiores detalhamentos sobre a formulação matemática fogem ao escopo da pesquisa,

mas estão presentes em Rosman (2001).

Para cada tempo t, o modelo hidrodinâmico bidimensional na horizontal, 2DH,

determina em cada ponto, (x,y), do corpo d’água, os valores médios na vertical das

componentes nas direções x e y, da velocidade de corrente, u(x,y,t) e v(x,y,t), e a

elevação do nível d’água, ou posição da superfície livre, z=η(x,y,t).

Os valores médios na vertical da velocidade da corrente são definidos por:

∫−=

η

hdztzyxU

Htyxu ),,,(1),,( (4.1)

∫−=

η

hdztzyxV

Htyxv ),,,(1),,( (4.2)

onde, para o escoamento de grandes escalas (ou escoamento em águas rasas), U e V

são respectivamente os componentes nas direções x e y da velocidade tridimensional

da corrente, e H=h(x,y) + η(x,y,t) é a profundidade instantânea ou altura da coluna

d’água local, sendo z=-h(x,y) a superfície do fundo. A Figura 4.1 apresenta o sistema

de coordenadas da modelagem 2DH.

65

Page 77: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 4.1. Sistema de coordenadas da modelagem 2DH (Rosman, 2001)

As equações que regem a hidrodinâmica integrada na vertical, com as

considerações e as variáveis definidas acima, podem ser escritas como:

Equação da continuidade

0=∂

∂+

∂∂

+∂∂

yvH

xuH

(4.3)

Essa equação faz com que o divergente da velocidade do escoamento seja nulo.

Ou seja, o volume das partículas no escoamento é incompressível e permanece o

mesmo à medida que estas se movimentam (imposição da condição de escoamento

incompressível).

Equação da quantidade de movimento, na direção x:

( ) ( ) fvHy

HxHx

gyuv

xuu

tu F

xSxxyxx +⎥

⎤⎢⎣

⎡−+

∂∂

+∂∂

+∂∂

−=∂∂

+∂∂

+∂∂ ττττ

ρη 1

(4.4)

Equação da quantidade de movimento, na direção y:

( ) ( ) fuHy

HxHy

gyvv

xvu

tv F

ySyyyxy +⎥

⎤⎢⎣

⎡−+

∂∂

+∂∂

+∂∂

−=∂∂

+∂∂

+∂∂ ττττ

ρη 1

(4.5)

66

Page 78: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A seguir apresenta-se o significado de cada termo das equações (4.4) e (4.5) de

modo a observar os parâmetros envolvidos nessa modelagem (Fonte: Adaptado de

Rosman (2001)).

Representa a aceleração do local do

escoamento tv

tu

∂∂

∂∂ ⇒

Representa a aceleração advectiva do

escoamento yvv

xvu

yuv

xuu

∂∂

+∂∂

∂∂

+∂∂

Representa a pressão hidrostática resultante na

direção x/y (gradiente de pressão), devido à

declividade da superfície d’água na direção x/y. y

gx

g∂∂

−∂∂

−ηη

( ) ( )

( ) ( )⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡∂∂

+∂∂

⎥⎦

⎤⎢⎣

⎡∂∂

+∂∂

yyxy

xyxx

Hy

HxH

Hy

HxH

ττρ

ττρ

1

1Representa a resultante das tensões dinâmicas

turbulentas 2DH no escoamento. ⇒

Representa a tensão do vento na superfície

livre por unidade de massa. Sy

Sx HH

τρ

τρ

11⇒

Representa a tensão de atrito no fundo atuante

no escoamento por unidade de massa.. ( ) ( )F

yFx HH

τρ

τρ

−−11

Representa a força de Coriolis devido ao fato

do referencial estar se movimentando na

superfície da Terra. ⇒fufv

Nas equações (4.4) e (4.5), ρ representa a densidade do fluido, que admite-se

constante por se tratar de escoamentos em águas rasas.

Os termos τx/yS e τx/y

F são os termos de atrito na superfície e no fundo

respectivamente. As tensões de atrito surgem das condições de contorno dinâmicas

na superfície livre e no leito do corpo hídrico. A tensão da superfície livre é escrita

como:

yxDars

yx UC /2

10/ cosαρτ ⋅⋅⋅= (4.6)

onde ρ é a densidade do ar, Car D é o coeficiente de arraste do vento, U10 é a

velocidade do vento a 10 metros acima da superfície livre e cosαx/y é o ângulo entre o

67

Page 79: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

vetor de velocidade do vento e a direção x/y. O coeficiente do vento, CD, pode ser

determinado a partir de fórmulas empíricas (Rosman, 2001).

Para o modelo 2DH a tensão de atrito no fundo é calculada através de:

( )uvuCFFx

22 +⋅= ρτ (4.7a)

( )vvuCFFy

22 +⋅= ρτ (4.7b)

sendo Cf o coeficiente de atrito no fundo, que pode ser obtido através do coeficiente de

Chezy, Ch, como segue:

2h

f CgC = (4.8)

onde

⎟⎠⎞

⎜⎝⎛=

εHCh

6log18 (4.9)

sendo ε a amplitude da rugosidade equivalente do fundo. A Tabela 4.1 apresenta

valores recomendados para ε.

Tabela 4.1 Valores recomendados para rugosidade equivalente de fundo, ε, para uso

no modelo 2DH. (Fonte: Adaptado de Rosman, 2001)

MATERIAL VALOR Terreno ou leito de terra

Leito com transporte de sedimentos 0.0070 m < ε < 0.0500 m Leito com vegetação 0.0500 m < ε < 0.1500 m Leito com obstáculos 0.1500 m < ε < 0.4000 m

Fundo de pedra ou rochoso Fundo de alvenaria 0.0003 m < ε < 0.0010 m

Fundo de pedra lisa 0.0010 m < ε < 0.0030 m Fundo de asfalto 0.0030 m < ε < 0.0070 m

Fundo com pedregulhos 0.0070 m < ε < 0.0150 m Fundo com seixos rolados 0.0150 m < ε < 0.0400 m

Fundo com pedras 0.0400 m < ε < 0.1000 m Fundo com rochas 0.1000 m < ε < 0.2000 m

Fundo de concreto Fundo de concreto liso 0.0001 m < ε < 0.0005 m

Fundo de concreto inacabado 0.0005 m < ε < 0.0030 m Fundo de concreto antigo 0.0030 m < ε < 0.0100 m

68

Page 80: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

As chamadas tensões turbulentas, τi,j, são, na verdade, fluxos de quantidade de

movimento por unidade de massa associados com escalas não resolvíveis no tempo e

no espaço. Nesse termo são consideradas as parcelas difusiva e dispersiva do

escoamento.

O sistema de equações que compõe o modelo de circulação em águas rasas é

resolvido com o auxilio de técnicas numéricas, uma vez que não possui solução

analítica conhecida.

Para observar a circulação hidrodinâmica dos corpos hídricos será utilizado,

neste trabalho, o SisBAHIA®, Sistema BAse de Hidrodinâmica Ambiental.

As considerações descritas a seguir sobre o sistema foram retiradas do Relatório

PEnO (2002). ®O SisBAHIA é um sistema profissional registrado pela Fundação Coppetec,

órgão gestor de convênios e contratos de pesquisa da Coordenação de Programas de

Pós Graduação em Engenharia (COPPE) da Universidade Federal do Rio de Janeiro,

UFRJ. ®O SisBAHIA contém 6 modelos, entre eles está o modelo hidrodinâmico, que foi

utilizado para obter o comportamento hidrodinâmico da área de estudo. O modelo

hidrodinâmico é um modelo para simular a circulação hidrodinâmica em corpos de

água com superfície livre sob diferentes cenários. Tal modelo é otimizado para

aplicações em corpos de água naturais com pouca estratificação, ou seja, nos quais

efeitos de densidade variável possam ser desprezados, como é o caso do corpo

hídrico que será objeto deste estudo. Os processos de calibração são minimizados

devido a: discretização espacial via elementos finitos quadráticos, permitindo ótimo

mapeamento de corpos de água com linhas de costa e batimetrias complexas, campos

de vento e atrito do fundo podendo variar dinamicamente no tempo e no espaço

(Relatório PEnO, 2002).

69

Page 81: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

4.2 – Modelagem Geotécnica

Lista de Símbolos

- coordenada lagrangeana para o caso unidimensional (L) a

- concentração de partículas sólidas (M/L³) C

- concentração máxima de partículas sólidas (M/L³) Cm

- concentração inicial de partículas sólidas (M/L³) Co

- índice de vazios (Vv/Vs) e

- índice de vazios inicial e0

- altura dos sólidos (L) H

- coeficiente de permeabilidade (L/T) k

- coeficiente de permeabilidade em coordenadas materiais - lagrangeanas (L/T) ka

- coeficiente de permeabilidade em coordenadas espaciais - eulerianas (L/T) kξ

- altura da amostra (L) L

- altura inicial da amostra (L) L0

- porosidade (Vv/Vn T)

- fluxo de partículas sólidas (M/L³) S

- tempo (T) t

- poropressão ou pressão neutra (F/L²) u

- poropressão na base da amostra (F/L²) ub

- velocidade do pistão (L/T) v

- inclinação de retas de mesma concentração e velocidade de propagação de uma linha característica de concentração C V(C)

- volume elementar representativo VE

- velocidade do fluido (L/T) vf

- velocidade das partículas sólidas (L/T) vs

- velocidade de sedimentação das partículas sólidas (L/T) vsed

- coordenada reduzida (L) z

- peso específico da fase fluida do solo (F/L³) γf

- peso específico das partículas sólidas (F/L³) γs

70

Page 82: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

- densidade ou massa específica das partículas sólidas (M/L³) ρs

- tensão total atuante no solo (F/L²) σ

- tensão efetiva atuante no solo (F/L²) σ'

- tensão efetiva na base da amostra (F/L²) σb'

- tensão efetiva no topo da amostra (F/L²) σ ' t

- variável tempo no sistema de coordenadas material - descrição lagrangeana (T) τ

- coordenada espacial (euleriana) para o caso unidimensional (L) ξ

Neste trabalho será enfatizado o comportamento mecânico de longo prazo de

materiais finos, ou seja, sedimentação e adensamento para a previsão de estabilidade

do depósito. Embora esses processos sejam tridimensionais, a modelagem mais usual

é a bidimensional ou a unidimensional, porque são menos complexas.

Cabe ressaltar que os processos de sedimentação e de adensamento ocorridos

no sedimento fino de dragagem não seguem as teorias tradicionais da Mecânica dos

Solos, já que se trata da condição de solos em formação e, portanto, receberão uma

atenção especial a seguir.

Segundo Alves (1992), o processo de sedimentação refere-se ao movimento

gravitacional de uma partícula, ou o conjunto delas, através de um determinado meio,

ou seja, a deposição das partículas sólidas ou flocos presentes na suspensão.

Para o teor de sólidos habitual em dragagem, esse processo não obedece à Lei

de Stokes de sedimentação livre, que trata o problema hidrodinâmico de queda de

uma partícula isolada em meio fluido. Sendo assim, a Teoria de Kynch, que considera

a interação física entre as partículas e exprime a velocidade de queda como função

exclusiva da concentração local de partículas, é base de praticamente todos os

modelos de sedimentação em uso (Barbosa e Santos, 2003). Vale ressaltar que essa

teoria considera o material inerte, ou seja, não leva em consideração as características

físico químicas do material.

No caso de disposição em corpos hídricos a sedimentação pode se prolongar

não só pela granulometria fina dos sedimentos, mas também pela ocorrência de

eventos hidrodinâmicos locais, que mesmo que de baixa intensidade podem retardar

essa etapa.

À medida que o processo de sedimentação avança, ocorre um aumento da

concentração de sólidos no fundo, formando uma camada de sedimento depositada.

71

Page 83: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Cada camada depositada representa uma sobrecarga para a camada subjacente,

gerando um excesso de poropressão na estrutura, que se dissipará com o tempo,

aumentando a tensão efetiva. Desenvolvendo-se, portanto, o processo de

adensamento. Novamente para esta condição, a teoria clássica de adensamento

unidimensional de Terzaghi não se aplica, devido à ocorrência de grandes

deformações e de relações constitutivas não lineares do material. Sendo assim, é mais

adequado utilizar a Teoria de Gibson. Entretanto, para solucionar as equações

propostas por tal teoria é necessário conhecer as relações de variação da

permeabilidade e da tensão efetiva com o índice de vazios, além dos pesos

específicos da solução e dos sólidos que compõem a suspensão. Para obter as

relações citadas (k - e, σ’ - e), será utilizado neste trabalho o ensaio de adensamento

com taxa de deslocamento constante (CRS), possibilitando assim avaliar o

adensamento sob peso próprio.

4.2.1 - Sedimentação

A solução do problema de sedimentação deveria atender às equações de

equilíbrio e às equações da continuidade da mistura. No entanto, neste trabalho será

utilizada a teoria de Kynch (1952). Segundo Alves (1992), Kynch admite inicialmente

que em um ponto qualquer da mistura, a velocidade de queda da partícula (vs)

depende apenas da concentração da mistura em sua vizinhança (C). Desta forma,

estabelece que a solução do problema pode ser determinada, atendendo-se apenas a

equação diferencial da continuidade da fase sólida.

A teoria prevê a existência de uma interface superior entre a suspensão e o

liquido sobrenadante, cujo movimento aliado ao conhecimento da distribuição inicial de

partículas com a profundidade é suficiente para determinar a variação da velocidade

de queda com a concentração de partículas para uma suspensão particular (Santos,

2001).

As hipóteses simplificadoras da teoria de Kynch são:

• a concentração de partículas é uniforme através de qualquer

horizontal (seção transversal);

• a concentração de partículas aumenta com a profundidade na

suspensão;

• a velocidade de queda das partículas sólidas (vs) tende a seu valor

mínimo à medida que a concentração tende ao valor máximo Cm;

72

Page 84: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

• a velocidade de queda depende exclusivamente da concentração

local de partículas em sua vizinhança;

• o problema é considerado unidimensional, como de uma suspensão

sedimentando dentro de uma coluna, onde se despreza o atrito de

partículas-parede da coluna;

• as partículas têm a mesma forma e tamanho;

O termo concentração, utilizado por Kynch, refere-se à quantidade de partículas

sólidas por unidade de volume. A quantidade de partículas pode se referir ao peso de

partículas por unidade de volume ou, mais adequadamente, à massa de sólidos por

unidade de volume (Alves, 1992). Assim definida, ela está relacionada com a

densidade das partículas sólidas através de:

e

nC ss

+

=−=

1

)1( ρρ (4.10)

onde n é a porosidade da mistura e ρs é a densidade das partículas sólidas.

Nesta fase do trabalho faz-se necessário introduzir o conceito de fluxo de

partículas. Fluxo de partículas, S, é, então, definido como quantidade de partículas

que atravessa uma dada seção horizontal por unidade de área e de tempo e pode ser

expresso por:

( )CvCS s= (4.11)

é a velocidade de queda das partículas sólidas (Alves, 1992). onde vs

O fluxo pode, portanto, ser apresentado de acordo com a definição de

concentração.

( ) ss vnS ⋅−= 1ρ (4.12)

73

Page 85: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

À medida que a concentração aumenta, a velocidade diminui, até que o fluxo, S,

cessa e a velocidade se anula. A concentração (C) varia com a altura (H) de qualquer

nível, acima do fundo da coluna de partículas em suspensão. Como o fluxo (S) é

proporcional a concentração, ele varia continuamente com a altura. A relação entre a

concentração e a altura é chamada equação de continuidade e dada por:

( )CV+

tC

∂∂

HC

∂=∂ 0 (4.13)

onde V(C) = dS/dC e pode ser representada num gráfico tempo (t) x altura (H),

onde plotam-se curvas com mesma concentração. “Como a concentração (C), e,

portanto, V(C), são constantes ao longo da curva, esta é representada por uma linha

reta cuja inclinação é determinada pela concentração” (Alves, 1992). A inclinação da

curva é dada por V(C) = dH/dt (Santos, 2001).

A teoria de Kynch não considera, no entanto, o processo de adensamento da

camada devido ao seu peso próprio.

Conforme citado em Santos, Mc Roberts & Nixon (1976) revisaram a teoria de

Kynch e a aplicaram em experimentos com solos siltosos. Esses autores definiram o

fim da sedimentação através da interseção obtida pelo prolongamento de duas retas

(R1 e R2) tangentes aos seguimentos AB e CD (Figura 4.2).

Figura 4.2. Cálculo da velocidade de sedimentação. (Fonte: Santos, 2001)

74

Page 86: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A velocidade de sedimentação é obtida então graficamente como:

tHvsed

ΔΔ=

(4.14)

Vale salientar que a teoria de Kynch e sua revisão realizada pelos autores

McRoberts e Nixon não consideravam as interações físico-químicas entre as

partículas. Dessa forma, parâmetros como tipos de argilomineral e de eletrólitos

dissolvidos, de grande influência no processo de sedimentação são ignorados.

Entretanto, já é reconhecida a necessidade de considerar tais interações assim como

a tendência de outros pesquisadores em tentar equacioná-las em uma extensão da

Teoria de Kynch.

Para avaliar o processo de sedimentação será realizado um ensaio em uma

coluna de sedimentação com a concentração de sólidos compatível com suspensões

diluídas. Esse procedimento será melhor explicado no capítulo 7.

4.2.2 - Adensamento

Como decorrência do processo de sedimentação, à medida que a interface se

desloca em movimento descendente, ocorre um aumento da concentração de sólidos

no fundo, formando uma camada de sedimento depositado. Cada camada depositada

representa uma sobrecarga à camada subjacente, gerando um excesso de

poropressão na estrutura, que se dissipará com o tempo, aumentando a tensão

efetiva. Esse processo caracterizado pela variação do volume associada à expulsão

de água dos poros do solo saturado, após a imposição de sobrecarga, é chamado de

adensamento. Portanto, na disposição de sedimentos, identifica-se o processo de

adensamento, gerado por peso próprio ou por novo lançamento de rejeitos num

depósito parcialmente preenchido.

