discurso encerramento conferências do estoril

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Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais Senhores e senhoras convidados, Caras amigas e caros amigos, A minha primeira palavra nesta intervenção, como não podia deixar de ser, é de agradecimento. Agradecimento aos nossos parceiros neste projeto. Nas empresas que se envolveram e acreditaram em nós tornando possível esta organização e nas universidades de três continentes que em cada edição nos ajudam a construir alicerces cada vez mais duradouros. Agradecimento também ao nosso patrocinador principal, a Vodafone, aos nossos patrocinadores – Santander Tota, Banco BiC, Lexus e Hotel Palácio, aos parceiros institucionais – Ministério dos Negócios Estrangeiros e Banco Mundial – e muito especialmente ao Alto Patrocínio da Presidência da República. Agradecimento aos nossos extraordinários oradores. Vindos de países tão diferentes com ideias tão diferentes e que souberam tão bem provocar- nos, desafiar-nos e inspirar-nos. Fieis aquele que é o espírito destas conferências do Estoril. E finalmente, um agradecimento muito especial ao vice-presidente Miguel Pinto Luz e a esta equipa de mulheres e homens, que na sua esmagadora maioria, são jovens muito competentes, talentosos, criativos e com grande capacidade de trabalho e que uma vez mais se excederam honrando como ninguém a nossa tradição de bem receber. Todos provaram uma vez mais que somos capazes de organizar e projetar um evento desta dimensão como poucas cidades e poucos países no mundo. E por isso devolvo-lhes as muitas palavras de gratidão e de parabéns que ouvi nestes últimos dias. São vossas. Tal como são vossos estes meus aplausos. Em cascais temos equipa!

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Partilho com os meus amigos o meu discurso de encerramento na terceira edição das Conferências do Estoril,

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Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Senhores e senhoras convidados, Caras amigas e caros amigos, A minha primeira palavra nesta intervenção, como não podia deixar de ser, é de agradecimento. Agradecimento aos nossos parceiros neste projeto. Nas empresas que se envolveram e acreditaram em nós tornando possível esta organização e nas universidades de três continentes que em cada edição nos ajudam a construir alicerces cada vez mais duradouros. Agradecimento também ao nosso patrocinador principal, a Vodafone, aos nossos patrocinadores – Santander Tota, Banco BiC, Lexus e Hotel Palácio, aos parceiros institucionais – Ministério dos Negócios Estrangeiros e Banco Mundial – e muito especialmente ao Alto Patrocínio da Presidência da República. Agradecimento aos nossos extraordinários oradores. Vindos de países tão diferentes com ideias tão diferentes e que souberam tão bem provocar-nos, desafiar-nos e inspirar-nos. Fieis aquele que é o espírito destas conferências do Estoril. E finalmente, um agradecimento muito especial ao vice-presidente Miguel Pinto Luz e a esta equipa de mulheres e homens, que na sua esmagadora maioria, são jovens muito competentes, talentosos, criativos e com grande capacidade de trabalho e que uma vez mais se excederam honrando como ninguém a nossa tradição de bem receber. Todos provaram uma vez mais que somos capazes de organizar e projetar um evento desta dimensão como poucas cidades e poucos países no mundo. E por isso devolvo-lhes as muitas palavras de gratidão e de parabéns que ouvi nestes últimos dias. São vossas. Tal como são vossos estes meus aplausos. Em cascais temos equipa!

