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Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista 2ª edição

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Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista2ª edição

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Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista2ª edição

Curitiba, 2014

Grupo Marista

realização: apoio:

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Índices para catálogo sistemático:1. Diretrizes da ação evangelizadora da Igreja:

Cristianismo 253.78

Diretrizes da ação evangelizadora do GrupoMarista / Grupo Marista. -- 2. ed. --São Paulo : FTD, 2014.

ISBN 978-85-322-9301-5

1. Evangelismo - Ensino bíblico 2. Missão daIgreja 3. Teologia pastoral I. Grupo Marista.

14-03450 CDD-253.78

ProduçãoGrupo Marista | Setor de Pastoral

Redação e revisão de conteúdo

Ir. Adriano Brollo, Bruno Manoel Socher, César Leandro Ribeiro, Daiane Meger, Diogo Luiz Santana Galline, Dyógenes Philippsen

Araújo e Marilúcia Antônia de Resende

Coordenação Editorial(pesquisa, redação, padronização e revisão)

César Leandro Ribeiro e Dyógenes Philippsen de Araújo

Projeto GráficoEstúdio Sem Dublê | Thais Scaglione

DiagramaçãoEstúdio Sem Dublê | Bruno M. H. Gogolla e Thais Scaglione

Revisão OrtográficaJosé André de Azevedo

Revisão para 2ª ediçãoAdriano Brollo, José André de Azevedo e

Marilúcia Antônia de Resende

Apoio técnicoDiretoria de Marketing e Comunicação

Grupo MaristaRua Imaculada Conceição, 1.155, Bloco Administrativo – 9º andar

Prado Velho, Curitiba – PR - 80215-901Fone: (41) 3271 6400

www.grupomarista.org.br

Este livro, na totalidade ou em parte, não pode ser reproduzido por qualquer meio sem autorização expressa por escrito.

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver

caridade, sou como o bronze que soa, ou como o címbalo que retine.

Mesmo que eu tivesse o dom da profecia, e conhecesse todos os

mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de

transportar montanhas, se não tiver caridade, não sou nada.

Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos

pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser

queimado, se não tiver caridade, de nada valeria!

A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja.

A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. Nem escandalosa.

Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda

rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a

verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

A caridade jamais acabará. As profecias desaparecerão, o dom das línguas

cessará, o dom da ciência findará. A nossa ciência é parcial, a nossa profecia

é imperfeita. Quando chegar o que é perfeito, o imperfeito desaparecerá.

Quando eu era criança, falava como criança, pensava como criança, raciocinava

como criança. Desde que me tornei homem, eliminei as coisas de criança.

Hoje vemos como por um espelho, confusamente; mas então veremos face

a face. Hoje conheço em parte; mas então conhecerei totalmente,

como eu sou conhecido. Por ora subsistem a fé, a esperança e

a caridade - as três. Porém, a maior delas é a caridade.

(1 Coríntios 13)

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Apresentação da Primeira Edição

Ir. Adriano Brollo

Diretor do Setor de Pastoral

Ir. Davide Pedri

Provincial

A Igreja exorta-nos, desde o Concílio Vaticano II, a que, em todo trabalho evangelizador, estejamos sempre atentos aos “sinais dos tempos”, pois é necessário conhecer e entender o mundo, os espa-çotempos no qual vivemos.

O Instituto Marista, fiel ao Evangelho, à Igreja e ao legado de seu fundador, Marcelino Champagnat, reconhece-se vocaciona-do a ler esses sinais dos tempos e buscar, com audácia, empreen-dedorismo e vitalidade, novos métodos para tornar Jesus Cristo conhecido, amado e seguido. O XXI Capítulo Geral nos exorta: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”; e isso nos faz olhar para nossas estruturas como meios dinâmicos e potenciais que primam pela excelência administrativa, educacional, social e pastoral com a finalidade de garantir a vitalidade e viabilidade da missão Marista.

Nesse contexto, nossas frentes apostólicas são concebidas como “campos de aplicação e vetores de multiplicação” do carisma ma-rista. São meios nos quais a identidade institucional é vivenciada e pelos quais chegamos com maior eficiência às crianças e aos jo-vens com a finalidade de ajudá-los a desenvolverem-se em todas as suas dimensões. Por isso mesmo, acreditamos que a dinâmica evangélico-pastoral perpassa todas as nossas instâncias, dá signi-ficado aos processos desenvolvidos e é responsabilidade de todos.

Considerando esses pressupostos, a Província Marista Brasil Centro Sul, sensível ao sopro do Espírito e com a responsabilida-de de zelar e dinamizar o processo evangelizador na Província, empenha-se por desenvolver uma proposta de atualização da ação pastoral em nossas iniciativas de forma corresponsável, organiza-da, sistemática e orgânica e, ao mesmo tempo, dinâmica, criativa e inovadora.

Nossa gratidão a todos que contribuíram no processo de ela-boração das Diretrizes da Ação Evangelizadora. O documento foi concebido e construído a partir de muitas mãos, mentes e corações. Agradecemos em especial aos pastoralistas, educadores, colabora-dores, gestores e jovens que estiveram presentes nos espaços de construção coletiva: Assembleia Provincial de Pastoral, Escola de Pastoral, Grupos de Trabalho para elaboração dos elementos inculturadores e Direcionamentos Pastorais, videoconferências com representantes das Unidades. Ainda ressaltamos a partici-pação e colaboração de todos os setores provinciais, dos revisores teológico-pastorais e gramaticais.

Rogamos a todos que compõem a Província Marista Brasil Cen-tro Sul as bênçãos de

Deus, por intercessão de Maria, nossa Boa Mãe, e de São Mar-celino Champagnat.

Grupo Marista 98 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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Apresentação da Segunda Edição

memória agradecida” 3, mas que “ainda temos um longo caminho a percorrer” (Cf. 1Rs 19,7).

Esperamos, pois, que a presença da Boa Mãe e os ensinamentos de São Marcelino Champagnat nos impulsionem a realizarmos no Grupo Marista o desejo da Igreja: “Cada cristão e cada comunida-de há de discernir qual é o caminho que o Senhor lhe pede, mas todos somos convidados a aceitar este chamado: sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho”. 4

3 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 13.4 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 20.

Ir. Joaquim sperandio

Provincial

A vivência do Evangelho é sempre algo que traz novidade à vida humana; não podemos, entretanto, negar que desde 2011, quando as Diretrizes da Ação Evangelizadora da Província Marista Brasil Centro-Sul foram publicadas - oferecendo-nos um itinerário claro e aberto à ação de Deus em nossas atividades -, tal novidade foi en-contrando em nosso cotidiano mais espaço, mais organicidade e até mesmo certos riscos, visto que “quem arrisca, o Senhor não o desilude”. 1

Em 2012 a Província Marista Brasil Centro-Sul reestruturou suas atividades e passou a ser nomeada Grupo Marista; no ano se-guinte, em 2013, tivemos a grata surpresa do Espírito: Habemus Pa-pam Franciscum e percebemos em todos nós o desejo de uma clara consciência daquilo que é fundamental na vivência do cristianis-mo: “Em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus”. 2

Estarmos abertos à graça de Deus e fazermos o máximo daquilo que nos compete, com ternura e vigor: eis o “segredo” de uma ação evangelizadora e pastoral fecunda; eis o nosso desejo que se ex-pressa em nossas Diretrizes da Ação Evangelizadora, cuja segunda edição temos a honra de apresentar.

A revisão das Diretrizes mostrou-nos que estamos em comu-nhão com a Igreja, com o Instituto Marista, em sintonia com as Di-retrizes da Ação Evangelizadora para o Brasil Marista/UMBRASIL e atentos aos sinais dos tempos; a revisão das Diretrizes indicou-nos que “a alegria evangelizadora refulge sempre sobre o horizonte da

1 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 03.2 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 12.

Grupo Marista 1110 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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1. NOSSA HISTÓRIA, NOSSA CAMINHADA 12orientações para a leitura e o estudo ______________________________________________________26

2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS 282.1 evangelização ____________________________________________________________________302.2 Pastoral ________________________________________________________________________34 2.2.1 Apostolado ________________________________________________________________36 2.2.2 Planejamento ______________________________________________________________38 2.2.3 organicidade _______________________________________________________________40 2.2.4 Flexibilidade metodológica ____________________________________________________42 2.2.5 Atenção aos sinais dos tempos _________________________________________________44 2.2.6 recursos __________________________________________________________________472.3 Carisma _________________________________________________________________________49

3. ELEMENTOS INCULTURADORES 543.1 Dignidade humana ________________________________________________________________593.2 educação emancipadora ___________________________________________________________643.3 espiritualidade ___________________________________________________________________683.4 Alteridade ______________________________________________________________________733.5 solidariedade socioambiental ______________________________________________________793.6 Catequese ______________________________________________________________________863.7 Infâncias e Juventudes _____________________________________________________________933.8 valores maristas ________________________________________________________________102

4. DIRECIONAMENTOS PASTORAIS 1064.1 objetivos de Animação Pastoral do Conselho Geral ______________________________________1084.2 Direcionamentos transversais ______________________________________________________1094.3 Direcionamentos Pastorais para as Frentes Apostólicas __________________________________110 4.3.1 Área Corporativa ___________________________________________________________111 Área Corporativa alicerçada nos valores institucionais ______________________________112 Processos organizacionais alinhados aos valores institucionais ______________________112 4.3.2 negócios suplementares ____________________________________________________113 Processos organizacionais alinhados aos valores institucionais ______________________113 Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual ___________114 Produtos e serviços específicos para a evangelização dos colaboradores _______________114 4.3.3 educação Profissional _______________________________________________________115 educação para a “cultura do trabalho” __________________________________________115 Desenvolvimento integral do sujeito ___________________________________________116 Pastoral transversal, integrada aos processos da educação Profissional _______________117

Sumário 4.3.4 Unidades sociais da rede Marista de solidariedade _______________________________117 Processo educativo-evangelizador visando o protagonismo sociopolítico-eclesial ________119 Pastoral transversal, integrada a todos os processos das Unidades sociais _____________119 Promoção e defesa da vida na perspectiva do direito _______________________________119 4.3.5 Área da saúde _____________________________________________________________120 valores Institucionais assumidos transversalmente como fonte de vitalidade ___________120 Atendimento multiprofissional e humanizado ao paciente __________________________121 Abordagem educativo-humanizadora (bioética e humanização) ______________________121 educação para Prevenção e Promoção à saúde ___________________________________121 eclesialidade ______________________________________________________________121 4.3.6 ensino superior ____________________________________________________________122 Comunidade acadêmica em que o evangelho e os valores institucionais são vitais ________122 Dinamização da relação da fé com a cultura e os diversos saberes _____________________122 espaço privilegiado para o desenvolvimento integral dos jovens ______________________123 extensão do conhecimento – além-fronteiras _____________________________________123 Comunhão eclesial _________________________________________________________123 4.3.7 lUMen ___________________________________________________________________124 Ação educativo-pastoral ampliada _____________________________________________124 Difusão dos valores humanos, cristãos e Maristas _________________________________125 Produtos e serviços específicos para a evangelização ______________________________125 4.3.8 editora FtD _______________________________________________________________125 Desenvolvimento integral do colaborador _______________________________________126 Difusão dos valores humanos, cristãos e maristas, traduzidos à cultura atual ____________126 Produtos e serviços específicos para a evangelização ______________________________127 4.3.9 rede de Colégios ___________________________________________________________127 Um processo educativo-pastoral que promova o conhecimento, a vida e os valores inerentes ao evangelho _______________________________________128 Uma escola acolhedora e fraterna _____________________________________________128 Formação das infâncias e juventudes tendo em vista o protagonismo eclesial e político ___129 Pastoral transversal, integrada e integradora diante dos processos da escola ___________129 Formação contínua e conjunta ________________________________________________130 4.3.10 Pastoral Juvenil Marista – PJM ________________________________________________130 o processo de amadurecimento na fé e o desenvolvimento humano ___________________131 o protagonismo juvenil ______________________________________________________131 A formação integral _________________________________________________________131

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 134

Grupo Marista 1312 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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NOSSA HISTÓRIA, NOSSA CAMINHADA

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1. NOSSA HISTÓRIA, NOSSA CAMINHADA5

[1]. As Diretrizes da Ação Evangelizadora do Grupo Marista nascem com a moti-vação de animar e orientar as ações pastorais em todos os nossos campos de atuação. Para tanto, o presente documento reafirma e atualiza os princi-pais ideais e processos pastorais construídos na última década, resultantes de uma caminhada sólida e comunitária de muitos evangelizadores que não pouparam esforços em semear e cultivar, de maneira criativa e contextualiza-da, a “Alegria do Evangelho”, que “enche o coração e a vida inteira daqueles que se encontram com Jesus”. 6

[2]. A expressão “diretrizes” designa um conjunto de princípios, conceitos, ideias, aspirações e direcionamentos que contribuem para qualificar os es-forços pastorais do Grupo Marista, gerando sinergia, proporcionando uma visão clara e compartilhada em relação à missão, apontando, desse modo, as prioridades da missão do Grupo Marista até 2017.

[3]. A construção desse documento sustenta-se nas permanentes e ricas contri-buições dos Núcleos de Pastoral, dos Setores Provinciais, dos Irmãos Ma-ristas, das orientações do Governo Geral do Instituto Marista, da Comissão Nacional de Evangelização – UMBRASIL, nos documentos eclesiais e insti-tucionais (internacionais, nacionais e provinciais) e nas lideranças de todas as nossas frentes apostólicas. O documento também procura lançar um olhar atento às transformações da sociedade, às novas tecnologias, assim como ab-sorver as ideias e inspirações originadas na convivência com as novas gera-ções. Desse modo, a proposta aqui registrada está sempre receptiva às novas contribuições.

5 entenda-se essa primeira parte como uma Introdução, uma breve recapitulação de nossa história, que pretende contextualizar o presente documento dentro de um processo de evangelização institucional, que tem como ponto de partida a criação da Província Marista do Brasil Centro-sul, em 2002.

6 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 01.

[4]. O conteúdo ressalta aspectos essenciais da tradição eclesial ao se fundamen-tar nos princípios do Evangelho, do Magistério da Igreja e do Instituto Maris-ta. Também introduz na reflexão aspectos inovadores, propondo a adequação dos referidos princípios às realidades atuais, nem sempre facilmente com-preensíveis num mundo marcado por profundas e velozes transformações.

[5]. Sua linguagem é recorrentemente pastoral, de fácil assimilação pelos pas-toralistas, embora a preocupação fosse também fazê-la compreensível às li-deranças estratégicas do Grupo Marista – nem sempre familiarizadas com conceitos teológico-pastorais. 7 Afinal, caberá a esse grupo de pessoas, com formações e experiências tão diversificadas, interpretar o conteúdo aqui reu-nido e promover os devidos desdobramentos às realidades diversas, com as traduções necessárias, sem perder a essência.

Contextualização

[6]. A Congregação dos Pequenos irmãos de Maria, conhecida como Instituto dos Irmãos Maristas, foi idealizada pelo Padre Marcelino José Bento Champag-nat (1789-1840) em 1817, na pequena cidade francesa de La Valla. O episódio fundante remonta à experiência pastoral de Champagnat junto ao leito de morte de um jovem camponês da família Montagne. O Instituto surgia da in-dignação do padre frente à miséria e, sobretudo, da sua esperança cristã em promover a cidadania, a formação religiosa e intelectual de crianças e jovens empobrecidos e embrutecidos em meio ao caos social, econômico, político e religioso da França.

[7]. Desde o início, o Instituto foi audaz ao alargar a visão evangelizadora, aliando fé, educação, solidariedade e compromisso social. Logo soube ultrapassar as fronteiras geográficas para dedicar-se à humanidade como um todo. Em 2 de janeiro 2017, celebraremos os 200 anos de fundação do Instituto dos Irmãos Maristas, motivo de ação de graças e renovação de nossa missão, pois, como

7 nesse sentido, nos alerta o Papa Francisco sobre a necessidade de pensarmos nossas estratégias de comunicação: “[...] convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio”. (Evangelii Gaudium, n, 34)

Grupo Marista 1716 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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acreditava Champagnat, “o progresso do instituto deveria ser obra de Deus e não nossa. É à proteção de Maria, portanto, que devemos esta bênção e todo sucesso”. 8

[8]. Hoje, o Instituto Marista está presente e atuante em 79 países espalhados pe-los cinco continentes. Nossa missão pode ser assim definida: Ser presença solidária e evangelizadora fortemente significativa entre crianças e jovens pobres, buscando estilos novos e criativos de educar e de defender os seus di-reitos. E é missão da comunidade marista – Irmãos, Leigas e Leigos – “tornar Jesus Cristo conhecido e amado” 9 pela atuação apostólica legada pelo funda-dor e pela mística de inspiração marial.10

[9]. Há mais de um século 11 no Brasil, os Irmãos Maristas têm se dedicado ao generoso serviço da evangelização por meio da educação e do atendimento social, contribuindo efetivamente na formação de bons profissionais, de cida-dãos virtuosos e de cristãos comprometidos na construção de uma sociedade sustentável, justa e solidária. Atualmente o Brasil é um dos campos de mis-são mais representativos, compreendendo aproximadamente 30% da presen-ça Marista no mundo. 12

[10]. Desde 2002, a Instituição Marista está organizada em nosso país a partir de quatro unidades administrativas, chamadas de Províncias: Província Ma-rista Brasil Centro-Norte – PMBCN; Província Marista Brasil Centro-Sul

8 Cf. Marcelino Champagnat na carta escrita a Dom Pompallier, em 23 de maio de 1838. (MArCelIno CHAMPAGnAt. Instituto dos Irmãos Maristas (org.). Cartas)

9 Para Marcelino Champagnat, esse é substancialmente o núcleo de nossa missão. são palavras suas proferidas para os irmãos e registradas em cartas em inúmeras ocasiões: “não posso ver uma criança sem sentir o desejo de dizer-lhe o quanto Jesus a ama”. (Instituto dos Irmãos Maristas. Constituições e Estatutos. p. 254, art. 2).

10 o termo “marial” designa um conjunto de virtudes e valores inspirados na espiritualidade mariana. no tocante à evangelização, lembra-nos Papa Francisco: “Há um estilo mariano na atividade evangelizadora da Igreja. Porque sempre que olhamos para Maria, voltamos a acreditar na força revolucionária da ternura e do afeto”. (Evangelii Gaudium, n. 288)

11 em 15 de outubro de 1897, os Irmãos Maristas enviados da França desembarcaram no porto do rio de Janeiro, de onde se deslocaram para Congonhas do Campo, Minas Gerais, formando a primeira comunidade marista em terras brasileiras. em seguida, 1900, chegaram mais irmãos em Bom Princípio, rio Grande do sul. três anos depois, outros fixaram residência em Belém do Pará. Assim começa a trajetória marista no Brasil. ver CAvAlCAntI. Presença marista: os caminhos da educação e da solidariedade, 2010.

12 segundo o relatório da UMBrAsIl, o Instituto conta com 26 mil Irmãos, leigos e leigas, proporcionando educação para 200 mil crianças e jovens no Brasil e beneficiando mais de 350 mil pessoas no total, por meio de 74 colégios, 3 universidades – sendo uma compartilhada com outras congregações –, duas faculdades e 109 unidades sociais, 6 hospitais, 3 editoras e 13 veículos de comunicação. (UMBrAsIl. Disponível em http://www.umbrasil.org.br)

– PMBCS; Província Marista do Rio Grande do Sul – PMRS; Distrito Maris-ta da Amazônia – DMA. A União Marista do Brasil - UMBRASIL, criada em 2005, com sede em Brasília, é uma associação formada pelas mantenedoras destas províncias, com a missão de articular e potencializar a ação marista no Brasil.

[11]. A Província Marista Brasil Centro Sul (PMBCS), criada em julho de 2002 pela junção da Província de Santa Catarina e de São Paulo, já nascia com uma es-trutura administrativa complexa. Suas frentes de atuação incluíam: o ensino básico, o atendimento social, a promoção vocacional o ensino superior, o en-sino técnico, o atendimento na área da saúde, a comunicação de massa e um conjunto de estruturas e iniciativas voltadas à promoção e defesa dos direitos das infâncias e juventudes. Um cenário amplo e promissor, mas com grandes desafios, tanto sob a perspectiva da missão como da sustentabilidade. Para que a Instituição pudesse ser gerida de modo eficiente, era necessário que o Conselho Provincial encontrasse um modelo organizacional e administrativo adequado aos novos tempos.

[12]. Naquele momento, para responder ao desafio da evangelização, o Conselho Provincial inaugurou o Núcleo Provincial de Pastoral e o incumbiu de fazer o diagnóstico da ação pastoral-evangelizadora em todos os campos de missão. 13 Em seguida, o Núcleo foi renomeado como Setor de Pastoral 14 da PMBCS. Em sintonia com os demais Setores Provinciais, criados na mesma época, a sua atuação foi desenhada de modo a torná-lo uma instância de animação, formação e profissionalização de pastoralistas, formação de Leigas e Leigos e de planejamento orgânico em evangelização.

13 Por “campos de missão”, “frentes apostólicas” ou simplesmente “negócios” designamos as iniciativas específicas dessa Província, que, mediante suas mantenedoras (ABeC-UCe, APC e FtD), têm a responsabilidade de gerir e subsidiar as escolas, Centros sociais, Universidades, redes de Comunicação, Hospitais, editoras, comunidade dos Irmãos Maristas, Centro de espiritualidade e vivência Marista e demais negócios suplementares.

14 A equipe do primeiro triênio estava assim constituída: Ir. João Carlos do Prado (Coordenador), Ir. João Batista Pereira (vice-coordenador), Adalgisa de oliveira Gonçalves (Assessora), Clélia Peretti (Assessora), Fabiano Incerti (Assessor), ney Guimarães (Assessor) e soeli terezinha Pereira (Assessora).

Grupo Marista 1918 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[13]. O recém-criado Setor de Pastoral coordenou15, a partir de 2003, a construção do primeiro plano orgânico de Pastoral, publicado três anos depois com o título de Plano Provincial de Pastoral.16 À luz dos desafios da época, o docu-mento objetivava a organização e a unificação da caminhada pastoral diante dos novos cenários que se apresentavam, possibilitando uma nova visão pas-toral, melhorando a organicidade e fortalecendo a identidade institucional no cenário eclesial. O processo favoreceu, em todas as frentes apostólicas, a identificação de pistas de ação, programas e projetos que ampliassem a ação evangelizadora.

[14]. Destacavam-se no Plano Provincial de Pastoral seis programas: Programa Ma-rista de Formação; Programa Marista de Humanização; Programa Marista de Cultura da Solidariedade; Programa Marista de Espiritualidade; Progra-ma de Animação Vocacional Marista; Programa de Pastoral Juvenil Marista. Tais programas alavancaram um leque diversificado de projetos, fomenta-ram estruturas e contribuíram na otimização das ações pastorais. Os Núcle-os Locais de Pastoral atenuaram seu caráter personalista para tornarem-se mais orgânicos e alinhados às aspirações da Província.

[15]. Desde então, a prática pastoral na PMBCS vem se aperfeiçoando, juntamente com as estruturas de suporte, sobretudo na qualificação dos Irmãos e cola-boradores dedicados à evangelização. O tempo e o acúmulo de experiências foram revelando acertos e pontos de revisão do processo. Outros contextos de mundo e a própria reestruturação do modelo organizacional da PMBCS trouxeram à pauta outros desafios, como o novo desenho de atuação do Setor de Pastoral, que, a partir de 2008, passa a operar com outras responsabilida-des no âmbito estratégico e de assessoramento ao Conselho Provincial. Para acompanhamento dos projetos in loco foi criada a Assessoria de Pastoral nos Ne-gócios. As frentes apostólicas, já com arcabouço de experiências consistentes, sinalizavam a necessidade de pensar seu processo de evangelização a partir

15 optando por uma metodologia participativa, o setor promoveu relatórios, reuniões, discussões, reflexões, assembleias e planejamentos participativos, contratações de pastoralistas, qualificação de pessoas e criação de estruturas para a evangelização.

16 PMBCs. setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral. 2006. ressaltamos que até a publicação oficial, o Plano Provincial de Pastoral foi implementado com base em versões encadernadas, abertas a contribuições e aperfeiçoamentos.

da expertise de cada negócio. A questão “Para onde devemos caminhar? Como os negócios poderiam melhor contribuir com a missão institucional a partir de sua vocação específica?” foi respondida através da profunda reflexão que culmi-nou na primeira versão do documento denominado Direcionamentos Pastorais para as Mantenedoras e Negócios da Província Marista Brasil Centro-Sul. 17

[16]. Ao passo que ainda se consolidam alguns processos de animação e governo, podemos afirmar que a PMBCS tem conseguido implementar com êxito seu novo modelo organizacional. Em seu Plano Estratégico18, a missão da Provín-cia consiste em “formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários para a transformação da sociedade, por meio de processos educacionais fundamen-tados nos valores do Evangelho, do jeito marista”. 19 Para tanto, três objetivos fundamentais foram delineados:

oferecer excelência educacional na formação de crianças e jo-vens para a autonomia e cidadania, comprometidos com a pro-moção da vida e da sociedade. oportunizar a formação e o engajamento de Irmãos, leigas e leigos para a vivência de sua vocação, do desenvolvimento pro-fissional e o exercício da missão marista.Perenizar a vitalidade da missão e a viabilidade econômica da instituição. 20

[17]. Com o intuito de tornar o carisma marista uma realidade ainda mais com-partilhada, foi definido, pelo Conselho Provincial, um núcleo de valores ins-pirado no espírito do fundador, homem forte, empreendedor, ousado e, ao mesmo tempo, compassivo, terno e agregador. Esse núcleo de valores está assim constituído: Simplicidade, Amor ao Trabalho, Justiça, Espiritualidade, Espírito de Família e Presença Significativa. O conjunto de valores escolhi-do não esgota outros valores maristas, que são muitos. Ao lado das Pequenas

17 PMBCs. setor de Pastoral. Direcionamentos Pastorais para as Mantenedoras e Negócios da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2009.18 PMBCs. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2010. (Documento Interno)19 PMBCs. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro Sul. p. 06.20 PMBCs. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro Sul. p. 06.

Grupo Marista 2120 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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Virtudes21, eles apontam para o tempo presente um ethos que anima e orienta todas as nossas relações de convívio e trabalho.

[18]. Em 2009, o XXI Capítulo Geral22, cujo tema foi “Corações novos para um mundo novo”, apontou novas perspectivas para o Instituto, por meio do ape-lo fundamental, que assim refletia: “Sentimo-nos impulsionados por Deus a sair para uma nova terra, que favoreça o nascimento de uma nova época para o carisma marista. Isso supõe que estejamos dispostos a mover-nos, a desprender-nos e a assumirmos um itinerário de conversão, tanto pessoal quanto institucional, nos próximos anos”. 23 E o capítulo concluía convocan-do a todos: “Com Maria, ide depressa para novas terras”.

Princípiosbasilares

[19]. A Caridade, o Evangelho e a Fé constituem os princípios basilares que forjam nosso ser-cristão e nos movem a agir e consagrar nossas vidas.

[20]. O que é, entretanto, a caridade? Nas Escrituras Sagradas ouvimos dizer que “Deus é amor: quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus perma-nece nele”. 24 Na mística cristã, esse amor assume a forma de cháris (gratuida-de), donde deriva caritas (caridade). Caridade é o amor-gesto, amor-doação, ação que cria vínculos, solidariza e transforma realidades de sofrimento. Ou seja, amor e caridade são sinônimos. E Jesus Cristo nos apresenta, por sua vida e missão, o amor como síntese de toda a Lei 25, apontando-o como juí-zo de valor universal e definitivo. Desta forma, no cristianismo, a caridade apresenta-se não apenas como a plenitude da lei, mas como o sentido da vida

21 As “pequenas virtudes” encontram-se em Avis, Leçons, Sentençes et Instructions. trata-se da publicação (1927) das anotações feitas pelo Ir. Jean Baptiste Furet acerca dos ensinamentos proferidos pelo Padre Champagnat nos encontros de formação dos Irmãos.

22 o Capítulo Geral dos Irmãos Maristas é uma assembleia representativa de todo o Instituto, realizada a cada oito anos, geralmente na Casa Geral, em roma. nesse evento elegem-se o superior Geral e os oito membros do Conselho superior, que se ocupam do governo, da renovação das prioridades e da atualização de questões relacionadas à missão do Instituto no cenário global. Com centralidade em Jesus Cristo e sob a mística de Maria, desenvolve-se o aspecto místico e missionário do Capítulo, onde todos são convidados a discernir e perceber as moções do espírito santo em seus corações e estarem atentos aos novos desafios apostólicos que se apresentam.

23 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 19.24 1 João 4,16.25 Mateus 22, 36-40.

humana, constituindo-se em primazia, tanto para vida do cristão quanto para a ação pastoral da Igreja. É neste contexto que somos desafiados a assimilar o ensinamento de São Marcelino Champagnat, que dizia: “Para bem educar é preciso, antes de tudo, amar”.

[21]. A caridade é o sinal visível da fidelidade do cristão e do dever da Igreja, pois, como disse Jesus, “sempre que fizestes isto [a caridade] a um destes meus pequeninos, a mim mesmo que o fizeste”. 26 A caridade não é um discurso vazio. É uma disposição prática que requer empenho no aqui e agora, pois ela é o amor em/na ação. E o amor encontra no caráter social a sua manifestação mais clara e eficaz, na medida em que nos faz sair de si para ir ao encontro do outro, sobretudo quando esse outro é aquele que se encontra empobre-cido, violentado em sua dignidade ou fragilizado. Esse princípio deve nor-tear nossa missão evangelizadora, nossas propostas educativas, nosso agir cotidiano.27

o amor – caritas – será sempre necessário, mesmo na socieda-de mais justa. não há qualquer ordenamento estatal justo que possa tornar supérfluo o serviço do amor. Quem desfazer-se do amor prepara-se para desfazer-se do ser humano enquanto ser humano. [...] A afirmação de que as estruturas justas tornariam supérfluas as obras de caridade esconde, de fato, uma concep-ção materialista do ser humano: o preconceito segundo o qual o ser humano viveria “só de pão”. (Mt 4, 4; Cf. Dt 8,3). 28

[22]. Embora o amor apareça, muitas vezes, como um termo banalizado, é impor-tante lembrar que “[...] o amor é uma força extraordinária, que impele as pes-soas a comprometerem-se, com coragem e generosidade, no campo da justiça

26 Mateus 25, 40.27 Quem são os sujeitos ou agentes da caridade? todos os seres humanos. A caridade é um princípio/valor semeado por Deus no coração

humano – logo, devemos aceitar que não se trata de uma prerrogativa unicamente cristã –, portanto, podemos reconhecer seus frutos em cada cultura e em cada religião que busca sinceramente a verdade. A caridade é a síntese de todas as dimensões do amor (eros, philia e ágape), pois “todas essas formas de amor, no fim das contas, unificam-se, sendo o amor, apesar de toda a diversidade de suas manifestações, em última instância, um só”. (Bento XvI. Deus caritas est. n. 2); enfim, o amor é o princípio humanizador universal.

28 Bento XvI. Deus caritas est. 28b.

Grupo Marista 2322 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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e da paz. É uma força que tem a sua origem em Deus, Amor eterno e Verdade absoluta”. 29 É o “dom maior que Deus concedeu aos homens”. 30 Sendo assim, o amor “é o princípio não só das micro relações estabelecidas entre amigos, na família, no pequeno grupo, mas também das macro relações, como os re-lacionamentos sociais, econômicos, políticos”. 31 Neste contexto, todos nós somos constituídos “sujeitos de caridade, chamados a nos fazermos instru-mentos da graça, para difundir o amor de Deus e tecer redes de caridade”. 32

[23]. Os evangelhos expressam a entrega de amor da pessoa de Jesus, Filho de Deus, o Cristo. Esses textos sagrados relatam a vida, a atuação pública, o que Jesus disse, o que proclamou e mandou que se proclamasse ao mundo, a sua morte na cruz e ressurreição. Etimologicamente, Evangelho significa “boa notícia”, “boa nova”. Jesus utilizou a expressão para se referir aos sinais e à natureza do Reino de Deus. De modo complementar, para os apóstolos, a Boa Nova é a pregação do acontecimento salvífico, que é o próprio Jesus de Nazaré. 33 O Evangelho constitui o cerne do que a tradição cristã chama de Palavra de Deus.