Sabe-se que a Teoria do Adensamento de Terzaghi e Frölich (1936) baseia-se

nas seguintes hipóteses simplificadoras:

• o solo está completamente saturado;

• os grãos de solo e o fluido intersticial são incompressíveis;

• o solo é homogêneo;

• a drenagem é unidirecional;

• é válida a Lei de Darcy para o escoamento de fluido intersticial;

75

Page 87: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

• as deformações só ocorrem na direção vertical;

• os fenômenos que ocorrem nas pequenas massas de solo podem ser

estendidos às grandes massas;

• determinadas propriedades do solo (permeabilidade e coeficiente de

adensamento) não variam no processo de adensamento;

• há uma relação linear entre as variações da tensão efetiva e do índice

de vazios;

Entretanto, no presente caso, envolvendo solos em processos de deposição,

essa teoria não se aplica devido à ocorrência de grandes deformações e de relações

constitutivas do material não-lineares. Para o trabalho, a teoria de Gibson et al. (1967),

que trata do adensamento unidirecional não-linear e com grandes deformações, é

mais adequada. Na realidade, aplicando-se as hipóteses simplificadoras listadas

acima na teoria de Gibson et al. (1967) chega-se à Teoria de Terzaghi e Frölich

(1936), provando que esta é apenas um caso particular da anterior.

Para o desenvolvimento teórico da questão de deposição dos sedimentos pode-

se fazer uso de duas descrições do movimento do contínuo, a Euleriana e a

Lagrangeana.

A descrição Lagrangeana ou Material é feita acompanhado o movimento das

partículas no espaço através de suas trajetórias. Já na descrição Euleriana ou

Espacial não existe preocupação em seguir partículas individuais, mas sim em

descrever, em função do tempo, o que acontece em uma posição espacial fixa. Essas

descrições encontram-se detalhadas em Ferraz (2003).

De forma a evitar maiores complicações matemáticas no processo de solução,

principalmente quando se trabalha com problemas de fronteiras móveis, como é o

caso do adensamento, geralmente os problemas considerando grandes deformações

são resolvidos utilizando a descrição Lagrangeana. (Ferraz, 2003)

Serão utilizadas como variáveis independentes as variáveis lagrangeanas (a e τ)

e será considerada a situação de adensamento unidimensional mostrada na Figura

4.3. Assume-se que o volume elementar representativo (VE) possui área unitária na

direção normal ao fluxo do fluido, e que embora o mesmo se deforme com o processo

de adensamento, ele conterá sempre as mesmas partículas sólidas, havendo somente

fluxo da fase fluida através das faces do mesmo.

76

Page 88: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 4.3. Coordenadas materiais de um elemento de solo. (a) Coordenadas no τ = 0;

(b) Coordenadas em um tempo arbitrário. (Fonte: Ferraz, 2003)

Como mostra a Figura 4.3, no tempo τ=0 o VE se situa entre os pontos de

coordenadas lagrangeanas, a e a+da, medidas em relação a um plano de referência

na superfície da camada. Após um tempo τ, o VE se deforma e se move através do

espaço passando a se situar entre os pontos de coordenadas ξ (a, τ) e ξ (a+da, τ). As

fronteiras superior e inferior serão sempre identificadas, respectivamente, por a = 0 e a

= H, mas suas localizações espaciais após um tempo τ serão dadas por ξ (a=0, τ) e ξ

(a=H, τ).

A obtenção da equação governante para o adensamento seguirá a seqüência

adotada por Gibson et al. (1967) e será baseada nas seguintes hipóteses:

• solo homogêneo e completamente saturado;

• qualquer nível de deformação da camada;

• incompressibilidade das partículas sólidas e do fluido intersticial;

• validade da Lei de Darcy;

• validade do principio das tensões efetivas;

• o processo de adensamento é isotérmico (sem interferência da

temperatura) ;

• relações constitutivas são únicas, implicando com isso que não variam

com o tempo e com o carregamento;

• A concentração de soluto na água do solo não interfere no processo de

adensamento (pequenas concentrações), ou seja, não afeta as massas

especificas do fluido e dos sólidos, a porosidade e nem a forma de

escoamento do fluido;

77

Page 89: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Para chegar à equação geral para o processo de adensamento com grandes

deformações Gibson et al. (1967) partiu dos seguintes princípios físicos:

• Equilíbrio vertical do elemento de solo como um todo (fluido e partículas

sólidas).

o

sf

ea

e

+∂

+=∂

1

. γγσ (4.15)

• Condição de continuidade da fase sólida.

oea

e

+∂

+=∂

1

1ξ (4.16)

• Condição de continuidade da fase fluida.

( )( )a

vvn sf

−∂−

oe+1

1

τ∂∂e = (4.17)

• Relações Constitutivas

− Princípio das Tensões Efetivas

u+= 'σσ (4.18)

− Relação de Fluxo (Lei de Darcy)

( ) ( )auk

vve

evvnf

asfsf ∂

∂⋅

−=−

+=−

γ1 (4.19)

− Funções materiais

⇒ Relação entre tensões efetivas e deformação: ( )e'' σσ =

( )ekaka =⇒ Relação entre deformação e fluxo:

Todas as relações acima são deduzidas em Ferraz (2003).

A solução do modelo de adensamento de grandes deformações pode ser obtida

utilizando-se tanto o excesso de pressão neutra, quanto o índice de vazios como

variável dependente. Neste trabalho se fará uso de um dos módulos do modelo

desenvolvido por Ferraz (2006) para sua pesquisa de Doutorado na COPPE/UFRJ,

cuja a solução é dada em termos do índice de vazios (e).

Combinando-se as relações estabelecidas a partir dos princípios físicos citados

acima se obtém:

78

Page 90: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

⋅⋅∂∂

⋅−−⋅⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

∂∂

ae

dedk

ae

dedke

f

ao

a

f

s '11 σγγ

γτ

(4.20)

Esta equação é a equação governante do processo de adensamento em

coordenadas lagrangeanas. O primeiro termo do lado direito da mesma se refere ao

adensamento da camada compressível sob a ação do peso próprio, o qual é de

grande importância para o caso em questão.

Segundo Pane et al. (1963) e Schiffman (1987), citados em Ferraz (2003), o

coeficiente de permeabilidade geralmente medido nos ensaios de permeabilidade é o

valor k o qual é igual ao valor kξ, , definido para o sistema de coordenadas espacial.

Assim é mais conveniente expressar a equação do adensamento em termos desse

valor. Dessa forma, a equação acima pode ser reescrita como segue:

( ) ⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

⋅⋅++

⋅∂∂

⋅+−∂∂

⋅⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

++

⋅⋅⋅⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

∂∂

ae

ded

eek

ae

ae

ee

kdede

f

vv

f

s '11

111

1 00

0 τγγ

γτ

(4.21)

O sistema de coordenadas reduzidas se mostra bastante útil na análise de

problemas com grandes deformações. Segundo Gibson et al. (1981), citado em Ferraz

(2003), esta variação do sistema lagrangeano se baseia no volume de partículas

sólidas existentes entre um plano de referência e um ponto material em análise, de

coordenada lagrangeana, a.

Assim, a coordenada reduzida, z, é definida como sendo o volume de partículas

sólidas, em um volume de área transversal unitária, situado entre um ponto de

referência e um ponto coordenado lagrangeano, conforme mostra a figura abaixo

(Figura 4.4).

Figura 4.4. Relação entre coordenadas lagrangeanas e reduzidas. (a) Configuração

inicial; (b) Configuração no tempo t. (Fonte: Ferraz, 2003)

79

Page 91: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A definição da coordenada reduzida, z, é dada pela equação a seguir:

( )[ ] '0,'1)(0

daanaza

∫ −= (4.22)

onde: n(a’,0) é a porosidade da camada no tempo t=0, na região considerada (Gibson

et al.,1967).

Considerando a relação entre porosidade e o índice de vazios, a definição da

coordenada, z, em termos de índice de vazios, e, fica:

een+

=1

(4.23)

( )∫ +=

a

aedaaz

0 0,'1')( (4.24)

Embora o valor z seja estritamente um volume, a forma como ele é definido dá

ao mesmo as dimensões de um comprimento, permitindo considerá-lo como uma

coordenada. Deve ser observado que a definição e utilização das coordenadas

reduzidas baseiam-se na hipótese de incompressibilidade das partículas sólidas, e

assim como as coordenadas lagrangeanas, são independentes do tempo (Ferraz,

2003).

Em coordenadas reduzidas, z, a equação governante do processo de

adensamento toma a forma mostrada a seguir, a qual é a equação obtida por Gibson

et al. (1967) e que tem sido utilizada em diversos trabalhos:

⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

∂∂

⋅∂∂

⋅+⋅∂

∂−

∂∂

⋅⎟⎠⎞

⎜⎝⎛

+⋅⎟

⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−=

∂∂

ze

eek

zze

ek

dede

f

vv

f

s ')1(1

1 σγγ

γτ

(4.25)

Desta forma, a fronteira do problema se torna constante, já que o volume de

sólidos não varia no sistema.

Conforme dito anteriormente, para solucionar a equação de Gibson et al. (1967)

necessita-se do conhecimento das relações k - e e σ’ - e, além dos pesos específicos

do fluido intersticial e dos sólidos.

80

Page 92: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Com o objetivo de obter tais relações (k - e e σ’ – e) e avaliar o adensamento sob

o peso próprio será realizado o ensaio de adensamento com taxa de deslocamento

constante (CRS, constant rate of strain).

As relações obtidas no ensaio serão entrada para o programa que modelará o

comportamento do material na fase de consolidação.

De acordo com Almeida (1988), o ensaio de adensamento com a taxa de

deslocamento constante (CRS) consiste essencialmente na aplicação gradual de

carga na amostra, aumentando-se o deslocamento axial (deformação específica axial)

a uma taxa constante. Este tipo de ensaio tem a vantagem de permitir que a

permeabilidade do material seja calculada através da realção entre a velocidade do

ensaio e o gradiente hidráulico médio (Alves, 1992).

O processo de adensamento é desencadeado, em geral, através de uma prensa

que promove o deslocamento (com velocidade constante) de um pistão em contato

com a amostra. Nesse ensaio somente uma das extremidades é drenada. A tensão

gerada pelo carregamento no topo e a poropressão desenvolvida são medidas na

base não drenada. Trata-se de um ensaio simples e rápido, entretanto ainda não se

dispõe de um critério bem definido para determinar a velocidade do ensaio (Almeida,

1988).

O método de análise para o ensaio CRS aplicado nessa pesquisa será o método

proposto por Lima (1996), que se trata de uma simplificação do método de Martinez et

al. (1987) (Santos, 2001).

Martinez et al. (1987), citado em Santos (2001) determinaram relações de

permeabilidade e compressibilidade para solos muito moles, usando valores médios

diferentes variáveis com a profundidade.

De acordo com Santos (2001), a diferença básica entre os dois métodos é que

nos estudos de Martinez et al. (1987) dispunha-se de transdutores ao longo da

amostra, possibilitando uma avaliação mais acurada da distribuição da tensão efetiva.

Na análise de Lima (1996), supõe-se que a poropressão distribuiu-se ao longo da

altura da amostra (Figura 4.5) de acordo com a seguinte equação de segundo grau:

u(x) = a + bx + cx2.

81

Page 93: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 4.5. Distribuição simplificada da poropressão e da tensão efetiva com a

profundidade

Os termos a, b e c podem ser obtidos através das seguintes condições de

contorno do ensaio.

( ) 0=xu para x = 0

( ) buxu = para x = L

( ) 0=dx

xdu para x = L

sendo x=0 o topo drenado da amostra, x=L a base não drenada da amostra e ub a

poropressão na base.

Consequentemente, a distribuição da poropressão com a profundidade será:

( ) 22

22x

Lu

xLu

xu bb ⋅−

⋅= (4.26)

Como o topo da amostra é drenado, a poropressão é nula e a tensão efetiva, σt’,

é igual à tensão total, σ.

Assim,

'' bbu σσ −= (4.27)

'tσσ =

então,

82

Page 94: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

'' btbu σσ −= (4.28)

e,

( ) ( )xux −= σσ ' (4.29a)

'tσσ =

então,

( ) ( )xux t −= '' σσ (4.29b)

ou ainda,

( ) ( ) ( ) 22

''''2'' x

Lx

Lx bt

bttσσ

σσσσ−

+−−= (4.29c)

( ) ( )''32''''

0 bttmédio

L

médio dxL

x σσσσσσ −−=∴= ∫ (4.30)

'' btbu σσ −=σσ ='t e , Como

bmédio u32' −= σσ (4.31)

Figura 4.6A partir da pode-se calcular a variação do índice de vazios e

consequentemente o índice de vazios médios (e ) da amostra. médio

83

Page 95: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 4.6. variação do índice de vazios. (a) tempo t=0. (b) tempo t=t

ss

vv

LL

LLL

eee Δ=

−=−=Δ

00 (4.32)

Se,

0

000

1)1(

eL

LeLLLL sossv +=∴+=+= (4.33)

então

( 00

1 eLLe +

Δ=Δ ) e (4.34)

( ) ( )00

00 1 e

LLL

ee +−

−= (4.35)

Simplificando, tem-se que:

( )1

1

0

0 −⋅+

== LL

eee médio (4.36)

O coeficiente de permeabilidade, k, é obtido pela Lei de Darcy-Gersevanov:

kivvn sf −=− )( (4.37)

84

Page 96: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

onde n é a porosidade vf é a velocidade do fluido, vs é a velocidade dos sólidos e i é o

gradiente hidráulico.

Da equação da continuidade para o sistema bifásico chega-se à relação:

( ) 01 =⋅+− fs vnvn (4.38)

Para suprimir o termo referente à velocidade da água (vf), combina-se as

equações (4.37) e (4.38), obtendo, então:

iv

kkiv ss =∴= (4.39)

Portanto, para obter o coeficiente de permeabilidade, k, é preciso conhecer o

gradiente hidráulico e a velocidade dos sólidos. Sendo:

dxdui

f

⋅=γ1 (4.40)

então,

f

bmédio

Lxfmédio L

ui

dxdui

γγ ⋅=∴⎟

⎠⎞

⎜⎝⎛⋅=

= 2/

1 (4.41)

Como a velocidade do pistão é equivalente à dos sólidos no topo da amostra e a

velocidade dos sólidos na base é nula, então a velocidade média dos sólidos, vS media,

é:

2vv médias = (4.42)

onde v é a velocidade do ensaio ou do pistão.

Finalmente, substituindo os valores encontrados em (4.41) e (4.42) em (4.39),

tem-se:

85

Page 97: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

b

fmédio

f

bmédio u

Lvk

Lu

vk⋅

⋅⋅=∴

=2

2/ γ

γ

(4.43)

4.3 – Resumo ®Neste trabalho será utilizado o modelo hidrodinâmico do SisBAHIA para verificar

a circulação hidrodinâmica do corpo hídrico.

Além disso será utilizada a Teoria de Kynch revisada por Mc Roberts & Nixon

para modelar o comportamento do material durante sua fase de Sedimentação e a

Teoria de Gibson (1967) para modelar o comportamento durante o Adensamento.

86

Page 98: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 5 METODOLOGIA DA PESQUISA

5.1 – Objetivos

A proposta deste trabalho é avaliar a disposição de rejeitos de dragagem em

corpos hídricos abertos. Para isso, escolheu-se o Complexo Lagunar da Baixada de

Jacarepaguá, mais especificamente as Lagoas da Tijuca e Jacarepaguá, porque se

trata de uma área necessitada de dragagens e com limitações no que diz respeito ao

destino dos rejeitos dessa operação. Tanto sua hidrodinâmica quanto seus sedimentos

de fundo serão caracterizados com o auxilio de dados e resultados já apresentados

em Relatórios COPPETEC (1996, 1998 e 2000), Borma (1998), além de dados de

monitoramento fornecidos pela Plarcon Engenharia, através dos Relatórios da M&B

Acessoria Ambiental (2002a e 2002b) e da Green Link Estudos Ambientais (2003).

Para esta pesquisa, o estudo do Sistema Lagunar de Jacarepaguá será dividido

em comportamento hidrodinâmico e comportamento mecânico dos sedimentos

dispostos. Inicialmente será verificada a possibilidade de disposição dos sedimentos

nas cavas com relação à presença de marés, ondas e outros eventos hidrodinâmicos.

Em seguida, então, será mostrado o comportamento mecânico do material dragado

após seu lançamento.

Antes de verificar o comportamento hidrodinâmico do corpo hídrico e o

comportamento mecânico do sedimento dragado, será feita a caracterização do

sedimento e da água para verificar os parâmetros relevantes para a disposição

subaquática, entre eles a granulometria dos sedimentos, a presença de contaminantes

nos sedimentos e na água.

Após a obtenção dos resultados das modelagens hidrodinâmica e geotécnica,

será discutida a viabilidade técnica da alternativa.

5.2 – Estudo de Caso

Ao longo das últimas décadas, o Complexo Lagunar da Baixada de Jacarepaguá

vem sofrendo uma forte agressão ambiental em função do crescimento da ocupação

antrópica da região sem infra-estrutura urbana adequada. As lagoas serviram

basicamente para receber o descarte de efluentes domésticos e industriais produzidos

87

Page 99: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

na Baixada de Jacarepaguá. A presença de sedimentos nos canais fluviais decorre da

erosão promovida pelo próprio fluxo da água e da contribuição trazida pelos processos

que atuam nas vertentes dos vales. Esse processo é agravado pelo crescimento

intenso da ação antrópica, como é o caso do lixo e do entulho de obras e contribui

para o assoreamento das bacias.