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Caras amigas e caros amigos, Este ano, foi ainda mais evidente que nunca, que as Conferências do Estoril já não pertencem à Câmara Municipal e muito menos a quem está presidente. É este ano ainda mais evidente que as Conferências são vividas pelos cidadãos de Cascais, que as Conferências pertencem ao país e mais do que nunca destinam-se ao mundo. E por isso faz sentido que não acabem aqui, nem agora, nem hoje. E há semelhança do que aconteceu há dois anos, queremos que tenham consequências para além desta sala. Vão ter certamente consequências. É por isso que já na próxima segunda-feira recomeçamos o trabalho. Vamos reforçar a nossa presença nos fóruns internacionais e as nossas parcerias académicas. Vamos trabalhar nas ideias e nos conteúdos. Vamos preparar o debate e alarga-lo a cada vez a mais países. E aqui estaremos, novamente em 2015 para a quarta edição das conferências do Estoril. Senhores e senhoras convidados, Caras amigas e caros amigos, Há dois anos, no princípio de um profundo momento de mudança para o país, encerrámos estas conferências com um vídeo que provavelmente se recordam. Quisemos fazer uma mensagem de Portugal para o mundo mas acabámos por fazer uma mensagem de Cascais para os portugueses. Este ano o encerramento será inevitavelmente diferente. Bastante mais modesto na forma e menos ambicioso na função. Quero apenas partilhar com os nossos convidados a mais portuguesa de todas as histórias. A história de um jovem príncipe português que reuniu a maior armada que o reino conheceu e o maior exército que o reino tinha visto.

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Todos partiram em nome de Deus, mas Deus não esteve connosco. Numa tarde de agosto, no calor de uma batalha à beira de um lugarejo do Norte de África, caíram os melhores do reino e desapareceu o Príncipe menino. Sem a glória prestada aos vencedores nem a honra devida aos derrotados. Simplesmente desapareceu. A liberdade desapareceu com ele, a tragédia sobrou para quem ficou. Durante séculos, a história fez-se mito, o mito fez-se lenda e a lenda fez-se poema. Em verso cantava-se o fado de um povo condenado a esperar por homem providencial saído de um dia de nevoeiro. Foi o poeta. Foi ele que jurou que seria nesse dia que está para vir, nesse dia que estará sempre para vir, que o rei menino voltaria para cumprir o império. E assim ficou o país. Nem rei, nem império, nem liberdade. Só desassossegada espera. Só nevoeiro. Só o poema. Bom… talvez tenha ficado um pouco mais do que isso. Porque há uma coisa que ficou até hoje: o sebastianismo. O sebastianismo é hoje uma belíssima metáfora para a Europa. Os melhores do reino perdidos numa tarde de agosto. Uma espera pelo rei menino que está prometido. Aquele que chegará numa tarde de nevoeiro, Aquele que faz o que nós não fazemos, Aquele que resolve o que nós não resolvemos, Aquele que cumpre o que nós não conseguimos cumprir, Os cidadãos esperam que sejam os governos que resolvam. Já os governos esperam que seja a Europa que resolva e a Europa espera que sejam os mercados… E os mercados… bom, os mercados esperam que seja uma qualquer entidade divina a resolver. Mas Deus não está com os mercados. Não pode estar.

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Senhores e senhoras convidados, Caras amigas e caros amigos, Sim. Somos um país de poetas. Talvez por isso valorizamos tanto as palavras. O seu significado e o seu poder. As palavras têm o extraordinário poder de comandar homens e talvez por isso seja o momento na história de as mudar. Na abertura disse-vos que precisávamos de olhar o mundo com novos mapas. Hoje acrescento que é preciso descrever o mundo com novas palavras. Rescrever os dicionários, não só o dicionário da língua de Camões. Todos os dicionários. Dos de Cervantes, aos de Shakespeare e aos de Ibn Mucana, o poeta muçulmano que bem conhecemos em Cascais. Comecemos pela letra C, C de Crescimento. Maldito crescimento que tantos dissabores tem causado. Vivemos sôfregos de crescimento. De todos os tipos de crescimento. Enquanto aqui falávamos, quantos powerpoints foram produzidos, quantos pappers foram publicados, quantas ideias geniais foram editadas? Milhares? Milhões? Triliões? E quantas dessas ideias foram desperdiçadas? Quantas passaram sem que fossemos capazes de dar por elas? E saltamos de inovação em inovação, de patente em patente, de conhecimento em conhecimento, de moda em moda, esquecendo o que está para trás e incapazes de assimilar o que estará para a frente. É este o drama da sociedade de informação: o excesso de informação que mata a própria informação. É a indigestão de tanta informação. Tudo é estranhamente efémero. Temos que desacelerar o mundo. Dar sossego a esta gula e matar o crescimento antes que o crescimento nos mate a nós.