[24]. Com apresentações e ângulos diferentes, todos os Evangelhos têm em seu centro um mesmo objetivo: promover o encontro com Cristo. Pelo encontro com Jesus Cristo, o ser humano se renova permanentemente e se constitui num sujeito novo chamado a evangelizar. 34 Como afirma Bento XVI: “Não se começa a ser cristão por uma decisão ética ou uma grande ideia, mas atra-vés do encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá um novo horizonte à vida e, com isso, uma orientação decisiva”. 35 A adesão a Cristo é,

29 Bento XvI. Deus caritas est. n. 05.30 Cf. 1 João 4, 8 -16.31 Bento XvI. Deus caritas est. n. 05.32 Bento XvI. Deus caritas est. n. 05.33 “Cristo é a ‘Boa nova de valor eterno’ (Ap 14,6), sendo ‘o mesmo ontem, hoje e pelos séculos’ (Hb 13,8), mas a sua riqueza e a sua beleza são

inesgotáveis. ele é sempre jovem e fonte de constante novidade. [...] Com a sua novidade, ele sempre pode renovar a nossa vida e a nossa comunidade [...]. na realidade, toda a ação evangelizadora autêntica é sempre ‘nova’.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 11)

34 “Chegamos a ser plenamente humanos quando somos mais que humanos, quando permitimos a Deus que nos conduza para além de nós mesmos a fim de alcançarmos o nosso ser mais verdadeiro. Aqui está a fonte da ação evangelizadora.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n 08)

35 Deus Caritas est, n. 01. .

ao mesmo tempo, condição para o exercício pessoal do apostolado e critério último de qualificação para a ação evangelizadora.

[25]. Acolhendo a Boa Nova de Jesus Cristo, nos imanamos no amor, no projeto do Reino de Deus e na fração do pão. 36 Formamos em torno da Eucaristia a Igreja, promotora de vida e do Reino de Deus para cada pessoa e para toda a sociedade. Portanto, “tornar Jesus Cristo conhecido e amado” supõe viver, testemunhar e proclamar a mensagem contida no Evangelho. Essa aproxi-mação com Jesus Cristo, essa experiência apostólica encanta o coração, nos faz discípulos e amplia nossa compreensão do amor.

[26]. São Marcelino Champagnat, mencionando o Salmo 127, repetia continua-mente aos Irmãos seu versículo predileto: “Se o Senhor não edifica a casa, em vão trabalham os que a constroem”. Portanto, pela fé somos constantemen-te desafiados a permanecer solidamente edificados em Deus, vivenciando os ensinamentos de Cristo em comunidade. Nossa fé significa que cremos em Jesus Cristo como Filho de Deus encarnado, cuja morte e ressurreição nos abriram as portas do Reino de Deus. Ele é nossa Páscoa definitiva – misté-rio de comunhão e aliança – presente em cada Eucaristia celebrada. Pela fé em Cristo (confiança filial), aderimos ao projeto de Deus. Nossa fé passa pela razão (adesão intelectual), embora frequentemente a supere (dom sobrenatu-ral), vinculando-se à esperança que nos incentiva a prosseguir, com projetos novos e vindouros.

[27]. A fé é irmã da esperança. A esperança é a força que motiva as pessoas e co-munidades a interpretarem a realidade em que vivem, apontando para um futuro promissor, que se concretizará à medida que o construímos juntos. Assim, a esperança se torna virtude universal: fortalece vínculos entre cren-tes e não crentes em prol de causas coletivas, para o bem de todos (horizonte da ética) e o testemunho do Evangelho (horizonte da fé).

36 Fração do Pão: um dos nomes pelos quais se designa a eucaristia. “É por esse gesto – a fração do pão – que os discípulos o reconhecerão após a ressurreição e é com essa expressão que os primeiros cristãos designarão suas assembleias eucarísticas. Com isso querem dizer que todos os que comem do único pão, Cristo, entram em comunhão com ele e já não formam senão um só corpo nele.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1329)

Grupo Marista 2524 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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Nossamissãocompartilhada

[28]. Para o Ir. Séan Sammon, Superior Geral do Instituto Marista de 2001 a 2009, a circunstância secular e plural em que se encontra a humanidade nos de-safia a assumirmos novas e criativas estratégias evangelizadoras. Em suas palavras: “[...] precisamos estar atentos aos movimentos contemporâneos e, de modo especial, analisar os valores que neles se manifestam. Qualquer omissão de nossa parte nesse sentido pode nos atrelar ao passado, no preciso momento em que um mundo novo se anuncia”. 37 Nesse sentido, é necessário pensar o carisma institucional como um aspecto dinâmico, que faz contra-balançar os elementos da tradição com os dilemas de um mundo em rápida transformação.

[29]. O presente documento situa-se no desdobramento dessa importante refle-xão. Logicamente ele estabelece um recorte: debruça-se sobre as questões que dizem respeito ao processo de evangelização, desde sua organização até a visão de futuro. Não há dúvidas de que vivemos agora, no Grupo Marista, o tempo oportuno de fazermos um balanço de nossa caminhada pastoral e da vitalidade de nossa missão, visto que “a alegria evangelizadora refulge sem-pre sobre o horizonte da memória agradecida”. 38

[30]. Devemos fazer um esforço sincero de abertura de coração e flexibilidade de pensamento se quisermos realmente dar novos passos na Igreja e no Institu-to Marista. Sammon concluía dizendo que “[...] nossos corações devem es-tar abertos à mudança, mas, ao mesmo tempo, precisam absorver a melhor herança do passado. Uma renovação genuína jamais o descarta, ainda que procure libertá-lo das armadilhas da história”. 39 Neste contexto, espera-se que essas Diretrizes sejam produto de escolhas e decisões influenciadas pelas experiências significativas do passado e pela interpretação do momento que vivemos hoje.

37 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Corações novos para um mundo novo, p. 20.38 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 13.39 InstItUtos Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Corações novos para um mundo novo. Pág. 12.

[31]. E já não são poucos os agentes da mudança: hoje, Irmãos, Leigas e Leigos são aqueles que compõem a grande mesa dos vocacionados maristas 40, apóstolos de Cristo que atuam em muitas frentes de trabalho, com diferentes respon-sabilidades, mas com um só coração e uma só missão. É por esse motivo que o presente documento assume a todos como sujeitos da evangelização, que se colocam em disposição de diálogo com muitos interlocutores. Os sujeitos e interlocutores da evangelização são as crianças, os adolescentes, os jovens de nossas unidades de ensino, os educadores, os administradores, os Irmãos, os Leigos e Leigas, os colaboradores contratados, os expectadores das redes de comunicação, os pacientes hospitalares, os parceiros e demais agentes do hu-manismo cristão. Nesse sentido, o Papa Francisco, em sua Exortação Apos-tólica, ao apresentar sua preocupação pela obra evangelizadora da Igreja, de modo específico sobre os responsáveis pelo anúncio do Evangelho, assim nos adverte: “A evangelização é dever da Igreja. Este sujeito de evangelização, po-rém, é mais do que uma instituição orgânica e hierárquica; é, antes de tudo, um povo que peregrina para Deus”. 41

[32]. Em nossa Instituição, evangelizar é, portanto, missão de todos. Acolhemos a todos, segundo suas vocações específicas, com seus modos de vida, com as peculiaridades culturais e contextuais oriundas das múltiplas experiências de vida. A corresponsabilidade e a complementaridade são riquezas que nos possibilitam novos relacionamentos e novas metodologias. Enquanto Grupo Marista, em comunhão com a União Marista do Brasil (UMBRASIL) e de-mais Províncias e Distrito, afirmamos nossa identidade cristã, católica e ma-rista. Como Igreja, reconhecemos nossa responsabilidade junto ao processo de evangelização e a reafirmamos como a razão maior e finalidade última de todas as nossas iniciativas. Sob o legado do carisma marista, vivenciamos o apostolado de modo mais intenso entre as crianças e jovens, sobretudo as

40 o sentimento de pertença ao Instituto e de compartilharmos uma missão tem se fortalecido após o XIX Capítulo Geral e da Assembleia Internacional da Missão Marista, em Mendes, 2007. em 2009, a Comissão Internacional do laicato Marista amplia, juntamente com o Conselho Geral, todas essas reflexões no documento Em Torno da Mesma Mesa: A vocação dos leigos maristas de Champagnat. Mais elementos sobre o laicato no Grupo Marista podem ser aprofundados no documento PMBCs. setor de vida Consagrada e laicato. Vida Marista: Irmãos, Leigas e Leigos: diretrizes do setor de vida Consagrada e laicato, 2010.

41 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 111.

Grupo Marista 2726 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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mais pobres. Disseminamos o Evangelho, a Palavra de Deus, em todos os nossos espaços de atuação. 42

Orientaçõesparaaleituraeoestudo

[33]. Até o momento, nesse preâmbulo ao leitor (Parte 1), desenvolvemos um re-trospecto histórico com a finalidade de contextualizar a fundação do Insti-tuto Marista, sua presença no mundo e no Brasil e a ação evangelizadora no Grupo Marista, sobretudo nessa última década. De modo conciso, seguimos recapitulando os princípios basilares que constituem a razão de nossa cami-nhada cristã - a Caridade, o Evangelho e a Fé -, que são pressupostos pastorais para a compreensão da proposta evangelizadora em sua integralidade; enfa-tizamos que somos herdeiros do legado espiritual de Marcelino Champagnat, herança carismática capaz de congregar em torno de uma missão comum os Irmãos Maristas, os Leigos e Leigas e demais pessoas de boa vontade. No de-sencadeamento, veremos esse documento estruturado em mais três partes.

[34]. Na Parte 2 serão apresentados três conceitos fundamentais para o entendi-mento da ação evangelizadora no Grupo Marista: a) O que é Evangelização e quais são os conceitos teológicos subjacentes a este âmbito; b) O que é Pastoral e o conjunto de processos que caracterizam a organização pastoral no Grupo Marista (apostolado, planejamento, organicidade, flexibilidade metodológi-ca, atenção aos sinais dos tempos e recursos); c) O Carisma enquanto aspecto místico para a formação da identidade em meio às diferentes maneiras de ser Igreja.

[35]. Após a apresentação dos conceitos fundamentais, o documento aprofunda alguns Elementos Inculturadores do Evangelho (Parte 3). Os Elementos Incul-turadores são aspectos positivos da cultura geral e institucional, que abrem portas para o diálogo entre o ethos e os valores do Evangelho. São eles: a dig-nidade humana, a educação emancipadora, a espiritualidade, a alteridade, a

42 “não pode haver verdadeira evangelização sem o anúncio explícito de Jesus como senhor e sem existir uma primazia do anúncio de Jesus Cristo em qualquer trabalho de evangelização.” (João Paulo II. Exortação Apostólica Ecclesia in Asia, n. 19).

solidariedade socioambiental, a catequese, as infâncias e juventudes e os va-lores maristas.

[36]. Por fim, o documento apresenta os Objetivos da Animação Pastoral do Con-selho Geral, Direcionamentos Pastorais Transversais e Direcionamentos Pastorais para as Frentes Apostólicas (Parte 4). Os Direcionamentos ganham contornos a partir do discernimento da vocação própria de cada frente apos-tólica, permitindo que as mesmas potencializem sua missão específica e, ao mesmo tempo, compreendam-se cada vez mais integradas e corresponsáveis pela missão institucional. É a maneira pela qual se preservam as identidades e a cultura das frentes apostólicas, engendram-se novas estratégias pastorais e as maneiras peculiares de contribuir na evangelização e missão marista.

[37]. Ao estudar as páginas que seguem, esperamos que todos se sintam coautores e protagonistas na missão de evangelizar. Esta é a principal intenção. Sabe-mos que uma Instituição em Pastoral nasce do esforço coletivo-comunitário e é sempre consequência de uma adesão pessoal e intransferível. Com Maria, nosso modelo de seguimento de Jesus Cristo, e com Marcelino Champagnat, nosso fundador e inspirador, sigamos depressa para fazer do Evangelho uma realidade mais presente no mundo, na certeza de que “quando a Igreja faz apelo ao compromisso evangelizador, não faz mais do que indicar aos cris-tãos o verdadeiro dinamismo da realização pessoal”. 43

43 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 10.

Grupo Marista 2928 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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CONCEITOS FUNDAMENTAIS

2

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e ressurreição e se deixam guiar e renovar pelo Espírito Santo – força dina-mizadora da missão.

[39]. O Reino de Deus constitui o núcleo central da pregação de Jesus. 49 Portanto, é objeto e objetivo de toda a ação da Igreja e isso nos leva à seguinte conclu-são: imperativo: “Evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo”. 50 É possível perceber o Reino de Deus acontecendo no mundo por meio de “sinais do Reino”. Os principais sinais são: as atitudes de amor, de perdão, de misericórdia, de justiça, de paz, de solidariedade, de unidade, de respeito, de fraternidade. Por outro lado, sinais de violência, de egoísmo, de destrui-ção, entre outras, equivalem à sua negação. É tarefa fundamental da Igreja mostrar às pessoas que o Reino de Deus constitui uma dimensão real da exis-tência humana e que é possível vislumbrar em todas as culturas as sementes desse Reino.

[40]. Para o Instituto Marista, a promoção do Reino de Deus se dá pela forma de exercer sua missão na educação, no cuidado, na promoção e defesa das crian-ças e jovens, preferencialmente os empobrecidos, sempre fiéis ao carisma de Marcelino Champagnat e criativamente sensíveis aos sinais dos tempos, à luz do Evangelho.

[41]. O processo evangelizador se torna real em nosso meio pelo testemunho au-têntico da fé, da esperança e da caridade51; pelo serviço a todas as pessoas e aos povos52; pela promoção da solidariedade, da justiça, da paz e do bem comum53; pelo diálogo e promoção da unidade entre as culturas, as religi-ões e os saberes54; pela oração, ação litúrgica e sacramental; pelo anúncio ou

49 ver Marcos 1,15 e lucas 4,16-19.50 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. n. 176.51 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Constituições e Estatutos, n. 86, 1º parágrafo.52 De acordo com o Documento de Aparecida, o serviço aos povos, no contexto da evangelização, “[...] envolve assumir plenamente a

radicalidade do amor cristão, que se concretiza no seguimento de Cristo na cruz [...] o amor de plena doação, como solução ao conflito, deve ser o eixo cultural ‘radical’ de uma nova sociedade”. (CelAM. Documento de Aparecida, n. 543)

53 em Redemptor Hominis, n. 15, João Paulo II apresenta a justiça “[...] como elemento essencial da missão da Igreja, indissoluvelmente unido a ela”; a mesma dimensão da justiça é prevista nas Constituições e Estatutos do Instituto dos Irmãos Maristas, n. 86, 3º parágrafo.

54 As fundamentações para esse diálogo podemos encontrar em redemptoris Missio, n. 52, Evangelii Nuntiandi, n. 20 e Christifideles Laici, n. 44. (InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, nn. 83 e 84)

2. CONCEITOS FUNDAMENTAIS

Quem escuta minhas palavras e as põe em prática parece-se com uma pessoa prudente que construiu a casa sobre a rocha. (Mateus 7, 24).

2.1 Evangelização

[38]. Por Evangelização entendemos a missão global da Igreja que, fiel ao projeto de Cristo, empenha-se incansavelmente na promoção do Reino de Deus44, tor-nando-se presente entre as pessoas e as culturas45 de maneira significativa, a fim de promovê-las em dignidade, à luz da fé. 46 Ao referirmo-nos a esse nú-cleo estruturante de nossas ações – a Evangelização –, devemos ter claro “[...] que a evangelização é o centro e a prioridade de nossas atividades apostólicas anunciando a Jesus Cristo e a sua mensagem.” 47 Assim, a evangelização serve ao desenvolvimento humano integral, com ações plurais e complementares, na diversidade das comunidades cristãs. 48 A força evangelizadora da Igreja se edifica na comunhão dos fiéis que, juntos, aderem ao projeto de amor de Deus-Pai, vivem os valores da “vida nova” que Jesus nos legou com sua morte

44 A expressão Reino de Deus representa a realeza eterna de Deus e sua ação salvífica na história, por meio de Cristo. Por isso, o reino designa tanto a dimensão presente como as realidades futuras. o documento Lumen Gentium, do Concílio vaticano II, apresenta a relação entre Igreja e reino de Deus em duplo movimento. De um lado, ela é o reino de Deus presente já em mistério; de outro, deve servir ao reino de Deus pela proclamação da Palavra, pelo testemunho de comunhão e pela prática da caridade.

45 Paulo vI, em Evangelii Nuntiandi, n. 19: “Para a Igreja não se trata de pregar o evangelho em faixas geográficas sempre mais vastas ou a populações sempre maiores, mas também de atingir e como que revolucionar, pela força do evangelho, os critérios de julgamento, os valores determinantes, os pontos de interesse, as linhas de pensamento, as fontes inspiradoras e os modelos de vida da humanidade, que contrastam com a Palavra de Deus e com o projeto da salvação”. sobre essa temática – a Igreja e as culturas –, consultar ainda Gaudium et Spes, nn. 57 a 62; no âmbito do Instituto Marista, consultar também Constituições e Estatutos do Instituto dos Irmãos Maristas, n. 91.

46 Paulo vI, em Evangelii Nuntiandi, n. 17: “nenhuma definição parcial e fragmentária pode dar conta da realidade rica, complexa e dinâmica, como é a da evangelização, sem correr o risco de empobrecê-la e até mutilá-la. É impossível entendê-la se não se busca abranger com o olhar todos os elementos essenciais”. o documento 71 da CnBB, Diretrizes Gerais da ação Evangelizadora no Brasil 2003–2006, evidencia ainda que a evangelização é um processo no qual a culminância é sempre o anúncio e conhecimento explícito de Cristo, sendo antes, no entanto, precedido ou acompanhado pelas exigências da presença, do testemunho, do serviço, do diálogo.

47 UMBrAsIl. Diretrizes da Ação Evangelizadora para o Brasil Marista. Brasília: 2013, p. 18.48 “A partir do coração do evangelho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana, que se deve

necessariamente exprimir e desenvolver em toda ação evangelizadora.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 178).

Grupo Marista 3332 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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proclamação do Evangelho, da vida e missão de Cristo; e pela catequese e de-mais formas de aprofundamento da fé. 55

[42]. Todos nós, que aderimos à missão, estamos sob o mandato de Jesus Cristo: “Ide por todo o mundo e anunciai o evangelho a todo criatura”. 56 Portanto, torná-lo conhecido e amado, sobretudo entre as crianças e jovens, fazendo com que sua proposta de vida seja assumida é nosso objetivo permanente, pois “conhecer a Jesus é o melhor presente que qualquer pessoa pode receber; tê-lo encontrado foi o melhor que ocorreu em nossas vidas, e fazê-lo conhe-cido com nossa palavra e obras é nossa alegria” . 57 Todos nós, embora com funções e graus de envolvimento diferenciados, somos responsáveis pelo processo evangelizador. 58

[43]. Somos desafiados a tornar atual essa missão evangelizadora 59 de forma a bus-car as respostas próprias aos desafios que marcam nossas realidades. Neste empreendimento, estamos cientes de que, acima de nossos esforços intelec-tuais e operacionais, o protagonista maior do processo que nos propomos a perpetuar no tempo e no espaço é o Espírito Santo. Como frisou o Ir. Emili Turu – Superior Geral -, “a evangelização é obra do Espírito Santo e, sem sua ação, tudo se resume apenas a palavras e fogos de artifício”. 60 Desta forma, nossa atitude é de abertura e discernimento; queremos ser terra fértil para a Sua ação sempre renovadora e ousada, geradora de vitalidade, força, ter-nura e paz: “Envias o teu Espírito, as criaturas florescem e a terra inteira se

55 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Constituições e Estatutos, n. 86, 2º parágrafo.56 Marcos 16, 15.57 CelAM. Documento de Aparecida, n. 29.58 “Cada cristão é missionário na medida em que se encontrou com o amor de Deus em Cristo Jesus.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica

Evangelii Gaudium, n. 120).59 o fundamento da evangelização é o próprio Deus trindade, pois é ele o seu autor primeiro. Por desígnio do Pai, existimos em Deus e somos

convidados a participar ativamente de seu projeto: vida digna dos seres humanos em comunhão consigo mesmos, com a natureza e com o próprio Deus. Por Jesus Cristo o propósito divino se torna real em nosso meio. É por meio dele, nele e com ele que nos tornamos partícipes da divindade. Por sua vida e missão, o rosto misericordioso do Pai se torna acessível a nós. e é pela ação permanente do espírito santo que a obra iniciada por Cristo se perpetua no tempo, como Igreja, entre os diversos povos, contextos e culturas. A evangelização, portanto, é um processo que encontra a sua essência na dinâmica do próprio Deus trindade, que é comunhão, diversidade, partilha, doação e amor. em comunhão com ele, os batizados participam do desígnio divino. Pertencendo, portanto, ao Corpo Místico de Cristo, são sujeitos do processo evangelizador. Como Igreja, são dotados por Deus pela diversidade de dons e carismas; e se organizam em ministérios, em vista do serviço ao próximo.

60 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, p. 10.

renova!”. 61 Alicerçados no próprio Cristo, Rocha firme, buscamos inculturar o Evangelho em nosso meio62, qualificando nossa presença entre as pessoas.

[44]. O encontro pessoal com Cristo se dá de formas diversificadas e por caminhos nem sempre previsíveis, e a própria Igreja “deve aceitar esta liberdade in-controlável da Palavra, que é eficaz a seu modo e sob formas tão variadas que muitas vezes nos escapam, superando as nossas previsões e quebrando os nossos esquemas”. 63 Campos privilegiados para esse encontro, dentre ou-tros, são a escuta atenta e a celebração da Palavra; a vivência sacramental, so-bretudo eucarística e da reconciliação; a vida de oração; a vivência pastoral e comunitária; a leitura orante da Bíblia, a presença significativa entre os mais necessitados; a comunhão com as infâncias e juventudes; o trabalho digno e sustentável; a construção do conhecimento enquanto busca da verdade e sabedoria; e a vivência da espiritualidade marial. Esse encontro com Cris-to se dá no cotidiano de nossa existência, junto às pessoas e acontecimentos comuns. O que torna esse encontro possível é sempre o sentido, o porquê e a finalidade que damos para todas as nossas ações, bem como a dignidade que adotamos ao vivenciá-las.

[45]. Nessa caminhada, temos em nosso meio a constante presença de Maria, Nos-sa Boa Mãe. Nos seus passos, descobrimos a cada dia o nosso jeito de ser e a percebemos como “modelo eclesial para a evangelização”. 64 Com Champag-nat, consideramo-la a nossa Primeira Superiora. Na presença de Maria esta-mos mais firmemente unidos ao seu Filho, nosso Senhor. Dela aprendemos, no cotidiano, a “caminhar depressa”, sempre em busca de “novas terras”, junto aos jovens e às crianças, bem como das pessoas atendidas por nossas obras. Dela ouvimos o convite decisivo a respeito de seu Filho: “Fazei tudo o que Ele vos disser”. 65

61 salmo 104,30.62 enquanto comunidade de fé, a Igreja encontra na Palavra de Deus, contida na sagrada escritura e na sagrada tradição, a fonte primeira na

qual se edifica para o fortalecimento da fé e da esperança. A partir dessa fonte inesgotável, a Igreja aprofunda a sua caridade, celebrando e rezando o Mistério Pascal de Cristo, sobretudo por meio da liturgia, fonte e ápice da vida cristã; e tornando vida as promessas das bem-aventuranças.

63 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 22.64 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 288.65 João 2,5.

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2.2 Pastoral

[46]. Por Pastoral compreendemos o agir organizado da Igreja no mundo. 66 Carac-teriza-se pelo cuidado na condução 67 do processo de evangelização68, para que este se desenvolva de forma sistematizada69, orgânica, progressiva e per-manente, apropriando-se de metodologias diversificadas, com a finalidade de tornar a mensagem cristã significativa e eficaz em cada realidade e junto a interlocutores variados. 70

[47]. Na Igreja em geral, o agir pastoral é realizado em diversas instâncias. É in-cumbência primeira do Colégio Episcopal 71 sob a orientação do Papa. Embora atuem em meio a diferentes culturas e etnias, os bispos formam um núcleo de comunhão em torno da autoridade do Papa. “Unidade na diversidade”, como um corpo saudável, “formado de diferentes membros”. 72 Assim, os bispos têm a responsabilidade primeira de organizar a ação evangelizadora nas dio-ceses espalhadas pelo mundo para atender necessidades específicas, como as de ordem eclesial, espiritual, vocacional, educativa, de ação social, entre ou-tras; ou para atender demandas de determinados grupos de interlocutores,

66 lIBÂnIo, João Batista. O que é Pastoral, 1986. este mesmo conceito é trabalhado na obra de JUlIAtto, Ir. Ivo Clemente. Um jeito próprio de evangelizar: A Pastoral na PUCPr, 2008.

67 segundo o Cardeal Dom eusébio oscar scheid – na sua coluna periódica à revista eletrônica Amai-vos –, na cultura bíblica o pastoreio, embora fosse uma profissão vital, era pouco apreciada pelas elites em virtude da rudeza do trabalho, no qual os pastores eram obrigados a se sujar, impregnando-se com o cheiro do rebanho. Foi exatamente este o modelo vital com que Cristo quis se identificar: “eu sou o Bom Pastor” (Jo 10,11). Colocou-se como aquele que zela pelas ovelhas de seu rebanho, dando a vida, se necessário for, para que elas vivam. A partir dessa referência, a atividade do pastoreio remete sempre ao cuidado, ao carinho, à presença e, ao mesmo tempo, à perspicácia, à organização e à coragem. (Disponível em www.amaivos.uol.com.br).

68 segundo Antonio Alves de Melo, “a ação pastoral desenvolve-se, pois, em três campos: edificação da comunidade, compaixão da esperança, luta pelos valores do reino. Desenvolvendo-se em tamanha amplitude, a Pastoral faz com que as dimensões da vida eclesial penetrem nas diferentes situações humanas. também fazem parte da pastoral os projetos operacionalizáveis – planos, diretrizes e opções – que, em cada época e lugar, promovem o encontro entre a intenção de Jesus e a ação da Igreja. tais projetos nascem do empenho dos fiéis – pastores e leigos – na obra comum da evangelização”. (ver Melo, Antônio Alves de, A evangelização no Brasil, 1996)

69 “o desenvolvimento da concepção de Pastoral se deu em concomitância com a discussão em torno da necessidade de um planejamento pastoral [...]. Posto em prática, o planejamento pastoral foi sendo relativizado, até que se alcançou a necessária compreensão de seus valores, riscos e limitações. Hoje o planejamento pastoral ocupa o lugar que lhe é devido.” (Melo, Antônio Alves de. A evangelização no Brasil, 1996)

70 em sua passagem pelo Brasil, Papa Francisco apresentou de forma estupenda o conceito de Pastoral: “Pastoral nada mais é do que o exercício da maternidade da Igreja”. (Discurso no encontro com o episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

71 Há outras expressões análogas, como "ordem episcopal" ou "Corpo de Bispos". significa a unidade estável (institucional, constitucional e hierárquica) dos bispos com o papa. Isto é, um grupo de sucessores dos apóstolos, cuja liderança é exercida pelo Pontífice romano, que na tradição católica é considerado o legítimo sucessor de Pedro.

72 CelAM. Documento de Aparecida, n. 277.

como das famílias, dos educadores, dos jovens, dos idosos, das crianças, dos enfermos, entre outros.

[48]. Em comunhão com o Magistério Eclesial, diversos carismas que compõem a vida da Igreja são reconhecidos e incentivados. Como instâncias legitima-mente autorizadas pela Santa Sé, os Institutos Religiosos também se orga-nizam para atender demandas específicas. Reúnem em si especialistas em determinadas áreas para que sejam o mais possível assertivos na realização da missão. Nosso Instituto está inserido nesse contexto.

[49]. A partir das deliberações e conclusões dos Capítulos Gerais realizados no Instituto Marista, a nossa ação evangelizadora é organizada pastoralmente com o intuito de atender as crianças e jovens por meio da educação cristã. Irmãos, Leigas e Leigos (sejam esses colaboradores, familiares, jovens, ado-lescentes ou crianças), todos formamos comunidades maristas com caráter educativo-evangelizador.

[50]. No Grupo Marista, a ação evangelizadora envolve todos e cada um possui sua responsabilidade na proposta pastoral, que busca atualizar-se permanente-mente. Com uma missão compartilhada, Irmãos, Leigas e Leigos assumimos a proposta pastoral deliberada pelo Conselho Provincial e a tornamos viva em todas as dimensões de nossas ações. Perpassando todas as nossas instân-cias, a vitalidade pastoral se dá, basicamente, por duas formas: a) de forma ex-plícita, em iniciativas de anúncio, aprofundamento e/ou vivência da fé; b) em processos inculturados de forma transversal nas dimensões educativas, sociais, de comunicação, saúde e gestão que compõem o nosso dia a dia.

[51]. Para que a ação pastoral seja desenvolvida de forma sistematizada e orgânica, ela deve compreender alguns requisitos: ter caráter permanente de apostola-do; ser planejada de acordo com as realidades nas quais está inserida; com-portar organicidade das ações, gerando sinergia e comunhão entre os orga-nismos existentes e parceiros; gerar flexibilidade metodológica para que a criatividade e inovação ganhem espaços e permitam o respeito à diversidade;

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e buscar ser resposta aos sinais dos tempos. Desta forma, é oportuno com-preender o conceito de Pastoral integrando as dimensões que seguem.

2.2.1 Apostolado

[52]. O apostolado cristão é compreendido como a participação dos fiéis na missão de Jesus – à semelhança dos apóstolos que Ele enviou –, em vista da afir-mação da vida, da dignidade humana, da justiça e da paz, num mundo em permanente transformação. 73 Aquele que vive o apostolado é alguém que se descobre apaixonado por Jesus Cristo, a quem reconhece como Mestre e Irmão que o acompanha.74 Na medida em que vai discernindo o projeto do Reino, o discípulo “experimenta a necessidade de compartilhar com os outros a ale-gria de ser enviado, de ir ao mundo para anunciar Jesus Cristo” 75, de “sair da própria comodidade e ter a coragem de alcançar todas as periferias que precisam da luz do Evangelho” 76 e tornar realidade o amor e o serviço. Na-turalmente, uma das expectativas do apostolado é contagiar novos corações, suscitar novos discípulos- missionários para o serviço ao mundo.

Jesus, enviado do Pai, é a fonte e o modelo de nosso apostola-do. Pela encarnação ele se une, de certo modo, a cada homem. Consagrado e enviado pelo espírito santo, anuncia a Boa nova do reino. Faz-se servidor de seus irmãos até o dom total da vida. Morre para congregar na unidade a família de Deus. ressuscita-do, consagra toda a criação e a conduz à plenitude. 77

[53]. Muitos apóstolos e discípulos de Jesus são conhecidos por marcarem o esti-lo e espiritualidade de nossa Igreja. Maria, João, Pedro, Paulo, Francisco de Assis, Clara de Assis, Inácio de Loyola, Vicente de Paulo, João Batista de La Salle, Cura d’Ars e tantos outros ainda nos fascinam, atraem e nos ensinam

73 “toda a Igreja é apostólica na medida em que [...] permanece em comunhão de fé e de vida com sua origem. toda a Igreja é apostólica na medida em que é ‘enviada’ ao mundo inteiro; todos os membros da Igreja, ainda que de formas diversas, participam desse envio. A vocação cristã é também por natureza vocação ao apostolado.” (Catecismo da Igreja Católica, n. 863)

74 Cf. CelAM. Documento de Aparecida, n. 277.75 CelAM. Documento de Aparecida. n. 278e.76 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 20.77 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Constituições e estatuto. n. 78. Apud ConCÍlIo vAtICAno II. Gaudium et Spes, n. 22.

pelo testemunho vivo da virtude e da fidelidade. Nesse aspecto, o Documento de Aparecida reconhece que “nossas comunidades levam o selo dos apóstolos e, além disso, reconhecem o testemunho cristão de tantos homens e mulheres que espalharam em nossa geografia as sementes do Evangelho”. 78 Ainda en-fatiza que o exemplo de vida e santidade dessas pessoas constitui um presen-te estímulo para que outros cristãos possam “imitar suas virtudes nas novas expressões culturais da história”. 79

[54]. O Irmão Seán Sammon aprofunda a discussão afirmando que o apostolado é um serviço que apresenta três aspectos característicos: a) O compromisso fun-damental de tornar Jesus Cristo conhecido e amado. Pois não é suficiente que nossas frentes apostólicas apenas sejam reconhecidas por serem centros de excelência, mas também por serem lugares onde o Evangelho é proclamado e testemunhado. Todavia, é possível que crianças e jovens de outras crenças estejam sob nossa responsabilidade. Nesse caso, em situações de pluralis-mo religioso, testemunhamos nosso compromisso de fé encorajando-as a praticarem também a sua própria fé, de acordo com sua herança religiosa. 80 b) Todos os nossos esforços apostólicos devem ter em vista algum benefício às crian-ças e jovens. Diversos institutos foram criados para trabalhar com diferentes grupos humanos. O nosso foi fundado para atender crianças e jovens. O que não significa excluir, em situações especiais, outros trabalhos, assim como fez o próprio fundador81, desde que esses esforços não desviem nosso foco. c) Somos chamados para trabalhar com os empobrecidos e excluídos. 82

78 CelAM. Documento de Aparecida. n. 275.79 CelAM. Documento de Aparecida. n. 275.80 Ao referir-se ao diálogo religioso, assim assinala o Papa Francisco: “são tantas e tão valiosas as coisas que nos unem! e, se realmente

acreditamos na ação livre e generosa do espírito, quantas coisas podemos aprender uns dos outros! não se trata apenas de receber informações sobre os outros para os conhecermos melhor, mas de recolher o que o espírito semeou neles como um dom também para nós.” (Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 246)

81 MArCelIno CHAMPAGnAt. Instituto dos Irmãos maristas (org.). Cartas, n. 27.82 em tempos de “reforma da Igreja”, imbuídos pelo espírito do Papa Francisco, não podemos esquecer que “no coração de Deus ocupam lugar

preferencial os pobres, tanto que até ele mesmo ‘se fez pobre’ (2Cor 8,9). todo o nosso caminho de salvação está assinalado pelos pobres”. (Evangelii Gaudium, n. 197). e mais: “Para a Igreja, a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica [...]. Por isso, desejo uma Igreja pobre para os pobres. eles têm muito a nos ensinar [...]. É necessário que todos nos deixemos evangelizar por eles. A nova evangelização é um convite a reconhecer a força salvífica das suas vidas e a colocá-las no centro do caminho da Igreja”. (Evangelii Gaudium, n. 198)

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[55]. No cumprimento dessa missão apostólica, Maria ocupa uma posição privile-giada na vida dos maristas de Champagnat, posição plenamente confirmada pelo XXI Capítulo Geral. Maria é modelo também de apostolado, é caminho que nos conduz a Jesus Cristo, na medida em que suas virtudes inspiram nos-so modo de ser 83 e agir e nos desafiam a caminhar rumo a novas formas de serviço. Com Maria nos sentimos amparados e encorajados.

