diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

38
IDENTIFICAÇÃO: Oscar Costa Diniz Título do Projeto: Análise sobre os principais contextos de influência no tipo e desenho institucional das Políticas Públicas Municipais de Economia Solidária Título do Plano de Trabalho. Construção de matriz de análise de políticas públicas RESUMO Buscamos nesta pesquisa analisar os diferentes entendimentos e reconhecimentos da Economia Solidária, tais divergentes perspectivas que podem acarretar em distintos projetos políticos no que se refere o atendimento ou não das diretrizes/princípios que adentram a realidade econômico/solidária e acabam adequados ou não ao fomento dos grupos envolvidos nessa temática. Afim de atingir tal questão, analisamos trinta e nove municípios com leis que implementaram políticas voltadas a Economia Solidária através de três diferentes contextos - socioeconômico, político institucional e o contexto sociopolítico, assim como, analisamos e classificamos estas legislações em 3 dimensões enquanto natureza política, desenho da política e gestão da política. Com isso, buscamos identificar nas leis dentro dos desenhos, tipos de políticas e contexto dos atores envolvidos na criação destas, sua proximidade com uma visão da política de economia solidária sobre um tipo sustentável e solidária que é a que se aproxima dos seus princípios, ou, sobre uma visão desta política como utilitária-insercional-competitiva, que vai de contraponto a esses princípios. Ou seja, classificamos essas leis como mais próximas ou menos próximas da Economia Solidária levando em consideração as variáveis que são contextos de influência no entendimento/reconhecimento destas. (O mesmo que será usado para os ANAIS do ENIC) Obs.: O resumo constante no relatório final deve ser colocado também no campo RESUMO (Ler instruções constantes na página da PRPG). Deve conter: introdução, objetivos, metodologia, principais resultados e conclusões em, no mínimo 1.700 caracteres (COM espaços) e, no máximo, 3.400 caracteres (COM espaços). Não deve conter equações ou figuras.

Upload: oscar-diniz

Post on 03-Dec-2015

232 views

Category:

Documents


14 download

DESCRIPTION

Trabalho desenvolvido por Oscar Costa Diniz (graduado em Gestão Pública pela UFPB) e Dr. Vanderson Carneiro.

TRANSCRIPT

Page 1: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

IDENTIFICAÇÃO: Oscar Costa Diniz

Título do Projeto: Análise sobre os principais contextos de influência no tipo e desenho institucional das Políticas Públicas Municipais de Economia Solidária

Título do Plano de Trabalho. Construção de matriz de análise de políticas públicas

RESUMO

Buscamos nesta pesquisa analisar os diferentes entendimentos e reconhecimentos da Economia Solidária, tais divergentes perspectivas que podem acarretar em distintos projetos políticos no que se refere o atendimento ou não das diretrizes/princípios que adentram a realidade econômico/solidária e acabam adequados ou não ao fomento dos grupos envolvidos nessa temática. Afim de atingir tal questão, analisamos trinta e nove municípios com leis que implementaram políticas voltadas a Economia Solidária através de três diferentes contextos - socioeconômico, político institucional e o contexto sociopolítico, assim como, analisamos e classificamos estas legislações em 3 dimensões enquanto natureza política, desenho da política e gestão da política. Com isso, buscamos identificar nas leis dentro dos desenhos, tipos de políticas e contexto dos atores envolvidos na criação destas, sua proximidade com uma visão da política de economia solidária sobre um tipo sustentável e solidária que é a que se aproxima dos seus princípios, ou, sobre uma visão desta política como utilitária-insercional-competitiva, que vai de contraponto a esses princípios. Ou seja, classificamos essas leis como mais próximas ou menos próximas da Economia Solidária levando em consideração as variáveis que são contextos de influência no entendimento/reconhecimento destas.

(O mesmo que será usado para os ANAIS do ENIC)

Obs.: O resumo constante no relatório final deve ser colocado também no campo RESUMO (Ler instruções constantes na página da PRPG).

Deve conter: introdução, objetivos, metodologia, principais resultados e conclusões em, no mínimo 1.700 caracteres (COM espaços) e, no máximo, 3.400 caracteres (COM espaços). Não deve conter equações ou figuras.

PALAVRAS CHAVE: Economia Solidária, Políticas Públicas, Contextos de Influência.

Page 2: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

INTRODUÇÃO

Diversos estudos e pesquisas vêm apontando a emergência de experiências coletivas de trabalho e produção nos espaços rurais e urbanos, organizadas sob a forma de cooperativas, associações, clubes de troca, fábricas recuperadas (empresas autogestionárias), redes de cooperação, entre outras, que realizam atividades de produção de bens, prestação de serviços, finanças solidárias, trocas, comércio justo e consumo solidário. Conhecida como Economia Solidária esta é ainda apoiada por agentes externos como organizações da sociedade civil (ONG’s), igrejas, incubadoras universitárias, movimentos sociais.

A expressividade deste fenômeno também se faz presente nas ações do poder público, principalmente quando destacamos a adoção de políticas, programas e ações de apoio à economia solidária em diversos ministérios e secretarias federais, estaduais e municipais. Podemos dizer que sua maior visibilidade em termos de política pública é dada a partir da criação em 2003, de uma Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES), vinculada ao Ministério do Trabalho e Emprego. No entanto, não se restringe a este espaço institucional e a essa esfera governamental.

De acordo com um estudo realizado pelo MTE/IPEA/ANPEC1 em 2005, foram identificados 24 programas e ações que estavam sendo executadas pela administração direta do Governo Federal (ministérios, secretarias, departamentos e coordenações) de apoio à economia solidária ou programas e ações nos quais se verificou uma complementação e transversalidades de ações nesta temática. O número dessas ações aumentou consideravelmente até o ano de 2010, como podemos ver em um levantamento realizado pelo Fórum Brasileiro de Economia Solidária – FBES2. Este levantamento de ações de economia solidária partiu de dados do SIAF3 e identificou 138 políticas, programas e/ou projetos do governo federal que tem relação com ações de economia solidária, sendo que apenas 11% dessas ações são exclusivas do Ministério do Trabalho e Emprego.

Em relação à esfera governamental, de acordo com a Rede Nacional de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária, em 2007 foram levantadas informações de 87 administrações públicas (governos estaduais e municipais) que executam algum tipo de ação ou programa de economia solidária4. Este número também aumentou até 2010, chegando a 114 administrações públicas que executam ações de economia solidária, sendo que em 06 governos estaduais e em 22 governos municipais foram criadas leis que instituem ou um programa ou uma política de economia solidária (FBES, 2010; CARNEIRO, 2012).

Com este aumento no número de administrações públicas adotando ações de economia solidária, alguns estudos começam a surgir para analisar este fenômeno, destacando por um lado, a formação de agenda (COSTA, 2008), a disseminação de políticas locais (BITELMAN, 2008) ou a vontade política do governante na implementação dessas políticas (GODOY, 2009; 2011), e por outro, análises de avaliações dessas políticas, tanto em seu nível de estruturação (ARAÚJO...[et al], 2005) e dos desafios de sua implementação (MONTEIRO, 2009) ou do processo de construção e viabilidade (NISHIMURA, 2005; GOERCK, 2009), quanto da formalização dos EES (PROCHET, 2009), do marco legal e a ação da burocracia pública (MARCONSINI, 2008), de indução de desenvolvimento local (LEITE, 2007) ou de efeitos dessas políticas sobre o significado do trabalho (BARBOSA, 2006).

1 MEDEIROS, Alzira “Programas e ações de apoio à economia solidária e geração de trabalho e renda no âmbito do governo federal – 2005 (relatório final do convênio MTE / IPEA/ANPEC – 01/2003)

2 Este levantamento fez parte do documento: “Secretaria Especial de Economia Solidária - Documento propositivo para implantação e estruturação - Brasília, dezembro de 2010”, que foi enviado à Presidenta Dilma Rousseff para a criação de uma secretaria especial de economia solidária. Outras informações no sitio www.fbes.org.br 3 Sistema de Administração Financeira – SIAF. Estas consultas podem ser realizas a partir de um portal na web que oferece uma série de serviços e informações. Ver o sitio: www.tesouro.fazenda.gov.br/siafi/index.asp4 Dados fornecidos pela Rede de Gestores de Políticas Públicas de Economia Solidária, e publicados em BITELMAN,Marina F., 2008.

Page 3: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

A pesquisa ora apresentada partiu do diálogo com estes estudos e procurou destacar que tão importante quanto essas análises de inclusão da economia solidária na agenda política e as análises sobre suas avaliações, são as análises sobre os seus contextos (socioeconômico, político institucional e sociopolítico), bem como as principais configurações que formam o desenhos institucional das políticas de economia solidária.