Para aqueles que moram às suas margens ou têm acesso ao espelho d'água

lagunar é perceptível o crescente aparecimento de inúmeros sintomas da degradação

como, por exemplo, alteração visível da paisagem, aumento dos resíduos flutuantes,

mudanças freqüentes da coloração das águas, afloramento do lodo orgânico

(assoreamento), mau cheiro, proliferação de vetores (insetos, ratos).

Porém, esse problema não fica restrito às lagoas, estima-se que 1/3 do volume

total de água que extravasa pelo Canal da Joatinga é composto por esgoto doméstico

e águas pluviais contaminadas (Portal Cidade da Barra, 2005) e, como conseqüência,

tem-se a contaminação da Praia da Barra da Tijuca.

Com o funcionamento do emissário submarino e da estação de tratamento de

esgotos, previstos para 2008, acredita-se que haverá uma melhora significativa dessa

situação. Entretanto, o avançado estado de degradação das lagoas requer algumas

ações emergenciais que contribuam para acelerar o processo de recuperação. Uma

das ações aplicáveis neste momento é a dragagem. Tal procedimento, se

adequadamente planejado e acompanhado é capaz de ser bastante eficaz, porque ao

restabelecer as cotas de fundo, há a revitalização do ambiente lagunar à medida que

promove a circulação hídrica e, conseqüentemente, a oxigenação e renovação da

água e ainda minimiza o risco de enchentes.

Destaca-se também outra forma de impacto ao ecossistema lagunar em questão:

as irregularidades batimétricas. As lagoas tropicais apresentam um valor típico de

profundidade, que varia entre 1,5 e 4 metros de coluna d’água, somente assim todos

os processos naturais desse ambiente podem ocorrer (Esteves, 1988). No entanto

existem áreas, principalmente onde ocorreram dragagens para aterros hidráulicos,

entre os quais os do Riocentro, do autódromo, do aeroporto, de condomínios

residenciais e de centros comerciais, em que esse valor é bastante ultrapassado,

podendo alcançar até 11 metros. Diante desse problema, a proposta de disposição

dos rejeitos de dragagem no mesmo ambiente nessas depressões torna-se atrativa. A

Figura 5.1 mostra um esquema das cavas preenchidas por sedimentos dragados.

88

Page 100: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 5.1. Esquema das cavas preenchidas com sedimento dragado. (Fonte:

Adaptado de COPPETEC, 2000)

5.2.1 – Coleta de Amostras

A coleta de amostras de sedimento e de água foi realizada com uma

embarcação fornecida pela Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana). A

Comlurb além de fornecer a embarcação, também disponibilizou uma equipe para

guiar a visita.

As amostras de sedimentos e de água coletadas foram objetos dos ensaios

realizados neste trabalho.

As amostras de sedimento foram coletadas em quatro pontos distintos no leito da

Lagoa da Tijuca. A amostra de água foi retirada do mesmo ponto da primeira amostra

de sedimento. Essa amostragem foi realizada no dia 25 de novembro de 2005 e a

Tabela 5.1 mostra um resumo das suas características. A Figura 5.2 apresenta um

croqui esquemático dos locais de coleta de amostras.

Tabela 5.1. Resumo das características da amostragem

AMOSTRA LOCAL NA OBSERVAÇÕES

solo 1 próximo à Ilha do Tiro 0,40 m -

água odor característico da presença de matéria orgânica; presença

de conchas

atrás do Hipermercado Extra 1,00 m solo 2

atrás da Clinica São Bernardo 0,40 m - solo 3

odor característico da presença de matéria orgânica; presença

de conchas

atrás do Citta América 0,40 m solo 4

89

Page 101: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Ilha do Tiro

1

23

4

LEGENDA • Pontos de coleta

Figura 5.2. Croqui esquemático da localização dos pontos de amostragem (Base do

Mapa: Google Earth)

No dia da coleta, observou-se que o corpo hídrico apresentava lâmina d’água

bastante reduzida, chegando a poucos centímetros, o que impossibilitou o avanço da

embarcação para a retirada de amostras em outros pontos. Ressalta-se ainda que

durante a coleta a maré estava enchendo, de forma que essa situação se mostra

ainda pior durante o período de vazante.

As amostras deformadas foram retiradas com trado, nas vizinhanças da

embarcação, conforme se verifica na Figura 5.3 e na Figura 5.4. A profundidade das

amostras variaram entre 0 e 1,5 metro. Estas eram compostas de sedimentos finos

misturados ao lixo, camada superficial que deverá ser objeto de dragagem.

Retirou-se cerca de 100 kg de sedimento. Além do odor característico da matéria

orgânica, também se observou grande quantidade de lixo nas margens da lagoa. Após

o acondicionamento em sacos plásticos bem vedados (Figura 5.5), o material foi

levado ao Laboratório de Geotecnia Jacques de Medina da COPPE/UFRJ, onde foi

misturado em uma bombona a fim de obter uma amostra composta e mantido em

câmara úmida.

90

Page 102: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A água foi coletada em bombonas de 20 litros e levada ao mesmo laboratório,

onde foi mantida na câmara refrigerada à temperatura entre 7 e 10º C(Figura 5.6).

Figura 5.3. Coleta de sedimentos

Figura 5.4. Detalhe do trado com sedimento

91

Page 103: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 5.5. Acondicionamento do sedimento em sacos plásticos

Figura 5.6. Acondicionamento da água em bombonas

92

Page 104: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

5.2.2 – Modelagem Hidrodinâmica

A modelagem hidrodinâmica apresentada nesta pesquisa foi fornecida pela

Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, através de Relatório PEnO (2002) e estudo

preliminar desenvolvido por Oliveira (2005). A modelagem da circulação hidrodinâmica

do corpo hídrico foi realizada através do sistema de modelos SisBAHIA® (Sistema

Base de Hidrodinâmica Ambiental), desenvolvido no Programa de Engenharia Costeira

e Oceanográfica da COPPE/UFRJ, conforme dito no capítulo 4.

A partir dessa modelagem pôde-se verificar os efeitos de marés e ondas antes e

depois da dragagem, assim como as velocidades de corrente. A partir disso, então,

concluir se o corpo hídrico é capaz de receber os sedimentos nas cavas sem que

grande parte deles fique na coluna d’água ou seja transportado novamente para áreas

prejudiciais à circulação hidrodinâmica.

5.2.3 – Modelagem Geotécnica

Para verificar o comportamento do material dragado após seu lançamento a

pesquisa foi dividida em uma parte experimental, onde utilizou-se um equipamento

que acopla os processos de sedimentação e adensamento sob o peso próprio e ainda

uma simulação computacional do comportamento do material ao longo do tempo,

através de um módulo do programa desenvolvido por Ferraz (2006). Esse módulo

considera somente o processo de adensamento sob o peso próprio. O processo de

sedimentação foi observado em uma coluna de acrílico que permitia a determinação

da interface sólido-líquido sobrenadante. As relações necessárias para a

caracterização das propriedades do material e para entrada no programa foram

obtidas através do ensaio CRS. Para os ensaios, utilizou-se a água e o sedimento da

lagoa, conforme será apresentado no capítulo 7.

A teoria Kynch foi utilizada para modelar a etapa de sedimentação do material e

a teoria de Gibson foi utilizada para modelar o adensamento, conforme mencionado

anteriormente no capítulo 4.

Foi realizada uma série de ensaios variando inicialmente a concentração de

sólidos e posteriormente, a velocidade do ensaio de adensamento. Com os resultados,

obteve-se o comportamento do material ao longo do tempo.

93

Page 105: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 6 CARACTERIZAÇÃO DO COMPLEXO LAGUNAR DA BAIXADA DE JACAREPAGUÁ

Antes de começar os estudos de caracterização, é importante fazer algumas

considerações teóricas sobre o tipo de ecossistema aquático da área de trabalho.

O sistema lagunar (ou lagoas costeiras em regime de marés) é um corpo hídrico

costeiro com ligação livre com o mar. Nele ocorre uma mistura da água salgada do

mar com a água doce proveniente da drenagem das terras e dos possíveis rios que ali

deságuam. Além das trocas de massas de água, no sistema lagunar ocorrem também

trocas biológicas entre os dois ambientes a cada ciclo de maré (Esteves, 1988).

Ao ter sua ligação com o mar obstruída, o complexo lagunar, que era um

estuário, passa a se comportar como uma lagoa em regime de cheias. Não havendo

mais a influência da maré, ocorre uma modificação da circulação hidrodinâmica do

corpo d’água. Neste caso, as trocas biológicas e de massas de água a cada ciclo de

maré são cessadas e o impacto ambiental é enorme. Esse evento pode ocorrer

naturalmente quando o canal de maré é obstruído com sedimentos devido a uma

ressaca e as correntes não são suficientemente fortes para promover a limpeza do

local. Mas também pode ser provocado por interferência antrópica, quando, por

exemplo, uma ponte mal projetada é construída sobre um canal de maré.

O fechamento do canal está associado à sua estabilidade hidráulico-

sedimentalógica. O canal de maré é considerado estável quando os fluxos de

enchente e vazante da maré são capazes de expelir o excesso de sedimentos

depositados no seu leito, de forma que sua embocadura permaneça sempre

desobstruída e com suas características morfológicas variando pouco em torno de

uma conformação média. As condições de estabilidade na abertura desses canais

dependem das marés, do transporte litorâneo ao longo da praia adjacente, da

descarga fluvial e das características morfológicas da bacia interior (COPPETEC,

1996). Cabe ressaltar que, dependendo do evento, essa estabilidade pode ser

prejudicada.

De acordo com COPPETEC (1996), os principais impactos associados à

transformação da laguna em lagoa costeira em regime de cheias são: o aumento das

taxas de assoreamento devido à maior tranqüilidade das águas (os sedimentos

trazidos por afluentes são todos retidos na lagoa) e, no caso de despejos de esgoto, a

94

Page 106: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

piora da qualidade das águas (menor diluição dos rejeitos por não haver entrada de

água do mar).

Figura 6.1A apresenta um esquema do aumento de circulação hidrodinâmica

após a dragagem.

Figura 6.1. Esquema da vazão de água em uma área assoreada (1) e em uma área

dragada (2). (Fonte: IADC/CEDA – Environmental Aspects of Dredging – Guia 6, 1996)

6.1 – Descrição do Complexo Lagunar de Jacarepaguá

A Baixada de Jacarepaguá está localizada no litoral Sul do Município do Rio de

Janeiro. O Complexo Lagunar de Jacarepaguá é formado pelas lagoas da Tijuca (4,34

km2), Jacarepaguá (4,07 km2), Marapendi (3,33 km2), que são bastante extensas e

alongadas, e a chamada Lagoa de Camorim (0,80 km2), um pequeno trecho entre a

Lagoa da Tijuca e a Lagoa de Jacarepaguá, todas interligadas ao mar pelo canal da

Joatinga, ao Leste. O canal de Sernambetiba, a Oeste, encontra-se fechado por

enrocamento (Portal Pacto de Resgate Ambiental, 2004).

O divisor de águas da bacia drenante ao sistema é formado pelas linhas de crista

dos Maciços da Pedra Branca e da Tijuca. Vários rios descem as vertentes dessas

montanhas e deságuam nas lagoas. A área total da bacia drenante às lagoas é de

cerca de 280 Km2 (Borma, 1998).

A circulação hidrodinâmica do Complexo Lagunar de Jacarepaguá é controlada

efetivamente por três canais: a partir do mar, a maré se propaga pelo Canal da

Joatinga até atingir um emaranhado de canais e ilhas, o que determina o início da

Lagoa da Tijuca; daí deriva-se o Canal de Marapendi, responsável pela ligação da

Lagoa de Marapendi ao restante do sistema e a noroeste também se deriva outro

95

Page 107: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

canal, que na verdade é a Lagoa de Camorim, responsável pela união da Lagoa de

Jacarepaguá. Esses canais oferecem grande resistência às correntes de enchente e

vazante da maré e por isso determinam como se dará as trocas entre o mar e as

bacias interiores (Relatório COPPETEC, 1996).

Abaixo se apresenta uma foto aérea da área em questão (Figura 6.2).

Figura 6.2. Complexo Lagunar de Jacarepaguá. (Fonte: www.serla.rj.gov.br)

6.2 – Caracterização

Os materiais descritos neste item foram utilizados para conduzir a caracterização

do sedimento e da água da lagoa e também para realização dos ensaios de

sedimentação e adensamento, que servirão de base para a descrição do

comportamento mecânico do sedimento durante sua disposição subaquática.

6.2.1 – Caracterização do Sedimento

Conforme mencionado anteriormente, as amostras de sedimento retiradas de

quatro pontos distintos foram misturadas a fim de ser obter uma amostra composta

representativa da Lagoa da Tijuca, de agora em diante denominada AC. Essa amostra

foi objeto de todos os ensaios realizados nessa pesquisa que, com exceção da análise

de cátions trocáveis e dos nutrientes fósforo e nitrogênio, foram realizados no

Lagoa da Tijuca

Lagoa de Marapendi

Lagoa de Jacarepaguá Praia da Barra

da Tijuca

Lagoa de Camorim

96

Page 108: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Laboratório de Geotecnia Jacques de Medina da COPPE/UFRJ. A análise dos cátions

trocáveis, assim como a análise dos nutrientes nitrogênio e fósforo foi realizada pela

Embrapa – Solos do Rio de Janeiro.

6.2.1.1 – Análise Mineralógica

Embora a mineralogia exerça papel fundamental no comportamento de solos,

a análise mineralógica não é um procedimento usual na caracterização geotécnica dos

solos (Borma, 1998).

Nesse estudo não será realizada a análise mineralógica. Entretanto, como

referência, tem-se o resultado apresentado no Relatório COPPETEC (1996) para as

amostras coletadas no centro da Lagoa da Tijuca. A difração de raio X foi realizada em

amostras previamente tratadas para remoção da matéria orgânica e revelou a caulinita

como argilomineral dominante seguida de ilita com alguma intercalação de esmectita.

6.2.1.2 – Teor de Matéria Orgânica

Segundo Santos (2001), o teor de matéria orgânica (TMO) pode ser medido pela

perda por aquecimento para solos muito orgânicos ou pelo ensaio químico para solos

pouco orgânicos.

A determinação do TMO foi realizada pelo método químico que consiste na

determinação do carbono orgânico por oxidação da matéria orgânica com dicromato

de potássio em meio sulfúrico.

Esse ensaio foi executado de acordo com a metodologia descrita pelo Manual de

Método de Análise de Solos da Embrapa, obtendo-se TMO de 16,2 %

Nos resultados apresentados no relatório 1996, a maioria das amostras

coletadas na área em estudo apresentaram TMO variando entre 15 e 30%.

De acordo com Perrin (1974) e Magnan (1980), citados em Santos (2001), os

solos com TMO entre 10 e 30% são medianamente orgânicos.

6.2.1.3 – Análise de Cátions Trocáveis

A capacidade de troca catiônica (CTC) pode ser determinada pela soma das

bases trocáveis ou através de métodos que forneçam o valor total sem discriminação

dos cátions envolvidos nas reações de troca. Em geral, ambas determinações

fornecem valores relativamente próximos (Borma,1998). No presente trabalho a CTC

foi determinada pelo primeiro método.

97

Page 109: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A amostra enviada à Embrapa – Solos do Rio de Janeiro foi lavada com água

destilada e centrifugada para retirada dos sais minerais presentes na água livre. A

matéria orgânica não foi retirada.

Tabela 6.1Na encontra-se os valores de CTC fornecidos pela Embrapa e

também os valores apresentados em Borma (1998).

Tabela 6.1. Resultado da análise de cátions trocáveis CÁTIONS

TROCÁVEIS (cmol

AC 13A* 13B* 15A* c/kg)

+2 8,0 0,0 0,2 10,3 Ca+2 14,1 24,9 29,0 16,1 Mg

K+ 1,1 2,1 2,4 1,1 + 9,8 30,3 43,4 15,7 Na

+3 0,0 0,0 0,0 0,0 Al33,0 57,3 75,0 43,2 CTC

* Amostras coletadas na área de estudo. A e B referem-se à profundidade da coleta da amostra no mesmo ponto (Borma, 1998).

Pelos resultados mostrados na Tabela 6.1, observa-se que a amostra composta

utilizada no estudo (AC) é semelhante à amostra 15A do trabalho de Borma (1998),

coletada a profundidade de 0,60 a 0,90 m na Lagoa de Camorim.

A CTC, considerando a contribuição dos cátions trocáveis, totaliza 33 cmolc/g de

solo seco. De acordo com a Tabela 6.2 apresentada por Santos (2001), Jaramillo

(1996) classifica a CTC deste sedimento como alta.

Tabela 6.2. Classificação da CTC (Fonte: Jaramillo, 1996)

/kg) CLASSIFICAÇÃO CTC (cmolc< 5 muito baixa

5 - 10 baixa

10 - 25 média

25 - 40 alta

> 40 muito alta

6.2.1.4 – Análise Granulométrica

O procedimento deste ensaio está de acordo com a norma da ABNT, NBR 7181.

Para sua realização, o sedimento foi previamente seco ao ar. Os torrões encontrados

foram desmanchados no almofariz. Com a amostra destorroada foi feito um

98

Page 110: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

peneiramento utilizando a peneira de 2,0 mm (nº 10). Praticamente todo o material

destorroado passou nessa peneira, restando apenas algumas conchas retidas.

Figura 6.3. A curva granulométrica obtida está apresentada na

Curva Granulométrica

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0,001 0,01 0,1 1 10 100

Diâmetro dos Grãos (mm)

Porc

enta

gem

que

Pas

sa

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Porc

enta

gem

Ret

ida

PEDREGULHOAREIAARGILA SILTE

GROSSOMÉDIOFINO GROSSAMÉDIAFINAABNT

PENEIRAS: 20 10 60 40 2030 10 8 4 3/8 3/4 1 1

SEDIMENTO DALAGOA DA TIJUCA

Figura 6.3. Curva granulométrica para a amostra composta AC A Tabela 6.3 apresenta a distribuição granulométrica de AC e também das

amostras coletadas na Lagoa da Tijuca apresentadas no Relatório COPPETEC

(1996).