[56]. O apostolado marista é caracterizado, ainda, por uma relação de parceria e complementaridade entre Irmãos, Leigas e Leigos, respeitando-se os estados de vida e expressões da vida cristã, onde se inclui a vida consagrada e o lai-cato. No caso dos Leigos e Leigas, são eles “cristãos e cristãs que atenderam ao chamado de Deus para viver o carisma de Champagnat e a ele respondem a partir de seu estado de vida laical”. 84 A natureza e especificidade que ca-racteriza cada um desses apostolados encontram-se muito bem contextuali-zada nos documentos Em torno da mesma mesa e Vida Marista: Irmãos Leigas e Leigos.85

2.2.2 Planejamento

[57]. Planejar é necessidade vital para a eficácia de qualquer atividade. No caso da evangelização, esta também “exige”, de certa forma, uma ação planejada. A ação pastoral, enquanto cuidado, acompanhamento, organização e siste-matização do processo evangelizador, tem, entre outras atribuições, a função de planejar iniciativas evangelizadoras, considerando realidades e interlocu-tores diversificados. Neste contexto, há que se compreender o planejamento como algo aberto, que agregue e gere espaço para o desenvolvimento de ini-ciativas diversas. O grande autor da evangelização em nosso meio é o Espírito Santo 86 e, nesse sentido, planejar deve ser compreendido como uma iniciati-va que visa acolher o sopro do Espírito, de forma dinâmica.

83 Para aprofundar, ver InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Constituições e Estatutos, n. 4; n. 48; n. 84.84 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Em torno da mesma mesa. A vocação dos leigos Maristas de Champagnat, n. 12.85 PMBCs. setor de vida Consagrada e laicato. Vida Marista: Irmãos, Leigas e leigos, 2010.86 “em qualquer forma de evangelização, o primado é sempre de Deus [...]. em toda a vida da Igreja, deve-se sempre manifestar que a iniciativa

pertence a Deus.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 12)

[58]. O planejamento pastoral é um recurso importante na otimização dos esfor-ços para a construção do Reino de Deus. Essa foi a grande tônica do primeiro Plano Provincial de Pastoral. Planejar pressupõe desenhar trajetórias, assu-mir responsabilidades, compartilhar sonhos, racionalizar recursos, compro-meter-se vocacionalmente com decisões e ações que impactam a vida pessoal e comunitária.

[59]. Para responder às necessidades e atender as novas demandas do processo de sistematização e de organização da ação evangelizadora no Grupo Marista, buscou-se, desde o início, privilegiar um processo de planejamento partici-pativo, compreendido como processo político, no qual sujeitos interagem em função das necessidades, interesses e objetivos comuns. Quando acolhemos os sujeitos comprometidos com a Instituição e os convidamos a participar, oportunizamos relações dialogais ao mesmo tempo em que sinalizamos a pessoa como valor essencial e imprescindível do processo.

[60]. Um bom planejamento pastoral requer o conhecimento da realidade, da mis-são da Instituição e a clareza de onde se quer chegar. 87 Três questões essen-ciais orientam o planejamento: primeiro, a utopia: O que se quer alcançar? Segundo, o diagnóstico: A que distância se está daquilo que se quer alcançar? Terceiro, a ação programada: O que fazer concretamente para diminuir essa distância? Portanto, planejar é optar por uma direção; ter clareza do cená-rio; organizar a ação; implantar um processo intencional de intervenção na realidade; realizar um conjunto de ações e propostas para aproximar uma realidade de um ideal; pôr em ação um conjunto de técnicas e recursos para atingir objetivos. 88

[61]. Aqui, entretanto, devemos estar atentos às orientações do Papa Francisco no tocante às nossas estratégias pastorais: a realidade é mais importante do que as

87 esse esquema é justamente aquele empregado por Francisco em sua exortação Apostólica Evangelii Gaudium, com a qual propõe “diretrizes que possam encorajar e orientar, em toda a Igreja, uma nova etapa evangelizadora, cheia de ardor e dinamismo” (Evangelii Gaudium, n. 17). na exortação, o Papa realiza uma análise da realidade, abordando a crise do compromisso comunitário (Capítulo II); após, aborda a natureza mesma da Igreja: missionária-evangelizadora (Capítulo III); por fim, no último capítulo (Capítulo v) apresenta a razão de tudo isso: somos evangelizadores com espírito, ou seja, temos um ponto de partida e um ponto de chegada: a ternura de Deus.

88 Cf GAnDIn, Danilo. A prática do planejamento participativo, p. 18-19.

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ideias. Conscientemente, assim assinala o Bispo de Roma: “Existe também uma tensão bipolar entre a ideia e a realidade: a realidade simplesmente é, a ideia elabora-se. Entre as duas, deve estabelecer-se um diálogo constante, evitando que a ideia acabe por separar-se da realidade. É perigoso viver no reino só da palavra, da imagem, do sofisma. Por isso, há que postular um [...] princípio: a realidade é superior à ideia. Isto supõe evitar várias formas de ocultar a realidade: os purismos angélicos, os totalitarismos do relativo, os nominalismos declaracionistas, os projetos mais formais que reais, os funda-mentalismos anti-históricos, os eticismos sem bondade, os intelectualismos sem sabedoria”. 89 Tal apelo fundamental desafia-nos a pensar o modo como estamos evangelizando, o processo, o planejamento e as estruturas pastorais do Grupo Marista. Partimos da constatação de que há um “horizonte”, um lu-gar profético para o qual somos convidados a caminhar. Há também o “tempo presente” como momento histórico-cultural que necessita ser constantemen-te interpretado. Há um tempo para viver, um caminho para percorrer e um lugar para se chegar.

2.2.3 Organicidade

[62]. Um dos critérios inerentes ao seguimento de Jesus Cristo é a unidade na diversidade: somos ramos diferentes da videira (Cristo), animados pela sei-va vivificante (Espírito Santo), para produzir bons frutos (evangelização) – conforme lemos em João 15,1-8. O apóstolo Paulo amplia esta perspectiva: somos Igreja-Corpo, na variedade de carismas e ministérios, articulados por “juntas e ligaduras”. 90 Com funções diversificadas, de modo a tornar nossas iniciativas abrangentes, formamos um agir harmônico, complemen-tar e, consequentemente, mais eficaz. 91 As “juntas e ligaduras” se referem às instâncias de discernimento e deliberação, que servem ao agir corporativo. Focados numa evangelização orgânica, como Instituto Marista buscamos criar sinergia entre as orientações do Magistério Eclesial, os direcionamen-tos da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e entre nossas

89 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 231.90 Cf. ef 4,15-16.91 “A Igreja não é jamais uniformidade, mas diversidades.” (PAPA FrAnCIsCo. Discurso no Encontro com o Episcopado Brasileiro, 27/07/2013)

próprias forças internas (como as demais províncias e a UMBRASIL), con-jugando funções e expertises.

[63]. Atualmente, no Brasil, os Maristas estão organizados em três unidades admi-nistrativas, a saber: Província Brasil Centro-Norte, Província do Rio Grande do Sul e Grupo Marista. Também atuam em território amazônico, no deno-minado Distrito da Amazônia. Todas essas unidades administrativas formam uma aliança através da União Marista do Brasil (UMBRASIL), que é o orga-nismo que articula, integra e potencializa a atuação Marista no país. A partir dessa instância, o trabalho em rede, para a ampliação dos resultados e seus impactos, passa a ser uma necessidade vital para nossa Instituição. 92

[64]. Quando se pensa a partir da abrangência territorial e da complexidade das estruturas, percebemos que a tarefa é desafiadora, mas não impossível. O Grupo Marista abrange os estados do Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul e Goiás, bem como o Distrito Federal, com várias frentes de atuação: Ensino Fundamental, Ensino Superior, Educação Profissional, Comunicação, Solidariedade, Saúde, Editora FTD e estruturas de formação e residências dos Irmãos Maristas.

[65]. Em todas essas frentes a Pastoral deve empenhar-se para gerar processos que congreguem os esforços educativos, de gestão, solidariedade e assistên-cia social, comunicação, cuidado em saúde, tendo em vista os mesmos fins, sendo o principal “tornar Jesus Cristo conhecido e amado, sobretudo entre as crianças e os jovens”. Em rede, somos desafiados a cultivar iniciativas in-terligadas, sejam internamente ou em parceria com instâncias eclesiais di-versas ou setores da sociedade em geral. No agir orgânico é que se constrói

92 Além de ser uma necessidade vital, o trabalhar em rede atende aos desejos do Papa Francisco, que, em diversas ocasiões, expressou o seu desejo de uma “Igreja das Cercanías”: “A proximidade cria comunhão e pertença, dá lugar ao encontro” (Discurso no Encontro com o Comitê de Coordenação do CELAM, 28/07/2013). e ainda: “não podemos ficar enclausurados em nossas paróquias, em nossa comunidade, em nossa instituição paroquial ou em nossa instituição diocesana quando tantas pessoas estão esperando o evangelho. sair, enviados. não se trata de um simples abrir a porta para que venham, para acolher, mas sair pela porta para buscar e encontrar. empurremos os jovens para que saiam. não tenhamos medo! Pensemos com decisão na pastoral desde a periferia, começando pelos que estão mais afastados, os que não frequentam a paróquia. eles são os nossos convidados ‘vIP’”. (Homilia na Santa Missa com os bispos, sacerdotes, religiosos e seminaristas, 27/07/2013)

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uma Instituição em Pastoral, na qual as iniciativas sejam sinérgicas, de forma a atingir o mesmo fim.

2.2.4 Flexibilidademetodológica

[66]. O Documento 94 da CNBB afirma aquilo que, de certa maneira, já vínhamos constatando pelas nossas experiências em evangelização: “Instrumentos e métodos que deram certo em outros momentos históricos, com resultados que nos alegram profundamente, podem não apresentar, em nossos dias, condições de transmitir e sustentar a fé”. 93 O Papa Francisco, nesse aspecto, é muito assertivo: “A pastoral em chave missionária exige o abandono deste cômodo critério pastoral: ‘fez-se sempre assim’. Convido a todos a serem ou-sados e criativos nesta tarefa de repensar os objetivos, as estruturas, o estilo e os métodos evangelizadores [...]. Uma identificação dos fins sem uma condig-na busca comunitária dos meios para alcançá-los está condenada a traduzir--se em mera fantasia”. 94

[67]. Tantas quantas forem as necessidades e formas de vidas humanas, tantos de-vem ser os métodos a serem empreendidos tendo em vista a evangelização. A partir da pedagogia de Jesus, aprendemos que o ponto de partida é sempre o contexto daquele que se apresenta diante dos projetos como interlocutor. Com cada pessoa ou grupo o próprio Cristo utilizava abordagens diversifica-das, respeitando sempre a linguagem, os interesses e os limites de cada um. 95 Essa forma de agir é o que caracteriza a dinamicidade do Espírito Santo que sempre suscita novas formas de evangelizar.

[68]. No entanto, é possível identificar nas ações de Jesus alguns elementos cons-tantes, que são oportunos também a nós. Por métodos variados, buscava sem-pre envolver as pessoas na proposta do Reino, tornando-as protagonistas,

93 CnBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2011-2015. Doc. 94, n. 25.94 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 33.95 “[...] sem diminuir o valor do ideal evangélico, é preciso acompanhar, com misericórdia e paciência, as possíveis etapas de crescimento

das pessoas, que se vão construindo dia após dia.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 44) “vemos assim que o compromisso evangelizador se move entre as limitações da linguagem e das circunstâncias.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 45) “Muitas vezes é melhor diminuir o ritmo, pôr à parte a ansiedade para olhar nos olhos e escutar, ou renunciar às urgências para acompanhar quem ficou caído à beira do caminho.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 46)

parceiras. Não utilizava respostas preestabelecidas, mas procurava contri-buir para que cada um pudesse tornar significativo para seu próprio contexto as verdades da fé. Nos passos de Cristo, também Champagnat e os primeiros Irmãos souberam permanentemente se adaptar ao seu tempo de forma flexí-vel, mantendo, no entanto, a preocupação de garantir às crianças e jovens um processo educativo que lhes envolvesse de forma integral.

[69]. A flexibilidade sempre foi uma característica presente no modo de agir do Instituto Marista. Em meio aos inúmeros desafios advindos da Igreja e do Estado no período da França revolucionária, o fundador vislumbrava pos-sibilidades que superavam a visão de muitos dos seus contemporâneos. “O seu cristianismo era prático: era capaz de encontrar soluções para os proble-mas que surgiam e ainda tirar o melhor proveito deles. E, quando as dúvidas e preocupações lhe sobrevinham, sua simplicidade, a crença inabalável na presença de Deus e a confiança em Maria e sua proteção o sustentavam.” 96 Talvez por isso Champagnat e os primeiros irmãos não estivessem muito pre-ocupados em criar uma nova teoria pedagógica, mas em se apropriar, com discernimento e fidelidade aos seus princípios, daquilo que já havia na época. Tal flexibilidade de pensamento permitiu que os irmãos focassem nos méto-dos 97 que melhor respondessem as necessidades de educação e evangeliza-ção, não excessivamente às fórmulas prontas. Buscavam estar sensíveis “[...] às necessidades da idade infantil, os meios de satisfazê-las e os segredos para conquistar seus corações, orientá-las para o bem, inspirar-lhes a piedade e formar-lhes as faculdades da alma”. 98

[70]. Ao contemplarmos o tempo presente, nosso desafio consiste em discernir a eficiência das linguagens que utilizamos para “comunicar” Jesus Cristo. É in-dispensável a elaboração de modos que facilitem a descoberta das pessoas

96 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo conhecido e amado. p. 45.97 ver em Guia das escolas o modo como os Irmãos avaliavam os sistemas gerais de ensino da época: o individual, o simultâneo e o mútuo.

Depois de analisar as vantagens e desvantagens de ambos, e percebendo a inviabilidade do método individual, chega-se à conclusão de que “é fácil conjugar os métodos simultâneo e mútuo e aproveitar as vantagens de ambos. [...] os dois métodos assim combinados formam o que se chama de ensino simultâneo-mútuo [...] que julgamos ser o mais apropriado [...]”. (InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria 1852-1853-1854. Guia das escolas, p. 151).

98 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. II Capítulo Geral do Instituto dos Pequenos Irmãos de Maria 1852-1853-1854. Guia das escolas, p. 149.

Grupo Marista 4544 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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de hoje em relação ao Evangelho. Eles necessitam perceber e experienciar a verdade cristã fecundando seu ambiente, apontando valores perenes e orien-tando projetos de vida. Se diferentes grupos têm sua linguagem própria, sua maneira de pensar, de viver, de comunicar, todos eles necessitam de uma me-diação pastoral que lhes é específica. O conteúdo do Evangelho é sempre o mesmo – “verdade sempre antiga e sempre nova” –; mas as formas e métodos de transmiti-los são sempre dinâmicos e fluídos. Por isso, não podemos dei-xar de mencionar o desejo do Papa Francisco: “Se pretendemos colocar tudo em chave missionária, isso se aplica também à maneira de comunicar a men-sagem [...] as enormes e rápidas mudanças culturais exigem que prestemos constante atenção ao tentar exprimir as verdades de sempre numa linguagem que permita reconhecer a sua permanente novidade; é que no depósito da doutrina cristã, ‘uma coisa é a substância [...] e outra é a formulação que a re-veste’ (João XXIII. Discurso na inauguração do Concílio Vaticano II) [...]. Por ve-zes [...] somos fiéis a uma formulação, mas não transmitimos a substância”. 99

[71]. No Grupo Marista, as ações pastorais buscam a transversalidade, adaptan-do-se aos respectivos contextos nas quais se incultura. A linguagem adotada é sempre própria à Instituição e às particularidades das pessoas e estruturas envolvidas. Como interlocutor e protagonista do Reino, cada um é convidado a enriquecer o diálogo com sua inteligência, com sua experiência de vida e fé, de modo que todos são convidados a tornarem-se sujeitos nos processos pastorais.

2.2.5 Atençãoaossinaisdostempos

[72]. Há “sinais dos tempos” que precisam ser discernidos à luz do Espírito, que atua na história – enfatizava João Paulo II. Se, por um lado, reconhecemos que a Boa Nova é portadora de valores imutáveis, por outro também compre-endemos que os métodos e as estratégias de evangelização precisam respon-der aos novos desafios que vão se apresentando na história. A eficácia de uma

99 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nn. 40.41.

“Nova Evangelização” 100 depende dessa capacidade de fazermos a leitura crí-tica da realidade, leitura atenta dos “sinais dos tempos”, suscitada ao povo de Deus, que, no conjunto dos seus ministérios, se constitui em Igreja de comu-nhão. O documento conclusivo da Conferência de Aparecida reconhece tal necessidade, acentuando que “a Igreja é chamada a repensar com fidelidade e audácia sua missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais”. 101 Somos, assim, orientados a assumir os contornos da América Latina e aco-lher as culturas e cenários que a compõe, pois “não faria justiça à lógica da encarnação pensar num cristianismo monocultural e monocórdio”. 102

[73]. O cenário contemporâneo é marcado por realidades complexas, além do já conhecido embate entre as cosmovisões da modernidade e pós-modernidade. 103 Segundo o Ir. Seán Sammon, a modernidade, que teve início com o Ilumi-nismo, ganhou envergadura com a Revolução Industrial e permaneceu forte até meados do século XX. Essa época foi marcada por um rápido progres-so científico e pela crença de que a razão humana, e apenas ela, seria capaz não apenas de explicar a natureza, mas de melhorá-la. O individualismo, uma grande confiança na razão científica e a crença ilimitada no progresso material seriam os aspectos característicos da modernidade. Tal cosmovisão deslocou a religião para a esfera subjetiva, tornando o simbolismo, a fé e o mistério como elementos secundários da vida.

100 A expressão Nova Evangelização foi utilizada publicamente por João Paulo II em uma homilia proferida na Polônia, em 1979. em 1983, falando na XIX Assembleia do CelAM, no Haiti, o Papa volta a usar a expressão no sentido de que no processo evangelizador das Américas se deve vislumbrar um ardor e métodos renovados no jeito de ser Igreja. A expressão se apresentou de uma maneira quase profética, mais como um desejo do que como uma sistematização da ação da Igreja. o arcabouço teológico e conceitual da Nova Evangelização, entretanto, coube a Bento XvI, que convoca o sínodo dos Bispos, em 2012, para debater a proposta da Nova Evangelização, que deve ser entendida não apenas no tocante às expressões da fé, mas no questionamento dos fundamentos da própria fé. A Nova Evangelização, por conseguinte, é a tentativa de tornar Cristo conhecido, é a proposta de encontrarmos caminhos e situações que nos façam realmente experienciar, a partir do espírito de Jesus, a ternura do Pai. Acolhendo as orientações do Sínodo da Nova Evangelização, Papa Francisco publica a exortação Apostólica Evangelii Gaudium, a qual conclama a Igreja a uma revisão de sua pastoral e da evangelização.

101 CelAM. Documento de Aparecida, n. 11.102 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 117.103 ver a diferenciação entre modernidade e pós-modernidade trazida no documento preparatório para o XXI Capítulo Geral. (InstItUto Dos

IrMãos MArIstAs. seán sammon. Corações Novos para um Mundo Novo, n. 4 e 8)

Grupo Marista 4746 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[74]. Nesse tempo, alguns setores mais conservadores da Igreja apenas se defen-deram104 diante das mudanças que se anunciavam. A Igreja tendeu fechar--se em sua própria estrutura, até que, corajosamente, o Concílio Vaticano II abriu novas janelas e portas com a Constituição Pastoral sobre a Igreja no Mun-do Moderno – intitulada “Alegria e esperança” (Gaudium et Spes). O Concílio Vaticano II foi um sinal claro de que a Igreja finalmente aceitava dialogar com modernidade. No entanto, quando a Igreja decidiu enfrentar a modernidade, os princípios que a sustentavam passam a ser questionados pelo pensamento pós-moderno.

[75]. Embora difícil de ser definida com clareza, a pós-modernidade caracteriza-se por não aceitar verdades acabadas; por colocar em xeque a razão como forma legítima de apreensão da realidade; por não aceitar a ciência como verdade absoluta, levando em conta a sua contextualidade e provisoriedade; por pro-mover a tolerância, acolher a diversidade e a pluralidade; pelo retorno à reli-gião e à espiritualidade, especialmente entre os jovens. A pós-modernidade abre muitas portas, porém, apresenta sérios desafios à Igreja: “O individu-alismo pós-moderno e globalizado favorece um estilo de vida que debilita o desenvolvimento e a estabilidade dos vínculos entre as pessoas e distorce os vínculos familiares. A ação pastoral deve mostrar ainda melhor que a relação com o nosso Pai exige e incentiva uma comunhão que cura, promove e forta-lece os vínculos interpessoais”. 105

[76]. Nosso carisma sempre ousou capturar e responder ao conjunto de necessi-dades do seu tempo. Hoje, necessitamos desenvolver uma nova inteligência e sensibilidade para interagir com o mundo em seus diferentes contextos. A “atenção aos sinais dos tempos” revela nossa preocupação com uma ação evangelizadora historicamente situada. Desenvolvemos tal característica à medida que nos esforçamos para desenvolver competências que nos ajudem

104 vale ressaltar que outros setores da Igreja foram na direção contrária: citamos, por exemplo, o Movimento Bíblico, Movimento ecumênico, Movimento Catequético, Movimento litúrgico, Movimento Patrístico e Movimento Missionário. A esses seis moveres é atribuído o estopim para o Concílio vaticano II. o vaticano II foi resultado de passos anteriores, de amplos setores que não se fecharam na autodefesa eclesial. Daí as temáticas dos principais documentos do Concílio: Dei Verbum, Unitatis Redintegratio, Sacrosanctum Concilium, Ad Gentes, Nostra Aetate e Gaudium et Spes.

105 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 67.

a ler as transformações do mundo (as análises de conjuntura, as análises si-tuacionais, os clamores sociais e do povo oprimido), a avaliar tendências, de-safios e oportunidades, sem perder de vista nossa essência.

[77]. Como aconteceu em outros momentos históricos – com seus respectivos pa-radigmas –, também o atual milênio nos oferece, ao mesmo tempo, crises e oportunidades. Urge discernir e agir conjuntamente com as ciências, com as novas tecnologias, com as demais religiões organizadas, abrindo o tesouro do Evangelho aos novos cenários sem sentimento de culpa ou constrangimen-tos. “O diálogo entre ciência e fé também faz parte da ação evangelizadora que favorece a paz. [...] A Igreja propõe um caminho que exige uma síntese entre um uso responsável das metodologias próprias das ciências empíricas e os outros saberes como a filosofia, a teologia e a própria fé que eleva o ser humano até ao mistério que transcende a natureza e a inteligência humana [...]. A evangelização está atenta aos progressos científicos para iluminá-los com a luz da fé e da lei natural, tendo em vista procurar que sempre respeitem a centralidade e o valor supremo da pessoa humana em todas as fases da sua existência. Toda a sociedade pode ser enriquecida através deste diálogo que abre novos horizontes ao pensamento e amplia as possibilidades da razão.” 106

[78]. Desse modo, olhando para a nossa realidade e responsabilidade apostólica, é preciso que nos perguntemos sempre: Como tal realidade toca nossa missão? Quais são os desafios aos quais devemos fazer frente nesse momento da his-tória? Como é possível nos apropriarmos desses traços da contemporaneida-de no intuito de aperfeiçoarmos nossas estratégias de evangelização?

2.2.6 Recursos

[79]. Nas variadas instâncias da organização há pessoas e/ou setores com a res-ponsabilidade de animar, articular, empreender, gerir, planejar e acompa-nhar as ações, de modo a garantir o alinhamento, a sinergia, a dissemina-ção dos valores, o comprometimento e a espiritualidade. Esse movimento só se torna possível com a gestão qualificada dos recursos. No Grupo Marista,

106 PAPA FrAnsCIso. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 242.

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todos os nossos esforços são direcionados para o cumprimento da missão, que é eminentemente educativo-evangelizadora. Na ação pastoral, os recur-sos - humanos, econômicos, estruturais e comunicacionais - tornam-se pro-pulsores da missão. Nossa identidade cristã deve também ser compreendi-da como dimensão de empreendimento, na medida em que empreendemos ações para um mundo melhor, com mais justiça e dignidade para todos.

[80]. A literatura da administração e governança é unânime ao apontar o “capital humano” como o elemento mais precioso em uma organização, seja ela de qualquer natureza. Essa afirmação deve ser exponenciada nas organizações de caráter educativo. Por isso, todos os agentes envolvidos no desenvolvimen-to dos processos sociais, educativos, de gestão, de comunicação, de saúde e tantos outros merecem receber sólida formação, tendo em vista o desenvolvi-mento humano, profissional, cristão e marista. 107 Respeitando as dimensões pessoais e as características das diferentes frentes apostólicas que compõem o Grupo Marista, o carisma marista deve ser um dom partilhado com todos que compõem nossas comunidades. Deve ser fonte de inovação, constante qualificação, bem como proporcionar abertura ao mundo das ciências, da cultura, com visão sempre ampliada e intenção agregadora.

[81]. Compreendemos que os recursos econômicos também são valores que estão a serviço da missão. Segundo o Papa Bento XVI, a “área econômica não é nem eticamente neutra nem de natureza desumana [...]. Pertence à atividade do homem; e, precisamente porque humana, deve ser eticamente estrutura-da e institucionalizada”. 108 Portanto, ela está inserida num contexto da vida humana e, por consequência, no contexto da evangelização. É provisão ne-cessária para a caminhada, para a potencialização e expansão da missão. Os recursos devem ser administrados por pessoas qualificadas tanto nas com-petências técnicas como morais. Buscamos a inserção assertiva no mundo da economia, pois “cada decisão econômica tem consequências de caráter

107 “A formação dos leigos e a evangelização das categorias profissionais e intelectuais constituem um importante desafio pastoral.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 102)

108 Bento XvI. Caritas in Veritate, n. 36.

moral”. 109 Por isso, temos um compromisso claro com o “uso evangélico dos bens”. 110

[82]. Marcelino Champagnat, desde a fundação do Instituto, zelava muito pela ga-rantia de estruturas físicas adequadas para potencializar a realização do tra-balho cotidiano. Os recursos físicos ou estruturais também são importantes para o desenvolvimento de nossos processos, desde que a organização dessas coisas subordine-se à ordem das pessoas e não ao contrário. Nesse sentido, interroga-se o Papa Francisco: “Às vezes interrogo-me sobre quais são as pes-soa que, no mundo atual, se preocupam realmente mais com gerar processos que construam um povo do que com obter resultados imediatos que produ-zam ganhos políticos fáceis, rápidos e efêmeros, mas que não constroem a plenitude humana”. 111 São meios – como espaços físicos (capelas, salas para encontros ou reuniões, auditórios etc.), recursos didáticos, estruturas e ser-viços, novas tecnologias – que melhoram as condições de trabalho, da educa-ção, da integração, do bem estar, do serviço e da participação. 112 Do ponto de vista estético, bem como do funcional, devem tornar-se meios acolhedores e eficientes, colocados a serviço da missão.

2.3 Carisma

[83]. O termo “carisma” é incorporado à tradição cristã a partir do Novo Testa-mento, sobretudo quando Paulo apóstolo dirige-se à comunidade de Corin-to para ilustrar a existência de muitos dons espirituais, dádivas distribuídas por Deus aos homens e mulheres. Paulo proclama que “existem carismas diferentes, mas um único Espírito; existem ministérios diferentes, mas um único Senhor; existem atividades diferentes, mas um único Deus que realiza tudo em todos. A cada um é dado uma manifestação do Espírito para o bem

109 Bento XvI. Caritas in Veritate, n. 37.110 vide mais reflexões sobre o tema em: ost, Ir. Pedro. Uso evangélico dos bens, 2009.111 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 224.112 Aqui é interessante notar o testemunho de santa teresa D’Ávila (1515-1582) sobre a questão do uso dos bens; ao ser questionada sobre o

papel do dinheiro na missão cristã, responde: “teresa sozinha é uma boa mulher; teresa com Deus é uma santa; teresa com Deus e dinheiro é uma potência”. Citado por sCIADInI, Patrício. Contemplando o mundo e o céu com Santa Tereza. são Paulo: oCD. 2000.

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comum”. 113 A ideia da existência de carismas diferenciados tornou-se um ele-mento importante para a animação pastoral na história cristã.

[84]. Paulo VI, ao escrever para o Concílio Vaticano II, enfatizou a importância da diversidade dos carismas no dinamismo da ação evangelizadora da Igreja114, preferindo relacioná-lo à missão. Mais tarde, João Paulo II optou por apro-ximá-lo do termo consagração. Estas palavras, (carisma, missão e consagra-ção) às vezes se equivalem, embora, de modo geral, compreenda-se o carisma como “um dom do Espírito oferecido para o bem da Igreja, que se estende a toda a humanidade”. 115

[85]. O carisma é o efeito da presença do Espírito no meio do povo. O Concílio Va-ticano II enfatizava que é impossível impedir a ação do Espírito Santo ou, pela razão humana, impor limites à generosidade de Deus à humanidade. O carisma manifesta-se com mais força na história justamente nas condições de maior adversidade. Portanto, não nos soa estranho o fato de que Marcelino Champagnat tenha fundado o Instituto e o feito progredir num dos cenários políticos mais anticlericais e antirreligiosos da história recente do Ocidente. Desse modo, entendemos que “o carisma do Instituto é nada mais nada me-nos do que a presença do Espírito Santo” 116 atuando na humanidade por meio de pessoas.

[86]. Uma magnífica reflexão sobre o carisma e as implicações desse na Instituição religiosa foi tecida na Carta Circular Tornar Jesus Cristo conhecido e amado, do Ir. SeánSammon. Para Sammon, é necessário distinguir o carisma em duas perspectivas: o carisma pessoal e o carisma institucional. Na primeira pers-pectiva, cada pessoa é desafiada a discernir a maneira pela qual Deus esco-lheu agir por intermédio da subjetividade em benefício do coletivo. Ou seja,

113 1Cor 12, 1-7.114 Paulo VI, na Exortação Apostólica Evangelica Testificatio, versa sobre a Renovação da Vida Religiosa segundo os ensinamentos

do Concílio Vaticano II. Disponível em <http://www.vatican.va>.115 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 28.116 A vida do fundador oferece muitos exemplos da presença do espírito: a maneira com que encarava os fracassos e sucessos pelos olhos da fé,

por isso assumia riscos quando os incrédulos aconselhavam prudência; o surgimento de duas vocações dois meses após chegar em la valla; a crise de vocações e construção de Hermitage; a confiante proteção em Maria, parceira na obra de fé. (Cf. InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 30)

o modo pelo qual cada um é capaz de reconhecer-se como instrumento nas mãos de Deus em vista de um projeto que transcende sua individualidade. Numa cultura de tendência individualista, o desafio está no fato de que “a maioria raramente se considera portador de um dom especial do Espírito a ser colocado a serviço do bem de todos”. 117 Na segunda perspectiva, quando utilizado para referir-se a um instituto religioso, o carisma institucional assu-me sentido diferenciado daquele atribuído a uma só pessoa. Há duas razões para isso: geralmente o carisma de um instituto é constituído pela influên-cia de muitas pessoas, o que lhe favorece uma longa permanência no tempo. Permanência no tempo e a construção coletiva são fatores que transferem o carisma do domínio individual para o domínio coletivo, que é o domínio da comunidade-Igreja. 118

[87]. Marcelino Champagnat foi um homem marcado pela fé em Jesus Cristo, pela devoção à Maria Santíssima – a quem carinhosamente intitulava Boa Mãe – e pelo contato com o sofrimento humano, vivenciado, sobretudo, no aten-dimento pastoral-sacramental. Como sabemos, a fundação do Instituto Ma-rista tem como marco desencadeador a experiência de sofrimento e morte do pobre jovem Jean-BaptisteMontagne. Diante dos olhos de Champagnat, o Espírito lhe fazia ver que Montagne era a imagem de milhares de jovens camponeses que viviam sob as mesmas condições de pobreza, de ignorância intelectual e religiosa. E os primeiros Irmãos foram seduzidos pela experi-ência carismática de Champagnat, pelo seu caráter firme, pelo seu projeto de sociedade e Igreja, cuja transformação passava audaciosamente pela educa-ção com característica mariana; daí maristas.