Isto porque, como mostra CARNEIRO (2012), a presença de projetos políticos distintos e em disputa pode influenciar no entendimento e no tipo de apoio dado à economia solidária. Assim, não é o caso apenas de analisar as formas de inclusão na agenda política ou a avaliação da execução das mesmas, mas destacar que essa inclusão e determinada avaliação pode representar ou ser conseqüência da presença de distintos atores e projetos políticos, que darão diferentes contornos, reconhecimentos e apoio às ações de economia solidária.

Neste caso, a inclusão da economia solidária na agenda política não indica necessariamente a execução de ações alternativas e emancipatórias ou assistenciais e funcionais ao mercado, mas essas ações e entendimentos estarão dependentes dos atores envolvidos na construção da política. Assim, se a economia solidária passa a ser incluída na agenda política, qual foi o problema percebido para a adoção de ações de economia solidária? E que sentido é dado à economia solidária como resolução do problema percebido? Qual o desenho institucional disponibilizado?

As diferenças em termos de entendimento das políticas de economia solidária podem levar ações desenvolvidas pelo poder público em direção oposta à demanda e necessidades dos grupos e trabalhadores envolvidos com estas experiências econômicas. Neste caso, não se deve apenas promover ações que se intitulam ser de economia solidária ou voltadas para coletivos produtivos autogestionáros, mas deve-se também reconhecer suas demandas específicas e suas reivindicações de reconhecimento da economia solidária como um direito – o direito do trabalho associado – e por conseqüência, de adoção de ações próprias para este campo.

Em síntese, podemos agrupar três formas que nos possibilitam analisar os entendimentos das políticas de economia solidária.

A primeira de ordem mais externa à economia solidária se relaciona com o contexto socioeconômico e a ideia da economia solidária ser uma das soluções encontradas e disponíveis (entre outras) para a minimização de problemas presentes neste contexto. Ou seja, essa primeira forma de entendimento se relaciona com a percepção do problema que a política de economia solidária irá atuar, a partir de um contexto no qual o problema está inserido. Neste caso, as percepções do problema e das soluções estão inseridas no contexto mais amplo ou externo à economia solidária, onde os atores (seus interesses, organizações e disputas com outros atores) têm pouca importância.

Esta concepção entende que as políticas de economia solidária devem realizar ações que propiciem a organização dos grupos informais dentro do marco regulatório da economia de mercado, ligada ao paradigma do assalariamento e da conformação do mercado de trabalho. É uma visão estritamente econômica, com o objetivo de formação de empreendedores com lógica de eficiência econômica enquanto um negócio produtivo (CARNEIRO, 2012; MARCONSIN, 2008; ARAÚJO e SILVA, 2005; FILHO, 2006a,b). Denominamos esta concepção das políticas públicas como utilitária-insercional-competitiva (CARNEIRO, 2012).

Uma segunda forma, ainda de ordem mais externa, tem relação com um contexto político institucional. Este contexto sugere a discussão sobre a presença de filtros institucionais, principalmente quanto indicamos em qual pasta governamental a ação de economia solidária está inserida. Este ponto é importante, pois apesar da existência de uma Secretaria Nacional de Economia Solidária não temos uma política norteadora para esta, sendo a interface com outras políticas a base mais comum das ações. Neste sentido, a política de economia solidária criada nos municípios tem diferentes localizações institucionais. Os filtros institucionais podem influenciar no tipo da política, uma vez que encontramos em várias pastas governamentais uma cristalização de procedimentos e formas de reconhecer os problemas que serão alvos de ações.

A localização institucional da política de economia solidária, além de indicar possíveis filtros institucionais, indica também a posição das políticas de economia solidária na estrutura municipal, ou

Page 4: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

seja, destaca nos municípios como a economia solidária está inserida nos planos estratégicos do governo. Neste caso, outro fator ganha em importância, principalmente quando destacamos a categorias vontade política do governante em criar e implementar tal política (diferentes partidos podem incentivar de forma diferenciada as ações).

Neste caso, não apenas a localização institucional deve ser levada em consideração para avaliar os filtros e a concepção da política de economia solidária, mas também a ideia de uma tradição ou maior vinculação da administração e do contexto político institucional a determinado projeto político que a reconhece, cria a política e a inclui em determinada pasta governamental.

Este contexto na verdade aponta para o papel do Estado em relação à promoção da economia solidária como política pública. Dependendo da forma de apoio, natureza da política, abertura para participação da sociedade civil e gestão da política, poderemos situar especificidades nas ações que não terão relações internas à economia solidária, mas sim uma influência externa, dada pelo contexto político institucional.

Por sua vez, uma terceira forma de analisar os entendimentos das políticas de economia solidária, e esta de ordem mais interna à economia solidária, se relaciona com a atuação de atores, principalmente os que formam a organização sociopolítica da economia solidária. Neste caso, o entendimento ou percepção do contexto do problema passa por um processo social de construção do problema, no qual estão presentes atores diversos. Assim, a percepção do contexto do problema e das soluções está inserida no processo social de construção do problema.

Esta segunda concepção entende as políticas de economia solidária para além do paradigma do assalariamento, uma vez que pretende responder a estratégias territoriais de desenvolvimento em torno de fomento a uma outra dinâmica econômica que conte com diferentes princípios, com novas institucionalidades e marco regulatório apropriado. É uma visão que busca associar a dimensão econômica e a dimensão política com o objetivo de construção e fortalecimento de cadeias e redes produtivas locais que integre diferentes dimensões no desenvolvimento de um território. A dimensão política passa a ter grande importância, pois indica uma atuação no espaço público, onde a comunidade busca maior autonomia frente ao Estado e ao mercado, de modo que o apoio destes seja com o objetivo de fortalecer e reconhecer as particularidades e diferenças ao invés de tentar moldá-las às formas institucionais já presentes na economia de mercado (CARNEIRO, 2012; SILVEIRA, 2010; FILHO, 2006a,b). Denominamos esta concepção das políticas públicas como sustentável-solidária

Estas três formas de analisar os entendimentos das políticas de economia solidária podem ser elucidadas a partir da análise de três diferentes contextos presentes na formulação e implementação das políticas públicas de economia solidária.

O primeiro contexto é o socioeconômico, que retrata as condições sociais e econômicas dos municípios em que estão inseridos os EES e as políticas de economia solidária. Assim, dialoga com as discussões que colocam a economia solidária como uma resposta a fatores ligados ao contexto socioeconômico, ou seja, as experiências de economia solidária representam respostas emergenciais que trabalhadores encontram para suprirem outras formas de renda e trabalho, e assim, as políticas criadas estariam de acordo com este entendimento.

Um segundo contexto é o que chamamos de político institucional, que procura situar as políticas de economia solidária nas administrações públicas municipais, de modo que possamos ter uma ideia sobre as situações em que a economia solidária entra na agenda política e em que local se situa na administração municipal.

Por fim, um terceiro contexto situa as políticas de economia solidária diante dos próprios EES e dos principais atores que formam a organização sociopolítica da economia solidária. Ressalta um elemento presente na sociedade civil e nas teorias de ampliação da democracia, com a inclusão de espaços institucionais participativos que possibilitem a participação da sociedade civil na formulação e implementação das políticas públicas.

Page 5: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Neste sentido, a pesquisa lançou o desafio de mapear as políticas municipais de economia solidária, com o objetivo de destacar as principais configurações e contextos que marcam principalmente sua fase de formulação e construção do desenho institucional. Para além de mapear e indicar seus contextos, esta pesquisa procurou classificar as políticas municipais de economia solidária diante de três dimensões que formam uma política: a natureza, o desenho e a gestão. Pretende-se com isso, ter um retrato das políticas municipais de economia solidária criadas atualmente no Brasil.

METODOLOGIA

A pesquisa foi dividida em quatro etapas, sintetizadas como: i) mapeamento das PPES; ii)levantamento das leis, classificação e ordenação das PPES; iii) levantamento dos contextos socioeconômico, político institucional e sociopolítico dos municípios mapeados; iv) análise dos dados.

Em relação ao mapeamento, o objetivo principal foi o de levantar o maior número possível de administrações municipais que possuem ou políticas, programas ou qualquer ação que tenha relação com a economia solidária. A partir de um levantamento já realizado em 2012 (CARNEIRO, 2012) que identificou 114 administrações públicas municipais, foram realizadas novas pesquisas afim de identificarmos a criação de novas políticas voltadas para a Economia Solidária. Para isto, partiu-se inicialmente do site de pesquisa google, e posterior confirmação em sites governamentais (no poder executivo e legislativo), site relacionados a redes de ONGs envolvidas com a ES. Com isso, conseguimos levantar contando com os 22 municípios trabalhados em CARNEIRO (2012) um total de 39 municípios com legislações implementadas voltada ao fomento das PPES. Ao todo foi possível identificar 130 administrações públicas municipais que apresentam alguma ação relacionada com a temática de economia solidária. A partir deste universo, optou-se em selecionar aqueles municípios que criaram alguma legislação que institucionalizam a política, ou programa ou ação de ES. Assim obtivemos um universo de 39 municípios5.