Tabela 6.3. Distribuição granulométrica para amostras da Lagoa da Tijuca

% FINOS < 0,002

mm

% FINOS < 0,063

mm AREIA

GROSSA AREIA MÉDIA

AREIA FINA AMOSTRA SILTE ARGILA

3,6 4,2 2,7 61,6 27,9 27,9 89,5 AC 0,0 27,0 14,0 24,0 35,0 35,0 59,0 18A* 0,0 2,0 3,0 41,0 54,0 54,0 95,0 19A* 0,0 46,0 16,0 13,0 25,0 25,0 38,0 20A* 0,5 23,5 52,0 11,0 13,0 13,0 24,0 22A* 3,0 27,0 26,0 24,0 20,0 20,0 44,0 24*

* Amostras da Lagoa da Tijuca (Relatório COPPETEC, 1996)

99

Page 111: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da tabela acima (Tabela 6.3), observa-se que a amostra AC apresenta

uma porcentagem de silte muito superior às encontradas nas amostras da campanha

de 1996, com exceção da amostra 19A. Dessa forma, sua porcentagem de finos <

0,063 mm (silte + argila) alcança quase 90%. Ms as diferenças encontradas situam-se

dentro de uma faixa de variabilidade razoável para um meio heterogêneo como o

fundo desse Complexo Lagunar.

O teor de umidade natural (w) obtido foi 315%. Para alcançar peso constante e

assim determinar w, foi necessário que as amostras com cerca de 10 gramas de peso

úmido cada secassem em estufa de ventilação forçada a 40º C por praticamente 5

dias. Deve-se ressaltar que, devido ao procedimento de coleta, o valor obtido não

reflete a situação real de campo, mas será usado como referência para os ensaios

realizados em laboratório.

6.2.1.5 – Limites de Atterberg

A determinação do Limite de Plasticidade (wP) foi realizada de acordo com a

norma da ABNT, NBR 7180. O valor obtido para wP foi 68%.

O Limite de Liquidez (wL) foi obtido de acordo com a norma NBR 6459 (método

de Casagrande). O valor obtido de wL foi 165% para amostra AC.

Para os valores acima, o Índice de Plasticidade (IP) é 97% e o Índice de Atividade

(Ia) é 3,5. Pelo critério de Skempton, quando Ia é maior que 1,25, o solo é considerado

ativo.

Os resultados obtidos neste item estão listados juntamente com outros

parâmetros na Tabela 6.4. Os valores apresentados no Relatório COPPETEC(1996)

de wL, wP, IP e Ia para amostras da Lagoa da Tijuca também se encontram nessa

tabela.

Observa-se novamente uma semelhança entre a amostra composta do estudo e

a amostra 19A do estudo da COPPETEC em 1996.

6.2.1.6 – Densidade Real dos Grãos

O ensaio foi executado utilizando o método do picnômetro de acordo com a

norma DNER-ME 093/94.

100

Page 112: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

O valor obtido para a densidade real dos grãos (G) da amostra AC foi 2,45. O

ensaio indica baixa densidade dos sólidos presentes na amostra, o que provavelmente

reflete a influência da matéria orgânica.

O Relatório COPPETEC (1996) apresentou valores de G em torno de 2,56 para

as amostras coletadas na Lagoa da Tijuca, como se observa na Tabela 6.4.

Essa mesma tabela apresenta os resultados dos limites de Atterberg, índices de

plasticidade e atividade e ainda a densidade real dos grãos, teor de matéria orgânica e

umidade da amostra AC e também os valores apresentados para esses mesmos

parâmetros no Relatório COPPETEC (1996).

Tabela 6.4. Resultados de w, G, wL, wP, IP, Ia, TMO para as amostras da Lagoa da Tijuca

AMOSTRA w (%) G wL (%) wP (%) IP (%) I TMO (%)a

315,0 2,45 165,0 68,0 97,0 3,5 16,2 AC 384,0 2,56 288,0 84,0 204,0 5,8 27,0 18A* 306,0 2,55 186,0 57,0 129,0 2,4 17,3 19A* 311,0 2,57 278,0 105,0 173,0 6,9 19,2 20A* 29,0 2,66 45,0 32,0 13,0 1,0 5,8 22A* 11,0 2,57 161,0 58,0 103,0 5,2 15,1 24*

* Amostras da Lagoa da Tijuca (Relatório COPPETEC, 1996)

6.2.1.7 – pH no Sedimento

O pH foi medido eletronicamente por meio de eletrodo combinado imerso em

suspensão solo:líquido na proporção 1:2,5. Utilizou-se água e KCl (1N) como líquidos

da suspensão. Os resultados obtidos foram 7,14 e 7,00 para água e KCl

respectivamente.

6.2.1.8 - Metais

Para a determinação dos metais, a amostra foi tratada com água régia a quente

e o extrato analisado por espectrometria de absorção atômica com chama de

ar/acetileno.

O ensaio foi realizado com a amostra seca, de forma que os metais que estavam

dissolvidos na água intersticial precipitam à medida que esta água evapora. Dessa

101

Page 113: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

forma, as concentrações obtidas não correspondem somente à fração sólida dos

sedimentos. Trata-se, portanto, da concentração total dos metais, aquela encontrada

na fração sólida e também na solução intersticial.

Tabela 6.5A tabela abaixo ( ) apresenta as concentrações dos metais pesados

obtidas para a amostra AC. Nessa tabela estão presentes também as concentrações

apresentadas no Relatório COPPETEC (1996) para as amostras coletadas no Sistema

Lagunar de Jacarepaguá e as concentrações limites estabelecidas na Resolução

CONAMA nº 344.

Tabela 6.5. Concentração de metais nas amostras AC e do Complexo Lagunar de Jacarepaguá

METAIS (ppm) AMOSTRA

Cd Cr Cu Fe Mn Ni Pb Zn

< 0,01 66,5 88,9 47165 269,9 13,0 60,9 223 AC 0 - 1,4 0 - 37 61 - 80 - 291,0 19 - 25 56 - 83 223 - 29713A* 0 - 1,2 0 - 28 41 - 50 - 330,0 15 - 30 40 - 51 110 - 15715A*

0,0 46,5 40,5 40117 341,0 24,5 78,0 703,0 18A* 0,0 15,0 32,5 16226 70,5 16,5 72,0 425,0 22A*

1,2/9,6 81/370 34/270 - - 20,9/51,6 46,7/218 150/410CONAMA nº344** * Amostras coletadas em diferentes locais do Sistema Lagunar de Jacarepaguá (Relatório COPPETEC, 1996) ** CONAMA nº 344 – nível 1/nível 2 para sedimentos de água salina-salobra

Esses valores têm de ser comparados com os limites estabelecidos na

Resolução CONAMA nº 344 (25 de março de 2004).

De acordo com as concentrações de metais para a amostra AC e limites

impostos na resolução (Art. 7º) para água salina-salobra, o material dragado só

poderia ser disposto em águas jurisdicionais brasileiras após ser submetido a testes

exigidos pelo órgão ambiental competente, como por exemplo, ensaios

ecotoxicológicos, pois a concentração de chumbo (Pb) está entre os níveis 1 e 2.

Para os valores apresentados no Relatório 1996, haveria ainda restrições devido

à concentração de cádmio (Cd) que, assim como a de chumbo (Pb), encontra-se entre

os níveis 1 e 2, e também devido à concentração de zinco (Zn) que ultrapassou o nível

2.

Segundo Almeida et al. (2001) essa concentração de metais pesados nos

sedimentos do Complexo Lagunar de Jacarepaguá origina-se principalmente de fontes

102

Page 114: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

antrópicas, como por exemplo, desgarga de esgoto doméstico e industrial. De acordo

com esses mesmos autores, o nível de concentração desses metais não ultrapassa

significativamente os valores permitidos, dessa forma não impede a disposição dos

sedimentos em terra. Em relação os limites estabelecidos para a disposição em corpo

hídrico, a alternativa depende de resultados de ensaios exigidos pelo órgão ambiental,

conforme dito anteriormente.

Vale ressaltar que os resultados da concentração de chumbo são valores

correspondentes a sua fração total no sedimento e que, portanto, podem significar que

não estejam disponíveis no ambiente. O chumbo não ocorre naturalmente nos

sedimentos, mas de acordo com Sobrinho (1996), citado em Monteiro (2006), trata-se

de um dos metais menos móveis, acumulando-se normalmente na superfície dos

sólidos, ou seja, na fração adsorvida do solo. Dessa maneira, o potencial de

contaminação por chumbo não deve impedir a possibilidade de disposição

subaquática, condição que deve ser comprovada com os ensaios exigidos pelo órgão

ambiental competente.

6.2.1.9 – Nutrientes: Nitrogênio e Fósforo

Os ensaios foram realizados pela Embrapa – Solos do Rio de Janeiro de acordo

com os procedimentos descritos em seu Manual de Métodos de Análises de Solos. O

valor fornecido para Nitrogênio Total (N) foi 5.600 mg/kg e para Fósforo Total (P) foi

2.400 mg/Kg.

A Resolução CONAMA nº 344 estabelece valores de alerta para esses

nutrientes. Valor de alerta significa um limite acima do qual há possibilidade de causar

prejuízos ao ambiente. A Tabela 6.6 mostra os valores de alerta para nitrogênio e

fósforo apresentados em tal resolução e também os valores obtidos para a AC.

Tabela 6.6. Valores de nitrogênio e fósforo

VALOR DE ALERTA AC

Nitrogênio Total (mg/kg) 5600 4800

Fósforo Total (mg/kg) 2400 2000

Percebe-se, portanto, que os resultados ultrapassaram os valores de alerta e que

o lançamento sem controle de esgotos domésticos, principal fonte dos nutrientes,

103

Page 115: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

causa a degradação do meio. Esta classificação está totalmente em acordo com a

observação do comportamento destas lagoas hoje. Com o processo de eutrofização

acentuada e proliferação sem controle das gigogas, que vêm alcançando o mar.

É importante salientar que, apesar de provocar a eutrofização e a conseqüente

degradação das águas, a presença de N e P não impede a dragagem e disposição

subaquática dos sedimentos. Um depósito contendo sedimentos com N e P não é um

ambiente tóxico e em nada vai alterar as condições do seu entorno. Ainda vale

ressaltar que se trata de um mesmo ambiente aquático, dessa forma não há maiores

problemas em deslocar o material de uma área que atrapalha a circulação

hidrodinâmica para outra que não atrapalhe.

6.2.2 – Caracterização da Água

A amostra de água foi retirada nas proximidades da Ilha do Tiro, mas ao

contrário da amostra de sedimento, não foi armazenada em recipiente virgem.

Entretanto, uma pequena amostra de 1 litro foi coletada a fim de caracterizar a água

da lagoa e ter um branco para os ensaios. O ensaio de sedimentação será realizado

com a amostra denominada AA.

A determinação de pH, potencial redox e condutividade elétrica, assim como da

turbidez e da concentração de metais pesados foi realizada no Laboratório de

Geotecnia Jacques de Medina da COPPE/UFRJ. A demanda química e bioquímica de

oxigênio, o oxigênio dissolvido e as concentrações dos nutrientes nitrogênio e fósforo

foram determinadas no Laboratório de Tecnologia Ambiental da Escola de Química da

UFRJ.

6.2.2.1 - Condutividade Elétrica, Potencial Redox e pH

A determinação do pH, potencial redox (Eh) e condutividade elétrica (CEE) da

amostra AA foi realizada no mesmo dia da coleta, 25 de novembro de 2005. Os

valores obtidos são apresentados na tabela abaixo (Tabela 6.7).

Tabela 6.7. CEE, pH e Eh da amostra AA

AMOSTRA pH Eh (mV) CEE (mS/cm)

8,76 148,3 6,70 AA

104

Page 116: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A determinação do pH e Eh foi feita através de potenciômetro com eletrodo

combinado e com eletrodo redox de platina respectivamente e a condutividade foi

determinada diretamente em condutivímetro.

Pode-se transformar a condutividade elétrica medida em concentração

equivalente de Cloreto de Sódio (NaCl) através da curva de calibração do

condutivímetro. A conversão é feita a partir de soluções de concentração definida de

NaCl. Essa curva encontra-se no Apêndice 1. O resultado da conversão de 6,70

mS/cm é aproximadamente 3,50%o NaCl, ou seja, a salinidade equivalente da amostra

de água coletada na Lagoa da Tijuca é 3,50%o.

Fernandes (1991), citado em Borma (1998), apresenta valores de salinidade da

ordem de 0,2 %o no interior da lagoa de Jacarepaguá, atingindo níveis da ordem de

0,9 %o na Lagoa de Camorim. Segundo o mesmo autor, esses valores são resultantes

de um maior ou menor nível de precipitação pluviométrica, que determina um maior ou

menor aporte de água doce para as lagoas e da penetração de água do mar por ação

das marés.

Vale salientar que a salinidade dentro do Complexo Lagunar aumenta com a

proximidade do mar (COPPETEC, 1996). Dessa forma a salinidade da Lagoa da

Tijuca é maior do que a salinidade encontrada nas águas da Lagoa de Jacarepaguá,

devido a sua proximidade com o mar.

A Resolução CONAMA nº 357, de 17 de março de 2005, define águas doces

como águas com salinidade igual ou inferior a 0,5 %o; águas salobras, águas com

salinidade superior a 0,5 %o e inferior a 30 %o e águas salgadas, águas com

salinidade igual ou superior a 30 %o. De acordo com tal resolução, a água coletada na

Lagoa da Tijuca é salobra.

As águas do Complexo Lagunar de Jacarepaguá deveriam estar enquadradas na

Classe 1 das águas salobras. A Resolução CONAMA nº 357/2005 define que

pertencem à Classe 1, águas destinadas à recreação de contato primário, à proteção

das comunidades aquáticas, à aqüicultura (cultivo ou criação de organismos cujo o

ciclo de vida ocorre total ou parcialmente em meio aquático) e à atividade de pesca, ao

abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado, à

irrigação de hortaliças e frutas que venham ser consumidas cruas e à irrigação de

parques, jardins e campos de lazer.

Essa mesma resolução estabelece como limite para Classe 1, pH variando entre

6,5 e 8,5. Verifica-se, portanto, que o valor de pH medido na amostra AA é pouco

superior ao intervalo considerado.

105

Page 117: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

6.2.2.2 - Turbidez

A turbidez é uma expressão da propriedade ótica de dispersar ou absorver luz

que incide na amostra (Santos, 2001).

A turbidez da água é causada por materiais suspensos como argila, silte, matéria

orgânica, plânctons.

Essa propriedade deve ser determinada no mesmo dia da coleta ou em no

máximo 24 horas. Neste trabalho, conforme recomendação, a turbidez foi avaliada no

mesmo dia da coleta, 25 de novembro de 2005, através de leitura direta em

turbidímetro.

O valor obtido para esse parâmetro foi 48 NTU (unidade nefelométrica de

turbidez). A Resolução CONAMA nº 357/2005 não estabelece valor limite para

turbidez, somente determina que substâncias que produzam cor e turbidez sejam

virtualmente ausente.

6.2.2.3 - Metais

A análise de metais foi realizada na água da lagoa filtrada e preservada em ácido

nítrico através da técnica de espectrometria de absorção atômica com chama de

ar/acetileno.

Tabela 6.8A apresenta as concentrações obtidas para a amostra AA e as

concentrações limites estabelecidas na Resolução CONAMA n° 357/2005 para águas

salobras de Classe 1.

Tabela 6.8. Concentração de metais na amostra AA e limites estabelecidos

METAIS (mg/L)

Cd Cr Cu Fe Mn Ni Pb Zn

0,001 0,035 < 0,01 0,159 0,096 < 0,03 < 0,06 < 0,003AA 0,005 0,05 0,005 0,30 0,10 0,025 0,01 0,09 CONAMA nº357

Os valores que estão precedidos do sinal < são os valores dos limites de detecção do aparelho utilizado.

Observa-se que as concentrações obtidas encontram-se abaixo dos teores

máximos estabelecidos em tal legislação. Vale ressaltar que alguns dos limites

estabelecidos na resolução não podem ser observados através dos métodos usuais de

106

Page 118: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

análise de metais, pois o limite de detecção do aparelho utilizado é inferior ao

necessário para atender tal diretriz.

6.2.2.4 – Demanda Bioquímica e Química de Oxigênio e Oxigênio Dissolvido

O oxigênio dissolvido (OD) é indispensável aos organismos aeróbios. Águas com

baixos valores de OD indicam que receberam matéria orgânica, já que sua

decomposição por bactérias aeróbias é acompanhada pelo consumo e redução do OD

na água. Dependendo da capacidade de autodepuração do manancial, o teor de OD

pode alcançar valores muito baixos ou até mesmo zero, extinguindo-se os organismos

aeróbios. Deve-se ressaltar que esse indicador é influenciado pela temperatura,

altitude e condições de maré.

As demandas químicas e bioquímicas de oxigênio são indicadores do teor de

matéria orgânica na água.

A demanda química de oxigênio (DQO) é a quantidade de oxigênio necessária à

oxidação da matéria orgânica, através de um agente químico. A demanda bioquímica

de oxigênio (DBO) é a quantidade de oxigênio necessária à oxidação da matéria

orgânica (biodegradável), por ação de bactérias aeróbias (Mota, 1997).

A DBO e a DQO são determinadas em laboratório. Enquanto aquela é obtida

observando-se o oxigênio consumido em amostras do líquido durante 5 dias, esta é

determinada em um único dia, o dia da coleta da amostra. Para o mesmo líquido, a

DQO é sempre maior que a DBO.