[88]. Ainda pequena, a comunidade dos Irmãos Maristas vivia sob um encanta-mento místico, que delineava aos poucos a identidade daquele grupo, suas características operacionais e suas estratégias de atuação, embora, muitas vezes, fossem guiados pela intuição. Tem-se em torno da figura do fundador

117 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 28.118 o Ir. seán sammon enfatiza que os carismas institucionais apresentam características peculiares, como “fidelidade ao senhor, atenção aos

sinais dos tempos, iniciativas ousadas, doação pessoal persistente, humildade para lidar com as diversidades e desejo de fazer parte da Igreja.” (InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 29)

Grupo Marista 5352 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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uma tradição religiosa em constituição. Num segundo momento, quando os Irmãos Maristas tornam-se numerosos, foi necessário que a tradição se insti-tucionalizasse em regras119 e hábitos, com o intuito de gerir a unidade e iden-tidade do grupo.

[89]. É incontestável o fato de que as estruturas mudem ao longo do tempo, sobre-tudo em resposta às novas conjunturas e cenários de mundo. A sociedade sustenta-se a partir de paradigmas. Paradigmas são sistemas de ideias e va-lores que nos ajudam a tomar consciência de nossa vida. São úteis na medida em que ajudam a compreender a realidade. Quando isso não mais ocorre, é natural que um novo sistema de ideias e valores force um movimento de revi-são, favorecendo que ocorram “transições paradigmáticas”. 120

[90]. Se o paradigma que orienta nossa missão está mudando, a expressão de nos-so carisma também é inexoravelmente forçada a mudar. Diante disso, algu-mas instituições mudam de maneira lenta e resistente, outras progressiva-mente e outras por meio de rupturas inesperadas. Isso nos desafia, como Instituição, a fazermos um duplo movimento: de um lado, retornar ao es-pírito original para descobrir sua essência carismática mais pura; de outro, ressignificar o carisma à luz dos sinais dos tempos. Na prática, carisma é aquilo que define o estilo de ser e atuar de uma pessoa ou instituição. Por-tanto, conhecer e aderir a um carisma é fundamental para a efetividade de qualquer missão dentro da Igreja.

[91]. Desse modo, define o Ir. Seán Sammon, “o carisma oferecido à Igreja e ao mundo por mediação de Marcelino Champagnat é, portanto, muito mais que um conjunto de trabalhos considerados coerentes com sua visão original, um estilo de oração referente a uma determinada espiritualidade – por mais

119 referimo-nos, por exemplo, às Regras de Vida dos Pequenos Irmãos de Maria em Constituições e Estatutos, de 1837. Com o passar do tempo é comum que os carismas gerem estruturas em vista da necessidade de garantir uma identidade. Por vezes os carismas também acabam por se confundir com a própria identidade da instituição.

120 seán sammon assim descreve as transições paradigmáticas: “o teólogo Jon sobrino as compara às dobradiças de uma porta. Há momentos de crise e perturbação quando dobradiças velhas e enferrujadas não suportam o peso da porta. essa situação impõe a criação de novas dobradiças para que a porta volte a abrir e fechar bem”. (InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 33)

importante que isso possa ser – ou um conjunto de qualidades marcantes da vida do Fundador”. 121 Portanto, “não é possível reduzir carisma apenas à tra-dição. O carisma de todo Instituto, o nosso incluído, é sempre vibrante e ins-pirador. Constitui-se uma tradição que vai se atualizando ao longo do tempo, cujas raízes se fixam na interação entre a tradição do passado e o apelo do Espírito Santo para assumir os desafios do presente e do futuro.” 122 É preciso então “ressignificar o carisma, renovando-o à luz dos sinais dos tempos”. 123 É nessa perspectiva que o Instituto tem se posicionado nas últimas décadas.

[92]. Portanto, por meio do Instituto Marista a Igreja intensifica a sua presença no mundo. A partir do carisma herdado de São Marcelino Champagnat, a ação evangelizadora eclesial se faz presente de modo específico e mais eficaz no âmbito da educação de crianças e jovens. A missão marista, como expressão significativa do rosto marial da Igreja, é dom de Deus concedido à humani-dade. Como comunidade marista, somos convidados a partilhar nossa expe-riência de fé com todas as pessoas, independente de suas condições sociais, econômicas, religiosas ou culturais.

121 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 29.122 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 34-35.123 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. seán sammon. Tornar Jesus Cristo Conhecido e Amado, p. 34.

Grupo Marista 5554 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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ELEMENTOS INCULTURADORES

3

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3. ELEMENTOS124 INCULTURADORES

A pessoa versada nas coisas do reino é como alguém que sabe tirar de seu tesouro coisas novas e antigas. (Mateus 13,52).

[93]. Chamamos de Elementos Inculturadores 125 a um conjunto de componentes in-terdependentes (que podem ser interpretados como conceitos-chave, espa-ços, temas ou dimensões) que julgamos ser prioritários para a dinamização da ação evangelizadora na cultura atual. Acreditamos que os Elementos In-culturadores favorecem o diálogo entre os princípios e valores do Evangelho com as culturas contemporâneas, sustentando um processo de evangelização historicamente contextualizado. 126 Portanto, são respostas possíveis aos de-safios que emergem na realidade de mundo e do Grupo Marista.

[94]. O documento conclusivo da Conferência de Santo Domingo 127 é lembrado por inaugurar o princípio teológico da inculturação como referencial meto-dológico salutar para a evangelização na contemporaneidade, de modo que a linguagem e os métodos pastorais possam melhor se aproximar das novas re-alidades culturais e existenciais. Tal princípio está relacionado ao projeto de uma Nova Evangelização: “A Nova Evangelização tem como ponto de partida

124 o termo “elemento” designa a “parte constitutiva de um todo”, que em sua natureza singular possui a potencialidade de se ligar a outros elementos de diversas maneiras, tanto para formar “estruturas” simples, como estruturas complexas. “o todo sem a parte não é todo. A parte sem o todo não é parte. Mas se a parte faz o todo sendo a parte, não se diga que é parte, sendo todo.” (Gregório de Matos – século XvII)

125 o entendimento sobre o significado e abrangência de cada um dos elementos inculturadores foi delineado por Grupos de Reflexão, representativos de todas as frentes apostólicas. Houve um esforço por fazer com que cada realidade de atuação pudesse se reconhecer no texto, de modo a torná-lo significativo e inspirador para a prática pastoral cotidiana.

126 “o anúncio às culturas implica também um anúncio às culturas profissionais, científicas e acadêmicas. É o encontro entre a fé, a razão e as ciências, que visa desenvolver um novo discurso sobre a credibilidade, uma apologética original que ajude a criar as predisposições para que o evangelho seja escutado por todos. Quando algumas categorias da razão e da ciência são acolhidas no anúncio da mensagem, tais categorias tornam-se instrumentos de evangelização; é a água transformada em vinho.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 132)

127 A conferência de santo Domingo ocorreu na república Dominicana, de 12 a 28 de outubro de 1992. Foi convocada e inaugurada por João Paulo II. seu tema foi “nova evangelização, promoção humana, cultura cristã.” seu lema: “Jesus Cristo ontem, hoje e sempre”.

a certeza de que em Cristo há uma riqueza insondável (Ef 3, 8) que nenhuma cultura, de qualquer época, extingue, e à qual nós, seres humanos, sempre poderemos recorrer para enriquecer-nos”. 128

[95]. Ocorre, porém, que a riqueza contida no Evangelho nem sempre é comuni-cada de maneira suficientemente compreensível. Nem sempre somos capa-zes de traduzir a essência da mensagem de Jesus Cristo de modo assertivo para iluminar as problemáticas dos contextos nos quais atuamos. Cristãos, crentes de outras religiões e até não crentes compartilham de expectativas semelhantes em relação a um projeto de mundo melhor, com “vida em abun-dância” para todos, muito embora tais grupos formulem seus sonhos com linguagem e expressões que lhes são próprias. Parece haver, entre as pessoas de boa vontade, muito mais uma dificuldade de comunicação dos projetos comuns a todos do que um problema de apatia ou desesperança em relação à humanidade. O Documento de Aparecida pontua que “em geral, na pastoral, persistem também linguagens pouco significativas para a cultura atual e em particular para os jovens. [...] as linguagens utilizadas parecem não levar em consideração a mutação dos códigos existencialmente relevantes nas socie-dades influenciadas pela pós-modernidade”. 129 Reiterando, o Papa Francisco aponta: “Se pretendemos colocar tudo em chave missionária, isso se aplica também à maneira de comunicar a mensagem. [...] convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe compete sentido, beleza e fascínio”. 130

[96]. Somos Igreja peregrina que, a exemplo de Cristo, caminha ao encontro das pessoas para anunciar a Boa Nova, seja nos campos ou nas cidades, seja nos espaços mais inusitados ou desafiadores. As pessoas, às quais a Igreja vai ao encontro, podem ser das massas populares, das elites dominantes, podem

128 CelAM. Documento de Santo Domingo, n. 24.129 CelAM. Documento de Aparecida, n. 100b.130 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 34. Aqui se faz necessário recordar a orientação de João XXIII quando da

abertura do Concílio vaticano II: “[...] uma coisa é a substância [...] e outra é a formulação que a reveste” (Discurso de Inauguração do Concílio Vaticano II, 11/10/1962). Assim, a Igreja é chamada a dialogar com o homem contemporâneo a partir de suas bases de compreensão de mundo e de existência.

Grupo Marista 5958 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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ser os intelectuais, os artistas, as crianças e os jovens, os comunicadores mi-diáticos, os não crentes, etc. Também podemos encontrá-las em meio às no-vas tecnologias, no ambiente das ciências, nos espaços políticos de tomada de decisão, nos espaços onde sofrem pela omissão, violência ou ignorância. Não obstante, “a inculturação é algo a se fazer inclusive na própria sociedade cristã” 131 com o intuito de reanimar os cristãos que se encontram desmotiva-dos ou fragilizados na fé. Nessa peregrinação ao encontro do outro, devemos reconhecer e exaltar os valores que convergem e/ou coincidem com a men-sagem do Evangelho, promovendo nas culturas aquilo que elas possuem de melhor e mais autêntico.

A inculturação do evangelho é um processo que supõe reconhe-cimento dos valores evangélicos que se têm mantido mais ou menos puros na atual cultura; e o reconhecimento de novos va-lores que coincidem com a mensagem de Cristo. [...] assumindo o que de bom existe nelas [as culturas], e renovando-as a partir de dentro. 132

[97]. Tornam-se fundamentais algumas orientações do Papa Francisco sobre o processo de inculturação do Evangelho:

A salvação, que Deus realiza e a Igreja jubilosamente anuncia, é para todos e Deus criou um caminho para se unir a cada um dos seres humanos de todos os tempos. escolheu convocá-los como povo, e não como seres isolados [...]. este Povo de Deus encarna--se nos povos da terra, cada um dos quais tem a sua cultura pró-pria. A noção de cultura é um instrumento precioso para com-preender as diversas expressões da vida cristã que existem no povo de Deus. trata-se do estilo de vida que uma determinada sociedade possui, da forma peculiar que têm os seus membros de se relacionar entre si, com as outras criaturas e com Deus.

131 CelAM. Documento de Santo Domingo, n. 119.132 CelAM. Documento de Santo Domingo, n. 230.

Assim entendida, a cultura abrange a totalidade da vida de um povo [...] o ser humano está sempre culturalmente situado: na-tureza e cultura encontram-se intimamente ligadas. A graça su-põe a cultura, e o dom de Deus encarna-se na cultura de quem o recebe [...]. não faria justiça à lógica da encarnação pensar num cristianismo monocultural e monocórdio [...] o evangelho [...] possui um conteúdo transcultural. 133

[98]. No presente documento, os Elementos Inculturadores estão assim representa-dos: dignidade humana; educação emancipadora; espiritualidade; alterida-de; solidariedade socioambiental; catequese; infâncias e juventudes; valores maristas. Cremos que esse conjunto, que reflete alguns aspectos favoráveis em meio a tantos outros possíveis, permite ampliar nosso modo de ver a cul-tura, a pessoa humana, a sociedade e conexões relevantes para a ação pasto-ral. Os Elementos Inculturadores estão em sintonia com as exigências objetivas da fé cristã, com a tradição pastoral institucional e as aspirações humanas universais. Portanto, conclamamos que os Elementos Inculturadores sejam ab-sorvidos, enriquecidos e enaltecidos por todas as frentes apostólicas durante a concepção de seus projetos e ações, fomentando novas conectividades e a criatividade evangelizadora.

3.1 Dignidadehumana134

não é possível que a morte por enregelamento de um idoso sem abrigo não seja notícia, enquanto o é a descida de dois pontos na Bolsa. Isto é exclusão. (Papa Francisco)

[99]. Existe o absolutamente sagrado valor da vida humana e esse é um princípio fundamentalmente religioso, ao qual a Igreja nomeia princípio da dignidade

133 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium. nn. 113-117.134 Contribuíram nessa reflexão: Ana Cristina de Carvalho (teCPUC), Carolina Feltrin (APC– Diretoria de recursos Humanos), Ione Anhaia dos

santos (Centro social Ir. Walmir - Criciúma), Juliana schwarz (ABeC-UCe – recursos Humanos), Maria Helena negrão (Colégio Marista de londrina – Pr), Marco Aurélio Ghislandi (DerC), raimundo Policarpo de souza (APC - logística), tupiná Machado (Aliança saúde) e vera lúcia Costa da silva (PUCPr - núcleo de Pastoral).

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inalienável da pessoa humana. A dignidade diz respeito à consciência da pes-soa quanto ao seu valor inestimável e universal. Não se trata de uma conces-são social, mas “a dignidade da pessoa humana é um valor transcendente e, como tal, será sempre reconhecida por todos aqueles que se entregaram sin-ceramente à busca da verdade”. 135 Portanto, a vida humana e a sua dignidade transcendente são ontológica e moralmente inseparáveis. Essa é a premissa básica da antropologia cristã.

[100]. A Declaração Universal dos Direitos Humanos 136 promulgada pela ONU tam-bém reconhece a dignidade inerente a todos os membros da família humana, os seus direitos iguais e inalienáveis pautados nos princípios da liberdade, da justiça e da paz. Sob o enfoque do direito, a Declaração representa um grande avanço ético e político nas relações humanitárias globais. Portanto, deve ser acolhida, amparada e defendida por todos os povos e nações. Não obstante, mesmo ao ratificarmos a Declaração e a ela dedicarmos esforços efetivos, é preciso enfatizar que o humano é criatura sagrada, anterior a qualquer credo, nacionalidade ou legislação. Tal compreensão religiosa nos suscita a denun-ciar que é injusta e inaceitável toda lei que se oponha a essa inviolabilidade da dignidade humana ou quando a mesma despreza os direitos que resul-tam dessa dignidade, ainda que a lei em questão tenha sido deliberada pelos meios políticos formais. 137

[101].Ademais, qual é o fundamento da inviolabilidade de alguns direitos huma-nos? Nós cristãos dizemos que é a Criação: 138 “O humano, criado à imagem e

135 João PAUlo II. Mensagem para o XXXII Dia Mundial da Paz, 1º de janeiro de 1999, n 2. Disponível em: <http://www.vatican.va>.136 Adotada e proclamada pela resolução 217 (III) da Assembleia Geral das nações Unidas, em 10 de dezembro de 1948.137 rAtzInGer, Joseph; D’ArCAIs, Paolo F. Deus existe? p. 66-67).138 Aqui parece haver um ponto de discordância entre crentes e não crentes, apontado por D’Arcais, que podemos resumir no seguinte

problema: Quando se estabelece que o núcleo intocável de valores e o fundamento dos direitos/deveres sociais é a Criação, corremos o risco de nos apoiar num princípio religioso que não se sustenta numa sociedade laicizada. A Criação é uma certeza apenas para quem crê. nesse caso, numa sociedade pluralista, na qual muitos não aderiram a nenhuma das religiões monoteístas ou deístas, o fundamento da dignidade deve estar além do conceito de Criação. A fé não pode pretender ser a culminância da razão. Aquilo que chamamos de “direitos humanos” deveríamos ter a coragem de chamá-los de “direitos civis”, encarando-os como escolhas negociadas, racionalizadas sobre o modo como desejamos fundamentar nossa convivência. não são direitos naturais, uma vez que o homem viveu milhares de anos sem eles, mas consubstanciais à natureza social do homem, o que não os torna menores. (rAtzInGer, Joseph; D’ArCAIs, Paolo F. Deus existe? p. 72-73)

semelhança de Deus139, é capaz de conhecer e amar o seu criador e as demais criaturas” 140; logo, a pessoa humana “está em relação constante com quantos se encontram revestidos da mesma dignidade”. 141 E é por compreendermos que alguns direitos são inalienáveis, podemos estabelecer barreiras morais e exigir limites a certos comportamentos.

[102].No cenário inter-religioso, marcado pelo diálogo fraterno entre diferentes crenças e Igrejas, tem crescido a preocupação em afirmar e defender a dig-nidade humana, especialmente frente às ameaças e violências oriundas do sectarismo, da perseguição étnica e do terrorismo. 142 Lideranças mundiais indicam que tal violência tem agravantes que, além de motivações de credo, são econômicos, territoriais e culturais. Entre os esforços inter-religiosos para afirmação da dignidade humana estão o Diálogo de Civilizações (ONU), o Programa Justiça, Paz e Integridade da Criação (Conselho Mundial de Igrejas), o Parlamento Mundial das Religiões (WPR), as Jornadas de Assis pela Paz (Santa Sé) e a recente diretriz internacional Testemunho Cristão em um Mundo Multi--religioso – Recomendações para a Conduta (Conselho Mundial de Igrejas e San-ta Sé). Essas iniciativas oferecem também coordenadas éticas, antropológicas e religiosas para nosso apostolado, tendo em vista da convivência cidadã e fraterna entre povos e credos diferenciados.

[103].Quanto ao diálogo com os não crentes, em tempos de relativismo ético, a ques-tão básica consiste em saber qual é o núcleo de valores verdadeiramente ina-lienáveis, capaz de ser compartilhado numa sociedade plural e que, portanto, assume valoração sagrada, pétrea. Nesse caso, adoutrina cristã propõe que

139 Gênesis 1, 26-28.140 Gaudium et Spes, n. 12.141 João PAUlo II. Mensagem para Celebração do XXXII Dia Mundial da Paz. 1º de Janeiro de 1999. Disponível em <http://www.vatican.

va>. 142 “este diálogo inter-religioso é uma condição necessária para a paz no mundo e, por conseguinte, é um dever para os cristãos e também para

outras comunidades religiosas. este diálogo é, em primeiro lugar, uma conversa sobre a vida humana ou simplesmente – como propõem os Bispos da Índia – ‘estar aberto a eles, compartilhando as suas alegrias e penas’. Assim aprendemos a aceitar os outros, na sua maneira diferente de ser, de pensar e de se exprimir. Com este método, poderemos assumir, juntos, o dever de servir a justiça e a paz, que deverá tornar-se um critério básico de todo o intercâmbio. Um diálogo, no qual se procurem a paz e a justiça social, é, em si mesmo, para além do aspecto meramente pragmático, um compromisso ético que cria novas condições sociais. os esforços à volta de um tema específico podem transformar-se num processo em que, através da escuta do outro, ambas as partes encontram purificação e enriquecimento. Portanto, estes esforços também podem ter o significado de amor à verdade.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 250)

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seja acentralidade da defesa da vida. De acordo com Ratzinger, “[...] a aten-ção à defesa da vida humana, hoje, é maior que no passado e, nesse sentido, também há uma característica específica de nosso século, no qual vivemos, aliás, também uma crueldade e um desprezo pelo ser humano que deveriam nos fazer despertar”. 143

Como crentes, sentimo-nos próximo também de todos aqueles que, não se reconhecendo parte de qualquer tradição religio-sa, buscam sinceramente a verdade, a bondade e a beleza, que, para nós, têm a sua máxima expressão e a sua fonte em Deus. sentimo-los como preciosos aliados no compromisso pela defe-sa da dignidade humana, na construção de uma convivência pa-cífica entre os povos e na guarda da criação. Um espaço peculiar é o dos chamados novos Areópagos, como o “Átrio dos Gentios”, onde crentes e não crentes podem dialogar sobre os temas fundamentais da ética, da arte e da ciência, e sobre a busca da transcendência. também este é um caminho de paz para o nosso mundo ferido. 144

[104].Nosso primeiro Plano Provincial de Pastoral (2003-2011) já enfatizava que o Evangelho de Jesus Cristo é, certamente, o melhor norteador pedagógico da humanização, pois anuncia, de maneira clara, os preceitos e valores funda-mentais para o equilíbrio das relações humanas. Portanto, “contemplando a vida de Jesus, apreendemos os valores essenciais que fundamentam um projeto de humanização adaptado à nossa realidade, [...] em sociedade justa, fraterna e solidária” 145, donde resulta “[...] a felicidade, a vida em abundância para todos”. 146

[105].O ser humano deve estar no centro de todo planejamento e desenvolvi-mento da sociedade, pois “nada é tão fundamental na perspectiva de um

143 rAtzInGer, Joseph; D’ArCAIs, Paolo F. Deus existe?, p. 70.144 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 257.145 Cf. PMBCs. setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral, p. 145.146 PMBCs. setor de Pastoral. Plano Provincial de Pastoral, p. 145.

desenvolvimento integral como colocar o ser humano em primeiro plano, possibilitando-lhe, ao lado do progresso técnico, uma descoberta de seu va-lor como pessoa”. 147 Sendo assim, uma sociedade justa só pode ser realizada no respeito pela dignidade transcendente da pessoa e “[...] a ordem social e seu progresso devem ordenar-se incessantemente ao bem das pessoas, pois a organização das coisas deve subordinar-se à ordem das pessoas e não ao contrário”. 148

[106].O princípio da dignidade inalienável da pessoa humana encontra-se no cerne da visão cristã do ser humano e do seu desenvolvimento. É um tronco a partir do qual vão se desdobrar todos os demais princípios e conteúdos da Doutrina Social da Igreja, dentre os quais destacamos o princípio do bem comum149; o princípio da subsidiariedade150; e o princípio da solidariedade. Esses princípios nos conduzem a outros complementares151, primazias que ajudam a orientar a vida pessoal e as relações sociais.

[107].De modo geral, a dignidade das pessoas que integram a Instituição Marista torna-se mais evidente:

147 AntonCICH, ricardo; sAns, José Miguel M. Ensino Social da Igreja, p. 98.148 PontIFÍCIo ConselHo “JUstIçA e PAz”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja. refere-se à Gaudium et Spes, nn. 26, 58, 1046 e 1047. 149 o princípio do bem comum convoca a todos a empenharem-se por uma ordem justa. A conciliação entre o bem comum e o bem particular se

dá pela via da caridade, que supera o egoísmo e possibilita a experiência da gratuidade e da justiça em relação às necessidades e direitos. o bem comum difere do interesse geral e interesse particular. o interesse geral, por vezes, pode subentender o sacrifício e exclusão de alguns, geralmente os mais fracos, em detrimento de outros. Já o bem comum visa envolver todos os indivíduos, de acordo com as possibilidades específicas de cada um.

150 o princípio da subsidiariedade fundamenta-se na premissa de que Deus, em sua sabedoria infinita, não quis exercer sozinho o governo de todas as coisas que criou. o Criador confiou a cada criatura um conjunto diversificado de dons, os quais são exercidos segundo a sua natureza e discernimento. o princípio da subsidiariedade incentiva que a pessoa (ou nação, no sentido macro) desempenhe seu papel social com amor, responsabilidade e solicitude. Por exemplo, num sistema hierárquico, organizacional, ou político, uma “instância superiora” (uma autoridade constituída, de maior força, um intelecto desenvolvido, uma pessoa/organização/nação com melhores recursos ou maior poderio econômico) não deve intervir autoritariamente na vida de outrem. A intervenção das instâncias superiores deve ser supletiva e respeitosa, no sentido de assegurar a vida, a criatividade, a solidariedade, o bem comum e a dignidade. (PontIFÍCIo ConselHo “JUstIçA e PAz”. Compêndio da Doutrina Social da Igreja)

151 Por exemplo: a primazia da destinação universal dos bens sobre a apropriação individual alerta-nos que os bens, criados por Deus ou pelo trabalho humano, devem visar o benefício de toda família humana. A apropriação individual - chamado direito de propriedade – é uma via legítima para realizar essa destinação, desde que, situada à luz do princípio, ela seja entendida como um tipo de responsabilidade social e não como privilégio excludente, pois devemos lembrar que "sobre toda a propriedade privada pesa uma hipoteca social". (João PAUlo II. Laborem Exercens, n. 11); a primazia do trabalho sobre o capital assegura que o capital "só é legítimo na medida em que serve ao trabalho". (João PAUlo II. Laborem Exercens, n 14)

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a) Na primazia da pessoa em relação ao cargo ou atividade que exerce.b) Na valorização de seu empenho profissional, apostólico, estudantil e

solidário.c) Pelo reconhecimento dos dons e talentos colocados a serviço da missão. d) Ao acolherem-se, Irmãos, Leigas e Leigos, em “torno da mesma mesa”,

como partícipes de uma mesma comunidade de esperança.e) Ao focarmos as crianças, adolescentes e jovens, sobretudo os mais po-

bres, como prioridade em nossas decisões. Ao formarmos os jovens mais abastados para a consciência do serviço à sociedade e ao próximo, e não para servirem-se da sociedade.

f) Ao propiciarmos espaços acolhedores para todos.g) Na sensibilidade em ajudar as pessoas a superar suas dores e limitações.

Por outro lado, na celebração das suas conquistas e alegrias da vida.

3.2 Educaçãoemancipadora152

ninguém é tão pequeno que não possa ensinar, nem tão grande que não possa aprender. (Cora Coralina).

[108].A educação é um processo histórico-cultural e exigência constitutiva do ser humano. Por ela se desenvolvem as capacidades e os fatores de apreensão da realidade, da criação de saberes e valores, as sensibilidades éticas e estéticas, as habilidades críticas e analíticas, as competências técnicas e relacionais, as motivações pessoais e coletivas, a subjetividade e, em síntese, toda cultura em sua complexidade. O termo educação é, certamente, algo amplo, podendo englobar expressões técnicas como “formação”, “instrução”, “treinamento”, “desenvolvimento de pessoas” e outras terminologias usadas segundo pro-cessos educativos específicos.

[109].A Instituição Marista, pelo caráter educativo que lhe é intrínseca, concebe a educação com um processo amplo, contínuo e integrado ao cotidiano das

152 Contribuíram nessa reflexão: Ascânio sedrez (Colégio Arquidiocesano – sP), elaine nascimento (teCPUC), Ir. lauro Pazeto (lUMen), luiza Helena Giraud (APC - Aliança saúde), Mari Anastácio (PUCPr - Projeto Comunitário), neuzita de Paula soares (DeAs), silmara de souza (APC – Diretoria de Comunicação e Marketing) e viviane Flores Bazzoli (FtD).

pessoas. Se, comumente, a ideia de educação foi delimitada às estratégias de aprendizagem escolar-acadêmica, há hoje uma percepção mais abrangente de processos, mediações, meios e espaços que educam. A educação não apenas se reserva aos ambientes formais (a sala de aula, os eventos acadêmicos, os cur-sos, etc.), mas é algo que perpassa todas as relações estabelecidas no ambien-te de trabalho, no ambiente hospitalar, na relação entre parceiros e clientes, na comunicação veiculada nos meios de comunicação social e mídias. Desse modo, há uma predisposição educacional em tudo aquilo que fazemos.

[110].Toda educação leva em conta o tipo de ser humano que se pretende formar e que tipo de sociedade que se pretende construir. Pode-se afirmar que a edu-cação é sempre um processo intencional de orientação dos sujeitos e que, por-tanto, não se isenta das relações de poder, podendo cumprir tanto um papel alienador (conformador ou deturpador da realidade) quanto de emancipação dos sujeitos nela implicados. Especial cuidado devemos ter com os processos de educação demasiadamente verticalizados, quando cabe somente a “uns a autoridade de ensinar” e a “outros a obediência de aprender”. Quando há uma inteligência privilegiada sobrepondo-se arbitrariamente à outra inteli-gência, estamos favorecendo situações de embrutecimento. 153 Nesse tipo de relação, geralmente unilateral, embora possa ter havido ensino, nem sempre é possível atestar que houve emancipação. Se não considerarmos o sujeito interlocutor como protagonista de sua educação, certamente corremos o ris-co de favorecer situações de manipulação ou domesticação, justificadas por interesses pessoais ou ideológicos.

[111]. Emancipar os sujeitos significa conduzi-los a usar sua própria inteligência com liberdade, a descobrir seus potenciais e suas responsabilidades para consigo, para com os outros e para com o mundo. Sem sombra de dúvidas, o

153 Cf. rAnCIere, Jacques. O mestre Ignorante, 2002. ranciere é propagador das ideias do pedagogo francês Joseph Jacotot, do início do século XIX. o que Jacotot chamou de embrutecimento, no Brasil aproxima-se da ideia de “educação bancária” que Freire acusou ser uma educação domesticadora, que prega o conformismo, que treina o educando para o desempenho de suas destrezas. nessa relação educativa, o professor é um ser superior que ensina a ignorantes, o dono da verdade dotado de um saber que deve “depositar” no aluno, que se tornam recipientes passivos do depósito do educador. Contrariando a esta concepção, a educação libertadora percebe a ação educativa como um processo dialético, fruto de uma práxis, onde professor e alunos conscientizam-se de sua realidade histórica e num processo crítico de construção e reconstrução da mesma, atuam nela com criticidade. A mesma lógica pode ser aplicada à educação evangelizadora.

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caráter emancipador da educação é aquilo que devemos enaltecer e propagar em nossos esforços cotidianos.

[112].A educação emancipadora é aquela que concede ao indivíduo a oportunidade de reconhecer a si e ao outro como sujeitos autônomos e interdependentes num processo gerador de humanização. Nesse sentido, “ninguém educa nin-guém, ninguém educa a si mesmo. Os homens se educam entre si, mediatiza-dos pelo mundo” - defendia Freire. A educação assume caráter emancipador quando cria oportunidades para os sujeitos desenvolverem suas potencia-lidades e seu livre pensar, incorporando diferentes saberes, conhecimentos técnicos, linguagens e tecnologias na promoção da investigação, da reflexão, no posicionamento crítico frente à realidade, fomentando o protagonismo e a solidariedade, considerada a virtude cristã de nosso tempo.

[113].A emancipação não deve ser considerada subproduto do processo educativo, mas, sim, a sua prerrogativa definidora. A emancipação deve valer para todas as di-mensões da educação: acadêmica, espiritual, afetiva, corporal, religiosa, social, cultural. Temos, assim, uma educação integral/integradora, que corresponda aos anseios da vida plena (vida em abundância), tema central da evangelização. 154

[114].Do ponto de vista pastoral, evangelização e educação formam um continuum onde se fomentam os valores humanos e cristãos, bem como a integração entre fé e vida. Ter uma visão integradora da pessoa e do seu desenvolvimento signi-fica concebê-la em sua inteireza. Por isso, para Bento XVI, a educação deve ser considerada “um dos desafios mais urgentes que a Igreja e suas instituições estão chamadas a enfrentar”. Foi nesse sentido que o XX Capítulo Geral também quis reafirmar a “educação como espaço privilegiado de evangelização e promoção humana”. Nesse caso, é dever institucional oportunizar a educação em amplitu-de, intencionalmente evangelizadora e adequada às questões contemporâneas.

[115].Educar para a vida significa enaltecer a vida como valor universal, res-peitar e defender a dignidade do ser humano como premissa da educação,

154 Cf. João 10,10.

proporcionando a cada indivíduo a oportunidade de autoconhecimento, de constatar as diferenças interpessoais e culturais e acolher o outro como ver-dadeiro outro, com suas limitações, crenças e ideias. Talvez o maior desafio da educação emancipadora resida na dificuldade de superar o utilitarismo economicista que lhe dá contornos para permeá-la de valores humanos. Ou seja, de como se incorporam à educação os valores positivos, construídos, aprimorados ou revelados por Deus ao longo da evolução humano-social.

[116].Face ao relativismo das sociedades atuais, os valores educacionais, sociais, políticos, morais e religiosos estão continuamente sendo contestados, postos em dúvida e até mesmo substituídos por contra valores. Tal situação desafia--nos a comunicar a perenidade dos valores cristãos de modo eficiente e con-textualizado155, sobretudo testemunhando-os na prática.

