discurso colacao de_grau_1975

2
, Senhores Professores homenageados, minhas Senhoras, meus Senhores, Amigos e Coiegas: Nos nao estamos aqui para falar das flores. Delas, tanto ja foi dito e alardeado, qUe ji murcham, e n~m mais lhes sentimos 0 perfume. Nos '. '( #-:1 estamos aqui para falar da terra, do chao em que se planta a civiliza~ao de urn mundo em crise. Certamente que,dentre vos, haverao os que, no seu intimo,esta- rao a se indagar: " sera este momento?" Enos responderemos: ESTE r 0 l\'JOMENTO. E que assim 0 seja, para que a solenidade que vindes presenc;a~ do ha anos, nao se perea definitivamente no vazio dos protocolos, nem se dilua completamente no terreno das representa~oes. E dificil, e quase im- possivel, mas e assim que a consciencia quer. A crise esta no Oriente, esta no Ocidente, esta aqui. Bern dian- te dos nossos olhos. Crise politica, crise economica, crise social. Crise de consciencias, crise moral. Sentimo-la no trabalho, na escola, na fami- lia. Sentimo-la no mundo. E por que, senhores, estaria a Educa~ao imune a Esses efluvios, see ela, sem duvida, tra~o marcante em todas as coisas? Hoje, 0 sistema educacional vos apresenta mais uma de suas vitorias, e nao convem-"-c_.--a_qui-+_ question~-la. ~ue esta seja a tarefa maior de nossas consciencias. ~o en- ~ tanto, estariamos sendo desleais conosco mesmos, se nao nos mantivessemos de pes firmes no chao, e elhos bem abertos para a realidade, que a vaida- de e as aparencias querem, portodos os me;os, ocultar. Quiso acaso, que fossemos testemunhas vivas desse tempo de cri se. Ativas oupassivas, testemunhas. Mesmo porque a Historia se faz, cada vez mais pelas maos de uns poucos, indiferente ao nosso silencio. E 0 re sultado ai esta: na~oes desenvolvidas, na~oes em desenvolvimento, na~oes subdesenvolvidas. E, em cada uma delas, as distor~oes gritantes que a es- trutura gerou. Nas na~oes ditas desenvolvidas,a abundancia material, 0 poderio militar, a tecnologia ~aissofisticada. Paralelamente a essas conquistas, a coexistencia da discrimina~ao racial, da segrega~ao das minorias,do co~ troleindireto das ideias. E, 0 que e ainda pier, a ansia pela expansao I do poderio, que se traduz pela agressao, militar ou economica, a povos mi 1ita rme.n te inferiores eeq)no,rn icamen te pobres. Nas na~oes em desenvolvimento, nos vamos encontrar 0 mesmo vi- Nos povos subdesenvolvidos, a luta pela sobrevivencia em meio aos gigantes. Mas, qualquer que seja 0 sistema ou situa~ao, 0 crescent~ esma- gamento da pessoa humana, sutil au ostensivo, sob as mais variadas formas e cores,e c~~acteristica comuma todos eles.

Upload: mario-araujo-filho

Post on 21-Jun-2015

686 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

Discurso do orador da turma, Mario de Sousa Araujo Filho, concluinte de Engenharia Eletrica, na colacao de grau do CCT-UFPB, realizada em julho de 1975.

TRANSCRIPT

Page 1: Discurso colacao de_grau_1975

,Senhores Professores homenageados, minhas Senhoras, meus Senhores, Amigose Coiegas:

Nos nao estamos aqui para falar das flores. Delas, tanto ja foidito e alardeado, qUe ji murcham, e n~m mais lhes sentimos 0 perfume. Nos

'. '( •• #-:1estamos aqui para falar da terra, do chao em que se planta a civiliza~aode urn mundo em crise.

Certamente que, dentre vos, haverao os que, no seu intimo,esta-rao a se indagar: " sera este momento?" Enos responderemos: ESTE r 0l\'JOMENTO.

E que assim 0 seja, para que a solenidade que vindes presenc;a~do ha anos, nao se perea definitivamente no vazio dos protocolos, nem sedilua completamente no terreno das representa~oes. E dificil, e quase im-possivel, mas e assim que a consciencia quer.

A crise esta no Oriente, esta no Ocidente, esta aqui. Bern dian-te dos nossos olhos. Crise politica, crise economica, crise social. Crisede consciencias, crise moral. Sentimo-la no trabalho, na escola, na fami-lia. Sentimo-la no mundo.