A segunda etapa buscou, portanto a confirmação da existência e publicação destas legislações. Para isto, foram consultadas em cada casa legislativa a publicação das 39 leis, procedendo com o download das mesmas para posterior análise e classificação. A classificação das leis partiu de uma matriz de análise de políticas públicas de economia solidária6. Esta matriz de análise possui 22 indicadores distribuídos em três dimensões da política: a natureza da política; o desenho da política; e a gestão da política.

Para esta pesquisa PIBIC não utilizamos todos os indicadores, aproveitando e remodelando 09 indicadores. A partir destes 09 indicadores foram atribuídas notas/escores que variaram de 0 a 2, sendo ordenadas as administrações públicas com maior nota final. O quadro abaixo, apresenta o quadro com os indicadores, bem como as notas atribuídas a cada um deles.

5 Indicamos no Anexo 1 os 39 municípios, bem como a pontuação obtida na classificação das PPES. Segue também o instrumento de análise das políticas.6 Um modelo desta matriz de análise foi utilizado na pesquisa de doutorado realizada por CARNEIRO, 2012, sendo que esta matriz tem interface com os dados disponíveis no II Mapeamento da Economia Solidária. De toda forma, ele será revista e ampliada para incluir novas questões de análise.

Page 6: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Quadro 1 - Escores para classificação das políticas de economia solidária

Variáveis Categorias / IndicadoresMenor associação –

nota 0Intermediário –

nota 1Maior associação –

nota 2Objetivos menor igual maiorÓrgão responsável outros locais departamento secretariaTipo de política projeto/ação programa políticaNúmero de ações 0 1 a 6 07 a 13Número de equipamentos

0 1 a 3 4 a 6

Quantidade de Parcerias 0 1 a 6 Mais de 06Existência de IP não - simTipo de IP outras IP conselho -

Escopooutros

delibera sobre planejamento e execução

deliberação da PP como um todo

9 IndicadoresNota máxima = 17(100%)

Após a classificação e ordenação dos municípios e suas PPES, foi realizada uma divisão de grupos tendo como parâmetro duas formas de medição: a primeira partiu-se da mediana das notas, dividindo os municípios em 02 grupos que possuem notas similares. Com isto, foi possível criar 02 grupos de municípios: um primeiro grupo com políticas mais próximas do tipo sustentável solidária; e um segundo grupo com políticas mais próximas do tipo de política utilitária-insercional-competitiva. A segunda forma dividiu os municípios em grupos que possuem acima de 70% dos pontos; de 50 a 70% dos pontos; e abaixo de 50% dos pontos. Desta forma foi possível observar quais municípios se aproximam mais do tipo de política sustentável-solidária. No anexo, apresentamos estas divisões.

A terceira etapa foi destinada ao levantamento dos 03 contextos que dialogam com a criação de PPES: os contextos socioeconômico, político institucional e sociopolítico. Para cada contexto foi utilizado fontes de dados diferentes. No quadro 2 abaixo, indicamos as principais variáveis utilizadas e as respectivas fontes de dados.

Quadro 2 – Resumo das Variáveis

Variáveis Categorias Fonte de dados

Socioeconômicas

1. IDH2. IDHM Educação3. GINI4. Extremamente pobres5. Renda per capita média6. Grau de formalização do trabalho das pessoas ocupadas7. Taxa de desocupação da população de 18 anos ou mais

de idade8. Percentual de ocupados de 18 anos ou mais que são

empregados com carteira 9. % de pessoas de 18 anos ou mais sem fundamental

completo e em ocupação informal

Atlas do Desenvolvimento Humano n Brasil – PNUD, 2013

Político institucional

1.Ano de criação da lei2.Situação de eleição do prefeito na gestão de criação da lei

- Legislações municipais;

Page 7: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

3.Localização institucional4.Partido do Prefeito

- Tribunal Superior Eleitoral

SociopolíticaEES

1.Grau de solidarismo (mediana dos 10 princípios escolhidos)2.Grau de ação sociopolítica (mediana das 3 ações sociopolítica escolhidas)3.Dimensão sociopolítica: grau de solidarismo + grau de ação sociopolítica

I Mapeamento da Economia Solidária no Brasil – SENAES, MTE, 2009.

Por fim, na quarta etapa, foi criado um banco de dados com todas as informações coletadas. Foi utilizado o software SPSS. A análise dos dados se restringiu às freqüências das variáveis de cada contexto. A proposta inicial da pesquisa previa ainda uma análise de correlações estatísticas entre os tipos de políticas e os diferentes contextos encontrados. No entanto, este objetivo foi recortado, devido entre outros fatores a falta de infra-estrutura e equipamento. De todo modo, os dados estão todos inseridos no banco de dados, possibilitando estudos futuros.

Os principais resultados da pesquisa são apresentados no tópico seguinte.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Apresentaremos os principais dados situando primeiramente a distribuição dos municípios em cada contexto. Na sequencia faremos uma descrição das PPES e a classificação dos municípios entre os tipos de política sustentável solidária e políticas mais próximas do tipo de política utilitária-insercional-competitiva.

Contexto socioeconômico

Em relação contexto socioeconômico e em particular sobre a distribuição territorial das PPES, a pesquisa exploratória (mapeamento) conseguiu identificar 39 administrações municipais que institucionalizaram, a partir da criação de uma legislação, ações de economia solidária. Como podemos ver na tabela 1 abaixo, as PPES estão concentradas no eixo Sudeste-Sul, com destaque nessas regiões para a presença maior das políticas nos Estados de São Paulo (25,6%), e os Estados do Rio Grande do Sul e de Minas Gerais (17,9% e 12,8% respectivamente). As regiões Norte e Nordeste possuem apenas 17% dos casos.

Tabela 1 – Distribuição dos municípios que possuem leis de economia solidária por Estados – ordem decrescente

Estados Freqüência

(N) Percentual

(%)SP 10 25,6RS 7 17,9MG 5 12,8MT 3 7,7SC 3 7,7BA 2 5,1PR 2 5,1AL 1 2,6CE 1 2,6ES 1 2,6PB 1 2,6

Page 8: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

PE 1 2,6RJ 1 2,6RO 1 2,6

Total 39 100Fonte: Elaborado pelo autor a partir da consulta da existência das leis

Em relação ao tamanho dos municípios, observamos que são na maioria de grande porte, concentrados nas faixas populacionais de 100 mil a 600 mil habitantes (59% dos municípios), com destaque para 06 municípios que possuem populações acima de 1 milhão de habitantes (Belo Horizonte, Campinas, Fortaleza, Guarulhos, Recife e Rio de Janeiro). São por isso, predominantemente urbanos, sendo que as menores taxas de urbanização são de municípios do Estado de MT (Apiacas, com 74,4% de população urbana e São José dos Quatro Marcos, com 76,4%). A soma total da população abrangida por alguma ação de economia solidária ultrapassou a marca de 26 milhões de pessoas, sendo que 98% residindo em áreas urbanas.

No que se refere aos dados socioeconômicos, podemos dizer que as ações e políticas de economia solidária no geral estão em regiões que apresentam bons indicadores sociais, principalmente quando destacamos o nível de desenvolvimento humano (IDH), o sub-índice IDH-M-Educação que mede o nível de escolaridade; a distribuição da renda (GINI) e a taxa de extremamente pobres. Estes dados levam em consideração intervalos médios para as cidades brasileiras. Assim, os dados espelham a situação dos municípios em relação aos demais municípios brasileiros7.

Tabela 2 – Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação aos intervalos agregados de indicadores socioeconômicos - Ano de 2013

Indicadores Intervalos Melhor indicador Pior indicador

IDH 33,3% N=29

5,1%N=2

IDHM Educação 74,4% N=29

5,1%N=2

GINI 84,6%N= 33

2,6%N=1

Extremamente pobres

71,8% N=28

-

Renda per capita média

46,2% N=18

-

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano – 2013- PNUD

Esta relação da presença das políticas em regiões com bons indicadores sociais parece se associar à própria presença maior de ações e políticas no eixo Sudeste-Sul (uma questão regional), e também, por se tratar de municípios de grande porte, independentemente da região, que por suposto conta com mais recursos e com infra-estruturas urbanas e serviços públicos mais desenvolvidos em comparação aos municípios de pequeno porte.

De todo modo, estes dados indicam contextos sobre o qual as ações de economia solidária são criadas e executadas e com isto pode levar a determinados reconhecimentos de problemas nos quais as ações de economia solidária são adotadas como possível solução.