[117].Iniciativas pastorais organizadas sob a lógica da educação emancipadora de-vem atentar aos seguintes pontos:a) Privilegiar temáticas contemporâneas, que ajudem a compreender e so-

lucionar os dilemas reais da vida e contribuam no desenvolvimento de uma visão ampla de pessoa humana.

b) Optar por metodologias que propiciem o diálogo aberto, a participação, a fala esclarecedora, privilegiando reflexões que ajudem as pessoas a re-conhecerem os problemas sob diferentes perspectivas: da ciência, da fé e da doutrina cristã.

c) Orientar a educação evangelizadora como um processo dialógico supõe superar a ideia de que trabalhamos com “públicos” ou “destinatários da evangelização”. É tarefa difícil evangelizar o outro de modo unilate-ral, embora seja possível criarmos as condições internas e externas de abertura de coração para evangelizarmo-nos mutuamente. Portanto, no processo evangelizador é preferível encontrar “interlocutores”. Assim, é necessário ter escuta sensível, evitando que o ponto de partida do di-álogo seja a verdade acabada, o fundamento da autoridade constituída.

155 BUArQUe, Cristóvam. vervIer, Jacques. Fé, política e cultura: desafios atuais, 1992.

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d) Adequar a linguagem sem perder a essência da mensagem original. A educação evangelizadora orienta-se a partir da cultura e seus elementos simbólicos, introduzindo nela novos significados, levando em conta as características geracionais, regionais, profissionais, sociais e morais.

3.3 Espiritualidade156

É preciso cultivar sempre um espaço in-terior que dê sentido cristão ao compro-misso e à atividade. (Papa Francisco).

[118].Há várias definições para “espiritualidade”. Numa visão ampla, a espiritua-lidade pode ser entendida como o dinamismo que motiva e qualifica por in-teiro a vida do ser humano, ora enraizada na pessoa, ora na relação com uma fonte transcendente – um ser superior ou outras compreensões. A espiritu-alidade se fará visível num projeto compartilhado (instituição religiosa), no comprometimento ético ou na consagração da vida por uma causa altruísta. Neste sentido, podemos dizer que este mover-se por uma causa que nos ar-rasta para além da superfície material, para além de nosso limite cotidiano, é uma característica intrínseca ao gênero humano, indiferente de credos ou culturas. Há, portanto, um sentido antropológico de espiritualidade anterior ao seu sentido religioso.

[119].De modo geral, em diferentes aspectos da vida o ser humano tende a trans-cender, a ultrapassar o limite do mundo concreto e material – “imanente”, em sentido lato. Neste nível antropológico, a espiritualidade não está ligada necessariamente à confessionalidade religiosa, pois ela pode ser pura expres-são do espírito humano, em sua natureza própria, independente de ter rece-bido influência de ensinamentos ou doutrinas. O ser humano é, por natureza, homo religiosus, que se religa ao transcendente e, assim, relê continuamente a

156 Contribuíram nesta reflexão: Ana langner (PUCPr - núcleo de Pastoral), Iliana Biscaia (teCPUC), Ir. luiz Adriano ribeiro (Centro social Ir. Justino – sP), Ir. roque Brugnara (Colégio Marista de Joaçaba – sC), Marco Aurélio Ghislandi (DerC), Marilúcia resende (setor de Pastoral), telma Argolo (APC – Diretoria de recursos Humanos) e vanessa ruthes (Gerência setor de Humanização – Aliança saúde).

si mesmo e ao mundo onde se insere (religio vem justamente de relegere: reli-gar e/ou reler).

[120].Contudo, há de se reconhecer uma riqueza antiga e sempre nova que emana das espiritualidades confessionais históricas. As grandes tradições religiosas têm muito a ensinar ao mundo atual, pois conservam em seu bojo incontá-veis legados espirituais, filosóficos e simbólicos: virtudes morais, elementos identitários, cosmologias, celebração do tempo e dos ciclos naturais, entendi-mento da natureza e seus poderes, respostas às angústias e sofrimentos hu-manos. Sem contar o princípio ético áureo compartilhado entre as grandes religiões: “Não faze ao próximo o que não queres que te façam!”. A partir do legado de um líder inspirador (profetas, ancestrais, avatares, santos ou heróis), surgem nuances possíveis que dão à espiritualidade horizontes di-ferenciados no tempo e no espaço, com linhas muitas vezes convergentes e complementares. O diálogo fraterno com tantas tradições religiosas é sinal de maturidade e respeito.

[121].No âmbito cristão, o termo espiritualidade tem sua raiz etimológica na palavra spiritus (em latim), como tradução da palavra grega pneuma – usada no Novo Testamento. Esta, por sua vez, não se fixa no horizonte filosófico dos gregos, mas é uma versão do termo hebraico ruah – que significa sopro, vento, fôlego e respiração. Na tradição judaico-cristã, ruah habita o universo como um todo e também cada criatura; é respiro que move a matéria e vivifica o corpo; é vento que espalha sementes no deserto, fazendo os oásis florescerem. Ruah é vínculo, dinamismo e fecundidade. É promotor e aliado da vida humana, pla-netária e cósmica. Por isso vem simbolizado pelos elementos naturais, como vento, fogo e água. Esta compreensão de ruah foi sedimentada na tradição judaica e passou a ser traduzida, no Novo Testamento, como Espírito Santo – chamado de Fogo, Vento e Água Viva.

[122].No cristianismo, a espiritualidade tem base trinitária: é a vida no Espírito a partir da vida de Jesus Cristo, o Filho que revela o rosto de Deus como Pai. Portanto, “quando mencionamos a espiritualidade cristã, referimo-nos ao fogo inextinguível que arde em nós e nos impregna da paixão pela construção

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do Reino de Deus”. 157 Para os cristãos, o sentido da espiritualidade será sem-pre assimilar Jesus e seu Evangelho, onde se inclui também a ação prática, o investimento pessoal no projeto de uma “nova humanidade”.

[123].A partir dessa referência, a espiritualidade cristã diz respeito a uma vivência cotidiana que se concretiza como doação e serviço ao próximo, sobretudo aos mais necessitados, em seguimento de Jesus Cristo que, sendo Senhor e Mes-sias, lavou os pés dos apóstolos e se fez servidor de todos.158 A partir da liber-dade dos filhos de Deus, aderir e vivenciar a espiritualidade cristã significa aceitar a proposta de Cristo de servir com amor incondicional:

tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visi-tastes; estava na prisão e viestes a mim. [...] senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? [...] todas as vezes que deixastes de fazer isso a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer. (Mt 25, 42-46).

[124].O carisma marista, ao lado de tantos outros, compõe o variado mosaico multi-cor da fé cristã e católica. São Marcelino Champagnat foi um homem profun-damente aberto à ação do Espírito e às necessidades concretas de seu tempo. Soube transmitir esse legado aos seus Irmãos, a quem chamava de “maravi-lhosos companheiros”. Portanto, tendo no Evangelho a sua pedra fundamen-tal, a espiritualidade marista emerge na Igreja a partir do fundador, Marce-lino Champagnat, com a missão de ser vida plena entre as crianças e jovens, por meio de processos educativos. O caráter apostólico e marial constituem o diferencial dessa espiritualidade marista, profundamente prática, com o olhar fitando o futuro e, ao mesmo tempo, centrada na solidez de Jesus Cristo.

[125].Na medida em que integramos as coisas cotidianas ao nosso projeto de vida no Espírito, vai se formando o que entendemos por espiritualidade.

157 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Água da Rocha, p. 14.158 Cf. João 13.

“A espiritualidade constrói o modo como compreendemos o mundo, as pes-soas, Deus e como nos relacionamos com eles”. 159 Quando dizemos “eu sou marista”, afirmamos possuir uma espiritualidade específica, que nos conecta a um conjunto de pessoas (espírito de família) e define nosso ser-em-missão. Portanto, é uma espiritualidade que se identifica com a tradição de Marceli-no. Daí vem nosso amor por Jesus, por Maria e pelas crianças e jovens.

[126].Nossa espiritualidade é apostólica. Isso significa dizer que existimos para tornar Jesus Cristo conhecido entre as crianças e jovens, por meio dos processos edu-cativos, de forma sempre dinâmica, atualizada e fiel à Igreja. Marcelino dizia com frequência: “Não posso ver uma criança sem sentir o desejo de ensinar-lhe o catecismo, sem desejar fazer-lhe compreender quanto Jesus Cristo a amou”. Incansavelmente, buscamos proporcionar às crianças e aos jovens espaços e oportunidades em que possam desenvolver a espiritualidade e os valores rela-cionados ao conhecimento, à liberdade, à responsabilidade, à transcendência, em vista de se tornarem “bons cristãos e virtuosos cidadãos”.

[127].Nossa espiritualidade é também mariana. Marcelino denominou-nos maristas por reconhecer em Maria um modelo de seguimento a Jesus. Ela foi conside-rada pelo fundador como sendo a Primeira Superiora do Instituto, a Conselhei-ra que apontava sempre o caminho a ser seguido. Por isso, também hoje, Ma-ria deve ser considerada como um dos principais legados da nossa herança espiritual, uma vez que continua apontando para o essencial, para o centro, para Jesus Cristo, segundo nos ensinou Marcelino: Maria nos leva para Jesus, pois está sempre com o Filho, ou nos braços ou no coração. Isso inspira uma maneira própria de acolher e ouvir o chamado de Deus.

Dando-nos o nome de Maria, o Padre Champagnat quis que vi-vêssemos do seu espírito. Convencido de que ela tudo fez entre nós, chamava-a recurso Habitual e Primeira superiora. Contem-plamos a vida de nossa Mãe e Modelo para impregnar-nos de seu espírito. suas atitudes de perfeita discípula de Cristo inspiram e

159 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Água da rocha, p. 14.

Grupo Marista 7372 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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pautam nossa maneira de ser e de agir. Havendo Deus dado seu Filho ao mundo por Maria, queremos torná-la conhecida e amada como caminho que leva a Jesus. Atualizamos assim nosso lema: ‘tudo a Jesus por Maria, tudo a Maria para Jesus. 160

[128].Pela espiritualidade marista, alicerçada no Evangelho, encontramos o sen-tido para todas as nossas iniciativas. Ela abrange todos os âmbitos de nossa vida. Seria impossível defini-la sem deixar ainda muito a dizer. Ela é também mistério, habitada pela graça de Deus, embora profundamente humana. Ao vivê-la, no entanto, ela (a espiritualidade) também deve ser encarnada, atua-lizada, inculturada; ou seja, deve responder aos desafios do tempo presente e ser, o quanto possível, a realidade que nos une, que aproxima as diferenças, que cria sinergia e dá vigor ao nosso existir pessoal e comunitário. É nesse sentido que nos alerta Francisco:

Do ponto de vista da evangelização, não servem as propostas místicas desprovidas de um vigoroso compromisso social e mis-sionário, nem os discursos e ações sociais e pastorais sem uma espiritualidade que transforme o coração. estas propostas par-ciais e desagregadoras alcançam só pequenos grupos e não têm força de ampla penetração, porque mutilam o evangelho. É pre-ciso cultivar sempre um espaço interior que dê sentido cristão ao compromisso e à atividade. sem momentos prolongados de adoração, de encontro orante com a Palavra, de diálogo sincero com o senhor, as tarefas facilmente se esvaziam de significado, quebrantamo-nos com o cansaço e as dificuldades, e o ardor apaga-se. 161

160 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs, Constituições e Estatutos, p. 23.161 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 262.

3.4 Alteridade162

ou aprendemos a viver como irmãos ou vamos morrer juntos como idiotas. (Mar-tin luther King).

[129].O termo da alteridade nos remete à atitude do sujeito (ou da Instituição) em se abrir ao diálogo respeitoso e ao acolhimento fraterno da diferença do outro, na qual a diferença é percebida como possibilidade de enriquecimento dos significados da vida e do mundo. A alteridade, seja motivada pelo senso de cidadania ou pela virtude religiosa, opõe-se à atitude arrogante que por vezes limita nossa capacidade de reconhecer no outro a sua dignidade, de identifi-car significados e sentidos na existência do outro.

[130].A questão da alteridade vem ganhando terreno em muitos âmbitos da socie-dade, no meio educacional, político, filosófico ou teológico. Boas contribui-ções emergem do pensamento do filósofo judeu Emmanuel Levinás. Sobretu-do em sua obra intitulada Totalidade e Infinito163, Levinás aborda alternativas para se pensar a subjetividade no mundo contemporâneo: não mais pensar o outro a partir da centralidade do eu, mas pensar o lugar do outro em minha vida, na experiência vital em geral. A partir de sua diferença, ou mesmo de sua indigência, o rosto do outro se apresenta como revelação, como uma epi-fania. A atitude que fundamentalmente nos humaniza é o acusativo “Eis-me aqui”: a sensibilidade e responsabilidade que sentimos pelo outro, a disposi-ção para colocarmo-nos a serviço do outro. Certamente a revelação cristã se identifica e se aproxima dessas ideias, da abertura solidária e disponível para um serviço que, muitas vezes, pode ir até as últimas consequências. Sendo assim, jamais o outro poderia ser concebido como um inferno para o eu – pa-rafraseando “O inferno são os outros” de Sartre –, motivo de inúmeros confli-tos, ódio e intolerância.

162 Contribuíram nessa reflexão: Ascânio sedrez (Colégio Arquidiocesano – sP), elaine nascimento (teCPUC), Ir. lauro Pazeto (lUMen), luiza Helena Giraud (APC - Aliança saúde), Mari Anastácio (PUCPr - Projeto Comunitário), neuzita de Paula soares (DeAs), silmara de souza (APC – Diretoria de Comunicação e Marketing) e viviane Flores Bazzoli (FtD).

163 levInAs, emmanuel. Ética do Infinito, 1992; levInAs, emmanuel. Totalidade e infinito, 1992.

Grupo Marista 7574 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[131].A alteridade é formulada frente à percepção da existência da diversidade, de que o mundo é diverso em suas configurações e manifestações. A diversidade foi engendrada por Deus e é, portanto, expressão da sua infinita sabedoria e, “se for bem entendida, a diversidade [...] não ameaça a unidade da Igreja”. 164 Deus mesmo se revela como variedade de três Pessoas na comunhão da única divindade – Pai e Filho e Espírito Santo. Como cristãos, acolhemos a Criação e as criaturas, ao passo que procuramos desenvolver as sensibilidades neces-sárias para escutar e acolher o outro em sua dignidade, como ser legítimo e autêntico, com suas crenças, ideias, limitações e potencialidades. Não obs-tante, posicionamo-nos de maneira profética e educativa diante das crenças que ameaçam o valor da vida ou promovem a injustiça.

[132].No âmbito social, temos a percepção de que a sociedade na qual vivemos hoje é muito mais plural e diversificada do que foi no passado. A dinâmica social é marcada contundentemente pelos efeitos da globalização econômico-cultu-ral e informacional.

reconhecemos igualmente que a globalização permitiu à huma-nidade avançar no campo das comunicações, o que supõe maior abertura para conhecer outras realidades, ultrapassar frontei-ras e sentir que o planeta no qual vivemos é a “casa de todos”. [...] Além disso, ficou mais fácil trabalhar em rede, em âmbitos como a defesa da vida, da saúde, dos direitos humanos e do cui-dado com o meio ambiente. Finalmente podemos dizer que hoje conquistaram maior visibilidade algumas realidades humanas que não eram reconhecidas nem aceitas. 165

[133].Se, por um lado, o mundo tornou-se bem menor nas distâncias, por outro o mundo tornou-se vasto e complexo nas suas expressões e valores culturais. Essa fluidez de coisas, de ideias, comportamentos e valores vai, naturalmente, provocando a dissolução de uma aparente ordem tradicional, causando-nos

164 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 117.165 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 7.

medo e insegurança. O Ir. Sammon diria que vivemos num momento de “transição paradigmática”, fenômeno que gera crise em muitas instituições, sobretudo as religiosas; por sua vez, Papa Francisco analisa o momento atual como “uma viragem histórica [...]. Esta mudança de época foi causada pelos enormes saltos qualitativos, quantitativos, velozes e acumulados que se veri-ficam no progresso científico, nas inovações tecnológicas e nas suas rápidas aplicações em diversos âmbitos da natureza e da vida”. 166

[134].Emerge também no cenário das ciências humanas e políticas as questões da diferença: o diferente não mais visto como ameaça ou abominação, mas como ser legítimo em seu tempo e contexto. As diferenças encaradas como aspectos constituintes da formação humana e da construção social e histórica. O ser humano é mais propriamente alguém cujo sentido só pode ser encontrado na sua relação com o outro. É nesse conjunto de discussões características da pós-modernidade que se insere também o problema da alteridade, do caráter do que é outro, da diversidade em todas as suas nuances.

[135].No geral, na contemporaneidade, a diversidade cultural é um problema que assume relevante importância. A pensadora Danah Zohar167 assevera que, ao sermos perturbados pelas relações de diferença168, geralmente lançamos mão de três estratégias: a primeira estratégia consiste na dominação, na total elimi-nação das diferenças por um processo de colonização, na qual os dominado-res impõem, por vezes com violência, sua concepção de mundo aos domina-dos; a segunda estratégia consiste no apartheid, quando se erguem barreiras físicas, jurídicas ou morais para excluir o outro como indesejável, impuro, não-semelhante em dignidade; terceira estratégia é a coexistência liberal, que considera a possibilidade de tolerar o outro como diferente na esfera privada, enquanto é igual na esfera pública. A coexistência pacífica depende da dispo-sição que temos em tolerar e, em troca, sermos também tolerados.

166 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 52.167 Autora de O Ser Quântico, A Sociedade Quântica, que propõe aplicar os princípios da física quântica na compreensão da consciência

humana, da psicologia e da organização social. também autora de Cérebro Corporativo, QS: Inteligência Espiritual e Capital Espiritual.168 zoHAr, Danah. Sociedade Quântica: a promessa revolucionária de uma liberdade verdadeira, 2000.

Grupo Marista 7776 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[136].A alteridade nos remete ao paradigma da multiculturalidade169, a qual propõe que não só os sujeitos sejam respeitados em suas diferenças, mas que todas as cons-truções culturais sejam consideradas autênticas, opondo-se a uma visão cultural hegemônica ou homogeneizante. “O multiculturalismo passou a ser a realidade comum em muitas partes do mundo e isso tem contribuído para a valorização das diferenças, que vão deixando de ser uma ameaça e passam a se tornar uma opor-tunidade.” 170 Uma cultura, ao se fechar em si mesma, deixa de compreender que é fundamental acolhermos os iguais, mas também os diferentes de nós, mesmo no campo das divergências. 171 A disposição ao diálogo é sempre a melhor solução para aproximar as pessoas e favorecer a unidade social em meio às diferenças.

[137].Qual é, porém, o papel da evangelização na compreensão das diferenças? O primeiro passo do discípulo, sem sombra de dúvidas, é seguir o exemplo de Jesus, que saía sem reservas ao encontro do outro. 172 Portanto,

As atitudes de alteridade e gratuidade marcam a vida do discí-pulo missionário de todos os tempos. Alteridade se refere ao outro, ao próximo, àquele que, em Jesus Cristo, é meu irmão ou minha irmã, mesmo estando do outro lado do planeta. É o reco-nhecimento de que o outro é diferente de mim e esta diferença nos distingue, mas não nos afasta. As diferenças nos atraem e nos complementam, convidando ao respeito mútuo, ao encon-tro, ao diálogo, à partilha e ao intercâmbio de vida e solidarieda-de. Gratuidade e alteridade são, portanto, modos de compreen-der o que há de mais decisivo em Jesus Cristo. 173

169 De acordo com o Projeto Educativo para o Brasil Marista (PEBM), “o multiculturalismo consiste em um movimento que afirma a necessidade de incorporar [à nossa visão de mundo] variados cenários – sociais, culturais e políticos –, as tradições culturais (saberes, fazeres, gostos, estéticas, identidades, subjetividades, visões de mundo, linguagens) de diferentes grupos sociais.“ (UMBrAsIl. Projeto Educativo para o Brasil Marista, p. 33 apud sIlvA, tomaz tadeu da. Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo, 1999).

170 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 7.171 “o conflito não pode ser ignorado ou dissimulado; deve ser aceito. Mas se ficarmos encurralados nele, perdemos a perspectiva, os

horizontes reduzem-se e a própria realidade fica fragmentada. Quando paramos na conjuntura conflitual, perdemos o sentido da unidade profunda da realidade.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 226).

172 “[...] o evangelho convida-nos sempre a abraçar o risco do encontro com o rosto do outro, com a sua presença física que interpela, com seus sofrimentos e suas reivindicações, com a sua alegria contagiosa permanecendo lado a lado. A verdadeira fé no Filho de Deus feito carne é inseparável do dom de si mesmo, da pertença à comunidade, do serviço, da reconciliação com a carne dos outros. na sua encarnação, o Filho de Deus convidou-nos à revolução da ternura.” (PAPA FrAnCIsCo. exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 88)

173 CnBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja do Brasil, 2011-2015, n. 8. 12.

[138].Nossa Instituição pode ser pensada como um lugar que permite vivermos como sujeitos em busca de sentido para suas vidas, que trazem em si sen-timentos, crenças, pensamentos e práticas. Desse modo, devemos levar em consideração a existência da diversidade étnica, cultural e religiosa no seio da Instituição. Essa diversidade se encontra no âmbito restrito do ambiente de trabalho, no âmbito Provincial e, de maneira mais marcante, na interna-cionalidade do Instituto Marista. Para tanto, o XXI Capítulo reforça que de-vemos nos esforçar em “promover o diálogo intercultural e inter-religioso, baseado no respeito, crescimento mútuo e nas relações em pé de igualdade entre diferentes culturas, etnias e religiões”. 174

[139].Precisamos fomentar um projeto evangelizador que transcenda as preocu-pações dogmatizantes e seja capaz de dialogar com a ciência, com diferentes campos do conhecimento, com as demais religiões, a fim de redescobrir quais são as raízes morais e éticas da sociedade que nos ensinam a conviver frater-nalmente. 175 Mas isso não se faz sem antes nos abrirmos a uma revolução in-terior, a uma revolução do coração. Se quisermos modificar o coletivo, deve-mos começar por modificar as nossas percepções interiores, a nossa maneira de pensar o outro, a nos dispormos a aprender uma linguagem inteiramente nova, pois alterações superficiais do pensamento não geram transformação profunda, não convencem, não modificam o ethos social.

[140].À luz da fé, as novas realidades, os novos cenários culturais e o conhecimento são “novos areópagos” 176 para os quais a atenção evangelizadora deve estar sensível. Os novos areópagos também são os cenários organizacionais da Ins-tituição, os centros de decisões, os quais precisam ser animados pelos valores

174 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 15.175 Cf. PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nn. 238-258.176 enquanto os apóstolos pregavam na região da Palestina, Paulo, cumprindo o mandato de ser testemunha de Cristo até os extremos da

terra (Cf. At 1,8), deparou-se com a cultura helênica. Depois de pregar com vigor em praças públicas, foi conduzido ao Areópago de Atenas pelos filósofos epicuristas e estoicos que queriam compreender um pouco mais de sua nova doutrina, que aparentava ser loucura para os padrões gregos. Paulo foi astuto, pois, em meio à diversidade cultural, anunciou Jesus e a ressurreição. “Atenienses, percebo que sois extremamente religiosos. Pois andando e observando os seus lugares de culto, encontrei um altar com essa inscrição: Ao DeUs DesConHeCIDo. Pois bem, eu vos anuncio aquele que venerais sem conhecer. É o Deus que fez o céu, a terra e tudo que eles contêm. ele é o senhor do céu e da terra...” (At 17, 25-25).

Grupo Marista 7978 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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maristas e humano-cristãos e, assim, possam desempenhar com fidelidade sua missão.

[141].A Instituição Marista, embora de explícita identidade cristã e católica, não coloca obstáculos à diversidade religiosa. Ao contrário, defendemos a fé e a espiritualidade como dimensões constitutivas do ser humano. A diversida-de religiosa é uma das facetas da alteridade, que, portanto, nos convida ao diálogo. 177 Nesse sentido, respeitamos e incentivamos que as pessoas vivam a sua fé com fidelidade e coerência. No diálogo ecumênico e inter-religioso é necessário levar em conta que os sistemas religiosos estão fundados em tradições e experiências religiosas milenares, que já consolidaram ritos, doutrinas, conteúdos simbólicos, visões de mundo, crenças em relação ao sentido da vida, do sofrimento, morte e além-morte. No entanto, apesar de distintas, há valores e princípios que permitem um núcleo comum de atua-ção entre os crentes, como o amor, a sacralidade da vida, a responsabilidade para com os mais fracos, a vocação transcendente da pessoa humana, etc. As possíveis tensões produzidas pela diversidade serão certamente ameni-zadas pela solidariedade.

[142].Importa recordar, ainda, que a abertura dialógica a outros sujeitos e culturas, não é negação do Evangelho, mas exercício de seus valores, destinados a “to-das as nações”. 178 Isto se verifica claramente no dia de Pentecostes, quando o discurso de Pedro é compreendido na multiplicidade de idiomas e culturas. 179 Nosso encontro com o diverso, com o outro, se baseia na encarnação da Palavra de Deus, Jesus Cristo, o Verbo que ilumina toda a humanidade, além de nossas fronteiras habituais. 180 Longe de qualquer relativismo, trata-se de uma nova via de testemunho cristão. 181

177 “os Padres sinodais lembraram a importância do respeito pela liberdade religiosa, considerada um direito humano fundamental”. (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 255).

178 Mateus 28,19.179 Cf. Atos 2,5-11.180 Cf. João 1,9.181 CelAM. Documento de Aparecida, n. 239.

[143].Para a Igreja, o Evangelho é como um fermento, capaz de elevar em qualquer cultura aquilo que ela tem de melhor e mais autêntico. Mas efeito contrário pode ocorrer quando os evangelizadores, em nome da verdade, desprezam a necessidade da escuta sensível e da alteridade. Nesse sentido, é um cuidado pastoral promover o diálogo, possibilitando a inclusão de todos e todas em comunidades de esperança com propósitos éticos, onde todos possam apren-der a experimentá-los juntos.

3.5 SolidariedadeSocioambiental182

solidariedade é a determinação firme e perseverante de se em-penhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos. (João Paulo II).

[144].O tema da solidariedade transita por diversos campos de sentido, nem sempre ligados à base etimológica solidum (em latim), cujo significado aproxima-se de consolidar, confortar. Nos últimos anos, o Instituto Marista tem se empenhado em alinhar a compreensão do tema como também das políticas que tornam a prática da solidariedade mais efetiva e sistêmica, sobretudo em relação ao seu caráter de assistência social, promoção e defesa dos direitos das infâncias e ju-ventudes. No Grupo Marista, a Rede Marista de Solidariedade (RMS) tem zela-do para que a solidariedade incorpore-se à cultura institucional, ajuste-se ao marco legal e seja fortalecida através das redes de solidariedade, de maneira a concretizar a missão institucional, que se expressa tanto na evangelização quanto na ação social. Para a Rede Marista de Solidariedade, “a solidariedade é um convite pessoal e coletivo, que usualmente se traduz em uma causa de interesse comum que congrega pessoas e recursos, a fim de melhorar a ‘Casa de todos. ’”.183 Em consonância com esse conjunto de reflexões, o sentido que

182 Contribuíram nessa reflexão: Ana Cristina de Carvalho (teCPUC), Carolina Feltrin (APC– Diretoria de recursos Humanos), Ione Anhaia dos santos (Centro social Ir. Walmir - Criciúma), Juliana schwarz (ABeC-UCe – recursos Humanos), Maria Helena negrão (Colégio Marista de londrina – Pr), Marco Aurélio Ghislandi (DerC), raimundo Policarpo de souza (APC - logística), tupiná Machado (Aliança saúde) e vera lúcia Costa da silva (PUCPr - núcleo de Pastoral).

183 GrUPo MArIstA. Diretrizes e Direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade, 2012.

Grupo Marista 8180 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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pretendemos abordar no presente documento se refere ao caráter virtuoso, ético e espiritual da solidariedade.

[145].Observa-se que o empenho para promover a cultura da solidariedade em tempos atuais aponta, em geral, para dois caminhos complementares: no pri-meiro, temos a relação de cooperação dos sujeitos entre si, entre as comuni-dades e nações. Ou seja, nesse caso a ênfase recai nas relações humanas; no segundo caminho, vemos ênfase nas relações de simbiose e interdependência entre os seres humanos com a natureza e demais seres que compartilham do mesmo ecossistema. Não obstante, nada impede que as duas perspectivas ca-minhem juntas, de maneira complementar. Sendo assim, desejamos fomen-tar uma cultura de solidariedade de caráter social e ambiental, favorecendo as condições pastorais necessárias para a constituição dos sujeitos solidários, seja nas relações humanas como nas relações com a natureza e seus sistemas. Solidariedade, no sentido de “cuidado com o planeta”, nunca deve prescindir do “cuidado com os pobres, oprimidos, excluídos”. 184

[146].O termo solidariedade ganha maior relevância a partir do século XX. Não é um vocábulo encontrado nas Escrituras Sagradas, embora sua semântica coincida com a mensagem do Evangelho, equivalendo-se à prática da carida-de, da generosidade, da fraternidade e amor ao próximo, lições recorrentes nos textos sagrados, sobretudo nos evangelhos. Neste sentido, a solidarieda-de é uma tradução recente daquilo que o Evangelho propõe como prática das “bem-aventuranças”. “A palavra ‘solidariedade’ significa muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade; supõe a criação de uma nova men-talidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns.” 185

[147].Na Doutrina Social da Igreja, a solidariedade aparece como “a virtude cris-tã dos nossos tempos, um imperativo moral para toda a humanidade” 186, ou seja, é um princípio ético cuja aplicabilidade vale analogicamente para

184 BoFF, leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 133 -140.185 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 188.186 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, n. 153.

todas as relações sociais concretas. Somente pelo caminho da solidarieda-de é possível integrarmos as pessoas, as nações e a natureza como partíci-pes do banquete da vida apregoado por Jesus Cristo, para o qual todos são igualmente convidados.

[148].O princípio da solidariedade – maneira como é comumente abordada na Dou-trina Social da Igreja – assevera que o ser humano cresce em valor e dignida-de na medida em que investe suas capacidades e seu dinamismo na promo-ção do outro, na dignificação do próximo. Desenvolver a “pessoa solidária” 187 como projeto para a nova humanidade é um dos objetivos centrais da an-tropologia cristã. É pela solidariedade que se chega à justiça, pois “não há pessoa solidária sem compromisso com a vida de todos, particularmente dos pobres”. 188 Dessa maneira, “a pessoa solidária é o sujeito, o cidadão, o cristão protagonista que enxerga as situações de injustiça e se mobiliza efetivamente em prol de causas”. 189

[149].Em relação à preocupação da Igreja diante das causas sociais, o Papa Paulo VI exortava:

nosso primeiro dever neste campo é afirmar os princípios, ob-servar e analisar as necessidades, declarar os valores primor-diais, apoiar os programas sociais e técnicos verdadeiramente úteis e marcados com o selo da justiça, em seu caminho rumo a uma ordem nova e ao bem comum, formar sacerdotes e leigos no conhecimento dos problemas sociais, encaminhar os leigos bem preparados para a grande obra da solução de tais proble-mas, considerando tudo sob a luz cristã que nos faz descobrir o homem em primeiro lugar e os demais bens subordinados à pro-moção total do homem no tempo é à salvação na eternidade. 190

187 AntonCICH, ricardo; sAns, José Miguel M. Ensino Social da Igreja, p. 14.188 AntonCICH, ricardo; sAns, José Miguel M. Ensino Social da Igreja, p. 87.189 GrUPo MArIstA. Diretrizes e direcionamentos para a Rede Marista de Solidariedade.190 Discurso de Paulo vI na Abertura da II Conferência episcopal latino Americana em Medelín. III – Orientações Sociais. Disponível em: <http://

www.vatican.va>.

Grupo Marista 8382 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[150].Ao anunciar o seu conceito de solidariedade, o Papa João Paulo II a designava como “determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum; ou seja, pelo bem de todos e de cada um, porque todos nós somos verdadei-ramente responsáveis por todos”. 191 Essa ideia é inovadora no pensamento cristão contemporâneo, na medida em que

[João Paulo II] distingue solidariedade-fato (todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos) de solidariedade-de-ver (determinação firme e perseverante de se empenhar pelo bem comum). está claro que, para João Paulo II, a solidariedade é uma virtude cristã muito próxima da caridade e que, pela fé, pode revestir-se de dimensões especificamente cristãs. 192

[151].Gutierrez, teólogo, expressa uma compreensão do tema muito próxima à de João Paulo II: “[...] enquanto o papa sugere uma firme determinação em favor da comunhão, Gutierrez propõe um ‘amor eficaz’”. 193 De certa forma, é análo-ga à percepção de Champagnat ao afirmar que “para bem educar, é necessário amar”, ou seja, que o amor é precondição para a eficácia da educação, da soli-dariedade, da catequese e demais aspectos da atuação apostólica.