Conforme dito acima, a DQO deve ser determinada no dia da coleta e em

seguida tem-se inicio o procedimento de determinação da DBO. Entretanto a coleta

realizada no dia 25 de novembro, sexta-feira, não atenderia às condições desses

ensaios. Em virtude disso, uma nova coleta de água foi realizada no dia 30 de

novembro com objetivo de determinar esses três parâmetros e também as

concentrações de nitrogênio e fósforo na água, ensaios realizados pela Escola de

Química da UFRJ. Nesse dia foram coletados apenas 2 litros de água da Lagoa da

Tijuca, nas proximidades da Ilha do Tiro, assim como a amostra de água coletada no

dia 25 de novembro.

Para a caracterização da água, a coleta em dias distintos não é um procedimento

adequado, pois as condições da água coletada no dia 30 de novembro podem não ser

107

Page 119: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

representativas dos ensaios realizados com amostras de solo e água coletadas no dia

25 de novembro.

Os valores determinados pelo Laboratório de Tecnologia Ambiental da Escola de

Química para OD, DQO e DBO5 são apresentados na Tabela 6.9. A Resolução

CONAMA nº 357/2005 indica para água salobra de Classe 1 que OD não deve ser

inferior a 5 mg/L, mas não há limites para as demandas de oxigênio.

Tabela 6.9. OD, DQO e DBO5 da amostra AA

/L) DBOAMOSTRA OD (mg/L) DQO (mgO2 5 (mgO2/L)

5,8 78 40 AA

6.2.2.5 - Nutrientes: Nitrogênio (N) e Fósforo (P)

A determinação do nitrogênio kjeldahl total e fósforo total foi realizada pela

Escola de Química e os valores obtidos foram 25,2 mgN/L e 0,37 mgP/L,

respectivamente (Tabela 6.10). De acordo com a Resolução CONAMA nº 357/2005 o

valor máximo para fósforo total é 0,124 mgP/L, portanto esse parâmetro está acima do

limite. Já para nitrogênio, o valor máximo estabelecido é 0,40 mgN/L, muito acima do

limite, caracterizando o problema de eutrofização e conseqüentemente degradação

das águas.

Tabela 6.10. Nitrogênio e Fósforo na amostra AA

AMOSTRA N (mgN/L) P (mgP/L)

25,2 0,37 AA

Tabela 6.11A apresenta os resultados obtidos para a caracterização da água da

Lagoa da Tijuca juntamente com os parâmetros estabelecidos na Resolução CONAMA

nº 357/2005 para água salobras de Classe 1.

Tabela 6.11. Parâmetros da amostra AA e limites da Resolução CONAMA nº357/2005

Turbidez (NTU) pH OD (mg/L) N (mgN/L) P (mgP/L)

8,76 48 5,8 25,2 0,37 AA 6,5 a 8,5 - > 5,0 < 0,40 < 0,124 CONAMA nº 357

108

Page 120: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

6.3 – Monitoramento realizado na água da Lagoa de

Jacarepaguá

Esse monitoramento foi realizado para a empresa Plarcon Engenharia,

responsável por parte da dragagem da Lagoa de Jacarepaguá em 2002. O material

granular oriundo da dragagem foi disposto nas margens da lagoa servindo como aterro

hidráulico e o material fino foi lançado nas cavas existentes nessa área. Para as

operações de dragagem e disposição utilizou-se dragas de sucção e recalque.

O monitoramento consistia em avaliar os parâmetros de qualidade da água,

antes, durante e depois do período de atividade de dragagem e disposição, o qual teve

duração de 50 semanas.

Para o estudo em questão foram determinados 4 locais para coleta de amostra

de água:

• PS – ponto próximo à sucção, variável dependendo da área dragada;

• PD – ponto próximo ao depósito, variável dependendo da área de bota-

fora;

• PT-1 – ponto testemunho 1, entre a sucção e o bota-fora e

• PT-2 – ponto testemunho 2, definido mensalmente.

Além das coletas nas áreas de sucção e bota-fora, também foram recolhidas

amostras em 2 pontos (PT-1 e PT-2) fora da área de influência da dragagem, para

efeito de testemunho e comparação.

De acordo com os relatórios da M&B Assessoria Ambiental (2002a e b) os

valores de OD, pH salinidade e turbidez encontrados antes e durante as atividades

são apresentados na tabela a seguir (Tabela 6.12).

Tabela 6.12. Parâmetros de qualidade da água antes e durante as atividades de dragagem e disposição

DURANTE (valores extremos) ANTES (valores médios)

PARÂMETRO BOTA-FORA SUCÇÃO PT-1 PT-2

OD (mg/l) 6,05 1,91 1,50 6,10 6,26 pH 9,37 9,12 9,09 8,24 8,31 Salinidade (%o) 2,42 2,70 2,70 2,60 2,70 Turbidez (NTU) 27,0 72,0 63,9 - -

109

Page 121: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da Tabela 6.12, pode-se verificar que houve uma redução no nível de

oxigênio e o aumento da turbidez na coluna d’água durante as operações de

dragagem e disposição do material em cavas. O pH sofreu uma pequena redução e a

salinidade permaneceu praticamente constante.

Além de avaliar os parâmetros acima, houve também o monitoramento da

comunidade fitoplanctônica. Esse estudo forneceu informações sobre a base da

cadeia trófica, cuja variação está relacionada às condições do meio, possibilitando o

controle do metabolismo e dos efeitos de impactos ambientais.

De acordo com o Relatório Green Link Estudos Ambientais (2003), os

parâmetros avaliados retornaram aos valores iniciais em no máximo duas semanas

após o término das atividades, mostrando que os efeitos dos impactos físicos na água

são reversíveis para essa situação. Além disso, concluíram que o problema do

assoreamento é o maior impacto ambiental que a área pode estar submetida e que,

portanto, a dragagem é fundamental para sua revitalização.

6.4 – Comportamento Hidrodinâmico

Os resultados que serão apresentados a seguir para a simulação da circulação

hidrodinâmica do Sistema Lagunar de Jacarepaguá foram obtidos no Relatório PEnO

(2002) e em Oliveira (2005). Os trabalhos propõem para a revitalização da

hidrodinâmica local a dragagem de um canal central na Lagoa da Tijuca,

desobstruindo o fluxo hidrodinâmico para a Lagoa de Jacarepaguá e melhorando o

fluxo das marés em todo o sistema e ainda dragagens e ligações dos canais do

Portelo, Cortado e Taxas com o canal de Sernambetiba.

Figura 6.4) Para analisar as propostas modelou-se dois cenários distintos (

C0 : Cenário atual com dados batimétricos de outubro de 2004 para fazer a

comparação com o cenário projetado e possibilitar o diagnóstico da circulação

hidrodinâmica.

C1 : Cenário projetado com modificação dos atuais circuitos hidráulicos :

dragagem de um canal central de 2,5 metros de profundidade na Lagoa da Tijuca com

ligação dos canais do Portelo (22 metros de largura e profundidade de 2,5 metros),

Cortado (32 metros de largura e profundidade de 2,5 metros) e Taxas (28 metros de

largura e profundidade de 2,5 metros) com o canal de Sernambetiba.

110

Page 122: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 6.4. Cenário C0 & C1 – A estampa superior mostra a batimetria atual considerada no modelo e a inferior mostra a batimetria dragada (Fonte: Oliveira, 2005)

Para modelagem foram inseridos na base de dados a batimetria preliminar e

projetada das lagoas, principais rios afluentes, canais de interligação, zona da

embocadura no mar e costa adjacente, series temporais de vazões nos principais rios

afluentes, níveis de elevação medidos e dados de ventos medidos. Todos os dados

associados à batimetria e vazão dos rios foram cedidos pela SERLA do Governo do

Estado do Rio de Janeiro, Fundação Rio Águas da Prefeitura do Rio de Janeiro e

Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha do Brasil. A coleta dos dados se deu

em uma campanha realizada entre 14 de setembro e 8 de outubro de 2004.

Os ventos na região em geral são fracos a moderados. Ressalta-se que os

dados de ventos têm importância para a circulação das águas nas lagoas, mas são

irrelevantes para os escoamentos nos canais (Oliveira, 2005).

Através das medições de níveis de elevação, a calibragem do modelo pode ser

realizada.

Para a rugosidade equivalente de fundo, ε, foi utilizado 0,003 m.

111

Page 123: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Apresenta-se a seguir a Figura 6.5 com resultados comparativos de circulação

hidrodinâmica, mostrando valores de velocidade de correntes para situação atual e

futura. Trata-se de resultados de uma maré de sizígia1 2 com preamar na embocadura.

Figura 6.5. Cenário 0 & Cenário 1 – Circulação no Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, em uma maré de sizígia, com preamar na embocadura. Estampa superior mostra as isolinhas de corrente na situação atual e na inferior mostra isolinhas de correntes na situação futura. (Fonte: Oliveira, 2005)

Os resultados dos padrões de circulação hidrodinâmica antes e depois da

dragagem são bem diferentes nos Canais do Portelo, Cortador e Taxas onde serão

feitas as ligações com o Canal de Sernambetiba. O nível d’água também modifica

bastante na Lagoa de Jacarepaguá. Deve-se evidenciar que a batimetria considerada

não é toda real, visto que não há levantamentos de dados que efetivamente retratem

todo o sistema atual.

1 Maré de sizígia: maré dos períodos de lua nova ou cheia, quando a amplitude de maré é máxima, ou seja, maior preamar e menor baixamar. 2 Preamar: maré alta; Baixamar: maré baixa

V ~ 0,00 m/s

112

Page 124: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A Figura 6.6 mostra em detalhe o padrão de velocidade dos canais em uma maré

de sizígia, com preamar na embocadura.

Figura 6.6. Em detalhe mostra isolinhas de correntes em uma maré de sizígia, com

preamar na embocadura. (Fonte: Oliveira, 2005)

O conjunto de figuras a seguir (Figura 6.7 a Figura 6.12) confronta series

temporais de maré antes e depois da dragagem e após as ligações dos Canais do

Cortado (largura de 22 metros), Portelo (largura de 32 metros) e Taxas (largura de 28

metros) com o Canal de Sernambetiba.

113

Page 125: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 6.7. Curvas de variações do nível da água na estação Canal do Cortado Oeste,

com a situação atual e futura (Fonte: Oliveira, 2005)

Figura 6.8. Curvas de variações do nível da água na estação Canal do Portelo, com a

situação atual e futura. (Fonte: Oliveira, 2005)

Figura 6.9. Curvas de variações do nível da água na estação Jacarepaguá, com a

situação atual e futura. (Fonte: Oliveira, 2005)

114

Page 126: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura 6.10. Curvas de variações do nível da água na estação Lagoa da Tijuca. Com a

situação atual e futura. (Fonte: Oliveira, 2005)

Figura 6.11. Curvas de variações do nível da água na estação Lagoa de Marapendi,

com a situação atual e futura (Fonte: Oliveira, 2005)

Figura 6.12. Curvas de variações do nível da água na estação Canal das Taxas. Com

a situação atual e futura. (Fonte: Oliveira, 2005)

Conforme se verifica, nas estações Canal das Taxas, Canal do Cortado, Canal

do Portelo, Lagoa de Marapendi e Lagoa de Jacarepaguá os níveis de maré são

relevantes em comparação ao sistema atual. Devido às dragagens na Lagoa da Tijuca

e nos Canais do Portelo, Cortado e Taxas e suas ligações com o Canal de

115

Page 127: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Sernambetiba, o Sistema Lagunar da Baixada de Jacarepaguá ganha vida, o que hoje

não existe (Oliveira, 2005). Já na Lagoa da Tijuca não há mudança significativa devido

à sua proximidade com o mar.

A dragagem proporciona grande melhora na circulação hidrodinâmica, mas as

velocidades de correntes continuam baixas, o que permite a disposição subaquática

sem dispersão ou ressuspensão dos sedimentos depositados. Vale ressaltar que a

disposição do material dragado nas cavas existentes não modificará a circulação

hidrodinâmica após a dragagem.

Além disso, é importante salientar que a remoção dos sedimentos e disposição

em cavas é uma medida corretiva e temporária. Somente o controle das fontes

contaminadoras é eficiente para a reabilitação ambiental da área (Barbosa, 2001).

6.5 – Considerações Finais

De acordo com os aspectos observados neste capítulo, percebe-se que a

alternativa de disposição do material dragado das Lagoas da Tijuca e Jacarepaguá em

cavas submersas do mesmo corpo hídrico é possível. Os sedimentos finos e com

alguns nível de contaminação estão restritos às camadas mais superficiais (em torno

de 50 cm) (COPPETEC, 1996).

A contaminação por chumbo apresenta níveis possíveis de serem controlados.

Outra questão que deve ser ressaltada é a baixa mobilidade deste metal, que

acumula-se preferencialmente na superfície do solo (fração adsorvida).

A presença de elevadas concentrações dos nutrientes nitrogênio e fósforo no

sedimento e na coluna d’água desencadeiam o processo de eutrofização e

degradação das águas, entretanto, não impedem a alternativa proposta. Ao contrário,

a dragagem proporciona a revitalização do Complexo Lagunar, não havendo qualquer

aumento na contaminação, por se tratar de nutrientes e também por se tratar do

mesmo corpo hídrico (mesmas condições nos sedimentos e nas águas).

Por fim, a caracterização hidrodinâmica verificou que o corpo hídrico é capaz de

receber o material dragado, ainda que este apresente uma quantidade de finos de

aproximadamente 90%. A dragagem melhora a circulação hidrodinâmica, mas as

velocidades de correntes continuam baixas nas cavas, possibilitando a disposição sem

que haja dispersão ou ressuspensão de sedimentos.

116

Page 128: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 7 COMPORTAMENTO MECÂNICO DO SEDIMENTO DA LAGOA DA TIJUCA

7.1 – Introdução

Neste capítulo será estudado o comportamento do material dragado após seu

lançamento no corpo hídrico através de ensaios de laboratório que simulem as

condições de campo. Para isso não só os sedimentos, como também a água utilizada

no ensaio foram coletados na Lagoa da Tijuca.

O ensaio realizado tem a finalidade de observar as etapas de Sedimentação e

Adensamento e também a passagem entre esses 2 estágios.

Por fim, será simulado o adensamento sob o peso próprio da material na cava

através de um módulo do programa desenvolvido por Ferraz (2006).

7.2 – Metodologia e Equipamento

Para realizar um ensaio representativo do comportamento de deposição de

rejeitos finos, far-se-á uso de um equipamento que une os processos de sedimentação

e adensamento.

O equipamento é constituído de uma coluna de acrílico de 14 centímetros de

diâmetro interno e 60 centímetros de altura, que é acoplada a uma célula de

adensamento com mesmo diâmetro interno e 4 centímetros de altura (Santos, 2001).

Depois de realizado o ensaio de sedimentação, a coluna de acrílico é retirada, o

guia para o pistão é colocado e a célula é levada para realização do ensaio CRS.

Na base da célula de adensamento existe um transdutor de poropressão e uma

pedra porosa com transdutor de pressão total centralizado. O pistão que será utilizado

para o ensaio de adensamento também possui uma pedra porosa, além de dois

pequenos tubos para drenagem e coleta de liquido. Na base do oedômetro utiliza-se

um transdutor de deslocamento (LVDT).

Figura 7.1 mostra o esquema das etapas do ensaio e a Figura 7.2A mostra as

peças do equipamento

117

Page 129: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

(a) (b)

Figura 7.1. Esquema do equipamento. (a) Ensaio de sedimentação; (b) Ensaio de adensamento

Coluna de Sedimentação

Figura 7.2. Peças do equipamento

Após o término do ensaio de sedimentação, os 3 transdutores são ligados a um

sistema de aquisição de dados. O programa utilizado para aquisitar as informações de

deslocamento, tensão total e poropressão é denominado TRIAD4, desenvolvido pelo

Laboratório de Geotecnia Jacques de Medina da COPPE/UFRJ.

Os transdutores foram previamente calibrados para que pudessem transformar,

através da constante de calibração, voltagem em unidade de deslocamento e tensão,

Pistão e Guia para Pistão

Célula de Adensamento

Transdutores de Pressão

118

Page 130: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

de acordo com o transdutor. O Apêndice 2 apresenta as curvas de calibração desses

equipamentos, assim como suas constantes.

7.3 – Procedimento Experimental

A pedra porosa da base da célula de adensamento é previamente saturada com

água destilada. A coluna de sedimentação é, então, acoplada à célula de

adensamento. Coloca-se a amostra de sedimento (AC) e completa-se com água da

lagoa até a altura de aproximadamente 50 cm (altura de queda). A quantidade de

sedimento era determinada a partir da sua umidade natural (315%) e a concentração

de sólidos desejada. Essa concentração era igual ou inferior a 50 g/L, concentração

típica de suspensões diluídas de atividades de dragagem e disposição.

Depois que o sedimento e a água são colocados, agita-se a mistura com uma

haste (a qual apresenta na sua parte inferior um disco de acrílico perfurado) até que a

suspensão se mostre o mais homogênea possível.

Determinam-se as alturas da interface sólido-líquido sobrenadante

visualmente no decorrer do tempo. Plota-se o resultado em um gráfico tempo X altura

de interface e determina-se a velocidade de sedimentação através do método gráfico

descrito no Capítulo 4. Considerando que variações iguais ou inferiores a 1 mm em 2

intervalos consecutivos de 24 horas são pouco representativas para a etapa de

sedimentação, convencionou-se que o término da etapa de sedimentação ocorreria

quando tal situação ocorresse.

Ao término dessa etapa, o sedimento depositado preenche toda a célula de

adensamento e o liquido sobrenadante é retirado por sifonamento. Uma amostra

desse liquido é submetida às determinações de pH, Eh, CEE e turbidez.

Figura 7.3A mostra o ensaio realizado na coluna de sedimentação no início e

após decorridos 30 minutos do início.

119

Page 131: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Interface

Figura 7.3. Ensaio de Sedimentação. (a) inicio; (b) após 30 minutos

No último dia de ensaio, após a leitura da interface, retirava-se o líquido

sobrenadante, separando uma parte para análise, retirava-se a coluna de

sedimentação e iniciava-se a montagem para a etapa de adensamento, que durava

algumas horas.