Além destes dados socioeconômicos, é importante destacar os contextos relacionados ao mercado de trabalho. Como podemos observar na tabela 3, os municípios tem bons indicadores de mercado de trabalho, com altas taxas de trabalhadores formais (71,8% dos municípios possuem taxa de formalização entre 66% e 72%); 74,4% dos municípios possuem alto grau de trabalhadores com

7 Para isto foram utilizados os intervalos sugeridos pelo PNUD no Atlas do Desenvolvimento Humano. Os intervalos de cada indicador estão descritos no anexo 2

Page 9: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

carteira assinada ( acima de 51%), bem como taxas reduzidas de desocupados (7,7% dos municípios possuem taxas de desemprego entre 10,14 e 18,44, e 28,2% dos municípios possuem taxas de desemprego que variam de 0 a 5,75).

Tabela 3 – Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação aos intervalos agregados de mercado de trabalho - Ano de 2013

Indicadores Intervalos Melhor indicador Pior indicador

Grau de formalização

71,8%N= 28

2,6%N=1

% de ocupados com carteira assinada

74,4%N= 29

2,6%N= 1

% de desocupados

28,2%N=11

7,7%N=3

% de Informais e Fundamental incompleto

84,6%N=33

-

Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano – 2013- PNUD

Estes dados socioeconômicos e de mercado de trabalho vêm indicar uma diversidade de contextos em que podemos encontrar ações e políticas de economia solidária. De toda forma, apontam para contextos sobre os quais as ações de economia solidária podem ser interpretadas e reconhecidas. Sob este prisma, a economia solidária, além de se inserir em estratégias de combate a pobreza e geração de renda, pode ser interpretada também como uma ação e estratégia dos trabalhadores à falta de empregos, sendo, portanto uma resposta/alternativa ao desemprego.

Para cada uma desses contextos, podem ser criados caminhos alternativos na execução das ações, sendo que alguns contextos podem estar voltados para uma situação emergencial de subsistência, sendo em outros contextos, uma ação voltada para a formalização ou fortalecimento de empreendimentos econômicos já constituídos, mas com dificuldades de manter-se no mercado.

De todo modo, a princípio estes indicadores sociais contrariam em parte as perspectivas analíticas que colocam a economia solidária apenas como resposta emergencial de um contexto socioeconômico desigual. Ao contrário, como vimos, pelo menos nos municípios que criaram legislações de economia solidária, estes indicadores quando comparados com a média nacional, levam a entender que a criação de ações de economia solidária não representa apenas uma resposta conjectural ao contexto socioeconômico (desigualdade de renda, falta de empregos e etc), mas pode representar ações mais estruturantes, e por isso, podem ser criadas não se valendo apenas de fatores externos, mas podem levar em consideração fatores internos presentes na própria prática dos empreendimentos econômicos solidários.

Contexto político institucional

Em relação ao contexto político-institucional, e em especial a indicação do partido do prefeito, as ações e políticas de economia solidária estão localizadas principalmente em municípios administrados pelo Partido dos Trabalhadores (PT), representando 61,5% ou 24 casos. Abaixo mostramos a distribuição dos municípios em relação ao partido do prefeito.

Tabela 4– Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação ao partido do prefeito – ordem decrescente:

Partidos Freqüência (N) Percentual (%)

Page 10: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Partido dos Trabalhadores (PT) 24 61,5Partido Socialista Brasileiro (PSB) 3 7,7Partido Popular Socialista (PPS) 2 5,1Partido Democratas (DEM)* 2 5,1Partido Democrático Trabalhista (PDT) 2 5,1Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) 2 5,1Partido da República (PR)** 1 2,6Partido Progressista (PP) 1 2,6Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) 1 2,6Partido da social Democracia Brasileira (PSDB) 1 2,6Total 39 100%

Fonte: Tribunal Superior Eleitoral – TSE *Nota: antigo PFL.** Nota: antigo PL;

Estes dados podem vir a sugerir que as políticas de economia solidária fazem parte de um “leque” de ações do Partido dos Trabalhadores, uma vez que a grande maioria dos municípios tem este partido no poder executivo, ou ainda, serem ações ligadas quase que exclusivamente a partidos mais próximos do conceito de projeto político democrático participativo8.

De todo modo, apesar desta concentração do PT nas administrações municipais, é possível observar algumas diferenças que sinalizam particularidades nas administrações, que estão relacionadas tanto aos aspectos do fluxo político (a mudança na gestão), quanto nos aspectos institucionais, especialmente na localização institucional da política.

Em relação ao fluxo político, podemos notar que o ano de criação da lei tem forte relação com a indicação de 1º mandato do prefeito, o que leva ao entendimento de inovações na gestão, principalmente no inicio de mandato. De toda forma, é forte a porcentagem de leis criadas em situações de reeleições.

Tabela 5 - – Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação a situação de eleição do prefeito na gestão de criação da lei

 Situação do prefeito

Freqüência (N)

Percentual (%)

1° MANDATO 21 53,8REELEIÇÃO 15 38,5

Mesmo Partido 3 7,7Total 39 100,0

Fonte: Elaborado pelo autor

É interessante notar a relação entre o ano de criação da lei e a situação de eleição do prefeito. No caso de 1º mandato e a indicação de mudança de partido, temos 61,9% de leis criadas no início de mandato (dois primeiros anos) e na continuidade do partido com mudança do prefeito, em todos os casos teve-se a criação no início do mandato. No caso da reeleição, há um equilíbrio maior entre início (46,7%) e

8 A relação entre o partido dos trabalhadores e o projeto político democrático participativo se baseia nos estudos de GUIMARÃES (2004) sobre as culturas brasileiras da participação democrática. Além disso, baseia-se nos estudos que apontam sinergias entre governos municipais ligados mais ao campo da esquerda, principalmente o PT, e a presença de políticas participativas, como o orçamento participativo, demonstrando nestes casos, que o contexto político institucional é um dos fatores na determinação do desenho da política, da relação com a sociedade civil e dos efeitos redistributivos alcançados com tais políticas participativas (SANTOS, 2002; AVRITZER & NAVARRO, 2003; AVRITZER & WAMPLER, 2004; AVRITZER, 2008; AVRITZER 2010).

Page 11: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

fim de mandato (53,3%). Isto pode nos levar a dizer, que a mudança na gestão, seja ela do mesmo partido ou de outro partido é relevante para entender a criação de leis de economia solidária no início da gestão. Esta situação pode ilustrar o conceito de “janelas de oportunidade” de Kingdon (xx)

Tabela 6 - Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação ao período de criação da lei e a situação de eleição do prefeito

Inicio ou fim de

mandato - agregado

1° MANDATO

Mesmo Partido

REELEIÇÃO Total

Início

13 3 7 2361,9% 100% 46,7% 59%

Fim

8 0 8 1638,1% 0,0% 53,3% 41%

Total

21 3 15 39100% 100%  100% 100%

Fonte: Elaborado pelo autor

Em relação à localização institucional das políticas de economia solidária é interessante notar como as ações são de forma geral incentivadas nos municípios. Neste sentido, a política de economia solidária criada nos municípios tem diferentes localizações institucionais. Apesar da variedade de pastas governamentais, encontramos as políticas de economia solidária em três pastas principais que são gêneros de pastas relacionadas às questões do Trabalho e emprego; às questões de políticas sociais (e ultimamente chamadas de desenvolvimento social); e pastas que tem um caráter mais genérico de desenvolvimento econômico.

No caso da pesquisa, observamos a presença maior em pastas governamentais que aliam Desenvolvimento econômico e Trabalho (41%), seguido de pastas da assistência social/política social (28,2%). Pastas exclusivas do trabalho representaram 17,9% do universo da pesquisa. Por fim chama a atenção a presença de secretarias exclusivas de economia solidária (5,1%), o que já é uma novidade para esta temática e um avanço em sua estruturação como uma política própria.

Tabela 7 - Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação a localização institucional das políticas

SecretariasFreqüência

(N)Percentual

(%)Desenvolvimento Econômico e Trabalho 16 41,0

Assistência social / políticas sociais 11 28,2Trabalho e Emprego 7 17,9Economia Solidária 2 5,1Desenvolvimento Sustentável 1 2,6Total 37 94,9Sem especificação 2 5,1 Total 39 100,0

Fonte: Elaborado pelo autor

Page 12: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Contexto sociopolítico.

O conjunto de EES mapeados nos 39 municípios totaliza 17209, sendo que destes 64,5% são grupos informais, 19,2% são constituídos como associações e 13,4% são cooperativas. Sob este aspecto são grupos com atuação predominantemente urbana (84,4%), sendo apenas 8,7% com atuação exclusivamente rural.

Gráfico 1 - Distribuição dos EES em relação ao tipo de organização predominante

64,5

19,2 13,4

,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

70,0

%

Grupo Informal

Associação

Cooperativa

Fonte: Banco de dados do Mapeamento da Economia Solidária no Brasil – ECOSOL/CES -SENAES/MTE - 2007

As principais atividades econômicas estão ligadas a indústria de transformação, tendo destaque, neste caso a fabricação de produtos têxteis (23,5%), fabricação de produtos alimentícios e bebidas (10,8%), fabricação de produtos de madeira (8,5%) e reciclagem (7,2%). Já as atividades como a agropecuária, extrativismo e pesca representa 7,2%.