[152].O sentido de amor eficaz nos impele, enquanto Grupo Marista, a otimizar in-vestimentos e recursos na ampliação e qualificação do atendimento social, na oferta da educação formal, na educação profissionalizante, no apoio socioe-ducativo, no atendimento à saúde, no monitoramento, promoção e defesa dos direitos das crianças, jovens, além de iniciativas de suporte à suas famílias e comunidades. Multiplicam-se, em todas as nossas frentes apostólicas, os projetos de voluntariado que favorecem a imersão de jovens e pessoas de boa vontade no atendimento humanitário. Há também apoio institucional a um conjunto significativo de iniciativas governamentais e não governamentais que visam a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Isso porque compreendemos que “o resgate da dignidade humana não pode limitar-se à

191 João PAUlo II. Sollicitudo rei socialis, n. 38.192 AlMeIDA, João Carlos. Teologia da solidariedade, p. 235.193 AlMeIDA, João Carlos. Teologia da solidariedade, p. 236.

assistência emergencial, mas exige a transformação da sociedade, numa or-dem voltada para o bem comum” 194, pois “a necessidade de resolver as causas estruturais da pobreza não pode esperar”. 195

[153].Tanto no sentido ético quanto político, podemos afirmar que o ser humano é desafiado a assumir sua “cidadania planetária”, ou seja, assumir o “com-promisso ético-político com uma prática sociocultural que respeita a vida em toda a sua complexidade e diversidade, orientando para a construção da ci-dadania terrena e para a criação de um sentimento de pertença, de que somos partícipes de uma comunidade planetária”. 196 Nesse caso, nosso outro, ou nosso próximo – conforme aprendemos no Evangelho segundo Lucas 10, 29 –, não poderia também ser a natureza em suas incontáveis expressões vitais?

[154].“O movimento ecologista, diante das destruições do mundo e dos perigos que nos espreitam, entendeu o seguinte: que a natureza nos traz uma mensagem e temos de prestar atenção a essa mensagem da natureza”. 197 É visto que a na-tureza também clama por justiça e se expressa, por vezes, de modo não ver-bal, de maneira a impor limites às nossas ambições. As novas gerações já têm entendido tal recado, tendo acolhido a ideia do planeta como casa-comum198, como comunidade ampliada onde tudo de bom ou ruim é compartilhado glo-balmente. Nesse sentido, fomentar uma cultura solidária de caráter ambien-tal vem tornando-se um imperativo vital para o mundo globalizado; somos interpelados, nessa questão, pelas palavras do Papa: “Nós, os seres humanos, não somos meramente beneficiários, mas guardiões das outras criaturas [...] Não deixemos que, à nossa passagem, fiquem sinais de destruição e de morte que afetem a nossa vida e a das gerações futuras”. 199

[155].Harmonizando fé e razão, os cristãos são desafiados a desenvolver uma cons-ciência ecológica e a assumirem uma posição mais contundente em prol da

194 CnBB. Exigências Evangélicas e Éticas de Suspensão da Miséria e da Fome, n. 20.195 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 202.196 UMBrAsIl. Projeto Educativo do Brasil Marista, p. 18.197 rAtzInGer, Joseph; D’ArCAIs, Paolo F. Deus existe?, p. 78.198 Cf. BoFF, leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 27.199 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 215.

Grupo Marista 8584 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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sustentabilidade e da justiça socioambiental. Como salienta o Documento de Aparecida200, na crise ambiental ouvimos o clamor da Criação pelo respeito e manutenção da biodiversidade201, como também ouvimos o clamor dos povos ribeirinhos, dos indígenas, das sociedades extrativistas e outras frente a um sistema econômico voraz. Todos eles dependem da preservação dos recursos naturais para sua sobrevivência, manutenção de suas identidades e culturas.

[156].Da posição de dominadores – resultado, talvez, de uma interpretação equi-vocada do mandato “crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Do-minai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra...” 202 –, passamos pouco a pouco ao paradigma do ser humano “cuidador”, desafiado a desenvolver em sua ética a sensibilidade do cuidado com a vida. 203 A natureza, além de sagrada, é um grande sistema vivo que interliga204, de maneira complexa e complementar, todos os seres que a habitam. O ser humano, imagem e semelhança de Deus, é parte desse grande e complexo sistema. Isso pressupõe o desenvolvimento de uma cons-ciência de justiça e não de superioridade diante da diversidade planetária.

[157].O cuidado é um paradigma de inspiração bíblica: “Deus plantou um jardim em Éden e ali colocou o ser humano para cultivar e guardá-lo”.205 A dimensão do cuidado, tão apregoada atualmente, precisa ultrapassar a visão afetiva ou meramente mítica da natureza e do planeta. A consciência de que habitamos uma casa-comum (oikos, em grego) pede revisão de comportamentos, educação

200 ver CelAM. Documento de Aparecida, nn. 83 a 87.201 Cf. romanos 8,20-25. 202 Disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Domine sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os animais

domésticos, sobre os animais selvagens e sobre todos os répteis que rastejam pela terra”. 27Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus. ele o criou homem e mulher. 28Deus abençoou-os, dizendo: “Crescei e multiplicai-vos, enchei e dominai a terra. Dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se movem na terra”. 29Disse Deus: “Dou-vos todas as plantas com semente que existem em toda a superfície da terra, assim como todas as árvores de fruto com semente, para que vos sirvam de alimento. 30e a todos os animais da terra, a todas as aves do céu e a todos os seres vivos que se movem na terra dou as plantas verdes como alimento”. e assim sucedeu. (Gn 1,26-30).

203 Para leonardo Boff, “cuidar é mais que um ato; é uma atitude. Portanto, abrange mais que um momento atenção, de zelo e de desvelo. representa uma atitude de ocupação, preocupação, de responsabilização e de envolvimento afetivo com o outro. [...] o cuidado entra na natureza e na constituição do ser humano. o modo-de-ser cuidado revela de maneira concreta como é o ser humano”. Cf. BoFF, leonardo. Saber cuidar: ética do humano, p. 33-34.

204 Capra aprofunda essa ideia no que ele chama de “paradigma da ecologia profunda”. (Cf. CAPrA, Fritjof. A teia da vida, p. 25.205 Gênesis 2,15.

ambiental e investimentos que priorizem o meio-ambiente. Unem-se, portan-to, três aspectos de nossa coabitação terrestre: o ecológico, que pressupõe o respeito às lógicas da Casa-Terra; o econômico, que defende a prioridade da Casa-Terra sobre outros interesses de mercado; e o ecumênico, que apregoa a concórdia dos habitantes para o bem da Casa-Terra. Note-se que estes três aspectos da vida humana/planetária derivam do mesmo termo: oikos, casa.

[158].A missão do Grupo Marista é bastante assertiva ao propor “formar cidadãos humanos, éticos, justos e solidários em vista da transformação da sociedade, fundamentada nos valores do Evangelho, do jeito Marista”. 206 Como maris-tas, inspirados no modelo de Maria, mãe e mulher, a lógica do cuidado e da solidariedade não nos parece nada estranha. A dimensão da solidariedade (Maria que visita sua prima Isabel) e a dimensão do cuidado (Maria que traz o Menino Jesus em seus braços) constituem nosso alicerce pedagógico.

[159].A solidariedade é, portanto, uma experiência espiritual, expressão da fé cris-tã encarnada, na medida em que não envolve apenas conhecer a realidade do outro, mas intervir na realidade do outro e também amar o outro. Pressupõe ter compaixão, dedicar amor, partilhar o pão. A Palavra de Deus nos desafia a nos colocarmos em ação junto à realidade das pessoas mais fragilizadas. Nesse ponto, até os céticos207 reconhecem que o Evangelho permite ampliar o núcleo de valores comuns entre crentes e não crentes.

[160].São grandes desafios, oportunidades e perspectivas para colocarmos a termo uma solidariedade ampliada, de caráter interpessoal, social e ambiental. Para tanto, nos projetos e ações pastorais faz-se necessário:a) Fomentar práticas solidárias no âmbito interno e externo da Instituição

Marista, com ênfase em ações sociais emancipatórias e comunitárias.b) Formar redes de solidariedade com o intuito de agregar forças transfor-

madoras construtivas, engajadas em causas sociais e humanitárias.

206 PMBCs. Plano Estratégico da Província Marista Brasil Centro-Sul, 2010.207 Intelectuais não crentes, como D’Arcais, reconhecem que “carecer de fé torna muito mais difícil a capacidade de renunciar ao egoísmo, de

sacrificar-se pelos outros”. A pedra de tropeço dos céticos é, sem dúvida, a dificuldade em superar o individualismo, de sacrificar a si para ter fé no outro. (rAtzInGer, Joseph; D’ArCAIs, Paolo F. Deus Existe?, p. 81)

Grupo Marista 8786 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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c) Educar para as escolhas de consumo que impactem o mundo de maneira menos predatória e mais sustentável, assegurando melhores condições de vida para as futuras gerações.

d) Aperfeiçoar pessoas, espaços e direcionar recursos para projetos de so-lidariedade consistentes.

e) Fomentar a formação de voluntários e/ou projetos de voluntariado em nível local, regional, interprovincial e internacional.

3.6 Catequese208

Fale-me e esquecerei; mostre e lembra-rei; envolva-me e, então, entenderei. (Confúcio).

[161].No amplo processo de evangelização, a catequese desponta como a dimen-são de educação e amadurecimento continuado da fé. Sua especificidade é transmitir ou ecoar fielmente a Palavra de Deus na comunidade de discípu-los – que é a Igreja. Daí o caráter essencialmente confessional e eclesial da catequese. Assim, pela catequese a Igreja “deve tornar a fé viva, explícita e prática”, conduzindo cada batizado “à maturidade cristã”. 209

[162].A palavra “catequese” deriva do verbo grego katechein, que indica a ação de ressoar, ou seja, soar novamente, fazer eco. Ela deve ser entendida como uma continuação do keryssein, do anunciar a Palavra (kerygma = anúncio). Ela ne-cessita do didaskein, do ensinar, mas não se limita a ele e deve, por fim, levar ao martýresthai, ao testemunhar a Palavra. Temos, portanto, um itinerário pedagógico intrínseco à catequese: anúncio da Palavra (kerygma); ressoar da Palavra nos corações (katechein), aprendizado continuado da Palavra (di-daskalia); testemunho prático da Palavra (martyria).

208 Contribuíram nesta reflexão: Ana langner (PUCPr - núcleo de Pastoral), Iliana Biscaia (teCPUC), Ir. luiz Adriano (Centro social Ir. Justino – sP), Ir. roque Brugnara (Colégio Marista de Joaçaba – sC), Marco Aurélio Ghislandi (DerC), Marilúcia resende (setor de Pastoral), telma Argolo (APC – Diretoria de recursos Humanos) e vanessa ruthes (Gerência setor de Humanização – Aliança saúde).

209 sAntA sÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 21.

[163].Percebe-se, assim, que a catequese não se constitui um simples ensino. Ela necessita de técnicas que a auxiliem210, mas não se limita a elas. Não se cons-titui um primeiro anúncio; contudo, na sociedade laical, necessita também suscitar a fé. 211 Não é o testemunho da Palavra, mas deve levar a este. 212 Como uma ação eclesial, deve estar unida à Igreja particular213, para que possa re-alizar o processo gradativo de formação e de inserção nos mistérios de fé. 214 Assim, a catequese pode ser compreendida como uma ação eclesial que se constitui em Ministério da Palavra, que a partir das fontes da Revelação (Sa-grada Escritura e Tradição) busca gerar um aprofundamento gradativo na fé, que leve o catequizando a “conhecer, acolher, celebrar e vivenciar o mistério de Deus”. 215

[164].A catequese, portanto, se constitui em processo gradativo de formação na fé, “trata, de forma sistemática, de um todo elementar e coerente, que for-neça base sólida para a caminhada rumo à maturidade em Cristo”. 216 Ela se estabelece um itinerário “prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé, da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia”. 217 Algumas passagens da Sagrada Escritu-ra são ilustrativas neste sentido, em especial a passagem dos discípulos de Emaús. 218 Nela encontram-se todos os elementos necessários para compre-ender a catequese como itinerário: o caminho219; o aproximar-se de Jesus220; a formação que é feita enquanto caminham221; a necessidade de pertença222;

210 Cf. João PAUlo II. Catechesi tradendae, n. 46; CnBB. Diretório Nacional da Catequese, n. 151.211 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 29.212 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 34. 213 Cf. sAntA sÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 265; CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 231-232.214 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 233.215 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 43.216 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 38.217 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 37. 218 Cf. lc 24, 13-35.219 lc 24, 13.220 lc 24, 15.221 lc 24, 25-27.222 lc 24, 29.

Grupo Marista 8988 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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a celebração como fecundidade da vida de fé223; o testemunho como impulso de ardor e zelo. 224

[165].Todos esses elementos permeiam o itinerário catequético e, a partir deles, com o auxílio das ciências pedagógicas225, deve-se estruturar “um processo de educação gradual e progressivo, respeitando os ritmos de crescimento”. 226 A variedade de métodos é grande227, mas todos eles devem estar pautados na pedagogia divina. A finalidade última de todo processo catequético é o encon-tro existencial com Jesus Cristo em meio à comunidade de fé. 228

[166].A catequese possui diferentes interlocutores: crianças, adolescentes, jovens e adultos, tornando-se importante levar em conta os aspectos antropológicos, psicológicos e teológicos, a fim de melhor integrá-los no caminho de fé. 229

[167].A partir desta perspectiva comunitária, é fundamental ressaltar que a “litur-gia é fonte inesgotável da catequese. Nela se encontram a ação santificadora de Deus e a expressão orante da fé da comunidade”. 230 Ela é “o cimo para o qual se dirige a ação da Igreja e, ao mesmo tempo, a fonte donde emana a sua força” 231, é através dela que “Deus fala a seu povo [...] e esse responde com cânticos e orações” 232, tornando-se, portanto, um itinerário de formação na fé. Assim, pois, a proclamação da Palavra, a homilia, as oblações, orações, ritos sacramentais, a vivência dos diferentes tempos litúrgicos e solenidades se constituem momentos de aprofundamento na fé.

[168].A catequese pode apresentar-se de diferentes formas: como um processo de iniciação à fé; como um processo permanente; como o intuito de receber os

223 lc 24, 30-31.224 lc 24, 32-33.225 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 150.226 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 41.227 Cf. João PAUlo II, Catechesi Tradendae, n. 51; CnBB. Diretório Nacional de Catequese, ns. 152-164.228 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 144. 229 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 180.230 CnBB. Catequese Renovada. 89; Cf. Sacrosanctum Concilium, n. 14.231 Sacrosanctum Concilium, n. 10.232 Sacrosanctum Concilium, n. 33.

sacramentos de iniciação cristã; realizada de forma ocasional; e no âmbito familiar. Assim, para uma melhor compreensão da dinâmica catequética, se torna importante compreender, na sequência, cada uma dessas formas.

[169].Catequese como processo de iniciação à vida de fé: a iniciação religiosa é uma prática que remonta às antigas culturas; seu objetivo é inserir o fiel em um itinerário de vida e fé, que gere uma adesão às verdades que este confessa. A catequese como iniciação não se constitui em uma “supérflua introdução na fé, um verniz ou um cursinho de admissão à Igreja” 233; é muito mais do que ensinar uma doutrina, pois ultrapassa uma mera compreensão racional da fé, tratando-se de uma adesão a Jesus Cristo. A iniciação deve ser compre-endida como um processo a ser percorrido, com metas, exercícios e ritos. É um itinerário prolongado de preparação e compreensão vital, de acolhimento dos grandes segredos da fé, dos mistérios e da vida nova revelada em Cristo Jesus e celebrada na liturgia. Esse deve ser estruturado de forma elementar e coerente, integrando as seguintes dimensões:234 antropológica, afetivo-inter-pretativa, cristológica, pneumatológica, celebrativa, comunitário-participa-tiva, sociotransformadora e inculturada, intelectual, ecumênica e ecológica.

[170].Catequese como processo permanente: outra compreensão da catequese é de que deve ser um processo permanente. O Papa João Paulo II ressaltou que ela deve possuir um sentido lato, isto é, um sentido amplo, pois constitui o aprofundamento das verdades que tocaram o coração humano no querigma (kerygma = anúncio do Evangelho). Esse processo não está em contradição com o sentido estrito de catequese entendido como iniciação, mas dela é pro-longamento, visando uma formação contínua dos fiéis: um aprofundamento contínuo da fé235, como também um revigoramento desta. 236 Essa forma de catequese pode ser reconhecida por meio dos cursos de formação para leigos,

233 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n.37.234 Cf. CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 38.235 no Brasil essa concepção se tornou clara em 1983 com a publicação do Documento Catequese Renovada, que, demonstrando as

modificações ocorridas no século XX, ressalta a necessidade de “um tipo de catequese que, além de uma sólida fundamentação da fé, seja capaz de ajudar o cristão a converter-se e a comprometer-se no seio de uma comunidade cristã para a transformação do mundo”. (CnBB. Catequese Renovada, n. 19)

236 Cf. João PAUlo II. Catechesi tradendae, n. 25; CelAM. Documento de Aparecida, nn. 295-299.

Grupo Marista 9190 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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círculos bíblicos, grupos de reflexão, grupos de oração e vivência e tantas outras formas que buscam um aprofundamento permanente de sua fé. Cabe ressaltar que esse processo catequético deve procurar unir: “fé e vida; dimen-são pessoal e comunitária; instrução doutrinária e educação integral; conver-são a Deus e atuação transformadora da realidade; celebração dos mistérios e da caminhada com o povo”. 237

[171].Catequese Ocasional: a catequese nem sempre é sistemática, pois existem al-gumas ocasiões propícias nas quais se pode evangelizar238, principalmente quando se trata de adultos. Assim, busca-se interpretar e viver as diversas circunstâncias da vida pessoal (aniversário), familiar (casamentos, funerais, etc.), social (visita aos enfermos) e eclesial (festas litúrgicas), a partir da pers-pectiva da fé. 239

[172].Catequese Sacramental: a catequese está intrinsecamente ligada com a ação li-túrgica e com os sacramentos. 240 Contudo, a sua finalidade não é “recepção sacramental” como objetivo final, mas, sim, ser um processo que “conduz a entrega do coração a Deus, à comunhão com a Igreja e à participação em sua missão”. 241 A catequese sacramental não se fixa no rito, mas quer levar ao discipulado nutrido pelos sacramentos. Assim, percebe-se a necessidade de mudança de uma concepção sacramentalista de catequese para uma concep-ção iniciática.

[173].Catequese Familiar: a família é considera a “Igreja Doméstica” 242, “é a escola de fé” 243; portanto, “os pais devem ser para seus filhos os primeiros mestres da fé” 244, ser os doadores dos primeiros fundamentos da consciência religio-sa. 245 Assim, é necessário, por parte da Igreja, não só orientar os pais para

237 CnBB. Catequese Renovada, n. 29.238 João PAUlo II. Catechesi tradendae, n. 21.239 Cf. sAntA sÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 71.240 Cf. João PAUlo II. Catechesi tradendae, n. 23.241 CnBB. Diretório Nacional de Catequese, n. 43.242 Lumem Gentium, n 11.243 CelAM. Documento de Aparecida, n. 114.244 Gaudium et Spes, n. 2.245 sAntA sÉ. Diretório Geral para a Catequese, n. 255.

“darem uma formação consciente e cristã aos filhos, mas para eles mesmos crescerem em seu compromisso cristão”. 246 Um dos grandes desafios da atualidade é a crise (estrutural e de fé) pela qual as famílias estão passando, sendo, portanto, importante criar estratégias de ação pastoral integradas e efetivas, pois não se pode abrir mão da importância dessas no processo de educação na fé, tendo em vista que a “catequese familiar precede, acompanha e enriquece todas as outras formas de catequese”. 247

[174].No Grupo Marista, a ação catequética contempla formas elementares: siste-mática, sacramental, de iniciação, ocasional e familiar. Pela ação pastoral, ela deve estar presente em nossas iniciativas apostólicas: nas homilias proferi-das nas celebrações, nos momentos formativos realizados com alunos, edu-cadores, colaboradores, familiares e Leigos Maristas em geral; nas ocasiões comemorativas realizadas permanentemente; e nas ocasiões específicas de imersão na vivência sacramental. Enquanto processo permanente, necessá-rio se faz compreender a catequese no Grupo Marista como uma ação eclesial que deve focar e vivência comunitária “além-fronteiras”.

[175].As nossas frentes apostólicas são tidas como espaços privilegiados de educa-ção da fé, embora tendo muitos de seus interlocutores em caráter de transito-riedade. Desta forma, a ação pastoral e catequética deve levar os interlocuto-res à imersão na comunidade eclesial em geral, seja ela de caráter paroquial ou diocesano. A dimensão permanente de catequese implica um processo formativo na fé realizado por cada interlocutor até o fim de sua vida. E isso se dá no seio da Igreja, em suas mais diversas instâncias evangelizadoras. 248

[176].Outro aspecto catequético que nos desafia enquanto comunidades educativas é a dimensão da linguagem. No Grupo Marista a catequese deve ser realizada

246 CnBB. Catequese Renovada, 123.247 João PAUlo II. Catechesi tradendae, n. 68.248 “As [...] instituições eclesiais, comunidades de base e pequenas comunidades, movimentos e outras formas de associação são uma riqueza

da Igreja que o espírito suscita para evangelizar todos os ambientes e setores. Frequentemente trazem um novo ardor evangelizador e uma capacidade de diálogo com o mundo que renovam a Igreja. Mas é muito salutar que não percam o contato com esta realidade muito rica da paróquia local e que se integrem de bom grado na pastoral orgânica da Igreja particular. esta integração evitará que fiquem só com uma parte do evangelho e da Igreja, ou que se transformem em nómades sem raízes.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 29)

Grupo Marista 9392 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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de forma inculturada, buscando a aproximação dos conteúdos fundamentais da Sagrada Escritura e do Magistério Eclesial às realidades de nossos edu-candos, familiares, educadores, colaboradores e Leigos Maristas em geral, como nos aconselha o Bispo de Roma: “Portanto, convém ser realistas e não dar por suposto que os nossos interlocutores conhecem o horizonte completo daquilo que dizemos ou que eles podem relacionar o nosso discurso com o núcleo essencial do Evangelho que lhe confere sentido, beleza e fascínio. Uma pastoral em chave missionária não está obcecada pela transmissão desarticu-lada de uma imensidade de doutrinas que se tentam impor à força de insistir. Quando se assume um objetivo pastoral e um estilo missionário, que chegue realmente a todos sem exceções nem exclusões, o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso per-der profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa”. 249 Essa dimensão de inculturação é realizada tanto na dimensão catequética propriamente dita, com caráter explícito, como quando considerada instân-cia de diálogo cultural.

[177].Nos processos catequéticos explícitos, buscamos tornar evidentes os elemen-tos doutrinais confessionais católicos próprios daqueles que já abraçaram essa confissão de fé. Essa dimensão catequética é sempre opcional, pois ne-cessita em si mesma de uma prévia adesão de resposta afirmativa do interlo-cutor ao anúncio evangelizador realizado a partir da Igreja de forma geral. E mesmo aos que livremente aderem à fé católica, a catequese deve ser profun-damente significativa. Deve ser também resposta aos anseios das pessoas de hoje, com suas expectativas próprias de um contexto global, com pertinência planetárias e em constante e acelerada mutação.

[178].Nos processos educativos em geral, buscamos identificar os elementos que são comuns entre a educação formal e a educação na fé, e reforçamos aqueles que promovem a dignidade humana em sua totalidade. A doutrina cristã e a vivência das comunidades de fé têm muito a contribuir com a cultura, a

249 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, nn. 34.35.

ciência e os interesses éticos que compõem a sociedade atual. Neste âmbito, o respeito aos membros de nossas comunidades educativas que processam outras confissões religiosas é também um indicador e objetivo da educação católica. Como Maristas, temos a ação catequética como vocação, sobretudo quando realizada entre as crianças e os jovens.

3.7 InfânciaseJuventudes250

Acreditamos que estamos convidados a nos tornarmos uma referência da Igre-ja no que se refere à evangelização de crianças e jovens pobres, onde quer que eles estejam. (emili turu).

não meçais esforços na formação dos jo-vens. (Papa Francisco).

[179].Precisamos nos indagar com certa regularidade sobre o lugar reservado às crianças e jovens em nossas prioridades. Lembremos que eles estão no cerne de nossa missão, são eles os sujeitos para os quais Marcelino Champagnat de-dicou toda a sua obra apostólica. Hoje, nosso compromisso com as infâncias, adolescências e juventudes se materializa, sobretudo, na oferta da educação cristã, na catequese, na solidariedade, na defesa, promoção e garantia dos di-reitos desses sujeitos.

[180].As Constituições Maristas conclamam: “Vamos aos jovens lá onde eles estão. Vamos com ousadia aos ambientes, talvez inexplorados, onde a espera de Cristo se revela na pobreza material e espiritual”. 251 Mesmo quando não é possível estar presencialmente nos lugares aonde os jovens se encontram, é nossa missão oportunizar às crianças e aos jovens, através de nossas escolhas

250 Contribuíram nessa reflexão: Caroline Fagundes (lUMen), Diogo Galline (setor de Pastoral), eduardo de oliveira Filho (Aliança saúde), Fernanda Mazzolli (PUCPr - núcleo de Pastoral), Glaucio luiz Mota (DeAs), osmar rezende (Colégio Marista Glória - sP), Pollyana nabarro (ABeC-UCe - Marketing) e renata Alessandra Bueno (FtD).

251 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Constituições e Estatutos, n. 83.

Grupo Marista 9594 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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administrativas, um variado leque de produtos e serviços, ações e projetos, experiências e espaços que lhes imprimam os valores cristãos e humanitários e que promovam o sentido de sua dignidade. É nosso dever empenharmo-nos por melhorar as condições políticas, econômico-sociais, ambientais, cogniti-vas e afetivas que impactam positivamente no desenvolvimento das infâncias e juventudes.

[181].Por infância compreendemos o “espaçotempo252 da construção das culturas infantis, da produção de conhecimentos, de posicionamento no mundo pelos pequenos e pelas pequenas” 253. Desta forma, amplia-se a visão de que a in-fância é apenas uma fase da vida na qual a criança se apresentava passiva no processo de constituição de si, passando a ser reconhecida como “um ser ca-paz de produzir ideias, cultura, objetos concretos e simbólicos; de desenvol-ver sentimentos que serão válidos por toda a vida; de questionar a realidade que a cerca e a que está distante no tempo e no espaço; de produzir significa-dos sobre si, sobre o outro e sobre o mundo”. 254

[182].Os novos cenários globais e locais nos desafiam a lançar um olhar mais aguça-do sobre esse universo diversificado. 255 As crianças e jovens protagonizam pro-cessos sociais extremamente complexos, conforme os espaços, tempos e con-textos em que estão inseridos. Diferentes segmentos juvenis geram demandas diferenciadas, constroem novas identidades, respostas e caminhos específicos. Nesse sentido, é prudente que reconheçamos a pluralidade dos modos de ser 256

252 “espaçotempo” é um termo elementar do Projeto Educativo do Brasil Marista. Deve ser concebido como um continuum que se refere ao espaço e ao tempo de modo inter-relacionado. nessa perspectiva, se pensam fatos, processos, fenômenos e situações-problema de modo inter-relacionado, considerando simultaneamente suas especificidades espaciais e temporais. ver UMBrAsIl, 2011. p. 26.

253 PMBCs. DerC. Projeto Marista para a Educação Infantil, p. 51.254 PMBCs. DerC. Projeto Marista para a Educação Infantil, p. 49.255 “A pastoral juvenil, tal como estávamos habituados a desenvolvê-la, sofreu o impacto das mudanças sociais. nas estruturas ordinárias,

os jovens habitualmente não encontram respostas para as suas preocupações, necessidades, problemas e feridas. A nós, adultos, custa-nos ouvi-los com paciência, compreender as suas preocupações ou as suas reivindicações, e aprender a falar-lhes na linguagem que eles entendem. Pela mesma razão, as propostas educacionais não produzem os frutos esperados. A proliferação e o crescimento de associações e movimentos predominantemente juvenis podem ser interpretados como uma ação do espírito que abre caminhos novos em sintonia com as suas expectativas e a busca de espiritualidade profunda e de um sentido mais concreto de pertença. todavia é necessário tornar mais estável a participação destas agregações no âmbito da pastoral de conjunto da Igreja.” (PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 105).

256 vide UMBrAsIl. Projeto Educativo para o Brasil Marista, p. 56 e 57.

da criança e do jovem. Somos instigados a concebê-los no plural, como infân-cias e juventudes, respeitando sua complexidade e dinamicidade.

[183].Reconhecemos que existem muitos abismos estruturais que colocam as ju-ventudes em mundos antagônicos. Se observarmos com atenção nossos es-paços de atuação, veremos jovens em condições economicamente favoráveis, que vão postergar seus compromissos adultos (independência econômica, trabalho, casamento e outros) para depois dos 30 anos; enquanto outros, ain-da na infância, já precisam trabalhar ou encontrar meios próprios de sobre-vivência, abreviando essa fase tão salutar para o desenvolvimento corpóreo, cognitivo e afetivo. A criança e o jovem pobre não dispõem do mesmo tempo e das oportunidades de que dispõe o jovem das classes economicamente pri-vilegiadas. Essa falta de equidade é considerada uma das principais causas do empobrecimento. Portanto,

seguindo Jesus e vivendo a missão, somos inspirados pela pai-xão e pelo estilo prático de Marcelino. Com um coração dedicado às crianças e aos jovens pobres, os apóstolos Maristas procu-ram dar respostas concretas à dolorosa condição em que essas crianças e jovens vivem. 257

[184].Num mundo fragmentado e com forte tendência ao individualismo, somos todos desafiados a formar “[...] pessoas integradas e de esperança, com pro-fundo senso de responsabilidade social”. 258 Como bem orienta o XXI Capítulo Geral, devemos ser “uma presença fortemente significativa entre as crianças e jovens pobres” 259, uma vez que somos para elas, muitas vezes, o único sinal de esperança; levemos a sério as palavras do Papa em sua visita ao Brasil:

Hein, jovens! vocês, queridos jovens, possuem uma sensibili-dade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desilu-dem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em

257 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Água da Rocha, p. 76.258 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, p. 39.259 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 25 e 26.

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vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. também para vocês e para todas as pessoas repito: nunca de-sanimem, não percam a confiança, não deixem que se apague a esperança. A realidade pode mudar, o homem pode mudar. Pro-curem ser vocês os primeiros a praticar o bem, a não se acostu-marem ao mal, mas a vencê-lo com o bem. A Igreja está ao lado de vocês, trazendo-lhes o bem precioso da fé, de Jesus Cristo, que veio “para que todos tenham vida, e vida em abundância”. 260

[185].O documento Evangelização da juventude – Desafios e perspectivas pastorais 261 nos apresenta a novidade de considerar o jovem como um lugar teológico na Igreja. “Reconhecendo a juventude como lugar teológico, o nosso amor a ela é gratuito, independente do que possa nos oferecer.” 262 Portanto, como insti-tuição católica e Marista, queremos também

[...] renovar a opção afetiva e efetiva de toda a Igreja pela juven-tude na busca conjunta de propostas concretas que favoreçam uma verdadeira evangelização desta parcela da sociedade. A responsabilidade de anunciar Jesus Cristo e seu projeto aos jo-vens convoca-nos a uma constante vigilância para que a vontade de Deus e os sinais dos tempos sejam respondidos de modo ade-quado, principalmente em uma época de mudanças.263

[186].Ouse saber! 264 Encontramos nessa expressão um ponto de partida para pensar nossos jovens, pois a ousadia e a vontade de conhecer parecem ser qualidades próprias das juventudes, que se expressam no desejo de liberdade, customiza-ção, ceticismo, colaboração, inovação e velocidade. 265 Um grande desafio das instituições que lidam com jovens refere-se à incapacidade de acolher, entender

260 PAPA FrAnCIsCo. Discurso na visita à comunidade de Varginha, 25/07/2013.261 Documento oficial aprovado na 45º Assembleia Geral da CnBB, em 2007. refere-se à evangelização da juventude. ver CnBB. Evangelização

da juventude, DoC. 85.262 CnBB. Evangelização da Juventude, n. 248.263 CnBB. Evangelização da juventude, n. 4.264 o filósofo Immanuel Kant, na reflexão intitulada O que é o esclarecimento?, propõe-nos um lema instigante: Sapere aude! (ouse saber!).265 tAPsCott, Don. A hora da geração digital, p. 91 – 119.

e integrar as novidades que as juventudes apresentam. Afinal, novidade é o atri-buto que as melhor define enquanto sujeitos, cuja busca é entender a si, perten-cer a um grupo (identidade), mudar o mundo, dar sentido para a vida e ser feliz.

[187].Nossa sociedade, cada vez mais urbana e globalizada, assim como tem padro-nizado processos produtivos e econômicos, busca desenvolver um discurso homogeneizador para definir a infância e a juventude. Há sempre o risco de que comportamentos artificializados, mitos e preconceitos sejam absorvidos por nós como modelos legítimos para ambas, por parecerem cientificamente plausíveis ou de apelo midiático.