Antes de aplainar o sedimento armazenado na célula, retira-se uma pequena

amostra do corpo para determinação da umidade. Encaixa-se a peça que serve de

guia para o pistão, o qual é colocado em seguida cobrindo o papel-filtro que está em

contato com a amostra. A pedra porosa existente no pistão e o papel-filtro foram

previamente saturados com água destilada. Por fim coloca-se a tampa e os parafusos

para o aperto do sistema.

Após levar a célula de adensamento para a prensa, conectam-se os transdutores

ao sistema de aquisição de dados. Escolhida a velocidade da prensa, inicia-se o

adensamento com taxa de deslocamento constante. A Figura 7.4 mostra o ensaio de

adensamento.

120

Page 132: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Célula de Carga

LVDT

Figura 7.4. Ensaio de Adensamento

Sabe-se que quanto maior a velocidade de ensaio, maior será a poropressão

gerada na base. A velocidade deve ser baixa o bastante para evitar uma variação

muito grande do índice de vazios durante o intervalo de tempo e suficientemente

elevada para que apareçam poropressões na base (Guimarães Filho, 1990).

Na maioria dos critérios existentes para a determinação da velocidade a ser

utilizada durante o ensaio, entre eles Carvalho (1989), o material a ser ensaiado

precisa ser bem conhecido para que as estimativas dos parâmetros envolvidos em

cada critério estejam próximas da realidade (Guimarães Filho, 1990). Devido à falta de

um maior conhecimento sobre esses parâmetros para o sedimento da Lagoa da

Tijuca, a determinação da velocidade adequada ao tipo de material foi baseada nas

bibliografias consultadas.

De acordo com COPPETEC (1996), Lima (1996), Santos (1997) e Santos (2001),

a velocidade de ensaio utilizada para lamas varia de 0,12 a 0,15 mm/min. De acordo

com COPPETEC (1996) e Santos (1997), para o sedimento da Lagoa da Tijuca, foi

utilizada a velocidade de 0,14 mm/mim.

121

Page 133: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

7.4 – Resultados Experimentais

7.4.1 – Ensaios Preliminares

Segundo Santos (2001), a dragagem produz suspensões muito diluídas de

granulometria fina com concentração de sólidos variando entre 2 e 6% em peso.

Dessa forma, escolheu-se realizar ensaios dentro desse intervalo de concentrações, o

que corresponde aproximadamente ao intervalo entre 20 e 50 g/l. Foram realizados

inicialmente 5 ensaios, com concentrações de 20, 30, 37, 40 e 50 g/l. Para a etapa de

adensamento utilizou-se a velocidade encontrada na literatura, 14 mm/min.

Não foi possível realizar a etapa de adensamento nos dois primeiros

realizados, 37 e 40 g/l, em virtude de problemas no sensor de medição de tensão total.

Com o objetivo de realizar a simulação da etapa de adensamento do

sedimento, optou-se pela utilização de uma célula de carga de 1500 kgf na parte

superior do equipamento. Essa alternativa não é ideal, já que pode existir atrito entre o

pistão e o equipamento, o que mascararia o resultado medido. Algumas medidas

foram tomadas para minimização do feito do atrito, como, por exemplo, a troca dos o-

rings e a sua lubrificação antes de cada ensaio. Além disso, esse atrito foi verificado

através medições na célula sem material e observou-se que seu valor era bastante

pequeno em relação aos valores medidos nos ensaios. A calibração da célula de

carga encontra-se no Apêndice 2.

Abaixo apresenta-se o novo esquema dos ensaios com a utilização da célula

de carga (Figura 7.5).

Figura 7.5. Novo esquema dos ensaios de sedimentação e adensamento sem o

transdutor de tensão

122

Page 134: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

7.4.1.1 – Estágio de Sedimentação

Conforme dito anteriormente, utilizou-se as concentrações de sólidos de 20, 30,

37, 40 e 50 g/L para o estágio de sedimentação. Foram realizados um ensaio para

cada concentração.

Tabela 7.1A apresenta os dados e parâmetros relevantes da etapa de

sedimentação dos ensaios realizados.

Tabela 7.1. Dados e parâmetros relevantes da etapa de sedimentação dos ensaios

Líquido Sobrenadante C

(g/L) Data de Início

Data de Término

vsed (mm/min)Ensaio Eh

(mV) CEE

(mS/cm) Turbidez

(NTU) pH

1 37 31/1/06 6/2/06 13,42 7,22 153,9 7,33 48 2 40 9/2/06 14/2/06 13,04 7,26 168,0 7,36 40 3 20 15/2/06 17/2/06 45,44 7,64 141,1 7,40 50 4 30 21/2/06 27/2/06 26,09 7,89 143,8 8,74 42 5 50 28/2/06 6/3/06 7,68 7,83 141,4 7,61 52

Tabela 7.1De acordo com os resultados apresentados acima ( ), percebe-se que

o pH do líquido sobrenadante sofre uma pequena redução quando comparado ao pH

da água da lagoa (Tabela 6.7). A CEE aumenta também ligeiramente e o Eh e a

turbidez se mantêm bastantes próximos aos valores obtidos na água da lagoa (Tabela

6.7). Diante disto, pode-se dizer que após a fase de sedimentação, a água retorna

praticamente às suas condições originais.

Através da Tabela 7.1, percebe-se que realmente, à medida que a concentração

tende a um valor máximo (C = 50 g/l para suspensões diluídas), a velocidade de

sedimentação tende ao seu valor mínimo, conforme hipótese da Teoria de Kynch.

Figura 7.6A apresenta as curvas usadas para o cálculo gráfico da velocidade de

sedimentação dos ensaios. Através do detalhe dessas curvas também fica claro a

diminuição da velocidade de sedimentação com o aumento da concentração de

sólidos.

123

Page 135: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

0

10

20

30

40

50

60

0 1000 2000 3000Tempo (min)

Altu

ra (c

m)

C = 20g/lC = 30g/lC = 37g/lC = 40g/lC = 50g/l

0

10

20

30

40

50

60

0 25 50 75 100Tempo (min)

Altu

ra (c

m)

125

C = 20g/lC = 30g/lC = 37g/lC = 40g/lC = 50g/l

Figura 7.6. Curvas para cálculo da velocidade de sedimentação

124

Page 136: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Durante a realização dos ensaios observou-se que a interface sólido-líquido

sobrenadante apresenta uma queda inicial bastante rápida, tornando-se mais lenta

com o passar do tempo, o que caracteriza a passagem da etapa de sedimentação

para a de adensamento sob peso próprio. Isso também pode ser observado na Figura

7.6.

Antes de iniciar o ensaio de sedimentação na coluna, optou-se em fazer

testes em provetas de 2 litros para verificar como o material se comportava para

diferentes concentrações e também para estabelecer um critério de visualização da

interface entre a camada depositada e o líquido sobrenadante. Os resultados e as

fotos do teste encontram-se no Apêndice 3.

Tabela 7.2A apresenta os valores das velocidades de sedimentação na

coluna e na proveta de 2 litros para diferentes concentrações. A Figura 7.7 mostra as

curvas de sedimentação na coluna e também na proveta de 2 litros.

Tabela 7.2. Velocidade de sedimentação na coluna e na proveta

VELOCIDADE DE SEDIMENTAÇÃO Vsed (mm/min) C (g/l)

COLUNA PROV. 2L

20 45,44 53,04 30 26,09 38,32 40 13,04 21,58 50 7,68 8,01

125

Page 137: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

0

10

20

30

40

50

60

0 1000 2000 3000Tempo (min)

Altu

ra (c

m)

C = 20g/l - Prov. 2LC = 20g/l - ColunaC = 30g/l - Prov. 2LC = 30g/l - ColunaC = 40g/l - Prov. 2LC = 40g/l - ColunaC = 50g/l - Prov. 2LC = 50g/l - Coluna

0

10

20

30

40

50

60

0 25 50 75 100 125Tempo (min)

Altu

ra (c

m)

C = 20g/l - Prov. 2LC = 20g/l - ColunaC = 30g/l - Prov. 2LC = 30g/l - ColunaC = 40g/l - Prov. 2LC = 40g/l - ColunaC = 50g/l - Prov. 2LC = 50g/l - Coluna

Figura 7.7. Curva de sedimentação na coluna e na proveta de 2 litros

126

Page 138: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da Tabela 7.2, observa-se que as velocidades obtidas na proveta são

significativamente maiores que as obtidas na coluna de sedimentação. Além disso,

verifica-se na Figura 7.7 que quanto menor a concentração da suspensão, mais as

curvas correspondentes à fase de adensamento sob peso próprio se aproximam.

A explicação das diferenças está provavelmente na relação entre a altura de

queda das partículas e o diâmetro interno dos recipientes. A altura de queda na coluna

é aproximadamente 54 cm, enquanto a altura de queda na proveta é 42 cm, diferença

pouco expressiva. O diâmetro interno da coluna é 14 cm e o da proveta é 7,7 cm,

quase metade daquele. Com isso pode-se concluir que quanto menor a relação entre

a altura de queda e diâmetro, menor será a velocidade de sedimentação do material.

7.4.1.2 – Estágio de Adensamento

Observa-se que os dados iniciais do ensaio de adensamento são os

resultados finais da etapa de sedimentação. Para realização do ensaio, a prensa foi

ajustada para se deslocar com a velocidade de 0,14 mm/min. De acordo com que já foi

dito, não foi possível realizar as etapas de adensamento nos ensaios 1 e 2.

A partir da umidade do sedimento depositado na célula de adensamento em

decorrência da sua sedimentação, wo, calculou-se o índice de vazios inicial (eo) da

etapa de adensamento.

Durante o ensaio de adensamento, os tubos de drenagem localizados no

pistão foram direcionados para um recipiente que coletava o líquido drenado no

processo. Determinava-se, então, o pH, Eh, CEE e turbidez desse líquido.

Tabela 7.3A apresenta os parâmetros avaliados do líquido drenado no

processo.

Tabela 7.3. Parâmetros do líquido drenado

Líquido Drenado ENSAIO

pH Eh (mV) CEE (mS/cm)

Turbidez (NTU)

3 7,57 147,7 6,27 2,1

4 7,48 179,5 5,90 3,1

5 7,63 151,9 6,13 1,0

127

Page 139: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

A etapa de adensamento era finalizada antes que o transdutor de pressão

neutra atingisse seu limite, que é de 600 kPa.

Ao final de cada ensaio era determinada a umidade da camada adensada

(w ) e a partir deste valor, calculava-se o índice de vazios final da amostra (ef f1). Esse

valor se mostrou semelhante ao índice de vazios final (ef2) calculado a partir das

deformações do ensaio, interpretação de Lima (1996) apresentada no capítulo 4.

A Tabela 7.4 apresenta os valores de umidade inicial (w0) e índice de vazios

inicial (e0) e ainda os valores de umidade final (wf), e de índice de vazios final

calculado a partir da umidade (ef1) e a partir das deformações do ensaio (ef2).

Tabela 7.4. Resultados da etapa de adensamento dos ensaios

ENSAIO wo (%) e wo f (%) e ef1 f2

3 602 13,08 131 3,76 3,82

4 572 13,26 172 4,19 4,24

5 457 10,44 214 6,05 6,26

A partir dos arquivos de dados gerados pelo TRIAD4 e transferidos para o

Excell, plotou-se as curvas abaixo (Figuras 7.8 a 7.11).

Observa-se pela Figura 7.8 e pela Figura 7.9 que os valores obtidos na fase

inicial dos ensaios não obedecem a uma curva como os demais valores. Isso ocorre

porque o material sedimentado ainda se encontra em uma consistência bastante

líquida e além disso, há alguma incerteza no momento do encontro do pistão com

material.

Através da Figura 7.8 e da Figura 7.9 verifica-se uma variação significativa de

índice de vazios das amostras. Nos Ensaios 3 e 4 (C= 20 e 30 g/L, respectivamente),

os índices de vazios variam de aproximadamente 13 a aproximadamente 4. Já no

Ensaio 5 (C= 50g/L) essa variação é um pouco menor, começando em torno de 11 e

terminando em torno de 6.

A tensão efetiva alcançada pelo material no final dos ensaios variou entre

200 e 300 kPa, valores menores do que os valores de poropressão registrados. A

permeabilidade do material atingiu valores da ordem de 8x10-7 cm/s.

128

Page 140: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

0

2

4

6

8

10

12

140 1 10 100 1000

Log Tensão Efetiva (kPa)

Índi

ce d

e Va

zios

Ensaio 3 - 20 g/lEnsaio 4 - 30 g/lEnsaio 5 - 50 g/l

Figura 7.8. Curva log da Tensão Efetiva X Índice de Vazios (v = 0,14 mm/min)

0

2

4

6

8

10

12

141,0E-08 1,0E-06 1,0E-04 1,0E-02 1,0E+00

Log Permeabilidade (cm/s)

Índi

ce d

e Va

zios

Ensaio 3 - 20 g/lEnsaio 4 - 30 g/lEnsaio 5 - 50 g/l

Figura 7.9. Curva log do Coeficiente de Permeabilidade X Índice de Vazios (v = 0,14

mm/min)

129

Page 141: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

0

100

200

300

400

500

600

700

800

0 50 100 150 200

Tempo (min)

σ, Δ

u (k

Pa)

Tensão Total - Ensaio 3 - 20 g/lPoropressão - Ensaio 3 - 20 g/lTensão Total - Ensaio 4 - 30 g/lPoropressao - Ensaio 4 - 30 g/lTensão Total - Ensaio 5 - 50 g/lPoropressao - Ensaio 5 - 50 g/l

Figura 7.10. Curvas Tensão total e Poropressão X Tempo (v = 0,14 mm/min)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

0 50 100 150 200 250 300 350

Tensão Efetiva (kPa)

Por

opre

ssão

/Ten

são

Tota

l (%

)

Ensaio 3 - 20 g/lEnsaio 4 - 30 g/lEnsaio 5 - 50 g/l

Figura 7.11. Curva relação Poropressão/Tensão Total X Tensão Efetiva

130

Page 142: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da Figura 7.10 e Figura 7.11, observa-se que a velocidade de geração

de poropressão na base é elevada em relação à velocidade de dissipação da mesma.

Ou seja, a velocidade do ensaio está alta, não havendo tempo suficiente para

dissipação da poropressão na base e dessa forma o índice de vazios ao longo da

amostra dentro de um intervalo de tempo não é constante, violando uma condição da

teoria utilizada. Pode-se dizer que os ensaios 3, 4 e 5 se aproximam da condição não

drenada do ponto de vista de transferência de tensões e, de acordo com a análise

proposta, não fornece as propriedades do material. Segundo Lima (1996), para o CRS

fornecer as propriedades do material a relação poropressão/tensão total deve estar

entre 30 e 40%.

7.4.2 – Ensaios Finais

Com o objetivo de obter curvas representativas das propriedades do material,

decidiu-se reduzir a velocidade dos ensaios de adensamento. Para essa bateria de

ensaios manteve-se a concentração de sólidos constante e igual a 50 g/L na etapa de

sedimentação.

A velocidade da prensa foi reduzida através de tentativas até que o ensaio

pudesse fornecer as propriedades do material. Inicialmente a velocidade foi reduzida

até aproximadamente a metade (0,0672 mm/min), depois foi reduzida a

aproximadamente 10% da velocidade inicial (0,0134 mm/min).

7.4.2.1 – Estágio de Sedimentação

A Tabela 7.5 apresenta os resultados da fase de sedimentação dos ensaios com

concentração de 50g/l.

Tabela 7.5. Resultados da etapa de sedimentação dos ensaios com concentração de 50g/l

Líquido Sobrenadante C

(g/L) Data de Início

Data de Término

vsed (mm/min)Ensaio Eh

(mV) CEE

(mS/cm) Turbidez

(NTU) pH

5 50 28/2/06 6/3/06 7,68 7,83 141,4 7,61 52 6 50 7/3/06 13/2/06 7,81 7,92 148,3 7,55 49 7 50 14/2/06 20/3/06 7,25 7,77 150,0 7,63 55 8 50 21/3/06 27/3/06 7,20 7,92 153,4 7,57 52,5

131

Page 143: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da Tabela 7.5 verifica-se que as velocidades de sedimentação

apresentam valores bastante próximos para a mesma concentração de sólidos, como

se esperava. Além disso, as características do líquido sobrenadante também

apresentam consistência e como os ensaios preliminares, os resultados não se

distanciam das condições iniciais da água da lagoa (Tabela 6.7).

7.4.2.2 – Estágio de Adensamento

Esses ensaios foram realizados reduzindo a velocidade de deslocamento da

prensa para obtenção das propriedades do material.

Durante o ensaio 6, realizado com velocidade de 0,0672 mm/min, a célula

apresentou um vazamento de forma que seus resultados ficaram comprometidos.

Dessa forma, o ensaio 7 foi realizado com a mesma velocidade para verificação das

curvas. O ensaio 8, realizado com velocidade de 0,0134 mm/min, só começou a gerar

resultados consistentes a partir de algumas horas de ensaio.

Na tabela abaixo (Tabela 7.6) apresenta-se os parâmetros do líquido drenado

dos ensaios com concentração de 50g/l.

Tabela 7.6. Parâmetros do líquido drenado dos ensaios com concentração de 50g/l

Líquido Drenado vensaio ENSAIO (mm/min) pH Eh (mV) CEE

(mS/cm) Turbidez

(NTU) 5 0,1400 7,63 151,9 6,13 1,0

7 0,0672 7,58 135,7 6,84 1,8

8 0,0134 7,39 150,5 6,24 1,5 Os mesmos procedimentos realizados nos ensaios anteriores foram utilizados

para cálculo dos valores obtidos nesses ensaios. Os resultados estão apresentados na

Tabela 7.7.