Gráfico 2: Distribuição dos EES em relação à principal atividade econômica

23,5

10,8 8,57,3

7,2

,0

5,0

10,0

15,0

20,0

25,0

%

FABRICAÇAO DE PRODUTOSTEXTEIS

FABRICAÇAO DE PRODUTOSALIMENTICIOS E BEBIDAS

FABRICAÇAO DE PRODUTOSDE MADEIRA

AGRICULTURA, PECUARIA ESERVIÇOS RELACIONADOS

RECICLAGEM

Fonte: Banco de dados do Mapeamento da Economia Solidária no Brasil – ECOSOL/CES -SENAES/MTE - 2007

Para além dos dados de atividade econômica, a pesquisa procurou identificar características específicas destes empreendimentos na gestão democrática e na relação e cooperação entre si e com a comunidade, ou seja, os dados que destacam os princípios da autogestão, cooperação e solidariedade

9 O Mapeamento da Economia Solidária no Brasil realizado entre 2003 e 2007 identificou a presença de 21.855 EES espalhados em 2.831 municípios.

Page 13: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

presente na prática dos EES. O gráfico abaixo traz os indicadores utilizados para identificar esses princípios solidários.

Gráfico 3: Relação dos EES aos princípios solidários

0 10 20 30 40 50 60 70 80

Assembléia

Participação nas decisões

Produção coletiva

Comercialização coletiva

Equipamento coletivo

Uso de infra-estrutura

Sobras divididas entre os trabalhadores

Preocupação com consumidor

Incentivo ou promoção comércio justo e ético

Reaproveitamento dos Resíduos no EES

Fonte: Banco de dados do Mapeamento da Economia Solidária no Brasil – ECOSOL/CES -SENAES/MTE - 2007

Podemos notar que a maioria dos EES possuem como prática algumas ações que exemplificam os princípios da autogestão (assembléias como instância decisória; Participação nas decisões cotidianas); o princípios da cooperação (os diversos usos coletivos, seja de produção, comercialização e etc) e da solidariedade com os próprios trabalhadores sobras divididas entre eles) e com a sociedade em geral (incentivo ao comércio justo; reaproveitamento de resíduos).

No caso da vinculação dos EES à ação sociopolítica, três categorias presentes no Mapeamento nos dão esta indicação. Podemos ver no gráfico abaixo, que encontramos uma vinculação dos EES a atividades sociopolíticas, principalmente em relação a redes e fóruns de articulação e na participação em ações comunitárias.

Gráfico 4: Vinculação dos EES a ação sociopolítica

0 10 20 30 40 50 60 70

Participação Redes oufóruns de articulação

Participaçãomovimentos sociais

Participação açãocomunitária

Fonte: Banco de dados do Mapeamento da Economia Solidária no Brasil – ECOSOL/CES -SENAES/MTE - 2007

De acordo com CARNEIRO (2012) ao analisar os EES é necessário destacar tanto sua dimensão econômica (dada a partir de seus princípios solidários) quanto sua dimensão política (dada por sua

Page 14: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

participação política e comunitária). É a partir da relação entre estas duas dimensões que, segundo este autor, teremos uma formação de uma organização sociopolítica da economia solidária que se articula de forma à influenciar nos desenhos das políticas de economia solidária. Então neste caso, é a relação entre os princípios solidários e a ação política dos ESS que podem levá-los a se constituírem como sujeitos sociopolíticos e potencializar o reconhecimento e o desenvolvimento de políticas de economia solidária que almejam ser alternativas e emancipatórias (tipo sustentável-solidária).

Neste sentido, apenas como levantamento desta relação, a pesquisa procurou evidenciar estas duas variáveis. Para isto agregamos os dez princípios solidários citados anteriormente e tiramos uma mediana10 desses princípios para cada município, de modo que foi possível classificar os municípios em dois intervalos que denominamos de grau de solidarismo alto e grau de solidarismo baixo 11.

Realizamos da mesma forma para a classificação da ação sociopolítica e denominamos de grau de ação sociopolítica alto e baixo. Assim, a tabela abaixo nos mostra a relação entre o grau de solidarismo e o grau de ação sociopolítica, tendo como base a agregação destas categorias nos 39 municípios.

Tabela 8 - Distribuição dos municípios que possuem PPES em relação aos princípios solidários e à vinculação dos EES a ação sociopolítica

Grau de ação sociopolítica 

Grau de solidarismo

TotalAté 50%Acima de

50%

Até 50% 8 12 20

40,0% 60,0% 100,0%

53,3% 50,0% 51,3%

Acima de 50%

7 12 19

36,8% 63,2% 100,0%

46,7% 50,0% 48,7%

 Total

15 24 39

38,5% 61,5% 100,0%

100,0% 100,0% 100,0%

Como podemos observar na tabela acima, os municípios que criaram leis de economia solidária em geral possuem EES que tem alto grau de solidarismo (61,5% dos municípios, ou 24 casos possuem EES classificados como de alto solidarismo), o que pode representar que nesses municípios tem-se uma maior identidade ou organização em torno da economia solidária. Por sua vez, em relação a ação sociopolítica, temo 48,7% dos municípios, ou 19 casos possuem EES classificados como de alta ação sociopolítica.

Quando destacamos a relação do grau solidarismo (princípios solidários) com o grau de a ação sociopolítica (organização sociopolítica) notamos uma pequena relação entre alto solidarismo e alto

10 Escolhemos a mediana, pois alguns princípios poderiam influenciar na média e não levar em consideração as diferenças encontradas entre os princípios, sendo que o que nos interessa é a presença conjunta dos diferentes princípios solidários.11 Os municípios que criaram leis indicados como alto solidarismo possuem EES que tem mais de 50% de presença de princípios solidários, enquanto os municípios indicados como baixo solidarismo, possuem EES que tem menos de 50% de presença de princípios solidários.

Page 15: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

grau de ação sociopolítica12·.

Classificação das PPES

Para fazer esta classificação buscamos analisar as leis a partir de 3 dimensões:

A natureza política: buscamos destacar os objetivos contidos nas leis, estes, que engloba as diretrizes gerais que buscam atender ao público impactado por esta legislação, indicando a que se propõe a política e para qual público esta se destina.

Desenho da Política: neste, buscamos identificar onde está localizada e como se estrutura institucionalmente os aparatos para a execução das políticas. Para isto, vamos destacar e analisar os Órgãos responsáveis pela execução da política, o Tipo de Política, as Ações, os Equipamentos.

Gestão da Política: nesta dimensão, buscamos identificar a quantidade de indicações de parcerias/convênio na execução da política com outras instituições ou entidades previstas e se há a integração de instituição participativa na intenção de constatarmos se existe gestão participativa da sociedade civil nos processos da política.

Como mencionado no tópico metodologia foram criadas variáveis e categorias que serviram de indicadores para que pudéssemos classificar as políticas enquanto mais associada à economia solidária – sendo incluída na definição sustentável-solidária – e enquanto menos associada à economia solidária – sendo incluída na definição utilitária-insercional- competitiva. No decorrer da análise de cada dimensão, indicamos as situações que consideramos como mais ou menos associada a economia solidária. A classificação das políticas se deu a partir da indicação destas situações, onde cada uma delas recebeu uma nota (de 0 a 2), de modo que no somatório final pudéssemos ordenar os municípios e classificá-los. .De acordo com os dados e notas atribuídas, chegamos a seguinte ordem:

Quadro 3: Classificação dos Municípios

Municípios Ordem13

Montes Claros 1Maceio 2,5São José dos Pinhais 2,5Itajaí 4,3Novo Hamburgo 4,3Varginha 4,3Congonhas 7,3Rio de Janeiro 7,3São Carlos 7,3Apiacás 10,3Contagem 10,3Rio Claro 10,3Diadema 13,2

12 Independente da direção desta relação, ou seja, a leitura da tabela nas linhas e colunas.13 Quando indicamos na ordem números fracionados, como por exemplo, 2,5, isto indica que os municípios obtiveram a mesma nota, e assim estão na mesma posição. A fração 0,5, indica 02 municípios na mesma posição; a fração 0,33 indica 03 municípios na mesma posição; a fração 0,25 indica 05 municípios na mesma posição; a fração 0,2 indica 05 municípios na mesma posição.