[188].Nesse sentido, o documento Evangelizadores entre os Jovens alerta:

É difícil, para nós, conceituar a juventude, pois é impossível abran-ger as diversas situações que os jovens vivem, dependendo de suas raízes e origens étnicas, das influências culturais de seus meios ou das diferentes condições políticas, sociais e econômi-cas. os jovens não constituem uma categoria homogênea. 266

[189].Um possível risco de desencontro ocorre quando nos aproximamos dos jo-vens a partir de ideologias prontas. Portanto, acolhemos a contribuição dos discursos que categorizam as gerações de maneira equilibrada, com entusias-mo e moderação. Assim, entender a dinâmica geracional e Inter geracional se torna fundamental na aproximação com as juventudes. Por outro lado, leva--se em conta que existem anseios inerentes ao ser humano que extrapolam a historicidade das gerações.

[190]. Assim como fez Jesus Cristo ao perguntar aos companheiros de Emaús “O que é que vocês andam conversando pelo caminho?” 267, as instituições devem fazê-lo, num processo dialogal com os jovens, obtendo-se por eles um termô-metro da vida e da sociedade, visto que a “juventude é a janela pela qual o

266 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 13.267 lucas 24, 17.

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futuro entra no mundo”.268 “O percurso que Jesus faz com os dois discípulos, no caminho de Emaús, é um paradigma para a evangelização juvenil hoje.” 269 O apelo capitular para “olharmos o mundo com os olhos das crianças [e jovens]” propõe que nos despojemos de nossas posições (intelectuais, hierár-quicas, ideológicas, etc.) para absorvermos as expectativas que eles têm em relação a nós. Essa parece ser uma importante chave de leitura para com-preendermos profundamente quem são os jovens e quais são seus principais anseios. “Conhecer o jovem é condição prévia para evangelizá-los” 270, afir-ma a Igreja. Do mesmo modo, o documento Evangelizadores entre os Jovens 271 destaca o interesse do Conselho Geral em situar a evangelização dos jovens no coração de nossa prática pastoral e, assim, tornarmo-nos uma referência para Igreja.

[191].Devemos estar muito mais atentos às situações reais que afetam a dignidade das juventudes do que aos discursos legitimantes e ideológicos que as enqua-dram em categorias pré-formatadas. Na perspectiva da “presença significati-va entre os jovens”, as juventudes tornam-se objeto de estudo e acompanha-mento prático. Precisamos entender melhor os sentidos do que é ser jovem segundo os próprios jovens, para rever muito do que se tem dito sobre eles, colaborando para a superação de todo tipo de preconceitos que se inscrevem na ideia de juventude. Portanto, as ações pastorais junto às juventudes preci-sam considerar quem são esses jovens e qual a melhor forma de aproximar-se deles, agregando os recursos que utilizam, as ideias que os movem.

[192].Abre-se diante de nós a questão de como nos posicionamos em relação à in-clusão dos jovens nos espaços e fóruns que lhes são de direito e que dizem respeito à promoção de sua dignidade e desenvolvimento integral da pes-soa; citamos o acesso à educação de qualidade, às oportunidades de partici-pação social ampla, à formação para o trabalho, à formação em valores que contribuem na constituição de seu caráter, à saúde, etc., constituindo-se em

268 PAPA FrAnCIsCo. Discurso na Cerimônia de Boas-vindas ao Brasil, 22/07/2013.269 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 171.270 CnBB. Evangelização da juventude, n. 10.271 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, 2011.

preocupação de cada um de nós e das autoridades governamentais quanto à definição de políticas públicas específicas.

[193].Em relação aos espaços ocupados por crianças e jovens, necessário se faz destacar a importância que as tecnologias da comunicação assumem na vida desses sujeitos. São ferramentas e espaços que constituem os novos areópa-gos272 dessa geração. Observamos com entusiasmo a democratização quase universalizada do acesso amplo à informação entre os mais jovens. No entan-to, o maior desafio parece ser integrar na informação um processo de educa-ção imbuída de valores.

[194].No ambiente virtual, transmitir informações significa, com frequência, inse-ri-las e intercambiá-las em redes sociais, devido à vontade das pessoas em interagir. Elas já estavam interagindo antes das tecnologias digitais por ou-tras vias, nem melhores nem piores. Ocorre que hoje elas podem fazer isso mais rápido e encurtando distâncias. Também é necessário avaliar os novos riscos273 advindos da utilização inapropriada dessas novas ferramentas. Esta dinâmica contribuiu para uma nova avaliação do papel da comunicação, con-siderada primeiramente como diálogo, intercâmbio, solidariedade e criação de relações sociais.

neste tempo em que as redes e demais instrumentos da comu-nicação humana alcançaram progressos inauditos, sentimos o desafio de descobrir e transmitir a “mística” de viver juntos, misturar-nos, encontrar-nos, dar o braço, apoiar-nos, participar nesta maré um pouco caótica que pode transformar-se numa verdadeira experiência de fraternidade, numa caravana solidá-ria, numa peregrinação sagrada. Assim, as maiores possibilida-des de comunicação traduzir-se-ão em novas oportunidades de encontro e solidariedade entre todos. Como seria bom, salutar,

272 Bento XvI. Carta para o 45º dia Mundial das Comunicações. Disponível em:<http://www.vatican.va>.273 Pirâmide de segurança digital: O Que é Uma Pirâmide de Confiança? extraído do site <http://www.miudossegurosna.net/artigos/2007-02-27.

html>.

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libertador, esperançoso, se pudéssemos trilhar este caminho! sair de si mesmo para se unir aos outros faz bem. Fechar-se em si mesmo é provar o veneno amargo da imanência, e a humani-dade perderá com cada opção egoísta que fizermos. 274

[195].Do ponto de vista evangelizador, justifica-se, portanto, o interesse em reco-nhecer e problematizar cada vez mais o potencial educativo das tecnologias da comunicação. Desconsiderar essa influência constitui um equívoco his-tórico e estratégico, sobretudo ao se pensar o processo de desenvolvimento integral dos sujeitos jovens. Tal percepção nos convida a aprofundarmos a reflexão sobre o papel do comunicador-educador. O conceito educomunicação subentende certa capacidade de intervenção transformadora por intermédio dos meios de comunicação de massa. Nesse sentido, interessa sabermos até que ponto nós, profissionais da comunicação, reconhecemo-nos como agen-tes provocadores da reflexão dos diversos temas que afetam a vida, em vista da formação do sujeito crítico que almejamos.

[196].Há uma expectativa institucional em relação aos profissionais da comunica-ção do Grupo Marista, cuja orientação ética baseia-se no valor da educação como instrumento de emancipação dos sujeitos. Necessitamos de educomu-nicadores produtores e multiplicadores de conteúdo relevante que gerem impacto positivo, adesão e interação, com consequente aprendizado a respei-to interpessoal nas diferentes tecnologias da comunicação que dispomos. O grande desafio parece ser o modo como comunicamos os valores cristãos de modo eficiente para nossos interlocutores. Comunicar o Evangelho significa não só inserir conteúdos religiosos nas plataformas dos diversos meios, mas também testemunhar com coerência, no próprio perfil digital e no modo de comunicar escolhas, preferências, juízos que sejam profundamente coeren-tes com o Evangelho, mesmo quando não se fala explicitamente dele. Aliás, em qualquer espaço, não pode haver anúncio de uma mensagem sem um tes-temunho coerente por parte de quem anuncia.

274 PAPA FrAnCIsCo. Exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 87.

[197].Uma comunicação integradora pode favorecer o protagonismo infanto-juve-nil, como é forma de posicionamento cristão no mundo. Entre eles, as propos-tas evangelizadoras mais eficazes parecem ser aquelas com forte “expressão vivencial”. 275 Assim, o Grupo Marista fortalece a construção do documento Pastoral na Educação Infantil: referenciais para a ação Pastoral-Pedagógica e a Pastoral Juvenil Marista com o objetivo de estabelecer um processo de forma-ção integral de crianças e jovens.

[198].“A PJM é um meio privilegiado para essa evangelização, embora, seguramen-te, não seja o único meio”. 276Além da PJM, outras iniciativas de promoção e evangelização juvenil são apoiadas e incentivadas pelo Grupo Marista, se-gundo as necessidades específicas de cada realidade.

[199].“O que os jovens esperam de nós?” 277 Essa pergunta nos leva a refletir sobre o que as crianças e jovens esperam de nós a partir do trabalho realizado pelo Grupo Marista. Assim, elegemos alguns apelos que nos parecem ir ao encon-tro de seus anseios:a) Receptividade em relação às propostas e anseios das infâncias e juventu-

des: escuta sensível e canais de participação.b) Acompanhá-los em seu caminho e em suas escolhas vocacionais, geran-

do oportunidades para que possam vislumbrar um futuro além das pró-prias fronteiras.

c) Promover trabalhos voluntários na comunidade local, favorecendo o en-contro grupal e a solidariedade. Formar jovens com ardor missionário.

d) Ocupar os espaços de definição de políticas públicas para as infâncias e juventudes, com vistas a um mundo mais justo e ético. 278

e) Ajudá-los a crescer na relação consigo, com Deus, com a natureza e com os demais. Educação da fé e do caráter cidadão.

275 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 23.276 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 368.277 Cf. InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Evangelizadores entre os jovens, n. 43.278 nesse sentido, conferir o documento Conselhos de Juventudes. Grupo Marista, 2013, um subsídio de orientação às juventudes maristas

sobre o processo de inserção nos espaços representativos.

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f) Trabalhar mais profundamente a dimensão vocacional e o encontro com Cristo, sobretudo com a PJM.

g) Potencializar a vivência em grupo como primeiro ambiente eclesial.h) Estudar sistematicamente os fenômenos que impactam as infâncias e

juventudes.

3.8 Valoresmaristas279

não se mede o valor de um homem pelas suas roupas ou pelos bens que possui; o verdadeiro valor do homem é o seu cará-ter, suas ideias e a nobreza dos seus ide-ais. (Charles Chaplin).

[200].A palavra “valor” é adotada de maneira ampla na cultura atual. Ela é facil-mente empregada em campos diversificados: filosóficos, sociológicos, econô-micos, éticos, religiosos, dentre outros. De modo geral, os valores podem ser compreendidos como um conjunto de pontos de vista, deveres, julgamentos, preferências e padrões de associação que determinam a visão de mundo de um indivíduo. Sua importância reside no fato de que, uma vez internalizado, torna-se, consciente ou inconscientemente, um padrão ou critério de conduta.

[201].Muitas instituições que vêm se consolidando na história possuem um con-junto de valores que orientam suas ações, potencializando a realização de sua missão. Desta forma, os valores se fazem presentes no mundo organi-zacional com o propósito tanto de servirem como base para a estruturação das formas de atuação e do próprio sistema de gestão, quanto de tornarem o trabalho mais significativo. Espera-se que os mesmos possam ser traduzidos para todos os negócios, setores, processos e, principalmente, para todas as pessoas envolvidas. Entretanto, um valor só ganha “vida”, de fato, quando é

279 Contribuíram nessa reflexão: elizabeth Mendes loureiro (FtD - Desenvolvimento de Pessoas), eneida ribas (teCPUC), ernesto siena (PUCPr - núcleo de Pastoral de são José dos Pinhais), Guilherme lorenzi (Aliança saúde – Plano de saúde Ideal), Hélio Amaral (APC– AIDn), José leão Cunha (Colégio Maristão - DF) e nanci Alexandra Prochnow (Centro social de Pouso redondo - sC).

legitimado socialmente por seus membros, ao perceberem que sua utilização garantirá resultados positivos.

[202].As instituições visionárias que se perpetuaram na história foram capazes de realizar permanentemente um duplo dinamismo: de um lado, possuírem um conjunto claro de missão e valores e a eles foram fiéis; do outro, conseguiram concretizar esses mesmos ideais em ações inovadoras, eficientes e eficazes aos desafios de cada época.

[203].A missão de uma instituição anuncia seus valores. A partir do momento em que os valores se apresentam como base para o modo de conhecer e manu-sear conhecimento, aumentam as chances de que os processos e atos sejam autênticos e convincentes. Quando isso ocorre, é possível observar a intenção que conecta as decisões e as pessoas. É à percepção clara dessa conexão que chamamos de equilíbrio e coerência entre teoria e prática. Noutras palavras: a missão vai realizando-se e renovando-se.

[204]. Em nossa Instituição existe um estilo de condução dos processos baseado em valores próprios do Evangelho e do carisma marista, herdados de São Marcelino Champagnat e dos primeiros Irmãos. Consiste na preservação do núcleo referencial dos valores que é, ao mesmo tempo, estímulo ao au-todesenvolvimento e ao alto desempenho organizacional. É missão de cada um de nós sermos, para o mundo, o testemunho vivo do Evangelho em tudo o que realizarmos.

[205].Muitos são os valores que emergem da missão e identidade cristã e marista. Eles são descobertos no dia a dia de cada um de nós, em meio aos desafios e às atividades. Como organização, na dimensão corporativa – depois de um grande processo participativo e reflexivo, com o envolvimento dos irmãos e de representantes de todas as frentes apostólicas –, o Grupo Marista optou por tornar evidentes seis valores que nos são referenciais. São eles um recor-te dos inúmeros valores possíveis que fazem parte do Evangelho e da vida marista. Acreditamos que ao focar esse núcleo valorativo possamos desen-volver de forma mais eficaz nossas ações cotidianas: Simplicidade; Amor ao

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Trabalho; Justiça; Espiritualidade; Espírito de Família (Sensibilidade Comunitá-ria); e Presença Significativa.

[206]. Os valores são complementares e interdependentes entre si; iluminando as escolhas em saberes, comunicam nossas crenças. A intenção maior consiste em possibilitar o desenvolvimento e o cultivo de uma cultura organizacional marista forte, fiel às origens e condizente com o caráter visionário, empreen-dedor e transformador do próprio fundador. Empreender em estilo marista é dar um testemunho profético ao mundo: é possível empreender com sucesso negócios iluminados por princípios oriundos do Evangelho. Cremos ser pos-sível organizar negócios que se tornem sustentáveis, onde as pessoas se reali-zem no presente e vislumbrem futuro não apenas do ponto de vista material, como também, e principalmente, espiritual. Buscamos, antes de tudo, impac-tar positivamente o público final de nossas iniciativas, colaborando para que todos sejam protagonistas na construção de uma sociedade mais humana, justa, ética e solidária.

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DIRECIONAMENTOS PASTORAIS

4

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g) Promover uma maior compreensão e apreço da internacionalidade e multiculturalidade, vivendo a globalização de maneira alternativa, e fa-vorecendo uma maior disponibilidade missionária para responder às novas necessidades.

h) E, finalmente, dar continuidade à promoção e aplicação do “Uso evangélico dos bens” e ao exercício da solidariedade em todos os ní-veis do Instituto.

4.2 DirecionamentosTransversais

[208]. Os Direcionamentos Transversais referem-se a orientações pastorais váli-das para todas as frentes apostólicas, independendo a especificidade:a) Centralidade em Jesus Cristo, expressão máxima da pessoa inteira e

integrada.b) Apropriação e disseminação do legado de Marcelino Champagnat por

meio da espiritualidade mariana e vivência dos valores institucionais. c) Ação evangelizadora assumida como finalidade primeira de todas as

frentes apostólicas que compõem o Grupo Marista. d) Evangelização e sua organização pastoral adotadas como processos que

perpassam todas as estruturas da organização e assumidas como res-ponsabilidade de todos.

e) Todas as Frentes Apostólicas (Negócios) são campos de evangelização e vetores de multiplicação da missão marista.

f) Inculturação do Evangelho de acordo com a identidade, linguagem e missão de cada frente apostólica, a partir das potencialidades e necessi-dades de seus interlocutores.

g) Desenvolvimento contínuo de pessoas, em todos os níveis hierárquicos, para atuação com visão e competência evangelizadora.

h) Investimento financeiro parametrizado em processos evangelizadores.i) Comunhão com a Igreja e articulação com organismos e redes eclesiais

nos níveis local, nacional e internacional.j) Comunhão e sinergia com as diversas instâncias institucionais (Casa

Geral; Secretariado de Missão; União Marista do Brasil; Setores Provin-ciais, Mantenedoras e Negócios).

4. DIRECIONAMENTOS PASTORAIS

4.1 ObjetivosdeAnimaçãoPastoraldoConselhoGeral280

[207]. O Conselho Geral, no que se refere à atuação pastoral, guiar-se-á nos próxi-mos anos segundo os seguintes objetivos:a) Favorecer o desenvolvimento do “rosto mariano” da Igreja para que esta

se faça mais próxima dos jovens e das necessidades do mundo de hoje. b) Promover no Instituto um estilo de liderança participativa, de maneira

que cada membro possa melhor exercer a autoridade que lhe compete, a serviço da missão do Instituto.

c) Acompanhar o discernimento nas Unidades Administrativas e nas regi-ões com vistas a descobrir o alcance do “ir para uma nova terra” em seu próprio contexto.

d) Favorecer aos Irmãos o reencontro e encanto com a própria vocação, a fim de vivê-la e testemunhá-la com radicalidade, abertura e alegria na Igreja e no mundo de hoje.

e) Suscitar e/ou acompanhar novas formas de viver o carisma marista, tan-to entre Irmãos quanto entre os Leigos e promover o desenvolvimento da vocação do Leigo Marista, construindo uma nova relação que nos enriqueça mutuamente e reconheça a fecundidade atual da herança de Champagnat.

f) Continuar desenvolvendo a missão marista, como parte de nossa iden-tidade e alimento de nossa espiritualidade, especialmente em três dos aspectos destacados pelo Capítulo Geral: maior proximidade às crian-ças e jovens pobres; a evangelização; e a defesa dos direitos das crian-ças e jovens.

280 Disponível no site oficial do Instituto Marista : <http://www.champagnat.org/pt/610.php?caso=view_1909&num=1775>

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k) Foco preferencial na evangelização e promoção dos direitos das infân-cias, adolescências e juventudes.

4.3 DirecionamentosPastoraisparaasFrentesApostólicas

[209]. Desde o Concílio Vaticano II a Igreja nos exorta a que, em todo trabalho evangelizador, estejamos sempre atentos aos “sinais dos tempos”, pois “é necessário conhecer e entender o mundo no qual vivemos, suas esperanças, suas aspirações e sua índole”. 281

[210].O Instituto Marista, fiel ao Evangelho, à Igreja e ao legado de seu fundador, Marcelino Champagnat, reconhece-se vocacionado a ler os sinais dos tempos e buscar, com audácia, empreendedorismo e vitalidade, sempre novos méto-dos para tornar Jesus Cristo conhecido, amado e seguido. O XXI Capítulo Ge-ral nos exorta: “Com Maria, ide depressa para uma nova terra!”; e isso nos faz olhar para nossas estruturas como meios dinâmicos e potenciais que primam pela excelência administrativa, educacional, social e pastoral com a finalida-de de garantir a vitalidade e viabilidade da missão Marista.

[211].Nesse contexto, nossos “espaços” 282 são concebidos como “campos de apli-cação e vetores de multiplicação do carisma marista”. São meios nos quais a identidade institucional é vivenciada e pelos quais chegamos com maior efi-ciência às crianças e aos jovens com a finalidade de ajudá-los a serem pessoas plenas em todas as suas dimensões – psíquica, física, social e espiritual. Por isso mesmo, acreditamos que a dinâmica evangélico-pastoral perpassa todas as nossas instâncias, dá significado aos processos desenvolvidos e é respon-sabilidade de todos.

281 Gaudium et Spes, n. 4.282 Mantenedoras – Área Corporativa, negócios e Unidades.

[212].Considerando esses pressupostos, o Setor Provincial de Pastoral, sensível ao sopro do Espírito283 e com a responsabilidade de zelar e dinamizar o processo evangelizador no Grupo Marista propôs a atualização da ação pastoral em nossos espaços de forma corresponsável, organizada, sistemática e orgânica e, ao mesmo tempo, dinâmica, criativa e inovadora. Assim, apresenta o hori-zonte pastoral para as iniciativas das Mantenedoras.

[213].Trata-se de direcionamentos que devem iluminar ações e dinamizar os es-forços, bem como servir de base para as necessárias elaborações ou atualiza-ções dos planejamentos dos negócios e áreas corporativas das mantenedoras e dos planos específicos de pastoral. Aos responsáveis maiores - conforme o fluxo de gestão estabelecido no Grupo Marista - cabe a atribuição de tor-nar esses direcionamentos presentes na cultura organizacional, nos proces-sos e operações já estabelecidos e a implantação de novas iniciativas, quando necessárias.

4.3.1 ÁreaCorporativa

[214].As áreas corporativas das mantenedoras APC, ABEC/UCE e FTD cumprem seus objetivos de apoiar, orientar e controlar os Negócios a elas ligados, ali-cerçados nos princípios que fundamentam a missão Marista.

[215].Desta forma, inspiradas nos ideais da educação marista e nos valores insti-tucionais, empenham-se por atingir a excelência técnica, profissional e hu-mana, com caráter pastoral em todas as suas ações e processos por meio de alguns posicionamentos organizacionais:

283 “o vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do espírito” (Jo 3, 8).

Grupo Marista 113112 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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ÁreaCorporativaalicerçadanosvaloresinstitucionais

[216].Os valores institucionais – justiça, espírito de família, presença significativa, amor ao trabalho, espiritualidade e simplicidade 284 – são difundidos entre os colaboradores da Instituição e traduzidos em suas ações cotidianas.

[217].Além disso, aqueles que recebem o cargo de gestão empenham-se por incor-porar em suas práticas o estilo marista próprio de administrar, com força e ternura. Sem prescindir da competência técnica, e exercendo a sua função com profissionalismo, cabe a estes alinhar as dimensões técnicas e profissio-nais à missão e valores institucionais e oportunizar às suas equipes de traba-lho condições de engajamento.

Processosorganizacionaisalinhadosaosvaloresinstitucionais

[218].Ao lado do potencial humano, técnico e profissional dos colaboradores e ges-tores, todos os processos de Gestão de RH – atração, retenção, desenvolvi-mento, avaliação, motivação e rescisão 285 – devem estar permanentemente alinhados aos valores institucionais.

Identidademaristacomofontedesinergiaequalificaçãodaculturaorganizacional

[219].Todo empenho por alinhar o trabalho cotidiano à missão marista é refleti-do na cultura e clima organizacionais. Neste âmbito, a vivência do carisma

284 os valores aqui apresentados foram escolhidos por um grupo de trabalho aprovado pelo Conselho Provincial e composto por colaboradores das áreas de rH das mantenedoras ABeC/UCe, APC e FtD, do setor de Pastoral e por alguns Irmãos Maristas dos setores Provinciais. A partir do estudo detalhado de fontes maristas, o referido grupo providenciou a conceituação de cada um dos valores e a tradução dos mesmos em comportamentos mensuráveis, preocupando-se em utilizar uma linguagem apropriada para a área corporativa. A finalidade maior desse trabalho consiste em orientar os colaboradores de nossas Mantenedoras e negócios no exercício de nossa missão marista de servir às crianças e jovens, ajudando-os a enriquecer o significado de suas ações. Aos gestores maiores de nossa Instituição cabe a responsabilidade de difundir esses valores na corporação, tornando-os pertinentes ao cotidiano, sobretudo por meio dos processos de gestão de rH.

285 esses processos podem ter os seguintes detalhamentos: Admissão de colaboradores/Atração: solicitação de pessoal, Acompanhamento de processos estratégicos. Manutenção dos colaboradores/retenção: Avaliação de desempenho, Programa trainee, Avaliação de Potencial, Movimentação Interna, Benefício, Clima organizacional, Indicadores da DrH, Planejamento Pessoal, Minimizar riscos trabalhistas, Advertência e suspensão. Desenvolvimento dos colaboradores/treinamento: Gestão por competência, transição por liderança, lnt – Avaliação de desempenho, Coaching, Desenvolvimento de equipe, Planejamento e sucessão. reconhecimento/Motivação: Políticas de Graduação e Pós, Meritocracia, Programa de valorização de Funcionários, Gestão social Corporativa. rescisão: Programa de Preparação e aposentadoria, entrevista de desligamento, relatórios estatísticos de desligamento.

herdado de Champagnat exige de todos a sensibilidade comunitária, que pode ser permanentemente dinamizada por momentos significativos de con-vivência e celebração da vida. 286 Essa postura intensifica a sinergia entre as diversas áreas e enriquece o sentido das relações humanas. A organização há que ser atrativa aos colaboradores, bem como cada colaborador evidenciar os valores institucionais como um diferencial da Instituição para que seja atra-tivo à organização.

4.3.2 NegóciosSuplementares

[220]. A área de Negócios Suplementares tem por missão colaborar para a susten-tabilidade, melhoria dos processos educacionais e expansão da Instituição por meio da disponibilização de infraestrutura de excelência e da viabilização de modelos inovadores de negócio. Partindo da identidade institucional, deve alinhar-se ao Plano Estratégico dos Negócios das mantenedoras APC, ABEC e UCE, utilizando prioridades baseadas no âmbito da cultura organizacional, que são:

Processosorganizacionaisalinhadosaosvaloresinstitucionais

[221].Rigor absoluto à ética e à adequação permanente da evolução do marco legal e normativo, desempenhando seus processos produtivos da forma eficiente, por meio de pessoas competentes, comprometidas, empreendedoras. Agili-dade, flexibilidade, adaptabilidade, permeabilidade e sintonia com a socieda-de, visando entrega de produtos e serviços inovadores desenvolvidos para satisfazer suas necessidades e expectativas alinhadas à identidade e aos va-lores Maristas.

286 os momentos celebrativos aqui referidos compreendem: a) Pequenas comemorações no cotidiano dos colaboradores: por ocasião de aniversários, maternidades e ou paternidades, premiações ou conquistas de pessoas ou grupos, etc. b) Comemorações de datas significativas para o Instituto Marista: Dia do Marista, Dia de Champagnat, ou por orientações dos Conselhos Gerais e ou Provincial, conforme momentos próprios da caminhada marista. c) Comemorações significativas para nossos âmbitos de atuação: Dia do Professor, Dia do Médico, Dia do estudante, Dia do Comunicador, etc. d) Comemorações significativas para a família humana em geral: Dia dos Pais, Dias das Mães, Dia Internacional da Mulher, etc. e) Celebrações do Ano litúrgico da Igreja: Páscoa, natal, Assunção de nossa senhora, etc.

Grupo Marista 115114 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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Difusãodosvaloreshumanos,cristãosemaristas,traduzidosàculturaatual

[222].Como prestadora de serviços e fornecedora de produtos para a sociedade, atendendo às comunidades interna e externa à organização, a área de Negó-cios Suplementares deve buscar a vocação e a oportunidade de atingir escala comercial, visando sustentabilidade e viabilidade econômica de cada infraes-trutura já existente ou, quando convir, propor a agregação de novas estrutu-ras para atender novas demandas.

[223].Os valores cristãos e maristas devem ser explicitados: no relacionamento com o cliente, oferecendo-lhe atendimento individual e respeitoso; na relação com alunos, contribuindo na realização de seus objetivos pessoais, oferecen-do cursos preparatórios, áreas de estágio e materiais didáticos modernos e com qualidade; quer promovendo a contextualização do ensino, da pesqui-sa e da extensão em sintonia com os avanços tecnológicos das ciências; quer como pessoas que necessitam de recuperação de documentos e informações armazenados em bases confiáveis; como também por meio de venda de pro-dutos de forma saudável e justa.

Produtoseserviçosespecíficosparaaevangelizaçãodoscolaboradores

[224].Fazer com que o trabalho seja produtivo e o trabalhador possa se realizar como pessoa, alinhado ao compromisso social, fortalecendo valores pessoais e desenvolvendo habilidades e mecanismos de comunicação e relacionamen-to com as diversas áreas e unidades da Instituição, com conhecimento da di-nâmica e oportunidades do ambiente de negócios sempre atualizado.

[225].Desenvolver a cultur a da solidariedade, fazendo com que os benefícios con-quistados pelos negócios sejam revertidos para a consecução da missão. Criar sinergia com os setores, buscando desenvolver ações conjuntas que possam apoiar o desenvolvimento de ações sociais, de educação formal, saú-de e comunicação.

4.3.3 EducaçãoProfissional

[226].A área de Educação profissional do Grupo Marista é representada pelo Cen-tro de Educação Profissional TECPUC, sendo gradativamente ampliada para as unidades educacionais da ABEC-UCE. Assim, somos desafiados a integrar a excelência educacional com missão institucional. Ao final de uma trajetória de estudos, almejamos que os alunos egressos da Educação Profis-sional tenham desenvolvido seu juízo crítico, compreendido os valores hu-manos integrados aos conteúdos que estudam287 e sejam reconhecidos como profissionais diferenciados.

[227].Atendendo uma demanda social importante e crescente, o Grupo Marista vem ampliando suas estruturas físicas, de atendimento à comunidade e for-mação continuada de professores e educadores para consolidar os processos educacionais nesta modalidade de ensino.

[228].Compreendemos a Educação Profissional como uma oportunidade ímpar para o aperfeiçoamento da integralidade do ser humano e da sensibilização para relações sociais mais abrangentes e solidárias. Formamos, portanto, ci-dadãos éticos e de esperança, encorajando-os no esforço de superação pes-soal e para serem protagonistas no progresso288 da sociedade. Fiéis à missão evangelizadora marista, concebemos a educação profissional como “educa-ção integral com ênfase no trabalho”.

Educaçãoparaa“culturadotrabalho”

[229].Os ambientes que educam para o trabalho são espaços privilegiados de re-lacionamento, desenvolvimento humano e conscientização social. Conforme assevera a Encíclica Mater et Magistra 289, cabe também à empresa esforçar-se

287 Cf. InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão educativa marista, n. 135-136.288 “Paulo vI tinha uma visão articulada do desenvolvimento. Com o termo ‘desenvolvimento’ queria indicar, antes de mais nada, o objetivo

de fazer sair os povos da fome, da miséria, das doenças endêmicas e do analfabetismo. Isto significa, do ponto de vista econômico, a sua participação ativa e em condições de igualdade no processo econômico internacional; do ponto de vista social, a sua evolução para sociedades instruídas e solidárias; do ponto de vista político, a consolidação de regimes democráticos capazes de assegurar a liberdade e a paz.” (Bento XvI. Caritas in veritate, n. 21)

289 João XXIII. Mater et Magistra, n. 53.

Grupo Marista 117116 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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para ser comunidade nas suas relações, funções e situações. Tal perspectiva se torna mais evidente na medida em que houver o empenho conjunto das pessoas290 que convivem nesses espaços de trabalho – não importando, nes-se caso, em distinguir os níveis hierárquicos dos sujeitos que trabalham – pela busca da justiça, caridade e o bem comum. Educar para ser comunidade pressupõe que o trabalhador não deva ser concebido como um passivo execu-tor de tarefas ou vil instrumento para o lucro. 291 Deste modo, favorecemos o entendimento daquilo que seria uma autêntica “cultura do trabalho” 292, fator que ajuda os trabalhadores a se desenvolverem de modo plenamente huma-no, seja coletivamente no mundo do trabalho ou em sua atividade profissio-nal individual.

Desenvolvimentointegraldosujeito

[230].Embora o exercício da profissão escolhida enfatize um conjunto de competên-cias específicas, a educação integral para o trabalho visa a formação do sujeito em sua totalidade. Isso consiste, por um lado, em ensinar-lhe objetivamente o ofício, as tecnologias, as habilidades e competências necessárias para o efi-ciente desempenho da função. Por outro lado, cabe também conscientizá-lo do valor das subvenções sociais; das responsabilidades profissionais amplas; da ética profissional (deontologia), social e ecológica; dos valores religiosos universais; do caráter moral e da busca pela justiça. Educar para o trabalho, nesse sentido, significa oferecer muito mais do que os conhecimentos técni-cos inerentes à tarefa produtiva: significa educar o indivíduo trabalhador na sua integralidade, sobretudo no reconhecimento da própria dignidade, dos direitos humanos e das habilidades sociais que constituirão o seu diferencial, tanto no campo das relações humanas como no mundo do trabalho.

290 Desse modo, evidenciamos a necessidade de uma educação que favoreça relações coerentes entre empresários e/ou dirigentes, por um lado, e trabalhadores, por outro. relações mediadas pela ética, pelo respeito, pela estima, pela compreensão, pela solidariedade e apreço pelo bem comum.

291 Cf. leão XIII. Rerum Novarum, n.13.292 Cf. João PAUlo II. Centesimus Annus, n. 15.

Pastoraltransversal,integradaaosprocessosdaEducaçãoProfissional

[231].A Pastoral, entendida como ação evangelizadora, é mais que o Núcleo de Pastoral do Centro de Educação Profissional TECPUC. A Pastoral busca in-tegrar-se transversalmente aos processos pedagógicos, administrativos e de gestão, caracterizando uma “Escola em Pastoral” 293, na qual todos se sentem corresponsáveis em evangelizar. A Pastoral tem reflexos na tradução dos va-lores cristãos e institucionais para a comunidade educativa.