Tabela 7.7. Resultados da etapa de adensamento dos ensaios com concentração de

50g/l

vensaio wENSAIO (mm/min) o (%) e wo f (%) e ef1 f2

5 0,1400 457 10,44 214 6,05 6,26

7 0,0672 437 11,50 140 3,57 3,77

8 0,0134 445 11,48 65 3,53 3,61

132

Page 144: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Novamente a partir dos arquivos gerados pelo TRIAD 4 transferidos para o Excell

pode-se plotar as curvas abaixo (Figuras 7.12 a 7.15).

0

2

4

6

8

10

12

140 1 10 100 1000

Log Tensão Efetiva (kPa)Ín

dice

de

Vaz

ios

Ensaio 5 - 0,1400 mm/minEnsaio 7 - 0,0672 mm/minEnsaio 8 - 0,0134 mm/min

Figura 7.12. Curva log da Tensão Efetiva X indice de Vazios (C=50 g/l)

0

2

4

6

8

10

12

141,0E-09 1,0E-07 1,0E-05 1,0E-03 1,0E-01 1,0E+01

Log Permeabilidade (cm/s)

Índi

ce d

e V

azio

s

Ensaio 5 - 0,1400 mm/minEnsaio 7 - 0,0672 mm/minEnsaio 8 - 0,0134 mm/min

Figura 7.13. Curva log do Coeficiente de Permeabilidade X Indice de Vazios (C=50 g/l)

133

Page 145: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

0

100

200

300

400

500

600

700

800

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 2000Tempo (min)

σ, Δ

u (k

Pa)

Tensão Total - Ensaio 5 - 0,1400 mm/minPoropressão - Ensaio 5 - 0,1400 mm/minTensão Total - Ensaio 7 - 0,0672 mm/minPoropressão - Ensaio 7 - 0,0672 mm/minTensão Total - Ensaio 8 - 0,0134 mm/minPoropressão - Ensaio 8 - 0,0134 mm/min

Figura 7.14. Curvas Tensão Total e Poropressão X Tempo (C=50 g/l)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

0 100 200 300 400 500

Tensão Efetiva (kPa)

Por

opre

ssão

/Ten

são

Tota

l (%

)

Ensaio 5 - 0,1400 mm/minEnsaio 7 - 0,0672 mm/minEnsaio 8 - 0,0134 mm/min

Figura 7.15. Curva relação Poropressão/Tensão total X Tensão Efetiva (C=50 g/l)

134

Page 146: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Através da Figura 7.12 e da Figura 7.13 verifica-se que os índices de vazios

finais das amostras chegam a aproximadamente 3, valor mais baixo que os índices de

vazios finais alcançados nos ensaios preliminares.

Além disso, observa-se um aumento da tensão efetiva, alcançando valores

da ordem de 450 kPa (ensaio 8, Figura 7.11). A permeabilidade do material diminuiu

em relação aos resultados dos ensaios preliminares, alcançando valores da ordem de

8x10-8 cm/s (Figura 7.12).

Figura 7.14 e a Figura 7.15De acordo com a verifica-se que a velocidade de

0,0672 mm/min (aproximadamente a metade da velocidade inicial) ainda é alta para o

ensaio. A relação poropressão/tensão total diminui chegando a 60%, mas ainda

apresenta-se fora do intervalo considerado ideal.

O ensaio 8, com a velocidade de 0,0134 mm/min, apresenta curvas mais

consistentes e a relação poropressão/tensão total chega ao limiar de 40% (Figura

7.15). Portanto a partir desse resultado pode-se prever o comportamento desse

material ao longo do tempo. As relações de σ’ X e e e X k são obtidas a partir das

curvas correspondentes ao ensaio e com isso a equação do adensamento com

grandes deformações pode ser resolvida.

7.5 – Análise Teórica

7.5.1 – Modelagem do Sedimentos após o Lançamento no Corpo Hídrico

Com o objetivo de prever o comportamento do material nas cavas após o seu

lançamento no corpo hídrico, considera-se as seguintes etapas:

1- Sedimentação;

2- Adensamento sob o peso próprio e

3- Adensamento por sobrecargas.

Figura 7.16 mostra o andamento dessas fases. A

135

Page 147: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

(a) (b) (c) (d)

Figura 7.16. Esquemas das fases de preenchimento da cava (a) Lançamento da suspensão; (b) Sedimentação do material e adensamento sob peso próprio; (c)

Aplicação de sobrecarga (novas camadas); (d) Reservatório preenchido.

Na fase de sedimentação, admite-se que o material se desloca com uma

velocidade constante, que depende da sua concentração de sólidos. Em seguida, o

material entra na etapa de adensamento sob o peso próprio, com a saída de água dos

vazios e conseqüentemente diminuindo de volume. O adensamento provocado por

sobrecargas pode ser gerado por novos lançamento de material até o preenchimento

do reservatório e/ou uso de capeamento.

Nesta pesquisa, a etapa de adensamento por sobrecargas não será avaliada.

Através da velocidade de sedimentação e diminuição da altura da interface

observadas nos ensaios com concentração de 50 g/L, determina-se o tempo

necessário para finalização dessa fase.

O adensamento sob o peso próprio será observado pela resolução da

equação de Gibson no módulo do programa desenvolvido por Feraz (2006).

7.5.2 – Sedimentação e Adensamento sob o Peso Próprio

De acordo com a batimetria apresentada na modelagem hidrodinâmica, as

cavas onde seriam depositados os sedimentos dragados apresentam largura em torno

de 300 metros e altura variando de 6 a 11 metros. Para a simulação em questão,

utilizou-se o valor intermediário de 8 metros.

Através dos ensaios de sedimentação com concentração de sólidos de

50g/L, verificou-se que a altura da interface diminui cerca de 75%. A velocidade de

sedimentação calculada no ensaio 8 foi 7,20 mm/min. Dessa forma, a sedimentação

do material em uma cava de 8 m de profundidade levaria aproximadamente 14horas,

chegando a 2 m.

Para o cálculo do adensamento sob o peso próprio no programa, além das

relações constitutivas, o peso específico dos sedimentos e do líquido, também é

136

Page 148: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

necessário estabelecer algumas condições de contorno: altura da camada

compressível, índice de vazios inicial e altura da coluna d’água sobre a camada

compressível.

• Altura da camada compressível: 2m – altura final após a sedimentação;

• Índice de vazios inicial: 11,48 – obtido do ensaio 8, após a sedimentação;

• Coluna d’água: 2,5 m + 6,0 m – de acordo com o cenário dragado e a

sedimentação na cava.

Para melhor adequação ao programa, as curvas obtidas para o ensaio 8

serão plotadas em outra escala. As figuras correspondentes encontram-se abaixo

(Figura 7.17 e Figura 7.18). As equações mostradas nos gráficos são as relações

constitutivas do material: σ’ X e e e X k.

y = 12,916x-0,2102

R2 = 0,9736

0

2

4

6

8

10

12

140 100 200 300 400 500

Tensão Efetiva (kPa)

Índi

ce d

e V

azio

s

Figura 7.17. Curva tensão efetiva X índice de vazios – ensaio 8

137

Page 149: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

y = 4,5780E-13x6,4839E+00

R2 = 9,2896E-01

1,00E-09

1,01E-07

2,01E-07

3,01E-07

4,01E-07

5,01E-07

6,01E-07

7,01E-07

8,01E-07

9,01E-07

2 4 6 8Índice de Vazios

Coe

ficie

nte

de P

erm

eabi

lidad

e (c

m/s

)

10

Figura 7.18. Curva índice de vazios X coeficiente de permeabilidade – ensaio 8

O resultado obtido pelo modelo para a situação simulada está apresentado

através das curvas abaixo (Figura 7.19 a Figura 7.24).

85 90 95 100 105 1100

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Gráfico da tensão vertical total vs. profundidade

Inicio1 ano3 anos5 anos10 anos

Pro

fund

idad

e (m

)Al

tura

da

cam

ada

(m)

Tensão vertical total (kN/m2)

Figura 7.19. Curva tensão total X altura da camada

138

Page 150: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.50

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Gráfico da tensão vertical efetiva vs. profundidade

Pro

fund

idad

e (m

Inicio1 ano3 anos5 anos10 anos

)Al

tura

da

cam

ada

(m)

Tensão vertical efetiva (kN/m2)

Figura 7.20. Curva tensão efetiva X altura da camada

80 85 90 95 100 105 1100

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Gráfico da pressão neutra total vs. profundidade

Inicio1 ano3 anos5 anos10 anos

Pro

fund

idad

e (m

)

Pressão neutra total (kN/m2)

Altu

rada

cam

ada

(m)

Figura 7.21. Curva poropressão total X altura da camada

139

Page 151: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

-0.5 0 0.5 1 1.5 2 2.50

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Gráfico do excesso de pressão neutra vs. profundidade

Pro

fund

idad

e (m

)

Excesso de pressão neutra (kN/m2)

Inicio1 ano3 anos5 anos10 anos

Altu

rada

cam

ada

(m)

Figura 7.22. Curva de excesso de poropressão X altura da camada

9.8 10 10.2 10.4 10.6 10.8 11 11.2 11.4 11.60

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.4

1.6

1.8

2Gráfico do índice de vazios vs. profundidade

Inicio1 ano3 anos5 anos10 anos

Pro

fund

idad

e (m

)Al

tura

da

cam

ada

(m)

Índice de vazios

Figura 7.23. Curva índice de vazios X altura da camada

140

Page 152: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

10-3

10-2

10-1

100

101

1.82

1.84

1.86

1.88

1.9

1.92

1.94

1.96

1.98

2Gráfico: Altura da camada vs. logaritmo do tempo

log de t (anos)

Altu

ra d

a ca

mad

a (m

)1 ano3 anos5 anos10 anos

Ensaio 8

C= 50g/l

v=0,0134 mm/min

Figura 7.24. Curva altura da camada X log do tempo

Figura 7.19Através da , observa-se a tensão total na camada de material,

que se mantém constante ao longo do tempo. No início da camada, a tensão total é

apenas devido a coluna d’água de sobre ela a tensão efetiva existente de 1,75 kN/m2.

No interior da camada, esse valor é acrescido da tensão provocada pela altura de

sólidos saturada, chegando ao valor máximo de 106,75 kN/m2. O peso específico

saturado (γsat) do material, obtido através da densidade real dos grãos (G), é

aproximadamente 11 kN/m3.

Figura 7.20Na verifica-se o aumento da tensão efetiva ao longo do tempo.

Seu valor inicial é 1,75 kN/m2, valor obtido na equação mostrada na Figura 7.17 com a

entrada do índice de vazios inicial (eo), 11,48. O aumento da tensão efetiva, provocado

pela dissipação do excesso de poropressão, é de 2,25 kN/m2, alcançando o valor

máximo de 4 kN/m2.

Figura 7.21 e na A dissipação da poropressão pode ser observada na Figura

7.22. O excesso é 2,25 kN/m2, variando do valor máximo de 105 kN/m2 ao valor de

102,75 kN/m2, após a dissipação.

Figura 7.23A variação do índice de vazios é apresentada na e a variação da

altura da camada ao longo do tempo na Figura 7.24.

141

Page 153: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

De acordo com as curvas apresentadas, o adensamento sob o peso próprio

desse material está praticamente finalizado em 5 anos, verifica-se que o excesso de

poropressão é quase zero para esse intervalo de tempo. A altura da camada fica

reduzida a aproximadamente 1,82 metros.

Conforme dito anteriormente não modelou-se o comportamento do material

sob aplicação de cargas como é o caso de novos lançamentos e uso de capeamento.

Isso é de grande importância, pois com esse estudo verifica-se a capacidade do

reservatório e também o tempo necessário para preenchê-lo. O modelo utilizado não

contempla tal estudo. Vale ressaltar também que a teoria de adensamento utilizada,

Teoria de Gibson, não considera o adensamento secundário, parcela que também

deve ser analisada na questão da capacidade da cava e do uso de capeamento.

142

Page 154: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Capítulo 8 CONCLUSÕES E SUGESTÕES PARA FUTURAS PESQUISAS

A pesquisa envolveu um levantamento dos parâmetros que influenciam

diretamente na disposição subaquática dos rejeitos de dragagem, assim como os

principais impactos ambientais associados. São muitos os parâmetros que devem ser

avaliados para a alternativa de disposição subaquática. Entre os principais estão, a

própria constituição do material dragado (fração argílica, fração orgânica), os

contaminantes presentes e a hidrodinâmica local. Esses parâmetros devem combinar

de tal forma que a alternativa possa ser aplicada sem impactar o ambiente de maneira

desastrosa. Os impactos dessa disposição existem, assim como o impacto da própria

dragagem. Deve-se, então, avaliar se os efeitos estão dentro dos limites admissíveis e

se os benefícios da dragagem e disposição superam os impactos na área. Vale

ressaltar que a disposição subaquática é muitas vezes a alternativa mais vantajosa em

termos econômicos.

Além disso, o trabalho teve por objetivo determinar experimentalmente o

comportamento do sedimento de dragagem da Lagoa da Tijuca após seu lançamento

no próprio corpo hídrico. Para tal objetivo, utilizou-se a modelagem hidrodinâmica

fornecida pelo Programa de Engenharia Oceânica da COPPE/UFRJ, que verificou a

viabilidade da disposição quanto à dispersão dos sedimentos no Complexo Lagunar

de Jacarepaguá. E ainda, utilizou-se o equipamento que tinha como objetivo simular a

disposição do material e verificar seu comportamento geotécnico. Através desse

equipamento pôde-se verificar a fase de sedimentação e em seguida, a fase de

adensamento do material.

8.1 – Conclusões

• A modelagem hidrodinâmica da área de estudo fornece resultados

animadores para a alternativa. Apesar da dragagem trazer melhorias na

circulação hidrodinâmica do corpo hídrico, aumentando os efeitos das

marés e a velocidade de fluxo, não impede a disposição dos sedimentos.

Conforme mostrado nos quadros de velocidades de corrente, nas cavas

de disposição, localizadas principalmente na Lagoa de Jacarepaguá, as

143

Page 155: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

velocidades continuam muito baixas, quando não nulas. Isso mostra que

os sedimentos ali depositados não serão dispersados. Além disso, as

baixas velocidades minimizam o efeito de dispersão passiva, dispersão

dos sedimentos na coluna d’água no momento do lançamento.

• Mesmo contando com baixas velocidades de correntes, o lançamento do

material deve ser feito com as tubulações bem próximas ao fundo das

cavas. O uso de cortinas de geotêxtil também ajuda a minimizar os

efeitos de dispersão que possam existir.

• Quanto ao ensaio na coluna de sedimentação, verificou-se que a

interface sólido-líquido sobrenadante sofre uma queda inicial bastante

rápida, tornando-se mais lenta com o decorrer do tempo, caracterizando a

passagem do processo de sedimentação para o de adensamento sob

peso próprio. Além disso, pôde-se observar que os efeitos de turbidez,

variação de pH, Eh e CEE não se mostraram significativos após o

processo de sedimentação. Ou seja, assim como descrito nos casos

citados no capítulo 2 e também no monitoramento fornecido pela Plarcon

Engenharia, as condições do corpo hídrico voltam ao normal após

algumas semanas.

• Quanto ao ensaio de adensamento CRS, não foi possível fazer uso das

velocidades citadas na bibliografia. A velocidade utilizada inicialmente era

alta de forma a não haver tempo suficiente para dissipação da

poropressão e conseqüente aumento da tensão efetiva, violando com

isso as condições da teoria aplicada. Com a velocidade 0,14 mm/min o

ensaio não forneceria as características reais do material. A nova

velocidade para ensaiar o sedimento da Lagoa da Tijuca foi escolhida

através de tentativas, chegando a aproximadamente 10% da velocidade

inicial (0,0134 mm/min).

• Através da velocidade de sedimentação calculada pelo ensaio 8 e a

porcentagem de redução da altura das interfaces dos ensaios com 50 g/L

no final dessa etapa, calculou-se o tempo necessário para a

sedimentação na cava de geometria admitida. O material dragado leva

aproximadamente 14 horas para sedimentar em uma cava de 8 metros,

sob uma coluna d’água de 2,5 metros.

• Através das curvas σ’ X e e e X k, fornecidas pelo ensaio CRS, fez-se uso

de um módulo do programa, ainda em fase de desenvolvimento, Ferraz

144

Page 156: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

(2006), para simular o adensamento sob peso próprio do material lançado

nas cavas com o tempo. A partir de condições adotadas para geometria

do reservatório, verificou-se que em aproximadamente 5 anos o processo

de adensamento do material teria acabado. Nesta simulação não levou-

se em conta o adensamento provocado pela aplicação de sobrecargas

nem o adensamento secundário do material.

• Por fim, pode-se concluir que a disposição subaquática é uma alternativa

bastante interessante para as lagoas da Tijuca e Jacarepaguá. A

hidrodinâmica local permite e as condições físico-químicas retornam à

situação inicial em poucos dias, segundo monitoramento realizado em

2002. Vale ressaltar que as condições da água e dos sedimentos da

Lagoa da Tijuca não estão dentro dos limites estabelecidos em

legislação. Mas essa situação não se intensificará com a dragagem e

disposição dos sedimentos, pelo contrário, através da dragagem o corpo

hídrico será revitalizado e através da disposição nas cavas, as

irregularidades batimétricas serão corrigidas, chegando a profundidades

típicas de lagunas tropicais.

8.2 – Sugestões para Futuras Pesquisas

• Para caracterização do material, utilizou-se uma amostra composta de

sedimentos de diversos locais da Lagoa da Tijuca. Não foi possível

coletar sedimentos nem água da Lagoa de Jacarepaguá. Recomenda-se

às futuras pesquisas que a distribuição espacial das amostras de

sedimentos e água seja representativa da dimensão da área e do volume

a ser dragado. Além disso, a profundidade das coletas de sedimento

também deve ser representativa do perfil a ser dragado.

• O estudo da disposição de sedimentos dragados foi abordado sob o

aspecto de ensaios de sedimentação e ensaios de adensamento. No

aprofundamento desse estudo, recomenda-se verificar a repetibilidade

dos resultados.