Page 16: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Guarulhos 13,2Osasco 13,2São José dos Quatro Marcos 13,2Tangará da Serra 13,2Gravataí 18,3Joinville 18,3Santo André 18,3Fortaleza 21,25Londrina 21,25Porto Velho 21,25Recife 21,25Canoas 25,5São Bernardo do Campo 25,5Cachoeirinha 27,2Camaçari 27,2Chapecó 27,2Santa Maria 27,2Vitória da Conquista 27,2São José do Rio Preto 32Belo Horizonte 33,5Cariacica 33,5Caxias do Sul 35,3João pessoa 35,3Viamão 35,3Hortolândia 38Campinas 39

A Natureza Política: objetivos

Nesta etapa, buscamos analisar os objetivos e se estes estão próximos das diretrizes que foram discutidas quanto ao que se entende por Economia solidária. Para isso, destacamos o que foi levantado na II CONAES (2010) e a partir dessas discussões criamos um modelo de objetivos que são considerados do campo da economia solidária no sentido sustentável solidário. Neste sentido que iremos avaliar positivamente as leis. A partir deste, analisamos os objetivos nas leis municipais voltadas a Economia Solidária e avaliamos quais estão mais próximos desta.

Em uma análise geral das leis, podemos notar que em maior parte dos objetivos encontra-se uma semelhança ou até mesmo uma cópia entre elas. Dados que podemos conotar como preocupante visto que cada município detém a sua realidade e diferentes contextos. Tal acontecimento, talvez, seja um reflexo da rápida expansão da Economia Solidária (entendida neste termo) e da criação de suas leis em diferentes locais sem antes um estudo intenso da realidade endêmica de cada município. Ou seja, vários municípios aproveitando a abertura de uma política que vem ganhando espaço, implementam esta em meio a sua propagação visto a oportunidade de criar políticas. Todavia, tal política pode não vingar de forma adequada a partir da lógica de que estas podem não se enquadrar nas necessidades locais.

Apesar desta situação anteriormente levantada, a partir dos dados levantados, podemos notar que no geral as leis acabam tendo uma razoável disparidade no que diz respeito a estas estarem mais próximas ou não das diretrizes entendidas como Econômica/Solidária. Os municípios da região Sudeste principalmente e Sul, lideram dentro dos que estão similar ou acima do modelo que usamos como mais próximos da Economia Solidária. Na região nordeste, podemos destacar três Municípios que estão dentro dessa faixa: Maceió que está similar ao modelo, Fortaleza e Vitória da Conquista que

Page 17: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

estão acima do modelo.

Seguindo a consideração de proximidade com o modelo, dos 39 municípios com leis voltadas a Economia Solidária, conseguimos constatar que a maioria está similar ou acima das diretrizes solidárias sustentáveis. Ou seja, maioria dos Municípios em suas leis estão seguindo esta linha. Como podemos ver na tabela a seguir:

Tabela 9: Distribuição dos objetivos

Objetivos Quantidade Percentual

Acima modelo 14 35,9

Similares ao modelo 8 20,5

Abaixo do modelo 17 43,6

Total 39 100,0

Dos municípios que tem baixa proximidade com o modelo, alguns só criaram objetivos/ações que estão longe de ser considerado um avanço se comparado as leis que estão acima do modelo. Por exemplo, os municípios que estão nas últimas colocações do escore supracitado que apresenta as posições dos municípios na classificação das PPES. Como um todo, as leis se voltam a objetivos específicos que são tomados de poucas proporções e fogem dos princípios solidários e focados exclusivamente na visão da economia solidária como delimitada a indivíduos excluídos e de baixa renda ou como uma simples forma de expandir canais de trabalho.. Alguns Promovendo ações parciais como simples organizações de feiras ou eventos. Segue exemplos:

Lei de Hortolândia:

“Institui o Projeto de Economia Solidária - PES com o objetivo de Potencializar e Desenvolvimento de atividades econômicas por grupos organizados de baixa renda.”

Lei de Viamão:

“Art. 1º - Fica criada a Lei das Feiras da Economia Solidária no município de Viamão, com o objetivo de normatizar a realização das feiras, fomentar a geração de trabalho, e a oferta de espaços de comercialização.”

Lei de Cariacica:

“Institui a Semana Municipal de promoção e conscientização da Economia Solidária e dispõe sobre a sua comemoração”

Desenho da política

No Desenho da Política iremos analisar a estrutura institucional arquitetada e sua linha estratégica para promover ações e equipamentos para a execução dos objetivos a que se propõe as políticas implementadas.

Um dos meios de analise foi investigar o órgão responsável pela execução da política. Este é um fator importante a ser analisado pois a partir do local a qual foi inserida a gestão da política, podemos observar a visão estratégica e a qual direção esta política está encaminhada. Ou até mesmo, podemos avaliar a importância que a política tem para o município a partir da ideia de que se esta está inserida em um órgão mais estruturado e com maior aporte de decisões, ela está dentro de uma visão de razoável ou alta utilidade pública.

Em relação ao campo estratégico que envolve os órgãos, dividimos em 4 dimensões: De desenvolvimento, trabalho, assistência social e outros. A partir da análise dos 39 municípios, constatamos que maioria está inserido na estratégia de desenvolvimento, estratégia esta que possui

Page 18: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

algumas diferenciações no que diz respeito a ser de desenvolvimento social, econômico, sustentável ou não especificado. Dessa estratégia, maioria está associada a de desenvolvimento econômico, ou seja 12 municípios. Isso indica que no campo da atuação estratégica, o maior foco ainda é o contexto econômico. Apesar deste fato, não podemos considerar que a política vem a ser massificada nesse eixo, pois nos demais traços dentro das leis, podemos identificar outros focos mesmo esta política estando inserida em um órgão de cunho voltado propriamente a economia. Todavia, o direcionamento econômico do órgão condutor, pode ser visto como tendencioso a um esquecimento de princípios solidários. Ainda, vale ressaltar o município de Maceió que criou uma Secretaria de Economia Solidária, esta, que pode ser um ponto de referência na maior estruturação local da Economia Solidária caso alcance resultados positivos.

Para apurarmos os diferentes locais institucionais onde estão inseridos as políticas, ou seja, os órgão responsáveis por executá-las, dividimos em 7 tipos de órgãos institucionais. Desses órgãos, grande maioria se tratando de vinculação, está associado a Secretarias 24 (61,5%) e logo após departamentos 5 (12,8%). Esse, ao nosso ver, é um ponto extremamente positivo que conseguimos apurar, pois as secretarias são dentre os órgãos que levantamos, um dos mais apropriados ou estruturados para aportar e conduzir uma política. Visto o grau de autonomia e estruturação. Segue quadro ilustrativo:

Tabela 10: Distribuição dos Órgão Responsável

Órgão responsável Quantidade Percentual

Secretaria 24 61,5

Departamento/diretoria 5 12,8

Outros orgãos 10 25,6

Total 39 100,0

Outro dado que analisamos foi o Tipo de Política, onde dividimos em 3 aspectos: Política (mais estruturada e envolve um conjunto de ações e equipamentos voltados a Economia Solidária); Programas setoriais (isolados setorialmente), intersetoriais (executado em mais de uma área de ação governamental) ou articulado (que incorpora outras ações do governo); Por último, projetos e ações (englobam ações que não são exclusivas da Economia Solidária e faz parte geralmente de um outro programa). A partir desta divisão e da análise das leis, constatamos que a maior parte dos municípios integram essas leis no que desenhamos como projetos e ações que contam com 48, 7 % (19) dos casos, em segundo vem a política com 33,3 % (13) dos casos, e as faixas de programas ficaram com 17,8 % (7) dos casos. Isso nos dá a ideia de que a Economia Solidária ainda não é vista na sua formação enquanto política como uma política que pode integrar por si só uma variável de ações que podem mudar uma realidade, sendo atrelada muitas vezes, como mostram os dados, como uma política auxiliar as demais estratégias. Todavia, é relevante o número de leis que agregam em sua composição um número de ações que podem conduzir a Economia Solidária para um caminho de avanço.

No que se refere as ações, podemos notar assim como nos objetivos, uma grande escala de semelhança entre as leis. Principalmente entre ações como educação/formação, assistência técnica e jurídica, cessão de espaços para comercialização e produção, acesso a crédito, processos de incubação, parcerias/convênios com entidades públicas ou privadas. Isso pode se justificar quando relevamos que ações como essas foram tidas como diretrizes no que foi levantado na CONAES. Ou, podemos levantar a discussão anterior em que essas leis acabam sendo copiadas em vez de passarem por estudos mais profundos das necessidades locais. De todo modo, ações como essas podemos citar como vitais em qualquer realidade onde queria se expandir e sustentar a Economia Solidária.

Outro dado que levantamos referente as ações, e que aponta uma relevante diferença entre os diferentes polos, é em relação a quantidade de ações. Para fazer essa análise, também usamos como referência as diretrizes/eixos da CONAES, e o modo de classificar vimos no quadro seguinte que trata

Page 19: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

das notas/escore para classificar as PPES. Constatamos que 61,5 % (24) ações estão acima de 06 ações, e que 35,9 % (14) ações estão entre 1 e 6 ações. Ainda, constatamos que 2,6 (1) Município “não tem ações”. Neste caso, trata-se da criação do Conselho de João Pessoa que não especificou na lei as ações.