E por que, senhores, estaria a Educa~ao imune a Esses efluvios,se e ela, sem duvida, tra~o marcante em todas as coisas? Hoje, 0 sistemaeducacional vos apresenta mais uma de suas vitorias, e nao convem-"-c_.--a_qui-+_~.question~-la. ~ue esta seja a tarefa maior de nossas consciencias. ~o en- ~tanto, estariamos sendo desleais conosco mesmos, se nao nos mantivessemosde pes firmes no chao, e elhos bem abertos para a realidade, que a vaida-de e as aparencias querem, portodos os me;os, ocultar.

Quiso acaso, que fossemos testemunhas vivas desse tempo de crise. Ativas oupassivas, testemunhas. Mesmo porque a Historia se faz, cadavez mais pelas maos de uns poucos, indiferente ao nosso silencio. E 0 resultado ai esta: na~oes desenvolvidas, na~oes em desenvolvimento, na~oessubdesenvolvidas. E, em cada uma delas, as distor~oes gritantes que a es-trutura gerou.

Nas na~oes ditas desenvolvidas,a abundancia material, 0 poderiomilitar, a tecnologia ~ais sofisticada. Paralelamente a essas conquistas,a coexistencia da discrimina~ao racial, da segrega~ao das minorias,do co~trole indireto das ideias. E, 0 que e ainda pier, a ansia pela expansao I

do poderio, que se traduz pela agressao, militar ou economica, a povos mi1ita rme.nte in fe r iore s eeq)no,rn icamen te po bre s .

Nas na~oes em desenvolvimento, nos vamos encontrar 0 mesmo vi-

Nos povos subdesenvolvidos, a luta pela sobrevivencia em meioaos gigantes.

Mas, qualquer que seja 0 sistema ou situa~ao, 0 crescent~ esma-gamento da pessoa humana, sutil au ostensivo, sob as mais variadas formase cores, e c~~acteristica comum a todos eles.

Page 2: Discurso colacao de_grau_1975

Que especie de desenvolvimento e esset que nao tern 0 Homem comosua medida? Par desenvolvimentot entendemas a global t 0 conjunto, 0 todo.o desenvolvimento que concebemos, nao suprime 0 homem, mas 0 promove; naoo marginaliza,mas 0 integra; nao 0 omite, mas ° tern como motivo e motorda Historia, agente e objeto do progresso.

E a esse aspecto situacional do mundo moderno, que a Educa9aO I

est~ indissoluvelmente ligada. f ela que forma os homens, forjando-lhes 0carater, permitindo-lhes descobrir e solidificar as proprias convic90es.Ee esse caratert e sao essas convic90es, que erigem as estruturas e modelamas sociedades.

Neste contexto, a Universidade desempenha papel relevante.fun9aO nao podera ser, simplesmentet a de formar profissionaist masbem a de formar Homens. E quando dizemos " formar Homens ", estamos nosreferindo a forma9ao humanistica, que coloca 0 profissional frente a frentet com a fun9aO social do seu trabalho.

No dizer de Josue de Castro: " as universidadest mais do que 0-ficinas de sabios, devem ser fabricas de Homens. De homens capacitados apromover a fusao, dos seus valores individuais mais significativos, com asaspira90es mais profundas da sociedade de que participam. De homens aptosa resolver a critica circunstanciat da convivencia do homem com 0 proprio

Suatam -

Nos dias de hoje, em uma humanidade crescentemente dependente I

da ciencia e da tecnica. mais do nunea. essaforma~ao~ necessaria. 0 Ho--~mem nao e urn dado. 0 Homem nao e urn numero. Parece obvio; mas, quantos equantost atraves dos tempos,e ate hoje, tern esquecido a extrema sensatezdessa verdade: estadistas, dirigentes, responsaveis pelos destinos coletlvos.

Dai ter a universidade, como formadora desses dirigentes, essaresponsabilidade maior: preparar 0 Homem para servir ao Homem. Nas pala -vras de Roland Corbisier: 1\ a universidade nao euma redoma, urn comparti -men to estanque no contexto social, mas parcela de urn todo que a inclui ea transcendell

E esse humanismo, e essa consciencia do social, e essa descoberta do Homem para 0 Homem, que deve vir da universidade para a vida. 0 Ho-mem se forma, 0 homem se assume, 0 homem se humaniza, quando pensa, quan-do criat quando discorda, quando participa.

Aqui estamos. Engenheiros, Economistas, Sociologos, que os anosde estudo tornaram aptos para suas fun~6es. Que as exer~amos com dignida-de, de acordo com 0 juramenta que acabamos de proferir. E que essa digni-dade, seja nos so agradecimento maior.

Tenho dito.

DISCURSO PRONUNCIADO POR MiRIO DE SOUSA ARAUJO FILHO. COMO ORADOR DASTURMAS DE ECONOMIA, ENGENHARIA EL~TRICA, ENGENHARIA CIVIL E SOCIOLOGIA,DO CENTRO DE CIENCIAS E TECNOI,OGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARA!BA.