4.3.4 UnidadesSociaisdaRedeMaristadeSolidariedade294

[232].Para responder concretamente às principais necessidades das crianças e dos jovens, nas suas mais variadas realidades sociais, “a Educação Marista ultrapassou as fronteiras da educação escolar formal, concretizando-se em outras obras, estruturas e ações educacionais de natureza pastoral e social”. 295 Dessa forma, renovamos nossa opção pela educação solidária e pela ação pastoral e social emancipatória, tendo as Unidades Sociais296 como um dos principais lugares para efetivar tal intencionalidade.

293 o desafio pastoral da escola Católica consiste em compreender-se na complexidade de seu conjunto: ela é um corpo com diferentes órgãos que, embora cada qual tenha diferentes funções, harmonizam-se em função dos mesmos objetivos. Assim deve ser a sua organicidade pastoral. “A escola católica existe para evangelizar. Como instância avançada da Igreja no campo da cultura, no mundo da educação, e sem em nada diminuir a sua função humanizadora [...] a escola católica é a própria Igreja em estado de missão, sinal de presença de Deus no amadurecimento humano”. (PAnInI, J. Cadernos da AEC do Brasil, n. 67, p. 21). Para maiores referências, ver: PAnIn; CUnHA, 1999, n. 65; PAnInI, Joaquim. A Pastoral da Escola Católica, n. 69. ver também “Universidade em pastoral” em Carta de Betânia: uma Universidade Católica em ‘pastoral´. In CnBB, 1988, p. 333-335 (Documento conclusivo do I encontro nacional dos Grupos de PU das IesCs, realizado em Campinas, na Casa Betânia Franciscana, de 6 a 10/09/ 1987).

294 A rede Marista de solidariedade (rMs) tem foco de atuação: a) na promoção dos direitos das crianças e dos jovens: refere-se ao atendimento direto, com qualidade e continuado; b) na defesa dos direitos das crianças e dos jovens: acontece no âmbito da articulação em rede, com outros atores e organizações sociais, na participação e representação em espaços de formulação e controle de políticas públicas; c) na educação para a solidariedade: consiste em desenvolver projetos voltados para os públicos internos, sejam colaboradores e/ou aqueles que utilizam nossos serviços, com o intuito de promover o compromisso com os pobres, aproveitando os diversos espaços educativos existentes nas múltiplas Frentes Apostólicas do Grupo Marista.

295 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, p. 14.296 Centros sociais e ProAção (ABeC-UCe/APC) integram a rede Marista de solidariedade e desenvolvem projetos de educação básica e

assistência social a crianças e jovens em situação de vulnerabilidade pessoal e social. o Centro Marista de Defesa da Criança (APC) atua na defesa dos direitos de crianças e jovens no desenvolvimento de projetos que analisam a situação das infâncias e juventudes no país, na articulação em rede e na representação em espaços de controle e formulação de políticas públicas.

Grupo Marista 119118 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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[233].As Unidades Sociais da Rede Marista de Solidariedade são lugares autênti-cos de expressão da missão e da vivência da Espiritualidade Cristã297, sen-do consideradas espaçotempos298 do carisma marista, pois são iniciativas que evidenciam a opção originária do Instituto em evangelizar crianças e jovens, sobretudo os que estão em situação de vulnerabilidade pessoal e social. Nes-tas Unidades, a ação pastoral é um processo efetivo que integra a proposta socioeducativa299, empoderando300 seus envolvidos para o senso crítico pro-positivo, para o protagonismo e para a participação, na perspectiva socioam-biental e política.

[234].A Educação para a Solidariedade, promovida pelas Unidades Sociais, além de apresentar uma irrestrita identidade com o legado de Champagnat e com o estilo de Maria – sua inspiração educativa –, está convicta de que devemos “[...] ver o mundo com os olhos das crianças e jovens pobres e assim mudar nossos corações e atitudes [...]” 301, consolidando nossa missão educativa e a comunhão com a Igreja frente aos desafios da contemporaneidade. Para de-liberar essa proposta temos como base os referenciais dos direitos humanos, eclesiais e das políticas nacionais302, pautando-os à luz da Palavra de Deus.

[235].A realização da missão marista requer empenho dos educadores em oferecer uma formação integral e promover a justiça social. 303Efetivamos a missão a partir do exemplo de Champagnat, tornando Jesus Cristo conhecido e ama-do304, por meio da formação contínua de nossos educadores e do desenvolvi-

297 A espiritualidade Cristã é fonte geradora de esperança para transformar a sociedade à luz da Palavra de Deus.298 UMBrAsIl. Projeto Educativo do Brasil Marista, p. 53.299 Ação fundamentada em pesquisas teóricas e na investigação prática, por meio da formação continuada dos educadores, a partir da

construção coletiva de saberes e fazeres da ação social em desenvolvimento (PMBCs. Projeto marista para o ofício de aluno, p. 7).300 Da expressão empowerment, utilizada em escritos de Paulo Freire, como um processo de ação social em que indivíduos tomam posse de

poder gerando consciência crítica e ações efetivas que transformam a sociedade. 301 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Conclusões do XXI Capítulo Geral, p. 25.302 Referenciais: A Declaração Universal de 1948, a Declaração dos Direitos da Criança de 1959, a Convenção sobre os direitos da Criança de

1989, a Convenção Ibero-Americana sobre os Direitos da Juventude de 2005 e a Carta da terra. A Doutrina social da Igreja é assumida como um dos principais referenciais teóricos da ação social para a rede Marista de solidariedade, pois compreende documentos que posicionam a igreja na perspectiva evangelizadora, missionária, ecumênica e sociotransformadora. A Constituição Federal e o estatuto da Criança e do Adolescente preconizam a “Doutrina da Proteção Integral” ao reconhecer toda criança e adolescente como sujeito de direitos e em situação peculiar de desenvolvimento.

303 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, n. 204.304 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, n. 69.

mento apostólico da Identidade Marista nas Unidades Sociais. Sendo assim, sinalizamos os seguintes Direcionamentos Pastorais:

Processoeducativo-evangelizadorvisandooprotagonismosociopolítico-eclesial

[236].A ação pastoral empenha-se na Educação para a Solidariedade, apresentan-do-a como virtude cristã dos nossos tempos, um imperativo ético para toda a humanidade.305 Para isso, a pastoral suscita a formação de novas lideran-ças cristãs, favorecendo o protagonismo sociopolítico-eclesial, por meio das ações pastorais da Igreja, da incidência política em espaços de promoção e defesa de direitos, e o exercício da cidadania, para educandos, educadores e comunidade. “Desta forma, respaldados e apoiados, eles poderão erguer a voz, mobilizar as forças e lutar pelo sagrado direito de viver com dignidade e esperança.” 306 Neste sentido, buscamos integrar fé e política307 como dimen-sões essenciais da evangelização.

Pastoraltransversal,integradaatodososprocessosdasUnidadesSociais

[237].A ação pastoral deve integrar transversalmente todos os processos da unida-de social, configurando um ambiente no qual todos os educadores se sentem corresponsáveis pela evangelização. Sinalizamos a importância da organici-dade pastoral nos projetos socioeducativos, na acolhida, no diálogo ecumê-nico e inter-religioso, no uso evangélico dos bens e na reflexão dos demais valores humano-cristãos, ajudando a comunidade educativa a conviver com base no amor e na justiça. Neste sentido, a pastoral se articula e se estende a todo o território em que a unidade está inserida.

Promoçãoedefesadavidanaperspectivadodireito

[238].A ação profética na promoção e na defesa dos direitos das infâncias e das juventudes contribui na edificação do Reino de Deus anunciado por Jesus Cristo. Na Rede Marista de Solidariedade a ação profética se materializa no

305 João PAUlo II Sollicitudo rei socialis. Apud InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, n. 153.306 CnBB. Exigências evangélicas e Éticas de Superação da Miséria e da Fome, p. 18.307 CnBB. Diretrizes Gerais da Ação Evangelizadora da Igreja no Brasil, n. 115 e 201.

Grupo Marista 121120 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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atendimento de qualidade nos projetos socioeducativos. A defesa dos direitos das crianças e dos jovens acontece por meio da denúncia diante das violações dos direitos, na articulação em rede e na representatividade nos espaços de formulação de políticas públicas, visto que “a partir do coração do Evange-lho, reconhecemos a conexão íntima que existe entre evangelização e promo-ção humana, que se deve necessariamente exprimir e desenvolver em toda a ação evangelizadora”. 308

4.3.5 ÁreadaSaúde

[239].Os hospitais que compõem a Aliança Saúde, por sua identidade cristã, católi-ca e marista, dedicam-se à promoção da vida humana, por meio do serviço da saúde, com caráter educativo. A harmonia entre os conhecimentos produzi-dos, as tecnologias disponíveis, o potencial humano e profissional, e a espiri-tualidade institucional é a fonte de vitalidade e o diferencial de nossas ações.

[240]. Desta forma, em todos os processos que dinamizam a Aliança Saúde, do ponto de vista pastoral, alguns posicionamentos são permanentemente implementados:

ValoresInstitucionaisassumidostransversalmentecomofontedevitalidade

[241].A transversalidade da ação evangelizadora do Instituto exige que nossas li-deranças exerçam suas funções a partir de valores éticos, cristãos e maris-tas. Isto é necessário para que o processo de gestão das relações, processos e procedimentos sejam permeados pelo caráter humanizador dos valores Ins-titucionais. Encontramos nas pessoas do Pe. Champagnat e do Ir. Francisco modelos de inspiração. Além das lideranças, é necessário que todos os cola-boradores que atuam na área da saúde fundamentem suas relações, proces-sos e procedimentos nos valores Institucionais. Para tanto, é imprescindível a criação de espaços de formação, ambientes de valorização e rotinas que pro-movam um comportamento que traduza os valores no cotidiano.

308 Papa Francisco. exortação Apostólica Evangelii Gaudium, n. 178.

Atendimentomultiprofissionalehumanizadoaopaciente

[242].Compreendendo o ser humano como multidimensional (bio-psico-sócio--espiritual), afirmamos que o atendimento humanizado ao paciente é a razão de todos os nossos processos. Para que ele possa caracterizar-se como tal, é necessário que a abordagem multiprofissional seja efetiva e eficaz. Portanto, a constituição de equipes e protocolos multiprofissionais é fundamental.

Abordagemeducativo-humanizadora(bioéticaehumanização)

[243].Possuindo em nossa Organização unidades hospitalares universitárias, é nossa missão desenvolver uma atividade educativo-humanizadora com os médicos residentes e corpo clínico. Estes também são sujeitos importantes do jeito próprio de cuidar que constitui o nosso diferencial. Para tanto, é in-dispensável o alinhamento aos valores institucionais, a criação de espaços de debate de temas do âmbito da bioética e da humanização, a fim de gerar uma reflexão comum. Neste processo, a partir de seus profissionais, a Aliança Saúde busca expressão significativa junto à sociedade adequando-se aos do-cumentos da Política Nacional de Humanização, bem como às orientações do Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e da Secretaria Municipal da Saúde; tornando-se, assim, proativa em processos educacionais.

EducaçãoparaPrevençãoePromoçãoàSaúde

[244]. Iluminados pelo legado de Marcelino Champagnat, somos impelidos a de-sempenhar um serviço de prevenção em saúde junto à sociedade, com caráter educativo. Quando os conhecimentos construídos por nossos profissionais da saúde são partilhados com a população, sobretudo com as pessoas que se encontram em situação de vulnerabilidade, além de ser um serviço de pre-venção em saúde, é promoção da cidadania.

Eclesialidade

[245].Como parte do Instituto Marista, a Aliança Saúde está em comunhão com a Igreja e a ajuda, por meio da difusão da saúde, no processo de edificação do Reino de Deus. Para isto, em todas as suas unidades promove espaços de

Grupo Marista 123122 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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vivência espiritual e religiosa, como também precisa atuar em níveis eclesiás-ticos local, regional e nacional.

4.3.6 EnsinoSuperior

[246].A Pontifícia Universidade Católica do Paraná - PUCPR, por sua identidade cristã, católica e marista, assim como o Centro Universitário Católica de Santa Catarina, têm a missão de dedicar-se sem reservas, por meio da educação, à causa da verdade. Por isso, tornam-se espaços nos quais os conhecimentos são partilhados, confrontados, sistematizados, constituídos em sabedoria e colocados a serviço da vida. Como universidades católicas, primam pela for-mação de um ser humano integral e de uma sociedade justa, ética e solidária, tendo o Evangelho como referência.

[247].Desta forma, ao lado do empenho pela excelência profissional-acadêmica, para a realização de sua missão, cabe às Instituições de Ensino Superior (IES) maristas priorizar alguns posicionamentos evangélico-pastorais:

ComunidadeacadêmicaemqueoEvangelhoeosvaloresinstitucionaissãovitais

[248].As IES maristas empenham-se permanentemente por constituir-se em co-munidades nas quais o Evangelho e o carisma marista sejam traduzidos à linguagem e aos desafios acadêmicos. Estes elementos são vitais e orientam permanentemente os seguintes âmbitos: nosso ideal de ser humano e de so-ciedade; nosso jeito de educar, de pesquisar, de aprender e de partilhar o co-nhecimento; nossos processos pedagógicos, de planejamento, de formação e avaliação; nossos posicionamentos políticos, opções estratégicas e sociais; nosso jeito de administrar, de conviver e de se relacionar com a pluralidade; nosso jeito de celebrar e de dar sentido à vida em suas diversas dimensões.

Dinamizaçãodarelaçãodafécomaculturaeosdiversossaberes

[249].A comunidade acadêmica centrará esforços para a promoção, articulação e dinamização do diálogo entre Fé, Ciência e Cultura, considerando as diversas

áreas de conhecimento. Com isso, ela oferece ao público acadêmico, à socie-dade e à Igreja, de forma coerente e atualizada, reflexões devidamente funda-mentadas sobre a convergência entre fé e razão, sobre os desafios relaciona-dos à defesa da vida, sobretudo das infâncias e juventudes. Nesse processo, a “cátedra do professor” é o lugar por excelência da promoção do diálogo entre fé e ciência.

Espaçoprivilegiadoparaodesenvolvimentointegraldosjovens

[250].Em todo seu empenho educativo, as IES maristas consideram como sua ri-queza maior os jovens universitários e valorizam o seu potencial de transfor-mação da sociedade. Desta forma, sob a inspiração do legado de Marcelino Champagnat, elas garantem espaços de reflexão, debate, intercâmbios de ex-periências, participação e protagonismo social, com a finalidade de gerar li-deranças jovens criativas, empreendedoras, com consciência cristã solidária, sensibilidade ecológica e comprometimento sociotransformador.

Extensãodoconhecimento–além-fronteiras

[251].A comunidade acadêmica se dedica à busca da verdade e está comprometida com a justiça. A diversidade dos saberes constitui-se em um grande dom que, profeticamente, está a serviço da dignidade do ser humano e da sua liberta-ção integral. Por isso, estende os conhecimentos produzidos em seu seio à so-ciedade e à Igreja, por meio de eventos formativos309, projetos socioeducativos emancipatórios e missões “além-fronteiras”. 310

Comunhãoeclesial

[252].As IES maristas estão em comunhão com a Igreja Local; contam com o ser-viço eclesial oferecido pela Paróquia Universitária Jesus Mestre (no caso da PUCPR, em Curitiba) e com as parcerias diversas realizadas com as arqui/dioceses, nos demais campi e nas unidades da Católica de Santa Catarina. Enquanto comunidades educativas de Ensino Superior Católicas, oferecem a seus membros a dinamização dos sacramentos, da liturgia e orientação

309 Como, por exemplo, cursos específicos de extensão para agentes de pastoral, lideranças juvenis, comunidades do entorno, dentre outros.310 Por “missões além-fronteiras” consideramos as iniciativas que ultrapassam as possíveis barreiras que podem ser constituídas nos âmbitos

pessoal, cultural, geográfico, político e religioso.

Grupo Marista 125124 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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espiritual, cultivando, sobretudo na Eucaristia, a sabedoria que fundamenta nossa ação educativa.

4.3.7 LUMEN

[253].Os meios de comunicação social (MCS/mass-media) estão diretamente rela-cionados ao desenvolvimento tecnológico. Tais tecnologias, caracterizadas pelos novos meios de comunicação, estabelecem profundas mudanças na cultura e nas relações humanas. Sobretudo hoje se torna quase impossível pensar a humanidade sem eles. Além do rádio e da TV, a expansão e aperfei-çoamento da Internet – na sua competência de fazer convergir todos os meios e linguagens da comunicação – consolida-se como ferramenta de grande re-levância social, afetando de modo imensurável as gerações contemporâneas e futuras, especialmente as crianças e jovens – que são caras ao nosso carisma – e que crescem em estreito contato com mundo digital, com a comunicação midiática e todo seu potencial educativo. A Igreja reconhece o potencial ex-traordinário dessas novas tecnologias. 311 Diante dessas considerações, a ação pastoral no LUMEN leva em conta:

Açãoeducativo-pastoralampliada

[254].Os Meios de Comunicação Social Maristas precisam ser reconhecidos como instrumentos que influenciam de maneira contundente a dimensão ético--cultural. Por isso, ao lado da qualificação técnica que caracteriza a expertise do LUMEN, a sua missão educativo-pastoral o desafia a ser espaço de cons-cientização, de desenvolvimento do senso crítico, de sensibilidade planetária, de solidariedade, da cultura do diálogo e da amizade, do advocacy 312, em vista

311 “Dada a importância fundamental que [os meios de comunicação] têm na determinação de alterações no modo de ler e conhecer a realidade e a própria pessoa humana, torna-se necessária uma atenta reflexão sobre a sua influência principalmente na dimensão ético-cultural da globalização e do desenvolvimento solidário dos povos. [...] devem ser buscados no fundamento antropológico. Isto quer dizer que os mesmos podem tornar-se ocasião de humanização, não só quando, graças ao desenvolvimento tecnológico, oferecem maiores possibilidades de comunicação e de informação, mas também e sobretudo quando são organizados e orientados à luz de uma imagem da pessoa e do bem comum que traduza os seus valores universais. [...] é preciso que estejam centrados na promoção da dignidade das pessoas e dos povos, animados expressamente pela caridade e colocados ao serviço da verdade, do bem e da fraternidade natural e sobrenatural. [...] os mass media podem constituir uma válida ajuda para fazer crescer a comunhão da família humana e o ethos das sociedades, quando se tornam instrumentos de promoção da participação universal na busca comum daquilo que é justo.” (Bento XvI. Caritas in veritate, n. 73)

312 Advocacy, em linhas gerais, equivale à expertise do Instituto em atuar na defesa de algum dos direitos humanos. Por exemplo: da parte dos Irmãos Maristas, o interesse maior se dirige à promoção e defesa dos Direitos da Criança. o termo já aparece nessa mesma grafia – “advocacy”, sem tradução para o português – em alguns documentos e orientações institucionais.

da aproximação da grande família humana. Bem usadas, estas tecnologias são um verdadeiro dom para a humanidade.

Difusãodosvaloreshumanos,cristãoseMaristas

[255].É insuficiente, sob o ponto de vista cristão, restringir os meios de comuni-cação à sua competência de interligar as pessoas, de informar, de entreter, de fazer circular ideias, de vender produtos e serviços. A coerência ética do LUMEN confere-lhe o papel de promover o ethos da sociedade por meio da difusão dos valores cristãos e maristas, na busca do bem comum e daquilo que é justo. Nesse sentido, a tradução, a compreensão de nossa história e o acolhimento dos valores institucionais se efetiva na medida em que eles se encarnam em nossos produtos, no conteúdo veiculado, no nosso modo de empreender e passam a ser percebidos e reverenciados pelo público externo.

Produtoseserviçosespecíficosparaaevangelização

[256].“O anúncio de Cristo no mundo das novas tecnologias supõe um conheci-mento profundo das mesmas para se chegar à sua conveniente utilização”. 313 O LUMEN constitui-se como um “dom de Deus para a sociedade” 314 na medida em que comunga com o Instituto Marista da mesma missão e se faz reconhecido pela sua excelência técnica e estética. Da mesma maneira, com o intuito de potencializar as ações pastorais da Igreja e demais segmentos ma-ristas, coloca sua expertise a serviço, no suporte e na elaboração de produtos específicos315 para a evangelização.

4.3.8 EditoraFTD

[257].A Editora FTD, no contexto do Instituto Marista, está inserida na missão de educar, em busca da formação de um ser humano pleno e de uma socie-dade justa, ética e solidária. Por meio da excelência na criação, produção e

313 Bento XvI. Caritas in veritate, n. 73.314 Cf. Mensagem do Papa Bento XvI para o 43º Dia Mundial das Comunicações sociais: Novas tecnologias, novas relações. Promover uma

cultura de respeito, de diálogo, de amizade. 24 de Maio 2009. Disponível em: <http://www.vatican.va>. 315 Por serviços e produtos específicos entende-se: assessoria técnica em tecnologias da comunicação, edição de vídeos, documentários,

spots de tv, spots de rádio e similares.

Grupo Marista 127126 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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distribuição de subsídios de qualidade, apoia o educador e seus processos educacionais.

[258].Para que isso aconteça, algumas prioridades no âmbito da cultura organiza-cional, a partir da identidade institucional, são estabelecidas:

Desenvolvimentointegraldocolaborador

[259].Fazer com que o trabalho seja produtivo e o colaborador possa se realizar como pessoa, alinhado ao compromisso social, fortalecendo valores pes-soais e desenvolvendo habilidades, competências e mecanismos de comu-nicação e relacionamento com as diversas áreas e unidades da instituição, com conhecimento da dinâmica e oportunidades do ambiente de negócios sempre atualizado.

[260]. Desenvolver a cultura da solidariedade, fazendo com que os benefícios conquistados pelos negócios sejam revestidos para a consecução da missão. Criar sinergia com os setores, buscando desenvolver ações conjuntas que possam apoiar o desenvolvimento de ações sociais, de educação formal, saú-de e comunicação.

Difusãodosvaloreshumanos,cristãosemaristas,traduzidosàculturaatual

[261].Como difusora do conhecimento junto à sociedade, por meio da criação, produção e distribuição de subsídios didáticos de qualidade, a Editora FTD encara suas tecnologias como um verdadeiro dom para a humanidade, pelo qual presta serviço a todas as comunidades.

[262].Os valores corporativos da FTD – conduta ética, credibilidade, integração, autonomia responsável, compromisso com a sustentabilidade, espirituali-dade e inovação, fundamentados nos valores cristãos e maristas da justiça, espirito de família, presença significativa, amor ao trabalho, espiritualidade e

simplicidade – são traduzidos nas dimensões ética e estética com a finalidade de tornar presentes em suas publicações a opção pela vida em sua integrali-dade, o desenvolvimento da autonomia do sujeito, sobretudo das crianças e dos jovens, a promoção da solidariedade, da alteridade, da sensibilidade eco-lógica e da aproximação da grande família humana.

Produtoseserviçosespecíficosparaaevangelização

[263].A autêntica educação visa ao aprimoramento da pessoa humana em relação a seu fim último e ao bem das sociedades. Neste processo, a educação cristã tem muito a contribuir, beneficiando particularmente os jovens, que cons-tituem a esperança da sociedade. 316 Compreendendo a sua missão, a FTD constitui-se como um dom de Deus para a sociedade, na medida em que se faz reconhecida por sua excelência técnica e, na sua abrangência, vai além dos limites das unidades maristas. Por isso, compromete-se também em ela-borar produtos e prestar serviços específicos para a evangelização317, com a finalidade de potencializar as ações pastorais do Grupo Marista, do Instituto Marista e da Igreja.

4.3.9 RededeColégios

[264]. O documentoMissão Educativa Marista, bem como outros documentos insti-tucionais (Projeto Educativo do Brasil Marista), afirma de forma contundente que “um Colégio Marista é um centro de aprendizagem, de vida e de evange-lização, que harmoniza fé, cultura e vida”. 318 É lugar que deve propiciar um processo educacional coerente com a visão que temos do ser humano na sua integralidade. Deste modo, como Escola Católica, cumpre-nos estabelecer um processo pedagógico-pastoral que seja coerente com a visão de ser humano que temos, onde as crianças, adolescentes, jovens e demais participantes da comunidade educativa, sejam parte ativa do processo319, favorecendo assim a promoção de sujeitos cidadãos, capazes de serem fermento na comunidade

316 Cf.Gravissimum Educationis, n. 1503 a 1505.317 serviços de diagramação, desenvolvimento de arte e impressão de materiais didáticos – livros, cadernos, coleções, jogos interativos, etc. –

com a finalidade de apoiar iniciativas pastorais nos seguintes âmbitos de atuação: catequese, pastorais de juventude, pastorais que atuam com crianças e adolescentes, pastoral da educação, pastoral da Cultura e equivalentes.

318 Cf. InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, n 126.319 PMBCs. DerC. Projeto marista para o ofício de aluno, p. 146-153.

Grupo Marista 129128 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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humana, em vista da construção do Reino de Deus.”. 320 Isso será plenamente possível na medida em que nossos colégios estabeleçam uma cultura organi-zacional participativa, que cause, entre todos os envolvidos, um sentimento de pertença e corresponsabilidade quanto à proposta pedagógico-pastoral, favorecendo uma ação educativa-evangelizadora, coerente, planejada e orga-nizada. Desta forma, comprometidos com a realização da missão legada por Champagnat, a Rede de Colégios Marista sinaliza as seguintes prioridades:

Umprocessoeducativo-pastoralquepromovaoconhecimento,avidaeosvaloresinerentesaoEvangelho

[265].A partir de uma proposta pedagógico-pastoral que permite a articulação de conteúdos educativo-pastorais em projetos e ações elaborados e desenvolvi-dos de forma integrada e integradora, favorecendo o espírito crítico, a parti-cipação, a liberdade, a responsabilidade, a espiritualidade e a solidariedade dos envolvidos, somos convidados a ter um constante olhar sobre os movi-mentos da realidade escolar, abrindo caminho para que a dimensão da fé apareça sempre articulada com os demais saberes, de modo orgânico e não impositivo. Por isso, a comunidade educativa empenha-se para que a propos-ta pedagógico-pastoral seja assimilada como instância fundamental ao de-senvolvimento integral do sujeito.

Umaescolaacolhedoraefraterna

[266].No contexto pluralista de nossas escolas, expomos Jesus Cristo e a Igreja de maneira atualizada como itinerários capazes de orientar uma vida plena. Para tanto, sinalizamos a importância da acolhida, do diálogo ecumênico e inter-religioso, que permita a valorização da identidade de cada sujeito, aju-dando a comunidade educativa a conviver com respeito e paz, aproveitando as potencialidades desta diversidade no processo educativo-pastoral, onde a evangelização aproxime as pessoas em torno do mesmo Deus e que nos en-sina a ver na comunhão um profundo gesto de amor, que promove relações mais justas e fraternas. Uma escola que internamente fortifique os vínculos

320 Cf. Gravissimum Educationis, n. 1517.

entre seus sujeitos com perspectiva de que tal atitude seja realizada e amplia-da também externamente.

Formaçãodasinfânciasejuventudestendoemvistaoprotagonismoeclesialepolítico

[267].Reconhecemos que as crianças e jovens estão em processo de amadurecimen-to na fé e discernimento de seu papel social e político. Por isso, devemos cui-dar para que as experiências promovidas sejam cada vez mais participativas desde sua concepção, fazendo com que a dimensão pessoal, comunitária e social encontre maior significado para eles. Assim, respeitamos os tempos do desenvolvimento das infâncias e juventudes, ajudando-lhes a formar um caráter ético e colaborando no discernimento de sua vocação.

Pastoraltransversal,integradaeintegradoradiantedosprocessosdaescola

[268].A Pastoral, entendida como “ação evangelizadora”, é mais que uma área da escola. Ela busca integrar-se transversalmente aos processos pedagógicos, administrativos e de gestão, caracterizando uma “Escola em Pastoral” 321, na qual todos se sentem corresponsáveis em evangelizar. A Pastoral tem refle-xos na tradução dos valores cristãos e institucionais para a comunidade edu-cativa tanto quando propõe como quando partilha de processos articulados por outras áreas da escola. Neste sentido, entendemos que a ação evangeli-zadora se fortalece no diálogo com as famílias, bem como com os atores do entorno da unidade.

321 o desafio pastoral da escola católica consiste em compreender-se na complexidade de seu conjunto: ela é um corpo com diferentes órgãos que, embora cada qual tenha diferentes funções, harmonizam-se em função dos mesmos objetivos. Assim deve ser a sua organicidade pastoral. “A escola Católica existe para evangelizar. Como instância avançada da Igreja no campo da cultura, no mundo da educação, e sem em nada diminuir a sua função humanizadora [...] a escola católica é a própria Igreja em estado de missão, sinal da presença de Deus no amadurecimento humano”. (PAnInI, 1999ª, n. 67, p. 21. Para mais referências, ver: PAnInI; CUnHA, 1999, n. 65.; PAnInI, 1999b, n. 69). ver também “Universidade em pastoral” em: Carta de Betânia: uma Universidade Católica em ‘pastoral’. In CnBB, 1988. P. 333-335.

Grupo Marista 131130 DIretrIzes DA Ação evAnGelIzADorA

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Formaçãocontínuaeconjunta

[269].A escola marista deve promover, indistintamente, formação para os sujeitos de sua comunidade educativa, de maneira orgânica e processual, conforme a realidade em que está inserida. Deve zelar, para que, de modo coerente, a for-mação favoreça o reconhecimento e aprimoramento da proposta pedagógico--pastoral entre os participantes da comunidade educativa a fim de que todos possam ser considerados corresponsáveis no processo de evangelização.

[270].Em particular, para aqueles que possuem o interesse e possibilidade de apro-fundar o carisma marista322, é necessário assegurar o acesso à qualificação permanente, valorizando iniciativas e o empenho dos colaboradores que co-municam e vivem o carisma institucional com profissionalismo e coerência.

4.3.10 PastoralJuvenilMarista–PJM

[271].A Pastoral Juvenil Marista (PJM) tem por objetivo estabelecer um proces-so de formação integral que desenvolva os aspectos da espiritualidade, da eclesialidade, da autonomia, do aprofundamento no carisma marista, do protagonismo juvenil e da intervenção na sociedade. É uma proposta educativo-evangelizadora323 que almeja, por meio da escuta e participação dos jovens, capacitá-los para encontrar respostas autênticas aos anseios e necessidades fundamentais das juventudes e da evangelização. “Ao contem-plar os horizontes da Pastoral Juvenil Marista sonhamos com uma juven-tude solidária, protagonista, com valores evangélicos, comprometida com a cidadania e com o conhecimento científico, inserida na realidade, portadora de esperança e transformadora da sociedade”. 324 A PJM é uma proposta que busca desenvolver:

322 Conforme a política de formação em identidade institucional, que está organizada em quatro níveis: integração, imersão, aprofundamento e adesão.

323 InstItUto Dos IrMãos MArIstAs. Missão Educativa Marista, 2003.324 UMBrAsIl. Diretrizes Nacionais da Pastoral Juvenil Marista, n. 368.

Oprocessodeamadurecimentonafé325eodesenvolvimentohumano

[272].A fundamentação e a mística da PJM propõem um processo a ser percor-rido em grupos. Os grupos de PJM nascem com a finalidade de ser lugar em que o jovem possa se expressar, entrar em contato com outros jovens, criar e recriar sua identidade e, dessa maneira, vivenciar experiências que proporcionam o amadurecimento na fé e o crescimento enquanto pessoa, permitindo-lhes ampliar o sentido da vida. Todo o processo vivido contri-bui para que o jovem perceba sua importância na transformação do mundo e descubra sua vocação.

Oprotagonismojuvenil

[273].Em sua essência, a PJM promove a participação do jovem e do adulto como corresponsáveis de um processo pastoral, com a “cara do jovem”, com a sua linguagem e jeito de ser. Para ser efetiva, a ação evangelizadora deve favore-cer o protagonismo em diferentes âmbitos, dentre os quais enfatizamos: a) participação eclesial:no envolvimento com a Igreja local, despertando o jovem para encontrar nela espaços de referência da vivência comunitária da fé, par-tindo do pressuposto de que o projeto de Jesus é um projeto de fraternidade;b) participação político-social: inserção em espaços nos quais o jovem tenha a possibilidade de vivenciar a cidadania, sendo semente de transformação social, participando de espaços democráticos de decisão, reconhecendo-se como sujeito de direitos.

Aformaçãointegral

[274].A PJM é organizada de maneira a dialogar com a dinâmica do desenvolvi-mento dos adolescentes e jovens e com as dimensões da vida. Sua proposta dá suporte aos grupos para que seus participantes possam trilhar uma cami-nhada de vida baseada nas descobertas e nas relações consigo, com os outros, com Deus, com a sociedade e com a natureza.

325 UMBrAsIl. Caminho da Educação e Amadurecimento na Fé. A Mística da Pastoral Juvenil Marista, 2008.

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O texto deste livro foi composto nas tipografiasFairfield e Morgan. O papel usado

no miolo foi o couchê fosco 120g e na capa o duodesign 300g.

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setor de Pastoralrua Imaculada Conceição, 1.155, Bloco Administrativo – 9º andar

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