Tabela 11: Número de Ações

Número de ações Quantidade Percentual

Acima de 06 ações 24 61,5

de 1 a 06 ações 14 35,9

Nenhuma ação 1 2,6

Total 39 100,0

Desse modo, notamos que neste quesito, as leis estão próximas da Economia Solidária já que está prevista nelas ações que se enquadram ao delineamento dado pela CONAES. Certo é, que quanto mais ações inseridas no eixo Econômico/Solidário, maior a possibilidade de impactar as variáveis que envolvem a Economia Solidária. Contudo, vale ressaltar novamente a importância de levantar indicadores que mostrem o que está mais pendente ou mais avançado em determinada localidade, pois assim, pode-se, dentre essas ações, priorizar umas ou outras de acordo com a necessidade e assim tomar medidas que distribua de forma adequada o empenho das ações. Outro objeto que procuramos estudar e constatar nas leis que reflete ações estruturantes no apoio a Economia Solidária é o que denominamos de Equipamentos Públicos. Que são compostos em estruturas ou instrumentos legais que referenciam ou viabilizam ações permanentes voltadas a Economia Solidária como é o caso de: Centros Públicos de Economia Solidária; Centrais de Comercialização ou comercio justo e solidário; Incubadora de Empreendimentos municipal; Oficinas de produção e serviços; Banco do povo; Selo da Economia Solidária; Permissão, viabilização ou aluguel de espaço e edificações; Celebração de convênio ou termo de compromisso / cooperação técnica e Fundo. No que trata estes equipamentos, nossa analise constatou pontos que consideramos positivos visto que 36 dos 39 municípios disponibilizam alguma forma de equipamento. Mesmo nos casos em que disponibilizam de 1 a 3 desses equipamentos, acaba mesmo que de forma limitada, disponibilizando um meio estruturado para auxiliar as iniciativas. Vendo por um lado negativo, em casos que constam só cessão de espaços e Celebração de convênios por exemplo, pode ser um mecanismo que facilite iniciativas empreendedoras que podem não estar ligadas integralmente ao campo Econômico/Solidário. Visto que, esta iniciativa pode englobar demais instrumentos e assistências (técnicas, jurídicas) que não são propriamente do campo da Economia Solidária e a falta de outros equipamentos que identifiquem ou propaguem os preceitos da Economia Solidária como os Centros Públicos ou incubadoras podem ser a falta de um ponto chave para encaminhar as iniciativas empreendedoras dentro dos princípios e mecanismo solidários. Mas claro, isso vai depender do atendimento ou não aos princípios solidários que vão constar entre os objetivos e ações nas leis como forma de ter acesso a esses espaços e convênios.

Através do nosso instrumento de análise, conseguimos constatar que 46,6 % (17) dos municípios possuem mais de 3 equipamentos. Isso nos indica que boa parcela das leis está prevendo formas estruturantes que podemos levantar como satisfatórias se consideramos que o acesso e apoio a Economia Solidária está contando com elementos fixos e predeterminados abertos para um público alvo. Ou seja, no geral, esses municípios contam com Centros Públicos, Incubadoras e Centros de

Page 20: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

comercialização justa e solidária. 48,7 % (19) dos municípios contam com a faixa de 01 a 03 equipamentos. 7,7 % (3) municípios não especificam equipamentos.

Gestão da Política

Como já ressaltamos, nesta dimensão, buscamos identificar a quantidade de indicações de parcerias/convênio na execução da política com outras instituições ou entidades previstas e se há a integração de instituição participativa na intenção de constatarmos se existe gestão participativa da sociedade civil nos processos da política.

Levantamos que, 20,5 % (8) dos municípios possuem mais de 06 parcerias. Enquanto 71,8 % (28) possuem de 01 a 06 parcerias e 7,7 (3) não possuem parcerias. O resultado aponta que a grande parcela dos municípios estão em um nível intermediário no que se trata delinear integrações de suporte com outros órgão ou entidades no apoio a gestão da política.

Conseguimos apurar que entre as principais parcerias estão: Outros órgãos do mesmo governo executor da política; Outros órgãos de outra esfera federativa de governo; Universidades (públicas ou privadas); Empresas privadas; Empresas públicas ou estatais e Organizações Não Governamentais (ONG’s). Com isso, podemos perceber que ao pensar a política, os municípios entendem que há uma necessidade de buscar essas parcerias seja por uma limitação de sua atuação, seja como uma forma de unir forças entre as demais áreas que possam agregar demais aparatos específicos do seu campo de atuação e que pode contribuir com a Economia Solidária.

Um ponto de grande importância na Gestão da Política que buscamos analisar é se há a existência de instituições participativas. Vemos como importante, pois um dos lemas da própria Economia Solidária é a gestão participativa onde todos tem voz e vez. E a participação da sociedade nos rumos e interesses das políticas torna-se meio essencial para cristalizar os preceitos participativos/democráticos que fazem parte da essência Econômico/Solidária.

Ao analisarmos as 39 leis constatamos que 74,4 % (29) dos municípios possuem instituições participativas. É um número expressivo, porém, o que vai apontar se as PPES estão mais abertas a uma participação em conjunto com atores sociais é o escopo das decisões, escopo esse que iremos tratar mais à frente na pesquisa. 25,6% (10) das leis não previram instituições participativas como forma de controle e gestão da política. Outro ponto que levantamos foi identificar qual a instituição participativa, onde levantamos como exemplos para a pesquisa: conselhos, comitês, comissões, fóruns e redes. Em nossa pesquisa, constatamos que 56,4 % (22) das leis previram a criação de Conselhos como forma de instituição participativa. E 17,9 % (7) instituíram outras formas dentre as citadas anteriormente.

Quanto ao escopo da decisão, buscamos analisar sobre o que essa gestão participativa decide ou está envolvida. Para tanto, indicamos diferentes formas de participação:

1 - Na formulação da política como um todo

2 - No planejamento e na forma de execução das ações

3 - Na escolha ou definição dos parceiros da política

4 - No acompanhamento da gestão financeira da política

5 - No monitoramento e avaliação dos resultados da política

Consideramos como PPES mais aberta aquela em que a gestão participativa se dá com participação dos atores sociais em todos esses aspectos levantados, o seja, o item 1. Desse modo, quanto menos itens sobre esses aspectos como um todo menor a participação. A tabela seguinte indica a distribuição das freqüências sobre o escopo da decisão.

Tabela 12: Escopo da Decisão

Page 21: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Escopo da Decisão Quantidade Percentual

Deliberação da Política como um todo

13 33,3

Delibera sobre planejamento e execução

12 30,8

Outros 4 10,3

Total 29 74,4

Sem participação 10 25,6

39 100,0

Conseguimos identificar que em 33,3 % (13) das leis no que trata a gestão participativa, estas indicam a participação da instituição como um todo. 30,8 % (12) das leis contam só com o planejamento e execução das leis. 10 % (4) com outros aspectos e como já vimos 25,6 % (10) Não constou participação. Ou seja, podemos avaliar com bons olhos a maioria conter uma gestão participativa em todos os aspectos. Todavia, é preocupante uma boa parcela dessas leis não inserir uma gestão participativa. Podendo demonstrar com isso, que na forma de entender ou como pretender lidar com a Economia Solidária, está faltando um maior aprofundamento no sentido sustentável solidário da mesma, ou, que estas políticas acabam surgindo no calor de sua expansão sem antes haver uma adequação para implementação da mesma como já tratado anteriormente.

CONCLUSÕES

Trabalhamos nesta pesquisa com um fenômeno que vem tomando rápidas proporções tanto como um ator socioeconômico quanto um ator sociopolítico. Que faz parte de um anseio de mudança e/ou alternativa no modo de viver e fazer economia. Da forma que hoje é entendida e vem sendo trabalhada, é um campo bastante recente, mas que vem ganhando contornos e espaços em vários âmbitos sociais. E vimos que temos hoje um avanço da inclusão da economia solidária na agenda política.

Podemos observar que a maior parte das PPES encontram-se mais estruturadas nos municípios que apresentam uma maior porte populacional e se enquadram em um contexto predominantemente urbano dentro de regiões que apresentam bons indicadores sociais. Ainda, essas políticas se encontram onde o grau de solidarismo e organização dos EES está em um maior patamar. Indicando que o fator organização é um elemento importante para a reivindicação/inclusão de políticas estruturadas que atendam as particularidades dos grupos. Elementos estes, que se encontram em maior escala nas regiões Sudeste-sul. Tal fator, nos dá a dimensão de que essa ações para com a Economia Solidária não é, em essência, voltada para âmbitos onde a pobreza predomina e essa não pode ser só entendida como uma alternativa de gerar renda e trabalho para desamparados, ou entendida como uma resposta emergencial onde predomina a desigualdade socioeconômica. Ela vai além disso, como mostra os indicadores, podemos com isso levantar que a Economia Solidária engloba um campo que busca reestruturar e estruturar formas de lidar com a economia aliada a alternativas de ressignificação do trabalho, onde essas ações políticas, mais estruturadas, estão dentro deste conceito.