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Vamos agora ao i de individuo. O desafio é substituir a palavra individuo pela palavra comunidade. Porque se é verdade que cada vida é única e irrepetível, também é verdade que só existimos e só nos realizamos com o outro. Com a comunidade que nos rodeia. Comunidade territorial, linguística ou cultural. Pouco importa. O que importa é que mesmo nos gestos mais egoístas, mesmo nas palavras que ficam por dizer, haverá sempre uma consequência para aquele que temos ao nosso lado. Esta é a consciência de uma sociedade da ecologia humana: uma sociedade onde cada um conta por si, mas onde cada um sabe, que o valor do “nós”, é superior ao do “eu”. L, de liderança. Carlos Magno tentou unificar a Europa e falhou. O Papa tentou unificar a Europa e falhou. Napoleão tentou unificar a Europa e falhou. Outros de má memória tentaram unificar a Europa e felizmente falharam. Porém, a verdade é que continuamos à espera do líder que o faça por nós. Continuamos à espera do dia de nevoeiro que trará no regaço aquele que faça, que decida, que resolva. Que resolva por nós. Suspiramos por um líder, por um chefe. Perdoem-me ser portador das más notícias. Os mercados não vão resolver, a Europa não vai resolver, os governos não vão resolver. Por mais promessas que traga o nevoeiro, o nevoeiro não trará ninguém. Estamos entregues a nós próprios. Temos que ser nós a fazer, nós a decidir, nós a resolver. Cada um à sua escala, a partir do local. Eliminemos a palavra liderança porque não vai haver líder. A boa notícia é que cada um é líder de si próprio. Falemos também do P, de preço. Tudo tem um preço? Não. Tudo tem de passar a ter um Valor. E o valor vai para além do preço. É preciso substituir o preço pelo valor. Porque o valor é mais do que o preço. É financeiro é social é político e é ideológico.

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Quando tiramos o valor às coisas, deixamos de saber onde encontrar a felicidade. E quando perdemos o norte à felicidade, decaímos da nossa natureza. Porque o homem é mais do que análise de custo benefício. Porque a vida não é um balancete. Porque a humanidade é mais do que o equilíbrio entre a receita e a despesa, deixemos de falar de preço. Por último, falemos também do T. O T de Tolerância. Talvez a ideia mais polémica que aqui vos quero deixar. Isso mesmo. A letra T de tolerância. Porque é que devemos eliminar a palavra tolerância? Tolerância… é tolerar as diferenças, e se fosse só isso, não seria mau. Mas tolerar, mais não é na maior parte das vezes, do que olhar o mundo de cima para baixo, com a perspetiva paternalista e a condescendência de quem está certo mas não se importa que os outros estejam errados. O tolerante em muitas circunstâncias é aquele que espera o agradecimento e o reconhecimento da sua grandeza. Se a liderança infantiliza o homem, a tolerância escraviza o tolerante às suas próprias ideias e preconceitos. A tolerância é a mais pública das virtudes e o mais perverso dos vícios. Eliminemos a expressão tolerância. Em vez de tolerarmos os outros, passemos antes a fazer um esforço para compreender os outros. A tolerância só domestica o ódio. E nós queremos é eliminá-lo. Hoje ficamo-nos apenas por estas letras e por estas palavras de um novo dicionário. Convido-vos a falar uma nova língua. Uma língua em que cada um é um dono do seu próprio destino. Em que as palavras não têm dono ou verso feito.

Intervenção de Encerramento| Carlos Carreiras | Presidente da Câmara Municipal de Cascais

Em que cada um é soberano das suas palavras. Em que os discursos não têm citações de gente que já morreu, em que tudo é futuro de um presente passado. Minhas Senhoras e senhores Minhas amigas e meus amigos, Que nada que tenha que ser feito fique por fazer, Que nenhumas palavras fiquem por dizer, precisamos de mais poesia e de novos poetas. Desejo que regressem bem a vossas casas e Sejam sempre bem-vindos ao Estoril e a Cascais. As conferências são só um local, um bonito e inspirador lugar. E o debate começa agora. Obrigado!