• A teoria de sedimentação utilizada na maioria dos trabalhos que

envolvem sedimentação de lamas, Teoria de Kynch, não considera as

interações físico-químicas entre as partículas. Recomenda-se a pesquisa

sobre a influência dessas interações e ainda sobre a influência da altura

145

Page 157: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

de queda, do diâmetro interno da cavas e da concentração de sólidos,

para que o ensaio de sedimentação possa representar satisfatoriamente

a situação de campo.

• A teoria de adensamento com grandes deformações, utilizada neste

trabalho, Teoria de Gibson, apesar de ser mais representativa do

comportamento do material em formação, não leva em consideração o

efeito do adensamento secundário no sedimento. Além disso, o programa

utilizado para simular o comportamento do material ao longo do tempo,

trabalha somente com o adensamento sob peso próprio, sem considerar

o adensamento provocado pela aplicação de carga, situação bastante

importante na questão de capacidade de reservatório (novos

lançamentos) e uso de capeamento (materiais contaminados).

Recomenda-se, portanto, pesquisar sobre a influência do adensamento

secundário e do adensamento pela aplicação de sobrecarga no

comportamento dos sedimentos de dragagem.

146

Page 158: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Referências Bibliográficas ALMEIDA, M.S.S., “Ensaios especiais de adensamento”, In: Simpósio sobre novos

conceitos em ensaios de campo e de laboratório em Geotecnia, v.1, pp. 1-28, Rio

de Janeiro, 1988.

ALMEIDA, M.S.S., BORMA, L.S., BARBOSA, M.C., 2001, “Land Disposal of River and

Lagoon Dredged Sediments”, Engineering Geology, v. 60, pp. 21-30.

ALVES, M.C.M., 1992, Comportamento de Sedimentação e Adensamento de uma

Lama Vermelha, Tese de D.Sc., PUC-RIO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

AZEVEDO, R.F., SILVA, W.S., SANTOS, D.D., “Disposição de Resíduos sob a Forma

de Lama : Modelos de Análise e Obtenção de Parâmetros”, IV Congresso

Brasileiro de Geotecnia Ambiental, São José dos Campos, SP, Brasil, 1-4 de

dezembro de 1999.

BARBOSA, M.C., 1998, “Tipos de Rejeitos e Contaminantes”, Notas de Aula da

Disciplina Geotecnia Ambiental, COOPE/UFRJ.

BARBOSA, M. C., 1992, Interação Solo-Percolado e seus Efeitos nas Propriedades do

Solo, Seminário de Qualificação ao Doutorado, PEC – COPPE/UFRJ, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil.

BARBOSA, M.C., ALMEIDA, M.S.S., 2001, “Dredging and Disposal os Fine Sediments

in the State of Rio de Janiero, Brazil”, Journal of Hazardous Materials, v. 85, pp.

15-38.

BARBOSA, M.C., SANTOS, A.C.B., “Aspectos geotécnicos e ambientais associados a

rejeitos finos com elevado teor de água inicial”, In : V Congresso Brasileiro de

Geotecnia Ambiental (ABMS), pp. 339 – 363, Porto Alegre, RS; 20-23 de maio de

2003.

147

Page 159: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

BORMA, L.S., 1998, Acidificação e liberação de metais pesados em sedimentos

dragados ricos em sulfeto de FE, Tese de D.SC., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro,

RJ, Brasil.

BRANNON, J.M., 1978, Evaluation of Dredged Material Poluition, Technical Report

DS-78-6; for US-Army, Vicksburg, Miss.

CARVALHO, S.R.L, 1989, Ensaios de adensamento endométrico com taxa constante

de deformação específica relacionada ao tempo na argila do Sarapuí, Tese de

M.Sc, COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

CARVALHO, S.R.L., ALMEIDA, M.S.S., MARTINS, I.S.M, “Ensaios de Adensamento

com Velocidade Controlada : Proposta de um Método para Definição da

Velocidade”, Solos e Rochas, v. 16, n. 3, pp.185 – 196, Outubro, 1996.

CEREVE – Faculté des Sciences et Technologie, 2000, “Environmental Guidelines for

Aquatic, Nearshore and Upland Confined Disposal Facilities for Contaminated

Dredged Material”, In: International Navigation Association (PIANC), Estudo de

Caso, Bruxelas, Bélgica.

CETESB – COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 2005,

“Valores orientadores para solos e águas subterrâneas no Estado de São Paulo”,

CETESB, SP. (http://www.cetesb.sp.gov.br)

ECOLOGUS Engenharia Consultiva, 2005, EIA/RIMA do Terminal Portuário Centro

Atlântico.

EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, 1997, Manual de Métodos

de Análise de Solo, 2ª edição, Rio de Janeiro.

ESTEVES, F. A., 1998, Fundamentos de Limnologia, 2ª edição, Rio de Janeiro,

Interciência.

148

Page 160: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

FEEMA – Fundação Estadual de Engenharia de Meio Ambiente, 1997, Instrução

Técnica para Elaboração de Estudos de Impacto Ambiental Referente à

Dragagem e Disposição Final de Material Dragado em Áreas Costeiras.

FERRAZ, R.L., 2003, Transporte de Solutos em Meios Porosos Deformáveis, Exame

de Qualificação ao Doutorado, PEC – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

FERRAZ, R.L., EHRLICH, M., BARBOSA, M.C., 2006, “A procedure for modeling

coupled soil consolidation and solute migration processes in compressible soils.”,

5th International Congress Environmental Geothecnics, Cardiff, Wales, UK, 26 a

30 de junho de 2006.

Fundação COPPETEC, UFRJ, Rio de Janeiro, 1996, Estudo da Contaminação e

Disposição dos Rejeitos de Dragagem das Lagoas de Jacarepaguá, Camorim,

Tijuca e Marapendi, na Cidade do Rio de Janeiro, Relatórios Técnicos ET-

150686 (5 volumes); para a Secretaria do Meio Ambiente da Cidade do Rio de

Janeiro (SMAC).

Fundação COPPETEC, UFRJ, Rio de Janeiro, 1998, Estudo Técnico da Lagoa da

Tijuca e Disposição dos seus Rejeitos, Relatório Técnico ET-150849 (4 volumes);

para a Secretaria do Meio Ambiente da Cidade do Rio de Janeiro (SMAC).

Fundação COPPETEC, UFRJ, Rio de Janeiro, 2001, Estudos para Disposição de

Rejeitos de Dragagem de Sistema Lagunar de Jacarepaguá, Relatório Técnico

PEC2271; para a empresa SOMAR Serviços de Operações Marítimas LTDA.

Fundação COPPETEC, UFRJ, Rio de Janeiro, 2002, Estudos de Níveis de Água de

Drenagem de Vargem Grande, Sernambetiba e Bacia da Lagoa de Jacarepaguá,

Relatório Final PEnO-3393; para Instituto Pereira Passos, Prefeitura do Rio de

Janeiro.

GIBSON, R.E., ENGLAND, G.L. e HUSSEY, M.J.L.,1967, “The Theory of One-

Dimensional Consolidation of Saturated Clays”, Géotechnique, v.17, nº 3, pp.

261-273.

149

Page 161: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

GOES FILHO, H.A., 2004, Dragagem e Gestão de Sedimentos, Tese de M.Sc.,

COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

GREEN LINK ESTUDOS AMBIENTAIS, 2003, Auditoria Ambiental do Processo de

Dragagem da Lagoa de Jacarepaguá, Relatório Técnico para Empresa Plarcon,

Rio de Janeiro, Janeiro.

GUIMARÃES FILHO, J.L.R., 1990, Ensaios Edométricos com Taxa Constante de

Deslocamento em Rejeitos Industriais Depositados sob a Forma de Lama, Tese

de M.Sc., PUC-RIO, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

HAMMARSKJOLD, A., 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and

Upland Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In:

International Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

HERBICH, J. B., 1992, Handbook of Dredging Engineering. 1ed. New Jersey, McGraw-

Hill.

HOLLIDAY, B.W., 1978, Processes Affecting the Fate of Dredged Material, Technical

Report DS-78-2; for US-Army, Vicksburg, Miss.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC)/ CENTRAL

DREDGING ASSOCIATION (CEDA), 1996, Environmental Aspects of Dredging,

Guide 5: Reuse, Recycle or Relocate, Delft, Holanda.

INTERNATIONAL ASSOCIATION OF DREDGING COMPANIES (IADC)/ CENTRAL

DREDGING ASSOCIATION (CEDA), 1996, Environmental Aspects of Dredging,

Guide 6: Effects, Ecology and Economy, Delft, Holanda.

INSTITUTO DE PESQUISAS HIDROVIÁRIAS (INPH), 2005, Relatório Final da

Modelagem Computacional feita na Baía de Sepetiba, Rio de Janeiro.

KOETHE, H, 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and Upland

Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In: International

Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

150

Page 162: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

LIMA, P.P., 1996, Ensaios oedometricos com Taxa de Deslocamento Constante em

Solos Muito Moles, Tese de M.Sc., Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, MG,

Brasil.

M&B ASSESSORIA AMBIENTAL, 2002a, Dragagem da Lagoa de Jacarepaguá:

Relatório de Monitoramento, Relatório Técnico para a empresa Plarcon, Rio de

Janeiro, Fevereiro.

M&B ASSESSORIA AMBIENTAL, 2002b, Dragagem da Lagoa de Jacarepaguá:

Relatório de Monitoramento, Relatório Técnico para a empresa Plarcon, Rio de

Janeiro, Setembro.

MITCHELL, J.K., 1993, Fundamentals of Soil Behavior, 2ª edição, Nova Iorque, John

Wiley & Sons Inc.

MIYACHI, Y, 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and Upland

Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In: International

Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

MONTEIRO, M.T., 2006, Emprego da Fitorremediação em Sedimento Contaminado

com Metais Pesados e Hidrocarbonetos Poliaromáticos (HPAs) Provenientes do

Canal do Fundão na Baía de Guanabara – RJ, Exame de Qualificação ao

Doutorado, PEC – COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

MOTA, S., 1997, Introdução à Engenharia Ambiental, 1ª edição, Rio de Janeiro, ABES.

NETZBAND, A., 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and Upland

Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In: International

Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

OSBORNE, J., 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and Upland

Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In: International

Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

OLIVEIRA, V. M, 2005, Estudo Preliminar de Modelagem Hidrodinâmica do Complexo

Lagunar da Baixada de Jacarepaguá, Rio de Janeiro.

151

Page 163: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

PALERMO, M., 2000, “Environmental Guidelines for Aquatic, Nearshore and Upland

Confined Disposal Facilities for Contaminated Dredged Material”, In: International

Navigation Association (PIANC), Estudo de Caso, Bruxelas, Bélgica.

PINTO, C.S., 2000, Curso Básico de Mecânica dos Solos em 16 Aulas, 1ª edição, São

Paulo, Oficina de Textos.

RAMOS, M.O, 1997, Diretrizes para Disposição e Tratamento de Rejeitos de

Dragagem, Exame de Qualificação ao Doutorado, PEC – COPPE/UFRJ, Rio de

Janeiro, RJ, Brasil.

ROSMAN, P.C.C., 2001, “Um Sistema Computacional de Hidrodinâmica Ambiental”.

In: Métodos Numéricos em Recursos Hídricos (Vol. 5), Capítulo 1, Associação

Brasileira de Recursos Hídricos – ABRH.

SANTOS, A.B., 1997, Estudo do Comportamento de um Material Dragado, Projeto

Final de Curso, Departamento de Construção Civil, Escola Politécnica da UFRJ,

Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

SANTOS, A.C.B., 2001, Avaliação do acréscimo de polímeros na disposição de

sedimentos dragados, Tese de M.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.

SHARMA, H.D., REDDY, K.R., 2004, “Subaquatic Sediment Waste : In-Situ Capping”,

Geoenvironmental Engineering: Site Remediation, Waste Containment, and

Emerging Waste Management Technologies, 1ª edição, cap. 26, New Jersey,

John Wiley & Sons Inc.

TERRA ET AQUA, 2005, International Jounal on Public Works, Ports & Waterways

Developments, IADC, number 98, março

VIEIRA, L.S, 1988, Manual de Ciência do Solo : com Ênfase em Solos Tropicais, 2ª

edição, São Paulo, Ceres.

152

Page 164: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

WRIGHT, T.D., 1978, Aquatic Dredged Material Disposal Impacts, Technical Report

DS-78-1; for US-Army, Vicksburg, Miss.

YONG, R.N, WARKENTIN, B.P., 1975, Soil Properties and Behavior, Elsevier

Scientific.

SITES Portal Cidade da Barra, www.ciadigital.com/cdb, 19/05/05

www.portosrio.gov.brPortal da Companhia de Docas do Rio de Janeiro, ,14/02/2006

Portal da Folha de São Paulo, www.folha.com.br, 03/08/2005

www.googleearth.comPortal Google Earth,

Portal do Governo do Estado de São Paulo, www.agem.sp.gov.br, 18/03/06

www.ministeriodostransportes.gov.brPortal do Ministério dos Transportes, , 21/12/2005

Portal Pacto de Resgate Ambiental, www.pactoderesgateambiental.org, informativo nº

01, outubro, 2004.

Site do Porto de Santos, www.portodesantos.com, 12/12/2005

Portal da Superintendência Estadual de Rios e Lagoas, www.serla.rj.gov.br

www.online.unisanta.brPortal da Universidade Santa Cecília, , 04/09/2002

www.geocities.com/pentagon/bunker/6676/sepetiba.html, 01/04/2006

153

Page 165: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Apêndice 1 CALIBRAÇÃO DO CONDUTIVÍMETRO Conforme mencionado anteriormente, para analisar os resultados de condutividade

elétrica (CEE) de acordo com a Resolução CONAMA nº 20/86 é necessário

transformar tais resultados em concentração equivalente de NaCl. O procedimento de

calibração do condutivímetro consiste em medir a condutividade de soluções de água

deionizada com concentrações conhecidas de NaCl. A partir disso traça-se uma curva

que representa uma relação entre a CEE e %o de NaCl.

Abaixo apresenta-se a curva de calibração obtida.

Calibração do Condutivímentro

y = -0,035x2 + 1,995x + 0,1741R2 = 0,9996

0

5

10

15

20

25

0 5 10 15 20

Concentração de NaCl (%0)

CEE

(mS/

cm)

Figura A1.1. Calibração do condutivímetro

154

Page 166: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Apêndice 2 CALIBRAÇÃO DOS TRANSDUTORES Todos os transdutores foram alimentados com aproximadamente 10V (9,68 V). O

transdutor de deslocamento foi conectado ao canal 1 e os transdutores de pressão

total e neutra foram conectados nos canais 2 e 3 respectivamente. O canal 4 repete a

leitura do canal 3.

Transdutor de Deslocamento 0 a 50 mm (LVDT)

LVDT

y = 0,6822x - 1,9064R2 = 1

-4-202468

1012141618

0 5 10 15 20 25 30

Deslocamento (mm)

Leitu

ra (m

V)

Constante = 1/0,682 = 1,4658 mm/mV

Figura A2.1. Calibração do transdutor de deslocamento

155

Page 167: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Transdutor de Pressão 0 a 1000 kPa (pressão total)

Pressão Total

y = 1,6144x + 394,76R2 = 0,9998

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

0 100 200 300 400 500 600 700 800

Pressão (kPa)

Leitu

ra (m

V)

Constante = 1/1,615 = 0,6204 kPa/mV

Figura A2.2. Calibração do transdutor de pressão total

Transdutor de Pressão 0 a 600 kPa (pressão neutra)

Pressão Neutra

y = 2,348x + 403,4R2 = 0,9971

0200400600800

10001200140016001800

0 100 200 300 400 500 600

Pressão (kPa)

Leitu

ra (m

V)

Constante = 1/2,343 = 0,4269 kPa/mV

156

Page 168: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Figura A2.3. Calibração do transdutor de poropressão

Célula de Carga 0 a 1500 kgf (força) Conforme explicado no capítulo 7 foi necessário utilizar uma célula de carga para

medir a força aplicada no pistão, já que a ligação entre o equipamento e o transdutor

de tensão total funcionara. Essa célula ficou conectada ao canal 2, canal destinado ao

transdutor de tensão total. Abaixo apresenta sua curva de calibração para mesma

voltagem.

Força

y = -0,0023x + 1,8924R2 = 0,9999

-35

-30

-25

-20

-15

-10

-5

0

5

0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 14000

Força (N)

Leitu

ra (m

V)

Constante = 1/-0,0023 = -434,78 N/mV Figura A2.4. Calibração da célula de carga

157

Page 169: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Apêndice 3 TESTE DE SEDIMENTAÇÃO EM PROVETA DE 2 LITROS Antes de iniciar o ensaio de sedimentação na coluna descrita no capítulo 6, optou-se

em fazer testes em provetas de 2 litros. O objetivo desses testes foi verificar como o

material se comportava para diferentes concentrações assim como determinar a

interface entre a suspensão e o líquido sobrenadante. Isso foi muito importante pois

evitou desperdícios de amostras, já que o ensaio necessita de quantidades

significativas de sedimento e principalmente água.

Na Figura A3.1 apresenta-se o gráfico obtido nos teste. A Figura A3.2 mostra os teste

de 20 e 50 g/l.

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

0 1000 2000 3000Tempo (min)

Altu

ra (c

m)

C = 20g/lC = 30g/lC = 40g/lC = 50g/l

Figura A3.1. Curva altura X tempo

158

Page 170: DISPOSIÇÃO SUBAQUÁTICA DE REJEITOS DE DRAGAGEM: … · sempre e principalmente a minha mega amiga Pat, pelas aulas particulares, pelos materiais emprestados, pela correção do

Interface

20 g/l 50 g/l

(a) (b)

Figura A3.2. Teste de 20 e 50 g/l. (a) Início do teste (b) Após 30 minutos do ínicio

159