Page 22: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

Observamos que os diferentes contextos e variedades de entendimentos/reconhecimentos da Economia Solidária acabam sendo um fator determinante no desenho/contorno das políticas. Estas, que acabam em alguns casos não contempladas no cerne da questão econômico/solidária dentro dos seus princípios. Nos cabe repensar também, que além de uma relação com os contextos e entendimentos, essas legislações que se desdobram em políticas necessitariam antes de qualquer implementação, um esforço conjunto entre os movimentos que embarcam no campo econômico/solidário e atores políticos responsáveis por delinear as futuras implementações. Este, talvez, seja um caminho para uma política que de fato anseie as necessidades de determinados problemas que são comuns das diferentes localidades. Pois, não é só desenhar uma política baseada em diretrizes e escopos já deferidos, que estes, necessariamente vão trazer resultados. Deve-se, sim, trabalhar em meio aos preceitos solidários e seguir o que se insere neste contexto para atingir o que entendemos como Economia Solidária, porém, antes de tudo, reconhecer além dos problemas existentes, que a economia solidária é um anseio de proporcionar ao ser humano/trabalhador, uma oportunidade/alternativa de viver dignamente e trabalhar de uma forma mais humana/solidária.

Para esta pesquisa não foi possível realizar os cruzamentos e medidas de correlações estatísticas que nos possibilite uma análise mais aprofundada em relação a possíveis causas que afetam o reconhecimento do problema (o contexto) e os tipos de políticas criadas (sua natureza, desenho e gestão). De todo modo, os dados trazem importantes elementos para entender o quadro atual das políticas municipais de economia solidária, pelo menos naquelas localidades que criam leis e especialmente no que se refere os aspectos da formulação e institucionalização das políticas de economia solidária.

Por fim, cabe mencionar que os dados coletados nesta pesquisa têm importantes informações que podem ser aproveitados para futuras pesquisas, seja de caráter de iniciação científica, seja pesquisas de mestrado e também doutorado. Com satisfação, podemos finalizar este relatório de pesquisa, informando que os dados da pesquisa serão apresentado em forma de artigo no GT 8: Dimensões políticas e sociais da Economia Solidária do XII Congresso Luso-Afro-Brasileiro a ser realizado em fevereiro de 2015 em Lisboa, Portugal14.

14 Link do Congresso: http://www.conlab-ailpcsh.com/index.php/governacao-democracia-participacao/8-gt8-dimensoes-politicas-e-sociais-da-economia-solidaria. O GT 08 do congresso é coordenado por dois professores que são referência no Brasil e em Portugal em estudos sobre economia solidária e economia social.

Page 23: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

REFERÊNCIAS

AVRITZER, Leonardo & WAMPLER, Brian. Públicos Participativos: sociedade Civil e novas instituições no Brasil Democrático. In. Participação e Deliberação: Teorias Democráticas e Experinecias Institucionais no Brasil Contemporâneo. Vera Schattan & Marcos Nobre. (Org.) Editora 34. SP, 2004.

AVRITZER, Leonardo & NAVARRO, Zander. (orgs.). 2003. A inovação democrática no Brasil: o orçamento participativo. São Paulo: Cortez

ARAÚJO, Herton E. & SILVA, Frederico A. B. Economia solidária: um novo paradigma de política pública? In. In. Boletim Mercado de Trabalho. IPEA/MTE. Nº 28. Setembro, 2005.

BARBOSA, Rosangela Nair de C. A economia solidária como política pública: uma tendência de geração de renda e re-significação do trabalho no Brasil. São Paulo. Editora, Cortez, 2007.

BITELMAN, Marina Farkas. A Disseminação das Políticas Públicas Locais de Economia Solidária no Brasil: Os casos de São Paulo e Osasco. Dissertação de Mestrado apresentada à Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas, 2008.

CARNEIRO, Vanderson. Políticas Públicas Municipais de Economia Solidária e a Dimensão Sociopolítica dos Empreendimentos Econômicos Solidários. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em Ciência Política, da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte: [s.n.], 2012.

FBES - Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Secretaria Especial de Economia Solidária - Documento propositivo para implantação e estruturação - Brasília, dezembro de 2010. Versão eletrônica, disponível no sitio www.fbes.org.br

FILHO, G. C. F. Políticas públicas de economia solidária no Brasil: características, desafios e vocações. In: FILHO et al.(orgs.) Ação pública e economia solidária: uma perspectiva internacional. Porto Alegre: UFRGS, 2006a.

FILHO. G. C. F. Economia solidária e movimentos sociais. In: MEDEIROS, A.; SCWENGBER, A.; SCHIOCHET, V. (org.) Políticas Públicas de Economia Solidária: Por um outro desenvolvimento. Recife: UFPE, 2006b.

GIRARD, Christiane. O estudo sobre a Bahia e os municípios do Recife e Aracaju. In: MEDEIROS, A.; SCWENGBER, A.; SCHIOCHET, V. (org.) Políticas Públicas de Economia Solidária: Por um outro desenvolvimento. Recife: UFPE, 2006.

GODOY, Tatiane M. P. O espaço da economia solidária: a autogestão na reprodução das relações sociais e os limites da emancipação social. Tese de doutorado. Programa de pós-graduação em Geografia do Instituto de Geociências e Ciências Exatas, da Universidade Estadual Paulista, Rio Claro: [s.n.], 2009.

GOERCK, Caroline. Programa de economia solidária em desenvolvimento: sua contribuição para a viabilidade das experiências coletivas de geração de trabalho e renda no Rio Grande do Sul. Tese apresentada ao programa de pós-graduação da faculdade de serviço social da pontifícia universidade católica do Rio Grande do Sul, 2009.

GUIMARÃES, Juarez. As Culturas Brasileiras da Participação Democrática In. A participação em São Paulo. AVRITZER, Leonardo (org.). São Paulo: Ed. da UNESP, 2004.

KINGDON, J. Agendas, Alternatives and Public Policies. 2.ed. New York, 1995.

LEITE, Antonio Silvestre. O governo municipal como indutor de desenvolvimento local: o caso da economia solidária. Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de pós-graduação em desenvolvimento regional e meio ambiente do Centro universitário de Araraquara – SP, 2007.

MARCONSIN, Adauto. Política pública de economia solidária: uma política em construção. Tese

Page 24: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

de doutorado. Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas. SP, 2008.

MEDEIROS Alzira.; SCHWENGBER. Ângela; SCHIOCHET, Valmor. (org.) Políticas Públicas de Economia Solidária por um outro desenvolvimento. Recife: UFPE, 2006.

MELLO, Ruth Espínola Soriano de. Economia solidária: de movimento social à objeto de políticas públicas – limites e possibilidades na relação com o estado. Dissertação apresentada ao curso de pós-graduação em desenvolvimento, agricultura e sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, 2006.

MONTEIRO, Péricles Cerqueira. Economia solidária como política pública: desafios de uma construção - reflexões a partir da experiência baiana. Dissertação apresentada ao núcleo de pós-graduação em administração da Universidade Federal da Bahia, 2009.

PROCHET, Cláudia Solange Hegeto. Estudo das possibilidades jurídicas para formalização dos empreendimentos do programa de economia solidária de Londrina. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em serviço social e política social da Universidade Estadual de Londrina – PR, 2008.

SANTOS, B. S. Orçamento Participativo em Porto Alegre: para uma democracia distributiva. In Democratizar a Democracia. Os caminhos da democracia participativa. Reinventar a emancipação social. Para novos manifestos. Vol. 1. Boaventura de Sousa Santos(Org.) RJ, Civilização Brasileira, 2002.

SILVEIRA, Caio. Desenvolvimento local e novos arranjos socioinstitucionais. In: Políticas para o desenvolvimento local. DOWBOR,L & POCHMANN, M. (ORG). São Paulo. Ed. Perseu Abramo, 2010.

SCHIOCHET, Valmor. Institucionalização das Políticas Públicas de Economia Solidária: Breve trajetória e desafios. In. Boletim Mercado de Trabalho. IPEA/MTE. Nº 40. Agosto/2009.

SCHWERNGBER, Ângela. Diretrizes para uma política pública de economia solidária no Brasil: a contribuição da rede de gestores. In: FILHO et al.(orgs.) Ação pública e economia solidária: uma perspectiva internacional. Porto Alegre: UFRGS, 2006.

SCHNEIDER, Anne, L. INGRAN, Helen. Policy design for democracy. University Press of Kansas, 1997.

Page 25: Diretrizes e desenhos das políticas públicas de economia solidária

ANEXOS